Parte 2 - noveland.com.br · Quando achou que o momento era certo, ... — Ei, me solta! Que deu em...

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Parte 2 – Antes do “zero”

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01

11 de Fevereiro de 2039 – São Paulo, Brasil. Dia zero.

Aquela era uma visão do passado. Dois jovens caminhavam em meio à

movimentada avenida. Era, para todos os efeitos, um dia como qualquer outro.

Mas era também, para aqueles dois, o dia que marcava o fim da primeira semana

letiva do ano.

Os amigos conversavam sobre qualquer coisa mundana. Reclamavam

sobre a volta às aulas, conversavam sobre uma ou outra garota. Faziam o

caminho de volta para casa como sempre fizeram, subindo pelo trecho

arborizado enquanto os carros atravessavam-nos sem os dar atenção.

Deveria ser, para todos os efeitos, um dia como qualquer outro.

“Alegrei-vos, mortais. Deus há voltado seu olhar para vós”.

Foi como se o mundo inteiro tremesse, abalado pelo rugido de um trovão

que jamais existiu. Houve um eco tão alto que qualquer um pensaria que

ninguém poderia deixar passar – e ninguém o deixou. Aqueles que não estavam

acordados foram despertos, e mesmo aqueles fora de suas capacidades mentais

recobraram, por um momento, a consciência.

Pelos próximos minutos, a maior parte dos seres humanos ficaria

conhecendo as regras do que viria a ser chamado de “O Jogo”. Para aqueles dois

jovens, aquilo só aconteceria instantes mais tarde. Jaziam desacordados sobre o

chão, como jaziam um punhado de outros espalhados pelo mundo. Aqueles que,

mais tarde, ficariam conhecidos como “jogadores”.

Aquele fora... o começo de tudo.

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02

20 de Julho de 2039, São Paulo, Brasil. Base C da Resistência. Dia cento e sessenta – 15:31.

Shun abriu os olhos.

Demorou mais do que esperava para se lembrar de onde estava. Não

deveria dormir, não precisava, e havia meses que não o fazia. Como pudera se

deixar adormecer numa hora como essa? E por quê sonhara logo com aquele dia?

Olhou ao redor, em busca de seu companheiro. Encontrou uma cama

revirada ao seu lado, e seu coração pulou uma batida.

— Izuto!

Levantou-se num sobressalto, e, não demorou, ouviu passos vindos de

trás da porta. Alguém descia lentamente uma escada.

Quando achou que o momento era certo, investiu. Destroçou madeira e

concreto e agarrou o jogador à sua frente tão rápido quanto um de seus tiros. A

pistola materializou-se e ele a enfiou no queixo do homem, a mão livre

agarrando-lhe as roupas.

— Onde ele está?! — ameaçou, mas o jogador ruivo sorriu.

— Vamos com calma.

Shun reconheceu a voz e o rosto, do dia anterior. A Resistência, se

lembrou.

— Perguntei onde ele está.

— Seu amigo está bem. Melhor impossível, eu diria — olhou em direção

ao topo das escadas. — Por que não me acompanha?

O pistoleiro o girou e empurrou pelo lance de escadas, a arma rente à sua

coluna. Sem parecer se importar, o homem caminhou degrau por degrau com

tranquilidade.

Uma luz cintilante emanava do topo da escada. Quando os dois a

alcançaram, Shun pôde notar a entrada para um amplo salão. A estrutura das

paredes, que, até o momento, parecia ter sido escavada em pedra, agora dava

lugar a uma outra, feita de concreto.

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O amplo salão poderia comportar uma centena de pessoas, talvez mais.

Caixotes empilhavam-se uns sobre os outros e formavam espécies de móveis

improvisados. Algumas mesas e cadeiras se espalhavam pelo local, e o que

parecia ser os restos de um grande carpete se estendia pelo meio do aposento.

Lâmpadas dependuradas e um televisor preso à parede iluminavam o lugar, que,

do contrário, não contaria com nenhuma iluminação do exterior.

O barulho do ambiente, antes dominado por riso e conversa, lentamente

desapareceu, até tornar-se um silêncio quase ameaçador. Shun levou o dedo até

o gatilho. Estava disposto a matar cada pessoa presente naquele salão, caso a

necessidade surgisse. No entanto, uma voz o chamou.

— Ei, Shun! — Izuto acenou, do extremo oposto do salão.

O espanto do pistoleiro foi tamanho que não conseguiu contê-lo. O

espadachim estava sentado, o manto branco removido de seu corpo, vestindo

apenas sua camisa preta e a calça. Tinha no rosto uma expressão de

tranquilidade, e, na mão, um copo de um líquido roxo-avermelhado.

— Vejo que finalmente acordou.

— Por acaso você enlouqueceu de vez?!

Shun partiu para cima de Izuto como um raio, jogando-o contra a parede.

O copo que o espadachim segurava se espatifou no chão, manchando parte do

carpete que o cobria. O olhar do negro era de completa fúria.

— Ei, me solta! Que deu em você?

