Pedagogia Do Ensino Coletivo

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Ensino coletivo de sopros e suas metodologias

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  • ENSINO COLETIVO: BOM PARA O ALUNO, BOM PARA A ESCOLA

    Ainda pouco utilizado pelas escolas de msica, os mtodos de ensino coletivo traz vantagens pedaggicas e financeiras para as instituies e proporciona inmeros benefcios aos alunos

    O ensino coletivo de msica pode ser muito vantajoso para as escolas de msica: ele otimiza a ocupao das salas de aula, possibilitando o melhor aproveitamento dos espaos e utilizao de apenas um professor para vrios alunos. Aliado a isso, vale resslatar que cada instrumento poder ser utilizado por at trs alunos. E mais: o ensino coletivo diminui a desistncia dos participantes.

    Mas, o que o mtodo coletivo?

    Basicamente, o mtodo coletivo se diferencia do individual por reunir em uma mesma sala de aula diversos alunos. Alm disso, a pessoa que conta com esse processo de aprendizagem aprende, simultaneamente, leitura musical, teoria, instrumento, prtica em grupo e, s vezes, improvisao. Ao contrrio do ensino individual, onde somente aps a assimilao de alguns conceitos tericos que ser possvel o exerccio em grupo.

    De acordo com o clarinetista e professor Joel Barbosa, que desenvolveu o mtodo de ensino coletivo Da Capo, as atividades em grupo permitem ao aluno um treinamento mais amplo das habilidades de leitura, percepo, tcnica instrumental, criatividade, teoria musical e prtica em grupo.

    O resultado artstico de um aluno iniciante tocando sozinho um. O resultado artstico de um grupo de iniciantes tocando bem maior, propiciando apresentaes pblicas mais cedo que o ensino individual. A conseqncia disso a motivao do indivduo, que sente-se integrado a um grupo, afirma Joel.

    Alm disso, o professor tambm destaca que os mtodos coletivos trazem vantagens pessoais e sociais, por possibilitar que o aluno desenvolva auto-estima, conhea seu potencial, cultive o respeito entre os colegas e aprenda a trabalhar em equipe, e benefcios econmicos, j que, geralmente, uma aula individual sai muito mais cara do que uma aula coletiva, onde o valor dividido pelo grupo.

    Segundo Joel, os mtodos de ensino coletivo tambm podem ser utilizados como uma importante ferramenta para evitar a evaso nas escolas, j que, ao iniciar o aprendizado musical, o aluno tem por objetivo desfrutar o prazer de fazer msica e no passar meses fazendo leitura rtmica ou solfejando. Ao final de um perodo de aprendizado individual, teremos alguns alunos para integrar uma banda, enquanto no coletivo, teremos formado uma nova banda, avalia.

  • Para instituies que desejem implementar algum tipo de mtodo coletivo de ensino como forma de promover uma diferenciao nos servios oferecidos, Joel recomenda a adoo dos seguintes passos no incio desse processo:

    a) Seleo dos alunos;

    b) Realizao de processo pedaggico de conhecimento e seleo dos instrumentos pelos alunos;

    c) Transmitir o aprendizado dos princpios bsicos de tcnica instrumental, em aulas por famlias de instrumento (grupos), no coletivas.

    d) Promover aulas coletivas, seguindo um mtodo e repertrio com assistncia individual e prtica monitorada.

    e) Apresentaes pblicas no decorrer do ano letivo.

    O Mtodo da Capo foi resultado de uma minuciosa pesquisa sobre ensino coletivo e de uma tese de doutorado de Joel Barbosa na University of Washington, Estados Unidos, sobre a adaptao desta metodologia para a educao musical brasileiro.

    * Joel Barbosa professor titular de clarineta da Escola de Msica da Universidade Federal da Bahia. um dos consultores do Projeto Tim Msica nas Escolas e professor de clarineta do Conservatrio Carlos Gomes de Belm (PA). Alm disso, integra uma das comisses da International Society for Music Education.

  • Considerando a viabilidade de inserir Msica Instrumental no Ensino de Primeiro Grau

    Joel Barbosa

    Texto Publicado na Revista da Abem

    Introduo

    Um importante desafio da Educao Musical no Brasil atualmente firmar-se como uma disciplina per si no currculo de primeiro grau, e no como uma das matrias (linguagem) da disciplina de Educao Artstica (Dalben, 1991, e Fucks, 1991). Apesar dos esforos de vrios educadores, incluindo o de Villa-lobos atravs da msica vocal, a educao musical no tem recebido o seu devido valor na educao geral dos alunos brasileiros at o dia de hoje. Se esta negligncia est presente em relao educao musical atravs da msica vocal, quanto maior ser a dificuldade em relao a Educao Musical atravs da msica instrumental; considerando que o custo da ltima mais elevado e sua viabilizao exige pessoas com qualificaes mais raras. Todavia, necessrio buscar meios que barateiem e facilitem a incluso do ensino da msica instrumental nas escolas de primeiro grau. As criaes de:

    1) mtodos adequados para o ensino coletivo de instrumentos musicais no Brasil,

    2) cursos para preparar professores especializados na pedagogia deste mtodo, e

    3) escolas pblicas de msica que viabilizem cursos de msica instrumental de alto nvel e exeqveis economicamente, para serem oferecidos a populao estudantil do primeiro grau.

    O ensino coletivo de instrumentos musicais heterogneos

    O ensino coletivo de instrumentos musicais heterogneos pode ser um dos meios mais eficientes e viveis economicamente para inserir o ensino da msica instrumental no ensino escolar de primeiro grau. Sua metodologia engloba atividades atravs das quais o aluno desenvolve a leitura musical, 9 domnio instrumental, a capacidade auditiva, as habilidades mentais e o entendimento musical. Seu baixo custo devido ao simples fato de se poder ter um nico professor ensinando uma classe de at 30 alunos de instrumentos diversos, em vez de se pagar um professor para cada famlia de instrumentos.

