PANORAMA DA COMPETÊNCIA ESTATÍSTICA NO ENSINO...

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de Física "Gleb Wataghin" LETÍCIA VIEIRA OLIVEIRA GIORDANO PANORAMA DA COMPETÊNCIA ESTATÍSTICA NO ENSINO MÉDIO BRASILEIRO: DAS IDEIAS E PRÁTICAS DOS PROFESSORES AO DESEMPENHO DOS ALUNOS NO ENEM. AN OVERVIEW OF STATISTICAL COMPETENCE IN BRAZILIAN HIGH SCHOOL: FROM TEACHERS’ IDEAS AND PRACTICES TO STUDENTS’ PERFORMANCE IN THE ENEM CAMPINAS 2017

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

Instituto de Física "Gleb Wataghin"

LETÍCIA VIEIRA OLIVEIRA GIORDANO

PANORAMA DA COMPETÊNCIA ESTATÍSTICA NO ENSINO MÉDIO BRASILEIRO: DAS IDEIAS E

PRÁTICAS DOS PROFESSORES AO DESEMPENHO DOS ALUNOS NO ENEM.

AN OVERVIEW OF STATISTICAL COMPETENCE IN

BRAZILIAN HIGH SCHOOL: FROM TEACHERS’ IDEAS AND PRACTICES TO STUDENTS’

PERFORMANCE IN THE ENEM

CAMPINAS

2017

LETÍCIA VIEIRA OLIVEIRA GIORDANO

PANORAMA DA COMPETÊNCIA ESTATÍSTICA NO

ENSINO MÉDIO BRASILEIRO: DAS IDEIAS E PRÁTICAS

DOS PROFESSORES AO DESEMPENHO

DOS ALUNOS NO ENEM.

Tese apresentada ao Instituto de Física

"Gleb Wataghin" da Universidade

Estadual de Campinas, como parte dos

requisitos exigidos para a obtenção do

título de Doutora em Ensino de Ciências

e Matemática, na Área de Ensino de

Ciências e Matemática.

Orientador: Prof. Dr. Maurício Urban Kleinke

ESTE EXEMPLAR CORRESPONDE À VERSÃO

FINAL DA TESE DEFENDIDA PELA ALUNA LETÍCIA

VIEIRA OLIVEIRA GIORDANO E ORIENTADA PELO

PROF. DR. MAURÍCIO URBAN KLEINKE.

CAMPINAS

2017

FOLHA DE APROVAÇÃO

LETÍCIA VIEIRA OLIVEIRA GIORDANO

PANORAMA DA COMPETÊNCIA ESTATÍSTICA NO ENSINO MÉDIO

BRASILEIRO: DAS IDEIAS E PRÁTICAS DOS PROFESSORES AO

DESEMPENHO DOS ALUNOS NO ENEM.

COMISSÃO AVALIADORA

_______________________________________________________________

PROF. DR. MAURÍCIO URBAN KLEINKE – UNICAMP (ORIENTADOR)

_______________________________________________________________

PROFA. DRA. MARIA IGNEZ DE SOUZA VIEIRA DINIZ – USP (BANCA

EXAMINADORA)

_______________________________________________________________

PROFA. DRA. CILEDA DE QUEIROZ E SILVA COUTINHO - PUCSP (BANCA

EXAMINADORA)

_______________________________________________________________

PROFA. DRA. LAURA LETICIA RAMOS RIFO – UNICAMP (BANCA

EXAMINADORA)

_______________________________________________________________

PROF. DR. SAMUEL ROCHA DE OLIVEIRA – UNICAMP (BANCA EXAMINADORA)

A ATA DA DEFESA COM AS RESPECTIVAS ASSINATURAS DOS MEMBROS ENCONTRA-SE NO

PROCESSO DE VIDA ACADÊMICA DO ALUNO.

CAMPINAS, 30 DE NOVEMBRO DE 2017.

Dedico este trabalho a todos aqueles que acreditam

no papel valoroso da Educação: aos meus pais que

me educaram livre para escolher, mas consciente da

responsabilidade das decisões; ao meu marido que

desde o primeiro dia de aula da graduação entendeu

e abraçou meus anseios profissionais; à minha irmã,

amigos e familiares pelo apoio de sempre; àqueles

que foram meus professores e inspiraram minhas

práticas e reflexões e; a todos os meus colegas de

trabalho e alunos que me ensinam, desafiam e

motivam a continuar estudando.

AGRADECIMENTOS

A vida é cheia de encontros, alguns pouco nos influenciam, outros mexem

conosco a ponto de nos transformar, nem que seja só um tantinho. Durante o

doutorado, muitos foram os encontros que proporcionaram transformações –

acanhadas ou grandiosas – e me inspiraram diretamente na realização deste

trabalho. Portanto, aos protagonistas desses momentos, ficam meus

agradecimentos.

Ao Prof. Dr. Maurício Urban Kleinke, pelos ensinamentos, orientação,

respeito e, principalmente, pela disposição em me tirar dos momentos de aparente

inércia.

A todos e cada um dos docentes das disciplinas cursadas, pela

excelência e dedicação à minha formação científica. Àqueles que não foram meus

professores, mas mesmo assim se dedicaram a este trabalho com apontamentos,

críticas, indicações e sugestões.

À UNICAMP, instituição que me acolheu mais uma vez, pela oportunidade

de vivenciar uma Universidade consciente de seu papel na sociedade. Ao Instituto

Federal de São Paulo, pelo apoio e fomento à profissionalização de seus docentes.

Ao Mathema, não só pelo incentivo, mas também por me ensinar que pesquisa e

reflexão podem estar no chão da escola.

A meus amigos de longa data e àqueles que encontrei nos últimos anos,

tanto pelas conversas leves quanto pelas existenciais.

Por fim, mas não menos importante, por todos os encontros no convívio

diário ou mesmo nas ausências, amenos ou intensos, agradeço ao meu marido.

“Há escolas que são gaiolas. Há escolas que são asas.

Escolas que são gaiolas existem para que os pássaros

desaprendam a arte do voo. Pássaros engaiolados são

pássaros sob controle. Engaiolados, o seu dono pode

levá-las para onde quiser. Pássaros engaiolados sempre

têm um dono. Deixaram de ser pássaros. Porque a

essência dos pássaros é o voo.

Escolas que são asas não amam pássaros engaiolados.

O que elas amam são os pássaros em voo. Existem para

dar aos pássaros coragem para voar. Ensinar o voo, isso

elas não podem fazer, porque o voo já nasce dentro dos

pássaros. O voo não pode ser ensinado. Só pode ser

encorajado.”

Rubem Alves

RESUMO

Desde o final da década de 1990, com a publicação dos Parâmetros Curriculares Nacionais,

a Educação Estatística compõe o currículo da Educação Básica brasileira, vindo a se

consolidar como uma linha de pesquisa com temáticas associadas ao ensino e a

aprendizagem de conceitos estatísticos e probabilísticos. A preocupação do

desenvolvimento da Estatística como ciência e, principalmente, como método científico

experimental foi sendo aperfeiçoada nos últimos anos. No entanto, assim como ocorre em

outros países, a Educação Estatística ainda hoje busca seu lugar nas escolas brasileiras.

Essa pesquisa busca auxiliar na compreensão de como as perspectivas teóricas dos

documentos oficiais, as práticas docentes e o desempenho dos nossos estudantes têm se

organizado, sobretudo no que tange ao desenvolvimento da competência estatística. A

presente tese tem seu suporte empírico associado a duas vertentes metodológicas distintas:

a) A aplicação de um questionário a professores que ministram aulas de Estatística na

educação básica; e b) A avaliação e análise do desempenho dos candidatos ao Exame

Nacional do Ensino Médio (ENEM) em questões associadas à Estatística presentes nas

provas de Matemática entre os anos de 2012 a 2014. Os resultados do questionário foram

avaliados utilizando medidas estatísticas de frequência; análise de conteúdo para as

respostas dissertativas de uma questão aberta e Análise Fatorial Exploratória (AFE). A

competência estatística dos candidatos do Enem foi estimada em 30 questões, as quais

foram agrupadas segundo uma categorização baseada no PISA (Programa Internacional de

Avaliação de Estudantes) complementada por outros indicadores. As diferentes

metodologias aplicadas ao questionário indicam que os entrevistados ensinam Estatística

com o foco na leitura e interpretação de dados relacionados a contextos próximos aos

alunos. Situações escolares mais elaboradas, como o trabalho com resolução de problemas;

cálculos estatísticos e a reflexão associada às medidas estatísticas não parecem ser foco do

ensino de Estatística para os professores entrevistados. Observamos uma preocupação

com o desenvolvimento da argumentação e senso crítico, entretanto essa não está

associada aos conhecimentos estatísticos mais elaborados esperados para a escolaridade

média. Ao acompanhar o desempenho dos candidatos no ENEM, observamos que eles

resolvem questões que necessitam de leitura e interpretação em nível simples, sem

conexões e/ou inferências; mas não aparentam dominar o conhecimento estatístico com a

profundidade necessária para sua aplicação em situações problema de que necessitem de

níveis de compreensão mais elevados.

Palavras-chave: Exame Nacional do Ensino Médio (Brasil); Ensino médio; Educação

- Estatística; Desempenho – Estatística; Professores de matemática.

ABSTRACT

Statistical Education has integrated the Basic Education System in Brazil since the 1990s

decade, consolidating itself as a research trend, whose thematic is associated with the

learning process as well as with statistical and probabilistic concepts. Subsequently, the

concern to establish the development of Statistics as science has been perfected through

recent years, with emphasis on its recognition as a valid experimental scientific method.

However, like in other countries, Statistical Education has not yet found its place in the

schoolrooms in Brazil. This research seeks to develop an understanding of how theoretical

perspectives found in official documents, teaching practices and students’ performances

have been laid out, mainly regarding the development of Statistical Competence. This thesis

finds empirical support associated with two methodological approaches: a) A questionnaire

for mathematics teachers, who teach Statistics in elementary schools; b) Evaluate and

assess students’ performance in statistical questions in the 2012 to 2014 editions of Exame

Nacional do Ensino Médio (ENEM), a national high school exam. The results of the

questionnaire were evaluated using statistical measures of frequency, content analysis to the

explanatory responses of an open question and Exploratory Factorial Analysis (EFA).

The Statistical Competence of the ENEM candidates was estimated in 30 questions grouped

according to a categorization based on the Programme for International Student Assessment

(PISA) and additional indicators.The different methodologies applied to the questionnaire

indicated that the interviewees teach Statistics focusing on reading and interpreting data

related to closed contexts to students. More elaborate school situations like solving

problems, calculations and reflection associated with statistical measures do not seem to be

a priority in Statistics teaching. Though a concern with the development of argumentation

and critical sense was observed, that was not associated with a most elaborate statistical

knowledge expected from the interviewees’ students. By monitoring the performance of the

candidates in the ENEM, it was noticeable that they solve reading and interpretation

questions at a simple level, without connections and/or inferences. Moreover, statistical

knowledge was not applied in solving problem situations, which would require higher levels

of comprehension and familiarity with it.

Key words: National Secondary Education Examination (Brazil); High school; Education –

Statistics; Performance – Statistics; Mathematics teachers.

SUMÁRIO

CAPÍTULO 1 – APRESENTAÇÃO DA TESE ......................................................................... 14

1.1. Educação Estatística .............................................................................. 14

1.2. Objetivos gerais e específicos ................................................................ 15

1.3. Metodologia e procedimentos ................................................................. 16

1.4. Premissas ............................................................................................... 17

1.5. A construção de uma investigação ......................................................... 18

CAPÍTULO 2 – TRAJETÓRIAS DA ESTATÍSTICA E DA EDUCAÇÃO ESTATÍSTICA ...... 19

2.1. Visão Geral da Estatística ....................................................................... 19

2.2. Estatística e Suas Relações com o Estado e as Ciências ....................... 20

2.2.1. Statisticum: Relativo ao Estado ........................................... 20

2.2.2. Primórdios da Estatística .................................................... 21

2.2.3. A Estatística na Idade Média............................................... 23

2.2.4. Estatística e o Estado Brasileiro .......................................... 24

2.3. Estatística descritiva e Estatística inferencial .......................................... 24

2.3.1. Estatística e suas Relações com as Ciências ................................ 26

2.4. O Ensino de Estatística ........................................................................... 28

2.4.1. Ensino de Estatística no Séc. XX .................................................. 29

2.4.2. Educação Estatística ..................................................................... 31

2.4.3. Tendências da Educação Estatística ............................................. 35

2.4.3.1. Tendências da Educação Matemática ............................. 36

2.4.3.2. Concepções sobre Educação Estatística ......................... 40

2.5. Educação Estatística no Brasil ................................................................ 45

2.5.1. Disciplinas e cursos de Estatística ................................................. 45

2.5.2. Estatística e os Parâmetros Curriculares Nacionais ...................... 48

2.6. Desafios da Educação Estatística ........................................................... 51

CAPÍTULO 3 – ENSINO E APRENDIZAGEM DE ESTATÍSTICA ......................................... 55

3.1. Ser competente em Estatística ............................................................... 55

3.1.1. Expectativas de aprendizagem ...................................................... 57

3.1.2. Literacia estatística ........................................................................ 61

3.1.3. Raciocínio estatístico ..................................................................... 70

3.1.4. Pensamento estatístico ................................................................. 73

3.1.5. A relação entre literacia, raciocínio e pensamento estatísticos ...... 75

3.2. Os professores que ensinam Estatística ................................................. 77

3.2.1. A formação dos professores que ensinam Estatística ................... 78

3.2.2. O que se espera dos professores que ensinam Estatística ........... 80

3.3. Pressupostos teóricos e metodológicos da Educação Estatística nos

Documentos Oficiais do Brasil ....................................................................... 83

3.3.1. O contexto dos PCNEM ................................................................. 84

3.2.2. O ensino de Estatística dos documentos oficiais ........................... 86

3.3.3. As metodologias sugerida pelos documentos oficiais .................... 89

3.4. A Estatística no ENEM............................................................................ 92

3.4.1. A competência estatística no ENEM .............................................. 98

CAPÍTULO 4 – METODOLOGIA ........................................................................................... 107

4.1. O questionário ...................................................................................... 107

4.1.1. O questionário Piloto ................................................................... 107

4.1.2. A amostra .................................................................................... 108

4.1.3. A estrutura do questionário e métodos da análise dos dados ...... 109

4.1.3.1. Variáveis censitárias qualificadoras da amostra ............. 109

4.1.3.2. Pergunta aberta ............................................................. 111

4.1.3.3. Questões de ordenação ................................................. 112

4.1.3.4. Escala Likert .................................................................. 114

4.2. As questões de Estatística do Enem ..................................................... 116

4.2.1. A complexidade da questão......................................................... 116

4.2.2. Protocolo para complexidade das questões ................................ 126

CAPÍTULO 5 – RESULTADOS E DISCUSSÃO ................................................................... 128

5.1. Os perfis dos professores ..................................................................... 128

5.1.1. Perfis – Ánálise censitária ........................................................... 129

5.1.2. Perfis – Ações didáticas .............................................................. 130

5.1.2.1. Objetos do conhecimento............................................... 132

5.1.2.2. Metodologia ................................................................... 135

5.1.2.3. Recursos didáticos ......................................................... 138

5.1.2.4. Contextos ....................................................................... 139

5.1.2.5. Análise das ações didáticas ........................................... 140

5.1.3. Perfis – Questões de ordenação ................................................. 141

5.1.3.1. A justificativa para o ensino de Estatística ..................... 142

5.1.3.2. As habilidades estatísticas ............................................. 143

5.1.3.3. As questões do ENEM para avaliar o conhecimento sobre

Estatística .................................................................................................... 145

5.1.3.4. Análise das questões de ordenação .............................. 147

5.1.4. Perfis – Escala Likert ................................................................... 148

5.1.4.1. Níveis de concordância .................................................. 148

5.1.4.2. Análise Fatorial .............................................................. 150

5.1.5. Análise sobre os perfis ................................................................ 152

5.2. A competência estatística dos alunos no ENEM ................................... 153

5.2.1. As questões de Estatística nas edições do ENEM ....................... 154

5.2.1.1. ENEM 2012.................................................................... 154

5.2.1.2. ENEM 2013.................................................................... 155

5.2.1.3. ENEM 2014.................................................................... 156

5.2.2. O desempenho dos alunos .......................................................... 158

5.2.2.1. ENEM 2012.................................................................... 158

5.2.2.2. ENEM 2013.................................................................... 170

5.2.2.3. ENEM 2014.................................................................... 182

5.2.3. Análise gráfica dos resultados ..................................................... 193

5.2.4. Análise sobre o desempenho no ENEM ...................................... 198

CAPÍTULO 6 – CONCLUSÃO ............................................................................................... 201

Referências ........................................................................................................................... 206

Apêndices .............................................................................................................................. 216

APÊNDICE A – Questionário piloto ............................................................. 216

APÊNDICE B – Questionário ....................................................................... 220

APÊNDICE C – Ficha para caracterizar cada questão ................................ 223

APÊNDICE D – Análise das questões do ENEM 2012 ................................ 224

APÊNDICE E – Análise das questões do ENEM 2013 ................................ 235

APÊNDICE F – Análise das questões do ENEM 2014................................. 248

APÊNDICE G – ANÁLISE DE CONTEÚDO - UNIDADES DE CONTEXTOS

ORGANIZADAS POR ORDEM ALFABÉTICA ............................................. 260

APÊNDICE H - QUESTÕES DE ORDENAÇÃO - ANÁLISE DESCRITIVA DOS

DADOS ........................................................................................................ 262

APÊNDICE I – Dados do desempenho dos alunos no ENEM 2012 ............. 264

APÊNDICE J – Dados do desempenho dos alunos no ENEM 2013 ............ 265

APÊNDICE K – Dados do desempenho dos alunos no ENEM 2014 ........... 266

ANEXOS ................................................................................................................................. 267

ANEXO A – Habilidades da primeira versão do ENEM ................................ 267

ANEXO B – Eixos cognitivos da matriz de referência do ENEM 2009 ......... 270

ANEXO C – Habilidades da Área Matemática e suas Teconologias ............ 271

ANEXO D – Os objetos do conhecimento de Matemática e suas Tecnologias . 274

14

CAPÍTULO 1 – APRESENTAÇÃO DA TESE

1.1. EDUCAÇÃO ESTATÍSTICA

A Educação Estatística tem se consolidado como uma linha de pesquisa e

estuda questões relativas ao ensino e à aprendizagem de conceitos estatísticos e

probabilísticos.

A origem da Estatística está associada à necessidade de se conhecer

informações relacionadas à governabilidade de cidades, estados e países como, por

exemplo: número de habitantes, taxa de natalidade, produção agrícola etc. Dessa

forma, as primeiras disciplinas de Estatística foram ofertadas na área de Ciências

políticas nos séculos XVII e XVIII inicialmente em países como a Alemanha e a

Áustria, alcançando posteriormente os demais países na primeira metade do século

seguinte. O século XIX é marcado pelo desenvolvimento da Estatística como Ciência

e principalmente como método científico experimental aplicado a pesquisas de

diferentes naturezas, culminando na necessidade de um novo escopo para o ensino

de Estatística. Na tentativa de formar sujeitos para a compreensão e/ou elaboração

de estudos científicos das suas áreas de atuação observou-se, no século XX, a

disseminação de disciplinas de Estatística em diversos cursos técnicos e superiores.

Outra mudança significativa na Educação Estatística se deu na década de 1990

quando diversos países passaram a incluir a Estatística no currículo da Educação

Básica. O ensino de métodos e modelos estatísticos realizado nos cursos superiores

deu lugar à discussões sobre o desenvolvimento de habilidades e competências que

poderiam tornar o aluno mais preparado para compreender e, se necessário,

transformar a realidade que o cerca. Ao viver em uma sociedade repleta de dados e

informações, é oportuno que o cidadão esteja habilitado a desenvolver uma análise

cuidadosa e criteriosa apoiada em conhecimentos estatísticos.

A trajetória da Estatística no Brasil percorreu caminho semelhante ao descrito para

os demais países. O primeiro registro censitário populacional data de 1804, cerca de

50 anos antes da criação da cadeira de “Economia Política, Estatística e

Administrativo” na Academia Real Militar. A década de 1930 marca a fundação do

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) consolidando a Estatística no

país e resultando no oferecimento da disciplina Estatística em faculdades de

Filosofia, Ciências, Letras, Ciências Sociais e Pedagogia. A partir da década de

15

1940 surgem os primeiros bacharelados em Estatística ainda associados às

Ciências Sociais e Políticas, fato que se mantém até a década de 1970 quando

algumas instituições passam a oferecer o curso de Estatística nas faculdades de

Matemática. A inserção da Estatística no currículo da Educação Básica de modo

explícito nos documentos oficiais, por sua vez, ocorreu no final da década de 1990

com a publicação dos Parâmetros Nacionais Curriculares. No entanto, assim como

ocorre em outros países, o ensino de Estatística no Brasil não tem se apresentado

de modo coerente às perspectivas atuais da Educação Estatística. O desempenho

dos alunos em avaliações de larga escala como o Exame Nacional do Ensino Médio

(ENEM), que tem como pressuposto a avaliação de habilidades e competências ao

final desse segmento educacional, e nos cursos superiores sugerem que não

estamos formando alunos competentes em Estatística ao final da Educação Básica.

O presente trabalho tem por objetivo auxiliar a traçar um panorama sobre

o ensino de Estatística do Ensino Médio brasileiro a fim de verificar se as

perspectivas atuais presentes nas escolas estão consoantes com o que tem sido

apontado pelas pesquisas científicas na área de Educação Estatística no que se

refere ao desenvolvimento da competência estatística e à formação para a

cidadania. A revisão bibliográfica sobre a história e as atuais perspectivas da

Educação Estatística apresentada nos primeiros capítulos servirão de embasamento

para discutir as propostas para organização do ensino de Matemática e Estatística

presentes nos documentos oficiais do Ensino Médio (Bases legais, PCNEM e

PCN+), práticas e pressupostos do ensino de Estatística de professores do Ensino

Médio e o desempenho dos alunos em questões do ENEM que abordem Estatística.

1.2. OBJETIVOS GERAIS E ESPECÍFICOS

Objetivo geral:

Compreender o status atual do ensino de Estatística do Ensino Médio

brasileiro a fim de verificar se as perspectivas teóricas dos documentos oficiais, as

práticas docentes e o desempenho dos nossos estudantes estão consoantes com as

discussões atuais das pesquisas científicas na área de Educação Estatística no que

se refere ao desenvolvimento da competência estatística.

Objetivos específicos:

1. Analisar a organização do ensino de Matemática e Estatística nos

documentos oficiais do Ensino Médio (Bases legais, PCNEM e PCN+) a fim

16

de identificar seus pressupostos teóricos e metodológicos e confrontá-los com

a perspectiva atual da Educação Estatística (desenvolvimento das

competências, formação para a cidadania);

2. Investigar as práticas e concepções de professores do Ensino Médio sobre o

ensino de Estatística na intenção de verificar afastamentos e aproximações

das discussões atuais da Educação Estatística;

3. Examinar o desempenho de alunos concluintes do Ensino Médio em questões

de natureza estatística no ENEM de modo a avaliar a competência estatística

apurada frente à competência estatística esperada de alunos ao final desse

segmento de ensino.

1.3. METODOLOGIA E PROCEDIMENTOS

1. Os documentos oficiais do Ensino Médio brasileiro foram analisados de modo

qualitativo buscando evidenciar os pressupostos teóricos que os embasam a

fim de confrontá-los com as pesquisas atuais, internacionais e nacionais, no

que concerne à expectativa do desenvolvimento da competência em

Estatística de alunos concluintes do Ensino Médio.

2. As práticas e concepções dos professores que ensinam Estatística no Ensino

Médio foram investigadas por meio de uma análise qualiquantitativa a partir

de um questionário piloto aplicado professores que ensinam Matemática no

Ensino Médio da rede Estadual de São Paulo. O resultado obtido balizou a

adequação do instrumento da presente pesquisa, conforme será relatado

posteriormente. A amostra foi composta por professores de Matemática no

Ensino Médio das redes estaduais de São Paulo e Rio de Janeiro que

responderam ao questionário. A metodologia empregada na análise dos

questionários está detalhada no capítulo 4.

3. A competência estatística dos alunos foi estimada a partir do desempenho

dos alunos em 36 questões das edições de 2012, 2013 e 2014 do ENEM

envolvendo Estatística na área de conhecimento associada a Análise de

Dados nos documentos oficiais. Critérios de categorização das questões

foram criados de modo a evidenciar se o desempenho dos alunos concluintes

do Ensino Médio está ou não de acordo com o esperado pelo referencial

teórico apresentado.

17

1.4. PREMISSAS

Assim como diversos pesquisadores constataram em outros países,

acreditamos que o ensino de Estatística nas salas de aula brasileiras ainda não

atingiu o status sugerido pelos teóricos da Educação Estatística no que se refere ao

desenvolvimento da competência estatística.

Os documentos oficiais do Ensino Médio no Brasil são reconhecidos

como inovadores por defender um ensino por competências para a cidadania,

entretanto, nossa vivência com formação continuada de professores nos permite

inferir que as práticas em sala de aula não refletem diretamente os pressupostos

teórico-metodológicos indicados. É necessário lembrar ainda que os Parâmetros

Nacionais Curriculares (PCNs) não se constituem como um currículo prescrito e,

portanto, não determinam o que ocorre nas escolas.

Observando o desenvolvimento e as orientações atuais do ensino de

Matemática no Brasil, percebemos uma mudança acentuada de tendências e

concepções em um curto período de tempo. A concepção de ensino e aprendizagem

de Matemática transformou-se enquanto nossos professores estavam sentados nos

bancos da escola como alunos e passaram a exercer seus papéis profissionais. O

mesmo ocorreu com o que se entende e ensina por Estatística. Nossa experiência

com formação continuada de professores nos permite levantar a hipótese de que a

formação inicial não contemplou questões relacionadas à Educação Estatística nas

perspectivas atuais. Poucos são os cursos atuais de licenciatura em Matemática ou

Pedagogia que possuem discussões específicas sobre o ensino de Estatística em

suas grades curriculares. Isso posto, acreditamos que os professores ainda não

entendem a Estatística como preconizam os estudos atuais da área, sendo que essa

incompreensão pode conduzir a práticas em sala de aula incongruentes com os

referenciais da área ou superficiais no que tange ao ensino de Estatística.

Resultados recentes do Sistema de Avaliação da Educação Básica

(SAEB), do MEC, revelam que apenas 7,3%1 dos alunos apresentam desempenho

satisfatório em Matemática ao final do Ensino Médio. Em relação ao desempenho

dos alunos no ENEM, observamos um índice muito baixo de acertos, inclusive nas

questões relacionadas ao eixo Análise de Dados que representa cerca de 30% das

1 Dados do Sistema de Avaliação da Educação Básica (SAEB) de 2015 do Instituto

Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP), analisados a partir da matriz de referência para o segmento.

18

questões de Matemática. Nossa intenção nesse trabalho não é apenas apontar

índices de desempenho, mas principalmente entender a competência estatística de

nossos alunos de modo a aprofundar a compreensão sobre o cenário da Educação

Estatística em nosso país, visando fornecer informações que auxiliem os

professores da Educação Básica a desenvolverem novas metodologias e

ferramentas de ensino mais adequadas para a aprendizagem de Estatística.

1.5. A CONSTRUÇÃO DE UMA INVESTIGAÇÃO

A trajetória da Estatística e da Educação Estatística será objeto do

capítulo dois no qual desenvolveremos inicialmente uma visão geral e histórica da

Estatística desde a sua relação com a governabilidade dos Estados, passando pelo

seu viés científico metodológico até alcançar o status de Ciência. Na sequência,

trataremos do percurso do ensino de Estatística, suas tendências e concepções, e a

consolidação da Educação Estatística como área de pesquisa. Por fim, nos

deteremos a analisar o caminho percorrido pela Estatística no Brasil desde os

primeiros registros históricos até os dias atuais.

No capítulo três apresentaremos uma revisão teórica a respeito da

competência estatística discutindo as expectativas de aprendizagem da área bem

como os conceitos de literacia, raciocínio e pensamento estatísticos. A partir de

alguns trabalhos discorreremos sobre a formação e concepções daqueles que

ensinam Estatística na Educação Básica, os professores de Matemática.

Finalmente, analisaremos os documentos oficiais brasileiros relacionados à

Educação e a matriz de referência do ENEM sob o conceito de competência

estatística abordado.

A metodologia da pesquisa será descrita minuciosamente no capítulo

quatro e demonstrará nossas escolhas, princípios e protocolos de investigação dos

dados, anunciando os resultados que aparecem no capítulo cinco. No último

capítulo, o de número seis, manifestaremos nossas conclusões sobre a pesquisa.

CAPÍTULO 2 – TRAJETÓRIAS DA ESTATÍSTICA E DA EDUCAÇÃO

ESTATÍSTICA

2.1. VISÃO GERAL DA ESTATÍSTICA

A Estatística pode ser definida como a ciência de coletar, analisar e inferir

a partir de dados numéricos obtidos por meio de medições ou contagem (LOPES,

1998). Por tratar de dados quantitativos, é comum que seja vista como um ramo da

Matemática, entretanto sua origem não está nas Ciências Exatas. A Estatística

surgiu como um conjunto de métodos a serviço das Ciências Sociais e Políticas.

Essa interpretação encontra eco na história do ensino de conceitos estatísticos e

probabilísticos. Se tomarmos a Estatística como conhecemos no século XXI, é de se

esperar a origem do seu ensino estivesse associada à área das Ciências Exatas.

Entretanto, a Estatística teve sua primeira aparição em centros de formação como

cadeiras de cursos que utilizavam seus conceitos para descrever as situações

econômicas e políticas de distintos grupos sociais.

Mais recentemente, o aprofundamento das discussões sobre os conceitos

e principalmente sua epistemologia concedeu à Estatística um status relevante na

formação do espírito científico. A Estatística passa então a apresentar uma

organização própria em relação a conceitos, métodos, linguagem e raciocínio que a

distanciam da característica exata e determinista associada à Matemática.

Atualmente o ensino de Estatística está presente na formação técnica e

superior de profissionais e pesquisadores das Ciências Sociais, Humanas,

Biológicas e Exatas, bem como no currículo da Educação Básica de diversos países,

dentre eles, o Brasil. Todavia, pesquisas apontam que a inclusão do ensino de

Estatística nos diferentes segmentos não tem garantido um desempenho satisfatório

em avaliações e tarefas que demandam utilizar, relacionar e refletir sobre conceitos

estatísticos.

O objetivo neste capítulo é apresentar a trajetória da Estatística, bem

como de seu ensino, desde sua interpretação como ciência e também como uma

ferramenta para descrever as relações sociais, chegando até os dias de hoje onde a

inserção da Estatística na Educação Básica está associada a uma formação para a

cidadania, para o senso crítico e para o espírito científico.

20

As relações associadas à Estatística serão apresentadas em seis tópicos

principais, delimitados a seguir:

Relações entre a Estatística e o Estado;

Estatística descritiva versus Estatística inferencial;

A Estatística e a Ciência;

Ensino de Estatística;

Ensino de Estatística no Brasil

Educação básica e o ensino de Estatística

2.2. ESTATÍSTICA E SUAS RELAÇÕES COM O ESTADO E AS CIÊNCIAS

A Estatística surgiu associada à necessidade de se estruturar processos

de coleta e organização de dados, bem como de comunicar informações

inicialmente ligadas à governabilidade de empresas, cidades, estados e países. Seu

desenvolvimento inicial foi como uma ferramenta das Ciências sociais e políticas

colocadas a serviço do Estado visando subsidiar as tomadas de decisão de seus

governantes, apresentando, assim um caráter utilitário e pragmático.

No entanto, sua potencialidade em descrever e compreender a realidade

por meio do tratamento de conjunto de dados e informações propiciou sua rápida

disseminação em outras áreas do conhecimento. O estudo e a formalização de seus

métodos por matemáticos deu origem à Estatística Moderna, consolidando assim

seu papel imprescindível na elaboração, condução e análise de pesquisas científicas

nas mais diversas áreas do conhecimento.

Diante do exposto, a Estatística tem garantido um espaço próprio e de

destaque tanto na área das Ciências exatas e quanto nas Ciências aplicadas. O

conceito de Estatística nos remete a formas de coletar, organizar, interpretar e

comunicar informações a fim de caracterizar ou compreender o comportamento de

um conjunto de dados e/ou de informações.

2.2.1. Statisticum: Relativo ao Estado

A palavra “estatística” provém do latim statisticum, que significa relativo ao

estado. Silva e Coutinho, pesquisadoras da área de Educação Estatística da

Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), ressaltam que não há

consenso sobre qual civilização ou pesquisador utilizou o termo “estatística” com o

significado de tratamento de um conjunto de dados.

21

Kendal (1978) argumenta que o primeiro uso da palavra “estatística” deu-se num trabalho do historiador italiano Girolamo Ghilini, em 1589, que versava sobre uma descrição política. Por outro lado, Porter (1986) afirma que a palavra “estatística” foi primeiramente usada como um substantivo por Gottfried Achenwall em 1749. (SILVA, COUTINHO, 2005, p. 192)

Lopes aponta outras possibilidades de compreensão da etimologia da

palavra “estatística” e corrobora o uso do termo como conhecemos por Gottfried

Achenwall em meados do século XVIII:

Ao verificarmos a etimologia da palavra estatística, defrontamo-nos com o registro da forma italiana statistica, desde 1633, com o sentido de “ciência do estado”. Do alemão Statistik, originou-se a palavra francesa Statistique em 1771; a espanhola Stadística em 1776; a inglesa statistics em 1787; e, finalmente, a portuguesa estatística no início do século XIX. Contudo, o emprego da palavra estatística, no sentido que ela tem hoje, deve-se ao economista alemão Gottfried Achenwall que, entre 1748 e 1749, registrou em seu livro “Introdução à ciência política” a palavra alemã “statistik”, que vem de “status” que, em latim, significa “estado”. (LOPES, 1998, p. 34)

A despeito de não sabermos exatamente quando e por quem o termo foi

usado pela primeira vez com esse olhar, podemos afirmar que o surgimento da

Estatística associada ao Estado se deu diante da necessidade de se conhecer

dados de população, territórios, posses e outras questões relevantes para governar

e manter o poder estatal. Desse modo, fica clara a relação do vocábulo com a ação

de coletar e organizar os dados de uma referida população ou local para, a partir

dela, tomar decisões relativas à governabilidade. A palavra Estatística nos remete,

portanto, a formas de coletar, organizar, interpretar e comunicar informações a fim

de caracterizar ou compreender o comportamento de um conjunto de dados.

2.2.2. Primórdios da Estatística

Os primeiros usos formais de Estatística, com registros de coletas de

dados seguidas por uma análise criteriosa datam de milhares de anos a.C. A

civilização Suméria (5000 a.C. a 2000 a.C.) deixou listas de homens e seus bens em

tábuas de argila. No Egito (em torno de 2600 a.C.) o faraó Amasis II institucionalizou

os recenseamentos visando cobrança de impostos. Na China (2238 a.C.) o

imperador Yu (ou Yao) realizou o primeiro recenseamento de que se tem registro na

região, onde buscava informações para proceder à divisão de territórios; bem como

cobrar impostos e recrutar homens para o serviço militar. Há ainda registros de

censos populacionais, geográficos e econômicos da civilização Babilônica (1800

22

a.C. a 500 a.C.). Na Índia antiga (313 a.C. a 289 a.C.) o rei Candragupta buscava

ampliar seu reino e, para tanto, realizou uma coleta de dados minuciosa com o

objetivo de controlar esse crescimento. Os registros nos mostram que para além da

estatística populacional, territorial e agrícola, o seu ministro Kautilya registrou os

preços praticados, salários e até a quantidade de elefantes de cada região.

Nos séculos seguintes a Estatística passou a fazer parte da rotina de

governo das civilizações mais importantes. Os romanos (750 a.C. a 476 d.C.), com o

intuito de calcular taxas, impostos e determinar o número de homens aptos a

guerrear, utilizavam recenseamentos nos quais anotavam não só os nomes dos

habitantes, como de seus pais, filhos e esposa, a tribo onde residiam, seus bens,

dentre outros dados. Aqueles que não declaravam seus bens eram punidos com a

perda dos bens ou de seus direitos de cidadãos. Além da obrigatoriedade, chama

atenção a forma de organização dos dados. Há indícios que Roma foi a primeira

civilização a organizar os dados em tabelas cruzadas, de múltiplas entradas. As

civilizações que se estabeleceram nas décadas e séculos seguintes também fizeram

uso da Estatística para decidir ações de governo.

Já no século XI, em 1085, a Inglaterra realizou um levantamento

estatístico intitulado “Doomsday Book” no qual havia informações sobre terras,

propriedades, empregados e animais. É o primeiro registro documentado que se tem

de um arquivo estatal oficial com dados estatísticos. Outro marco importante na

trajetória da Estatística ocorre quando a Igreja, no século XIII, introduziu o registro

obrigatório de nascimentos, matrimônios, mortes e compartilhou um grande banco

de dados populacionais atualizado permanentemente, o que contribuiu imensamente

para gerar as bases de dados iniciais de alguns países europeus.

No final do século XIII a França realizou um estudo populacional no qual

estimou a quantidade de habitantes do país a partir da análise das informações de

alguns lares. Esse é um passo importante para a Estatística uma vez que não foi

realizada uma coleta de dados diretamente e sim uma estimativa a partir de um

padrão observado. A partir de então, a Estatística foi se desenvolvendo de acordo

com necessidades sociais e políticas. (BATANERO, 2001; LOPES e MEIRELLES,

2005; LOPES, 1998; SILVA e COUTINHO, 2005)

23

2.2.3. A Estatística na Idade Média

Jozeau (2011, apud SILVA e COUTINHO, 2005, p.192), aponta que

depois do século XIII, existiram três correntes estatísticas separadas

geograficamente: a Estatística Alemã; a Aritmética Política e a Probabilidade

Estatística. Apresentamos sucintamente cada uma delas.

Estatística Alemã – a qual tinha como foco a descrição da diversidade

territorial nacional, publicação de tabelas cruzadas (dupla entrada)

para representar recenseamentos a fim de descrever e compreender

estados políticos.

Aritmética Política (até séc. XVIII) - que pode ser definida como a arte

de raciocinar com números sobre a governabilidade, muito associada

a estudos envolvendo estimativas e previsões; tais como: como o

número de filhos por mulher, o tempo entre dois nascimentos de uma

mesma mulher, o número de habitantes por família, a proporção de

falecimentos etc (SILVA e COUTINHO, 2005).

Probabilidade estatística: a terceira corrente estaria associada aos

primórdios da Probabilidade estatística inferencial, que teve sua

origem nas tábuas que analisavam expectativa de vida e na análise de

resultados de jogos de azar, revelando aspectos da Estatística para

além das ciências sociais e políticas.

Um grande salto qualitativo no desenvolvimento da Estatística é

observado por volta do século XVII ao associar as medidas-resumo de um conjunto

de dados a um raciocínio de inferência para prever os custos e ganhos de

seguradoras.

Um dos precursores dessa abordagem foi Graunt que, por meio de um

estudo descritivo e minucioso dos dados populacionais, desenvolveu tábuas que

mostravam tendências relacionadas à expectativa de vida e risco de morte daqueles

que contratavam seguros. Suas tábuas se proliferaram e foram usadas durante

décadas para resolver problemas de rendas vitalícias em companhias de seguro,

como nos lembra Lopes (1998):

No século XVII, na Inglaterra, por ser uma época de epidemia de pestes, surgiram as Tábuas de Mortalidade, desenvolvidas por John Graunt (1620-1674), que consistia em muitas análises de nascimentos e mortes [...] Ainda hoje, tábuas de mortalidade são utilizadas por seguradoras. (LOPES, 1998, p. 34)

24

Graunt é referência na história da Estatística por ser apontado como a

primeira pessoa a realizar inferências a partir de dados estatísticos por volta da

década de 1660. Seu feito rendeu a ele um convite do rei Carlos II para ser sócio

fundador da Royal Statistical Society (RSS), fundada em meados da mesma década

com o objetivo em descrever e criar um banco de dados sobre bens públicos. Willian

Petty, outra figura importante para a Estatística e também membro da Royal

Statistical Society utilizou um raciocínio diferente para estimar a população de

Londres usando o conceito de extrapolação: “o número de residências era de

105,000 e, considerando que a média de membros da família era de seis pessoas e

que 10% das residências abrigavam duas famílias, ele concluiu que havia 695,000

habitantes em Londres” (SILVA e COUTINHO, 2005, p. 193). Depois Jean Joseph

d’Expilly por volta de 1750 usou um fator 5,0 para as residências urbanas e 4,5 para

as residências rurais.

2.2.4. Estatística e o Estado Brasileiro

Os primeiros registros da Estatística no Brasil datam do início do século

XIX e apresentam um caráter descritivo que se aproxima da corrente da Estatística

Alemã. Rodrigo Medeiros dos Santos realizou uma descrição da trajetória histórica

no país:

Um dos registros mais antigos sobre a introdução da Estatística no Brasil é uma carta régia, datada de 8 de julho de 1800, onde o rei D. João VI solicita ao vice-rei do Estado do Brasil a remessa de dados censitários do Brasil ao reino de Portugal. Após isso, é conhecida apenas a obra “Um recenseamento na capitania de Minas Gerais: Vila Rica, 1804”, organizada por Herculano Gomes Matias, que representa um primeiro esforço português para produzir estatísticas na antiga colônia. (SANTOS, 2014, p. 3)

Podemos observar, portanto, que assim como ocorrido em outros locais, a

Estatística chegou ao Brasil pelo potencial político que a análise dos dados

apresentava e os primeiros registros de ensino de Estatística estão associados às

Ciências Políticas, como veremos mais a frente.

2.3. ESTATÍSTICA DESCRITIVA E ESTATÍSTICA INFERENCIAL

A Estatística apresenta, em sua essência, duas funções vinculadas, mas

que se diferenciam na sua natureza epistemológica e metodológica, quais sejam:

25

Descrição – ato ou efeito de descrever (fazer um relato

circunstanciado de); delimitação.2

Inferência – operação intelectual por meio da qual se afirma a verdade

de uma proposição em decorrência de sua ligação com outras já

reconhecidas como verdadeiras.3

A Estatística descritiva visa retratar a realidade ou a experiência em

estudo, a fim de compreendê-la localmente, no seu contexto. Para isso utiliza

métodos de coleta, tabulação, resumo e representação de dados na intenção de

destacar alguns aspectos essenciais, tais como: padrões, regularidades e

tendências do conjunto observado. São elementos de estudo: tabelas, gráficos,

medidas de posição (média, moda, mediana, percentis, quartis) e de dispersão

(amplitude, variância, desvio padrão).

A Estatística inferencial, por sua vez, objetiva efetuar generalizações

baseadas em amostras estatísticas de populações que não podem ser estudadas na

sua totalidade. Dessa forma, debruça-se sobre estudos probabilísticos na busca de

modelos matemáticos que possibilitem a extrapolação das conclusões alcançadas

localmente para uma população maior. Os testes de hipóteses são exemplos de

objeto de estudo da Estatística inferencial.

Os conceitos de incerteza e chance, assim como muitos outros, estão

presentes nas duas abordagens da Estatística, como ressalta Lisbeth Cordani,

pesquisadora da área de Educação Estatística e formadora de professores:

(na Estatística descritiva) é dada uma informação sobre uma população e quer-se saber qual a probabilidade de se encontrar este ou aquele resultado num experimento ou numa pesquisa observacional. [...] Quanto à inferência Estatística, o caminho é contrário, no sentido de que é oferecido um resultado amostral através de dados coletados e quer se caracterizar a população à qual eles pertencem, com respeito a determinados parâmetros. (CORDANI, 2001, p. 13-14)

Podemos dizer, portanto, que a Estatística descritiva apresenta quase que

exclusivamente um raciocínio dedutivo, uma vez que por meio dela chega-se a uma

conclusão a partir da análise de premissas postas como verdadeiras. A Estatística

inferencial também se vale de raciocínio dedutivo, entretanto, o que a caracteriza é o

2 Houaiss online, acesso em 2 jul. 2017

3 Houaiss online, acesso em 2 jul. 2017

26

raciocínio indutivo no qual se espera uma conclusão mais geral do que as contidas

nas premissas iniciais.

Como vimos, a Estatística trata dados de maneira descritiva ou inferencial

e as duas abordagens são igualmente importantes, entretanto, foi o desenvolvimento

da inferência que propiciou à Estatística avançar como ciência.

2.3.1. Estatística e suas Relações com as Ciências

Desde a Antiguidade até o século XVIII a principal função da Estatística

era política, pois estava associada ao estudo dos dados populacionais e econômicos

que subsidiava tomadas de decisões do ato de governar. Nessa ocasião, a

Estatística era vista como a Aritmética política e sua finalidade era servir de olhos e

ouvidos ao governo (BATANERO, 2001).

A partir do século XIX a análise de dados ampliou seu alcance a partir de

estudos envolvendo generalização, era o início da Estatística inferencial.

A Estatística passa, então, a ser objeto de estudo de matemáticos como

Bernoulli e Poison que enxergam possibilidades além das descritivas para o estudo

de dados. A lei dos grandes números, desenvolvida pelo primeiro, permitiu à

Estatística alcançar um status científico, como destaca Batanero:

A estatística alcança com essas construções uma relevância científica crescente, sendo reconhecida pela Associação Britânica para o Avanço da Ciência, como uma seção em 1834, nascendo assim a Royal Statistical Society No momento da sua função, definiu-se estatística como “conjunto de atos, em relação com o homem, suscetíveis de serem expressados em números e numerosos o suficiente para serem representados por leis”. (BATANERO, 2001, p. 10, tradução nossa4)

A partir de então foram criadas sociedades científicas a fim de

sistematizar e uniformizar coletas e análises de dados que eram feitas em distintos

locais com métodos díspares, e organizados os primeiros congressos científicos da

área.

Em 1853 aconteceu o primeiro Congresso Internacional de Estatística, em

Bruxelas. Algumas décadas depois, em 1885, foi criada a Sociedade Internacional

4 La estadística logra con estos descubrimientos una relevancia científica creciente, siendo

reconocida por la British Association for the Advancement of Science, como una sección en 1834, naciendo así la Royal Statistical Society. En el momento de su fundación se definió la estadística como "conjunto de hechos, en relación con el hombre, susceptibles de ser expresados en números, y lo suficiente numerosos para ser representados por leyes".

27

de Estatística – International Statistical Institute (ISI) – com a finalidade de

uniformizar os métodos de compilação e abstração de resultados e apresentar os

governos ao uso correto da estatística em soluções de problemas políticos e sociais.

(BATANERO, 2001, p.10)

Desde então, a Estatística tem ganhado destaque e se desenvolvido

rapidamente. Apesar do inegável avanço, atualmente ainda é possível encontrar

discussões sobre a interpretação da Estatística como uma ciência independente ou

como um ramo da Matemática a serviço de outras ciências.

Peter Diggle, pesquisador e professor da Universidade de Lancaster no

Reino Unido, citou em seu artigo intitulado “Estatística: uma ciência de dados para o

século 215” um comentário jocoso que ouve de pesquisadores sobre a Estatística

para mostrar sua preocupação em relação à interpretação da área: Se o seu

resultado precisa de um estatístico então você deve planejar um experimento

melhor. (DIGGLE, 2015, p.793, tradução nossa6). O pesquisador sinaliza que frases

como essas indicam implicitamente a exclusão do estatístico da fase de

delineamento de uma pesquisa. Diggle sinaliza que a associação entre Estatística e

a Matemática se justifica do ponto de vista do ensino, mas não necessariamente da

perspectiva da pesquisa e diferencia a Matemática Estatística da Ciência Estatística:

Matemática Estatística é a parte da Matemática que fornece a base teórica da prática estatística. Ciência Estatística é o envolvimento intelectual de estatísticos especialistas no assunto para avançar nosso entendimento da natureza no seu sentido mais amplo. (DIGGLE, 2015, p. 805, tradução nossa7)

O professor afirma que a Matemática Estatística e a Ciência Estatística

são igualmente importantes e ressalta que cada uma delas exige habilidades

diferentes por apresentarem funções diferentes. Ele defende, inclusive, que

publicações da área deixem de abordar com tanta força exemplos ilustrativos das

técnicas estatísticas já consolidadas para abrir espaço para discussões relacionadas

a novas metodologias e disseminação de insights (DIGGLE, 2015).

5 “Statistics: a data science for the 21

st century”

6 If your result needs a statistician then you should design a better experiment. (DIGGLE,

2015, p.793) 7 (a) statistical mathematics is that part of mathematics that provides the theoretical

underpinning of statistical practice; (b) statistical science is the intellectual engagement of statisticians with subject matter experts to advance our understanding of nature in its broadest sense. (DIGGLE, 2015, p.805)

28

Problematizações sobre o sentido da Estatística como ciência podem ser

encontradas em publicações da área e não serão objeto do nosso estudo.

Entretanto, vale destacar que a história da Estatística ainda está sendo traçada.

2.4. O ENSINO DE ESTATÍSTICA

O ensino de Estatística, tomando por base o seu desenvolvimento,

precisa privilegiar igualmente discussões sobre a importância da coleta de dados e a

seleção daqueles relevantes na resolução de problemas como o desenvolvimento da

noção de variabilidade para compreensão e crítica de artigos publicados na grande

mídia ou em revistas especializadas (CORDANI, 2001).

Nos dias atuais o Ensino de Estatística está organizado do seguinte

modo: a abordagem descritiva é tratada na Educação Básica; enquanto a

abordagem inferencial é quase exclusiva do ensino profissional e/ou superior.

Entretanto, o desenvolvimento histórico da Educação Estatística não apresenta essa

aparente linearidade. Como veremos a seguir, o ensino de Estatística foi fomentado

inicialmente pela necessidade de formar profissionais aptos a usar a análise de

dados em suas pesquisas científicas de diversas áreas. A partir da consolidação das

técnicas estatísticas como parte de um método científico, percebeu-se a importância

de desenvolver o pensamento estatístico desde a Educação Básica.

