OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA … · pela Secretaria de Estado da Educação do...

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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6 Cadernos PDE OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE Artigos

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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE

OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE

Artigos

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Ficha de identificação – Artigo Final – Turma 2014

Título: A HISTÓRIA DA ESCOLA NA FORMAÇÃO CIDADÃ

Autor: Cristiane Wendrichovski

Disciplina/Área: História

Escola de Implementação do Projeto e sua localização:

Colégio Estadual Shirlene de Souza Rocha

Município da escola: Rio Branco do Sul - Pr

Núcleo Regional de Educação: NRE – Área Metropolitana Norte

Professor Orientador: Prof.ª Karina Kosicki Bellotti

Instituição de Ensino Superior: Universidade Federal do Paraná

Relação Interdisciplinar:

Geografia, Língua Portuguesa, Arte, Ciências humanas e naturais.

Resumo: O presente artigo explicita uma síntese das

atividades sucedidas ao longo do Programa

de Desenvolvimento Educacional, edição

2013/2014, na área de História, oportunizado

pela Secretaria de Estado da Educação do

Paraná em parceria com a Universidade

Federal do Paraná, tendo como objeto de

estudo a diversidade cultural, no que diz

respeito à maneira pela qual pode influenciar

na aprendizagem e como age para que os

índices de fracasso escolar aumentem

significativamente na rotina escolar. Para

tanto se propôs algumas ações pedagógicas

que foram desenvolvidas em um Colégio da

rede estadual de ensino, onde tem um grande

número de alunos provenientes da região

rural que apresentam grande dificuldade de

adaptação à rotina escolar do

estabelecimento escolar devido ao choque

cultural. As ações pedagógicas foram

norteadas pela Pedagogia da Autonomia de

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Paulo Freire, que destaca que o professor

precisa respeitar a diversidade cultural do

aluno e valorizá-la no cotidiano escolar.

Palavras-chave: Diversidade Cultural. Pedagogia da Autonomia. Fracasso escolar. Aprendizagem.

Formato do Material Didático: Caderno Pedagógico

Público:

Alunos do 6º ano do Ensino Fundamental

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HISTÓRIA E MEMÓRIA: A HISTÓRIA DA ESCOLA NA FORMAÇÃO CIDADÃ

Autora: Cristiane Wendrechovski1

Orientadora: Karina Kosicki Bellotti2

RESUMO: O presente artigo explicita uma síntese das atividades sucedidas ao longo do

Programa de Desenvolvimento Educacional, edição 2013/2014, na área de História,

oportunizado pela Secretaria de Estado da Educação do Paraná em parceria com a

Universidade Federal do Paraná, tendo como objeto de estudo a diversidade cultural, no

que diz respeito à maneira pela qual pode influenciar na aprendizagem e como age para

que os índices de fracasso escolar aumentem significativamente na rotina escolar. Para

tanto se propôs algumas ações pedagógicas que foram desenvolvidas em um Colégio da

rede estadual de ensino, onde tem um grande número de alunos provenientes da região

rural que apresentam grande dificuldade de adaptação à rotina escolar do

estabelecimento escolar devido ao choque cultural. As ações pedagógicas foram

norteadas pela Pedagogia da Autonomia de Paulo Freire, que destaca que o professor

precisa respeitar a diversidade cultural do aluno e valorizá-la no cotidiano escolar.

PALAVRAS-CHAVE: Diversidade Cultural. Fracasso escolar. Aprendizagem.

INTRODUÇÃO

A Escola é um ambiente repleto de diversidade cultural. É esta diversidade

é que dá sentido e orienta a existência do ser humano, enquanto sujeito social,

portador de identidade que é construída no decorrer da sua vida e também faz

observar o semelhante através da sua cultura.

Sendo assim, por ser portador de diferentes modos de vida os seres

humanos trazem diferentes histórias e trajetórias que refletem na sociedade que o

cerca. Quando se fala em diversidade cultural pode se assim dizer que são as

diferenças existentes entre os seres humanos que se manifestam na linguagem,

vestimenta, alimentação, tradições e manifestações biológicas.

1 Historiadora (Universidade do Oeste Paulista), Especialista em Tecnologias aplicadas à

Educação (Faculdades Integradas Espírita) e Educação Inclusiva (Universidade de São Paulo),

Professora lotada no Colégio Estadual Shirlene de Souza Rocha

2 Doutora e Mestre em História Cultural (Universidade Estadual de Campinas), Professora Adjunta

III de História Contemporânea (Universidade Federal do Paraná), Coordenadora do Subprojeto

História do PIBID-UFPR.

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É desta maneira que se formam as sociedades conforme as concepções de

moral e religião e de como interagem no ambiente que o rodeia.

A partir disso, durante meu trabalho como professora de História do Colégio

Estadual Shirlene de Souza Rocha, percebi que os alunos oriundos da área rural

eram desprezados e muitas vezes rejeitados pelos colegas, devido suas formas

de falar, vestir, andar e pela falta de conhecimento do mundo contemporâneo em

que vivemos.

Por isso, a intenção desse trabalho foi ressaltar o quanto estes alunos são

importantes para a comunidade e para a escola, resgatando seus valores e

costumes, a fim de diminuir o fracasso escolar destes alunos, resultado advindo

do preconceito e discriminação que sofrem dentro do ambiente escolar.

Como forma de comprovação prática foi proposto um projeto de

Intervenção em uma escola que apresente grandes diferenças educacionais,

como no caso do Colégio Estadual Shirlene de Souza Rocha, localizado no bairro

da Vila Nodari, município de Rio Branco do Sul, situado a 35 km de Curitiba. O

bairro em que o Colégio está situado apresenta como característica fundamental a

grande disparidade social, com grandes casas bem estruturadas e famílias com

grande poder aquisitivo, e na contramão estão os cinturões da pobreza,

caracterizados por moradores que vem do interior principalmente na região rural

para tentar uma vida melhor na cidade.