  • A principal ferramenta pedaggica desta metodologia o seu conjunto de melodias. Elas so selecionadas e adaptadas a fim de desenvolver as habilidades musicais e instrumentais dos alunos. Eles as cantam e tocam em diversas texturas: unssono, intervalos paralelos, com acompanhamento harmnico-rtmico, polifonicamente e em cnone. Todos os instrumentos do grupo, sem restrio sua extenso, tocam as melodias selecionadas. Dentro dos arranjos presentes no mtodo, cada instrumento toca tambm as diferentes partes das variadas texturas musicais desses arranjos. Esta atividade contribui para o desenvolvimento auditivo meldico e harmnico, e para uma compreenso mais profunda das texturas e formas musicais. Alm dessas atividades, h mtodos que acrescentam atividades baseadas nos princpios da linha de educao musical Comprehensive Musicianship, que visa um desenvolvimento mais amplo do aluno. Esses mtodos apresentam atividades para o desenvolvimento das habilidades de improvisao e composio'.

    Nos cursos de ensino coletivo o aluno inicia as aulas de instrumento desde o incio do aprendizado. O curso normalmente dividido em trs fases. De um modo geral, na primeira fase o aluno exercita os princpios bsicos de produo de som, aprende as notas de fcil produo do registro mdio do instrumento, trabalha um repertrio fcil e aprende divises musicais simples. Na segunda fase ele aprende notas dos outros registros, trabalha um repertrio mais difcil, recebe uma carga maior de exerccios tcnicos instrumentais e aprende ritmos e elementos tericos um pouco mais complexos. E na terceira fase h uma complementao do trabalho das fases anteriores, porm concentrando-se em um repertrio de formas, estilos e gneros mais variados, ritmicamente mais complexos, e mais exigentes das habilidades de se tocar em conjunto. Cada fase est dividida em sees onde o aprendizado feito gradualmente. Em cada seo ensinado a tocar e ler uma nova nota, um ritmo, e um elemento de teoria, alm de exercitar os itens j aprendidos. Porm, as atividades bsicas so sempre as mesmas: cantar, tocar diversificadas formas e texturas musicais, e ouvir "performances" que servem de modelo para o desenvolvimento da sonoridade, articulao e interpretao.

    O ensino coletivo gera um certo entusiasmo no aluno por faz-lo sentir-se parte de um grupo, facilita o aprendizado dos alunos menos talentosos, causa uma competio saudvel entre os alunos em busca sua posio musical no grupo, desenvolve as habilidades de se tocar em conjunto desde o incio do aprendizado, e proporciona um contato exemplar com as diferentes texturas e formas musicais. A prova da qualidade dessa pedagogia pode ser comprovada atravs da qualidade dos concertos e gravaes das bandas escolares americanas.

  • Como exemplo ver os mtodos The Comprehensive Music Instruction-listen, Move, Sing, and Play for Band de Froseth (1986) e Music Creativity de Dodson (1991).

    O ensino elementar da msica instrumental no Brasil

    A maioria dos instrumentistas brasileiros de sopro que trabalham profissionalmente em bandas militares, civis, ou orquestras recebeu sua formao elementar em bandas. As bandas de msica tm sido um dos meiQs mais utilizados no ensino elementar da msica instrumental, de sopro e percusso, no nosso Pas. O nmero dessas instituies, supera o nmero de escolas de msica. Alm disso, a maioria das escolas de msica no ensinam instrumentos de sopro e das que ensinam, apenas alguns desses instrumentos so oferecidos. Enquanto, as bandas tm ministrado aulas de todos os instrumentos que compreendem seu quadro.

    Durante os meses de agosto e setembro de 1993, realizei entrevistas e visitaes, financiadas pela CAPES, a algumas bandas do estado de So Paulo. Entrevistei oito regentes de nove bandas (Esses regentes j estiveram envolvidos com diversas outras bandas deste e de outros estados, e em diversos eventos relacionados com banda no pas. Alguns deles receberam diversas premi aes com suas bandas em concursos estaduais e nacionais, e outros j foram diretores e professores de importantes escolas tcnica e universitria de msica) Dessas entrevistas e visitas foi observado que as metodologias de ensino de instrumentos de sopro realizadas, nas bandas e escolas de msica da regio, podem ser divididas em quatro fases consecutivas apresentando as seguintes caractersticas: 1) aula coletiva de teoria e diviso musical, 2) aula individual de diviso musical, geralmente usando o Mtodo de Diviso Musical de Paschoal Bona (1944), 3) aula individual de instrumento, e 4) prtica em conjunto. As duas primeiras fases juntas duram em mdia um ano, e neste perodo que ocorre a maior parte das desistncias dos alunos. Nesse perodo se aprende alguns elementos de teoria musical e se enfatiza o domnio da tcnica de diviso musical, que pronuncia os nomes das notas sem ento-las. A nfase no domnio dessa tcnica de diviso musical exige, muitas vezes, uma pronncia veloz, quase virtuosa, dos nomes das notas musicais. Esta nfase tem desanimado muitos alunos, tirando-lhes o prazer de aprender um instrumento.

    A terceira fase tambm dura em mdia um ano. Nesta fase o aluno inicia o aprendizado de um instrumento e no final comea a praticar as msicas do repertrio. Os mtodos instrumentais usados so geralmente mtodos que se concentram em exerccios tcnicos e as melodias neles existentes so compostas pelo prprio autor do metodo (melodias desconhecidas dos alunos). Exemplos desses

  • mtodos so, o Mthode Complete de Clarinette de H. Klos (c. 1933), Clebre Mthode Complete de Trompette, de Cornet Pistons et Saxhorn de Jean-Baptiste Arban (1956), Mtodo para Trompete, Trombone e Bombardino de Amadeu Russo (1941). Nesta fase tambm h uma pequena desistncia de alunos. Aps uma mdia de um ano de instruo instrumental o professor passa o aluno para a fase final. Nesta, ele comear a freqentar os ensaios da banda como aula de prtica em conjunto, antes de ser definitivamente admitido no seu quadro de integrantes. Em alguns lugares o incio de uma fase no implica no trmino da anterior.

