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OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE Artigos Versão Online ISBN 978-85-8015-080-3 Cadernos PDE I

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OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE

Artigos

Versão Online ISBN 978-85-8015-080-3Cadernos PDE

I

A GESTÃO DEMOCRÁTICA E A PARTICIPAÇÃO DA FAMÍLIA NA

ESCOLA: UM ESTUDO A PARTIR DOS DOCUMENTOS ESCOLARES

DO COLÉGIO ESTADUAL SÃO CARLOS DO IVAÍ

Deuzelita Ferreira Da Silva1

Alessandro Santos da Rocha 2

RESUMO: Considerando que a formação educacional é um processo que ocorre em diferentes espaços e ambientes, e que a família desempenha uma função importante no desenvolvimento escolar do aluno, a presente pesquisa objetivou o estudo da importância da participação da família na Escola, e da implementação de um projeto de intervenção no ambiente escolar. Para além, teve como objetivo, analisar o Projeto Político Pedagógico do Colégio Estadual São Carlos do Ivaí – EFM, tendo por foco o envolvimento da comunidade escolar na gestão democrática e, ainda, buscou verificar a organização do trabalho pedagógico da escola para estimular práticas e reflexões sobre a cidadania, por meio de atividade que envolvem as relações entre os alunos, família, professores e a equipe de gestão escolar.

Palavras-chave: Gestão Escolar; Gestão Democrática; Participação da Família na Escola; Colégio Estadual São Carlos do Ivaí.

1 INTRODUÇÃO

O foco deste trabalho aborda as decorrências das políticas educacionais

nacionais e estaduais no contexto histórico político do Estado brasileiro, assim como

seus fundamentos e princípios que embasam o processo da Gestão Democrática. A

escola em que foi desenvolvida a implementação do Projeto leva o nome de Colégio

Estadual São Carlos do Ivaí-Ensino Fundamental e Médio, e está no município de

São Carlos do Ivaí, pertencente ao Núcleo Regional de Paranavaí. O público/objeto

da intervenção foi a Comunidade Escolar (professores, pais ou responsáveis, grêmio

estudantil).

____________ 1. Professora PDE 2014 da área de Gestão Escolar,da Rede Estadual de Ensino do Estado do Paraná. 2, Orientador do PDE. Professor Adjunto da Universidade Estadual de Maringá.

Deste modo, com o intuito de fornecer subsídios para a compreensão desta

questão, foram analisadas as mudanças que podem ocorrer nas relações entre a

família e escola, considerando-se o fato de a educação ser um processo contínuo, o

qual se desenvolve no ambiente social em que a família desempenha um importante

papel no acompanhamento escolar do aluno, favorecendo o seu desenvolvimento na

aprendizagem.

A partir da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB 9394/96), a

escola tem obrigação de se articular com as famílias, e os pais têm o direito a ter

ciência do processo pedagógico, bem como de participar da definição das propostas

educacionais, mas a maioria dos pais não participa do processo de aprendizagem.

Neste sentido, justifica-se a realização deste estudo.

O Artigo 12, parágrafo 6 da LDB destaca que:

Os estabelecimentos de ensino, respeitadas as normas comuns e as do seu sistema de ensino, terão a incumbência de [...] articular-se com as famílias e a comunidade, criando processos de integração da sociedade com a escola. (LDBN 9394/96 artigo 12, parágrafo 6)

Outrossim, a problematização que norteou esta pesquisa foi a busca pela

resposta da questão: Qual modelo de Gestão democrática que consta no Projeto

Político Pedagógico do Colégio Estadual São Carlos do Ivaí que cria mecanismos

referentes ao envolvimento da família na vida escolar do aluno?

