PADRE MISSIONÁRIO CARLOS DA FÉ E DA BASCARÁN...comunhão dos santos, no sonho de Deus que se...

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PADRE CARLOS BASCARÁN MISSIONÁRIO DA FÉ E DA ESPERANÇA 1941 - 2020

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PADRECARLOS

BASCARÁN

MISSIONÁRIODA FÉ E DAESPERANÇA1941 - 2020

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MEMÓRIA E COMPROMISSODOS AMIGOS E AMIGAS

“Fazei isto em memória de mim”: toda memó-ria é assumir um compromisso. Traduzir em nossas vidas os ensinamentos e o legado de quem nos antecipou.

A própria fé cristã é uma imitação dos passos de nosso mestre, irmão e amigo Je-

sus de Nazaré, através da mediação de tantas pessoas que ten-taram atualizar sua paixão pelo Reino, sua plena confiança no Pai, inspirados pelo Espírito do Ressuscitado.

As testemunhas que falam de Jesus com a vida são “os san-tos e santas da porta ao lado”. Com seus limites e defeitos, mas também com uma mensagem muito pessoal que marca nossas lembranças.

Recordar, assim, não é só matar a saudade, mas sobretudo renovar a aliança, acreditar que estamos ainda bem unidos, na comunhão dos santos, no sonho de Deus que se sonha juntos.

Essas páginas recolhem as palavras de muitos amigos e ami-gas de pe. Carlos. Das pessoas mais simples, em alguns dos lu-gares onde ele passou, até o agradecimento de alguns bispos ou companheiros missionários, que hoje já vivem em outros países.

A Família Missionária Comboniana, as igrejas locais onde Carlos atuou e a família de sangue de pe. Carlos se unem para fazer memória.

Não foi possível recolher aqui todos os testemunhos e agra-decimentos recebidos. Entre eles, destacamos mensagens que chegaram da Direção Geral dos missionários combonianos em Roma; dos combonianos de Espanha, Colômbia, Equador, Mé-xico, Itália, China, Filipinas, Centro América, Centráfrica; das irmãs combonianas do Brasil e que trabalharam no Brasil, dos

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Leigos-as Missionários Combonianos do Brasil e da Espanha, dos Grupos de Espiritualidade Comboniana (GECs), de líderes de pastoral de Açailândia, São Luís e de todo o Maranhão, bem como de Fortaleza e do Espírito Santo, de organizações como a Comissão Episcopal para Ecologia Integral e Mineração, o Observatório dom Luciano Mendes de Almeida, a rede Igrejas e Mineração, a REPAM, de vários bispos: dom Odelir (Chapecó), dom Vilson (Imperatriz) e todos os bispos do Maranhão, dom Vicente (BH), dom José (Manaus), dom André de Witte (CPT), mons. Arellano (Equador).

Esperamos que a seleção de mensagens represente a todos--as que carregam no coração a lembrança de pe. Carlos Bas-carán e represente bem a personalidade e o legado que ele nos deixa.

PE. DÁRIO BOSSIProvincial dos Missionários CombonianosSanta Rita (PB), 28 de Setembro de 2020

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A hora do adeus. No fim da tarde desta terça-feira, o corpo do Pe. Carlos foi sepultado no Cemitério Vale da Saudade, na BR 230. Devido ao corona-vírus, não foi permitido velório ou a presença de muitas pessoas no sepultamento. O mesmo foi acompanhado por nosso Arcebispo, Dom Ma-

noel Delson, os padres combonianos e pessoas que conviviam diretamente com o Pe Carlos na Paróquia Santo Antônio, em Santa Rita.

Pe. Xavier, comboniano que convivia com o Pe. Carlos, es-creveu um texto emocionante, lido na despedida. Ele finaliza assim:

“Carlos volta para a casa do Pai em ponta de pé, nu, pois a covid não permite nem vestir seu corpo mortal, mas entra rico no Céu da Graça de Deus que sempre o acompanhou e do amor aos pobres.

