Palestra gustavo freire
-
Upload
daniela-spudeit -
Category
Documents
-
view
49 -
download
0
Transcript of Palestra gustavo freire
A competência em informação na pesquisa cien4fica: uma reflexão
Gustavo Henrique de Araújo Freire
Doutor em Ciência da Informação CBG/FACC/UFRJ
Organização: Curso de Biblioteconomia e Gestão de Unidades de Informação da UFRJ
e Escola de Bibliotecnomia da UNIRIO
A sociedade contemporânea tem na informação a matéria-‐prima para o desenvolvimento social e econômico.
Se antes o progresso dos países dependiam do acesso, tratamento e uso de bens tangíveis, na sociedade atual, as aMvidades relacionadas à coleta, organização e uso da informação são fundamentais para o desenvolvimento social e humano.
Nossa sociedade exige cada vez mais
dos indivíduos habilidades para
localizar, avaliar e usar efeMvamente
um volume crescente de informações.
Essa questão foi percebida por Zurkowski (1974), então presidente da Associação das Indústrias de Informação dos Estados Unidos, originando um movimento denominado informa(on literacy. As competências em informação consMtuem uma extensão ou evolução das iniciaMvas de educação de usuários de bibliotecas, pois ultrapassam a busca e recuperação de informação dos serviços bibliotecários tradicionais.
Para o autor, a infraestrutura que apoiava o cenário dos serviços de informação transcendia as bibliotecas tradicionais, os editores e as escolas.
E mais, em um momento de constantes mudanças, a abundância das informações disponíveis ultrapassa a capacidade dos indivíduos de avaliá-‐las e, consequentemente, assimilá-‐las, uma vez que
• Os procedimentos de busca de informação dos indivíduos são diferentes, em tempos diferenciados, com propósitos diferentes;
• A mulMplicidade dos caminhos de acesso e fontes, em resposta às mais variadas necessidades de informação dos indivíduos;
• Cada vez mais os eventos e artefatos produzidos pelos seres humanos estão relacionados à informação, exigindo um retreinamento de toda a população.
A parMr da década de 1980, a preocupação tradicional dos bibliotecários com a educação ou instrução de usuários amplia-‐se para a formação de cidadãos aptos a atuar em uma sociedade baseada em informação, originando um movimento internacional pelo desenvolvimento de competências em informação (informa(on literacy). Trata-‐se de uma abordagem de aprendizado baseada em um conjunto de habilidades para localizar, manipular, avaliar e usar a informação, eficientemente e eMcamente, para uma larga variedade de objeMvos e, assim, tornar-‐se apto para desempenhar aMvidades na sociedade da informação e do conhecimento. (PINTO; CÓRDÓN; GOMEZ DIAZ, 2010).
No processo de desenvolvimento dessas habilidades é importante ressaltar dois elementos fundamentais: • O educacional -‐ que envolve os sistemas de aprendizagem voltados para ações de capacitação;
• O contextual – que depende dos objeMvos envolvidos no desenvolvimento de competências em informação, sejam cien4ficos ou práMcos.
As problemáMcas enfrentas nos processos de
busca de informação cien4ficas podem, de um
modo geral, serem enfrentadas com base em
duas perspecMvas: pela regulação e educação. (WALSH, 2010)
As ações educacionais são consideradas a
melhor solução, entendidas no conceito
genérico de treinamentos.
No contexto da pesquisa cien4fica, em geral os
estudiosos em competências em informação
apresentam os treinamentos como uma forma de
promover a capacitação do indivíduo em
habilidades específicas em informação,
negligenciadas pelos processos educacionais
formais. Os treinamentos são, diferentemente do
ensino tradicional, oferecidos de acordo com
demandas específicas.
A tendência dos treinamentos também pode ser verificada no atual movimento mundial pelas competências em informação através do projeto da UNESCO “Training The Trainers” (TTT).
Em 2009 foram realizados workshops em diversos países, capacitando profissionais da informação para serem formadores (trainers) e líderes no espaço produMvo das sociedades baseadas no conhecimento, onde o acesso à informação é fundamental para capacitação das pessoas e no melhoramento das suas vidas. (STERN; KAUR, 2010)
O objeMvo geral do TTT foi formar um quadro
promissor e qualificado de formadores em
competências em informação ― docentes de
universidades, bibliotecários, arquivistas,
especialistas em mídia, dentre outros ― em
cada principal região geográfica do mundo,
tornando-‐os formadores de outros formadores
nas suas respecMvas regiões de origem.