Em 1660 a Alemanha ofereceu a disciplina Estatística com o objetivo de

descrever o sistema de organização do Estado. Em 1777, o ensino da Estatística foi

introduzido também nas universidades da Áustria. A revolução francesa (1789-1799)

intensificou a necessidade de um olhar para a condição econômica vinculada à

política, fortalecendo a importância da Estatística para compreender a situação de

cada país e atuar politicamente visando seu desenvolvimento, com isso

universidades de outros países adotaram a disciplina em seus cursos. As

universidades italianas de Pavia e Pádua, por exemplo, introduziram a disciplina

Estatística nos cursos de Ciências de Leis e Políticas nos anos de 1814 e 1815,

respectivamente. Os Estados Unidos da América não ficaram atrás e em 1845

fizeram o mesmo em universidades, introduzindo a Estatística na concepção de

Aritmética Social. Com o tempo, a Estatística foi criando elos com outras ciências,

como, por exemplo, quando em 1854 a disciplina Estatística foi inserida em um

curso intitulado “Administração e Negócios Estatísticos” na França. Somente em

29

1859, no Reino Unido, se iniciou o primeiro curso “Ciência Econômica e Estatística”

com identidade própria. (LOPES, 1998, p. 34-35).

2.4.1. Ensino de Estatística no Séc. XX

O desenvolvimento de recursos estatísticos para resolver problemas

aplicados a diversas áreas do conhecimento no início do século XX despertou a

necessidade de ensinar Estatística a futuros profissionais e pesquisadores. Como

ressaltam Cazorla, Kataoka e Silva, pesquisadores brasileiros da Educação

Estatística, o potencial do raciocínio estatístico em investigações científicas foi

essencial para disseminar seu ensino:

A Estatística nos seus primórdios, estava relacionada à organização e à sistematização de informações do Estado, visando subsidiar decisões políticas, econômicas e sociais dos países. Somente no século XX seus métodos foram incorporados à pesquisa científica e empírica, pela capacidade inferencial de suas técnicas, bem como pelo auxílio na tomada de decisões em condições de incerteza. Consequentemente, seu ensino começou a fazer parte dos diversos cursos de graduação e pós graduação, assim como de cursos técnicos de nível médio. (CAZORLA; KATAOKA; SILVA, 2010, p.19)

Em vista disso, ao mesmo tempo em que alguns docentes de

universidades se dedicavam a aprimorar e otimizar métodos estatísticos, outros

começaram a se preocupar com o ensino e disseminação dessa ciência em pleno

desenvolvimento. De modo intuitivo e não intencional a Educação Estatística foi se

constituindo.

O Instituto Internacional de Estatística (ISI), desde a sua fundação em

1885, discute o ensino de Estatística em um viés de disseminação dos conceitos e

métodos. No entanto, foi a partir de 1948, ano da constituição do Comitê de

Educação, que o ISI ficou encarregado de promover a formação estatística. No ano

de 1979 o Comitê de Educação do ISI implementou o que chamaram de forças-

tarefas para promover o avanço da área. Um dos objetivos desse comitê era auxiliar

organizações mundiais como a United Nation Educational, Scientific and Cultural

Organization (UNESCO) a formar pessoas capazes de extrair resultados estatísticos

mais relevantes de países em desenvolvimento.

Outro destaque das atribuições iniciais do Comitê de Educação era

auxiliar no desenvolvimento de cursos de bacharelados e licenciaturas (há relatos de

alguns cursos já descontinuados na Espanha e na Inglaterra) em Estatística nos

quais se formariam profissionais e professores da área. Um dos primeiros centros de

30

formação chamados de International Statistical Education Centre (ISEC) foi criado

em Calcutá, capital da Índia em 1950 e desde então tem promovido cursos de

Estatística para estudantes de alguns países da Ásia e da África. O Comitê de

Educação do ISI assumiu ainda a responsabilidade de produzir materiais específicos

como livros universitários e dicionários e promover conferências e congressos sobre

Educação Estatística.

A International Conference on Statistical Education (ICOTS) teve sua

primeira edição em 1982 na Universidade de Sheffield na Inglaterra e tem ocorrido a

cada quatro anos. Vale destacar ainda que o comitê organizou eventos satélites

para discutir Educação Estatística nas edições de 1970 a 1988 do International

Congress of Mathematics Education (ICME). O mesmo comitê também se dedicou a

discutir o Ensino de Estatística em nível secundário e para difundir essa ideia em

1979 publicou a primeira edição do periódico Teaching Statistics que tem como

público alvo professores da escola básica.

Em 1991 a ISI constituiu a International Association for Statistical

Education (IASE) que absorveu as reponsabilidades do Comitê de Educação e a

elas agregou a elaboração de periódicos e ações visando o desenvolvimento da

Educação Estatística em nível internacional. As incumbências do IASE vão desde o

desenvolvimento de softwares estatísticos, passam pela elaboração de currículos,

livros e materiais didáticos, até a formação de especialistas em Estatística para

atuarem em empresas, indústrias e órgãos de governos. (BATANERO, 2000;

CORDANI, 2015)

Embora a Estatística tenha ocupado lugar de destaque nas áreas das

ciências sociais e políticas, seu desenvolvimento é considerado lento e tardio pela

sua origem distanciar-se das ciências exatas. O caráter utilitário da Estatística tinha

mais força do que o rigor de seus métodos de cálculo a ponto de ter sido vista como

uma ciência das áreas humanas. A virada nessa interpretação se deu por volta de

1900, quando estatísticos investigaram e desenvolveram métodos estatísticos

avançados. Pesquisadores apontam essa época como marco da origem da era

moderna da Estatística:

O período de 1900 a 1915 foi considerado de transição entre a visão original e a nova visão de Estatística, que necessita de técnicas matemáticas, probabilidade, elaborados e sofisticados métodos de estudos de dados. A partir da virada do século é que se foi construindo a Estatística Inferencial, com o uso sistemático da probabilidade nos papéis definidos de coleta, resumo e análise de

31

dados empíricos. Emergiu nesse cenário a figura do estatístico inglês Ronald Fisher (1890-1962) que, permanentemente, alterou o curso do desenvolvimento estatístico e é reconhecido por muitos como o maior estatístico do século. (LOPES, 1998, p.35-36)

A Estatística foi incorporada ao mundo acadêmico e científico por meio da

aplicação de seus métodos e seu caráter inferencial. Entretanto, a partir do século

XX, alguns estudiosos, fomentados pelo processo de formalização e axiomatização

da Matemática, perceberam que a Estatística poderia se desenvolver caso seus

métodos fossem aprofundados e, para isso, foram necessários estudos matemáticos

avançados.

2.4.2. Educação Estatística

A Educação Estatística tem se consolidado como uma linha de pesquisa

da área Educação Matemática e estuda questões relativas ao ensino e a

aprendizagem de conceitos estatísticos. Carmen Batanero, professora da

Universidade de Granada, no início do século XXI, ressaltou que a pesquisa sobre a

compreensão e aprendizagem dos conceitos estatísticos ainda está pouco

sistematizada (BATANERO, 2001, p.1, tradução nossa8). Sua justificativa para essa

lacuna estava no fato do percurso da Estatística e de seu ensino estarem

associados a áreas do conhecimento de naturezas diferentes e, por consequência, a

paradigmas e marcos teóricos diversos. Diante disso, em 2000 a professora

organizou um material didático pensado para os alunos da disciplina de Didática do

curso de Licenciatura em Estatística que ministrava na Espanha no qual pretendia

expressar as diferentes facetas da Estatística: como ciência, como ferramenta de

investigação em áreas diversas e como campo de investigação didática tanto para a

formação de crianças, como de profissionais, investigadores e professores.

A implementação da formação estatística desde a Educação Básica foi

ganhando força mundialmente principalmente pela constatação de que além da

importância na formação do espírito científico relacionado ao caráter investigativo da

Estatística, via-se nessa ciência uma dimensão política e ética importante para o

desenvolvimento do senso crítico dos alunos. Diante disso, tornou-se essencial a

pesquisa sobre aspectos didáticos. Cazorla, Kataoka e Silva afirmam que esse

8 La investigación sobre comprensión y aprendizaje de los conceptos estadísticos

elementales está aún poco sistematizada. (BATANERO, 2001, p. 1)

32

movimento pode ser considerado a base do que hoje conhecemos como Educação

Estatística:

[...] a Educação Estatística é uma nova área de pesquisa que nasceu na década de 1970. Surgiu da necessidade – que se intensificou à medida que os países foram incorporando seus conteúdos à escola básica – de investigar meios para sanar as dificuldades encontradas por professores, ao ensinar seus conceitos e procedimentos aos usuários de Estatística, nos cursos do Ensino Superior. Dessa forma, entendemos a Educação Estatística como uma área de pesquisa que tem como objetivo estudar e compreender como as pessoas ensinam e aprendem Estatística, o que envolve os aspectos cognitivos e afetivos do ensino-aprendizagem, além da epistemologia dos conceitos estatísticos e o desenvolvimento de métodos e materiais de ensino etc. (CAZORLA; KATAOKA; SILVA, 2010, p.23)

Podemos perceber que a consolidação da Educação Estatística é

recente, sobretudo no que diz respeito a políticas educacionais. A partir da década

de 1980 observamos a inserção da Estatística nos currículos da Educação Básica

de diversos países. Celi Lopes, pesquisadora brasileira da área, destaca a influência

do National Council of Teachers of Mathematics (NCTM), órgão estadunidense,

nesse processo. O NCTM publicou em 1980 um artigo intitulado “Agenda for Action

– Recomendations or school mathematics of 1980s” no qual propõe um ensino de

Matemática apoiado na resolução de problemas, investigação e experimentação

(LOPES, 1998). A partir de então, dedicaram-se a discutir o que era esperado para a

formação dos alunos que seriam protagonistas do século XXI. A Estatística aparece

como parte integrante da formação matemática do estudante, como nos mostra a

autora:

Em 1988, o NCSM (National Council of Supervisors of Mathematics) promoveu uma discussão em seu encontro anual, da qual se originou o documento “Basic Mathematical Skills for the 21st Century”, que apresentava doze áreas em que os alunos deveriam apresentar habilidades básicas. Destacamos as áreas de Estatística e Probabilidade que integra-se às demais. Sendo assim, para o desenvolvimento dessas habilidades se faz necessário o investimento nas outras elencadas, como: resolução de problemas, comunicações de ideias matemáticas, raciocínio matemático, aplicação da Matemática a situações da vida quotidiana, atenção para a racionalidade dos resultados, estimativa, habilidades apropriadas de cálculo, raciocínio algébrico, medidas, geometria, probabilidade e estatística. (LOPES, 1998, p. 47)

Impulsionado pelo NCTM, o National Council of Supervisors of

Mathematics (NCSM) sugere uma valorização do raciocínio estatístico uma vez que

os conceitos estatísticos e probabilísticos promovem o desenvolvimento de

33

habilidades mais coerentes do que se entende por competência matemática para o

século XXI. Outro documento influente na discussão da Educação Estatística na

escola básica foi elaborado por Cockcroft, membro do Committee of Inquiry into the

teaching of Mathematics in primary and secondary schools in England and Wales, e

publicado em 1982. Seu relatório “Mathematics Counts” mostra uma preocupação

explícita em organizar o currículo da Matemática de modo coerente às necessidades

para uma vida adulta e apresenta uma visão da Estatística para além de suas

técnicas.

[...] estatística não é apenas um conjunto de técnicas, é uma atitude mental na abordagem de dados. Em particular, reconhece o fato da incerteza e da variabilidade de um dado e na coleção de dados. Ela habilita pessoas a tomar decisões diante da sua incerteza. (COCKCROFT, 1982, p. 234, tradução nossa9)

Podemos afirmar que o relatório de Cockcroft foi um dos pioneiros a

ressaltar o pensamento estatístico, mesmo não se valendo do termo como é usado

atualmente. O documento aponta ainda a relação entre algumas habilidades e a

aprendizagem de Estatística a qual denomina numeracia estatística.

Numeracia estatística requer um senso de números, uma avaliação de níveis apropriados de precisão, a obtenção de estimativas sensatas, uma abordagem de senso comum para usar os dados no suporte de um argumento, a consciência da variedade da interpretação de números, um entendimento sagaz dos conceitos amplamente utilizados, tais como os de média e porcentagem. (COCKCROFT, 1982, p. 236, tradução nossa10)

Acredita-se que a partir do alinhamento desse documento às expectativas

do grupo responsável por suscitar discussões sobre o ensino de Estatística,

ampliou-se o olhar frequentemente pragmático da Estatística para uma área com

uma contribuição para a formação cognitiva do indivíduo. Cordani em uma leitura

pessoal sobre o percurso da área, corrobora a relevância do documento e destaca

as sugestões por ele apresentadas para o ensino da Educação Básica.

9 [...] statistics is not just a set of techniques, it is an attitude of mind in approaching data. In particular it acknowledges the fact of uncertainty and variability in data and data collection. It enables people to make decisions in the face of this uncertainty 10 Statistical numeracy requires a feel for numbers, an appreciation of appropriate levels of accuracy, the making of sensible estimates, a commonsense approach to the use of data in supporting an argument, the awareness of the variety of interpretation of figures, and a judicious understanding of widely used concepts such as means and percentages. All these are part of everyday living. Good statistical teaching can encourage pupils to think in these ways.

34

Esse relatório discute a importância da Estatística no ensino da Matemática nas escolas secundárias, explicitando que a Estatística não se restringe a um conjunto de técnicas e que, ao trabalhar com incerteza e variabilidade, torna-se uma ferramenta de tomada de decisões. Além disso, sugere que a Estatística deveria ser ensinada a partir de dados coletados pelos próprios estudantes, aproveitando o caráter interdisciplinar que ela favorece, através de aplicações em diferentes disciplinas do próprio currículo dos alunos pois, em caso contrário, o trabalho seria considerado árduo pelo aluno, orientado somente pela técnica, e não seria explicitado o poder e a natureza da própria Estatística. (CORDANI, 2015, p. 171)

A partir da publicação do Relatório de Cockcroft, a Inglaterra ganha

espaço na trajetória da Educação Estatística. Em 1983 criou o Royal Statistical

Society Centre for Statistical Education (RSSCSE), coordenado pelo professor e

pesquisador de Educação Estatística da Universidade de Nottingham Trent na

Inglaterra Peter Holmes, com o foco no desenvolvimento de currículo e pesquisa em

Educação Estatística, principalmente da escola básica. O RSSCSE percebeu que a

Estatística na Matemática escolar estava sendo tratada como um conjunto de

técnicas, o que era considerado não apropriado a partir das discussões anteriores.

Nas palavras do coordenador, tratar a Estatística dessa forma era como definir a

Biologia estudando apenas o esqueleto, uma vez que as técnicas não têm vida. Para

ele, era importante que os alunos obtivessem uma visão da natureza do assunto

(HOLMES, 2000). Desse modo, assuntos como motivação, cultura, pensamento

estatístico, avaliação e atitudes dos professores passaram a ser abordados em

oficinas e materiais didáticos elaborados pelo grupo sem perder de vista a

justificativa para o ensino da Estatística na Educação Básica que era formar alunos

conscientes e apreciar o papel da Estatística na Sociedade – os muitos e vários

campos nos quais ideias estatísticas são usadas; a natureza do pensamento

estatístico (HOLMES, 2000, p.53, tradução nossa11).

A partir de então muitos encontros científicos com o foco no ensino e na

aprendizagem de Estatística começaram a ocorrer com mais frequência e em

diferentes locais. Lopes destaca a relação entre estudos da Educação Estatística e a

formação para a cidadania.

11 Pupils should become aware of and appreciate: - the role of statistics in society – the many and various fields in which statistical ideas are used; the nature of statistical thought.

35

Das reflexões ocorridas [...] em relação às competências básicas necessárias ao cidadão que atuará na sociedade do século XXI, emergiram a importância do papel ativo do aluno no processo ensino-aprendizagem, a ênfase na resolução de problemas, a necessidade do uso de calculadoras e computadores e, especialmente, o trabalho com Estocástica no Ensino Fundamental. Nessa concepção, estar alfabetizado neste final de século, supõe saber ler e interpretar dados apresentados de maneira organizada e construir representações, para formular e resolver problemas que impliquem no recolhimento de dados e análise de informações. Assim, observa-se que o raciocínio estatístico e probabilístico faz-se tão necessário à cidadania eficiente quanto a capacidade de ler e escrever. (LOPES, 1998, p. 39)

Diante do exposto, é possível afirmar que a Estatística, que já havia

passado de ferramenta do Estado a um método eficaz em investigações científicas,

começa a se associar à formação para a cidadania, uma vez que propicia o

desenvolvimento de competências importantes para o que se espera da formação

para uma vida profissional plena na era da informação e tecnologia. Batanero

destaca a transição do papel da Estatística nos séculos XX e XXI.

É indiscutível que o século XX tenha sido o século da estatística, que passou a ser considerada uma das ciências metodológicas fundamentais e base do método científico experimental. O ensino da estatística, entretanto, ainda se encontra em seus começos, ainda que como temos descrito pareça avançar em uma forma imparável. Será o século XXI o século da educação estatística? (BATANERO, 2001, p.7, tradução nossa12)

A inserção no currículo da escolaridade básica incentivou e ainda

incentiva pesquisas e desenvolvimento curricular no campo. Também crescem os

materiais didáticos, softwares educativos, investigações, revistas, reuniões e

congressos. Podemos inferir, portanto, que a Educação Estatística ainda é uma área

em processo de amadurecimento.

2.4.3. Tendências da Educação Estatística

A Estatística, como visto anteriormente, está presente no currículo da

Educação Básica de diversos países e apresentada como um componente curricular

da disciplina de Matemática. Desse modo, podemos dizer que a concepção de

12

Es indiscutible que el siglo XX ha sido el siglo de la estadística, que há pasado a considerarse una de las ciencias metodológicas fundamentales y base del método científico experimental. La enseñanza de la estadística, sin embargo, aún se encuentra en sus comienzos, aunque como hemos descrito parece avanzar de una forma imparable. ¿Será el siglo XXI el siglo de la educación estadística?

36

Educação Estatística sofre influências da concepção de Educação Matemática. Para

compreender o papel que a Educação Estatística assume na escolaridade básica

brasileira atualmente, faz-se necessária uma breve discussão sobre as tendências

que a Educação Matemática assumiu em sua história.

2.4.3.1. Tendências da Educação Matemática

José Carlos Libâneo, doutor em Educação e professor da Universidade

Federal de Goiás, em seu livro Didática ressalta que o modo como os professores

realizam seu trabalho, selecionam e organizam os conteúdos escolares, escolhem

as técnicas de ensino e avaliam seus alunos, está relacionado com as suas

concepções de aprendizagem, de ensino, de educação e de matemática, explicita ou

implicitamente. (LIBÂNEO, 1994). O sistema educacional de um país ou de uma

rede de escolas, por sua vez, reflete suas necessidades sócio econômicas, culturais

e políticas. (LOPES, 1998)

No Brasil o ensino da Matemática seguiu as tendências mundiais da

educação e segundo Fiorentini, professor e pesquisador da Educação Matemática

na Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), podemos identificar seis delas,

quais sejam: a formalista clássica; a empírico-ativista; a formalista moderna; a

tecnicista; a construtivista e a sócioetnoculturalista. Apresentamos a seguir uma

breve descrição de cada uma delas a partir do referencial de Fiorentini (1995).

A tendência formalista clássica, observada no Brasil até o final da década

de 50, valorizava a Matemática formal e, para isso, usava nas escolas o modelo

lógico euclidiano de teoremas e axiomas. Havia uma preocupação excessiva em

justificar e demonstrar todos os “fatos” matemáticos logicamente. Desse modo, a

Matemática era vista como uma ciência dogmática e estática, seu ensino se

revelava livresco e centrado no professor e a aprendizagem era passiva. Em relação

ao contexto sócio histórico, somente os alunos bem dotados economicamente eram

privilegiados com um ensino de dimensão acentuadamente técnica e formal.

A tendência empírico-ativista surge como oposição à escola clássica

tradicional. Didaticamente o professor é o orientador ou facilitador da aprendizagem

e o aluno, agora ativo, torna-se o centro da aprendizagem. O currículo, organizado a

partir dos interesses dos alunos, atende o desenvolvimento psicológico da classe.

As salas de aula contam com atividades em pequenos grupos, materiais

manipulativos e jogos. Os materiais montessorianos – material dourado e barras de

37

cusinaire, por exemplo – utilizados durante muitos anos em nossas escolas podem

ser considerados produzidos sob uma concepção empírico ativista.

Epistemologicamente a Matemática era obtida por descoberta com a justificativa de

que ela preexiste no mundo em que vivemos. Os menos ativistas, chamados de

empírico-sensualistas, acreditavam que basta a observação da natureza e de

réplicas de figuras geométricas para a descoberta das “ideias Matemáticas”. Nos

Estados Unidos uma teoria de aprendizagem chamada associacionismo cujos

princípios se assemelham à concepção empírico-ativista surge no início do século

XX. Os mais ativistas acreditam que a ação e a manipulação ou experimentação são

fundamentais e necessárias para aprendizagem – é o mais puro método da

descoberta. No Brasil, a tendência empírico-ativista surgiu a partir da década de 20

e coexistiu com a tendência formalista clássica em um papel de oposição. A

contribuição dessa tendência aos dias de hoje se deve à unificação da Matemática

em uma só disciplina, à formalização de diretrizes metodológicas do ensino dessa

disciplina e ao surgimento de livros didáticos pragmáticos com figuras e desenhos.

As experiências de ensino dessa tendência deveriam estar de acordo

simultaneamente com as exigências sociais e interesse dos alunos.

A década de 1950 foi marcada por uma revolução do Ensino da

Matemática. Com a realização dos Congressos Brasileiros de Ensino de Matemática

surgiu o Movimento da Matemática Moderna (MMM) como resposta à constatação

de uma considerável defasagem entre o progresso científico-tecnológico da nova

sociedade industrial e o currículo vigente. Os propósitos do movimento foram: reunir

os três campos fundamentais da Matemática com a introdução de elementos

unificadores como Teoria dos Conjuntos, Relações e Funções; dar mais ênfase aos

aspectos estruturais e lógicos, e valorizar a matemática por ela mesma.

Didaticamente o ensino era autoritário, centrado no professor que demonstra

rigorosamente tudo no quadro, o aluno volta a ser passivo. O ensino de Matemática

tem como objetivo capacitar o aluno a aplicar estruturas de pensamento inteligente

aos mais variados domínios, dentro e fora da Matemática.

A tendência tecnicista, de origem norte-americana, surge no final da

década de 1960 e se estende até o final da década de 1970 com o objetivo de

otimizar os resultados da escola e torná-la eficiente e funcional para inserir a escola

nos modelos de racionalização do sistema de produção capitalista –

sociofilosoficamente fundamenta-se no funcionalismo. A função da escola era

38

preparar e integrar o indivíduo à sociedade tornando-o capaz e útil ao sistema.

Psicologicamente fundamenta-se no Behaviorismo no qual a aprendizagem consiste

em mudanças comportamentais por meio de estímulos. Do confronto entre o MMM e

a pedagogia tecnicista surge o tecnicismo formalista que priorizava objetivos que se

restringem ao treino e desenvolvimento de habilidades técnicas e enfatiza fórmulas,

definições, uso correto de símbolos, precisão e rigor. Entretanto, havia aqueles que

se contrapunham ao formalismo estrutural e sob o nome de tecnicistas mecanicistas

reduzem a Matemática às técnicas, regras e algoritmos sem justificá-los. A tendência

tecnicista tem como finalidade capacitar o aluno a resolver problemas padrão.

Didaticamente a pedagogia não se centra no professor nem no aluno e sim nos

objetivos instrucionais, nos recursos e nas técnicas de ensino que garantiriam o

avanço dos mesmos. Para essa tendência os conceitos são as regras e os

algoritmos. O papel da pesquisa na área da Educação Matemática era descobrir,

experimentar, avaliar e oferecer ao sistema novas técnicas de ensino e materiais

instrucionais mais eficientes ao desempenho escolar.

Apesar de Piaget nunca ter se preocupado em desenvolver uma teoria de

ensino-aprendizagem foi a partir de seus trabalhos sobre desenvolvimento cognitivo

que emergiu a tendência construtivista, trazendo a esta um embasamento teórico

como nunca havia existido no Ensino da Matemática. O construtivismo visa, com o

auxílio de materiais ditos concretos, a construção das estruturas de pensamento.

Epistemologicamente nega a teoria racionalista de conhecimento que prega o

conhecimento matemático isolado do mundo e a teoria empirista que diz que o

conhecimento matemático resulta diretamente do mundo físico. Para o

construtivismo, o conhecimento matemático resulta da ação interativa e reflexiva do

homem com o meio que o circunda. No Brasil essa tendência surgiu na década de

1960 adquirindo grande força a partir do ano de 1980. O mais valorizado nessa

tendência é o processo e não o produto do conhecimento, o aluno deve “aprender a

aprender” e desenvolver o pensamento lógico-formal. O dinamismo construtivo do

aluno é respeitado, e este é incentivado a ver, manipular o que vê, produzir

significado, representar, desenhar, errar, corrigir. Como o erro não é considerado

negativo e sim como reflexo do pensamento, o professor está sempre junto ao aluno

para que entenda onde e o que ele errou para prontamente corrigir o equívoco e

propiciar ao aluno um novo caminho para pensar. No construtivismo, o foco não

39

deve estar centrado no resultado final e sim no processo pelo qual atingiu-se o

resultado.

Após o fracasso do MMM e a constatação de que alunos com menos

oportunidades tinham mais dificuldade quanto à aprendizagem incluiu-se nos

estudos relacionados à Educação Matemática aspectos sócio culturais. Surgiu então

a tendência sócioetnocultural, chamada também por Teoria da Diferença Cultural

que prega que as crianças de classes pobres não são carentes de conhecimentos e

de estruturas cognitivas, mas talvez não tenham habilidades formais tão

desenvolvidas em relação à escrita e à representação simbólica (Fiorentini, 1995,

p.12). Na Educação Matemática o nome mais forte é o do brasileiro Ubiratan

D´Ambrósio que inicialmente definiu o termo Etnomatemática como sendo a

Matemática não acadêmica e não sistematizada, oral, informal, espontânea,

produzida e aplicada por grupos culturais específicos. Entretanto, após muitos

estudos, o significado de Etnomatemática foi ampliado para “a arte ou técnica de

explicar, de conhecer, de entender nos diversos contextos culturais” (D´Ambrósio,

1990). Epistemologicamente o conhecimento Matemático é um saber prático,

relativo, dinâmico, podendo aparecer sistematizado ou não. Para seguidores dessa

tendência a Matemática só adquire validade e significação dentro do próprio grupo

cultural onde se encontra. A finalidade da Matemática então vem a ser a

desmistificação e compreensão da realidade. Didaticamente o método mais utilizado

pelos professores dessa disciplina é a problematização e a modelagem matemática -

"arte de transformar problemas da realidade em problemas matemáticos e resolvê-

los interpretando suas soluções na linguagem do mundo real” (Bassanezi, p. 16,

2002). A relação aluno/professor é dialógica, marcada pela troca de conhecimentos.

Não existe um modelo de currículo a ser adotado, pronto, o interesse dos alunos é

que define o rumo das aulas. O ideário sócioetnocultural puro só pode ser observado

em algumas poucas experiências isoladas. Entretanto, essa tendência influencia

muitos professores que não se prendem ao currículo estipulado e acabado.

Diante do exposto, acreditamos que a escolha dos componentes

curriculares da Matemática, dentre eles a Estatística, e principalmente o modo pelo

qual eles serão desenvolvidos possuem estreita relação com a concepção que se

tem de Educação Matemática. No Brasil não há um estudo histórico específico sobre

diferentes concepções do ensino de Estatística muito provavelmente pela sua

história recente em nossos currículos. Não obstante, alguns autores portugueses e

40

ingleses se dedicaram a compreender as diferentes concepções relacionadas à

Educação Estatística que estão presentes nos currículos e salas de aula atualmente.

2.4.3.2. Concepções sobre Educação Estatística

João Pedro da Ponte e Helena Fonseca, estudiosos sobre Didática da

Metemática na Universidade de Lisboa, em um artigo apresentado em um congresso

sobre o ensino e aprendizagem de Estatística em 2000, fizeram um comparativo do

Ensino de Estatística em relação aos objetivos, conteúdos e orientações

metodológicas de três países, Estados Unidos, Portugal e Inglaterra:

Esta comparação mostra que o currículo português confere proeminência aos aspectos matemáticos, nomeadamente os conceitos, cálculos e outros procedimentos e que o currículo inglês oficial e a organização americana do NCTM colocam em primeiro plano a análise de dados. Enquanto que, em Portugal, a estatística é vista como um capítulo da matemática, de importância menor, na Inglaterra e nos Estados Unidos ela é encarada como um tema autónomo que suporta a realização de investigações sobre problemas actuais. (PONTE, FONSECA, 2000, p.1)

Em sua análise afirmam que o conjunto de variáveis investigadas revelam

diferentes concepções sobre o ensino de Estatística. Segundo os autores, enquanto

alguns países evidenciam os aspectos matemáticos e métodos estatísticos, há

aqueles que valorizam o seu potencial de análise e interpretação de dados e outros

a enxergam como uma linguagem de descrição e argumentação sobre a realidade.

Holmes, em seu artigo intitulado “Que tipo de Estatística deveria ser

ensinado na escola – e por quê?” (tradução nossa)13 apresentado em um Encontro

com estudiosos da área em 2000, indica que há três tendências relativas ao ensino

da Estatística. A primeira tendência enfatiza o processo de ensino sobre Análise de

Dados uma vez que estamos inseridos em uma sociedade repleta de dados e

necessitamos desenvolver habilidades específicas para compreendê-los e utilizá-los

em situações que por vezes demandam tomadas de decisões. A segunda tendência,

classificada pelo autor como capítulo da Matemática, ressalta aspectos conceituais

e/ou computacionais e é mais presente em salas de aula universitárias, entretanto é

possível encontrar práticas espelhadas no ensino superior em salas de aula da

Educação Básica. A terceira e última tendência foi descrita por Holmes como

‘estat’ística (tradução nossa)14 por fortalecer o caráter de investigação do estado de

13

What sort of statistics should be taugh in schools – and why? 14

‘state’ istics

41

situações e populações. Ponte e Fonseca utilizaram esse referencial na sua

pesquisa sobre o Ensino de Estatística em alguns países e concluíram que a

tendência Análise de Dados é encontrada na Inglaterra, na França a Estatística é

vista com um ramo da Matemática, diferentemente da Suécia que apresenta a

tendência ‘estat’ística.

Ponte e Fonseca (2000) apresentam em seu artigo o estudo feito por

Rosário Almeida em sua dissertação de mestrado defendida em 2000 na qual

identificou quatro grandes perspectivas sobre a Estatística.

Na primeira perspectiva a Estatística é encarada essencialmente como um fim em si mesmo. A ênfase está nos seus conceitos e métodos próprios, bem como nas suas ligações aos outros campos da Matemática, com especial destaque para a Teoria das Probabilidades. É uma perspectiva que informa fortemente o ensino avançado nas universidades, muito em especial para os alunos de Matemática. Numa segunda perspectiva, a Estatística surge como um instrumento ou uma ferramenta que permite representar e descrever aspectos específicos da realidade, sobretudo os que se prestam a um tratamento quantitativo. Aparece aqui com toda a força a ideia de Análise de Dados. Para uma terceira perspectiva, a Estatística envolve a produção de novo conhecimento. [...] A Estatística não se basta a si própria e é preciso dar também atenção à realidade que supostamente irá descrever. Finalmente, para uma quarta perspectiva, a Estatística constitui sobretudo uma actividade social, sendo dada especial atenção à interacção entre os diversos intervenientes que conduzem ao produto final. (PONTE e FONSECA, 2000, p.4)

A cada uma das perspectivas apresentadas por Almeida (2000, apud

PONTE e FONSECA, 2000) subjaz uma perspectiva de Educação Estatística que se

revela na prática e na intencionalidade docente. A Estatística vista com um assunto

que se basta em si mesmo se assemelha a outros ramos da Matemática e como tal

requer métodos avançados e linguagem formal que se revelarão como foco do

ensino. O caráter instrumental da Estatística na resolução de problemas práticos e

no desenvolvimento de outras áreas do saber será ressaltado por meio de aulas

contextualizadas e problematizadoras. Ao enxergar a Estatística como um produto

ou atividade social (duas últimas perspectivas), provavelmente as aulas desse

componente curricular se traduzirão em projetos nos quais o contexto fará parte de

todo o processo, desde a formulação da questão a ser investigada até a

comunicação efetiva dos dados.

Pesquisadores apontam uma valorização do caráter de Análise de Dados

da Estatística na Educação Básica. Robert Hogg, estatístico estadunidense da

42

Universidade de Iowa, ressalta que o ensino de Estatística deve propiciar ao aluno

situações nas quais precisem refletir sobre a formulação de questões de

investigação apropriadas, decidir sobre a forma mais efetiva de coletar e registrar os

dados e conhecer as limitações dessa ciência. Hogg acredita que a Estatística na

Educação Básica precisa seguir essa tendência.

[...] ao nível da iniciação, a Estatística não deve ser apresentada como um ramo da Matemática. A boa Estatística não deve ser identificada com rigor ou pureza matemáticos, mas ser mais estreitamente relacionada com pensamento cuidadoso. Em particular, os alunos devem apreciar como a Estatística é associada com o método científico: observamos a natureza e formulamos questões, coligimos dados que lançam luz sobre essas questões, analisamos os dados e comparamos os resultados com o que tínhamos pensado previamente, levantamos novas questões e assim sucessivamente. (HOGG, 1991, pp. 342-343)

Ronald Snee, doutor em Estatística e consultor em diferentes ramos no

Estados Unidos, reitera o consenso sobre importância da perspectiva da Análise de

dados ao sugerir que, no que se refere aos conteúdos da Educação Estatística na

escolaridade básica, esta:

[...] se deve afastar da abordagem matemática e probabilística e colocar mais ênfase na coleta de dados, na compreensão e modelação da variação, na apresentação gráfica dos dados e na concepção de experiências, surveys, resolução de problemas e melhoria de processos. (SNEE, 1993, pp. 151 apud PONTE, FONSECA, 2000, p. 4)

Ponte e Fonseca (2000) salientam que em alguns países o termo análise

de dados surge como o grande descritor deste tema em substituição à Estatística,

pelo valor dado ao tratamento de dados. É o caso do Brasil cuja Educação

Estatística foi influenciada por países como Estados Unidos, Inglaterra e França,

como nos orienta (CORDANI, 2015). O Ensino de Estatística na Educação Básica

brasileira será abordado e aprofundado posteriormente.

É ponto pacífico a importância da inserção da Estatística na Educação

Básica devida seu caráter utilitário e formador no domínio do tratamento de dados e,

é claro, pelo desenvolvimento, mesmo que superficial de competências relacionadas

a investigações científicas. Entretanto, diversos especialistas e pesquisadores

enxergam outras possibilidades para a formação de estudantes da educação básica

quando se ensinam conceitos estatísticos com o foco na Análise de Dados. É o caso

de Cazorla, Kataoka e Silva que afirmam que A Estatística [...] tem um papel

fundamental no desenvolvimento da interdisciplinaridade, da transversalidade, do

43

espírito científico e da formação dos alunos para a cidadania. (CAZORLA;

KATAOKA; SILVA, 2010, p.20)

A interpretação apresentada é corroborada por diversos autores que

acreditam que ao aprender Estatística, devido ao seu caráter integrador, os alunos

estão indo além de conhecer cálculos de medidas de tendência por estarem

desenvolvendo habilidades importantes para se tornarem competentes em nossa

sociedade atual.

A interdisciplinaridade tem sido buscada por diversos docentes por

entender que a aprendizagem se dá no estabelecimento de relações. Ivani Fazenda,

a maior especialista brasileira sobre o tema, em seu livro “Interdisciplinaridade: um

projeto em parceria” justifica o diálogo entre disciplinas como um meio de alcançar

uma melhor formação geral e profissional e como incentivo à formação de

pesquisadores. (FAZENDA, 1991). Lopes é uma das pesquisadoras que destaca a

relação da Estatística com a interdisciplinaridade ao evidenciar que precisamos

lembrar que as raízes da Estatística estão centradas nas diferentes áreas do

conhecimento e essa percepção nos remete à interdisciplinaridade. (LOPES, 1998,

p. 19)

Lopes, em sua afirmação, associa a interdisciplinaridade à origem da

Estatística nas Ciências Sociais e Políticas. É de se esperar, portanto, que o Ensino

da Estatística esteja atrelado ao seu viés utilitário em outras ciências e áreas do

conhecimento. Vale destacar ainda que, ao desenvolvermos propostas envolvendo

conhecimentos estatísticos, favorecemos, dentre outras possibilidades, a conexão

com diferentes noções e conceitos, dentre os quais se destacam porcentagem,

razão, proporcionalidade, ângulos, diversas modalidades de cálculo, entre outras.

Além do aspecto interdisciplinar da Análise de Dados e da sua relação

com outros conteúdos, destacamos a possibilidade de desenvolver o pensamento

crítico nesse contexto, uma vez que é necessário analisar e relacionar criticamente

os dados coletados. Ao abordar o tratamento das informações na sua essência, é

necessário discutir, por exemplo, se as questões elaboradas para obter os dados

estão de acordo com a pergunta que se pretendia responder, se os dados

apresentados são compatíveis à pesquisa realizada e se a conclusão é coerente

com a investigação. As habilidades desenvolvidas nesse processo permitirão que os

alunos analisem criticamente o produto final de qualquer pesquisa estatística,

avaliando e questionando se for o caso a veracidade da análise ou a adequação

44

dos métodos empregados. Nesse processo, a habilidade de comunicação oral e

escrita também pode ser desenvolvida.

Muitos estudiosos evidenciam ainda a vinculação do Ensino da Estatística

com a formação para a Cidadania, definida por Lopes como a capacidade de

atuação reflexiva, ponderada e crítica de um indivíduo em seu grupo social (LOPES,

1998, p. 13). A autora reitera que a Estatística é essencial para a cidadania por

possibilitar o desenvolvimento de uma análise sob diferentes aspectos científicos,

tecnológicos e/ou sociais. Destacamos ainda as ideias de Cordani que reitera a

aplicação da Estatística em diversas áreas do conhecimento – indo da Medicina ao

Direito, da Indústria ao Governo – e vislumbra nessa relação o favorecimento do

aluno desenvolver sua autonomia e criticidade.

A Educação Estatística prepara cidadãos para pensar por eles mesmos, para fazer perguntas inteligentes e ter confiança para se defender de imposições autoritárias. Por outro lado, também os prepara para entender o papel desempenhado pela Estatística na tomada de decisão em vários campos do conhecimento, com seus pontos fortes e suas limitações. (CORDANI, 2015, p. 179)

Para além da formação para a cidadania destaca-se ainda a formação do

espírito científico, como apontado por Lopes:

O ensino interdisciplinar da Estocástica poderá proporcionar aos alunos uma aquisição de conhecimentos menos compartimentalizados, através de experiências que lhe permitam fazer observações e tirar conclusões, desenvolvendo, assim, seu pensamento científico, fundamental para sua formação. (LOPES, 1998, p.10)

O processo de definir um tema e uma questão sobre a qual deseja-se

investigar, elaborar um instrumento de coleta de dados, tabular e organizar as

informações obtidas, calcular e analisar medidas estatísticas e comunicar o

resultado da pesquisa são ações muito próximas de uma investigação científica.

Batanero (2001) vai além do exposto e descreve uma relação entre a

Estatística e o desenvolvimento de um país.

A relação entre o desenvolvimento de um país e o grau em que seu sistema estatístico produz estatísticas completas e confiáveis é clara, porque esta informação é necessária para uma tomada de decisões acertadas de tipo econômico, social e político. A educação estatística, não somente dos técnicos que produzem estas estatísticas, como também dos profissionais e cidadãos que devem interpretá-las e tomar suas decisões baseadas nessa informação, assim como dos que devem colaborar na obtenção dos dados

45

requeridos é, portanto, um motor do desenvolvimento. (BATANERO, 2001, p. 3 – tradução nossa15).

Tendo em vista o referencial teórico apresentado, acreditamos que a

perspectiva Análise de Dados da Estatística, ou seja, a abordagem descritiva da

Estatística como definida anteriormente, apresenta-se mais adequada à formação do

estudante da Educação Básica por entendermos que responde às demandas

formativas de uma sociedade repleta de dados e informações.

2.5. EDUCAÇÃO ESTATÍSTICA NO BRASIL

2.5.1. Disciplinas e cursos de Estatística

O primeiro registro de um curso de Estatística no Brasil esteve presente

em um curso de origem militar. SANTOS, em seu estudo histórico bibliográfico já

citado previamente, nos conta que:

Ainda em 1808, D. João VI criou, dentro da academia militar, a primeira instituição brasileira de ensino superior de tipo técnico, a Academia Real da Marinha, no Rio de Janeiro. Dois anos depois, é criada também no Rio de Janeiro a Academia Real Militar, destinada a formar oficiais da classe de engenheiros, geógrafos e topógrafos. Nessas instituições, o ensino de disciplinas de ciências exatas seria, enfim, encorajado no Brasil, inicialmente com as disciplinas de Física, Matemática e Química, e posteriormente com a Estatística. Em 1839 a Academia Real Militar da corte portuguesa foi transformada em Escola Militar da Corte e em seguida, em 1858, passou a se chamar Escola Central. Foi nessa época que surgiu a cadeira de Economia Política, Estatística e Direito Administrativo, cujo primeiro catedrático foi José Maria da Silva Paranhos, o Visconde do Rio Branco. A cadeira de Economia Política, Estatística e Direito Administrativo da Escola Central está na origem do ensino da Estatística no Brasil, ainda que a Estatística ali ensinada se preocupasse mais com a descrição dos característicos quantitativos referentes ao Estado. A Escola Central, em 1875, virou Escola Politécnica, e, em 1896, em Escola Politécnica do Rio de Janeiro. (SANTOS, 2014, p. 4-5)

Como dito anteriormente, a Estatística no Brasil visava descrever os

dados relacionados ao Estado. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

15

La relación entre el desarrollo de un país y el grado en que su sistema estadístico produce estadísticas completas y fiables es clara, porque esta información es necessária para la toma de decisiones acertadas de tipo económico, social y político. La educación estadística, no sólo de los técnicos que producen estas estadísticas, sino de los profesionales y ciudadanos que deben interpretarlas y tomar a su vez decisiones basadas en esta información, así como de los que deben colaborar en la obtención de los datos requeridos es, por tanto, un motor del desarrollo.

46

(IBGE), fundado em 1934, foi o grande responsável pela consolidação definitiva da

Estatística no Brasil e, apesar de ser o órgão incumbido de todas as etapas de

recenseamentos, se relaciona fortemente com ações de Educação Estatística.

Com efeito, é por meio de um decreto que fica determinado que o IBGE promoverá ou manterá cursos especiais de Estatística, visando sobretudo a formação ou o aperfeiçoamento do funcionalismo de Estatística nas suas várias categorias. (SANTOS, 2014, p.6)

Impulsionados pela criação do IBGE, os cursos de Estatísticas foram

surgindo. O primeiro curso de Estatística como uma disciplina independente foi

ministrado no início do século XX por José Paranhos Fontenelle, médico de

formação e docente de Higiene da Escola Normal do Distrito Federal do Rio de

Janeiro. O objetivo era apresentar Estatística aplicada à Educação. Em 1934 a

Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras (FFCL) da Universidade de São Paulo

(USP) foi inaugurada e o curso de Ciências Sociais e Pedagogia contava com a

disciplina Estatística Geral e Aplicada em sua grade curricular. Quatro anos depois,

em 1938, a cadeira Estatística Educacional é inserida na mesma instituição. Em

1941 ocorreu a Reforma Capanema, conjunto de leis que dividiu o ensino

secundário em clássico e científico. Registros mostram que a disciplina Estatística

aparecia no currículo de alguns Estados. Nos anos seguintes a USP outras

universidades foram inserindo disciplinas de Estatística em cursos de distintas áreas

do conhecimento, repetindo uma tendência mundial descrita anteriormente.

(SANTOS, 2014; CORDANI, 2015)

O primeiro curso de bacharelado em Estatística foi oferecido em 1946

pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) na antiga Faculdade Nacional

de Ciências Econômicas que atualmente é conhecida como Faculdade de Economia

e Administração. No mesmo ano a FFLC da USP regulamenta o curso de

especialização em “Estatística Analítica” na área de Ciências Sociais e Pedagogia.

(CARZOLA, 2006), já na década seguinte é fundada a Escola Nacional de Ciências

Estatísticas, especializada na formação de profissionais da área.

Em 1953 é criada a Escola Brasileira de Estatística [Escola Nacional de Ciências Estatísticas], que oferecia dois cursos, um de nível superior, o qual conferia a seus participantes o diploma de bacharel em Ciências Estatísticas; e outro de nível intermediário, que formava técnicos servidores do sistema estatístico nacional. A Escola brasileira de Estatística representa um marco histórico no ensino de Estatística no Brasil, pois é a primeira instituição do Brasil e da América Latina a preparar estatísticos de nível universitário. (SANTOS, 2014, p. 7)

47

Com isso, o ensino de Estatística vai se estabelecendo em nosso país.

Outros cursos superiores foram sendo criados, dentre os quais: Escola Superior de

Estatística da Bahia, em 1966; Universidade Federal da Bahia e UNICAMP, em

1969; Faculdade de Administração e Estatística Paes de Barros (primeira instiruição

privada), em 1971. Vale destacar que os cursos de Estatística oferecidos até então

no nível superior ainda estavam atrelados às Ciências Sociais e Políticas. Cordani

nos chama a atenção para esse fato:

No Brasil, a Estatística não tinha muito espaço nos cursos de graduação em Matemática. Como exemplo, na década de 60, o curso de Matemática da Universidade de São Paulo era ministrado pela Faculdade de Filosofia Ciências e Letras e a grade curricular não continha como obrigatória a disciplina de Estatística, nem no Bacharelado e nem na Licenciatura: a disciplina de Estatística poderia ser cursada como optativa, geralmente no final da grade curricular, junto à grade curricular dos cursos de Ciências Sociais, Psicologia ou Pedagogia. A escolha da Estatística como matéria optativa não gozava de prestígio entre os alunos da Matemática, por ser uma área que trabalhava com coleta de dados. Provavelmente, esta aversão se devia ao fato da Estatística ter sido considerada nos meios acadêmicos como uma ciência de natureza política, que favorecia a definição de políticas de governo, sem relação com a escolaridade básica. (CORDANI, 2015, p. 160)

A associação das disciplinas à aritmética política pode ter impactado

negativamente o desenvolvimento de métodos estatísticos mais avançados e

influenciado o uso tardio da Estatística em estudos científicos brasileiros. Somente

em 1974 o curso de bacharelado em Estatística começou a ser oferecido em uma

faculdade de Matemática, a UFRJ foi pioneira mais uma vez. A partir de então

observou-se uma grande expansão da área que ainda pode ser constatada nas

últimas décadas. Carzola (2006) em sua pesquisa afirma que em 2005 havia 27

cursos de bacharelado, 7 mestrados e 5 doutorados. Já em 2014 esses números

aumentaram para 38, 10 e 7, respectivamente. Santos (2004) ressalta que o alcance

pode ser maior se considerarmos que teses e dissertações sobre Estatística são

elaboradas em diversas áreas como Educação, Educação Matemática,

Administração, Engenharia etc.

Em 1984 foi criada a Associação Brasileira de Estatística (ABE) que

apresenta como meta promover o desenvolvimento, a disseminação e a aplicação

da Estatística no Brasil por meio da organização de eventos e publicações que

visam o intercâmbio entre professores, pesquisadores, profissionais e estudantes de

48

diferentes áreas. Atualmente a sede da ABE está localizada na Universidade

Estadual de São Paulo (USP) e associada ao Instituto de Matemática e Estatística.

2.5.2. Estatística e os Parâmetros Curriculares Nacionais

Apesar do avanço da Educação Estatística no Brasil na formação

profissional, o ensino dos conceitos estatísticos na Educação Básica só foi

consolidado em meados da década de 1990 com a publicação dos Parâmetros

Curriculares Nacionais (PCNs.), documento que incorporou oficialmente a Estatística

no currículo (CAZORLA; KATAOKA; SILVA, 2010).

Os Parâmetros Curriculares Nacionais foram divulgados a partir de 1997

como um documento oficial do Ministério da Educação do Brasil (MEC) com a

função de orientar e garantir a coerência dos investimentos no sistema educacional,

socializando discussões, pesquisas e recomendações (BRASIL 1997, p.13). O

primeiro documento, publicado em 1997, versava sobre as metas escolares para o

Ensino Fundamental. Os Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio

(PCNEM) foram publicados em 1999, seguido das orientações complementares do

PCN+ de 2002. O termo parâmetro foi utilizado com a intenção de ressaltar o

respeito às diversidades culturais, regionais, étnicas, religiosas e políticas que

atravessam uma sociedade múltipla, estratificada e complexa como o Brasil (BRASIL

1997, p.13).

É necessário lembrar que o estabelecimento de um currículo nacional,

mesmo que de natureza aberta e flexível como os PCNs, revela uma demanda da

sociedade que se modifica e provoca uma transformação na seleção de conteúdos.

As orientações curriculares, os objetivos e as metas estabelecidos possuem uma

intencionalidade na formação dos estudantes explícitas e implícitas nos documentos.

Os PCNs têm por intenção oferecer aos alunos:

[...] pleno acesso aos recursos culturais relevantes para a conquista de sua cidadania. Tais recursos incluem tanto os domínios do saber tradicionalmente presentes no trabalho escolar quanto as preocupações contemporâneas com o meio ambiente, com a saúde, com a sexualidade e com as questões éticas relativas à igualdade de direitos, à dignidade do ser humano e à solidariedade. (BRASIL, 1998, p.8)

Dessa forma, o principal objetivo é formar o aluno para que ele possa

exercer plenamente a cidadania. Para atender a esses objetivos, equipes

especialistas empenharam-se em elencar metas expressas em termos de

49

habilidades e competências para cada ciclo da escolaridade básica coerentes com a

realidade educacional brasileira apresentada nos estudos e com as demandas de

formação. Diante do exposto, o documento oficial sugere o desenvolvimento de

habilidades que permitam ao aluno mobilizar o conhecimento que possui na tentativa

de entender e, se necessário, modificar o que os cerca. Para que isso ocorra, o

estudante deve ser o protagonista na construção do conhecimento que se dá em

rede, na tessitura de um feixe de relações que associa diversos assuntos. O papel

do professor ganha novas dimensões, como organizador da aprendizagem e não

aquele que apresenta as informações prontas aos alunos, espera-se que atue como

mediador ao problematizar e promover o confronto das hipóteses dos alunos a fim

de validá-las, fazendo com que avancem. Essas ideias e concepções sobre o ensino

e a aprendizagem não podem ser diferentes no âmbito da Matemática.