— Como pode estar aqui em cima, conversando como se estivesse no

meio de um velho grupo de amigos? — o pistoleiro tentou baixar o tom, mas

sabia que não conseguiria falar baixo o suficiente para que não pudessem ouvi-

los. — Não sabemos se podemos confiar nessas pessoas. E que droga é essa? —

olhou para o copo espatifado no chão.

— É suco de uva. Sabe que não bebo — Izuto deu de ombros. E mesmo se

bebesse, pensou, não teria efeito algum sobre um Avatar. Shun também sabia disso.

— Não é esse o ponto! Estamos em território desconhecido aqui. Você

não pode simplesmente...

— Já chega — falou uma terceira voz.

O pistoleiro sentiu uma mão pesar sobre seu ombro e virou-se para

encarar quem o havia segurado.

— Se tem algo a dizer, diga em voz alta — o alto jogador de cabelos

brancos lançava para Shun um olhar desafiador. O pistoleiro o encarou de volta,

em nenhum momento se deixando intimidar.

— Não tenho nada a dizer para você.

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— Ah, é? Pois eu acho que você tem.

— Ei! — o espadachim se interpôs entre os dois. — Qual é. Somos todos

amigos aqui.

— Ele está certo, Érec — disse uma jogadora de cabelos cor de obsidiana.

— Sente-se aí.

— Não recordo de alguma vez tê-los chamado de “amigos” — lembrou

um outro, de vestes vermelhas e cabelos loiros. — Além disso, esses são os dois

que nos enganaram, não são?

— Player Killer — disse o de cabelos brancos, que primeiro agarrou Shun.

— Por um tempo, realmente acreditei que fosse tudo o que prometia. Quando

Milorde disse que suspeitava que “ele”, na verdade, eram dois, fui um dos que

fui contra — deu um sorriso cínico. — Mas não passavam de uma farsa, não é

mesmo?

Ouviu-se um burburinho generalizado. O olhar de Shun endurecera,

assim como o do jogador que o encarava. Por um instante, a tensão no ar foi

tamanha que os dois praticamente tinham suas armas apontadas às gargantas

um do outro.

O jogador de cabelos ruivo bateu palmas duas vezes. A conversa cessou

e a tensão diminuiu, mas aqueles dois olhares ainda estavam fixos.

— Érec — chamou. O alvo obrigou-se a virar. — Isso não é jeito de tratar

nossos mais novos integrantes.

O tal Érec torceu os lábios e enfiou as mãos nos bolsos, retirando-se. O

pistoleiro, no entanto, não cedera.

— Seus “novos integrantes”? Não me lembro de quando nos juntamos à

sua corja.

— Oh? — o homem que fora chamado de “Milorde” limitou-se a dizer.

O pistoleiro lançou um olhar ao seu parceiro, atento às dezenas de rostos

que o fitavam.

— Vamos embora, Izuto. Não temos nada com essa gente.

Ele ia caminhando para o lado de fora, mas o espadachim o puxou. Virou

para trás, incrédulo.

— Espere, Shun — os profundos olhos azuis do branco o encaravam. —

Isso não está certo. Você quer ir embora assim?

— Foi um erro vir aqui — respondeu o negro, seco.

— Viemos aqui com um objetivo, não foi?

— Mas estávamos enganados. Olhe nos rostos deles. Olhe e verá.

— Vejo pessoas normais. Assim como nós! Eles não são monstros.

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— Nós somos monstros, Izuto. Todos nós. Achei que soubesse disso.

O espadachim pressionou os punhos e mordeu os lábios. Sentia vontade

de socá-lo, mas não o faria. Não ali.

— Você não está fazendo sentido!

Shun suspirou. Não estava disposto a discutir ali. Tinha naquelas pessoas

toda a desconfiança do mundo, mas desconfiava ainda mais do ruivo. Ele

carregava um sorriso difícil de se decifrar, e parecia se entreter com toda a

situação.

Olhou para o amigo. Sabia que as próximas palavras seriam como um

ultimato.

— Ou você vem comigo, ou não vem.

Encarou-o por um tempo. Fechou os olhos. Deixou cair os ombros, e, por

fim, deu-lhe as costas.

— Faça como quiser.

O pistoleiro respondeu, simplesmente, e desapareceu em meio à

escuridão, como se nunca houvesse pisado ali.

Izuto suspirou. O conhecia há anos, e sabia do comportamento solitário

de Shun. Por fim, optou por deixá-lo ir. Se havia uma coisa de que precisava, era

de tempo para esfriar a cabeça.

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20 de Julho de 2039, São Paulo, Brasil. Hospital Sírio-Libanês. Dia cento e sessenta – 15:42.

Já faziam trinta minutos, o único som que se ouvia na sala do hospital

era aquele “bipe” sem fim. Will poderia ter chamado alguém, se assim quisesse,

mas preferiu o conforto do silêncio pelo máximo de tempo que pôde aproveitar.

Foi o abrir da porta que quebrou a monotonia. Uma enfermeira,

presumiu, lia algo num prontuário tão atentamente que nem sequer tomara

tempo para olhá-lo no rosto. Quando o fez, no entanto, elaborou uma leve

expressão de surpresa.

