Patologias Raqui-Medulares

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Página 1 de 21 Temas da Aula Revisão Anatomo-Fisiológica 2 Neuroimagiologia da Coluna Vertebral 5 Radiografia Simples (RX) 5 Ressonância Magnética (RM) 5 Tomografia Axial Computorizada (TAC) 6 Mielo-TAC 6 Mielografia 6 Cintigrafia 7 Patologias Raqui-Medulares 8 Lesões Traumáticas 9 Lesões Congénitas 10 Lesões Degenerativas 12 Lesões Tumorais 16 Lesões Infecciosas 18 Doenças Neurológicas e Sistémicas 20 Doenças Vasculares 21 Bibliografia Anotada correspondente de 2006/2007, Vanda Estríbio Anotadas do 4º Ano – 2007/08 Data: 8 de Outubro de 2007 Disciplina: Neurologia Prof.: A. Almeida Tema do Seminário: Patologias Raqui-Medulares Autor: Vanda Estríbio Equipa Revisora: Carlos Vila Nova e Pedro Freitas

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Seminário sobre patologia raqui medular

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Temas da Aula

Revisão Anatomo-Fisiológica 2

Neuroimagiologia da Coluna Vertebral 5

Radiografia Simples (RX) 5

Ressonância Magnética (RM) 5

Tomografia Axial Computorizada (TAC) 6

Mielo-TAC 6

Mielografia 6

Cintigrafia 7

Patologias Raqui-Medulares 8

Lesões Traumáticas 9

Lesões Congénitas 10

Lesões Degenerativas 12

Lesões Tumorais 16

Lesões Infecciosas 18

Doenças Neurológicas e Sistémicas 20

Doenças Vasculares 21

Bibliografia

� Anotada correspondente de 2006/2007, Vanda Estríbio

Anotadas do 4º Ano – 2007/08 Data: 8 de Outubro de 2007

Disciplina: Neurologia Prof.: A. Almeida

Tema do Seminário: Patologias Raqui-Medulares

Autor: Vanda Estríbio

Equipa Revisora: Carlos Vila Nova e Pedro Freitas

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Revisão Anatomo-Fisiológica

A medula espinhal (fig.1) é a porção

do SNC contida no canal raquidiano, que é

formado pelos buracos vertebrais das

vértebras que compõem a coluna vertebral

(ou ráquis).

As vértebras estão articuladas entre si

através das apófises articulares, dos

discos intervertebrais (constituídos por um

núcleo pulposo central e um anel fibroso

periférico; funcionam como amortecedores) e

de uniões ligamentares, sendo que o canal

raquidiano segue as diferentes curvaturas da

coluna e possui um tamanho adequado ao

diâmetro da medula espinhal, protegendo-a.

A medula espinhal tem como limites:

• limite superior – plano horizontal que passa pelo bordo superior do

arco posterior do atlas e a meio do arco anterior deste osso;

• limite inferior – bordo inferior da primeira vértebra lombar (L1-L2).

Tem a forma dum cordão irregularmente cilíndrico, com:

� Duas dilatações:

• superior ou cervical, relacionada com plexo braquial, estende-se de

C4 a T1,

• inferior ou lombar, relacionada com o plexo lombo-sagrado, vai de

T10 a L1;

� Um estreitamento, inferiormente à dilatação lombar, de forma cónica

com vértice inferior, o cone terminal ou medular.

Ao cone terminal segue-se um prolongamento da pia-máter, o filamento

terminal, que se estende até ao vértice do cóccix.

Fig.1 Esquema do ráquis com a medula espinhal.

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A medula espinhal é formada por substância cinzenta disposta centralmente

(em forma de borboleta), constituída pelos corpos celulares dos neurónios motores,

sensitivos e autonómicos, e envolvida por substância branca (fig.2).