Para Stern e Kaur (2010), o ensino formal é
a base para os treinamentos curtos,
compreendidos como formas dinâmicas de
aprendizado fundamentadas na práMca,
mais do que na teoria e abstração que são
caracterísMcas do ensino formal.
Belluzzo (2006), em trabalho sobre a questão da educação na sociedade contemporânea, afirma que a “gestão da informação — nos diferentes níveis: pessoais, organizacionais e sociais — é o grande desafio dos tempos atuais, consMtuindo-‐se no próximo estágio de alfabeMzação do homem”. A autora destaca que o processo de ensino-‐aprendizagem deveria centrar-‐se “na fluência cien4fica e tecnológica e no saber uMlizar a informação, criando novo conhecimento”.
A autora lembra que “[..] a competência, de modo geral, é um composto de duas dimensões disMntas: a primeira, um domínio de saberes e de habilidades de diversas naturezas, permite a intervenção práMca na realidade, e a segunda, uma visão críMca do alcance das ações e o compromisso com as necessidades mais concretas que emergem e caracterizam o atual contexto social”. (BELLUZZO, 2006)
Nesse senMdo, na nossa sociedade, onde a
necessidade de informação ultrapassa setores
tradicionais de usuários ― como pesquisadores
e professores ―, todos precisam desenvolver
habilidades informacionais que facilitem o
objeMvo maior de todo indivíduo, em seu grupo
e na sociedade: transformar informação em
conhecimento.
Ao contrário do Brasil, que tem que superar grandes desafios no desenvolvimento de modelos de informa(on literacy (DUDZIAK, 2008), os americanos lideram as iniciaMvas nessa área. Foram os pioneiros na criação de padrões internacionais para o desenvolvimento de competências em informação, através da American Library AssociaMon (ALA).
Atualmente, o mais referenciado documento
em competências em informação é o
Informa(on Literacy Competency Standards
for Higher Educa(on (2000), que tem sua
origem no contexto acadêmico. (HOYER,
2011).
Nesse documento, a competência em
informação é definida como
“[...] um conjunto de habilidades desejáveis
aos indivíduos para reconhecer quando uma
informação é necessária, assim como
habilidades para localizar, avaliar e uMlizar
efeMvamente a informação necessitada”.
Assim, reforça-‐se a ideia de que as implicações dos preceitos da competência em informação não afetam apenas a vida acadêmica, mas a sociedade como um todo.
Assim, o indivíduo competente em
informação, nos mais variados contextos, é
capaz de:
• Determinar a natureza e a extensão de
uma necessidade de informação;
• Acessar a informação necessitada de
modo eficiente e eficaz;
• Avaliar a informação e suas fontes criMcamente e incorporar a informação selecionada em sua base de conhecimento e sistema de valor;
• Usar a informação efeMvamente para alcançar um objeMvo específico;
• Entender o contexto econômico, legal e social relacionado ao uso da informação, e acessa e usa a informação de modo éMco e legal.
(ASSOCIATION OF COLLEGE & RESEARCH LIBRARIES, 2000)
AMvidades relacionadas aos 7 pilares da competência em informação (SCONUL, 1999)
• Reconhecer uma necessidade de informação; • IdenMficar o fosso informacional sobre o que se sabe e o que se precisa saber;
• Construir estratégias para a busca da informação; • Localizar e acessar a informação; • Avaliar a informação; • Usar e comunicar a informação (com atenção para os aspectos éMcos e legais);
• SinteMzar e criar novo conhecimento. (GUMULAK; WEBBER, 2011)
O Presidente dos EUA, Barack Obama, em 2009
declarou outubro como o mês de
conscienMzação nacional para a competência
em informação (Na^onal Informa^on Literacy
Awareness Month), iniciaMva que visa
promover o desenvolvimento de um conjunto
de habilidades informacionais frente aos
desafios informacionais da atualidade.
