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PATROCÍNIO: A CASA Patrimônio Cultural Campineiro

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PATROCÍNIO: A CASA

Patrimônio Cultural Campineiro

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Apoio

Projeto Cultural O acervo nas mãos do público II Pesquisa, texto e diagramação Denise Fernandes Geribello Projeto realizado com o apoio da Prefeitura Municipal de Campinas, Secretaria da Cultura, Fundo de Investimentos Culturais de Campinas – 2015.

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A CASA Patrimônio Municipal Campineiro

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A CASA

A casa não é somente um abrigo que protege do sol, da chuva, do frio. Mais do que

um teto, a casa é o abrigo do nosso modo de viver, da nossa cultura. Cada morador

deixa um pouco de si na casa e leva um pouco dela consigo. A casa tem as marcas do

tempo. Nas paredes há uma pincelada de passado; um livro aberto no braço do sofá é

uma pitada do presente; a espera pela entrega de um móvel novo tem algo de futuro.

Assim, cada casa guarda uma soma de épocas, culturas e histórias. Com esse olhar,

fica fácil compreender por que tantas casas, das mais diferentes idades e locais, com

os mais diversos moradores, figuram entre nosso patrimônio cultural tombado.

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CASAS e o

CONDEPACC

Dentre grandes solares de barões de café a pequenas moradias de operários, há

diversos edifícios residenciais reconhecidos como patrimônio cultural pelo Conselho de

Defesa do Patrimônio Cultural de Campinas (CONDEPACC), órgão responsável pela

tutela do patrimônio cultural do município. Este reconhecimento acontece pelo

tombamento, o instrumento jurídico que determina a preservação de bens entendidos

como portadores de valores culturais. As casas estão presentes no conjunto de bens

preservados desde o primeiro tombamento realizado pelo órgão, que incluiu três

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edifícios residenciais. Em 19 de dezembro de 1988, foram tombados pela Resolução

nº1 a Catedral Metropolitana de Campinas, o Antigo Solar do Barão de Itatiba, também

conhecido como Palácio dos Azulejos, o Antigo Solar do Barão de Itapura, onde hoje

funciona o Campus Central da Pontifícia Universidade Católica de Campinas e o Antigo

Solar do Visconde de Indaiatuba, esses últimos três construído para serem residências.

Figura 2. Solar do Barão de Itatiba, o Palácio dos Azulejos.

Figura 1. Solar do Visconde de Indaiatuba.

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Parte dos bens tombados pela Resolução nº1 já eram reconhecidos como patrimônio

por outras esferas do governo. O Antigo Solar do Barão de Itatiba foi tombado em 1967

pelo órgão de defesa nacional, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional

(IPHAN) e em 1981 pelo órgão estadual, o Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico,

Arqueológico, Artístico e Turístico (CONDEPHAAT). A Catedral Metropolitana de

Campinas e o Antigo Solar do Barão de Itapura foram tombados pelo CONDEPHAAT

em 1981 e 1984, respectivamente.

Ao longo do tempo, cresceu o universo dos edifícios residenciais tombados e suas

características se diversificaram. Entretanto, não cresceu apenas em número, suas

Figura 3. Vila Manuel Freire.

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características se diversificaram. Além

dos grandes casarões, edificações mais

singelas passaram a fazer parte da lista,

como é o caso das vilas operárias Manuel

Dias e Manuel Freire, no bairro Vila

Industrial. Os tombamentos se

estenderam para além do perímetro

urbano. Foram tombadas residências

situadas em áreas rurais, como é o caso

das diversas habitações operárias

construídas pela Companhia Mogiana de

Estradas de Ferro ao longo da linha

férrea, situadas em meio às fazendas de

café. O patrimônio deixa de se restringir

aos tempos mais antigos, como a época

áurea do café, passando a incluir

residências construídas em um passado

mais recente, como a Casa do Sol,

construída na década de 1960, no Bairro

Parque Xangrilá. Nela viveu a escritora

Hilda Hilst e hoje abriga a sede do

Instituto Hilda Hilst. Figura 4. Casa do Sol.