Neste contexto, os objetivos, previamente traçados, para se alcançar as

respostas a questão acima, foram: buscar subsídios bibliográficos sobre o Projeto

Político Pedagógico, proporcionando uma reflexão com fundamentação teórica,

referente ao cotidiano escolar, as práticas pedagógicas e a participação das

instâncias colegiadas, bem como, refletir sobre a construção coletiva da identidade

da escola pública, sobre a organização escolar (Conselho escolar, APMF, Conselho

de Classe e Grêmio Estudantil) e os documentos que regem o Projeto Político

Pedagógico e verificar as ações que estão apresentadas no Projeto Político

Pedagógico, as quais se remetem ao envolvimento da família na vida da escola.

2 EDUCAÇÃO E GESTÃO DEMOCRÁTICA: UMA REVISÃO DE LITERATURA

A educação tem uma função singular no processo de humanização do

homem e de transformação social. Conforme Brandão (1981, p.17), “[...] os

antropólogos ao se referir sobre o assunto pouco querem falar de processos

formalizados de ensino”. Eles identificam processos sociais de aprendizagem onde

não existe nenhuma situação propriamente escolar de transferência do saber.

A educação aparece sempre que aparecem formas sociais de condução e controle da aventura do ensinar-e-aprender. O ensino formal é o momento em que a educação se sujeita à Pedagogia (a teoria da educação), cria situações próprias para o seu exercício, produz os seus métodos, suas regras e tempos e constitui executores especializados. É quando surgem a escola, o aluno e o professor [...]. ( BRANDÃO 1981, p. 26)

A educação adquire então, maior notoriedade quando surgem formas sociais

de condução e controle da aventura de “ensinar e aprender”, como enfatiza o autor,

“[...] o ensino formal é o momento em que a educação se sujeita à pedagogia”

(BRANDÃO 1981,p.27). A partir deste entendimento, pode-se compreender o

processo de educar, desde a antiguidade, serve como um guiar do aluno ao

professor, senão, já na Grécia, o “pedagogo” da educação “conduzia” a criança até

seu mestre, para processos formais, em que se tem o professor, o aluno, e a escola.

A concepção de educação, para Brandão é entendida aqui como prática

social, portanto, constitutiva e constituinte das relações sociais mais amplas, a partir

de embates e processos em disputa que traduzem distintas concepções de homem,

mundo e sociedade. Para efeito desta análise, a educação pode ser vista como

processo amplo de socialização da cultura, historicamente produzida pelo homem, e

a escola, a qual se mostra como lócus privilegiado de produção e apropriação do

saber, cujas políticas, gestão e processos se organizam coletivamente ou

educacionalmente. Assim, efetivamente implicam o envolvimento e o

comprometimento de diferentes atores, incluindo gestores e professores vinculados

aos diferentes sistemas de ensino (DOURADOS, 2007, p. 926).

Para Durkhein, a educação é a ação exercida pelas gerações adultas sobre

aquelas que não estão ainda maduras para a vida social. Tem por objeto suscitar e

desenvolver na criança um certo número de estados físicos, intelectuais e morais,

que requerem dela, tanto a sociedade política em seu conjunto, quanto o meio

especial ao qual ela é mais particularmente destinada. Resulta da definição acima

que a educação consiste em uma socialização metódica da jovem geração

(DURKHEIN, 1975, p. 51).

Já Snyders (1988), conhecido pela defesa da “alegria na escola”, propõe uma

Educação que priorize a adequação da cultura, ou melhor de conteúdos culturais

que proporcionem ao aluno a satisfação de estar na escola. Não se trata da “alegria

pela alegria”, mas de um contexto de trabalho com conhecimento que produza a

alegria. Afirma:

De fato, meu problema é unir os dois temas [...]: para dar alegria aos alunos, coloco minha esperança na renovação dos conteúdos culturais. A fonte de alegria dos alunos, não a procuro do lado dos jogos, nem dos métodos agradáveis nem do lado das relações simpáticas entre professores e alunos [...] não renuncio a nenhum destes valores mas quero reencontra-los como consequências e não como causas primeiras (SNYDERS, 1988 p. 13).

