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1/10 CÓD. 91795 TRAMA Buritis, Belo horizonte-BH, 2019 é um projeto de intervenção urbana feito especialmente para as estrutu- ras/palafitas do bairro residencial de Buritis, Belo Horizonte-MG. As vigas e pilares destes “esqueletos urbanos” conformam enormes estruturas tridi- mensionais que servem de base para a construção do trabalho. A interven- ção é composta por telas fachadeiras entrelaçadas às estruturas de um dos edifícios escolhidos para ser objeto desta proposta. Como uma espécie de tear em escala urbana, a estrutura de concreto apa- rente exposta pelas palafitas possibili- ta a criação de diferentes padrões. As telas de obra (coloridas, translúcidas, leves, maleáveis e resistentes) ten- sionadas através dos pilares e vigas, criam novas superfícies e espaços, representando a ocupação do vazio e sugerindo sua transformação em lu- gar habitável. A intervenção proposta transforma radicalmente a espaciali- dade das palafitas, sugerindo e ques- tionando diversas possibilidades de uso. A dimensão e a localização da estrutu- ra escolhida, apesar de não serem de- terminantes, também são importantes para valorizar as qualidades do traba- lho como intervenção urbana. A grande dimensão da estrutura e a sua localização em uma encosta ex- posta com grande impacto na paisa- gem urbana, permite que o trabalho seja visto de vários pontos da cidade. Desta maneira não apenas o edifício, objeto desta intervenção, se trans- forma, mas toda o entorno. De certo modo, é como se o entrelace proposto pela tela extrapolasse a escala da pa- lafita, costurando não só o vazio, mas o tecido urbano fragmentado e segre- gado do bairro de Buritis. O novo padrão gráfico resultante das tramas das telas evidencia todo o po- tencial estético e lúdico deste material ordinário utilizado na construção civil. As cores e grafismos vibrantes fazem com que a intervenção se destaque na paisagem urbana. A tela de obra também simboliza o caráter de “obra inacabada” destes esqueletos de con- creto. OUTROS TERRITÓRIOS

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TRAMA

Buritis, Belo horizonte-BH, 2019

é um projeto de intervenção urbana feito especialmente para as estrutu-ras/palafitas do bairro residencial de Buritis, Belo Horizonte-MG. As vigas e pilares destes “esqueletos urbanos” conformam enormes estruturas tridi-mensionais que servem de base para a construção do trabalho. A interven-ção é composta por telas fachadeiras entrelaçadas às estruturas de um dos edifícios escolhidos para ser objeto desta proposta.

Como uma espécie de tear em escala urbana, a estrutura de concreto apa-rente exposta pelas palafitas possibili-ta a criação de diferentes padrões. As telas de obra (coloridas, translúcidas, leves, maleáveis e resistentes) ten-sionadas através dos pilares e vigas, criam novas superfícies e espaços, representando a ocupação do vazio e sugerindo sua transformação em lu-gar habitável. A intervenção proposta transforma radicalmente a espaciali-dade das palafitas, sugerindo e ques-tionando diversas possibilidades de uso.

A dimensão e a localização da estrutu-ra escolhida, apesar de não serem de-terminantes, também são importantes para valorizar as qualidades do traba-lho como intervenção urbana.

A grande dimensão da estrutura e a sua localização em uma encosta ex-posta com grande impacto na paisa-gem urbana, permite que o trabalho seja visto de vários pontos da cidade. Desta maneira não apenas o edifício, objeto desta intervenção, se trans-forma, mas toda o entorno. De certo modo, é como se o entrelace proposto pela tela extrapolasse a escala da pa-lafita, costurando não só o vazio, mas o tecido urbano fragmentado e segre-gado do bairro de Buritis.

O novo padrão gráfico resultante das tramas das telas evidencia todo o po-tencial estético e lúdico deste material ordinário utilizado na construção civil. As cores e grafismos vibrantes fazem com que a intervenção se destaque na paisagem urbana. A tela de obra também simboliza o caráter de “obra inacabada” destes esqueletos de con-creto.

OUTROS TERRITÓRIOS

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SOBRE A PROBLEMÁTICA“Traçar com régua e compasso uma ordem social harmônica, unitária, onde não haveria lugar para a chama-da desordem urbana” – Aarão Reis

Fundada em 1897 quando se inau-gurou o projeto executado a partir do plano desenvolvido por Aarão Reis, a cidade de Belo Horizonte não deveria contar com adensamento populacio-nal e construtivo em suas zonas su-burbana e rural, então situadas fora da Avenida do Contorno. No entanto, com o crescimento desregulamentado entre planejamento e projeto ocorri-do após a década de 1950, essa situa-ção se transformou radicalmente. Em uma área prevista inicialmente para cerca de 200 mil habitantes, em 2015 já constavam cerca de 2,5 milhões de pessoas.

A região Oeste da cidade tem se con-solidado como um dos principais ve-tores dessa expansão desde a década de 1980. O bairro de Buritis, que foi inicialmente previsto para ser um lo-teamento de baixa densidade devido sua topografia acidentada inadequada às tipologias de edifícios mais densos, sofreu fortes mudanças em sua estru-tura urbana devido à mudanças esta-belecidas nos instrumentos de con-trole do uso e ocupação do solo, por pressão do mercado imobiliário incen-tivaram o adensamento populacional e construtivo em uma área não propícia para tal.