    Se compararmos a metodologia de ensino descrita acima com a metodologia de ensino coletiva descrita primeiramente notaremos que: 1) as duas pedagogias desenvolvem a leitura musical rtmica, porm apenas a coletiva desenvolve desde o incio da instruo a capacidade auditiva meldica e harmnica, 2) a habilidade instrumental desenvolvida desde o incio do curso na pedagogia coletiva, na outra ela comea apenas a partir do segundo ano de instruo, 3) para o aprendizado instrumental, a coletiva enfatiza melodias como material didtico, a outra enfatiza exerccios tcnicos inicialmente e s inclui msicas no fim do segundo ano de aprendizado, e estas no so compostas com fins didticos, e 4) os mtodos de ensino individual restringem o aluno a tocar desacompanhado ou em dueto, enquanto que na pedagogia coletiva ele toca desde o incio em variadas texturas e formas musicais. Alm disso, a metodologia de ensino instrumental nas bandas do Estado de So Paulo, por causa da nfase no ensino individual, no oferece ao aluno o sentimento de se fazer parte de um grupo musical que est se consolidando. Em resumo, na bandas paulistas o aluno aprende primeiramente leitura musical, depois desenvolve tcnica instrumental, e finalmente toca em conjunto; enquanto na metodologia coletiva o aluno aprende simultaneamente leitura musical e tcnica instrumental tocando melodias em conjunto.

    A experincia com o ensino coletivo nos Estados Unidos da Amrica do Norte

    A experincia nos EUA tem demonstrado a eficincia da metodologia de ensino coletivo. "Msica para toda criana" tem sido um objetivo filosfico tradicional da educao musical de escolas americanas de primeiro e segundo graus. Este objetivo no teria alcanado o xito atual se no fosse o ensino coletivo de instrumentos heterogneos. O impacto positivo desta pedagogia pode ser notado nas trs primeiras dcadas de sua aplicao, 1910-1940, atravs do crescente nmero de bandas escolares que

  • tomaram parte nos concursos nacionais. O primeiro concurso foi organizado pela Music Industries ChamberofCommerceem 1923, os dois seguintes, 1924 e 1925, pelo National Bureau for lhe Advancement of Music, e a partir de 1.926 pela National School Band Association, a qual foi fundada neste mesmo ano. Em 1923 havia entre 350 a 400 bandas escolares nos EUA e 30 delas, possivelmente 1.400 estudantes, participaram do primeiro concurso considerado de mbito nacional. Em 1940 houve 1.949 escolas participando do concurso nacional de msica, envolvendo 57.373 estudantes.

    importante notar que:

    1) este aumento do nmero de bandas escolares nos EUA se deu em meio a profundas crises financeiras no pas - a depresso econmica americana da dcada de 1930 e os efeitos negativos causados pela II Grande Guerra Mundial e

    2) o primeiro mtodo para instruo coletiva de instrumentos de banda foi lanado no mercado no mesmo ano do primeiro concurso de mbito nacional, 1923.5

    Esse mtodo reunia tcnicas pedaggicas aprendidas nos primeiros treze anos da experincia com instruo coletiva, 1910-1913, e foram apresentados nas conferncias das associaes profissionais e publicados em peridicos educacionais. Segundo Holz e jacobi (1966,pg. 78) o interesse para que houvesse msica instrumental nas escolas era muito profundo. Este interesse vinha no apenas dos alunos, mas de muitos msicos que haviam perdido suas oportunidades de servio devido a crise econmica - quando diminuram a quantidade de eventos musicais em parques, restaurantes e cinemas -e de maestros de banda que se desenvolveram durante a I Grande Guerra Mundial ou que dirigiam bandas comunitrias.

    Nos primeiros dezessete anos de prtica com o ensino coletivo (1923-1940), houve um aumento de 64,9 vezes do nmero de escolas que tomaram parte nas competies nacionais americanas. Este aumento expressivo est relacionado diretamente com o nmero de escolas que passaram a incluir msica instrumental em seus currculos durante esse perodo. A pedagogia coletiva de instrumentos tem se aprimorado a cada ano atravs de novos experimentos cientficos. Atualmente a msica instrumental faz parte do currculo da maioria das escolas americanas e a maioria destas escolas utiliza a metodologia de ensino coletivo. Elas a incluem a partir da quarta ou quinta srie do primeiro grau como uma disciplina optativa.

  • A experincia com o ensino coletivo de instrumentos no Brasil

    O ensino coletivo de instrumentos musicais j tem sido realizado com sucesso em vrios lugares do Brasil. O ensino coletivo para instrumentos de cordas j foi utilizado no SESI de Fortaleza, CE., entre 1975 1978; no SESI de Braslia, DF, entre 1977 1978; no SESC Dr. Vila Nova de So Paulo entre 1978 1982; e no Conservatrio Carlos Gomes de Belm, PA. Nos SESCs e SESI o projeto foi dirigido por Alberto jaff e em Belm por linda l. Kruger6. Desses projetos saram muitos instrumentistas que hoje trabalham profissio/:lalmente em nosso pas.

    Na rea de instrumentos de banda, se destacam um projeto realizado em 1989 na Banda Municipal de Nova Odessa, SP, e um outro na Banda Municipal de Sumar, SP, entre os anos de 1990 a 1992. O projeto de Nova Odessa envolveu 27 alunos e foi realizado por Mrcio Beltrami e pelo autor, nele sendo ministradas aulas instrumentais coletivas e individuais desde o incio do curso atravs do mtodo Hal Leonard Elementary Band Method de Harold Rush (1966), alm de aulas coletivas de teoria musical. Por vrios anos seguidos tinha havido, usando-se uma metodologia de ensino tradicional dessa regio, uma mdia de 85% de desistncia por parte dos alunos, e uma mdia de dois anos de instruo para preparar um aluno para se tornar membro da banda. Com a metodologia coletiva utilizada no projeto de 1989 a mdia de desistncia caiu para 22%, e a mdia de 1 ano e meio para habilitar um aluno para ingressar da banda. Ou seja, com a metodologia coletiva, em um ano e meio, produziu-se mais alunos para tocar na banda do que com a metodologia tradicional.