Assim, percebe-se, por estes poucos exemplos, que as concepções de

Educação variam muito, considerando-se o contexto histórico cultural em que vivem

os defensores de cada concepção, bem como das análises que fazem de outras

concepções, ou seja, das críticas que cada autor propõe.

A gestão democrática é apenas uma vertente deste amplo universo da

Educação, e a família, mostra-se como um elo importante no processo de ensino e

aprendizagem. Seja no contexto de uma Educação que conceitua-se tradicional,

progressista, histórica, crítica e tantas outras.

Entre as concepções dialéticas e humanistas, está a concepção de Paulo

Freire, para o qual, refletir sobre educação é refletir sobre o ser humano, e educar é

promover a capacidade de interpretar o mundo e de agir para transformá-lo.

É fundamental, contudo, partirmos de que o homem, ser de relações e não só de contatos, não apenas está no mundo, mas com o mundo. Estar com o mundo resulta de sua abertura à realidade, que o faz ser o ente de relações que é (FREIRE, 1999, p. 47).

Percebe-se uma grande abertura ao aspecto de democracia nas concepções

freireanas, que defende a prática das relações humanas como um exercício de

liberdade, além da relação com o mundo.

Freire conheceu várias demonstrações da opressão e as usou para formular

sua crítica e análise dos modos pelos quais as ideologias dominantes e opressivas

estavam impregnadas nas leis, nos procedimentos e nas tradições das instituições e

sistemas como um todo. A educação popular na perspectiva freireana enfrenta o

desafio de uma prática político-pedagógica dos educadores para a formação de uma

cultura político-democrática e cidadã das classes populares.

A concepção de escola para Freire era de um ambiente democrático em que

o aprendizado correspondesse às expectativas do educando em que se cultiva o

diálogo, a vida, o respeito, a alegria e a liberdade de expressão. O ambiente

reflexivo e crítico da realidade é reflexo de sua experiência vivida. Paulo Freire se

firmava como educador progressista e denunciava as escolas em todos os níveis

como elitistas, excludentes e alienantes. Paulo Freire defendia a Educação Popular

capaz de atingir as massas, numa relação dialógica, distante daquele ensino em que

se pratica a imposição do saber trazendo o ensino que valorize a interação, a

construção do saber, a transformação da realidade. Assim, pode ser possível

delinear uma escola democrática capaz de acolher os alunos e a comunidade

escolar.

Uma boa contribuição às análises a respeito da relação entre escola e

democracia, vem de Dewey, defensor de um modelo de Educação que promova a

democracia e também nela se paute, além de ter a Educação, responsabilidade

social capaz de relacionar os problemas relevantes para a vida social do educando.

Ou seja, a escola tem que fazer sentido para a vida. Sendo assim:

Um programa de estudos, que tenha em vista as responsabilidades sociais da educação, deve apresentar situações cujos problemas sejam relevantes para a vida em sociedade e, em que se utilizem as observações e conhecimentos para desenvolver a compreensividade e o interesse social. (DEWEY, 1959, p. 212).

As concepções de Educação que fazem a relação com a democracia,

remetem ao ponto do “significado” da educação e ao mesmo tempo, objetivam

preparar o individuo para atuar numa sociedade de relações democráticas. Nesse

sentido, a participação da família na escola, por meio de instancias como os

conselhos escolares e outras similares, vem de encontro com esse objetivo e fazem

com que o aluno veja, desde cedo, que é possível e necessário participar. Ser um

cidadão consciente, ativo, não alienado e passivo.

É no ambiente familiar e escolar que o sujeito se prepara de acordo com os

padrões culturais e sócio-históricos pré-estabelecidos para atuar na sociedade.

Neste sentido, é interessante o estudo sobre a influência da família no processo de

aprendizagem e como se dá ou não o processo de articulação escola e família. De

acordo com uma interpretação da LDB, é necessário que haja a aproximação

desses dois contextos a partir de uma ação coletiva que completa a ação, já que

tanto o contexto familiar quanto o contexto escolar apresentam aspectos positivos e

negativos. Essa aproximação é prevista no Artigo 12º da LDB em seus incisos VI e

VII, que determinam a participação da comunidade e principalmente dos pais na

escola.