— Cabo William Bittencourt? — perguntou, folheando a ficha que

segurava. — Dormiu por mais de doze horas. Como se sente?

— Como se precisasse dormir por mais doze — respondeu, com um

humor mal disfarçado. Sentia dores nas costelas e na perna. Era menos do que

esperava, para ser honesto. — O que aconteceu?

Ela não sabia dos detalhes, mas se esforçou para contar o que lhe fora

dito da melhor forma que pôde. Não era necessário tudo aquilo, no entanto. Tudo

o que o cabo queria era simplesmente uma confirmação.

— Sinto muito — ela completou.

— Não se desculpe — sua cabeça doía, mas sua aversão à drogas não o

permitiria dizê-lo. — Muito obrigado.

Depois de responder a pergunta e lhe fazer algumas outras, a enfermeira

se retirou e o deixou sozinho mais uma vez. A porta foi aberta minutos depois, e

a enfermeira retornara, acompanhada por uma outra mulher.

William procurou se sentar ao ver de quem se tratava. Tossiu um pouco

e tentou sorrir, mas o sorriso não veio.

A porta atrás da militar se fechou, e ambos ficaram a sós. A postura da

mulher de negro relaxou um pouco, mas seus pés não se moveram da entrada.

— Já faz algum tempo — foi Will quem começou a conversa.

— Sim. Quatro meses, não é isso?

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— Como vai, Rita?

Rita era uma mulher bonita, mas séria demais para lhe fazer bem. Aos

trinta e três anos, aparentava ser dez anos mais velha quando colocava o

uniforme. Suas expressões duras, também, nada contribuíam para o contrário.

— Melhor que você, Will. Soube que foi feio lá fora.

— Foi mesmo. Mas não estou tão mal assim.

— Era próximo de algum deles?

— Na verdade, não — pensou melhor. Lembrou-se de Vitor. Era o mais

próximo de um “amigo” que poderia chamar, entre aqueles homens. Lembrou

de seu sorriso enquanto falava da família, e também de sua expressão enquanto

morria.

— Compreendo — Rita respondeu, simplesmente.

Eram colegas, desde os tempos das FAR. Eram ambos Primeiros-

Tenentes em seus respectivos batalhões, mas agora, no Exército Negro, a mulher

lhe era superior. Tinha no braço o símbolo de Segundo-Sargento.

Sentia ser desrespeitoso estar deitado sobre uma cama enquanto

conversava, então Will fez algo que não arriscara até agora e tentou se levantar.

Descobriu, para sua própria surpresa, que não sentia desconforto algum ao fazê-

lo. Sua boca se torceu.

— Aqueles malditos...

— O que houve? — a militar precisou perguntar.

— Meus ferimentos. Eram muito mais graves que isso — levantou os

braços e tocou as gazes que tinha ao redor do tronco. Não sabia nem mesmo se

eram realmente necessárias.

A expressão de dúvida no rosto de Rita desapareceu, como se de súbito

entendesse o motivo do descontentamento.

— Foram eles?

— Ao que parece. É impossível que ferimentos desapareçam assim, tão

rápido. Isso para nós, meros humanos.

— Então existem aqueles com habilidades que podem ser usadas desta

forma também... — refletiu. — Irônico, não acha? Se possuem habilidades tão

incríveis, poderíamos muito bem cooperar uns com os outros.

Will não tinha tanta certeza. Ainda tinha lá seus rancores, principalmente

quanto aos encapuzados. A ideia de que fora tratado por um dos homens da

inquisição o arrepiava a espinha.

Ao caminhar até a janela, pôde ter uma visão melhor do que se passava

no Jardim Paulista. O sírio-libanês era, provavelmente, uma das estruturas

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médicas mais robustas da capital paulista. Não haviam dúvidas quanto à razão

do Exército Negro tê-lo estabelecido como uma de suas principais bases da

região. Mas, naquele momento, o que mais importava para Will era que seu

quarto ficava alto o suficiente para que pudesse avistar qualquer pesadelo que

estivesse próximo dali. Só então percebeu que tremia.

— Rita... — Will vacilou. — ...os funerais. Já aconteceram?

Aconteceram duas horas mais tarde, naquele mesmo dia. Fora uma

cerimônia simples, sem muitos comparecentes. Certamente menos do que aqueles

homens mereciam, pensou o cabo, apesar de não conhecê-los muito bem. Ele continuou

a repetir isso para si mesmo, mas se pegou chorando em um certo momento.

Will fez questão de cumprimentar a esposa de Vitor, que não levara a

filha por ainda ser muito pequena. Cumprimentou também alguns dos oficiais

que conhecia, mas um em particular pediu por sua atenção.

— Cabo William Bittencour, correto? Não creio que nos conhecemos. Sou

o Tenente-Coronel Bastos — o tenente ergueu a mão e o cabo a apertou.

— Sim, senhor. Sei quem é, senhor. Agi sob seu comando numa missão

de escolta, dois meses atrás.

— Escolta, verdade? Refere-se ao incidente com o filho do governador?

