PATOLOGIA, RECUPERAÇÃO E REFORÇO DE ESTRUTURAS DE …

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1 UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ DEPARTAMENTO ACADÊMICO DE CONSTRUÇÃO CIVIL CURSO DE ENGENHARIA CIVIL PATOLOGIA, RECUPERAÇÃO E REFORÇO DE ESTRUTURAS DE CONCRETO PROFs. WELLINGTON MAZER CURITIBA PR 2008

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UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ DEPARTAMENTO ACADÊMICO DE CONSTRUÇÃO CIVIL

CURSO DE ENGENHARIA CIVIL

PATOLOGIA, RECUPERAÇÃO E

REFORÇO DE ESTRUTURAS DE

CONCRETO

PROFs. WELLINGTON MAZER

CURITIBA – PR

2008

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SUMÁRIO

1 – INTRODUÇÃO ................................................................................................................................... 6

1.1 – OBJETIVOS DA PATOLOGIA DAS CONSTRUÇÕES ............................................................................... 7 1.2 – IMPORTÂNCIA DA PATOLOGIA ESTRUTURAL ................................................................................... 7 1.3 – CONCEITOS ASSOCIADOS À PATOLOGIA DAS CONSTRUÇÕES ............................................................ 8

2 – DURABILIDADE ............................................................................................................................... 10

2.1 – CONCEITO DE DURABILIDADE SEGUNDO A NBR 6118:2003 ............................................................. 10 2.2 – AGRESSIVIDADE AMBIENTAL ........................................................................................................ 13 2.3 – MANUTENÇÃO ............................................................................................................................. 15

3 – ORIGEM DAS MANIFESTAÇÕES PATOLÓGICAS ................................................................................. 17

3.1 – PATOLOGIAS DEVIDO AO PROJETO ................................................................................................ 17 3.2 – PATOLOGIAS DEVIDO À EXECUÇÃO ............................................................................................... 18 3.3 – PATOLOGIAS DEVIDO AOS MATERIAIS ........................................................................................... 18 3.4 – PATOLOGIAS DEVIDAS À UTILIZAÇÃO ............................................................................................ 20

4 – SINTOMATOLOGIA .......................................................................................................................... 21

4.1- CONSIDERAÇÕES INICIAIS ............................................................................................................... 21 4.2 - IMPORTÂNCIA DA SINTOMATOLOGIA ............................................................................................ 21 4.3 – INSPEÇÃO E AVALIAÇÃO DOS SINTOMAS ....................................................................................... 23 4.4 – SINTOMAS MAIS COMUNS ............................................................................................................ 23 4.5 - FISSURAÇÃO ................................................................................................................................. 24 4.5.1 DENOMINAÇÃO DAS FISSURAS ........................................................................................................................ 25 4.5.2 CLASSIFICAÇÃO DAS FISSURAS ........................................................................................................................ 25 4.5.3 CARACTERIZAÇÃO DAS FISSURAS ..................................................................................................................... 26 4.5.4 ANÁLISE DAS FISSURAS .................................................................................................................................. 27 4.6 – SINTOMATOLOGIA DOS CONCRETOS ............................................................................................. 27 4.6.1 FISSURAS .................................................................................................................................................... 28 4.6.2 DESAGREGAÇÃO ...................................................................................................................................... 31 4.6.3 CORROSÃO DAS ARMADURAS ................................................................................................................. 32 4.6.4 CARBONATAÇÃO ..................................................................................................................................... 34 4.6.5 CORROSÃO DO CONCRETO ...................................................................................................................... 35

5 – DIAGNÓSTICO DE PATOLOGIAS ....................................................................................................... 36

5.1 – CONSIDERAÇÕES GERAIS .............................................................................................................. 36 5.2 – PATOLOGIAS DEVIDO AO PROJETO ................................................................................................ 36 5.2.1 MODELIZAÇÃO ESTRUTURAL INADEQUADA ....................................................................................................... 36 5.2.2 CONSIDERAÇÕES SOBRE A FISSURAÇÃO DE COMPONENTES DE CONCRETO ARMADO SUBMETIDOS A

SOBRECARGAS ...................................................................................................................................................... 37 5.2.3 CONSIDERAÇÕES SOBRE A DEFORMABILIDADE DE COMPONENTES SUBMETIDOS À FLEXÃO ........................... 38 5.2.4 DETALHAMENTO ERRADO OU INSUFICIENTE...................................................................................................... 40

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5.2.5 INADEQUAÇÃO AO AMBIENTE ........................................................................................................................ 41 5.2.6 INCORREÇÃO NA INTERAÇÃO SOLO-ESTRUTURA ................................................................................................ 42 5.2.7 INCORREÇÃO NA CONSIDERAÇÃO DE JUNTAS DE DILATAÇÃO E MOVIMENTAÇÃO .................................................... 42 5.3 – PATOLOGIAS DEVIDA À EXECUÇÃO ................................................................................................ 43 5.3.1 DEFICIENCIAS DE CONCRETAGEM ........................................................................................................... 43 5.3.2 INADEQUAÇÃO DE FÔRMAS E ESCORAMENTOS ..................................................................................... 44 5.3.3 DEFICIÊNCIA NAS ARMADURAS ............................................................................................................... 45 5.4 – PATOLOGIAS DEVIDO AOS MATERIAIS ........................................................................................... 46 5.4.1 UTILIZAÇÃO INCORRETA DOS MATERIAIS ................................................................................................ 46 5.4.2 CAUSAS RELACIONADAS À NATUREZA DO MATERIAL CONCRETO .......................................................... 47 5.5 – PATOLOGIAS DEVIDO À FALTA DE MANUTENÇÃO .......................................................................... 52 5.5.1 FALHAS HUMANAS DURANTE A VIDA ÚTIL DA ESTRUTURA .................................................................... 52 5.5.2 AÇÕES FÍSICAS ......................................................................................................................................... 53 5.5.3 AÇÕES QUÍMICAS..................................................................................................................................... 54 5.5.4 AÇÕES BIOLÓGICAS.................................................................................................................................. 55 5.6 – MECANISMOS E CONFIGURAÇÕES TÍPICAS DAS PATOLOGIAS DAS ESTRUTURAS DE CONCRETO ....... 57 5.6.1 DEFICIÊNCIAS DE PROJETO ............................................................................................................................. 57 5.6.2 CONTRAÇÃO PLÁSTICA DO CONCRETO ............................................................................................................. 61 5.6.3 RETRAÇÃO DO CONCRETO ............................................................................................................................. 62 5.6.4 FISSURAS CAUSADAS POR DEFICIÊNCIAS DE EXECUÇÃO ....................................................................................... 63 5.6.5 FISSURAS CAUSADAS POR REAÇÕES EXPANSIVAS ............................................................................................... 64 5.6.6 FISSURAS CAUSADAS PELA CORROSÃO DAS ARMADURAS .................................................................................... 64 5.6.7 FISSURAS CAUSADAS POR RECALQUES DIFERENCIAIS .......................................................................................... 66 5.6.8 FISSURAS CAUSADAS PELA VARIAÇÃO DE TEMPERATURA .................................................................................... 66 5.7 – DESAGREGAÇÃO DO CONCRETO ................................................................................................... 67 5.7.1 CAUSAS DA DESAGREGAÇÃO DO CONCRETO .......................................................................................... 67

6 – ENSAIOS PARA ESTUDOS PATOLÓGICOS .......................................................................................... 71

6.1 - INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 71 6.2 - INSPEÇÃO VISUAL ......................................................................................................................... 72 6.3 - ESCLEROMETRIA ........................................................................................................................... 74 6.3.1 GENERALIDADES .......................................................................................................................................... 74 6.3.2 SUPERFÍCIES A SEREM ENSAIADAS ................................................................................................................... 76 6.3.3 ÁREA DE ENSAIO .......................................................................................................................................... 76 6.3.4 IMPACTOS ................................................................................................................................................... 77 6.3.5 ESBELTEZ DOS ELEMENTOS, COMPONENTES E PEÇAS DE CONCRETO ..................................................................... 77 6.3.6 FATORES QUE INFLUENCIAM OS RESULTADOS ................................................................................................... 78 6.3.7 RESULTADOS ............................................................................................................................................... 79 6.4. ULTRA-SOM ................................................................................................................................... 80 6.4.1 INTRODUÇÃO............................................................................................................................................... 80 6.4.2 HISTÓRICO .................................................................................................................................................. 82 6.4.3 ONDAS ULTRA-SÔNICAS ................................................................................................................................ 82 6.4.4 APLICANDO O ULTRA-SOM ............................................................................................................................ 83 6.4.5 TÉCNICAS USADAS EM ULTRA-SOM ................................................................................................................. 83 6.4.6 VANTAGENS E LIMITAÇÕES EM COMPARAÇÕES COM OUTROS ENSAIOS ................................................................. 84 6.4.7 FATORES QUE INFLUENCIAM NA VELOCIDADE DE PROPAGAÇÃO E CONSIDERAÇÃO DOS SEUS EFEITOS NOS ENSAIOS ..... 85 6.4.8. RELAÇÕES ENTRE ULTRA-SOM E OUTROS ENSAIOS ............................................................................................. 85 6.5 - RADIOGRAFIA, RADIOSCOPIA E GAMAGRAFIA................................................................................ 87 6.5.1 INTRODUÇÃO............................................................................................................................................... 87 6.5.2 RADIOGRAFIA .............................................................................................................................................. 88 6.5.3 GAMAGRAFIA .............................................................................................................................................. 89

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6.5.4 RADIOSCOPIA .............................................................................................................................................. 92 6.6 - RESISTÊNCIA À PENETRAÇÃO DE PINOS .......................................................................................... 92 6.6.1 INTRODUÇÃO............................................................................................................................................... 92 6.6.2 DESCRIÇÃO DO MÉTODO ............................................................................................................................... 93 6.6.3 VANTAGENS E LIMITAÇÕES ............................................................................................................................. 93 6.6.4 APLICAÇÕES ................................................................................................................................................ 94 6.6.5 FATORES QUE INFLUENCIAM OS RESULTADOS DO ENSAIO .................................................................................... 94 6.7 - MÉTODO DA MATURIDADE ........................................................................................................... 95 6.8 – OUTROS ENSAIOS ......................................................................................................................... 96 6.8.1 ENSAIO DE VERIFICAÇÃO DA CARBONATAÇÃO DO CONCRETO ............................................................................... 96 6.8.2 DETERMINAÇÃO DA CONCENTRAÇÃO DE CLORETOS NO CONCRETO ....................................................................... 96 6.8.3 DETERMINAÇÃO DA CONCENTRAÇÃO DE SULFATOS NO CONCRETO........................................................................ 98 6.9 - OUTROS EQUIPAMENTOS .............................................................................................................. 99 6.9.1 CONTROLE DE ABERTURA DE FISSURAS ................................................................................................... 99

7 - ESTRATÉGIA DE INSPEÇÃO, AVALIAÇÃO E DIAGNÓSTICO DAS PATOLOGIAS ................................ 101

7.1 - INTRODUÇÃO .............................................................................................................................. 101 7.2 – ESTRATÉGIAS DE INSPEÇÃO......................................................................................................... 102 7.2.1 LEVANTAMENTO DE DADOS ......................................................................................................................... 103 7.2.2 TÉCNICA DE INVESTIGAÇÃO .......................................................................................................................... 104 7.2.3 ANÁLISE DOS DADOS .................................................................................................................................. 108 7.3 - MÉTODOS DE CONDIÇÕES DE AVALIAÇÃO PÓS INSPEÇÃO ............................................................. 109 7.3.1 MÉTODO BÁSICO ....................................................................................................................................... 110 7.3.2 MÉTODO GERAL ........................................................................................................................................ 111 7.4 - DIAGNÓSTICO ............................................................................................................................. 113

8 – MATERIAIS PARA RECUPERAÇÃO E REFORÇO ................................................................................. 115

8.1 – INTRODUÇÃO ............................................................................................................................. 115 8.2 – MATERIAIS UTILIZADOS .............................................................................................................. 116 8.2.1 CONCRETO ................................................................................................................................................ 116 8.2.2 ARGAMASSAS ............................................................................................................................................ 116 8.2.3 ENDURECEDORES DE SUPERFÍCIE ................................................................................................................... 116 8.2.4 INIBIDORES DE CORROSÃO ........................................................................................................................... 116 8.2.5 OUTROS MATERIAIS .................................................................................................................................... 117

9 – TÉCNICAS DE RECUPERAÇÃO E REFORÇO ....................................................................................... 118

9.1 – PREPARO DO SUBSTRATO ........................................................................................................... 118 9.1.1 REMOÇÃO DO CONCRETO DETERIORADO ........................................................................................................ 118 9.1.2 LIMPEZA DA SUPERFÍCIE ............................................................................................................................... 120 9.1.3 DEMOLIÇÃO DO CONCRETO ......................................................................................................................... 122 9.2 – TRATAMENTO DE FISURAS .......................................................................................................... 123 9.2.1 IDENTIFICAÇÃO DO TIPO DE FISSURA E SELEÇÃO DA TÉCNICA A ADOTAR ................................................................ 123 9.2.2 MÉTODOS DE REPARO ................................................................................................................................. 123 9.3 – TRATAMENTO DE NINHOS .......................................................................................................... 127 9.4 – TRATAMENTO DE DESAGREGAÇÕES ............................................................................................ 128 9.5 – CORROSÃO DE ARMADURAS ....................................................................................................... 129 9.6 – ALVENARIAS E REVESTIMENTOS .................................................................................................. 130

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10 – ANÁLISE DE REFORÇO ESTRUTURAL ............................................................................................. 132

10.1 – DETERMINAÇÃO DA RESISTÊNCIA RESUDUAL ............................................................................ 132 10.1.1 RESISTÊNCIA RESIDUAL DE PEÇAS FLETIDAS ................................................................................................... 132 10.1.2 RESISTÊNCIA RESIDUAL DE PEÇAS COMPRIMIDAS ............................................................................................ 133 10.2 – REFORÇO COM CHAPAS COLADAS ............................................................................................. 134 10.2.1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................................................... 134 10.2.2 DIMENSIONAMENTO DO REFORÇO .............................................................................................................. 135 10.3 – REFORÇO COM PERFIS METÁLICOS ............................................................................................ 138 10.3.1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................................................... 138 10.3.2 REFORÇO DE PILARES ................................................................................................................................ 139 10.3.3 REFORÇO DE VIGAS ................................................................................................................................... 140 10.4 – REFORÇO COM CONCRETO ARMADO ......................................................................................... 140 10.4.1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................................................... 140 10.4.2 REFORÇO DE PILARES ................................................................................................................................ 141 10.4.3 REFORÇO DE VIGAS ................................................................................................................................... 142 10.5 – REFORÇO COM CONCRETO PROTENDIDO .................................................................................. 143 10.6 – REFORÇO COM FIBRAS DE CARBONO ......................................................................................... 147 10.6.1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................................................... 147 10.6.2 MATERIAIS E PROPRIEDADES ...................................................................................................................... 148 10.6.3 PROCESSO CONSTRUTIVO .......................................................................................................................... 150 10.7 – REFORÇO DE FUNDAÇÕES ......................................................................................................... 153 10.7.1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................................................... 153 10.7.2 DEFEITOS NAS FUNDAÇÕES ........................................................................................................................ 153 10.7.3 CONCEITO DE REFORÇO DE FUNDAÇÃO......................................................................................................... 153 10.7.4 TIPOS DE SOLUÇÕES .................................................................................................................................. 154 10.7.5 ESCOLHA DO TIPO DE REFORÇO ................................................................................................................... 157

BIBLIOGRÁFIA CONSULTADA E RECOMENDADA .................................................................................. 158

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1 – INTRODUÇÃO Desde os primórdios da civilização que o homem tem se preocupado com a construção de estruturas

adaptadas às suas necessidades, sejam elas habitacionais (casas e edifícios), laborais (escritórios, indústrias,

silos, galpões, etc.), ou de infra-estrutura (pontes, cais, barragens, metrôs, aquedutos, etc.). Com isto, a

humanidade acumulou um grande acervo científico ao longo dos séculos, o que permitiu o desenvolvimento

da tecnologia da construção, abrangendo a concepção, o cálculo, a análise e o detalhamento das estruturas, a

tecnologia de materiais e as respectivas técnicas construtivas.

O crescimento sempre acelerado da construção civil, em alguns países e épocas, provocou a necessidade de

inovações que trouxeram, em si, a aceitação implícita de maiores riscos. Aceitos estes riscos, ainda que

dentro de certos limites, a progressão do desenvolvimento tecnológico aconteceu naturalmente, e, com ela, o

aumento do conhecimento sobre estruturas e materiais, em particular através do estudo e análise dos erros

acontecidos, que têm resultado em deterioração precoce ou em acidentes.

Apesar disto, e por ainda existirem sérias limitações ao livre desenvolvimento científico e tecnológico, além

das ainda inevitáveis falhas involuntárias e casos de imperícia, tem sido constatado que algumas estruturas

acabam por ter desempenho insatisfatório, se confrontadas com as finalidades a que se propunham.

Este complexo conjunto de fatores gera o que é chamado de deterioração estrutural. Objetivamente, as causas

da deterioração podem ser as mais diversas, desde o envelhecimento "natural" da estrutura até os acidentes.

Designa-se genericamente por PATOLOGIA DAS CONSTRUÇÕES um novo campo da Engenharia das

Construções que se ocupa do estudo das origens, formas de manifestação, conseqüências e mecanismos de

ocorrência das falhas e dos sistemas de degradação das estruturas.

Uma sistematização proposta para o estudo da Patologia das Construções levará os problemas patológicos a

serem classificados como simples, cujo diagnóstico e profilaxia são evidentes, e complexos, que exigem uma

análise individualizada e pormenorizada.

Problemas patológicos simples: são os que admitem padronização, podendo ser resolvidos sem que o

profissional responsável tenha obrigatoriamente conhecimentos altamente especializados;

Problemas patológicos complexos: não convivem com mecanismos de inspeção convencionais e

esquemas rotineiros de manutenção, obrigando a uma análise pormenorizada e individualizada do

problema, sendo então necessários profundos conhecimentos de Patologia das Construções.

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1.1 – OBJETIVOS DA PATOLOGIA DAS CONSTRUÇÕES

Os objetivos a serem atingidos em um estudo patológico devem atender a diversas situações,

podendo apenas identificar situações de risco no projeto até necessidades de intervenções urgentes.

Entre as situações mais usuais, pode-se destacar os seguintes objetivos:

- Projetos de componentes de sistemas:

- Determinação de mecanismos de deterioração;

- Avaliação da agressividade do meio x desempenho;

- Apresentação de medidas de proteção preventiva;

- Elaboração de projeto e detalhamento para execução;

- Fornecimento de procedimentos de manutenção e utilização.

- Manutenção de componentes e sistemas existentes:

- Análise de mecanismos de deterioração;

- Avaliação da agressividade do meio e impactos sobre os elementos;

- Elaboração de ensaios dos materiais e de desempenho;

- Elaboração de procedimentos de manutenção e utilização;

- Elaboração de projeto de reparos, reforço ou recuperação;

- Instrumentação e monitoração do desempenho de sistemas;

- Avaliação do grau de segurança e confiabilidade.

1.2 – IMPORTÂNCIA DA PATOLOGIA ESTRUTURAL

Cánovas (1988) ressalta que a patologia das construções está intimamente ligada ao conceito de

qualidade, sendo que este último têm se desenvolvido nos últimos anos. No entanto com o

desenvolvimento tecnológico, em particular da informática, e o conhecimento mais detalhado dos

materiais, as estruturas tem se tornado mais esbeltas, consequentemente mais deformáveis, fato este

que colabora para o surgimento de patologias.

Sabe-se que as patologias nas construções são tão antigas quanto os próprios edifícios, pois há mais

de 4.000 anos, o Código de Hamurabi já indicava cinco regras para prevenir defeitos nos edifícios,

são elas:

- Se um construtor faz uma casa para um homem e não a faz firme e seu colapso causa a

morte do dono da casa, o construtor deverá morrer.

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- Se causa a morte do filho do dono da casa, o filho do construtor deverá morrer.

- Se causa a morte de um escravo do proprietário da casa, o construtor deverá dar ao

proprietário um escravo de igual valor.

- Se a propriedade for destruída, ele deverá restaurar o que foi destruído por sua própria

conta.

- Se um construtor faz uma casa para um homem e não a faz de acordo com as

especificações e uma parede desmorona, o construtor reconstruirá a parede por sua própria conta.

Sendo este o primeiro tratado conhecido sobre Patologia das Construções.

É extremamente difícil conhecer a situação atual do problema patológico estrutural, pois assim

como os êxitos são anunciados, a maioria dos fracassos, ou colapsos, são escondidos, impedindo

seu estudo para evitar que o mesmo erro se repita. E quando uma falha é divulgada, procura-se um

culpado, mas não se divulga a causa do colapso nem os métodos de estudo e análises.

Robert Stevenson, presidente do Instituto Britânico de Engenharia já aconselhava, em 1856, que os

acidentes de engenharia fossem analisados e divulgados, pois isto seria instrutivo para os alunos e

profissionais da engenharia.

Da mesma forma como os seres humanos, existem estruturas sadias e estruturas enfermas, que

tiveram problemas em uma das etapas de seu desenvolvimento, que são projeto (gestação),

execução (crescimento), conservação e manutenção (durante sua vida). Podendo ainda existir

problemas de uso de materiais defeituosos ou inadequados. Também deve ser considerado que,

assim como os seres humanos, as estruturas envelhecem com o passar do tempo, em um processo

de degradação lento de seus materiais.

1.3 – CONCEITOS ASSOCIADOS À PATOLOGIA DAS CONSTRUÇÕES

Agente: causa imediata que deu origem ao problema patológico.

Agentes causadores de patologias: Deslocamentos de fundações, movimentação do terreno natural,

efeitos de condições climáticas, alterações químicas dos materiais, retração e expansão dos

materiais, defeitos de projeto, defeitos de execução, uso indevido da edificação, falta de

manutenção, degradação dos materiais e componentes em função de seu envelhecimento natural.

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Correção: eliminação dos defeitos acarretados pelos problemas patológicos.

Diagnóstico: determinação das causas dos mecanismos de formação e da gravidade potencial de um

problema patológico, com base na observação dos sintomas e na eventual realização de estudos

específicos.

Falha: é um descuido, uma atividade imprevista ou acidental que se traduz em um defeito ou dano.

Origem: etapa do processo construtivo em que ocorreu um problema que se manifestará na forma

de uma patologia.

Patologia: é a ciência que estuda, de forma metodizada, a origem, os sintomas e a natureza dos

defeitos e danos de uma edificação.

Prognóstico: avaliações ou conjecturas, baseadas nos diagnósticos, que alerta a duração, evolução

ou término do problema patológico.

Profilaxia: ciência que estuda as medidas necessárias à prevenção das enfermidades.

Recuperação: correção dos problemas patológicos.

Reforço: aumento da capacidade resistente de um elemento estrutural.

Sintoma: manifestação patológica.

Terapia: ciência que estuda as medidas necessárias para sanar um problema patológico.

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2 – DURABILIDADE

Conforme conhecimento geral, muitas estruturas expostas ao meio ambiente agressivo têm

mostrado uma deterioração prematura muito grave. Muitas têm alcançado um estado muito sério de

degradação, com descamações e pedaços caindo. Alguns colapsos foram noticiados. Dessa maneira

um dos conhecimentos que devem ser adicionados e avaliados para a definição da durabilidade de

uma estrutura diz respeito à segurança residual das mesmas.

Outra condição importante diz respeito à avaliação do grau de dano de maneira racional e a

necessidade de seguir uma estratégia também racional para selecionar o método de recuperação

mais conveniente.

2.1 – CONCEITO DE DURABILIDADE SEGUNDO A NBR 6118:2003

Exigências de durabilidade

Segundo a NBR 6118:2003, as estruturas de concreto devem ser projetadas e construídas de modo

que, sob as condições ambientais previstas na época do projeto e quando utilizadas conforme

preconizado em projeto, conservem sua segurança, estabilidade e aptidão em serviço durante o

período correspondente à sua vida útil.

Vida útil

Por vida útil de projeto, entende a NBR 6118:2003, como o período de tempo durante o qual se

mantêm as características das estruturas de concreto sem exigir, em relação às prescrições de

manutenção previstas, medidas extras de manutenção e reparo, isto é, após esse período que começa

a efetiva deterioração da estrutura, com o aparecimento de sinais visíveis como: produtos de

corrosão da armadura, desagregação do concreto, fissuras, etc. Esta norma pressupõe uma vida útil

de no mínimo 50 anos, de acordo com as exigências de durabilidade.

O conceito de vida útil aplica-se à estrutura como um todo ou às suas partes, dessa forma,

determinadas partes da estrutura podem merecer considerações especiais com valor de vida útil

diferente do todo.

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O conhecimento da vida útil e da curva de deterioração de cada material ou estrutura são fatores de

fundamental importância para a confecção de orçamentos reais para a obra, assim como de

programas de manutenção adequados e realistas.

Já por desempenho entende-se o comportamento em serviço de cada produto, ao longo da vida útil,

e a sua medida relativa espelhará, sempre, o resultado do trabalho desenvolvido nas etapas de

projeto, construção e manutenção.

O código modelo MC-90 do CEB-FIP, indica que o período de vida útil das estruturas deve atingir

um valor mínimo de 50 anos, desde que as estruturas sejam projetadas, executadas e mantidas

conforme requisitos preconizados. No caso de estruturas especiais pode-se requerer um período de

vida mais longo, como, por exemplo, 100 anos, ou mais curto, 25 anos ou menos, em função da

importância da edificação ou do tipo de exposição a que estará submetida.

O Structural Eurodoces, por sua vez, apresenta os seguintes valores para vida útil, constantes na

Tabela 2.1:

Vida Útil

(anos)

4 50 Edificações Correntes

5 100 Pontes, Obras Públicas

2 10 - 25 Partes Substituíveis

3 15 - 30 Edificações Rurais

Categoria Exemplo

1 10 Obras Temporárias

Tabela 2.1 - Vida útil das edificações por categoria (Structural Eurocodes)

Acontece que, no entanto, as estruturas e seus materiais deterioram-se mesmo quando existe um

programa de manutenção bem definido, sendo esta deterioração, no limite, irreversível.

O ponto em que cada estrutura, em função da deterioração, atinge níveis de desempenho

insatisfatórios varia de acordo com o tipo de estrutura. Algumas delas, por falhas de projeto ou de

execução, já iniciam as suas vidas de forma insatisfatória, enquanto outras chegam ao final de suas

vidas úteis projetadas ainda mostrando um bom desempenho.

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Por outro lado, o fato de uma edificação em determinado momento apresentar-se com desempenho

insatisfatório não significa que ela esteja necessariamente condenada. A avaliação desta situação é,

talvez, o objetivo maior da Patologia das Construções, posto que esta é a ocasião que requer

imediata intervenção técnica, de forma que ainda seja possível reabilitar a estrutura.

Na Figura 2.1 são representadas, genericamente, três diferentes histórias de desempenhos

estruturais, ao longo das respectivas vidas úteis, em função da ocorrência de fenômenos patológicos

diversos.

Figura 2.1 - Desempenho de uma construção em função dos fenômenos patológicos

No primeiro caso, representado pela curva traço-duplo ponto, está ilustrado o fenômeno natural de

desgaste da estrutura. Quando há a intervenção, a estrutura se recupera, voltando a seguir a linha de

desempenho acima do mínimo exigido para sua utilização.

No segundo caso, representado por uma linha cheia, trata-se de uma estrutura sujeita, a dada altura,

a um problema súbito, como um acidente, por exemplo, que necessita então de imediata intervenção

corretiva para que volte a comportar-se satisfatoriamente.

No terceiro caso, representado pela linha traço-monoponto, tem-se uma estrutura com erros

originais, de projeto ou de execução, ou ainda urna estrutura que tenha necessitado alterar seus

propósitos funcionais, situações em que se caracteriza a necessidade de reforço.

O estudo da vida útil das estruturas está ligado ao que é tecnicamente ponderável, e a sua evolução

deve necessariamente passar por maior conhecimento de durabilidade dos materiais, dos

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componentes e dos vários sistemas estruturais, assim como pelo aperfeiçoamento dos processos

construtivos, dos programas e das técnicas de manutenção.

A associação dos conceitos de vida útil e durabilidade é inevitável. Conhecidas, ou estimadas, as

características de deterioração do material concreto e dos sistemas estruturais, entende-se como

durabilidade o parâmetro que relaciona a aplicação destas características a uma determinada

construção, individualizando-a pela avaliação da resposta que dará aos efeitos da agressividade

ambiental, e definindo, então, a vida útil da mesma.

Deve-se entender que a concepção de uma construção durável implica a adoção de um conjunto de

decisões e procedimentos que garantam à estrutura e aos materiais que a compõem um desempenho

satisfatório ao longo da vida útil da construção.

Em termos de durabilidade das estruturas de concreto, por exemplo, e para além das questões

ligadas à resistência mecânica propriamente dita, a palavra-chave relacionada a vida útil e ao

desempenho ao material concreto, como pseudo-sólido que é, é água.

Assim, serão a quantidade de água no concreto e a sua relação com a quantidade de ligante o

elemento básico que irá reger características como densidade, compacidade, porosidade,

permeabilidade, capilaridade e fissuração, além de sua resistência mecânica, que, em resumo, são os

indicadores de qualidade do material, passo primeiro para a classificação de uma estrutura como

durável ou não.

2.2 – AGRESSIVIDADE AMBIENTAL

As condições do meio em que uma estrutura está inserida passam a ter um aspecto importante na

definição da durabilidade e do desempenho da edificação. Nestas condições, os códigos de projeto

têm desenvolvido critérios para consideração do impacto da variação do ambiente onde a

construção está inserida. A NBR 6118:2003 propõe os seguintes critérios:

Classe de Agressividade Ambiental

A agressividade do meio ambiente está relacionada às ações físicas e químicas que atuam sobre as

estruturas de concreto, independentemente das ações mecânicas, das variações térmicas, retrações

Page 14: PATOLOGIA, RECUPERAÇÃO E REFORÇO DE ESTRUTURAS DE …

14

hidráulicas e outras previstas no dimensionamento da estrutura. Nos projetos estruturais, a

agressividade ambiental deve ser classificada de acordo com a Tabela 2.2.

Classe de agressividade ambiental

( CAA)

Agressividade Risco de deterioração

I Fraca Insignificante

II Moderada Pequeno

III Forte Grande

IV Muito forte Elevado

Tabela 2.2 – Agressividade Ambiental, segundo a NBR 6118:2003.

De forma simplificada, pode-se avaliar a agressividade ambiental em uma estrutura de acordo com

o macro-clima onde a estrutura situa-se e com o ambientes da obra, conforme indica a Tabela 2.3.

Tabela 2.3 - Classificação do macro-clima, segundo a NBR 6118:2003.

Outro aspecto importante a ser considerado na durabilidade das estruturas diz respeito ao

cobrimento das armaduras, que também é definido segundo a agressividade ambiental, como

indicado na Tabela 2.4.

Tipo de

estrutura

Elementos Classe de agressividade ambiental

I II III IV

Cobrimento nominal (mm)

CA Lajes 20 25 35 45

Vigas/Pilares 25 30 40 50

CP Todos 30 35 45 55

Tabela 2.4 – Cobrimento mínimo das armaduras, segundo a NBR 6118:2003.

Page 15: PATOLOGIA, RECUPERAÇÃO E REFORÇO DE ESTRUTURAS DE …

15

Assim, a modelização do mecanismo de estudo da durabilidade passa pela avaliação e

compatibilização, entre a agressão ambiental, por um lado, e a "qualidade" do concreto e da

estrutura, por outro, sendo este cenário definido à luz do tempo e do custo da estrutura.

Para cada caso ou combinação de casos, as classes de exposição indicarão níveis de risco ou

parâmetros mínimos a serem observados como condição primeira para que se consiga uma

construção durável. Assim, estarão definidos:

dosagem mínima de cimento;

fator água/cimento máximo;

classe de resistência mínima do concreto;

cobrimento mínimo das barras das armaduras;

método de cura.

Da observação deste quadro infere-se facilmente que a combinação dos agentes ambientais

(temperatura, umidade, chuva, vento, salinidade e agressividade química ou biológica)

transportados para a massa de concreto, assim como a resposta dessa massa a tal ação, constituem

os principais elementos do processo de caracterização da durabilidade, sendo a água (ou a umidade)

o elemento principal de toda a questão, considerados adequados os mecanismos de resistência.

Uma diretriz geral diz que a durabilidade da estrutura de concreto é determinada por quatro fatores,

identificados como “Regra dos 4C”:

- Composição ou traço do concreto;

- Compactação ou adensamento efetivo do concreto na estrutura;

- Cura efetiva do concreto na estrutura;

- Cobrimento ou espessura do concreto de cobrimento das armaduras.

2.3 – MANUTENÇÃO

A manutenção das estruturas pode ser entendida como o conjunto de ações de reduzido alcance, de

forma a prevenir ou identificar o surgimento de danos (Manutenção Preventiva) e quando a

estrutura apresentar perda significativa, como forma de se evitar o comprometimento da segurança

da edificação (Manutenção Corretiva).

Page 16: PATOLOGIA, RECUPERAÇÃO E REFORÇO DE ESTRUTURAS DE …

16

Em termos de manutenção fica clara a co-responsabilização, pois proprietário, investidor e usuário

deverão sempre estar dispostos a suportar o custo com o sistema de manutenção concebido pelos

projetistas, que deverá ter sido respeitado e viabilizado pelo construtor. A base deste sistema, aliás,

será o conjunto de inspeções rotineiras, em que o usuário será figura preponderante.

