Parques Lineares No Mundo

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Parques Lineares no Mundo

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Parques Lineares no Mundo

Rodrigo Duarte Arquitetura e Urbanismo

Parque Linear

Parque Linear se caracteriza fundamentalmente como uma intervenção urbanística associada à Rede Hídrica, em fundo de vale, mais especificamente na planície aluvial, e tem como objetivos:

Proteger ou recuperar os ecossistemas lindeiros aos cursos e corpos d’água

Conectar áreas verdes e espaços livres de um modo geral

Controlar enchentes; Prover áreas verdes para o lazer.

Em função de sua composição urbanística e ambiental, o Parque Linear pode ter tipologias diferenciadas, que privilegiem com maior intensidade um ou mais de um dos objetivos elencados acima. As tipologias devem ser relacionadas tanto com a composição das áreas do parque, quanto com relação à sua inserção urbana, que deve ser relacionada com a necessidade de maior implantação de equipamentos e espaços de lazer e sociabilidade ou maior priorização da preservação ambiental com menos usos (em áreas com pouca ocupação urbana no entorno ou de acessibilidade mais restrita). Essa composição pode atravessar três tipos de espaços diferenciados que se combinam de diversas formas:

Área Core coincidente com a Área de Preservação Permanente, definida pela legislação em vigor

Zona de Amortecimento, como área de transição entre a Área Core e a Zona Equipada.

Zona Equipada, para o provimento de equipamentos de lazer.

O Parque Linear têm características diferenciadas de um parque convencional por estar associado à Rede Hídrica. Nesse sentido, deve-se sempre buscar a implantação de espaços visando dar uma continuidade a caminhos verdes e à cobertura vegetal e arborização ao longo do curso hídrico, combinando espaços onde a zona equipada pode ter maior área, se assemelhando a um parque nuclear convencional, e espaços onde a faixa é mais estreita, limitando-se a áreas de preservação da mata ciliar e caminhos verdes, quando possível. A continuidade no tratamento da paisagem ao longo do curso hídrico visa não apenas a recuperação ambiental, que pode não ser possível em toda a margem e planície aluvial, mas também a valorização dos cursos d’água como elemento estrutural.

O conceito de parques lineares, seus objetivos e sua importância

Na Legislação Ambiental brasileira, os fundos de vales e o entorno dos cursos d’água são analisados como Áreas de Proteção Permanentes (APPs) e pela regulamentação não devem ser locais de edificações. Entretanto, pela imponente urbanização e pela falta de controle, a realidade tem sido outra: as margens dos rios são diversas vezes o que sobrou nas cidades para a população sem recursos como área de ocupação. Dessa forma, lixo e esgoto são despejados nas águas, tornando-as insalubres e repletas de riscos para a saúde. A implantação de parques lineares é uma forma de impedir a contaminação destes cursos d’águas que cortam as áreas urbanas. O conceito desses parques está diretamente relacionado com a sua forma, como o próprio nome mostra, os parques seguem uma "linha" ao longo das margens da cidade, como os rios e córregos, são áreas verdes no meio das áreas urbanas que acompanham os cursos d’água. Alguns de seus objetivos são proteger ou recuperar ecossistemas, impedir enchentes, reconectar áreas verdes, melhorar a qualidade de vida das populações que vivem ao entorno dos rios, impedir a poluição dos afluentes e, principalmente, restaurar sua importância ambiental e tornar um cenário de boa convivência da natureza e das cidades envolvidas.

Parques Lineares no Mundo

Muitas cidades ao redor do mundo tem no parque linear uma medida eficiente, sustentável, inteligente e evidentemente elegante de combater o mau uso, o abandono e degradação de rios, riachos e ribeirões, promovendo aos moradores uma opção saudável e extremamente agradável de lazer. O crescimento desordenado das áreas urbanas, decorrente da especulação imobiliária e da falta de um planejamento que leve em conta a dinâmica dos ecossistemas, é um dos maiores fatores que levam à fragmentação dos habitats naturais. Também há perda de biodiversidade, fragmentação dos habitats e, por fim, a diminuição ou perda de serviços ecossistêmicos (COLDING, 2007). A crescente urbanização e o conseqüente desaparecimento da vegetação nativa e de animais, aliados à crise de energia e à degradação do meio ambiente, levam-nos a uma reflexão sobre as relações entre o homem e o meio ambiente: as relações ecológicas e os modos de sobrevivência (HOUGH, 1989). Os projetos de parques são também voltados à prevenção de enchentes e à prevenção da poluição de rios e aqüíferos. Esta prevenção é realizada com a criação da área verde nas várzeas, que protegem o processo de drenagem natural da região e evitam moradias em locais de risco. A drenagem funciona, pois a reserva de água da várzea a escoa lentamente, impedindo, assim, que as enchentes se formem. Vários projetos de parques ainda trazem consigo a promessa de resgatar espécies de plantas em extinção de cada região.