Na substância branca, encontram-se as vias longas que conduzem a

informação nos sentidos ascendente e descendente – destaca-se que nos:

� cordões posteriores correm:

• feixes de Goll e de Burdach (sensibilidade profunda);

� cordões laterais correm:

• feixe espinho-cerebelosos (informação propioceptiva e tónus),

• feixe espinho-talâmico lateral (sensibilidade termo-álgica),

• feixe cortico-espinhal lateral (motilidade voluntária);

� cordões anteriores correm:

• feixe espinho-talâmico anterior (sensibilidade grosseira do tacto e

da pressão),

• feixe cortico-espinhal anterior (motilidade voluntária).

Fig.2 Disposição dos feixes ascendentes e descendentes na medula espinhal.

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As fibras dos cordões posteriores, à medida que vão entrando, empurram as

dos segmentos inferiores para dentro, ao passo que as fibras dos cordões laterais

estão organizadas de modo inverso, ou seja, as fibras dos segmentos inferiores são

mais externas.

A medula espinhal está envolvida por três meninges (da superfície para a

profundidade):

• dura-máter,

• aracnoideia,

• pia-máter.

A medula é vascularizada por uma rede arterial perimedular, contida na pia-

máter, constituída por:

• artérias espinhais anteriores – com origem nas artérias vertebrais;

• artérias espinhais posteriores – com origem nas artérias vertebrais ou

cerebelosas postero-inferiores;

• artérias segmentares – com origem nas artérias vertebrais, intercostais,

lombares e sacradas laterais � destaca-se a artéria de Adamkiewicz, com

origem variável na aorta, responsável pela vascularização dos dois terços

inferiores da medula.

A drenagem venosa é efectuada para seis canais longitudinais tortuosos que

comunicam superiormente com as veias do cérebro e com os seios cavernosos, e

para o plexo da pia-máter, que drena para o plexo intra-raquidiano.

A linfa circula nas bainhas perivasculares, que se abrem no espaço

subaracnoideu.

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Neuroimagiologia da Coluna Vertebral

Existem diversos métodos imagiológicos de estudo do ráquis.

RADIOGRAFIA SIMPLES (RX)

A radiografia simples, um método barato e muito acessível, está indicado no

estudo das curvaturas e da biomecânica, e na primeira aproximação ao

diagnóstico topográfico das lesões traumáticas. Para além disso, é útil na

demonstração de hemivértebra, diastematomielia, espinha bífida, agenesia do

sacro, angioma vertebral, espondilite anquilosante e tumores.

A incidência de perfil é a mais informativa, na maioria das situações.

Não mostra hérnias discais nem a maioria das alterações dos tecidos moles,

pelo que se deve avançar para a RM ou TAC, nestes casos.

RESSONÂNCIA MAGNÉTICA (RM)

A ressonância magnética é o método imagiológico preferencial por ter uma

excelente resolução de contraste, uma capacidade multiplanar e não utilizar

radiação ionizante. Contudo, devido ao seu preço elevado, recorre-se muito à TAC.

A RM é um bom método para evidenciar tumores (hiposinal em T1 e hipersinal

em T2, regra geral) extradurais e intradurais em toda a sua extensão, cavidades

siringomiélicas, medula ancorada, patologia medular que se exprime mais por

alteração de sinal do que por alteração morfológica (esclerose múltipla, mielites,

lesões isquémicas), hematomas intramedulares ou epidurais, malformações

vasculares, malformações de neurulação, de disjunção e de regressão caudal.

Para além disso, é preferível à TAC para avaliar hérnias discais cervicais,

permite diagnosticar espondilodiscites numa fase muito precoce, devido à elevada

sensibilidade à água em T2 (hiperintensa), e é um óptimo meio de diagnóstico

complementar, no que respeita a lesões traumáticas.

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TOMOGRAFIA AXIAL COMPUTORIZADA (TAC)

A tomografia axial computorizada, largamente disponível, é de fácil e rápido

acesso por um custo baixo. Em relação à RM, a TAC tem uma resolução espacial e

distinção entre tecidos moles e osso superiores; no entanto, tem uma resolução de

contraste inferior para tecidos moles.

É suficiente na suspeita de hérnia discal lombar.