Para determinar o período mais adequado para realização de manutenção das edificações, deve-se

proceder à realização de inspeções de rotina e extensiva, esta última com um grau maior de

detalhamento.

O CEB-FIP, apresenta a uma proposta de periodicidade de inspeções, em função da classe da

estrutura e da condição de agressividade ambiental onde ela se localiza, conforme Tabela 2.5.

Inspeção de Rotina Inspeção Extensiva

(anos) (anos)

Estrutura Classe 1

Muito Severa 2 2

Severa 6 6

Normal 10 10

Estrutura Classe 2

Muito Severa 6 6

Severa 10 10

Normal 10 Dispensa

Estrutura Classe 3

Muito Severa 10 10

Severa 10 Dispensa

Normal Insp. Superficial Insp. Superficial

Condições Ambientais

Tabela 2.5 - Periodicidade de inspeções (CEB-FIP)

Barcena Diaz (1992), propõem a seguinte periodicidade para inspeções, em função do tipo de uso

da construção, conforme Tabela 2.6.

Inspeção de Rotina Inspeção Extensiva

(anos) (anos)

Residencial, Escolas

Comerciais

Estádios, Piscinas

Estacionamentos

Estruturas Industrias em

ambientes pouco agressivos

Pontes rodoviárias e

Ferroviárias Importantes

Pontes rodoviárias e

Ferroviárias Secundárias

1 5

2 10

1 5

1 a 2 10

Tipo de Uso

2 10

Tabela 2.6 - Periodicidade de inspeções (Barcena Diaz, 1992).

Page 17: PATOLOGIA, RECUPERAÇÃO E REFORÇO DE ESTRUTURAS DE …

17

3 – ORIGEM DAS MANIFESTAÇÕES PATOLÓGICAS

Ao se analisar uma estrutura de concreto "doente" é necessário entender-se o porquê do surgimento

e do desenvolvimento da doença, buscando esclarecer as causas, antes da prescrição e conseqüente

aplicação do remédio necessário. O conhecimento das origens da deterioração é indispensável, não

apenas para que se possa proceder aos reparos exigidos, mas também para se garantir que, após

reparada, a estrutura não volte a se deteriorar. O estudo das causas responsáveis pela implantação

dos diversos processos de deterioração das estruturas de concreto é complexo, sendo matéria em

constante evolução.

O surgimento de problema patológico em dada estrutura indica, em última instância e de maneira

geral, a existência de uma ou mais falhas durante a execução de uma das etapas da construção, além

de apontar para falhas também no sistema de controle de qualidade próprio a uma ou mais

atividades.

Passando em revista as condições e falhas mais prováveis, pode-se estabelecer a seguinte

classificação quanto a origem das patologias de edificações:

Patologias geradas na concepção ou projeto da edificação;

Patologias geradas na execução ou construção da edificação;

Patologias geradas devido aos materiais de construção empregados;

Patologias geradas na etapa da utilização da edificação (manutenção).

3.1 – PATOLOGIAS DEVIDO AO PROJETO

Várias são as falhas possíveis de ocorrer durante a etapa de concepção da estrutura. Elas podem se

originar durante o estudo preliminar (lançamento da estrutura), na execução do anteprojeto, ou

durante a elaboração do projeto de execução, também chamado de projeto final de engenharia.

Constata-se que as falhas originadas de um estudo preliminar deficiente, ou de anteprojetos

equivocados, são responsáveis, principalmente, pelo encarecimento do processo de construção, ou

por transtornos relacionados à utilização da obra, enquanto as falhas geradas durante a realização do

projeto final de engenharia, geralmente são as responsáveis pela implantação de problemas

patológicos sérios e podem ser tão diversas como:

Page 18: PATOLOGIA, RECUPERAÇÃO E REFORÇO DE ESTRUTURAS DE …

18

elementos de projeto inadequados (má definição das ações atuantes ou da combinação

mais desfavorável das mesmas, escolha infeliz do modelo analítico, deficiência no

cálculo da estrutura ou na avaliação da resistência do solo, etc.);

falta de compatibilização entre a estrutura e a arquitetura, bem como com os demais

projetos civis;

especificação inadequada de materiais;

detalhamento insuficiente ou errado;

detalhes construtivos inexeqüíveis;

falta de padronização das representações (convenções);

erros de dimensionamento.

3.2 – PATOLOGIAS DEVIDO À EXECUÇÃO

A seqüência lógica do processo de construção civil indica que a etapa de execução deva ser iniciada

apenas após o término da etapa de concepção, com a conclusão de todos os estudos e projetos que

lhe são inerentes. Suponha-se que isto tenha ocorrido com sucesso, podendo então ser iniciada a

etapa de execução, cuja primeira atividade será o planejamento da obra.

Nesta atividade, devem ser tomados todos os cuidados necessários ao bom andamento da

construção, com a caracterização da obra, individualizada pela programação de atividades, alocação

de mão-de-obra, definição do "lay-out" do canteiro e previsão de compras dos materiais.

Nesta fase os defeitos construtivos são falhas bastante freqüentes, tendo origem, na grande maioria

dos casos, na deficiência de qualificação profissional da equipe técnica, entre os quais pode-se citar:

Deficiências de concretagem

Inadequação de fôrmas e escoramentos

Deficiências nas armaduras

3.3 – PATOLOGIAS DEVIDO AOS MATERIAIS

As causas deste tipo de patologias estão relacionadas ao emprego de materiais impróprios ao tipo de

obra a ser executada e à deficiência no controle de compra (qualidade inferior à especificada nos

Page 19: PATOLOGIA, RECUPERAÇÃO E REFORÇO DE ESTRUTURAS DE …

19

projetos), recebimento e estocagem, estabelecendo-se procedimentos incompatíveis aos previstos

nos projetos e permitindo-se a deterioração dos mesmos.

Para as estruturas, os materiais e componentes, em sua grande maioria, têm sua qualidade e forma

de aplicação normalizadas. Entretanto, o sistema de controle na obra tem-se mostrado bastante

falho, e a metodologia para fiscalização e aceitação dos materiais não é aplicada, sendo este mais

um fator que demonstra a fragilidade e a má organização da indústria da construção.

Com tudo isto, são comuns os problemas patológicos que têm sua origem na qualidade inadequada

dos materiais e componentes. A menor durabilidade, os erros dimensionais, a presença de agentes

agressivos incorporados e a baixa resistência mecânica são apenas alguns dos muitos problemas que

podem ser implantados nas estruturas como conseqüência desta baixa qualidade.

Pode-se citar dentre os procedimentos inadequados relacionados aos materiais, os seguintes:

Cimento:

- compra, recebimento e estocagem;

- falta de controle das características físicas, químicas e mecânicas, limitadas por normas.

Agregado miúdo:

- material fora das especificações;

- granulometria incompatível;

- contaminações por substâncias nocivas, limitadas por normas.

Agregado graúdo:

- material fora das especificações;

- granulometria incompatível;

- contaminações por substâncias nocivas, limitadas por normas.

- índice de forma excessivamente lamelar

Aço:

- resistência inferior ao especificado

- estocagem de maneira inadequada, favorecendo a oxidação das barras.

Água:

- PH fora dos limites recomendados (entre 5,8 e 8,0);

- excesso de substâncias nocivas, tais como:

- matéria orgânica;

- resíduos sólidos;

Page 20: PATOLOGIA, RECUPERAÇÃO E REFORÇO DE ESTRUTURAS DE …

20

- sulfatos;

- açúcar, e;

- cloretos.

3.4 – PATOLOGIAS DEVIDAS À UTILIZAÇÃO

Acabadas as etapas de concepção e de execução, e mesmo quando tais etapas tenham sido de

qualidade adequada, as estruturas podem vir a apresentar problemas patológicos originados da

utilização errônea ou da falta de um programa de manutenção adequado.

De certa forma, uma estrutura poderá ser vista como equipamento mecânico que, para ter sempre

bom desempenho, deve ter manutenção eficiente, principalmente em partes onde o desgaste e a

deterioração serão potencialmente maiores.

Os problemas patológicos ocasionados por uso inadequado podem ser evitados informando-se ao

usuário sobre as possibilidades e as limitações da obra, como, por exemplo:

edifícios em alvenaria estrutural - o usuário deve ser informado sobre quais são as

paredes portantes, de forma que não venha a fazer obras de demolição ou de abertura

de vãos (portas ou janelas) nestas paredes, sem a prévia consulta e a assistência

executiva de especialistas, incluindo, preferencialmente, o projetista da estrutura;

pontes - a capacidade de carga da ponte deve ser sempre informada, em local visível

e de forma insistente.

Exemplos típicos, casos em que a manutenção periódica pode evitar problemas patológicos sérios e,

em alguns casos, a própria ruína da obra, são a limpeza e a impermeabilização das lajes de

cobertura, marquises, piscinas elevadas e "playgrounds", que, se não forem executadas,

possibilitarão a infiltração prolongada de águas de chuva e o entupimento de drenos, fatores que,

além de implicarem a deterioração da estrutura, podem levá-la à ruiria por excesso de carga

(acumulação de água).

Page 21: PATOLOGIA, RECUPERAÇÃO E REFORÇO DE ESTRUTURAS DE …

21

4 – SINTOMATOLOGIA

4.1- CONSIDERAÇÕES INICIAIS

A sintomatologia é o quadro que torna evidente que a construção é acometida por algum processo

patológico. Os efeitos resultantes da atuação dos agentes causadores das patologias das estruturas de

concreto sumarizados se fazem sentir, inicialmente, nos pontos fracos destas estruturas.

A sintomatologia vem ao encontro de teorias para solução de problemas, serve para relatar falhas e

possíveis causas que incitaram tais falhas, relato esse que pode ser de grande valia em projetos

futuros, sendo peça chave na redução de erros futuros. Vale destacar um ditado: “os médicos

enterram seus erros, os arquitetos os cobrem de mármore, e os engenheiros fazem grandes relatórios

que nunca vêm à luz do dia”.

Os sinais que peças doentes apresentam podem ter diversas possíveis causas, quer seja na fase de

planejamento e projeto, execução ou conservação. Há sinais que são de grande intensidade ou é

uma grande falha, mas que agem de forma isolada não produzindo conseqüências importantes, por

outro lado a seqüência ou simultaneidade de falhas ou defeitos, com sobreposição de efeitos, podem

ocasionar danos graves às estruturas, danos esses que podem ser irreversíveis.

4.2 - IMPORTÂNCIA DA SINTOMATOLOGIA

Sintomatologia é a ciência que estuda os sintomas que orienta a diagnose. A partir da avaliação dos

sintomas e dos sinais, ou um conjunto de sintomas que caracterizam um processo patológico, tem-

se a formulação de hipóteses diagnósticas.

Assim como na medicina, a investigação de todo e qualquer sintoma deve ser considerado

importante nas construções, assim também o especialista deve seguir alguns critérios de avaliação

como inspeção visual, percussão, ausculta, treinamento dos olhos para ver além do perceptível,

treinamento dos dedos para aguçar a sensibilidade ao tato. Ressalta-se ainda a importância da

observação do estado geral, em especial o histórico da obra, chamado de anamnese na medicina, e

Page 22: PATOLOGIA, RECUPERAÇÃO E REFORÇO DE ESTRUTURAS DE …

22

que precede a avaliação propriamente dita. Vale lembrar que muitas vezes a segurança do

observador também deve ser especial, com uso de capacete, óculos de ampla visão, protetores

auriculares para alguns ensaios destrutivos, e botas de segurança, uma vez que as peças avaliadas

podem estar com algum tipo de comprometimento em algum ponto.

A sintomatologia é decisiva na escolha da terapia mais indicada a ser empregada no tratamento de

uma patologia, e a eficiência do tratamento depende da escolha ideal de terapêutica. O progresso da

recuperação das estruturas depende do instrumental e de técnicas necessárias à avaliação da

natureza de cada acometimento, segundo seus sintomas, e à prescrição do tratamento adequado a

cada caso. Assim, o emprego de ensaios especializados como raios-X, gamagrafia, ultra-som e

outros computadorizados, representa avanços inestimáveis para a avaliação dos sintomas,

diagnóstico, tratamento e prevenção de numerosos efeitos patológicos das construções.

No Brasil, o número significativo de trabalhos e pesquisas na área, revela a preocupação e a

capacidade técnica de prevenir as patologias nas estruturas. Porém, fora de centros acadêmicos e de

pesquisa, a prática nos canteiros mostra outra realidade, indicando uma outra preocupação, como o

volume de obras, desconsiderando cuidados essenciais nos procedimentos de planejamento, projeto

e execução de obras. Ressalta-se que no Brasil, de maneira geral, as manifestações patológicas mais

incidentes são na etapa de execução da obra.

De forma geral a ação em casos de patologia segue o fluxo:

Fig. 4.1 – fluxo de ações

Olho clínico

Experiência e

informações

Sintomatologia

Deformação Coloração Fissuras

desagregações

Patologia/

Dano

Diagnóstico

Prognóstico Demolição

Terapêutica

Page 23: PATOLOGIA, RECUPERAÇÃO E REFORÇO DE ESTRUTURAS DE …

23

4.3 – INSPEÇÃO E AVALIAÇÃO DOS SINTOMAS

Para um diagnóstico ideal e consequentemente uma indicação de terapia adequada, faz-se

necessária a realização da análise dos sintomas para conhecer a extensão do problema, através da

análise técnica por especialista na área. Após uma inspeção inicial ou preliminar, pode ser

necessária a inspeção detalhada para complementação de informações, para tanto se faz necessário

um plano de trabalho específico.

Como resultados esperados ou relatório de inspeção, alguns tópicos são indispensáveis como:

Levantamento fotográfico

Geometria da estrutura

Anotação dos sintomas visuais

Coloração

Tamanho das fissuras

Descrição do ambiente

Possível eliminação do concreto de cobrimento para observação da armadura

4.4 – SINTOMAS MAIS COMUNS

Os sintomas mais comuns que se apresentam nas construções são:

Fissuração;

Desagregações;

Deslocamentos;

Falhas de concretagem;

Deformabilidade excessiva;

Manchas de umidade;

Bolor e/ou outros microorganismos;

Eflorescências;

Vibração excessiva;

Mudanças de coloração.

Page 24: PATOLOGIA, RECUPERAÇÃO E REFORÇO DE ESTRUTURAS DE …

24

4.5 - FISSURAÇÃO

As fissuras podem ser consideradas como a manifestação patológica característica das construções,

sendo mesmo o dano de ocorrência mais comum e aquele que, a par das deformações muito

acentuadas, mais chama a atenção dos leigos, proprietários e usuários aí incluídos, para o fato de

que algo de anormal está a acontecer.

É interessante observar que a caracterização da fissuração como deficiência estrutural dependerá

sempre da origem, intensidade e magnitude do quadro de fissuração existente, posto que o concreto,

por ser material com baixa resistência à tração, irá fissurar por natureza, sempre que as tensões de

tração, que podem ser instaladas pelos mais diversos motivos, superarem a sua resistência à tração.

Assim, um processo de fissuramento pode, quando anômalo, instalar-se em uma estrutura como

conseqüência da atuação das mais diversas causas, e, para que se consiga identificar com precisão

as causas e efeitos, é necessário desenvolver análises consistentes, que incluam a mais correta

determinação da configuração das fissuras, bem como da abertura, de sua variação ao longo do

tempo, da extensão e da profundidade das mesmas.

Portanto, ao se analisar uma construção que esteja apresentando fissuras, os primeiros passos a

serem dados consistem na elaboração do mapeamento das fissuras e em sua classificação, que vem

a ser a definição da atividade ou não das mesmas (uma fissura é dita ativa, quando a causa

responsável por sua geração ainda atua sobre a estrutura, sendo inativa, ou estável, sempre que sua

causa se tenha feito sentir durante um certo tempo e, a partir de então, deixado de existir).

Classificadas as fissuras e de posse do mapeamento, pode-se dar inicio ao processo de determinação

de suas causas, de forma a poder-se estabelecer um diagnóstico e proceder aos trabalhos de

recuperação ou de reforço, como a situação o exigir.

As causas da fissuração podem ter várias origens, e o seu conhecimento permite estabelecer na

maioria das vezes a terapia mais adequada. Pode-se citar como causas mais comuns da fissuração:

Movimentações térmicas;

Umidade;

Retração e expansão dos materiais;

Ataques químicos;

Page 25: PATOLOGIA, RECUPERAÇÃO E REFORÇO DE ESTRUTURAS DE …

25

Deformabilidade excessiva da estrutura;

Excesso de carga;

Erros de projeto;

Erros e execução.

Recalques de fundação.

A ocorrência principal de fissuras em estruturas de concreto armado como um todo acontece de tal

forma que cerca de 44% das fissuras são de alvenaria, decorrentes de deformações diferenciadas e

26% do concreto. A fissuração verificada em elementos estruturais de concreto armado, de acordo

com a literatura, se distribuem da seguinte forma:

60% em lajes;

23% em vigas;

10% em marquises;

7 % em pilares.

4.5.1 Denominação das fissuras

Na análise deste sintoma, deve-se levar em conta que nem todas manifestações devem ser

consideradas como fissuras, elas recebem uma nomenclatura específica em função da abertura que

apresentam, o que pode ser verificado na Tabela 4.1.

Fissura até 0,5 mm

Trinca de 0,5 mm a 1,5 mm

Rachadura de 1,5 mm a 5 mm

Fenda de 5 mm a 10 mm

Brecha acima de 10 mm

Tipo de Lesão Abertura

Tabela 4.1 – Denominação das lesões em função da dimensão da abertura

4.5.2 Classificação das Fissuras

As fissuras podem ser classificadas nos seguintes tipos:

Classe 1 – Fissuras que indicam problemas estruturais imediatamente identificáveis.

- lesões com grandes aberturas

- indicam que o colapso é iminente

- indicam uma grande redução da segurança

- trazem o deslocamento de partes da estrutura

Page 26: PATOLOGIA, RECUPERAÇÃO E REFORÇO DE ESTRUTURAS DE …

26

Classe 2 – Fissuras que podem levar a uma redução da segurança devido a posterior

corrosão da armadura;

Classe 3 – Fissuras que podem levar a um mau funcionamento da estrutura, mostrado

por infiltrações, passagem de sons, danos a acabamentos, etc.

- limitações aceitas para casos de exposição a ambientes severos é de 0,2 mm

Classe 4 - Fissuras que são esteticamente inaceitáceis.

- limitações para aparência estética critica é de 0,1 mm

4.5.3 Caracterização das Fissuras

Para a caracterização das fissuras deve-se considerar:

A incidência, configuração, comprimento, abertura e localização;

A idade aproximada da fissura e da edificação acometida;

Se a fissura aprofunda-se por toda a espessura do componente afetado;

Se lesões semelhantes aparecem em pavimentos contíguos;

Se lesões semelhantes aparecem em componentes paralelos ou perpendiculares àquele

sob exame;

Se lesões semelhantes aparecem em edificações vizinhas;

Se a movimentação da fissuras é intermitente ou se a abertura varia sazonalmente;

Se a fissura já foi reparada anteriormente;

Se ocorreu alguma modificação profunda nas cercanias da edificação;

Se no entorno da lesão aparecem outras manifestações patológicas, como umidade,

eflorescências, descolamentos, manchas de ferrugem, bolor, etc.

Se na proximidade da lesão existem embutimentos;

Se existem caixilhos comprimidos;

Se as lesões manifestam-se preferencialmente em alguma das fachadas da edificação;

Se existem deslocamentos relativos na superfície do componente afetado;

Se a abertura da lesão é constante ou se ocorre estreitamento numa dada direção;

Se a lesão é acompanhada por escamações indicativas de cisalhamento;

Se está ocorrendo condensação ou penetração de água na edificação;

Se a edificação está sendo corretamente utilizada.

Page 27: PATOLOGIA, RECUPERAÇÃO E REFORÇO DE ESTRUTURAS DE …

27

4.5.4 Análise das Fissuras

Para o caso em que as fissuras devam ser classificadas em relação a sua medida, intensidade e

distribuição, pode ser utilizado o seguinte modelo:

Medida das Fissuras:

).(1

Nc

cclMedida (4.1)

Intensidade das Fissuras:

Nb

b

Nc

c

l

l

eIntensidad

1

1

)(

)(

(4.2)

Distribuição das Fissuras:

t

b

A

AãoDistribuiç (4.3)

Onde: lc = comprimento da fissura

ωc = largura média da fissura

Nc = número de fissuras em um elemento

lb = comprimento da armadura

Nb = número de barras da armadura

Ab = menor área onde o defeito ocorre

At = área total do elemento

4.6 – SINTOMATOLOGIA DOS CONCRETOS

As patologias que acometem concretos armados são, de forma geral, provenientes de fenômenos

que ocorrem em função de falta de qualidade de seus componentes, natureza dos mesmos, dosagem

inadequada, uso de aditivos, falhas de produção e lançamento, entre outros. Falhas essas, que

interferem na homogeneidade e compacidade do concreto, fazendo com que o material sofra os

efeitos da pouca homogeneidade e/ou compacidade. Não excluindo aqui as possíveis causas

consideradas de força maior como sismos e outros fatores externos ao concreto.

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28

4.6.1 Fissuras

Dentre os sintomas das patologias das construções, as fissuras são as grandes campeãs de

evidências objetivas de algum problema. A fissura é, numa analogia a medicina, o sinal

patognomônico de doenças no concreto. Há que se considerar que o efeito estético e psicológico

que uma fissura possa provocar é significativo, pois a aparência fissurada é motivo de preocupação

e insegurança para quem a percebe independente do grau de comprometimento.

São várias as possíveis causas de fissuras, sendo cada uma dessas causas de origem específica e

singular, porém com mesmo sintoma, a fissura. Dentre as origens de fissuras temos:

Forças de tração,

Movimentações de solo,

Recalques de fundações,

Trabalhabilidade do concreto,

Variações térmicas,

Concentração de tensões,

Sobrecargas atuantes,

Estruturas com deformabilidade excessiva,

Retração do concreto,

Corrosão de armaduras de concretos armados,

Cura deficiente,

Ataques químicos,

Erros de projeto ou execução,

Ou ainda sinais da idade, quando aparecem após alguns anos, mas que não comprometem a

estrutura.

A detecção da causa das fissuras, na maioria das vezes, torna-se difícil, até por que algumas

patologias produzem o mesmo tipo de fissura. Por outro lado, uma mesma causa produz de maneira

geral, as fissuras similares em diferentes peças, sendo assim, um facilitador de diagnose e terapia.

4.6.1.1 Tipos de Fissuras:

Fissuras por retração hidráulica – quando o elemento está impedido de se deformar, são fissuras

típicas de vigas curtas com grandes seções e muito armadas unidas a pilares esbeltos com rigidez

grande ou pequena. Tem aparência de mapa hidrográfico ou pele de crocodilo.

Page 29: PATOLOGIA, RECUPERAÇÃO E REFORÇO DE ESTRUTURAS DE …

29

Fissuras por retração térmica – decorrente da baixa condutividade do concreto e da construção

inadequada de juntas de dilatação.

As fissuras por retração térmica costumam aparecer em soleiras, pavimentos de concreto, lajes de

grande extensão e outras de grande porte em geral, mas pequena seção. A fissura provocada por

retração térmica surge perpendicular ao eixo principal do elemento que a produziu com espessura

constante e seccionada.

Fissuras por secagem rápida – provocada por secagem superficial com concreto não endurecido,

depende da temperatura, vento e espessura da peça. Em lajes, as fissuras surgem com maior

freqüência nas partes mais esbeltas. Essas fissuras são bem distribuídas e se cruzam entre si, com

ramificações, são normalmente superficiais, e aparecem nas primeiras horas de concretagem, sendo

mais incidentes em grandes superfícies.

a)Retração de viga em pórtico de pilares de grande rigidez b)retração diferencial dos pilares

c) Muro de arrimo d) fissuras de cobrimento

e)Fissuração superficial - efeito de segregação f) pavimento rígido

Fig. 4.2 – tipos de fissuras - retração

Page 30: PATOLOGIA, RECUPERAÇÃO E REFORÇO DE ESTRUTURAS DE …

30

Fissuras devidas à execução – ocorrem no estado plástico do concreto. Decorrem de diversos

problemas como formas mal projetadas, fixação, armaduras, compactação, etc.

Fissuras no concreto endurecido – podem ocorrer por deficiências no projeto, mau uso da estrutura,

cargas excessivas, ataque de agentes agressivos, envelhecimento. A retração química em função da

reação da água com o cimento provoca redução de volume, que provoca retração química e fissuras;

a água em excesso evapora-se e através de forças capilares produz redução de volume e retração de

secagem; a portlandita liberada na reação de hidratação do cimento reage com o gás carbônico

presente no ar, formando carbonato de cálcio, reação essa que também provoca redução de volume

e retração por carbonatação.

Fissuras devidas a cargas mecânicas – provocadas por tração, compressão, flexão, torção e cortante,

ou uma combinação de mais de uma tensão. As fissuras produzidas por tração, a mais freqüente,

aparecem subitamente e atravessam toda a seção. As fissuras provocadas por compressão são

paralelas à direção do esforço, com espaçamento e traçado irregular.

Fissuras em face única na parte central de peças muito esbeltas, finas e juntas, são sinais fortes de

início de flambagem. Em pilares as fissuras de compressão são sintomas de um grave defeito,

indicando colapso imediato da região acometida.

As fissuras por flexão são as mais conhecidas, surgindo próximas às armaduras de tração, e não são

imediatas, permitindo reparo. Já as de esforço cortante aparecem rápido, portanto perigosas, com

direção perpendicular a tensão de tração. As fissuras de torção são inclinadas a 45°, bastante

freqüentes na prática.

Cantos de aberturas – concentração de tensões

Fig. 4.3 – tipos de fissuras - execução

Page 31: PATOLOGIA, RECUPERAÇÃO E REFORÇO DE ESTRUTURAS DE …

31

Fissuras provocadas por corrosão de armaduras – o efeito da corrosão produz óxido expansivo, com

aumento de volume, criando fortes tensões no concreto fazendo com que se rompa por tração, e

provocando fissuras que seguem a linha das armaduras principais. Um sinal mais claro dessa causa

de fissura é o surgimento de manchas de óxido nas bordas das fissuras.

Fissuras devido à falta de rigidez das vigas – produzidas por deformação excessiva de elemento

estrutural, podendo não ser perigosa. O fator mais preponderante aqui é a flecha excessiva. Vigas e

lajes deformam-se naturalmente pelo peso próprio, por cargas permanentes e acidentais.

Fissuras por recalque diferencial de fundação – são inclinadas e confundem-se com as fissuras

provocadas por deflexão de componentes estruturais.

Fig. 4.4 – tipos de fisuras.

4.6.2 DESAGREGAÇÃO

É um dos sintomas mais característicos de ataques químicos, aonde o cimento vai perdendo sua

condição aglomerante e liberando os agregados da pasta. O sinal aparece inicialmente na superfície,

e o sintoma é a mudança da coloração e aumento da espessura das fissuras, seguido do

empacotamento das camadas externas e posterior desintegração do concreto. As causas mais

prováveis deste problema são os sulfatos e cloretos, e sua cura é muito difícil.

Fissura de cisalhamento

Fissura de torção

viga

pila

r

Fissura de pega ou falsa pega

viga

pila

r Fissura de junta de concretagem

Fissura de recalque

Page 32: PATOLOGIA, RECUPERAÇÃO E REFORÇO DE ESTRUTURAS DE …

32

Toda desagregação deve causar preocupação e alarmar seus observadores, pois esta patologia

provoca a perda de resistência da massa de concreto. Para o diagnóstico é necessária a

complementação da observação dos sintomas, através de ensaios mais precisos como análise

química, ultra-som e outros.

Fato é que na fabricação do cimento acrescenta-se gesso ao clinquer no moinho, que deve reagir

antes de vinte e quatro horas com parte do aluminato tricálcico para formar a etringita. Outra parte

do gesso pode ficar livre para reagir com sulfato, se houver procedência, produzindo mais etringita

que é expansiva, no concreto endurecido, o que provocará num primeiro momento fissuras e depois

a desagregação do concreto. A reação álcali-agregado provoca expansão pela reação de alguns

agregados com os álcalis de sódio e de potássio do cimento Portland.

Os sulfatos atacam as estruturas de concreto de maneira progressiva com destruição gradativa do

material, que provoca fissuração, que por sua vez conduz a perda de resistência e a desagregação.

Outro agente causador de desagregação é a corrosão de armaduras que provoca o aumento de

volume das barras de aço e conseqüente processo de desagregação. Oposto ao processo de corrosão

das armaduras, está a corrosão do concreto que pode ocorrer por lixiviação, corrosão química e por

expansão, este último provoca aumento de volume pelas reações dos sulfatos com componentes do

cimento, provocando sua expansão e desagregação. Além desses fatores ainda há desagregação por

movimentação de fôrmas, que criam juntas de concretagem não previstas, por deslocamento lateral

das fôrmas, ou fuga de nata pelas juntas ou fendas das fôrmas, provocando a segregação do

concreto e posterior desagregação com fissuração.

4.6.3 CORROSÃO DAS ARMADURAS

A corrosão é um fenômeno eletroquímico, que depende do meio para ter seu processo acelerado ou

não. As condições mínimas para ocorrência de corrosão é o que podemos chamar de Triângulo de

Manifestação da Corrosão, que estabelece a interligação entre os três elementos essenciais para

partida do fenômeno corrosivo: oxigênio, umidade e pilha – célula de corrosão eletroquímica

formada pelo metal, ânodo (área corroída) e cátodo (área não corroída), e eletrólito (água).

Page 33: PATOLOGIA, RECUPERAÇÃO E REFORÇO DE ESTRUTURAS DE …

33

Um esquema pode ilustrar como é o mecanismo da corrosão em armaduras despassivadas, onde o

concreto é o meio, que possui oxigênio e umidade da atmosfera em que se encontra; a umidade é o

meio de difusão – eletrólito – das partículas de ferro e óxidos, cloretos e demais componentes das

reações de formação de ferrugem, oxidação, redução e corrosão; e o aço da armadura é o condutor

da energia para a proliferação entre as áreas corroídas – ânodo – e não corroídas – cátodo.

Eletrólito - água (difusão)

Concreto armado

Fé++

SO-4

Cl-

OH-

Eletrólito - água

(difusão)

e-

Ânodo Área

corroída

Cátodo Área não corroída

Condutor - aço

Fig.4.6 – Esquema de corrosão

oxigênio

umidade

Célula de corrosão PILHA

Fig. 4.5 – Triângulo de Manifestação de Corrosão

Page 34: PATOLOGIA, RECUPERAÇÃO E REFORÇO DE ESTRUTURAS DE …

34

4.6.3.1 Sintomas da corrosão

Na verdade, o concreto tem também a função de proteger as armaduras, através de proteção física e

química devido ao cobrimento com concreto ou argamassa homogênea, de alta compacidade e

minimizador de poros, fazendo com que os agentes agressivos não tenham condições de entrada,

impedindo a formação das células eletroquímicas. A função do cobrimento também é de proteger a

película protetora da armadura formada pela passivação do aço pelo pH de 12,6 proporcionado pelo

caráter alcalino do hidróxido de cálcio dissolvido na água que preenche os poros do concreto.

As armaduras que não possuem essa proteção ou cobrimento, ou seja, um concreto inadequado, fica

passível de corrosão. Uma vez iniciada a corrosão, sua incidência é progressiva com formação de

óxi-hidróxidos de ferro que são expansivos, aumentando o volume da armadura em até 10 vezes.

Esse aumento de volume provoca como sintoma inicial a fissura paralela à armadura corroída e

posterior desagregação do concreto.

Outro sintoma bastante comum em situações de corrosão das armaduras é o surgimento de manchas

castanhas ou avermelhadas, que aparecem nas bordas das fissuras e depois vão se prolongando por

sua extensão com posterior escorrimento pela superfície do concreto.

Cabe ainda destacar os efeitos da corrosão, que são a diminuição da capacidade mecânica do aço,

fissuração do concreto e diminuição da aderência do concreto com o aço. Qualquer que seja o

efeito, os sintomas são quase sempre os mesmos, como já mencionado, manchas, eflorescências,

umidade, fissuras e desagregação, porém, há situações que não emitem sinais visíveis, mas a

corrosão está em processo de manifestação, o que indica que a inspeção e diagnóstico devem ser

extremamente cuidadosos e criteriosos.

4.6.4 CARBONATAÇÃO

A carbonatação é o processo lento que ocorre quando o concreto é exposto aos gases como o gás

carbônico (CO2), o dióxido de enxofre (SO2) e o gás sulfídrico (H2S), pode ter reduzido o pH da

solução existente nos seus poros que reduzem o tempo de reação de hidratação em superfícies

expostas a alta alcalinidade em especial pela presença de hidróxido de cálcio – Ca(OH)2, com

precipitação de carbonato de cálcio - CaCO3, que possui pH de 9,4 e assim altera significativamente

a estabilidade da camada passivadora do aço. O gás dióxido de carbono da atmosfera reage com os

hidróxidos alcalinos do concreto, em processo de neutralização, e transforma os compostos do

Page 35: PATOLOGIA, RECUPERAÇÃO E REFORÇO DE ESTRUTURAS DE …

35

cimento em carbonatos promovendo o processo de carbonatação pela radiação do pH do concreto a

um nível em que o aço sofre corrosão.

