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Nº 113 - Julho 2015 - www.suplementopernambuco.com.br O VALOR DA CRÍTICA PARA AS EDITORAS | CONFISSÕES DE UM TRADUTOR ALEMÃO EM NOVO LIVRO, RONALDO CORREIA DE BRITO RECONSTRÓI ORIGENS REAIS E IMAGINÁRIAS FORMAS DE VOLTAR PARA CASA HÉLIA SCHEPPA

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Revista Pernambuco

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N 113 - Julho 2015 - www.suplementopernambuco.com.brO VALOR DA CRTICA PARA AS EDITORAS | CONFISSES DE UM TRADUTOR ALEMOEM NOVO LIVRO, RONALDO CORREIA DE BRITO RECONSTRI ORIGENS REAIS E IMAGINRIASFORMAS DE VOLTAR PARA CASAHLIA SCHEPPAPERNAMBUCO, JULHO 20152CARTADOSEDI TORESRonaldo Correia de Brito se atordoa com a quantidade de mensagens que apitam em seu WhatsApp. A constncia dos barulhos e a intermitncia de seus significados di-zem respeito s assombraes insistentes eincoerentesdaideiaquefazemosde casa.Daideiaqueele,umexilado,faz de Casa. O escritor joga essas mensagens de seu alm particular em seu novo livro de contos, O amor das sombras (Alfaguara) enossoeditorSchneiderCarpeggiani reconstrioscaminhosdeRonaldoa partirdeumensaio/resenha/entrevis-taquebuscaosfantasmasdessacasa. Osespectros,notoa,estotambm presentes na srie fotogrfica que Hlia Scheppafazcomoescritor,emmeioa umapaisagemabandonada.Acasa oteroondesefecundamasfamlias, as histrias, as desavenas, os dios, as traies, as vinganas e os crimes. O lugar ondeaspessoasmorriameeramvela-das, antes de serem levadas aos hospitais para se esconder que elas morrem, diz Ronaldo, sua memria em posio fetal.A buscar tambm por vestgios de um outroautor,estegravadonamemria GOVERNO DO ESTADO DE PERNAMBUCOGovernador Paulo Henrique Saraiva CmaraVice-governador Raul HenrySecretrio da Casa CivilAntonio Carlos FigueiraCOMPANHIA EDITORA DE PERNAMBUCO CEPEPresidenteRicardo Leito Diretor de Produo e EdioRicardo MeloDiretor Administrativo e FinanceiroBrulio MenesesCONSELHO EDITORIALEverardo Nores (presidente)Lourival HolandaNelly Medeiros de CarvalhoPedro Amrico de FariasTarcsio PereiraSUPERINTENDENTE DE EDIOAdriana Dria MatosSUPERINTENDENTE DE CRIAOLuiz ArraisEDIOSchneider Carpeggiani e Carol AlmeidaREDAODudley Barbosa (reviso), Marco Polo, Mariza Pontes e Raimundo Carrero (colunistas), Fernando Athayde e Priscilla Campos (estagirios) ARTEJanio Santos e Karina Freitas (diagramao e ilustrao)Agelson Soares e Pedro Ferraz (tratamento de imagem)PRODUO GRFICAEliseu Souza, Joselma Firmino, Jlio Gonalves e Sstenes FernandesMARKETING E PUBLICIDADEDaniela Brayner, Rafael Lins e Rosana GalvoCOMERCIAL E CIRCULAOGilberto SilvaPERNAMBUCO uma publicao daCompanhia Editora de Pernambuco CEPERua Coelho Leite, 530 Santo Amaro RecifeCEP: 50100-140Contatos com a Redao3183.2787 | [email protected] COLABORADORESEMAISRicardo Viel, jornalista, trabalha atualmente na Fundao Jos Saramago, em Lisboa.Joo Almino, escritor. Jos Humberto Pinheiro, historiador. Marcel Proust, escritor, aqui em texto indito no Brasil publicado originalmente como crnica. Marco Albertim, escritor e militante que faleceu este ano. Renata Beltro, jornalista. Yasmin Taketani, jornalista.Santiago Nazarian, tradutor, escritor eautor, entre outros, de Feriado de mim mesmo, Pornofantasma e Biofobia.Hlia Scheppa, reprter fotogrfica, vem se dedicando ao trabalho da fotografia inserida no contexto da arte contempornea.coletiva da literatura brasileira, a escri-toraAnaMirandacriaumaespciede biografia sentimental de Gregrio de Ma-tos, o Boca do Inferno, e quem escreve sobreessarelaodelongadataentre AnaeGregrioRenataBeltro.Ou-tros colaboradores da edio deste ms so os escritores Ricardo Viel e Santiago Nazarian.Oprimeirofazumperfildo alemoMichaelKegler,tradutorpre-miadoeautodidataquesetornouuma referncia na tradicional escola de tradu-tores da Alemanha e responsvel pela chegada de vrios livros contemporneos brasileiros em seu pas natal. J Santiago, aps uma tentativa frustrada de resenhar umlivroparaestemesmosuplemento graas negligncia de uma companhia editorial,discuteovalor(sentimental, poltico, histrico) da crtica literria no Brasil.Eainda:entrevistacomNoemi Jaffe,lanandoseuprimeiroromance pela Companhia das Letras, bastidores do novo livro de Joo Almino e texto indito de Proust no Brasil.Uma boa leitura a todas e todos.PERNAMBUCO, JULHO 20153Joo AlminoQuandoconclumeuromanceanterior,Cida-delivre,hmaisdecincoanos,comeceiatomar notas para o novo livro, que viria a ser intitulado Enigmas da primavera. Tive dois pontos de partida. O primeiro era que eu queria centrar a histria num personagem jovem, de cerca de 20 anos. Algumas das caractersticas do personagem j estavam pre-sentes desde o comeo: sua relativa desorientao diante dos dilemas do mundo contemporneo, sua revolta contra a passividade de seu tempo, sobre-tudo quando confrontada com as histrias dos que viveram as transformaes comportamentais dos anos sessenta do sculo passado ou se engajaram na luta contra a ditadura no Brasil, e seu apego internet e s mdias sociais. Osegundopontodepartidatinhaavercoma tcnica da escrita. Em cada livro, gosto de explorar um terreno novo. Queria escrever, pela primeira vez, uma histria relativamente linear em terceira pessoa, e assim fiz. O personagem foi pouco a pouco sendo desen-volvido. Foram surgindo os membros de sua famlia disfuncional, seu pai, que morreu de overdose, sua me,internadaparatratamento,osavsqueo criaram em Braslia, seus outros avs, residentes em So Paulo. A relao com os avs passou a ser importante, alimentando parte dos dilogos. Quando fui morar em Madri, em agosto de 2011, tinha lugar na cidade a Jornada Mundial da Juventu-de, com cerca de dez mil jovens brasileiros inscritos. O evento contaria com a presena do papa. Eu via os jovens caminhando pelo Paseo de la Castellana e outras artrias de Madri, passei pelo seu centro de acolhimento e pensei: por que no trazer meus personagens para c neste exato momento? Tomei vrias notas, fiz algumas descries e imaginei que uma das amigas do protagonista fosse catlica e se interessasse em vir a Madri para a Jornada. Ele e outra amiga a seguiriam por razes distintas. AchegadadospersonagensaMadricoincide comaexistnciadoMovimentodosIndignados. Outrosmovimentosdejovensocorremmundo afora,nosEstadosUnidoscomoOccupyWall Street, no mundo rabe. So diferentes entre si e tambm distintos de outros movimentos de jovens do passado, como os de maio de 68 na Frana ou La Movida na Espanha. O que tm em comum serem, sobretudo, movimentos feitos por jovens, conterem um elemento de surpresa, ocorrerem fora da poltica tradicional e organizada, e terem uma caracterstica de relativa horizontalidade. Esse ser outro tema explorado pelo romance, cuja histria chega at a poca das manifestaes ocorridas no Brasil em 2013. Interessei-me pela histria da Espanha, muito especialmente pela ocupao rabe e muulmana da Pennsula Ibrica. Tive a sorte de morar a cem metros da Biblioteca Nacional da Espanha, o que me permitiu fazer, com relativa facilidade e em geral noite ou aos sbados, consultas a textos histricos, algunsmuitoantigos.Quisqueospersonagens fossem a Granada e constru uma histria um tanto deliranteparatornarnaturalaapropriaode algumas informaes dessas narrativas histricas. Para a construo de parte da trama amorosa, inspi-rei-me numa antiga lenda rabe, de um amor impos-svel entre Majnun e Layla, porm transformando-a. Lembrei-me do perodo em que vivi em Paris e em Beirute para contar histrias sobre os avs, pelos quaisopersonagemprincipalnutreadmiraoe com os quais dialoga sobre as revoltas dos jovens. Imagineiqueumadasavs,aquemoraemSo Paulo,fosserabeemuulmana.NoLbanoeu havia morado durante dois anos, de 1980 a 1982, o que me ajudou na concepo da personagem, de sua vivncia e de seus conhecimentos. Ela serve de inspirao ao protagonista em seu desejo de se converteraoisl.Crieitambmumpersonagem conhecedor da cultura rabe e islmica, bem como personagens menores, alguns deles radicais, para quemeupersonagemcentralpudesseexplorar tanto a tradio de tolerncia do isl quanto leituras jihadistas. Li o coro em traduo para o portugus e, algumas vezes, a cotejei com tradues para o francs e o ingls. Um dos maiores desafios era o de escrever uma espcie de dirio dos acontecimentos sem cair na tentao de usar o enfoque do historiador, do fil-sofo ou do jornalista, todos eles necessrios, mas distintos do que a fico exige. O que me interessava era sobretudo entender as motivaes e as emoes dos personagens, confrontar uns a outros, expondo seus conflitos. Entre as muitas releituras que fiz, fui ao Flaubert de A educao sentimental, para entender como ele havia tratado da Revoluo de 1848 com enfoque literrio, e a Thomas Mann para reler os dilogos entre Naphta e Settembrini sobre temas ento contemporneos. No mais, o livro resultou de longo processo de re-viso, como sempre ocorre no meu caso. O primeiro rascunho escrevo num tempo relativamente curto, digamos, de dois anos, e passo muito mais tempo reescrevendo, fazendo cortes, buscando palavras mais apropriadas narrativa, e at mesmo modifi-cando a ordem de alguns acontecimentos.O amor nos tempos do gs lacrimogneo De como uma estadia na Espanha e novos movimentos insurgentes guiaram os Enigmas da primavera BASTIDORESJANIO SANTOSEnigmas da primaveraEditora RecordPginas 288Preo R$ 42,00O LIVROPERNAMBUCO, JULHO 20154RESENHArtulo de biografia definitiva que a Editora Record crava na orelha. Ao fim de 555 pginas de leitura, so outras duas coisas que se mostram definitivas: o fascnio que Gregrio de Matos ainda exerce nos leitores brasilei-ros e a percia de Ana Miranda na construo de um livro que no se pode classificar facilmente. Alis, curiosamente contradizendo seu departamento de marketing, a editora o catalogou oficialmente como romance. *Musa praguejadora e no uma biografia, e no um romance. E no uma simples mistura entre os dois. Ana Miranda j revelou ter uma preocupao ges-tltica com a forma, que aqui se expressa na diviso visualmenteclaraentretrechosbiogrficos,em corpo normal, e criao literria, sempre em itlico. No fuso biogrfico, o fio do texto segue um es-quemamaisoumenostradicional:ahistriado poeta comea a ser traada a partir das origens dos seus antepassados, das circunstncias de seu nas-cimento, da infncia e da juventude, do estabele-cimento como advogado e conceituado funcionrio da igreja, dos conflitos da idade adulta, at a morte. Musa praguejadora tambm faz um vvido retrato da sociedade e das relaes sociais na Bahia do sculo 17, formando um conjunto at mais interessante do que os pormenores da vida de Gregrio de Matos. Mas nos captulos literrios que o livro realmente serevela.Nestes,ospoemasdoBocadoInferno sointerpretadosparaatuarcomoumaespcie de autobiografia pstuma. Ana costura trechos de diferentestextosdoautor,organizando-oscomo trilhas de pensamento, para que a voz de seu in-consciente nos chegue, trs sculos depois de sua morte. Dessa colcha de retalhos temos o que Ana considera ser o retrato das motivaes de Gregrio No terceiro andar do Museu da Lngua Portuguesa, em So Paulo, o video mapping projetado no anverso do telhado ilustra visualmente a leitura de poemas etextosicnicosdaliteraturabrasileira;asvozes de atores, atrizes, escritores, cantores e artistas em geral, saem de discretas caixas de som. O pblico assiste ao espetculo