Segundo as famílias entrevistadas, as casas são próprias e a maioria são

feitas de madeira, vários pais trabalham fora do município e são ausentes na vida

diária dos filhos. Em relação ao grau de escolaridade dos pais, observou-se que a

maioria tem Ensino Fundamental incompleto, e uma pequena parcela concluiu o

Ensino Médio. Quanto ao bairro, declararam que há necessidade de saneamento

básico, área de lazer (quadra esportiva e outros), asfalto ou pelo menos que as

ruas sejam ensaibradas. Os moradores também pedem segurança, postos de

saúde, coleta de lixo com mais frequência e ônibus que circulassem pelos bairros,

pois muitos caminham quilômetros para não perder o horário de trabalho.

Além dos alunos residentes nos bairros próximos como Vila Buava, Santo

Antônio, Santa Terezinha, João Maltaca, Jardim Record, Vila Nodari I, Vila Nodari

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II, Lasanta, Jardim Albarana. O colégio também recebe alunos das seguintes

localidades (Zona Rural): Tigre, Boqueirão da Serra, Oristela, Capirú dos Jovinski,

Capirú dos Dias, Capirú dos Epifânios, Rancharia, São Pedro Capirú, Santana,

Capiruzinho, Pernambuco, Santa Clara, Campina dos Pintos entre outros.

Os alunos que vem da área rural enfrentam grandes dificuldades para

chegar até a escola, pois as estradas de acesso são precárias e sem manutenção,

o que ocasionam a falta do transporte escolar com frequência. Sendo importante

lembrar que os alunos percorrem um trajeto de aproximadamente duas horas,

muitas vezes sem alimentação adequada, o que afeta o processo de ensino-

aprendizagem.

Para garantir a permanência dos alunos, a escola também oferta o

Programa Mais Educação, no contra turno, constituído por seis turmas, abordando

temas diversificados, tais como: “Jogos na Educação: Resgate das brincadeiras

infantis, brincando e aprendendo”, “Melhores Momentos”, “Tênis de Mesa”, “Jornal

X-Lene”, “Matemática, Brincar e aprender”, “Passeando pelo mundo da

Informática”, também como o curso CELEM que trabalha a Língua Espanhola,

com duração de dois anos, para oportunizar o aluno o acesso a outras línguas.

Oferece também sala de apoio no contra turno, nos períodos da manhã e da tarde,

para alunos com dificuldades na aprendizagem.

É uma Escola que atende crianças do ensino fundamental e médio, nos

turnos da manhã, tarde, e noite. O índice de repetência é muito grande o que leva

a direção em conjunto com a equipe pedagógica buscar constantemente soluções

que venham contribuir para a diminuição da evasão escolar e da repetência. A

equipe pedagógica ao ser indagada do por que destes pontos negativos, tanto

como a repetência como evasão escolar, acredita que um dos motivos principais é

a grande diversidade cultural e social existente entre seus alunos.

Sendo assim, visando uma qualidade de ensino na rede pública, o projeto

didático buscou trabalhar com a metodologia da história oral, possibilitando aos

educandos, por meio da pesquisa da escola e do bairro em que ele está inserido,

exercer seu exercício de cidadania. O aluno ao conhecer melhor seu espaço

poderá contribuir para melhorar a sua história e a história de sua comunidade.

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Portanto, o objetivo foi despertar nos educandos a participação comunitária e

compromisso de cidadania na escola e na comunidade por meio da história oral.

Como resultado desta discrepância encontrado no Colégio é que se fez a

proposta de executar um projeto de intervenção junto com os segmentos

escolares, a fim de confirmar o real motivo do alto índice de fracasso escolar

dentro do ambiente escolar do Colégio Estadual Shirlene, tendo como

problematização a seguinte questão: De que maneira a diversidade escolar pode

influenciar no cotidiano escolar, levando ao fracasso escolar e também deixando

de exercer seu direito de cidadania?

Diante dos aspectos apresentados, os intuitos desse artigo são: expor as

experiências vividas no Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE3 entre

os anos de 2013 e 2014, orientados pela professora Karina Kosicki Bellotti, além

de traçar comentários a respeito das discussões desencadeadas no Grupo de

Trabalho em Rede – GTR4; explicitar o projeto de implementação do material

didático produzido, em como as atividades desenvolvidas.

2. MÉTODO

A metodologia de trabalho utilizada para a implementação da proposta

ocorreu por meio do planejamento de dez momentos com uma quantidade de

aulas adequadas às atividades previstas, totalizando 64 horas/aula, como descrito

no Quadro I – Ações pedagógicas (APÊNDICE A).

O projeto foi implementado no 6º ano do Ensino Fundamental, logo no

início do ano com uma investigação do perfil dos alunos, que contou com o

envolvimento também dos outros professores, a fim de refletir se o projeto e seus

objetivos estão condinzentes com a realidade encontrada, além de haver um

aprofundamento do tema.

3 O Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE) é uma política pública de Estado

regulamentado pela Lei Complementar nº 130, de 14 de julho de 2010.

4 O Grupo de Trabalho em Rede (GTR) faz parte de uma atividade do Programa de

Desenvolvimento Educacional – PDE.

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Para a concretização desse trabalho, respaldou-se nos referenciais teóricos

dos seguintes estudiosos: Paulo Freire (1979), Laraia (2005), Moreira e Silva

(2002), Morin (2001), Nagel (1989), Patto (1999), Pinski (2003), Ribeiro (1995) e

Saviani (1991), além de documentos oficiais brasileiros.

A avaliação ocorreu por meio de formulários do programa acompanhados

pelo representante do PDE no NRE Área Metropolitana Norte, Direção e Equipe

Pedagógica da escola de implementação e orientadora da Instituição de Ensino

Superior.

3. GRUPO DE TRABALHO EM REDE – GTR

Paralelamente ao trabalho desenvolvido com as atividades do PDE

ocorreram algumas atividades no Grupo de Trabalho em Rede que se caracteriza

por ações virtuais realizadas por meio de discussões entre professores da rede

pública de educação do estado do Paraná. Nessas ações, o projeto proposto é

apresentado e o grupo de professores opina sobre o mesmo, bem como o material

didático elaborado e a sua relevância para o chão da escola pública.