O sintoma típico da carbonatação é a ocorrência de manchas claras produzidas pela refração do

carbonato de cálcio, essas manchas muitas vezes escorrem pela superfície, provenientes das

fissuras. Por se tratar de um sintoma semelhante a eflorescência provocada por outros fatores, é

necessário para constatação da carbonatação o uso de indicadores colorimétricos que apontam o pH.

Quanto mais baixo o pH, mais clara será sua aparência, tendendo ao incolor nas regiões menos

alcalinas. Um concreto não carbonatado a região mais alcalina fica com a coloração arroxeada ao se

usar esse mesmo indicador. O indicador de carbonatação, ou de pH, mais usado, é a solução a base

de fenolftaleina ou equivalente, sendo empregado com sucesso para pH entre 8 e 11. Vale ressaltar

que esse procedimento deve ser feito em concretos que não tenham sofrido qualquer alteração ou

deficiência como serragem, inclusive não devem estar molhados.

4.6.5 CORROSÃO DO CONCRETO

O concreto não é um elemento eterno, evidente que a engenharia tem como uma de suas finalidades,

encontrar o concreto ideal, considerado o de melhor resistência, econômico e durável, porém, nem

sempre essa durabilidade é um fato consagrado, e por isso o concreto deve ser objeto de inspeções

periódicas para prevenir ou tratar em curto prazo possíveis patologias, certo é que algumas delas

não apresentam sintomas visíveis logo em seu início de manifestação.

O acompanhamento periódico tem um significado ainda maior em ambientes com atmosferas mais

agressivas ao concreto como: ambientes marinhos, centrais térmicas e nucleares, represas e

barragens, ambientes de siderúrgica e outras tantas que tenham condições de atuarem como agentes

desfavoráveis ao concreto.

A corrosão do concreto pode ter sua origem em ações químicas ou físicas. As físicas provocam

grandes estragos, podendo chegar a sua destruição, com defeitos provocados por expansão

fundamentalmente, mas que podem ser evitados com um concreto bem compactado e

cuidadosamente executados. As químicas são as mais preocupantes, uma vez que produzem os

maiores danos, provocados por carbonatação, águas puras, sulfatadas, ácidas ou marinhas e

compostos de natureza orgânica como óleos.

Page 36: PATOLOGIA, RECUPERAÇÃO E REFORÇO DE ESTRUTURAS DE …

36

5 – DIAGNÓSTICO DE PATOLOGIAS

5.1 – CONSIDERAÇÕES GERAIS

Das estruturas em geral, e em particular das estruturas de concreto, esperase uma completa adequação às

finalidades a que se destinam, sempre levando em consideração o binômio segurança-economia.

Salvo os casos correspondentes à ocorrência de catástrofes naturais, em que a violência das solicitações,

aliada ao caráter marcadamente imprevisível das mesmas, será o fator preponderante, os problemas

patológicos têm suas origens motivadas por falhas que ocorrem durante a realização de uma ou mais das

atividades inerentes ao processo genérico a que se denomina de construção civil, processo este que pode ser

dividido, como já dito, em três etapas básicas: concepção, execução e utilização.

5.2 – PATOLOGIAS DEVIDO AO PROJETO

5.2.1 Modelização Estrutural Inadequada

No seu conceito mais amplo, o modelo a ser adotado para uma determinada construção, preocupação

primeira da etapa de concepção, deve considerar o conjunto de condicionantes composto pelas ações, os

materiais constituintes, o comportamento da estrutura (em termos de resistência e de serviço) e os critérios de

segurança.

Embora este ponto pareça óbvio, não são poucos os problemas patológicos decorrentes da incorreta

observação das condições de equilíbrio e das leis da estática, que são simplesmente reguladas por:

OHOV ; e OM (5.1)

Em termos de esquematização estrutural de edifícios, um erro bastante comum está na consideração das

condições de engastamento, total ou parcial, das lajes e vigas, questões que podem ser agravadas no caso de

edifícios altos ou com peças de inércia muito diferentes entre si.

A adoção do esquema mostrado na Figura 5.1 pode levar ao surgimento de trincas na face superior da viga.

Page 37: PATOLOGIA, RECUPERAÇÃO E REFORÇO DE ESTRUTURAS DE …

37

Figura 5.1 - Esquemas estruturais para cálculo de vigas de edifícios

O perfeito conhecimento das inércias e deformações virá a evitar, por exemplo, flechas acentuadas em lajes e

vigas, que mesmo quando dentro dos limites estabelecidos pelas Normas podem levar ao surgimento de

trincas em alvenarias e revestimentos. A pouca rigidez de lajes e vigas pode ocasionar níveis de vibração

incômodos para os usuários.

Na maioria das estruturas com finalidade habitacional ou comercial a observação precisa das Normas que

regulam os carregamentos a serem considerados no projeto estrutural é suficiente para garantir que não

haverá cargas que, durante a utilização (vida útil) da estrutura, ultrapassem as que foram consideradas

quando do desenvolvimento do projeto.

De maneira geral as cargas podem ser consideradas como:

cargas gravitacionais;

climáticas e,

acidentais.

5.2.2 Considerações sobre a Fissuração de Componentes de Concreto Armado Submetidos a Sobrecargas

A atuação de sobrecargas, previstas ou não em projeto, pode produzir o fissuramento de componentes de

concreto armado sem que isto implique, necessariamente, ruptura do componente ou instabilidade da

estrutura; a ocorrência de fissuras num determinado componente estrutural produz uma redistribuição de

tensões ao longo do componente fissurado e mesmo nos componentes vizinhos, de maneira que a solicitação

externa geralmente acaba sendo absorvida de forma globalizada pela estrutura ou parte dela.

Obviamente que este raciocínio não pode ser estendido de forma indiscriminada, já que existem casos em

que é limitada a possibilidade de redistribuição das tensões, seja pelo critério de dimensionamento do

Page 38: PATOLOGIA, RECUPERAÇÃO E REFORÇO DE ESTRUTURAS DE …

38

componente, seja pela magnitude das tensões desenvolvidas ou, ainda, pelo próprio comportamento conjunto

do sistema estrutural adotado.

Para os casos comuns de estruturas de concreto armado, os componentes fletidos são em geral

dimensionados prevendo-se a fissuração do concreto na região tracionada da peça, buscando-se tão somente

limitar esta fissuração em função de requisitos estéticos e/ou em função da deformabilidade e da durabilidade

da estrutura.

O momento fletor de fissuração, pela NBR 6118, é determinado acordo com a expressão 5.2.

ty

IfctMr 0..

(5.2)

Onde: Mr = Momento fletor de fissuração;

= 1,2 para seções T ou duplo T

= 1,5 para seções retangulares

I0 = Momento de Inércia da seção bruta de concreto;

Yt = distância do centro de gravidade à fibra mais tracionada da peça (h – Xi);

fct = resistência à tração direta do concreto;

A NBR 6118, considera que a fissuração é nociva ao concreto armado (possibilidade de corrosão da

armadura) quando a abertura das fissuras na superfície do concreto ultrapassar os valores expostos na Tabela

5.1.

Tipo de Concreto Classe de Agressividade Exigências Relativas Combinação de

Estrutural Ambiental (CAA) à Fissuração Ações

Concreto Simples I a IV Não há -

Concreto Armado I wk= 0,4 mm Frequente

II a IV wk= 0,3 mm Frequente

Concreto Protendido (Pré-Tensão) I

Nivel 1 (Prot. Parcial) (Pós-Tensão) I e II

Concreto Protendido (Pré-Tensão) I ELS-F Frequente

Nivel 2 (Prot. Limitada) (Pós-Tensão) III e IV ELS-D Quase Permanente

Concreto Protendido ELS-F Rara

Nivel 3 (Prot. Completa) ELS-D Frequente

wk= 0,2 mm Frequente

(Pré-Tensão) III e IV

Tabela 5.1 - Exigências de durabilidade relacionadas à fissuração dos elementos estruturais e da classe de

agressividade do ambiente

5.2.3 Considerações sobre a Deformabilidade de Componentes Submetidos à Flexão

Com a evolução da tecnologia do concreto armado, representada pela fabricação de aços com grande limite

de elasticidade, produção de cimentos de melhor qualidade e desenvolvimento de métodos refinados de

Page 39: PATOLOGIA, RECUPERAÇÃO E REFORÇO DE ESTRUTURAS DE …

39

cálculo, as estruturas foram se tornando cada vez mais flexíveis, o que torna imperiosa a análise mais

cuidadosa das suas deformações e de suas respectivas consequências.

Vigas e lajes deformam-se naturalmente sob ação do peso próprio, das demais cargas permanentes e

acidentais e mesmo sob efeito da retração e da deformação lenta do concreto. Os componentes estruturais

admitem flechas que podem não comprometer em nada sua própria estética, a estabilidade e a resistência da

construção; tais flechas, entretanto, podem ser incompatíveis com a capacidade de deformação de paredes ou

outros componentes que integram os edifícios.

A norma brasileira para projeto e execução de obras de concreto armado NBR 6118:2003, em seu item 13.3,

estipula os valores limites para deslocamentos apresentados na Tabela 5.2. No cálculo das flechas deverão

ser consideradas a retração e a deformação lenta do concreto; faz-se uma menção de que no projeto, especial

atenção deverá ser dada à verificação da possibilidade de ser atingido o estado de deformação excessiva, a

fim de que as deformações não possam ser prejudiciais à estrutura ou a outras partes da construção.

Tipo de Razão da Exemplo Deslocamento a Deslocamento

Deslocamento Limitação Considerar Limite

Aceitabilidade Visual Deslocamentos Total l/250

Sensorial visíveis em elementos

estruturais

Outro Vibrações sentidas Devidos a cargas l/350

no piso acidentais

Estrutura em Superfícies que Coberturas e Total l/250

Serviço devem drenar água Varandas

Pavimentos que Ginásios e Total l/350 + contra-flecha

devem permanecer pistas de boliche Ocorrido após a l/600

planos construção do piso

Elementos que Laboratórios Ocorrido após o De acordo com as

suportam equipamentos nivelamento do especificações do

sensíveis equipamento fabricante do

equipamento

Efeitos em Alvenaria, Caixilhos e Após a construção l/500 ou

Elementos não Revestimentos da parede 10 mm ou

Estruturais Paredes Φ = 0,0017 rad

Divisórias leves e Ocorrido após a l/250 ou

Caixilhos telescópicos instalação da 25 mm

divisória

Movimento Lateral Provocado pela ação H/2500 ou

de Edifícios do vento para combi- Hi/1250 entre

nação frequente pavimentos

Movimentos Térmicos Provocado por l/400 ou

Verticais diferença de 15 mm

Temperatura

Movimentos Térmicos Provocado por Hi/500

Horizontais diferença de

Temperatura

Forros Revestimnetos Ocorrido após a l/350

Colados construção do forro

Revestimentos Deslocamento l/175

Pendurados ou com ocorrido após a

Juntas construção do forro

Desalinhamento de Deslocamento H/400

Ponte Rolante Trilhos provocado pelas ações

decorrentes da

frenação

Efeitos em Afastamento em Se os deslocamentos forem relevantes para o elemento considerado,

Elementos Realção às Hipóteses seus efeitos sobre as tensões ou sobre a estabilidade da estrutura

Estruturais de Cálculo Adotadas devem ser considerados, incorporando-as ao modelo estrutural adotado

Tabela 5.2 - Limites para deslocamentos conforme a NBR 6118:2003

Page 40: PATOLOGIA, RECUPERAÇÃO E REFORÇO DE ESTRUTURAS DE …

40

5.2.4 Detalhamento Errado ou Insuficiente

Este ponto é normalmente responsável por erros sérios de execução, que podem levar a estrutura a apresentar

problemas patológicos graves, com implicações diretas no comprometimento da resistência e/ou da

durabilidade da construção.

Figura 5.2 - Comparação entre diferentes situações de detalhamento de armaduras

Observando as Figura 5.2, identificam-se vários exemplos confrontando situações de detalhamento de

armaduras corretos e incorretos, comuns na prática das construções civis, sobre os quais cabe comentar:

em (a) representa-se a ligação entre duas placas, como a de parede e laje de fundo de uma caixa

de água, por exemplo, caso em que é fundamental evitar o empuxo no vazio e recomendável

dispor de armaduras para a proteção dos cantos;

Page 41: PATOLOGIA, RECUPERAÇÃO E REFORÇO DE ESTRUTURAS DE …

41

em (b) analisase o caso de desnível em lajes, muito comum em varandas de edifícios, em que a

ancoragem e a continuidade das barras deve ser garantida, em ambos os lados do desnível;

em (c) e (d) abordase o empuxo no vazio, quanto à necessidade de proteção do canto, de

garantir ancoragem à armadura principal, e de estribos.

Outro caso típico é o de detalhamento das armaduras para consolos curtos, mostrado na Figura 5.3.

Figura 5.3 - Detalhamento das armaduras em consolos curtos

Também são comuns os erros relativos a comprimentos insuficientes, como o representado na Figura 5.4, ou

mesmo com a colocação de ganchos em pilares, ou ainda emendas mal executadas.

Figura 5.4 - Exemplo de comprimentos de ancoragem insuficientes

5.2.5 Inadequação ao Ambiente

O exemplo mais comum de deficiências derivadas deste problema é a utilização de cobrimentos insuficientes

para estruturas em contato com a terra ou com a água, agentes sabidamente agressivos.

No entanto, não é apenas na questão dos detalhes que a inter-relação, de uma estrutura ou obra, de maneira

geral, com o meio ambiente deve ser analisada, mas, ao contrário, já na etapa de concepção, e mesmo em

nível de projeto arquitetônico, tais considerações devem ser feitas.

É interessante referir que, em vários casos, será possível identificar o partido arquitetônico adotado como o

responsável pela conseqüente execução de uma estrutura potencialmente degradável. É o que se pode chamar

de arquitetura patológica, resultante, por exemplo, de uma opção que não tenha considerado condicionantes

geográficos como áreas de temperatura máxima e de insolação, ou os ventos e chuvas dominantes, todos

estes fatores de agressão ao concreto armado.

Page 42: PATOLOGIA, RECUPERAÇÃO E REFORÇO DE ESTRUTURAS DE …

42

5.2.6 Incorreção na Interação Solo-Estrutura

O terreno de fundação, em termos de sua capacidade de resistir aos esforços que lhe são transmitidos pela

estrutura, deformando-se, em conseqüência e na medida de suas características próprias, será sempre

elemento integrante do conjunto responsável pela estabilidade da obra. Assim, em qualquer construção será

fundamental conhecer-se, a priori, as características do solo, o que, nas situações mais freqüentes, pode-se

conseguir através da conveniente execução de furos de sondagem.

Algumas vezes, a execução de sondagens é relegada a um segundo plano, ou, por outro lado, os seus

resultados não são corretamente interpretados, levando o tipo de fundação adotada a não ser o mais

conveniente, ou com deformabilidade incompatível com a rigidez da superestrutura, gerando, em

conseqüência, recalques de apoio, e, a partir desses, quadros fissuratórios e patologias diversas.

Deficiências decorrentes de incorreções na interação solo-estrutura são, também, a adoção de comprimentos

insuficientes para estacas, a não previsão de muros de arrimo, ou o mau dimensionamento dos mesmos, o

dimensionamento de fundações superficiais sem a consideração da taxa de compressibilidade do solo, etc.

5.2.7 Incorreção na Consideração de Juntas de Dilatação e Movimentação

A ausência ou a má utilização de juntas de dilatação nas estruturas (quer em peças de concreto armado, quer

nas de alvenaria estrutural) é um dos fatores que invariavelmente lhes trazem problemas, em particular como

resultado do comportamento reológico do concreto.

Na figura 5.5 apresentam-se casos onde se recomendam a adoção de juntas de movimentação.

Figura 5.5 – Juntas de dilatação/ movimentação

Caso A – Edifícios muito longos

Caso B – Edifícios com geometria irregular

Caso C – Sistemas diferentes de fundação

Caso D – Carregamentos diferentes

Caso E – Cotas de apoio diferentes

Caso F – Diferentes fases de construção

Page 43: PATOLOGIA, RECUPERAÇÃO E REFORÇO DE ESTRUTURAS DE …

43

5.3 – PATOLOGIAS DEVIDA À EXECUÇÃO

5.3.1 DEFICIENCIAS DE CONCRETAGEM

Ao método de concretagem estão relacionadas, entre outras, as falhas no transporte, no lançamento e no

adensamento do concreto, que podem provocar, por exemplo, a segregação entre o agregado graúdo e a

argamassa, além da formação de ninhos de concretagem e de cavidades no concreto.

Em termos de transporte do concreto, desde que a massa sai da betoneira até a sua aplicação final, os

principais cuidados devem centrar-se na rapidez do processo, que deve ser tal que o concreto não seque nem

perca a trabalhabilidade. Além disso, o tempo de transporte não deverá provocar grandes intervalos entre

uma camada de concreto e a anterior, o que provocaria, de imediato, a criação de juntas de concretagem não

previstas, conduzindo à formação de superfícies sujeitas a concentração de tensões e perda de aderência.

Os meios de transporte não devem provocar a segregação, não permitindo perda de argamassa ou de pasta de

cimento, nem promovendo a separação entre os componentes do concreto.

Diversas questões estão associadas ao lançamento do concreto nas fôrmas. O lançamento malfeito pode

ocasionar o deslocamento das formas (Figura 5.6) e das armaduras, bem como de chumbadores que possam

estar embutidos nas peças estruturais.

Figura 5.6 – Deformidade de elemento estrutural devido ao deslocamento das formas

O lançamento em plano inclinado pode levar ao acúmulo de água exsudada, o que ocasionará a segregação

entre o agregado graúdo e a nata de cimento ou a argamassa, fazendo com que surjam pontos frágeis na

estrutura, facilitando, assim, a ocorrência de focos de corrosão.

Page 44: PATOLOGIA, RECUPERAÇÃO E REFORÇO DE ESTRUTURAS DE …

44

As juntas de concretagem são inevitáveis, e não há uma regra específica para cobrir todas as situações. Há

que se garantir, sempre que se escolher a localização de uma dada junta, a observância a três fatores:

durabilidade, resistência e estética. Por isso, juntas nunca deverão ser realizadas em regiões de elevadas

tensões tangenciais.

A vibração e o adensamento do concreto são outras tarefas que, se não forem corretamente realizadas, podem

levar à formação de vazios na massa e a irregularidades na superfície, que comprometem o aspecto estético e

facilitam a penetração dos agentes agressores, por aumento da porosidade superficial.

É obrigatória a referência às questões relativas ao processo de cura do concreto, que é composto por uma

série de medidas que visam impedir a evaporação da água necessária e inerente ao próprio endurecimento.

Uma cura inadequada aumenta as deformações específicas devidas à retração. Como esta deformação é

diferenciada entre as diversas camadas constituintes da peça, principalmente se esta for de grandes

dimensões, poderão ser geradas tensões capazes de provocar acentuada fissuração do concreto.

É importante que a cura seja iniciada pelo menos logo após a pega e tenha duração adequada, função da

observação de fatores tais o as características do meio ambiente, durante a cura e ao longo da vida da

estrutura, e a própria posição do concreto, como se pode observar nas recomendações constantes no boletim

183 do CEB, conforme Tabela 5.3.

Agressividade Tempo de Cura

Ambiental (dias)

Normal 1 a 3 dias

Elevada 10 a 14 dias

Normal 1 a 3 dias

Elevada 5 a 7 dias

Clima

Quente e Seco

Úmido

Tabela 5.3 Tempos de cura recomendados (CEB -1989)

5.3.2 INADEQUAÇÃO DE FÔRMAS E ESCORAMENTOS

Sendo esta uma questão ampla que poderá inclusive incluir considerações como deficiências de

contraventamento, será preferível optar, de forma a objetivar o assunto, pela exemplificação das falhas

construtivas mais comuns relacionadas diretamente às fôrmas e aos escoramentos convencionais:

falta de limpeza e de aplicação de desmoldantes nas fôrmas antes da concretagem, o que acaba por

ocasionar distorções e "embarrigamentos" natos nos elementos estruturais (o que leva à necessidade

de enchimentos de argamassa maiores dos que os usuais e, conseqüentemente, à sobrecarga da

estrutura);

Page 45: PATOLOGIA, RECUPERAÇÃO E REFORÇO DE ESTRUTURAS DE …

45

insuficiência de estanqueidade das fôrmas, o que torna o concreto mais poroso, por causa da fuga de

nata de cimento através das juntas e fendas próprias da madeira, com a conseqüente exposição

desordenada dos agregados;

retirada prematura das fôrmas e escoramentos, o que resulta em deformações indesejáveis na

estrutura e, em muitos casos, em acentuada fissuração;

a remoção incorreta dos escoramentos, o que provoca o surgimento de trincas nas peças, como

conseqüência da imposição de comportamento estático não previsto em projeto.

5.3.3 DEFICIÊNCIA NAS ARMADURAS

Os problemas patológicos causados por deficiências ou erros na colocação das armaduras são das mais

diversas ordens e ocorrem com freqüência muito elevada. As deficiências que podem ser apontadas como as

mais freqüentes são:

má interpretação dos elementos de projeto, o que, em geral, implica na inversão do

posicionamento de algumas armaduras ou na troca das armaduras de uma peça com as de outra;

insuficiência de armaduras, como conseqüência de irresponsabilidade, dolo ou incompetência,

com implicação direta na diminuição da capacidade resistente da peça estrutural;

mal posicionamento das armaduras, que se pode traduzir na não observância do correto

espaçamento das barras (Figura 5.7a), ou no deslocamento das barras de suas posições originais

(Figura 5.7b). O recurso a dispositivos adequados (espaçadores, pastilhas, caranguejos) é

fundamental para garantir o correto posicionamento das barras da armadura;

cobrimento de concreto insuficiente, ou de má qualidade, o que facilita a implantação de

processos de deterioração tal como a corrosão das armaduras, ao propiciar acesso mais direto dos

agentes agressivos externos. Também neste caso torna-se indispensável o recurso aos

espaçadores;

dobramento das barras sem atendimento aos dispositivos regulamentares, fazendo com que o aço

venha a "morder" o concreto, provocando seu fendilhamento por excesso de tensões trativas no

plano ortogonal ao de dobramento;

Figura 5.7a -Espaçamento irregular em armaduras de lajes Figura 5.7b -Armadura negativa da laje fora de posição

Page 46: PATOLOGIA, RECUPERAÇÃO E REFORÇO DE ESTRUTURAS DE …

46

deficiências nos sistemas de ancoragem, com utilização indevida de ganchos (na compressão,

por exemplo), que, muitas vezes, só vêm a introduzir estados de sobre-tensão (como já se referiu,

para o caso do dobramento). Outra situação falha é a registrada com a não observância do

correto comprimento de ancoragem, necessário para redução, ao mínimo, dos esforços

transferidos ao concreto. Em ambos os casos, o resultado será o surgimento de um quadro

fissuratório que, algumas vezes, poderá trazer conseqüências bastante graves;

deficiências nos sistemas de emenda, que, para além daquelas já referidas para as ancoragens,

podem surgir também como resultado da excessiva concentração de barras emendadas em uma

mesma seção, e por utilização incorreta de métodos de emenda, especialmente quando do uso de

soldas;

má utilização de anti-corrosivos nas barras da armadura, que são pinturas efetuadas nas barras

para diminuir a possibilidade do ataque da corrosão, mas reduzem a aderência das barras ao

concreto.

Com certeza outras questões poderão surgir, em particular na abordagem das estruturas em concreto

protendido, e, em todos os casos, e desde que o projeto seja correto e exaustivamente detalhado, a prevenção

contra estes defeitos estará na estrita observância aos desenhos e especificações de origem.

5.4 – PATOLOGIAS DEVIDO AOS MATERIAIS

5.4.1 UTILIZAÇÃO INCORRETA DOS MATERIAIS

Esta é outra falha que apresenta índice de incidência superior ao que se poderia supor. Segue-se a apreciação

de alguns dos casos mais comuns de utilização incorreta de materiais de construção:

utilização de concreto com fck inferior ao especificado, quer no caso de encomenda errada ou de

erro no fornecimento de concreto pronto, quer por erro em concreto virado na própria obra;

utilização de aço com características diferentes das especificadas, quer em termos de categorias, quer

de bitolas;

utilização de agregados reativos, instaurando, desde o início, a possibilidade de geração de reações

expansivas no concreto, e potencializando os quadros de desagregação e fissuração do mesmo;

utilização inadequada de aditivos, alterando as características do concreto, em particular as

relacionadas com resistência e durabilidade;

dosagem inadequada do concreto, seja por erro no cálculo da mesma, seja pela utilização incorreta

de agregados, do tipo de cimento ou de água.

Page 47: PATOLOGIA, RECUPERAÇÃO E REFORÇO DE ESTRUTURAS DE …

47

5.4.2 CAUSAS RELACIONADAS À NATUREZA DO MATERIAL CONCRETO

Entende-se por causas naturais àquelas que são inerentes ao próprio material concreto e à sua sensibilidade

ao ambiente e aos esforços solicitantes, não resultando, portanto, de falhas humanas ou de equipamento.

Dentre os problemas patológicos que podem se originar devido à natureza do concreto, pode-se citar:

causas próprias à estrutura porosa do concreto

causas químicas

causas físicas

causas biológicas

Causas Próprias à Estrutura Porosa do Concreto

Mehta (1994) diz que "a impermeabilidade do concreto deve ser a primeira linha do sistema de defesa contra

qualquer processo físico-químico de deterioração". A questão básica colocada por Mehta pode ser traduzida

por:

CONCRETO CONVENCIONAL → IMPERMEABILIDADE → DURABILIDADE

O que significa que, para o concreto convencional, a questão da resistência não é o ponto crucial de

preocupação, já que poderá ser obtida de forma trivial, mas sim que os maiores esforços devem ser dirigidos

à obtenção, por meios simples, de concretos duráveis, ou seja, de concretos com baixos índices de

porosidade e permeabilidade, entendendo-se como porosidade a relação entre o volume de vazios e volume

total de um material.

Não é difícil entender que quanto mais permissivo um concreto for ao transporte interno de água, gases e de

outros agentes agressivos, maior será a probabilidade da sua degradação, bem como da do aço que deveria

proteger. Também não deve ser difícil concluir que, nestes casos, a degradação dependerá, diretamente, de

dois fatores:

porosidade do concreto e;

condições ambientais da superfície.

Como, em geral, não se poderá lidar com a melhoria das condições ambientais, a única saída, neste sentido,

para se evitar a degradação dos concretos, é a redução, ao menor nível possível, da sua porosidade.

Causas Químicas

Reações Internas do Concreto

Para que seja estabelecida a desejável aderência entre o cimento e os agregados, desenvolvem-se

combinações químicas entre estes últimos e os componentes hidratados do cimento. Se por um lado estas

interações são positivas, contribuindo para o aumento da resistência e para maior homogeneidade do

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48

concreto, por outro corre-se o risco de, em alguns casos, desenvolverem-se também reações químicas de

origem expansiva, que, inversamente, têm a propriedade de anular a coesão do material concreto. As reações

químicas deste tipo que são hoje conhecidas estão indicadas a seguir:

a- Reação álcalis-sílica, que resulta da interação entre a sílica reativa de alguns tipos de minerais

utilizados como agregados e os íons álcalis (Na+ e K

+) presentes nos cimentos, libertados durante a

hidratação dos mesmos, ou ainda pela penetração de cloretos, contendo estes mesmos íons, no meio

concreto. Estas reações são expansivas, pela formação adicional de sólidos em meio confinado,

provocando, de início, a fissuração da superfície do concreto, conferindo à mesma o aspecto de um

mosaico, para posteriormente vir a desagregar a estrutura, criando crateras profundas, de aspecto

cônico, pelas quais escorre, às vezes, um gel de sílica. A adição de pozolanas, desde que em

quantidades adequadas, pode inibir, ou mesmo evitar, a reação álcalis-agregados, e poderá ser um

recurso, sempre que não for possível prevenir com a utilização de cimentos com baixo teor de

álcalis.

b- Reação álcalis-dolomita implica expansão típica dos cristais de calcário dolomítico em solução de

hidróxido de sódio, presente nos cimentos, que se caracteriza pela formação de novos sólidos sem

que haja a dissolução do sólido primitivo, o que, necessariamente, implica em expansão. Esta reação

é mais perigosa do que a anteriormente referida, porque a única forma de combatê-la é a utilização

de cimentos com mínima quantidade de álcalis (a adição de pozolanas, neste caso, não fará efeito),

além da prévia avaliação da reatividade dos calcários;

c- Reação de agregados que contêm alumina e do cálcio do cimento : As rochas caulinizadas, ou

feldspatos calco-sódicos, em presença do cálcio do cimento, com os íons sulfatos, quer do próprio

concreto, quer vindos do exterior, resultam na formação de um novo sólido, o sulfoaluminato

tricálcico (etringite), sem a dissolução da alumina primitiva, é que gera a expansão, sendo o

fenômeno facilitado pelo próprio cimento Portland, que é um meio saturado de hidróxido de cálcio

endurecido. Esta reação poderá ser inibida pela adição de pozolanas ao cimento, devendo ser

analisado, previamente, se o inerte é ou não capaz de reagir aos sulfatos.

Expansibilidade de Certos Constituintes do Cimento

Alguns constituintes do cimento podem ser expansivos, o que pode levar a que o concreto também o seja,

ocasionando a fissuração do mesmo e o desenvolvimento de problemas patológicos na estrutura.

O óxido de magnésio (MgO), um dos constituintes do cimento, poderá ser expansivo quando estiver

na forma de pericálcio (periclásio), que irá se hidratar de maneira muito lenta após o endurecimento do

cimento (e do concreto), resultando no aumento do volume.

Page 49: PATOLOGIA, RECUPERAÇÃO E REFORÇO DE ESTRUTURAS DE …

49

A cal livre é um constituinte normalmente presente no cimento Portland. A hidratação da cal livre é

expansiva, podendo dar lugar à fissuração superficial do concreto e até mesmo provocar sua debilitação e

destruição. A cal liberada pela hidratação dos silicatos, componentes que têm a maior parcela de

responsabilidade nas resistências mecânicas dos cimentos, é, por sua vez, atacável por águas puras, ácidas ou

carbonatadas.

Elevação da Temperatura Interna do Concreto

As reações dos componentes do cimento com a água são exotérmicas. A quantidade de calor liberada poderá

vir a causar problemas quando da concretagem de peças de grandes dimensões, já que, no início do processo

de hidratação, não há troca positiva de calor com o exterior, o que provoca o aquecimento e a expansão da

massa, sendo que, posteriormente, com a continuidade do processo, dá-se o natural esfriamento, implicando

na geração de um gradiente térmico, situação que pode ocasionar a fissuração interna do concreto.

Causas Físicas

As causas físicas intrínsecas ao processo de deterioração da estrutura são as resultantes da ação da variação

da temperatura externa, da insolação, do vento e da água, esta última sob a forma de chuva, gelo e umidade,

podendo-se ainda incluir as eventuais solicitações mecânicas ou acidentes ocorridos durante a fase de

execução de uma estrutura.

Fissuras Devido à Retração do Concreto

A retração do concreto é um movimento natural da massa que, no entanto, é contrariado pela existência,

também natural, de restrições opostas por obstáculos internos (barras de armadura) e externos (vinculação a

outras peças estruturais). Se este comportamento reológico não for considerado, quer em nível de projeto,

quer de execução, são grandes as possibilidades do desenvolvimento de um quadro de fissuração, que pode

levar à formação de trincas que seccionem completamente as peças mais esbeltas, como no caso de lajes e

paredes.

Mecanismos da Retração

A hidratação do cimento consiste na transformação de compostos anidros mais solúveis em compostos

hidratados menos solúveis, ocorrendo na hidratação à formação de uma camada de gel em torno dos grãos

dos compostos anidros.

Em função da trabalhabilidade necessária, os concretos e argamassas normalmente são preparados com água

em excesso, o que vem acentuar a retração. Na realidade, é importante distinguir as três formas de retração

que ocorrem num produto preparado com cimento, ou seja:

Page 50: PATOLOGIA, RECUPERAÇÃO E REFORÇO DE ESTRUTURAS DE …

50

Retração química: a reação química entre o cimento e a água se dá com redução de volume;

devido às grandes forças interiores de coesão, a água combinada quimicamente sofre uma

contração de cerca de 25% de seu volume original;

Retração de secagem: a quantidade excedente de água, empregada na preparação do concreto ou

argamassa, permanece livre no interior da massa, evaporando-se posteriormente, tal evaporação

gera forças capilares equivalentes a uma compressão isotrópica da massa, produzindo a redução

do seu volume;

Retração por carbonatação: a cal hidratada liberada nas reações de hidratação do cimento reage

com o gás carbônico presente no ar, formando carbonato de cálcio; esta reação é acompanhada

de uma redução de volume, gerando a chamada retração por carbonatação.

Os três tipos de retração analisados ocorrem com o produto endurecido, ou em processo de endurecimento,

em períodos de tempo relativamente longos. Johnson (1965) refere-se ainda a um quarto tipo de retração, que

ocorre com a massa no estado plástico, e que provém da evaporação da água durante a pega ou da percolação

da água de regiões mais pressionadas para regiões menos pressionadas. Essa retração plástica explica o

adensamento das juntas de argamassa de uma alvenaria recém-construída e a exsudação de água num

concreto recém-vibrado.