MIELO-TAC

A mielo-TAC é uma TAC realizada após a injecção no espaço subaracnoideu

de produto de contraste positivo hidrossolúvel. Permite aumentar muito a

sensibilidade da TAC para definir os contornos da medula espinhal e das raízes. É

um bom recurso quando a RM está contra-indicada e serve também de exame

complementar à RM no estudo de lesões traumáticas do plexo braquial, visto que,

na maioria das vezes, há arrancamento das raízes junto à medula.

MIELOGRAFIA

A mielografia trata-se de um RX após injecção de produto de contraste

(positivo, hidrossolúvel e não iónico) no espaço subaracnoideu, sendo, por isso, um

método invasivo, com potenciais efeitos adversos (meningismo, contracturas

musculares, etc.), não aconselhável em ambulatório.

Permite a definição da medula e das raízes e só é indicada quando a RM

e/ou TAC não podem ser utilizadas.

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Fig.3 Cintigrafia óssea (projecção posterior) com Tecnécio-99m, demonstrando zonas hiperfixantes (seta).

CINTIGRAFIA

A cintigrafia é uma técnica diagnóstica que utiliza uma pequena dose de um

químico radioactivo (isótopo), denominado marcador, para identificar áreas do corpo

onde a radioactividade se acumula preferencialmente. O marcador é administrado

ao doente por via oral ou por via endovenosa e, uma vez dentro do corpo, ele

percorre a corrente sanguínea até ao órgão alvo, emitindo radiação gama, que é

detectada por uma câmara-gama e posteriormente interpretada por um computador,

de forma a obter-se uma imagem do órgão que se está a estudar.

Os locais dos potenciais problemas podem então aparecer como:

• zonas quentes ou hiperfixantes, isto é, zonas onde é emitida maior

quantidade de radiação;

• zonas frias ou hipofixantes, onde a quantidade de radiação emitida é

menor que pelo tecido normal circundante.

Uma das maiores aplicações prende-se

com o estudo do esqueleto (fig.3), sendo que a

cintigrafia permite pesquisar a possível

existência de metástases ósseas de um tumor

primariamente localizado noutra região do corpo,

como a mama ou a próstata. Também permite

detectar tumores com origem nos próprios

ossos, bem como patologias traumáticas

(fracturas), isquémicas e infecciosas

(osteomielite). Nestes casos, a cintigrafia pode

fornecer importantes informações, numa fase

precoce, na qual ainda não há alterações

radiográficas significativas.

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Patologias Raqui-Medulares

A medula espinhal pode ser lesionada de muitas maneiras, produzindo

diversos padrões de sintomas. Estes padrões permitem que o médico possa

determinar a localização (nível) da lesão espinhal.

Em regra geral, as lesões medulares podem provocar:

• alteração da força (lesão dos feixes piramidais), acompanhada por

espasticidade e reflexos tendinosos vivos abaixo do segmento lesado; nas

lesões agudas existe hipotonia e reflexos tendinosos fracos ou abolidos;

• nível de sensibilidade;

• alterações esfincterianas e da esfera sexual;

• dores radiculares.

As patologias raqui-medulares podem ser classificadas em:

� Lesões traumáticas;

� Lesões não-traumáticas:

• lesões congénitas,

• lesões degenerativas,

• lesões tumorais,

• lesões infecciosas,

• doenças neurológicas e sistémicas,

• doenças vasculares.

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LESÕES TRAUMÁTICAS

As lesões traumáticas geralmente são resultado de:

• acidentes de viação;

• ferimentos por armas de fogo;

• quedas em actividades recreativas ou desportivas.

Destas lesões podem resultar os seguintes sindromas medulares:

� Choque Medular – Perda de todas as funções neurológicas abaixo do nível da

lesão medular, o que representa uma interrupção fisiológica e não anatómica

da medula espinhal. Caracteriza-se pela ausência de toda a actividade reflexa,

flacidez, e perda da sensibilidade abaixo do nível da lesão. Pode prolongar-se

até diversas semanas, mas tipicamente resolve-se dentro de 24 horas.