    Em 1990, satisfeito com os resultados do projeto de Nova Odessa, Mrcio Beltrami aplicou a mesma metodologia de ensino na Banda Municipal de Sumar, um local maior e com mais recursos financeiros. Neste projeto estiveram envolvidos quatro professores, trs secretrios, e aproximadamente 70 alunos. Trabalhei nos primeiros oito meses do projeto. Os resultados desse projeto superaram qualitativamente os j realizados na regio, no que se refere a tempo para se preparar uma banda e percentagem de desistncia de alunos. A desistncia foi aproximadamente 17% em vez da tradicional mdia de 75%. Os alunos do projeto se constituram na Banda jovem Municipa1 de Sumar, a qual obteve primeira colocao em um concurso estadual de bandas em 1991 e em um concurso nacional de bandas em 1992.

    Destas experincias, em Nova Odessa e Sumar, foi notado que os seguintes itens concorreram para o sucesso das mesmas: 1) a atividade em grupo causou interaes sociais e competitivas entre os

  • alunos, que de alguma maneira os ligaram com o grupo, reduzindo a taxa de desistentes do curso; 2) os mtodos baseados em canes produziram uma experincia musical mais' satisfatria do que .os mtodos baseados em exerccios utilizados pela metodologia tradicional; 3) a instruo instrumental, desde o incio do curso, teve uma importante funo no entusiasmo geral dos alunos; 4) as aulas coletivas facilitaram o aprendizado dos alunos menos talentosos; e 5) o desenvolvimento da habilidade de tocar em conjunto, trabalhada desde o incio do aprendizado, facilitou o desempenho do aluno nas etapas posteriores.

    Embora existam dezenas de mtodos para o ensino instrumental coletivo no mercado americano, no h nenhum disponvel que possa ser utilizado adequadamente no Brasil. Um dos principais princpios pedaggicos dessa metodologia segue os ensinos do educador Kodaly: aprender o desconhecido (no caso o instrumento), ou desenvolver o no alcanado, atravs do conhecido (melodias familiares). De acordo com Kodaly "...uma criana possui uma lnguagem musical materna..." e " atravs dessa linguagem musical que as habilidades e os conceitos necessrios para a alfabetizao musica!' devem ser ensinados" (in Choksy, 1981, pg. 7). Os mtodos americanos fazem uso ou de melodias conhecidas nos EUA, entretanto, essas no fazem parte do repertrio musical do estudante brasileiro. Alm disso, o sistema musical empregado nos mtodos americanos no o latino usado no Brasil. Por' ltimo, muitos dos mtodos americanos, so elaborados para acompanharem o ano escolar do hemisfrio norte. Concluindo, a necessidade atual no de traduzir o mtodo americano "X" ou "Y" para a nossa realidade, mas sim de adaptar a metodologia utilizada por eles - criando mtodos adequados para o ensino instrumental coletivo em nosso Pas.

    6 Em sua dissertao "An ana/ysis and adaplalion of Brazilian folk music inlo a slring melhod comparable

    10 American models for use in lhe Brazilian music educalion" de 1990.

  • Cursos especializados para professores

    O segundo item necessrio para a incluso de cursos de msica instrumental no ensino escolar de primeiro grau o preparo de professores especializados. Para o preparo desses professores poderiam ser criados cursos de terceiro grau especficos, habilitaes optativas em cursos de licenciatura em msica e cursos de especializaes.

    Estes preparariam os alunos para ensinar coletivamente instrumentos heterogneos, baseando-se em currculos de cursos de graduao em Educao Musical ds EUA, que preparam seus alunos para ensinar coletivamente em bandas e orquestras escolares.

    Ns fazemos a seguinte proposta curricular:

    72 horas de tcnicas de ensino coletivo de instrumentos e ensaio

    36 horas de pedagogia e didtica

    72 horas de tcnicas de regncia

    144 horas de percepo musical

    72 horas.de harmonia

    72 horas de anlise musical

    144 horas de histria da msica (incluindo histria da msica brasileira)

    72 horas de arranjo musical

    72 horas de instrumentao e orquestrao

    36 horas de flautas transversal e doce

    36 horas de instrumentos de palhetas simples (clarineta e saxofones)

    36 horas de instrumentos de palhetas duplas (obo e fagote) I

    36 horas de instrumentos de metais agudos (trompete e trompa)

    36 horas de instrumentos de metais graves (trombone, bombardino e tuba)

    36 horas de instrumentos de percusso

  • I36 horas de instrumentos de cordas agudas (violino e viola)

    36 horas de instrumentos de cordas graves (cello e contrabaixo)

    72 horas de piano complementar

    Para receber a habilitao e especializao seria necessrio apenas que o aluno interessado completasse o seu currculo com as disciplinas que ele no tenha curs-lo na sua rea principal de estudo. As habilitaes e especializaes poderiam ser para ensinar instrumentos de banda (sopro e percusso) ou de orquestra de cordas. Considerando a proposta acima, a habilitao e especializao em orquestra de cordas no incluiria as disciplinas de sopro e percusso e, em instrumentos de banda, as disciplinas de cordas.

    Escolas pblicas de msica em nvel de primeiro grau

    O ltimo item considerado para a viabilizao do curso de msica instrumental no ensino escolar de primeiro grau a criao de escolas pblicas de msica. Considerando a situao econmica do pas, quase utpico esperar que cada escola pblica de primeiro "grau tenha os instrumentos musicais necessrios para atender aos seus alunos. Uma das solues para este problema seria a criao de escolas pblicas de msica, que atendessem apenas a populao estudantil de primeiro grau, que trabalhassem em parceria com vrias escolas de primeiro grau, e oferecendo as disciplinas de msica em turnos alternativos. As disciplinas de msica seriam inseridas no currculo escolar do aluno. Essas escolas no teriam um currculo escolar semelhante aos das escolas tradicionais de msica. Elas ofereceriam apenas quatro sries de iniciao musical (para os alunos da primeira a quarta srie), quatro de canto coral (quinta a oitava), trs de orquestra de cordas (sexta a oitava) e trs de banda (sexta a oitava). Certamente a quantidade de turmas para cada srie dependeria do nmero de professores. Um professor de banda ou orquestra pode ser responsvel por 20 aulas de 90 mino cada, correspondendo a 30 horas semanais. Se cada turma da primeira e segunda sries tiver duas aulas semanais e as turmas da terceira srie apenas uma, ns teremos 12 turmas-quatro para cada srie. Com a aquisio de 30 instrumentos, cada turma poderia ter 30 alunos; o que implicaria que, anualmente, cada professor educaria um total de 360 alunos e poderia receber mais 120 novos alunos na primeira srie.