A legislação educacional brasileira também estabelece princípios em busca

da efetivação da gestão democrática e insere a família como um dos principais

elementos no fortalecimento da democratização escolar.

Neste contexto, a Constituição Federal promulgada no ano de 1988 traz ainda

como um dos princípios do ensino público brasileiro, em todos os níveis, a gestão

democrática. Diz o artigo 205 da Constituição Federal de 1988: "A educação, direito

de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a

colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu

preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho".

No entanto, as instituições e as leis são feitas a partir dos valores e

significações da sociedade para direcionar a ação em vista dos objetivos sociais,

pois Lei não é suficiente para mudar a realidade.

Acredita-se que a trajetória do termo “gestão” nas instituições escolares deva

provocar reflexões. Gestão democrática, gestão compartilhada e gestão participativa

são termos que, embora não se restrinjam ao campo educacional, fazem parte da

luta de educadores e movimentos sociais organizados em defesa de um projeto de

educação pública de qualidade, social e democrática.

A gestão educacional passa pela democratização da escola sob dois

aspectos: interno que contempla os processos administrativos, a participação da

comunidade escolar nos projetos pedagógicos; externo ligado à função social da

escola, na forma como produz, divulga e socializa o conhecimento. È preciso

ultrapassar o nível de entendimento sobre gestão como palavra recente que se

incorpora ao ideário das novas políticas públicas em substituição ao termo

administração escolar. O fato de que a ideia de gestão educacional desenvolve-se

associada a um contexto de outras ideias, como por exemplo, transformação e

cidadania, e permite pensar gestão no sentido de uma articulação consciente entre

ações que se realizam no cotidiano da instituição escolar e o seu significado político

e social.

A LDB, em seus artigos 14 e 15, apresentam as seguintes determinações:

Art. 14 Os sistemas de ensino definirão as normas da gestão democrática do ensino público na educação básica, de acordo com as suas peculiaridades e conforme os seguintes princípios: I. Participação dos profissionais da educação na elaboração do projeto pedagógico da escola; II. Participação das comunidades escolar e local em conselhos escolares ou equivalentes. Art. 15 Os sistemas de ensino assegurarão às unidades escolares públicas de educação básica que os integram progressivos graus de autonomia pedagógica e administrativa e de gestão financeira, observadas as normas de direito financeiro público. Cabe aqui, nesta regulamentação o princípio da autonomia delegada, pois esta lei decreta a gestão democrática com seus princípios vagos, no sentido de que não estabelece diretrizes bem definidas para delinear a gestão democrática, apenas aponta o lógico, a participação de todos os envolvidos.

Entende-se portanto a necessidade de que educadores e gestores se

reeduquem na perspectiva de uma política no sentido de criar novas formas de

participação na escola pública, tais como ouvindo, registrando e divulgando o que

alunos e comunidade pensam e falam. É tecendo redes de falas e de registros,

ações e intervenções que surgirão novos movimentos de participação ativa e cidadã.

Libâneo (2001, p. 349), concebe a gestão como sendo o conjunto de todas as

atividades “[...] de coordenação e de acompanhamento do trabalho das pessoas,

envolvendo o cumprimento das atribuições de cada membro da equipe, a realização

do trabalho em equipe, a manutenção do clima de trabalho, a avaliação de

desempenho". Como nos explica o autor, "Essa definição se aplica aos dirigentes

escolares, mas é igualmente aplicável aos professores, seja em seu trabalho na sala

de aula, seja quando são investidos de responsabilidades no âmbito da organização

escolar" (2001, 349). Por gestão democrática pode se compreender, ainda, aquela

que combina "[...] a ênfase sobre as relações humanas e sobre a participação das

decisões com as ações efetivas [da instituição escolar] (LIBÂNEO, 2001, p. 326).