De acordo com os PCNs, o ensino de Matemática na Educação Básica

está organizado em temas estruturadores ou eixos. No Ensino Fundamental a

Matemática se estrutura em 4 eixos, quais sejam: Números e Operações (e Álgebra

a partir do 6º ano); Grandezas e Medidas; Espaço e Forma e Tratamento da

Informação. (BRASIL, 2008).

O eixo Tratamento da Informação do Ensino Fundamental estuda modos

de quantificar e organizar conjuntos finitos de dados, que podem ser de ordem

numérica ou qualitativa. No Ensino Médio esse eixo passa a ser chamado de Análise

de Dados. De acordo com os PCNs+:

A análise de dados tem sido essencial em problemas sociais e econômicos, como nas estatísticas relacionadas à saúde, populações, transportes, orçamentos e questões de mercado. Propõe-se que constitua o terceiro eixo ou tema estruturador do ensino, e tem como objetos de estudo os conjuntos finitos de dados, que podem ser numéricos ou informações qualitativas, o que dá origem a procedimentos bem distintos daqueles dos demais temas, pela maneira como são feitas as quantificações, usando-se processos de contagem combinatórios, frequências e medidas estatísticas e probabilidades. Este tema pode ser organizado em três unidades temáticas: Estatística, Contagem e Probabilidade. (Brasil, 2002, p.123)

É preciso reiterar a especificidade de Análise de Dados que justifica sua

caracterização como um eixo estruturador do ensino. Em suma, este tema

estruturador contempla formas próprias de quantificar, interpretar e comunicar

conjuntos de dados ou informações que não podem ser quantificados direta ou

exatamente. Desse modo, tem como objeto de estudo um conjunto de dados

50

quantitativos ou qualitativos e para tal utiliza processos de contagem, combinatórias,

frequências, medidas estatísticas e probabilidades. Pela primeira vez, oficialmente o

Brasil se responsabiliza pela formação estatística na Educação Básica. Cordani

(2015), reitera a relevância dos Parâmetros Curriculares Nacionais no

desenvolvimento da Educação Estatística em nosso país.

No Brasil já se fazia sentir, há tempos, a necessidade de um currículo pré-universitário que contemplasse de maneira explícita e definitiva a área de Probabilidade e Estatística. [...] Permeando todos os ciclos da Educação é possível detectar a preocupação constante de que os alunos sejam capazes de (dentre outros aspectos): a) utilizar diferentes fontes de informação e recursos tecnológicos para adquirir e construir conhecimento; b) questionar a realidade, formulando problemas e tratando de resolvê-los, utilizando para isto o pensamento lógico, a criatividade, a intuição, a capacidade de análise crítica, selecionando procedimentos e verificando sua adequação. Essas capacidades poderiam ser exploradas no ensino fundamental através da aprendizagem de ferramentas de Estatística, que poderão ser vistas tanto isoladamente dentro da disciplina Matemática, ou então como uma atividade de interação com outras disciplinas, através dos chamados temas transversais (termos usados nos PCN). (CORDANI, 2015, p. 173-174)

Os PCNs descrevem o que se espera dos alunos formados ao final de

cada segmento da Educação Básica em relação à Estatística. A justificativa na

inserção das habilidades e competências desse componente curricular está na

busca por uma formação para a cidadania. A partir da publicação do documento

oficial, foi observada uma demanda crescente de materiais didáticos, cursos,

publicações e pesquisas científicas sobre Educação Estatística e alterações em

livros didáticos, avaliações externas nacionais e processos seletivos de

universidades ou vestibulares.

Ainda que os PCNs tenham sido publicados em 1997, Cordani (2014)

afirma que foi somente em 2006, quando o Brasil sediou a VII ICOTS em Salvador,

com o tema Working Cooperatively in Statistical Education, que a Educação

Estatística se tornou mais visível e próxima da sala de aula. Cazorla, nesse envento,

analisou o estado da arte da pesquisa sobre o ensino de Estatística no Brasil

focando a educação básica e a formação do usuário. Ela destacou que depois que

os PCNs oficializaram o ensino de Estatística na Educação básica, aumentou

substancialmente a procura de alunos e professores por minicursos, oficinas e livros

uma vez que os professores que atuam em sala de aula provavelmente não tiveram

uma formação inicial que privilegiasse esse tema. Para ela, o marco zero da

51

Educação Estatística no Brasil se deu na conferência internacional “Experiências e

expectativas do Ensino de Estatística – Desafios para o século XXI” realizada na

Universidade Federal de Santa Catarina em 1999.

O caminho percorrido pela Educação Estatística nos Ensinos

Fundamental e Médio no Brasil é bastante recente e ainda não está consolidado.

Apesar de quase 20 anos da publicação dos Parâmetros Curriculares Nacionais, nos

quais estão explícitas as habilidades e conteúdos estatísticos que esperamos para

nossos alunos, são raros os sistemas de ensino e coleções de livros didáticos que

se dedicam ao ensino de Estatística em todas as séries e principalmente com o viés

de Análise de Dados sugeridos nos documentos.

Algumas políticas públicas educacionais visam organizar o ensino da

Educação Básica. Desde o final de 2016 especialistas têm se dedicado a elaborar

uma Base Nacional Comum Curricular (BNCC) que elenca as competências e

habilidades que devem ser almejadas por todas as unidades escolares no território

brasileiro. A terceira versão, publicada em meados de 2017, contempla o Ensino

Fundamental e apresenta a Matemática dividida em cinco unidades temáticas, quais

sejam: Números; Álgebra; Geometria; Grandezas e Medidas; Estatística e

Probabilidades. Nesse documento é possível encontrar a indicação do trabalho com

objetos de conhecimento de todos os temas em todas as séries do Ensino

Fundamental, não sendo diferente com Estatística e Probabilidade. As discussões

sobre a BNCC ainda são recentes e seus efeitos provavelmente serão verificados a

partir de 2019, ano no qual chegarão às escolas os livros didáticos avaliados pelo

Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) com base nesse documento.

2.6. DESAFIOS DA EDUCAÇÃO ESTATÍSTICA

A consolidação da Educação Estatística, entretanto, não é um desafio

apenas do sistema educacional brasileiro. Batanero, em 2001, destacou que o fato

da Estatística como Ciência ainda estar em desenvolvimento e expansão na

ocasião, pode ter dificultado seu ensino nessa concepção.

Ao mesmo tempo, a Estatística como Ciência, atravessa um período de notável expansão, sendo cada vez mais numerosos os procedimentos disponíveis, distanciando-se cada vez mais da matemática pura e convertendo-se em uma “ciência dos dados”, o

52

que implica a dificuldade de ensinar um tema em contínua mudança e crescimento. (BATANERO, 2001, p. 6 – tradução nossa16)

Celi Lopes (2010) em seu artigo intitulado “Os desafios para Educação

Estatística no currículo de Matemática”, analisou a organização da Educação Básica

em países distintos pela realidade social, econômica e cultural, Brasil e Estados

Unidos e percorreu a história da Educação Estatística na Escola Básica e revelou

que:

[...] nas últimas décadas a maioria dos países introduziu nos seus currículos de Matemática, conteúdos de Estatística, Probabilidade e Combinatória desde o início da escolaridade. A conferência de Cambridge (Massachusetts), realizada em 1963, é apontada por Rade (1986) como uma das primeiras reuniões científicas em que se propôs que a Estatística passasse a integrar os conteúdos de Matemática a serem ensinados na Educação Básica, mas a precocidade dessa medida não teve ecos na maior parte dos documentos curriculares posteriormente elaborados. [...] Em um levantamento realizado em 1986 pelo International Statistical Institute (ISI), constata-se, nos relatório enviados pelos diversos países, uma insatisfação pelo ensino da Estatística, em particular nas escolas dos anos elementares, onde seus ensino tem sido ignorado. Atualmente, aproximadamente duas décadas após esse levantamento, percebe-se que, embora a inserção da Estatística e Probabilidade seja recomendada nas propostas curriculares de Matemática, na maioria dos países do mundo, ainda não tem sido prioridade na escola, nem nos programas de formação inicial e contínua de professores que ensinam Matemática (LOPES, 2010, p.47-48)

Afirmações como essas nos indicam que a inserção da Estatística nos

currículos oficiais não tem garantido um resultado expressivo na formação dos

estudantes dos diversos países. A forma como se ensina é decisivo para a formação

almejada nos documentos curriculares. Henriques e Nascimento (2013)

apresentaram um resumo do que foi discutido sobre o ensino e aprendizagem de

Estatística no XXIV Seminário de Investigação em Educação Matemática, ocorrido

em Braga em 2013.

Com efeito, o aumento do tempo dedicado à instrução em Estatística, só por si, não é suficiente para preparar cidadãos estatisticamente letrados. As mudanças esperadas no ensino da Estatística não dizem respeito só à quantidade, mas também à qualidade do conteúdo [...] até há bem pouco tempo, a Estatística nos currículos estava reduzida a tarefas nas quais eram fornecidos conjuntos de dados já organizados e de dimensão reduzida e aos alunos era pedida a

16

Al mismo tiempo, la estadística como ciencia, atraviesa un periodo de notable expansión, siendo cada vez mas numerosos los procedimientos disponibles, alejándose cada vez mas de la matemática pura y convirtiéndose en una "ciencia de los datos", lo que implica la dificultad de enseñar un tema en continuo cambio y crecimiento.

53

produção de gráficos específicos, o cálculo de estatísticas simples ou a resposta a questões diretas. (HENRIQUES; NASCIMENTO; 2013, p. 117)

Atividades como as descritas não evidenciam o caráter integrador e

complexo da Estatística que propicia o desenvolvimento de habilidades relevantes

para o exercício da cidadania como descrito anteriormente. Talvez a preparação dos

professores que não vivenciaram a Educação Estatística para além do estudo dos

métodos e cálculos estatísticos na sua formação básica e profissional venha

influenciando esses resultados.

Cazorla, Kataoka e Silva (2010) apontam a demanda por formação e

pesquisa em Educação Estatística e diferenciam Educação Estatística e Estatística

ao enxergar a primeira como uma área de pesquisa com o objetivo de estudar como

as pessoas aprendem e ensinam Estatística.

[...] o ensino de Estatística enfrenta outras dificuldades devido à sua natureza, pois o pensamento estatístico rompe com o paradigma do raciocínio racional, lógico e determinista, característico da Matemática, uma vez que o homem, no seu cotidiano, muitas vezes toda decisões em condições de incerteza. Além disso, os problemas estatísticos costuram ser abertos, isto é pode existir mais de um método de solução correta, ou a solução ou previsão pode não se concretizar, a despeito da modelagem estatística (CAZORLA; KATAOKA; SILVA, 2010, p.21)

Outros autores, como Lopes (2010), apontam a existência de grandes

lacunas na formação docente em relação à Educação Estatística. Além disso, as

pesquisas sobre Educação Estatística com o olhar para a sala de aula da Educação

básica ainda são escassas. Batanero apresentou essa preocupação em 2001:

[...] o número de investigações sobre a didática da estatística ainda é muito escasso, em comparação com as existentes em outros ramos da matemática. Por isso, não se conhecem ainda quais são as principais dificuldades dos alunos em muitos conceitos importantes. Seria também preciso experimentar e avaliar métodos de ensino adaptados à natureza específica da estatística, à qual nem sempre se podem transferir os princípios gerais do ensino de matemática. (BATANERO, 2001, p. 6 – tradução nossa17)

17

[...] el numero de investigaciones sobre la didáctica de la estadística es aun muy escaso, en comparación con las existentes en otras ramas de las matemáticas. Por ello, no se conocen aun cuales son las principales dificultades de los alumnos em muchos conceptos importantes. Sería también preciso experimentar y evaluar métodos de enseñanza adaptados a la naturaleza especifica de la estadística, a la que no siempre se pueden transferir los principios generales de la enseñanza de las matemáticas.

54

Apesar de terem transcorrido mais de uma década desde a afirmação da

autora, estudos como o de Santos (2014) confirmam o desenvolvimento lento e

tardio da Educação Estatística como campo científico. Cordani (2014) lembra ainda

que apesar do aumento de pesquisas dessa área, o desenvolvimento da Educação

Estatística ainda é contingenciado:

[...] hoje em dia temos à disposição textos (principalmente em inglês, embora haja algumas publicações em português), muitos eventos organizados como seminários e simpósios, extensa publicação de artigos, criação de sites interativos e demonstrativos etc. No entanto, esse empenho se dá em alguns “nichos” que se especializam em Educação Estatística, e não resulta necessariamente na real presença da Estatística na sala de aula da escola básica, tanto no Brasil como em outros países. (CORDANI, 2014, p, 175)

A Educação Estatística é discutida apenas em algumas universidades

brasileiras e não faz parte da grade curricular da grande maioria dos cursos de

Licenciatura em Matemática. Apesar do notável desenvolvimento da Estatística nas

últimas décadas, a Educação Estatística ainda não se apresenta como uma área do

conhecimento madura e universalizada na formação dos professores. Muitos países,

dentre eles o Brasil, ainda não apresentam um ensino de Estatística consoante com

o grande potencial do conhecimento em Estatística para colaborar com a formação

do cidadão, conforme apontado nas discussões teóricas.

55

CAPÍTULO 3 – ENSINO E APRENDIZAGEM DE ESTATÍSTICA

3.1. SER COMPETENTE EM ESTATÍSTICA

A Educação Estatística é complexa na sua natureza principalmente por

abarcar questões relacionadas a três campos científicos distintos, quais sejam:

Estatística, Matemática e Educação. A relação entre a Matemática e a Estatística,

apresentada no capítulo anterior, é sensivelmente alterada na presença do olhar da

Educação, cujas principais contribuições se revelam essencialmente no debate

sobre como o ensino de Estatística precisa organizar-se nos diferentes segmentos

de ensino para que os alunos avancem na perspectiva atual do que se entende por

conhecimento estatístico.

O ensino de Estatística na Educação Básica é responsabilidade dos

professores de Matemática e, portanto, sofre influência direta dessa Ciência vista

por alguns como determinista e regida por procedimentos rigorosos. A Educação

Matemática tem passado por grandes mudanças em sua concepção e, ainda que

encontremos salas de aula em que fórmulas e técnicas matemáticas são os focos do

ensino, há algumas décadas pesquisadores e professores da área têm se

preocupado em voltar o ensino para o desenvolvimento de habilidades e

competências nas quais os conceitos de Estatística estão integrados. De todo

modo, muitos pesquisadores ressaltam a diferença epistemológica entre as duas

Ciências. Smith (1998) diz que um bom estudo estatístico não está relacionado à

pureza e à precisão matemática dos seus modelos e sim a um raciocínio cuidadoso.

Com um olhar distinto sobre a Estatística, Batanero (2001) afirma que a natureza da

Estatística nada tem a ver com a cultura determinista presente nas aulas de

Matemática e, em seu material elaborado para o curso de Educação Estatística, a

autora aponta preocupação em reproduzir na resolução de problemas estatísticos a

estratégia utilizada em algumas situações matemáticas de reduzir a complexidade

de um problema, uma vez que essa ação poderia produzir vieses nas conclusões

obtidas e consequentemente nas implicações nas tomadas de decisão.

Joan Garfield, da Universidade de Minessota nos Estados Unidos, e Iddo

Gal, da Universidade de Haifa em Israel, têm desenvolvido nas últimas décadas

pesquisas sobre aprendizagem estatística. Garfield e Gal corroboram a ideia de

Batanero ao afirmarem que a Estatística, apesar de ser uma ciência matemática,

56

não é um ramo da Matemática, por apresentar modos característicos de analisar as

situações problemas e os resultados. No ano de 2007 os pesquisadores publicaram

um artigo no qual descrevem diferenças no raciocínio dessas duas disciplinas:

Em Estatística, dados são vistos como números com um contexto. O contexto motiva procedimentos e é a fonte de significado e base para a interpretação de resultados. A indeterminação da desordem dos dados distingue investigações estatísticas das explorações matemáticas mais precisas e caracterizadas por uma natureza finita. Conceitos e procedimentos matemáticos são usados como parte da tentativa de manejar e “resolver” problemas estatísticos, e alguma facilidade técnica com Matemática pode ser esperada em certos cursos e níveis educacionais. Entretanto, a necessidade de cálculos apurados e execução de procedimentos estão rapidamente sendo substituídos pela necessidade de um uso seletivo, pensado e cuidadoso de dispositivos tecnológicos e de softwares cada vez mais sofisticados. A natureza fundamental de muitos problemas estatísticos é que eles não possuem uma única solução matemática. Em vez disso, problemas estatísticos realistas usualmente começam com uma questão e culminam com a apresentação de opiniões apoiadas por certas conclusões e suposições. Opiniões e inferências esperadas dos alunos muitas vezes não podem ser caracterizadas como “certas” ou “erradas”, mas sim avaliadas em termos de qualidade de raciocínio, adequação dos métodos empregados, e natureza dos dados e evidência utilizados. (GARFIELD; GAL, 1999, p. 208, tradução nossa18)

Em suma, a Estatística vista para além das técnicas e dos modelos exige

de quem aprende uma mobilização de habilidades que vão além daquelas

desenvolvidas em outros conteúdos abordados nas aulas de Matemática. Apesar da

estreita relação com a Educação Matemática pelos métodos empregados na

pesquisa e referenciais, podemos afirmar que a Educação Estatística possui uma

18

In statistics, data are viewed as numbers with a context. The context motivates procedures and is the source of meaning and basis for interpretarion of results. The indeterminacy of messiness of data distinguishes statistical investigations from the more precise, finite nature characterizing mathematical explorations Mathematical concepts and procedures are used as part of the attempt to manage or “solve” statistical problemas, and some technical facility with the mathematics may be expected in certains courses and educational levels. However, the need for the accurate application of computations or execution of procedures is rapidly being replaced by the need for selective, thoughtful, and accurate use of technological devices and increasingly ore-sophisticated software programs. The fundamental nature of many statistical problemas is that they do not have a single matrhematical soclution. Rather, realistic statistical problems usually start with a question and culminate with the presentations of an opinion supported by certain findings and assumptions. Judgments and inferences expected of students [...] very often cannot be characterized as “right” or “wrong”, but rather evaluated in terms of quality of reasoning, adequacy of methods employed, and nature of data and evidence used.

57

especificidade epistemológica que demanda investigações sui generis

principalmente em relação às expectativas de aprendizagem dos alunos e à

elucidação do que seja competência estatística.

3.1.1. Expectativas de aprendizagem

Por expectativas de aprendizagens entendemos não só o conjunto de

conteúdos que os alunos devem dominar, mas também as habilidades e

competência que esperamos que desenvolvam ao final de cada ciclo da

escolaridade.

Diversos pesquisadores da área da Educação definiram competência e

habilidade. Inspirados pelos estudos de Libâneo (1994) e Perrenoud (1999),

assumiremos habilidade como a capacidade do sujeito de desempenhar uma ação

específica baseada nos saberes e conhecimentos que domina e competência, como

o conjunto de recursos cognitivos que são mobilizados na resolução de uma

situação problema19 com coerência e efetividade.

Lino de Macedo, professor e pesquisador da Universidade de São Paulo

(USP) estuda os mesmos conceitos na Educação Básica e enxerga na competência

uma habilidade de ordem geral, enquanto define a habilidade como uma

competência de ordem particular, específica, como ilustrou em uma reflexão feita

para o INEP:

Resolver problemas, por exemplo, é uma competência que supõe o

domínio de várias habilidades. Calcular, ler, interpretar, tomar decisões, responder

por escrito, etc., são exemplos de habilidades requeridas para a solução de

problemas de aritmética. (MACEDO, 2005,p.-)

É possível dizer, portanto, que as habilidades são necessárias, mas não

suficientes, para que um sujeito seja competente. A competência não é somente um

conjunto de habilidades, mas principalmente a forma como as articulamos no

processo da resolução de uma situação-problema.

Voltando ao tema do presente estudo, é pertinente definir o que é ser

competente em Estatística. Pensar no papel da formação estatística talvez ajude a

elucidar essa definição. Gal e Garfield, na publicação “Os desafios da avaliação em

19

Por situação problema, entendemos toda situação que não possui solução evidente e que exige que o resolvedor combine seus conhecimentos e se decida pela forma de usá-los em busca da solução; uma situação que um indivíduo ou grupo quer ou precisa resolver e para a qual não dispõe de um caminho rápido e direto que o leve à solução. (SMOLE; DINIZ, 2001)

58

Educação Estatística”20 de 1999, afirmam que a meta principal do Ensino de

Estatística na formação de um cidadão é torná-lo capaz de compreender e lidar com

as noções de incerteza e variabilidade presentes na informação estatística, e

contribuir com a produção, interpretação e comunicação de dados pertinentes a

contextos nos quais estão inseridos na sua vida profissional (GAL, GARFIELD,

1999). Em outro trabalho Garfield, junto com Ben-Zvi, discutiu os desafios da

Educação Estatística e afirmaram que o estudo da Estatística deve permitir que os

cidadãos reajam de modo inteligente às informações quantitativas (BEN-ZVI;

GARFIELD, 2004).

Acreditamos que um aluno não se torna cidadão estatisticamente

competente sem que haja uma intencionalidade explícita nas ações de formação

escolar. Para atingir o que chamaremos de competência estatística na vida adulta, o

ensino deve se organizar para desenvolver certas habilidades associadas à

Estatística durante a escolarização básica. Gal e Garfield identificaram oito metas

comuns para a Educação Estatística que se aplicam a qualquer contexto e nível

instrucional resumidas no quadro 1:

Quadro 1 – Metas curriculares da Educação Estatística

M

Meta 1

Entender a finalidade e a lógica de uma investigação estatística;

compreender as ideias que subjazem uma investigação como a

necessidade de descrever uma população por meio da coleta de dados, de

reduzir dados brutos, de estudar amostras ao invés de populações inteiras,

a lógica por trás de processos de amostragem, etc.

M

Meta 2

Entender o processo de uma investigação estatística; compreender como,

quando e por que as ferramentas estatísticas existentes podem auxiliar em

um processo de investigação; reconhecer a importância e especificidade de

cada fase de uma investigação, quais sejam: formular questões; planejar o

estudo; coletar e organizar dados; explorar e analisar os dados; interpretar

o que foi encontrado; discutir conclusões e implicações; e identificar

questões para estudos futuros.

20

“The Assessment Challenges in Statistics Education”

59

M

Meta 3

Desenvolver e aplicar habilidades processuais, tais como: organizar dados;

calcular índices tais como medianas, média e intervalo de confiança;

elaborar tabelas e gráficos úteis seja manualmente ou com o auxílio de

tecnologia.

M

Meta 4

Compreender as relações matemáticas envolvidas na estatística; por

exemplo, entender o significado e a influência de um valor extremo em um

conjunto de dados no cálculo da média e mediana.

M

Meta 5

Entender o conceito de chance e probabilidade como a medida de

incerteza;

M

Meta 6

Desenvolver habilidades de interpretação e literacia estatística; ser capaz

de interpretar resultados e estar atento à possíveis vieses e limitações que

generalizações podem extrair dos dados; elaborar perguntas críticas e

reflexivas sobre argumentos que se referem a dados estatísticos.

M

Meta 7

Desenvolver habilidades de comunicar estatisticamente: usar terminologia

apropriada à Estatística e Probabilidade e ser capaz de elaborar

argumentos pertinentes baseados em dados e observações.

Meta 8

Desenvolver dispositivos estatísticos úteis; compreender que uma

investigação baseada em processos estatísticos frequentemente leva a

melhores conclusões do que confiar em experiências próprias e subjetivas

ou intuitivas, mas que essas conclusões nem sempre são garantidas.

Fonte: GAL e GARFIELD (1999)

Apesar de entender que a competência estatística é a integração das

expectativas descritas por Gal e Garfield, que foram separadas apenas para fins de

estudo e definição, interpretamos cada uma das metas como uma subcompetência

descrita por meio de um conjunto de habilidades que se articulam. Isso posto,

assumiremos como competência estatística a capacidade de articular atitudes,

saberes e conhecimentos estatísticos em situações nas quais seja necessário lidar

com informações na intenção de descrever uma população ou situação para, de

modo crítico e reflexivo, compreender ou tomar decisões baseadas no conjunto de

dados coletadas pelo sujeito ou por outrem.

Tomamos por definição de conhecimento estatístico os componentes

interrelacionados descritos por Gal, quais sejam:

60

(a) a capacidade que as pessoas têm de interpretar e avaliar

criticamente a informação estatística, os argumentos

relacionados aos dados ou os fenômenos estocásticos, que

as pessoas podem encontrar em diversos contextos e

quando for pertinente

(b) sua capacidade de examinar ou comunicar suas reações à

referida informação estatística, tais como sua compreensão

do significado da informação, suas preocupações com

relação à aceitabilidade de determinadas conclusões.

(GAL, 2002, p. 3, tradução nossa21)

O pesquisador acredita que para que o conhecimento estatístico seja

mobilizado é necessária a ativação de cinco bases de conhecimento inter-

relacionados (geral, estatístico, matemático, de contexto e crítico) conjuntamente

com um grupo de disposições que servem de apoio e determinam a ação do sujeito

(crenças, atitudes e posição crítica) (GAL, 2002). Dessa forma, além da

preocupação com conceitos e aplicações de modelos estatísticos baseados em

resolução de situações-problema, espera-se que os alunos desenvolvam uma

postura crítica e reflexiva diante das informações estatísticas que, a nosso ver, se

assemelha à postura característica de pesquisadores científicos.

As metas para a Educação Estatística descritas por Gal e Garfield (1999)

alcançaram não só as escolas norte americanas, como também influenciaram

discussões em países da Europa (como a Inglaterra), da América Latina (como o

Brasil) e da Oceania (como a Austrália). Pesquisadores desses locais com as mais

diversas formações também têm se dedicado a estudar a Educação Estatística.

Dentre eles, destacamos a participação de estudiosos da Psicologia Educacional

que vem contribuindo com pesquisas científicas cujo objetivo é auxiliar os alunos a

desenvolverem a almejada competência estatística que, desde o final do século XX,

têm sido aceita como a articulação de três outras competências: a literacia

21

(a) la capacidad que tienen las personas de interpretar y evaluar críticamente la información estadística, los argumentos relacionados con los datos o los fenómenos estocásticos, que las personas pueden hallar en diversos contextos, y cuando sea pertinente (b) su capacidad de examinar o comunicar sus reacciones a dicha información estadística, tales como su comprensión del significado de la información, sus opiniones sobre las repercusiones de esta información, o sus preocupaciones con relación a la aceptabilidad de determinadas conclusiones.

61

estatística (statistical literacy), que está relacionada à comunicação estatística de

modo crítico e reflexivo; o raciocínio estatístico (statistical reasoning), que envolve

conhecer a intenção e utilizar com compreensão cada etapa do processo de uma

investigação estatística; e o pensamento estatístico (statistical thinking), que pode

ser interpretado como a capacidade de relacionar os processos e ferramentas

estatísticas para aplicá-los de forma coerente em relação à natureza dos dados e às

metodologias investigativas em diversos contextos. Na sequência, nos deteremos a

aprofundar o estudo de cada uma dessas competências.

3.1.2. Literacia estatística

Literacia: qualidade ou condição de quem é letrado22

O termo literacia pode ser interpretado como a capacidade de

compreender e fazer uso de informações escritas. Apesar de inusitada, a palavra

literacia tem sido usada na área da Educação Matemática e Estatística para

descrever a competência de ler, interpretar e empregar a linguagem dessas áreas

para se comunicar. Pesquisadores australianos e alguns brasileiros utilizam o termo

letramento, entretanto optamos por usar a palavra literacia por entender que o

vocábulo permite incorporar no seu significado a destreza de um sujeito para

compreender e manifestar ideias envolvendo diferentes linguagens.

Como já vimos anteriormente, no final da década de 1970 as discussões

sobre a importância das habilidades relacionadas à análise de dados na formação

de profissionais, pesquisadores e líderes suscitou a urgência de reformas de

currículos escolares de modo a inserir esses anseios. Em 1980 os Estados Unidos

iniciaram uma revolução no ensino de Estatística ao propor o projeto “Quantitative

Literacy Project” (QLP) de 1980 nos Estados Unidos. O termo literacia estatística

apareceu associado ao ensino no QLP, liderado pelo professor Sheaffer que o

descreveu em um artigo de 1990 como um projeto articulado entre a Associação

Americana de Estatística (American Statistical Association – ASA) e o Conselho

Nacional de Professores de Matemática (National Council of Teachers of

Mathematics – NCTM) como base para a elaboração da vertente estatística que

seria publicada nos “Standards”, documento esse que normatiza os currículos no

país. O QLP desenvolveu materiais curriculares acessíveis a professores e alunos e

22

Houaiss online, acesso em 14 dez. de 2016.

62

estruturou modelos de formação continuada na área de Estatística e Probabilidade.

(SCHEAFFER, 1990). Um dos princípios norteadores do projeto era que a análise de

dados deveria ser a principal ação pedagógica da Educação Básica. Além disso,

sugeria-se a inserção de dados reais e de interesse dos alunos nas aulas dos

diferentes segmentos de ensino. O documento propunha ainda que a ênfase do

ensino não deveria ser em cálculos, mas sim no desenvolvimento da intuição. Após

o QLP, a discussão sobre literacia estatística se propagou no país e um aumento no

interesse sobre a Educação Estatística foi observado nas décadas seguintes. Muitos

pesquisadores se dedicaram a estudar essa competência e como ajudar os alunos a

alcançá-la.

Ben-Zvi e Garfield, em 2004, na intenção de explorar os desafios dos

professores que desejam ensinar estatística de acordo com as expectativas atuais,

compilaram as ideias de outros pesquisadores da área, tais como CHANCE(2002),

DELMAS (2002), GARFIELD (2002) E RUMSEY (2002), e associaram a literacia

estatística às:

[...] habilidades básicas e importantes que podem ser usadas no entendimento de informações estatísticas ou resultados de pesquisas. Essas habilidades incluem ser capaz de organizar dados, elaborar e desenhar tabelas, e trabalhar com diferentes representações de dados. Literacia estatística também inclui o entendimento de conceitos, vocabulário e símbolos, e inclui o entendimento de probabilidade como uma medida da incerteza. (BEN-ZVI; GARFIELD; 2004; p.7; tradução nossa23)

A partir da definição apresentada, podemos observar que a literacia

estatística tem como alvo a comunicação de ideias estatísticas. Portanto, mais do

que compreender os elementos e as etapas da construção de um gráfico, o aluno

precisa ser capaz, por exemplo, de selecionar o tipo de gráfico mais adequado para

comunicar a informação desejada ou ainda decidir que variáveis irá relacionar em

uma tabela de dupla entrada de modo a investigar se há correlações. Como leitor de

gráficos e tabelas, baseado em seus saberes, espera-se que ele seja capaz de

entender o que está por trás do texto, a intenção do autor e de avaliar a veracidade

da informação e da conclusão que se se apresenta de modo explícito ou implícito.

23

Statistical literacy includes basic and important skills that may be used in understanding statistical information or research results. These skills include being able to organize data, construct and display tables, and work with different representations of data. Statistical literacy also includes an understanding of concepts, vocabulary, and symbols, and includes an understanding of probability as a measure of uncertainty.

63

Consciente do papel da Estatística na formação para a cidadania,

Rumsey, da Universidade de Ohio, optou por substituir o termo por outros dois:

competência estatística (statistical competence) e cidadania estatística (statistical

citizenship). Para ele, a cidadania estatística se refere à meta definitiva para o

sujeito compreender e transformar a realidade em uma sociedade repleta de

informações enquanto a competência estatística abarca o conhecimento básico que

subjaz o pensamento e o raciocínio estatísticos que se revelam em cinco

componentes, quais sejam: consciência dos dados; entendimento de conceitos

básicos e terminologia; conhecimento de processos de coletas de dados e geração

de Estatística descritiva; habilidades básicas de interpretação para descrever os

resultados no contexto do problema; e habilidades de comunicação (RUMSEY,

2002). Apesar dessa definição não ter sido utilizada pela comunidade científica,

destacamos a contribuição de Rumsey para a relação entre a competência

estatística e a formação para a cidadania.

Outro estudo relevante relacionado à literacia estatística foi realizado por

duas pesquisadoras australianas, Jane Watson da Universidade da Tasmânia e

Rosemary Callingham da Universidade de New England em 2003. A pesquisa

intitulada “Literacia Estatística: um constructo hierárquico24” teve por objetivo

investigar o conceito de literacia estatística para auxiliar a compreensão do conceito

que havia se revelado uma nova demanda do ensino de Estatística. As

pesquisadoras interpretaram literacia estatística como um constructo25 e visavam,

além de definir os fatores a ela relacionados, verificar a existência de níveis

hierárquicos. A pesquisa foi motivada por alguns estudos anteriores, como o de

Biggs e Collis26 que em 1982 determinaram uma hierarquia relacionada à estrutura

cognitiva associada à literacia estatística baseado em número de tarefas

empregadas. A investigação usou dados arquivados que haviam sido coletados em

duas pesquisas envolvendo avaliações em larga escala que tiveram por objetivo

estudar aspectos da compreensão estatística. Utilizando a Teoria de Resposta ao

24

Statistical Literacy: A complex hierarchical construct.

25 Por constructo compreendemos os indicadores compostos por variáveis latentes que

surgem como resultados de modelos mentais e/ou associados a medidas indiretas. O constructo permite, por exemplo, acessar o grau de conhecimento em tópicos específicos. 26

BIGGS, J. B.; COLLES, K. F. Evaluating the quality of learning: The SOLO

taxonomy. Academic Press: New York, 1982.

64

Item (TRI) foram elaborados 80 itens e analisadas repostas de quase 4000 alunos

do terceiro ao nono ano que participaram da avaliação entre os anos de 1993 e

2000. Para definir o constructo e verificar a existência da hierarquia, Watson e

Callingham utilizaram a Análise Rash, que foi explicado da seguinte forma:

Análise Rash é um conjunto de modelos de medidas compreendidos pelo

título geral de Teoria de Reposta ao Item (TRI) que tem sido amplamente utilizada

em pesquisas.

[...] Eles usam a interação entre pessoas e itens para estimar a probabilidade de reposta de cada pessoa a cada item. Esse procedimento produz um conjunto de pontos que definem a posição de cada item e cada pessoa em relação à variável ou constructo subjacente. [...] é um estudo exploratório mais do que confirmatório, que almeja postular a existência de uma variável hipotética mais do que confirmar a presença de um constructo previamente identificado por outros significados. (WATSON e CALLINGHAM, 2003, p. 8, tradução nossa27)

Como resultado da exploração, foram identificados seis níveis

hierárquicos como uma forma conveniente de distinguir etapas gerais do

desenvolvimento das variáveis/habilidades que subjazem o constructo da literacia

estatística. Cada um dos níveis apresentados descreve aspectos relacionados ao

engajamento com o contexto, terminologia, habilidades matemáticas e estatísticas.

Resumimos no quadro 2 a caracterização de cada um dos níveis nas dimensões

apresentadas sob o ponto de vista das tarefas que os alunos devem ser capazes de

realizar:

Quadro 2 – Níveis de literacia estatística

Nível Engajamento

com o contexto Terminologia

Habilidades matemáticas

Habilidades estatísticas

1 Idiossincrático

Idiossincrático, (peculiar ou

par-ticular ao sujeito

Tautológico (redundante)

Básicas

Contar e ler os valores em células de tabelas um a um; encontrar a maior coluna ou linha de uma tabela; determinar a frequência de uma variável em um pictográfico.

27

Rash models are a set of measurement models coming under the general heading of Item Response Theory (IRT) that have been widely used in surveys.[...] They use the interaction between persons and itens to estimate the probabilities of response of each person to each item. This process procedures a set of score that defines the position of each item and each person against the underlying variable or construct. [...] it is an exploratory rather than a confirmatory study, which aims to postulate the existence of na hypothesized variable, rather than confirm the presence of a construcr prevously identified by other means.

65

2 Informal

Coloquial, infor-mal; crenças in-

tuitivas e não estatísticas

Elementos simples

Procedimentos simples

Interpretar tabelas e gráficos simples e diretos; cálculos básicos de chances.

3 Inconsistente

Seletivo

Reconhecimen-to adequado,

mas sem justifi-cativa

Formatos de suporte

Interpretação mais qua-litativa do que quantita-tiva

4 Consistente não

critico Não crítico

Apreciação em configurações de variação e

chances

Aspectos múltiplos de

uso

Compreender e utilizar conceitos de média, probabilidades simples e identificar caracte-rísticas dos gráficos.

5 Crítico

Crítico, questionador

Uso apropriado

Não envolvem raciocínio

proporcional

Interpretar a medida quantitativa de chance, considerar o conceito de variação.

6 Matematica-mente crítico

Crítico, questio-nador

Interpretação perspicaz de aspectos da linguagem

Envolvem raciocí-nio

proporcional

Considerar o significado e a necessidade da noção de incerteza em previsões.

Fonte: Watson e Callingham (2003); tradução nossa.

Watson e Callingham definiram a literacia estatística como um constructo

hierárquico, e como tal podemos afirmar que os conhecimentos e habilidades de um

nível incluem os níveis anteriores. Em suma, nos dois primeiros níveis os alunos se

esforçam para interpretar contextos mais diretos. Nos níveis 3 e 4 eles realizam

tarefas que requerem conceitos em vários cenários, mas não o fazem de forma

crítica e questionadora. Nos dois últimos níveis os alunos consideram as sutilezas

dos contextos e mostram-se questionadores com base em justificativas estatísticas

apropriadas. Claramente o nível 6 é o almejado para os alunos que completam a

Educação Básica, mas é necessário que o aluno progrida entre os níveis para que

possua uma compressão sólida dos conceitos (WATSON,2003). Frisamos a

contribuição desse estudo uma vez que, comprovado o caráter unidimensional e

hierárquico da literacia estatística, podemos interpretá-la como uma competência

que pode se desenvolver no espaço escolar e está mais associada à oportunidade

de aprender do que a uma capacidade nata. (WATSON, CALLINGHAN, 2003)

Ao reconhecer a literacia estatística como uma competência associada

à ação de comunicação, torna-se imprescindível abordar a leitura e interpretação de

gráficos e tabelas antes de darmos prosseguimento à análise das competências de

raciocínio e pensamento estatísticos. Lopes define o domínio da linguagem gráfica

como a capacidade de leitura dos dados presentes em um gráfico, permitindo que a

66

pessoa leitora consiga interpretar os dados e generalizar as informações nele

presentes. (LOPES, 2002, p, 190)

Francis Curcio é professor e pesquisador da Queens College of the City

University em New York e em 1987 escreveu um artigo intitulado “Compreensão de

relações matemáticas28” com o objetivo de investigar a fundo compreensão de

gráficos de crianças do 4º ao 7º anos. Curcio reconhece que a leitura literal de um

dado apresentado em um gráfico é um componente importante da literacia

estatística, ainda assim salienta que o potencial de comunicação em um gráfico é

ampliado quando o leitor é capaz de interpretar e generalizar os dados nele

apresentados. Tentaremos elucidar o que está envolvido na compreensão de um

gráfico ou tabela.

Curcio (1987) afirma que a compreensão do gráfico engloba três aspectos

fundamentais: o reconhecimento do tipo de gráfico (ou tabela) apresentado, suas

características principais e relação com os dados apresentados; as relações

matemáticas existentes entre os números e seu significado contextual; e as

operações matemáticas implicadas no gráfico. O pesquisador afirma ainda haver

conhecimentos prévios necessários ao domínio da linguagem gráfica.

O tópico de gráfico, o qual é identificado pelo título, legendas e eixos, e as palavras chave do vocabulário usadas no título e legendas podem ser um dos fatores que requerem conhecimento prévio para compreender a relação matemática expressa no gráfico [...] O conteúdo matemático de um gráfico, que são os conceitos de número, relações e operações fundamentais nele contidas, é um segundo fator sobre o qual um conhecimento prévio parece ser necessário para a compreensão. (CURCIO, 1987, p.383, tradução nossa29)

Podemos concluir que a relação entre o assunto identificado em um

gráfico ou tabela por meio de seus elementos permite, por exemplo, que um leitor

possa inferir relações entre as variáveis envolvidas nos eixos do gráfico ou nas

células da tabela.

28

Comprehension of Mathematical Relationships 29

The topic of graph, which is identified by the title, labels and axes, and key vocabulary words used in the title and labels, may be the one of the factors in that requires prior knowledge for comprehending the mathematical relationshio expressed in the graph.[...] The mathematical content of a graph, which is the number concepts, relationships, and fundamental operations contained in it, is a second fator about which prior knowledge seems to be necessary for comprehension.

67

Curcio publicou em 1989 em conjunto com o National Council of Teachers

of Mathematics (NCTM) o texto “Desenvolvimento da compreensão de gráficos”30,

uma espécie de manual no qual apresenta ideias práticas de como auxiliar os alunos

a desenvolver a literacia estatística por meio da interpretação e análise de gráficos

que apresentam informações quantitativas. Nele o pesquisador salienta a

importância do ensino cuidar dessas questões por acreditar que gráficos

proporcionam um meio de comunicar, classificar e comparar dados e relações

matemáticas que seriam difíceis de serem reconhecidas numericamente. Nesse

trabalho, Curcio caracteriza três níveis de compreensão de gráficos com base na

complexidade da habilidade apresentada:

Leitura dos dados: esse nível de compreensão requer uma leitura literal do gráfico. O leitor simplesmente “levanta” os fatos indicados explicitamente no gráfico ou a informação encontrada no título ou nas legendas diretamente do gráfico [...] Não há interpretação nesse nível. A leitura requerida nesse tipo de compreensão é constitui-se uma tarefa com baixo nível cognitivo. [...] Leitura entre os dados: esse nível de compreensão inclui a interpretação e integração dos dados no gráfico. Requer a habilidade de comparar quantidades (exemplo, maior que, mais alto, mais baixo) e usar outros conceitos e habilidades matemáticas(exemplo, adição, subtração, multiplicação, divisão) que permitem ao leitor combinar e integrar dados e identificar relações matemáticas expressas no gráfico. Esse é o nível de compreensão mais avaliado nos testes padronizados. [...] Leitura além dos dados: esse nível de compreensão requer do leitor prever ou inferir a partir dos dados aproximando-se de esquemas existentes (por exemplo, conhecimento prévio, conhecimento na memória) em busca de informações que não estão explicita ou implicitamente indicadas no gráfico. Enquanto a leitura entre os dados requer que o leitor faça inferência baseada nos dados apresentados no gráfico, a leitura além dos dados requer que a inferência seja feita com base em um “banco de dados” na cabeça do leitor, não no gráfico. (CURCIO, 1989, p.5-6, tradução nossa31)

30

“Developing Graph Comprehension” 31

Reading the data: This level of comprehension requeres a literal reading of the graph. The reader simply “lifts” the facts explicitly stated in the graph, or the information found in the graph title and axis labels[...]. There is no interpretation at this level. Readind that requires this type of comprehension is a very low level cognitive task. [...] Reading between the Data: This level of comprehension includes the interpretation and integration of the data in the graph. It requires the ability to compare quantities (e.g., greater than, tallest, smallest) and the use of otther mathematical concepts and skills (e.g. addition, subtraction, multiplication, division) that allow the reader to combine and integrate data and identify the mathematical relationshios expressed in the grah. This is the level of comprehension most often assessed on standardized tests. […] Reading beyond the Data: This level of comprehension requires the reader to predict ou infer from the data by tapping existing schemata (i.e., background knowledge, knowledge in memory) for information that is neither explicitly no implicitly stated in the graph.

68

Os diferentes níveis de leitura constituem uma pista importante na busca

do desenvolvimento da literacia estatística uma vez que é possível concluir que

diferentes questionamentos exigem mobilização de níveis de compreensão distintos

e hierárquicos. No livro, Curcio apresenta uma série de sugestões de atividades de

leitura e interpretação de gráficos que incluem perguntas que requerem os três

níveis de leitura.

Richard L. Sheaffer, que coordenou projetos específicos de Educação

Estatística como o já mencionado QLP, escreveu um artigo no livro “Learning

Mathematics for a new century”, publicado pelo NCTM. Nele o pesquisador fornece

informações sobre como ampliar e aprofundar o ensino e aprendizagem da análise

de dados exploratória, uma vez que acredita que os dados usualmente revelam algo

se examinados apropriadamente e por meio de uma análise cuidadosa ao longo do

processo de planejar a coleta de dados, explorá-los, buscar aparentes associações

entre as variáveis e fazer inferências adequadas a partir dos resultados

(SHEAFFER, 2000).

Em outro trabalho sobre a compreensão de gráficos, publicado em 2001,

Curcio, juntamente com Susan Friel e George Bright da Universidade da Carolina do

Norte, ampliou o olhar para os fatores que influenciam essa habilidade aprofundando

a discussão sobre os componentes matemáticos presentes em um gráfico que

podem interferir na sua interpretação: a estrutura (framework) de um gráfico – por

exemplo, os eixos, escalas, e pontos de referência – fornece informação sobre o tipo

de dados mensurados; as dimensões visuais (visual dimensions), chamados de

especificadores – por exemplo, os pontos, as linhas ou as barras dos gráficos –

representam os valores dos dados; as legendas (labels) incluídas sejam no título ou

nos eixos nomeiam o tipo de medida e os dados apresentados; o fundo

(background) de um gráfico incluem cores, grades e figuras que podem comunicar

informações. Vale lembrar ainda que apesar desses componentes estarem

presentes em todos os tipos de gráfico, a cada um estão associados componentes

estruturais específicos que podem interferir na comunicação de um conjunto de

dados. Cada gráfico estatístico têm suas características próprias para representação

Whereas reading between the data might require that the reader make an inference based on the data presented in the graph, reading beyond the data requires that the inference be made on the basis of a “data base” in reader’s head, not in the graph.

69

dos dados. Por exemplo, ao intencionar comunicar o comportamento de uma

variável quantitativa contínua um gráfico em linha pode ser mais adequado do que

um gráfico em barras. Do mesmo modo, ao comparar duas populações em relação a

uma mesma variável, torna-se mais interessante utilizar um gráfico em barras

múltiplas do que construir dois gráficos de setores lado a lado. Portanto, espera-se

que o leitor compreenda a intenção nem sempre explícita relacionada à escolha do

tipo do gráfico escolhido pelo autor.

Curcio, Friel e Bright denifiniram ainda um constructo chamado sentido

gráfico (graph sense) como sendo a habilidade do sujeito em derivar significado de

gráficos criados por outros ou por si mesmo. Associadas a essa habilidade,

identificaram três ações principais:

[...] para ler a informação diretamente de um gráfico, deve-se entender a convenção do gráfico desenhado; para manipular a informação lida de um gráfico, deve-se fazer comparações e realizar cálculos; para generalizar, prever ou identificar padrões, deve-se relacionar a informação do gráfico ao contexto da situação. (FRIEL, CURCIO, BRIGHT, 2001, p.152, tradução nossa32)

Essas ações descritas pelos pesquisadores fazem emergir três níveis de

compreensão gráfica aparentemente hierárquicos: um nível elementar focado na

extração de dados de um gráfico, um nível intermediário caracterizado pela

interpolação e busca de relação entre os dados apresentados no gráfico e um nível

avançado que envolve a extrapolação dos dados em busca de uma generalização

ou previsão. Esses níveis se aproximam muito dos níveis de leitura descritos por

Curcio em estudos anteriores e permitem que constatemos que o ensino pode e

deve se organizar de modo a auxiliar os alunos a avançarem visando ações mais

complexas de leitura e interpretação de gráficos.

Rumsey (2002) reconhece as pesquisas que evidenciam diferentes níveis

de compreensão e ressalta que a importância dos alunos compreenderem e

utilizarem ideias estatísticas em diferentes níveis de complexidade ao afirmar que

para ser um “bom cidadão estatístico” é necessário ser capaz de explicar, decidir,

julgar, avaliar e tomar decisões a partir das informações. Essas habilidades, que

32

(a) to read information directly from a graph,one must understand the conventions of graph design (e.g., Kosslyn, 1994); (b) to manipulate the information read from a graph, one makes comparisons and performs computation; and (c) to generalize, predict, or identify trends,one must relate the information in the graph to the context of the situation.

70

estão em parte no escopo da literacia estatística, se relacionam ao pensamento e

raciocínio estatísticos descritos a seguir.

3.1.3. Raciocínio estatístico

Raciocínio: exercício da razão através do qual se procura alcançar o entendimento de atos e fatos, se formulam ideias, se elaboram juízos, se deduz algo a partir de uma ou mais premissas, se tiram conclusões.33

Assim como a literacia, o raciocínio estatístico pode ser interpretado como

uma competência que compõe a competência estatística e como tal, pode ser

descrita por meio de habilidades. Por raciocínio estatístico entende-se o modo como

as pessoas raciocinam com as ideias estatísticas e dão significados às informações

obtidas. Tomemos a definição de Ben-Zvi e Garfield ao descreverem o que está

envolvido nessa competência:

[...] fazer interpretações baseados em conjuntos de dados, representações de dados ou resumos estatísticos. Raciocínio estatístico pode envolver a conexão de um conceito com outro (por exemplo, medidas de tendência central e de dispersão) ou pode combinar ideias sobre dados e chance. Raciocinar significa compreender e ser capaz de explicar processos estatísticos e interpretar por completo os resultados estatísticos. (BEN-ZVI; GARFIELD; 2004; p.7, tradução nossa34)

O raciocínio estatístico, assim como a literacia estatística, se faz presente

na ação de interpretação de gráficos e tabelas. Entretanto, enquanto a literacia

mobiliza ideias associadas à comunicação, o raciocínio estatístico se revela no

entendimento das relações entre os dados apresentados do ponto de vista dos

processos estatísticos. Desse modo, estão em foco noções de variabilidade, chance,

incerteza, aleatoriedade e amostragem que permitem interpretar e inferir a partir dos

resultados obtidos.