Para melhor exemplificar essas questões, foram selecionados alguns

apontamentos feitos pelos professores ao longo do GTR que esclarecem a

relevância do curso e das atividades propostas:

- Sujeito 1 - A partir de projetos como o desse curso, poderemos ter uma nova

visão dentro da escola sobre a necessidade de ter mais cuidado e atenção com a

diversidade cultural, contribuindo para diminuir os pré-conceitos ainda existentes

em nossa escola e comunidade em relação ao outro.

- Sujeito 2 – O Material Didático Pedagógico é interessante e pertinente. Além

disso, é possível ser desenvolvido em qualquer escola, mesmo que tenha que ser

feito alguns ajustes, pois cada escola tem realidades diferentes, porém há os

mesmos desafios. Ao propor um trabalho pedagógico de discussão, de análise, de

reflexão e na tentativa de alcançar mudanças seja no comportamento ou na

compreensão por parte do aluno, certamente estará realizando um ensino

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significativo. Vale lembrar que o aluno sente-se motivado ao estudar temas que

estão próximos do seu universo. Isso o faz sentir-se sujeito do seu aprendizado.

4. A IMPLEMENTAÇÃO DO PROJETO E DAS AÇÕES DO CADERNO

PEDAGÓGICO NA ESCOLA

Para a implementação do projeto e das ações do caderno pedagógico na

escola, é preciso clarificar as questões teóricas sobre diversidade e cultura,

aspectos diretamente trabalhados ao longo das atividades, bem como alguns

parâmetros legais sobre os mesmos.

Ao buscar um dicionário (Ferreira) se tem como definição que o termo

diversidade se refere à variação e convivência de ideias, diferenças de

características em um determinado assunto, situação ou ambiente.

Já o termo Cultura, que do latim significa cultivar o solo, cuidar, existem

outros termos e concepções, mas se referem às práticas e ações sociais, que

seguem um determinado padrão. Estão englobadas nelas as crenças,

comportamentos, valores, regras morais que determinam à forma de convivência

de uma sociedade ou grupo social. A transmissão da cultura se dá de duas formas

através da educação e do vínculo familiar, onde cada geração transmite e ensina

seus filhos conhecimentos e valores morais adquiridos pelas gerações mais

antigas. Laraia (2005, p. 26) diz que:

A cultura determina o comportamento do ser humano e justificam suas realizações, mais do que a herança genética; o homem segue padrões culturais que influenciam seu modo de agir, sendo seus instintos parcialmente anulados ao longo do processo evolutivo; a cultura funciona como um meio de adaptação do homem aos diferentes ambientes ecológicos (e em decorrência disto, este foi capaz de transpor as barreiras das diferenças ambientais); adquirindo cultura, o ser humano passou a depender muito mais do aprendizado, e este processo, determina seu comportamento e sua capacidade profissional e artística; e a cultura é um processo cumulativo, que resulta de toda a experiência histórica das gerações anteriores.

Portanto, o que se nota é que a cultura de um determinado grupo social

determinará os padrões de convivência entre os indivíduos.

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Muitos documentos já foram editados, objetivando a erradicação do

preconceito étnico racial, como a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional

(LDBEN), ratificando posição da Constituição Federal de 1988, determina que “o

ensino da disciplina de História levará em conta as contribuições das diferentes

etnias para a formação do povo brasileiro, especialmente das matrizes indígena,

africana e europeia” (art. 26, § 4º).

Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) propõem os temas

transversais que deverão perpassar as diferentes disciplinas curriculares sobre a

diversidade cultural, com o estudo da Pluralidade Cultural.

A temática da Pluralidade Cultural diz respeito ao conhecimento e à

valorização das características étnicas e culturais dos diferentes grupos sociais

que convivem no território nacional, às desigualdades socioeconômicas e à crítica

às relações sociais discriminatórias e excludentes que permeiam a sociedade

brasileira, oferecendo ao aluno a possibilidade de conhecer o Brasil como um país

complexo, multifacetado e algumas vezes paradoxal. (PCN’s 1997)

Mas ainda existe uma grande dificuldade de como se trabalhar este tema

no ambiente escolar sem que se promovam ondas de preconceito ou de racismo.

Este é um dos grandes problemas do sistema educacional, a qualificação do corpo

docente, que na sua grande maioria de formação polivalente, precisam estar

habilitados a trabalhar com essa nova temática curricular.

A Escola deve propiciar o conhecimento da diversidade cultural e

pluralidade étnica, demonstrando as informações culturais do patrimônio histórico,

contribuindo para a construção de uma escola plural e cidadã e formando

cidadãos históricos e como agentes de transformação social. Partindo desta

proposta inicial, este projeto busca enforcar dois aspectos básicos sobre a

diversidade cultural. Primeiramente uma definição sobre o que é cultura e de que

maneira ela pode influenciar no ambiente escolar, posteriormente enfatizou-se a

grande chaga que existe no ambiente escolar: a diferença social que pode gerar o

fracasso escolar.

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4.1 Primeiro momento – Pesquisa sobre o perfil do aluno

Para começar a implementação do projeto e das ações do caderno

pedagógico foi feita uma reunião durante a semana pedagógica da escola para

apresentar o projeto à direção, equipe pedagógica e aos docentes do Colégio

Estadual Shirlene de Souza Rocha, com o objetivo de que todos tivessem a

oportunidade de conhecer a proposta e as intenções do projeto, e também

participar das atividades de alguma forma. Também ocorreram reflexões e

questionamentos sobre o Projeto e seus Objetivos. Esse momento foi significativo,

uma vez que a proposta foi avaliada como algo condizente com a realidade da

escola na medida em que visa atender os problemas encontrados na escola,

relacionados ao preconceito que os alunos oriundos da zona rural sofrem.