Eu sempre fico comovido com a liturgia das exéquias, pois na despedida final a Igreja não invoca o apóstolo Pedro para abrir as portas do Céu, mas Lázaro, o pobre de outrora: “O coro dos anjos te receba e com Lázaro, o pobre de outrora, possuas o repouso eterno”. Então, companheiro Carlos, pode ir tranquilo e feliz da vida, cantando e tocando seu violão, pois os Lázaros que você serviu nessa terra, estão aguardando você para fazer festa. Até quando Deus quiser. Obrigado por tudo e não esqueça de rezar por nós”.

Dom Manoel Delson, emocionado, enalteceu as qualidades de Pe. Carlos: “ele sempre muito preocupado com os pobres, me levou a conhecer as comunidades e me mostrou a beleza do seu sacerdócio na entrega aos irmãos. Pe. Carlos fará falta... e cabe a nós rezar e pedir a ele que reze por nós também”

PALAVRAS DA IGREJA LOCAL

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UM MISSIONÁRIO SEMPRE DE CHINELOS, SEM BOLSAS

E SEM CAJADOS!

Não tenho lembrança de ter visto Carlos de sapato, alguma vez, a não ser calçando as arcaicas chu-teiras para jogar futebol que exibia com maestria. Podia haver a mais solene missa ou um encontro com autoridades lá chegava ele calçando chine-los de cor azul ou preta. Uma marca registrada

dele! Com o tempo percebi que não era uma mera indiferença ou descaso com as convenções sociais, mas era uma mensagem que queria lançar a todos. Lembro bem quando ele nos narrou o vexame a que foi submetido por ocasião de uma viagem aérea ao subir um avião porque o comandante o viu de chinelos e mandou um funcionário para lhe impedir que subisse pela parte dianteira do avião. Mesmo chateado subiu pela parte traseira da aeronave sem estardalhaço. Etiquetas, cuidado com a imagem, vaidades humanas, roupas de grife ou comuns não faziam parte das suas preocupações. Carlos mostrava uma essencialidade desarmante. Longe de qualquer tipo de exibicionismo, o chinelo representava para ele o calçado da pessoa simples, humilde e pobre, mas prin-cipalmente, do discípulo, do seguidor itinerante e desprendido do Mestre! O missionário para ele devia ser radical até na sua dimensão exterior, não se importando dos possíveis comentários de um ou de outro. Calçar os chinelos da missão significava es-tar sempre do lado das pessoas pobres, humilhadas, e longe das botas reluzentes dos capatazes e prepotentes. Calçar os chinelos era um repúdio visível á mentalidade consumista sempre presa às preocupações próprias de pagãos: o que comer, o que vestir, o que calçar, mas indicava que era preciso estar sempre em estado de alerta para partir para novos lugares e enfrentar desafios inédi-tos sem carregar os sapatos do orgulho, as bolsas dos bens mate-riais, as roupas da vaidade, os cajados do poder, mas unicamente

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a própria disponibilidade em servir e acolher a todos. Os chinelos para ele simbolizavam também as atitudes evan-

gélicas de entrar e sair na vida das pessoas na ponta dos pés. Lembro Carlos como uma pessoa discreta e afável que não inva-dia espaços alheios sem permissão, e incapaz de dizer ou planejar coisas que produzissem estardalhaço ou espetacularização. Não amava protagonismos. Não era do seu feitio ser um porta-ban-deira, um líder carismático com sede de holofotes e de emergir a qualquer custo, mas estava sempre ao lado de quem segura-va a bandeira-causa de uma igreja-povo, da defesa dos direitos à vida e a um meio ambiente sadio, do reconhecimento da dig-nidade de todas as pessoas, independentemente de sua cultura ou opção religiosa. Nesses breves longos 40 anos de convivência e pertença à mesma província, talvez ele não tenha produzido artigos ou livros, nem tenha sido coordenador diocesano disto ou daquilo, mas ninguém pode negar que ele sempre apoiou e incen-tivou quantos assumiram de forma mais explícita a opção pelos afrodescendentes em Salvador ou o combate ao trabalho escravo em Açailândia ou a defesa dos direitos dos povos indígenas no Maranhão e no Brasil! Carlos, homem-padre, chamado de ‘papai Noel’ pelas crianças, ou ‘tio’ por outros, o incansável e habilidoso tocador de violão e animador de celebrações intensas, o irmão que muitos confrades desejam ter em suas comunidades conti-nua, hoje, percorrendo, de chinelos, as sendas luminosas da Vida sem fim. Atrevo-me a crer que da mesma forma silenciosa com que se afastou fisicamente de nós ele também entrou no Reino da esperança e do louvor permanente. Agora, porém, sacudin-do o torpor celestial de muitos anjos e renovando a esperança de muitas vítimas da dor ao entoar com o seu afinado violão os cantos das Comunidades Eclesiais e, quem sabe, convidando para dançarmos juntos uma alegre ‘sevillana’ andaluza carregada de vontade imensa de viver, mesmo sabendo que ‘algo se muere en el alma cuando un amigo se vá’...