Citemos três exemplos de parques que modificaram radicalmente a paisagem e estilo de vida das pessoas desses lugares:

Espanha

O escritório holandês West 8 venceu concurso de urbanismo para a criação de um parque linear na cidade de Barcelona, na Espanha. Trabalharam no projeto também os escritórios RCR + AldayJover. As linhas de trem existentes no local serão rebaixadas para dar espaço ao novo parque, que será responsável pela conexão entre o mar e a cidade. Segundo os arquitetos do West 8, a área deve representar uma oportunidade única para uma viagem sem interrupções entre o interior da região da Catalunha e a cidade de Barcelona. Ao todo, a nova área verde da cidade terá 22,2 ha. O parque iniciará sua trajetória no vale de Besós e seguirá até o mar, passando por outros parques e bairros. De acordo com o escritório, o projeto representa uma Barcelona "mais lenta", que foge da correria da cidade. O parque La Sagrera será construído na região mais nova de Barcelona, com novo caminho para pedestres e bicicletas paralelo à Avenida Diagonal, uma das mais movimentadas da região. Os visitantes poderão acessar o parque por trens, bicicleta, a pé ou via transporte público.

Portugal

O Parque Urbano da Póvoa de Santa Iria engloba o núcleo museológico “A Póvoa e o Rio”, com cafetaria, bem como o cais e arrecadações de apoio à pesca da comunidade. Possui zonas de lazer, um parque infantil e juvenil, anfiteatro informal ao ar livre e zona desportiva e de manutenção, nomeadamente com ginásio ao ar livre, vôlei de praia e skate park. O Parque Linear Ribeirinho Estuário do Tejo inclui o Centro de Interpretação do Ambiente e da Paisagem e uma cafetaria. O parque contém ainda a área denominada por “praia dos pescadores”, com amplas zonas de lazer, parque de merendas e área desportiva. Os dois parques são ligados entre si por trilhos que se estendem ao Forte da Casa e à zona da Verdelha, junto à freguesia da Alverca.

China

Qinhuangdao Red Ribbon- O projeto foi localizado no Rio Tanghe, na periferia urbana leste de Qinhuangdao City, Província de Hebei, na China. O lugar é um corredor do rio linear, com uma área total de cerca de 20 hectares. O lugar foi coberto com vegetação nativa exuberante e diversificada que fornece diversos habitats de várias espécies. Localizado à beira de uma cidade de praia, o local era um lugar de despejo de lixo com favelas desertas e instalações de irrigação, como valas e torres de água que foram construídas durante anos agrícolas atrás. Segurança e acessibilidade, potenciais problemas: distribuídos com arbustos verdejantes e gramíneas "messy", o local era praticamente inacessível e insegura para as pessoas usarem. Junto com o processo de expansão urbana, o local foi procurado para fins de lazer, como a pesca, natação e corrida pelas pessoas que vieram a residir nas comunidades recentemente desenvolvidas nas proximidades. O curso inferior deste rio já foi canalizado, e é provável que isso aconteça de novo no local, ou seja, o corredor natural do rio era susceptível de ser substituído por pavimento duro e canteiros de flores ornamentais e um novo traçado vermelho foi implementado no projeto da fita. O grande desafio do projeto foi a forma de preservar os habitats naturais ao longo do rio, enquanto a criação de novos usos urbanos de lazer e educação. A solução é a "fita vermelha". A "fita vermelha" foi concebida no contexto de vegetação verde e água azul.

Esta fita se estende por 500 metros ao longo da margem do rio, integrando um calçadão, iluminação, assentos, interpretação ambiental e orientação ambiental. É feito de aço fibra e iluminada de dentro para que ele fique vermelho à noite. Ficam 60 cm de altura, e a sua largura varia de 30-150 cm. Vários espécimes de plantas são cultivadas em buracos estrategicamente colocados na fita. Quatro pavilhões em forma de nuvens são distribuídos ao longo da fita, que fornecem proteção contra o tempo, conhecer as oportunidades e pontos focais visuais. Quatro jardins de flores

perenes de branco, amarelo, roxo e azul, atuam como patchwork nos antigos campos abertos, e transformam os lixões e locais de favelas desertas em atrações. A cor vermelha brilhante da fita acende neste lugar de densa vegetação, liga os diversos tipos de vegetação natural e os quatro jardins de flores adicionado, e fornece um instrumento estrutural que reorganiza o antigo local despenteado e inacessível. O sítio natural foi drasticamente urbanizado e modernizado, dois atributos que são muito procurados pelos moradores locais, mantendo os processos ecológicos e serviços naturais do local intacta.