Essa gestão tem como princípios a autonomia da escola e da comunidade educativa

que deve participar ativamente da tomada de decisões escolares.

Segundo Libâneo, as concepções de gestão escolar refletem posições

políticas e concepções de homem e sociedade. O modo da escola se organizar e se

estruturar tem um caráter pedagógico, ou seja, depende de objetivos amplos sobre a

relação da escola com a conservação ou a transformação social.

Conforme o autor em questão:

Para que a escola tenha uma comunidade de aprendizagem precisa adotar uma estrutura organizacional e processo de gestão respeite e valorize o desenvolvimento das competências de todos, pois, essas competências são meios valiosos para que cada membro aprenda a se expressar, enfrentar problemas, capacidade de comunicação liderança e acima de tudo perceba a escola como uma cultura organizacional.[...] de um lado, a organização como uma construção social envolvendo a experiência subjetiva e cultural das pessoas; de outro, essa construção não como um processo livre e voluntário, mas mediatizado pela realidade sociocultural e política mais ampla, incluindo a influência de forças externas e internas marcadas por interesses de grupos sociais sempre contraditórios e, às vezes, conflituosos. Tal visão busca relações solidárias, formas participativas, mas também valoriza os elementos internos do processo organizacional – o planejamento, a organização, a gestão, a direção, a avaliação, as responsabilidades individuais dos membros da equipe e a ação organizacional coordenada e supervisionada [...] (LIBÂNEO, 2001, p. 222).

Assim, reconhece-se que toda instituição escolar necessita de uma estrutura

de organização interna, geralmente prevista no regimento escolar ou legislação

específica estadual ou municipal.

Neste sentido, salienta-se que a Gestão Educacional abrange toda a

sociedade, enquanto que a Gestão Escolar está voltada para o interior da escola.

Dito de outra forma, a Gestão Educacional está voltada para todos os seguimentos

sociais, buscando referências nos mais variados espaços de composição social,

enquanto que Gestão Escolar está centralizada no funcionamento do interior da

escola, tais como: o que compete do administrativo, a importância e a função da

equipe pedagógica, secretaria, biblioteca, serviços gerais, atuação e mediação entre

o corpo docente e discente da escola e interagindo com as outras instâncias da

escola (Grêmio Estudantil, APMF e o Conselho Escolar).

3 A PARTICIPAÇÃO DA FAMÍLIA PARA UMA EDUCAÇÃO DE QUALIDADE

A participação da família na escola é fundamental para o processo de

aprendizagem. De acordo com Saviani, “[...] o trabalho educativo é o ato de produzir,

direta e intencionalmente, em cada indivíduo singular a humanidade que é produzida

histórica e coletivamente pelo conjunto dos homens” (SAVIANI, 2008, p. 13).

Todavia, a formação dos vínculos afetivos não é imutável, ele vai se diferenciando e

progredindo mediante as modificações do próprio desenvolvimento da pessoa, as

demandas sociais e as transformações sofridas pelo grupo cultural.

Além de adaptar as mudanças decorrentes do crescimento dos seus

membros, a família ainda tem a tarefa de manter o bem estar psicológico de cada

um, buscando sempre nova estabilidade nas relações familiares (KREPPNER, 2000

apud DESSEN; POLONIA 2007).

Conforme Libâneo,

Participação significa a atuação dos profissionais da educação e dos usuários (alunos e pais), na gestão da escola há dois sentidos de participação articulados entre si. Há participação como meio de conquista da autonomia da escola, dos professores, dos alunos, constituindo-se como prática formativa, como elementos pedagógicos, metodológicos e curriculares. Há a participação como processo organizacional em que os profissionais e usuários da escola compartilham, institucionalmente, certos processos de tomadas de decisão (LIBÂNEO, 2001, p. 139).