Como ações previstas no primeiro momento foram pesquisados os perfis

dos alunos do 6º ano, protagonistas do projeto, a fim de analisar o perfil de cada

aluno, buscando conhecer a história cultural da comunidade em que ele vive. Isso

foi de extrema importância para a execução do projeto, pois a escola é

dissimuladora de culturas, uma vez que conta com um vasto repertório cultural em

seu rol de características, conhecida pela sociedade como “diversidade cultural”.

Quando se refere a isso, logo se tem a ideia de diferenças sociais e

culturais que envolvem significativamente o ambiente social, cultural e étnico. São

estas diferenças que estão presentes dentro do ambiente escolar e leva a

preocupação de como trabalhar isso dentro de sala de aula, pois toda a turma tem

uma formação heterogênea, com ritmos diferentes de aprendizagem e com uma

variação de realidade social e cultural. A escola é um espaço sócio cultural onde

estas diferenças devem ser respeitadas e que garantam a educação escolar,

como um direito social e que possibilite a inclusão. Para Paulo Freire (1979, p. 38):

O homem enche de cultura os espaços geográficos e históricos. Cultura é tudo o que é criado pelo homem. Tanto uma poesia como uma frase de saudação. A cultura consiste em recriar e não em repetir. O homem pode fazê-lo porque tem uma consciência capaz captar o mundo e transformá-lo.

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Sendo assim, cultura é o conjunto de crenças, valores, comportamentos e

regras morais que conferem identidade ao grupo social. Na verdade corresponde

ao modo de vida de um povo ou nação, constituindo e expressando o seu modo

de sentir, pensar e agir.

4.2 Segundo Momento - Levantamento dos alunos provenientes da área rural

Inicialmente foi explicado aos alunos do 6º ano sobre o projeto, uma vez

que os mesmos foram o público alvo do trabalho, a fim de que haja uma

familiarização dos estudantes com a temática explanada. Os alunos mostraram

interesse pelas ideias e atividades do projeto.

Essa atividade contou com uma leitura de texto, além do uso da imagem

em sala de aula (vídeo, ilustrações) sobre as regiões ao redor da cidade, a fim de

aprofundar o conhecimento sobre a importância da cultura no cotidiano, utilizar

outras fontes históricas e identificar a relação entre a cultura e a educação e

também como forma de verificação dos conhecimentos que os alunos têm sobre a

história do bairro e do colégio.

Por meio do levantamento realizado na turma, verificou-se que a maioria da

turma é oriunda da zona rural do município. Quando questionados sobre as

dificuldades que enfrentam no dia a dia, os alunos relataram diversos problemas,

desde a locomoção de casa para a escola ou em outros lugares específicos, até a

discriminação que sofrem no espaço escolar. Contaram também que muitas vezes

já pensaram em desistir dos estudos, devido todos essas questões, que acabam

por contribuir para o fracasso escolar dos alunos.

Por isso, ao se fazer o levantamento dos alunos provenientes da área

rural, foi necessário expor a todos os alunos alguns apontamentos sobre cultura e

o respeito que se deve ter para com todos.

Segundo Freire (1979, p. 36) a cultura de um povo é formada por vários

elementos, como crenças, ideias, mitos, valores, danças, festas populares,

alimentação, modo de se vestir, entre outros fatores. É uma característica muito

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importante de uma comunidade, pois a cultura é transmitida de geração em

geração e demonstra aspectos locais de uma população. Em se pensando em

Brasil por ter uma grande dimensão territorial e uma população numerosa e

miscigenada, com grande quantidade de descendentes de europeus, africanos,

asiáticos e índios, apresentam uma vasta diversidade cultural no seu povo.

São estas diferenças que estão presentes dentro do ambiente escolar e

leva a preocupação de como trabalhar com estas diferenças dentro de sala de

aula, pois toda a turma tem uma formação heterogênea, com ritmos diferentes de

aprendizagem e com uma variação de realidade social e cultural. A escola é um

espaço sócio cultural onde estas diferenças devem ser respeitadas e que

garantam a educação escolar, como um direito social e que possibilite a inclusão.

Para Paulo Freire (1979):

O homem enche de cultura os espaços geográficos e históricos. Cultura é tudo o que é criado pelo homem. Tanto uma poesia como uma frase de saudação. A cultura consiste em recriar e não em repetir. O homem pode fazê-lo porque tem uma consciência capaz captar o mundo e transformá-lo (FREIRE 1979, p. 38).

Portanto, a busca constante das escolas para trabalhar e respeitar estas

diferenças tem o poder de transformar as desigualdades em aprendizagem, são

desafios no cotidiano escolar e que muitas vezes não tem êxito resultando no

fracasso escolar.

Moreira (2002) afirma da seguinte maneira:

O avanço das pesquisas e da experiência, os professores disporão de instrumentos que lhes permitem delimitar melhor a natureza dos obstáculos à aprendizagens encontradas em cada aluno e, portanto, saber se requerem uma intervenção urgente, ou um desvio, ou um tempo de latência, por exemplo, dando à criança tempo para crescer, amadurecer, superar as crises familiares ou problemas de individualidade. Os professores precisam encontrar meios de criar espaço para mutuo engajamento das experiências de multiplicidade de vozes, por um único discurso dominante. Mas professores e alunos precisam encontrar maneiras de que um único discurso se transforme em local de certeza e aprovação. Moreira (2002, p. 106)

Segundo Ferreira (1998), a expressão fracasso tem o significado de

desgraça, desastre, perda; mau êxito. Quando se refere ao fracasso escolar então

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se pode dizer aquele que não teve êxito em sua jornada ou rendimento escolar, o

que pode gerar a reprovação e até a evasão escolar.