Em seu discurso, Obama destaca que todos os dias os americanos são inundados por informações: no4cias 24 horas por dia, milhares de redes televisivas e de rádio, junto à imensa coleção de fontes on-‐line, desafiam o modo como as informações são gerenciadas. E, conMnua, Obama, mais do que a posse de dados necessita-‐se de novas habilidades para adquirir, coletar e avaliar informações para situações diversas, convergindo para um novo Mpo de alfabeMzação (literacy), a competência em informação (informaMon literacy), que também requer indivíduos competentes nas tecnologias da comunicação, incluindo computadores e disposiMvos móveis que auxiliam o processo diário de tomadas de decisões.
Ainda não há um consenso na literatura
em CI brasileira sobre a tradução do
termo informa(on literacy, podendo ser
compreendido como competência
informacional, ou alfabeMzação
informacional ou da informação, dentre
outros.
(DUDZIAK, 2008)
É importante ressaltar que as tentaMvas de traduzir a ideia infoma(on literacy pelos países que não falam a Língua Inglesa deu origem a uma variada terminologia, observada em diversos estudos: • Competência Informacional • Competência em Informação • AlfabeMzação Digital • Letramento informacional • Competências em informação
Nesse contexto, é importante descobrir qual o padrão que une todas essas abordagens, para que se possa usá-‐lo. Assim, apresentamos alguns pontos para reflexão : • Quais os termos uMlizados no Brasil que representam as habilidades/competências em informação? Existe uma rede conceitual específica que fundamenta a escolha de um determinado termo? Quais os autores mais representaMvos e respecMvos PPGs?
• O que existe em comum entre essas várias abordagens?
• Construir o mapa de uma Rede de Aprendizagem Virtual (RVA) que venha a facilitar a construção de um conhecimento coleMvo acerca da temáMca InformaMon Literacy
Essa temáMca , independente da terminologia
uMlizada, já tem seu espaço no campo dos estudos
e práMcas da Ciência da Informação, haja vista o
número de eventos que vêm acontecendo nessa
área.
Assim, é importante descobrir/revelar a
existência de um atrator conceitual que una essa
terminologia, revelando também a rede conceitual
e de autoria que sustenta/apoia esses conceitos.
REFERÊNCIAS
ASSOCIATION COLLEGE OF RESEARCH LIBRARIES. InformaMon literacy competency standards for higher educaMon. Illinois, 2000. BELLUZZO, R.C.B. Uso de mapas conceituais e mentais como tecnologia de apoio à gestão da informação e da comunicação: uma área interdisciplinar da competência em informação. Revista Brasileira de Biblioteconomia e Documentação: Nova Série, São Paulo, v.2, n.2, p.78-‐89, dez. 2006. DUDZIAK, E.A. Os faróis da sociedade da informação: uma análise crí^ca sobre a atuação da competência em informação no Brasil. Inf. & Soc: estudos, João Pessoa, v. 18, n. 2, p. 41-‐53, maio-‐ago. 2008. GUMULAK, Sabina; WEBBER, Sheila. Playing video games: learning and informa^on literacy. Aslib Proceedings: New Informa^on Perspec^ves, v. 63, n. 2/3, p. 241-‐255, 2011. HOYER, Jennifer. Informa^on is social: informa^on literacy in context. Reference Services Review, v. 39, n. 1, p. 10-‐23, 2011 OBAMA, Barack. Na^onal Informa^on literacy awareness month 2009 by The President of the United States of America a proclama^on. The InternaMonal InformaMon & Library Review, v. 41, p. 316, 2009. PINTO, Maria; CORDÓN, José Antonio; DÍAZ, Raquel Gómez. Thirty years of informa^on literacy (1977-‐2007): a terminological, conceptual and sta^s^cal analysis. Journal of Librarianship and InformaMon Science, v. 42, n. 1, p. 3-‐19, mar. 2010. STERN, Caroline; KAUR, Trishanjit. Developing theory-‐based, prac^cal informa^on Literacy training for adults. The InternaMonal InformaMon & Library Review, v. 42, p. 69-‐74, 2010. WALSH, John. Librarians and controlling disinforma^on: is mul^-‐literacy instruc^on the answer?. Library Review, v. 59, n. 7, p. 498-‐511, 2010. ZURKOWSKI, Paul G. The InformaMon Service Environment RelaMonships and PrioriMes: related paper nº 5. Washington: Na^onal Commission on Libraries and Informa^on Science, 1974. Disponível em: <hvp://www.eric.ed.gov/ERICWebPortal/ contentdelivery/servlet/ERICServlet?accno=ED10039>. Acesso em: 23 out. 2009.