    Desta maneira estes instrumentos estariam sendo usados durante dois turnos de trs horas cada, e ainda estariam disponveis para o uso de um outro professor por mais um outro turno. Em outras palavras, com apenas trs professores, cada um trabalhando

  • trinta horas semanais, e 60 instrumentos seriam atendidos 1.080 alunos, dos quais dois teros receberiam duas aulas semanais.

    Concluso

    As experincias dos EUA, Nova Odessa e Sumar demonstram a eficcia do ensino coletivo de instrumentos. Embora as experincias de Nova Odessa e Sumar tiveram bons resultados usando mtodos americanos, ns podemos, hipoteticamente, concluir que os resultados teriam sido ainda melhores se os mtodos usados fossem adequados ao Brasil (empregassem canes brasileiras e fossem escritos em portugus).

    Alm de eficiente o ensino coletivo tambm econmico, o que o torna vivel realidade do pas. Conforme visto acima, um nmero reduzido de professores especializados (trs) e de instrumentos (60) usando esta metodologia de ensino, atenderiam eficazmente uma grande populao estudantil (1080). A metodologia de ensino coletiva de instrumentos heterogneos adaptada Edu cao musical brasileira, empregada por professores especializados trabalhando em um regime de trabalho de 30 horas em escolas de msica de primeiro grau facilitariam economicamente a incluso do "ensino de msica instrumental no ensino escolar de primeiro grau.

    BIBLIOGRAFIA BARBOSA, Joel L. S. (1994). An adaptation of American band instruction methods to Brazilian music education, using Brllzilianmelodies. Tese de Doutorado, University of Washington-Seattle. BURDEN, James H. (1977). Building Tomorow's Band . . . Today. Florida: Columbia Pictures. CHOKSY, Lois, R. M. Abransom e A. E. Gillespie. (1986) Teaching Music in lhe Twentieth Century. New Jersey: Prentice Hall. _(1981). The Kodaly Context: Creating an Enviroment for Musical Learning. New Jersey: Englewood Cliffs. DALBEN, ngela I. L. de Freitas. (1991). A Educao Musical na Atual Organizao do Trabalho Escolar. Cadernos de Estudos: Educao Musica, Nos. 2/3, Fevereiro- Agosto, 15-25. DODSON, Thomas (1991). Music Creativity-Concert Band. San Diego, CA: Neil A. Kjos Music Company. FElDSTEIN, S. e John O'Reilly (1988). Yamaha Band Student: A Band Method for Group or Individuallnstruction. California: AlfredPub. Co. FROSETH, James (1986). The Comprehensive Music Instruction-listen, Move, Sing,

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  • O MTODO DA CAPO E SUA APLICAO

    Este mtodo escrito para o ensino coletivo, em grupo, de instrumentos de banda, porm pode ser utilizado no ensino individual. No ensino coletivo, pode ser usado com a banda completa ou parcial. O ensino em grupo estimula uma participao bem ativa dos alunos, pois eles se sentem parte de um grupo que em breve ser uma banda.

    Ele tambm ajuda a desenvolver as habilidades musicais necessrias para se tocar em conjunto desde o incio do aprendizado.

    O Mtodo inclui lies para o aprendizado de instrumentos, ensino de teoria e desenvolvimento da percepo musical. O aluno ter contato com o instrumento desde as primeiras aulas, no necessitando aprender primeiramente teoria musical. A cada passo, ele aprende um novo ritmo, um novo elemento terico (smbolo ou termo) e/ou uma nova nota no instrumento.

    Em seguida, pratica-os cantando e tocando em canes em unssono, dueto, cnone e arranjo para banda.

    O mtodo est dividido em trs sees (pginas 1-9, 10-19 e 20-27 do Livro do Aluno). Ao final de cada parte deve-se realizar uma apresentao pblica, incluindo pequenos grupos de cmera (duos, trios, quartetos, etc.) e a banda completa.

    INICIANDO O TRABALHO Havendo apenas um professor, sem ajuda de um monitor, defina uma classe com no mximo 30 alunos. Aps definida a classe, faa uma reunio com os pais. Mostre a importncia deles no sucesso do filho, incentivando-o a praticar diariamente e se interessando pelo seu desenvolvimento. Mantenha os pais sempre informado sobre o andamento das aulas, atravs de cartas e reunies. No primeiro encontro do grupo estudantil deve estar todos os

  • alunos. Nesta ocasio, mostre os objetivos, os planos de aulas e as perspectivas (formao da banda, viagens, encontros recreativos, etc.). Apresente vdeos de banda. Crie uma equipe social para organizar encontros esportivos, culturais e sociais. Se possvel, termine com uma pequena recepo. Mantenha um mnimo de trs aulas semanais de uma hora cada. No incio do aprendizado, importante dar uma boa ateno individual a cada aluno. Sendo assim, dividida a classe em grupos (naipes ): flautas, palheta simples, palhetas duplas, metais agudo, metais grave e percusso. Nessa fase, ensine tcnicas de respirao, posio de braos e mo, postura e embocadura, e trabalhe at a terceira pgina do Livro do Aluno. Na fase seguinte, junte os grupos em apenas uma classe e comece o trabalho coletivo, tocando desde a pgina um (1) do Livro do Aluno. Porm, continue a observar a respirao, postura, posio de braos e mos, e embocadura.

    DICAS GERAIS

    Mescle as aulas entre partes instrumentais e tericas. Sempre toque as pginas j aprendidas nas aulas. Toque, algumas vezes, os exerccios das primeiras pginas seqencialmente, sem interromper a cada um deles. Use as primeiras pginas para aquecimento instrumental, porm, aps a lio 58, utilize a escala de si bemol maior e as demais que iro aparecer. Pratique as canes com cada aluno tocando ou cantando individualmente, um aps o outro sem interrupo, e mantendo o acompanhamento de percusso de maneira contnua. Toque nas aulas para exemplificar. Apresente gravaes e vdeos para os alunos. Realize provas tericas e instrumentais.