Já Patto (1999) diz que o fracasso escolar é o calcanhar de Aquiles das

escolas públicas, embora se tenha realizado varias tentativas de mudar este

quadro. Essas tentativas não podem ser vistas como um passe de mágica é

preciso um envolvimento maior não somente do professor, mas de todos os

segmentos escolares, que estão envolvidos no processo de aprendizagem e que

reflitam sobre os elementos históricos, a fim de compreender os motivos e as

relações existentes sócios, econômico, políticos e culturais. Porém o que se nota é

que a realidade é outra e Nagel (1989) afirma assim:

A escola não pode esperar por Reformas Legais para enfrentar a realidade que lhe afoga. Além do mais, a atitude de esperar “por decretos” [...] reflete o descompromisso de muitos e a responsabilização de poucos com aquilo que deveria ser transformado. A escola tem uma vida interior que, sem ser alterada por códigos legislativos, pode trabalhar com o homem em nova dimensão, bastando para isso que seus membros se disponham a estabelecer um novo projeto de reflexão e ação (Nagel, 1989, p.10).

Sendo assim, a primeira tentativa da escola e seus segmentos a fazerem

este enfrentamento. Patto (1999) cita que a maioria dos educadores acredita que

a criança carente não aprende, mas que na verdade isso é um mito, mas é o

professor que não está preparado para enfrentar a situação e também está

desmotivado.

Já Saviani afirma da seguinte maneira:

[...] ato de produzir, direta e intencionalmente, em cada indivíduo, singular, a humanidade que é produzida histórica e coletivamente pelo conjunto dos homens. Assim, o objeto da educação diz respeito, de um lado à identificação dos elementos culturais que precisam ser assimilados pelos indivíduos da espécie humana para que eles se tornem humanos e, de outro lado concomitantemente, à descoberta das formas mais adequadas para atingir esse objetivo (Saviani, 1991, p. 21).

O mesmo autor complementa que a escola está eleita pela sociedade para

refletir sobre o saber através da cultura, da seguinte maneira:

A escola existe, pois, para propiciar a aquisição dos instrumentos que possibilitem o acesso ao saber elaborado (ciência), bem como o próprio

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acesso aos rudimentos desse saber. [...] o saber sistematizado, a cultura erudita, é uma cultura letrada. Daí que a primeira exigência para o acesso a esse tipo de saber é aprender a ler e escrever. Além disso, é preciso também aprender a linguagem dos números, a linguagem da natureza e a linguagem da sociedade. Está aí o conteúdo fundamental da escola elementar: ler, escrever, contar, os rudimentos das ciências naturais e das ciências sociais (história e geografia humanas) (Saviani 1991, p. 23)

Finalizando este pensamento com Nagel que diz: “repensar a sociedade

exige que, no mínimo se tenha o conhecimento sobre ela” (Nagel, 1989, p.10).

Portanto, é preciso repensar a situação em que o aluno está inserido, seja

em qualquer situação, principalmente quando se pensa no fracasso escolar.

Dessa forma, esta atividade foi significativa para que a turma toda compreendesse

as questões que envolvem a cultura, a fim de que haja um respeito à vivência e

modos de pensar do outro.

4.3 Terceiro momento – Construção da árvore genealógica

Essa atividade teve como objetivo conhecer a linhagem familiar de cada

aluno, por meio de uma pesquisa individual com a sua família. Após, os dados

coletados, cada aluno construiu sua própria árvore genealógica e descobriu

diversos aspectos referentes ao seu registro de nascimento, nomes e

descendentes, a fim de estimular o reconhecimento de si mesmos como sujeitos

históricos e culturais, a partir das fontes históricas coletadas e principalmente de

relatos orais.

Tais encaminhamentos foram pensados a partir da premissa de que o ato

de ensinar não é algo mecânico somente de transmissão de conhecimentos, mas,

é algo profundo e dinâmico. A identidade cultural do aluno é essencial para uma

prática pedagógica progressista, para tanto o professor deve ter a sensibilidade

aguçada para definir quais os métodos a se colocar em prática no seu ensinar.

Claramente no texto Pedagogia da autonomia de Paulo Freire (1996) o

autor salienta que esta transferência de conhecimento deve ser construída com a

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conscientização e o testemunho do cotidiano cultural para se obtiver eficiência

para ele, educar é como viver, exige a consciência do inacabado porque a

"História em que me faço com os outros (...) é um tempo de possibilidades e não

de determinismo” (FREIRE, 1996, p. 58).

Combate que o educador não deve castrar a curiosidade do aluno, impondo

a memorização mecânica dos conteúdos, tirando-lhe a liberdade de pensamento.

Ao professor orienta que ele deve buscar sempre a autonomia, dignidade e a

identidade do aluno promovendo uma educação autêntica e operante.

Essa atividade contribuiu para que o aluno resgatasse, junto à família, as

linhagens das quais é descendente. A ação da família nesse momento foi muito

importante para a concretização do trabalho.

4.4 Quarto momento – Relação entre a cultura e o desenvolvimento da

comunidade

O intuito dessa atividade foi identificar a relação entre a cultura e o

desenvolvimento da comunidade, por meio de uma pesquisa sobre a rotina da

cidade e do campo.

A proposta implícita nessa atividade não foi apenas confrontar as diferenças

da rotina do campo e da cidade, mas foi principalmente provocar a reflexão dos

alunos que vivem na cidade sobre a vida no campo, que possui muitos desafios

diariamente e por isso devem ser compreendidos em sua essência, necessidades

e a grande relevância do seu trabalho para a sociedade como um todo, uma vez

que se depende deste esforço para adquirirmos nosso alimento de cada dia.

Como outros seres vivos, o homem vive em sociedade e depende dos seus

semelhantes para sobreviver. Não existe homem individual, pois todas as

características do homem são construídas na relação com outros homens e com o

meio ambiente. Nessa relação, os homens aprendem com a experiência no

contato com tudo que o cerca.

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Toda essa experiência é realizada no sentido de dominar a natureza,

conhecendo-a, transformando-a, ou mesmo destruindo-a, para poder sobreviver.

Ao conseguir o controle parcial da natureza, transformando-se as necessidades

humanas e como consequência o próprio homem é modificado. Não se pode

compreender o homem dissociado da sociedade, da cultura e da educação

construída historicamente por ele próprio. Isso porque o homem universal é ele

mesmo e se transforma.