O raciocínio estatístico é uma competência ampla composta de

raciocínios específicos em relação a alguns processos envolvidos em uma

33

Houaiss online, acesso em 14 dez. de 2016. 34

Statistical reasoning may be defined as the way people reason with statistical ideas and make sense of statistical information. This involves making interpretations based on sets of data, representations of data, or statistical summaries of data. Statistical reasoning may involve connecting one concept to another (e.g., center and spread), or it may combine ideas about data and chance. Reasoning means understanding and being able to explain statistical processes and being able to fully interpret statistical results.

71

investigação estatística. Garfield e Gal, em uma publicação realizada pelo NCTM,

em 1999, sobre o desenvolvimento do raciocínio matemático retomaram as metas

para o raciocínio científico descritas pela Associação Americana para o Avanço da

Ciência (American Association for the Advancement of Science’s – AAAS) em 1993.

Embora a AAAS não usasse o termo raciocínio estatístico, os pesquisadores têm

utilizado essas referências para especificar os tipos de raciocínios envolvidos na

competência:

1. Raciocínio sobre os dados: reconhecer e categorizar dados como

quantitativos ou qualitativos, discretos ou contínuos; e saber por que

um tipo de dado leva a um tipo particular de tabela, gráfico ou medida

estatística.

2. Raciocínio sobre a representação de dados: compreender o modo

como os elementos de um gráfico representam uma amostra; saber

como os gráficos podem ser modificados para representar melhor os

dados.

3. Raciocínio sobre medidas estatísticas: entender por que medidas de

tendência central, de dispersão e de posição informam fatos diferentes

sobre o conjunto de dados; escolher a medida mais adequada para

representar o conjunto de dados e entender quando essa medida não

o representa; compreender o uso das medidas de tendência central e

de dispersão para comparar diferentes conjuntos de dados.

4. Raciocínio sobre incerteza: usar corretamente ideias de variabilidade,

chance e probabilidade para fazer juízo sobre eventos incertos;

compreender por que nem todos os resultados são equiprováveis;

saber que existem diferentes métodos para obter a probabilidade de

eventos de naturezas diversas, como árvore de possibilidades,

simulação, programas de computador.

5. Raciocínio sobre amostras: saber como amostras estão relacionadas

à população e o que pode ser inferido a partir da amostra;

compreender o conceito da representatividade da amostra; ser céptico

em relação a inferências feitas por amostras pequenas ou enviesadas.

6. Raciocínio sobre associação: saber como julgar e interpretar a relação

entre duas variáveis reconhecendo como examinar e interpretar uma

tabela de dupla entrada ou um diagrama de dispersão que considerem

72

uma relação de bivariação; saber por que uma correlação forte entre

duas variáveis não significa necessariamente que uma causa a outra.

(GARFIELD. GAL, 1999)

A descrição esmiuçada dos raciocínios envolvidos na competência

raciocínio estatístico é bastante útil se pensarmos em quem ensina, uma vez que a

partir desse estudo foram levantados alguns parâmetros do que é esperado de

quem aprende Estatística em termos de habilidades. Além disso, os pesquisadores

reiteram que uma das metas da Educação Estatística é apresentar a importância do

desenvolvimento de competências em detrimento da valorização de técnicas e

cálculos.

Garfield, em seu texto “O desafio de desenvolver o raciocínio estatístico35”

de 2002, organizou o referencial teórico sobre o tema e sintetizou o raciocínio

estatístico em um processo que se revela em três etapas na resolução de uma

situação-problema: compreender – relacionar um problema particular a uma classe

já conhecida de problemas; planejar e executar – aplicar métodos apropriados para

resolver o problema; avaliar e interpretar – compreender o resultado e sua relação

com o problema original. (GARFIELD, 2002)

No mesmo trabalho, a pesquisadora conduziu entrevistas com estudantes

para aprofundar o entendimento sobre o raciocínio estatístico. Os alunos

entrevistados eram de diversos cursos como enfermagem, educação, trabalhos

sociais e haviam cursado a disciplina de Estatística Básica. A partir da análise

cuidadosa das entrevistas, Garfield identificou cinco níveis de raciocínio estatístico:

Nível 1 – Raciocínio idiossincrático: o aluno conhece algumas palavras

e símbolos relacionados à estatística, mas os usa sem compreendê-

los totalmente; muitas vezes usam os termos de forma equivocada ou

embaralhadas, associadas a informações não relacionadas.

Nível 2 – Raciocínio verbal: o aluno tem uma compreensão verbal dos

conceitos, mas não aplica as ideias no seu comportamento real; por

exemplo, não compreendem como conceitos de variabilidade e média

estão associados apesar de saber defini-los isoladamente.

35

“The Challenge of Developing Statistical Reasoning

73

Nível 3 – Raciocínio transacional: o aluno é capaz de identificar

corretamente uma ou duas dimensões de uma investigação estatística

separadamente, sem integrá-las.

Nível 4 – Raciocínio processual: o aluno é capaz de identificar

corretamente a dimensão de uma investigação estatística, mas não os

integra completamente nem entendem os processos que geram a

investigação.

Nível 5 – Raciocínio processual integrado: o aluno tem um completo

entendimento da investigação estatística e é capaz de coordenar

conceitos e comportamento em processos estatísticos; explica o

processo nas suas próprias palavras e faz previsões corretas com

confiança.

As contribuições dessa pesquisa de Garfield estão na mesma direção do

que foi apontado sobre os níveis de literacia estatística descritos por Watson e

Callingham apresentados anteriormente. Ao entender que existem níveis diferentes

de raciocínio, podemos inferir que o sujeito pode se desenvolver na competência

raciocínio estatístico e que, portanto, o ensino de Estatística, seja na Educação

Básica ou no Ensino Superior pode e deve se organizar para auxiliar os alunos no

avanço dessas habilidades.

3.1.4. Pensamento estatístico

Pensamento: conjunto de ideias de uma pessoa; conhecimento por conceitos.36

Em um primeiro momento, pensamento aparenta ser algo muito próximo

de raciocínio, entretanto, se retomarmos a definição retirada do dicionário, podemos

dizer que o pensamento vai além do raciocínio, é algo maior pautado no rol de

conhecimentos que o sujeito possui. O pensamento é um processo mental que

ocorre tanto de forma consciente quanto inconsciente, enquanto o raciocínio é um

processo mental desencadeado a partir da necessidade de uma ação. Nesse

mesmo sentido, podemos diferenciar pensamento estatístico de raciocínio

estatístico.

36 Houaiss online, acesso em 14 dez. de 2016.

74

Por pensamento estatístico entendemos os processos mentais que dão

suporte às ações e decisões que ocorrem nas etapas de uma investigação

estatística. Chance (2002), define pensamento estatístico como o conjunto de

habilidades que fazem o sujeito compreender todas as etapas de uma investigação

estatística, suas justificativas e interações. Recorremos mais uma vez a Ben-Zvi e

Garfield que explicitam o que está envolvido na competência pensamento

estatístico.

[...] entendimento de por que e como as investigações estatísticas são conduzidas e as “grandes ideias” que subjazem as investigações estatísticas. Essas ideias incluem a natureza onipresente da variação e a noção de quando e como usar métodos apropriados de análise de dados tais como resumos numéricos e representações visuais de dados. [...] entendimento da natureza da amostragem, como fazemos inferência a partir de uma amostra para uma população e de por que experimentos projetados são necessários para estabelecer a causalidade. [...] entendimento de como modelos são usados para simular fenômenos aleatórios, como os dados são produzidos para estimar probabilidades e como, quando e por que ferramentas existentes de inferência podem ser usadas para ajudar um processo investigativo. Pensamento estatístico também inclui ser capaz de compreender e utilizar o contexto de um problema na elaboração da investigação e no delineamento de conclusões, raciocinar e entender o processo como um todo (desde a proposição da questão até a coleta de dados, até a escolha da análise para testar suposições, etc.) Finalmente, pensadores estatísticos são capazes de criticar e avaliar resultados de um problema resolvido ou de um estudo estatístico. (BEN-ZVI; GARFIELD; 2004; p.7, tradução nossa37)

Cris Wild, estatístico, e Maxine Pfannkuch, educadora matemática, ambos

da Nova Zelândia, publicaram um artigo em 1999 no qual investigaram o processo

de pensamento estatístico envolvido na resolução de um problema de Estatística no

sentido amplo, desde a sua formulação até a sua conclusão. Para isso, os

pesquisadoras acompanharam de perto alunos resolvendo situações-problema

hipotéticas dentro da sala de aula e situações profissionais reais. Enquanto

37

[...] understanding of why and how statistical investigations are conducted and the “big ideas” that underlie statistical investigations. These ideas include the omnipresent nature of variation and when and how to use appropriate methods of data analysis such as numerical summaries and visual displays of data. [...] understanding of the nature of sampling, how we make inferences from samples to populations, and why designed experiments are needed in order to establish causation. [...] understanding of how models are used to simulate random phenomena, how data are produced to estimate probabilities, and how, when, and why existing inferential tools can be used to aid an investigative process. Statistical thinking also includes being able to understand and utilize the context of a problem in forming investigations and drawing conclusions, and recognizing and understanding the entire process (from question posing to data collection to choosing analyses to testing assumptions, etc.). Finally, statistical thinkers are able to critique and evaluate results of a problem solved or a statistical study.

75

resolviam problemas estatísticos, os alunos eram questionados sobre como estavam

agindo e raciocinando. Por meio dessa pesquisa empírica, Wild e Pfannkuch

identificaram quatro dimensões do pensamento estatístico nos quais os

“resolvedores” operam: ciclo investigativo; ciclo interrogativo; tipos de pensamento;

tipos de disposições.

As quatro dimensões não ocorrem necessariamente de modo simultâneo

em uma investigação estatística, mas estão inter-relacionadas. A primeira dimensão

descrita envolve o ciclo investigativo associado ao estágio de planejamento e

envolve problematizar, planejar, coletar os dados, analisar e fazer conclusões. A

segunda dimensão abarca os tipos de pensamento utilizados, seja de ordem geral

de um ciclo investigativo qualquer ou de ordem fundamental que, de acordo com os

autores, envolve o reconhecimento da necessidade dos dados na investigação. A

terceira dimensão está relacionada ao ciclo interrogativo no qual o sujeito questiona

as etapas do processo e a investigação como um todo. A quarta dimensão

apresenta aspectos relacionados à disposição, engajamento e compromisso do

“resolvedor” na investigação. (WILD, PFANNKUCH, 1999). O pensamento estatístico

resulta, portanto, na integração desses processos mentais utilizados em cada etapa

de uma investigação estatística.

3.1.5. A relação entre literacia, raciocínio e pensamento estatísticos

Na mesma edição do Jornal de Educação Estatística38 que Rumsey,

Garfield e Chance escreveram sobre competências estatísticas, Delmas, um

pesquisador em Psicologia Educacional da Universidade de Minessota, publicou, um

artigo intitulado “Literacia, raciocínio e aprendizagem estatística: um comentário39” O

objetivo do pesquisador era discutir as principais ideias desses três autores citados,

ressaltando que cada um havia transitado pelos conceitos de acordo com o seu

interesse. Nesse artigo, Delmas apresenta duas interpretações para a relação entre

as competências literacia, raciocínio e pensamento estatísticos. Na primeira, cada

uma delas tem seu próprio domínio independentemente dos outros, mas há uma

intersecção, ou seja, algumas situações requerem lançarmos mão de duas ou

mesmo das três competências ao mesmo tempo. Essa interpretação foi

representada pela figura 1:

38

Journal of Statistical Education 39

“Statistical literacy, reasoning and learning: a commentary”

76

Figura 1 – Esquema: Domínios independentes, mas com alguma sobreposição

Fonte: DELMAS, 2002

Na segunda interpretação, Delmas assume que a literacia é a meta mais

abrangente do ensino de Estatística e que raciocínio e pensamento estatísticos

fazem parte dela, são suas submetas. Algumas situações demandam a mobilização

das três competências, outras de apenas duas ou uma. Nessa interpretação,

expressa na figura 2, a literacia estatística daria suporte a qualquer conhecimento

estatístico.

Figura 2 – Esquema: Raciocínio e pensamento estatísticos contidos na literacia

Fonte: DELMAS, 2002

77

Assim como Delmas, no presente trabalho não defendemos nenhuma das

duas interpretações. Para nós, literacia, raciocínio e pensamento estatísticos são

competências descritas por meio de habilidades que se integram para compor algo

maior chamado de competência estatística.

Pesquisadores brasileiros também estudaram a relação entre as

habilidades de literacia (ou letramento, termo adotado em alguns trabalhos),

raciocínios estatísticos. Silva, em sua tese sobre o pensamento estatístico e o

raciocínio sobre variação, afirma que:

[...] o nível de letramento estatístico é dependente do raciocínio e pensamento estatísticos. Por outro lado, à medida que o nível de letramento estatístico aumenta, o raciocínio e o pensamento tornam-se mais apurados (SILVA, 2007, p. 35).

Celso de Campos, em sua tese, evidencia que “[...] não é produtivo

pensar no ensino da Estatística baseado nessas três capacidades consideradas

independentemente, pois elas se complementam e somente juntas é que vão

abranger a compreensão global da Estatística.” (CAMPOS, 2007, p. 65)

Isso posto, entendemos que há uma inter-relação das habilidades no

desenvolvimento da competência estatística do sujeito e que, portanto, todas

precisam ser almejadas com intencionalidade pelos professores que ensinam

Estatística.

3.2. OS PROFESSORES QUE ENSINAM ESTATÍSTICA

Chego agora a um ponto que toca mais de perto meu coração. O professor é exortado a fazer muitas coisas bonitas: ele deve dar a seus alunos não só informações, mas know-how, ele deve encorajar sua originalidade e trabalho criativo, ele deve fazê-los experimentar a tensão e o triunfo da descoberta. Mas, e o professor, ele próprio? Há em seu currículo alguma oportunidade de trabalho independente em Matemática, de adquirir o know-how que se espera que ele transmita a seus alunos? A resposta é não. Tanto quanto eu saiba, não há Universidade que dê ao professor oportunidade decente de desenvolver seu know-how, sua própria habilidade em Matemática.

(Elon Lages Lima40)

40

Comentário de Elon Lages Lima ao apresentar o trabalho “Os dez mandamentos para professores” de George Polya.

78

A partir da inserção da Estatística na Educação Básica, consequência de

uma mudança de paradigmas e concepções em relação ao seu significado,

pesquisadores de vários países têm se dedicado a investigar como o ensino dessa

área de conhecimento vem sendo realizado. Grande parte tem sinalizado uma falta

de consonância entre o que se espera da formação estatística dos alunos e as

práticas em sala de aula.

A competência estatística como meta do ensino dos conteúdos da

disciplina, exige uma prática educativa intencional para o desenvolvimento da

literacia, pensamento e raciocínio estatísticos. Delmas (2002) ressalta que não é

possível assumir que essas competências surgirão nos estudantes se não forem

tratadas explicitamente como objetivo pelas escolas e professores. Batanero e Díaz

(2010) salientam que a mudança do ensino da Estatística visando o

desenvolvimento de habilidades e competências depende, essencialmente, da

convicção dos professores sobre a importância e utilidade do tema na formação dos

alunos.

Isso posto, como parte do presente trabalho e tendo por objetivo auxiliar

na descrição do panorama sobre a competência estatística no Brasil, iremos

investigar as ideias e discurso sobre as práticas de professores que ensinam

Estatística no Ensino Médio por meio da aplicação de um questionário a professores

das redes públicas estaduais de São Paulo e Rio de Janeiro. Para isso, faz-se

necessário entender quem são e a sua trajetória.

3.2.1. A formação dos professores que ensinam Estatística

Para compreender como pensam os professores que ensinam Estatística

é preciso entender como se deu sua formação profissional.

Como já vimos, os primeiros cursos de Estatística foram implementados

em institutos relacionados ao Estado, nas escolas militares com um viés sócio

político, a Estatística ficou de fora dos cursos de Matemática no Brasil por um

período considerável de tempo e só encontrou seu lugar nessa área diante da

crescente demanda por professores do tema em vários segmentos do ensino e

áreas do conhecimento. A aproximação da Estatística às faculdades de Matemática

foi se dando naturalmente devido à proximidade do tema e à necessidade do uso

dos conhecimentos matemáticos nas técnicas e modelos estatísticos.

79

Os cursos superiores de Estatística nas Universidades brasileiras

iniciaram seu percurso apenas em 1946. Desde então, apenas a Universidade

Federal do Rio Grande do Sul ofereceu, durante um período de tempo que se

encerrou em 1997, um curso de Licenciatura em Estatística. Isso significa que não

há no Brasil cursos que se dediquem exclusivamente a formar professores de

Estatística.

Cazorla (2006), em uma investigação sobre a formação dos professores

que ensinam Estatística, afirmou que essa aparece na Educação Superior em dois

contextos. No primeiro, a Estatística está associada à formação profissional, que

inclui tanto os bacharelados de Estatística e outros cursos que se valem dessa

disciplina para formar profissionais que saibam lidar com dados. No segundo

contexto, a Estatística aparece na formação de futuros professores, sejam eles do

Ensino Fundamental ou do Ensino Médio.

No Brasil, nas séries iniciais do Ensino Fundamental, a Estatística, assim

como outros tópicos da Matemática, fica a cargo dos professores generalistas,

graduados em Pedagogia. Cazorla (2006) investigou o currículo de alguns desses

cursos e descobriu que a maioria deles oferece uma disciplina de Estatística

relacionada à análise de dados e indicadores educacionais, deixando de lado

discussões sobre a didática da Estatística. A pesquisadora afirmou ainda que as

questões sobre o ensino de Estatística tampouco são contempladas nas aulas de

Metodologia de Ensino de Matemática.

No Brasil, assim como em outros países, os professores de Matemática

são os responsáveis por ensinar Estatística nas séries finais da Educação Básica.

Nos valemos mais uma vez da pesquisa de Cazorla (2006), que analisou também o

currículo de alguns cursos de Licenciatura em Matemática, para tentar compreender

a formação desses professores.

Analisando a grade curricular de alguns cursos observa-se que a maioria

oferece apenas uma disciplina de Estatística e Probabilidade e outros, duas. No

caso da oferta de uma única disciplina a ênfase é dada à teoria de probabilidade,

num contexto do ensino superior. No caso de duas disciplinas, as ementas

abrangem a inferência estatística, também no contexto do ensino superior.

(CAZORLA, 2006)

Apesar do estudo de Cazorla ter sido realizado há cerca de 10 anos,

nossa experiência com formação continuada de professores sinaliza que essa ainda

80

seja a realidade dos nossos cursos e principalmente dos licenciados que neles se

formaram. A lacuna na formação dos professores de Matemática sobre Educação

Estatística nos dá pistas sobre como esses conceitos estão sendo desenvolvidos em

sala de aula. Conforme exposto anteriormente, a natureza da Estatística difere da

Matemática no que diz respeito ao raciocínio envolvido e o fato dos cursos de

formação inicial não tratarem dessas especificidades nos leva a sugerir que a

competência estatística na perspectiva atual não está sendo cuidada na Educação

Básica de nosso país. Sheaffer (2000) compartilha essa preocupação em relação

aos professores de seu país ao afirmar que a Estatística tem sido ensinada mais

como um conjunto de técnicas do que como um processo de pensamento sobre o

mundo, restringindo-se a métodos mecânicos ao invés de ampliar metodologias,

optando por especificar fórmulas ao invés de buscar formulações.

Diante do exposto, a formação inicial daqueles que ensinam Estatística

nas nossas escolas, seja no Ensino Fundamental ou no Ensino Médio, no geral,

possivelmente não aborda explicitamente questões relativas à instrução dos

conceitos estatísticos e, consequentemente, à busca pela competência estatística de

nossos estudantes.

3.2.2. O que se espera dos professores que ensinam Estatística

A busca pelo desenvolvimento da competência estatística dos estudantes

pressupõe uma proposta de ensino cuidadosa em relação às escolhas

metodológicas uma vez que entende-se que as habilidades não se dão por meio da

instrução direta de fatos e conteúdos. Um ensino pautado nas discussões atuais

sobre Educação Estatística precisa enfatizar práticas que visem o desenvolvimento

da literacia, do pensamento e do raciocínio estatísticos.

Hogg (1991) escreveu um editorial em uma revista de Estatística

americana em 1991 intitulado “Educação estatística: melhorias são muito

necessárias”41 em que aponta pistas para a formação para habilidades e

competências:

O curso deveria focar no processo de aprender como elaborar questões

apropriadas, como coletar dados efetivamente, como sumarizar e interpretar essa

informação e como entender as limitações da inferência estatística. [...] Ao invés de

41

“Statistical education: improvements are badly needed”

81

de pedir que os estudantes trabalhem em dados “velhos”, mesmo que reais, não

seria melhor pedir que eles encontrassem ou gerassem seus próprios dados?

Projetos dão experiência aos estudantes em formular questões, definir problemas,

formular hipóteses e definições operacionais, desenhar experimentos e pesquisas,

coletar dados, analisar dados, comunicar resultados, e planejar experimentos de

acompanhamento sugeridos pelos resultados (HOGG, 1991, p.342, tradução

nossa42)

A proposição de investigações estatísticas em sala de aula sugere que o

aluno aprende e se desenvolve enquanto faz. A lógica do ensino tradicional de

Matemática de primeiro ensinar a técnica para depois aplicá-la em uma situação-

problema é invertida. A intencionalidade de cada etapa do processo deve se fazer

presente, permitindo desenvolver desde o início o pensamento estatístico, a partir do

qual se revelará o raciocínio estatístico que exigirá na etapa da comunicação a

literacia estatística.

Em 2007 a ASA endossou a publicação de um guia para auxiliar os

professores a ensinar e avaliar Estatística escrito por especialistas da área. O

GAISE (Guidelines for assessment and instruction in statistics education) apresentou

o seguinte pressuposto:

Todo estudante do colegial (Ensino Médio) deve ser capaz de usar o raciocínio estatístico para lidar inteligentemente com requisitos de cidadania, emprego, e família e estar preparado para uma vida saudável, feliz e produtiva. (FRANKLIN, et al. ;2007; p.1; tradução nossa43)

Os autores do GAISE evidenciam a relevância do conhecimento

estatístico para questões relacionadas às escolhas pessoais, ambientes de trabalho

e profissionais, ao desenvolvimento da cidadania e da Ciência. Após a

apresentação de alguns pressupostos relacionados a discussões da Educação

Estatística, como o desenvolvimento da literacia estatística, o documento apresenta

42

The course should focus on them process of learning how to ask appropriate questions, how to collect data effectively, how to summarize and interpret that information, and how to understand the limitations of statistical inference [...] Instead of asking stidents to work on “old” data, even though real, is it not better to have them find or generate theis own data? Projects give students experience in asking questions, defining problems, formulating hypotheses and operational definitions, designing experiments and surveys, collecting data, analysing data, communicating findings, and planning “follow-up” experiments suggested by the findings. 43

Every high-school graduate should be able to use sound statistical reasoning to intelligently cope with the requirements of citizenship, employment, and family and to be prepared for a healthy, happy, and productive life.

82

uma série de sugestões de explorações baseadas em resolução de problemas

coerentes com o currículo proposto pelo NCTM e que possibilitam o

desenvolvimento de “[...] competências obrigatórias para prosperar no mundo

moderno” (FRANKLIN, et. al.; 2007; p. 4; tradução nossa44).

Em 2008, Garfield e Ben-Zvi se dedicam a descrever como criar um

“Ambiente de Aprendizagem de Raciocínio Estatístico (SRLE)45” que para os autores

se traduz em aulas efetivas e positivas que propiciam ao aluno o desenvolvimento

de um entendimento de Estatística aprofundado e significativo, que o ajude a

desenvolver suas habilidades de pensar e raciocinar estatisticamente. O termo

“ambiente de aprendizagem” foi escolhido pelos pesquisadores para enfatizar que

estão envolvidos aspectos que vão além de livros, atividades ou tarefas que

fornecemos aos alunos. O SRLE se dá na combinação de textos, atividades em

classe, cultura, discussão, tecnologia, abordagem de ensino e avaliação.

O modelo subjacente a esse ambiente proposto por Garfield e Ben-Zvi

está baseado em seis princípios, consoantes com as orientações apresentadas

pelos documentos oficiais que tratam da Educação Estatística, quais sejam:

1. Foco no desenvolvimento das ideias centrais mais do que apresentar conjunto de ferramentas e procedimentos. 2. Uso de conjuntos de dados reais e motivadores para engajar os estudantes em fazer e testar conjecturas. 3. Uso de atividades em classe que dêem suporte ao desenvolvimento do raciocínio dos alunos. 4. Integração do uso de ferramentas tecnológicas apropriadas que permitam ao estudante testar suas conjecturas, explorar e analisar dados, e desenvolver seu raciocínio estatístico. 5. Promoção de discussões em sala que incluam argumentos estatístico e trocas sustentadas que foquem ideias estatísticas significativos. 6. Uso de avaliação para aprender o que os alunos sabem e monitorar tanto o desenvolvimento da aprendizagem estatística quanto avaliar os planos e progressos instrucionais. (GARFIELD e BEN-ZVI, 2008, p. 48, tradução nossa46)

44

[...] can promote the ‘must-have’ competencies for graduates to ‘thrive in the modern world.’ 45

“Statistical Reasoning Learning Environment (SRLE)” 46

1. Focuses on developing central statistical ideas rather than on presenting set of tools and procedures. 2. Uses real and motivating data sets to engage students in making and testing conjectures. 3. Uses classroom activities to support the development of students’ reasoning. 4. Integrates the use of appropriate technological tools that allow students to test their conjectures, explore and analyze data, and develop their statistical reasoning. 5. Promotes classroom discourse that includes statistical arguments and sustained exchanges that focus on significant statistical ideas. 6. Uses assessment to learn what

83

Para que o ambiente de aprendizagem descrito por Garfield e Ben-Zvi

ocorra, é necessário deixar de lado o modelo ensinar é informar e aprender é

lembrar (GARFIELD e BEN-ZVI, 2008, p. 48, tradução nossa47) no qual o professor

informa fatos e procedimentos que os alunos “recebem” e “devolvem” nos momentos

de avaliação. Espera-se que os professores assumam uma postura

problematizadora, cuidem do planejamento das propostas e da qualidade das

intervenções no decorrer das aulas visando o desenvolvimento da competência

estatística dos alunos.

3.3. PRESSUPOSTOS TEÓRICOS E METODOLÓGICOS DA EDUCAÇÃO ESTATÍSTICA NOS

DOCUMENTOS OFICIAIS DO BRASIL

Na Educação Básica do Brasil, a Estatística não se constitui como uma

disciplina independente, seus conteúdos fazem parte do currículo de Matemática

dos Ensinos Fundamental e Médio.

Por currículo entendemos um projeto do que se deseja ensinar, que

cultura e educação, no qual se deve observar não apenas objetivos relacionados

com conteúdos de matérias escolares, mas também ideologias e filosofias sobre a

Educação que se espera oferecer. (SACRISTÁN, 1998).

Gimeno Sacristán, didata espanhol, especialista na área de cultura e

educação, afirma que há diferentes instâncias de um currículo: administrativa,

escolar, docente e dos materiais didáticos. O pesquisador ressalta que algumas

vezes é possível observar contradições entre as metas de cada instância e que é no

equilíbrio dessas instâncias que o ensino vai se definindo na prática.

A instância administrativa é a que nos interessa no momento. O currículo

apresenta dimensões ou aspectos estruturais como a divisão do tempo e a

delimitação e organização dos conteúdos. Entretanto, para Sacristán (1998), no

âmbito administrativo a finalidade do currículo precisa ir além

Planejar o currículo nesse nível consiste em selecionar opções de cultura

básica para os cidadãos, daí que se requer esclarecer quais os critérios culturais,

intelectuais, sociais, econômicos e profissionais justificam essas opções, assim

students know and to monitor the development of their statistical learning as well as to evaluate instructional plans and progress. 47

“teaching is telling and learning is remembering”

84

como derivar as consequências e medidas oportunas das decisões tomadas para

torná-las fáceis na prática. (SACRISTÁN, 1998, p. 233).

Todas as decisões que embasam a forma com que a cultura curricular é

apresentada no sistema educativo compõem o currículo, pois condicionam e

orientam os processos de ensino-aprendizagem. Por entender que o currículo é uma

seleção cultural a partir de diversos campos, que reflete uma filosofia educativa

coerente com as funções da educação geral, explicitando a formação cidadã que se

busca, julgamos ser importante analisar os Parâmetros Curriculares Nacionais na

tentativa de identificar sua concepção sobre a formação da competência estatística.

3.3.1. O contexto dos PCNEM

Em 1996 a nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) –

Lei nº 9.394 – determina que o Ensino Médio integra a Educação Básica, e como tal,

passa a ser direito de todo cidadão brasileiro. Até então, o Ensino Médio, antigo 2º

grau, tinha como função preparar os estudantes para prosseguir nos estudos ou

habilitá-los para o exercício de uma profissão técnica (Lei nº 5.672 de 1971). A partir

da LDB o Ensino Médio assume um status de etapa final da escolaridade básica e

passa a oferecer uma educação equilibrada com um fim em si mesmo, buscando:

a formação da pessoa, de maneira a desenvolver valores e competências necessárias à integração de seu projeto individual ao projeto da sociedade em que se situa;

o aprimoramento do educando como pessoa humana, incluindo a formação ética e o desenvolvimento da autonomia intelectual e do pensamento crítico;

a preparação e orientação básica para a sua integração ao mundo do trabalho, com as competências que garantam seu aprimoramento profissional e permitam acompanhar as mudanças que caracterizam a produção no nosso tempo;

o desenvolvimento das competências para continuar aprendendo, de forma autônoma e crítica, em níveis mais complexos de estudos.

(BRASIL, 2000, p. 10)

A LDB busca a formação para a construção de competências básicas que

permitam que, ao final do Ensino Médio, o estudante seja capaz de produzir

conhecimento, participar do mundo de trabalho e se desenvolver como cidadão.

Nota-se, portanto, uma mudança acentuada na finalidade do ensino nesse segmento

que revela a necessidade de uma adequação das escolas, culminando em uma

reforma curricular. Em 2000 surgem, nesse contexto, os Parâmetros Curriculares

Nacionais do Ensino Médio (PCNEM), que se propõem a ser:

85

Uma proposta nacional de organização curricular [...] considerando a realidade federativa e diversa do Brasil, há que ser flexível, expressa em nível de generalidade capaz de abarcar propostas pedagógicas diversificadas, mas também com certo grau de precisão, capaz de sinalizar ao País as competências que se quer alcançar nos alunos do Ensino Médio, deixando grande margem de flexibilidade quanto aos conteúdos e métodos de ensino que melhor potencializem esses resultados. (BRASIL, 2000, p. 91)

Podemos dizer, portanto, que os PCNEM não podem ser definidos como

um currículo proposto, que apesar de não ser obrigatório pressupõe alterações e

adaptações de acordo com a realidade de cada rede de ensino ou escola. No

documento não encontramos uma lista de conteúdos a serem trabalhados, mas sim

o sentido de aprendizagem de cada disciplina, as competências, habilidades, valores

e atitudes que precisam ser desenvolvido e sua relação com a cidadania.

Os PCNEM organizam o Ensino Médio em três áreas ligadas entre si

pelos objetos de estudo que compartilham: Linguagens, Códigos e suas

Tecnologias; Ciências Humanas e suas Tecnologias; e Ciências da Natureza,

Matemática e suas Tecnologias. O documento aponta que as três áreas, respeitadas

suas especificidades, devem convergir para o desenvolvimento de três grandes

competências:

(a) Representação e comunicação: desenvolver a capacidade de

comunicação;

(b) Investigação e compreensão: desenvolver a capacidade de questionar

processos naturais e tecnológicos, identificando regularidade,

apresentando interpretações e prevendo evoluções;

(c) Contextualização sócio-cultural: compreender e utilizar a ciência, como

elemento de interpretação e intervenção, e a tecnologia como

conhecimento sistemático de sentido prático.

(BRASIL, 2000)

Espera-se, portanto, que os estudantes sejam capazes de elaborar

pensamentos mais abstratos e complexos do que faziam no Ensino Fundamental. O

papel da Matemática nesse processo formativo é contribuir para o desenvolvimento

de habilidades e competências que permitam ao aluno resolver problemas, tomar

decisões, fazer inferências, criar, aperfeiçoar conceitos e valores com base nos

conhecimentos matemáticos que possuem. Diante do exposto, a Matemática no

86

Ensino Médio deve ir muito além de reproduzir técnicas e resultados da Ciência para

que cada aluno desenvolva o saber fazer e pensar matematicamente.

Em 2002, de forma complementar aos PCNEM, foram publicadas as

“Orientações Educacionais Complementares aos Parâmetros Curriculares

Nacionais”, conhecidas popularmente como PCN+. Esse novo documento tem como

objetivo encaminhar um ensino compatível com as novas pretensões educativas e

ampliar as orientações contidas nos PCNEM (BRASIL, 2002, p. 12) por meio da

definição de conteúdos e discussões metodológicas específicas de cada disciplina.

A análise integrada dos dois documentos oficiais brasileiros sobre o Ensino Médio

permite que entendamos o que se espera do ensino de Estatística para esse nível

de escolaridade em nosso país.

3.2.2. O ensino de Estatística dos documentos oficiais

Como já vimos, a Matemática do Ensino Médio está organizada em três

eixos estruturadores: Álgebra, Números e Funções; Geometria e Medidas e Análise

de Dados. A Estatística, tema de estudo do presente trabalho, está inserida no eixo

Análise de Dados e seu ensino é justificado pelo seu caráter utilitário, como

podemos ver a seguir:

As habilidades de descrever e analisar um grande número de dados, realizar inferências e fazer predições com base numa amostra de população, aplicar as ideias de probabilidade e combinatória a fenômenos naturais e do cotidiano são aplicações da Matemática em questões do mundo real que tiveram um crescimento muito grande e se tornaram bastante complexas. Técnicas e raciocínios estatísticos e probabilísticos são, sem dúvida, instrumentos tanto das Ciências da Natureza quanto das Ciências Humanas. [...] Os conceitos matemáticos que dizem respeito a conjuntos finitos de dados ganham também papel de destaque para as Ciências Humanas e para o cidadão comum, que se vê imerso numa enorme quantidade de informações de natureza estatística ou probabilística. (BRASIL, 2000, p. 44-45)

Apesar de o documento fundamentar a inserção da Estatística no Ensino

Médio a partir do seu viés instrumental, percebemos em outros trechos a

preocupação com o desenvolvimento de valores e atitudes relacionadas à

aprendizagem Matemática inerentes ao desenvolvimento da competência estatística,

dentre as quais destacamos: iniciativa na busca de informações, confiança em suas

formas de pensar e fundamentação de ideias e argumentações para comunicar-se.

Os PCNEM destacam, em um dado momento, as competências e

habilidades básicas de representação, comunicação, investigação, compreensão e

87

contextualização sócio-cultural. Não temos por intenção aprofundar a discussão

sobre essas habilidades, entretanto, é preciso ressaltar a relação entre elas e a

competência estatística.

Dentre as habilidades relacionadas à representação e comunicação,

espera-se que os alunos sejam capazes de ler e interpretar e utilizar textos e

representações matemáticas, fazendo uso da linguagem simbólica e da terminologia

correta, utilizar adequadamente os recursos tecnológicos como instrumentos de

produção e de comunicação. Do ponto de vista da competência estatística, podemos

dizer que essas habilidades estão relacionadas à literacia estatística.

Em relação à competência de investigar e compreender, almeja-se que os

alunos saibam identificar o problema, procurar e selecionar informações relevantes,

formular hipóteses e prever resultados, elaborar estratégias de resolução, interpretar

e criticar resultados, e discutir ideias a partir de argumentos convincentes. Esse

conjunto de habilidades se revelam no raciocínio estatístico, apesar de não serem

suficientes para explicá-los totalmente na visão da Educação Estatística.

Por fim, os PCNEM elencam as habilidades matemáticas relacionadas à

contextualização sócio-cultural, dentre as quais destacamos: desenvolver a

capacidade de utilizar a Matemática na interpretação e intervenção no real e aplicar

conhecimentos e métodos matemáticos em situações reais. Acreditamos que o

desenvolvimento do pensamento estatístico está associado a esse grupo de

habilidades gerais, ainda que essas se apresente de modo não específico a esse

tema.

O PCN+, na tentativa de auxiliar os professores na busca por um ensino

que desenvolva a competência matemática, aprofunda a discussão sobre o que está

envolvido no eixo Análise de Dados e, para isso, o divide em três eixos temáticos,

quais sejam:

1. Estatística, cujos objetos de estudo são a descrição de dados,

representações gráficas, análise de dados, medidas de tendência centrais

e de dispersão.

2. Contagem, que abarca o princípio multiplicativo e o raciocínio

combinatório em situações envolvendo grande quantidade de dados ou

eventos.

88

3. Probabilidade, que pressupõe o reconhecimento do caráter aleatório

de fenômenos e eventos naturais e a medição da incerteza envolvendo o

pensamento probabilístico.

O PCN+, documento responsável por essa organização, sugere que os

três eixos estruturantes da Matemática (Álgebra, Geometria e Medidas, e Análise de

Dados) sejam desenvolvidos de forma concomitante nas três séries do Ensino Médio

por acreditar que em cada uma deve haver um projeto de formação dos alunos. A

recomendação é que na primeira série os temas de cada eixo sejam tratados numa

visão contextualizada na qual os alunos possam utilizar ideias e procedimentos

básicos em situações simples. Na série seguinte, cada tema seria tratado do ponto

de vista da Ciência, com suas formas características de pensar e modelar fatos e

fenômenos. Já na última série, propõe-se ampliar as aprendizagens das séries

anteriores com temas mais abrangentes que permitam ao aluno usar o pensamento

matemático para analisar e intervir na realidade. Em relação ao eixo Análise de

Dados, o documento propõe divisão nas séries de acordo com o quadro 3:

Quadro 3: Organização do eixo Análise de Dados nas séries

1ª série Estatística: descrição de dados, representações gráficas.

22ª série

Estatística: análise de dados; Contagem

33ª série

Probabilidade

Fonte: BRASIL, 2002

Infelizmente, em nossa vivência na área temos nos deparado com uma

fragmentação no ensino que costuma ser organizado em blocos. O mais comum,

inclusive, é encontrar escolas nos quais o trabalho com o estudo de Probabilidade

está todo concentrado na 2ª série e da Estatística na 3ª série.

Analisando o texto do PCN+, que se detém a descrever cada um dos

eixos estruturantes, podemos afirmar que o ensino da Estatística no Ensino Médio

brasileiro busca desenvolver a literacia estatística, ainda que não trate dessa

competência explicitamente. Destacamos um trecho do texto que sugere essa meta:

A Matemática do ensino médio pode ser determinante para a leitura das

informações que circulam na mídia e em outras áreas do conhecimento na forma de

tabelas, gráficos e informações de caráter estatístico. Contudo, espera-se do aluno

nessa fase da escolaridade que ultrapasse a leitura de informações e reflita mais

89

criticamente sobre seus significados. Assim, o tema proposto deve ir além da

simples descrição e representação de dados, atingindo a investigação sobre esses

dados e a tomada de decisões. (BRASIL, 2002, p. 126)

Apesar do texto dos documentos oficiais revelar um cuidado com a

competência estatística, mesmo que de modo tácito, podemos afirmar que não há

uma preocupação manifesta para além da literacia estatística, que permita ao

estudante desenvolver o raciocínio e o pensamento estatísticos.

Tania Campos, Cláudia Silva e Irene Cazorla apresentaram no ICMI/IASE

de 2008 uma pesquisa na qual analisam o PCN em relação à literacia estatística e

concluíram que apesar de haver uma forte tendência em direção à exploração

gráfica, não há no documento orientações pedagógicas que tornam possível ao

professor trabalhar o raciocínio sobre a melhor forma de representação de acordo

com a natureza dos dados. As pesquisadoras afirmam que isso tem tido como

consequência o trabalho restrito nas escolas com a construção de gráficos de barras

simples ou de setores, dando à leitura e interpretação um nível muito simples de

literacia estatística, apesar de reconhecer no texto dos PCNs a intencionalidade de

ensinar estatística para a cidadania. As pesquisadoras apontaram ainda a falta de

alguns conceitos importantes ao pensamento estatístico como amostra, estimativa e

aleatoriedade; discorrer sobre pesquisa estatística e sua relação com pesquisas

científicas e sobre a importância dos professores discutirem com os alunos falácias

em dados estatísticos apresentados na mídia.

3.3.3. As metodologias sugerida pelos documentos oficiais

Como estratégias para a ação do professor, o PCNEM e o PCN+

propõem como perspectiva metodológica a resolução de problemas e a define como

uma postura de investigação frente a qualquer situação ou fato que possa ser

questionado (BRASIL, 2002, p. 129). Antes de aprofundar a relação entre a

metodologia indicada e o ensino da Estatística, faz-se necessário explicitar a

concepção de resolução de problemas dos documentos.

Publicações relacionadas à história da Matemática revelam que essa

Ciência se desenvolveu a partir da resolução de problemas com os quais nos

deparávamos e precisávamos solucionar. Resumidamente, conceitos e sistemas

axiomáticos foram sendo elaborados à medida que era necessário compreender e

explicar situações, esse novo conhecimento culminava em novas proposições que

90

faziam a Ciência avançar. Apesar da relação intrínseca entre a evolução da

Matemática e a resolução de problemas, a metodologia da resolução de problemas

no ensino da disciplina de Matemática não está diretamente associada ao processo

histórico vivido pela Ciência.

Nas aulas de Matemática, a resolução de problemas tem apresentado

diferentes funções de acordo com a concepção que se tem de Matemática, de

ensino e de aprendizagem. Nicholas Branca (1997), da Universidade Estadual de

San Diego, na Califórnia, afirma que a resolução de problemas é uma expressão

abrangente que pode apresentar três interpretações bastantes diferentes

relacionadas ao ensino, resumidas a seguir:

1. como meta: quando a resolução de problemas é considerada a razão

principal para estudar matemática;

2. como um processo: o foco está em métodos e procedimentos

necessários para enfrentar uma situação que confronta o indivíduo;

3. como uma habilidade básica: busca pelo desenvolvimento de uma

capacidade de resolver problemas que integra a competência

matemática.

As diferentes concepções de resolução de problemas revelam práticas

diferentes em sala de aula. Ao enxergarmos a resolução de problemas como meta,

os conteúdos e procedimentos precisam ser ensinados antes para que

posteriormente os alunos possam aplicá-los na busca de soluções. Ao concebermos

a resolução de problemas como processo, a intenção é ensinar aos alunos etapas

bem definidas que os levem à solução. Compreender a resolução de problemas

como uma habilidade básica inclui enxergar como meta da aprendizagem

desenvolver a capacidade de identificar, definir e representar o problema, construir

estratégias, organizar informações relevantes para a resolução, alocar recursos,

avaliar suas escolhas e analisar os resultados, evidenciando uma visão mais

construtivista do ensino.

O PCN+ revela a interpretação da resolução de problemas como uma

habilidade básica, ao enunciar que:

A resolução de problemas é peça central para o ensino de Matemática, pois o pensar e o fazer se mobilizam e se desenvolvem quando o indivíduo está engajado ativamente no enfrentamento de desafios. Essa competência não se desenvolve quando propomos apenas exercícios de aplicação dos conceitos e técnicas matemáticos, pois, neste caso, o que está em ação é uma simples

91

transposição analógica: o aluno busca na memória um exercício semelhante e desenvolve passos análogos aos daquela situação, o que não garante que seja capaz de utilizar seus conhecimentos em situações diferentes ou mais complexas. (BRASIL, 2002, p. 112)

Isso posto, podemos afirmar que o desenvolvimento da habilidade de

resolver problemas é uma das metas sugeridas pelos documentos oficiais. É preciso

ressaltar, entretanto, que tanto o PCN quanto o PCN+ enxergam a resolução de

problemas também como uma metodologia de ensino ao sugerirem que o professor

selecione atividades desafiadoras que permitam o engajamento dos alunos no

processo de aprender e assumam uma postura de problematizar e de permitir que

os alunos pensem por si mesmos.

De acordo com os documentos, o ensino de Estatística, assim como de

outros temas da Matemática, também deve ser realizado por meio da resolução de

problemas. Lopes, em sua dissertação de mestrado, já havia anunciado essa

sugestão:

A metodologia da resolução de problemas torna-se muito recomendada para o trabalho com Estatística, por torná-lo mais significativo. Ao se estabelecer uma questão de investigação, é preciso optar por estratégias que levem a respondê-la. É necessário organizar, representar e analisar os dados a partir do problema. Inseridos nesse processo de aprendizagem, os estudantes provavelmente terão maiores possibilidades de desenvolvimento do pensamento crítico. (LOPES, 1998, p.10)

Em uma investigação estatística é necessário elaborar conjecturas,

buscar regularidades, generalização de padrões, ser capaz de argumentar, dentre

outras ações que estão intimamente relacionadas à habilidade de resolver

problemas. Em sua tese de doutorado Lopes (2003) evidenciou o processo de

tratamento de dados como um processo investigativo

Primeiro, precisa-se definir a questão ou a temática - é necessário se ter clareza do que se deseja pesquisar. Em seguida, obtém-se a busca pelo tipo de instrumento de coleta mais adequado para se adquirir as informações sobre a problemática. Depois, segue-se a forma mais adequada de se processar, representar e comunicar os dados, podendo então passar à sua interpretação, que exigirá reflexão sobre quanto o processo foi eficiente na resolução do problema, apresentando respostas relevantes. A próxima etapa [...] trata do momento de exercício da criticidade, a partir das interpretações de relações que podemos estabelecer entre a questão de investigação e os resultados que permitem levar a deduções e/ou tomadas de decisão. (LOPES, 2003, p. 86-87)

92

Concordamos com Lopes ao assumir que a resolução de problemas como

habilidade deve ser o princípio norteador do ensino de Estatística e valorizamos a

tentativa dos documentos oficiais em evidenciar essa metodologia para a

Matemática. Entretanto, essa realidade ainda é distante das salas de aula do Ensino

Médio que preconizam o ensino de fórmulas e modelos estatísticos em detrimento

do desenvolvimento de habilidades.

O PCNEM e o PCN+ estão alinhados com os pressupostos teóricos atuais

da Educação Estatística, entretanto, o fato de não terem por intenção orientar as

práticas pedagógicas dos professores nos permite inferir que apesar da grande

ascendência nas pesquisas em Educação, os documentos influenciaram muito

superficialmente as aulas de Estatística na Educação Básica.

3.4. A ESTATÍSTICA NO ENEM

O Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) foi idealizado pelo Instituto

Nacional de Pesquisas e Estudos Educacionais (INEP), autarquia do Ministério da

Educação (MEC) com o objetivo de avaliar o desempenho dos alunos concluintes e

egressos do Ensino Médio. Desde a sua criação o ENEM focaliza as competências e

habilidades básicas desenvolvidas, transformadas e fortalecidas com a mediação da

escola (BRASIL, 2005). A justificativa para a elaboração do ENEM foi a consolidação

de um modelo de avaliação individual, de caráter voluntário, que possibilitasse uma

auto-avaliação do estudante. A primeira aplicação do ENEM aconteceu em 1998.

O ENEM se apresentou como um instrumento de avaliação coerente com

os pressupostos teóricos dos PCN, é possível observar semelhanças entre a matriz

de competências e habilidades do ENEM e dos Parâmetros.

Por competências o ENEM entende as modalidades estruturais da

inteligência, ou melhor, ações e operações que utilizamos para estabelecer relações

com e entre situações, fenômenos e pessoas que desejamos conhecer. (BRASIL,

2000). Para avaliar o candidato, foi definida uma matriz composta de 5 grandes

competências esperadas de um cidadão que tivesse concluído o Ensino Médio:

Competência l - Dominar a norma culta da Língua Portuguesa e fazer

uso das linguagens matemática, artística e científica.

Competência ll - Construir e aplicar conceitos das várias áreas do

conhecimento para a compreensão de fenômenos naturais, de

93

processos históricos-geográficos, da produção tecnológica e das

manifestações artísticas.

Competência III - Selecionar, organizar, relacionar, interpretar dados e

informações representados de diferentes formas, para tomar decisões

e enfrentar situações-problema.

Competência IV - Relacionar informações, representadas em

diferentes formas, e conhecimentos disponíveis em situações

concretas, para construir argumentação consistente.

Competência V - Recorrer aos conhecimentos desenvolvidos na

escola para elaboração de propostas de intervenção solidária na

realidade, respeitando os valores humanos e considerando a

diversidade sociocultural.

Cada uma dessas competências se traduz por meio da combinação de

um conjunto de 21 habilidades aplicadas às áreas de conhecimento (ANEXO A). Por

trás da ideia de um exame individual, o MEC tinha por intenção avaliar se a

Educação Básica cumpriu seu papel de proporcionar ao aluno o acesso aos saberes

culturais expressos por meio das disciplinas escolares e o desenvolvimento de

habilidades e competências que tornem os saberes significativo. Portanto, as

habilidades elencadas são avaliadas no ENEM por meio de situações problema,

situações diversas em relação às quais necessitamos assumir posições e tomar

decisões que nos ajudem a resolvê-las e superá-las (BRASIL, 2002, p. 36).

Pressupõe-se que para resolver uma situação-problema o sujeito precisa mobilizar

conhecimentos prévios a novas ideias e contextos, revelando suas habilidades e

competências. Na sua primeira versão, que perdurou até 2008, a prova era

composta de três questões de múltipla escolha para cada uma das 21 habilidades,

totalizando 63 questões. As questões tinham o mesmo valor e o total de pontos era

colocado em uma escala de 0 a 100. A avaliação era composta de dois resultados,

um correspondente à parte objetiva e outra à redação.

Elencamos a seguir as principais disposições legais referente ao ENEM

durante os dez primeiros anos do exame que evidenciam seu percurso até a

mudança de formato, que ocorreu em 2009.