de cores mais ou menos im-vel, at que o tom de leitura substitudo pelo da batida de hip hop, enquanto uma luz estroboscpica acompanha o ritmo. Entra a voz do rapper Rappin Hood, cantando um poema que fala sobre uma ci-dade tomada pela corrupo. Agora hipnotizada, a plateia acompanha atentamente os versos rimados, cuja atualidade ressaltada pela msica. O texto, no entanto, tem mais de 300 anos. identificado pela didasclia Juzo anatmico dos achaques que padecia o corpo da Repblica em todos os membros, e inteira definio do que em todos os tempos a Bahia, mais conhecido simplesmente como Epigrama ou Eplogo, do poeta baiano Gregrio de Matos e Guerra, que acaba de ganhar biografia composta pela escritora Ana Miranda. *A relao entre Ana Miranda e Gregrio de Matos no nova. Em 1989, a estreia da jornalista cearense naliteraturasedeucomBocadoinferno,romance histrico que trazia o poeta barroco como persona-gem principal. Ancorado em uma slida pesquisa documental,olivronavegavaentreLiteraturae Histria, como viriam a ser quase todos os traba-lhos posteriores de Ana. Boca do inferno lhe rendeu um Prmio Jabuti em 1990 e, com ele, a entrada no mundo literrio brasileiro. Vinte e seis anos depois, essa volta a seu perso-nagem primevo se d pelo caminho reverso, como num jogo de espelhos. Em Musa praguejadora, esto l pesquisa histrica e documental, como convm a um trabalho biogrfico, mas seu uso vai to longe doconvencionalquechegaasercontraditrioo KARINA FREITASGregrio de Matos na sala dos espelhos O Boca do Inferno ganha biografia sentimental nas palavras de Ana Miranda Renata BeltroPERNAMBUCO, JULHO 20155sabesobreomisteriosoautor,cujotrabalhofoi fundamental para que conheamos o poeta baiano nos dias de hoje. Ana lida com esse mistrio pelo vis do sobrena-tural. Talvez Gregrio de Matos viva e se manifeste em seus bigrafos, por meio dos seus poemas. Tal-vez tenha se manifestado na prpria Ana em Musa praguejadora. Talvez. *Se houvesse um rtulo possvel para este livro, biografiasentimentalseriaminhaaposta.Musa praguejadorapodeserlidocomoahistrianode Gregrio de Matos simplesmente, mas da relao de Ana Miranda com ele e com sua obra. Bastariam os poemas como sua biografia, diz a Ana, numa frase chave para se entender o livro. * Musa praguejadora tambm um trabalho sobre o feminino, caminho to marcante na obra de Ana Mirandaquantoatrilhadosromanceshistricos -mesmoqueaHistriasejadominadaporper-sonagensmasculinos. Desmundo(1996)dvozs invisveismulheresdosprimeirosanosdacolo-nizao brasileira, rfs trazidas de Portugal para procriarcrianasbrancasemcasamentosfora-dos.Amrik(1997)ahistriadosimigrantesli-banesesnaSoPaulodofinaldosculo19,mas pelos olhos de uma adolescente cujo maior prazer eradanar.DiaseDias(2010),emborabaseadana biografia de Gonalves Dias, a histria do amor platnicoqueapersonagemFeliciananutrepelo poeta da Cano do exlio. Assim, a biografia de Gregrio de Matos tambm umexcelenteregistrohistricodacondiodas mulheres do Brasil do sculo 17, inclusive no que dizrespeitoformacomoopoetaastratavaem seus textos. Assumidamente bomio, Gregrio de Matos manteve casos espordicos com dezenas de mulheres, das mais variadas condies sociais. Na fase da conquista, aparecem sempre como virtuosas e altivas; quando finalmente as consegue, no raro passam a ser tratadas com virulncia e referncias chulas. Embora de conscincia apurada quanto ao contextopoltico,oBocadoInfernoconsiderava asmulheresinferioresesubmissas,refletindoo pensamento vigente na sociedade da poca.Especialmenteinteressanteocaptulodedi-cado ao Convento de Nossa Senhora do Desterro. ConstrudonaBahiacomodinheirodoadopor famlias ricas, o convento passa a receber as moas cujos pais optaram por no as dar em casamento, para poupar a famlia do pagamento do dote. Como freiras,assinhazinhasganhavamumaliberdade da qual no desfrutavam em casa. Mantinham-se atendidas por escravas, longe dos trabalhos pesados e das convenes sociais que reinavam nas casas defamlia.Enoraroconseguiammantercasos amorososregulares,dentromesmodoconvento. Vrios dos poemas satricos de Gregrio de Matos ele mesmo dado aos amores freirticos dizem respeito ao comportamento das novias.No fim do livro, Ana Miranda apresenta seu ra-milhetedeflores,umaextensalista,emordem alfabtica, apresentando todas as mulheres imor-talizadas como personagens do poeta.*Em 2012, Ana Miranda foi uma das convidadas do Festival da Mantiqueira, evento literrio intimista realizadoanualmenteemSoFranciscoXavier, distrito de So Jos dos Campos, no interior de So Paulo. Numa sala pequena a audincia ouvia aten-tamente a escritora. Ana falou por vrios minutos sobre seus textos e desenhos voltados ao pblico infantil. Ostentando cabelos brancos com desen-voltura e jovialidade, curtia o novo papel de av e fazia dele literatura.J ao fim do encontro, ela falou brevemente sobre Boca do Inferno (1989), confessando que se sente in-grata ao livro Gosto mais de Desmundo, justificou. Olhando novamente as anotaes da poca, vejo que vrias de suas observaes poderiam ser apli-cadas em reverso tambm Musa praguejadora. Boca do Inferno foi absolutamente respeitoso na construo clssica, embora tenha sido bordado pelo avesso ou seja, literatura construda a partir da Histria, baseada em fontes de pesquisa, mas livre na escrita e na especulao do que no est sacramentado em documentos.Ana tambm festejava o que para ela parecia ser uma mudana fantstica no modo contempo-rneo de fazer Histria, algo que permeia toda sua obra e que colocou novamente em prtica em seu novo livro: menos ateno s datas e fatos, mais s mentalidades de poca, aos modos de pensar e s prticas sociais. Entre as montanhas da Mantiqueira, afirmou: romancistas so historiadores que fingem estar mentindo; historiadores so romancistas que fingem falar a verdade. Musa praguejadora fica exa-tamente entre os dois extremos.*Gregrio de Matos foi exilado em Angola em 1694 por causa dos poemas satricos em que atacava as autoridades brasileiras. Nunca pde voltar Bahia. Conseguiu salvo-conduto para entrar novamente no Brasil em 1695, mas quedou-se no Recife. Ao chegar, provavelmente apresentou-se ao governo, como era praxe aos notrios da poca, visitando o palcio de Friburgo, deixado por Maurcio de Nassau antes do encerramento da ocupao holandesa em Pernambuco, quatro dcadas antes. Morreu doente em dezembro de 1695, quando a cidade festejava a morte de Zumbi e a destruio do Quilombo dos Palmares. O Boca do Inferno foi ento enterrado na capela do hospcio de Nossa Senhora daPenha,conhecidatambmcomoPenhados Franceses, demolida dcadas depois. As informaes sobre a igrejinha so escassas, mas possvel que tenha existido no local onde hoje se eleva a baslica da Penha, dos frades capuchinhos, nas imediaes do atual mercado de So Jos. Nohouvelpideouepitfio;athojenoh nenhumaindicaonoRecifedequeacidade guarda os restos mortais do poeta que h trs s-culos seduz o Brasil. de Matos, quando escrevia sobre mulheres, sobre a corrupo na Bahia, sobre a angstia de ser ao mes-mo tempo idolatrado e condenado por seus versos: Dequepodeservircalar,nuncasehdefalaroquese sente? Sempre se h de sentir o que se fala! A mudez canoniza bestas feras. Sou largo em sentir, sucinto em respirar, e quando sofro, me calo, to fino e to atento que disfaro meu tormento, mostrooquenopadeo,masseioquesinto.Aminhador que encubro, ou desminto, sustento dentro do corao que, para penar, sentimento, e para no me entender, labirinto.O trecho em prosa rimada deixa patente sua ori-gem, numa construo engenhosa que no deixa demantersuafidelidadeaostextosdeGregrio de Matos, mas ao mesmo tempo oferece um novo olhar sobre o que podem ter sido os sentimentos de seu autor, exacerbado pela compilao de versos queoriginalmentefaziampartededoispoemas diferentes Aos vcios e Admirvel expresso que o poeta faz de seu atencioso silncio. *Alm de tudo, Ana Miranda construiu uma bio-grafiadaqualpossvelfazerspoiler.Umfeitoe tanto, quando se trata de um biografado morto h tanto tempo, em circunstncias mais ou menos bem registradas. O segredo reside no que Musa praguejado-ra tem de romance, no apenas baseado nos versos deixados por Gregrio de Matos, mas tambm pela fora criativa que exclusividade da escritora. As-sim, o primeiro bigrafo do Boca do Inferno, Manuel Pereira Rabelo, vira, ele prprio, um personagem, com papel fundamental na trama paralela inventada por Ana como espelho da biografia.Publicado poucas dcadas aps a morte de Gre-grio de Matos, o livro de Pereira Rabelo foi tambm o primeiro a compilar os mais de 700 poemas atri-budos a ele, acrescendo a cada texto as didasclias (espcie de resumos) no papel de ttulos, j que o poetamesmonoosatribua.Athoje,poucose PERNAMBUCO, JULHO 20156O incomunicvel precisa estar presente na escritaENTREVISTANoemi JaffeEntrevista a Yasmin TaketaniQuando parte da Hungria rumo ao Brasil, em 1956, risz deixa para trs uma revoluo fracassada, uma ideologia, o companheiro e a me. Em So Paulo, soma-se ao passado incerto da personagem a condio de estran-geira e por meio desse estranhamento que conhecemos a protagonista de risz: as orqudeas (Companhia das Letras), primeiro romance da escritora e crtica literria Noemi Jaffe, mais conhecidaporO que os cegos esto sonhando?, livro de memrias baseado em relatos que Escritora cuja identidade oscila entre o paulistana/brasileira e judia/lha de refugiados faz de seu primeiro romance um livro sobre as fugas necessriassua me deixou ao conseguir sobreviver do campo de extermnio de Auschwitz.risz uma estrangeira e, nesse sentido, elaestranhaaspalavrasdoportugus.Os escritores tambm so seres que estranham as palavras; quem automatiza a linguagem no pode escrever criativamente, compara Noemi, que em A verdadeira histria do alfabeto (PrmioBrasliadeLiteratura2013)criou origens ficcionais para as letras do alfabeto.Trabalhando no Jardim Botnico, onde es-tuda orqudeas, a protagonista encontra uma metfora para suas razes que tampouco se fixam em lugar algum e um convvio afetuoso em Martim, seu chefe, comunista dissidente. Na entrevista a seguir, a paulistana Noemi Jaffe fala sobre sua relao com essa personagem singular, a condio do estran-geiro e a pesquisa histrica para o romance. risz, como as orqudeas, tem razes areas: se espalha, no se fixa na terra. Como voc se relaciona a essa caracterstica da personagem?Tenho uma relao bem ambgua com essa caracterstica de risz, que seu aspecto principal. Por um lado, quis criar uma personagem bem diferente de mim. Tenho razes bem mais firmes do que as dela, pois me identifico muito tanto com o fato de ser brasileira e paulistana como com o fato de ter nascido judia, num bairro judeu e de ser filha de refugiados de guerra. Penso que esses traos so constitutivos da minha personalidade e tambm da minha escrita. Por isso, penso que, a no ser por circunstncias que me forassem, no sou uma pessoa que foge. A risz, por sua vez, mesmo tendo sido obrigada a fugir, tem isso como seu trao mais importante. Ela fugiria, penso, mesmo que no fosse obrigada. No quer e no consegue se estabelecer e nem criar laos duradouros com os lugares ou com as pessoas. Isso pode ter a ver com a forma como foi criada, com a revoluo, mas pode tambm ser um lado de sua natureza. Cada leitor decidir como interpretar isso.Eu admiro esse lado da risz, porque tambm gostaria de fugir de algumas situaes em