Inúmeros fatores intervêm na retração de um produto à base de cimento, sendo os principais:

Composição química e finura do cimento: a retração aumenta com a finura do cimento e com o

seu conteúdo de cloretos (CaCl2 – normalmente empregado como aditivo acelerador de pega) e

álcalis (NaOH, KOH);

Quantidade de cimento adicionada à mistura: quanto maior o consumo de cimento, maior a

retração;

Natureza do agregado: quanto menor o módulo de deformação do agregado, maior sua

suscetibilidade à compressão isotrópica anteriormente mencionada e, portanto, maior a retração;

maior retração também para os agregados com maior poder de absorção de água (basalto e

agregados leves, por exemplo);

Granulometria dos agregados: quanto maior a finura dos agregados, maior será a quantidade

necessária de pasta de cimento para recobri-los e, portanto, maior será a retração;

Quantidade de água na mistura: quanto maior a relação água/cimento, maior a retração de

secagem:

Condições de cura: se a evaporação da água iniciar-se antes do término da pega do aglomerante,

isto é, antes de começarem os primeiros enlaces entre os cristais desenvolvidos com a

hidratação, a retração poderá ser acentuadamente aumentada.

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Desses seis fatores distinguidos como principais, a relação água/cimento é sem dúvida o que mais influencia

a retração de um produto constituído por cimento, sobrepujando inclusive a própria influência do consumo

de cimento. A Figura 5.8 ilustra a importância relativa do consumo de cimento e do consumo de água na

retração de concretos, conforme estudos efetuados pelo LNEC, citados por Helene.

Figura 5.8 - Retração do concreto em função do consumo de cimento e da relação a/c (LNEC)

Outro fator fundamental na magnitude da retração desenvolvida é a umidade relativa do ar (UR) do local em

que a peça concretada ficará exposta. Em relação à umidade relativa de 50%, normalmente adotada para a

determinação, em laboratório, da retração de concretos e argamassas. O BRS faz a seguinte projeção para

retrações desenvolvidas em concretos:

Figura 5.9 - Retração de concretos em função da umidade relativa do ar (BRS)

Além dos fatores internos à massa (relação água/cimento, granulometria do agregado etc.) e das condições

ambientais, de acordo com o BRS a forma geométrica da peça influi decisivamente na grandeza da retração;

assim é que, quanto maior a relação área exposta da peça/volume da peça, maior a retração a ser desen-

volvida.

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52

5.5 – PATOLOGIAS DEVIDO À FALTA DE MANUTENÇÃO

5.5.1 FALHAS HUMANAS DURANTE A VIDA ÚTIL DA ESTRUTURA

As causas que serão citadas a seguir são resultado direto da atuação do homem e, em particular, dos

proprietários e utilizadores, que, na grande maioria dos casos, não têm a menor consciência dos danos que

estão causando às construções e, por considerarem que as intervenções a fazer são banais, dispensam, quase

sempre, a consulta a técnicos especializados.

a- Alterações estruturais: Neste item serão tratados os casos em que, sem qualquer estudo

apropriado, submetese a estrutura a alterações no seu comportamento estático e/ou resistente, como, por

exemplo:

Supressão de paredes portantes (muitas vezes em alvenaria) ou de outras peças estruturais

(vigas ou pilares);

Aumento do número de andares em edifícios sem a devida análise dos pilares e das

fundações, e mesmo da estrutura como um todo, diante das novas condições da construção,

no que se refere a cargas verticais, efeitos de 2ª. ordem e a forças horizontais;

Transformação de apoios de terceiro e segundo grau em apoios de segundo e primeiro grau,

respectivamente (caso de demolições, por exemplo);

Abertura de furos em vigas ou lajes sem a avaliação da implicação dos mesmos, em termos

de posição e dimensões, no conjunto estrutural, ou da compatibilidade das armaduras

existentes com a nova distribuição de esforços ou ainda do processo de microfissuração

porventura introduzido.

b- Sobrecargas exageradas: Consideramse, nesta abordagem, estruturas em que os projetos tenham

sido desenvolvidos com as mais corretas considerações de carga, de acordo com os dados do projeto

arquitetônico e com os fornecidos pelo usuário (equipamentos, depósitos de materiais, jardins, etc.) e ainda

com os prescritos pelas Normas em vigor, mas que, durante a sua vida útil, acabam por apresentar problemas

patológicos de diversas ordens, em virtude de serem submetidas a sobrecargas superiores às de projeto. Tais

situações, características de má utilização da estrutura, são particularmente comuns em depósitos e

instalações de novos equipamentos para ampliação da indústria ou substituição de máquinas obsoletas, ou

nos casos de mudança de propósito funcional de edifícios.

c- Alteração das condições do terreno de fundação: Tratase aqui dos casos de interação não

cuidada entre construções existentes e novas, e, particularmente, das alterações das condições de estabilidade

e compressibilidade do terreno de fundação, como resultado das novas escavações, ou da alteração do nível

do lençol freático, sendo comum a conseqüente redução da capacidade de coesão do solo e a fuga de finos,

por exemplo, questões que freqüentemente resultam em recalque das fundações.

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53

d- Ações mecânicas, como por exemplo:

Choques de veículos: O choque de veículos automotores contra pilares e guardarodas de

viadutos e o contínuo roçar, ou mesmo o choque, de embarcações contra as faces expostas de

pilares de pontes e estacas de cais são típicos exemplos de ações mecânicas, com conseqüências

que vão desde o desgaste da camada mais superficial de concreto à destruição de algumas peças

estruturais, sempre que não exista proteção adequada.

Acidentes (ações imprevisíveis): Este item visa considerar ações mecânicas, ou físicas, a que

uma estrutura pode estar submetida e cuja ocorrência é imprevisível, ou de previsão muito

difícil, quer em termos de época de ocorrência, quer em termos de intensidade. Resultam, de

maneira geral, em solicitações bruscas, como os incêndios, os sismos, as inundações, os choques

de veículos (que não os previsíveis) e os esforços devidos ao vento.

5.5.2 AÇÕES FÍSICAS

As principais ações físicas a serem consideradas como agentes agressores às estruturas de concreto são:

a- Variações de temperatura, não só as ambientais, ou seja, as que solicitam igualmente as várias

peças de uma estrutura, mas também, e principalmente, as que geram gradientes térmicos, ao solicitarem

peças que são protegidas apenas em uma das faces, como reservatórios e lajes de cobertura, por exemplo. Em

qualquer caso, se a correspondente armadura resistente não tiver sido convenientemente dimensionada e

detalhada, é certa a instalação de um quadro fissuratório.

b- Movimentos que ocorrem na interface entre materiais com diferentes coeficientes de dilatação

térmica, mas submetidos à mesma variação de temperatura, com a conseqüente geração de diferentes

deformações, como é caso do assentamento de paredes de alvenaria em peças de concreto;

c- Insolação, ou incidência direta do sol, ação que se manifesta de forma semelhante à descrita para o

caso de gradiente térmico, agravada pelas questões relacionadas com as radiações solares, que atuam sobre a

camada epidérmica do concreto, alterando a textura e a cor da mesma;

d- Ação da água, nas suas diversas formas, desde a umidade (geradora das mais diferentes

patologias, explicadas na descrição dos processos químicos) à chuva e ao gelo.

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54

5.5.3 AÇÕES QUÍMICAS

As solicitações químicas às quais uma estrutura está sujeita durante a sua vida útil são, normalmente, as

causas mais comuns de deteriorações em construções industriais, embora também possam ter um papel

importante na deterioração de outros tipos de estruturas, como pontes e viadutos, estádios, galerias

subterrâneas e construções residenciais.

Deve-se considerar que, como os mecanismos de transporte dos agentes agressores químicos geralmente se

servem da estrutura porosa do concreto, se este tiver sido objeto de cuidados específicos, como os descritos

no item relativo a execução das estruturas, o nível de ressentimento das construções às agressões químicas

será substancialmente inferior.

a- Ar e gases: A poluição atmosférica nos grandes centros urbanos ocasiona o apodrecimento e a

descoloração do concreto. As substâncias poluidoras transportadas pelo ar são, em sua grande

maioria, provenientes de gases e fuligens liberados pelos escapamentos dos veículos

automotores, e dos gases ácidos provenientes das chaminés de algumas indústrias. O dióxido de

enxofre, SO2, e o trióxido de enxofre, SO3, em forma de fuligem, são provenientes da queima de

óleos combustíveis, gases residuais e hidrocarbonetos. Quando chove, a água precipitada forma,

junto com a fuligem existente no ar, a chamada chuva ácida (H2SO3 e H2SO4), fortemente

agressiva para o concreto e que, após um certo tempo, ataca também o aço.

b- Águas agressivas: Todas as águas são, em maior ou menor grau, agressivas ao concreto, mas a

agressividade aumenta quando a água está em movimento, há variação freqüente do nível da

água, a temperatura da água é superior a 45°C, a água está poluída com produtos químicos ou

por esgotos residenciais e as peças de concreto são delgadas.

c- Águas puras: As águas quimicamente puras, tais como a água da chuva (exceto a chuva ácida) e a

água de poços em regiões silicosas, não contêm sais dissolvidos e, por isto, tendem a agredir o

concreto, tornandoo mais poroso e diminuindo, conseqüentemente, a sua resistência. A

agressividade das águas puras é função direta da sua velocidade, da quantidade de água que atua

sobre o concreto e do seu tempo de permanência (águas empoçadas). A evidência mais comum desta

ação é a dissolução do hidróxido de cálcio, seguida de precipitação de géis, com a conseqüente

formação de estalactites e estalagmites.

d- Reações com ácidos e sais: A ação do hidrogênio pode contribuir para a deterioração dos

concretos. A origem mais comum para o hidrogênio são os ácidos, cujo grau de reação com o

concreto é determinado, primordialmente, pela sua concentração e pela solubilidade do sal de cálcio

resultante. Vários são os tipos de ácidos perigosos para o concreto, sejam eles inorgânicos

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55

(clorídrico, sulfídrico, nítrico, carbônico, etc.) ou orgânicos, normalmente encontrados na terra

(acético, láctico, esteárico, etc.). Em qualquer caso, a ação do íon hidrogênio provoca a formação de

produtos solúveis, que ao serem transportados pelo interior do concreto o vão deteriorando. A ação

de sais no interior do concreto, como os magnesianos e amoniacais, por exemplo, é muito

semelhante à dos ácidos.

e- Reações com sulfatos: Os sulfatos são elementos extremamente agressivos, e a ação de águas

sulfatadas pode ser responsável, ao fim de algum tempo, pela total desagregação do concreto. Os

principais sulfatos, tais como os de magnésio, cálcio, potássio, sódio e o de amônio, são encontrados

na água do mar, em águas subterrâneas e, em alguns casos, em águas poluídas com dejetos

industriais. Ao serem transportados pelo meio do concreto, dão origem à formação de um sal,

chamado de sal de Candlot, e à conseqüente desagregação do concreto.

f - Presença de cloretos: Os cloretos podem ser adicionados involuntariamente ao concreto a partir da

utilização de aditivos aceleradores do endurecimento, de agregados e de águas contaminadas, ou a

partir de tratamentos de limpeza realizados com ácido muriático (clorídrico). Por outro lado, podem

também penetrar no concreto ao aproveitarem-se de sua estrutura porosa. Em qualquer caso, a

difusão dos íons de cloro é feita pela água que enche os poros do concreto, e o grau de propagação

dependerá, basicamente, dos mecanismos de transporte. Será sempre interessante lembrar que a

grande maioria dos aditivos aceleradores de pega tem, na sua composição química, cloreto de cálcio

(CaCl2), o que requererá, sempre, que sejam utilizados com muito conhecimento de causa, sem o que

poderão ser contraproducentes. A presença de CI é limitada, na maioria dos regulamentos, devido a

capacidade que os íons CI têm de romper a camada óxida protetora da armadura (despasivação da

armadura) e corroê-la, sempre que houver umidade e oxigênio.

g – Presença de anidrido carbônico: A ação do anidrido carbônico (CO2) presente na atmosfera

manifesta-se pelo transporte deste para dentro dos poros do concreto, e com a sua subseqüente

reação com o hidróxido de cálcio, existente na água do concreto, formando o carbonato de cálcio

(ver equação 18), o que implica na carbonatação do concreto (redução do pH para valores inferiores

a 9,0).

Ca(OH)2 + CO2 → CaCO3 + H2O (5.3)

5.5.4 AÇÕES BIOLÓGICAS

As ações biológicas, embora possam desempenhar papel particularmente importante como agentes de

deterioração em pontes e em construções rurais, também atuam de maneira grave em edifícios localizados

Page 56: PATOLOGIA, RECUPERAÇÃO E REFORÇO DE ESTRUTURAS DE …

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nos grandes centros urbanos. Alguns desses agentes causadores da deterioração e da desagregação do

concreto são:

Crescimento de vegetação nas estruturas (cujas raízes penetram principalmente através de

pequenas falhas de concretagem, ou pelas fissuras e juntas de dilatação), e;

O desenvolvimento de organismos e microorganismos em certas partes da estrutura, tais como:

a- As conchas pode ser particularmente danosas em estruturas cujas características dinâmicas sejam

importantes para o seu desempenho, já que estes crustáceos se solidarizam à estrutura e, como

acumulam água em seu interior, acabam por modificar, substancialmente, a massa da estrutura,

sem, contudo, alterar a rigidez da mesma, o que resulta em modificação significativa das

freqüências naturais da estrutura e, por conseguinte, do seu comportamento dinâmico.

b- Formigas: elas têm o costume de afofar a terra sob fundações superficiais, especialmente em

edificações de pequeno porte, provocando, com isto, recalques diferenciais, que podem danificar

seriamente a estrutura e resultam em trabalho de recuperação bastante oneroso.

c- Microorganismos: Fungos e Bactérias formam uma película sobre o concreto (biofilme),

necessariamente em presença de água. Com a atividade metabólica, esses microorganismos

acabam excretando substâncias extracelulares geralmente compostas de polissacarídeos e

produtos ácidos que alteram quimicamente o concreto através da dissolição da portlandita e

silicatos hidratados (ácidos orgânicos e sulfúrico), corrosão da armadura (formação de gás

sulfídrico). A decomposição de microorganismos mortos também contribui para a formação do

biofilme (Figura 5.10).

Figura 5.10 - Biodegradação do concreto

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57

Os processos biológicos podem resultar do ataque químico de ácidos (produção de anidrido carbônico)

gerados pelo crescimento de raízes de plantas ou de algas que se instalem em fissuras ou grandes poros do

concreto, ou por ação de fungos, ou pela ação de sulfetos (S=) presentes nos esgotos.

Neste último caso, o mais comum e importante em termos de ataque biológico, dá-se que os sulfetos,

inicialmente em forma de gás sulfídrico (H2S), dissolvido na água, ao entrarem em contato com o cálcio do

cimento Portland, e na presença de bactérias aeróbicas, formam o sulfureto de cálcio, que descalcifica o

concreto, amolecendo a pasta de cimento.

5.6 – MECANISMOS E CONFIGURAÇÕES TÍPICAS DAS PATOLOGIAS DAS ESTRUTURAS DE CONCRETO

Nos itens que se seguem, procurar-se-á dissertar sobre a configuração das fissuras em função das diversas

causas que possam motivar o surgimento de tensões trativas superiores à resistência do concreto à tração, e,

conseqüentemente, a geração de quadros fissuratórios.

5.6.1 Deficiências de Projeto

As falhas acontecidas em projetos estruturais, com influência direta na formação de fissuras, podem ser as

mais diversas, assumindo as correspondentes fissuras configuração própria, função do tipo de esforço a que

estão submetidas as várias peças estruturais, como se procura exemplificar na Figura 5.11.

Figura 5.11 - Algumas configurações genéricas de fissuras em função do tipo

de solicitação predominante

Page 58: PATOLOGIA, RECUPERAÇÃO E REFORÇO DE ESTRUTURAS DE …

58

Também nos casos em que o esforço predominante é compressivo, seja em situação de compressão simples

(Figuras 5.12b) ou de flexão composta (Figura 5.12a), poderão ser desenvolvidos quadros de fissuração de

alguma importância, sempre que as resistências últimas do concreto forem ultrapassadas.

Figura 5.12a - Fissuração em viga submetida a

flexocompressão

Figura 5.12b - Fissuras por

compressão, sem e com

confinamento

Nas Figuras 5.13 a 5.16, são apresentadas fissurações típicas de vigas, por deficiência da capacidade

resistente

Figura 5.13 - Fissuração por flexão, como conseqüência da insuficiente seção

de aço diante do momento negativo

Figura 5.14 - Fissuração por flexão, como conseqüência da insuficiente seção

de aço diante do momento positivo

Figura 5.15 - Fissuração por esmagamento do concreto, por insuficiência

da armadura de compressão

Figura 5.16 - Fissuração por cisalhamento, por insuficiência de armaduras

para combate ao cortante

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59

É também importante exemplificar os casos de deficiência de capacidade resistente em lajes, como os

mostrados nas Figuras 5.17 a 5.22.

Figura 5.17 - Fissuração por esmagamento do concreto, por reduzida espessura da laje.

As fissuras surgem na face inferior, por deficiência diante dos momentos negativos.

Figura 5.18 - Fissuração de flexão, devida à insuficiência de armadura para os momentos negativos. As fissuras surgem

na face superior.

Figura 5.19 - Fissuração por esmagamento do concreto, devido à reduzida espessura da laje.

As fissuras surgem na face superior por deficiência diante dos momentos positivos

Figura 5.20 - Fissuração por flexão, devida a insuficiência de armadura para os momentos positivos. As fissuras

surgem na face inferior.

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60

Figura 5.21 - Fissuração por deficiência de armaduras para combate aos momentos volventes.

As fissuras surgem na face superior da laje

Figura 5.22 - Fissuração por deficiência de armaduras para combate aos momentos volventes.

As fissuras surgem na face inferior da laje.

Observe-se agora o comportamento conjunto de vigas e pilares, como o exemplificado na Figura 5.23, em

que o esforço de torção existente nas vigas é transmitido ao pilar como flexão transversal, e, na Figura 5.24,

o caso de pilar e laje, com as características fissuras por puncionamento desta última.

Figura 5.23 - Fissuração por torção

Figura 5.24 - Fissuração por puncionamento

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61

Ainda como exemplo de deficiência de detalhamento, veja-se a Figura 5.25, onde é representada uma fissura

provocada pela forte concentração de ganchos, para ancoragem de barras, em uma mesma seção.

Figura 5.25 - Incorreção na execução da ancoragem, por excesso de ganchos na mesma seção

Esta fissura, muitas vezes confundida à primeira vista com as de flexão, surge aproximadamente a 45° e

reproduz o escorregamento de barras de aço no meio de concreto, quando a viga entra em trabalho.

5.6.2 Contração Plástica do Concreto

Este é o primeiro dos casos em que a fissuração, no processo de execução de uma determinada peça

estrutural, ocorre ainda antes da pega do concreto, devido à evaporação excessivamente rápida da água que

foi utilizada em excesso para a confecção do material (nada a ver com o comportamento reológico próprio do

concreto), sendo que a massa, em conseqüência, se contrai de forma irreversível, podendo este movimento

acontecer imediatamente após o lançamento do concreto.

Este processo de fissuramento é mais comum em superfícies extensas, como lajes e paredes, com as fissuras

sendo normalmente paralelas entre si e fazendo ângulo de aproximadamente 45° com os cantos, sendo

superficiais, na grande maioria dos casos. Entretanto, em função da esbeltez da peça em questão, elas podem

vir mesmo a seccioná-la.

Assentamento do Concreto / Perda de Aderência das Barras da Armadura

A fissuração por assentamento do concreto ocorre sempre que este movimento natural da massa, resultante

da ação da força da gravidade, é impedido pela presença de fôrmas ou de barras da armadura, sendo tanto

maior quanto mais espessa for a camada de concreto (ver Figura 5.26).

Figura 5.26 - Formação de fissuras por assentamento plástico do concreto

Page 62: PATOLOGIA, RECUPERAÇÃO E REFORÇO DE ESTRUTURAS DE …

62

As fissuras formadas pelo assentamento do concreto acompanham o desenvolvimento das armaduras, e

provocam a criação do chamado efeito de parede, ou de sombra, que consiste na formação de um vazio por

baixo da barra da armadura, que reduz a aderência desta ao concreto.

É importante também considerar-se que, em termos de durabilidade, fissuras como estas, que acompanham

as armaduras, são as mais nocivas, pois facilitam, bem mais que as ortogonais, o acesso direto dos agentes

agressores, facilitando a corrosão das armaduras.

5.6.3 Retração do Concreto

Vigas e Pilares de Concreto Armado

As peças de uma estrutura reticulada de concreto armado poderão ser solicitadas por elevadas tensões

provenientes da retração do concreto. Em estruturas aporticadas, a retração das vigas superiores poderá

induzir a fissuração horizontal dos pilares mais extremos, conforme Figura 5.27.

Figura 5.27 - Fissuras horizontais nos pilares, devidas à retração do concreto das vigas superiores

A ocorrência de fissuras de retração numa viga de concreto armado dependerá da dosagem do concreto

(principalmente da relação água/cimento), das condições de adensamento (quanto mais adensado, menor a

retração) e das condições de cura (a evaporação precoce da água aumentará substancialmente a retração).

Dependerá ainda, de acordo com Johnson (1965), das dimensões da peça, da rigidez dos pórticos, da taxa de

armaduras e da própria distribuição de armaduras ao longo de sua seção transversal.

Nas vigas altas, com inexistência ou insuficiência de armadura de pele, as fissuras ocorrerão

preferencialmente no terço médio da altura da viga, sendo retas e regularmente espaçadas conforme ilustrado

na Figura 5.28.

Page 63: PATOLOGIA, RECUPERAÇÃO E REFORÇO DE ESTRUTURAS DE …

63

Figura 5.28 - Fissuras de retração em vigas de concreto armado

A retração de pilares de concreto armado, somada às deformações elásticas provenientes das solicitações

externas, pode introduzir elevadas tensões de compressão nas alvenarias de fechamento, chegando-se a

produzir o arqueamento dessa alvenaria. Assim, poderão surgir na parede fissuras típicas de

sobrecarregamento, e fissuras horizontais características da solicitação de flexocompressão.

Retração de Lajes de Concreto Armado

A retração de lajes poderá provocar a compressão de pisos cerâmicos, somando-se a esse inconveniente a

deflexão promovida pela retração diferenciada do concreto entre as regiões armadas e não armadas da laje.

Em situações muito desfavoráveis poderão surgir fissuras no piso ou mesmo o destacamento do revestimento

cerâmico. Tal retração poderá provocar também a compressão de forros falsos, casos estes encontrem-se

rigidamente vinculados às paredes.

Figura 5.29 - Fissuras de retração em lajes

5.6.4 Fissuras Causadas por Deficiências de Execução

As fissuras resultantes de deficiências acontecidas no processo executivo, seja por incúria, seja por

incompetência, assumem, muitas vezes, aspecto em tudo semelhante ao que foi mostrado, na generalidade,

para os casos de fissuramento por deficiências de projeto.

Page 64: PATOLOGIA, RECUPERAÇÃO E REFORÇO DE ESTRUTURAS DE …

64

Figura 5.30 - Fissura causada pelo deslocamento da armadura principal, em relação

à posição original

Um caso típico de fissuras geradas por falha ocorrida durante o processo de construção é o mostrado na

Figura 5.30, em que o mau posicionamento da armadura negativa e faz com que o concreto seja fortemente

tracionado e acabe por se romper.

5.6.5 Fissuras Causadas por Reações Expansivas

A reação álcalis-agregado pode dar origem à fissuração devida à formação de um gel expansivo dentro da

massa de concreto. Esta reação se desenvolve lentamente, podendo mesmo levar os anos para surgir, sendo o

sintoma mais aparente a fissuração desordenada nas superfícies expostas. Este quadro não costuma

manifestar-se antes de um ano após a concretagem.

O concreto fissurado interna e externamente e deteriorado pode perder a durabilidade em grande velocidade,

dependendo do tipo de exposição do elemento estrutural, das condições ambientais, da ação de águas

agressivas (que penetram pelas fissuras e poros) e do contato das armaduras com o ar. Estas reações são

favorecidas pelo maior grau de umidade do ambiente e pela Relação a/c elevada assim como pelas altas

temperaturas, que as aceleram.

5.6.6 Fissuras Causadas pela Corrosão das Armaduras

A corrosão pode ser entendida como a deterioração de um material, por ação química ou eletroquímica do

meio ambiente, aliada ou não a esforços mecânicos. No caso das barras de aço imersas no meio concreto, a

deterioração a que se refere a definição é caracterizada pela destruição da película passivante existente ao

redor de toda a superfície exterior das barras.

Para entender-se o fenômeno, deve-se ter em mente que a solução aquosa existente resulta da parcela do

excesso da água de amassamento do concreto que não é absorvida e preenche os veios capilares do concreto.

Configurado, assim, o ambiente para a convivência salutar entre as barras de aço e o meio concreto, resta

indicar seus mecanismos de desativação, ou seja, de geração de corrosão, por destruição da camada óxida de

revestimento protetor das barras:

Page 65: PATOLOGIA, RECUPERAÇÃO E REFORÇO DE ESTRUTURAS DE …

65

Corrosão por tensão fraturante: é o caso dos aços que são submetidos a grandes esforços

mecânicos (protensão) e que, em presença de meio agressivo, podem sofrer fratura frágil,

resultando na perda de condição para a sua utilização;

Corrosão pela presença de hidrogênio atômico, que fragiliza e fratura os aços; corrosão por pite,

que pode revelar-se segundo duas formas:

- Localizada, caracterizada pela ação de íons agressivos (cloretos, em especial), sempre que haja

umidade e presença de oxigênio;

- Generalizada, função da redução do pH do concreto para valores inferiores a 9,0, pela ação

dissolvente do CO2 existente no ar atmosférico (transportado através dos poros e fissuras do concreto

sobre o cimento hidratado). É a chamada carbonatação.

Os três tipos de corrosão acima relacionados estão esquematicamente representados na Figura 5.31.

Figura 5.31 - Tipos de corrosão de uma borra de aço imersa em meio concreto

Em qualquer caso o processo de corrosão do aço é eletroquímico, ou seja, dá-se pela geração de um potencial

elétrico, na presença de um eletrólito (no caso, a solução aquosa existente no concreto) em contato com um

condutor metálico, a própria barra de aço.

A corrosão das armaduras é um processo que avança de sua periferia para o seu interior, havendo troca de

seção de aço resistente por ferrugem. Este é o primeiro aspecto patológico da corrosão, ou seja, a diminuição

de capacidade resistente da armadura, por diminuição da área de aço. Associada a esta troca, surgem, no

entanto, outros mecanismos de degradação da estrutura, como se ilustra na Figura 5.32.

Figura 5.32 - Mecanismos de degradação por corrosão da armadura

Page 66: PATOLOGIA, RECUPERAÇÃO E REFORÇO DE ESTRUTURAS DE …

66

Na Figura 5.32, pode-se perceber:

perda de aderência entre o aço e o concreto, com alteração na resposta da peça estrutural às

solicitações às quais esta submetida;

desagregação da camada de concreto envolvente da armadura;

fissuração, pela própria continuidade do sistema de desagregação do concreto. Neste caso

como em qualquer caso em que haja fissuração, o processo é agravado, pois o acesso direto

dos agentes agressivos existentes na atmosfera multiplicam e aceleram a corrosão,

combinando situações de ataque localizado com outras de ataque generalizado. As fissuras

formadas acompanham comprimento das armaduras.

Para que não exista corrosão, será necessário que:

O pH do concreto seja claramente indicador de solução básica (carbonatação controlada);

Os agentes agressores (cloretos, em especial) não atinjam a armadura.

5.6.7 Fissuras Causadas por Recalques Diferenciais

Como já se viu, os recalques diferenciais podem ser gerados por incorreções várias na interação solo-

estrutura, que podem ocorrer tanto nas fases de projeto e de execução, como na de utilização. O quadro de

fissuramento gerado pela falha de um ou mais apoios de uma determinada estrutura é função de diversos

fatores, sendo os principais a própria magnitude do recalque e a capacidade ou não da estrutura conseguir

assimilá-lo. De uma maneira geral, não é só a estrutura a ressentir-se deste efeito, mas também, no caso de

edifícios, por exemplo, as alvenarias e os caixilhos.

5.6.8 Fissuras Causadas pela Variação de Temperatura

Mecanismos de Formação das Fissuras Os elementos e componentes de uma construção estão sujeitos a variações de temperatura, sazonais e diárias,

Essas variações repercutem numa variação dimensional dos materiais de construção (dilatação ou contração);

os movimentos de dilatação e contração são restringidos pelos diversos vínculos que envolvem os elementos

e componentes, desenvolvendo-se nos materiais, por este motivo, tensões que poderão provocar o

aparecimento de fissuras.

As movimentações térmicas de um material estão relacionadas com as propriedades físicas do mesmo e com

a intensidade da variação da temperatura; a magnitude das tensões desenvolvidas é função da intensidade da

movimentação, do grau de restrição imposto pelos vínculos a esta movimentação e das propriedades elásticas

do material.

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67

As trincas de origem térmica podem também surgir por movimentações diferenciadas entre componentes de

um elemento, entre elementos de um sistema e entre regiões distintas de um mesmo material, As principais

movimentações diferenciadas ocorrem em função de:

junção de materiais com diferentes coeficientes de dilatação térmica, sujeitos às mesmas

variações de temperatura (por exemplo, movimentações diferenciadas entre argamassa de

assentamento e componentes de alvenaria);

exposição de elementos a diferentes solicitações térmicas naturais (por exemplo, cobertura em

relação às paredes de uma edificação);

gradiente de temperaturas ao longo de um mesmo componente (por exemplo, gradiente entre a

face exposta e a face protegida de uma laje de cobertura).

No caso das movimentações térmicas diferenciadas é importante considerar-se não só a amplitude da

movimentação, como também a rapidez com que esta ocorre. Se ela for gradual e lenta muitas vezes um

material que apresenta menor resposta ou que é menos solicitado às variações da temperatura pode absorver

movimentações mais intensas do que um material ou componente a ele justaposto; o mesmo pode não

ocorrer se a movimentação for brusca,

5.7 – DESAGREGAÇÃO DO CONCRETO

A desagregação do material é um fenômeno que freqüentemente pode ser observado nas estruturas de

concreto, causado pelos mais diversos fatores, ocorrendo, na maioria dos casos, em conjunto com a

fissuração, como já foi visto nos diversos itens anteriores.

Deve-se entender como desagregação a própria separação física de placas ou fatias de concreto, com perda

de monolitismo e, na maioria das vezes, perda também da capacidade de engrenamento entre os agregados e

da função ligante do cimento.

Como conseqüência, tem-se que uma peça com seções de concreto desagregado perderá, localizada ou

globalmente, a capacidade de resistir aos esforços que a solicitam.

5.7.1 CAUSAS DA DESAGREGAÇÃO DO CONCRETO

Fissuração

Apresenta-se a fissuração do concreto como uma das causas de sua desagregação. Entretanto, seria repetitivo

relacionar, também aqui, as várias causas que levam ao processo de fissuração e à desagregação do concreto.

Assim acontece, por exemplo, nos casos de deficiência de projeto, em que a geração de fissuras naturalmente

acaba por resultar no desplacamento do concreto, em especial o da camada de cobrimento das armaduras. Da

Page 68: PATOLOGIA, RECUPERAÇÃO E REFORÇO DE ESTRUTURAS DE …

68

mesma forma, nos casos de corrosão das armaduras, em que o concreto se desagrega quando do aumento de

volume das barras de aço, ou ainda quando acontecem as reações expansivas, que resultam em processo de

desagregação bastante acelerado.

Corrosão do Concreto

Em oposição ao processo de corrosão do aço das armaduras, que é predominantemente eletroquímico, a do

concreto é puramente química e ocorre por causa da reação da pasta de cimento com determinados elementos

químicos, causando em alguns casos a dissolução do ligante ou a formação de compostos expansivos, que

são fatores deteriorantes do concreto.

O processo de corrosão do concreto depende tanto das propriedades do meio onde ele se encontra, incluindo

a concentração de ácidos, sais e bases, como das propriedades do próprio concreto.

Pode-se classificar a corrosão do concreto segundo três tipos, dependendo das ações químicas que lhe dão

origem:

corrosão por lixiviação;

corrosão química por reação iônica; e,

corrosão por expansão.

A corrosão por lixiviação consiste na dissolução e arraste do hidróxido de cálcio existente na massa

de cimento Portland endurecido (liberado na hidratação) devido ao ataque de águas puras ou com poucas

impurezas, e ainda de águas pantanosas, subterrâneas, profundas ou ácidas, que serão responsáveis pela

corrosão, sempre que puderem circular e renovar-se, diminuindo o pH do concreto.

A dissolução, o transporte e a deposição do hidróxido de cálcio Ca(OH)2 (com formação de estalactites e de

estalagimites) dão lugar à decomposição de outros hidratos, com o conseqüente aumento da porosidade do

concreto que, com o tempo, se desintegra.

As fotos constantes da Figura 5.33, tentam ilustrar este comportamento.

Page 69: PATOLOGIA, RECUPERAÇÃO E REFORÇO DE ESTRUTURAS DE …

69

Figura 5.33- Exemplos de corrosão por lixiviação

A corrosão química por reação iônica ocorre em virtude da reação de substâncias químicas existentes

no meio agressivo com componentes do cimento endurecido. Esta reação leva à formação de compostos

solúveis, que são carreados pela água em movimento ou que permanecem onde foram formados, mas, nesse

último caso, sem poder aglomerante. Os principais íons que reagem com os compostos do cimento são o

magnésio, o amônio, o cloro e o nitrato.