Portaria MEC nº 438, de 28/05/1998 – institui o Exame Nacional do

Ensino Médio – ENEM, como procedimento de avaliação do

desempenho do aluno.

94

Portaria MEC nº 318 de 22/02/2001 – dispõe sobre as competências

avaliadas na redação do ENEM.

Portaria MEC nº 391 de 07/02/2002 – regulamenta os processos

seletivos para ingresso nas Instituições Públicas e Privadas

pertencentes ao Sistema de Ensino Superior exigindo que todos os

alunos sejam submetidos a uma avaliação envolvendo a escrita de

uma redação em língua portuguesa de caráter eliminatório; dispõe da

possibilidade do resultado obtido pelo candidato na redação do ENEM

ser considerado para fins de dar cumprimento ao disposto.

Vale ressaltar ainda que a concessão de isenção na taxa de inscrição

para vários alunos a partir de 2001, dentre eles aqueles oriundos de escola pública e

a crescente utilização das notas do ENEM como parte do processo seletivo de

Universidades privadas e públicas resultou em um aumento substancial do número

de candidatos. Em 1998 cerca de 160 mil candidatos realizaram o exame; em 2001

o número já era maior que 1 milhão e 600 mil. Em 2004 foi instituído o do Programa

Universidade para Todos (PROUNI), programa do MEC para a concessão de bolsas

de estudo integrais ou parciais em cursos de nível superior em instituições privadas

de ensino tendo o ENEM como um dos critérios para seleção dos alunos. Com isso,

foi observado outro aumento considerável no número de candidatos, passando de 1

milhão e meio em 2004 para 3 milhões no ano seguinte.

Em 2009 um novo modelo de avaliação foi instituído na intenção de

unificar o processo de seleção das instituições federais de nível superior. Além

disso, os resultados do ENEM passaram a compor a avaliação dos cursos de

graduação como uma “nota de entrada” e parte dos critérios de seleção a programas

governamentais. A portaria MEC nº 109 publicada em 27/05/2009 substitui as

anteriores e descreveu como o ENEM como um procedimento de avaliação do

desempenho escolar e acadêmico dos participantes, para aferir o desenvolvimento

das competências e habilidades fundamentais ao exercício da cidadania. Os

objetivos do exame foram ampliados:

I - oferecer uma referência para que cada cidadão possa proceder à sua

auto-avaliação com vistas às suas escolhas futuras, tanto em relação ao

mundo do trabalho quanto em relação à continuidade de estudos;

95

II - estruturar uma avaliação ao final da educação básica que sirva como

modalidade alternativa ou complementar aos processos de seleção nos

diferentes setores do mundo do trabalho;

III - estruturar uma avaliação ao final da educação básica que sirva como

modalidade alternativa ou complementar aos exames de acesso aos

cursos profissionalizantes, pós-médios e à Educação Superior;

IV - possibilitar a participação e criar condições de acesso a programas

governamentais;

V - promover a certificação de jovens e adultos no nível de conclusão do

ensino médio nos termos do artigo 38, §§ 1o- e 2o- da Lei no- 9.394/96 -

Lei das Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB);

VI - promover avaliação do desempenho acadêmico das escolas de

ensino médio, de forma que cada unidade escolar receba o resultado

global;

VII - promover avaliação do desempenho acadêmico dos estudantes

ingressantes nas Instituições de Educação Superior.

Podemos observar, portanto, uma ampliação para além da auto-avaliação

prevista na primeira versão do exame. Ressaltamos ainda a explicitação da intenção

de avaliar cada instituição de ensino cujos alunos se submeterem ao exame, o que

resultou em um interesse maior da sociedade como um todo aos resultados do

ENEM.

O formato das provas e a análise dos resultados foram substancialmente

alteradas, o ENEM passou a ser composto por uma redação e 4 provas por área de

conhecimento, quais sejam:

I – Linguagens, Códigos e suas Tecnologias e Redação, que compreende

os componentes curriculares de Língua Portuguesa, Língua Estrangeira

Moderna, Artes e Educação Física;

II – Matemática e suas Tecnologias;

III – Ciências Humanas e suas Tecnologias, que compreende os

seguintes componentes curriculares de História, Geografia, Filosofia e

Sociologia;

IV – Ciências da Natureza e suas Tecnologias, que compreende os

componentes curriculares de Química, Física e Biologia.

96

Cada prova contém 45 questões objetivas de múltipla escolha e está

estruturada a partir de uma nova matriz de referência composta de 5 eixos

cognitivos comuns a todas as áreas de conhecimento: dominar linguagens;

compreender fenômenos; enfrentar situações-problema; construir argumentação; e

elaborar propostas. Podemos observar uma ligeira semelhança entre os eixos

cognitivos descritos na matriz de referência de 2009 (ANEXO B) e as competências

elencadas na matriz de referência de 1998. Entretanto, uma mudança significativa

em relação às habilidades foi apresentada, uma vez que cada área do conhecimento

ganhou uma matriz de referência específica na qual estão listadas suas

competências e habilidades.

A matriz de referência de Matemática e suas Tecnologias é composta de

30 habilidades divididas por 7 áreas de competência:

Competência de área 1 - Construir significados para os números

naturais, inteiros, racionais e reais.

Competência de área 2 - Utilizar o conhecimento geométrico para

realizar a leitura e a representação da realidade e agir sobre ela.

Competência de área 3 - Construir noções de grandezas e medidas

para a compreensão da realidade e a solução de problemas do

cotidiano.

Competência de área 4 - Construir noções de variação de grandezas

para a compreensão da realidade e a solução de problemas do

cotidiano.

Competência de área 5 - Modelar e resolver problemas que envolvem

variáveis socioeconômicas ou técnico-científicas, usando

representações algébricas.

Competência de área 6 - Interpretar informações de natureza científica

e social obtidas da leitura de gráficos e tabelas, realizando previsão de

tendência, extrapolação, interpolação e interpretação.

Competência de área 7 - Compreender o caráter aleatório e não-

determinístico dos fenômenos naturais e sociais e utilizar instrumentos

adequados para medidas, determinação de amostras e cálculos de

probabilidade para interpretar informações de variáveis apresentadas

em uma distribuição estatística.

97

A cada um das competências está relacionado um conjunto de

habilidades (ANEXO C). A matriz de referência apresenta ainda objetos de

conhecimento de cada área, que podem ser consultados no ANEXO D.

Podemos afirmar, portanto, que a partir de 2009 o ENEM entende a

competência matemática como sendo a integração das 7 áreas de competências

que se revelam por meio de um conjunto de 30 habilidades que podem ser

mobilizadas a partir da proposição de situações-problema envolvendo conceitos

associados aos 5 objetos do conhecimento matemático descritos.

Diante da complexidade do novo modelo de avaliação, a Teoria de

Resposta ao Item (TRI), foi adotada na formulação de cada uma das 4 provas

objetivas. Em uma nota técnica publicada em dezembro de 2011 o INEP justifica e

explica o uso dessa teoria na análise dos resultados, que possibilita calcular quatro

proficiências para cada participante. A TRI proporciona uma comparabilidade dos

resultados de exames realizados em diferentes anos, por meio de diferentes provas,

uma vez que pressupõe a existência de uma escala padrão. No ENEM, essa escala

foi estabelecida em 2009 a partir do desempenho dos alunos concluintes e tem sido

usada desde então para comparar o desempenho dos participantes. Nos valemos da

explicação da nota técnica para elucidar o método empregado:

A TRI é um conjunto de modelos que relacionam a probabilidade de um aluno apresentar uma determinada resposta a um item, com sua proficiência e características (parâmetros) do item. O modelo utilizado no ENEM é o modelo logístico de três parâmetros que, além dos parâmetros de discriminação e de dificuldade, também faz uso de um parâmetro para controlar o acerto casual. Este último parâmetro tem um papel bastante importante nas avaliações com itens de múltipla escolha, caso do ENEM. O modelo logístico da TRI parte do princípio de que quanto maior a proficiência do respondente, maior a sua probabilidade de acerto, traço latente acumulativo. O seu parâmetro de dificuldade é medido na mesma escala da proficiência, fato este que permite a comparabilidade entre resultados de diferentes testes e a construção e interpretação de escalas de proficiência [...]. Uma outra leitura para esse parâmetro, a qual nos parece mais apropriada, é dizer que ele representa a proficiência mínima que um respondente deve possuir para que sua probabilidade de acerto seja alta, ou seja, ele poderia ser chamado de “proficiência do item”. (Nota técnica, dezembro de 2011, pág. 3)

Por meio da aferição do padrão de respostas apresentadas por um

participante, a TRI associa a ele um nível de proficiência para cada área do

conhecimento. A escala utilizada pelo ENEM associa a média do desempenho dos

98

alunos concluintes de 2009 ao nível 500, e cada desvio padrão vale 100. Isso

significa que um participante cuja proficiência em Matemática e suas Tecnologias

seja 700, está a dois desvios padrões acima da média adotada na escala. A versão

do ENEM de 2009 ainda estava vigente em 2016. No início de 2017 foi realizada

uma consulta pública para verificar a necessidade de reformulação do exame que

resultou, até o presente momento, em uma alteração da distribuições das provas e

no intervalo entre os dois dias de aplicação.

3.4.1. A competência estatística no ENEM

A matriz de Referência de Matemática e suas Tecnologias do ENEM

apresenta duas competências de área associadas à Estatística.

A competência de área 6 é descrita como a capacidade do aluno

interpretar informações de natureza científica e social obtidas da leitura de gráficos e

tabelas, realizando previsão de tendência, extrapolação, interpolação e

interpretação. Podemos afirmar que existe uma aproximação dessa competência ao

conceito de literacia estatística apresentado anteriormente no capítulo 3, seção

3.1.2, uma vez que a descrição vai além da simples leitura dos dados, evidencia a

relação entre alguns conhecimentos estatísticos e as habilidades relacionadas ao

entendimento das informações estatísticas no sentido da comunicação. A essa

competência, estão associadas três habilidades apresentadas no quadro 4 pela sua

descrição, seguidas de um exemplo de item do ENEM que as abordam e por um

breve comentário.

Quadro 4 – Competência de área 6

H24 - Utilizar informações expressas em gráficos ou tabelas para fazer inferências

Exemplo:

(ENEM 2009 – simulado) A cada ano, a Amazônia Legal perde, em média, 0,5% de

suas florestas. O percentual parece pequeno, mas equivale a uma área de quase 5

mil quilômetros quadrados. Os cálculos feitos pelo Instituto do Homem e do Meio

Ambiente da Amazônia (Imazon) apontam um crescimento de 23% na taxa de

destruição da mata em junho de 2008, quando comparado ao mesmo mês do ano

2007. Aproximadamente 612 quilômetros quadrados de floresta foram cortados ou

queimados em quatro semanas. Nesse ritmo, um hectare e meio (15 mil metros

quadrados ou pouco mais de um campo de futebol) da maior floresta tropical do

99

planeta é destruído a cada minuto. A tabela abaixo mostra dados das áreas

destruídas em alguns Estados brasileiros.

Supondo a manutenção desse ritmo de desmatamento nesses Estados, o total

desmatado entre agosto de 2008 e junho de 2009, em valores aproximados, foi

(A) inferior a 5.000 km².

(B) superior a 5.000 km² e inferior a 6.000 km².

(C) superior a 6.000 km² e inferior a 7.000 km².

(D) superior a 7.000 km² e inferior a 10.000 km².

(E) superior a 10.000 km².

Alternativa correta: B

Comentário: para resolver essa questão, o participante precisa selecionar os dados

relevantes da tabela para deduzir uma tendência que extrapola a informação

presente no enunciado; o nível de complexidade é alto uma vez que a resolução

não é imediata.

H25 - Resolver problema com dados apresentados em tabelas ou gráficos

Exemplo:

(ENEM 2012) Uma pesquisa realizada por estudantes da Faculdade de Estatística

mostra, em horas por dia, como os jovens entre 12 e 18 anos gastam seu tempo,

tanto durante a semana (de segunda-feira a sexta-feira), como no fim de semana

(sábado e domingo). A seguinte tabela ilustra os resultados da pesquisa.

100

De acordo com esta pesquisa, quantas horas de seu tempo gasta um jovem entre

12 e 18 anos, na semana inteira (de segunda-feira a domingo), nas atividades

escolares?

(A) 20

(B) 21

(C) 24

(D) 25

(E) 27

Alternativa correta: E

Comentário: nessa questão envolvendo a habilidade 25 o participante precisa

selecionar os dados relevantes para responder a pergunta da situação-problema;

todos os dados necessários para a resolução estão no problema.

H26 - Analisar informações expressas em gráficos ou tabelas como recurso

para a construção de argumentos

Exemplo:

(ENEM 2009 – simulado) As condições de saúde e a qualidade de vida de uma

população humana estão diretamente relacionadas com a disponibilidade de

alimentos e a renda familiar. O gráfico I mostra dados da produção brasileira de

arroz, feijão, milho, soja e trigo e do crescimento populacional, no período

compreendido entre 1997 e 2003. O gráfico II mostra a distribuição da renda

101

familiar no Brasil, no ano de 2003.

Considere que três debatedores, discutindo as causas da fome no Brasil, chegaram

às seguintes conclusões:

Debatedor 1 – O Brasil não produz alimento suficiente para alimentar sua

102

população. Como a renda média do brasileiro é baixa, o País não consegue

importar a quantidade necessária de alimentos e isso é a causa principal da fome.

Debatedor 2 – O Brasil produz alimentos em quantidade suficiente para alimentar

toda sua população. A causa principal da fome, no Brasil, é a má distribuição de

renda.

Debatedor 3 – A exportação da produção agrícola brasileira, a partir da inserção do

País no mercado internacional, é a causa majoritária da subnutrição no País.

Considerando que são necessários, em média, 250 kg de alimentos para alimentar

uma pessoa durante um ano, os dados dos gráficos I e II, relativos ao ano de 2003,

corroboram apenas a tese do(s) debatedor(es)

(A) 1.

(B) 2.

(C) 3.

(D) 1 e 3.

(E) 2 e 3.

Alternativa correta: B

Comentário: para ser proficiente nessa habilidade os alunos precisam ser capazes

de analisar os dados e a relação entre eles de modo crítico e reflexivo; para decidir

com quais teses concordar (habilidade relacionada à argumentação) o participante

precisa analisar cada gráfico separadamente e na relação com o outro.

Fonte: INEP; os autores

A proficiência nas habilidades citadas pressupões a competência do

participante na comunicação de ideias estatísticas. Podemos afirmar que essas

habilidades são necessárias, mas não suficientes para caracterizar a competência

literacia estatística, uma vez que não há menção a habilidades relacionadas à

compreensão e ao uso do vocabulário específico. Ressalta-se, entretanto, a

valorização dada à postura crítica e reflexiva envolvida na interpretação das

informações nas habilidades dessa área de competência.

A competência de área 7 é descrita pela capacidade de Compreender o

caráter aleatório e não-determinístico dos fenômenos naturais e sociais e utilizar

instrumentos adequados para medidas, determinação de amostras e cálculos de

probabilidade para interpretar informações de variáveis apresentadas em uma

distribuição estatística. São 4 as habilidades associadas à essa competência,

apresentadas no quadro 5, seguidas de exemplos e comentários.

103

Quadro 5 – Competência de área 7

H27 - Calcular medidas de tendência central ou de dispersão de um conjunto

de dados expressos em uma tabela de frequências de dados agrupados (não

em classes) ou em gráficos

Exemplo:

(ENEM 2012) O gráfico apresenta o comportamento de emprego formal surgido,

segundo o Caged, no período de janeiro de 2010 a outubro de 2010.

Com base no gráfico, o valor da parte inteira da mediana dos empregos formais

surgidos no período é

(A) 212 952.

(B) 229 913.

(C) 240 621.

(D) 255 496.

(E) 298 041.

Alternativa correta: B

Comentário: a proficiência nessa habilidade é alcançada quando o aluno é capaz

de calcular medidas estatísticas; nessa questão os dados são apresentados em um

gráfico, o que pode ser um complicador uma vez que os alunos estão habituados a

calcular mediana de dados organizados em rol ou em tabela.

H28 - Resolver situação-problema que envolva conhecimentos de Estatística e

Probabilidade

Exemplo:

(ENEM 2009 – simulado) Em um cubo, com faces em branco, foram gravados os

números de 1 a 12, utilizando-se o seguinte procedimento: o número 1 foi gravado

na face superior do dado, em seguida o dado foi girado, no sentido anti-horário, em

torno do eixo indicado na figura abaixo, e o número 2 foi gravado na nova face

superior, seguinte, conforme o esquema abaixo.

104

O procedimento continuou até que foram gravados todos os números. Observe que

há duas faces que ficaram em branco. Ao se jogar aleatoriamente o dado

apresentado, a probabilidade de que a face sorteada tenha a soma máxima é

(A) 1

6

(B) 1

4

(C) 1

3

(D) 1

2

(E) 2

3

Alternativa correta: A

Comentário: a proficiência nessa habilidade se revela na capacidade de

compreender a situação problema de modo a resolvê-lo utilizando conceitos de

variação e incerteza.

H29 - Utilizar conhecimentos de Estatística e Probabilidade como recurso

para a construção de argumentação

Exemplo:

(ENEM 2012) A tabela a seguir mostra a evolução da receita bruta anual nos três

últimos anos de cinco microempresas (ME) que se encontram à venda.

Um investidor deseja comprar duas das empresas listadas na tabela. Para tal, ele

calcula a média da receita bruta anual dos últimos três anos (de 2009 até 2011) e

escolhe as duas empresas de maior média anual. As empresas que este investidor

escolhe comprar são

(A) Balas W e Pizzaria Y.

(B) Chocolates X e Tecelagem Z.

105

(C) Pizzaria Y e Alfinetes V.

(D) Pizzaria Y e Chocolates X.

(E) Tecelagem Z e Alfinetes V.

Alternativa correta: D

Comentário: essa habilidade pressupõe que os alunos saibam calcular e interpretar

medidas de tendência central ou de dispersão ou conceitos relacionados à

probabilidades.

H30 - Avaliar propostas de intervenção na realidade utilizando conhecimentos

de Estatística e Probabilidade

Exemplo:

(ENEM 2013) Ao final de uma competição de ciências em uma escola, restaram

apenas três candidatos. De acordo com as regras, o vencedor será o candidato que

obtiver a maior média ponderada entre as notas das provas finais nas disciplinas

química e física, considerando, respectivamente, os pesos 4 e 6 para elas. As notas

são sempre números inteiros. Por questões médicas, o candidato II ainda não fez a

prova final de química. No dia em que sua avaliação for aplicada, as notas dos

outros dois candidatos, em ambas as disciplinas, já terão sido divulgadas. O quadro

apresenta as notas obtidas pelos finalistas nas provas finais.

A menor nota que o candidato II deverá obter na prova final de química para vencer

a competição é

(A) 18.

(B) 19.

(C) 22.

(D) 25.

(E) 26.

Alternativa correta: A

Comentário: para ser proficiente nessa habilidade o participante precisa fazer

interpretações baseados nos conjuntos de dados com o foco nos processos

estatísticos, coordenando conceitos e comportamentos.

Fonte: INEP; os autores

106

A competência de área 7 está intimamente relacionada à competência

raciocínio estatístico apresentada no referencial teórico, uma vez que releva a

utilização com compreensão de diferentes etapas de uma investigação estatística. O

pensamento estatístico também se faz presente ao observarmos que o participante

precisa ser capaz de relacionar o conhecimento estatístico para aplicá-los de forma

adequada em diferentes contextos de investigação.

Podemos concluir que o ENEM, como avaliação da competência no

Ensino Médio cumpre o seu papel e apresenta pressupostos teóricos consoantes

com as perspectivas atuais da Educação Estatística. Os itens têm sido elaborados

com uma preocupação na variação das habilidades, competências e principalmente

nos níveis de complexidade do raciocínio exigido.

107

CAPÍTULO 4 – METODOLOGIA

A presente tese tem seu suporte empírico associado a duas vertentes

metodológicas distintas: a análise de um questionário aplicado a professores que

ministram aulas de Estatística na Educação Básica e a análise do desempenho dos

candidatos nas questões associadas à Estatística presentes nas provas de

Matemática do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM).

4.1. O QUESTIONÁRIO

Para buscar compreender o que pensam sobre o ensino de Estatística,

alguns professores de Matemática do Ensino Médio responderam a um questionário

com perguntas abertas e fechadas. Esse questionário consiste de algumas

perguntas censitárias qualificadoras (variáveis sexo, idade, tempo de formação,

tempo de atuação como docente), seguidas de uma questão aberta sobre ações

didáticas para o ensino de Estatística, três perguntas com cinco itens cada para os

professores classificarem a sua importância em relação ao tema e, finalmente, um

conjunto de 30 assertivas tratando também do ensino de Estatística para as quais os

entrevistados deveriam registrar o grau de concordância apresentado em uma

escala de atitude do tipo Likert com cinco níveis (discordo, discordo parcialmente,

não discordo nem concordo, concordo parcialmente e concordo).

A metodologia de análise dos dados do questionário consistiu no uso de

medidas estatísticas de frequência para as variáveis qualificadoras da amostra,

Análise de Conteúdo para as respostas apresentadas na questão aberta, Análise

bivariada (classificação cruzada e correlação) dos itens ordenados segundo o grau

de importância e Análise Fatorial Exploratória (AFE) das perguntas apresentadas em

escala Likert.

4.1.1. O questionário Piloto

Inicialmente foi elaborado um questionário piloto (APÊNDICE A) com itens

formulados de acordo com a nossa experiência tanto como professores quanto

como formadores na área além da revisão da literatura pertinente ao tema. A

proposta do questionário apresentado como piloto é similar à adotada na versão

final, salvo o fato de termos apresentado na primeira versão três questões abertas a

fim de obtermos mais “pistas” para a elaboração do instrumento final de pesquisa.

108

O questionário piloto foi respondido por 17 professores de Matemática do

Ensino Médio que trabalhavam na Rede Estatual de São Paulo em escolas de

período integral. Os professores assinaram o Termo de Consentimento Livre e

Esclarecido (TCLE)

Com a intenção de caracterizar o perfil de professores em relação ao

ensino de Estatística, realizamos uma Análise Fatorial Exploratória (aprofundaremos

a discussão sobre esse método de análise multivariada mais a frente) nos dados

referentes à ordenação dos graus de importância de itens relacionados ao ensino e

à Escala Likert elaborada. Como resultado, obtivemos cinco fatores que permitiram a

caracterização de cinco perfis associados às concepções de professores em relação

ao ensino de Estatística. Os fatores observados a partir das questões associadas à

escala Lickert e as respostas obtidas nas questões abertas nos auxiliaram a

reformular o questionário piloto, principalmente em relação à coerência semântica

dos itens.

4.1.2. A amostra

Para investigar as práticas e crenças dos professores em relação ao

ensino de Estatística, entrevistamos 89 professores de Matemática do Ensino Médio

da rede estadual de São Paulo e Rio de Janeiro. A escolha dos sujeitos se deu a

partir da proximidade entre os mesmos e a pesquisadora, que estava realizando um

trabalho de formação continuada junto aos docentes.

Os professores no Rio de Janeiro ministravam aulas em escolas de

período integral e participavam do Programa Ensino Médio Inovador (PROEMI),

programa do MEC cujo objetivo é: apoiar e fortalecer o desenvolvimento de

propostas curriculares inovadoras nas escolas de ensino médio, ampliando o tempo

dos estudantes na escola e buscando garantir a formação integral com a inserção de

atividades que tornem o currículo mais dinâmico, atendendo também as

expectativas dos estudantes do Ensino Médio e às demandas da sociedade

contemporânea48. Em parceria com o “Instituto Ayrton Senna”, a Secretaria de

Educação do Governo do Estado de Rio de Janeiro ofereceu durante os anos de

2014 e 2015 formação continuada aos professores de várias disciplinas, dentre elas

a Matemática. Os encontros, que aconteciam bimestralmente, eram presenciais e

48

Fonte: http://portal.mec.gov.br/ensino-medio-inovador/apresentacao, acesso em 2 ago. 2017.

109

tinham a duração de 16 horas. O grupo responsável pela formação de Matemática

foi o Mathema, dirigido pelas professoras doutoras Maria Ignez Diniz e Katia Stocco

Smole, as quais também foram responsáveis pela elaboração dos materiais

didáticos utilizados em sala de aula e as orientações metodológicas para os

professores.

Os professores de São Paulo também lecionavam em escolas estaduais

de Ensino Médio em período integral e participavam de uma ação de formação

continuada organizada pela associação “Parceiros da Educação”, uma entidade sem

fins lucrativos que promove parcerias entre empresas, empresários e organizações

da sociedade civil com escolas públicas. A formação desses professores, também

coordenada pelo grupo Mathema, acontece desde o ano de 2014 é presencial e

mensal, totalizando cerca de 44 horas anualmente.

Após a explicação da pesquisa e a assinatura dos termos de

consentimento, os professores responderam aos questionários individualmente na

presença da pesquisadora. Não foram registrados problemas de qualquer natureza

no momento da aplicação do instrumento.

4.1.3. A estrutura do questionário e métodos da análise dos dados

A seguir, descreveremos minuciosamente a estrutura do instrumento de

pesquisa na sua versão final (APÊNDICE B).

4.1.3.1. Variáveis censitárias qualificadoras da amostra

Para a identificação dos professores usamos as variáveis: sexo, idade

(AGE), tempo de magistério (MAG), informações sobre a graduação e formação

complementar (FCM). Os intervalos determinados para a variável AGE e a amplitude

da variável MAG foram inspirados pelo artigo intitulado “O ciclo de vida profissional

de professores” de Huberman (2000) no qual o autor objetiva descrever as etapas

vividas pelos docentes do decorrer da sua carreira, assumindo, é claro, como uma

tendência que não necessariamente será seguida por todos os indivíduos. O artigo

aponta para cinco fases, quais sejam:

a entrada na carreira: caracterizada pela exploração e entusiasmo;

a estabilização: na qual se consolida o sentimento do pertencimento a

um campo profissional e a confiança em relação à sua competência;

a diversificação: nessa fase o autor acredita que o percurso individual

pode se mostrar de diferentes formas, como no perfil de um sujeito que

110

investe seu potencial como docente, naquele que se envolve com

questões administrativas visando a promoção profissional e naquele

que apresenta uma redução do comprometimento com a formação de

seus alunos;

a serenidade: busca por uma situação estável, menor vulnerabilidade à

avaliação dos pares ou superiores;

a preparação para a aposentadoria: caracterizada por uma fase de

interiorização, de libertação progressiva.

(HUBERMAN, 2000)

Apesar de Huberman apontar intervalos de tempo em anos em seu artigo,

optamos por interpretar as fases pela sua caracterização e adaptamos a escala de

Huberman para quatro intervalos para identificar o tempo de magistério, como

mostra o quadro 6:

Quadro 6: Variável tempo de magistério (MAG)

Tempo de magistério (MAG) Fase (Huberman adaptada)

Até 6 anos entrada na carreira e da estabilização

7 a 18 anos Diversificação

19 a 30 anos Serenidade

mais de 30 anos preparação para a aposentadoria

Fonte: os autores

Para além do tempo de magistério, é importante considerarmos também a

época em que os professores concluíram sua formação inicial profissional, uma vez

que a história recente da Educação Matemática é marcada por mudanças

significativas relacionadas a concepções de ensino e aprendizagem que podem se

revelar nas práticas de cada professor. Portanto, definimos cinco intervalos de

tempo associados ao seu período de formação, como pode ser visto no quadro 5.

A escolha dos períodos foi inspirada nas tendências educacionais

descritas por Fiorentini e já tratadas previamente: formalista (clássica e moderna), a

empírico-ativista; a tecnicista; a construtivista e a sócioetnoculturalista. Vale destacar

que os professores que se formaram a partir da segunda metade da década de 1990

provavelmente tiveram sua formação influenciada pela publicação dos Parâmetros

111

Curriculares Nacionais (PCNs). Portanto, organizamos a distribuição apresentada no

quadro 7 para analisar o período de formação inicial dos professores.

Quadro 7 – Variável data da conclusão da formação inicial profissional

Período de formação Tempo de formação

década de 1960 ou antes mais de 50 anos

década de 1970 de 41 a 50 anos

década de 1980 de 34 a 40 anos

início da década de 1990 de 29 a 33 anos

a partir da segunda metade da década de 1990 até 28 anos

Fonte: os autores

Considerando que muitos professores apresentam uma formação inicial

distinta da licenciatura em Matemática e estão atuando nas escolas, outras

graduações além da licenciatura em Matemática e pós-graduações na formação

complementar (variável nomeada como CMP, como abreviação de complementar)

também foram utilizadas para caracterizar a formação docente.

Para a análise dos dados censitários qualificadores do questionário foram

utilizadas medidas de frequência estatística.

4.1.3.2. Pergunta aberta

A pergunta aberta apresentada aos professores foi: “Cite três ações

didáticas que você considere importante para desenvolver os conceitos de

Estatística”. Essa pergunta tinha por objetivo conhecer o tratamento dado pelos

professores aos conteúdos de Estatística de modo menos diretivo. Ao perguntarmos

sobre as ações didáticas que utilizam em sala intencionamos verificar se as práticas

condizem com os objetivos e metas educacionais apontadas pelos docentes. As

respostas referentes às ações didáticas importantes para o desenvolvimento da

Estatística foram tratadas por Análise de Conteúdo.

Laurence Bardin, professora de psicologia da Universidade de Paris,

escreveu em 1977 um manual metodológico da técnica de Análise de Conteúdo e a

definiu como sendo:

Um conjunto de técnicas de análise das comunicações visando obter, por procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens, indicadores (quantitativos ou não) que permitam a inferência de conteúdos relativos às condições de

112

produção/recepção (variáveis inferidas) destas mensagens. (BARDIN, 2011, p. 37)

Dessa forma, a descrição e o tratamento do texto caracteriza-se como a

primeira etapa de um processo que visa a interpretação e significação do conteúdo.

Nesse ínterim é necessário realizar deduções lógicas (inferência) baseadas na

ligação com outras proposições e no conhecimento teórico do tema envolvido.

Realizamos uma análise de conteúdo do tipo classificatório no conjunto

de respostas apresentadas à questão aberta, processo caracterizado pela ação de

partir da análise de sentido de elementos particulares visando seu reagrupamento

progressivo por aproximação de significado marcado pela atribuição de um título a

cada categoria criada.

Na primeira fase dessa metodologia – organização da análise – foi

realizada uma leitura flutuante, isto é, uma leitura intuitiva e aberta a todas as ideias,

seguida da marcação de palavras plenas – portadoras de sentido como

substantivos, verbos, adjetivos – em detrimento de palavras instrumentos – artigos,

preposições, pronomes, advérbios, conjunções (BARDIN, 2011). Para isso usamos

como unidades de informação cada uma das três ações didáticas descritas pelos

professores indicadas por frases curtas.

Na fase de codificação, com a intenção de realizar uma análise temática

para auxiliar a classificação, descobrimos os núcleos de sentido de cada frase e a

ela associamos um tema associado ao ensino de Estatística: conteúdos estatísticos,

metodologias e práticas de ensino, fonte de dados e temas. Como regra de

enumeração utilizamos a frequência de aparição das respostas.

Por fim, a análise semântica das frases resultou em agrupamentos que

representam diferentes conjuntos de ações didáticas. A cada um desses conjuntos

ou categorias foi associado um título. As respostas dadas à pergunta aberta

resultaram em 85 unidades de informação, divididas em quatro temas, que foram

reagrupadas em diversas categorias.

4.1.3.3. Questões de ordenação

A análise realizada a partir dos dados do questionário piloto que aferiu

cinco perfis de professores que ensinam Estatística conduziu a elaboração das três

próximas questões do instrumento de pesquisa que solicitavam ordenação de cinco

alternativas de acordo com o grau de relevância, conforme apresentado a seguir.

113

O segundo item apresentava a questão “Por que você considera o Ensino

de Estatística importante?” seguida de cinco afirmações:

Porque está presente no cotidiano dos alunos.

Porque desenvolve o senso crítico e a argumentação.

Porque os conteúdos são usados em outras ciências.

Porque propicia o trabalho de campo e projetos coletivos.

Porque está relacionada à alfabetização matemática.

A essa variável foi associada o nome ENS (abreviação de ensino).

O item 3 solicitava a ordenação das habilidades estatísticas que o

professor considerava importante que os alunos soubessem e apresentava como

opções:

Construir argumentação a partir de informações expressas em tabelas

e gráficos.

Calcular medidas estatísticas de um conjunto de dados (média,

mediana, desvio padrão, etc.)

Usar dados apresentados em tabelas ou gráficos para resolver

problemas.

Fazer inferência a partir de resultados estatísticos.

Ler e interpretar informações apresentadas em tabelas, gráficos e

infográficos.

A essa variável foi associada o nome HAB (abreviação de habilidade).

O quarto item apresentou cinco questões do ENEM relacionadas à

Estatística para que os professores as ordenassem de acordo com a adequação

para avaliar o conhecimento dos alunos sobre Estatística. As questões foram

escolhidas por estarem relacionadas a diferentes habilidades, apresentarem

diferentes contextos e graus de dificuldade. A essa variável foi associada o nome

QUE (abreviação de questão do Enem).

A primeira exploração das respostas consistiu em análises com elementos

da Estatística Descritiva, como cálculos de médias e desvios padrões dos índices de

cada uma das variáveis, que revelaram a ausência de respostas unânimes que

poderiam demonstrar vieses do questionário.

114

Para investigar as questões de ordenação usamos a análise bivariada de

dados na qual estudamos a correlação entre as três variáveis (Ensino, Habilidade e

Questão), duas a duas.

4.1.3.4. Escala Likert

A última etapa do questionário era composta de 30 afirmações elaboradas

para que os professores marcassem um dentre cinco níveis de concordância, em

escala Likert49: 1 (discordo); 2 (discordo parcialmente); 3 (não discordo nem

concordo); 4 (concordo parcialmente) e 5 (concordo). Para evitarmos vícios nas

respostas, algumas destas foram elaboradas de maneira negativa, ou seja, ao invés

de destacarem determinada posição, estavam na verdade negando-a.

As respostas dos participantes foram transcritas e tabuladas em uma

planilha eletrônica. Posteriormente, as respostas dadas às terceira, quarta e quinta

questões, assim como a classificação das afirmações, foram organizadas no

software Statistical Analysis System (SAS) e submetidas às análises estatísticas

descritivas e Análise Multivariada de dados do tipo Fatorial Exploratória (AFE).

Para justificar a escolha da análise empregada, recorremos à definição da

técnica apresentada por Hair e seus coautores.

Análise multivariada se refere a todas as técnicas estatísticas que simultaneamente analisam múltiplas medidas sobre indivíduos ou objetos sob investigação. Assim, qualquer análise simultânea de mais do que duas variáveis pode ser considerada, a princípio, como multivariada. [...] [...] para ser considerada verdadeiramente multivariada, todas as variáveis devem ser aleatórias e inter-relacionadas de tal maneira que seus diferentes efeitos não podem ser significativamente interpretados em separado. (HAIR, et. al., 2009, p. 23)

Por entender que as variáveis da escala Likert devem ser analisadas

simultaneamente para encontrar uma estrutura que revele o perfil do professor que

ensina Estatística, adotamos a análise multivariada de dados como técnica

estatística. Dentre as possibilidades apresentadas, optamos pela Análise Fatorial,

definida como:

[...] técnica particularmente adequada para analisar os padrões de relações complexas multidimensionais encontradas por pesquisadores. [...] A análise fatorial pode ser utilizada para examinar os padrões ou relações latentes para um grande número de variáveis

49

Rensis Likert, em 1932, publicou no Archives of Psychology um relatório no qual explicou o funcionamento desta escala, na qual os entrevistados indicam o grau de concordância com uma afirmação. Este grau pode ter 5, 7 ou 9 níveis.

115

e determinar se a informação pode ser condensada ou resumida a um conjunto menor de fatores ou componentes. (HAIR et. al., 2009, p. 100)

De acordo com a definição apresentada, podemos afirmar que a análise

fatorial é adequada ao conjunto de dados resultante da Escala Likert50, uma vez que

partimos da hipótese de que é possível agrupar variáveis correlacionadas que

descrevem fatores, associados a perfil de professores que ensinam Estatística, um

constructo que não pode ser mensurado diretamente. Como a análise objetivava a

busca da estrutura do conjunto dos dados a perspectiva adotada foi a exploratória,

ou seja, foi realizada uma Análise Fatorial Exploratória (AFE). É importante destacar

os conceitos estatísticos por trás desse tipo de metodologia:

Em análise fatorial, agrupamos variáveis por suas correlações, de modo que variáveis em um grupo (fator) têm elevadas correlações umas com as outras. Assim, para os propósitos da análise fatorial, é importante entender o quanto da variância é compartilhado com outras variáveis naquele fator versus o que não pode ser compartilhado. (HAIR et. al., 2009, p. 112)

Isso significa dizer que para além da justificativa conceitual para a adoção

da AFE, é necessário realizar medidas gerais de correlações para afirmar que a

técnica é adequada ao conjunto de dados. Para validar o instrumento existe o teste

KMO (Kaiser-Meyer-Olkin) que calcula o índice de adequação da amostra com base

na proporção de variância dos itens que pode ser explicada pelo fator (DAMASIO,

2012). O limite mínimo de aceitação do índice KMO é 0,50 e no conjunto de dados

KMO foi de 0,53.

A AFE resultou na matriz de correlações que apresenta as comunalidades

– quantia total de variância que uma variável original compartilha com todas as

outras variáveis incluídas na análise (HAIR et, al., 2009). Para a definição do número

de fatores retidos, utilizamos inicialmente o critério da raiz latente.

[...] qualquer fator individual deve explicar a variância de pelo menos uma variável se o mesmo há de ser mantido para a interpretação. Com a análise de componentes, cada variável contribui com um valor 1,0 do autovalor total. Logo, apenas os fatores que têm raízes latentes ou autovalores maiores que 1 são considerados significantes. (HAIR, et. al., 2009,p. 114)

Esse critério resultou inicialmente em onze fatores retidos. Na sequência

analisamos a significância das cargas fatoriais assumindo como limite mínimo 0,50,

50

A Escala Likert consiste em uma escala de medida não métrica, isso é, os números não representam magnitude, são apenas índices de ordenação.

116

que se traduz em 25% (0,50²) da variância total da variável explicada pelo fator.

Variáveis com cargas fatoriais menores que 0,50 foram eliminadas e uma nova

solução fatorial com seis fatores foi apresentada. Entretanto, ao último fator estava

associada uma única frase, de modo que optamos por recalcular em cinco fatores.

Esses cinco fatores apresentaram um valor de KMO de 0,5353 e explicam 62,51%

da variância encontrada, índice considerado satisfatório para ciências sociais.

Com o intuito de separar mais claramente os fatores e reduzir algumas

ambiguidades encontradas nas cargas fatoriais, optamos por aplicar a rotação

ortogonal VARIMAX, que pressupõe que os fatores extraídos são independentes uns

dos outros e simplifica a interpretação (DAMASIO, 2012).

Por fim, avaliamos a medida de confiabilidade da estrutura fatorial (alfa de

Cronbach) que deve ser maior que 0,60 para garantir que não haja dados

tendenciosos ou vieses internos nos dados obtidos decorrentes de inconsistências

no questionário (SILVA e SIMON, 2005). No conjunto de dados observado, o alfa de

Cronbach foi de 0,7238.

4.2. AS QUESTÕES DE ESTATÍSTICA DO ENEM

A matriz de Referência do ENEM para Matemática e suas Tecnologias

do ENEM contém duas competências de área associadas à Estatística já

apresentadas que abarcam sete habilidades. Optamos por explorar cada uma das

questões para além desses parâmetros e, portanto, adotamos um protocolo de

análise com outras variáveis, aprofundadas a seguir.

4.2.1. A complexidade da questão

Cada questão do ENEM avalia apenas uma habilidade da matriz de

referência. Entretanto, entendemos que não é somente a habilidade que define a

complexidade da questão, mas também o(s) objeto(s) de conhecimento

associado(s), o contexto envolvido, o tipo de texto, o nível de leitura dos dados e,

principalmente, o tipo de pensamento associado a ela. A fim de elucidar essa

afirmação, discutiremos algumas questões que seguem.

As cinco questões apresentadas a seguir, no quadro 8, pretendem avaliar

a mesma habilidade: Resolver problema com dados apresentados em tabelas ou

gráficos (H 25). Apesar de em todas elas o participante precisar selecionar os dados

117

relevantes à pergunta nos gráficos e tabelas para encontrar a solução, o nível de

complexidade associado à questão não é o mesmo.

Quadro 8 – Exemplos de questões da H25

Questão 1 – Rotina juvenil

(ENEM 2012) Uma pesquisa realizada por estudantes da Faculdade de Estatística

mostra, em horas por dia, como os jovens entre 12 e 18 anos gastam seu tempo,

tanto durante a semana (de segunda-feira a sexta-feira), como no fim de semana

(sábado e domingo). A seguinte tabela ilustra os resultados da pesquisa.

De acordo com esta pesquisa, quantas horas de seu tempo gasta um jovem entre

12 e 18 anos, na semana inteira (de segunda-feira a domingo), nas atividades

escolares?

(A) 20.

(B) 21.

(C) 24.

(D) 25.

(E) 27.

Questão 2 – Compra de empresa

(ENEM 2012) Cinco empresas de gêneros alimentícios encontram-se à venda. Um

empresário, almejando ampliar os seus investimentos, deseja comprar uma dessas

empresas. Para escolher qual delas irá comprar, analisa o lucro (em milhões de

reais) de cada uma delas, em função de seus tempos (em anos) de existência,

decidindo comprar a empresa que apresente o maior lucro médio anual. O quadro

apresenta o lucro (em milhões de reais) acumulado ao longo do tempo (em anos)

de existência de cada empresa.

118

O empresário decidiu comprar a empresa

(A) F.

(B) G.

(C) H.

(D) M.

(E) P.

Questão 3 – Crescimento da indústria

(ENEM 2013) A cidade de Guarulhos (SP) tem o 8º PIB municipal do Brasil, além do

maior aeroporto da América do Sul. Em proporção, possui a economia que mais

cresce em indústrias, conforme mostra o gráfico.

Analisando os dados percentuais do gráfico, qual a diferença entre o maior e o

menor centro em crescimento no polo das indústrias?

(A) 75,28.

(B) 64,09.

(C) 56,95.

(D) 45,76.

(E) 30,07.

Questão 4 – Taxas de desemprego

(ENEM 2014) O gráfico apresenta as taxas de desemprego durante o ano de 2011

e o primeiro semestre de 2012 na região metropolitana de São Paulo. A taxa de

desemprego total é a soma das taxas de desemprego aberto e oculto.

119

Suponha que a taxa de desemprego oculto do mês de dezembro de 2012 tenha

sido a metade da mesma taxa em junho de 2012 e que a taxa de desemprego total

em dezembro de 2012 seja igual a essa taxa em dezembro de 2011.

Disponível em: www.dieese.org.br. Acesso em: 1 ago. 2012 (fragmento).

Nesse caso, a taxa de desemprego aberto de dezembro de 2012 teria sido, em

termos percentuais, de

(A) 1,1.

(B) 3,5.

(C) 4,5.

(D) 6,8.

(E) 7,9.

Questão 5 – Remuneração de funcionários

(ENEM 2014) Uma empresa de alimentos oferece três valores diferentes de

remuneração a seus funcionários, de acordo com o grau de instrução necessário

para cada cargo. No ano de 2013, a empresa teve uma receita de 10 milhões de

reais por mês e um gasto mensal com a folha salarial de R$ 400 000,00,

distribuídos de acordo com o Gráfico 1. No ano seguinte, a empresa ampliará o

número de funcionários, mantendo o mesmo valor salarial para cada categoria. Os

demais custos da empresa permanecerão constantes de 2013 para 2014. O número

de funcionários em 2013 e 2014, por grau de instrução, está no Gráfico 2.

120

Qual deve ser o aumento na receita da empresa para que o lucro mensal em 2014

seja o mesmo de 2013?

(A) R$ 114 285,00

(B) R$ 130 000,00

(C) R$ 160 000,00

(D) R$ 210 000,00

(E) R$ 213 333,00

Fonte: INEP; os autores.

Analisando as questões em relação aos objetos de conhecimentos

abordados, é possível perceber que enquanto a questão de número 3 (crescimento

da indústria) exige somente uma subtração de números decimais, a questão 4 (taxas

de desemprego) apresenta cálculos envolvendo porcentagem e a questão 2 (compra

de empresa) pressupõe um conhecimento sobre medidas de tendência (média).

Assim como a questão 3 (crescimento da indústria), a questão 1 (compra

de empresa) aborda apenas as operações com números racionais como objeto do

conhecimento. Entretanto, elas se diferenciam em relação ao tipo de raciocínio

envolvido. A questão 3 apresenta todos os dados necessários no gráfico, trata-se de

uma situação de reprodução no qual uma subtração resolve o problema. Entretanto,

a questão 1 exige que se combine a informação entre os dias da semana e os dados

apresentados na tabela, ou seja, não se trata de um problema rotineiro. A questão 5

(remuneração de funcionários) que também exige apenas operações com números

racionais, se diferencia das anteriores no tocante à apresentação dos dados, uma

vez o participante precisa selecionar e relacionar dados presentes em dois gráficos

independentes.

121

Podemos dizer ainda que os contextos das questões se diferem. A

questão 1 (rotina juvenil) apresenta uma situação do cotidiano do jovem, enquanto

as questões 2 (compra de empresa) e 5 (remuneração de funcionários) remetem a

uma situação do contexto profissional. As questões 3 (crescimento da indústria) e 4

(taxas de desemprego) se aproximam de um contexto público.

Diante do exposto, reconhecendo que cada questão se constitui para

além da habilidade que pretende avaliar, decidimos por criar algumas variáveis para

categorizar cada questão que serão utilizadas para complementar as informações

sobre o desempenho dos alunos na intenção de apresentar uma análise mais

qualitativa dos dados que se apresentarão futuramente.

As variáveis foram criadas a partir do referencial teórico apresentado e

de um estudo cuidadoso da classificação das questões realizada pelo Programa

Internacional de Avaliação de Estudantes (PISA) que se propõe a avaliar, dentre

outros aspectos, a competência matemática de estudantes de 15 anos de idade.

O PISA utiliza três variáveis que se articulam na caracterização da

questão: o conteúdo matemático em que se enquadra a tarefa; o contexto no qual se

localiza o problema e as competências ou processos que devem ser ativados para

conectar o mundo real com a matemática na resolução. (ROMERO E GÓMEZ, 2008)

Inspirados por esse referencial, associamos as discussões teóricas sobre

competências estatísticas e utilizamos sete variáveis para caracterizar cada uma das

questões, quais sejam: (a) competência de área, (b) habilidade, (c) objeto do

conhecimento, (d) contexto, (e) tipo de texto, (f) nível de leitura e (g) processo.

As variáveis (a) competência de área e (b) habilidade de cada questão

estão definidas e apresentadas nos microdados do ENEM, disponíveis no site do

INEP. A cada uma das questões foi associado um (c) objeto do conhecimento

matemático listado na matriz de referência do exame.

O contexto de uma questão é a sua configuração específica dentro de

uma situação, definida por Romero e Gómez (2008) como a parte do mundo do

estudante na qual as tarefas são apresentadas. O PISA classifica o contexto em

quatro tipos:

1. Pessoal: situação mais próxima ao estudante, relacionada

diretamente às suas atividades cotidianas;

2. Educacional/Ocupacional: situações que surgem na escola, no

trabalho;

122

3. Público: aborda temas relacionados à comunidade local ou

sociedade, é uma situação externa relevante em termos coletivos;

4. Científico: situações abstratas, referem-se apenas a objetos,

estruturas e símbolos matemáticos.

Por entender que o ENEM não utiliza contextos científicos em suas

questões, utilizaremos apenas os três primeiros tipos de (d) contextos: pessoal,

educacional/ocupacional e público.

O PISA caracteriza quatro tipos de texto:

1. Contínuo: inclui diferentes tipos de prosa e todos os dados

necessários estão em um texto escrito.

2. Não contínuo: inclui gráficos, formulários e listas; os dados relevantes

para a resolução estão no objeto.

3. Misto: inclui dois formatos (contínuo e não contínuo); os dados

precisam ser combinados para chegar-se à resolução.

4. Múltiplo: inclui textos independentes, de formatos iguais ou diferentes,

justapostos com propósitos específicos.

Por se tratar de uma investigação que trata da competência estatística,

entendemos que o primeiro (e) tipo de texto não se faz presente na nossa análise.

Dessa forma, inspirados nessa classificação, criamos três categorias:

1. Único: apresenta todos os dados relevantes à solução em um gráfico

ou uma tabela; o texto do enunciado apresenta apenas o contexto e a

pergunta da situação problema.

2. Misto: os dados necessários para a solução estão, parte no gráfico ou

tabela apresentado, parte no texto do enunciado.

3. Múltiplo: as informações de dois gráficos, duas tabelas ou de um

gráfico e uma tabela precisam ser combinados para se obter as

informações necessárias na resolução da situação proposta.

Por gráfico entendia-se um conjunto de informação transmitida por

posições de pontos, linha ou área em um plano bi dimensional (FRY, 1984, p.5,

apud FRIEL, CURCIO e BRIGHT, 2001, p. 126). Entretanto, essa definição pode ser

ampliada uma vez que a tecnologia gráfica que dispomos atualmente ampliou as

possibilidades de comunicar dados quantitativos usando outras estruturas e

formatos. As tabelas apresentam os dados por meio de quadros compostos de

células e podem assumir duas funções: organizar as informações como um passo

123

intermediário na criação de representações gráficas ou com um tipo de

representação de dados. (FRIEL, CURCIO, BRIGHT, 2001). A estrutura de tabelas

pode ser diretamente relacionada à estrutura de gráficos, portanto, no presente

trabalho trataremos da leitura e interpretação de gráficos e tabelas conjuntamente.

Para os (f) níveis de leitura, usaremos a definição apresentada por Curcio

(1989):

1. Leitura dos dados: esse nível de compreensão requer uma leitura

literal do gráfico ou dos fatos explicados no título ou nos eixos do

gráfico.