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Três CASAS

Para mostrar um pouco fábricas tombadas em Campinas, esta publicação apresenta

três exemplares que representam algumas das múltiplas camadas temporais, sociais e

culturais da cidade: o Solar do Barão de Itapura, onde hoje funciona o Campus Central

da Pontifícia Universidade Católica de Campinas, a casa da Rua Emílio Ribas, n. 1468,

construída por um filho de escravos e a Casa Modernista, na Rua Coronel Silva Teles,

nº165, respectivamente o casarão de um barão do café do final do século XIX, a casa

de um cocheiro do início do século XX e uma casa de vanguarda da década de 1930.

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Figura 5. Casas analisadas.

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O Processo de Tombamento de cada das casas mencionadas é integrado por

pareceres técnicos, cópias de materiais relativos ao bem, como reportagens de jornal,

trechos de livros, mapas, plantas e fotografias, incluindo, ainda, documentos

relacionados à tramitação do processo. Também constam dos processos

requerimentos, plantas e fotografias referentes a propostas de intervenção ocorridas

após a Resolução de Tombamento. Dessa forma, todos os restauros e reformas em

bens tombados são registrados. É importante saber que grande parte dos

processos de tombamento está disponível para consulta pública na página

Patrimônio Histórico e Cultural, da Secretaria de Cultura da Prefeitura Municipal

de Campinas, constituindo uma rica fonte de pesquisa e conhecimento.

Os processos de tombamento pesquisados para a elaboração desta publicação foram:

Processo nº 03/88, referente ao

Solar do Barão de Itapura

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Processo nº 011/01, referente ao imóvel da

Rua Emílio Ribas, nº1468.

Processo nº 013/01, referente à “Imóveis na Região

do Cambuí”, dentre os quais a Casa Modernista da

Rua Coronel Silva Teles, nº165.

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Antigo Solar do

Barão de Itapura

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Antigo Solar do Barão de Itapura

Rua Marechal Deodoro, no. 1099 Processo de Tombamento nº 03/88

Resolução de Tombamento nº 01 de 19 de dezembro de 1988

Figura 6. Localização do Antigo Solar do Barão de Itapura.

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Ali no meio dos edifícios que compõem o Campus Central da Pontifícia Universidade

Católica de Campinas, está o Antigo Solar do Barão de Itapura, um palacete que

representa a ostentação dos antigos barões do café. Inaugurado por volta de 1880, foi

construído como residência de Joaquim Policarpo Aranha, o Barão de Itapura. Era

costume, na época, os grandes cafeicultores construírem uma residência urbana, além

dos solares que tinha em suas fazendas. O edifício foi utilizado como moradia até a

década de 1920, quando foi doado à Diocese de Campinas, abrigando repartições do

episcopado. Algumas décadas mais tarde, passou a funcionar como universidade, uso

que se mantém até os dias de hoje. Dentre os edifícios que compõe o campus, o

palacete não é o único que guarda interesse cultural. A casa vizinha, construída no

século XIX, além de constituir um interessante exemplar da arquitetura colonial, abriga,

hoje em dia, o museu da Universidade, que conta com grandes coleções de arqueologia

e etnologia em seu acervo.

De nobre residência do século XIX a campus universitário, a trajetória do Solar do Barão

de Itapura é marcada por uma série de alterações, tanto em sua materialidade, como

em seus usos. No estudo de tombamento do palacete (Processo nº 03/88, folha 36), há

um parecer elaborado pela Historiadora Angela Cristina Armond que menciona algumas

das reformas de adaptação que foram executadas no edifício. Ela escreve:

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Sabemos que nessas reformas o palacete sofreu um aumento na parte superior e na fachada da frente, reforma essa infeliz para o estilo do sobrado mas que apesar dessas modificações e acréscimos ainda conserva basicamente sua estrutura original, representando sem dúvida uma época econômica, social e política da província. (1969)

Figura 7. Solar do Barão de Itapura antes da ampliação.

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Figura 8. Solar do Barão de Itapura depois da ampliação.

Nas imagens acima é possível observar a modificação da volumetria da fachada do

palacete: um corpo central com duas varandas laterais se torna um robusto volume

único após uma ampliação. Outra transformação significativa foi a eliminação do belo

jardim na área lateral, hoje pavimentada e ocupada por pequenos edifícios de apoio às

atividades universitárias.

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Figura 9. Jardim lateral do Solar do Barão de Itapura.