PE. CLÁUDIO BOMBIERI - MISSIONÁRIO COMBONIANO

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Às vezes, quando Carlos vinha de férias nas Astúrias, celebrávamos festas com abundância de comida, vi-nho e boas companhias…

Ele disfrutava como um leão! Cantávamos juntos, família e amigos, ao som de seu violão.

No final, ele sempre me dizia: “E quem não gosta das cosas boas?! O ruim é se acostumar!”.

Sim, o ruim é se acostumar à vida mole, deixar-se levar por mordomias e perder assim a empatia para com o povo mais so-frido…

Carlos era grande nas suas debilidades, como qualquer ser humano -e ele era um grande ser humano! Queria sempre ter presente sua escolha de fundo: o povo, os jovens e adolescentes, qualquer um que precisasse de esperança para poder enfrentar a vida.

Nunca duvidou que essa era sua missão, dando uma importân-cia radical à criação de oportunidades de formação, como arma fundamental para a libertação.

Em Açailândia, conheci muito bem o trabalho que ele reali-zou na pastoral da juventude, de onde saíram tantas lideranças; muitas delas realizaram seu sonho de solidariedade no Centro de Defesa da Vida e os Direitos Humanos.

Algumas vezes, nos tempos em que trabalhamos juntos em Açailândia, escutava dele alguma queixa sobre mim. Ele me lem-brava: “Oi, Carmen, você veio aqui para servir, não para dar pro-blemas”. Era um puxão de orelhas com luvas de veludo e sorriso cúmplice, mas jamais me faltou seu apoio e sua presença para qualquer iniciativa que visava melhorar a vida material, moral ou espiritual das pessoas mais sofridas.

Há uma canção que Carlos sempre cantava no final de nossas reuniões de família e amigos: “Quando um amigo se vai, algo se

DE SUA IRMÃ...

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rompe na alma”. Carlos foi nosso amigo, nosso irmão e o maior exemplo de fidelidade ao Deus da Vida que eu conheça.

Por isso, minhas palavras são pobres para descrever o tanto que pode significar sua falta…

Nossa alma está quebrada. Que nunca esqueçamos que “o ruim é se acostumar e abandonar nossa missão aqui nesta terra, até que nos encontremos lá nos céus”.

Quero expressar o agradecimento meu e de toda a família aos missionários combonianos, que também foram família de Carlos, por todo o carinho e atenção que nestes momentos tão duros tiveram com ele e com todos nós.

Agradecimento também para todas as pessoas do hospital que cuidaram dele até o final.

E para o povo de Piquiá, Açailândia, Santa Rita... enfim, para todo o povo do Brasil que conheceu o padre Carlos, “tio”...

Saibam que estamos felizes que Carlos fique junto de vocês, pois vocês eram sua família também, e seu povo.