Ao enfocar o envolvimento de toda comunidade escolar num amplo trabalho

de conscientização, criatividade e percepção desse homem como um ser

transformador. Para que isso aconteça faz-se necessário buscar na essência

desse ser a consciência das relações, das ações, da afetividade, a busca do

conhecimento para que esse venha amadurecer e enriquecer os propósitos da

ética, cidadania e amor.

É papel de a escola preparar o homem para a vida em comunhão com

seus semelhantes, a sociedade e a natureza com o mundo, respeitando suas

diferenças e cultural que é complexo e cheio de facetas. Não se está somente

falando de diferenças culturais mais sim da identidade de um grupo social ou de

um povo. Elas exigem uma postura crítica e política, com um olhar ampliado e

cheio de particularidades. Duarte (1986, p.175) nos ajuda a compreender tais

apontamentos a partir das conceituações tradicionais de educação que

[...] em geral dão maior ênfase à sua dimensão subjetiva, ou seja, aos aspectos de sua prática ligados exclusivamente aos sujeitos da educação, ao seu aprimoramento individual e ao alcance de certas ideias morais e intelectuais tidos como superiores, independente de tempo e lugar. Conceituações mais recentes, sobretudo a partir de Durkheim, consideram a educação como dependente das condições sociais, que variam segundo o país e a época. Essa nova abordagem tanto pode destacar o papel que a educação exerce para uma suposta harmonia social e um ajustamento funcional ao todo, ou, segundo outras tendências interpretativas, denunciar o sentido de controle social que ela impõe, na medida em que serve ao Poder, inculcados valores dos grupos dominantes da sociedade e assim colabora para a reprodução e perpetuação da mesma ordem social ao longo das gerações.

De acordo com os PCN’s, a diversidade cultural deve ser trabalhada de

maneira transversal em todas as disciplinas e a prática pedagógica deve ser

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colocada de forma transdisciplinar, pois, a diversidade está nos alunos, em seus

modos de ler, de falar, de aprender e de se relacionar.

Sendo assim, a intenção ao se propor ações pedagógicas e de se

trabalhar a pluralidade cultural dentro do ambiente escolar foi combater os

preconceitos e discriminações relacionados à etnia, deficiências e culturas.

Quando se relaciona diversidade cultural e educação não é apenas para

ensinar ao aluno a reconhecer o outro como diferente. Significa refletir a relação

dele como o outro indivíduo, a escola como um espaço sócio cultural tem esta

possibilidade de demonstrar estas diferenças e que elas precisam ser respeitadas.

Porém a ideia de homogeneidade deve ser derrubada é preciso entender

que a educação faz parte do processo de desenvolvimento do ser humano. Do

ponto de vista de Paulo Freire a educação é o mecanismo propulsor para os

avanços humanos e que as práticas pedagógicas estabelecem maneiras

diferentes de transmitir o conhecimento.

Isto ocorrerá através principalmente do diálogo entre os professores e os

alunos, ocasionando em uma educação critica e questionadora da realidade.

Também defende que as práticas educativas têm o poder transformador de

desenvolvimento do país, resultando em uma sociedade cooperativa.

4.5 Quinto momento – Confecção e exposição de um painel renovável sobre

os problemas vividos pelos alunos oriundos da zona rural

Após uma pesquisa sobre os problemas vividos pelas pessoas que chegam

à cidade e que vieram do interior, foi montado um painel com as imagens

coletadas, a fim de que estas sejam analisadas e que os alunos reflitam sobre os

aspectos encontrados na pesquisa. Posteriormente, fez-se uma exposição do

painel para que também a comunidade escolar possa perceber as dificuldades

pelas quais essas pessoas passam.

Optou-se por trabalhar com a interdisciplinaridade na implementação das

atividades do projeto por ter ciência dos problemas ambientais pelos quais o

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planeta está passando. Sendo assim, a partir de atividades que envolvam a

sustentabilidade, se acredita ser possível formar um cidadão menos preocupado e

mais indignado, um cidadão que sabe mediar conflitos, propondo soluções

criativas em favor da solidariedade humana e do equilíbrio ambiental.

Embora o homem tivesse sempre buscado interrogar a si mesmo, apenas

no século XVIII é que o próprio homem começa a ser tomado como objeto do

conhecimento. E no século XIX, a antropologia define como objeto de estudo as

populações não pertencentes à civilização ocidental, as chamadas “sociedades

primitivas”.

Além disso, atualmente, para que o professor estabeleça uma relação com

seu aluno, de forma que o mesmo se interesse pelo aprendizado, já que a escola

não é algo tão atraente no modelo como está constituída hoje, é fundamental

trazer o cotidiano pra dentro da sala de aula, a fim de tornar as aulas mais

interessantes, além de partir da realidade do aluno.

Na profissão de educador as trocas de experiências deveriam acontecer

com maior frequência, para que o aprendizado seja constante, pois como diz o

grande mestre Paulo Freire "Ninguém ignora tudo. Ninguém sabe tudo. Todos nós

sabemos alguma coisa. Todos nós ignoramos alguma coisa. Por isso aprendemos

sempre".

4.6 Sexto momento – Confecção de um painel com dicas de utilidade pública

Como constatado na pesquisa da atividade anterior, muitos são os

problemas que as pessoas oriundas da zona rural enfrentam. Por isso, foi

proposta a confecção de um painel com dicas como: utilidades públicas; telefones

úteis; endereços, com o intuito de ajudar os alunos a realizar ações de cidadania

com: identidade, CPF, agendamento de consultas com dentistas, especialidades e

exames.

Essa atividade foi importante para que os alunos se tornem cidadãos

comprometidos com o exercício de sua cidadania, buscando primeiramente obter

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os documentos necessários para isso, com a finalidade de “Ser, ao mesmo tempo,

totalmente biológico e totalmente cultural”, (MORIN, 2001, p. 40). Com isso, o

autor procura estruturar a concepção de homem e, em consequência desta e a

expectativa em relação ao cidadão que quer formar. Entendendo o sujeito tanto

físico como social, tem a intenção de desenvolver no aluno a consciência e de

interagir de maneira crítica, criativa e consciente com seu meio natural e social.