  • Acompanhe o crescimento de cada aluno, avaliando-o individualmente e colocando notas no livro dele para cada exerccio. Se possvel, tenha um quadro na parede onde cada aluno pode saber em que lio seu companheiro est na avaliao individual. Mostre a forma musical de algumas canes e comente a riqueza da construo de certas linhas meldicas. Organize os alunos em grupos de cmera. Explique ao aluno a importncia da prtica diria com qualidade (concentrao e planejamento).

    DICAS PARA AS ATIVIDADES DE ENSINO

    O Mtodo contm diversas atividades de ensino. Elas podem ser praticadas de diferentes maneiras. Por exemplo: Tocar e Cantar - Toda cano com letra deve ser cantada e tocada. Varie a ordem dessas duas atividades a cada cano nova a ser aprendida. Havendo dificuldade em entoar alguma cano, divida a classe em dois grupos, enquanto um toca o outro canta, e vice-versa. Se possvel, use um instrumento harmnico (violo, piano, teclado, etc.) para acompanhar essas atividades. Procure cantar em tonalidades apropriadas para a classe. Dueto e Cnone - Pratique cada voz individualmente. Depois, toque-os com as mais variadas combinaes instrumentais (utilizando o mnimo de dois instrumentos banda completa) Dueto com Palmas - Pratique (1) cada voz separadamente, (2) um grupo (ou um aluno) cantando e outro batendo o ritmo, (3) cada aluno cantando a melodia e batendo o ritmo das palmas simultaneamente. Quando tocando, divida a classe em dois grupos, enquanto um toca o outro bate palmas. Decorar - muito importante decorar melodias desde o princpio do aprendizado do instrumento. Decorar desenvolve a memria musical e ajuda a tocar as passagens de dificuldade tcnica com maior facilidade. Exerccio Terico - So importantes para verificar o aprendizado, por isso corrija os resultados de cada aluno.

  • Tenha certeza que os alunos esto fazendo-os individualmente. Crie mais exerccios semelhantes. Exerccio Tcnico Instrumental (34, 101 e108) - Oua cada aluno individualmente. Exerccio Rtmico - Pratique-os de vrias maneiras; por exemplo: (1) contando os tempos do compasso e batendo o ritmo da cano, e vice versa, e (2) batendo o tempo com os ps e o ritmo com as mos. Completar a Melodia - Esse tipo de exerccio muito importantepara o desenvolvimento auditivo do aluno. Tenha certeza que cada aluno fez individualmente. Verifique um por um antes de corrigir em grupo. Ditado (85 e 86) - Crie mais ditados rtmicos e meldicos. Improvisando - D oportunidades para todos improvisarem individualmente. Exerccio de Diviso Musical (119-126) - Sua prtica ajuda a formar a imagem mental da localizao dos tempos no compasso e o valor de cada nota dentro desses tempos. Tambm serve para iniciar o aluno que for prestar o exame da OMB. Exerccio Auditivo (127-134) - So de grande importncia para o desenvolvimento musical do aluno. Concerto - Aps cada seo do Mtodo, pginas 9, 19 e 27 do Livro do Aluno, organize concertos pblicos. Incluir apresentaes individuais (com acompanhamento de piano, teclado, violo, acordeo ou gravao), em grupo e a banda completa. Distribuir convites para os pais, parentes e amigos dos alunos.

  • DICAS PARA UMA BOA FORMAO DE BANDA

    Durante as aulas, no trabalhe s o coletivo (a banda completa), mas oua os naipes separadamente e alguns alunos individualmente. Tenha horrios para atender individualmente os alunos. Cuide da qualidade sonora do grupo, dos naipes e de cada indivduo Descreva a sonoridade que quer da banda. Apresente aos alunos gravaes e apresentaes pblicas por profissionais para eles terem bons modelos sonoros. Trabalhe o equilbrio dinmico do grupo desde o princpio.

  • AMARELINHA Para qualquer instrumento solo ou grupo de instrumentos de mesma afinao

    Joel Luis Barbosa

  • Esta msica um jogo semelhantemente brincadeira de amarelinha. O objetivo alcanar o cu, partindo da terra. Para alcan-lo, necessrio galgar uma casa de cada vez, sempre partindo da casa 1 e retornando a ela. Por exemplo, toque as casa nas seqncias: 1, 1-2-1, 1-2-3-2-1, 1-2-3-4-3-2-1, 1-2-3-4-5-4-3-2-1 etc. Se voc errar uma nota, um ritmo, ou um sinal de expresso, passa a vez para o outro concorrente. Quando for tua vez novamente, recomece da casa 1, ou seja, 1, 1-2-1, 1-2-3-2-1 etc. Vence aqueles que atingirem o cu. Os concorrentes podem ser indivduos ou grupos.

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    O ensino coletivo de instrumentos musicais na banda de msica

    Marco Antonio Toledo Nascimento UNIRIO

    e-mail: [email protected]

    Sumrio: O mtodo de Ensino Coletivo de Instrumentos Musicas para Banda de Msica Da Capo elaborado pelo Prof. Dr. Joel Barbosa foi analisado em pesquisa cientfica a nvel de mestrado obtendo resultados que confirmaram sua eficincia em uma turma de jovens iniciantes nos estudos musicais de Banda de Msica do interior de Minas Gerais.

    Palavras-Chave: Educao Musical Instrumental - Ensino Coletivo - Bandas

    Mtodo Da Capo: um estudo sobre sua aplicao O ensino musical no Brasil, ainda se encontra deficiente quanto a sua disponibilidade ao

    pblico. As instituies de ensino musical gratuitas existentes no atendem a demanda da procura por seus cursos, tendo que, na maioria das vezes, fazer algum tipo de seleo, subtraindo a oportunidade de estudar msica de muitas pessoas. Nos ltimos anos, houve disciplinas de educao artstica subtradas dos currculos do ensino pblico regular de nosso pas.