Meu grande abraço,

CARMEN BASCARÁN

Hoje terminou a Via Sacra de pe. Carlos. Foi lon-ga e dolorosa. Cada dia era uma estação que tinha como ponto central à tarde quando os médicos ligavam para informar seu estado. Nos primeiros dias parecia dar sinais de recupera-ção, mas com o passar do tempo o quadro foi se

agravando. Confesso que ficava na expectativa de receber boas notícias, mas a cada dia os boletins médicos se tornavam cada

LÁZARO LHE ABRIRÁ A PORTA

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vez mais desanimadores. Hoje tive a responsabilidade de levar a unção dos enfermos. Não foi fácil entrar no quarto e vê-lo na-quelas condições. Algumas pessoas da equipe médica quiseram participar ao momento de oração. Ungi seu rosto acariciando--o. Queria ter esse contato físico com ele. Carlos sempre teve carinho comigo e o trabalho pastoral com as crianças, sobre-tudo com os adolescentes privados de liberdade. Mesmo sofri-do, pois me dei conta que seria a última vez, senti que estava vivendo um momento de graça. Em nome da família biológica, da família comboniana e das famílias paroquiais que ele serviu, estava tendo o privilégio de despedir-me de um companheiro pobre, zeloso pela missão, generoso e, sobretudo, animado. É a primeira vez que me acontece de vivenciar isso em comunida-de. Fiquei feliz de ver o cuidado do pessoal do hospital a quem agradeci pelo serviço prestado ao pe. Carlos.

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O dia antes de levá-lo ao hospital, pe. Carlos me chamou para conversar. Parecia que já estava se despedindo. Passou--me algumas disposições. Com o pouco fôlego que lhe restava continuava falando dos pobres. Posso afirmar com toda cer-teza que, como sempre foi, suas últimas preocupações foram com os pobres, sobretudo, com as crianças do Projeto Legal, @s catador@s da cooperativa e os adolescentes privados de li-berdade. Naquele momento fiz de tudo para mudar a conversa. Sugeri que ele acertasse tudo ao voltar do hospital, mas ele insistiu. E assim foi feito. Entre seus últimos desejos há uma bolsa de estudos para uma menina que cresceu na Pastoral do Menor desde os tempos de irmão Mario Fortuna e que agora é educadora do Projeto. Mayara já está cursando pedagogia. “investir na educação - me disse - é escancarar as cortinas do horizonte e vislumbrar um futuro melhor”.

No dia seguinte passamos no hospital pe. Zé onde fez o tes-te do covid e, orientados pela médica, fomos até o hospital da Unimed onde ficou internado até o último instante.

Carlos volta para a casa do Pai em ponta de pé, nu, pois a covid não permite nem vestir seu corpo mortal, mas entra rico no Céu da Graça de Deus que sempre o acompanhou e do amor aos pobres.

Eu sempre fico comovido com a liturgia das exéquias, pois na despedida final a Igreja não invoca o apóstolo Pedro para abrir as portas do Céu, mas Lázaro, o pobre de outrora: “O coro dos anjos te receba e com Lázaro, o pobre de outrora, possuas o repouso eterno”. Então, companheiro Carlos, pode ir tranquilo e feliz da vida, cantando e tocando seu violão, pois os Lázaros que você serviu nessa terra, estão aguardando você para fazer festa. Até quando Deus quiser. Obrigado por tudo e não esqueça de rezar por nós.

PE. SAVÉRIO PAOLILLO - MISSIONÁRIO COMBONIANO

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Em nome do Pai que nos criou, e do Filho que nos salvou,e do Espirito Santo que nos une com amor.

NÃO ESTAMOS AQUIPOR NÓS MESMOS

Estamos falando de algo que nos deixa felizes, de uma pessoa que amava estar no meio do povo, ani-mado, com violão e muita música e música anima-da.

Falar de Padre Carlos não é fácil, esgota as pala-vras de qualquer poeta, e seca a melodia de qual-

quer compositor. Mas aquele homem simples, de calça jeans, sandália de

dedo, cabelo solto, barba grande, sorriso nos lábios, reflete Je-sus com seu povo. Com isso, a cada dia conquistava homens, mulheres e crianças e a cada celebração aumentava a partici-pação de todos.