Ainda, para Morin (2001, p. 16):

Alguns desafios são fundamentais no que se refere à formação do sujeito, desenvolver uma aptidão para contextualizar e integrar, para situar qualquer informação em seu contexto, para colocar e tratar os problemas, ou seja, o grande desafio de formar sujeitos que possam enfrentar realidade cada vez mais complexa.

A fim de que os alunos tivessem a oportunidade de conhecer os espaços

públicos do município, tais como a câmara municipal, agência do trabalhador,

centro policial, farmácia municipal e secretaria municipal de saúde, para que haja

futuramente a realização de ações de cidadania e busca de direitos, foram

organizadas visitas guiadas.

Figura 1 – Visita à Câmara Municipal

Fonte: Wendrechovski (2014)

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Fonte: Wendrechovski (2014)

Figura 2 – Visita ao posto policial do município

Figura 3 - Visita à agência do Trabalhador do Município

Fonte: Wendrechovski (2014)

21

Figura 4 - Visita à Farmácia Municipal

Fonte: Wendrechovski (2014)

Figura 5 - Visita à Secretaria Municipal de Saúde

Fonte: Wendrechovski (2014)

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4.7 Sétimo momento – Elaboração de um livreto

Como resultado das atividades de pesquisa, foi elaborado e construído um

livreto sobre a vida do cotidiano no campo e na cidade, com o objetivo de que a

comunidade escolar em geral também tenha conhecimento sobre tais aspectos,

além de que os alunos se sintam valorizados e respeitados por sua origem

cultural.

Este trabalho permitiu ao aluno fazer elos, tornando a aprendizagem

coerente, com o intuito de oferecer uma prática pedagógica voltada à

compreensão da realidade social. Podemos considerar sobre esta perspectiva que

socializar o conhecimento deve ser tarefa primordial da escola, mas é também de

atuar na transformação dos saberes e essa soma de esforço que promove o pleno

desenvolvimento e envolvimento do indivíduo como cidadão.

As atividades com a temática das rotinas do campo e da cidade é

importante de se desenvolver, pois os alunos podem ter um momento de interação

e cada um descobre coisas novas, inclusive o professor. O trabalho traz resultado

positivo, pois os alunos apresentam as vantagens e desvantagens de morar na

zona rural e na zona urbana. Assim todos percebem os desafios que cada um

enfrenta no seu dia a dia e a partir disso, tem a oportunidade de praticar a

alteridade, isto é, de se colocar no lugar do outro para compreender suas

vivências.

4.8 Oitavo momento – Apresentação do material construído à comunidade

escolar

Nessa etapa, foram reunidas as atividades realizadas até o momento para

apresentar o material desenvolvido à comunidade escolar.

Tal ação foi importante para que de fato ocorresse uma expansão das

atividades desenvolvidas ao longo do projeto, por meio da apresentação à

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comunidade escolar a fim de que tais elementos não ficassem restritos somente

ao ambiente de sala de aula, mas que todos tivessem acesso aos conhecimentos

apreendidos e resultados obtidos durante o processo de implementação das

atividades.

Trabalhar com a diversidade é imprescindível dentro da escola, pois nos

relacionamos com diversas pessoas todos os dias e muitas delas merecem um

olhar e um tratamento diferenciado, por isso resgatar a história de vida dos alunos

oriundos da zona rural, neste caso, foi o primeiro passo, pois só respeitamos e

damos valor aqueles que conhecemos. Nesse sentido, trabalhar com

metodologias diferenciadas que busquem melhorar o ambiente escolar e valorizar

os que dele fazem parte, torna o conteúdo mais atrativo e de fácil compreensão o

que ocorreu com a condução dessa atividade.

4.9 Nono momento – Exposição e partilha de alimentos produzidos na zona

rural

Para a finalização da implementação do projeto foi organizado uma

exposição dos alimentos produzidos pelos alunos oriundos da zona rural, a

oportunizando assim ao aluno a ser o produtor de seu conhecimento, trazendo

seus produtos para a sala de aula. Para aproveitar esses alimentos, foi realizada

uma partilha durante a merenda escolar.

Essa atividade vai de encontro com o que Freire (1996) propõe, pois

defende que é preciso explicar e analisar a prática pedagógica do professor

referente a autonomia de ser e do saber do aluno. Destaca em especial a cultura

do aluno, o que ele traz de bagagem cultural do seu cotidiano, pois é um sujeito

essencialmente social e histórico. Afirma que "formar é muito mais do que

puramente treinar o educando no desempenho de destrezas”.

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Orienta que o professor deve buscar sempre esta ideia o que é primordial

para seu trabalho docente, ele utiliza a palavra ética para definir esta postura que

o professor deve assumir:

Não podemos nos assumir como sujeitos da procura, da decisão, da

ruptura, da opção, como sujeitos históricos, transformadores, a não ser

assumindo-nos como sujeitos éticos (...). É por esta ética inseparável da

prática educativa, não importa se trabalhamos com crianças, jovens ou

com adultos, que devemos lutar (PAULO FREIRE 1996, p. 17 e 19).

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Após o desenvolvimento das atividades realizadas ao longo do Programa

de Desenvolvimento Educacional – PDE pude ponderar a importância e relevância

dessa proposta para o meu trabalho profissional, bem como para a formação

continuada dos participantes, uma vez que subsidia a possibilidade de se

apropriar de conhecimentos mais atualizados por meio da relação estabelecida

com as Instituições de Ensino Superior, buscando intervir em uma problemática

encontrada no estabelecimento educacional em que atua. Além disso, a troca de

experiências e discussões sobre a temática apresentada no Grupo de Trabalho

em Rede – GTR foi outra excelente ferramenta que propiciou muitos debates e

conhecimentos.

Por isso, constata-se que o PDE é uma ferramenta de qualidade que

propicia eficácia em todo o processo de educação na medida em que proporciona

espaços de troca de saberes, por meio do diálogo e interação entre os membros

desse processo.