A escola deve buscar meios de conseguir a adesão da família para sua

responsabilidade de desenvolver atitudes para despertar no aluno o interesse em

querer aprender. A participação da população na escola dificilmente será alcançada

se não partir de uma atitude positiva da instituição com relação aos usuários, em

especial pais e responsáveis pelos estudantes, oferecendo ocasiões de diálogo, de

convivência verdadeiramente humana, numa palavra de participação na vida da

escola.

Muitas vezes a família dos educandos ainda tem a ideia de que para buscar

informação ou resolver um problema sobre os filhos tem que ir falar com a direção

da escola. Muitos pais ainda não se deram conta que a equipe pedagógica, o

supervisor e orientador são fundamentais na relação entre aluno, professor e família.

A partir do momento em que a família participa da vida escolar do filho, tudo

fica mais fácil, tanto o aprendizado da criança como o entendimento dos pais a

respeito do papel da escola. É como se fosse meio caminho andado para a escola

passar seus objetivos, problemas, bem como as atitudes e as questões

pedagógicas, isto é parte-se do pressuposto de que a escola e a família tem os

mesmos objetivos em relação ao aprendizado dos alunos.

De acordo com Weiss (1994) a relação entre a escola e a família:

[...] nos dias de hoje é uma das mais palpitantes questões discutidas por pesquisadores e gestores dos sistemas e unidades de ensino em quase todo o mundo. A escola deve completar a tarefa do lar, o aperfeiçoamento do caráter, encaminhando as tendências individuais para a harmonia e a estabilidade sociais. A família e a escola são duas instituições muito importantes no desenvolvimento mental, psicomotor, social e afetivo do ser humano. A educação bem sucedida da criança na família é que vai servir de apoio à sua criatividade e ao seu comportamento produtivo quando adulto, nesse contexto a família tem sido, é e será a influência mais poderosa para o desenvolvimento da personalidade e do caráter dos cidadãos (WEISS 1994, p. 32).

Diante do exposto, entende-se que o interesse da família pela vida escolar da

criança, exerce grande influencia na aprendizagem. Mostrar isso às famílias é tarefa

dos educadores, entre eles, o gestor. Para tanto, é preciso um trabalho de

conquista, de aproximação da escola em direção ä família, que pode estar distante

dos processos escolares, seja por conta do ritmo de vida de trabalho ou por não

valorizar a escola como setor importante na vida do filho.

4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS NA IMPLEMENTAÇÃO DO PROJETO

Para a efetivação da implementação foram realizadas as seguintes ações:

Inicialmente, foi realizada uma discussão do tema para implementação do

Projeto de Intervenção Pedagógica na Escola com a Direção e Equipe Pedagógica,

bem como se realizou um encontro para apresentação do Projeto e da Produção

Didática Pedagógica para a direção, professores, equipe pedagógica e demais

funcionários;

Também se realizou um encontro para reflexão e discussão sobre o Projeto

Político Pedagógico no que se refere ao envolvimento da comunidade escolar na

gestão democrática, bem como foi realizado um levantamento de dados através de

questionário para professores e pedagogos.

Outra etapa efetivada foi o encontro para análise e debate com os pais sobre

a importância da sua participação na escola.

A apresentação do Vídeo: “Família e escola: uma parceria que dá certo” foi

uma forma de ilustrar por meio de recursos audiovisuais, a temática referente à

gestão democrática.

Foi proposto e foi realizado também, uma leitura do texto: “A importância da

família e a escola”.

Buscando envolver a comunidade escolar, realizou-se a aplicação de um

questionário destinado aos pais para caracterização da escola.

Na abordagem com os discentes, foi desenvolvida uma oficina temática com

os alunos sobre o tema Função Social da Escola, bem como uma leitura do texto

“Educação para a democracia: O elemento que falta na discussão da qualidade do

ensino”, bem como uma oficina para apresentação do Projeto de Intervenção aos

alunos do grêmio estudantil, explicando a relevância do Projeto.