� Lesão Medular Completa – As funções motora e sensitiva estão ausentes

abaixo do nível da lesão.

� Lesão Medular Incompleta – Pode haver alguma função motora ou sensitiva

abaixo do nível da lesão.

� Sindroma Medular Anterior – Lesão incompleta, onde se observa perda dos

movimentos voluntários e sensibilidade dolorosa, com preservação de

sensibilidade táctil e vibratória.

� Sindroma Medular Posterior – Perda de sensibilidade táctil e vibratória.

� Sindroma Central da Medula – Caracteriza-se por paresia, de predomínio

distal dos membros superiores, e anestesia suspensa (predomínio dos

membros superiores e tórax, podendo estar preservada nos membros

inferiores).

� Sindroma de Brown-Séquard – Caracteriza-se por uma hemissecção da

medula, com alterações da motricidade e sensibilidade profunda no mesmo

lado da lesão e da sensibilidade termo-álgica contralateral.

� Sindroma do Cone Medular – Caracteriza-se por paraparesia, hipostesia nos

dermatomas lombares e sagrados, “em sela”, alterações esfincterianas e

atingimento da esfera sexual.

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LESÕES CONGÉNITAS

As lesões congénitas compreendem os defeitos abertos e fechados.

Os defeitos abertos (fig.4), associados à falha do encerramento do canal

vertebral, compreendem:

1. Espinha bífida – deficiência óssea.

2. Meningocelo – cavidade quística preenchida com líquido cefalo-raquidiano

e limitada pelas meninges e/ou pele mas sem tecido nervoso.

3. Mielomeningocelo – protusão da medula espinhal e raízes através do

defeito ósseo para a cavidade quística limitada pelas meninges e/ou pele;

deve proceder-se a um exame neurológico cuidado para determinar o grau

e o nível da lesão neurológica e procurar outras anomalias congénitas

associadas.

Fig.4 Esquemas exemplificativos de espinha bífida (A), meningocelo (B) e mielomeningocelo (C).

A B C

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Os defeitos fechados compreendem:

1. Espessamento do filamento terminal.

2. Lipomeningocelo.

3. Diastematomielia – divisão congénita parcial da medula espinhal,

normalmente ao nível lombar superior.

4. Quistos dermóides e epidermóides.

5. Malformações de Arnold-Chiari – envolvem o deslocamento caudal do

rombencéfalo; existem três tipos primários, sendo o mais simples e

comum o tipo I, no qual as amígdalas cerebelosas se encontram abaixo do

foramen magnum (pode associar-se a siringomielia – cavidade quística

dentro da medula espinhal); os sintomas do tipo I surgem na adolescência

ou na idade adulta; quando se suspeita deste tipo, o método imagiológico

de escolha é a ressonância magnética, devido à sua maior acuidade

(fig.5).

Fig.5 RM T1 sem contraste: Setas marcam as margens do buraco occipital; amígdalas cerebelosas 6,5mm abaixo do foramen magnum.

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LESÕES DEGENERATIVAS

Na infância, o núcleo pulposo dos

discos intervertebrais é formado

predominantemente por água. Com o passar

dos anos, ocorre uma progressiva

desidratação dos núcleos pulposos,

tornando-os predispostos à degeneração e

consequente protusão.

Adicionalmente, devido a traumas

microscópicos recorrentes, instalam-se

progressivamente alterações degenerativas

nos discos intervertebrais, vértebras e suas

articulações (os discos colapsam e produzem

deformação excessiva – degeneração e

hipertrofia – das superfícies articulares

superior e inferior das apófises transversas).

Na protusão discal, o disco pode não ultrapassar o ligamento longitudinal

posterior. Contudo, nas rupturas totais do anel fibroso, a protusão do disco é

completa, designada por hérnia discal (fig.6), que ultrapassa o ligamento

longitudinal posterior e comprime a medula ou uma raiz espinhal.