— Acredito que tenha sido nessa ocasião, senhor.

— Entendi. Bom, neste caso, me perdoe. São muitos rostos para lembrar.

Gostaria de fazer algumas perguntas sobre o incidente de ontem, se não se

importa.

— Sem problemas, senhor.

O tenente-coronel realmente fizera perguntas, mas nada que já não

tivesse sido feito por outras pessoas, antes que Will pudesse deixar o hospital.

Para falar a verdade, a expressão do homem indicava que sequer havia interesse

nas respostas do cabo, o que o deixou intrigado. O que levaria um homem da

patente dele ir até ali e perguntar algo sobre o qual não tinha interesse em saber?

— Entendo — o militar interviu, quando achou que William já havia

falado o suficiente. — Fez bem em sobreviver, soldado. O Exército Negro precisa

de homens como você.

O cabo não respondeu. Ainda tinha aquela vaga impressão de que o

homem ainda não havia dito o que viera para dizer.

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— Devo admitir, formalidades como essa me deixam apreensivo. Receio

que os tempos em que vivemos não nos permitem perder tempo com isso —

disse, e tirou um pequeno papel de um dos bolsos. — Tome. Tem a assinatura

dele aí. Você mereceu.

Ambos trocaram continências, e o tenente-coronel se retirou. Will ainda

ficou no local por um tempo, na companhia de Rita, pensando sobre o que havia

ocorrido.

— E pensar que antes já achava que tinha muito no que pensar —

confessou à companheira, segurando nas mãos o papel que, dentre muitas outras

palavras, continha uma assinatura e os dizeres “Primeiro-Sargento William

Bittencourt”.

A marginalização do espadachim, os relacionamentos do General com a

Igreja, a visita peculiar do Tenente-Coronel Bastos... E que motivos poderiam

haver por trás do fato dele ter sido promovido tantas patentes de uma vez? Algo

definitivamente estava para acontecer.

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20 de Julho de 2039, São Paulo, Brasil.

. Zona Abandonada. Dia cento e sessenta – 17:00.

Por onde quer que passasse, o ronco do motor ecoava. Era,

possivelmente, o único som audível em quilômetros. Ele pertencia a um modelo

Harley-Davidson antigo, totalmente trabalhado em preto cromado, datado das

últimas décadas do século XX.

O piloto vestia um sobretudo negro, e tinha, presa às costas, uma

espingarda da mesma cor. Shun acelerou a motocicleta, buscando evitar os

Lamentos à espreita.

Já havia feito aquele percurso mais de uma vez. Quase uma centena de

vezes, desde o dia zero. Sabia quais ruas deveria evitar, quais caminhos estariam

bloqueados. O maior perigo era encontrar outros jogadores, possíveis caçadores

dentro do distrito abandonado. No entanto, se esse fosse o caso, lidaria com eles

também.

Encontrou a motocicleta cerca de dois meses antes. O dono claramente não

vai precisar mais, foi o que pensou quando a recuperou dos escombros de uma

casa. Desde então a mantivera escondida próxima à entrada do distrito, e a usava

para se locomover através dele.

Um Lamento aguardava a oportunidade de atacar e saltou de cima de

um telhado assim que avistou Shun. O pistoleiro o reconheceu: uma Ira. Os

Lamentos poderiam ser reconhecidos através da sua aparência e, embora todos

parecessem iguais à primeira vista, saber quais sentimentos os originaram dava

aos jogadores uma pequena margem de vantagem ao saber qual tipo de

comportamento provavelmente teriam.

A criatura despencou rapidamente, um rugido bestial acompanhando

sua queda. O jogador ergueu a escopeta e, no instante seguinte, não havia mais

sinal da criatura. A arma se desmaterializou e as mãos do pistoleiro retornaram

ao guidão, acelerando novamente.

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Levou cerca de quinze minutos até que chegasse ao seu destino. Shun

parou no meio da rua, desligou o motor e caminhou por cerca de dois minutos

em meio aos emaranhados de madeira e concreto do que antes havia sido uma

vizinhança.

— Estou em casa — disse para o vazio, mas ninguém lhe respondeu.

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20 de Julho de 2039, São Paulo, Brasil.

Base C da Resistência. Dia cento e sessenta – 17:02.

— Seu amigo é um tanto antissocial, não é verdade? — comentou um

rapaz de cabelos tão brancos quanto as nuvens no céu. Chamava-se Erik.

— No começo — Izuto respondeu. — Mas depois que você se acostuma,

vê que é um cara legal.

— Então, deixe-me ver se entendi — comentou outro rapaz, de olhos

verdes e belos fios loiros. Vestia-se como um cantor de uma banda de Rock’n’Roll.

— A imagem do Espadachim Branco, ou melhor, do PK, não passava de uma

farsa? Na verdade, sempre foram vocês dois atuando em conjunto?

— Bem, sim... Mais ou menos.

— Um tanto audacioso, não? — o loiro enrolou os cabelos por entre os

dedos. — E pensar que se safariam em enganar todos nós com esse truque barato.