Na corrosão por expansão ocorrem reações dos sulfatos com componentes do cimento, resultando

em um aumento do volume do concreto que provoca sua expansão e desagregação. Os sulfatos encontram-se

presentes em águas que contêm resíduos industriais, nas águas subterrâneas em geral e na água do mar,

sendo que os sulfatos mais perigosos para o concreto são o amoníaco, (NH4)2SO2, o cálcico, CaSO4, o de

magnésio, MgSO4 e o de sódio, Na2SO4.

Calcinação do Concreto

Trata-se aqui de analisar os efeitos da ação do fogo sobre o concreto, que caracteriza-se, basicamente, pela

alteração da cor e pela perda de resistência, sendo este quadro anômalo função direta de temperatura a que o

incêndio atinge, como se pode observar na Tabela 5.4.

De maneira geral, a degradação do concreto dá-se por volta dos 600°C, e acontece por expansão dos

agregados, que desenvolvem tensões internas que fraturam o concreto (estas tensões são de magnitude muito

variável, posto que os agregados não têm todos o mesmo coeficiente de dilatação térmica).

Temperatura

em °C

Cor do

Concreto

Condição do

Concreto

Perda de

Resistência

0 a 200 Cinza Não afetado 0%

300 a 600 Rosa Razoavelmente bom ≤ 40 %

600 a 900 Rosa a Vermelho Friável, com alta sucção de água 70%

900 a 1200 Cinza Avermelhado, Friável 100%

> 1200 Amarelo Decomposto 100%

Tabela 5.4 - Evolução do comportamento do concreto em função da elevação da temperatura (Cánovas,1977)

Page 70: PATOLOGIA, RECUPERAÇÃO E REFORÇO DE ESTRUTURAS DE …

70

Desgaste do Concreto

O desgaste das superfícies dos elementos de concreto pode ocorrer devido ao atrito, à abrasão e à percussão.

A ação abrasiva pode ser devida à atuação de diversos agentes, sendo os mais comuns o ar e a água, que

carregam partículas que provocam a abrasão, os veículos que passam sobre pistas de rolamento, o impacto

das ondas, etc.

A ação das partículas carregadas pela água em movimento e pelo ar geralmente ocasiona a erosão, cuja

intensidade dependerá da quantidade, da forma, do tamanho e da dureza das partículas em suspensão, da

velocidade e do turbilhonamento da água ou do ar, bem como da qualidade do concreto da estrutura atacada.

Figura 5.34 - Desgaste do concreto por abrasão

Um outro tipo de desgaste que pode ocorrer em estruturas de concreto é a cavitação, que consiste na

formação de pequenas cavidades, pela ação de águas correntes, resultantes de vazios que se formam e

desaparecem quando a água está se movimentando em velocidade elevada. De acordo com Neville (1982), a

superfície de um concreto atingido pela cavitação se mostra irregular, riscada e cheia de cavidades, o que

contrasta com a superfície lisa dos concretos erodidos por sólidos transportados pela água.

Page 71: PATOLOGIA, RECUPERAÇÃO E REFORÇO DE ESTRUTURAS DE …

71

6 – ENSAIOS PARA ESTUDOS PATOLÓGICOS

6.1 - INTRODUÇÃO

Os Ensaios Não Destrutivos – END são ensaios realizados em materiais, acabados ou semi-

acabados, para verificar a existência ou não de descontinuidades ou defeitos, através de princípios

físicos definidos, sem alterar suas características físicas, químicas, mecânicas ou dimensionais e

sem interferir em seu uso posterior.

Os END constituem uma das principais ferramentas do controle da qualidade de materiais e

produtos, contribuindo para garantir a qualidade, reduzir os custos e aumentar a confiabilidade da

inspeção. Os casos mais freqüentes que requerem esses tipos de ensaios na construção civil são

decorrentes da paralisação de obra por tempo indeterminado, de modificações no projeto, de

acréscimo de um pavimento tipo, de influência de altas temperaturas (incêndio), ou ainda de

utilização extra de peças estruturais não previstas no projeto.

Cabe salientar, que os ensaios não destrutivos não substituem os ensaios destrutivos, já há muito

tempo utilizado por engenheiros e técnicos. Estes exigem a retirada de amostras, a confecção de

corpos de prova, os quais são rompidos ou deformados para então se concluir a avaliação da

estrutura. Assim, não devemos imaginar que os ensaios não destrutivos sejam novos

aperfeiçoamentos que dispensam ensaios destrutivos. Porém, os END têm algumas vantagens como

resultar em pouco ou nenhum dano à estrutura, podem ser aplicados com a estrutura em uso e

permitem que problemas possam ser detectados quando em estágio ainda inicial.

Os ensaios não destrutivos do concreto permitem identificar a resistência à compressão do concreto,

a localização da armadura no concreto armado, a detecção de corrosão da armadura, a reação álcali-

agregado, as propriedades do cimento e dos agregados, os defeitos localizados (rachaduras, vazios),

e a determinação das propriedades geométricas de peças de concreto.

Os principais métodos são: ensaio visual, ultra-som, radiografia (Raios-X e Gama) e esclerometria.

Outros métodos aplicados: líquido penetrante, partículas magnéticas, análise de vibrações, emissão

acústica, canin, resistivimeter (resi). A Figura 6.1 apresenta um quadro resumo com as principais

aplicações para os ensaios não destrutivos com seus respectivos ensaios.

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72

O sucesso da aplicação destes ensaios está vinculado aos seguintes itens: pessoal treinado e

qualificado; procedimento qualificado para conduzir o ensaio; equipamentos devidamente

calibrados; normas e critérios de aceitação perfeitamente definidos.

6.2 - INSPEÇÃO VISUAL

A inspeção visual é o primeiro ensaio não destrutivo aplicado em qualquer tipo de peça ou

componente, e está freqüentemente associado a outros ensaios de materiais. É o ensaio mais

empregado por ser o mais simples e por fazer parte de maneira direta ou indireta de qualquer

trabalho executado; ou seja, o simples fato de observar as condições superficiais de uma estrutura

de concreto pode fornecer a um profissional experiente, conclusões sobre o estado desta estrutura.

Para a inspeção de peças de concreto, onde o acesso é limitado, utiliza-se de fibras ópticas

conectadas a espelhos ou microcâmeras de TV com alta resolução, além de sistemas de iluminação,

fazendo a imagem aparecer em oculares ou em um monitor de TV. São soluções simples e

eficientes, conhecidas como técnicas de inspeção visual remota.

Resistência Elasticidade Umidade Densidade Armaduras Mudanças

estruturais

Umidímetro

Micro-ondas

Neutrons

Termografia

Magnéticos

Corrente de

fuga

Raio

Raio X

Deformações

Carga

Permeabilid.

Microscopia

Acústica

Radar

Potencial

Maturidade

Ultra-som

Raios

Ultra-som

damping

Ultra-som

esclerometria

Combinados

Propagação

Damping

Ressonância

Vibrações

Ultra-

som

Ondas

de

choque

Dureza

Superficial

Esclerometria

Penetração

Arrancamento

Page 73: PATOLOGIA, RECUPERAÇÃO E REFORÇO DE ESTRUTURAS DE …

73

Simplicidade de realização e baixo custo operacional são as características deste método, mas que

mesmo assim requer uma técnica apurada, obedece a sólidos requisitos básicos que devem ser

conhecidos e corretamente aplicados.

Para se fazer o ensaio de Inspeção Visual, deve-se ter alguns equipamentos básicos como:

- escada;

- lupa e binóculo;

- fissurômetro;

- trena;

- máquina fotográfica;

- epi’s;

- trado;

- lápis;

- lanterna;

- martelo;

- nível de mangueira;

- filmadora, etc.

Outro aspecto importante durante a inspeção visual de uma obra consiste na análise dos projetos e

na obtenção de informações sobre a obra, tais como: época de construção, qualidade da mão de

obra, utilização da edificação, ambiente inserido, etc. Também é importante mapear e quantificar

todas as patologias encontradas. Para a obtenção destas informações, sugere-se a utilização de um

questionário, como exemplificado abaixo:

Nome da obra: _______________________________________________________

Localização: _________________________________________________________

Época de construção: __________________________________________________

Construtora: _________________________________________________________

Número de pavimentos: ________________________________________________

Tipo de estrutura: ____________________________________ fck: ____________

Utilização do edifício: _________________________________________________

Ambiente: __________________________________________________________

Tipo de patologia encontrada: ___________________________________________

Reparos já executados: _________________________________________________

Page 74: PATOLOGIA, RECUPERAÇÃO E REFORÇO DE ESTRUTURAS DE …

74

Ensaios já executados: _________________________________________________

Croquis das patologias:

Observações:

6.3 - ESCLEROMETRIA

6.3.1 Generalidades

Método de ensaio não destrutivo que mede a dureza superficial do concreto, fornecendo elementos

para a avaliação da qualidade do concreto endurecido. O aparelho utilizado é o esclerômetro,

desenvolvido pelo engenheiro Ernst Schmidt.

A avaliação da dureza superficial pelo esclerômetro de reflexão, que consiste fundamentalmente de

uma massa martelo que impulsionada por uma mola se choca através de uma haste com ponta em

forma de calota esférica com a área de ensaio e, parte da energia é conservada elasticamente,

propiciando ao fim do impacto, retorno do martelo; é normatizado pela NBR- 7584, abrangendo os

seguintes aspectos:

Descrição sucinta dos elementos básicos de funcionamento dos esclerômetros de reflexão;

Fixação do método de aferição dos esclerômetros;

Estabelecimento das condições de preparação da superfície da estrutura de concreto e

descrição dos fatores principais que influenciam os resultados, fornecendo uma indicação

das possíveis causas de erros;

Descrição do método de ensaio propriamente dito e forma de apresentação dos resultados.

Em função das características da estrutura de concreto que deve ser analisada e segundo o maior ou

menor grau de precisão desejado, deve ser escolhido um dos seguintes tipos que melhor se adequar

à situação:

Energia de percussão de 2,25 N.m com ou sem fita registradora automática (este tipo pode

ser utilizado em casos normais de construção de edifícios e postes, não devendo ser

utilizado em concretos com resistência à compressão inferior a 8MPa);

Energia de percussão de 0,75 N.m com ou sem fita registradora automática (este tipo é

apropriado para elementos, componentes e peças de concreto de pequenas dimensões e

sensíveis aos golpes);

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75

Energia de percussão de 30 N.m (este tipo é mais indicado para obras de grandes volumes

de concreto, concreto massa e pistas protendidas de aeroportos);

Energia de percussão de 0,90 N.m com ou sem aumento da área da calota esférica da

ponta da haste (é indicado para concretos de baixa resistência).

O tempo e o uso do esclerômetro alteram as características das molas produzindo desgaste e

aumento do atrito entre as partes deslizantes e móveis. O esclerômetro deve então ser aferido

periodicamente, através de ensaios comparativos simples, que permitam identificar imediatamente a

eventual alteração da resposta do aparelho. Para aferição do aparelho é recomendado:

Utilizar uma bigorna especial de aço, que na superfície destinada ao impacto, apresente

dureza Brinell de 5000 MPa e forneça índices esclerométricos de cerca de 80%;

Nesses impactos de aferição devem ser efetuados pelo menos nove impactos na bigorna,

caso o índice esclerométrico médio esteja abaixo de 75%, o esclerômetro não deve ser

empregado, devendo então ser calibrado;

Nenhum índice esclerométrico individual obtido dentre os nove impactos deve diferir do

índice esclerométrico médio em mais ou menos 3 – quando isso ocorrer o aparelho não

pode ser empregado, devendo ser calibrado;

O coeficiente de correção do índice esclerométrico deve ser obtido pela fórmula:

j

nom

IE

nIEk

onde:

k = coeficiente de correção do índice esclerométrico;

n = número de impactos na bigorna de aço;

IEnom = índice esclerométrico nominal do aparelho na bigorna de aço, fornecido pelo

fabricante;

IEi = índice esclerométrico obtido dos (pelo menos nove) impactos do esclerômetro na

bigorna de aço.

O esclerômetro de reflexão não deve ser utilizado quando o índice esclerométrico for igual ou

menor que 20%.

O aparelho deve ser aplicado preferencialmente na posição horizontal e conseqüentemente sobre

superfícies verticais. Sendo necessário aplicar em posições diversas, o índice esclerométrico deve

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76

ser corrigido com os coeficientes fornecidos pelo fabricante do aparelho. Esses coeficientes levam

em consideração a ação da gravidade e são variáveis para cada tipo de aparelho, sendo máxima

aditiva para ângulo igual a –90º (laje de teto) e máxima subtrativa para ângulo igual a +90º (laje de

piso).

6.3.2 Superfícies a Serem Ensaiadas

Para a aplicação desse ensaio, as superfícies do concreto devem ser secas ao ar, limpas e

preferencialmente planas. Superfícies irregulares, ásperas, curvas ou talhadas não fornecem

resultados homogêneos e devem ser evitadas.

Concretos equivalentes, na construção de superfícies horizontais, confinadas ou não, devido aos

fenômenos de segregação e exsudação apresentam índices esclerométricos diversos de superfícies

verticais. Ensaios esclerométricos nessas superfícies só podem ser executados desde que as camadas

alteradas sejam removidas e que se consiga, por polimento, uma superfície plana e adequada ao

ensaio.

Superfícies úmidas ou carbonatadas devem ser evitadas. Caso se deseje ensaia-las, devem ser

adequadamente preparadas, se necessário, aplicados coeficientes de correção, e declarados na

apresentação dos resultados.

6.3.3 Área de Ensaio

As áreas de ensaio (região da superfície de concreto em estudo onde se efetua o ensaio

esclerométrico), devem ser preparadas por meio de polimento energético com prisma ou disco de

carburundum através de movimentos circulares. Toda poeira e pó superficial devem ser removidos a

seco, preferencialmente.

A área de ensaio deve estar distante, no mínimo 50 mm, de cantos e arestas das peças, e deve ser

superior a 5000 mm2 (70 x 70mm) e inferior a 40000 mm

2 (200 x 200mm).

As áreas devem estar geométrica e uniformemente distribuídas pela região da estrutura que está

sendo analisada. O número mínimo de áreas de ensaio deve ser em função da própria

heterogeneidade do concreto, aumentando com esta. É aconselhável pelo menos uma área de ensaio

por elemento, componente ou peça de concreto que está dentro da região de estudo.

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77

Em peças com grandes volumes de concreto é aconselhável que sejam avaliadas com pelo menos

duas áreas de ensaio, localizadas preferencialmente em faces opostas. Caso se apresentem

heterogêneas, aumenta-se o número de áreas de ensaio a serem examinadas.

6.3.4 Impactos

Em cada área de ensaio devem ser efetuados no mínimo 9 e no máximo 16 impactos. A distância

mínima entre os centros de dois impactos deve ser de 30 mm, que devem estar uniformemente

distribuídos na área de ensaio. Para a demarcação desta área usa-se a régua graduada e o giz.

Devem ser evitados impactos sobre agregados, armadura, bolhas, etc. Não é permitido mais de um

impacto sobre um mesmo ponto. Quando isto ocorrer o valor lido não deve ser considerado no

cálculo dos resultados.

6.3.5 Esbeltez dos Elementos, Componentes e Peças de Concreto

As peças, elementos e componentes de concreto devem ser suficientemente rígidos para evitar

interferência de fenômenos de ressonância, vibração e dissipação de energia, no resultado obtido.

Aconselha-se nesses casos, a colocação de um apoio na face oposta à área de ensaio. Elementos e

componentes com dimensão inferior a 100mm na direção do impacto podem ser ensaiados com

cuidados especiais. O esclerômetro deve ser aplicado na posição de maior inércia da peça ou

componente estrutural.

A norma NBR 7584 se aplica às seguintes condições:

Os ensaios em concreto por método esclerométrico não são considerados substitutos de

outros métodos, mas sim um método adicional ou um ensaio complementar;

Os métodos esclerométricos fornecem informações a respeito da dureza superficial do

concreto, cerca de 20mm de profundidade no caso de se operar com esclerômetros de

energia de percussão em torno de 2,25 N.m;

1 2 3

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7 8 9

1 2 3 4

5 6 7 8

9 10 11 12

13 14 15 16

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78

Este método fornece apenas uma boa medida da dureza relativa da superfície de concreto

sendo as correlações com as suas demais propriedades, determinadas empiricamente, ou

verificadas através de outros ensaios específicos;

Os métodos esclerométricos são empregados nas seguintes circunstancias:

- averiguação da uniformidade da dureza superficial do concreto;

- comparação de concretos com um referencial: isto pode se aplicar a casos onde se deseje

comparar a qualidade de peças de concreto. Pode se aplicar também como um recurso a

mais no controle de qualidade de peças pré-moldadas. Neste caso o índice esclerométrico

crítico pode ser pré-avaliado por ensaios de desempenho do componente de concreto.

- estimativa da resistência à compressão do concreto: esta avaliação depende sempre de um

número elevado de variáveis. Não se recomenda utilizar este método na avaliação direta da

resistência à compressão do concreto, a não ser que se disponha de uma correlação

confiável efetuada com os materiais em questão.

6.3.6 Fatores que Influenciam os Resultados

Tipo de cimento – influencia na obtenção do índice esclerométrico, sendo necessário

proceder a novas correlações sempre que houver mudança do tipo de cimento;

Tipo de agregado – diferentes tipos de agregados podem fornecer concretos com mesma

qualidade, porém com diferentes índices esclerométricos. Quando se emprega agregados

leves ou pesados, esta variação é ainda mais acentuada;

Tipo de superfície – o estado da superfície a ser ensaiada é normalmente o que mais

acarreta variabilidade dos resultados;

Condições da umidade da superfície – uma superfície úmida pode provocar uma

subestimativa da qualidade do concreto. No concreto estrutural o índice esclerométrico

pode indicar resistência de até 20% inferior àquela indicada para um concreto seco,

equivalente.

Carbonatação – concretos carbonatados dão uma superestimação da resistência que em

casos extremos pode ser superior a 50%. Devem ser estabelecidos coeficientes corretivos a

fim de minorar o efeito de carbonatação (que pode ter espessura de 10mm a 20mm) a fim

de obter a dureza do concreto não carbonatado;

Idade – a influência da idade na dureza superficial do concreto em relação à dureza obtida

nas condições normalizadas (em geral 28 dias), ocorre devido a diferença de cura, de

carbonatação, etc. esse fato distorce a correlação com a resistência estabelecida para as

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79

condições normalizadas. Portanto essas correlações não são automaticamente válidas para

idades superiores a 60 dias, nem inferiores a sete dias.

Operação do aparelho – o esclerômetro dever ser operado por elemento qualificado para

tal, que imprima durante a operação pressões uniformes.

Outros fatores que influenciam a correlação dos índices esclerométricos com a resistência

à compressão de concreto são: massa específica do concreto, esbeltez do membro

estrutural ensaiado, proximidade da zona de ensaio de uma falha, estado de tensão do

concreto, temperatura do esclerômetro e a do concreto, consumo do cimento, tipo de cura

e superfícies calcinadas por altas temperaturas (incêndio).

6.3.7 Resultados

1. Calcular a média aritmética dos n (9 a 16) valores individuais dos índices

esclerométricos correspondestes a uma única área de ensaio (M I).

n

IEMI

2. Desprezar todo índice esclerométrico individual que esteja afastado de mais ou menos

10% do valor médio obtido.

3. Calcular a nova e definitiva média aritmética com os índices restantes (M II).

*n

IEMII

n* = valores compreendidos entre os limites superiores e inferiores.

4. Corrigir, se necessário, o valor médio do índice esclerométrico obtido de uma área de

ensaio para um índice correspondente à posição horizontal. Os coeficientes de correção

devem ser fornecidos pelo fabricante do esclerômetro.

5. O valor obtido conforme itens 1 a 4, denomina-se índice esclerométrico médio da área

de ensaio e deve ser indicado por IE.

6. Obter o índice esclerométrico médio efetivo (IE) de cada área de ensaio com o valor de

IE e do coeficiente de correção indicado no capítulo 6.3.1, usando a fórmula:

IE = K. IE

Obs: Em alguns casos pode ser necessário aplicar outros coeficientes de correção devidos à

umidade, cura, idade, carbonatação, etc, a critério dos profissionais envolvidos no estudo e

desde que declarados na apresentação dos resultados.

7. De cada área de ensaio obtém-se um único índice esclerométrico médio efetivo.

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80

8. A apresentação dos resultados deve conter as informações de 8.1 a 8.8:

8.1. Modelo de esclerômetro de reflexão utilizado.

8.2. Índices esclerométricos individuais da aferição do aparelho e de cada área de ensaio.

8.3. Posição do aparelho para a obtenção de cada índice esclerométrico de cada área de

ensaio.

8.4. Coeficientes utilizados na correção de cada um dos índices esclerométricos, em função

da posição do aparelho.

8.5. O valor do índice esclerométrico médio (IE) de cada área de ensaio.

8.6. Coeficientes utilizados nas eventuais correções em função de umidade, cura idade,

carbonatação, etc.

8.7. O valor do índice esclerométrico médio efetivo (IE) de cada área de ensaio.

8.8. Todas as demais informações que ainda se fizerem necessárias.

A resistência é calculada pela seguinte fórmula (ensaio na horizontal):

10

19,0 0535,2MIIR (MPa)

Limite Superior = média I x 1,10

Limite Inferior = média II x 0,90

Obs: Quando se desejar avaliar a resistência à compressão do concreto é conveniente apresentar

também as correlações empregadas.

6.4. ULTRA-SOM

6.4.1 Introdução

Existem diversos estudos no sentido de se determinar uma propriedade física do concreto que

pudesse ser relacionada com a resistência à compressão. Conseguiram-se bons resultados pela

determinação da velocidade de ondas longitudinais através do concreto. A relação é bastante

complexa, mas sob determinadas condições, essas grandezas estão relacionadas. O fator comum é a

massa específica: uma variação da massa específica resulta na variação de velocidade dos pulsos e

na variação de resistência do concreto. A Figura 6.1 apresenta um esquema de funcionamento de

pulsos ultra-sônicos.

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81

O ultra-som é um método baseado em vibrações próximas das do som. Detecta descontinuidades

internas em materiais, baseando-se no fenômeno de reflexão de ondas acústicas quando encontram

obstáculos à sua propagação, dentro do material.

Um pulso ultra-sônico é gerado e transmitido através de um transdutor especial, encostado ou

acoplado ao material. Os pulsos ultra-sônicos refletidos por uma descontinuidade, ou pela superfície

oposta da peça, são captados pelo transdutor, convertidos em sinais eletrônicos e mostrados na tela

de LCD ou em um tubo de raios catódicos (TRC) do aparelho.

A propagação das ondas ultra-sônicas se processa com um deslocamento de sucessivos elementos

no meio. Os deslocamentos continuam de um lado para o outro, sempre diminuindo de amplitude.

Os ultra-sons são ondas acústicas com freqüências acima do limite audível, normalmente, situadas

na faixa de 0,5 a 25 MHz.

Geralmente, as dimensões reais de um defeito interno podem ser estimadas com uma razoável

precisão, fornecendo meios para que a peça ou componente em questão possa ser aceito, ou

rejeitado, baseando-se em critérios de aceitação da norma aplicável. Utiliza-se ultra-som também

para medir espessura e determinar corrosão com estrema facilidade e precisão.

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O ensaio ultra-sônico é, sem sombra de dúvidas, o método não destrutivo mais utilizado e o que

apresenta o maior crescimento, para a detecção de descontinuidades internas nos materiais.

Tratando-se de um ensaio não destrutivo, o ultra-som apresenta largas possibilidades de aplicação

no estudo da patologia do concreto e no controle de sua qualidade. Podem ser úteis na investigação

de falhas de concretagem, de trincas ou fissuras e da resistência do concreto como uma verificação

adicional de controle de estruturas já prontas.

6.4.2 Histórico

O primeiro estudo utilizando o método de freqüência de ressonância foi o de Powers em 1938.

Nesse método, as provetas podem ser obrigadas a vibrar longitudinal ou transversalmente, às vezes,

impõem-se também vibrações de torção.

Pela determinação da velocidade de propagação, os primeiros estudos para a determinação não

destrutiva das propriedades mecânicas do concreto em obra foram apresentados em 1945 no Jounal

of the American Concrete Institute.

Durante os anos de 1946 e 1947, estudos da Hydro-Eletric Power Comission of Ontario

desenvolveram um aparelho que designaram por soníscope, o qual permite determinar a velocidade

de propagação de ondas ultra-sonoras no concreto.

Em 1949, no Canadá, Leslie e Cheesmann determinaram pela primeira vez a profundidade de uma

fissura no concreto.

6.4.3 Ondas Ultra-Sônicas

Onda é uma perturbação que se propaga através de um meio.

São conhecidos três tipos básicos de ondas:

Onda Longitudinal (ondas de compressão):

Toda onda transmite energia, sem transportar matéria.

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83

São ondas cujas partículas oscilam na direção de propagação da onda, podendo ser transmitidas a

sólidos, líquidos e gases. Em decorrência do processo de propagação, este tipo de onda possui uma

alta velocidade de propagação, característica do meio e são as mais utilizadas.

Ondas Transversais (ondas de cisalhamento):

Uma onda transversal é definida quando as partículas do meio vibram na direção perpendicular ao

de propagação. Neste caso, observamos que os planos de partículas mantém-se na mesma distância

um do outro, movendo-se apenas verticalmente, é o caso do movimento das cordas do violão.

Ondas de Superfície:

Consiste em vibrações longitudinais e transversais.

6.4.4 Aplicando o Ultra-Som

O ensaio consiste em fazer com que o ultra-som, emitido por um transdutor, percorra o material a

ser ensaiado, efetuando-se a verificação dos ecos recebidos de volta, pelo mesmo ou por outro

transdutor.

Como o ultra-som deve passar do transdutor para a peça com o mínimo de interferência, há

necessidade de colocar um elemento, o acoplante, que faça esta ligação, evitando o mau contato.

Este acoplante pode ser óleo, água, glicerina, graxa, etc. Quanto maior a velocidade do pulso ultra-

sônico, melhor qualidade do concreto ensaiado.

6.4.5 Técnicas Usadas em Ultra-Som

Técnica Direta: A técnica de transmissão direta usa dois transdutores ultra-sônicos

localizados em lados opostos do objeto a ser inspecionado. Um transdutor atua como transmissor

de ultra-som e o outro, alinhado com o primeiro, atua como receptor. Os transdutores podem

estar em contato com o material de teste, ou o objeto de teste pode ser imerso em um tanque de

líquido acoplante. Quando a peça não apresenta descontinuidades, todo o sinal emitido é

recebido pelo segundo transdutor. Na presença de descontinuidades, parte ou toda energia sônica

é refletida, e consequentemente, menor ou nulo será o sinal recebido pelo transdutor receptor.

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84

Técnica Indireta: É um ensaio comum de emissor/receptor, que utiliza dois transdutores

angulares, um como transdutor emissor e o outro receptor, fixos a um gabarito com distância

também fixa entre eles. Esse método é utilizado para detecção de defeitos perpendiculares à

superfície da peça (profundidade das trincas). Permite o ensaio em uma certa zona de

profundidade preestabelecida. O transdutor receptor só apresenta um sinal quando existe uma

descontinuidade.

Técnica Semidireta: A técnica semidireta detecta falhas internas. Opera com um transdutor

angular como emissor e outro normal ou reto como receptor.

6.4.6 Vantagens e Limitações em Comparações com Outros Ensaios

Assim como todo ensaio não-destrutivo, o ensaio ultra-sônico, possui vantagens e limitações nas

aplicações, como segue:

Vantagens:

O método ultra-sônico possui alta sensibilidade na detectabilidade de pequenas descontinuidades

internas, por exemplo:

trincas devido a tratamento térmico, fissuras e outros de difícil detecção por ensaio de

radiações penetrantes (radiografia ou gamagrafia);

Para interpretação das indicações, dispensa processos intermediários, agilizando a

inspeção;

A localização, avaliação do tamanho e interpretação das descontinuidades encontradas são fatores

intrínsecos ao exame ultra-sônico, enquanto que outros exames não definem tais fatores. Por

exemplo, um defeito mostrado num filme radiográfico define o tamanho mas não sua profundidade

e em muitos casos este é um fator importante para proceder um reparo.

Limitações:

Requer grande conhecimento teórico e experiência por parte do inspetor;

O registro permanente do teste não é facilmente obtido;

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85

Faixas de espessuras muito finas constituem uma dificuldade para aplicação do método;

Requer o preparo da superfície para sua aplicação. Em alguns casos de inspeção de solda, existe a

necessidade da remoção total do reforço da solda, que demanda tempo de fábrica.

6.4.7 Fatores que Influenciam na Velocidade de Propagação e Consideração dos seus Efeitos nos Ensaios

O valor medido da velocidade de propagação das ondas ultra-sônicas no concreto é influenciado por

um grande número de variáveis e em todos os graus de intensidade. O módulo de elasticidade e a

resistência mecânica do concreto são os fatores preponderantes que determinam a velocidade de

propagação.

A velocidade de propagação é naturalmente determinada pela idade do concreto. Além da idade e

das características elasto-mecânicas, a velocidade de propagação do som no concreto é determinada

por uma série de outros fatores, como:

Densidade do Concreto: quando são testados concretos mais densos (pesados), verifica-se um

aumento da velocidade de propagação dos impulsos ultra-sônicos;

Tipo, densidade e outras características dos agregados;

Tipo de cimento;

Fator água/cimento utilizado no preparo do concreto;

Umidade da peça quando ensaiada;

Possível existência de aço (em concreto armado), tanto pela qualidade quanto pela quantidade do

mesmo;

Direção do ensaio na peça;

Tipo de adensamento do concreto;

Possivelmente outros fatores.

6.4.8. Relações entre ultra-som e outros ensaios

Classificação da qualidade dos concretos com base na velocidade de pulsos:

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86

Velocidade de pulsos longitudinais (km/s) Qualidade do concreto

> 4,5 Excelente

3,5 – 4,5 Boa

3,0 – 3,5 Duvidosa

2,0 – 3,0 Pobre

< 2,0 Muito pobre

Page 87: PATOLOGIA, RECUPERAÇÃO E REFORÇO DE ESTRUTURAS DE …

87

6.5 - RADIOGRAFIA, RADIOSCOPIA E GAMAGRAFIA

6.5.1 Introdução

Métodos atômicos, apesar de não conduzirem a avaliação da resistência do concreto, estão

enquadrados nos ensaios não destrutivos, pois permitem determinar algumas propriedades do

Page 88: PATOLOGIA, RECUPERAÇÃO E REFORÇO DE ESTRUTURAS DE …

88

concreto, bem como do aço (concreto armado). Consistem no emprego de emissões do átomo ou do

núcleo atômico radioativado.

O método está baseado na mudança da atenuação da radiação eletromagnética (Raios X ou Gama),

causada pela presença de descontinuidades internas, quando a radiação passar pelo material e deixar

sua imagem gravada em um filme, sensor radiográfico ou em um intensificador de imagem. Para

identificação de fissuração subsuperficial ou em zonas inacessíveis usa-se a “Radiografia” (esta

última utilizando os Raios X ou Gama).

6.5.2 Radiografia

É a técnica convencional via filme radiográfico, com gerador de Raio X por ampola de metal

cerâmica. Um filme mostra a imagem de uma posição de teste e suas respectivas descontinuidades

internas.

A radiografia utiliza equipamentos pesados e caros além de envolver perigos para os seres vivos

que inadvertidamente se exponham às radiações eletromagnéticas durante a realização dos ensaios

não destrutivos. Por isso que a sua execução impõe cuidados e normas especiais.

A radiografia obtém-se por exposição da peça que se pretende avaliar, devidamente orientada

segundo o melhor ângulo e de acordo com o tipo de defeito que se pretende identificar e também

com as características geométricas do componente.

Este método pressupõe uma fonte de radiação eletromagnética suficientemente potente para poder

atravessar as paredes metálicas dos componentes durante um intervalo de tempo proporcional à

espessura a inspecionar, à potência da fonte de radiação e à distância entre a fonte e a peça.

Imediatamente por detrás da superfície a avaliar é colocada uma película radiográfica que, ao ser

atingida pelas radiações, irá ser impressionada de acordo com a quantidade de radiação que a atinge

(como nas fotografias). A maior ou menor quantidade de radiação que chega à película depende da

existência de zonas sem material a que correspondem fissuras, ocos, poros, etc., que por não

absorverem energia permitem a passagem de maior quantidade em direção à película.

Após a revelação da película radiográfica, a presença dos eventuais defeitos irá aparecer sob a

forma de riscos e marcas mais escuras. Tal como em outros ensaios não destrutivos, é necessário

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89

distinguir entre anomalias inócuas e defeitos significativos. Para isso, devem usar películas de

sensibilidade apropriada e a sua revelação deve se realizar de acordo com padrões

internacionalmente aceitos. Uma vez mais, a experiência e competência dos executantes e

intérpretes são fundamentais para uma correta avaliação.

Este método é sempre utilizado perante zonas inacessíveis ou para avaliar áreas que se encontram

escondidas por detrás de grandes espessuras. Assim, para grandes espessuras aumentam-se a

potência da fonte de radiação ou o tempo de exposição.

A fonte de radiação pode ser um equipamento de emissão de Raios X em que a potência radioativa

é controlada eletricamente e o feixe de radiação pode ser dirigido segundo um cone de dispersão

orientável. Este equipamento é caro e apenas necessita de alimentação elétrica para a sua utilização.