    Segundo Fernandes (2000), existe um aumento da produo de dissertaes e teses na subrea da msica, educao musical, tanto nos cursos de Ps-Graduao em Msica quanto nos de Ps-Graduao em Educao. No entanto, aps uma anlise quantitativa, constatou-se produo pouco significativa na especialidade de Educao Musical voltada para os instrumentos musicais, que englobaria, tambm, pesquisas referentes a bandas e orquestras, incluindo conjuntos de percusso e fanfarras:

    Os ndices das especialidades (5) Educao Musical Instrumental (Banda, Orquestra, incluindo conjuntos de percusso e fanfarra) (5%) e (6) Educao Musical Coral (3,5%) so muito baixos, como nas dissertaes da rea da Msica/Educao Musical; acreditamos que seja devido ao pouco interesse dos discentes por esta especialidade. Como j foi dito, o interesse est associado a aspectos diversos, como a quase total ausncia de literatura e a falta de prtica dos pesquisadores, isto , acreditamos que os regentes de coral e de conjuntos instrumentais, os quais tm a prtica musical direta no campo, desenvolvem pesquisas em outras reas da msica, no havendo interesse em tratar de aspectos e problemas de ensino e aprendizagem (p.50).

    Aps a constatao do desinteresse de pesquisadores na especialidade de Prticas Instrumentais relacionadas a conjuntos, verificou-se que um grande nmero de msicos profissionais recebe alguma influncia por meio da banda de msica em sua formao musical. Tal influncia causada, muitas vezes, pelo contexto social da banda, que participa de eventos sociais de naturezas diversas como missas, procisses, festas, retretas1, desfiles cvico-militares, eventos esportivos etc., encantando o pblico pela sua msica. H de se lembrar que, at pouco tempo atrs, a banda de msica era um dos mais populares veculos de acesso cultura musical para a sociedade, encerrando nas apresentaes no somente a oportunidade do entretenimento musical, mas importante estmulo ao talento musical do indivduo, levando-o a participar da banda de msica e a aprender a tocar um instrumento musical (Nascimento, 2003).

    1 Retreta: Apresentao de uma Banda de Msica em praa pblica. (Fidalgo, 1996).

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    Verifica-se ainda, a existncia de msicos entre as grandes orquestras e bandas militares, nas instituies de ensino musical e em grupos populares famosos, que tiveram sua iniciao musical nas bandas de msica. Nota-se, tambm, com certa obviedade, que a maioria atua como instrumentistas de sopro: clarinetistas, saxofonistas, trombonistas, trompetistas, flautistas, tubistas, alm de percussionistas - devido configurao da banda de msica ser formada, majoritariamente, por instrumentos de sopro e percusso. H a possibilidade, tambm, de existirem msicos que tiveram sua origem musical na banda e, hoje, exercem funes musicais como regentes, arranjadores, diretores musicais, produtores ou cantores.

    O interesse pelo tema Bandas de Msica originou uma pesquisa que veio a se transformar na monografia de final do curso de Licenciatura Plena em Educao Artstica - Habilitao Msica foi apresentada no XVIII Frum de Pedagogia da Msica do Instituto Villa-Lobos no Centro de Letras e Artes da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO) em janeiro de 2003 e no I ENECIM (Encontro Nacional de Ensino Coletivo de Instrumentos Musicais) na Escola de Msica e Artes Cnicas da Universidade Federal de Gois (UFG) em dezembro de 2004 na cidade de Goinia. Essa pesquisa identificou e textualizou os benefcios para a carreira do msico profissional, que foram obtidos pela participao e aprendizado na banda de msica. Buscou-se ressaltar essas qualidades para o desenvolvimento profissional do msico que teve o diferencial banda de msica em algum momento de sua formao musical. Tentou-se, ainda, ressaltar sua possvel caracterstica de escola de formao musical, contribuindo para mudar o tratamento para com as bandas de msica, descritas e conceituadas, por vezes, de forma pejorativa (Alves, 1999). Porm, constatou-se, que a banda de msica contribui de maneira significativa para a experincia profissional do msico em todas as reas de atuao profissional. Mas, apesar dessas qualidades, necessrio um auxlio educacional nas instituies de ensino formal de msica para complementar sua formao musical, concluindo que as bandas de msica, apesar de contriburem para a formao de msicos profissionais, no so auto suficientes para o ensino musical global do indivduo (Nascimento, 2003).

    Portanto, notou-se que h a necessidade de se fazer novas pesquisas no intuito de se produzir conhecimento sobre o funcionamento educacional das bandas de msica, procurando solues para as lacunas existentes em seu processo de formao musical originando o objeto de pesquisa de mestrado no Programa de Ps-Graduao em Msica da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO). Para isso esta pesquisa analisou de forma cientfica a aplicao de um novo mtodo de ensino coletivo para bandas de msica brasileiras chamado Da Capo publicado e utilizado pelo professor doutor Joel Barbosa2 em bandas brasileiras.

    Diversos autores comentam a importncia da funo social em vrios campos do conhecimento. Na educao pode-se citar Vygotsky3 e seu conceito de zona de desenvolvimento proximal como principal enfatizadorr da importncia da funo social para a educao. Vygotsky

    2 Joel Barbosa: Mestre e Doutor em Artes Musicais pela University of Wahington, em Seattle, EUA. Com base em sua tese sobre metodologia de ensino coletivo de instrumentos de banda, escreveu o primeiro mtodo de banda brasileiro Da Capo. Atualmente professor titular de clarineta da Escola de Msica da Universidade Federal da Bahia UFBA e do Programa de Ps-Graduao onde orienta trabalhos de mestrado e doutorado nas reas de clarineta e ensino coletivo. fundador e maestro da Filarmnica UFBEB, banda do convnio entre a UFBA e a Sociedade 1 de Maio, projeto que trabalha msica e cidadania com jovens de um bairro popular de Salvador. Neste projeto, experimenta materiais didticos para banda por ele elaborado e treina alunos universitrios para trabalharem com a metodologia de ensino coletivo de instrumentos. Elaborou a concepo pedaggica da Escola de Msica Maestro Wanderley, da Casa das Filarmnicas, a qual coordena e rege sua banda. Nos ltimos trs anos, tem atuado como professor da oficina para msicos e maestros de banda do Programa Tim-Arteducao Projeto Msica e Cidadania, Bahia (Barbosa, 2004:v).