— Humpf! Grande coisa — Erik interveio, antes que Izuto pudesse bolar

uma resposta. — Pode vir só o espadachim ou o conjunto completo. Cuidaria dos

dois sozinho sem problemas.

— Mesmo? — foi a vez do branco sorrir. Era verdade sobre o fato de PK

ser uma dupla disfarçada de um único indivíduo, mas Izuto não era exatamente

o que poderia se chamar de “alvo fácil”. Além disso, apreciava um bom desafio.

— Gostaria muito de poder comprovar essas palavras.

Para falar a verdade, era um tanto difícil se deixar intimidar por Erik.

Apesar de seu porte físico forte e sua estatura cerca de vinte centímetros mais alta

que a do espadachim, dificilmente uma pessoa se sentiria inferior a alguém que

vestia algo daquele tipo. O pequeno dinossauro verde e raivoso berrando

“Rawr!” era tão fofo que Izuto não conseguia entender como o design de uma

blusa para garotinhas de cinco anos tinha ido parar numa versão de tamanho tão

grande.

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A expressão quase risonha do Espadachim Branco apenas fazia o

brutamontes fervilhar de raiva, e o jogador loiro divertia-se com aquilo como se

fosse o palco de um espetáculo que ele mesmo havia planejado.

— Mas isso seria um problema e tanto, não acham? — uma quarta voz se

aproximou dos três. Era uma voz feminina. — Não seria decente brigarmos uns

com os outros, e logo no primeiro dia.

O branco se virou e se deparou com um sorriso tão radiante que quase o

ofuscou. A garota, que até então não havia notado estar na sala, ostentava longos

cabelos negros que iam até metade das suas costas e olhos em tons de cinza.

— É um prazer conhecê-lo, senhor espadachim — ela falou, o rosto

perigosamente perto do de Izuto. Só então ele notou que fitava a garota tão

fixamente que se esquecera do mundo, e pôde voltar a si.

— Ah! — o rapaz cambaleou para trás. — Sim, sim. Muito prazer.

A garota sorriu mais uma vez e se retirou num giro, indo de encontro a

um grupo após o outro, com a mesma atitude animada com a qual

cumprimentara os três.

— É verdade — só agora o jogador loiro parecia ter notado. — Ainda não

conhece todo mundo, não é? Vamos, vamos apresentá-lo.

Antes mesmo que Izuto pudesse dar uma resposta, já estava sendo

arrastado para o outro lado da sala. Já havia conversado com alguns daqueles

jogadores, e alguns rostos novos apareceram. Ao todo, havia contado ao menos

trinta membros da Resistência, e não fazia ideia se haviam mais. Era incrível que

tantos jogadores estivessem reunidos ali, em um só lugar.

Claro, nem todos eram tão amigáveis como a garota, de quem não sabia

o nome, e os dois rapazes com quem conversava, Erik e Marco. Na verdade, a

grande maioria enxergava o espadachim com certa desconfiança, e ele podia

sentir os vários olhares direcionados a ele mesmo de longe.

De todos os membros do grupo, os dois que ajudaram ele e Shun na noite

passada, junto ao líder, Milorde, eram os que tinham os rostos mais claros na

mente de Izuto. Um deles estava ali, sentado, vestindo um terno social de alta

costura. O outro, o brutamontes de quase três metros, não pisara os pés ali desde

a noite passada.

No fim, o espadachim acabou por voltar ao grupo de origem, depois de

alguns minutos caminhando por aí. Continuou a conversar com os dois outros

rapazes por mais um tempo, mas também acabou preferindo se afastar.

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Izuto estava no terraço, olhando para o céu. Havia se tornado um hábito.

A sensação era de nostalgia, embora não costumasse fazer isso antes do começo

de tudo. Quem sabe, pensou, sinta inveja. Quando olhava as esferas no céu, sentia

como se fossem livres. Queria flutuar também, para bem longe daquilo tudo.

Queria não ter que erguer sua espada de novo.

Sem que percebesse, o espadachim erguia a mão na direção das inúmeras

luzes que flutuavam acima de si, numa tentativa vã de alcança-las.

Depois de alguns segundos, foi quase impossível ignorar o riso incontido

que veio de trás dele. Surpreendeu-se com a presença da garota de antes. Ainda

mais surpreendente, no entanto, foi o fato de que não a ouvira se aproximar.

— Desculpe... Não consegui segurar — a garota mal disfarçava o riso,

tendo que enxugar as lágrimas que lhe escapavam dos olhos.

— D-Desde quando você está aí? — o branco corou, completamente

embaraçado.

— Não faz muito tempo — ela sorriu mais uma vez e se aproximou da

beirada do prédio, onde Izuto se sentava. — Posso perguntar o que está fazendo?

— Bem, nada demais...

O branco não conseguia ler sua intenção, então sua reação foi de cautela.

Ambos pararam ao se entreolhar, e a situação já durava por vários segundos

quando a garota finalmente decidiu sentar-se ao lado dele.

Foi involuntário, mas o rapaz se afastou um pouco para o lado e desviou

o olhar.