Realizou-se ainda a apresentação do documentário “Vista a minha Pele”,

seguida de uma análise e reflexão do documentário destacando a participação do

grêmio na gestão democrática. Uma ação muito significativa foi a oficina Temática com

os alunos do Grêmio Estudantil- “A importância do Grêmio na Gestão Democrática”. O

Grêmio Estudantil é a organização que representa os interesses dos estudantes na escola,

permitindo uma discussão sobre as inúmeras possibilidades de ação no próprio ambiente

escolar como também na comunidade, tendo como instrumento de apoio, a apresentação do

vídeo “Movimento Estudantil”, sendo que foi possível a confecção de cartazes com os

alunos do Grêmio Estudantil.

Os objetivos dessas ações estiveram voltados para a importância de

reconhecer e fazer com que o Grêmio Estudantil também se identifique como a

instância colegiada e deliberativa a partir da qual os estudantes se organizam de

modo mais sistemático. Assim , é fundamental que os alunos se apropriem, a partir

de situações reais, do conceito de representação e do que significa representar seus

pares em diferentes espaços, com vistas a assegurar a defesa dos interesses e das

necessidades do segmento dos alunos. Os educados quando atuam e se sentem

protagonistas dos processos decisórios da escola motivam até mesmo sua postura

dentro do ambiente escolar. Aliás, o grêmio estudantil é um grande aliado para

gestão democrática, pois é onde os jovens de fato exercem a sua cidadania,

entendendo na prática quais são seus direitos e deveres, e o que pode ser feito

para melhorar o contexto escolar, dando ideias e sugestões, assim, participando

efetivamente da construção democrática em seu ambiente escolar.

O desenvolvimento das atividades foi fortalecido com a realização do

Encontro com membros da APMF e Conselho Escolar, para destacar a sua

importância no acompanhamento e desenvolvimento da Projeto Político Pedagógico

do Colégio e a integração dos segmentos da sociedade no contexto escola, tendo

como embasamento teórico a apresentação do Vídeo: “Papel dos Colegiados na

gestão escolar” com Maria da Glória Gohn, Regina Vinhaes Gracindo e Márcia

Angela Águia, da série Fazendo escola, da TV Escola, que discute como é possível

estimular a participação e a atuação dos colegiados nas decisões sobre a escola.

Nesta ação, através de reunião procurou-se a reflexão sobre outros

segmentos que auxiliam à escola, na assistência ao educando, no aprimoramento

do ensino, a conhecer a realidade de nosso alunado, auxiliando no entrosamento

entre pais, educandos, professores e toda comunidade escolar. A APMF

(Associação de Pais, Mestres e Funcionários), busca integrar família – escola –

comunidade, enviando sugestões em consonância com Projeto Político Pedagógico,

através de atividades culturais desportivas e sócio – educativas. A permanência e o

crescimento dos educandos não dependem somente da escola, mas envolve ações

da família e da comunidade onde vivem esses alunos. Acreditam que precisam

sempre do apoio da comunidade escolar, porque pode servir para conhecer melhor

os alunos e automaticamente auxiliar no processo de ensino aprendizagem.

A Gestão Democrática da Escola emana da Lei de Diretrizes e Bases da

Educação Brasileira 9394/96 através do seu artigo 14, em que afirma "a participação

das comunidades em Conselhos Escolares ou equivalentes" demonstra a

importância do Conselho Escolar como um órgão colegiado, representativo da

comunidade escolar. Portanto, deve participar das políticas pedagógicas escolares e

ter autonomia para exercer sua função social que é a de promover a articulação

entre os vários segmentos organizados da sociedade e os setores da escola. Com

essa finalidade o Conselho Escolar está vinculado às ações propostas pelo

estabelecimento para solucionar os principais problemas escolares. Sendo assim

melhorar sua atuação, significa colocar os interesses pedagógicos da escola em

primeiro plano, na luta em valorizar o conhecimento historicamente elaborado e

defender os direitos dos educando de acesso a cultura, respeitando as diferenças

presentes, principalmente, na cultura regional.