Vivemos advento místico, muita colheita da Boa Notícia do Reino enraizada na nossa vida.

Padre Carlos não precisava de muitos minutos para dar vida às palavras anunciadas, para trazer pro hoje da nossa vida os acontecimentos e relatos da antiguidade. Para ele era tudo muito simples, era autor de várias parábolas: falava comparan-do a vida em comunidade com a casa de formiga, com uma torneira, com a casa de abelha, com o pneu de bicicleta e seus raios; o povo entendia tudo, e sorriam pela beleza poética de falar do Reino já presente entre nós.

O povo demorava a sair da igreja, até que ele estivesse pre-sente; conversavam entre si que a missa tinha sido muito cur-ta, terminava muito rápido.

Era fácil de ser amado, agradado, porém se indignava com

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muita facilidade com as injustiças sofridas pelos mais pobres, causadas pela falta de políticas públicas. Neste quesito, ele não estava só: havia outros dois padres que compartilhava esta causa, pe. Fausto e pe. Danilo.

Muitas comunidades nas celebrações não tinham tocadores, os cantos eram quase sempre os mesmos, mas só até chegar o padre Carlos com seu violão e teclado!

Deixou grande legado nos encontros de CEBs, os Interecle-siais e festivais de música católica. Muitas pessoas começaram a tocar, cantar melhor e até compor cantos de animação para encontros e liturgia.

Com seu jeito de ser, revelava clara-mente de que lado se posicionava na Igreja, nas comunidades, nos movimentos e que Reino defendia.

Vamos guardar teu sorriso, tua voz e a música como missão, não vamos desistir nunca, assim como pedistes.

E quando puder... interceda por nós: sua missão não aca-bou, apenas se tor-nou mais santa.

PAROQUIA SÃO JOÃO BATISTA, AÇAILÂNDIA (MA)

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Quando cheguei a São Luís foi Carlos que me aco-lheu. À época ele era o provincial do Brasil Nor-deste. Desde o primeiro momento gostei do seu jeito porque percebi em suas palavras e gestos uma profunda humanidade e uma autentica pro-ximidade, que deixava, de imediato, a pessoa “à

vontade”. Usava una linguagem direta, não convencional para uma pessoa que coordenava uma Província, permitindo, assim, que o diálogo fosse mais transparente e compreensível.

Uma qualidade que sempre gostei – dentre outras - era de que nunca bisbilhotava a respeito da vida dos confrades. Quando fa-lava de um confrade, falava sempre com respeito e enfatizando os aspetos positivos. Mesmo diante das fragilidades ou das dificul-dades de uma pessoa, ele tinha um olhar encorajador e de com-preensão. Essa atitude o ajudava a ter uma relação harmoniosa com todos. Por outro lado, tomar decisões firmes e espinhosas a respeito de um confrade se tornava para ele um verdadeiro sofri-mento, porque não queria magoar ou ferir ninguém. Acho que o período de provincial foi uma verdadeira provação para ele.

A indignação que Carlos sentia diante da pobreza e das de-sigualdades sociais sempre o levou a manter um compromisso claro nas lutas populares (moradia, trabalho e direitos humanos), para afirmar os valores do Reino, assim que cada pessoas pudes-se ter una vida digna. O seu engajamento nas CEBs - desde a sua primeira experiência no Brasil – o ajudou a se tornar um verda-deiro padre “pé no chão”. Quando tínhamos a oportunidade de viajar juntos, visitando as comunidades, se percebia como as li-deranças e os leigos, em geral, reconheciam ele como um ponto de referência.

Fraternidade, solidariedade, comunhão e esperança repre-sentavam a plataforma onde se inspirava e alimentava o desejo

DE UM PROVINCIALSOBRE O OUTRO

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e o compromisso por uma sociedade acolhedora e solidária. Não gostava de fazer grandes discursos, privilegiava a gestualidade e o canto, como forma de sensibilização e conscientização das comunidades eclesiais e dos movimentos populares. Na música identificava uma verdadeira pedagogia e um instrumento cultu-ral importante, não somente para motivar e entusiasmar as pes-soas, mas capaz de levar rapidamente à sociedade civil como um todo os valores de maior espontaneidade pessoal: solidariedade, liberdade e a firme defesa dos direitos dos mais pobres.