2. Leitura entre os dados: esse nível de compreensão inclui a

interpretação e integração dos dados no gráfico; inclui a comparação

de quantidades e o uso de outros conceitos matemáticos que permitem

ao leitor combinar e integrar dados e identificar relações matemáticas

expressas no gráfico; as inferências, quando necessárias, se dão a

partir dos dados explicitamente apresentados pelo gráfico.

3. Leitura além dos dados: esse nível de compreensão requer do leitor

prever ou inferir a partir dos dados em busca de informações que não

estão explicita ou implicitamente indicadas no gráfico; envolve

estimativa, investigação de padrões ou precisão; a inferência é feita

com base em um “banco de dados” na cabeça do leitor, não no gráfico.

Por (g) processos entendemos as ações que devem ser ativadas para

realizar a conexão com a situação problema e o conhecimento matemático. Para

essa variável, utilizaremos as categorias do PISA:

1. Reprodução: envolvem essencialmente a reprodução do

conhecimento aplicado; está associado a conhecimento de fatos e

representações comuns de problemas e a um desempenho de

procedimentos rotineiros.

2. Conexão: pressupõe a reunião de ideias para solucionar problemas

diretos; solução de problemas não rotineiros, mas que ainda envolvem

configurações conhecidas ou parcialmente conhecidas; algumas vezes

é necessário traduzir uma situação para a matemática.

3. Reflexão: está associado a um pensamento matemático mais amplo;

pressupõe uma capacidade de planejar estratégias para a resolução;

envolve argumentação, abstração e generalização.

124

Diante do exposto, além de classificar cada uma das questões associadas

à Estatística do ENEM em relação à competência e habilidade avaliada,

analisaremos o objeto de conhecimento abordado, o contexto envolvido, o tipo de

texto apresentado, o nível de leitura e a natureza do processo exigidos.

A seguir, apresentamos o quadro 9 que sintetiza as categorias utilizadas

na classificação.

Quadro 9 – Categorização das questões do ENEM

(a)

Competência de área

FONTE: INEP

6 - Interpretar informações de natureza científica e social obtidas da leitura de gráficos e tabelas, realizando previsão de tendência, extrapolação, interpolação e interpretação.

7 - Compreender o caráter aleatório e não-determinístico dos fenômenos naturais e sociais e utilizar instrumentos adequados para medidas, determinação de amostras e cálculos de probabilidade para interpretar informações de variáveis apresentadas em uma distribuição estatística.

(b)

Habilidades

FONTE: INEP

H24 - Utilizar informações expressas em gráficos ou tabelas para fazer inferências.

H25 - Resolver problema com dados apresentados em tabelas ou gráficos.

H26 - Analisar informações expressas em gráficos ou tabelas como recurso para a construção de argumentos.

H27 - Calcular medidas de tendência central ou de dispersão de um conjunto de dados expressos em uma tabela de frequências de dados agrupados (não em classes) ou em gráficos.

H28 - Resolver situação-problema que envolva conhecimentos de estatística e probabilidade.

H29 - Utilizar conhecimentos de estatística e probabilidade como recurso para a construção de argumentação.

H30 - Avaliar propostas de intervenção na realidade utilizando conhecimentos de estatística e probabilidade.

(c)

Objeto(s) do conhecimento

FONTE: INEP

Vide ANEXO D

125

(d)

Contexto

1. Pessoal: relacionada diretamente às suas atividades cotidianas.

2. Educacional/Ocupacional: situações que surgem na escola e no trabalho.

3. Público: temas relacionados à comunidade local ou sociedade.

(e)

Tipo de texto

1. Único: apresenta todos os dados relevantes à solução em um gráfico ou uma tabela.

2. Misto: os dados utilizados na solução estão, parte no gráfico ou tabela apresentado, parte no texto do enunciado.

3. Múltiplo: as informações de dois gráficos, duas tabelas ou de um gráfico e uma tabela precisam ser combinados.

(f)

Nível de leitura

1. Dos dados: leitura literal do gráfico ou dos fatos explicados no título ou nos eixos do gráfico.

2. Entre os dados: interpretação e integração dos dados no gráfico; inferências se dão a partir dos dados explicitamente apresentados pelo gráfico.

3. Além dos dados: previsão ou inferência a partir dos dados em busca de informações que não estão explicita ou implicitamente indicadas.

(g)

Processo

1. Reprodução: envolvem essencialmente a reprodução do conhecimento aplicado; está associado a conhecimento de fatos e representações comuns de problemas e a um desempenho de procedimentos rotineiros.

2. Conexão: pressupõe a reunião de ideias para solucionar problemas diretos; solução de problemas não rotineiros, mas que ainda envolvem configurações conhecidas ou parcialmente conhecidas; algumas vezes é necessário traduzir uma situação para a matemática.

3. Reflexão: está associado a um pensamento matemático mais amplo; pressupõe uma capacidade de planejar estratégias para a resolução; envolve argumentação, abstração e generalização.

Fonte: os autores

As duas primeiras categorias são aquelas utilizadas pelo ENEM para

classificar a questão e podem ser obtidas a partir do banco de dados disponibilizado

no site do INEP. A categoria objeto do conhecimento contempla itens da lista de

mesmo nome disponibilizada pelo INEP (ANEXO D). Na tentativa de caracterizar

padrões de questões, criou-se uma representação gráfica que abarca as demais

categorias, elaboradas a partir dos estudos realizados sobre o PISA e dos níveis de

leitura em Estatística (CURCIO, 1989). Cada uma das questões de Estatística foi

126

analisada de acordo com as sete categorias descritas de acordo com um protocolo,

apresentado a seguir.

4.2.2. Protocolo para complexidade das questões

A partir das categorias escolhidas, elaborou-se uma ficha de análise da

questão (APÊNDICE C). A fim de sintetizar as características principais de cada

questão, um gráfico em radar foi construído utilizando as variáveis: contexto, tipo de

texto, nível de leitura e processo. Para isso, consideramos os itens de cada uma

dessas variáveis como hierárquicos e associamos a eles um índice conforme

informado no quadro anterior. Observe alguns exemplos a título de explicação da

interpretação do gráfico no quadro 10:

QUADRO 10 – EXEMPLOS DA INTERPRETAÇÃO DO GRÁFICO

Exemplo a)

O gráfico ao lado mostra que a questão

apresenta um contexto público (3), em

um tipo de texto misto (2), que exige um

nível de leitura entre os dados (2) e

envolve um processo de conexão (2).

Exemplo b)

O gráfico ao lado mostra que a questão

apresenta um contexto pessoal (1), em

um tipo de texto múltiplo (3), que exige

um nível de leitura além dos dados (2) e

envolve um processo de conexão (2).

Fonte: os autores

A intenção do gráfico é apresentar uma caracterização visual da questão.

Entendemos que um gráfico na qual o quadrilátero possua menor área representa

127

uma complexidade menor do que o item cujo quadrilátero gerado apresenta maior

área.

Como objeto de investigação da competência dos alunos, analisaremos o

desempenho dos participantes nas questões referentes às competências 6 e 7 das

edições de 2012, 2013 e 2014 do ENEM. Acrescentaremos algumas questões

associadas a outras competências de áreas por entender que exigem um nível de

compreensão no sentido de análise de dados.

As fichas da análise realizada para cada questão encontram-se nos

APÊNDICES D (2012), E (2013) e F (2014), respectivamente.

128

CAPÍTULO 5 – RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os resultados tratados a seguir apresentam uma visão quali quantitativa

de um diverso conjunto de medidas composto de respostas de professores de

Matemática a um questionário e do desempenho dos alunos em questões de

Estatística do ENEM nas edições de 2012, 2013 e 2014.

5.1. OS PERFIS DOS PROFESSORES

Como já apresentado no capítulo sobre metodologia, na etapa de análise

dos resultados, o questionário aplicado aos 89 professores teve sua análise dividida

em quatro vertentes: variáveis censitárias qualificadoras da amostra; pergunta

aberta; questões de ordenação e escala Likert. Na intenção de compreender um

pouco mais sobre como pensam e agem esses professores, os dados obtidos em

cada uma dessas partes foram qualificados no sentido de buscar perfis. Como perfil

compreendemos descrições de caráter objetivos e subjetivos, buscando ressaltar

suas principais características e atitudes em relação ao ensino de Estatística.

Inicialmente, a partir das variáveis qualificadoras da amostra, revelaremos

o perfil censitário dos entrevistados que indica, dentre outros aspectos, a formação e

a fase profissional em que se encontram. Na sequência, por meio de uma análise de

conteúdo das respostas à pergunta aberta, trataremos dos perfis relacionados às

naturezas das ações didáticas que empregam em suas aulas de Estatística.

Buscaremos ainda, com base nas questões de ordenação, indicar perfis associados

aos pressupostos desses professores em relação a ensino, aprendizagem e

avaliação em Estatística. Por fim, as respostas dadas à escala Likert servirão de

base para discorreremos sobre perfis associados a pormenores da prática do ensino

de Estatística.

Ao examinar perfis buscamos compreender e caracterizar as práticas e

concepções sobre o ensino e a aprendizagem de Estatística dos docentes para

verificarmos afastamentos e aproximações das discussões atuais da Educação

Estatística dissertadas no referencial teórico. Vale ressaltar que nossa intenção não

é classificar ou rotular o grupo de professores participantes da pesquisa, mas sim

compreender de que forma é vista a Educação Estatística.

129

5.1.1. Perfis – Ánálise censitária

Os dados relacionados às variáveis censitárias da amostra foram

analisados e organizados no gráfico 1, apresentado a seguir.

Gráfico 1 – Perfil dos professores: frequência relativa das variáveis censitárias

PERFIL CENSITÁRIO DOS PROFESSORES

Fonte: os autores

Podemos observar uma leve predominância do sexo feminino (54 em 89)

dentre os docentes que responderam o questionário. A partir da distribuição das

idades dos professores, que revela uma concentração entre 34 e 50 anos, podemos

inferir que a maioria teve sua formação básica iniciada na década de 1980 – período

anterior às discussões sobre Educação Estatística no Brasil – a qual foi marcada

pela tendência tecnicista da Educação Matemática.

Em relação ao tempo de magistério, 52 dos 89 professores se encontra

na fase da diversificação (de 7 a 18 anos), caracterizada pela evidência de

diferentes posturas profissionais marcadas pelo percurso vivido pelos docentes

como, por exemplo, aqueles que buscam aperfeiçoamento profissional na área em

que atuam, os que assumem cargos de gestão escolar ou mesmo os que

apresentam uma redução do comprometimento com a profissão (HUBERMAN,

2000).

130

Os dados associados à formação dos docentes chamam a atenção, uma

vez que quase todos são licenciados em Matemática (82 de um total de 89). Os 7

professores que não cursaram Licenciatura em Matemática são licenciados em

Física, em Química ou ainda apresentam formação em Engenharia. Outro dado

interessante em relação à formação é que 27 dos 82 professores licenciados em

Matemática possuem outra formação, dentre as quais destacamos: bacharelado em

Matemática; Pedagogia; Licenciatura em Ciências, Física ou Química, Administração

e Engenharias. Quase 70% dos professores (58 de um total de 89) possuem uma

formação complementar, na maioria das vezes uma especialização. No grupo

observado temos ainda seis mestres e dois doutores.

5.1.2. Perfis – Ações didáticas

Com a finalidade de conhecer as práticas dos professores e confrontá-las

com as demais respostas dadas aos itens mais diretivos do questionário, solicitamos

que eles citassem três ações didáticas que considerassem importantes para

desenvolver os conceitos de Estatística. De um total de 89 professores, apenas

quatro não responderam à questão aberta, três apresentaram somente uma ação

didática e outros quatro descreveram duas práticas das três solicitadas.

Após a leitura flutuante e a marcação das palavras plenas, optamos por

considerar como unidade de informação51 o conjunto de ações didáticas apontadas

por cada um dos 85 professores, uma vez que em alguns casos elas se

completavam ou eram próximas a nível semântico. Cada unidade de informação

gerou uma ou mais unidades de registro52 no formato de temas que foram

reagrupadas de acordo com seus núcleos de sentido em 63 unidades de contexto53,

apresentadas em ordem alfabética no APÊNDICE G.

A partir do estudo minucioso do inventário das unidades de contexto

percebemos que as respostas dos professores abordavam aspectos de naturezas

diferentes relacionadas às suas ações didáticas. Alguns se detinham a elencar os

conteúdos que julgavam importantes de serem trabalhados, outros descreviam seus

51

. Item a ser submetido à análise de conteúdo. 52

Unidade de significação, corresponde ao segmento de conteúdo considerado como unidade de base; pode ser palavra, frase ou tema – frase composta, habitualmente um resumo. (BARDIN, 2011) 53

[...] unidade de compreensão para codificar a unidade de registro e corresponde ao segmento da mensagem cujas dimensões [...] são óptimas para que se possa compreender a significação exata da unidade de registro. (BARDIN, 2011, p. 100-101)

131

métodos de ensino, havia aqueles que destacavam os recursos didáticos que

utilizam ou elencavam os temas que costumam abordar quando ensinam Estatística.

Diante do exposto, antes de agrupar as categorias pelo seu significado e classificar

cada conjunto de respostas, introduzimos uma organização suplementar de quatro

grandes categorias: objeto do conhecimento (o que ensinam), metodologia (como

ensinam), recursos didáticos (com o que ensinam) e contextos (sobre o que

ensinam).

É importante ressaltar que os grandes temas não são excludentes e em

grande parte das respostas mais de um aspecto era abordado pelo professor. Há

desde professores que focaram na sua resposta apenas um dos aspectos como

aqueles que versaram sobre todos eles, conforme pode ser verificado na tabela 1.

Tabela 1 – Temas abordados (frequência absoluta)

TEMA(S) ABORDADO(S) Respostas

Somente objeto do conhecimento 19

Somente objeto do conhecimento e metodologia 16

Somente objeto do conhecimento, metodologia e recursos didáticos 13

Somente objeto do conhecimento e contextos 10

Somente objeto do conhecimento, metodologia e contextos 7

Somente objeto do conhecimento e recursos didáticos 4

Somente metodologia, recursos didáticos e contextos 4

Somente metodologia e recursos didáticos 2

Somente objeto do conhecimento, recursos didáticos e contextos 2

Somente metodologia 1

Somente contextos 1

Somente metodologia e contextos 1

Somente recursos didáticos 0

Somente recursos didáticos e contextos 0

Todos os temas 5

Não responderam 4

Total 89

Fonte: os autores

A figura 3 apresenta a distribuição das respostas dos professores por

meio de uma representação de conjuntos inspirada no diagrama de Venn.

132

Figura 3 – Representação da distribuição das repostas

Fonte: os autores

Após a definição das categorias em cada um dos grandes temas,

voltamos às 85 unidades de informação a fim de caracterizá-las. A cada unidade de

informação foi associada no mínimo uma e no máximo seis categorias.

Apresentaremos, a seguir, o resultado obtido para cada um dos temas.

5.1.2.1. Objetos do conhecimento

Optamos por usar o termo objeto do conhecimento conforme a

definição da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), documento em discussão

final que visa organização da Educação Básica em termos de competências e

habilidades essenciais que os alunos precisam desenvolver. Desse modo,

entendemos por objetos do conhecimento os conceitos, conteúdos e processos

pertinentes às habilidades relacionadas ao ensino de Estatística.

O tema objeto do conhecimento, abordado por 76 professores (85,4%

da amostra), é composto de 28 unidades de contexto, que após a análise dos

núcleos de sentido, foram organizados em 7 categorias conforme mostra o quadro

12.

133

Quadro 12 - Objetos do conhecimento - unidades de contexto e categorias

Tema: Objetos do conhecimento (o que ensinam)

Leitura e interpretação

Estudo e análise de tabelas e/ou gráficos

Leitura e interpretação de tabelas e/ou gráficos

Usar/ler tabelas e/ou gráficos

Extração de informações do gráfico

Conclusão a partir de um gráfico e/ou tabela

Estrutura de tabelas e gráficos

Construção de tabela e/ou gráficos

Tipos de gráficos

Marcar pontos no R2

Associar gráfico e tabela

Crescimento e decrescimento em gráficos

Aplicação

Resolução de situações problema ou exercícios

Elaboração de situação problema

Reconhecimento da importância e aplicação da Estatística no cotidiano

Etapas de uma pesquisa

Agrupamento de dados

Organização dos dados de uma pesquisa

Tratamento dos dados

Elaboração de gráficos para comunicar dados

Tabulação dos dados de uma pesquisa

Argumentação

Argumentação a partir dos dados de gráficos e/ou tabelas

Estatística como auxílio para tomada de decisão

Senso Crítico

Conceitos estatísticos

Média

Medidas estatísticas

Variações na interpretação decorrentes da amostra

Moda

Mediana

Relação com outros conceitos

matemáticos

Conceitos matemáticos relacionados (porcentagem, proporcionalidade, ordem de grandeza)

Conceitos de matemática (fração, manipulação numérica e algébrica)

Fonte: os autores

A categoria leitura e interpretação é composta das unidades de contexto

associadas à comunicação de ideias estatísticas apresentadas em tabelas e

gráficos. O conhecimento sobre os elementos e usos de diferentes representações

de dados caracteriza a categoria estrutura de tabelas e gráfico. Aplicação foi o

nome dado à categoria que apresenta ações didáticas que exigem dos alunos a

134

combinação e integração de dados na resolução de situações problema. Essas três

categorias são componentes necessários, mas não suficientes para o

desenvolvimento da literacia estatística, a qual exige ainda o entendimento de

conceitos, vocabulários, símbolos e probabilidade como medida de incerteza. (BEN-

ZVI; GARFIELD; 2004). Vale ressaltar que as questões do ENEM abordam objetos

do conhecimento mais complexos do que os citados com maior frequência pelos

professores.

A categoria etapas de uma pesquisa é constituída de ações que visam o

desenvolvimento da competência pensamento estatístico no sentido de

compreender o percurso de uma investigação estatística abordada no capítulo 3,

seção 3.4.1. Associada a essa mesma competência, apresenta-se a categoria

argumentação integrada por unidades temáticas que revelam a atenção do

professor com a compreensão e a utilização do contexto na interpretação dos

resultados de uma investigação estatística. Unidades temáticas associadas ao

entendimento das relações entre os dados do ponto de vista dos processos

estatísticos estão na categoria conceitos estatísticos, que revelam práticas

consoantes com a competência raciocínio estatístico no que concerne às medidas

estatísticas e amostras. A categoria relações com outros conceitos matemáticos

apresenta unidades temáticas que revelam o trabalho com conteúdos e técnicas de

cálculo que podem ser necessárias em Estatística.

O gráfico 2 apresenta a frequência das categorias associadas aos objetos

do conhecimento54. Dos 76 professores que trataram de conteúdos, conceitos e

processos nas suas respostas, 63% apontaram aspectos relacionados à leitura e

interpretação de gráficos e tabelas. Cerca de um terço, 25 professores, destacou o

trabalho com as etapas de uma pesquisa (32%), a mesma frequência com que

apareceu o estudo das estruturas de tabelas e gráficos (32%). Certamente a

abordagem dessas questões é importante para a formação dos estudantes, mas

avaliamos como básicos os objetos do conhecimento desenvolvidos pelos

entrevistados, uma vez que nosso escopo é o segmento do Ensino Médio. Apenas

17% dos professores ressaltaram aspectos relacionados à resolução de exercícios e

situações problema e 9% elencaram conceitos estatísticos relacionados a medidas

de tendência e interpretação de amostra. Apesar das respostas sobre os objetos do

54

Para o cálculo da frequência relativa usamos o total de professores que abordaram aspectos relacionados a objetos do conhecimento (76)

135

conhecimento terem sido espontâneas, é provável que os conceitos abordados

pelos docentes sejam bastante simples para as séries finais da Educação Básica.

Gráfico 2 – Objetos do conhecimento: frequências das categorias

OBJETOS DO CONHECIMENTO

Fonte: os autores

5.1.2.2. Metodologia

O tema metodologia, citado por 49 professores, é composto de 20

unidades de contexto, que após a análise dos núcleos de sentido, foram

organizados em 5 categorias conforme mostra o quadro 9. As categorias associadas

à didática dos professores foram criadas de modo a diferenciar a natureza das

ações desenvolvidas em sala de aula.

Unidades temáticas que evidenciam o papel do professor como detentor

do conhecimento foram reunidas na categoria aulas centradas no professor, que

contrapõe a proposição de atividades em que os alunos são protagonistas,

categoria que evidencia, dentre outros aspectos, a importância dos alunos

vivenciarem o processo de uma investigação estatística e a troca entre pares.

Reconhecemos que nessa categoria estão práticas de complexidades bastante

diferentes como a busca por gráficos e tabelas em jornais e revistas e a proposição

de campanhas publicitárias, mas entendemos que o fato do aluno ser o centro

dessas práticas as une.

0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70%

Conceitos estatísticos

Argumentação

Relação com outros conceitos…

Aplicação

Estrutura de tabelas e gráficos

Etapas de uma pesquisa

Leitura e interpretação

136

Quadro 12 – Metodologia: unidades de contexto e categorias

Tema: Metodologia (como ensinam)

Aulas centradas no professor

Aula expositiva

Aula mediada

Atividades individuais

Proposição de atividades em que os alunos são

protagonistas

Pesquisar (procurar) gráficos e tabelas

Atividades envolvendo levantamento de dados

Trabalho em grupo

Pesquisas

Pesquisas com temas escolhidos pelos alunos

Pesquisa de campo

Pesquisas sobre atualidades

Elaboração de projetos com dados estatísticos

Proposição de campanhas publicitárias

Requisitos básicos Partir do conhecimento/realidade dos alunos

Retomada dos conceitos básicos da matemática

Proposição de atividades de argumentação

Produção de texto

Atividades de debate e argumentação

Para além das aulas de Matemática

Oficinas

Atividades que envolvam a interdisciplinaridade

Atividades que envolvam a transdisciplinaridade

Didática inovadora

Fonte: os autores

A categoria requisitos básicos apresenta unidades temáticas que

apontam uma preocupação com conceitos matemáticos básicos na acepção de “pré-

requisito”, ou seja, a crença de que algumas técnicas de cálculo são necessárias

para aprender Estatística faz com que os professores investiguem o ponto de partida

não no sentido de uma avaliação diagnóstica e sim para adaptar o ensino ou

retomar os conteúdos que os alunos já deveriam dominar. Atividades que incentivam

os alunos a utilizar conhecimentos de estatística como recurso para enunciar,

conjecturar e debater ideias foram agrupadas na categoria proposição de

atividades de argumentação. A categoria para além das aulas de Matemática,

por sua vez, abrange ações que podem revelar a compreensão de que as aulas de

Estatística podem ir além dos conteúdos da disciplina escolar.

137

O gráfico 3 apresenta a frequência de cada uma das categorias nas

respostas dos professores que apontaram práticas metodológicas55.

Gráfico 3 – Metodologia: frequências das categorias

METODOLOGIA

Fonte: os autores

O discurso sobre a prática dos entrevistados sugere que os alunos

estão tendo a oportunidade de desenvolver o conhecimento estatístico por meio de

atividades em que assumem o papel de protagonistas, uma vez que ações desse

tipo foram apontadas por mais de 60% dos entrevistados que apresentaram suas

metodologias contra 14% que descreve práticas associadas a aulas centradas no

professor. Desse mesmo grupo, cerca de 20% mostraram uma preocupação com os

requisitos básicos o que pode indicar um tratamento mais matemático ao conteúdo

estatístico. O baixo índice de professores que relataram ações cujo foco seja a

argumentação (14%) e a relação com outros temas para além da sala de aula

sugere que as práticas, embora centradas nos alunos, não estão associadas

necessariamente ao desenvolvimento do senso crítico.

55

Para o cálculo da frequência relativa usamos o total de professores que abordaram aspectos relacionados a metodologia (49)

0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70%

Para além das aulas de Matemática

Aulas centradas no professor

Atividades de argumentação

Requisitos básicos

Protagonismo dos alunos

138

5.1.2.3. Recursos didáticos

O tema recursos didáticos, citado por 30 professores, é constituído de 9

unidades de contexto, que após a análise dos núcleos de sentido, foram

organizados em 4 categorias conforme mostra o quadro 14.

Quadro 14 – Recursos didáticos: unidades de contexto e categorias

Recursos didáticos (com o quê ensinam)

Meios de comunicação Jornais, revistas e/ou internet

Textos informativos com dados estatísticos

Recursos digitais e calculadora

Calculadora

Computador, uso de planilha eletrônica

Vídeos

Recursos da educação formal Livros didáticos

Questões de vestibular, ENEM

Objetos Materiais concretos

Materiais reciclados

Fonte: os autores.

A categoria meios de comunicação abrange ações didáticas que

centram a busca e a análise de tabelas, gráficos e textos em jornais, revistas e/ou

internet. Recursos digitais e calculadoras é a categoria composta de unidades

temáticas que ressaltam o uso da tecnologia nas aulas de Estatística. Livros

didáticos e exercícios compõem a categoria recursos da educação formal. A

categoria objetos foi criada para agrupar respostas genéricas sobre o uso de

materiais concretos ou reciclados.

As frequências de manifestação de cada uma das categorias no conjunto

das respostas sobre recursos didáticos podem ser vistas no gráfico56 4.

Podemos observar que os recursos didáticos mais lembrados pelos

entrevistados foram os meios de comunicação (60%) e a tecnologia (40%), resultado

que sugere uma preocupação dos docentes com a vivência do cotidiano dos alunos.

O fato de poucos professores terem elencado livros e exercícios (7%) não nos

permite afirmar que não o fazem, mas podemos inferir que os mesmos se sentem

inseguros sobre o conteúdo e busca fontes para além dos livros para suas aulas. No

entanto, conhecendo o baixo índice da proposição de resolução de problemas como

objeto do conhecimento conjecturamos que a Estatística não tem sido apresentada

56

Para o cálculo da frequência relativa usamos o total de professores que abordaram aspectos relacionados a recursos didáticos (30)

139

aos alunos na complexidade prevista para o Ensino Médio pelos documentos oficiais

e pelo ENEM.

Gráfico 4 – Recursos didáticos: frequências das categorias

RECURSOS DIDÁTICOS

Fonte: os autores

5.1.2.4. Contextos

O tema contextos, citado por 30 professores, é constituído de 6 unidades

de contexto, que após a análise dos núcleos de sentido, foram organizados em 3

categorias conforme mostra o quadro 14.

Quadro 14 – Contextos: unidades de contexto e categorias

Contextos (sobre o que ensinam)

Contexto pessoal

Altura, número do sapato, moradia, preferências de comida, bebida, esporte, estilo musical, notas escolares

Cotidiano, dia a dia, proximidade e interesse dos alunos

Contexto educacional/ ocupacional

Atualidades

Finanças, juros

Campanhas publicitárias, poder de influência

Contexto público Eleições, inflação, produtos, previsão do tempo

Fonte: os autores

Optamos por classificar o tema contexto com a mesma nomenclatura

utilizada para categorizar as questões do ENEM. A categoria o contexto pessoal

está associada a situações relacionadas diretamente às atividades cotidianas do

estudante. As unidades temáticas que revelam assuntos que surgem na escola e no

0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70%

Recursos da educação formal

Objetos

Recursos digitais e calculadora

Meios de comunicação

140

trabalho fazem parte da categoria contexto educacional/ocupacional. Os assuntos

coletivos, relacionados à comunidade local ou sociedade compõem a categoria

contexto público.

Apresentamos, no gráfico 5 os resultados obtidos considerando como

total o número de entrevistados cujas respostas revelam o contexto sobre o qual

trabalham Estatística57.

Gráfico 5 – Contextos: frequências das categorias

CONTEXTOS

Fonte: os autores

O resultado mostra o predomínio do trabalho com Estatística pautado em

contextos pessoais, 77% das respostas sobre esse tema estão associadas a

assuntos como altura, número de sapato, preferências e notas escolares. Apesar de

relevantes e próximos ao cotidiano dos alunos, esses temas são bastante simples e

dificilmente propiciam argumentação e tomada de decisão, habilidades esperadas

no contexto da competência estatística. Os contextos educacional/ocupacional e

público, que possuem um potencial maior no que diz respeito ao desenvolvimento do

senso crítico, aparecem apenas em 27% e 20% das respostas, respectivamente.

5.1.2.5. Análise das ações didáticas

Na intenção de compreender as ações didáticas dos entrevistados

realizamos uma análise de conteúdo das respostas dadas à pergunta aberta,

57

Para o cálculo da frequência relativa usamos o total de professores que abordaram aspectos relacionados a contextos (30)

0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90%

Contexto público

Contexto educacional/ ocupacional

Contexto pessoal

141

criamos categorias associadas a quatro grandes temas e examinamos suas

frequências.

Os resultados, quando considerados em conjunto, sugerem que a maior

parte dos professores planejam ações nas quais os estudantes são protagonistas e

propõem a vivência das etapas de uma pesquisa sobre temas pessoais desde a

coleta de dados até a construção de tabelas e gráficos. Além disso, a leitura e

interpretação de gráficos e tabelas, sobretudo daqueles publicados nos meios de

comunicação, são habilidades consideradas importantes para o grupo. Esse perfil,

apesar de adequado às discussões teóricas e análises de documentos oficiais da

Educação realizadas até aqui, sugere um tratamento bastante simplificado da

Estatística no Ensino Médio. Poucos são os professores que destacam o trabalho

com conceitos estatísticos – como média, mediana, moda e amostra – ou que

descrevem ações que propiciem a argumentação e tomada de decisões

relacionadas a contextos ocupacionais e públicos com base no conhecimento

estatístico. Podemos inferir que no Ensino Médio há pouco avanço em relação aos

conceitos estatísticos abordados no Ensino Fundamental.

5.1.3. Perfis – Questões de ordenação

As questões de ordenação solicitavam ao entrevistado assinalar o grau de

importância de cinco alternativas dentre um mesmo assunto: justificativa para o

ensino de Estatística (ENS), habilidades estatísticas (HAB) e questões adequadas

para avaliar o conhecimento dos alunos (QUE). Durante a análise dos resultados,

criamos três novas variáveis (ENS_O, HAB_O e QUE_O) considerando a magnitude

da média de modo a trabalhar com as alternativas ordenadas por grau de

importância, ou seja, em posições diferentes das apresentadas no instrumento de

pesquisa.

Para evitar a repetição e facilitar a interpretação, optamos por utilizar

palavras chave para cada uma das alternativas das variáveis ao invés da sentença

completa ou dos códigos.

Apresentaremos inicialmente os resultados da análise estatística

descritiva para cada uma das variáveis e, na sequência, a investigação realizada

sobre a correlação entre as mesmas, duas a duas. Os resultados completos estão

no APÊNDICE H.

142

5.1.3.1. A justificativa para o ensino de Estatística

A pergunta de número dois do questionário solicitava que os professores

ordenassem cinco frases que apresentavam justificativas para o ensino de

Estatística. O gráfico 6 retrata a média e o erro padrão da medida58, sendo

classificados os tópicos em ordem de graus de importância atribuídos pelos

professores para cada uma das alternativas.

Gráfico 6 – Justificativas para o ensino: média e erro padrão do grau de importância

JUSTIFICATIVAS PARA O ENSINO: MÉDIA E ERRO PADRÃO

Fonte: os autores

O desvio padrão dos valores associados aos graus de importância pouca

variabilidade no comportamento dos entrevistados. Para ilustrar a distribuição das

respostas, elaboramos o gráfico 7, de bolhas, no qual suas dimensões estão

atreladas à frequência absoluta, o eixo horizontal é composto das alternativas e o

58

Indicado pelo desvio padrão dividido pela raiz do número de respondentes ao questionário

143

eixo vertical das possíveis respostas (1 a 5). As cores vermelhas e azuis

representam, respectivamente, as respostas mais frequente e menos frequente para

cada uma das alternativas.

Os resultados indicam que o grupo de entrevistados confere maior

relevância ao fato da Estatística propiciar o desenvolvimento de habilidades

relacionadas de argumentação e senso crítico. A proximidade dos conceitos

estatísticos ao cotidiano de uma sociedade repleta de informações obteve um grau

de importância similar. A alternativa relacionada à Alfabetização Matemática foi a

que apresentou o menor grau de importância talvez pelo fato dos professores não

conhecerem o conceito ou não o associarem à Estatística.

Gráfico 7 – Justificativas para o ensino: distribuição das respostas

JUSTIFICATIVAS PARA O ENSINO: DISTRIBUIÇÕES DAS RESPOSTAS

Fonte: os autores

5.1.3.2. As habilidades estatísticas

A terceira pergunta do questionário os professores foram convidados a

ordenar cinco frases que apresentavam habilidades estatísticas importantes para

serem desenvolvidas pelos alunos.

O gráfico 8 retrata a média e o erro padrão dos graus de importância

atribuídos pelos professores para cada uma das alternativas. Assim como ocorreu

144

com a variável ensino, o desvio padrão nos mostra uma distribuição de respostas

considerável para cada alternativa.

Gráfico 8 – Habilidades: média e erro padrão

HABILIDADES: MÉDIA E ERRO PADRÃO

Fonte: os autores

O gráfico em bolhas 9 semelhante ao descrito anteriormente foi elaborado

na tentativa de compreender o conjunto de respostas dos professores.

A análise dos dados sinaliza um grau de importância extremamente alto

para a habilidade ler e interpretar informações apresentadas em gráficos e tabelas

em detrimento ao conhecimento relacionado ao cálculo de medidas estatísticas.

Esses resultados são coerentes com os obtidos na análise de conteúdo realizada a

partir das respostas dos professores sobre as ações didáticas que costumam adotar

no ensino de Estatística. Duas são as hipóteses para o fato dos resultados

apresentarem um grau de importância baixo associado à habilidade “fazer inferência

a partir de resultados estatísticos”: a primeira diz respeito ao desconhecimento do

termo por parte dos entrevistados; já a segunda sugere que os professores não

145

associam a operação analisar a veracidade de uma proposição por meio do estudo

de medidas estatísticas de um conjunto de dados. Isso significa dizer que não se

reconhece a importância da média, mediana e moda, por exemplo, para descrever,

interpretar, analisar e, se necessário, inferir informações.

Gráfico 9 – Habilidades: distribuições das respostas

HABILIDADES: DISTRIBUIÇÕES DAS RESPOSTAS

Fonte: os autores

5.1.3.3. As questões do ENEM para avaliar o conhecimento sobre Estatística

A última questão que envolvia a ordenação de alternativas apresentava

cinco questões do ENEM relacionadas à Estatística e solicitava que os professores

as numerassem de 1 a 5 de acordo com o grau de importância que conferissem a

cada uma delas. O gráfico 10 retrata a média e o desvio padrão dos graus de

importância atribuídos pelos professores para cada uma das questões.

As médias dos graus de importância ficaram muito próximas umas das

outras, indicando, talvez, que os professores não enxergavam muitas diferenças

entre os objetivos das questões apresentadas. Essa pequena separação entre os

grupos sugere que exista uma dificuldade por parte dos professores em associar as

estruturas mais teóricas do ensino de Estatística com a prática na resolução de uma

questão proposta.

146

Gráfico 10 – Questões: média e erro padrão

QUESTÕES: MÉDIA E ERRO PADRÃO

Fonte: os autores

Observemos o gráfico 11, de bolhas, associado à essa ordenação, na

busca de uma melhor compreensão dessa ordenação das questões.

A distribuição do gráfico em bolhas permite uma ampliação na análise do

conjunto dos dados. É possível observar, por exemplo, que as questões de

inferência e análise de informação obtiveram grau de importância máximo (5) com

maior frequência, o que indica a relevância dessas alternativas para os professores.

Os resultados das questões graus de relevância mais baixos merecem destaque,

uma vez que a alternativa com a menor média não foi aquela com resposta um mais

frequente. Uma análise cuidadosa indica que os professores consideraram menos

importante a questão que envolvia a leitura direta dos dados do que aquela que

esperava a resolução de um problema a partir de dados expressos em um gráfico.

147

Gráfico 11 – Questões: distribuições das respostas

QUESTÕES: DISTRIBUIÇÕES DAS RESPOSTAS

Fonte: os autores

5.1.3.4. Análise das questões de ordenação

O estudo dos dados referentes às questões de ordenação do instrumento

de pesquisa sugere que os entrevistados conhecem o teor dos referenciais teóricos

e das indicações dos documentos oficiais em relação ao ensino de Estatística. Às

afirmações relacionadas ao desenvolvimento da argumentação e do senso crítico

estão associados os maiores graus de importância nos assuntos ensino e

habilidades.

Ao examinarmos os graus de importância das questões em conjunto

percebemos algumas incoerências, como é o caso da leitura e interpretação de

representações de dados. Enquanto a habilidade “Ler e interpretar informações

apresentadas em tabelas, gráficos e infográficos” obteve a maior frequência de grau

cinco de importância, a questão do ENEM que exigia explicitamente essa habilidade

apresentou a menor frequência de grau um de importância, assim como a

justificativa do ensino de Estatística relacionada à Alfabetização matemática.

As incoerências nos resultados talvez sejam frutos da incompreensão

sobre alguns termos utilizados no questionário, como “Alfabetização matemática” e

“inferência”. Entretanto, gostaríamos de ressaltar o valor do diálogo entre os

referenciais teóricos da Educação e a prática em sala de aula. Por exemplo,

148

daqueles que consideram o desenvolvimento da argumentação e do senso crítico

como uma justificativa relevante para o ensino de Estatística, espera-se ações

didáticas que privilegiem momentos de investigação, de levantamento de hipóteses,

de confronto e debate não só a partir do que é explícito nos dados, mas também do

que é formulado com base no conhecimento estatístico que se tem.

5.1.4. Perfis – Escala Likert

Na tentativa de compreender as principais ideias dos professores sobre o

ensino de Estatística, foi solicitado que classificassem 30 afirmações de acordo com

o seu nível de concordância, usando uma escala Likert como a descrita

anteriormente. Antes de apresentar os perfis extraídos da análise fatorial dos dados,

faremos uma análise sobre o grau de concordância dos itens.

5.1.4.1. Níveis de concordância

Para examinar os níveis de concordância com os itens dispostos na

escala Likert, calculamos a média (�̅�) das respostas dos entrevistados para cada

um dos itens e os agrupamos com base nesse valor. Foram criados quatro grupos:

alto nível de concordância, nível parcial de concordância, nível parcial de

discordância e alto nível de discordância. Optamos por desconsiderar os itens que

obtiveram média próxima a 3 (2,5 ≤ �̅� < 3,5) por entender o expressa uma posição

intermediária, de indiferença.

Apenas uma afirmação apresentou alto nível de concordância, como

podemos ver no quadro 15, revelando a importância conferida pelos professores às

publicações dos meios de comunicação como recurso didático.

Quadro 15: Item com alto nível de concordância

Item com alto nível de concordância (�̅� ≥ 𝟒, 𝟓)

11. Dados de jornais, revistas e internet devem ser utilizados na construção de

gráficos e tabelas pelos alunos. (�̅� =4,72)

Fonte: os autores

O conjunto de itens que apresentam um nível parcial de concordância

(3,5 ≤ �̅� < 4,5), apresentados no quadro 16, sugere que os professores reconhecem

a relação da Estatística com outros conceitos matemáticos e destacam como objeto

do conhecimento mais relevante a tomada de decisão em situações do cotidiano em

contextos de natureza pessoal.

149

Quadro 16: Itens com nível parcial de concordância

Itens com nível parcial de concordância (𝟑, 𝟓 ≤ �̅� < 𝟒, 𝟓)

15. É necessário buscar a conexão de Estatística com os eixos do conhecimento.

(�̅� =4,44)

5. O ensino de Estatística deve ser adaptado à realidade dos alunos. (�̅� =4,37)

12. Os exemplos que os alunos trazem para as aulas são relevantes para o ensino

de Estatística. (�̅� =4,36)

21. A Estatística ajuda os alunos a tomarem decisões no seu dia a dia. (�̅� =4,32)

7. É necessário complementar as orientações de Estatística da rede estadual da

qual faço parte. (�̅� =4,28)

20. A produção de texto deve ser trabalhada nas aulas de Estatística como uma

forma de expressar os resultados de pesquisas. (�̅� =4,13)

28. É mais relevante aplicar Estatística em temas atuais do que aprofundar

conceitos estatísticos. (�̅� =4,03)

14. Toda informação em gráficos e tabelas pode ser utilizada nas aulas de

Estatística. (�̅� =3,97)

30. Perguntar a preferência dos alunos sobre algum tema é uma atividade chave do

trabalho com Estatística. (�̅� =3,91)

18. Os gráficos de jornais e revistas devem ser os mais utilizados em sala de aula.

(�̅� =3,88)

6. A principal função do ensino de Estatística é o desenvolvimento do senso crítico

dos alunos. (�̅� =3,81)

9. A principal função da Estatística é a compreensão de gráficos e tabelas

presentes no dia a dia. (�̅� =3,77)

1. Os alunos não precisam conhecer todas as fórmulas de Estatística. (�̅� =3,68)

27. A aprendizagem de Estatística não impede que os alunos sejam enganados por

pesquisas eleitorais. (�̅� =3,68)

Fonte: os autores

Em relação à metodologia, nota-se um cuidado com a adaptação do

ensino à realidade dos alunos e a importância conferida à leitura e à interpretação

de tabelas e gráficos e ao desenvolvimento da argumentação. Para isso os

professores usam recursos que vão além dos oferecidos pela rede estadual na qual

trabalham, como gráficos de jornais e revistas. As respostas revelam ainda o não

aprofundamento dos conceitos estatísticos.

Os itens do grupo de afirmações com níveis parciais de discordância,

apresentados no quadro 17, estão associados à organização e práticas de ensino.

Nota-se uma leve concordância em relação à necessidade de trabalhar conceitos

estatísticos frequentemente, assim como indicam as discussões atuais de Educação

150

Estatística. Além disso, os professores parecem concordar com o uso da tecnologia

para auxiliar os cálculos estatísticos.

Quadro 17: Itens com nível parcial de discordância

Itens com nível parcial de discordância (𝟐, 𝟓 ≤ �̅� < 𝟏, 𝟓)

2. Assuntos de Estatística não precisam ser abordados em todas as séries.

(�̅� =2,10)

17. É mais produtivo concentrar todos os conteúdos de Estatística em um bimestre

do ano do que distribuí-los ao longo do ano. (�̅� =1,90)

16. O uso da calculadora é prejudicial à aprendizagem dos conceitos de Estatística.

(�̅� =1,54)

Fonte: os autores

Os itens com maior nível de discordância, dispostos no quadro 18, estão

relacionados à fonte dos dados utilizados em sala de aula. O resultado, condizente

com os demais, sugere que os professores são favoráveis ao uso de dados

provenientes da internet e de infográficos de jornais e revistas.

Quadro 18: Itens com maior nível de discordância

Itens com maior nível de discordância (�̅� ≤ 𝟏, 𝟓)

24. A internet não é uma boa fonte de dados para o trabalho de Estatística em sala

de aula. (�̅� =1,50)

4. Infográficos de jornais e revistas não fazem parte do ensino de Estatística.

(�̅� =1,29)

Fonte: os autores

Analisando o conjunto das afirmações e seus níveis de concordância, é

possível inferir que os professores acreditam que um trabalho relacionado ao

cotidiano dos alunos, aplicado a situações com as quais os cidadãos se deparam, é

o mais indicado no Ensino Médio. É muito provável que os docentes que

participaram da pesquisa não dão ênfase aos métodos e processos estatísticos, que

conforme apresentado anteriormente, estão relacionados a um nível mais complexo

de literacia estatística e ao desenvolvimento do pensamento e dos raciocínios

estatísticos indicados para esse segmento de ensino.

5.1.4.2. Análise Fatorial

A busca pelo constructo associado ao perfil dos professores a partir do

nível de concordância com sentenças previamente elaboradas foi realizada por meio

151

da análise fatorial, técnica adequada à investigação de padrões e dimensões

latentes de variáveis. De acordo com a descrição detalhada das etapas do método

estatístico empregado, obtivemos cinco fatores entendidos aqui como conjuntos de

variáveis, no caso, os itens da escala Likert.

Ao primeiro fator estão associados os três itens a seguir:

26. Dominar vários conceitos matemáticos é fundamental para

compreender Estatística. (carga fatorial de 0,71738)

16. O uso da calculadora é prejudicial à aprendizagem dos conceitos de

Estatística (carga fatorial de 0,67289)

23. A principal função da Estatística é fornecer ferramentas para outros

conteúdos de Matemática e de outras disciplinas. (carga fatorial de

0,61313)

Em uma análise fatorial, o primeiro fator retido é o que mais explica o

conjunto de respostas, no caso 17,85% da variância encontrada. O conjunto de itens

descrito revela uma tendência mais tecnicista dos entrevistados para os quais,

aparentemente, a Estatística é vista ora como uma aplicação de conteúdos

matemáticos, ora como ferramenta para o desenvolvimento de outros conceitos.

Ensina-se Estatística para aprender Matemática.

O segundo fator explica 13,37% da variância encontrada e é composto

por dois itens, quais sejam:

21. A Estatística ajuda os alunos a tomarem decisões no seu dia a dia.

(carga fatorial de 0,83316)

20. A produção de texto deve ser trabalhada nas aulas de Estatística

como uma forma de expressar os resultados de pesquisas. (carga fatorial

de 0,75197)

Podemos associar esse fator a um ensino da Estatística que visa

desenvolvimento do senso crítico, os conceitos estatísticos subsidiam ações de

argumentação e de tomada de decisão dos alunos.

O terceiro fator é descrito por três itens da escala Likert:

30. Perguntar a preferência dos alunos sobre algum tema é uma atividade

chave do trabalho com Estatística. (carga fatorial de 0,74388)

29. O ensino de Estatística precisa estar associado ao uso do

computador. (carga fatorial de 0,5701)

152

4. Infográficos de jornais e revistas não fazem parte do ensino de

Estatística. (carga fatorial de -0,68425)

Esse fator, que explica 11,86% da variância encontrada, apresenta uma

visão mais utilitária e intuitiva da Estatística para a qual a constatação dos fatos é

mais relevante do que o trabalho com a resolução de situações-problema e a

inferência. Observa-se que a carga fatorial associada ao item 4 é negativa, o que

indica que os professores consideram que infográficos e revista fazem parte do

ensino de Estatística.

Dois itens estão associados ao quarto fator, que explica 10,13% da

variância encontrada.

11. Dados de jornais, revistas e internet devem ser utilizados na

construção de gráficos e tabelas pelos alunos. (carga fatorial de 0,72398)

9. A principal função da Estatística é a compreensão de gráficos e tabelas

presentes no dia a dia. (carga fatorial de 0,50094)

8. O recurso didático mais produtivo para o ensino de Estatística são os

projetos. (carga fatorial de -0,71601)

O quarto fator está associado a um ensino de Estatística focado

unicamente na leitura e interpretação de representações de dados. Ao negar o uso

de projetos, esse conjunto de itens revela um olhar mais superficial ao tema na

perspectiva da literacia, do pensamento e do raciocínio estatísticos.

O último fator é composto de dois itens:

10. O trabalho com Estatística deve ocorrer em todos os meses. (carga

fatorial de 0,86946)

17. É mais produtivo concentrar todos os conteúdos de Estatística em um

bimestre do ano do que distribuí-los ao longo do ano. (carga fatorial de

-0,60804)

Esse quinto fator, que explica 9,30% da variância encontrada, apresenta

aspectos relacionados à periodicidade do trabalho com a Estatística e revela uma

preocupação em trabalhar essa unidade temática em todos os períodos escolares,

seguindo as sugestões dos documentos educacionais oficiais.

5.1.5. Análise sobre os perfis

As diferentes metodologias que foram aplicadas a cada parte do

questionário sugerem que os entrevistados, professores de Matemática do Ensino

153

Médio, ensinam Estatística com o foco na leitura e interpretação dos dados

expressos em gráficos e tabelas publicados em meios de comunicação e, talvez por

isso, propõem situações de pesquisas para as quais o produto final é a produção de

um gráfico ou tabela.

Usando como referência os níveis de desenvolvimento das variáveis e

habilidades associadas à literacia estatística de Watson e Callingham (2003), as

ações didáticas apontadas pelos entrevistados na questão aberta se aproximam do

nível 3, nomeado pelos autores de inconsistente. Nesse nível o engajamento com o

contexto é seletivo, as habilidades matemáticas exigidas são simples ou pautadas

em procedimentos já conhecidos, ainda não há uso com compreensão dos conceitos

medidas estatísticas. Aparentemente os professores propõem aos alunos situações

de leitura dos dados e entre dados, denominações de Curcio (1989) para a

compreensão de informações explícitas ou combinadas dos dados apresentados,

deixando de lado propostas cuja leitura e interpretação permitam a identificação de

padrões de comportamento e a generalização buscando previsões ou inferências.

Apesar da importância da leitura e interpretação na competência estatística, a

literacia estatística pressupõe certo conhecimento dos conceitos estatísticos, algo

que a análise dos dados não revela.

Em relação à competência raciocínio estatístico, as ações didáticas

privilegiam parte do raciocínio sobre os dados e sobre a representação dos dados

na definição de Garfield e Gal (1999), excluindo a reflexão sobre medidas

estatísticas, sobre amostras e sobre associação.

Ainda que a vivência das etapas da pesquisa esteja associada ao

desenvolvimento do pensamento estatístico, não há sinais de que as ações didáticas

descritas privilegiam o caráter investigativo que envolve desde a elaboração da

problematização até o questionamento dos métodos de coleta, organização e

análise dos dados. Os resultados podem indicar que dos estudantes não está sendo

exigida a elaboração de pensamentos mais abstratos e complexos do que faziam no

Ensino Fundamental.

5.2. A COMPETÊNCIA ESTATÍSTICA DOS ALUNOS NO ENEM

A seguir, apresentaremos os resultados da análise do desempenho de

alunos concluintes do Ensino Médio em questões de natureza Estatística no ENEM

de acordo com a metodologia descrita. Nossa intenção será avaliar a competência

154

estatística apurada frente à competência estatística esperada de alunos ao final

desse segmento de ensino e, posteriormente, confrontar com a análise do discurso

sobre as práticas e concepções dos professores.