A ampliação da residência, a remoção do jardim, a modificação da compartimentação

interna, enfim, as diversas intervenções sofridas pelo edifício ao longo do tempo

apontam os diferentes usos e os diferentes valores atribuídos ao Solar do Barão de

Itapura. Inicialmente, as intervenções eram apenas pragmáticas, ou seja, a intenção

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das modificações se reduzia à criação de mais uma sala, ou à instalação de energia

elétrica em uma casa que não contava com essa infraestrutura. Após o reconhecimento

como patrimônio, além de responder às necessidades de ordem prática, as

intervenções passam a levar em conta e respeitar o caráter patrimonial da edificação.

Dessa forma, a intervenção deixa de ser, simplesmente, uma reforma e passa ao campo

da restauração. Este campo do saber possui suas próprias bases teórico-metodológicas

e demanda formação especializada.

Todos os projetos de restauro de bens tombados devem ser analisados e aprovados

pelos órgãos de preservação e são anexados aos processos de tombamento. Em 2003,

o Arquiteto Samuel Kruchin desenvolveu um projeto para restaurar o Solar. Este projeto,

juntamente com os demais documentos que integram o processo de tombamento, está

disponível no site da Secretaria de Cultura da Prefeitura Municipal de Campinas.

Quer saber

mais?

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Casa da

Rua Emílio Ribas

nº 1468

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Casa da Rua Emílio Ribas, no 1468

Processo de Tombamento nº 011/01 Resolução de Tombamento nº 40 de 16 de setembro de 2003

Figura 10. Localização da Casa da Rua Emílio Ribas, 1468.

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Por trás de suas avenidas movimentadas, o Bairro Cambuí é constituído por uma trama

de ruas estreitas, repletas de pequenas casas e árvores. O olhar apressado do dia a

dia faz com que essas casinhas pareçam ser todas iguais. Passam despercebidas,

muitas vezes, diferenças que existem entre as residências com ares modernos e linhas

art decó, as vilas operárias compostas por sequências de casas geminadas e as

edificações singelas do início do século passado. Em meio a esta teia de construções

de diversos períodos e estéticas, há uma casa que tem muito para nos contar.

Muro baixo, portões de madeira, duas janelas que se debruçam para a rua e uma porta

bem ao centro. A casa, localizada à Rua Emílio Ribas no 1468, foi construída no início

do século XX e ainda preserva muitas de suas características iniciais. Seu processo de

tombamento reúne uma série de documentos que permite traçar sua trajetória ao longo

do tempo. Conforme um laudo técnico elaborado em 1957 (Processo nº 11/01, folha

129), inicialmente, se tratava de uma residência composta por seis cômodos,

organizados ao longo de um corredor central. Posteriormente, a casa foi ampliada e

recebeu mais um quarto e uma cozinha aos fundos, conforme consta na planta que

data de 1945, apresentada abaixo. Analisando a planta atual do imóvel, que consta no

Relatório técnico para instrução do estudo de tombamento elaborado pelo corpo técnico

da Coordenadoria Setorial do Patrimônio Cultural em novembro de 2002 (Processo nº

11/01, folhas 154 – 193), nota-se a presença de um banheiro junto ao edifício.

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Figura 11. Planta da residência.

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Legenda:

1. Sala 6. Sala 2. Sala 7. Dormitório 3. Dormitório 8. Cozinha 4. Copa 9. Sanitário 5. Cozinha 10. Corredor central

Apesar de apresentar muito interesse para a história da arquitetura, esta residência não

foi tombada simplesmente em decorrência de suas características construtivas. O

edifício carrega uma história muito mais interessante e profunda.

Figura 12. Planta da residência.

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A casa foi construída, no início da década de 1910, pelo Senhor Adão Geraldo dos

Santos, filho de escravos. O imóvel, além de sua residência, também abrigava

estruturas de apoio para seu empreendimento. Geraldo era cocheiro e possuía, nas

imediações de sua casa, uma cocheira, um estábulo e um bebedouro de cavalo. As

gerações seguintes da família herdaram o imóvel e também a profissão.