6.5.3 Gamagrafia

Quando se coloca um material na trajetória da radiação de uma fonte radioativa, parte da radiação é

absorvida e parte difundida, dependendo da densidade do material. A intensidade da radiação

difundida é medida através de um contador de Geiger.

O equipamento Gama independe de qualquer fonte de energia elétrica, pois está sempre emitindo

irradiações, cuja intensidade varia com a atividade da fonte. Tem como fonte de radiação um

componente radioativo, chamado de “isótopo radioativo”, que pode ser o Irídio, Cobalto, Túlio,

Césio, ou modernamente o Selênio.

(a) Irídio – 192 (192Ir)

O Irídio-192 é obtido a partir do bombardeamento com nêutrons do isótopo estável Ir-191.

Suas características são:

- Meia -Vida= 74,4 dias

- Energia da Radiação = 0,137 a 0,65 MeV

- Faixa de utilização mais efetiva = 10 a 40 mm de aço

(b) Cobalto – 60 (60Co)

O Cobalto-60 é obtido através do bombardeamento por nêutrons do isótopo estável Co-59.

Suas principais características são:

Page 90: PATOLOGIA, RECUPERAÇÃO E REFORÇO DE ESTRUTURAS DE …

90

- Meia -Vida= 5,24 anos

- Energia da Radiação = 1,17 e 1,33 MeV

- Faixa de utilização mais efetiva = 60 a 200 mm de aço

Esses limites dependem das especificações técnicas da peça a ser examinada e das condições

da inspeção.

(c) Túlio – 170 (170Tu)

O Túlio-170 é obtido com o bombardeamento por nêutrons do isótopo estável, Túlio-169.

Como esse material é extremamente difícil de produzir, o material é geralmente manuseado

sob a forma de óxido. Suas principais características:

- Meia -Vida= 127 dias

- Energia da Radiação = 0,084 e 0,54 MeV (o espectro do Túlio possui também radiação de

Bremsstrahlung, que é a radiação liberada pelo freiamento dos elétrons em forma de

partículas beta)

- Faixa de utilização mais efetiva = 1 a 10 mm de aço

(d) Césio – 137 (137Cs)

O Césio-137 é um dos produtos da fissão do Urânio-235. Este é extraído através de

processos químicos que o separam do Urânio combustível e dos outros produtos de fissão.

Suas características principais são:

- Meia -Vida= 33 anos

- Energia da Radiação = 0,66 MeV

- Faixa de utilização mais efetiva = 20 a 80 mm de aço

É uma fonte de radiação quase sem utilidade no momento, em razão das dificuldades de

obtenção e da má qualidade do filme radiográfico.

(e) Selênio – 75 (75Se)

- Meia -Vida= 125 dias

- Energia da Radiação = de 0,006 a 0,405 MeV

- Faixa de utilização mais efetiva = 4 a 30 mm de aço

A saída da fonte radioativa do seu bloco de estocagem, durante o período de exposição, deve ser

obrigatoriamente feita com controle remoto a uma distancia suficiente para limitar a exposição do

pessoal.

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91

A zona de trabalho deve ter dimensões tais que, nos meus limites, os equivalentes das dosagens

máximas admissíveis para pessoas diretamente ligadas ao trabalho sob irradiação. Essa zona pode

ser reduzida pelo emprego de urânio, tungstênio ou chumbo.

Convém lembrar que, para efetuar a radiografia de uma peça de concreto, é preciso que se tenha

acesso às duas faces, pois numa delas se posiciona a parte emissora e na outra o receptor (filme).

A fim de posicionar a emissora em qualquer lugar, é preciso ter fora dos aparelhos meios que

permitam ejetar a fonte. Esses meios, denominados de controle remoto, podem ser manuais ou

elétricos. No caso de um controle remoto manual (aparelho para Irídio 192), não se pode ejetar a

fonte senão a uma distância de 8 metros. Para os controles remotos elétricos (Cobalto 60), a ejeção

é de 15 metros na horizontal e 12 na vertical.

Os equipamentos que utilizam os isótopos radioativos são constituídos, basicamente, por uma

caixa-contentora, com dimensões aproximadas a uma mala pequena, construída em chumbo e

concreto para conter as radiações. Ao contrário dos equipamentos de Raios X que só produzem

radiação quando são ativados, as fontes de Raios Gama estão constantemente a emitir radiação em

todas as direções. Enquanto essa fonte se encontra no interior dos contentores a radiação libertada é

absorvida pelas paredes dos mesmos. Uma vez a fonte exposta no exterior, a radiação liberta pode

ser utilizada para impressionar uma película radiográfica.

Os isótopos radioativos obedecem a uma lei física que determina que ao fim de um determinado

período de tempo (horas, dias, meses ou anos) a potência radioativa decai para metade e assim

sucessivamente ao fim de cada período com a mesma duração. Este fato determina o desgaste das

fontes radioativas o que onera a exploração deste método radiográfico. No caso particular do Irídio

192, a sua massa e potência radioativa decaem para metade ao fim de cada período de 74,4 dias.

Para além do custo de exploração inerente ser bastante elevado (para um baixo investimento inicial)

por oposição ao método de Raios X (em que o investimento inicial é elevado, mas o custo de

exploração baixo) os perigos inerentes à utilização e operação de um equipamento de Raios Gama

são muito superiores relativamente à utilização dos Raios X. Por este motivo e para se eliminar o

manuseamento de material radioativo, este processo está proibido em muitos países e em muitas

atividades, por isso em extinção.

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92

As vantagens em relação aos Raios X residem em utilizarem equipamentos de menores dimensões

(embora maior peso) e potências radioativas maiores o que permite maior produtividade na

realização dos ensaios.

6.5.4 Radioscopia

A peça é manipulada a distância dentro de uma cabine a prova de radiação, proporcionando uma

imagem instantânea de toda peça em movimento, portanto tridimensional, através de um

intensificador de imagem acoplado a um monitor de TV. Imagens da radioscopia agrupadas

digitalmente de modo tridimensional em um software possibilita um efeito de cortes mostrando as

descontinuidades em três.

Cuidados:

Os executantes de ensaios não destrutivos, acima descritos, devem ser constantemente vigiados

através de análises do sangue e usar dosímetros ou placas detectoras, a fim de controlar as doses

radioativas a que ficaram expostos durante um determinado período.

A radiografia é aplicada sob a forma de ensaios não destrutivos em concreto em casos especiais

devido ao custo elevado e aos cuidados adicionais quanto a radioproteção, além de tempos

extremamente altos nos casos de grandes estruturas.

6.6 - RESISTÊNCIA À PENETRAÇÃO DE PINOS

6.6.1 Introdução

Nos anos 60, nos Estados Unidos, desenvolveu-se a técnica de correlacionar a resistência do

concreto e a profundidade de penetração de um pino ou de um parafuso disparados com uma pistola

contra uma superfície de concreto.

Este método é baseado na determinação do comprimento de penetração de sondas, ou pinos, no

concreto, determinando a resistência à penetração do material, que pode ser relacionada com sua

resistência. Atualmente, o equipamento mais utilizado para a realização deste ensaio é a pistola de

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93

Windsor. Para ensaiar concretos comuns, utilizam-se pinos com 7,9mm de diâmetro, ambos com

79,5mm de comprimento.

6.6.2 Descrição do método

O método consiste no disparo de pinos, com uma pistola, que penetram no concreto. A essência do

método envolve a energia cinética inicial do pino e a absorção de energia pelo concreto. O pino

penetra no concreto até que sua energia cinética inicial seja totalmente absorvida pelo concreto.

Parte da energia é absorvida pela fricção entre o pino e o concreto, e outra parte na fratura do

concreto.

A profundidade da penetração dos pinos é usada para estimar a resistência do concreto usando-se

curvas de calibração. O sistema disponível internacionalmente denomina-se “Windsor Probe”. No

Brasil faz-se uma adaptação do método, utilizando-se pistolas e pinos da marca WALSYWA.

Este método pode ser empregado em concretos com agregados de dimensão máxima característica

de até 50mm, com superfície lisa ou áspera. Com ele pode-se avaliar o concreto entre 25mm e

75mm abaixo da superfície.

Para a execução do ensaio, deve-se marcar sobre a superfície a ser ensaiada um triângulo eqüilátero

com 178mm de lado, e crava-se um pino com 7,9mm de diâmetro e 79,5mm de comprimento em

cada vértice e mede-se o comprimento exposto do pino, que deve ser superior a 25mm (limite das

curvas de calibração).

6.6.3 Vantagens e limitações

O equipamento usado neste método é simples e durável, e também não muito sensível à experiência

do operador. O método é útil no monitoramento da resistência do concreto, causando danos

reduzidos na peça estrutural.

Para a realização do ensaio é necessário o acesso apenas a uma face da estrutura. É necessário evitar

barras de aço, no caso do concreto armado, e tomar os cuidados inerentes à utilização de uma arma

Page 94: PATOLOGIA, RECUPERAÇÃO E REFORÇO DE ESTRUTURAS DE …

94

de fogo. Após as medições, devem ser retirados os pinos, deixando um dano na superfície em torno

de 75mm de diâmetro.

6.6.4 Aplicações

O método é usado para estimar a resistência à compressão e uniformidade do concreto. Como o

ensaio pode ser feito com disparos através da madeira, pode-se estimar a resistência antes da

retirada das fôrmas.

A estimativa de resistência apresenta acurácia em torno de 15% a 20%, desde que os corpos de

prova sejam moldados, curados e ensaiados sob condições idênticas àquelas com as quais foram

estabelecidas as curvas de calibração.

6.6.5 Fatores que influenciam os resultados do ensaio

A resistência tanto da argamassa quanto dos agregados influenciam na profundidade de penetração

dos pinos. Para um determinado concreto e um dado equipamento de ensaio, a relação entre

resistência à compressão e resistência à penetração poderá ser estabelecida experimentalmente. A

correlação poderá mudar de acordo com o tipo de cura, tipo e tamanho do agregado e nível de

resistência desenvolvido no concreto.

Devido à penetração do pino no concreto, os resultados deste ensaio não são influenciados pela

textura e a umidade da superfície, no entanto a superfície deve ser limpa e plana. O tipo de agregado

apresenta grande influência nos resultados do ensaio, tanto que os fabricantes dos equipamentos

consideram apenas a dureza do agregado para a confecção das curvas de calibração. A correlação

entre o comprimento exposto do pino e a resistência à compressão do concreto, segundo dois tipos

de agregados, são apresentadas pelas expressões abaixo:

- para agregado calcáreo:

R = 1,49x – 38,26

- para agregado granítico:

R = 1,565x – 46,014

Não existe uma análise teórica rigorosa sobre este ensaio devido à complexidade das tensões

desenvolvidas durante a cravação do pino e a natureza heterogênea do concreto.

Page 95: PATOLOGIA, RECUPERAÇÃO E REFORÇO DE ESTRUTURAS DE …

95

6.7 - MÉTODO DA MATURIDADE

Como é sabido, a resistência de um concreto é função da idade e do histórico de temperaturas. A

temperatura possui um efeito dramático no desenvolvimento da resistência do concreto em idades

baixas.

Este método propõe que a medição do histórico de temperatura durante o período de cura pode ser

usado para calcular um fator para estimar a resistência do concreto, chamado fator de maturidade.

Algumas pesquisas sugerem que a maturidade do concreto depende do produto tempo e

temperatura:

M = (T-T0) t

T = temperatura de cura McIntosh’s - 11ºC

T0 = datum temperature Saul -10,5ºC

Plowman -12ºC

usual -10ºC

Como a temperatura afeta a idade do concreto, pode-se calcular uma idade equivalente de cura pela

expressão:

Nurse-Saul

te = (T-T0) t

(Tr-T0)

Tr = temperatura de referência (20ºC a 23ºC)

Exemplo: T =43ºC; Tr = 23ºC; t = 2h; te =3,2h

Outra expressão dada por Weaver e Sadgrove é:

te = (T+16)2 t

1296

Esta expressão é válida para temperatura ambiente de 20ºC, fornecendo melhores resultados.

Page 96: PATOLOGIA, RECUPERAÇÃO E REFORÇO DE ESTRUTURAS DE …

96

Existem diversos estudos que correlacionam a maturidade e a resistência à compressão. Em 1956,

Nykanen propôs a seguinte expressão:

S = S (1-e-KM

)

onde:

S resistência à compressão

S limite de resistência à compressão

M maturidade

K constante que depende do fator a/c e do tipo de cimento

Plowman propôs a expressão:

S = a + b.log (M)

onde a e b são constantes relacionadas com o fator a/c e o tipo de cimento.

6.8 – OUTROS ENSAIOS

6.8.1 Ensaio de verificação da carbonatação do concreto

O método consiste em evidenciar a diferença de pH entre o concreto e a frente de carbonatação por

meio de aspersão de indicadores químicos. (Kazmierckzak, Helene 1993). Pode-se verificar a

profundidade, ou extensão, da carbonatação tratando-se, com solução aquosa-alcoólica de

fenolftaleína a 1%, numa área recém-exposta do concreto. Quando não há carbonatação, aparece a

coloração róseo-avermelhada, característica da fenolftaleína em meio fortemente alcalino; e se a

área estiver carbonatada, permanecerá inalterada. Pode-se usar um algodão umedecido, com a

solução de fenolftaleína, ou um frasco com spray, para contatar a área exposta em diferentes

profundidades. A fenolftaleína apresenta coloração róseo-avermelhada com valores de pH iguais ou

superiores a 9,5 aproximadamente e incolor abaixo desse valor. (GENTIL, 1982).

6.8.2 Determinação da concentração de cloretos no concreto

Potenciometria

Quando um metal está imerso em uma solução que contém seus próprios íons, instala-se um

potencial de eletrodo, cujo valor é dado pela equação de Nernst, apresentada na expressão abaixo.

Page 97: PATOLOGIA, RECUPERAÇÃO E REFORÇO DE ESTRUTURAS DE …

97

onde E representa o potencial elétrico; E é o potencial padrão do eletrodo do metal; R é a constante

dos gases (8,3144 J abs/Kmol); T é a temperatura em Kelvin; F é a constante de Faraday (96.485,3 J

abs/(V abs eq-g)) e n representa o número de elétrons envolvidos. (VOEGEL, 1992)

Na equação de Nernst, o termo RT/nF envolve constantes conhecidas, e a uma temperatura de 25ºC,

seu valor é de 0,0591V.

O potencial elétrico de um metal pode ser medido pela combinação do eletrodo com um eletrodo de

referência e pela determinação da força eletro-motriz (f.e.m.) da pilha que se forma. Desse modo,

conhecendo-se o potencial do eletrodo de referência é possível determinar o potencial do eletrodo

desejado. Em soluções diluídas, a atividade iônica medida será a mesma que a concentração iônica.

(VOEGEL, 1992).

Para a determinação da concentração do íon Cloreto em uma solução pode-se utilizar a

potenciometria direta, que utiliza uma única medida do potencial do eletrodo para determinar a

concentração, mesmo sem que o íon esteja diretamente envolvido na reação do eletrodo. Para este

procedimento usa-se um “eletrodo de segunda espécie”, como o eletrodo prata-cloreto de prata,

conforme exemplo abaixo. (VOEGEL, 1992)

O fio de prata pode ser considerado como um eletrodo de prata cujo potencial é dado pela equação

abaixo:

Os íons prata são provenientes do cloreto de prata e, pelo princípio de solubilidade, a atividade

destes íons será governada pela atividade dos íons Cloretos, conforme equação seguinte:

Page 98: PATOLOGIA, RECUPERAÇÃO E REFORÇO DE ESTRUTURAS DE …

98

.

E o potencial do eletrodo pode ser por:

Quando se utiliza um eletrodo cujo potencial é dependente da concentração do íon a ser

determinado, denomina-se esse eletrodo de “eletrodo indicador”, e se o íon é diretamente envolvido

na reação do eletrodo, tem-se um eletrodo de “primeira espécie”.

Para se obter medições analíticas, um dos eletrodos deverá ter potencial constante e não pode haver

mudanças de um experimento para outro. Este eletrodo recebe o nome de “eletrodo de referência”.

6.8.3 Determinação da concentração de sulfatos no concreto

A determinação do teor de sulfatos no concreto pode ser feita através da potenciometria, como

descrito no procedimento para a determinação do teor de cloretos, apenas mudando o eletrodo, ou

através de análise química, como descrito abaixo.

Andrade (1992) recomenda utilizar uma amostra de 5g de concreto moído e seco, pesada com

precisão de 1mg, colocando-a em um copo de Becker onde adiciona-se 25ml de água destilada fria

e 10ml de ácido clorídrico concentrado, mexendo constantemente com uma haste de vidro.

Aquece-se a amostra em “banho Maria”, cobrindo o recipiente com um vidro de relógio para evitar

a evaporação dos gases, até que ocorra o ataque completo do concreto. Em seguida, diluí-se o

conteúdo do copo de Becker em 50ml de água destilada quente, e se deixa descansar no “banho

Maria” por 15 minutos. Filtra-se o conteúdo em papel filtro de porosidade média, lavando-se o

conteúdo várias vezes com água destilada quente.

Retira-se uma porção de 250ml do material filtrado e aquece-o até a ebulição, adicionando-se, gota

a gota, uma solução quente de cloreto de Bário a 10%, mantendo a ebulição por alguns minutos.

Page 99: PATOLOGIA, RECUPERAÇÃO E REFORÇO DE ESTRUTURAS DE …

99

Deixa-se o material tampado e em descanso por 24 horas, quando filtra-se o conteúdo com papel

filtro de baixa porosidade, lavando-se com água quente até o desaparecimento total dos cloretos. O

precipitado deve ser aquecido a 900-1000oC em cadinho previamente tarado, pesando-se o conteúdo

após o aquecimento.

O teor de sulfatos depende do consumo e do tipo de cimento utilizado, devido à quantidade de

gesso utilizada no processo de fabricação do cimento. Por exemplo, um concreto com massa

específica de 2.400kg/m3 e consumo de cimento de 350 kg/m

3, considerando um cimento com teor

de gesso de 3%, o teor de sulfatos a ser encontrado deve ser de 0,44% em relação ao peso total de

concreto. Caso o ensaio aponte um teor de sulfatos maior, significa que houve contaminação do

concreto por sulfatos.

6.9 - OUTROS EQUIPAMENTOS

6.9.1 CONTROLE DE ABERTURA DE FISSURAS

Avongard (Detector de movimentos em trincas)

O monitorador de trincas AVONGARD é facílimo de instalar, durável ao extremo e fácil de ler. É

capaz de ler movimentos verticais e horizontais em qualquer tipo de trinca.

Sua sensibilidade é de 0,1mm.

S.A.T. (Scratch a Track)

Este simples equipamento registra movimentos da ordem de 0,01mm, já que é equipado com um

cartão indestrutível, que é fixado na superfície, e um riscador que assinala qualquer movimento, de

forma contínua, estabelecendo o real funcionamento de fissuras, trincas ou juntas.

Page 100: PATOLOGIA, RECUPERAÇÃO E REFORÇO DE ESTRUTURAS DE …

100

Ao contrário dos casos tradicionais de monitoramento, que somente informam o movimento na hora

da medição, o Detector de Movimentos S.A.T. deixa registrado todo e qualquer movimento que

ocorre na estrutura.

A instalação é fácil. O cartão é preso de um lado da junta ou trinca com adesivo epóxico ou bonder.

No outro lado da trinca, é preso da mesma forma, o riscador, que tem sua agulha posicionada sobre

o cartão base através de um parafuso regulador. Desta forma, o Detector de Movimentos S.A.T.

pode ficar fixado meses no local em questão, seja horizontal ou verticalmente. A película branca

que reveste o cartão onde a agulha do riscador é posicionada é feita especialmente para ser

finamente riscada, definindo o menor dos movimentos.

O S.A.T. é usado para monitorar movimentos estruturais e térmicos de fissuras e trincas, além de

juntas. É um importante equipamento que pode ser usado para analisar recalques de edificações.

Pode ser usado também para informar o comportamento de peças estruturais em processo de

carregamento e uma variedade de outras aplicações.

Page 101: PATOLOGIA, RECUPERAÇÃO E REFORÇO DE ESTRUTURAS DE …

101

7 - ESTRATÉGIA DE INSPEÇÃO, AVALIAÇÃO E DIAGNÓSTICO DAS PATOLOGIAS

7.1 - INTRODUÇÃO

A qualidade dos serviços que visem a recuperação de uma construção depende de uma avaliação

precisa da situação em que se encontra e do estudo detalhado dos efeitos produzidos pela

manifestação patológica que a acomete.

A condução de testes a avaliações de estruturas são atividades muito importantes para garantia da

qualidade e durabilidade das edificações, além de garantir que se atinja a vida útil projetada.

Podem-se citar as seguintes razões para se promover uma avaliação da construção afetada:

Quando a confiabilidade da estrutura é comprometida por deterioração geral;

Quando cargas adicionais serão aplicadas na estrutura;

Para obter informações visando projetos de reforço ou melhorias;

Para salvaguardar a segurança e a servicibilidade (funcionalidade) para condições

normais de utilização

Para criar um banco de dados de informações atualizadas sobre as condições de toda

estrutura, criando parâmetros para organizar operações de manutenção preventiva;

Para estabelecer prioridades para o reparo ou substituição de estruturas em níveis

elevados de deterioração.

A avaliação de uma construção é uma interação complexa entre:

Dados de serviço, ambientais e estruturais;

Dados de inspeção visual;

Dados de testes “in-situ” ou de laboratório.

A avaliação de construções acometidas por patologias é uma atividade multidisciplinar onde estarão

envolvidas disciplinas como:

Comportamento estrutural;

Tecnologia de materiais;

Projetos (normas, histórico, etc)

Page 102: PATOLOGIA, RECUPERAÇÃO E REFORÇO DE ESTRUTURAS DE …

102

Método construtivo;

Estática;

Economia;

Para a manutenção das estruturas já existentes e em serviço, recomenda-se:

Análise dos mecanismos de deterioração;

Análise da agressividade do meio em que a edificação se encontra;

Testes de materiais e da estrutura;

Instrumentação e monitoração;

Para o projeto de novas edificações, recomenda-se:

Considerar na concepção do projeto, as questões inerentes a:

o Mecanismos de deterioração que possam afetar a edificação em função do meio

em que ela se encontra e das solicitações a que estará sujeita e a previsão de

medidas de proteção preventiva e manutenção ao longo da vida útil da

edificação.

o Primar nas atividades de execução e manutenção da edificação.

7.2 – ESTRATÉGIAS DE INSPEÇÃO

Ao se verificar que uma edificação está "doente", isto é, que apresenta problemas patológicos,

toma-se necessário efetuar uma vistoria detalhada e cuidadosamente planejada para que se possa

determinar as reais condições da estrutura, de forma a avaliar as anomalias existentes, suas causas,

providências a serem tomadas e os métodos a serem adotados para a recuperação ou o reforço.

As providências a adotar, e mesmo os limites a seguir quanto à avaliação da periculosidade de

determinados mecanismos de deterioração, podem e devem observar a importância das estruturas

em termos de resistência e durabilidade, assim como, muito particularmente, a agressividade

ambiental.

A Figura 7.1 apresenta a metodologia genérica para a inspeção de estruturas convencionais,

dividida em três etapas básicas: levantamento dos dados, análise e diagnóstico.

Page 103: PATOLOGIA, RECUPERAÇÃO E REFORÇO DE ESTRUTURAS DE …

103

SIM

NÃO

SIM

NÃO

NÃO

SIM

Recomendações

Terapêuticas

Dados

Diagnóstico

Dados

Coleta de

Dados

Análise dos

Projetos

Instrumentação e

Ensaios

Novos

das Anomalias

Identificação

de Erros

Análise de

Histórico

Mapeamento

Medidas

Urgentes?

Providências

Emergenciais

Exame Visual

da Estrutura

Análise do

Meio Ambiente

Figura 7.1 - Fluxograma para estratégia de inspeção

7.2.1 Levantamento de Dados

Esta é a etapa que fornecerá os subsídios necessários para que a análise possa ser feita corretamente,

e compreende os seguintes passos:

a- classificação analítica do meio ambiente, em particular da agressividade à estrutura em

questão;

b- levantamento visual e medições expeditas da estrutura - consiste na observação normal, com

anotações, e medições nos principais elementos;

c- estimativa das possíveis conseqüências dos danos e, caso necessário, tomada de medidas de

emergência, tais como o escoramento de parte ou do todo da estrutura, alívio do

Page 104: PATOLOGIA, RECUPERAÇÃO E REFORÇO DE ESTRUTURAS DE …

104

carregamento, instalação de instrumentos para medidas de deformações e recalque e

interdição da estrutura;

d- levantamento detalhado dos sintomas patológicos, inclusive com documentação fotográfica,

medidas de deformações (se necessário, com aparelhos topográficos), avaliação da presença

de cloretos ou de outros agentes agressores, de carbonatação, medidas de trincas e fissuras

(posição, extensão, abertura), medidas de perda de seção em barras de aço, etc.;

e- identificação de erros quanto à concepção da estrutura (projeto), à sua execução, ou ainda

quanto à sua utilização e manutenção;

f- análise do projeto original e dos projetos de modificações e ampliações, caso existam, de

forma a se poder determinar possíveis deficiências na concepção ou no dimensionamento

dos elementos estruturais danificados;

g- instrumentação da estrutura e realização de ensaios especiais, inclusive em laboratório, com-

preendendo:

tipologia e intensidade dos sistemas de deterioração e dos agentes agressores;

medições: geometria, nível, prumo e excentricidades; mapeamento das fissuras;

determinação de flechas residuais; evolução da abertura de fissuras e de deformações,

etc.;

estudos e ensaios: verificação dimensional dos elementos (seção transversal do concreto;

armaduras; cobrimento, etc.); investigação geotécnica; avaliação da resistência do

concreto e das características do aço; etc.

7.2.2 Técnica de Investigação

Um elemento importante para o diagnóstico é conseguir-se imaginar o movimento que deu origem à

trinca, já que a grande maioria delas está associada a movimentações das mais distintas naturezas.

Uma boa técnica exploratória, principalmente para que não sejam esquecidos ou descartados

aspectos importantes, é aquela que se baseia em eliminações subsequentes, tentando-se considerar

todo o universo de causas hipotéticas ou agentes patológicos.

No caso de não se conseguir chegar, através dos levantamentos mencionados, a um diagnóstico

seguro, medidas mais trabalhosas deverão ser tomadas, como:

revisão de cálculos estruturais;

a análise dos perfis de sondagem, e;

Page 105: PATOLOGIA, RECUPERAÇÃO E REFORÇO DE ESTRUTURAS DE …

105

a tentativa de estimarem-se recalques.

Medidas mais sofisticadas poderão, ainda, ser consideradas, como:

a instrumentação da obra com clinômetros, defletômetros e extensômetros; e,

o acompanhamento de recalques com base em referencial profundo instalado fora da

zona de influência das fundações.

Também poderão ser adotadas medidas mais simples, para entendimento qualitativo do problema e

acompanhamento de sua eventual evolução. Nesse sentido, as fissuras poderão ser providas de

testemunhas ("gravatas") constituídas por material rígido (normalmente gesso nas partes internas da

construção e pasta constituída por cal e cimento nas partes externas) que, ao se fissurar indicará a

continuidade do movimento.

Poderão, também, serem utilizados testemunhas em metal ou vidro, com traços de referência,

coladas alternadamente nos dois lados do componente adjacentes à fissura. Essas testemunhas,

conforme a Figura 7.2, poderiam dar uma idéia quantitativa dos deslocamentos ocorridos.

Figura 7.2 - Testemunhas com traços de referência.

a- indica deslocamentos na horizontal b- Indica deslocamentos na vertical

A verificação da movimentação relativa entre trechos da parede seccionada por uma fissura poderá

ser determinada com precisão, mediante instrumentação da fissura com bases de aço e leitura das

movimentações relativas entre essas bases com extensômetro; instrumenta-se, por exemplo, uma

fissura com três bases constituindo um triângulo equilátero, nas condições da Figura 7.3.

Page 106: PATOLOGIA, RECUPERAÇÃO E REFORÇO DE ESTRUTURAS DE …

106

Figura 7.3 - Fissura Instrumentada com bases de aço para leitura dos deslocamentos relativos

Geometricamente, o deslocamento horizontal "n'' e o deslocamento vertical relativo "t" seriam

expressos por:

4

)(2

222 caxaan (7.1)

2

cxt (7.2)

222 )()(2

1cbbaa

cx (7.3)

Com base nas observações e levantamentos efetuados no local da obra, entretanto, o técnico já

poderá chegar na maioria das vezes ao diagnóstico do problema. Deve-se alertar, contudo, que

juízos precipitados e idéias preconcebidas geralmente conduzem a diagnósticos incorretos. A

similaridade de situações, algumas vezes muito forte, pode induzir a erro o técnico menos avisado

ou menos cuidadoso.

A fissura ilustrada na Figura 7.4, por exemplo, poderia ser precipitadamente atribuída a um recalque

da fundação, no canto direito do prédio; porém com a análise de todas as condições de contorno, foi

estabelecido que a da fissuração da alvenaria foi provocada por excessiva flexibilidade da estrutura

sob a parede.

Antes de estabelecerem-se grandes elocubrações teóricas sobre o problema em análise, o técnico

deve também inspecionar tudo o que lhe for possível. A fissura e o componente fissurado devem ser

examinados por todos os ângulos, recorrenda-se, quando necessário, pequenas escavações ou

demolições, como pode ser observado na Figura 7.5.

Page 107: PATOLOGIA, RECUPERAÇÃO E REFORÇO DE ESTRUTURAS DE …

107

Figura 7.4 - Fissuração da alvenaria devida à flexibilidade da estrutura de concreto armado, aparentando ter sido

provocada por recalque de fundação

No caso ilustrativo apresentado na Figura 7.6, havia, aparentemente, um fissura por sobrecarga

(compressão) no pé do pilar, procedendo-se com a abertura (retirada da camada de argamassa de

acabamento), verificou-se tratar de uma fissura proporcionada pelo movimento diferenciado,

provocado pelos diferentes coeficientes de dilatação térmica, entre a argamassa rígida e a manta de

impermeabilização.

Figura 7.5 - Pequena abertura da argamassa de revestimento para análise de fissura

Page 108: PATOLOGIA, RECUPERAÇÃO E REFORÇO DE ESTRUTURAS DE …

108

Figura 7.6 - Fissura em pé de pilar provocada pelo movimentação térmica diferenciada entre a argamassa de

revestimento e a manta de impermeabilização.

Finalmente, a obtenção de dados históricos sobre a obra e/ou seu local de implantação às vezes

pode conduzir a pistas muito seguras no esclarecimento do problema. Assim sendo, a recuperação

do "diário de obra", de fotografias obtidas durante sua execução e de registros sobre eventuais

anomalias que tenham ocorrido na fase de construção ou de ocupação do edifício podem em alguns

casos ser tão importantes que os próprios levantamentos anteriormente mencionados.

7.2.3 Análise dos Dados

A segunda etapa, análise dos dados, deverá conduzir o analista a um perfeito entendimento do

comportamento da estrutura e de como surgiram e se desenvolveram os sintomas patológicos. Esta

análise deverá ser feita através de uma inspeção detalhada afim de evitar que as anomalias mais

graves não sejam detectadas por estarem ocultas por anomalias superficiais, assim como se deve

verificar atentamente se não houve mais do que um fator gerador do sintoma patológico que está

sendo analisado.

Através da inspeção detalhada dois objetivos primordiais deverão ser alcançados:

completar ou complementar a inspeção de rotina;

realizar testes específicos e especiais que sejam necessários para a avaliação completa da

edificação e definição da capacidade de carga restante.

Informações importantes a serem definidas neste item:

Page 109: PATOLOGIA, RECUPERAÇÃO E REFORÇO DE ESTRUTURAS DE …

109

propriedades mecânicas do aço e do concreto

durabilidade do concreto

analise petrográfica do concreto para investigação da sua microestrutura e agressividade

de elementos químicos;

avaliação da taxa de corrosão do aço;

inspeção por raios – x;

impulsos ultra-sonicos;

ensaio de arrancamento;

difusão de clorídeos;

medida “in-situ” das tensões no concreto e aço;

medida “in-situ” da geometria, ações, respostas estáticas e dinâmicas.

A escolha dos testes a serem efetuados na edificação depende do engenheiro responsável pelo

processo de avaliação, pois uma escolha desnecessária poderá trazer resultados redundantes e

onerar o processo de avaliação.

Outra análise que pode ser realizada na estrutura, para verificação do estado potencial de risco que

esta oferece, denomina-se Prova de Carga. As provas de carga tem como objetivo testar a estrutura

com solicitações e avaliar as condições de resposta da edificação, principalmente quando existe a

necessidade de se manter a estrutura em uso durante o período de analise.

7.3 - MÉTODOS DE CONDIÇÕES DE AVALIAÇÃO PÓS INSPEÇÃO

Condição de avaliação é uma medida efetiva para quantificar a deterioração geral de uma edificação

inspecionada, baseada na avaliação numérica de todos os tipos essenciais de danos revelados

durante a inspeção, cujas características possam ter impacto na segurança e na durabilidade da

edificação. A avaliação numérica deve levar em conta:

O tipo de dano e seu efeito na segurança e/ou durabilidade da edificação (elemento

estrutural afetado);

A máxima intensidade de um tipo de dano em uma parte da estrutura;

O efeito do elemento estrutural afetado na segurança e durabilidade de toda a estrutura;

A extensão e propagação esperado do tipo de dano observado.