A verticalização dos terrenos em en-costas, como forma de aumentar a rentabilidade dos empreendimentos, resultou na criação do condomínio “palafita”.

Completamente alheio à topografia existente, este destaca a completa falta de articulação entre o projeto e o local de sua implantação. Buscando assentar um embasamento plano, er-gue-se do solo o esqueleto estrutural que sustenta o edifício, estabelecendo uma relação paradoxal onde a espe-culação coabita com diversos espaços residuais de sua própria ocupação.

Esta relação paradoxal não se limita à questões espaciais ou de desenho e se evidencia ainda maior quando olhamos para a escala da cidade. O conjunto construído resultante deste padrão de ocupação expõe os violen-tos processos contidos na produção do território brasileiro ao constituir um tecido urbano fragmentado e segrega-do socioespacialmente. De um lado, a cidade formal com boa infraestrutura, que ocupa o máximo do coeficiente de aproveitamento mas deixa um estoque construtivo potencial de reserva sem destinação ou uso, do outro lado a ci-dade informal, que ocupa de maneira irregular e sem infraestrutura básica terrenos densamente povoados.

Nossa proposta parte da compreensão da impotência em agir frente à comple-xidade do problema apresentado. Mais do que propor a solução a este parado-xo socioespacial, buscamos evidencia--lo através do ato simbólico da tecela-gem. O processo de entrelaçamento da trama composta pelas telas de obra na urdidura dos pilares de concreto das palafitas evidencia visualmente o es-paço inacabado e não aproveitado dos vazios urbanos. Ao costurar o lugar, a intervenção transforma radicalmente a espacialidade das palafitas, sugerin-do e questionando as possibilidades de uso das mesmas.

VISTA BAIRRO BURITIS

OCUPAÇÃO DE ENCOSTA EM SITUAÇÃO DE RISCO

CROQUI OCUPAÇÃO ENCOSTA

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RUA DONÁ TINA X RUA PROF. CARLOS TUNES

ESCOLHA DA PALAFITA

GIGANTE I

PERÍMETRO BAIRRO BURITIS

VISTA 1 VISTA 2 VISTA 3RUA DAS TUIAS X RUA DAS ARTEMÍSIAS

FOTO DE SATÉLITE DOS ARREDORES DO BAIRRO BURITIS

RUA INÁCIO PARREIRA NEVES, 665

A palafita Gigante I foi escolhida para ser objeto dessa intervenção por sua grande dimensão e por estar localiza-da em uma das encostas do períme-tro do bairro com maior visibilidade. Sua inserção em um terreno com to-pografia elevada e grande declividade permite a conexão entre as duas ruas lindeiras e, ao mesmo tempo, permite a palafita ser vista a distância de di-versos pontos da cidade e do bairro. Sua estrutura apresenta de forma ex-pressiva, parte da contradição e des-continuidade existente entre os espa-ços de uso privado, espaços públicos e sistema de infraestrutura que marcam o território, criando um espaço de ex-ceção e isolamento.

Outra razão pela escolha desta pa-lafita foi a possibilidade de habitar o seu interior viabilizando futuramente o acesso à essa estrutura. Devido ao grande dimensionamento desta estru-tura, esse acesso poderá ser direto e sem interferência ou relação com as áreas comuns e privadas do condomí-nio. Com as pessoas dentro da trama e dos volumes o trabalho deixa de ter apenas uma função contemplativa e se torna um espaço habitado, ganhan-do uma função interativa e rompendo com o isolamento característico deste espaço de exceção.

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ESTUDOS / CROQUIS

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ESTUDOS / VOLUMETRIA

ELEVAÇÃO GIGANTE I TIPOS DE USO FECHAMENTO MODULAR COM TRAMAS HORIZONTAIS E VERTICAIS

ALTERNATIVA DE FECHAMENTO COM TRAMAS HORIZONTAIS

USO PRIVATIVO

USO PÚBLICO

ESTUDOS DE OCUPAÇÃO

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8/10CÓD. 91795FOTOS DE TELAS DE OBRA EM DIFERENTES SITUAÇÕES NA CONSTRUÇÃO CIVIL DO MACRO AO MICRO: SEQUENCIA DE APROXIMAÇÃO DA TELA DE OBRA, MOSTRANDO SUA COMPOSIÇÃO DE TRAMAS

ANÁLISE COMBINATÓRIA DE CORES DE TELAS DE OBRA ATRAVÉS DAS TRAMAS

CORES DISPONÍVEIS

AZUL

AZU

L

LARANJA

LAR

AN

JA

VERMELHO

VER

MEL

HO

REFERÊNCIA DE TECELAGEM ARTESANAL

MATERIAL A materialidade da proposta faz re-ferência por meio de seu grafismo à tecelagem artesanal. O ato do tecer constitui em trançar duas estruturas essenciais: a urdidura e a trama. A urdidura, que são os componentes fi-xos e dispostos verticalmente no tear, estabelecem a base para a trama, for-mada pelas linhas dispostas horizon-talmente.