que acabo me envolvendo mais por escrpulo do que por desejo. O livro questiona isso mesmo: at que ponto fugir desonroso, desonesto? Fugir tambm pode ser uma forma honesta e necessria de lidar com alguns problemas.Ao mesmo tempo, parece ser importante para risz buscar no s a origem das palavras, mas entender sua prpria origem. A escrita literria, ficcional, te ajuda nessa compreenso?RENATO PARADA/DIVULGAOPERNAMBUCO, JULHO 20157Todos temos algo inconfessvel. Isso pode ser complicado para a vida cotidiana, mas importantssimo para a literaturaAcredito que cada pessoa tem sua poro estrangeira ou deveria busc--la, porque, para escrever, ela fundamentalSim, sem dvida. Tenho a fantasia, que muitas vezes se constitui como realidade, de que as palavras dizem mais do que elas normalmente expressam, quando aproximadas de sua origem. Como na origem as palavras tm significados bem mais concretos do que ao longo de sua evoluo quando elas vo se tornando abstratas e passveis de vrios usos penso que, em seu nascimento, elas tm a ver com o gesto literrio, que tambm concreto. A literatura expressa a vida acontecendo, em sua condio mais concreta.risz uma estrangeira e, nesse sentido, ela estranha as palavras do portugus. Os escritores tambm so seres que estranham as palavras; quem automatiza a linguagem no pode escrever criativamente.Sua atuao como crtica literria interferiu na escrita do seu primeiro romance?Minha atuao como crtica e tambm como professora porque so coisas co-extensivas sempre interfere na minha escrita. Tenho muita autocensura, reescrevo tudo muitas vezes, tento prestar ateno no mximo de coisas possveis e acabo, muitas vezes, prejudicando a mim mesma. Tenho mania de explicar tudo muitas vezes, dar mil sinnimos para cada coisa e isso deixa minha escrita meio redundante, s vezes. Da tenho que ficar enxugando tudo. Mas divertido tambm e aprendo muito com isso.Como foi adotar o ponto de vista de risz para narrar a histria? E como foi a convivncia com a personagem durante o perodo de escrita do livro?Foi um grande aprendizado para mim, como j disse, pelo fato de ela ser to diferente de mim e, ao mesmo tempo, inevitavelmente semelhante em alguns aspectos, j que era eu que a estava criando. Mas, muitas vezes, sentia que precisava conhec-la, que eu tambm precisaria ser estrangeira, no falar a lngua, no entender as coisas. Nesse sentido, foi muito bom ter passado um ms sozinha em Paris, onde eu ficava as tardes procurando um lugar para escrever. Era uma experincia curiosa e muitas vezes dolorosa tambm. Acho que isso ajudou. Procurava fazer as coisas como se fosse ela que estivesse fazendo. No s ela diferente de mim, como tudo o que ela estava vivendo tambm. Ento precisei fazer bastante trabalho de pesquisa, o que permitiu um maior distanciamento, sempre necessrio para a escrita.Que contraponto buscou ao utilizar Martim como narrador, alternando-o com risz? E como surgiu a ideia de contar a histria e expor as dvidas da personagem com cartas e relatrios?Quis criar o contraponto de um maior pragmatismo, uma carga de silncio, de comedimento, tudo aquilo que se ope grande energia e alegria de risz. Martim uma pessoa equilibrada at certo ponto, mais abnegado e menos entusiasmado do que risz. As caractersticas certas para um membro mdio do partido comunista da poca. Achei que isso seria muito importante para risz, no momento que ela estava vivendo e para contrabalanar sua personalidade to gulosa.A ideia dos relatrios surgiu pela necessidade de criar um motivo para risz estar escrevendo e tambm pelas semelhanas que fui encontrando entre risz e as orqudeas. Ela comeava a escrever os relatrios e se dava conta, no meio da escrita cientfica, do quanto aquilo tudo se assemelhava a sua prpria vida.A condio estrangeira de risz com sua herana da terra natal, incomunicvel, sem poder pertencer de fato ao novo endereo ecoa sobre voc de alguma maneira?Sim, certamente. Sou filha de refugiados de guerra que, mesmo h muitos anos no Brasil, ainda se sentem estrangeiros (pela lngua, hbitos, religio) e eu mesma vivi e ainda vivo muito essa condio. Em certa medida, acredito que cada pessoa tem sua poro estrangeira ou deveria busc-la, porque, para escrever, ela fundamental. Todos temos uma mo canhota, uma obsesso, algo inconfessvel, uma ignorncia, uma incompreenso. Isso pode ser complicado para a vida cotidiana, mas importantssimo para a literatura. O incomunicvel, paradoxalmente, precisa estar presente na escrita. Li que seu romance se relaciona com as origens de sua me, com fatos reais e com pessoas consultadas para compor os personagens. Por que dar-lhes a forma de fico? Ou o que essa fico teve que buscar no real, por meio das pesquisas que voc realizou?Meu romance se relaciona com minha me, na medida em que ela nasceu numa cidade bilngue, onde se fala srvio e hngaro, e por ela ter morado durante dois anos em Budapeste, depois de ter voltado da guerra. Ela tambm nos levou para conhecer a cidade, as trs filhas, quando ela completou oitenta anos. Isso fez com que eu me apaixonasse ainda mais pelo pas e pela lngua, pela qual eu j me interessava desde a adolescncia, por causa do que dela disseram Guimares Rosa e Paulo Rnai, entre tantos outros. Que o hngaro a lngua do diabo, por exemplo.Alm disso, para falar sobre a Revoluo Hngara de 1956, um dos eventos mais lindos e sofridos da histria do sculo 20, precisei conversar com vrias pessoas e ler vrios livros. Conversei com uma mulher que participou da revoluo, com Armnio Guedes, um comunista histrico brasileiro, com Ananda Apple, especialista em orqudeas, e outras pessoas que me ajudaram a compor a narrativa de forma mais verossmil.risz parece ter vindo de um terreno instvel: desde a situao/desiluso poltica em seu pas, a perda de contato com o pai logo na infncia, a condio de estrangeira no Brasil, o fato de ter abandonado seu companheiro e sua me e ter optado por seguir sua prpria vida. Como ela se equilibra em meio a esse cenrio, e segue espontnea, delicada e sem rancor?Acho que seu jeito maluco, espontneo, delicado, sem rancor, como voc disse, tem a ver com a capacidade dela de lidar com as coisas. Ela no sabe direito o que acontecer amanh, como ela vai administrar as coisas, com muita antecedncia. Ao mesmo tempo em que ela responsvel e realiza o que se prope a fazer, ela no planeja muito. Pode ser que amanh surja uma proposta para ir para a Amaznia e ela v, entende? Porque ela no cria vnculos muito fortes com as coisas embora sinta muito amor por elas e porque est aberta ao que vier. Ela no deixa de sofrer e pode ser at que sofra mais por isso tudo, mas tambm no deixa de viver em funo dos problemas que enfrenta. Ela tem uma dose necessria de egosmo, digamos assim.PERNAMBUCO, JULHO 20158Nos tempos confusos em que vivemos, as ques-tes tcnicas, pelo menos no Brasil, tendem a de-saparecer.Aadvertncia,emtomdedesabafo edesolao,doescritorGracilianoRamosem artigosobreaescritoraDinSilveiradeQueiroz, lamentando que os romances no Brasil sejam to descuidados,principalmentenalinguagemena estrutura.Notveldefensordastcnicasparaa construo artesanal da obra de arte de fico, ele sempreanalisouoslivrosdoscontemporneos, demonstrandoconhecimentodoselementosin-ternos da narrativa. O artigo pode ser encontrado nas pginas 162 e 163 do livro Linhas tortas, da editora Record, e compe a segunda parte do volume. Ali, o autor de Angstia lamenta, justamente, a ausncia das tcnicas e faz muitas anlises curiosas.Comeadestacandoaquestodalinguagem, reconhecida hoje como a nica tcnica de destaque na narrativa brasileira. Este comeo fulminante: OromancedeestreiadasenhoraDinSilveira deQueirozmereceumataque.Primeiramente, a jovem paulista no escreve bem: Letcia olhou paraafiladepereiras,paraaestradaquelevava para longe, para lugares escondidos para sempre.E continua: Eu no devia falar em semelhantes coisas, aludir s receitas fceis da cozinha liter-ria, mostrar ao pblico a inadvertncia de algum que, no preparo de duas linhas, meteu a mo na lata das preposies e encaroou um perodo com repeties desnecessrias. E refora com a frase j clssica: Isto um simples reparo, feito apenas porque as questes de tcnica, nos tempos confusos em que nos encontramos, pelo menos no Brasil, tendem a desaparecer.Em outro artigo, desta vez sobre o livro Poro, de Newton Freitas, ele mostra como, tecnicamente, o escritor deve montar o personagem. O que diz ele, do alto de sua autoridade de autor consagrado e de crtico emrito, mestre de todos ns em qualquer circunstncia? O autor nos mostra a parte externa dos indivduos. As suas personagens andam bem, falam, mexem-se. Notamos os seus movimentos e vemos onde elas pisam, mas no percebemos o interiordelas.Estoatordoadas,evidentemente, no podem pensar direito, mas teria sido bom que os acontecimentos se apresentassem refletidos na-queles espritos torturados. Seria prefervel que, em vez de vermos um soldado empurrando brutalmente os presos por uma escada com o cano duma pistola, sentssemos as reaes que o soldado, a pistola e a escada provocaram na mente dos prisioneiros. Isto tcnica absoluta, uma verdadeira oficina li-terria que explica como um personagem deve ser conduzido pelo autor, atravs do narrador, para que o leitor perceba a grandeza da cena. Portanto, uma aula de cena e de personagem, algo que Graciliano realizava muito bem, com a maestria de um estu-dioso que rejeitou um livro de Guimares Rosa e que, mais tarde, ensinou-o a aperfeioar Sagarana. Raimundo CARREROToda (boa) seduo exige apuro tcnicoGraciliano Ramos deixou as pistas para a literatura no se tornar refm da intuioJANIO SANTOSSem tcnica, e isto definitivo, no se escreve uma grande obra. Com a vantagem de que estou aqui falando de dois gnios.No adianta falar apenas em inspirao, intuio e estranhamento. decisivo que o autor conhea e realize as tcnicas que o levam a seduzir o leitor.Mas como possvel realizar esta lio de Gra-ciliano? Veremos em Vidas secas, por exemplo. Na abertura desse romance, Graciliano usa a tcnica do olhar do personagem na posio de narrador ainda naprimeirapginaidentificamosestenarrador, com absoluta clareza. Est escrito assim: Na pla-ncieavermelhadaosjuazeirosalargavamduas manchas verdes.Parece, em princpio, apenas uma narrativa exte-rior, com cenrio muito claro, mas est apresentada MERCADOEDITORIALMarco PoloDesde que surgiu, em 1985, com o livro gua e pedra, Weydson Barros Leal (foto) vem a cada obra se consolidando como poeta, com uma viso de mundo e, consequentemente, linguagem muito prprias, graas forte personalidade e ao grande talento. Aps enveredar pelo teatro com a pea Caetana (em parceria com Moncho Rodriguez) e pela crtica de arte ( autor de dois livros fundamentais sobre POESIAO poeta pernambucano Weydson Barros Leal lana Os dias, pela Topbooks, com textos longos e densosFOTO: DIVULGAOFrancisco Brennand e Gilvan Samico) o poeta pernambucano lana agora Os dias (Topbooks), provavelmente seu melhor trabalho. Em poemas longos e densos entrelaa personagens arrancados da memria com escritores, pintores e msicos, numa dana de imagens e conceitos que transporta o leitor para um universo onde a inteligncia e o requinte ainda so possveis.I Os originais de livros submetidos Cepe, exceto aqueles que a Diretoria considera projetos da prpria Editora, so analisados pelo Conselho Editorial, que