5.2.1. As questões de Estatística nas edições do ENEM

Para examinar a competência estatística dos alunos, conforme explicitado

anteriormente, analisamos o desempenho dos alunos nas questões relacionadas à

Estatística das edições de 2012, 2013 e 2014.

Inicialmente foram selecionadas as 32 questões categorizadas como

avaliadoras das competências 6 e 7 de Matemática de acordo com os arquivos

disponibilizados pelo INEP. A esse conjunto foram acrescentadas 4 questões

inicialmente associadas a outras competências e habilidades, mas que exigiam na

sua resolução a leitura e interpretação de dados expressos em gráficos e tabelas,

totalizando 36 questões.

A fim de caracterizar o desempenho dos alunos nas questões do ENEM

relacionadas à competência estatística, apresentaremos uma análise das questões

de agrupadas pelo ano de edição do ENEM.

5.2.1.1. ENEM 2012

Na edição de 2012, 10 questões estavam diretamente relacionadas à

competência estatística, de acordo com os microdados do exame. Optamos por

acrescentar uma questão referente à habilidade 20 (Interpretar gráfico cartesiano

que represente relações entre grandezas) no conjunto a ser analisado pelos motivos

já citados anteriormente. No gráfico 12 apresentamos uma síntese da distribuição

das questões pelas categorias utilizadas.

O número de questões da prova de 2012 do ENEM relacionadas ao eixo

Análise de Dados é significativo e a distribuição entre as competências de área é

equitativa (desconsiderando a questão 1, que pelos dados do INEP pertence à

competência de área 5). O mesmo não se pode dizer das habilidades dessas

competências, uma vez que nessa edição duas delas não estavam associadas às

questões (H24 e H29). A habilidade 25 foi avaliada por meio de quatro questões,

mostrando uma preocupação inerente ao exame relacionada à resolução de

problemas.

155

Gráfico 12: Caracterização das questões do ENEM 2012

CARACTERIZAÇÃO DAS QUESTÕES DO ENEM 2012

Frequência absoluta das categorias por variável

Fonte: os autores

Em relação ao contexto, grande parte das questões apresentou situações

que surgem na escola, trabalho e lazer não necessariamente relacionadas de modo

direto às atividades cotidianas do indivíduo. A leitura entre os dados foi a mais

exigida, seguida da leitura além dos dados. Isso revela a preocupação com a

necessidade de ser competente para além da simples busca pela informação, de

combinar e relacionar dados no estabelecimento de estratégias de resolução de

problemas. Por fim, notamos uma predominância na exigência de processos de

reflexão na resolução das questões. É preciso ressaltar que os exercícios rotineiros

que envolvem o uso de técnicas aparecem em menor número, processos mais

complexos são exigidos no exame que se propõe avaliar a competência matemática.

5.2.1.2. ENEM 2013

Na edição de 2013, 11 questões estavam diretamente relacionadas à

competência estatística, de acordo com os microdados do exame. Acrescentamos

duas questões no conjunto a ser analisado. A primeira questão (22) estava

associada originalmente à habilidade 5 (avaliar propostas de intervenção na

realidade utilizando conhecimentos numéricos) e apresentava dados relevantes na

resolução da situação-problema em uma tabela de dupla entrada. A segunda

questão (24) apresenta a relação entre a carga horária e o desempenho de alguns

156

países no Pisa por meio de um gráfico de dispersão e associada à habilidade 10

(identificar relações entre grandezas e unidades de medida)

A seguir apresentamos o gráfico 13 com a distribuição das questões de

2013 pelas categorias utilizadas.

Gráfico 13: Caracterização das questões do ENEM 2013

CARACTERIZAÇÃO DAS QUESTÕES DO ENEM 2013

Frequência absoluta das categorias por variável

Fonte: os autores

Na edição de 2013 do ENEM todas as habilidades relacionadas às

competências de área 6 e 7 são avaliadas. Mais uma vez notamos a força dada à

resolução de problemas no exame, uma vez que a habilidade 25 apareceu mais

vezes do que as demais habilidades. Em relação ao contexto, grande parte das

questões apresentou situações que surgem na escola, trabalho e lazer. Essa edição

não incluiu contextos pessoais nas questões de Estatística. Assim como na edição

de 2012, a leitura entre os dados foi a mais exigida, seguida da leitura além dos

dados. Por fim, notamos uma predominância na exigência de processos de conexão

na resolução das questões.

5.2.1.3. ENEM 2014

Na edição de 2014, assim como em 2012, de acordo com os microdados

do exame, 10 questões estavam diretamente relacionadas à competência

estatística. Optamos por acrescentar mais duas questões no conjunto a ser

analisado. A questão 26, referente à habilidade 20 (interpretar gráfico cartesiano que

157

represente relações entre grandezas), apresenta um gráfico em linha que relaciona

duas espécies de bactérias a suas respectivas quantidades no decorrer do tempo. A

questão 29, originalmente associada à habilidade 18 (avaliar propostas de

intervenção na realidade envolvendo variação de grandezas) exige do participante

relacionar dados de uma tabela simples e de uma lista. A distribuição das questões

pelas categorias utilizadas está representada no gráfico 14.

Gráfico 14: Caracterização das questões do ENEM 2014

CARACTERIZAÇÃO DAS QUESTÕES DO ENEM 2014

Frequência absoluta das categorias por variável

Fonte: os autores

É possível notar um equilíbrio entre as competências de área associadas

à Estatística. Assim como em 2013, a edição de 2014 avalia todas as habilidades

das competências de área 6 e 7, mais uma vez, a habilidade 25 (Resolver problema

com dados apresentados em tabelas ou gráficos) se revela como mais frequente.

Em relação ao contexto, há uma predominância por questões que apresentam

situações educacionais e/ou ocupacionais. A leitura entre os dados e além dos

dados foram as mais exigidas, mostrando uma tendência de esperar que os alunos

sejam capazes de ir além da simples leitura dos dados. Por último, percebemos,

assim como em 2012, uma força para os processos de reflexão na resolução das

questões de Estatística.

158

5.2.2. O desempenho dos alunos

Na sequência, examinaremos o desempenho de um grupo de

participantes do ENEM formado por estudantes concluintes do ensino médio em

escolas regulares no ano de aplicação do exame, com até 18 anos, que estiveram

presente em todas as provas e com a redação válida. A definição de escola pública

ou privada usada na análise refere-se à escola que o candidato frequentou no último

ano.

As categorias criadas para a análise de cada uma das questões descritas

na metodologia serão usadas como embasamento na investigação aprofundada

sobre o desempenho dos alunos em Estatística. Usaremos ainda, quando relevante,

a distribuição entre as alternativas assinaladas pelos alunos na intenção de

compreender seu raciocínio.

Para essa etapa da investigação optamos por manter apenas as questões

que apresentam como cerne objetos do conhecimento associados à Estatística no

sentido de análise de dados, resultando na exclusão de questões que abordam

probabilidade associada ao raciocínio combinatório da Contagem.

5.2.2.1. ENEM 2012

Na análise que segue, de acordo com o universo já descrito, avaliaremos

uma amostra de cerca de 960 mil alunos que realizaram a prova de 2012,

distribuídos em escolas cuja dependência administrativa está mostrada na tabela 2:

Tabela 2 – Total de alunos por dependência administrativa no exame de 2012

Dependência administrativa escolar

Número de participantes concluintes

Pública 706.721

Privada 253.211

Total 959.932

Fonte: INEP

É preciso ressaltar que não iremos olhar para as questões do ENEM por

meio da escala utilizada pela TRI, uma vez que somente a análise dos itens

associados à competência Estatística não permite que o façamos dessa forma. Os

números que seguem representam o índice de acertos em porcentagem.

Apontamos o desempenho dos alunos nas questões de Estatística da

prova de Matemática da edição de 2012 do ENEM por meio do gráfico 15.

159

Gráfico 15 – Desempenho dos alunos em estatística no ENEM 2012

DESEMPENHO DOS ALUNOS EM ESTATÍSTICA

NA PROVA DE MATEMÁTICA DO ENEM 2012

Média e desvio padrão do desempenho dos alunos

por dependência administrativa das escolas (em porcentagem)

Fonte: INEP

A média de acertos em Estatística na edição de 2012, tomado o universo

de análise com um todo, foi de 37,63%, com um desvio padrão de 19,81%. O

desempenho dos alunos oriundos das escolas públicas é ligeiramente inferior ao

desempenho geral, média 33,66% com desvio padrão de 17,48%, diferentemente do

desempenho dos concluintes das escolas privadas que apresentaram uma média de

acertos de 48,75% e desvio padrão de 26,29%.

Apesar do desempenho das escolas privadas ter sido superior ao das

escolas públicas, é preciso destacar que o desvio padrão desse tipo de escola é

alto, revelando que a maior parte dos alunos apresentou um desempenho nas

questões de Estatística entre 22,46% e 75,05%. Já o desempenho de grande parte

dos concluintes nas escolas públicas ficou entre 16,18% e 51,14%, resultado que

revela grande defasagem em relação ao que o exame espera que esses alunos

saibam sobre Estatística.

A seguir, apresentamos, nos quadros 19 a 28, a análise de cada uma das

questões selecionadas de Estatística organizadas pelas competências de área e

habilidades, e na sequência uma investigação sobre o desempenho dos alunos em

relação às variáveis observadas. Uma tabulação com todos os dados referentes ao

desempenho dos alunos por questão encontra-se no APÊNDICE I.

160

Questões da competência de área 6

Quadro 19 – Questão 1 Questão 1 – ENEM 2012 – número 136 (prova cinza) – H25

O dono de uma farmácia resolveu colocar à vista do público o gráfico mostrado a seguir, que apresenta a evolução do total de vendas (em reais) de certo medicamento ao longo do ano de 2011.

De acordo com o gráfico, os meses em que ocorreram, respectivamente, a maior e a menor venda absolutas em 2011 foram (A) março e abril. (B) março e agosto. (C) agosto e setembro. (D) junho e setembro. (E) junho e agosto. (alternativa correta)

Caracterização visual da questão

Desempenho dos alunos (em %)

Comentários: A questão 1 apresenta um nível de complexidade muito baixo tanto em relação ao processo envolvido, quanto ao nível de leitura. A nossa experiência com formação de professores nos permite afirmar que grande parte do trabalho com Estatística em relação à leitura de dados se assemelha a essa questão. O aluno precisa apenas fazer uma leitura dos dados para indicar o maior e o menor valor. Não observamos uma discrepância significativa entre o desempenho dos alunos nos diversos tipos de escola.

Fonte: os autores

161

Quadro 20 – Questão 3

Questão 3 – ENEM 2012 – número 140 (prova cinza) – H25

Uma pesquisa realizada por estudantes da Faculdade de Estatística mostra, em horas por dia, como os jovens entre 12 e 18 anos gastam seu tempo, tanto durante a semana (de segunda-feira a sexta-feira), como no fim de semana (sábado e domingo). A seguinte tabela ilustra os resultados da pesquisa.

De acordo com esta pesquisa, quantas horas de seu tempo gasta um jovem entre 12 e 18 anos, na semana inteira (de segunda-feira a domingo), nas atividades escolares? (A) 20 (B) 21 (C) 24 (D) 25 (E) 27 (alternativa correta)

Caracterização visual da questão

Desempenho dos alunos (em %)

Comentários: À questão pode ser associado um nível baixo de complexidade, uma vez que é necessário apenas ler os dados relacionados às atividades escolares e relacioná-los entre si na busca da resposta. Entretanto, o desempenho dos alunos não demonstra facilidade com a questão, talvez por não estarem habituados a resolver problemas nos quais os dados são retirados do gráfico para serem usados em uma estratégia estabelecida de resolução de problemas, como é o caso da questão. A maioria dos alunos que errou, cerca de 36%, foi atraído pela alternativa C, que apresenta a soma dos números em cada uma das colunas. Vale ressaltar ainda a discrepância entre o desempenho dos alunos de acordo com o tipo de escola.

Fonte: os autores

162

Quadro 21 – Questão 9

Questão 9 – ENEM 2012 – número 176 (prova cinza) – H25

Um laboratório realiza exames em que é possível observar a taxa de glicose de uma pessoa. Os resultados são analisados de acordo com o quadro a seguir.

Um paciente fez um exame de glicose nesse laboratório e comprovou que estava com hiperglicemia. Sua taxa de glicose era de 300 mg/dL. Seu médico prescreveu um tratamento em duas etapas. Na primeira etapa ele conseguiu reduzir sua taxa em 30% e na segunda etapa em 10%. Ao calcular sua taxa de glicose após as duas reduções, o paciente verificou que estava na categoria de (A) hipoglicemia. (B) normal. (C) pré-diabetes. (alternativa correta) (D) diabetes melito. (E) hiperglicemia.

Caracterização visual da questão

Desempenho dos alunos (em %)

Comentários: A questão 9 envolve uma complexidade média uma vez que é necessário relacionar informações entre o texto e a tabela e tomar decisões em relação à escolha da categoria mais adequada. Não se trata de um processo de resolver um cálculo e apontar o resultado, é necessário articular as informações. Menos da metade dos concluintes acertaram essa questão, o que nos mostra uma falha no ensino em relação ao trabalho com situações-problema que fujam do convencional nas salas de aula. O desempenho dos alunos da rede privada foi bastante superior ao desempenho dos alunos das redes públicas de ensino.

Fonte: os autores

163

Quadro 22 – Questão 10

Questão 10 – ENEM 2012 – número 178 (prova cinza) – H25

O gráfico fornece os valores das ações da empresa XPN, no período das 10 às 17 horas, num dia em que elas oscilaram acentuadamente em curtos intervalos de tempo. Neste dia, cinco investidores compraram e venderam o mesmo volume de ações, porém em horários diferentes, de acordo com a seguinte tabela.

Com relação ao capital adquirido na compra e venda das ações, qual investidor fez o melhor negócio? (A) 1 (alternativa correta) (B) 2 (C) 3 (D) 4 (E) 5

Caracterização visual da questão

Desempenho dos alunos (em %)

Comentários: O objeto de conhecimento associado a essa questão, operações em conjuntos numéricos, é bastante simples. Entretanto, o que torna o item mais complexo são o nível de leitura e o processo exigido. Uma vez que é preciso articular informações entre dois “textos” – gráfico e tabela – uma leitura para além dos dados se faz necessária para tomar uma decisão de compra. O contexto, apesar de educacional/ocupacional pode ter sido um complicador pelo tema ser distante da realidade de grande parte da nossa sociedade. O desempenho dos alunos das escolas privadas é bastante superior em relação aos alunos das demais escolas. A maior parte dos alunos que erraram, cerca de 37% assinalou a alternativa C, que mostra um reconhecimento do horário de pico do preço da ação, mas a falta da percepção da relação desse dado com o horário de compra na resolução do problema. Outros 30% dos que erraram assinalaram a alternativa D, que talvez indique uma inversão de pensamento, uma vez que essa resposta mostra a situação de compra no momento de alta e venda no momento de baixa.

Fonte: os autores

164

Quadro 23 – Questão 2

Questão 2 – ENEM 2012 – número 139 (prova cinza) – H26

O gráfico mostra a variação da extensão média de gelo marítimo, em milhões de quilômetros quadrados, comparando dados dos anos 1995, 1998, 2000, 2005 e 2007. Os dados correspondem aos meses de junho a setembro. O Ártico começa a recobrar o gelo quando termina o verão, em meados de setembro. O gelo do mar atua como o sistema de resfriamento da Terra, refletindo quase toda a luz solar de volta ao espaço. Águas de oceanos escuros, por sua vez, absorvem a luz solar e reforçam o aquecimento do Ártico, ocasionando derretimento crescente do gelo.

Com base no gráfico e nas informações do texto, é possível inferir que houve maior aquecimento global em (A) 1995. (B) 1998. (C) 2000. (D) 2005. (E) 2007. (alternativa correta)

Caracterização visual da questão

Desempenho dos alunos (em %)

Comentários: Essa questão apresenta um contexto público explicado pelo enunciado. Apesar de todos os dados necessários para resolver o problema estarem no gráfico, é preciso coordenar as informações entre os dados apresentados. Cerca de 20% do total de alunos foram atraídos pela alternativa B e 12% pela alternativa A, talvez por terem entendido que uma maior extensão de gelo no início do período significasse um maior aquecimento global. Nota-se uma discrepância significativa entre as escolas públicas e as escolas privadas. Aparentemente questões com essa complexidade não são trabalhadas da mesma forma nos diferentes tipos de escola.

Fonte: os autores

165

Quadro 24 – Questão 11

Questão 11 – ENEM 2012 – número 179 (prova cinza) – H26

A figura a seguir apresenta dois gráficos com informações sobre as reclamações diárias recebidas e resolvidas pelo Setor de Atendimento ao Cliente (SAC) de uma empresa, em uma dada semana. O gráfico de linha tracejada informa o número de reclamações recebidas no dia, o de linha contínua é o número de reclamações resolvidas no dia. As reclamações podem ser resolvidas no mesmo dia ou demorarem mais de um dia para serem resolvidas. O gerente de atendimento deseja identificar os dias da semana em que o nível de eficiência pode ser considerado muito bom, ou seja, os dias em que o

número de reclamações resolvidas excede o número de reclamações recebidas. Disponível em: http://blog.bibliotecaunix.org. Acesso em: 21 jan. 2012 (adaptado).

O gerente de atendimento pôde concluir, baseado no conceito de eficiência utilizado na empresa e nas informações do gráfico, que o nível de eficiência foi muito bom na (A) segunda e na terça-feira. (B) terça e na quarta-feira. (alternativa correta) (C) terça e na quinta-feira. (D) quinta-feira, no sábado e no domingo. (E) segunda, na quinta e na sexta-feira.

Caracterização visual da questão

Desempenho dos alunos (em %)

Comentários: A questão 11 está associada ao objeto de conhecimento representação e análise dos dados, não sendo necessário nenhum tipo de cálculo. Espera-se que o aluno seja capaz de analisar e refletir sobre as informações na busca da resposta. Menos da metade dos alunos foi capaz de resolver adequadamente essa questão. A maior parte dos alunos que erraram (46%) assinalou a alternativa C, talvez por tenham sido atraídos pela diminuição do número de reclamações que o gráfico aponta após os dias da semana indicados, revelando uma incapacidade de realizar uma leitura entre os dados, uma vez que é necessário articular o comportamento das duas linhas (cheia e tracejada) apresentadas no gráfico. Vale ressaltar ainda a discrepância entre o desempenho de alunos oriundos de diferentes tipos de escolas.

Fonte: os autores

166

Questões da competência de área 7

Quadro 25 – Questão 5 Questão 5 – ENEM 2012 – número 157 (prova cinza) – H27

Um produtor de café irrigado em Minas Gerais recebeu um relatório de consultoria estatística, constando, entre outras informações, o desvio padrão das produções de uma safra dos talhões de sua propriedade. Os talhões têm a mesma área de 30 000 m² e o valor obtido para o desvio padrão foi de 90 kg/talhão. O produtor deve apresentar as informações sobre a produção e a variância dessas produções em sacas de 60 kg por hectare (10 000 m²). A variância das produções dos talhões expressa em (sacas/hectare)² é: (A) 20,25. (B) 4,50. (C) 0,71. (D) 0,50. (E) 0,25. (alternativa correta)

Caracterização visual da questão

Desempenho dos alunos (em %)

Comentários: Dentre as questões de Estatística de 2012, essa foi a questão com menor índice de acertos independentemente do tipo de escola. Além de o processo exigido ser bastante complexo, desvio padrão e variância não costumam ser trabalhados no Ensino Médio brasileiro. Atribuímos o resultado a esse fato.

Fonte: os autores

167

Quadro 26 – Questão 7

Questão 7 – ENEM 2012 – número 160 (prova cinza) – H27

(ENEM 2012) O gráfico apresenta o comportamento de emprego formal surgido, segundo o CAGED, no período de janeiro de 2010 a outubro de 2010.

Com base no gráfico, o valor da parte inteira da mediana dos empregos formais surgidos no período é (A) 212 952. (B) 229 913. (alternativa correta) (C) 240 621. (D) 255 496. (E) 298 041.

Caracterização visual da questão

Desempenho dos alunos (em %)

Comentários: A questão 7 avalia o conceito e o cálculo de mediana de um conjunto de dados expressos em um gráfico. Consideramos que a questão envolve um processo de reprodução porque para a sua solução era necessário apenas encontrar a mediana de um conjunto de dados explícitos no gráfico. Apenas 15% dos alunos, aproximadamente, foram capazes de ordenar os números apresentados para determinar a medida de tendência solicitada. Chama bastante a atenção o fato de cerca de metade dos alunos terem assinalado as respostas A (19%) e E (30%) que indicam os valores localizados na região do meio do gráfico. Uma hipótese é de que os alunos conhecem pouco o conceito de mediana e estão habituados a resolver exercícios nos quais conjuntos de dados estão expressos em rol ou em tabelas.

Fonte: os autores

168

Quadro 27 – Questão 4

Questão 4 – ENEM 2012 – número 156 (prova cinza) – H28

Em um blog de variedades, músicas, mantras e informações diversas, foram postados “Contos de Halloween”. Após a leitura, os visitantes poderiam opinar, assinalando suas reações em: “Divertido”, “Assustador” ou “Chato”. Ao final de uma semana, o blog registrou que 500 visitantes distintos acessaram esta postagem. O gráfico a seguir apresenta o resultado da enquete. O administrador do blog irá sortear um livro entre os visitantes que opinaram na postagem “Contos de Halloween”. Sabendo que nenhum visitante votou mais de uma vez, a probabilidade de uma pessoa escolhida ao acaso entre as que opinaram ter assinalado que o conto “Contos de Halloween” é “Chato” é mais aproximada por (A) 0,09. (B) 0,12. (C) 0,14. (D) 0,15. (alternativa correta) (E) 0,18.

Caracterização visual da questão

Desempenho dos alunos (em %)

Comentários: Nessa questão, os alunos precisavam utilizar intuitivamente o conceito de probabilidade condicional para encontrar a solução do problema. Observa-se que era necessário articular as informações entre o texto e o gráfico e realizar uma leitura para além dos dados, uma vez que é necessário calcular a probabilidade em relação apenas ao total dos que opinaram. Chama a atenção o fato de cerca de metade dos participantes (52%) terem assinalado a alternativa B, o que revela uma leitura direta da porcentagem dos entrevistados que responderam que o conto era “chato”. A nosso ver, esse resultado revela que os alunos estão habituados a resolver questões mais diretas e simples de Estatística.

Fonte: os autores

169

Quadro 28 – Questão 8

Questão 8 – ENEM 2012 – número 175 (prova cinza) – H29

A tabela a seguir mostra a evolução da receita bruta anual nos três últimos anos de cinco microempresas (ME) que se encontram à venda.

Um investidor deseja comprar duas das empresas listadas na tabela. Para tal, ele calcula a média da receita bruta anual dos últimos três anos (de 2009 até 2011) e escolhe as duas empresas de maior média anual. As empresas que este investidor escolhe comprar são (A) Balas W e Pizzaria Y. (B) Chocolates X e Tecelagem Z. (C) Pizzaria Y e Alfinetes V. (D) Pizzaria Y e Chocolates X. (alternativa correta) (E) Tecelagem Z e Alfinetes V.

Caracterização visual da questão

Desempenho dos alunos (em %)

Comentários: A questão 8 exige um processo de tomada de decisão a partir da análise dos dados e por isso, foi classificada como uma questão de reflexão. Um pouco mais da metade dos alunos (51%) foi capaz de relacionar os dados de cada uma das microempresas para decidir qual compra seria mais vantajosa para o investidor. Vale ressaltar, entretanto, a discrepância entre os resultados das escolas públicas e privadas.

Fonte: os autores

170

5.2.2.2. ENEM 2013

Na análise que segue, de acordo com o universo já descrito, foram

analisados os desempenhos de cerca de 1 milhão e 44 mil estudantes, que

realizaram o ENEM em 2013, distribuídos em escolas regulares cuja dependência

administrativa está mostrada na tabela 31.

Tabela 3 – Total de alunos por dependência administrativa no exame de 2013

Dependência administrativa escolar

Número de participantes concluintes

Pública 778.008

Privada 266.291

Total 1.044.299

Fonte: INEP

Apresentamos o desempenho dos alunos nas questões de Estatística da

prova de Matemática da edição de 2013 do ENEM por meio do gráfico 16 que

segue.

Gráfico 16 – Desempenho dos alunos em estatística no ENEM 2013

DESEMPENHO DOS ALUNOS EM ESTATÍSTICA

NA PROVA DE MATEMÁTICA DO ENEM 2013

Média e desvio padrão do desempenho dos alunos

por dependência administrativa das escolas (em porcentagem)

Fonte: INEP

A média de acertos em Estatística, tomado o universo de análise com um

todo, está em 35,4%, com um desvio padrão de 15,27%. O desempenho dos alunos

oriundos das escolas públicas é ligeiramente inferior ao desempenho geral, média

32,38% com desvio padrão de 13,21%, diferentemente do desempenho dos

171

concluintes das escolas privadas que apresentaram uma média de acertos de

44,10% e desvio padrão de 21,27%.

Apesar do desempenho das escolas privadas ter sido superior ao das

escolas públicas, é preciso destacar que o desvio padrão desse tipo de escola é

alto, medida que revela que a maior parte dos alunos apresentou um desempenho

nas questões de Estatística entre 22,81% e 65,35%. Já o desempenho de grande

parte dos concluintes nas escolas públicas está entre 19,17% e 45,59%.

Isso posto, é possível afirmar que tanto os concluintes oriundos das

escolas públicas quanto os que se formaram nas escolas privadas apresentaram um

desempenho insatisfatório em Estatística nessa edição do exame.

A fim de aprofundar a análise na tentativa de elucidar a competência

estatística dos estudantes concluintes que participaram do ENEM 2013,

examinaremos separadamente cada uma das questões selecionadas nos quadros

29 a 38. Nossa intenção é compreender o que estava envolvido na resolução do

item, quais conhecimentos e habilidades era preciso mobilizar e o índice de acerto

apresentado por tipo de escola. Usaremos ainda, quando necessário, a distribuição

entre as alternativas assinaladas pelos alunos na intenção de compreender seu

raciocínio.

Uma tabulação com todos os dados referentes ao desempenho dos

alunos por questão encontra-se no APÊNDICE J.

172

Questões da competência de área 6

Quadro 29 – Questão 14 Questão 14 – ENEM 2013 – número 141 (prova cinza) – H24

As projeções para a produção de arroz no período de 2012 - 2021, em uma determinada região produtora, apontam para uma perspectiva de crescimento constante da produção anual. O quadro apresenta a quantidade de arroz, em toneladas, que será produzida nos primeiros anos desse período, de acordo com essa projeção.

A quantidade total de arroz, em toneladas, que deverá ser produzida no período de 2012 a 2021 será de (A) 497,25. (B) 500,85. (C) 502,87. (D) 558,75. (alternativa correta) (E) 563,25.

Caracterização visual da questão

Desempenho dos alunos (em %)

Comentários: Essa questão pode ser resolvida utilizando a regularidade da sequência de dados apresentados ou calculando a soma de todos os valores sem se ater aos conceitos de progressão aritmética. O nível de complexidade desse item não é alto, uma vez que os dados necessários para inferir a sequência de valores estão explícitos na tabela. Diante disso, os resultados sugerem que grande parte dos alunos não percebeu a regularidade nos valores que permitem prever as próximas previsões. Nota-se uma discrepância no desempenho dos alunos oriundos dos diferentes tipos de escola.

Fonte: os autores

173

Quadro 30 – Questão 12

Questão 12 – ENEM 2013 – número 136 (prova cinza) – H25

A cidade de Guarulhos (SP) tem o 8º PIB municipal do Brasil, além do maior aeroporto da América do Sul. Em proporção, possui a economia que mais cresce em indústrias, conforme mostra o gráfico. Analisando os dados percentuais do gráfico, qual a diferença entre o maior e o menor centro em crescimento no polo das indústrias?

(A) 75,28 (B) 64,09 (C) 56,95(alternativa correta) (D) 45,76 (E) 30,07

Caracterização visual da questão

Desempenho dos alunos (em %)

Comentários: Dentre todas as questões analisadas na edição de 2013 do ENEM, essa foi a que apresentou o maior índice de acertos. Tratava-se de uma questão simples, na qual os alunos precisavam encontrar o maior e o menor valor apresentado no gráfico e calcular sua diferença. O desempenho dos alunos das escolas públicas é preocupante, uma vez que apenas 66,36% identificou as variáveis necessárias e realizou a operação corretamente.

Fonte: os autores

174

Quadro 31 – Questão 17

Questão 17 – ENEM 2013 – número 162 (prova cinza) – H25

Cinco empresas de gêneros alimentícios encontram-se à venda. Um empresário, almejando ampliar os seus investimentos, deseja comprar uma dessas empresas. Para escolher qual delas irá comprar, analisa o lucro (em milhões de reais) de cada uma delas, em função de seus tempos (em anos) de existência, decidindo comprar a empresa que apresente o maior lucro médio anual. O quadro apresenta o lucro (em milhões de reais) acumulado ao longo do tempo (em anos) de existência de cada empresa.

O empresário decidiu comprar a empresa (A) F. (B) G. (alternativa correta) (C) H. (D) M. (E) P.

Caracterização visual da questão

Desempenho dos alunos (em %)

Comentários: Nessa questão era necessário calcular a média de lucro anual e compará-los, observando que cada empresa apresentava o lucro de um período de tempo diferente. Menos da metade dos alunos de escola pública, aproximadamente 36%, foi capaz de resolver a proposta que não exigia nenhum nível de raciocínio complexo. Chama a atenção ainda o ato da alternativa C ter atraído cerca de 27% do total de alunos, uma vez que o resultado apresentado sugere o foco foi apenas nos valores do lucro, independentemente do tempo observado. Outra parcela considerável de alunos, cerca de 16% do total, assinalaram a alternativa D talvez atraídos pelo menor tempo apresentado pela tabela.

Fonte: os autores

175

Quadro 32 – Questão 18

Questão 18 – ENEM 2013 – número 163 (prova cinza) – H25

Deseja-se postar cartas não comerciais, sendo duas de 100 g, três de 200 g e uma de 350 g. O gráfico mostra o custo para enviar uma carta não comercial pelos Correios:

O valor total gasto, em reais, para postar essas cartas é de (A) 8,35. (B) 12,50. (C) 14,40. (D) 15,35. (alternativa correta) (E) 18,05.

Caracterização visual da questão

Desempenho dos alunos (em %)

Comentários: Cerca de metade dos alunos foi capaz de selecionar os dados relevantes do gráfico para calcular o preço do serviço indicado no enunciado da questão. A maior parte dos alunos que erraram, cerca de 17% do total, assinalou a alternativa A, revelando ter somado os valores das cartas indicadas sem se ater à quantidade de cada item. Vale ressaltar ainda que era necessário conhecer a notação de intervalo usada no gráfico, fato desconhecido por cerca de 9% dos alunos que assumiram o outro extremo do segmento (intervalo aberto) como o preço dos itens. Mais uma vez notamos uma discrepância entre o desempenho dos alunos oriundos de escolhas de instâncias administrativas diferentes.

Fonte: os autores

176

Quadro 33 – Questão 23 Questão 23 – ENEM 2013 – número 176 (prova cinza) – H26

O índice de eficiência utilizado por um produtor de leite para qualificar suas vacas é dado pelo produto do tempo de lactação (em dias) pela produção média diária de leite (em kg), dividido pelo intervalo entre partos (em meses). Para esse produtor, a vaca é qualificada como eficiente quando esse índice é, no mínimo, 281 quilogramas por mês, mantendo sempre as mesmas condições de manejo (alimentação, vacinação e outros). Na comparação de duas ou mais vacas, a mais eficiente é a que tem maior índice. A tabela apresenta os dados coletados de cinco vacas:

Após a análise dos dados, o produtor avaliou que a vaca mais eficiente é a (A) Malhada. (B) Mamona. (C) Maravilha. (D) Mateira. (alternativa correta) (E) Mimosa.

Caracterização visual da questão

Desempenho dos alunos (em %)

Comentários: A questão 23 envolvia um raciocínio complexo, uma vez que exigia que os alunos relacionassem os dados entre si e criassem uma estratégia para resolver a situação-problema. Apenas 21% dos alunos foram capazes de entender a relação entre o tempo de lactação, a produção diária de leite e o intervalo entre partos, apesar dela estar explícita no texto do enunciado. Praticamente a mesma parcela dos alunos, 20%, assinalou a alternativa A, que indicava a vaca com maior tempo de lactação. A maior arte dos alunos, cerca de 35% do total, assinalou a alternativa C que apresenta o nome da vaca com maior produção diária, indicando talvez que a escolha da resposta do animal se deu a partir do senso comum de que a vaca mais eficiente é aquela que produz mais, sem estabelecer relação com as demais variáveis apresentadas.

Fonte: os autores

177

Quadro 34 – Questão 24

Questão 24 – ENEM 2013 – número 180 (prova cinza) – H26

Uma falsa relação O cruzamento da quantidade de horas estudadas com o desempenho no Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa) mostra que mais tempo na escola não é garantia de nota acima da média. Dos países com notas abaixo da média nesse exame, aquele que apresenta maior quantidade de horas de estudo é (A) Finlândia. (B) Holanda. (C) Israel. (alternativa correta) (D) México. (E) Rússia.

Obs.: a questão, de acordo com os microdados do ENEM, estava associada à habilidade 10 (identificar relações entre grandezas e unidades de medida.).

Caracterização visual da questão

Desempenho dos alunos (em %)

Comentários: Os microdados do ENEM associam essa questão à competência de área 3, construir noções de grandezas e medidas para a compreensão da realidade e a solução de problemas do cotidiano. Entretanto, resolvemos por considera-la no nosso conjunto de questões por entender que a interpretação dos dados expressos no gráfico é intrínseca à resolução do item. A representação gráfica apresentada se assemelha a um gráfico de dispersão no qual indica-se a relação entre duas variáveis. Classificamos a questão como sendo de reprodução por entender que não é necessário combinar ideias de matemática, traduzir uma situação para a linguagem matemática ou realizar inferências. Era necessário apenas entender o papel dos eixos na representação dos dados apresentados.

Fonte: os autores

178

Questões da competência de área 7

Quadro 35 – Questão 16 Questão 16 – ENEM 2013 – número 145 (prova cinza) – H27

As notas de um professor que participou de um processo seletivo, em que a banca avaliadora era composta por cinco membros, são apresentadas no gráfico. Sabe-se que cada membro da banca atribuiu duas notas ao professor, uma relativa aos conhecimentos específicos da área de atuação e outra, aos conhecimentos pedagógicos, e que a média final do professor foi dada pela média aritmética de todas as notas atribuídas pela banca avaliadora.

Utilizando um novo critério, essa banca avaliadora resolveu descartar a maior e a menor notas atribuídas ao professor. A nova média, em relação à média anterior, é (A) 0,25 ponto maior. (B) 1,00 ponto maior. (alternativa correta) (C) 1,00 ponto menor. (D) 1,25 ponto maior. (E) 2,00 pontos menor.

Caracterização visual da questão

Desempenho dos alunos (em %)

Comentários: Poucos foram os alunos capazes de entender a variação na média de um conjunto de dados ao retirarmos dele alguns valores, cerca de 26%. Aproximadamente 24% dos indivíduos considerados na análise assinalaram a alternativa D, indicando que subtraíram as notas mais baixa e mais alta do total, mas não as descontaram do número de elementos da amostra. Praticamente a mesma parcela de alunos, 23%, subtraíram 18 pontos do total, a diferença entre a maior e a menor nota. O baixo desempenho sugere que os alunos não estão habituados a raciocinar sobre o papel de cada valor no cálculo e principalmente na interpretação da média de um conjunto de dados.

Fonte: os autores

179

Quadro 36 – Questão 19

Questão 19 – ENEM 2013 – número 164 (prova cinza) – H27

Foi realizado um levantamento nos 200 hotéis de uma cidade, no qual foram anotados os valores, em reais, das diárias para um quarto padrão de casal e a quantidade de hotéis para cada valor da diária. Os valores das diárias foram: A = R$ 200,00; B = R$ 300,00; C = R$ 400,00 e D = R$ 600,00. No gráfico, as áreas representam as quantidades de hotéis pesquisados, em porcentagem, para cada valor da diária.

O valor mediano da diária, em reais, para o quarto padrão de casal nessa cidade, é (A) 300,00. (B) 345,00. (C) 350,00. (alternativa correta) (D) 375,00. (E) 400,00.

Caracterização visual da questão

Desempenho dos alunos (em %)

Comentários: Entendemos que a questão 19 exigia um nível de leitura além dos dados devido ao fato de que para resolvê-la era necessário não somente buscar informações não indicadas no gráfico (preço das diárias) como articulá-las entre si. Apenas 23% dos alunos, aproximadamente, foram capazes de calcular a mediana de dados expressos em frequência relativa em um gráfico em setor. Cerca de 26% calculou uma média direta dos valores das diárias sem considerar a distribuição apresentada no gráfico. Outros 17% calcularam a média ao invés da mediana. Vale ressaltar que o desempenho dos alunos das escolas privadas foi bastante semelhante ao desempenho dos alunos das escolas públicas. Essa questão vai além da literacia estatística, exige a mobilização do raciocínio estatístico e talvez esse fato explique o resultado observado.

Fonte: os autores

180

Quadro 37 – Questão 13

Questão 13 – ENEM 2013 – número 138 (prova cinza) – H28

Uma loja acompanhou o número de compradores de dois produtos, A e B, durante os meses de janeiro, fevereiro e março de 2012. Com isso, obteve este gráfico:

A loja sorteará um brinde entre os compradores do produto A e outro brinde entre os compradores do produto B. Qual a probabilidade de que os dois sorteados tenham feito suas compras em fevereiro de 2012?

(A) 1

20 (alternativa correta)

(B) 3

242

(C) 5

22

(D) 6

25

(E) 7

15

Caracterização visual da questão

Desempenho dos alunos (em %)

Comentários: Para resolver essa questão, além de selecionar e interpretar conjuntamente os dados relevantes, os alunos precisavam aplicar conceitos de probabilidade condicional. Cerca de 27% dos alunos demonstraram corretamente a noção desse conceito ao aplica-lo no problema. Aproximadamente 26% do total assinalou a alternativa C, resultado do cálculo da probabilidade dos dois sorteados terem feito suas compras em fevereiro, independentemente do produto comprado (50/220), revelando uma noção de probabilidade simples. Essa questão, assim como a anterior, exigia que o aluno alocasse recursos relacionados ao raciocínio estatístico.

Fonte: os autores

181

Quadro 38 – Questão 22

Questão 22 – ENEM 2013 – número 136 (prova cinza) – H30

Um comerciante visita um centro de vendas para fazer cotação de preços dos produtos que deseja comprar. Verifica que se aproveita 100% da quantidade adquirida de produtos do tipo A, mas apenas 90% de produtos do tipo B. Esse comerciante deseja comprar uma quantidade de produtos, obtendo o menor custo/benefício em cada um deles. O quadro mostra o preço por quilograma, em reais, de cada produto comercializado.

Os tipos de arroz, feijão, soja e milho que devem ser escolhidos pelo comerciante são, respectivamente, (A) A, A, A, A. (B) A, B, A, B. (C) A, B, B, A. (D) B, A, A, B. (alternativa correta) (E) B, B, B, B.

Caracterização visual da questão

Desempenho dos alunos (em %)

Comentários: Os microdados do ENEM associam a questão 22 à competência de área 1 (construir significados para os números naturais, inteiros, racionais e reais). Apesar disso, acreditamos que o fato dos dados que precisam ser analisados estão expressos em uma tabela nos permite avalia-la do ponto de vista da Estatística. Para resolver essa questão é necessário desenvolver uma estratégia para avaliar a informação apresentada e tomar uma decisão. Além disso, é necessária uma leitura para além dos dados, uma vez que nem todos os dados estão explícitos ou implícitos no gráfico. Poucos foram os alunos que mostraram essa habilidade, aproximadamente 17%. A maioria, cerca de 30%, assinalou a alternativa E revelando terem optado pelo preço mais baixo de cada produto independentemente do aproveitamento do mesmo indicado no enunciado da questão. Esse resultado sugere que nossos alunos não estão habituados a resolver problemas não rotineiros relacionados à análise de dados.

Fonte: os autores

182

5.2.2.3. ENEM 2014

Na análise que segue, de acordo com o universo já descrito, foram

analisados os desempenhos de cerca de 1 milhão e 100 mil estudantes, distribuídos

em escolas regulares cuja dependência administrativa está mostrada na tabela 4:

Tabela 4 – Total de alunos por dependência administrativa no exame de 2014

Dependência administrativa escolar

Número de participantes concluintes

Pública 823.967

Privada 272.575

Total 1.096.542

Fonte: INEP

Apresentamos o desempenho dos alunos nas questões de Estatística da

prova de Matemática da edição de 2014 do ENEM por meio do gráfico 17 que

segue.

Gráfico 17 – Desempenho dos alunos em estatística no ENEM 2014

DESEMPENHO DOS ALUNOS EM ESTATÍSTICA NA PROVA DE MATEMÁTICA DO ENEM 2014

Média e desvio padrão do desempenho dos alunos por dependência administrativa das escolas (em porcentagem)

Fonte: INEP

A média de acertos em Estatística, tomado o universo de análise com um

todo, a menor dentre as três edições, está em 25,6%, com um desvio padrão de

6,55%. É possível inferir que o conjunto de questões desse tema da edição de 2014

estava mais complexo para os alunos do que os itens das edições anteriores, um

exemplo disso é o fato de que a questão com o maior desempenho nessa prova

apresentou um índice de acerto de 45,35%. O desempenho dos alunos oriundos das

escolas públicas é um pouco inferior ao desempenho geral, média 22,46% com

desvio padrão de 5,31%, ao contrário do que aconteceu com o desempenho dos

183

concluintes das escolas privadas que apresentaram uma média de acertos de

35,13% e desvio padrão de 12,02%.

As medidas de dispersão revelam que a maior parte dos alunos, no geral,

apresentou um desempenho nas questões de Estatística entre 19,05% e 32,17%.As

escolas privadas apresentaram um desempenho superior ao das escolas públicas,

mas não suficiente para afirmar que os alunos dominam o conhecimento estatístico,

uma vez que a maior parte dos alunos apresentou um índice de acertos entre

23,12% e 47,15%. Já o desempenho de grande parte dos concluintes nas escolas

públicas está entre 16,93% e 27,99%.

Os índices de acertos observados nas questões relacionadas à Estatística

na edição de 2014 do ENEM foram bastante baixos. Talvez a análise mais

aprofundada de cada um dos itens, apresentada nos quadros 39 a 48, revele a

dificuldade apresentada pelos alunos.

Uma tabulação com todos os dados referentes ao desempenho dos

alunos por questão encontra-se no APÊNDICE K.

Questões da competência de área 6

Quadro 39 – Questão 27 Questão 27 – ENEM 2014 – número 148 (prova cinza) – H24

Uma empresa de alimentos oferece três valores diferentes de remuneração a seus funcionários, de acordo com o grau de instrução necessário para cada cargo. No ano de 2013, a empresa teve uma receita de 10 milhões de reais por mês e um gasto mensal com a folha salarial de R$ 400 000,00, distribuídos de acordo com o Gráfico 1. No ano seguinte, a empresa ampliará o número de funcionários, mantendo o mesmo valor salarial para cada categoria. Os demais custos da empresa permanecerão constantes de 2013 para 2014. O número de funcionários em 2013 e 2014, por grau de instrução, está no Gráfico 2.

184

Qual deve ser o aumento na receita da empresa para que o lucro mensal em 2014 seja o mesmo de 2013? (A) R$ 114 285,00 (B) R$ 130 000,00 (alternativa correta) (C) R$ 160 000,00 (D) R$ 210 000,00 (E) R$ 213 333,00

Caracterização visual da questão

Desempenho dos alunos (em %)

Comentários: O nível de leitura da questão 27 foi classificado como além dos dados porque a solução necessita a busca de informações que não estão explícitas ou implícitas em nenhum dos dois gráficos e sim na relação entre eles Menos de um quarto dos alunos, 24%, foram capazes de combinar as informações presentes nos dois gráficos e no texto do enunciado para criar uma estratégia de resolução, adotando um processo de reflexão. A mesma parcela de alunos, 24%, assinalou a alternativa D, cujo valor é mil vezes maior do que o número de funcionários em 2013. A alternativa C foi escolhida por cerca de 27% dos alunos que para encontrar a resposta calcularam a média de salários sem considerar a distribuição do número de

funcionários nos níveis de escolaridade, (1.000+2.000+5.000

3) e multiplicaram pela

quantidade de funcionários novos (20 000+30 000+10 000). Nota-se, portanto, que cerca de 51% dos alunos apresentaram um raciocínio estatístico bastante superficial, uma vez que utilizam apenas um gráfico ou parte da informação na busca da resposta.

Fonte: os autores

185

Quadro 40 – Questão 35

Questão 35 – ENEM 2014 – número 171 (prova cinza) – H24

A taxa de fecundidade é um indicador que expressa a condição reprodutiva média das mulheres de uma região, e é importante para uma análise da dinâmica demográfica dessa região. A tabela apresenta os dados obtidos pelos Censos de 2000 e 2010, feitos pelo IBGE, com relação à taxa de fecundidade no Brasil.

Suponha que a variação percentual relativa na taxa de fecundidade no período de 2000 a 2010 se repita no período de 2010 a 2020. Nesse caso, em 2020 a taxa de fecundidade no Brasil estará mais próxima de (A) 1,14. (B) 1,42. (C) 1,52. (alternativa correta) (D) 1,70. (E) 1,80.

Caracterização visual da questão

Desempenho dos alunos (em %)

Comentários: Essa questão envolvia a comparação percentual entre dois valores. Os alunos precisavam encontrar a diferença entre as taxas de fecundidade apresentadas e calcular a relação entre esse valor e a taxa inicial. Apenas 21% dos alunos, aproximadamente, acertaram esse item. A maior parte deles, cerca de 45%, assinalou a alternativa B que apresenta a diferença entre as taxas em valor absoluto. Acreditamos que o processo envolvido era de reflexão por entender que à resolução está associado um pensamento mais amplo na elaboração de uma estratégia que vai além de exercícios rotineiros. O desempenho entre os alunos oriundos de escolas de tipos diferentes é próximo.

Fonte: os autores

186

Quadro 41 – Questão 26

Questão 26 – ENEM 2014 – número 141 (prova cinza) – H25

Um cientista trabalha com as espécies I e II de bactérias em um ambiente de cultura. Inicialmente, existem 350 bactérias da espécie I e 1 250 bactérias da espécie II. O gráfico representa as quantidades de bactérias de cada espécie, em função do dia, durante uma semana. Em que dia dessa semana a quantidade total de bactérias nesse ambiente de cultura foi máxima?

(A) Terça-feira. (alternativa correta) (B) Quarta-feira. (C) Quinta-feira. (D) Sexta-feira. (E) Domingo. Obs.: Originalmente a questão estava associada à habilidade 20 (interpretar gráfico cartesiano que represente relações entre grandezas).

Caracterização visual da questão

Desempenho dos alunos (em %)

Comentários: Originalmente a questão 26 estava associada à competência de área 6, modelar e resolver problemas que envolvem variáveis socioeconômicas ou técnico-científicas, usando representações algébricas. Entretanto, entendemos que a resolução do item pressupõe uma compreensão do gráfico para além da sua estrutura algébrica, envolvendo a análise de dados. O desempenho dos alunos das escolas privadas foi bastante superior ao desempenho dos alunos das escolas públicas. Enquanto 58% do primeiro grupo se mostrou capaz de comparar a diferença entre os valores dia a dia, apenas 32% do segundo grupo o fez corretamente. Analisando o resultado como um todo, sem distinguir o tipo de escola de origem, cerca de 39% encontrou a resposta correta. Vale destacar que praticamente a mesma parcela de alunos assinalou a alternativa B, que apresenta o dia da semana em que houve o maior pico no número de bactérias de um tipo, independente da quantidade da outra bactéria. Diante disso, é possível afirmar que a menor parte dos nossos alunos são capazes de estabelecer conexões entre dados na resolução de um problema.

Fonte: os autores

187

Quadro 42 – Questão 29

Questão 29 – ENEM 2014 – número 152 (prova cinza) – H25

De acordo com a ONU, da água utilizada diariamente, - 25% são para tomar banho, lavar as mãos e escovar os dentes. - 33% são utilizados em descarga de banheiro. - 27% são para cozinhar e beber. - 15% são para demais atividades. No Brasil, o consumo de água por pessoa chega, em média, a 200 litros por dia. O quadro mostra sugestões de consumo moderado de água por pessoa, por dia, em algumas atividades. Se cada brasileiro adotar o consumo de água indicado no quadro, mantendo o mesmo consumo nas demais atividades,

então economizará diariamente, em média, em litros de água, (A) 30,0. (B) 69,6. (C) 100,4. (alternativa correta) (D) 130,4. (E) 170,0. Obs.: Essa questão estava associada originalmente à habilidade 18 (avaliar propostas de intervenção na realidade envolvendo variação de grandezas).

Caracterização visual da questão

Desempenho dos alunos (em %)

Comentários: Originalmente a questão 29 estava associada à competência de área 4 (construir noções de variação de grandezas para a compreensão da realidade e a solução de problemas do cotidiano). Apesar disso, optamos por inseri-la no conjunto de questões analisadas por entender que para a sua resolução é necessário combinar os dados expressos na tabela e na lista apresentadas. Apenas 18% do total de alunos foi capaz de selecionar as informações relevantes em cada um dos textos e relacioná-las. Cerca de 34% do total assinalou a alternativa B, cujo valor representa a somatória dos números da tabela. A mesma parcela de alunos assinalou a alternativa D, resposta obtida ao desconsiderar o consumo das demais atividades como solicitado no enunciado. Mais uma vez notamos a falta da habilidade de nossos alunos a elaborar estratégias envolvendo mais do que um processo. Ressaltamos ainda a discrepância no desempenho dos alunos oriundos dos diferentes tipos de escola.