Infelizmente a escola que temos hoje ainda é muito segregadora e

classificadora. O que contribui para isso é o fato de vivermos em uma sociedade

que faz distinção e seleciona àqueles que acredita ser "melhor". Por isso há a

necessidade de socializar os saberes culturais dos educandos para que haja um

conhecimento da realidade de cada um e consequentemente um respeito à

diversidade de ideias e costumes dos alunos.

Entretanto não é bem assim que acontece em muitas de nossas escolas,

mesmo tendo seus direitos assegurados por lei, nossos alunos acabam ficando

pelo caminho, sem concluir sua escolarização. Devido o preconceito encontrado

ao longo de sua vida escolar, ele deixa a escola por se sentir desvalorizado,

ficando desmotivado ou mesmo sendo humilhado pelos colegas, tornando-se

invisível aos olhos de todos, inclusive aos olhos do professor infelizmente. Isso

significa que, consciente ou inconscientemente colaboramos para esse fracasso

escolar. Portanto se faz urgente um repensar pedagógico que seja colocado em

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prática para valorizar as diversas culturas que formam nosso país, para assim

eliminarmos a discriminação social e consequentemente diminuir a evasão

escolar.

Por esses motivos, a implementação do projeto pedagógico na escola foi

realizada com êxito, uma vez que verificou-se que houve uma melhora no

relacionamento entre os alunos da zona rural e àqueles da zona urbana, bem

como foi notável a ação de respeito que está coexistindo no ambiente escolar.

Por isso, somente com muito esforço e trabalho duro de nós educadores a

partir do espaço escolar é que conseguiremos superar esse desafio e eliminar de

uma vez por todas a desigualdade social que reflete na escola, a fim de construir

cidadãos críticos e atuantes em nossa sociedade. É nosso dever zelar pelo

respeito à diversidade de modo geral, fazendo valer os ideais liberais da escola,

respeitando os alunos oriundos da zona rural e fazê-los respeitados por outras

pessoas, considerando-os como "alunos", independente de sua cultura, religião,

condição social, etc. É importante também resgatar os conhecimentos do cotidiano

desses alunos para incorporar em nossas aulas, pois assim estaremos

valorizando esses saberes, facilitando o processo de adaptação e,

consequentemente colaborando para o sucesso escolar dos estudantes.

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REFERÊNCIAS

BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado, 1988.

BRASIL. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Leis e Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Diário Oficial da União. Brasília, DF, 1996.

BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: pluralidade cultural, orientação sexual. Brasília, DF: MEC/SEF, 1997.

FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa. 2. ed. revista e ampliada. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1998.

FREIRE, Paulo. Educação e mudança. 24 ed, Rio de Janeiro: 1979.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia. São Paulo. Paz e Terra, 1996.

MOREIRA, A. f. e SILVA, T. T., Currículo, cultura e sociedade. 6. ed. São Paulo:

Cortez, 2002.

MORIN, E. Educadores Sociais – Os sete saberes necessários a Educação do futuro. São Paulo. 2001.

NAGEL, Lízia. Avaliação, Sociedade e Escola: fundamentos para reflexão. Curitiba: Secretaria de Estado da Educação do Paraná, 1989.

PARANÁ. Grupo de Trabalho em Rede. Disponível em:

<http://www.gestaoescolar.diaadia.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=503> Acesso em: 20/set./2014. __________ Programa de Desenvolvimento Educacional. Disponível em:

<http://www.gestaoescolar.diaadia.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=20> Acesso em: 20/set./2014.

PATTO, Maria Helena Souza. A Produção do Fracasso Escolar: histórias de submissão e rebeldia. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1999.

SAVIANI, Dermeval. Pedagogia Histórico-Crítica: primeiras aproximações. 2. ed. São Paulo: Cortez / Autores Associados, 1991. (Coleção polêmicas do nosso tempo; v. 5).

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APENDICE A - Quadro I – Ações pedagógicas

AÇÕES CONTEUDOS OBJETIVOS TEMPO

1º Momento

Apresentação do tema aos alunos, com explanação, reflexões, questionamentos sobre o Projeto e seus Objetivos, que levará ao estudo e aprofundamento do Tema.

Pesquisa sobre o perfil do aluno Analisar o perfil do aluno.

Conhecer a história cultural da comunidade;

Verificar os conceitos apropriados pelo aluno.

5 aulas

2º Momento

Levantamento dos alunos provenientes da área rural

Leitura do texto

Uso da imagem em sala de aula (vídeo, ilustrações) em sala de aula,sobre as regiões ao redor da cidade.

Aprofundar o conhecimento sobre a importância da cultura no cotidiano

Utilizar outras fontes históricas

Identificar a relação entre a cultura e a educação

3 aulas

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Explanação oral sobre os dados informados

3º momento – Construir a árvore genealógica de cada aluno, montando sua árvore genealógica.

5º momento- Montar um painel renovável com as figuras coletadas, mostrando os problemas vividos pelas pessoas que chegam a cidade que vieram do interior

Exposição do painel (fotografar a construção do trabalho)

Indagar como se deu o desenvolvimento da região com informações colhidas com avós ou pessoas da comunidade- 4º momento

Identificar a relação entre a cultura e o desenvolvimento da comunidade

Realizar pesquisa sobre sua rotina da cidade e no campo. 6º momento

10 aulas

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Produção de final

7º momento Elaboração de um texto e uma ilustração para a construção de um livreto sobre a vida do cotidiano no campo e da cidade.

Reunir a comunidade para apresentar o material desenvolvido; 8º momento

Produção de caderno de textos com as reflexões dos alunos 9º momento

Oportunizar ao aluno ser o produtor do seu conhecimento.

Oportunizar aos alunos trazer diversos produtos agrícolas e explicar seu processo de produção.

Partilhar um café em sala com produtos fabricados no campo e que são utilizados na sua mesa no dia a dia. 10º momento

10 aulas