A casa, entretanto, não conta apenas a história da família Santos. Nas imediações,

muitas outras casas, a maioria delas não mais existentes, abrigaram famílias negras,

que compartilhavam a cultura, o modo de vida e as dificuldades enfrentadas pela família

Santos. Antigamente, é preciso lembrar, o Bairro Cambuí era uma região periférica da

cidade de Campinas e, com a abolição da escravidão, a região passou a abrigar uma

grande quantidade de famílias negras. O enobrecimento do bairro levou à expulsão

dessas famílias, à dissolução de suas relações comunitárias e ao apagamento de sua

memória. Frente a este processo, a resistência do edifício situado à Rua Emilio Ribas,

1468, afirma a presença negra no local, bem como a dinâmica de exclusão sofrida pelos

habitantes do antigo núcleo.

Ressaltando o fato de ter sido construído pelo Senhor Adão Geraldo Santos, filho de

escravos, de ter pertencido à sua família até o início do século XXI e de estar em estado

razoável de conservação, bem como por se tratar de um excelente exemplar de

residência do setor do bairro Cambuí originalmente ocupado por famílias da

comunidade negra, o imóvel é reconhecido pela comunidade negra atual como

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elemento significativo da sua história no Município de Campinas e foi tombado pelo

CONDEPACC em 2013 (Processo nº 11/01, folha 197).

Durante alguns anos funcionou no local o Museu do Negro, organizado pelo Senhor

Agostinho dos Santos, descendente do Senhor Adão Geraldo dos Santos, primeiro

dono da residência. O acervo do museu apresentava a comunidade negra de Campinas

a partir de documentos, fotografias e objetos, em sua maioria pertencente aos

moradores da residência. Diversas fotografias e documentos que integravam o acervo

do Museu do Negro estão disponíveis no processo de tombamento.

Quer saber

mais?

Figura 13. Documentos do Acervo do Museu do Negro.

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Casa

Modernista

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Casa Modernista

Avenida Coronel Silva Teles, nº165 Processo de Tombamento nº 13/01

Resolução de Tombamento nº 67 de 16 de abril de 2008

Figura 14. Localização da Casa da Rua Emílio Ribas, 1468.

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Um jogo de formas desponta no encontro das Ruas Coronel Silva Teles e Santa Cruz,

no Bairro Cambuí. A torre central do edifício organiza uma composição de volumes,

de onde irradiam jardins e desenhos de piso. Todo o conjunto dialoga em perfeita

harmonia com o traçado peculiar do terreno. Caixilharias, guarda-corpos e luminárias

minunciosamente projetados completam a composição. Além de possuir uma notável

qualidade arquitetônica, esta residência é um marco na construção civil da cidade de

Campinas.

A “casa do navio”, como ficou conhecia na época de sua construção, foi projetada

pelo arquiteto campineiro Mário de Camargo Penteado em 1933, pouco tempo depois

de ter concluído o curso de arquitetura na Escola de Belas Artes do Rio de Janeiro.

Naquele momento, a escola estava sob a direção de Lúcio Costa, que buscava

introduzir as discussões modernistas no ensino de arquitetura. Se, por um lado, esta

nova arquitetura foi bem aceita por muitos arquitetos, por outro lado sofreu grande

resistência por parte do público em geral. É, então, na construção da casa de seus

pais, que Mário encontra a oportunidade de aplicar e difundir os princípios da

arquitetura moderna.

Dentre as inovações modernistas presentes no edifício estão as linhas puras, a

ausência de ornamentos e o uso de lajes impermeabilizadas que funcionam como

terraço-mirante, no lugar das tradicionais coberturas com telhas de barro. Como aponta

a arquiteta Silvia Amaral Palazzi Zakia, em um levantamento que integra o estudo de

tombamento.

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Todos os detalhes da obra seguiram a mesma lógica modernista, desde luminárias, corrimões, gradis, calçamento externo e por fim o jardim, cujo paisagismo privilegiou a flora tropical – um arrojo para a época. O mobiliário moderno completava a coerência do conjunto. Enfim, uma obra modernista que sinalizava a chegada de novos tempos na arquitetura. (Processo nº 13/01, folha 480).

Figura 15. Planta da residência.

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Figura 16. Casa modernista, 1934.

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Com o objetivo de difundir esta nova arquitetura

entre os campineiros, a casa foi aberta ao público

por três dias, em 1934, logo após ser concluída. A

exposição teve uma grande repercussão na cidade.

O evento foi registrado por artigos de jornal, como

o apresentado ao lado, um álbum fotográfico

cuidadosamente elaborado e um livro de presença,

no qual os visitantes apontavam suas impressões

sobre a residência.