A maioria das hérnias discais são póstero-laterais, porque o ligamento

longitudinal posterior é três vezes menos espesso que o ligamento longitudinal

anterior, os núcleos pulposos são mais posteriores e as fibras do anel fibroso são

mais finas posteriormente. No entanto, também podem ocorrer hérnias laterais ou

centrais. Assim, pode haver compressão da raiz sensorial, da raiz motora ou de

ambas.

Fig.6 Hérnia discal lombar.

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As radiografias da coluna vertebral podem mostrar esclerose dos planaltos

vertebrais, a redução do espaço do disco intervertebral, presença de gás e

osteofitos1 mas a TAC e a RM são os exames que melhor identificam o problema

(fig.7).

A TAC, na hérnia discal cervical abaixo de C6, não é suficiente para o estudo

de todos os espaços discais, dada a interposição de ombros, em regra de C5-C6

para baixo. Contudo, na suspeita de hérnia lombar, é suficiente na maioria dos

casos.

Na RM, as hérnias discais vêem-se em T1 e em T2 (mostra grau de

compressão e existência de edema medular; discos degenerados com sinal menos

intenso que os discos normais) e devem ser estudadas axial e sagitalmente. Nos

casos em que haja suspeita de hérnia mas com imagens de RM sem contraste

negativas, deve-se proceder a uma RM com contraste paramagnético, pois pode

tratar-se dum tumor.

1 Também conhecidos como "bicos de papagaio", são calcificações dos bordos dos ossos ao nível das inserções das cápsulas e ligamentos. Correspondem ao envelhecimento progressivo das articulações, ou reacções do osso pós-traumatismos de vária ordem.

Fig.7 À esquerda, RX da coluna mostrando osteofitos (setas) e redução dos espaços dos discos intervertebrais; ao centro, TAC com 1) hérnia de disco comprimindo a raiz nervosa e 2) raiz nervosa passando no foramen; à direita, RM, onde A) disco desidratado com hérnia discal a comprimir uma raiz nervosa próxima do canal medular, B) disco sadio, C) medula espinhal, D) apófise espinhosa e 1, 2, 3 e 4) Corpos vertebrais.

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Além das hérnias discais, existem outras lesões degenerativas da coluna que

causam compressão radicular:

� Canal raquidiano lombar estenótico devido à hipertrofia das superfícies

articulares2

Predispõe à compressão lateral de raízes e produz o

sindroma de claudicação intermitente neurogénico

(dor radicular, parestesia ou fraqueza quando o indivíduo

permanece na posição ortostática ou anda, que podem

desaparecer quando ele se senta ou deita). O diagnóstico

é feito recorrendo à TAC; no entanto, a avaliação do canal

vertebral lombar pelo RX simples continua a ser

obrigatória. Neste último método imagiológico, quando se

tem um canal vertebral lombar estenótico, na incidência

simples de frente, os pedículos são espessos e a distância

interpedicular uniforme ou decrescente de cima para

baixo, em vez de aumentar ligeiramente entre L1-L5. Na

incidência simples de perfil, há retroscavação dos corpos

vertebrais, maciços articulares volumosos e buracos de

conjugação estreitos (aspecto em fechadura) – fig.8.

� Espondilolistese

Deslocamento anterior dum corpo

vertebral sobre outro (normalmente L4

ou L5), devido a um defeito degenerativo

ou congénito das superfícies articulares

ou a uma falha ou alongamento da

lâmina, que leva a um estreitamento do

canal raquidiano, podendo, assim,

acentuar os sintomas de compressão de

raízes por protusão do disco ou

hipertrofia da articulação (fig.9).

2 A estenose do canal raquidiano lombar também pode ter causa congénita.

Fig.8 Mielografia de perfil, duma estenose do canal vertebral lombar, onde há 1) retroscavação dos corpos vertebrais e 2) os buracos de conjugação inferiores não têm expressão.

Fig.9 Espondilolistese de L5 sobre S1.