Page 110: PATOLOGIA, RECUPERAÇÃO E REFORÇO DE ESTRUTURAS DE …

110

7.3.1 Método Básico

Método oriundo da adaptação de norma Austríaca para avaliação de pontes, onde a avaliação do

componente estrutural é dada pela soma de valores atribuídos para cada tipo de dano, multiplicado

pela extensão e intensidade do dano, importância do elemento estrutural e pela urgência de

intervenção, de acordo com a seguinte expressão:

n

i

iiiii kkkkGI1

4321 ).( (7.4)

Onde:

Item Descrição Valores Adotados

G Tipo de dano 1 a 5

k1i Extensão do dano 0 a 1

k2i Intensidade do dano 0 a 1

k3i Importância do elemento estrutural 0 a 1

k4i Urgência da intervenção 0 a 10

O índice obtido para a estrutura deve variar entre 0 a 70, e de acordo com o valor determinado, a

estrutura poderá ser classificada em 6 categorias de danos, abaixo apresentada:

Classe de Dano I (I = 0 a 5) – Sem Defeitos: somente deficiências construtivas, sem

necessidade de reparo, apenas de manutenção regular;

Classe de Dano II (I = 3 a 10) – Baixo Grau de Deterioração: Redução da

Servicibilidade: Redução da servicibilidade apenas após longo período de tempo sem

reparo;

Classe de Dano III (I = 7 a 15) – Médio Grau de Deterioração: Pode haver a redução da

servicibilidade. A intervenção deve ocorrer com alguma rapidez;

Classe de Dano IV (I = 12 a 25) – Alto Grau de Deterioração: Redução da

servicibilidade, porém sem necessidade de limitaçãoes. Intervenção Imediata.

Classe de Dano V (I = 22 a 35) – Deterioração Pesada: Redução da servicibilidade com

limitações graves de uso. Intervenção Imediata;

Classe de Dano VI (I > 30) – Deterioração Crítica: Escoramento Imediato, Restrição ao

Uso e Intervenção Imediata.

Page 111: PATOLOGIA, RECUPERAÇÃO E REFORÇO DE ESTRUTURAS DE …

111

7.3.2 Método Geral

Neste método o índice não é mais expresso pela simples soma dos valores dos danos verificados

nos elementos estruturais, mas pela razão entre:

A soma efetiva dos valores dos danos obtidos levando em conta a lista fechada de tipos

de danos potenciais detectados na inspeção “in loco”, e;

A soma de referência de valores de danos obtidos levando-se em conta a mesma lista

fechada de todo tipo de dano que poderia realisticamente ocorrer na mesma estrutura ou

elemento estrutural, multiplicada pela intensidade unitária e fatores de extensão.

Assim o índice de condição de uma estrutura é definido com a fração ou percentagem do valor de

referência associado com a condição assumida da estrutura em particular. O índice de condição

pode ser calculado não só para a estrutura completa, mas também para cada componente estrutural,

principal ou não. No caso de estruturas multi-andares e multi-vãos, aonde a inspeção é feita vão a

vão, o índice é expresso pela soma média dos valores de danos calculados para cada vão.

O método ainda consiste em:

Os fatores de avaliação da intensidade de um tipo de dano são caracterizados de maneira

descritiva;

Os fatores para a avaliação da extensão dos danos são definidos por critérios descritivos

(sempre);

O índice de condição pode então ser determinado pela seguinte expressão:

iiiiiD kkkkBVR 4321 .... (7.5)

Onde:

VD = Valor do tipo de dano

Bi = valor básico associado ao tipo de dano i sobre a segurança e ou durabilidade do

componente estrutural inspecionado

K1i = fator do elemento estrutural, função de sua importância no contexto

da estrutura como um todo

K2i = fator indicativo da intensidade do tipo de dano i

K3i = fator cobrindo a extensão da propagação do tipo de dano “i” nos elementos

inspecionados;

K4i = fator enfatizante da urgência necessária da intervenção do dano “ i “

Page 112: PATOLOGIA, RECUPERAÇÃO E REFORÇO DE ESTRUTURAS DE …

112

A lista de danos pode assumir os seguintes valores (Pontes):

Deslocamentos (Bi)

- Infraestrutura: Movimentos Laterais = 2,0

Rotações e Desaprumos = 2,0

Recalques Diferenciais = 3,0

Descalçamento das Fundações = 4,0

- Superestrutura: Movimentos Verticais = 2,0

Irregularidades = 1,0

Fator de Locação do Elemento (ki1)

- Infraestrutura = 1,0 ± 0,2

- Superestrutura = 1,2 ± 0,2 (Concreto Armado)

- Superestrutura = 1,45 ± 0,2 (Concreto Protendido)

- Tabuleiro = 0,4 ± 0,1

Fator de Intensidade do Dano (ki2)

- Classe I = 0,5 (Dano de tamanho pequeno, aparecendo em localizações simples do

elemento);

- Classe II = 1,0 (Dano de tamanho médio, confinado a locais simples, ou em pequenas

áreas);

- Classe III = 1,5 (Dano de tamanho grande, aparecendo em grandes áreas do elemento);

- Classe IV = 2,0 (Dano de tamanho muito grande, aparecendo na maior parte do elemento);

Fator de Extensão do Dano (ki3)

- Dano confinado a um único elemento = 0,5;

- Dano aparecendo em menos de ¼ dos elementos do arcabouço = 1,0;

- Dano aparecendo entre ¼ e ¾ dos elementos do arcabouço = 1,5;

- Dano aparecendo em mais de ¾ dos elementos do arcabouço = 2,0;

Fator de Urgência do Reparo (ki4)

- Intervenção não urgente = 1,0 (Dano não tem impacto na segurança ou na servicibilidade

da construção);

- Intervenção Breve = 2,0 a 3,0 (Dano deve ser reparado em um período não maior que 5

anos, para prevenir o colapso);

Page 113: PATOLOGIA, RECUPERAÇÃO E REFORÇO DE ESTRUTURAS DE …

113

- Intervenção Imediata = 3,0 a 5,0 (Reparo imediato é necessário, já há um

comprometimento da estrutura pelo dano);

- Intervenção Urgente = 5,0 (Necessidade de escoramento, limitação do tráfego, evacuação

ou providencias semelhantes.

Os valores determinados pelas condições de avaliação pós inspeção vão permitir a determinação do

parâmetro de condição “RC “ que é então calculado pela expressão:

refD

D

CV

VR

,

(7.6)

Onde:

VD = soma efetiva de valores de danos calculados para a estrutura observada

(ou parte), relacionada com os tipos de defeitos da lista incorporada, e;

VD,re = soma de referência dos valores de dano obtidos levando em conta todos os danos

obtidos na lista, que podem potencialmente ocorrer na mesma estrutura.

O parâmetro de condição Rc da estrutura (ou do elemento estrutural isolado), deve então ser

comparado com a capacidade de carga restante da estrutura, que poderá, Poe sua vez, ser

determinada mediante:

Análise estrutural, levando em conta as condições medidas em cada seção crítica e

considerando os dados de ensaios e testes, quando disponíveis;

Redução da resistência de projeto, considerando a deterioração ou envelhecimento que afeta

a estrutura ou o elemento estrutural sob análise;

Prova de carga, quando os dados disponíveis são insuficientes para as considerações de

análise a serem feitas.

7.4 - DIAGNÓSTICO

A exemplo de um médico que se defronta pela primeira vez com um determinado paciente, sem

conhecer suas condições de gestação, crescimento, tipo de vida etc. o engenheiro ou o arquiteto é

chamado para diagnosticar a causa de determinadas enfermidades que acometem as construções.

Page 114: PATOLOGIA, RECUPERAÇÃO E REFORÇO DE ESTRUTURAS DE …

114

Diagnosticar uma patologia é determinar as causa dos mecanismos de formação e da gravidade

potencial de uma manifestação patológica, com base na observação dos sintomas e na eventual

realização de estudos específicos.

Nem sempre é tarefa fácil diagnosticar a causa de uma trinca. Uma causa pode provocar diversas

configurações de trincas e uma configuração pode ser representativa de diversas causas. Não raras

vezes observam-se trincas originadas por uma somatória de causas, com configurações as mais

variadas.

Em alguns casos, o diagnóstico correto só poderá ser elaborado a partir de minuciosos ensaios de

laboratório, revisão de projetos e mesmo instrumentação e acompanhamento da obra.

A resolução de um problema patológico passa obrigatoriamente por três etapas:

a- levantamento de subsídios: acumular e organizar as informações necessárias e suficientes

para o entendimento dos fenômenos;

b- diagnóstico da situação: entender os fenômenos, identificando as múltiplas relações de

causa e efeito que normalmente caracterizam um problema patológico;

c- definição de conduta: prescrever a solução do problema, especificando todos os insumos

necessários, e prever a real eficiência da solução proposta.

No tocante ao levantamento de subsídios, é imprescindível o exame cuidadoso da obra,

recorrendo-se à sensibilidade do técnico e, eventualmente, a algumas verificações expeditas com o

emprego de instrumentos específicos, tais como, esclerômetro, pacômetro, indicador de umidade

superficial, etc.

Page 115: PATOLOGIA, RECUPERAÇÃO E REFORÇO DE ESTRUTURAS DE …

115

8 – MATERIAIS PARA RECUPERAÇÃO E REFORÇO

8.1 – INTRODUÇÃO

Para que se posa realizar a recuperação de uma patologia de forma eficiente faz-se necessário

conhecer os materiais existentes no mercado, suas propriedades, vantagens e desvantagens, detalhes

de preparação da estrutura, técnicas de aplicação, custos e procedimentos posteriores a sua

aplicação. Nos últimos anos houve um grande desenvolvimento nestes materiais, o que nos fornece

uma gama muito grande de opções, e o lançamento de novos produtos é constante. Assim sendo,

citar-se-á os principais materiais utilizados nos procedimentos de reparo de patologias.

Um grande desafio do profissional da área de patologia das construções é a escolha adequada do

material de recuperação, visando seu perfeito comportamento com o substrato. Deve-se lembrar que

existem tensões entre o substrato e o material de recuperação, de modo que deve existir uma

perfeita aderência entre estes materiais para que o resultado final seja uma estrutura sólida e

monolítica, caso contrário, irão aparecer trincas ou fissuras na interface destes materiais, e a

recuperação não terá um desempenho satisfatório.

Outro cuidado é no preparo do substrato, pois se o mesmo possuir poros abertos facilitará a

aderência entre os dois materiais através de uma ancoragem do material de recuperação.

Figura 8.1 – Esquema de ancoragem pelos poros.

Page 116: PATOLOGIA, RECUPERAÇÃO E REFORÇO DE ESTRUTURAS DE …

116

Também se deve prestar atenção entre a compatibilidade do material de recuperação com as

condições de saturação da superfície do substrato, pois alguns materiais não podem ser aplicados

em superfícies molhadas e outros já necessitam de umidade superficial para uma perfeita aderência.

8.2 – MATERIAIS UTILIZADOS

8.2.1 Concreto

O concreto é o material mais utilizado nas operações de recuperação estrutural, muitas vezes

exigindo um traço especial. Entre os requisitos de desempenho tem-se que considerar uma alta

resistência inicial, ausência de retração, expansão controlada, boa aderência com o substrato, baixa

permeabilidade, etc.

É muito comum o uso de aditivos e adições, tais como superplastificantes, expansores, sílica ativa,

polímeros e fibras.

8.2.2 Argamassas

São largamente utilizadas, podendo ser de vários tipos, como: polimérica, base de epóxi, base

fenólica, etc. Também podem receber aditivos ou adições. Normalmente são utilizadas para reparos

de pequenas profundidades e onde se exija alta resistência a agressividade química.

8.2.3 Endurecedores de Superfície

São produtos líquidos à base de silicato de sódio ou fluossilicato de magnésio, sódio ou zinco, que

podem ser usados separadamente ou combinados. A capa de piso resistente à abrasão é obtida em

função da reação do hidróxido de cálcio da hidratação do cimento com a solução de metassilicato de

sódio, endurecendo a superfície do concreto, conforme indicado na expressão 8.1.

(8.1)

8.2.4 Inibidores de Corrosão

São materiais que possuem a capacidade de reduzir a corrosão das armaduras. Podem ser pinturas

nas armaduras com produtos à base de epóxi, com ou sem carga de zinco, no entanto este tipo de

proteção deve ser submetida a um ensaio de aderência para garantir sua eficiência; Existem as

chamadas proteções catódicas, onde se fixa à armadura um eletrodo de sacrifício à base de zinco

Page 117: PATOLOGIA, RECUPERAÇÃO E REFORÇO DE ESTRUTURAS DE …

117

que, por ser mais eletro-negativo, acaba corroendo e preservando a armadura, no entanto estes

eletrodos de sacrifício possuem uma vida útil e devem ser substituídos ao término desta; e também

existem os produtos líquidos que podem ser impregnados no concreto endurecido ou incorporados

na massa de concreto durante sua aplicação, citando como exemplos o nitrito de sódio, nitrito de

cálcio, benzoato de sódio, molibdato de sódio e óxido de zinco.

8.2.5 Outros materiais

a) grautes – é um material fluido e auto-adensável, podendo ser à base de cimento ou orgânico;

b) aditivos – são produtos formulados para melhorar algumas propriedades dos concretos e

argamassas. Os mais utilizados são os aceleradores e retardadores de pega, os plastificantes,

os expansores e os impermeabilizantes;

c) óleos – utilizados para impermeabilização e proteção da superfície;

d) tintas e vernizes – utilizadas para proteção e impermeabilização da superfície;

e) selantes – utilizados nas juntas de movimentação;

f) adesivos – são produtos utilizados para unir dois materiais e ancorar barras de aço.

Page 118: PATOLOGIA, RECUPERAÇÃO E REFORÇO DE ESTRUTURAS DE …

118

9 – TÉCNICAS DE RECUPERAÇÃO E REFORÇO

9.1 – PREPARO DO SUBSTRATO

O preparo do substrato envolve as operações de remoção do concreto deteriorado e lavagem da

região a ser recuperada. Estas operações são a base para uma recuperação eficiente, assim sendo,

estas operações não devem ser menosprezadas sob risco de comprometer todo o trabalho de

recuperação.

9.1.1 Remoção do concreto deteriorado

Para a remoção do concreto deteriorado, pode-se utilizar um dos seguintes procedimentos:

a) Escarificação manual ou apicoamento

É utilizada para pequenas áreas ou em

regiões onde é difícil o acesso de

equipamentos. Consiste em remover uma

pequena espessura de concreto. Para a

execução dos serviços utiliza-se ponteiro,

talhadeira e marreta leve. Apresenta baixa

produtividade, que depende das condições

de superfície e de trabalho.

b) Escarificação mecânica

É utilizada para o apicoamento de grandes

ares, porém removendo uma pequena

espessura de concreto. Utilizam-se

martelos pneumático ou elétricos leves.

Page 119: PATOLOGIA, RECUPERAÇÃO E REFORÇO DE ESTRUTURAS DE …

119

c) Lixamento

Pode ser manual ou elétrico. O

lixamento manual é utilizado

para pequenas superfícies e

barras de aço, apresentando

baixa produtividade. O

lixamento elétrico é utilizado

em grandes superfícies de

concreto ou chapas de aço,

apresentando alto rendimento,

porém gera uma quantidade

excessiva de poeira.

d) Escovação manual

Utilizada apenas para a remoção dos

produtos da corrosão em pequenas

extensões de barras de aço, pela utilização

de escova com cerdas metálicas. Apresenta

baixa produtividade.

e) Pistola de agulha

Utilizada para a limpeza de perfis

metálicos. O equipamento não deve entrar

em contato com o concreto, pois as

agulhas serão danificadas.

Page 120: PATOLOGIA, RECUPERAÇÃO E REFORÇO DE ESTRUTURAS DE …

120

f) Disco de corte

Utilizado para tirar rebarbas, delimitar

uma área a ser restaurada e abrir vincos

para tratamento de fissuras. Utiliza uma

máquina de corte (maquita) com discos

diamantados para abrir sulcos de pequena

profundidade, de modo a não danificar as

armaduras.

g) Remoção profunda do concreto

Consiste em remover o concreto em uma

profundidade de 2 a 3cm além da

armadura, com a utilização de um martelo

pneumático apropriado, sem danificar as

barras de aço.

9.1.2 Limpeza da superfície

A limpeza da superfície constitui o conjunto de procedimentos utilizados para a remoção de poeiras,

óleos, graxas e outras impurezas para a posterior aplicação dos produtos para reparo da peça. As

principais técnicas de limpeza são:

a) Jatos de água

Page 121: PATOLOGIA, RECUPERAÇÃO E REFORÇO DE ESTRUTURAS DE …

121

É utilizado para limpeza de grandes áreas,

utilizando um jato de água sob pressão

controlada, com água fria ou quente.

b) Soluções ácidas

Este procedimento é utilizado para a remoção de tintas, ferrugens, carbonatação, etc. Para a

aplicação de soluções ácidas deve-se adotar alguns cuidados iniciais, tais como: saturar a

estrutura com água para evitar a penetração do ácido; evitar utilizar estas soluções em estruturas

onde o cobrimento das armaduras seja de pequena espessura; não utilizar próximo de juntas de

dilatação; aplicar por aspersão em pequenas áreas; após o término da efervescência que

caracteriza a descontaminação, a estrutura deve ser lavada com uma solução de amônia para

neutralizar o ácido e lavada com água.

c) Soluções alcalinas

Possui utilização similar às soluções ácidas, acrescentando a limpeza de resíduos ácidos. Aplica-

se por aspersão sobre a estrutura saturada, lavando-se a estrutura após a utilização destas

soluções. As soluções alcalinas não devem ser utilizadas em concretos com agregados reativos.

d) Jatos de vapor

É utilizado para a limpeza de grandes áreas, na remoção impurezas minerais e orgânicas, e deve

ser aplicado juntamente com um removedor biodegradável. O equipamento para aplicação é

constituído por uma mangueira de alta pressão e uma caldeira para geração de calor.

e) Jatos de ar comprimido

É utilizado para a remoção de pó e secagem da estrutura. No caso da remoção de pó, a estrutura

não deve estar úmida. O compressor de ar deve ser dotado de filtro de ar e óleo para não utilizar

ar sujo nem danificar a estrutura.

Page 122: PATOLOGIA, RECUPERAÇÃO E REFORÇO DE ESTRUTURAS DE …

122

9.1.3 Demolição do Concreto

Em algumas situações pode ser necessária a demolição de parte da estrutura, ou de seu todo. Todo

processo de demolição deve ser analisado por um especialista em estruturas, pois ocorre uma

modificação nas condições de equilíbrio da estrutura.

Para a demolição de grandes blocos de concreto, uma técnica consiste na utilização de agentes

expansivos constituídos por um comento Portland especial. A técnica consiste em executar uma

malha uniforme de furos distanciados de, aproximadamente, 50cm e preenche-los com o produto

expansivo que provocará a demolição do concreto.

Uma técnica que vem se desenvolvendo é a hidrodemolição, que consiste na demolição do concreto

com jatos de água que podem exercer uma pressão que varia de 1GPa a 5GPa com um consumo de

água entre 5 e 20 l/min. Souza e Ripper (1998) apresentam a equação estabelecida por Cooley

(1974) para determinar a profundidade de corte em função da pressão do jato de água, dada por:

mck

dv

v

f

pDch 128,0 5,1

(9.1)

onde h é a profundidade de corte, D é o diâmetro da mangueira, cd é um coeficiente que depende do

estado de conservação da mangueira (varia de 0,6 a 0,9), é um fator de correção que depende da

distância de aplicação do jato (l) dado por

11,0

512,1

l , p é a pressão da máquina dada por v

2/2, v

é a velocidade do jato e vm é a velocidade de deslocamento transversal do jato.

Ainda existe a demolição tradicional, utilizando

um martele pneumático ou a óleo diesel. Este

procedimento requer cuidados para não

comprometer a estrutura existente, não sendo

aconselhável para peças esbeltas.

Page 123: PATOLOGIA, RECUPERAÇÃO E REFORÇO DE ESTRUTURAS DE …

123

9.2 – TRATAMENTO DE FISURAS

9.2.1 Identificação do tipo de fissura e seleção da técnica a adotar

O tratamento das peças fissuradas depende da causa das fissuras, do seu tipo (fissura ativa ou

passiva) e de sua gravidade (profundidade e extensão). As fissuras superficiais possuem um

tratamento mais simples e com materiais mais baratos. Já as fissuras profundas necessitam de um

tratamento com equipamentos e materiais mais caros.

Quando a fissura está ativa não é possível eliminá-la, então deve-se fazer o tratamento com algum

material elástico para vedar a fissura, impedindo a penetração de agentes agressivos. Em seguida

deve-se eliminar a causa da fissura. Tal ação irá transformar a fissura ativa em passiva, quando se

pode vedar a fissura com um material resistente, devolvendo o monolitismo da peça.

9.2.2 Métodos de reparo

a) Injeções

Souza e Ripper (1998) definem injeção como a técnica de preenchimento de todo o espaço entre

os bordos de uma fenda. Toda fissura com abertura superior a 0,1mm deve ser tratada, sendo

que o processo de injeção sob baixa pressão (<0,1 MPa) é muito utilizado.

Nas fissuras passivas faz-se a injeção com materiais rígidos como epóxi (mais utilizados) ou

grautes para reestabelecer o monolitismo das peças. Nas fissuras ativas utiliza-se resinas

flexíveis ou polisulfuretos, como resinas acrílicas ou poliuretânicas, que devem possuir, após o

seu endurecimento, uma capacidade de se alongar sem sofrer a ruptura superior a 100%,

resistência à tração superior à do concreto e boa ader6encia.

O processo de injeção segue os seguintes passos:

1o) Abertura de furos ao longo da fissura, com 10mm de diâmetro e 30mm de profundidade,

espaçados de 1,5 vezes a profundidade da fissura e não mais que 30cm;

2o) Limpeza da fissura e dos furos com jato de ar comprimido;

3o) Fixar tubos metálicos ou de plásticos nos furos para servirem de pontos de injeção e de

respiro;

4o) Fazer a selagem superficial da fissura. Existem três sistemas de selagem das fissuras. Para

fissuras estreitas (<0,1mm) e concreto em bom estado, basta selar a fissura com material

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124

termoplástico ou fita adesiva. Para aberturas maiores utiliza-se cola epoxídica aplicada com

colher de pedreiro. Se o concreto estiver deteriorado, faz-se uma abertura em “V” ao longo de

toda a fissura e faz-se a selagem com uma formulação epóxi com agente tixotrópico;

5o) Testar o sistema com ar comprimido para verificar a qualidade da selagem e a comunicação

entre os tubos de injeção e respiro. Esta verificação deve ser feita após a cura da resina epóxi,

que ocorre entre 12h e 24h após a aplicação;

6o) Efetuar a injeção pelos tubos mais baixos e quando a resina sair pelo tubo superior mais

próximo deve-se passa a injetar por este outro tubo, e assim sucessivamente até preencher toda a

fissura;

7o) Após o término da injeção e a cura da resina, deve-se retirar a camada selante e fazer o

acabamento da peça.

Algumas observações importantes durante o processo de injeção são:

- Os tubos de injeção devem estar desobstruídos para o perfeito acompanhamento do

processo.

- Quando a fissura é passante por toda a espessura do elemento estrutural é

recomendável colocar bicos de injeção nas duas faces da peça.

- Se houver dificuldade na entrada da resina deve-se manter a pressão por um período

um pouco maior, porém deve-se cessar o processo caso observe-se que não está

ocorrendo a injeção.

- Para a aplicação de resina epóxi, o concreto deve estar seco.

- O controle de qualidade do processo pode ser verificado pelas seguintes inspeções:

i. Na recepção dos materiais – verificar a validade e laudos que garantem as

características dos materiais;

ii. Comprovação da efetividade da injeção – retirada de testemunho com altura

superior à profundidade da fissura e observar que, pelo menos, 90% da

fissura está injetada, conforme mostra a figura abaixo.

Page 125: PATOLOGIA, RECUPERAÇÃO E REFORÇO DE ESTRUTURAS DE …

125

- Para efeito de cálculo, recomenda-se adotar uma redução de 20 a 30% na resistência

do elemento recuperado, para compensar a possibilidade de uma injeção incompleta

ou a penetração de impurezas.

As formulações de resinas epóxi a serem empregadas nas injeções de fissuras devem possuir:

- trabalhabilidade adequada à sua utilização;

- “pot-life” ou coeficiente de polimeração, que é o tempo de endurecimento ou vida

útil, conveniente para sua aplicação;

- cura rápida;

- deformação por fluência despresível;

- baixa retração;

- baixos valores de módulo de deformação (20 a 50 GPa);

- resistência mecânica superior à do concreto;

- viscosidade adequada ao tipo de fissura.

Em geral, estas propriedades são encontradas em resinas epóxi à base de epicloridrina e bifenol

com catalizador de amina. Conforme recomendação de Pimentel e Teixeira (1978) e Cánovas

(1988), as resinas epóxi a serem utilizadas são:

- aberturas de fissuras < 0,2mm – resina epóxi bicomponente sem dissolvente, com

viscosidade de 100centipoises (cps) a 20oC.

- aberturas de fissuras de 0,2 a 0,6mm – resina epóxi bicomponente sem dissolvente,

com viscosidade menor que 500 cps a 20oC.

- aberturas de fissuras de 0,6 a 3,0mm – resina epóxi bicomponente pura, com

viscosidade menor que 1500 cps a 20oC.

Page 126: PATOLOGIA, RECUPERAÇÃO E REFORÇO DE ESTRUTURAS DE …

126

- aberturas de fissuras > 3,0mm – resinas epóxi com carga mas sem solvente. A carga

pode ser areia com diâmetro de até 1mm, na relação 1:1.

b) Selagem

É a técnica de vedação de uma fissura ativa com um material aderente, com resistência química

e mecânica, não retrátil e com módulo de elasticidade adequado para acompanhar as

deformações da peça. É utilizado em fissuras com abertura superior a 10mm.

Para abertura de 10 a 30mm faz-se o enchimento da fenda com graute e a selagem das bordas

com produto à base de epóxi.

Para aberturas maiores que 30mm deve-se proceder de maneira análoga à execução de uma

junta de dilatação, colocando-se um cordão de poliestireno no fundo da fissura, preenchendo-se

com mástique sobre este cordão e executando a polimerização lateral. Também pode-se

substituir o cordão de poliestireno e o mástique por neoprene.

Page 127: PATOLOGIA, RECUPERAÇÃO E REFORÇO DE ESTRUTURAS DE …

127

c) Ocratização

Este sistema baseia-se no emprego de um gás de tetrafluorsilicato que se introduz sob pressão

nas fissuras, que reage com a cal liberada na hidratação do cimento da seguinte forma:

4242 22 OHSiCaFSiFOHCa (9.2)

Outra forma é a utilização de fluorsilicato de sódio e potássio ou zinco, aplicado por aspersão

superficial, que penetra por capilaridade na fissura, reagindo com a cal livre formando

fluorsilicato de cálcio insolúvel, que fecha a fissura de dentro para fora.

d) Cicatrização

As fissuras passivas podem fechar por si mesmas quando os elementos de concreto que estão

fissurados se encontram saturados de água, sem que a água circule pela fissura. Este fenômeno

ocorre devido a carbonatação do óxido e hidróxido de cálcio do cimento, pela ação do anidrido

carbônico do ar e da água. Os cristais de carbonato de cálcio formados se encaixam entre si,

formando uma aderência mecânica e química.

e) Grampeamento

Consiste em costurar a fissura com grampos em forma de “U”. O diâmetro, comprimento e

espaçamento dos grampos dependem dos esforços de tração a que estarão submetidos. A fixação

dos grampos se dá por meio de cola estrutural à base de epóxi e deve ser desalinhada, para

evitar a formação de um plano de fissuração. A figura abaixo exemplifica o posicionamento dos

grampos.

9.3 – TRATAMENTO DE NINHOS

Esta patologia tem sua origem em dosagens deficientes ou defeitos de concretagem ou

adensamento. As principais causas envolvem uma baixa relação água/cimento, adensamento

deficiente e grande concentração de armadura. Os ninhos podem estar localizados em uma camada

Page 128: PATOLOGIA, RECUPERAÇÃO E REFORÇO DE ESTRUTURAS DE …

128

mais externa, na superfície da peça, sendo de fácil correção, ou ainda no interior da massa de

concreto, de difícil detecção e correção.

As técnicas utilizadas no tratamento de ninhos variam de acordo com a magnitude do problema.

Quando a falha é superficial, atingindo apenas a região de cobrimento das armaduras, pode-se

realizar o restauro efetuando uma limpeza adequada da região, aplicar uma ponte de aderência e

recompor a seção da peça com uma argamassa de cimento, epóxi ou polimérica.

Para a recuperação de grandes áreas e problemas mais graves, deve-se adotar cuidados especiais.

Primeiramente deve-se estudar um escoramento adequado para a peça. O preparo do substrato deve

ser feito considerando-se que o concreto ao redor do ninho pode apresentar-se danificado, em

seguida faz-se à limpeza do substrato, aplica-se a ponte de aderência e reconstituí-se a seção da

peça. Pode-se utilizar um concreto ou micro-concreto com uma resistência à compressão superior à

do concreto da peça, ou ainda graute ou argamassa epóxi. O material utilizado para o reparo não

pode sofrer retração.

9.4 – TRATAMENTO DE DESAGREGAÇÕES

Estas patologias são as mais difíceis de se recuperar, sendo que, em muitos casos, faz-se necessário

a demolição do elemento.

Antes de se proceder a recuperação de um concreto atacado por desagregação é de fundamental

importância realizar uma análise do concreto e do meio ao qual está exposto, para se determinar as

causas geradoras da patologia.

Em geral, a reparação consiste em substituir a região atacada, realizando um escoramento adequado

do elemento, o preparo e limpeza do substrato, a reconstituição da seção com um concreto

adequado e a devida proteção da superfície da peça.

Nestes casos, o concreto de reparo deve ser um CAD com índice de vazios muito baixo e com

resistência ao meio agressivo adequada. A proteção superficial pode ser feita com resina epóxi ou

silicone repelente de água.

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129

9.5 – CORROSÃO DE ARMADURAS

Uma vez iniciado o processo corrosivo das armaduras não se pode mais detê-lo, a menos que se

utilize uma proteção catódica, que apresenta um custo elevado. A maioria dos métodos de

recuperação baseia-se na substituição do concreto deteriorado e limpeza das armaduras, com

substituição, se necessário.

a) Eliminação do concreto deteriorado

Deve-se retirar o concreto de forma manual ou mecânica até uma profundidade de 2cm por trás

das armaduras, sem deixar partículas soltas. É importante ter acesso a toda circunferência da

armadura, pois caso uma parte da armadura fique em contato com o concreto velho estaremos

criando uma pilha de corrosão eletroquímica, pois parte da armadura continuará contendo

produtos da corrosão, e esta parte atuará como ânodo e a parte recuperada como cátodo, fazendo

com que o processo corrosivo torne-se mais acelerado.

b) Limpeza das armaduras

Todo o produto da corrosão que esteja aderido à armadura deve ser removido através de

lixamento ou escovação. Sempre que houver uma redução de seção transversal da armadura

superior a 15% deve-se executar um reforço estrutural, colocando-se novas barras de aço para

repor a área de armadura necessária.

Após a limpeza das armaduras pode-se fazer uma pintura de proteção. Existem estudos deste

procedimento, no entanto sem resultados definitivos sobre sua eficiência e compatibilidade com

o concreto.

c) Reconstituição do concreto

Para realizar a reconstituição da seção transversal da peça deve-se aplicar uma ponte de

aderência entre o concreto velho e o novo e fazer a reconstituição da seção utilizando-se um

concreto adequado, graute ou argamassa à base de epóxi ou polimérica.

O material utilizado para reparo deve restaurar o meio alcalino que proporciona a passivação

das armaduras e fazer uma proteção física ao aço, assim sendo, não pode sofrer retração.

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130

9.6 – ALVENARIAS E REVESTIMENTOS

Segundo Thomaz (2001), as alvenarias são os elementos de uma obra mais susceptíveis ao

aparecimento de fissuras, assim sendo, a recuperação de alvenarias é muito freqüente, e o processo

de reparo está condicionado à movimentação da fissura.

Uma fissura bastante comum ocorre na interface alvenaria/pilar devido à diferença dos coeficientes

de dilatação térmica dos materiais. A recuperação desta fissura pode ser feita com o emprego de um

material flexível entre estes elementos, ou pelo emprego de uma tela metálica na argamassa de

revestimento.

Em paredes longas onde aparecem fissuras verticais em um ou mais pontos da parede, deve-se criar

juntas de movimentação nos locais onde ocorreram as fissuras. Já para a recuperação de fissuras

originárias de movimentação higrotérmica, pode-se utilizar uma tela metálica ou uma bandagem

que permita a dessolidarização entre o revestimento e a alvenaria.

Page 131: PATOLOGIA, RECUPERAÇÃO E REFORÇO DE ESTRUTURAS DE …

131

As fissuras ativas devem ser recuperadas com o uso de material flexível (poliuretano, silicone, etc).

Para a aplicação, abre-se um sulco de 20mm x 10mm em forma de “V” sobre a fissura, limpa-se o

local e, após completamente seco, aplica-se o selante.

Nos cantos de portas e janelas, junto das vergas e contra-vergas, pode ser necessário aumentar o

comprimento destas peças ou, caso elas não existam, deve-se executá-las. Nos pontos de passagem

de eletrodutos ou tubulações ocorre um enfraquecimento da alvenaria, podendo surgir fissuras.

Nestes locais, recupera-se a alvenaria com o uso de telas metálicas.