— Posso perguntar o seu nome? — a voz ao seu lado indagou. Parecia

um tanto nervosa.

— Meu nome? — o branco travou. Pensou um pouco, e, só então,

respondeu. — Meu nome é Izuto.

— “I-zu-to”? — ela disse, confusa. — Que nome mais bobo! Você

inventou isso? Até parece que é seu nome de verdade.

A expressão do branco mudou de cautela para uma emburrada. Não

sabia se a garota falava sério ou estava ali para tirar sarro dele desde o começo.

— Meu nome é assim. Não me culpe.

— Tenho pena de quando você era criança...

— Muito engraçado — o espadachim esboçou uma risada forçada. — E

qual é o seu?

— Pode me chamar de Gwen.

— Gwen?

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— É. Como em Gwenhwyfar — a garota notou a expressão boquiaberta do

espadachim e sorriu. — Na nossa língua, Guinevere. Já leu os contos da Távola

Redonda?

— Então você basicamente admite que se deu um nome falso.

— Falso? Não, não — riu. — Digamos que também implicavam comigo

quando era pequena.

À medida que conversavam, a garota tomara a liberdade de se aproximar

mais um pouco. A brisa soprava seus cabelos, fazendo-os flutuar no ritmo do

inverno.

Izuto já sabia, como todos os outros na base da Resistência, ela também

era uma jogadora. No entanto, algo sobre ela parecia diferente. Ela não carregava

nos olhos a expressão dolorida que podia-se ver nos seus ou nos de Shun. Era

como se estivesse alheia a tudo.

— O que veio fazer aqui em cima?

Izuto perguntou, atropelando-se nas próprias palavras. No fundo, ainda

era o mesmo garoto de dezessete anos que não sabia falar com garotas. Era tão

irônico que ele não sabia o que fazer a não ser rir de si mesmo.

— Gosta delas? — apontou o céu. — As luzes.

— Não. Não particularmente.

— Mesmo? Não foi o que pareceu mais cedo — a garota sorriu e olhou

para cima. — Bem, eu gosto bastante.

— O que tem para gostar nelas? — a voz do branco ficou ríspida sem que

ele percebesse. — São como um lembrete de que não há esperança. Há uma delas

lá em cima para cada um. E, um dia, haverá uma para mim e para você também.

— Você acha? — a garota fixou o olhar no alto. — Eu penso o contrário.

Elas são a esperança.

Izuto as fitou também. Eram como um rio no céu, não era a primeira vez

que pensava nisso. Brilhavam azuladas durante todo o dia, mas mais

profundamente durante a noite, quando ofuscavam até mesmo as estrelas.

A garota ergueu as mãos para agarrá-las, da mesma forma que o

espadachim fizera instantes atrás, mas retornou sem nenhuma.

— Você deve ter perdido pessoas importantes também, não é? Bem,

todas as que amo estão lá em cima. Ou pelo menos a esperança delas. Sabe,

quando partimos, por que você acha que tudo que sobra é a luz dentro de nós? É

por que, no último instante, nos agarramos às nossas esperanças. Não é uma

forma maravilhosa de se pensar?

— Só por que é reconfortante não quer dizer que é verdade.

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— Sim, mas seria maravilhoso se fosse, não é mesmo?

Eles dois eram pessoas completamente diferentes. Ela vivia no mundo

da imaginação, enquanto ele fora forçado a aceitar uma realidade muito mais

dura. E ele não era forte o bastante para mudá-la.

A garota se inclinou em sua direção, e, por um instante, o coração do

branco parou. O rosto dela se aproximou perigosamente do seu, e ele só foi

entender de fato a sua intenção quando viu a mão dela repousar sobre seu peito.

— Sua luz, certamente, brilha forte em você também.

— O-O que você está fazendo?! — o rapaz se levantou de forma abrupta,

o rosto pegando fogo.

— Soei como uma verdadeira princesa de conto de fadas, não foi? — a

garota riu novamente. Izuto finalmente concluiu que ela definitivamente estava

tirando sarro dele. — Mas é a verdade. Você traz esperança às pessoas. A mim

também.

— As pessoas querem ter algo ao qual possam se agarrar. Não importa

se é falso, ou se não pode cumprir o que esperam. Elas só querem ter a sensação

de que não vão cair no fundo do poço, e que terá alguém ou alguma coisa lá

embaixo para segurá-las.

De todas as respostas que o espadachim lhe dera até agora, essa foi a que

deixou Gwen mais intrigada. Ela ponderou um pouco. Não tinha tantas

esperanças de que alguém que nem mesmo lhe dissera o nome fosse responder

aquela pergunta, mas tinha que perguntar do mesmo jeito.

— Que tipo de pessoa você era? Sabe, antes. Antes do zero.

O branco foi pego de surpresa, e precisou de um tempo para pensar sobre

como poderia responder. Olhou para cima, para as luzes e para a Lua. Lembrar

do seu eu do passado era como ter memórias de um amigo de longa data, que

não via há muito tempo.

— Acho... que normal — respondeu, simplesmente.