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� Espondilose cervical com mielopatia ou radiculopatia

Com a idade, há degeneração e colapso do disco intervertebral, que leva a

lesão das articulações apofisárias: há instabilidade e hipertrofia, o que origina

crescimentos osteofíticos. Para além disso, o ligamento amarelo tende a espessar,

ocorrendo o estreitamento do canal raquidiano.

A protusão do disco ou os osteófitos podem comprimir a medula espinhal

(mielopatia) e/ou as raízes nervosas adjacentes (radiculopatia). A lesão resultante

da medula espinhal pode dever-se à pressão directa ou a compromisso vascular.

Os métodos de imagem escolhidos para investigação desta patologia são o RX

da coluna cervical (para observar as superfícies articulares, os espaços dos discos

intervertebrais e a formação de osteofitos), e o mielo-TAC3 cervical (para observar

estenose dos buracos de conjugação e a medula espinhal) ou a RM (dá imagens do

tipo da mielografia e é não invasivo) – fig.10.

3 Como se trata dum método invasivo, a maioria dos médicos prefere a RM.

Fig.10 À esquerda, mielografia cervical com mudanças espondilóticas avançadas e múltiplos osteófitos a comprimir a medula espinhal; à direita, RM que mostra a medula espinhal esbatida ao nível de C4-5 e C5-6, ventralmente por espondilose e dorsalmente por hipertrofia ligamentosa.

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LESÕES TUMORAIS

As lesões neoplásicas são habitualmente classificadas e sistematizadas

segundo a sua localização relativamente aos espaços meníngeos e à sua relação

com o parênquima medular.

� Lesões extradurais (55%)

São as mais frequentes e correspondem a processos neoplásicos com ponto

de partida nos elementos ósseos da coluna vertebral e possível extensão epidural.

Englobam os tumores ósseos primitivos e as metastáses (as mais

frequentes, provêm do tumor da mama, pulmão, próstata ou rim).

No RX, a erosão dos pedículos, na grande maioria das vezes, corresponde a

uma vértebra metastática (fig.11).

Fig.11 Sacorradiculografia de frente, que mostra 1) ausência de pedículo direito na vértebra L3, 2) erosão parcial do esquerdo e 3) bloqueio na progressão do contraste.

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� Lesões intradurais extramedulares (40%)

As mais frequentes nos adultos são o neurofibroma e neurinoma (também

apelidados de schwannomas, pois derivam das células de Schwann; ocorrem a

qualquer nível e a grande maioria tem origem numa raiz raquidiana posterior) e o

meningioma (neoplasia derivada da célula aracnoideia, mais comum no sexo

feminino, que surge normalmente na região torácica) – fig.12.

O método de imagem preferido é a RM com constraste. Se a realização deste

não for possível, realiza-se uma mielo-TAC.

� Lesões intradurais intramedulares (5%)

O mais frequente no adulto é o ependimoma,

uma lesão de crescimento lento com origem nas

células de revestimento do canal central da medula,

que causa um alargamento simétrico da medula

espinhal.

Mais uma vez, o método de imagem de escolha

é a RM sem e com contraste (fig.13), sendo que a

mielografia pode ajudar na localização do tumor.

Fig.12 A – RM a mostrar uma massa tumoral com origem na cauda equina (schwannoma). B – RM com contraste, em corte sagital, demonstra uma massa intradural extramedular com ligação à dura-máter (meningioma). C – RM com contraste, em corte axial, mostra uma massa intradural extramedular a comprimir e a deslocar a medula espinhal para a esquerda.

A B C

Fig.13 RM com contraste, corte sagital, demonstra uma massa redonda no cone medular, ao nível de L2, consistente com um ependimoma.