Nas fissuras provenientes de deformações térmicas entre o concreto e a alvenaria, recomenda-se

soltar a alvenaria da estrutura com o uso de material flexível na interface destes elementos.

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132

10 – ANÁLISE DE REFORÇO ESTRUTURAL

10.1 – DETERMINAÇÃO DA RESISTÊNCIA RESUDUAL

Segundo Souza e Ripper (1998), existe pouca bibliografia referente à determinação da resistência

residual de estruturas de concreto, assim como não existem Normas Técnicas específicas sobre

patologias e reforço estrutural.

10.1.1 Resistência residual de peças fletidas

O modelo de análise de uma viga danificada sujeita ao esforço de flexão considera que um trecho

“ld” da armadura está sem aderência ao concreto, seja por corrosão das armaduras ou qualquer outra

causa, como esquematizado na Figura 10.1.

Figura 10.1 – Modelo de viga fletida para determinação da resistência residual

Muitos pesquisadores estudaram este modelo e consideraram como hipóteses básicas que a

armadura está convenientemente ancorada em regiões de concreto são, toda a região danificada está

tracionada, que o concreto tenha um comportamento elástico e que a teoria de Bernoulli é válida.

Na análise da resistência residual também se deve avaliar as condições de equilíbrio e a

compatibilidade de deformações, indicadas nas equações 10.1 a 10.3.

02

0bx

AH cys

(10.1)

MzAM ys0 (10.2)

L L

cs dldl0 0

(10.3)

Page 133: PATOLOGIA, RECUPERAÇÃO E REFORÇO DE ESTRUTURAS DE …

133

O comportamento de uma viga danificada depende do comprimento de armadura sem aderência;

quanto maior este comprimento, maior será a tensão no concreto, podendo ocasionar, inclusive,

uma ruptura frágil por esmagamento do concreto.

Eyre e Nokhasteh, appud Souza e Ripper (1998), desenvolveram estudos que levaram à formulação

de equações algébricas que possibilitam determinar a resistência residual de elementos fletidos. A

Figura 10.2 apresenta alguns gráficos desenvolvidos a partir das equações algébricas.

Figura 10.2 – Curvas capacidade de carga x comprimento danificado

onde P0 é a capacidade de carga do elemento não danificado, P é a capacidade de carga do elemento

danificado, dl é o comprimento danificado adimensional (L

ll d

d ), As é a área de armadura

tracionada, c

y

f

f

3

2 , fy é a tensão de escoamento do aço, fc é a resistência à compressão axial do

concreto e é a taxa de armadura da seção.

Dos estudos realizados por Eyre e Nokhasteh, pode-se concluir:

i) as reduções da capacidade de carga são menores para elementos menos armados;

ii) quanto maior a taxa de armadura, maior será a redução da capacidade de carga;

iii) quanto maior a resistência do concreto, menor será a redução da capacidade de carga.

10.1.2 Resistência residual de peças comprimidas

Os estudos experimentais para a determinação da capacidade de carga de elementos comprimidos

ainda estão em fase de desenvolvimento, no entanto algumas análises podem ser feitas, conforme

descrito em Souza e Ripper (1998).

Page 134: PATOLOGIA, RECUPERAÇÃO E REFORÇO DE ESTRUTURAS DE …

134

Adotando algumas hipóteses simplificadoras é possível escrever a capacidade de carga de um pilar

(carga última) como:

''85,0 ssccdu AfAfP (10.4)

onde fcd é a resistência de cálculo do concreto, Ac é a área de concreto, fs é a tensão na armadura

para um encurtamento de 0,2% e As é a área total de aço.

Quando ocorrem patologias nos pilares deve-se analisar:

i) fissuras no concreto: sempre que surgirem fissuras no concreto superiores a 0,2mm, deve-se

desprezar a região fissurada na determinação da área de concreto, pois ocorre uma redução

substancial na carga última;

ii) corrosão na armadura longitudinal: provoca uma redução na área de aço, que deve ser

recalculada. Se comparada à fissuração no concreto, gera menores perdas na carga última;

iii) corrosão no estribo: produz efeitos sérios sobre a estrutura, pois os estribos conferem um

confinamento ao concreto, combatendo o efeito de Poisson e reduzindo as tensões biaxiais no

concreto, além de combaterem a flambagem da armadura longitudinal.

10.2 – REFORÇO COM CHAPAS COLADAS

10.2.1 Introdução

Esta técnica de reforço, aparentemente simples, consiste em fazer a união de uma chapa metálica ao

concreto, de modo que estes elementos trabalhem juntos, ocorrendo uma correta transmissão dos

esforços. Esta união geralmente é feita com resina epóxi com formulação adequada ou por

chumbamento, como mostra a Figura 10.3.

Figura 10.3 – Reforço com chapas coladas.

Page 135: PATOLOGIA, RECUPERAÇÃO E REFORÇO DE ESTRUTURAS DE …

135

Neste sistema de reforço, a adesão entre o concreto e o aço é extremamente importante para o

funcionamento do sistema, sendo que os fatores que afetam esta adesão são:

- a qualidade do adesivo;

- o estado da superfície dos dois materiais;

- as propriedades dos materiais.

Numa peça sujeita à flexão reforçada com chapas de aço, devido ao momento fletor, aparecem

tensões tangenciais no elemento de união entre o concreto e o aço (normalmente a resina epóxi).

Assim sendo, os adesivos utilizados devem possuir uma grande resistência à tração, que, entre

outros fatores, é fortemente influenciada pela espessura da camada de resina. A Figura 10.4

apresenta o efeito da espessura da resina epóxi em sua resistência à tração.

Figura 10.4 – Influência da camada de resina na sua resistência à tração.

Para o bom funcionamento deste sistema de reforço é necessária uma preparação prévia das

superfícies a serem unidas. Estas superfícies devem ser planas, limpas, secas e ligeiramente rugosas,

porém esta rugosidade deve ser pequena para evitar a formação de bolhas na resina e para não

aumentar a espessura da camada de resina.

10.2.2 Dimensionamento do reforço

Os estudos de dimensionamento de reforço estrutural com chapas coladas começaram a ser

desenvolvidos em 1971 por L’Hermite e J. Bresson. Este sistema apresenta como vantagens o

aumento da capacidade resistente sem alteração significativa da seção transversal. Por outro lado

obtém-se um aumento da rigidez.

Page 136: PATOLOGIA, RECUPERAÇÃO E REFORÇO DE ESTRUTURAS DE …

136

Os métodos de dimensionamento seguem as recomendações do CEB, que especifica:

- a espessura da camada de cola não deve exceder 1,5mm;

- a espessura da chapa não deve exceder a 3mm;

- a capacidade resistente após o reforço não pode ser superior a 1,5 vezes a capacidade

resistente inicial.

Flexão

Souza e Ripper (1998) apresentam diversos métodos de dimensionamento de reforços com chapas

metálicas para a flexão. Estes métodos consistem na determinação da área da seção transversal de

chapa de reforço. Os métodos apresentados pelos autores são: Método de Bresson (1971), Método

de Cánovas (1988), Método de Van Gemert (1991), Método de Ziraba (1995), Método de

Campagnolo (1995) e Método de Silveira e Souza (1997).

O Método de Bresson considera que o reforço deve ser dimensionado de modo que a viga

permaneça no Estádio II e o momento fletor solicitante é composto por duas partes, uma referente

às cargas permanentes e outra devido às sobrecargas.

O Método de Van Gemert é um estudo bastante recente e apresenta diferenças no dimensionamento

à flexão para lajes, vigas retangulares e vigas “T”. Este método considera a distribuição de tensões

na viga composta e o diagrama tensãoxdeformação não é linear.

Ziraba desenvolveu um método baseado nos estados limites últimos de flexão, cisalhamento,

deslocamentos e arrancamento do concreto de cobrimento.

Campagnolo desenvolveu um método que considera a viga trabalhando no Estádio II e a chapa de

reforço estando no limite de sua capacidade resistente.

O método desenvolvido por Silveira e Souza considera a viga fissurada abaixo da linha neutra, que

as seções permanecem planas após a deformação, os materiais têm comportamento linear, que não

ocorre deslizamento da armadura e da chapa e que a espessura da chapa é desprezível, condições

que caracterizam o Estádio II.

Neste trabalho será descrito o Método de Cánovas devido à sua simplicidade e por ser largamente

difundido. Este método divide o momento fletor atuante em duas parcelas, uma devida à carga

Page 137: PATOLOGIA, RECUPERAÇÃO E REFORÇO DE ESTRUTURAS DE …

137

permanente (Mp) e outra devida à sobrecarga (Ms), além disso, considera o dimensionamento no

Estádio III. A Figura 10.5 apresenta o estado de tensões e deformações desenvolvido no Método de

Cánovas.

Figura 10.5 – Estado de tensões e deformações desenvolvidas no Método de Cánovas.

No dimensionamento deve-se verificar se as tensões atuantes no concreto, na armadura e na chapa

de reforço são inferiores à capacidade resistente dos materiais, ou seja:

c

ckcscp

f

(10.5)

s

yk

sssp

f

(10.6)

s

yrs

srs

f

(10.7)

A tensão na armadura, após o reforço, é dada por:

Az

M p

sp

1

(10.8)

Considerando-se que o momento fletor total atuante (Mp+Ms) levou ao estado limite último, a

tensão no reforço será:

spydsrs f (10.9)

Fazendo o equilíbrio para o momento fletor Ms, tem-se:

ssrsrssrsrsss zAAzAAM (10.10)

Isolando a área da chapa de reforço:

Az

MA

srss

sr

(10.11)

Page 138: PATOLOGIA, RECUPERAÇÃO E REFORÇO DE ESTRUTURAS DE …

138

Cisalhamento

Os estudos para reforço de vigas com chapas metálicas para resistir a esforços cortantes foram

realizados por Van Gemert (1986), existindo, também, orientações de Cánovas.

O Método de Van Gemert recomenda que o reforço seja calculado da mesma forma como são

calculados os estribos e que a chapa de reforço seja em forma de “L” com uma aba de apoio de

100mm. Cánovas recomenda que o dimensionamento seja efetuado do modo análogo à alma de

uma viga metálica, além de recomendar a forma em “L” e uma largura máxima de 300mm. As

Figuras 10.6 e 10.7 ilustram estas recomendações.

Figura 10.6 – Esquema de reforço ao cisalhamento segundo Van Gemert

Figura 10.7 – Esquema de reforço ao cisalhamento segundo Cánovas.

10.3 – REFORÇO COM PERFIS METÁLICOS

10.3.1 Introdução

O reforço de estruturas utilizando perfis laminados é uma técnica bastante antiga, acreditando-se

que foi o primeiro método de reforço utilizado. A utilização dos perfis para a execução de reforço

deve ser cuidadosa, pois o elemento metálico estará trabalhando em condições diferentes para as

quais foi concebido.

Page 139: PATOLOGIA, RECUPERAÇÃO E REFORÇO DE ESTRUTURAS DE …

139

10.3.2 Reforço de pilares

Normalmente os pilares são reforçados por cantoneiras, nos quatro cantos, as quais são unidas entre

si, lateralmente, através de chapas soldadas, e executa-se um capitel e uma base metálica nas

extremidades. A Figura 10.8 apresenta uma ilustração deste sistema.

Figura 10.8 – Reforço de pilares com perfis metálicos

Para que o reforço trabalhe de forma adequada faz-se necessário descarregar o pilar e executar a

perfeita união do capitel e da base às lajes e fundações. Ao se efetuar o reforço de um pilar em um

determinado pavimento, este deve ser executado até às fundações, fazendo a união entre os reforços

dos diversos pavimentos. No caso de lajes planas, não se deve furá-las, neste caso deve-se analisar a

transmissão dos esforços entre a base e o capitel, verificando seu efeito sobre o concreto. A Figura

10.9 ilustra a união entre reforços de diferentes pavimentos.

Figura 10.9 – União entre reforços com perfis metálicos

Page 140: PATOLOGIA, RECUPERAÇÃO E REFORÇO DE ESTRUTURAS DE …

140

Cánovas (1988) recomenda que a seção de aço do reforço seja capaz de resistir à totalidade da carga

do pilar. Já Souza e Ripper (1998) acreditam que este procedimento é muito conservador.

10.3.3 Reforço de vigas

Para que este reforço trabalhe de forma adequada faz-se necessário descarregar a viga antes do

início dos trabalhos. Os perfis de reforço podem ser fixados à estrutura por meio de chumbadores,

situação na qual a viga é calculada como viga mista e o chumbador dimensionado ao corte puro.

Outro sistema de fixação é utilizar resina epóxi juntamente com chumbadores, cuja diferença no

dimensionamento é que parte do esforço de corte será resistido pela resina. A Figura 10.10

exemplifica os sistemas de fixação.

Figura 10.10 – Sistemas de fixação de perfis metálicos como reforço em vigas

Na execução deste sistema de reforço deve-se cuidar para que haja uma perfeita aderência entre o

concreto e o perfil laminado, pois, caso contrário, o reforço trabalhará de forma independente, não

desempenhando sua função de forma eficaz.

10.4 – REFORÇO COM CONCRETO ARMADO

10.4.1 Introdução

O reforço de peças de estruturais utilizando concreto armado exige um detalhamento minucioso,

principalmente no que diz respeito ao cobrimento das armaduras, espaçamento, ancoragens,

emendas e dobramento das barras. A armadura utilizada deve ser perfeitamente limpa para melhorar

as condições de aderência.

Quando ocorre corrosão de armadura, sempre que a redução de seção for de 15% ou mais, faz-se

necessário reconstituir a seção de aço, devendo-se considerar a seção total de aço da peça, conforme

mostrado na Figura 10.11.

Page 141: PATOLOGIA, RECUPERAÇÃO E REFORÇO DE ESTRUTURAS DE …

141

Figura 10.11 – Reconstituição da seção de aço

Na avaliação de estribos e lajes, que são calculados por faixas, deve-se atentar para o espaçamento

máximo das barras. E no caso de pilares deve-se cuidar com a simetria das barras.

10.4.2 Reforço de pilares

Souza e Ripper (1998) aconselham que o reforço de pilares seja feito através de cintamento com

aumento da seção transversal e considerando a capacidade de carga do pilar existente contribuindo

para a absorção dos esforços. Cánovas (1988), além do cintamento, também considera o aumento

simples da seção transversal com nova armadura, mas neste caso, o reforço deve ser capaz de

resistir à totalidade do carregamento vertical. A Figura 10.12 exemplifica os sistemas de reforço.

Figura 10.12 – Reforço em pilares utilizando concreto armado

Segundo Cánovas (1988), o reforço por cintamento é mais racional, pois aumenta a carga de ruptura

do pilar original devido à geração de um estado triaxial de tensões, induzido pelo cintamento. Com

isto, considera-se a colaboração do concreto do pilar original para resistir aos esforços solicitantes,

diminuindo a seção transversal do reforço em comparação com o simples aumento da seção

transversal.

Page 142: PATOLOGIA, RECUPERAÇÃO E REFORÇO DE ESTRUTURAS DE …

142

O cintamento consiste em envolver o pilar com um estribo contínuo, de forma helicoidal, cujo passo

(t) deve satisfazer às seguintes condições:

cmt

cm

a

t 3

8

8

5

(10.12)

onde a é o diâmetro do núcleo de concreto e é o diâmetro da barra longitudinal. As pontas das

armaduras de cintamento devem ser fixadas no concreto do pilar.

10.4.3 Reforço de vigas

Existem diversas formas de se realizar o reforço de uma viga utilizando o concreto armado. Os

reforços podem ser para aumentar sua resistência à flexão ou ao cisalhamento. Souza e Ripper

(1998) apresentam um método de aumento da altura da viga realizando uma concretagem na parte

superior da viga, podendo-se ou não utilizar armadura de reforço. Porém, nem sempre este

procedimento é viável, e é válido para o aumento da resistência à flexão. A Figura 10.13 mostra este

sistema de reforço.

Figura 10.13 – Reforço de vigas com aumento de seção na parte superior.

Cánovas (1988) apresenta diversos métodos para o aumento da resistência à flexão de vigas. Um

método consiste em soldar estribos novos aos estribos existentes, na parte inferior da viga, e

adicionar uma armadura de flexão, executando-se a concretagem, conseqüentemente ocorre um

aumento da seção transversal a viga. A Figura 10.14 ilustra este procedimento.

Figura 10.14 – Reforço de vigas com aumento de seção na parte inferior.

Page 143: PATOLOGIA, RECUPERAÇÃO E REFORÇO DE ESTRUTURAS DE …

143

Outro método consiste em abrir sulcos na viga existente e inserir a armadura de reforço, sem

aumentar a seção transversal da viga, conforme mostrado na Figura 10.15.

Figura 10.15 – Inserção de barras de reforço sem aumento de seção transversal.

O método que me parece mais aconselhável consiste na colocação de novos estribos envolvendo a

viga existente e ancorados na própria viga ou na parte superior da laje. Então se adiciona a

armadura de reforço à flexão e executa-se a concretagem, aumentando a seção transversal da viga,

como ilustrado na Figura 10.16.

Figura 10.16 – Reforço de vigas com aumento de seção e nova armadura.

Em todos os casos, para a execução do reforço, deve-se apicoar o concreto existente, limpar a

superfície, aplicar uma ponte de aderência e refazer a seção transversal.

Para o reforço de vigas devido à força cortante, deve-se apicoar as laterais da viga, efetuar a

limpeza, colocar novos estribos intermediários de reforço, aplicar uma ponte de aderência e

reconstituir a seção.

10.5 – REFORÇO COM CONCRETO PROTENDIDO

A protensão consiste em induzir um estado de tensões conhecido em um elemento estrutural, e no

caso do reforço estrutural, utiliza-se o sistema chamado de pós-tensão sem aderência. As principais

vantagens da utilização do reforço por protensão são:

Page 144: PATOLOGIA, RECUPERAÇÃO E REFORÇO DE ESTRUTURAS DE …

144

- a possibilidade de reaplicar carga para compensar eventuais perdas de protensão ou

aumento de solicitação;

- utilizar a capacidade total da estrutura.

O sistema de protensão sem aderência utiliza os chamados cabos engraxados, ou monocordalhas

engraxadas. Os cabos de protensão são isolados com uma capa plástica de polietileno que serve

de bainha, além de uma camada de graxa de alta densidade que se interpõem entre o cabo e a

capa, propiciando uma proteção permanente contra a corrosão. A Figura 10.17 mostra a foto de

um rolo de cabo engraxado.

Figura 10.17 – Cabo engraxado.

Neste sistema de reforço deve ser dada uma atenção especial às ancoragens, pois toda a eficiência

do sistema reside no perfeito funcionamento das mesmas, visto que sua falha implica na falha de

todo o sistema de reforço. Conseqüentemente, o dimensionamento e o detalhamento do sistema

deve ser estudado caso a caso, buscando-se, na medida do possível, que o traçado do cabo

reproduza o antifunicular das cargas.

O traçado dos cabos é de fundamental importância para a configuração final de esforços numa peça

de concreto protendido. Uma vez que o objetivo primário da protensão é atuar em sentido oposto

aos esforços produzidos pelo carregamento externo, o traçado dos cabos deve ser projetado em

função das cargas atuantes na peça de forma a satisfazer os requisitos construtivos de cada projeto.

A Figura 10.18 ilustra o traçado de um cabo de protensão.

Figura 10.18 – Traçado de cabo aproximando-se do antifunicular de cargas

Page 145: PATOLOGIA, RECUPERAÇÃO E REFORÇO DE ESTRUTURAS DE …

145

Muitas vezes, faz-se necessário perfurar outros elementos para a passagem dos cabos ou execução

da ancoragem. Nestes casos, deve-se fazer uma análise estrutural da viabilidade de executar os furos

e, no caso de ancoragens, verificar se o elemento resiste aos esforços que serão induzidos nestes

pontos.

Durante as operações de protensão, muitos cuidados são necessários, tanto para a segurança dos

operários quanto do sistema de protensão. Alguns desses cuidados são:

Durante o processo de descarga tenha cuidado para não danificar a bainha plástica. É

recomendado o uso de correia de nylon durante a descarga e manuseio dos materiais. Não use

correntes ou ganchos para descarregar os cabos, pois isso pode resultar em danos severos aos

mesmos.

O processo de descarga deve ser efetuado tão próximo quanto possível da área de

armazenamento para evitar manuseio excessivo dos materiais. Múltiplas movimentações de

estoque aumentam a possibilidade de danificar a bainha plástica e outros componentes do

sistema.

Todos os cabos devem ser estocados em uma área seca sobre um estrado para mantê-los

isolados do solo. Quando usadas lonas para proteção dos cabos, elas devem ser colocadas

formando uma tenda para permitir a livre circulação do ar por entre cabos enrolados para evitar

a corrosão em conseqüência da condensação que se forma embaixo da lona. Quando o

armazenamento por um longo prazo é necessário, os cabos devem ser protegidos da exposição

à luz do sol.

As cunhas e as ancoragens devem ser estocadas em uma área limpa e seca e identificadas por

pavimento e/ou seqüência de concretagem. Esses materiais somente devem ser usados na

concretagem programada para elas.

O macaco e o manômetro da bomba não podem ser separados. Ambos são calibrados como se

fossem um só equipamento.

Page 146: PATOLOGIA, RECUPERAÇÃO E REFORÇO DE ESTRUTURAS DE …

146

Confira imediatamente os registros de calibração do macaco. Localize no manômetro da bomba

e no macaco o número correspondente ao registro de calibração. Macacos e manômetros das

bombas devem ser calibrados antes de remetidos à obra.

Guarde o equipamento de protensão em um lugar seguro, limpo e seco e permita que o acesso

aos equipamentos seja feito apenas por pessoal treinado e qualificado.

Uma área apropriada deve ser liberada ou um andaime seguro erguido para os trabalhadores

que vão executar a protensão. Os inspetores devem estar no canteiro de obras. A medição dos

alongamentos e a protensão são feitas simultaneamente.

De maneira alguma a posição da placa de ancoragem deve ser alterada verticalmente, a não ser

que autorizada pelo engenheiro responsável. Desvios horizontais das placas de ancoragem

podem ser aceitos desde que seja mantido o cobrimento adequado de concreto e o engenheiro

seja notificado da mudança.

Os cabos devem sempre ser colocados perpendicularmente às placas de ancoragem, caso

contrário poderá resultar em alongamento baixo, rompimento dos fios da cordoalha,

rompimento do cabo ou assentamento impróprio das cunhas.

Precauções especiais de segurança devem ser tomadas durante o uso do equipamento de

protensão:

- Posicione-se ao lado do equipamento

- Não permita que alguém permaneça à frente ou atrás do macaco hidráulico

O alongamento medido deve ser de +/- 7% dos valores mostrados nos desenhos de montagem. A

medição do alongamento deve ter uma precisão de +/- 3 mm. Se houver discrepâncias que

excedam a 7% de tolerância, NÃO PROTENDA MAIS qualquer cabo até que o problema seja

identificado e corrigido. Um registro da pressão do manômetro, da força do macaco e do

alongamento medido deve ser mantido para cada cabo. Submeta os registros completos da

protensão ao engenheiro para aprovação antes do corte das pontas dos cabos.

Page 147: PATOLOGIA, RECUPERAÇÃO E REFORÇO DE ESTRUTURAS DE …

147

10.6 – REFORÇO COM FIBRAS DE CARBONO

10.6.1 Introdução

Segundo Machado (2002), os sistemas compósitos estruturados com fibras de carbono podem ser

utilizados com segurança para:

- reabilitar elementos estruturais de concreto armado danificados por patologias;

- reforçar elementos estruturais em boas condições.

Para a utilização dos compósitos com fibras de carbono no reforço estrutural, deve-se avaliar a

capacidade resistente do elemento a ser reforçado, para então dimensionar o reforço e definir o

sistema de aplicação.

Algumas das aplicações das fibras de carbono são:

a) Reforço de vigas à flexão e cisalhamento

b) Reforço de lajes à flexão;

c) Reforço de pilares.

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148

10.6.2 Materiais e Propriedades

a) Resinas

Existe uma grande variedade de resinas utilizadas na confecção de compósitos, podendo ser à

base de epóxi, ésteres de vinil e poliésteres, formuladas para serem facilmente manuseadas e

aplicadas. As principais características das resinas são:

- compatibilidade com o substrato;

- elevada resistência de colagem;

- resistência a agentes agressivos;

- capacidade de preenchimento de vazios;

- compatibilidade e aderência com a fibra;

- etc.

As principais resinas utilizadas são:

a.1) Imprimadores primários – são utilizados para penetrar no substrato do concreto para

permitir a construção de uma ponte de aderência para outras resinas.

a.2) Reguladores de superfície – são utilizados para o preenchimento de vazios ou correções de

imperfeições superficiais.

a.3) Resinas de saturação – são utilizadas para a impregnação das fibras que constituem o

reforço, fixando-as no local e garantindo um meio efetivo de transferência de tensões de

cisalhamento entre elas.

a.4) Adesivos – são utilizados para a colagem de sistemas compósitos pré-impregnados ao

substrato de concreto. Efetuam a transferência de tensões de cisalhamento entre o substrato e o

laminado.

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149

a.5) Revestimentos protetores – são utilizados para proteger a superfície colada de efeitos

danosos produzidos pelo ambiente.

b) Fibras

As fibras de aramída, vidro e carbono são as mais utilizadas nos sistemas de compósitos para

reforço estrutural e têm função primordial no compósito. A Figura 10.19 apresenta o diagrama

tensãoxdeformação de algumas fibras utilizadas na construção civil.

Figura 10.19 – Diagrama tensão x deformação de fibras.

Os sistemas compósitos com fibras de carbono comerciais apresentam as seguintes

características:

- alta resistência mecânica;

- resistência a ataques químicos;

- não são afetados pela corrosão;

- estabilidade térmica e reológica;

- bom comportamento à fadiga.

As principais propriedades das fibras de carbono são:

b.1) Peso específico – varia de 1,6 a 1,9 g/cm3.

b.2) Coeficiente de dilatação térmica – varia conforme a direção, tipo de fibra, resina e volume

de fibra no composto.

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150

b.3) Efeito de altas temperaturas – existe uma temperatura, chamada Temperatura Vítrea, para a

qual a resina começa a amolecer, diminuindo o módulo de elasticidade e provocando uma perda

de resistência do compósito. Esta temperatura situa-se na faixa de 80oC a 100

oC.

b.4) Características mecânicas – ver Tabela 10.1.

Tabela 10.1 – Propriedades mecânicas das fibras de carbono (Machado, 2002)

Tipo de Fibra de

Carbono

Módulo de Elasticidade

(GPa)

Resistência Máxima de

Tração (MPa)

Deformação de Ruptura

(%)

De uso geral 220 – 235 < 3790 >1,2

Alta resistência 220 – 235 3790 – 4825 > 1,4

Ultra-alta resistência 220 – 235 4825 – 6200 > 1,5

Alto módulo 345 – 515 > 3100 > 0,5

Ultra alto módulo 515 – 690 > 2410 > 0,2

10.6.3 Processo Construtivo

Este sistema de reforço é aderido à superfície externa do elemento estrutural, assim sendo, para que

seu desempenho seja adequado, a superfície deve estar íntegra, para transferir, de forma eficiente,

os esforços para o compósito. No caso da existência de corrosão de armaduras, estas devem ser

recuperadas de forma adequada, e no caso de fissuras deve-se fazer a injeção para recuperar o

monolitismo do elemento estrutural.

O preparo da superfície a receber o reforço deve ser adequado ao sistema utilizado, que pode ser:

a) Condição Crítica de Colagem

Condição utilizada para reforço de flexão e cisalhamento. Neste sistema deve-se fazer a limpeza

do substrato com jato de água, regularizar a superfície, arredondar os cantos, se necessário,

secar a superfície e efetuar uma limpeza final.

b) Condição de Contato Íntimo

Utilizado para o cintamento de pilares. Neste sistema as superfícies devem ser perfeitamente

planas, caso não sejam deve-se efetuar um lixamento ou um preenchimento, conforme o caso.

A aplicação do sistema compósito de fibras de carbono envolve as seguintes etapas:

Page 151: PATOLOGIA, RECUPERAÇÃO E REFORÇO DE ESTRUTURAS DE …

151

a) Aplicação do imprimador primário

b) Aplicação do regularizador de superfície

c) Colocação das fibras de carbono

Esta etapa é constituída por:

- Corte da fibra de carbono

- Imprimação da fibra de carbono com a resina de saturação

i. em bancada

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152

ii. da superfície

- Colocação da lâmina

- Retirada das bolhas de ar

- Segunda camada de imprimação

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153

d) Revestimento protetor

10.7 – REFORÇO DE FUNDAÇÕES

10.7.1 Introdução

As fundações são os elementos estruturais responsáveis por transmitir as cargas das estruturas para

o solo, estando, normalmente, enterradas. A inspeção nestes elementos é dificultada devido à falta

de acesso, desta forma, as patologias serão detectadas após sua manifestação sobre a obra.

Os trabalhos de recuperação e reforço são perigosos, delicados e de custo elevado, causando

transtorno aos usuários da edificação. Os problemas podem ser originados por um aumento de carga

sobre a estrutura, instabilidade das fundações, alterações no solo ou devido a ações químicas.

10.7.2 Defeitos nas fundações

Fundações inadequadas: Este problema é devido à mudança de utilização da estrutura, que

proporciona um aumento de carga, devido à escolha errada do tipo de fundação ou ainda devido a

uma avaliação equivocada da capacidade de carga do terreno.

Mudança das condições do terreno: O principal fator que altera as propriedades do terreno é o teor

de umidade, que é facilmente modificado pela variação do nível do lençol freático.

10.7.3 Conceito de reforço de fundação

O reforço de fundação consiste nas operações efetuadas na intervenção do sistema solo-infra-

estrutura de modo a melhorar seu desempenho. A intervenção pode ser executada no solo ou na

infra-estrutura.

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154

As patologias das fundações se manifestam nas próprias fundações através da deterioração dos

materiais ou na obra através de recalques e desaprumos. Os danos causados por estas patologias

podem ser arquitetônicos, funcionais ou estruturais. Os danos arquitetônicos são apenas estéticos;

os funcionais prejudicam o funcionamento de outros sistemas construtivos e os estruturais ameaçam

a integridade da obra, exigindo intervenção.

Para realizar um correto diagnóstico para este tipo de patologia faz-se necessário inventariar todos

os danos ocorridos, novos ensaios geotécnicos e instrumentar a obra. Gotlieb (1998) classifica os

reforços de fundação em três tipos:

- Reforço permanente;

- Reforço provisório;

- Substituição de fundações;

- Escoramentos.

10.7.4 Tipos de soluções

A primeira atividade a se realizar em um serviço de reforço de fundação consiste no alívio de carga

da peça que sofrerá a intervenção. Existem diversas formas de realizar esta operação. A Figura

10.20 ilustra um exemplo.

Figura 10.20 – Escoramento com pontaletes verticais

As principais soluções apresentadas por Gotlieb (1998) são:

- Reparo ou reforço dos materiais:

Consiste na substituição dos materiais de fundação que sofreram algum tipo de deterioração.

- Enrijecimento da estrutura:

Este reforço é obtido através da execução de uma viga de rigidez ou de elementos de

travamento estrutural. É utilizado para minimizar os efeitos devido a recalques diferenciais,

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155

pois auxilia na redistribuição dos esforços. A Figura 10.21 mostra um sistema de

enrijecimento de uma estrutura.

Figura 10.21 – Enrijecimento estrutural

- Aumento da área de apoio:

É utilizado em sapatas e tubulões e consiste no aumento da superfície horizontal do

elemento de fundação, que está em contato com o solo, diminuindo, desse modo, a tensão

atuante no solo. A Figura 10.22 apresenta um esquema de reforço de tubulão.

Figura 10.22 – Aumento de área de contato de um tubulão

- Estacas prensadas:

Constituí-se na instalação de pequenos elementos de estacas superpostos uns aos outros,

cravados por meio de um macaco hidráulico. Também São chamadas de estacas Mega,

conforme exemplificado na Figura 10.23.

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156

Figura 10.23 – Exemplo de execução de uma estaca Mega.

- Estacas injetadas:

São executadas por perfuração do solo com circulação de água e injeção de concreto.

Também são chamadas de estaca-raiz ou micro-estacas, mostradas na Figura 10.24.

Figura 10.24 - Reforço com estaca-raiz

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157

- Consolidação do solo:

Constitui os métodos de aumento da capacidade de carga do solo através da injeção de pasta

de cimento, “jet grouting” ou produtos químicos. A injeção deve atingir uma profundidade

superior à região afetada pelo bulbo de pressões do solo. O processo de injeção consiste em

preencher os espaços vazios do solo, assim sendo, não deve ser utilizado em argilas.

10.7.5 Escolha do tipo de reforço

Ao se escolher o tipo de reforço a ser utilizado, deve-se considerar aspectos técnicos, econômicos e

de segurança, além da experiência do profissional. Entre os aspectos técnicos, deve-se analisar a

compatibilidade entre solo, reforço e estrutura, a eficiência do reforço e a resposta da estrutura.

Economicamente, deve-se estudar a relação custoxbenefício do reforço, e não o custo isolado da

execução do reforço, conseqüentemente, deve-se estudar mais de uma solução para o problema,

desde que tecnicamente viável. No critério de segurança, deve-se considerar a segurança da equipe

de trabalho, da estrutura durante as operações de reforço e após a realização do reforço.

Após a execução do reforço, deve-se garantir dois aspectos:

- a continuidade estrutural da peça reforçada;

- a transferência de carga entre as peças.

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