Com certeza perdi um amigo e um companheiro. Obrigado Carlos!

PE. LUIGI CODIANNI - MISSIONÁRIO COMBONIANO* FOI PROVINCIAL DO BRASIL NORDESTE ENTRE 2005 E 2010

Falar do padre Carlos, na verdade é um grande prazer. Para mim ele foi um sacerdote, um amigo, um irmão e um diretor espiritual. Era uma pessoa simples, since-ra, solidária, desapegada de bens materiais e, acima de tudo, tinha uma fé inabalável.

O que mais eu admirava no padre Carlos, era o amor e o cuidado que ele tinha com os necessitados e sofredores. Sabia entender a necessidade de cada um. Sempre me dizia: “Ana, atrás de cada pessoa tem uma história que precisamos compreender.” Realmente ele via, em cada pessoa, a imagem de Deus!

A convivência com o padre Carlos mudou totalmente a minha maneira de ser e agir diante das situações. Ele me catequisou com o seu modo de ser e o seu jeito de viver.

Agradeço a Deus pela vida do padre Carlos e pelas sementes de VIDA que ele plantou e que, com certeza, continuará dando frutos.

ATÉ QUANDO DEUS QUISER

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Triste este momento! Difícil acreditar, pois pe. Carlos era daquelas pessoas que não pareciam envelhecer nunca! Ainda mais pela sua alegria, jovialidade e capa-cidade de animar, e seu atletismo bem dentro da ida-de dos 70! Gosto de lembrá-lo celebrando missa no al-tar com seu violão pendurado no pescoço, tão natural

aquele jeito para ele, tão natural para o povo das comunidades que ele animava! As crianças que o viam pela primeira vez exclamavam “olha, Deus!”. Um Deus de chinelo, pobre e humano no meio dos humanos pobres. Vai deixar saudade pe. Car-los! Mas um sorriso sempre aparecerá nos nossos lábios ao falar de você. Obrigado por isso! Vá com Deus, para Deus, em Deus!

RENATO LANFRANCHI - AÇAILÂNDIA - MA

Aproveito para transmitir os meus sentimentos à Carmem Bascaran e a toda família.

Aos Missionários Combonianos ofereço as minhas orações e agradecimentos, pois através deles, recebi o Batismo, a primeira Eucaristia e o Matrimônio em Nova Venécia ES.

Com os olhos cheios de lágrimas e o coração cheio de sauda-des, despeço-me do padre Carlos com muita gratidão e um “Até quando Deus quiser”.

ANA MARIA BRAVIM MARCHESINI - AÇAILÂNDIA - MA

UM DEUS DE CHINELO

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SEMEADOR DE LUZ Semeador de luz,No tempo queAqui passou.Carregando sua cruzSorrindo, brincando, Edificando amor.Vai Carlos celebrarCantando na casaDo redentor.Aproveita e dá um abraçoNo saudoso Pe. Heitor.

PJMP – PAU DA LIMA, SALVADOR – BA

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Se nos van dos amigos y hermanos de verdad: p. Ju-anito Bressani y Carlos Bascarán. Con el prime-ro tuve el regalo de vivir juntos en Quito y con el segundo la gracia de compartir tantos momentos significativos del Instituto. Aparentemente dos personajes tan distintos: uno un santo humilde y

místico de estilo conservador, el otro un profeta artista de la línea más encarnada liberadora. Y, sin embargo, tan iguales: ambos radicales en el amor, ambos misioneros combonianos de pura cepa. Cuántas enseñanzas nos dejan... ustedes son ahora dos estrellas que iluminan nuestro sendero. No dejen de ofrecernos desde el cielo su santidad y profecía...las nece-sitamos. Un abrazo.