— Normal? É mesmo. É claro que era — a jogadora tinha no rosto uma

expressão que não mostrara até agora. Pareceu triste. Não com Izuto, mas com

alguma outra coisa. — Você é realmente incrível, senhor espadachim.

— Não é verdade.

— Não, é sim. Quando se olha para você de longe, não dá pra não se

perguntar o que você fazia antes do jogo começar. Afinal, quando se olha para

um herói, é difícil de se pensar que ele é algo além daquilo, não é? Que ele

também tem fraquezas, angústias, medos... E que um dia foi uma pessoa normal.

É realmente... incrível.

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Enquanto a garota falava, os olhos de Izuto não se desviavam por um

único instante. Ela era realmente diferente. Além disso, era como se toda sua

existência reluzisse. Fosse em seu sorriso, ou na forma como seus olhos refletiam

as luzes noturnas. Daquele ângulo, mesmo elas pareciam muito bonitas.

Mas a cena do banco ainda não havia saído de sua mente. A forma como

matara aquela mulher à sangue frio ainda o fazia gelar. Mesmo antes disso,

quando matara o assaltante do banco. E todas as outras vezes em que matara.

Incontáveis. Quem fora ele, todas aquelas vezes, para passar julgamento em

alguém?

— As pessoas estão erradas sobre mim. Eu não posso salvá-las. Não

posso salvar ninguém. Não sou um herói.

— Então a palavra gravada em suas costas é apenas uma promessa vazia?

Izuto travou. Era o símbolo de “esperança” estampado em Kanji bem

atrás de si, em seu manto, quando tinha os trajes do seu Avatar sobre o corpo.

— Você salvou dezenas de pessoas ontem, e nem mesmo se deu conta

disso. Você perde tanto tempo sentindo culpa sobre a morte das pessoas que nem

consegue ver o bem que faz.

— Não finja que me conhece! — gritou, bem mais alto do que esperava.

Izuto não se sentiu bem depois daquilo, mesmo que tivesse colocado o

que sentia para fora. Guinevere abaixou o olhar, arrependida.

— Desculpe. Não foi a minha intenção.

— Não... A culpa não é sua. É só que... Isso tudo... Tem me deixado muito

cansado.

Com um suspiro, a jogadora reuniu forças e coragem. Fechou os olhos e

bateu duas vezes contra o próprio rosto, usando as duas mãos.

— E-Ei! — Izuto exclamou, preocupado. Até mesmo a ponto de esquecer

da própria melancolia.

— Desculpa! É um velho hábito — ela sorria, e tinha as bochechas muito

vermelhas. — Me deixa motivada.

— Não é um hábito muito saudável — o espadachim também arriscou

um sorriso.

— Não. Acho que não — a morena deu mais um sorriso e se levantou. —

Vamos, vem comigo. Tem uma coisa que quero te mostrar.

O branco hesitou por um instante, mas, no seguinte, se levantou também.

Antes de segui-la, no entanto, deu uma última boa olhada no céu acima de si.

Pensou mais uma vez sobre Shun, e sobre onde poderia estar. E, mais uma vez,

xingou-o sem que pudesse ouvir. Aquele imbecil...

20

06

20 de Julho de 2039, São Paulo, Brasil.

Zona Abandonada. Dia cento e sessenta – 17:17.

.

A memória do pistoleiro estava fresca como se tudo tivesse acontecido

ontem. À medida em que pilotava pelas ruas, lembrava-se de seus tempos de

criança, por onde brincava de se esconder e os becos onde jogava futebol. Muitas

dessas lembranças incluíam Izuto, mas, à medida que os anos se passavam, elas

iam diminuindo até tornarem-se raridades.

Se quisesse, poderia dizer os sobrenomes de todos que moravam por ali,

se não tivessem se mudado pouco antes do começo do jogo. Se perguntou

quantas dessas famílias ainda estavam vivas. Não muitas, chegou à conclusão.

A casa onde Shun morava ficava quase no epicentro do que passou a ser

conhecida como a Zona Abandonada. Quando o dia zero chegou e as sombras

levantaram-se para devorar seus donos, toda a capital tornou-se um caos, mas

aquela zona foi a que caiu em desgraça. Não tinham como saber disso na época,

mas as Sombras possuem um padrão de comportamento. Elas tendem a juntar-

se, formar bandos, e, por isso, aglomerarem-se em um local só.

Sim, aquela foi a zona onde formou-se a primeira tempestade, a primeira

grande concentração de energia negativa, responsável por atrair cada vez mais

monstros para si própria.

Para a cidade de São Paulo, aquele era o epicentro do “dia zero”.

O negro acelerou sua Harley-Davidson e terminou de atravessar a

distância do bairro o mais depressa que conseguiu. Não sabia o porquê de ainda

voltar lá, se tudo o que conseguia era sentir novamente aquela dor. Era como um

eterno lembrete do pecado que cometera naquele dia.

De repente, todas as lembranças voltaram para ele, e Shun estava de

volta. Sua fraqueza, seus arrependimentos... tudo estava de volta. Era 11 de

fevereiro novamente.