delibera a partir dos seguintes critrios:1. Contribuio relevante cultura.2. Sintonia com a linha editorial da Cepe, que privilegia:a) A edio de obras inditas, escritas ou traduzidas em portugus, com relevncia cultural nos vrios campos do conhecimento, suscetveis de serem apreciadas pelo leitor e que preencham os seguintes requisitos: originalidade, correo, coerncia e criatividade;b) A reedio de obras de qualquer gnero da criao artstica ou rea do conhecimento cientco, consideradas fundamentais para o patrimnio cultural;3. O Conselho no acolhe teses ou dissertaes sem as modicaes necessrias edio e que contemplem a ampliao do universo de leitores, visando a democratizao do conhecimento.II Atendidos tais critrios, o Conselho emitir parecer sobre o projeto analisado, que ser comunicado ao proponente, cabendo diretoria da Cepe decidir sobre a publicao.III Os textos devem ser entregues em duas vias, em papel A4, conforme a nova ortograa, devidamente revisados, em fonte Times New Roman, tamanho 12, pginas numeradas, espao de uma linha e meia, sem rasuras e contendo, quando for o caso, ndices e bibliograas apresentados conforme as normas tcnicas em vigor. A Cepe no se responsabiliza por eventuais trabalhos de copidesque.IVSero rejeitados originais que atentem contra a Declarao dos Direitos Humanos e fomentem a violncia e as diversas formas de preconceito.V Os originais devem ser encaminhados Presidncia da Cepe, para o endereo indicado a seguir, sob registro de correio ou protocolo, acompanhados de correspondncia do autor, na qual informar seu currculo resumido e endereo para contato.VI Os originais apresentados para anlise no sero devolvidos.VII vedado ao Conselho receber textos provenientes de seus conselheiros ou de autores que tenham vnculo empregatcio com a Companhia Editorade Pernambuco.Companhia Editora de PernambucoPresidncia (originais para anlise)Rua Coelho Leite, 530 Santo AmaroCEP 50100-140Recife - PernambucoCRITRIOSPARA RECEBIMENTOEAPRECIAO DEORIGINAISPELO CONSELHOEDITORIALA Cepe - Companhia Editora de Pernambuco informa:A editora Vestgio (do Grupo Autntica) est explorando o mercado dos livros dedicados ao pblico jovem, com um vis diferente. Os dois primeiros ttulos so Sherlock Holmes no Japo, de Vasudev Murthy e Jack, o estripador em Nova York, de Stefan Petrucha. A ideia colocar famosos personagens do imaginrio policial em circunstncias e locais diferentes, privilegiando a aventura. O que a poesia? Para que serve? O que faz um ser humano se tornar um poeta? A inspirao existe? Estas e outras indagaes que sempre envolvem o fazer potico so retomadas, desenvolvidas e desdobradas no livro Frente & verso: sobre poesia e potica (Confraria do Vento), pelo poeta, crtico, tradutor e autor de livros infantojuvenis Carlos Felipe Moiss, nascido em So Paulo. Ele confessa AVENTURAEditora investe em literatura policial com pegada juvenilTEORIAEm livro da Confraria do Vento, poeta investiga com obsesso as principais questes em volta dos versosque o livro no nasceu de um projeto, mas da reunio de vrios artigos, entrevistas e anotaes, publicados ou inditos, a remastigar insistentemente o mesmo tema que, desde os dez anos de idade, quase uma obsesso: o fazer potico. Escritos com simplicidade e clareza, os textos trazem mais perguntas que respostas, como modestamente diz o autor. Mas, certamente, surpreendem.a a agonia do personagem narrativa interior, para ressaltar a exigncia de Graciliano com relao montagem do personagem. Onde estaria a agonia do personagem? Exatamente na humanizao do verbo alargar. Cena cinematogrfica: plancie ver-melha com manchas verdes e um verbo enigm-tico porque o olhar do personagem que sente os juazeiros alargando as manchas verdes. Como as rvores no tm sentimento, o personagem passa a agonia fome e cansao , num desmaio que acontecermaistarde.Estafrasepertence,cla-ramente, ao menino mais velho que desmaia e fustigado por Fabiano, com a bainha da faca para que acorde e se levante.Vejamos como isso fica bem claro, logo diante. Na narrativa do menino:Osjuazeirosaproximaram-se,recuaram, sumiram-se.Genial.Osverbosfazemafloraro sentimento do personagem.Em seguida: O menino mais velho ps a chorar, sentou-senocho.Eadiante:Masopequeno esperneouacuado,depoissossegou,deitou-se, fechou os olhos.A grandeza do autor est no fato de que ele no diz, mas mostra. O fundamental disso tudo que o autor consciente de sua misso, no s aconselha como realiza. O domnio da tcnica, que o Brasil abandonou para contar historinhas de terno e gravata, faz a grande literatura ou apenas a literatura, como nos ensinaram Machado, Guimares, Clarice e, claro, Graciliano.Fiqueempaz,mestreGraa.Haindaquem pense em tcnicas neste Brasil confuso.CAPA10PERNAMBUCO, JULHO 2015PERNAMBUCO, JULHO 201511Ronaldo escuta os fantasmas da casaTexto: Schneider Carpeggiani/ Foto: Hlia ScheppaNovo livro do escritor traz o barulho dos habitantes invisveisO 124 era rancoroso. Cheio de um veneno de beb. As mulheres da casa sabiam e sabiam tambm as crianas (Toni Morrison, em Amada, avisando como certos lugares so habitados, para alm dos seus moradores oficiais.)Antes, bem antes desta matria de capa ter comeado a se concretizar, bem antes de termos levado Ronaldo Correia de Brito para ser fotografado em meio a runas e para ser enquadrado num canavial pelas lentes da fotgrafa Helia Scheppa, houve uma conversa entre ns dois na cozinha da sua casa. Ronaldo me falava que algumas tramas do seu novo livro de contos, O amor das sombras (Alfaguara), haviam surgido jus-tamente pelo rudo das mensagens que recebia no seu WhatsApp a qualquer hora do dia. Por rudo entenda a polifonia dos dilogos que comeam e se partem sem aviso (e talvez conversar hoje seja assim mesmo, comear e abandonar o outro no ar, sem nem mais o perdo das reticncias), por arquivos enviados para todos e ningum, e por estranhas fotos de perfil que se erguem e se apagam, transformando identidades em gifs animados. Enfim, uma brbara invaso de privacidade, esse conceito mofado que nos ltimos anos decidimos deixar de lado e tudo bem.A forma como Ronaldo me relatava a relao esta-belecida com seus contatos de WhatsApp me lem-brava a de um morador que se espanta com os ecos, com os andares que visita sem necessidade, s de curioso mesmo, com as vidas e as sombras em que As portas hoje, avisa ele, j no servem de muita coisa. Na casa j se est, ainda que no queiramos (outra vez) entrarAo travar contato com o alto volume das assom-braes a habitar o novo livro que pude compre-endermelhorasuacoleoanteriordecontos, Retratos imorais. S agora consegui escutar o quanto esse livro silencioso. At mesmo em contos que, primeira vista, parecem exigir uma agitao de vo-zes intensa, como a disputa pela coroa do maracatu de A rainha sem coroa, os personagens de Retratos imorais parecem falar para dentro, rangendo o dente comocesraivosos,masmuitasvezescalando antes de ladrar. a angstia como fala entupida, vertidaemimagensforteseclaresdeluzpelas pginas.Sohistriasqueparecemsussurradas emnossosouvidosoumesmoapenasimagina-das. O conto Homem atravessando pontes, por exemplo,mudojnoseuttulo,pelavastido desolidoqueessaexpressocarrega(pensona imagem do homem caminhando por sobre o rio, num movimento que a cmera no interfere e ele nem olha de volta e talvez finja nem perceber que observado). Uma narrativa de passos em que as palavras no podem atrapalhar o percurso. Em Re-tratos imorais, ningum fala e tudo acontece, ainda que num lugar inaudvel, inalcanvel. Em O amor das sombras a tcnica justamente ou-tra:hmuitobarulho,porquetalveznadaesteja acontecendo de fato. E quando acontece de certa forma o contrrio do que deveria ter ocorrido, ou mesmoocorridoantesdoacessoaquetemoss histrias,aescosturadaspordentro.Porisso, talvez, se fale tanto, se berre tanto. Por isso tantas assombraes so concebidas. Aqui o silncio no deserto; barulheira. O primeiro conto do livro, Noite, j comea no meio da cena, com o dilogo que atropela os personagens, a notcia que no pede licena: No acharam os corpos. O que fazer com uma informao dessas? E agora? No se fala de corpos sem a expectativa de algum espanto. comoseosomdoWhatsAppnosacordasseem meio madrugada, o fantasma ao lado da cama. Na histria seguinte, Bilhar, o recurso retorna comoannciodeumapossvelmaldiojnas primeiras linhas: Desa a calada, tape o nariz e no respire quando passar em frente casa. E assimsomosguiadosporpersonagensqueno dotemponemparaoescritornosdizerdireito onde estamos ou para onde estamos indo. H tanto querendoacontecer,tantodesejoquerendoser concreto,sercarne,queapolifoniaamorteceo leitor. H sempre algo a ser ouvido num monlogo que no acaba, que no d trgua. Um zumbido em algum lugar bem fundo do ouvido. Talvez seja esse o livro mais complexo da carreira de Ronaldo, em que ele verticaliza ainda mais a sua relao com o cinema; um cinema que comea em tela aberta, de alta tecnologia, com cores estouradas, 3D, mas quevaisegranulando,amarelandocomapas-sagem do texto. O som est l, mas vai falhando. AoterminarmosOamordassombras,aimpresso queorolodeprojeofoicortadonomeiodo filme,seupontofinalcomoaqueleincmodo que sentimos na hora em que as luzes so acessas e estamos ainda num outro lugar e no ali sentados eabobalhados,comoestotodosaquelesquese encontram meia-luz de algo.Se comentei aqui que a imagem do ttulo Ho-mematravessandopontesexalavasilncio,os substantivos solitrios que Ronaldo escolheu para batizar as histrias de O amor das sombras parecem tropea ao se mudar para um novo edifcio. Ronaldo habita agora uma nova vizinhana, um novo endereo onde seus vizinhos so incmodos, barulhentos na superficialidade das suas paixes e indiscretos at em seus silncios. Na nova casa, nem sempre trancar a porta resolve as paredes dessa construo so finas e ocas, frgeis, mas donas de um temperamento bem forte. Talvez a essa agitao que no conseguimos abafar, que independe de nossos esforos, damos muitas vezes o nome de assombrao.comoseessecondomnioqueRonaldo agoracarregadentrodobolsofossejustamen-teumterritrioassombrado.Pensandoassim, compreensvel que ele tenha levado talvez para tentar entender ou mesmo denunciar, como aquele moradorquechamaapolciaparaacabarcoma festanumamadrugadaqualquerdesbadoo moldedealgunsdessesfantasmasbarulhentos para dentro de um livro. PERNAMBUCO, JULHO 201512CAPAtodos ter um som peculiar talvez som no seja amelhorpalavra,masrudomesmo,essaa mais suja, mais invasora : Bilhar (o toque do taconasbolas,aideiadealgunsdestinossendo cruzadoseextraviados,coposseesvaziandono fundodosalo);Helicpteros(otremorvindo de cima, incmodo e invasivo, chegada e partida como um s movimento para se distanciar de algo ou algum ou o pavor de no estar sozinho numa casa mais pesada que o ar); Noite (cachorros latindo, portas se fechando, a percepo de que o fim de algo se aproxima ou de que uma situao precisaseratravessada,avozdeDylanThomas pedindo dont go gentle into the good night de formaincessante);Vu(ospassosfinaispara umpossvelsim,algumTheEnd,amarcha nupcial a invadir a nave da igreja ou um rosto que se cobre para a morte, que tanto pode ser o amor ou a decomposio de corpos insatisfeitos); Fora (gestos de atrao e repulsa ou mesmo a confisso atrapalhadadofracassoquenoschegalogonas primeiras linhas: O que a senhora mais lamenta? No conseguir desenhar nem pintar); Atlntico (ondas quebrando, o vento do mar que sitia uma cidadeesuapopulao,asensaodenufrago numa ilha ainda sem Sexta-Feira)...Mas antes de escutar os rudos que perpassam esse novo trabalho de Ronaldo, havia ainda uma outra percepo que me chamava ateno na obra PERNAMBUCO, JULHO 201513Eu precisei do desconforto do exlio para compreender- -me e tornar--me um escritor, afirma o autor radicado no Recifedo escritor: a alegoria constante da casa, que atra-vessa boa parte dos seus escritos. Do romance Gali-leia, em que os personagens se afastam apenas para ter a certeza de que nunca foram embora, passando pelas inmeras habitaes que cercam o novo livro. AquihacasadepudoresmofadosdeBilhar, com seus cheiros de suor e de sexo, e tambm a casa descrita no conto Noite, erguida h quase 200 anos e separada do mundo por uma fileira de degraus. Uma casa de cal branca nas paredes, com seus arcos amarelos em torno das portas e janelas, com sua pintura azul nas madeiras, onde a edifica-o inteira parece ter virado uma crosta gigante de sujeira. De nada adianta mant-la fechada, avisa o narrador. As portas hoje, avisa Ronaldo, j no servem de muita coisa. Na casa j se est, ainda quenoqueiramos(outravez)entrar.Ocurioso que mesmo que saibamos disso, o livro termina com uma v tentativa de afastamento: Vai entrar?Pergunta o motorista. No.Respondo e prosseguimos a viagem em silncio.Em Perfeio, a casa monstruosa, no fantas-ma ainda, mas j zumbi, um Frankenstein, com-para, preciso, o narrador Mveis se misturam aleatoriamente, como se estivessem sido largados dentro de um depsito j cheio com outras quin-quilharias. Caixas cobertas de poeira entulham os cmodos, as fitas de lacrar nem foram removidas.Diante de tantas casas e de tantas vozes que con-tinuam a ser ouvidas, ainda que seus moradores j tenham deixado o endereo h tantos e tantos anos,aindaquefechadasasportaseaschaves jogadas em algum lugar distante, decidi colher um depoimento de Ronaldo em torno das edificaes, as emocionais e as de concreto. Nascido na cidade deSaboeiro,noCear,Ronaldosemudoupara oRecifenocomeodosanos1970,paraestudar Medicina. , de certa forma, um exilado. E talvez no exista palavra mais forte para um exilado, no importa o motivo desse exlio, que casa.Seguem agora as vrias casas que Ronaldo tem habitado (ou fisicamente se afastado) para escrever.***Sa da casa dos meus pais, prometendo voltar da a uns anos, e nunca retornei. No foi possvel voltar.Eupreciseidodesconfortodoexliopara compreender-me e tornar-me um escritor. Sim, o exlio existe, sobretudo como uma sensao in-terna, algo que nos corri e nos consome.***Soufortementeligadoscasasondemoreie deixei para trs. Nasci na fazenda Lajedos, Serto dos Inhamuns, no municpio de Saboeiro, numa casa levantada pelo meu av paterno. Nessa pro-priedade havia duas construes marcantes: uma barragem, com parede de blocos de pedra, verda-deiro milagre da engenharia do sculo 18; e uma casaalpendrada,quepertenceraaoViscondedo Ic, infelizmente destruda pelos parentes. Quan-do completei cinco anos, meus pais decidiram se mudarparaoCrato,porquenohaviafuturono campoeelesqueriamqueosfilhossetornas-sem profissionais liberais. Foi o primeiro xodo, o abandono da paisagem sertaneja. No Crato senti--me estrangeiro, embora eu amasse a cidade to bonita na dcada de 1950, cercada pela Chapada do Araripe, nascentes dgua e floresta atlntica, bem diferente do deserto bblico de onde eu vinha. Essa condio de imigrante, de no pertencido, se agravaria ao longo da vida, determinando minha relao com o Recife, a cidade que elegi como des-tino, mas onde continuo me sentindo estrangeiro. A obsesso por casas talvezdecorra do desejo de ter um lugar prprio. Minha famlia chegou ao Serto dos Inhamuns no final do sculo 17, havia alguns cristos novos, gente fugindo da Inquisio. Um tio no oitavo grau assassinou a esposa e escondeu-se na residncia do irmo, um edifcio que continua dep,emmeiocaatingadacidadedeAiuaba. Trata-sedaCasaGrandedoUmbuzeiro,queme assombra desde pequeno. Carreguei o peso desse assassinato como se eu o tivesse praticado. Nunca tive coragem de entrar na casa onde se escondeu o infeliz assassino. Ela aparece no conto Faca, do livro Faca; no conto O que veio de longe, do Livro dos homens; reconstruda e assume a trama prin-cipal no romance Galileia; assombra o personagem Cirilo, em Estive l fora; retorna com toda fora nesse novolivrodecontos,Oamordassombras.Qualo fascnio? No sei responder. Sei que vez por outra uma nova obsesso me deixa maluco, aparece nos sonhosepesadelosesmelargaquandoplanto seus alicerces na escrita: conto, romance ou novela. Mesmo no teatro mais alegre, como na pea Baile do menino Deus, a trama gira em torno de uma casa a ser encontrada e uma porta a ser aberta. Acho o tema da casa profundamente metafsico e cheio de simbolismos e mistrios. Uma cano de reisado diz: essa casa coberta com um vu... Melhor que no se desvele, para que no cesse nunca a criao.***A casa o tero onde se fecundam as famlias, as histrias, as desavenas, os dios, as traies, as vinganas e os crimes. O lugar onde as pessoas morriam e eram veladas, antes de serem levadas aos hospitais para se esconder que elas morrem. O palco de epifanias e tragdias, o maior de todos os teatros. A foto do meu av materno dentro do caixo em que foi enterrado ocupava a parede principal da Casa do Boqueiro, onde passei a maior parte da infncia e adolescncia. Quando Pedro Zacarias deBritofaleceuprecocemente,minhaavDlia Nunes de Brito mandou levantar uma parede divi-dindo a casa ao meio. Um lado era habitado apenas pelas lembranas do nosso av, suas tralhas e seu fantasma.Nooutrolado,existiamosvivos,seus hbitossimplesdecomer,falaredormir.Euera PERNAMBUCO, JULHO 201514CAPAA morte uma tentativa v de escapar das casas que habitamos, diz o escritor, em paz com suas assombraesumacrianadelicadaesensvelaessasimpres-ses. Quando deixamos nossa bela residncia dos InhamunsechegamosaoCrato,penamosanos, morando em verdadeiros tugrios at que meu pai construsse uma casa decente para a famlia. Esses anos sem casa deixaram impresses fortes, ainda hojemeassombrameprovocampesadelos,me ocupam quando escrevo, como se eu ainda vagasse em busca de um paradeiro, igual s almas penadas de que tanto ouvi falar na infncia.***(Sobre a casa do conto Bilhar) Na cidade do Crato, aonde cheguei com cinco anos, havia uma casa bem prxima igreja matriz, que fora habitada por uma famlia de morfticos, como chamvamos as pessoas acometidas pela hansenase. A crnica dessa famlia infeliz era bastante srdida e a cidade no perdoava seus personagens. Quando conheci a casa, ela j se encontrava fechada, coberta pelo mato e meio arruinada. Era imensa, ia de uma rua a outra. Seus antigos moradores tinham morrido, restando apenas a histria de pecado, luxria, vcio, e muita fantasia em torno disso. Apesar dos anos passados,todosdesciamacaladaetapavamo narizaocruzaremfrentecasa,commedodo contgio. Sa muito cedo do Crato, com apenas 16 anos, mas os relatos se guardaram dentro de mim. Numa visita a uma prima cratense, ela decidiu me revelar detalhes escabrosos da famlia morftica, que eu havia esquecido completamente. Bom, eu tinha o material para um conto ou at mesmo um romance. Atraa-me o mistrio em torno da casa e a morbidez das pessoas que a habitavam. Jorge Luis Borges refere que sempre que existe um bom argumento para um conto, surge o autor e estraga tudo.Deixei-meseduzirpelosfantasmastrans-gressores,aquelesqueviviamperigosamentee margem.AlfredoVillar,oinfelizheridomeu relato,possuitodososdefeitosequalidadesque euaprecio.Opersonagemnarrador,umgaroto dedezoitoanos,sofreumaobsessoporele, fortemente atrado pelo risco do contgio. Quem tiver curiosidade de conhecer os detalhes do conto, leia o livro. Criei aproximaes entre Alfredo e o poeta espanhol Francisco Quevedo, bastante lido no Cear na dcada de 1950, e que tambm possui umabiografiadeexcessoserticosemorbidez. Odesfecho,quandoogarotoprocuraentrarna casa,indoaoencontrodeAlfredo,arrepiante. Exige certa coragem do leitor para seguir em frente. Aconselho que no se acovardem e prossigam.***(Sobrecasasassombradas)Nonadapare-cidocomorealismomgico,anoserodeJuan Rulfo. O que h de mais assombroso nas casas a sensaodequeelascontinuamhabitadaspelos antigos moradores, que ningum se foi delas e todos continuamnoseuinterior.Eissonofantasia, masumaverdadeslida.Percorriosalicercesda casamonumentaldoViscondedoIc,noMonte do Carmo, no municpio de Saboeiro, onde nasci. DepoisfuicasadoMonteAlverne.Viosarcos abatidos do palacete em meio ao deserto, os currais de pedra sem gado, e at encontrei uma esttua de mrmore, representado a primavera, com o rosto mutilado. Era uma obra de arte abandonada, mas no tive coragem de lev-la comigo. Seus antigos donos poderiam bater minha porta e cobrar que euadevolvesse.Assombroso,paramim,que todoscontinuemperambulandopelascasas.Por isso nunca tive coragem de entrar na Casa Grande do Umbuzeiro, onde meu tio Joo Bezerra do Vale se escondeu, depois de assassinar a esposa inocente. Sempre temi reencontr-lo e temi o que pudssemos dizer um ao outro. Nem todos aguentam a revelao dos mortos e eu no sei se aguentaria. Achei melhor deixar que o personagem Adonias conversasse com ele, no romance Galileia. um encontro fantstico, semelhante ao de Jos com Alfredo, no conto Bi-lhar.Ascasasassombradassoaquelasquenos encarceram, como fez a do Umbuzeiro com tio Joo Bezerra do Vale. Eu vez por outra o liberto, mesmo que sempre morto. A morte uma tentativa v de escapar das casas que habitamos.PERNAMBUCO, JULHO 201515Jos Humberto Pinheiro Em Bilhar, conto que integra o livro O amor das sombras, Ronaldo Correia de Brito fazseunarradorlembrarainfnciaea juventude de iniciaes e contatos com livros,amor,filosofia,violncia,sexo, traio,lealdadesedeslealdades.Uma autobiografia em que a formao est em jogo. Mas a histria nos chega em tipos, inabalvel numa crena em si mesma. Orapaz-personagem-narradorde Ronaldo tem a emoo de um romnti-co. Poderia ser leitor de outro espanhol, este sim, um autntico prosador de capa eespada,comheronasentrechorose desmaios. Um romntico, inclusive com aquelahistriadosentimentopartido. Oraaprendemosalgumacoisanosli-vros,mesmonospiores,convenci-me maistarde;oraquenojoeusintoda literatura. E supor que ela me agita, me faz parar em frente casa amaldioada, bisbilhotando as frestas acessas. No diferente de outras cenas com lei-tura, inclusive com a mistura de literatura eaprendizageminventadapelosculo 19. Por exemplo, o professor Berredo, no romanceANormalista,queinsistianum determinado tipo de enredo para tornar til o uso dos livros e da fantasia. Dizia salunasquelessemJlioVernenas horas de cio; era sempre melhor do que perder tempo com leituras sem proveito, muitasvezesimprpriasdeumamoa de famlia... Duzentos anos atrs, com os projetos de universalizao da alfabetizao e uma sistematizaodoensinodeletrasnas escolas, o debate sobre quais leituras de-veriam fazer parte do currculo escolar se tornou intenso. Em tal espao normativo, cruzava-sepedagogia,moralecincia. Einmeraspublicaesservirampara disciplinaressaprtica.Umadelasfoi oDicionriododoutorChernovizque pretendia ser um alerta cientfico contra as leituras de fico. Uma espcie de manual para conter o perigo de algo visto como ameaa para a sade fsica e moral e sua associao com os desvarios da