Fonte: os autores

188

Quadro 43 – Questão 34

Questão 34 – ENEM 2014 – número 170 (prova cinza) – H25

O gráfico apresenta as taxas de desemprego durante o ano de 2011 e o primeiro semestre de 2012 na região metropolitana de São Paulo. A taxa de desemprego total é a soma das taxas de desemprego aberto e oculto.

Suponha que a taxa de desemprego oculto do mês de dezembro de 2012 tenha sido a metade da mesma taxa em junho de 2012 e que a taxa de desemprego total em dezembro de 2012 seja igual a essa taxa em dezembro de 2011. Disponível em: www.dieese.org.br. Acesso em: 1 ago. 2012 (fragmento). Nesse caso, a taxa de desemprego aberto de dezembro de 2012 teria sido, em termos percentuais, de (A) 1,1. (B) 3,5. (C) 4,5. (D) 6,8. (E) 7,9. (alternativa correta)

Caracterização visual da questão

Desempenho dos alunos (em %)

Comentários: Cerca de 30% dos alunos foram capazes de criar uma estratégia de resolução que envolvia inferência e raciocínio estatístico. A maior parte dos alunos que erraram, aproximadamente 23% do total, assinalou a alternativa C que mostra a metade do valor observado em dezembro, revelando uma incompreensão na interpretação do problema. Cerca de 17% dos alunos assinalaram a alternativa A, que apresenta a metade da taxa de desemprego oculto de junho. Quase a mesma parcela de alunos, 15% aproximadamente, assinalou a alternativa D que é o resultado da diferença entre a taxa de desemprego total de dezembro e a taxa de desemprego oculto de junho (9,0 - 2,2). Mais uma vez chama atenção a discrepância do desempenho dos alunos concluintes em escolas de tipos diferentes.

Fonte: os autores

189

Quadro 44 – Questão 36

Questão 36 – ENEM 2014 – número 172 (prova cinza) – H26

O Ministério da Saúde e as unidades federadas promovem frequentemente campanhas nacionais e locais de incentivo à doação voluntária de sangue, em regiões com menor número de doadores por habitante, com o intuito de manter a regularidade de estoques nos serviços hemoterápicos. Em 2010, foram recolhidos dados sobre o número de doadores e o número de habitantes de cada região conforme o quadro seguinte.

Os resultados obtidos permitiram que estados, municípios e o governo federal estabelecessem as regiões de doação de sangue. As campanhas deveriam ser intensificadas nas regiões em que o percentual de doadores por habitantes fosse menor ou igual ao do país. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br. Acesso em: 2 ago. 2013 (adaptado). As regiões brasileiras onde foram intensificadas as campanhas na época são (A) Norte, Centro-Oeste e Sul. (B) Norte, Nordeste e Sudeste. (alternativa correta) (C) Nordeste, Norte e Sul. (D) Nordeste, Sudeste e Sul. (E) Centro-Oeste, Sul e Sudeste.

Caracterização visual da questão

Desempenho dos alunos (em %)

Comentários: A questão 36 apresentou o maior índice de acertos, ainda que baixo, dentre as questões analisadas na edição de 2014 do ENEM. Cerca de 45% dos alunos foram capazes de dar significado aos dados apresentados na tabela e compará-los entre si. Nota-se uma discrepância no índice de acertos de escolas de tipos diferentes.

Fonte: os autores

190

Questões da competência de área 7

Quadro 45 – Questão 25 Questão 25 – ENEM 2014 – número 141 (prova cinza) – H27

Um pesquisador está realizando várias séries de experimentos com alguns reagentes para verificar qual o mais adequado para a produção de um determinado produto. Cada série consiste em avaliar um dado reagente em cinco experimentos diferentes. O pesquisador está especialmente interessado naquele reagente que apresentar a maior quantidade dos resultados de seus experimentos acima da média encontrada para aquele reagente. Após a realização de cinco séries de experimentos, o pesquisador encontrou os seguintes resultados:

Levando-se em consideração os experimentos feitos, o reagente que atende às expectativas do pesquisador é o (A) 1. (B) 2. (alternativa correta) (C) 3. (D) 4. (E) 5.

Caracterização visual da questão

Desempenho dos alunos (em %)

Comentários: A questão 25 foi a que apresentou o menor índice de acertos dentre o conjunto de questões das três edições analisadas. Apenas 10% dos alunos elaboraram uma estratégia adequada para inferir informações a partir dos dados apresentados na tabela. Para isso, era necessário mobilizar pensamento e raciocínio estatísticos. Cerca de 36% dos alunos assinalou a alternativa E, revelando terem selecionado o número de experimento com maior número de reações. Outros 31% dos alunos assinalou a alternativa C que mostra o reagente com maior média de reações. Vale destacar que a consigna do enunciado é complexa, fato que pode ter interferido no resultado.

Fonte: os autores

191

Quadro 46 – Questão 30

Questão 30 – ENEM 2014 – número 153 (prova cinza) – H29

Os candidatos K, L, M, N e P estão disputando uma única vaga de emprego em uma empresa e fizeram provas de português, matemática, direito e informática. A tabela apresenta as notas obtidas pelos cinco candidatos.

Segundo o edital de seleção, o candidato aprovado será aquele para o qual a mediana das notas obtidas por ele nas quatro disciplinas for a maior. O candidato aprovado será (A) K. (B) L. (C) M. (D) N. (alternativa correta) (E) P.

Caracterização visual da questão

Desempenho dos alunos (em %)

Comentários: A questão 30 exigia dos alunos um conhecimento básico sobre mediana e um nível de leitura entre os dados, uma vez que era necessário integrá-los na resolução. Cerca de um quarto dos alunos escolheu adequadamente o candidato que apresentou a maior mediana das notas. Aproximadamente 51% dos alunos assinalou a alternativa C que apresenta o candidato que obteve a maior média das notas. Outros 10% assinalaram a alternativa B provavelmente por terem olhado para o “meio” dos dados, sem terem se atido à ordenação dos valores. O desempenho dos alunos das escolas privadas, ainda que baixo, foi bastante superior ao desempenho dos alunos das escolas públicas.

Fonte: os autores

192

Quadro 47 – Questão 31

Questão 31 – ENEM 2014 – número 156 (prova cinza) – H29

Uma loja que vende sapatos recebeu diversas reclamações de seus clientes relacionadas à venda de sapatos de cor branca ou preta. Os donos da loja anotaram as numerações dos sapatos com defeito e fizeram um estudo estatístico a fim de reclamar com o fabricante. A tabela contém a média, a mediana e a moda desses dados anotados pelos donos.

Para quantificar os sapatos pela cor, os donos representaram a cor branca pelo número 0 e a cor preta pelo número 1. Sabe-se que a média da distribuição desses zeros e uns é igual a 0,45. Os donos da loja decidiram que a numeração dos sapatos com maior número de reclamações e a cor com maior número de reclamações não serão mais vendidas. A loja encaminhou um ofício ao fornecedor dos sapatos, explicando que não serão mais encomendados os sapatos de cor (A) branca e os de número 38. (alternativa correta) (B) branca e os de número 37. (C) branca e os de número 36. (D) preta e os de número 38. (E) preta e os de número 37.

Caracterização visual da questão

Desempenho dos alunos (em %)

Comentários: Para resolver mão da questão 31, o aluno precisava alocar recursos relacionados aos raciocínio e pensamento estatísticos. Era necessário, por exemplo, inferir que o fato da média da distribuição ser 0,45 revela que a maioria das reclamações se refere aos sapatos brancos (indicado pelo número 0). Compreender os conceitos de média, moda e mediana e articulá-los para desenvolver uma argumentação era a chave para resolver o problema. Cerca de 28% dos alunos acertaram a questão. Aproximadamente 24% dos alunos assinalaram a alternativa D, demonstrando talvez a incompreensão em relação ao significado do valor 0,45 no problema. Outros 21% assinalaram a alternativa C, sugerindo terem observado apenas o valor da média para tomar sua decisão.

Fonte: os autores

193

Quadro 48 – Questão 28

Questão 28 – ENEM 2014 – número 150 (prova cinza) – H30

Ao final de uma competição de ciências em uma escola, restaram apenas três candidatos. De acordo com as regras, o vencedor será o candidato que obtiver a maior média ponderada entre as notas das provas finais nas disciplinas de química e física, considerando, respectivamente, os pesos 4 e 6 para elas. As notas são sempre números inteiros. Por questões médicas, o candidato II ainda não fez a prova de química. No dia em que sua avaliação for aplicada, as notas dos outros dois candidatos, em ambas as disciplinas, já terão sido divulgadas. O quadro apresenta as notas obtidas pelos finalistas nas provas finais.

A menor nota que o candidato II deverá obter na prova final de química para vencer a competição é: (A) 18. (alternativa correta) (B) 19. (C) 22. (D) 25. (E) 26.

Caracterização visual da questão

Desempenho dos alunos (em %)

Comentários: Para resolver essa questão era necessário utilizar conceitos de média ponderada. Aproximadamente um quarto dos alunos foi capaz de calcular a média de acordo com a descrição do enunciado. A maior parte dos participantes analisados assinalou a alternativa B, valor resultante da análise de média aritmética. Podemos observar uma discrepância considerável entre o desempenho dos alunos oriundos de escolas de tipos diferentes.

Fonte: os autores

5.2.3. Análise gráfica dos resultados

Os resultados do desempenho dos alunos no ENEM revelam que os

participantes concluintes não são proficientes na competência estatística. Os

estudantes demonstram dominar apenas processos estatísticos bastante simples,

como é o caso da questão 1 que apresentou um índice de acerto de cerca de 85% e

194

exige apenas uma leitura direta dos dados. Questões associadas a um pensamento

mais amplo, como o que pressupunha a elaboração de estratégias ou argumentação

e generalização, como as questões 5, 21 e 25, apresentaram um baixo índice de

acerto (13%, 12% e 10%, respectivamente).

Para investigar a competência estatística por meio do estudo do

desempenho apresentado pelos alunos investigados, agrupamos as questões a

partir dos níveis de acerto. A intenção é verificar o que os alunos sabem e o que

ainda precisam aprender sobre Estatística.

Analisaremos, a princípio, as questões que apresentaram um índice de

acerto superior a 60%, ilustradas no quadro 49.

Quadro 49 – Questões com desempenho maior que 60%

Questões com desempenho maior que 60%

Questão 24: ENEM 2013 – H26 (64,71%)

Questão 12: ENEM 2013 – H25 (71,20%)

Questão 1: ENEM 2012 – H25 (87,93%)

Fonte: os autores

As três questões apresentam uma caracterização visual semelhante por

demandarem uma competência simples de conexão de dados expressos

explicitamente em gráfico ou tabela e não apresentarem dados relevantes para a

resolução no texto do enunciado, não sendo necessário articular informações. Esse

resultado nos revela que os alunos são capazes de resolver parcialmente situações-

problema nas quais não se exija uma análise integrada dos dados, nem um

raciocínio estatístico mais elaborado que envolva, por exemplo, previsão,

argumentação ou inferência. Analisando em conjunto as três questões, podemos

concluir ainda que o contexto no qual a situação está inserida não interferiu no

desempenho dos alunos.

Observemos, a seguir, as características das questões com índice de

acerto maior que 40% e menor que 60%, ilustradas no quadro 50. O grupo de

questões apresentado exige uma complexidade maior de processo e pensamento

em relação ao primeiro grupo de questões. Entretanto, o que caracteriza a relação

entre os itens é a competência de área a qual estão relacionadas. Todas elas,

195

exceto a questão 8, foram elaboradas para avaliar a capacidade de interpretar

informações de natureza científica e social obtidas da leitura de gráficos e tabelas,

realizando previsão de tendência, extrapolação, interpolação e interpretação. Diante

do exposto, podemos concluir que os alunos apresentam um desempenho mediano

em habilidades relacionadas à análise de dados.

Quadro 50 – Questões com desempenho maior que 40% e menor que 60%

Questões com desempenho maior que 40% e menor que 60%

Questão 9: ENEM 2012 – H25 (43,07%)

Questão 17: ENEM 2013 – H25 (43,50%)

Questão 36: ENEM 2014 – H26 (45,35%)

Questão 14: ENEM 2013 – H24 (46,06%)

Questão 11: ENEM 2012 – H26 (47,02%)

Questão 10: ENEM 2012 – H25 (47,12%)

Questão 18: ENEM 2013 – H25 (50,62%)

Questão 8: ENEM 2012 – H29 (51,28%)

Questão 3: ENEM 2012 – H25 (57,39%)

Questão 2: ENEM 2012 – H26 (58,39%)

Fonte: os autores

196

Apresentamos, na sequência, o grupo das questões com índice de acerto

maior que 20% e menor que 40%. Por meio da observação das principais

características dos itens, resolvemos por separar esse conjunto em dois subgrupos.

O primeiro deles apresenta as questões relacionadas à competência de área 6

(interpretar informações de natureza científica e social obtidas da leitura de gráficos

e tabelas, realizando previsão de tendência, extrapolação, interpolação e

interpretação), como mostra o quadro 51.

Quadro 51: Questões com desempenho maior que 20% e menor que 40% - competência de área 6

Questões com desempenho maior que 20% e menor que 40% - competência de área 6

Questão 35: ENEM 2014 – H24 (20,75%)

Questão 23: ENEM 2013 – H26 (21,09%)

Questão 27: ENEM 2014 – H24 (24,39%)

Questão 34: ENEM 2014 – H25

(29,71%)

Questão 26: ENEM 2014 – H25 (38,77%)

Fonte: os autores

Podemos notar que as questões desse primeiro subgrupo se assemelham

na complexidade do processo envolvido na resolução. Todas as questões, exceto a

26, estão associadas a um pensamento mais amplo, pressupondo a capacidade de

planejar estratégias e envolvendo argumentação ou inferência a partir dos dados

apresentados. Vale ressaltar que a questão 26 estava originalmente associada à

competência de área 4 e apesar de exigir do ponto de vista da Estatística apenas a

análise dos dados apresentados no gráfico cartesiano, revela a necessidade de uma

conexão entre temas distintos da Matemática.

197

O segundo subgrupo reuniu as questões associadas à competência de

área 7, que pretende avaliar se os alunos compreendem o caráter aleatório e não-

determinístico dos fenômenos naturais e sociais e utilizam instrumentos adequados

para medidas, determinam amostras e cálculos de probabilidade para interpretar

informações de variáveis apresentadas em uma distribuição estatística, como mostra

o quadro 52.

Quadro 52 – Questões com desempenho maior que 20% e menor que 40% - competência de área 7

Questões com desempenho maior que 20% e menor que 40% - competência de área 7

Questão 19: ENEM 2013 – H27 (22,87%)

Questão 28: ENEM 2014 – H30 (24,60%)

Questão 30: ENEM 2014 – H29 (25,41%)

Questão 16: ENEM 2013 – H27 (25,63%)

Questão 13: ENEM 2013 – H28 (27,87%)

Questão 31: ENEM 2014 – H29 (27,98%)

Fonte: os autores

Entendemos que esse grupo de questões se assemelha pela natureza

das habilidades necessárias na sua resolução e pelo nível de processo envolvido

que pressupõe uma reunião de ideias para se chegar à resposta, ou seja, uma

conexão entre conceitos. Apenas a questão 31 foge desse padrão.

Analisemos, por fim, o grupo de questões nas quais os alunos

apresentaram o menor desempenho, organizado no quadro 53. Todas as questões

que compõem esse grupo, exceto a 29, estão associadas à competência de área 7.

Além disso, ora é exigido um nível de leitura para além dos dados, ora um processo

de reflexão, ora os dois ao mesmo tempo, revelando uma complexidade no

198

raciocínio da resolução. Nesse sentido, a questão de número 7 destoa das demais,

porque apesar de se tratar de um processo rotineiro, definir a mediana de um

conjunto de dados, apresenta as informações em um gráfico e não em uma tabela

ou rol como é mais frequentemente trabalhado nas escolas.

Quadro 53: Questões com desempenho menor que 20% Questões com desempenho menor que 20%

Questão 25: ENEM 2014 – H27 (10,01%)

Questão 5: ENEM 2012 – H27 (13,62%)

Questão 4: ENEM 2012 – H28 (14,25%)

Questão 7: ENEM 2012 – H27 (15,48%)

Questão 22: ENEM 2013 – H30 (16,92%)

Questão 29: ENEM 2014 – H25 (18,14%)

Fonte: os autores

5.2.4. Análise sobre o desempenho no ENEM

A investigação sobre o desempenho dos alunos nas questões envolvendo

Estatística nas edições de 2012, 2013 e 2014 do ENEM nos sugere que grande

parte dos estudantes não desenvolveu plenamente a competência estatística,

entendida aqui com o a integração entre a literacia, o raciocínio e o pensamento

estatísticos. Os alunos demonstraram serem capazes de ler e interpretar gráficos de

tabelas de modo superficial, sem integrar os dados entre si ou inferir informações

para além deles.

Retomando o referencial teórico sobre Educação Estatística, podemos

dizer que os alunos que tiveram seu desempenho investigado desenvolveram certas

habilidades processuais, como organizar dados, calcular médias aritméticas e

habilidades de interpretação e literacia estatística que não exigem argumentação.

199

Entretanto, nota-se a falta de atitudes que revelem uma postura mais crítica e

reflexiva sobre a leitura e interpretação de dados, e principalmente compreensões

das relações matemáticas envolvidas em estatística. Se usarmos a classificação

apresentada por Watson e Callingham (2003), podemos dizer que, de modo geral,

os estudantes que encerram o Ensino Médio, se encontram mais próximos do nível

3 de literacia estatística, nomeado como inconsistente pelos pesquisadores. Nesse

nível, o engajamento do aluno com o contexto é seletivo, não crítico e questionador

e evidencia-se um reconhecimento apenas superficial da terminologia estatística.

Além disso, sujeitos nesse nível de literacia estatística interpretam tabelas e gráficos

simples e diretos, realizam cálculos básicos de chances, mas não utilizam com

compreensão medidas de tendência central e de dispersão.

Em relação ao nível de leitura dos dados, de acordo com o referencial de

Curcio (1987), os alunos demonstraram um maior desempenho em situações que

não exigem inferir informações a partir da integração dos dados. Podemos dizer que

o grupo investigado domina a leitura dos dados, e realiza com restrições a leitura

entre dados, ou seja, são capazes de fazer comparações e realizar cálculos simples

que não envolvam manipulação dos dados no sentido da estatística. Grande parte

dos alunos não extrapola as informações apresentadas a fim de generalizar ou

prever situações.

Sobre o raciocínio estatístico dos estudantes, usando o referencial de

Garfield e Gal (1999) apresentado anteriormente, concluímos que os alunos

apresentam um raciocínio sobre os dados e sobre a representação de dados,

somente. Os dados revelam um raciocínio raso sobre medidas estatísticas uma vez

que demonstraram não entender completamente os fatos mostrados por elas. Os

pesquisadores afirmam que o raciocínio estatístico exige uma compreensão sobre a

associação dos dados, saber como julgar e interpretar a relação entre as variáveis

tratadas. A análise dos resultados do desempenho nas questões sugere que a

ausência do raciocínio sobre associação seja o grande problema dos nossos alunos

do Ensino Médio, entendendo que a ausência dessa habilidade pode interferir

negativamente no desenvolvimento da competência estatística.

Usando o referencial de Garfield (2002), podemos afirmar que a amostra

de estudantes demonstrou estar no nível 3 de raciocínio estatístico, o nível

transacional. Para esse autor, nesse nível o aluno é capaz de identificar

corretamente uma ou duas dimensões de uma investigação estatística

200

separadamente, sem integrá-las, falta a ele um completo entendimento da

investigação estatística e a coordenação de conceitos estatísticos.

Investigar a competência de pensamento estatístico por meio de questões

de múltipla escolha é um desafio. No entanto, os dados sugerem que os processos

mentais que dão suporte para as decisões relacionadas à Estatística dos alunos são

insuficientes considerando o nível de escolaridade que apresentam.

Os resultados obtidos são bastante preocupantes uma vez que

conhecemos a importância de ser competente em Estatística na sociedade atual

repleta de dados e informações. Os alunos do Ensino Médio não demonstram utilizar

o conhecimento estatístico desenvolvido para resolver situações problema de

qualquer natureza de processos e níveis de compreensão. Falta a eles a capacidade

de inferir, generalizar, argumentar e tomar decisões com base na análise de dados

apresentados.

CAPÍTULO 6 – CONCLUSÃO

Saber ler, selecionar, interpretar e agir a partir de dados numéricos têm se

revelado habilidades fundamentais em uma sociedade repleta de informações como

a qual vivemos atualmente. Essas competências estão associadas à literacia

estatística, sendo o ensino e a aprendizagem de Estatística cada vez mais se

transformado em objeto de discussão em pesquisas científicas e congressos da

Educação Matemática. A presente tese analisou indicadores sobre as práticas de

professores ao ensinar conceitos estatísticos e a aplicação desses conceitos pelos

alunos em questões de estatística no Enem dos alunos (analisando os seus

microdados). Ambas as análises conjugadas tem a intenção de auxiliar na

compreensão do status atual do ensino de Estatística do Ensino Médio brasileiro.

Esses indicadores dos professores e dos alunos foram confrontados com as

expectativas expressas nos documentos oficiais brasileiros sobre educação

estatística.

A investigação foi particularmente contextualizada a partir de uma revisão

teórica sobre os conceitos de literacia, raciocínio e pensamentos estatísticos

relacionados à competência estatística.

A pesquisa mostrou que os documentos oficiais brasileiros atuais da

Educação Matemática estão alinhados às discussões atuais sobre habilidades e

competência estatísticas. Entretanto, assim como ocorre em outros países,

pesquisas nacionais indicam que discussões pertinentes ao ensino e aprendizagem

de Estatística não têm sido objeto de estudo das licenciaturas em Matemática,

cursos responsáveis pela formação dos professores que ensinam o tema nas séries

finais do Ensino Fundamental e no Ensino Médio. Esse fato sugere que grande parte

daqueles que estão em sala atualmente não tiveram a oportunidade de desenvolver

habilidades relacionadas à competência estatística enquanto alunos da Educação

Básica nem de refletir sobre o assunto em sua formação inicial. Na perspectiva da

aprendizagem, diversas aferições têm apontado fragilidades dos estudantes que

concluem a Educação Básica em nosso país em relação à Matemática.

Diante do cenário descrito, para estabelecer a relação entre a teoria, os

documentos oficiais, as práticas dos professores e o desempenho dos alunos,

utilizamos duas ferramentas quali quantitativas: uma pesquisa com os professores

202

que por meio de um questionário revelaram suas práticas, escolhas,

intencionalidades e justificativas para o ensino de Estatística e; a análise do

desempenho dos alunos em questões envolvendo Estatística de três edições do

ENEM (2012, 2013 e 2014).

A análise das variáveis censitárias do questionário aplicado a 89

professores de Matemática do Ensino Médio revelou uma amostra de professores

com experiência na docência, licenciados em Matemática e muitas vezes pós-

graduados (principalmente especialização). Em uma questão aberta os sujeitos

listaram três ações didáticas que julgam importantes em relação à Estatística. O

conjunto de respostas, que foi analisado por meio da técnica de análise de

conteúdo, indicou a preocupação dos docentes com o protagonismo e vivência das

etapas de uma pesquisa em temas relacionados ao cotidiano dos alunos, entretanto,

sugere a predominância do trabalho com leitura e análise dos dados somente.

Aparentemente ficam de fora da sala de aula propostas que evidenciam o papel

investigador da Estatística e permitam que o aluno construa argumentações

consistentes, elaborem propostas de intervenção e aliem a leitura e interpretação de

representações de dados os conhecimentos aos conhecimentos estatísticos para

fazer inferência.

Propusemos no mesmo questionário três perguntas com cinco itens cada

para os professores classificarem a sua importância em relação aos temas:

justificativas para o Ensino de Estatística; habilidades necessárias para o

desenvolvimento dos alunos; questões do ENEM no sentido de avaliação da

aprendizagem. Quando solicitados a ordenar as afirmações sobre a justificativa para

o Ensino de Estatística e as habilidades esperadas, de acordo com o grau de

importância, os entrevistados mostraram mais uma vez a força que dão à leitura e

interpretação aliada à formação para a argumentação. No entanto, ao ordenarem

questões do ENEM que avaliam a competência estatística nos termos do exame,

consideraram aquelas relacionadas à leitura e interpretação de dados e resolução

de problemas como as de menor relevância dentre as questões do conjunto. Essa

análise revela incoerência em relação ao seu discurso sobre o que fazem na prática

em sala de aula, as respostas relacionadas ao ensino e as escolhas de questões

para avaliar essa aprendizagem. O resultado sugere que os professores propõem

um trabalho abordando principalmente o desenvolvimento de habilidades

relacionadas à leitura e interpretação dos dados na intenção de que seus alunos

203

desenvolvam o senso crítico e argumentação, mas que não parecem reconhecer

questões que avaliem a aprendizagem nessa mesma direção.

O questionário apresentou ainda um conjunto de 30 assertivas tratando

também do ensino de Estatística para as quais os professores entrevistados

deveriam registrar o grau de concordância apresentado em uma escala de atitude do

tipo Likert com cinco níveis. Analisamos os dados por meio da técnica de análise

fatorial exploratória a fim de investigar perfis dos professores associados a

pormenores da prática do ensino de Estatística. A investigação de padrões e

dimensões latentes de variáveis característica do método empregado indicou cinco

fatores entendidos aqui como conjuntos de variáveis, no caso, as assertivas. O

primeiro fator, que mais explica o conjunto de respostas, revelou uma tendência

mais tecnicista dos entrevistados para os quais, aparentemente, ensina-se

Estatística para aprender Matemática. Ao segundo fator revelado está associada

uma ideia de ensino da Estatística que visa desenvolvimento do senso crítico, os

conceitos estatísticos subsidiam ações de argumentação e de tomada de decisão

dos alunos. O terceiro fator apresentou uma visão mais utilitária e intuitiva da

Estatística para a qual a constatação dos fatos apresentados em representações de

dados é mais relevante do que o trabalho com a resolução de situações-problema e

a inferência. O quarto fator mostrou um ensino de Estatística focado unicamente na

leitura e interpretação de representações de dados. O quinto e último fator apresenta

aspectos relacionados à periodicidade do trabalho com a Estatística e sinaliza uma

preocupação em trabalhar essa unidade temática em todos os períodos escolares,

seguindo as sugestões dos documentos educacionais oficiais.

A análise integrada dos dados do questionário revelou que o trabalho com

resolução de problemas, cálculo e utilização com compreensão de medidas

estatísticas não parece ser foco do ensino para os entrevistados. A hipótese é de

que não há conhecimento sobre como os raciocínios mais elaborados de Estatística

podem auxiliar na leitura, na interpretação, na análise e na construção de

argumentação sobre os dados.

Ao abordar majoritariamente contextos próximos à realidade dos alunos e

não investir fortemente em atividades que exijam a combinação da alfabetização

estatística com as medidas estatísticas para argumentar e tomar decisões, os

professores estão ignorando o potencial da Estatística no desenvolvimento de

204

competências de investigação e compreensão como pregam os documentos oficiais

da Educação e os referenciais teóricos abordados no presente trabalho.

A investigação se deu a partir das respostas dadas por um grupo de

professores com um perfil de formação que destoa da maior parte dos docentes do

país: licenciados em Matemática, pós-graduados e que frequentam cursos de

aperfeiçoamento. A despeito desse perfil hipoteticamente melhor preparado

profissionalmente, os resultados indicam que da parte dos professores, aos

estudantes não está sendo oferecida a oportunidade de elaborar os pensamentos

mais abstratos e complexos em relação aos conhecimentos estatísticos esperados

para aqueles que se formam no segmento de ensino no qual trabalham. Diante do

exposto, é possível inferir que a abordagem dos conceitos estatísticos no Ensino

Médio não se diferencia do que é feito no Ensino Fundamental.

A competência estatística dos estudantes foi aferida a partir do

desempenho no ENEM de mais de três milhões de concluintes da Educação Básica.

Desde a sua concepção o exame se propõe a avaliar habilidades e competências, a

matriz de Referência do ENEM para Matemática e suas Tecnologias contém duas

competências de área associadas à Estatística já apresentadas que abarcam sete

habilidades. Na intenção de conhecer o desempenho dos estudantes para além do

índice de acertos nesses parâmetros e sob a perspectiva do referencial teórico

previamente citado, criamos um protocolo de análise com outras variáveis.

Inspirados pela classificação das questões adotada no PISA e ao referencial sobre

leitura e interpretação de dados em gráficos, utilizamos sete variáveis para

caracterizar cada uma das questões, quais sejam: competência de área, habilidade,

objeto do conhecimento, contexto, tipo de texto, nível de leitura e processo.

A análise realizada indica que os estudantes concluintes do Ensino Médio

no ano da aplicação do exame são capazes de analisar dados em um nível de

leitura e interpretação dos dados que não exija conexões e inferência, mas não

dominam o conhecimento estatístico a ponto de resolver situações problema de

qualquer natureza de processos e níveis de compreensão. O resultado sugere que a

Educação Básica em nosso país não tem propiciado o desenvolvimento pleno da

competência estatística, entendida aqui com o a integração entre a literacia, o

raciocínio e o pensamento estatísticos.

Os pressupostos e as práticas dos professores sobre ensino e

aprendizagem de Estatística, aferidos a partir da análise do questionário, parecem

205

se revelar no desempenho dos alunos no ENEM. Ao analisar conjuntamente os

resultados das ferramentas de pesquisa, notamos uma coerência entre o que os

docentes propõem e o que os alunos mostram conhecer. Porém essa coerência não

se coaduna aos pressupostos dos referenciais educacionais brasileiros ou ao que se

entende atualmente sobre competência estatística.

As mudanças acentuadas nas concepções sobre ensino de Matemática

em um curto período de tempo contribuem para esse cenário de incoerência. Os

professores que hoje ensinam Estatística aos estudantes do Ensino Médio tiveram

sua formação básica e profissional pautadas em outros modos de conceber a função

da escola, do ensino e da aprendizagem matemática. Diante do exposto, por

entender que a formação profissional também se dá no processo, julgamos como

essenciais e urgentes ações intencionais que visem não somente à formação inicial

como principalmente à formação continuada crítica e reflexiva daqueles que

ensinam Estatística na Educação Básica.

206

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em 5 de outubro de 2015.

216

APÊNDICES

APÊNDICE A – QUESTIONÁRIO PILOTO

217

218

219

220

APÊNDICE B – QUESTIONÁRIO

221

222

223

APÊNDICE C – FICHA PARA CARACTERIZAR CADA QUESTÃO

224

APÊNDICE D – ANÁLISE DAS QUESTÕES DO ENEM 2012

225

226

227

228

229

230

231

232

233

234

235

APÊNDICE E – ANÁLISE DAS QUESTÕES DO ENEM 2013

236

237

238

239

240

241

242

243

244

245

246

247

248

APÊNDICE F – ANÁLISE DAS QUESTÕES DO ENEM 2014

249

250

251

252

253

254

255

256

257

258

259

260

APÊNDICE G – ANÁLISE DE CONTEÚDO - UNIDADES DE CONTEXTOS

ORGANIZADAS POR ORDEM ALFABÉTICA

Agrupamento de dados

Altura, número do sapato, moradia, preferências de comida, bebida, esporte, estilo musical, notas escolares

Argumentação a partir dos dados de gráficos e/ou tabelas

Associar gráfico e tabela

Atividades de debate e argumentação

Atividades envolvendo levantamento de dados

Atividades individuais

Atividades que envolvam a interdisciplinaridade

Atividades que envolvam a transdisciplinaridade

Atualidades

Aula expositiva

Aula mediada

Calculadora

Campanhas publicitárias, poder de influência

Computador, uso de planilha eletrônica

Conceitos de matemática (fração, manipulação numérica e algébrica)

Conceitos matemáticos relacionados (porcentagem, proporcionalidade, ordem de grandeza)

Conclusão a partir de um gráfico e/ou tabela

Construção de tabela e/ou gráficos

Cotidiano, dia a dia, proximidade e interesse dos alunos

Crescimento e decrescimento em gráficos

Didática inovadora

Elaboração de gráficos para comunicar dados

Elaboração de projetos com dados estatísticos

Elaboração de situação problema

Eleições, inflação, produtos, previsão do tempo

Estatística como auxílio para tomada de decisão

Estudo e análise de tabelas e/ou gráficos

Extração de informações do gráfico

Finanças, juros

261

Jornais, revistas e/ou internet

Leitura e interpretação de tabelas e/ou gráficos

Livros didáticos

Marcar pontos no R2

Materiais concretos

Materiais reciclados

Média

Mediana

Medidas estatísticas

Moda

Oficinas

Organização dos dados de uma pesquisa

Partir do conhecimento/realidade dos alunos

Pesquisa de campo

Pesquisar (procurar) gráficos e tabelas

Pesquisas

Pesquisas com temas escolhidos pelos alunos

Pesquisas sobre atualidades

Produção de texto

Proposição de campanhas publicitárias

Questões de vestibular, ENEM

Reconhecimento da importância e aplicação da Estatística no cotidiano

Resolução de situações problema ou exercícios

Retomada dos conceitos básicos da matemática

Senso Crítico

Tabulação dos dados de uma pesquisa

Textos informativos com dados estatísticos

Tipos de gráficos

Trabalho em grupo

Tratamento dos dados

Usar tabelas e/ou gráficos

Variações na interpretação decorrentes da amostra

Vídeos

262

APÊNDICE H - QUESTÕES DE ORDENAÇÃO - ANÁLISE DESCRITIVA DOS

DADOS

VARIÁVEL ENS_O

Variáveis Amostra Média Desvio

padrão Mínimo Máximo

Alfabetização matemática 88 2,136364 1,4398421 1 5

Outras ciências 88 2,977273 1,1242088 1 5

Projetos coletivos 88 3,034091 1,4419723 1 5

Presente no cotidiano 88 3,477273 1,4382083 1 5

Senso crítico e argumentação 89 3,651685 1,2622232 1 5

Grau de importância

1 2 3 4 5

EN

S_O

Alfabetização matemática 45 17 4 13 9

Outras ciências 9 21 29 21 8

Projetos coletivos 14 26 12 15 21

Presente no cotidiano 12 12 17 16 31

Senso crítico e argumentação 7 9 22 21 30

VARIÁVEL HAB_O

Variáveis Amostra Média Desvio

padrão Mínimo Máximo

Calcular Medidas 88 2,136364 1,4398421 1 5

Fazer inferências 88 2,977273 1,1242088 1 5

Usar dados para resolver

problemas 88 3,034091 1,4419723 1 5

Construir Argumentação 88 3,477273 1,4382083 1 5

Calcular Medidas 89 3,651685 1,2622232 1 5

263

Grau de importância

1 2 3 4 5

HA

B _

O

Calcular Medidas 38 17 17 4 13

Fazer inferências 27 19 16 17 10

Usar dados para resolver

problemas 9 28 19 28 5

Construir Argumentação 6 13 24 26 20

Ler e interpretar 8 9 10 11 51

VARIÁVEL QUE_O

Variáveis Amostra Média Desvio

padrão Mínimo Máximo

Resolução de problema 87 2,8045977 1,1992156 1 5

Leitura direta dos dados 88 2,8522727 1,4506421 1 5

Cálculo de medidas de

tendência 88 2,9545455 1,4134745 1 5

Inferência, análise entre

variáveis 88 3,2386364 1,477761 1 5

Análise de informações 89 3,3033708 1,5255736 1 5

Grau de importância

1 2 3 4 5

QU

E _

O

Resolução de problema 12 26 26 13 10

Leitura direta dos dados 21 20 14 17 16

Cálculo de medidas de tendência 22 10 19 24 13

Inferência, análise entre variáveis 15 16 16 15 26

Análise de informações 17 14 11 19 28

264

APÊNDICE I – DADOS DO DESEMPENHO DOS ALUNOS NO ENEM 2012

Questão

Índice de acertos (em %)

Geral

Por tipo de escola

Privada Pública

1 87,93 93,59 85,9

2 58,39 77,36 51,6

3 57,39 77,37 50,24

4 14,25 17,93 12,79

5 13,62 16,45 12,6

6 25,31 30,9 23,31

7 15,48 21,75 13,23

8 51,28 66,08 45,98

9 43,07 59,85 37,06

10 47,12 68,98 39,29

11 47,02 68,97 39,15

Questão

Frequência das alternativas assinaladas (em%)

A B C D E

1 1,74 1,61 2,02 6,40 87,93

2 12,17 19,47 3,81 5,92 58,39

3 7,70 8,25 15,32 11,11 57,39

4 16,21 52,24 9,49 14,25 7,47

5 18,76 25,59 20,04 21,34 13,62

6 14,79 19,77 29,03 25,31 10,60

7 19,08 15,48 16,67 18,23 30,09

8 6,02 9,58 16,48 51,28 16,24

9 11,28 14,72 20,20 43,07 10,28

10 47,12 8,78 19,68 15,95 8,14

11 13,59 47,02 24,60 8,60 5,92

265

APÊNDICE J – DADOS DO DESEMPENHO DOS ALUNOS NO ENEM 2013

Questão

Índice de acertos (em %)

Geral

Por tipo de escola

Privada Pública

12 71,20 85,33 66,36

13 27,57 30,56 26,55

14 46,06 59,97 41,30

15 28,89 23,30 30,83

16 25,63 35,08 22,40

17 43,50 65,03 36,14

18 50,62 68,65 44,38

19 22,87 24,42 22,34

20 29,16 32,98 27,85

21 11,55 11,58 11,54

22 16,92 23,00 14,84

23 21,09 33,45 16,85

24 64,71 79,68 59,59

Questão

Frequência das alternativas assinaladas (em%)

A B C D E

12 4,06 8,14 71,20 7,54 8,82

13 27,57 16,30 25,83 21,77 8,10

14 16,83 10,10 12,37 46,06 14,24

15 28,89 21,93 25,21 14,01 9,61

16 8,77 25,63 18,17 23,28 23,79

17 9,43 43,50 26,75 15,92 4,08

18 16,81 12,00 10,90 50,62 9,31

19 15,80 16,74 22,87 26,48 17,74

20 10,69 29,16 32,66 18,10 8,91

21 11,55 16,11 18,82 34,37 18,60

22 13,23 25,53 13,57 16,92 30,32

23 20,37 8,89 34,71 21,09 14,56

24 9,92 9,19 64,71 9,77 6,07

266

APÊNDICE K – DADOS DO DESEMPENHO DOS ALUNOS NO ENEM 2014

Questão

Índice de acertos (em %)

Geral

Por tipo de escola

Privada Pública

25 10,01 15,13 8,31

26 38,77 58,50 32,24

27 24,39 28,28 23,11

28 24,6 39,66 19,61

29 18,14 26,00 15,53

30 25,41 37,99 21,25

31 27,98 36,35 25,21

32 24,62 26,37 24,04

33 17,64 18,90 17,22

34 29,71 47,08 23,97

35 20,75 24,03 19,67

36 45,35 63,33 39,40

Questão

Frequência das alternativas assinaladas (em%)

A B C D E

25 6,13 10,1 31,01 16,41 36,08

26 38,77 39,04 8,00 7,00 6,79

27 15,15 24,39 26,76 23,61 9,48

28 24,6 40,51 22,07 7,56 4,94

29 9,15 34,28 18,14 34,27 3,82

30 6,25 10,44 51,03 25,41 6,57

31 27,98 16,51 20,56 24,35 10,14

32 22,52 20,6 18,00 13,82 24,62

33 27,36 17,64 22,21 21,09 11,24

34 16,57 15,51 23,03 14,77 29,71

35 11,45 44,78 20,75 9,96 12,73

36 12,68 45,43 9,70 14,59 17,33

267

ANEXOS

ANEXO A – HABILIDADES DA PRIMEIRA VERSÃO DO ENEM

Fonte: Eixos cognitivos do ENEM (BRASIL, 2002)

1. Dada a descrição discursiva ou por ilustração de um experimento ou fenômeno,

de natureza científica, tecnológica ou social, identificar variáveis relevantes e

selecionar os instrumentos necessários para realização ou interpretação do mesmo.

2. Em um gráfico cartesiano de variável socioeconômica ou técnico-científica,

identificar e analisar valores das variáveis, intervalos de crescimento ou decréscimo

e taxas de variação.

3. Dada uma distribuição estatística de variável social, econômica, física, química ou

biológica, traduzir e interpretar as informações disponíveis, ou reorganizá-las,

objetivando interpolações ou extrapolações.

4. Dada uma situação-problema, apresentada em uma linguagem de determinada

área de conhecimento, relacioná-la com sua formulação em outras linguagens ou

vice-versa.

5. A partir da leitura de textos literários consagrados e de informações sobre

concepções artísticas, estabelecer relações entre eles e seu contexto histórico,

social, político ou cultural, inferindo as escolhas dos temas, gêneros discursivos e

recursos expressivos dos autores.

6. Com base em um texto, analisar as funções da linguagem, identificar marcas de

variantes linguísticas de natureza sociocultural, regional, de registro ou de estilo, e

explorar as relações entre as linguagens coloquial e formal.

268

7. Identificar e caracterizar a conservação e as transformações de energia em

diferentes processos de sua geração e uso social, e comparar diferentes recursos e

opções energéticas.

8. Analisar criticamente, de forma qualitativa ou quantitativa, as implicações

ambientais, sociais e econômicas dos processos de utilização dos recursos naturais,

materiais ou energéticos.

9. Compreender o significado e a importância da água e de seu ciclo para a

manutenção da vida, em sua relação com condições socioambientais, sabendo

quantificar variações de temperatura e mudanças de fase em processos naturais e

de intervenção humana.

10. Utilizar e interpretar diferentes escalas de tempo para situar e descrever

transformações na atmosfera, biosfera, hidrosfera e litosfera, origem e evolução da

vida, variações populacionais e modificações no espaço geográfico.

11. Diante da diversidade da vida, analisar, do ponto de vista biológico, físico ou

químico, padrões comuns nas estruturas e nos processos que garantem a

continuidade e a evolução dos seres vivos.

12. Analisar fatores socioeconômicos e ambientais associados ao desenvolvimento,

às condições de vida e saúde de populações humanas, por meio da interpretação de

diferentes indicadores.

13. Compreender o caráter sistêmico do planeta e reconhecer a importância da

biodiversidade para preservação da vida, relacionando condições do meio e

intervenção humana.

14. Diante da diversidade de formas geométricas planas e espaciais, presentes na

natureza ou imaginadas, caracterizá-las por meio de propriedades, relacionar seus

elementos, calcular comprimentos, áreas ou volumes, e utilizar o conhecimento

geométrico para leitura, compreensão e ação sobre a realidade.

269

15. Reconhecer o caráter aleatório de fenômenos naturais ou não e utilizar em

situações-problema processos de contagem, representação de frequências relativas,

construção de espaços amostrais, distribuição e cálculo de probabilidades.

16. Analisar, de forma qualitativa ou quantitativa, situações-problema referentes a

perturbações ambientais, identificando fonte, transporte e destino dos poluentes,

reconhecendo suas transformações; prever efeitos nos ecossistemas e no sistema

produtivo e propor formas de intervenção para reduzir e controlar os efeitos da

poluição ambiental.

17. Na obtenção e produção de materiais e de insumos energéticos, identificar

etapas, calcular rendimentos, taxas e índices, e analisar implicações sociais,

econômicas e ambientais.

18. Valorizar a diversidade dos patrimônios étnicos, culturais e artísticos,

identificando-a em suas manifestações e representações em diferentes sociedades.

épocas e lugares.

19. Confrontar interpretações diversas de situações ou fatos de natureza histórico-

geográfica, técnico-científica, artístico-cultural ou do cotidiano, comparando

diferentes pontos de vista, identificando os pressupostos de cada interpretação e

analisando a validade dos argumentos utilizados.

20. Comparar processos de formação socioeconômica, relacionando-os com seu

contexto histórico e geográfico.

21. Dado um conjunto de informações sobre uma realidade histórico-geográfica,

contextualizar e ordenar os eventos registrados, compreendendo a importância dos

fatores sociais, econômicos, políticos ou culturais.

270

ANEXO B – EIXOS COGNITIVOS DA MATRIZ DE REFERÊNCIA DO ENEM 2009

I. Dominar linguagens (DL): dominar a norma culta da Língua Portuguesa e fazer

uso das linguagens matemática, artística e científica e das línguas espanhola e

inglesa.

II. Compreender fenômenos (CF): construir e aplicar conceitos das várias áreas do

conhecimento para a compreensão de fenômenos naturais, de processos histórico-

geográficos, da produção tecnológica e das manifestações artísticas.

III. Enfrentar situações-problema (SP): selecionar, organizar, relacionar, interpretar

dados e informações representados de diferentes formas, para tomar decisões e

enfrentar situações-problema.

IV. Construir argumentação (CA): relacionar informações, representadas em

diferentes formas, e conhecimentos disponíveis em situações concretas, para

construir argumentação consistente.

V. Elaborar propostas (EP): recorrer aos conhecimentos desenvolvidos na escola

para elaboração de propostas de intervenção solidária na realidade, respeitando os

valores humanos e considerando a diversidade sociocultural.

271

ANEXO C – HABILIDADES DA ÁREA MATEMÁTICA E SUAS TECONOLOGIAS

Competência de área 1 - Construir significados para os números naturais,

inteiros, racionais e reais.

H1 - Reconhecer, no contexto social, diferentes significados e representações dos

números e operações - naturais, inteiros, racionais ou reais.

H2 - Identificar padrões numéricos ou princípios de contagem.

H3 - Resolver situação-problema envolvendo conhecimentos numéricos.

H4 - Avaliar a razoabilidade de um resultado numérico na construção de argumentos

sobre afirmações quantitativas.

H5 - Avaliar propostas de intervenção na realidade utilizando conhecimentos

numéricos.

Competência de área 2 - Utilizar o conhecimento geométrico para realizar a

leitura e a representação da realidade e agir sobre ela.

H6 - Interpretar a localização e a movimentação de pessoas/objetos no espaço

tridimensional e sua representação no espaço bidimensional.

H7 - Identificar características de figuras planas ou espaciais.

H8 - Resolver situação-problema que envolva conhecimentos geométricos de

espaço e forma.

H9 - Utilizar conhecimentos geométricos de espaço e forma na seleção de

argumentos propostos como solução de problemas do cotidiano.

Competência de área 3 - Construir noções de grandezas e medidas para a

compreensão da realidade e a solução de problemas do cotidiano.

H10 - Identificar relações entre grandezas e unidades de medida.

H11 - Utilizar a noção de escalas na leitura de representação de situação do

cotidiano.

H12 - Resolver situação-problema que envolva medidas de grandezas.

H13 - Avaliar o resultado de uma medição na construção de um argumento

consistente.

H14 - Avaliar proposta de intervenção na realidade utilizando conhecimentos

geométricos relacionados a grandezas e medidas da realidade e a solução de

problemas do cotidiano.

272

Competência de área 4 - Construir noções de variação de grandezas para a

compreensão da realidade e a solução de problemas do cotidiano.

H15 - Identificar a relação de dependência entre grandezas.

H15 - Identificar a relação de dependência entre grandezas.

H16 - Resolver situação-problema envolvendo a variação de grandezas, direta ou

inversamente proporcionais.

H17 - Analisar informações envolvendo a variação de grandezas como recurso para

a construção de argumentação.

H18 - Avaliar propostas de intervenção na realidade envolvendo variação de

grandezas.

Competência de área 5 - Modelar e resolver problemas que envolvem variáveis

socioeconômicas ou técnico-científicas, usando representações algébricas.

H19 - Identificar representações algébricas que expressem a relação entre

grandezas.

H20 - Interpretar gráfico cartesiano que represente relações entre grandezas.

H21 - Resolver situação-problema cuja modelagem envolva conhecimentos

algébricos.

H22 - Utilizar conhecimentos algébricos/geométricos como recurso para a

construção de argumentação.

H23 - Avaliar propostas de intervenção na realidade utilizando conhecimentos

algébricos.

Competência de área 6 - Interpretar informações de natureza científica e social

obtidas da leitura de gráficos e tabelas, realizando previsão de tendência,

extrapolação, interpolação e interpretação.

H24 - Utilizar informações expressas em gráficos ou tabelas para fazer inferências.

H25 - Resolver problema com dados apresentados em tabelas ou gráficos.

H26 - Analisar informações expressas em gráficos ou tabelas como recurso para a

construção de argumentos.

273

Competência de área 7 - Compreender o caráter aleatório e não-determinístico

dos fenômenos naturais e sociais e utilizar instrumentos adequados para

medidas, determinação de amostras e cálculos de probabilidade para

interpretar informações de variáveis apresentadas em uma distribuição

estatística.

H27 - Calcular medidas de tendência central ou de dispersão de um conjunto de

dados expressos em uma tabela de frequências de dados agrupados (não em

classes) ou em gráficos.

H28 - Resolver situação-problema que envolva conhecimentos de estatística e

probabilidade.

H29 - Utilizar conhecimentos de estatística e probabilidade como recurso para a

construção de argumentação.

H30 - Avaliar propostas de intervenção na realidade utilizando conhecimentos de

estatística e probabilidade.

274

ANEXO D – OS OBJETOS DO CONHECIMENTO DE MATEMÁTICA E SUAS TECNOLOGIAS

Conhecimentos numéricos: operações em conjuntos numéricos (naturais, inteiros,

racionais e reais), desigualdades, divisibilidade, fatoração, razões e proporções,

porcentagem e juros, relações de dependência entre grandezas, sequências e

progressões, princípios de contagem.

Conhecimentos geométricos: características das figuras geométricas planas e

espaciais; grandezas, unidades de medida e escalas; comprimentos, áreas e

volumes; ângulos; posições de retas; simetrias de figuras planas ou espaciais;

congruência e semelhança de triângulos; teorema de Tales; relações métricas nos

triângulos; circunferências; trigonometria do ângulo agudo.

Conhecimentos de estatística e probabilidade: representação e análise de dados;

medidas de tendência central (médias, moda e mediana); desvios e variância;

noções de probabilidade.

Conhecimentos algébricos: gráficos e funções; funções algébricas do 1.º e do 2.º

graus, polinomiais, racionais, exponenciais e logarítmicas; equações e inequações;

relações no ciclo trigonométrico e funções trigonométricas.

Conhecimentos algébricos/geométricos: plano cartesiano; retas; circunferências;

paralelismo e perpendicularidade, sistemas de equações.