21

07

11 de Fevereiro de 2039. São Paulo, Brasil Dia zero.

Quando o primeiro dos dois acordou, uma dor de cabeça tão forte o

acometeu que ele pensou ter sido atingido por um trem.

O pistoleiro ergueu-se devagar, precisando do apoio de uma das árvores

para se manter de pé. Não sabia o porquê, mas tinha certeza que havia desmaiado

por algum tempo, pois o Sol que se punha já indicava o fim da tarde.

Seu primeiro instinto foi procurar seu amigo, pois estar com ele era a

última coisa de que se lembrava. No entanto, uma outra memória também

irrompia seus pensamentos... A voz de alguém, como se estivesse falando com

ele. Na verdade... era mais como se a voz tivesse ecoado dentro de sua mente.

O pistoleiro ouviu o som de alguém se levantar, e, por instinto, o

procurou. Viu o rosto de uma pessoa que nunca havia visto. Um rapaz perto dos

seus vinte anos, vestido em vestes brancas que em muito lembravam as de um

personagem de jogos. Nas costas, uma espada que confirmava a semelhança na

mente do rapaz.

Foi então que um baque de autoconsciência o atacou, e, de repente, o

pistoleiro não se sentia mais como ele mesmo. Havia algo... diferente.

O espadachim se levantou, com uma dor de cabeça aparente tão forte

quanto a que o pistoleiro sentira. O outro jogador começava a notar as diferenças

sobre sua própria aparência, quando, dos lábios do outro, o nome de um deles

escapou.

E eles souberam.

Um surto de adrenalina preencheu suas veias. Um carro estava

destroçado, de cabeça para baixo, bloqueando a passagem naquela avenida.

Apesar disso, alguém... algo se movia lá dentro. Não os havia notado, ou melhor,

os havia ignorado por causa de estarem desacordados, e do silêncio que faziam...

22

Mas agora eles estavam acordados, e os dois garotos e aquela coisa

avistaram uns aos outros.

Era negro. Negro como se feito de sombras. Negro como se roubasse toda

a luz que tocasse. Corcunda, sem forma definida e totalmente sem cor, não

fossem seus “dentes”, manchados de vermelho. A criatura devorava a carcaça do

que um dia fora um ser humano. E quando olhou para eles, era quase como se...

sorrisse.

É claro, nenhum dos dois sabia. Nenhum dos dois fazia ideia do que era

o jogo, nem de que eram jogadores. Para eles, era mais como se tudo aquilo fosse

um sonho estranho; como se ainda não houvessem acordado. Um pesadelo.

Então, é claro, os dois fugiram dali o mais depressa que podiam. O

pistoleiro precisou arrastar o espadachim pelos primeiros dois quarteirões antes

que esse conseguisse se mover com as próprias pernas. A criatura, o que quer

que fosse, havia abandonado seu jantar e agora perseguia suas novas presas.

Ainda que tivessem poderes, eram só garotos. Haviam sido atirados no

Inferno, sem mais nem menos. Que mais poderiam fazer?

Eram só... garotos. Mesmo agora, era o que o pistoleiro repetia para si

mesmo.

Em meio as lembranças misturadas ao barulho do ronco do motor, o

Pistoleiro Negro despertou de seu transe quando avistou algo que nunca

imaginaria.

Foi apenas um vislumbre, mas tinha certeza do que vira. Havia no céu

um raio branco, iluminado com um forte brilho que se estendia de suas costas

como um belo par de asas.

O pistoleiro endureceu a expressão, e mudou bruscamente de rota.

Puxou o acelerador o máximo que pôde, e o motor da Harley-Davidson berrou

mais alto do que qualquer outro barulho na noite.

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FICHA TÉCNICA

Roteiro │ Diogo Lima

Ilustração │ Aline Diniz

Revisão │ Anderson William

Upload │ NOVELAND

@NoveLandOficial

Facebook.com/novelandBR

noveland.com.br

Owen e Ellenia são integrantes da Legião de Mahyra, a

maior e mais temida força armada da República do Rio, um

pequeno país recém-emancipado no sudeste da Aliança Sul-

americana.

Certo dia, eles recebem um pedido de socorro vindo de

uma metrópole ao sul chamada Jothenville. Aparentemente,

incontáveis onças-pintadas haviam dominado a cidade,

mantendo todos os habitantes como reféns, e, claro, impedindo

a chegada de alimentos. No entanto, o que realmente chamou

a atenção dos dois foi o fato de haver uma misteriosa pessoa

encapuzada controlando os animais selvagens.

A fim de evitar uma catástrofe, os soldados atravessam o

país com a intenção de salvar Jothenville sem sequer imaginarem

que havia uma poderosa inimiga manipulando toda aquela

situação por detrás das cortinas. Mais do que nunca, Owen e

Ellenia precisam confiar cegamente na poderosa ligação que os

unem para vencer mais uma batalha nessa era abraçada pelas

trevas e a ameaça de uma nova grande guerra.

Autor(a): Anderson William

Ilustração: Anderson William

Gêneros: Horror, Romance, Mistério, Shounen

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