paixo. Doena, paixo, leitura, fico, poesia eram naturalmente relacionadas, inclu-sive com versos e prosas que no teriam sido feitos para aquela proximidade. Tal-vez o homem-personagem-narrador do conto de Ronaldo possa ser lido como um leitor oitocentista, que ler poemas de um sculo com caprichos de outro.QuandoaInstruoPblicadeuma Provncia ou os administradores de uma biblioteca pblica no sculo 19 preocu-pavam-se com o que seria ensinado ou consultado,haviajumaapropriao, uma definio do que era e no era lite-ratura, fazendo, nesse movimento, com que produes passadas recebessem uma nova classificao.Falava-sedeVirglio,Ovdio,Cer-vantes,Cames,Dante,Quevedonas agremiaes literrias, nas escolas, nos gabinetesdeleitura,nasconversasen-tre escritores, como ainda falamos. Mas adicodessasglosaseraromntica como ainda . O sculo 19, sua ideia de representao e histria da literatura, sua lgica linear, fez desses autores e de ou-tros precursores da sua potica e da sua sensibilidade.Quevedo, leitor de RonaldoPERNAMBUCO, JULHO 201516PERFILum princpio do qual no abre mo: o da fidelidade. Trabalhomuitodemaneiraintuitiva,masfao tambm questo de no ser o autor do texto. Pretendo ser rigorosamente fiel ao autor, por respeito ao trabalho dele. O leitor comum dono do texto, pode fazer com ele o que quiser. Eu no posso fazer nenhuma leitura deliberada, mas sim tentar chegar perto daquilo que o autor queria que o texto fosse.Sem muita teoria e sem muito plano, as tradues foramaparecendo,vieramprmios,convites, propostas e pedidos. No Brasil eu criei uma fama. estranho. A gente nunca sabe se est realizado. Isso de tradutor conceituado difcil e traioeira. perigoso, a gente comea a ter fama, se achar o melhor, e de repente te recusam uma traduo. Tenho a sensao de que a qualquer momento a festa pode acabar. Um dia algum pega uma traduo minha, destri, e fim. A profecia parece distante. No ano passado Kegler foi condecorado com o Prmio Straelen de Traduo, por Eles eram muitos cavalos (Es waren viele Pferde), livro de Luiz Ruffato. O galardo foi dividido com Marianne Gareis, pela traduo de Dom Casmurro, de Machado de Assis. Foi a primeira vez que o badalado prmio foi entregue a uma traduo do portugus. O BRASIL EM FRANKFURTEm 2013, o Brasil foi o pas convidado da Feira do Livro de Frankfurt. Responsvel por organizar diversas atividades no evento, Michael Kegler aproximou-se ainda mais de escritores brasileiros e das instituies do pas. Tambm, um pouco que sem querer, ajudou amudaralgumaspolticasrelacionadasaoapoio Nos livros que traduz, nas antologias em que figura, nosfestivaisdequeparticipa,MichaelKegler apresentado mais ou menos assim:NasceunaAlemanhaem1967.Passouparte dainfncianoBrasil,ondefoialfabetizado.Foi pupilodaagenteetradutoraalemRay-Gde Mertin. Trabalhou na tradicional Feira do Livro de Frankfurt durante mais de uma dcada. Traduziu alguns dos escritores contemporneos em lngua portuguesa mais conhecidos, como Ondjaki, Jos Eduardo Agualusa, Joo Paulo Cuenca, Luiz Ruffato, Gonalo M. Tavares e Michel Laub. Em 2014 recebeu o prestigiado Prmio Straelen de Traduo.Mastambmpossvelapresent-lodeoutra maneira:Michael Kegler nasceu na Alemanha em 1967 e ainda recm-nascido mudou-se com a famlia para a Libria. Aos 4 anos uma nova mudana levou-o para Congonha do Campo, Minas Gerais. Na adolescncia, na Alemanha, flertou com o Anarquismo e quis mudar o mundo. Para evitar o servio militar trabalhou num hospital psiquitrico. Era para ser um servio de alguns meses. Ficou por quatro anos. Na Universidade criou sua prpria grade curricular: assistia s aulas que tinha interesse (Histria, Ingls, Traduo, Filosofia) semnuncafazerumaavaliao.Trabalhouna construo civil e numa livraria. o tradutor de alguns dos principais nomes da nova literatura em lngua portuguesa, mas no sabe dizer muito bem como chegou at l, nem explicar como trabalha.Michael Kegler fala portugus com sotaque de Minas Gerais. Gosta de cachaa e de conversa. O esteretipo do alemo est muito mais no seu fsico bastante alto, tem uma cabeleira loura e os olhos claros do que no seu carter: no metdico nem ordenado, informal no trato com as pessoas e a improvisao no algo que lhe confunda, mas o agrada. Conta que nunca fez muitos planos na vida. Fui fazendo coisas. Trabalhava em livraria, uma traduo aqui outraali,projetoscomaFeiradeFrankfurt,at desenhos para jornais eu fiz. Na Universidade, saltou de um curso para outro sem terminar nenhum. Essa coisa anarquista de querer uma formao, mas no querer papelada, sorri ao dizer. Em 1995 nasceu a minha filha, eu no estava casado ainda. Pensei: vou concluir o curso. E ento percebi que no tinha comprovante de nada, tinha feito provas e nunca ia buscar os resultados. No tenho comprovante do meu estudo universitrio. Tentei recuperar isso, voltei s aulas, mas no tinha disciplina. Era muito chato conviver com alunos muito mais novos, e acabei por abandonar de vez o curso.Chegou traduo quase que por acaso. Um dia viu na universidade o anncio de um curso com uma tradutora. Lembrou-se de ter visto o nome dela (Ray-Gde Mertin, uma prestigiada professora, tradutora e agente literria j falecida) num livro que uma vez lera (No vers pas nenhum, de Igncio de Loyola Brando) e decidiu inscrever-se. Com a ajuda da professora arrumou um trabalho como livreiro. Por conta do trabalho na livraria foi convidado para colaborar na Feira de Frankfurt. Um dia, nessa feira, foi fumar um cigarro e comentou com um conhecido, funcionrio de uma editora, que estava lendo um brasileiro chamado Fernando Molica. Contou o enredo com tanto gosto que ouviu como resposta: No gostaria de traduzir esse romance? Foi o primeiro livro que recebeu para traduzir antes havia traduzido um romance de um mtico comunista portugus, lvaro Cunhal, numa edio totalmente caseira, trabalho feito por ideologia e gosto. Aps a traduo do Molica foi procurador por uma editora que havia adquirido os direitos de publicar o angolano Jos Eduardo Agualusa. A engrenagem tinha sido colocada em marcha, j no faltaria trabalho para Michael. Se calhar porque sei fazer isso bem, mas tive muita sorte na vida tambm. Sou tmido e no sei pedir trabalho, no sei vender nem negociar valor. O tempo foi passando, e Michael, meio que sem se dar conta, virou uma referncia em sua rea, modelo para os mais novos. Isso de ser uma referncia assusta, at porque no sei explicar como fao, eu sei fazer. s vezes me sinto um pouco inferior a esse pessoal que vem do universo acadmico, que sabe explicar o que est fazendo. No tenho muita teoria. Apesar de ter estudado muito eu no posso explicar gramtica, no posso explicar porque que fao tal coisa. muito intuitivo. A traduo tem que soar bem aos ouvidos, como diz o Chico Science. Basta soar bem aos ouvidos, no isso? Para mim assim que funciona. H, sim, JANIO SANTOS SOBRE FOTO DE DIVULGAOEntre lnguas: basta soar bem aos ouvidosO alemo Michael Kegler fala do trabalho de traduzir a atual literatura brasileira Ricardo VielPERNAMBUCO, JULHO 201517Odiscursofoiumdivisordeguasnavidado escritor mineiro e aproximou-os mais. Em 2014 o amigo Luiz Ruffato visitou a pequena Hofheim, vila onde a famlia Kegler vive, e viu como o tradutor alemo tornou-se famoso de um dia para o outro. Apareceu na televiso com seu ar de hippie, jogando futebolcomobrasileiro,edeuentrevistaparao jornal local. As velhinhas da minha vila vieram falar comigo, com o jornal na mo, e queriam que eu assinasse. Ficaram contentes, porque achavam que eu no trabalhava, no me viam sair de manh comoosoutrosvizinhos.Estavamaliviadase orgulhosas, porque em cima descobriram que sou tradutor literrio. Sou quem menos ganha ali naquela vila, mas eles acham que isso uma grande coisa, diverte-se. Michael sempre pensou que a traduo poderia ser algo transitrio, mas com o tempo vem mudandodeopinio.Issodeterumaprosso de verdade cou complicado. Sempre pensei que seacoisanocorressebemvoltariaatrabalhar na construo civil. Agora que z 48 anos pensei: j no me aceitam. Se for pedir emprego numa fbrica de automveis no me admitem. No tenho sada, vou continuar com a traduo, diz e sorri com gosto.Entre os escritores brasileiros que j traduziu, alm do amigo Luiz Ruffato, demonstra uma queda especial por Eliane Brum. Eu traduzi um conto dela e queria traduzir mais coisas. Gosto muito do que ela escreve, acho que ela tem um olhar diferente, muito para as margens, independente do assunto que aborde. Acho muito interessante.Com um pouco de sorte, mas sobretudo com talento e uma maneira de trabalhar muito generosa, Michael Kegler vai se consolidando como um dos principais tradutoresalemesessaescolatorespeitada nomundoeditorial.Umtradutorcomalgumas caractersticasprprias,comocolocarocorao diante do bolso na hora de escolher os projetos. At agora s tenho traduzido quem eu gosto. No sei se vai ser sempre assim. Acho que gostar do livro um passo importante para que a traduo fique boa. O livro que voc traduz vira tambm um pouco seu. Ele me acompanha, cada palavra daquele livro tambm minha palavra. traduo. Em 1994 fiquei meio chateado com a participao do Brasil em Frankfurt [naquele ano tambm foi o pas convidado], porque foi aquele oba-oba e depois acabou, no ficou nada. Fiquei muito frustrado. Fiz o requerimento, poca, para traduzir um livro e no obtive nem resposta. Nos preparativos para 2013 coloquei isso tudo na mesa. Disse que o programa de apoio traduo no funcionava, que o formulrio tinha 36 pginas e o de Portugal tinha duas; que portugueses cumpriam prazos e pagavam, e davam resposta, e que era assim que se fazia. Fui bastante indelicado, mas teve algum na reunio que escutou e passou aquilo que eu disse diretamente para o Ministrio da Cultura. E a coisa evoluiu, explica. Agora o programa de apoio traduo funciona. Funcionaporqueaspessoasqueestoatrsso excelentes. Sabem dos problemas que um tradutor enfrenta, j no to burocrtico. Muitos livros foram traduzidos nos ltimos anos graas a isso.TambmnaquelaediodaFeira,Keglerfoi testemunha do inflamado e crtico discurso proferido por Luiz Ruffato na abertura. Ns j nos conhecamos, eu j havia traduzido um livro dele e fiquei sabendo antes o teor porque ele me enviou o texto perguntando o que eu achava. E depois o traduzi para o material deimprensa.Estvamostodosmuitonervosos, porque sabamos que era um discurso duro, mas ningum contava com as reaes que vieram. Pessoal aplaudindo de p, todo mundo querendo falar com ele, e, tambm e infelizmente, as hostilidades, que nos preocuparam muito. Mas houve muita solidariedade, por parte dos alemes inclusive. Eu no posso fazer nenhuma leitura deliberada, mas sim tentar chegar perto daquilo que o autor queria que o texto fosse.O COMPUTADOR QUE QUERIA SER GENTEHomero FonsecaCerto dia, Joozinho, um garotinho de 10 anos, e Ulisses, seu computador, decidem trocar de lugar por 24 horas. A mquina queria saber como ser um humano, por pensar que teria toda libedade que quisesse. R$ 30,00ERA UMA VEZ...Gabriela Kopinitz dos SantosA personagem Cigana Contadora de Histrias, criada pela jornalista Gabriela Kopinits, que costuma ser levado escolas para sesses de contao, transforma-se em protagonista e narra vrias de suas historinhas nesse livro, que promete encantar as crianas. R$ 40,00ANTONIO CALLADO FOTOBIOGRAFIA Ana Arruda Callado (Org.)Organizado por Ana Arruda Callado, viva do