Com estes componentes básicos, o ar-tesão possui um plano livre para de-senvolvimento de seu artesanato além de estabelecer, como em diversas épo-cas e culturas, ricas analogias com o ciclo da vida humana. No significado simbólico do tecer, a urdidura repre-senta os elementos imutáveis da vida e está ligada ao universo, enquanto a trama que a permeia, representa o va-riável e contingente, o caminho cons-truído pelo indivíduo.

No urbano, o tecer não é a simples composição de um tecido e se expande ao entrelaçamento entre os pilares e vigas de concreto com a tela de obra. No tecer urbano, ambos ganham um novo significado e se transformam em urdidura e trama, carregando todo seu significado simbólico.

Para destinar um novo uso às palafitas, utilizamos da trama composta pelas telas fachadeiras para cobrir a estru-tura com montagem similar ao desen-volvido pelo tecelão. O movimento de lançar as tramas por entre as trilhas da urdidura ressignifica o vazio e faz referência à construção das cidades em sua complexidade. A individualiza-ção deste ato simbólico a um espaço inacabado sugere sua transformação em lugar habitável, além de questio-nar as contradições que compõem o

tecido urbano e social complexo.

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ROLO DE TELA TIPO TAPFORTE - TELA FACHADEIRA FITA HELLERMANN SITUAÇÃO DE USO DE TELA FACHADEIRA

EQUIPAMENTOS E SIMULAÇÃO DOALPINISMO INDUSTRIAL

POSTE DE ILUMINAÇÃO LED

EXEQUIBILIDADEITEM QT. UN. DESCRIÇÃO VALOR

UNITÁRIOVALOR TOTAL

Tela de obra

45 rolo de 50 m x 1,20m

tela de proteção de guarda-corpo TAPFOR-TE colorida com tecido aditivado (U.V.) de alta resistência 150 kgf/5cm² possui uma malha pequena que impede a passagem de fragmentos e ferramentas.

R$ 120,00 R$ 5.400,00

Presilha Hellermann

10pacote com

100 presilhas

Abraçadeiras flexíveis tipo hellermann em nylon com 4,5x300mm cor preta R$ 28,00 R$ 280,00

Iluminação 15 luminária pública LED 3000K IRC > 80 6080 lúmens 70W IP66 com driver incorporado facho de distribuição aberta e corpo em alu-mínio

R$ 288,00 R$ 4320,00

Montagem - - Montagem da instalação de artes utilizan-do técnicas verticais , fornecimento de mão de obra especializada e equipamentos ( ca-deirinha, extensor curto e longo, fita mes-tra, mosquetões, freios, cordelete, cordas, shunt, fitas tubulares e anelares luva de couro, capacete e equipamentos de prote-ção individual

- R$ 10.000,00

TotalR$ 20.000.00

ESTIMATIVA DE CUSTOS

O processo construtivo do trabalho re-mete a construção da trama, a execu-ção irá seguir os mesmos passos de um tear, porém em outra escala. Pro-pomos transpor a escala do tear para a de um edifício.A instalação do projeto depende do uso de técnicas de alpinismo indus-trial que é comumente utilizada para trabalho em altura onde o acesso com plataformas elevatórias, andaime ou balancim é limitado. Este método é utilizado normalmente na construção civil ou em montagens de instalações de arte.

A técnica de alpinismo consiste em equipar um montador com cordas, e fixa-las na estrutura ou planos de tra-balho com arnês ou ancoragens es-peciais de modo que a movimentação fique livre na vertical e horizontal. O técnico deve utilizar em todos os mo-mentos equipamentos de segurança e EPI’s.

Para instalar e criar os volumes de tela fachadeira, vamos “embrulhar” módulos pré determinados dentro da grande estrutura de concreto, travan-do com abraçadeiras tipo hellermann, este processo é simples e rápido.

Para executar o trabalho vamos usar 40 rolos de cores distintas de tela de proteção tipo fachadeira TAPFORTE com 50 metros x 1,20 metros de lar-gura a tela deve ter resistência mí-nima de 150KGF/5cm² e braçadeiras flexíveis tipo hellermann em nylon com 4,5x300mm cor preta. O tempo para executar trabalho é muito veloz, a montagem do sistema de alpinismo e a sobreposição da tela na estrutura pode ser de uma semana caso não haja problemas de intempéries.

A iluminação da obra será feita com uma linha de luminárias tipo poste led de alumínio com proteção de intempé-ries virados para cima, fora do campo visual do observador, cada volume de tela tapforte terá seu conjunto de luminárias, cada poste tem um facho de 120 graus e com a sobreposição dos fachos não existe discrepância e aber-rações de cor. Essa técnica de ilumina-ção permite iluminar e acender os vo-lumes transformando-os em grandes lanternas e integrando-os napaisagem urbana.

A técnica e detalhamento para execu-ção e iluminação da obra podem e de-vem sofrer pequenas variações e ajus-tes após uma visita técnica ao edifício.

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