Houve ainda a apresentação do Vídeo: “Relação Família Escola, bem como a

Leitura e análise do texto do sites “Relação entre família e escola e seus impactos

na educação”.

O contato com os pais ou responsáveis foi muito produtivo. Grosso modo,

aqueles que participaram expuseram a opinião de que acreditam ser positivo e

necessário a família na escola, porém relatam também que devido a rotina de

trabalho e pouco tempo disponível não acompanham integralmente a vida escolar de

seus filhos. Vão á instituição escolar quando convocados ou para entrega de

boletins, e ainda, muitos acreditam que à escola é sim o local de transformação

social capaz de formar esses jovens educando-os para a vida.

Após a implementação deste Projeto buscou-se finalizar as ações

desenvolvidas propondo uma reflexão sobre a gestão democrática, bem como sobre

a participação efetiva de todos os segmentos nos processos educacionais. A

construção da escola democrática passa por longo período de conscientização que

deve ser refletido pela Equipe Diretiva, Equipe Pedagógica, Professores,

Funcionários, Educandos, pais de estudantes e comunidade em geral, com objetivo

de um papel mais participativo desses sujeitos a se comprometerem com o processo

de mudança. É impossível mudar a forma atual de gestão, sem que se estabeleça a

articulação entre a escola e a comunidade que a serve, pois a escola não é um

órgão isolado e suas ações devem estar voltadas para atender as necessidades da

comunidade, com dedicação, responsabilidade e participação, para se chegar ao

objetivo da educação, que é promover o homem dentro de seu contexto social e

político. Grosso modo, através das atividades desenvolvidas todos os membros da

comunidade escolar puderam refletir sobre a presença da família na escola, e como

esta presença influencia no processo de aquisição do conhecimento por parte de

nosso educandos.

5 CONSIDERAÇÕES SOBRE O GRUPO DE TRABALHO EM REDE – GTR

Ao finalizar o GTR foi possível reconhecer a oportunidade que esse espaço

oferece para compartilhar e ampliar conhecimentos acerca da Gestão Democrática,

refletir sobre a prática diária no ensino de e enriquecer a atuação profissional na

docência. Percorrendo as atividades propostas e analisando a participação dos

cursistas, torna-se indispensável reconhecer o empenho dos participantes do Grupo

de Trabalho em Rede-GTR, nas leituras, nas reflexões e na resolução das tarefas

propostas, ou seja, participaram nos fóruns, diários e tarefas do GTR. Foi possível

identificar o interesse e envolvimento dos cursistas.

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao finalizar o percurso das atividades do PDE é possível reconhecer que o

processo de gestão deve ser integrador, valorizando o entrosamento da comunidade

e da família, pois a família e a escola são ambientes de aprendizagem fundamentais

para o desenvolvimento global da pessoa. Quanto melhor for a integração entre

ambas, mais positivos e significativos serão os resultados na formação do sujeito.

As evoluções sociais das práticas educacionais demandam a ampliação da

autonomia da escola e a democratização de sua gestão favorecendo assim, a

construção e re-construção do ambiente pedagógico escolar, como uma instituição

que conta com autonomia e cidadania, administrada compartilhadamente.

Os desafios existem, trabalhar em equipe não é uma tarefa fácil, formar

cidadãos frente à realidade que se vive também não, mas quando se trabalha com

boa vontade em busca de um objetivo comum os resultados aparecem, e a

participação coletiva é o maior meio de assegurar uma gestão democrática da

escola, possibilitando o envolvimento de toda comunidade na tomada de decisões,

proporcionando um maior conhecimento dos objetivos e metas. Assim, a

participação coletiva nas decisões da escola, bem como, o bom relacionamento

entre a comunidade escolar favorece o desenvolvimento de uma gestão democrática

sólida e efetiva.

REFERÊNCIAS

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