biografado, Antonio Callado Fotobiograa percorre toda a trajetria do escritor, dramaturgo e jornalista, numa sucesso de textos curtos e saborosos. R$ 90,00ARTE & ARQUITETURANO BRASIL HOLANDS(1624-1654)Jos Roberto Teixeira LeiteResutado de 50 anos dedicados ao estudo contnuo das artes e arquitetura no perodo da dominao holandesa no Brasil, o livro de Jos Roberto Teixeira Leite, Arte e Arquitetura no Brasil Holands (1624-1654), se debrua especialmente sobre a Arquitetura, o Urbanismo, a Jardinstica e a Cartograa, sem esquecer da Literatura, do Teatro, da Msica e das artes decorativas.R$ 60,00A EMPAREDADA DA RUA NOVALivro mtico da literatura pernambucana, A emparedada da Rua Nova, escrito por Carneiro Vilela,deve seu sucesso, em grande parte, ao mistrio que cerca sua criao: o autor teria retratado um crime verdadeiro e hediondo, em que uma moa indefesa fora emparedada viva, pelo prprio pai, em defesa da honra da famlia? Ou teria Vilela, usando recursos estilsticos de grande qualidade, criado a estria que, de to bem construda, faz com que at hoje muita gente acredite que ele se baseou em fatos reais?R$ 45,00ALGUM VIU MINHA ME?Pedro Henrique BarrosUma menina e uma joaninha vivem o mesmo dilema: uma srie de mal entendidos faz com que se sintam abandonadas pela me at que os problemas se resolvem e elas compreendem que so muito amadas. R$ 20,00TIMO PORTODE HENRIQUE GALVOAna Maria CsarMinuciosa pesquisa sobre o ambiente que cercava o capito Henrique Galvo, comandante do navio portugus Santa Maria, que atracou no Recife em 2 de fevereiro de 1961, com 871 pessoas a bordo. Galvo apoderou-se do navio em protesto contra a ditadura salazarista, e recebeu asilo poltico concedido pelo recm empossado presidente brasileiro Jnio Quadros.R$ 45,00O CORPO E A EXPRESSO TEATRALGeorges StobbaertsO livro nasceu das experincias do autor , que aliou a prtica de Jud, Kendo, Iaido e Aikido, as losoas Zen e Yoga e a formao de atores, resultando numa articulao entre a arte e o movimento, da qual nasceu o projeto Tenchi Tessen, que se baseia em reexo, meditao e ao.R$ 25,00SUBVERSIVOS: 50 ANOS APS O GOLPE MILITARJoana RozowykwiatAlguns dos subversivos que atuaram em Pernambuco aps o golpe militar de 31 de maro de 1964, entre os quais Luciano Siqueira e Humberto Costa, abrem o corao, revelando como se sentem em relao ao passado e o que esperam para o futuro do Brasil. O livro nasceu da tese de ps-graduao em Jornalismo Poltico da autora.R$ 25,00POEMAS 2Daniel LimaPoemas 2 rene as obras inditas Cancioneiro do Entortado e Dernantonte, que aproximam uma expresso popular nordestina e uma brincadeira ou cano antiga, num jogo de palavras que revela o apelo armao de algum que encontra na poesia o meio de, mergulhando em seu ntimo, entregar ao leitor o que descobrira nas profundezas de si prprio.R$ 40,00FAA SEU PEDIDO 0800 081 1201 [email protected], AVENTURA E HISTRIA EM LIVROS PARA ADULTOS E CRIANASSUBVERSES MATEMTICAS - PARA JOVENS DE 8 A 80 ANOSDcio Valena Filho Jogos, quebra-cabeas e brincadeiras que utilizam o raciocnio lgico compem o livro de Dcio Valena, engenheiro que se intitula matemtico amador por ser um apaixonado desta cincia. Incluihistorietasatribudas a gnios da matemtica, e decifra os problemas mais difceis. R$ 40,00PERNAMBUCO, JULHO 201519INDITOSMarco AlbertimOs peitos de Gertrude eram fendidos por estrias. Aos trinta anos, podia ter quarenta; trs filhos, um de cada vez, prostraram-lhe as mamas, mesmo com os bicos em riste. No nibus, em qualquer lugar, punha o mamilo na boca do filho; punha com graa, inci-tando moas e velhas sem filhos. O amante, tambm vindo de npcia gorada, no a emprenhara. Agora, julgava-a vencida. No comeo, amaram-se garim-pando cada penugem do corpo. O sulco abaixo das costas de Gertrude, dividia com justia suas ndegas. Ele o via murchar, obedecendo exausto dos seios. Montava-a no escuro para no ter que olhar suas mamas piongas. Queria falar, acanhava-se, fingia dormncia, deprimia-se.Na rua salpicada de bordejos fluorescentes, a rala procisso de notvagos seguia para a bilheteria. Majo foi o primeiro a descer do txi; dobrou com adulao o banco para Chica descer. Gertrude achou-o reme-lento, riu sem esconder o riso. Andavam, sentavam distantes um do outro; apostavam nos resduos de desejos que os uniam.O Estrela, no sbado, era um borrifo de smens. A orquestra estrilou a rumba, infundindo gozo na cren-a de que logo a Repblica seria livre. Majo chamou Chica para danar, danar como velhos rumbeiros. Chica, pernas e coxas bastas, cintura mvel, a corola fechada; seios duros no ritmo da rumba epilptica, rosto suado e cabelos incivis. Majo cegou sob os raios das luzes. A orquestra emendou a rumba com um frevo. Seus olhos, duros, chisparam-na. Puxou-a pela cintura, beijou-a demoradamente.O ar corruto incitava o desvario.Xisto preferia ser proscrito a ter que frequentar festas de famlia. Convidara Chica, inquietou-se com a ausncia dela. Crescera entre os dois uma relao apropriada a desagravos. Mais dia, menos dias, ela se sentiria dependente, entregar-se-ia. Caetano, seduzira-o a combinao impossvel entre a com-pleio mida de Gertrude e sua inteligncia ligeira. Aquela mulher tem o diabo no corpo dissera a Xisto.Por agora, entretinha-o com o fogo das palavras movidas pelo raciocnio veloz; chamuscava-o. Ele se dava o prazer da imolao. Inda que suspeitasse, ela no se punha rdeas; comprazia-se na poro dos midos e incisivos sons de suas palavras. Caetano mexia-se de um lado e de outro. Ela no se dava conta. Isso o deixava furioso.ltimoacordedaorquestra.Luzesbrancas.A psicodelia dos refletores d lugar ao negrume da cal borrada nas paredes. O piso, antes oculto, mostra uma poeira incolor cujo bafo se mistura oxidao dos cigarros. A luz baa, doentia. Os rostos no tm o vio da gnese.Os cinco descem a ladeira. No esto cansados. Xisto abaixa os braos, deprimido; oculta-se na im-preciso das luzes dos postes. Gertrude, ligeira, ao lado de Majo: No precisa me dizer nada, Majo. Faa o que tem vontade. Tome seu anel de volta. Quero me despedir de voc. Voc j deu adeus, l do meio do salo. Quero lhe dizer o quanto lhe sou grato. No quero que pense que sou irresponsvel. No quero julg-lo agora. Tenho medo de per-der a calma; o mais provvel. Tem o direito de pensar o que quiser de mim. Digo isso embora com receio da repercusso de suas palavras em meu peito. Por isso, me d a chance de dizer o quanto voc foi importante para mim. T bem... Na frente de todo mundo. Une petite runion!Deus do cu! Ela tem mesmo o diabo no corpo...Gertrude se confessara ao primeiro marido com um discurso rpido, com vistas ruptura da inc-modavirgindade.Demodoigualconfessaraseu amoraMajo,nafrentedeumedeoutro,com vistas celebrao. Odiava enfeites no raciocnio. O marido, sem esperar, fez votos de fortuna ao novo consrcio e foi curar-se do revs sozinho. Majo falou com as mos, bebeu com engasgos. Amaram--se como dois alforriados na mesma noite. Gertrude comemorou o resultado de sua logstica fria.A familiaridade comeara na segunda ou terceira entrevista. No ptio de um hospital administrado por freiras, freiras novas, de intrigante virgindade. Tenho pena de v-las com o hbito... Por qu? Deviam amar de outro modo.Gertrude riu um riso mido.Reencontraram-secincoanosdepois,ambos com o casamento em crise. Voc era a freira que me impressionava.Noquisdizernada.Euestavabemcomo meu marido.Sevocfossefreira,seriacapazdejogaro hbito fora.Ela riu o mesmo riso de h cinco anos. Esperou paradizeraomaridoqueocasamentomorrera. Dormiriam em quartos separados. Tinha novo pa-relho e instinto muito para ser s de um.Majo amou-a at descobrir-lhe a carne mur-char. Queria separar-se para se ver livre de remor-sos. A moo de reunio, queima-roupa, inquie-tou-o. Gertrude era persuasivamente invulgar.Vulgar era o uso de fichas de radiola com duas fendas de um lado e de outro; a cor de chumbo sujo por dedos suarentos, de nicotina. Ele trouxera fichas juntadas nas folganas com Gertrude. Quando bri-gavam, era o nico butim, indcio de perdas, que estendia no criado-mudo. Tilintando, reavivaram os acordes do bolero, trilha sonora da despedida. Trouxera-as com o propsito de outras vezes: usar o que restara intacto do desarrumo com Gertrude. No Estrela, o maestro orquestrara sua opereta com Chica. Interpretara, ele, com realismo; desceu do palco. Agora, longe da primeira coadjuvante, usaria as fichas para o deleite da dama substituta. Mos-trou-as. Ela viu em cada uma a marca dos costumes noturnos de Majo; riu. Entreviu uma sequncia de delrios. Majo enfiou uma na greta da radiola, lembrando as estrias nos peitos de Gertrude.A madrugada tem sais. A manh a espreita e ela cede o lugar por renncia. A radiola, imitando-a, soou notas derradeiras, de rogo.Trecho do livro Conspiraes em Guadalupe, de Marco Albertim, que ser lanado em agosto pela Cepe.A rumba epilpticaARTE SOBRE FOTO DE DIVULGAOPERNAMBUCO, JULHO 201520INDITOSMarcel ProustUma avLe Figaro23 de julho de 1907Existem pessoas que vivem, por assim dizer, sem ter foras, como existem pessoas que cantam sem ter voz. So as mais interessantes; elas substitu-ram a matria que lhes falta pela inteligncia e o sentimento.Aavdonossocarocolaboradore amigoRobertdeFlers,senhoradeRozire,que sepultamos hoje no burgo de Malzieu, era s in-teligncia e sentimento. Consumida pela perptua inquietude que um grande amor que dura toda a vida (seu amor pelo neto), de se perguntar como ela conseguiu manter sua sade! Mas ela tinha essa sade particular dos seres superiores que no a tm equechamamosvitalidade.Tofrgil,toleve, superava sempre os mais terrveis saltos da doena e, no momento em que a acreditvamos arrasada, a avistvamos rpida, sempre no topo, seguindo de perto o barco que levava seu neto celebridade e felicidade,noparaquealgodissorespingasse sobre ela, mas para ver se no faltaria nada, se no teriaaindaumpoucodenecessidadedaqueles cuidados de av, o que no fundo ela bem esperava. preciso que a morte seja realmente muito forte para ter sido capaz de separ-los!Eu que vi suas lgrimas de av suas lgrimas demeninatodavezqueRobertdeFlersfazia apenasumaviagem,noerasemmepreocupar com ela que eu pensava que um dia Robert se ca-saria. Ela dizia frequentemente que tinha vontade de cas-lo, mas acredito que dizia isso sobretudo paraseacostumar.Nofundo,tinhaaindamais medo dessa eventualidade fatal do casamento do quetinhareceadosuaentradanocolgioesua partida para o exrcito. E somente Deus sabe pois somos corajosos quando somos ternos o quanto ela havia sofrido nesses dois momentos! Di-lo-ei? Sua ternura pelo neto no me pareceria ser, quando Robert se casasse, uma fonte de tristeza somente para ela: eu pensava naquela que se tornaria sua neta...Umaternuratociumentanemsempre doce para aqueles com quem ela tem de dividir... A mulher com quem Robert de Flers se casou realizou com uma simplicidade divina o milagre de fazer desse casamento to temido uma era de felicidade perfeita para a senhora de Rozire, para ela prpria e para Robert de Flers. Os trs no se largaram nem discutiram um nico dia. A senhora de Rozire dizia expressamente que por discrio no continuaria amorarcomeleseiriaviversozinha,masno acredito que nem ela, nem Robert, nem ningum jamais pde seriamente considerar isso possvel. Foi somente em um caixo que pudemos lev-la de l.Umaoutracoisamepareceraquenodeveria