P. RAFAEL GONZALEZ PONCE - MISSIONÁRIO COMBONIANO NO EQUADOR

Obrigado, meus queridos amigos, pela solidarie-dade e carinho sempre manifestado para co-nosco. Não estou triste, apesar de ter o coração apertado. Vivendo em comunhão com todos os companheiros da caminhada e agradecendo pelo dom da vida.

Aprendi muito de Carlos. Foi ele que me acolheu no Brasil e sempre foi um grande Amigo, Companheiro, Pai e exemplo. Pessoa simples, entusiasta, alegre, juvenil, grande futebolista. Joguei com ele ainda 7 anos atrás: sua garra, habilidade, capaci-dade estratégica de jogar mostravam o grande homem que era.

RECUERDOS

HAVERÁ JOGO NO CÉU

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Sempre com o violão e um sorriso na cara, conquistava fa-cilmente as pessoas, sobretudo os jovens e crianças. Pela sua barba chamavam-no de Papai Noel.

Andava vestido simplesmente, como um simples nordestino, sempre de havaianas, mesmo nos órgãos públicos ou eclesiásti-cos, ou celebrando... só tirava as havaianas para colocar as chu-teiras para jogar bola!

Pessoa extraordinária, sensível, acolhedor e muito comuni-cativo.

Em 2012, pediu-me para acompanhar a construção do salão paroquial da nova paróquia de Santo Antônio em Marcos Mou-ra, onde partilhamos muitos momentos alegres e de trabalhos. Sei que a sua alegria vai alegrar o céu. Se deixarem levar na se-pultura o violão ou uma bola, a festa vai ser grande. Acho que Jesus o chamará para o time como estratega de jogo!

Acredito que não perdi um amigo, mas o ganhei em Deus, no Amor Eterno e sem medidas. Que Ele interceda por nós!

PE. JOSÉ BRITES - MISSIONÁRIO COMBONIANO EM PORTUGAL

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QUANDO SE REGA UM SONHO COM FÉ E AMOR

DEUS ABENÇOA A COLHEITA

Padre Carlos partiu e já está na Casa do Pai. Conhe-ci o Pe. Carlos quando trabalhávamos na paroquia São Joao em Açailândia. Sacerdote dedicado, viveu sua missão como missionário apaixonado pelas CEBs, Comunidades Eclesiais de Base. Amava as pessoas e conhecia cada uma pelo nome, como um

pai que conhece seus filhos.Em nossas andanças, quando íamos em missão nas comuni-

dades, partilhávamos as alegrias, as dificuldades e desejos de ver dias melhores para as comunidades, principalmente nos assentamentos. Tenho certeza que o Pe. Carlos será sempre lembrado com muito carinho e gratidão, pelo seu testemunho de vida doada em favor dos sofredores e empobrecidos.

Agora, desde o Céu, continuará sua missão intercedendo pelas pessoas às quais doou sua Vida.

IR. ISALINA - AÇAILÂNDIA – MA

FORAM OS MELHORES MOMENTOS DE MINHA VIDA

A humanidade de pe. Carlos. Quando Carlos era provincial, uma vez mandou uma fotocópia de uma coluna de uma revista conhecida para toda comunidade Comboniana do Nordeste. O con-teúdo dizia sobre a necessidade de se dizer as pessoas que amamos e consideramos o quanto

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as apreciamos, estimamos. Estes elogios e afagos não adian-ta muito que sejam manifestados depois da pessoa não estar mais conosco. Todos nós precisamos de incentivos sinceros, elogios que manifestam o valor da pessoa, a importância dela existir. Carlos incentivava as pessoas, as apreciava. Quando sai’ da congregação e deixei o sacerdócio o pe. Carlos como pro-vincial me acolheu e me escutou. Não me julgou. Só me ofere-ceu um tempo de reflexão. Foi muito irmão. E quando precisei de ajuda concreta para enfrentar a nova caminhada, em nome da província ele me ajudou. Eu me sinto muito comboniano. Percebi claramente que só mudava a forma de seguir o Com-boni e Carlos percebeu. Obrigado Carlos pela tua humanidade.