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LESÕES INFECCIOSAS

As espondilodiscites ou espondilites são infecções que atingem o disco

intervertebral e as vértebras contíguas. Tratam-se de uma identidade de difícil

diagnóstico, especialmente na criança, devido à clínica inespecífica e aos sinais

radiológicos tardios. A persistência da vascularização dos pratos vertebrais,

cartilagem hialina e anel fibroso, permite, de certo modo, justificar o aparecimento

desta entidade clínica na infância4. As crianças e os adolescentes estão

predispostos a infecções por traumatismos minor. Estes causam um pequeno

hematoma, obstrução vascular e, finalmente, uma área de necrose avascular. Esta

área é susceptível à inoculação por uma bacteriémia transitória existente. Os

agentes infecciosos atingem os corpos intervertebrais e/ou corpos vertebrais

contíguos, através de segmentos arteriais do plexo vertebral que nutrem os dois

corpos vertebrais, e pela persistência da vascularização discal. As vértebras mais

atingidas são as lombares (45%), seguidas das torácicas (35%).

Na criança com 1-3 anos de idade,

previamente saudável, os agentes etiológicos

piogénicos mais comuns são: Staphylococcus

aureus (fig.14), Streptococcus pyogenes e

Haemophilus influenzae (a incidência de

infecção por este agente decresceu

abruptamente desde a instituição da vacina anti-

H. influenzae). No caso de doença por agentes

não-piogénicos, os mais comuns são: as

micobactérias5 (fig.15), a brucelose (contacto

com gado infectado e seus produtos), a sífilis e

vários fungos.

4 Nos adultos, as espondilodiscites têm causa iatrogénica. 5 Há predomínio do componente osteomielítico em relação ao discítico.

Fig.14 RM T2, corte coronal. Pode observar-se o desaparecimento do espaço do disco intervertebral, a erosão dos corpos vertebrais e a extensão a partes adjacentes.

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Para haver imagens radiológicas osteolíticas, é necessário a destruição de

50% da matriz óssea.

As radiografias (RX) da coluna vertebral revelam lesões compatíveis com

espondilodiscite, dois a vários meses após o início da sintomatologia (dependendo

da indolência do agente).

A ressonância magnética (RM) é o exame mais adequado para um diagnóstico

precoce (com uma sensibilidade e especificidade superiores a 90%), delineando a

área vertebral e paravertebral atingidas, sendo útil para a monitorização da resposta

ao tratamento.

Fig.15 RM’s na espondilodiscite tuberculose. A – Osteomielite a envolver os corpos vertebrais T10 e T11 e o espaço do disco intervertebral (seta). B – Abcesso paravertebral multiloculado (seta).

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DOENÇAS NEUROLÓGICAS E SISTÉMICAS

São exemplos de doenças neurológicas e sistémicas que atinjam a medula

espinhal:

• esclerose múltipla,

• esclerose lateral amiotrófica,

• doenças reumáticas.

A Espondilite Anquilosante, uma doença reumática do tipo inflamatório que

afecta o tecido conjuntivo, acometendo frequentemente as articulações sacro-ilíacas,

pode também envolver a coluna cervical e torácica, as grandes articulações

periféricas, os olhos e as válvulas do coração. É mais frequente entre os

caucasianos e no sexo masculino.

As alterações radiológicas são precocemente reconhecidas pela típica

morfologia quadrada dos corpos vertebrais lombares (fig.16), devido ao processo

inflamatório no lugar de inserção das fibras externas do anel fibroso. Os achados

tardios compreendem a formação de pontes sindesmofitárias, dando o aspecto de

espinha em "linha de comboio" ou "bambu" (fig.17). A fusão das articulações sacro-

ilíacas é achado patognomónico.

Fig.16 A – Sacroileíte bilateral. B – Vértebras quadradas, desaparecimento da lordose fisiológica, calcificação e fusão das articulações interapofisárias.

A B

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Patologias Raqui-Medulares

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DOENÇAS VASCULARES

Os quadros isquémicos da medula, geralmente pós-trauma, provocam

determinadas sintomatologias medulares.

De destacar que o sacrifício da artéria de Adamkiewicz ou Artéria Radicular

Magna implica alterações nas funções:

• vegetativas (não controlo dos esfíncteres),

• motoras (paraplegia),

• sensitivas (perda de sensibilidade).

Fig.17 RX’s em incidência de perfil e AP, onde se observam a “coluna de bambu” e calcificação dos ligamentos lombares.