transcorrersemgrandesdificuldades,masque, graas ao esprito e ao corao delicioso de Gaston deCaillavetedesuamulher,passou-seomais simples e o mais alegremente do mundo. A partir decertomomento,Robertteveumcolaborador. Um colaborador! Mas realmente que necessidade teria ele de ter um colaborador, ele, seu neto, ele, que tinha mais talento que todos os escritores que jtinhamaparecidosobreaterra?Deresto,isso notinhaimportncia;eracertoquenasobras escritas em colaborao tudo que fosse bom seria de Robert e, se por acaso, alguma coisa no fosse to boa, seria do outro, do audacioso... Muito bem! Nada foi menos bem e, no entanto, ela declarou que no era tudo de Robert. Eu no chegaria a dizer quenostriunfosincessantesquemarcaramessa colaborao ela pensasse que toda a glria devesse PERNAMBUCO, JULHO 201521retornarparaCaillavet,maseleteriasidoopri-meiro a no tolerar isso. E, no harmonioso xito, elaconciliouostalentosdiferentesquesabiam admiravelmenteseunir.queelaeraantesde tudo maravilhosamente inteligente e isso o que ainda torna uma pessoa mais justa. sem dvida porissoqueainteligncia,queumafonteto grande de males, nos aparece apesar de tudo como to generosa e to nobre: que ns sentimos que somenteelasabehonrareservirJustia.So dois poderosos deuses.Ela no saa mais de seu leito ou de seu quarto do que Joubert, Descartes, ou ainda outras pessoas que acreditam ser necessrio sade ficar deitadas, sem ter para isso a delicadeza de esprito de um nem o poder de esprito do outro. No para a senhora de Rozire que digo isso. Chateaubriand dizia que Joubert ficava constantemente deitado com os olhos fechados, mas que nunca esteve to agitado e no se cansou tanto como nesses momentos. Pela mes-ma razo, Pascal jamais conseguiu, nesse ponto, seguir os conselhos que lhe deu Descartes. assim com muitos dos doentes a quem recomendamos o silncio, mas assim como a juventude do neto dasenhoradeSvign,seupensamentolhes faz barulho. Ela se preocupava tanto em se tratar que talvez fizesse melhor de tomar simplesmente o partido to complicado de ter boa sade. Mas isso estava acima de suas foras. Nos ltimos anos seus olhosencantadores,quetinhamcordejacinto, refletindocadavezmaisoquesepassavanela, cessaram de lhe mostrar o que se passava em volta: tornara-se quase cega. Ao menos ela o assegurava. Mas eu bem sabia que, se Robert estivesse apenas umpoucoabatido,elaerasempreaprimeiraa perceber!E,comonoprecisavavernadaalm dele,ficavafeliz.Nuncaamounada,parausara expresso de Malebranche, alm dele. Era seu deus.Sempre foi indulgente com seus amigos, e tam-bm severa, pois nunca os achava dignos dele. Com ningum ela foi mais indulgente do que comigo. Tinha um jeito de me dizer: Robert te ama como um irmo, que significava ao mesmo tempo: No faria mal em procurar merec-lo, e voc o me-rece,apesardetudo,umpouquinho.Levavaa cegueiranoquemediziarespeitoatencontrar um talento em mim. Ela se dizia, sem dvida, que qualquer um que tivesse convivido tanto com seu neto no poderia deixar de tomar um pouco do dele.Amizades to perfeitas como a que unia Robert deFlerssuaavnodeveriamjamaisacabar. Como! Dois seres to inteiramente complementares que no existia nada em um que no achasse no outrosuarazodeser,suameta,suasatisfao, suaexplicao,seuternocomentrio,doisseres que pareciam a traduo um do outro, ainda que cada um deles fosse um original; esses dois seres no poderiam seno se encontrar, um instante, por acaso,noinfinitodostempos,ondenoseriam mais nada um para o outro, nada de mais particu-lar entre eles do que h entre milhares de outros seres?Seriarealmentenecessriopensarassim? Todas as letras desse livro espiritual e ardente que era a senhora de Rozire subitamente tornaram--se caracteres que no significam mais nada, que no formam mais nenhuma palavra? Aqueles que, como eu, tomaram demasiadamente cedo o hbito degostardelernoslivrosenoscoraesjamais podero acreditar completamente nisso...Tenho certeza de que desde muito tempo Robert eela,semnuncadiz-lo,deviampensarnodia em que se separariam. Tenho certeza tambm de que ela gostaria que ele no sofresse... Essa ser a primeira satisfao que ele lhe ter negado...Desejei lhe dizer, em nome dos amigos de Robert de Flers esses jovens amigos dela , o que no pude chamar um ltimo adeus, pois sinto que lhe diria muitos outros, e depois, para falar exatamente, no dizemos jamais verdadeiramente adeus aos seres que amamos, porque jamais os deixamos completamente.Nada dura, nem mesmo a morte! A senhora de Rozire mal est enterrada e j recomea a se dirigir to vivamente a mim que no posso me impedir de falar dela. Se pensam que eu o fiz por momentos com um sorriso, no acreditem que por isso tenha tido menos vontade de chorar. Ningum teria me compreendido melhor que Robert. Ele teria feito como eu. Ele sabe que os seres que mais amamos, jamais pensamos neles, no momento em que mais choramos,semlhesdirigirapaixonadamenteo maisternosorrisodoqualsomoscapazes.Ser para tentar engan-los, acalm-los, dizer-lhes que podem ficar tranquilos, que teremos coragem para faz-los acreditar que no estamos infelizes? Ou ser que esse sorriso no nada mais que a pr-pria forma do interminvel beijo que lhes damos no Invisvel?Esse texto est no livro Proust - Sales de Paris (traduo de Caroline Fretin de Freitas e Celina Olga de Souza), lanamento da editora Carambaia, que acaba de chegar ao mercado com a proposta de publicar ora textos que nunca foram traduzidos no Brasil, ora republicar edies clssicas esgotadas. Sales de Paris traz uma seleo de 21 crnicas escritas por um ainda jovem Proust, publica-das na imprensa francesa, principalmente no jornal Le Figaro, mas tambm em outros peridicos. O livro um dos lanamentos de julho da Carambaia.ARTE SOBRE REPRODUOPERNAMBUCO, JULHO 201522que contaminam e so contaminados pela simptica predisposio exibicionista da cidade. Dos elementos que abrem e fecham o livro para apontar caractersticas medulares de So Paulo, o mais elementar , claro, o trnsito, cujo primeiro registro oficial se d no dia 12 de setembro de 1911, quando, na inaugurao do Theatro Municipal, 118 automveis e 122 carros de praa e de cocheiras particulares pararam a regio do Vale do Anhangaba. A ideia de um local que ser travado, na terra e na gua, por represas humanas, a mais forte impresso de A capital da vertigem.Por ser um documento que busca sua narrativa em outros documentos, o livro termina por reproduzir a verso dos vencedores, de pessoas que, como o prprio Martinelli, invocam a falsa ideia de que a meritrocacia do homem trabalhador tudo vence. E mesmo no se tratando de um RESENHASAs pessoas por trs das represas do ser paulistanotrabalho que prope uma anlise sobre costumes e valores, a escolha de seus personagens no deixa de refletir a contemplao de uma So Paulo non ducor duco, que ainda reclama para si o protagonismo na conduo da engrenagem brasileira. Esse livro desfaz e refaz esse esprito paulistano. Um texto, enfim, mais contemporneo que passadista.No momento em que este texto divulgado, a Avenida Paulista, carto-postal da cidade de So Paulo e corredor da Marcha Imperial na memria coletiva do progresso brasileiro, recebe uma obra emblemtica que simultaneamente opera na ideia de construo e desconstruo da cidade. Construo de uma obra viria simples e desconstruo de uma lgica carrocrata complexa, enleada prpria noo de identidade paulistana. A ciclovia que agora corta a famosa avenida projeta uma cidade que precisa repensar a glria do desenvolvimento a qualquer custo. A princpio, nada disso diz respeito ao livro resenhado aqui. O prprio autor tenta amenizar os liames entre a So Paulo que ele trata em seu trabalho (a cidade que acontece entre os anos de 1900 e 1954, durante a chegada em massa de imigrantes estrangeiros e antes da dos nordestinos) REPRODUOExtenso trabalho de pesquisa de Roberto Pompeu de Toledo desfaz e refaz uma megalpoleNO-FICOCarol AlmeidaA literatura ganha destaque no Festival de Inverno de Garanhuns, com a homenagem escritora Luzil Gonalves Ferreira (foto), que tem mais de 30 livros publicados, alguns dos quais pela Cepe Editora. Nascida em Garanhuns, Luzil doutora em Estudos Literrios pela Universidade de Paris VII, professora no Departamento de Letras da UFPE, pesquisadora, ex-presidente do Instituto Arqueolgico, Histrico e Geogrfico Pernambucano, e assina a coluna Letras s teras, no Diario de Pernambuco. Publicou contos, romances, ensaios e biografias. Seus romances Muito alm do corpo, A gara mal ferida e Os rios turvos receberam respectivamente o Prmio Cidade do Recife, Prmio Nestl e o Prmio de Biografia da Academia Brasileira de Letras. LITERATURA NO FIGEscritora Luzil Gonalves Ferreira, homenageadade 2015, tem mais de 30 livros publicadosDIVULGAOe a So Paulo das amadas/odiadas ciclofaixas de hoje. Mas tudo na pesquisa de Roberto Pompeu de Toledo aponta para as inevitveis associaes entre a vertigem da So Paulo atual do formigueiro humano subindo e descendo as infinitas escadas rolantes da estao Pinheiros e a vertigem da So Paulo dos anos 20, abismada com a slida sustentao do edifcio Martinelli, o prdio Monstro de Ao que subia medida que seuproprietrio, o empresrio Giuseppe Martinelli, desafiava a engenharia em nome de sua vaidade. A partir de personagens como esse, quase sempre uma elite que se projeta a partir de arquivo pblico e livros histricos, o jornalista cria um atraente texto-novelo a tecer a histria dos indivduos a partir das alteraes paisagsticas e morais da cidade. Consegue quase sempre conectar essas pessoas numa grande narrativa dos urbanoides NOTASDE RODAPMariza PontesAcapital davertigemAutor - Roberto Pompeu de ToledoEditora - ObjetivaPginas - 584Preo - R$ 59,90PERNAMBUCO, JULHO 201523SOBRE O AMOR E OUTRAS PERDIESConhecido como autor premiado de histrias em quadrinhos, o mineiro Wellington Srbeck envereda pelo universo da poesia com sensibilidade e generosidade, lanando em formato e-book todos os seus livros. Sobre o amor e outras perdies aborda temas como paixo, desejo e erotismo de forma envolvente e intensa, atravs de poemas insinuantes sobre memrias amorosas, sempre privilegiando o ritmo e a rima.REPRODUO REPRODUONa exposio Viagem atravs, Flvia Mattar e Daniel Beerstecher abordam imaginrio, deslocamento e transculturalidade, unindo noes e vises sobre o Nordeste a partir de vivncias de moradores da comunidade da Mar (RJ). As duas mostras ocupam a Galeria Massangana e a Sala Waldemar Valente. A visitao de tera a sexta, das 9h s 17h (fecha para almoo) e sbados e domingos das 14h s 17h. VIVNCIAS ENTRECRUZADAS 2Imaginrio supera distncia geogrfica Marlowe (re)nasce A vida minscula pesaPRATELEIRAAutor: Wellington SrbeckEditora: Edio do autorPginas: 38Preo: R$ 5,99FICO FICOAs pequenas virtudesAutora - Natalia GinzburgEditora - Cosac NaifyPginas - 160Preo - R$ 32,90Osonoeterno Autor - Raymond Chandler Editora - AlfaguaraPginas - 256Preo - R$ 34,90ROTH LIBERTADO: UM ESCRITOR E SEUS LIVROSEnsaio crtico com passagens biogrficas, o livro de Claudia Pierpont procura desvendar os processos criativos de Philip Roth, um dos autores mais festejados e criticados do sculo 20, defendendo-o das acusaes de misoginia e antissemitismo, que marcaram a sua carreira literria. O livro revela aspectos familiares, conta anedotas , fala de suas inspiraes, das crticas, dos aspectos ficcionais de sua obra e das amizades