LUÍS ZADRA - SANTA RITA – PB

Pe. Carlos já tinha passado alguns meses aqui em Sunningdale, aprendendo inglês para ir à Uganda. Não foi possível devido à chegada brutal de Amin e às ameaças aos missionários. Encontramo-nos de novo em 1974, no seminário de Ibiraçu, Espírito Santo. Eu passei a viver em comunidade com ele e

outro comboniano, Emilio Escalada, na paróquia de Joao Neiva, pertinho. para aprender português.

Foi o início de uma longa e maravilhosa convivência, que durou mais de vinte anos. Estive junto com Carlos nas paró-quias de Salvador, Acailândia, Itupiranga. Depois, eu parti para a província de Londres. Já voltei várias vezes para o Brasil e também passei muitos bons tempos com a sua acolhedora fa-mília em Oviedo, Espanha.

A VOZ DOS BISPOS

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Tínhamos muito para partilhar, especialmente as jogadas de bola nas praias e nos campinhos do Brasil! Ele era um maestro, tanto no campo do futebol como no campo da música. Traba-lhava muito com os jovens e era muito estimado.

Era uma grande voz dos oprimidos e viveu como eles: sim-ples e modesto.

Era uma pessoa de muitos talentos, generoso, alegre e aci-ma de tudo santo e humilde.

Foram os melhores momentos da minha vida”Obrigado, amigo Carlos....Reze por nós, Amém.

PE. JOHN DOWNEY (SUNNINGDALE, INGLATERRA)

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É com imenso pesar que recebemos a notícia do fa-lecimento do Pe. Carlos Bascarán, MCCJ, membro da Província Comboniana do Brasil.

Pe. Carlos Bascarán foi missionário no nosso Re-gional NE5 da CNBB. Por vários anos exerceu a mis-são junto aos mais pobres no Maranhão, em Açai-

lândia-MA, Diocese de Imperatriz, junto à Juventude de nosso Regional e como Superior Provincial do Nordeste do Brasil. Pe. Carlos foi grande incentivador e animador das Comunidades Eclesiais de Base-CEBs, com seu canto, com suas poesias, com seu compromisso com a justiça e o direito, e do protagonismo do laicato na Igreja. A criação do Centro de Defesa da Vida e dos Di-reitos Humanos em Açailândia é um reflexo deste compromisso.

Pe. Carlos encantou-nos com sua paixão e compromisso pelo Reino de Deus!

E agora, intercede por nós! O que agradecemos profundamente toda a entrega e doação!O nosso Regional NE 5 da CNBB, lamenta seu falecimento e

solidariza-se com seus familiares e com sua Congregação por este momento de dor e de sofrimento por tão inesperada per-da de nosso querido amigo missionário.

Mas, acreditamos no DEUS da VIDA! Acreditamos na VIDA ETERNA! Acreditamos na Ressurreição dos mortos!

Disse-lhe Jesus: “Eu sou a ressurreição e a vida; quem crê em mim, ainda que esteja morto, viverá; E todo aquele que vive, e

crê em mim, nunca morrerá”. Jo 11, 25-26 Temos a certeza que o testemunho de VIDA de nosso ami-

go-irmão se refletirá no trabalho e missão de todos aqueles e aquelas que por ele foram evangelizados e evangelizadas. Que sua memória continue contribuindo para o fortalecimento do direito fundamental da existência humana, que é a VIDA DIGNA.

BISPOS DO REGIONAL NORDESTE 5 (MARANHÃO)

Page 24: PADRE MISSIONÁRIO CARLOS DA FÉ E DA BASCARÁN...comunhão dos santos, no sonho de Deus que se sonha juntos. Essas páginas recolhem as palavras de muitos amigos e ami-gas de pe.

Esse documento informal recolhe memórias breves e recordações li-vres de amigos e amigas de pe. Carlos Bascarán, escritas poucos dias de-pois de sua Páscoa, um até logo com que se despediu de nós em Santa Rita (PB) no dia 22 de setembro de 2020.

Divulgue essas mensagens como sinal de amor e paixão missionária!

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