A exposição da primeira casa modernista

campineira seguiu os padrões da exposição

realizada alguns anos antes em uma das primeiras

casas modernistas construídas na cidade de São

Paulo. Em 1930, o arquiteto Gregory Warchavchik

promoveu uma exposição em uma residência de sua

autoria, situada na Rua Itápolis, no Bairro

Pacaembu.

Devido a suas qualidades arquitetônicas e a seu

importante papel na difusão da arquitetura moderna

no município, a casa modernista tombada pelo

CONDEPACC.

Figura 17. Uma elegante e moderna residência. Diário do Povo, 12.10.1934.

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O edifício, entretanto, não foi tombado de maneira isolada. Sua proteção se deu por

meio de um processo que englobou um conjunto de imóveis situados na região do

Cambuí. Além da casa modernista, a Resolução nº 67 de 16 de abril de 2008 também

instituiu o tombamento da Igreja Nossa Senhora das Dores. No eixo da Avenida Júlio

de Mesquita, a mesma Resolução tombou o antigo Colégio Progresso Campineiro, o

Hospital Irmãos Penteado, o uso e função de teatro do Centro de Convivência Cultural

Carlos Gomes, além de oito edifícios residenciais. Os bens selecionados compõem

um conjunto representativo das principais matrizes arquitetônicas em voga na cidade

na primeira metade do século XX, como art déco, art nouveau, ecletismo e

neocolonial.

A prática de tombamentos de conjuntos vem se tornando cada vez mais recorrente nos

órgãos de preservação nacionais e internacionais, permitindo que os bens tombados

sejam compreendidos de maneira mais completa, uma vez que sua ambiência também

é preservada

Quer saber

mais?

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AGRADECIMENTOS

Arquivo Municipal de Campinas

Coordenadoria Setorial do Patrimônio

Cultural (CSPC)

Campinas, novembro de 2015.

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ÍNDICE

A Casa 5

Casas e o CONDEPACC 6

Três casas 10

Antigo Solar do Barão de Itapura 15

Casa da Rua Emílio Ribas, no 1468 23

Casa Modernista 31

CRÉDITOS DA ILUSTRAÇÕES

Figuras 1, 2, 3, 4 e 8. Página “Patrimônio Histórico Cultural” da Prefeitura Municipal de Campinas.

Figura 5. Denise Geribello, 2015.

Figura p.15. Foto Ricardo Lima, Arte Carlos Leonardo Lamari (PUC-Campinas).

Figuras 6, 10 e 14. Mapas obtidos pelo programa Google Earth em 3 de agosto de 2015, editados pela autora.

Figuras 7 e 9. Processo nº 03/88, folha 141.

Figura 11. Prefeitura Municipal de Campinas, Diretoria de águas e Esgoto, 1945. Fonte: Processo nº 11/01, folha 148.

Figura 12. Relatório técnico para instrução do estudo de tombamento, CSPC, nov, 2002. Fonte: Processo nº 11/01, folha 175.

Figura 13. Processo nº 11/01, folhas 186/7.

Figura 15. Processo nº 13/01, folha 478.

Figura 16. Processo nº 13/01, folha 487.

Figura 17. Processo nº 13/01, folha 484.

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O ACERVO NAS MÃOS DO PÚBLICO

Esta obra integra a série Patrimônio Cultural Campineiro, desenvolvida pelo Projeto

de Educação Patrimonial O Acervo nas Mãos do Público. O projeto tem como objetivo

promover o patrimônio do município e difundir o rico acervo constituído pelos Estudos

de Tombamento elaborados pelo CONDEPACC. Além de trazer para o leitor dados,

desenhos e fotografias que integram estes estudos, o projeto visa despertar o interesse

da população para a consulta deste acervo, disponível na internet para acesso público.

A série se desdobra em seis volumes:

A CASA PRAÇAS ESCOLAS

FÁBRICAS FERROVIAS REDES DE ABASTECIMENTO

Material disponível para download na página da Secretaria de Cultura da Prefeitura Municipal de Campinas > Patrimônio Histórico e Cultural > Publicações> FICC.

PATROCÍNIO: Projeto realizado com apoio da Prefeitura

Municipal de Campinas, Secretaria da Cultura, Fundo de Investimentos Culturais de

Campinas – 2015.