    3 Lev Semyonovitch Vygotysky (1896-1934), psiclogo russo, fundou, a partir de sua produo terica, a perspectiva scio-histrica para a psicologia. Embora tenha falecido a mais de 70 anos, Vygotsky deixou um legado impressionante de trabalhos que, descobertos no Ocidente durante a dcada de 60, so discutidos, at hoje, no s na psicologia mas tambm em outros campos, como da educao (Duarte, 2001).

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    enfatiza a organizao social da instruo estudando a forma de cooperao entre a criana e o adulto, que constitui o elemento central do processo educacional, ou seja, o conceito de zona de desenvolvimento proximal (Duarte, 2001:77).

    Como um dos mais famosos podemos tambm citar o psiclogo e filsofo suo Jean Piaget (1896-1980) por seu trabalho pioneiro no campo da inteligncia infantil. Ao contrrio de Vygotsky, a produo cientfica conhecida como Epistemologia Gentica de Piaget enfatiza a produo individual do conhecimento. Porm, estudos mais recente como o da professora Delia Lerner4 nos mostram que ...a prioridade atribuda interao social na atividade escolar no exclusiva de nossos trabalhos. Pelo contrrio, estes fazem parte de uma tradio originada no prprio Piaget (1998:100).

    Nas pesquisas realizadas pela professora Dlia Lerner verifica-se tambm a existncia de vrios estudiosos que ratificam a importncia da interao social no processo educacional como: Csar Coll (1990), Ana Teberosky (1982), Ferreiro & Teberosky (1879), Kaufman et alii (1982), H. Aebli (1965), Pirret Clermont (1984), etc.

    No Brasil, grande parte das instituies de ensino musical segue ainda o modelo conservatorial5 como base educacional. Essas instituies utilizam a forma tutorial, professor e aluno, como principal meio para o aprendizado. O ensino coletivo de instrumentos musicais, diferentemente do modelo conservatorial, utiliza em sua metodologia a interao social entre os indivduos participantes comungando com os autores supra-citados. Apesar de ser algo ainda recente no Brasil, esta metodologia de ensino musical j conta com a contribuio de educadores e pesquisadores obtendo resultados positivos com sua utilizao.

    A metodologia do ensino coletivo de instrumentos musicais consiste em ministrar aulas ao mesmo tempo para vrios alunos. Essas aulas podem ser de forma homogenia ou heterogenia6 e efetuada de maneira multidisciplinar, ou seja, alm da prtica instrumental, podem ser ministrados outros saberes musicais intitulados academicamente como: teoria musical, percepo musical, histria da msica, improvisao e composio.

    O prprio autor do mtodo Da Capo, em sua tese de doutorado intitulada Uma Adaptao dos Mtodos Americanos de Instruo para Bandas para a Educao Musical Brasileira, utilizando Melodias Brasileiras7, so sugeridas experincias futuras como verifica-se a seguir: em concluso a fim de verificar a validade do sucesso do mtodo como instrumento de ensino, ser necessrio submet-la a vrias experimentaes em diferentes partes do Brasil8 (Barbosa, 1994:29). Para isso, a aplicao da pesquisa se deu na cidade mineira de Mar de Espanha, pois no se teve notcias da aplicao do mtodo Da Capo no Estado de Minas Gerais segundo o autor em entrevista9.

    Outro fator que legitima esta pesquisa o fato do mtodo Da Capo no ter sido objeto de pesquisa cientfica a nvel acadmico. Juntamente a isso, esta pesquisa utilizar alguns fatores diferenciais ao mtodo que tambm foram sugeridas pelo autor.

    4 Dlia Lerner: Professora do Departamento de Cincias da Educao na Universidade de Buenos Aires. De suas vrias obras j editaram no Brasil: A matemtica na escola, aqui e agora e A aprendizagem da escrita na escola (co-autoria) (Lerner, 1998).

    5 Modelo conservatorial: Modelo construdo a partir do Conservatrio de Msica francs, no final do sculo XVIII, em sintonia com os ideais democrticos da revoluo francesa (Santos, 2001).

    6 Ensino coletivo homogneo ocorre quando o mesmo instrumento lecionado em grupo. J o ensino coletivo heterogneo ocorre quando vrios instrumentos diferentes so trabalhados num mesmo grupo (Cruvinel, 2006:74).

    7 An Adaptation of American Band Instruction Methods to Brazilian Music Education, Using Brazilian Melodies (Barbosa, 1994).

    8 In conclusion, in order to verify the validity of the methods success as a teaching tool, it will be necessary to submit it to several experiments in different parts of Brazil (Barbosa, 1994:29).

    9 Entrevista realizada pelo autor em julho de 2005 com Joel Barbosa.

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    O primeiro fator diferencial e o mais importante o uso de professores especialistas nos instrumentos. No mtodo Da Capo, um nico professor assume o papel de ministrar todos os instrumentos. Segundo o professor Joel Barbosa essa configurao de professores especialistas seria a ideal, porm um pouco mais onerosa. O segundo aspecto ser a apreciao musical atravs de vdeos, dvds e audies ao vivo que tambm, segundo o autor, trar um resultado positivo para o ensino do mtodo (Barbosa, 2005).

    Para desenvolver a pesquisa proposta, optou-se pela modalidade da pesquisa qualitativa utilizando o design10 quase-experimental, onde selecionou-se como universo um grupo de alunos que teria seus primeiros ensinamentos musicais em uma banda de msica. Durante o perodo pr-estabelecido de seis meses, ocorreu a coleta de dados, utilizando como instrumento de medida para tal a observao participante, com o registro efetuado por gravaes em VHS, fichas de observao individuais e coletivas, depoimentos informais.

    Obteve-se como resultado uma melhora significativa nos aspectos tcnicos do instrumento, a diminuio do tempo de formao para que o iniciante venha a participar do ensaio da banda, o desenvolvimento de saberes musicais necessrios ao msico profissional moderno e a diminuio ou subtrao de deficincias da prtica educacional da banda de msica brasileira, validando a estruturao de um currculo para as bandas utilizando o mtodo Da Capo, bem como os fatores diferenciais aplicados nesta pesquisa, proporcionando uma formao musical mais homognea e de maior qualidade.

    Referncias Bibliogrficas Alves, Cristiano Siqueira (1999). Uma proposta de analise do papel formador expresso em bandas de

    musica com enfoque no ensino da clarineta. Rio de Janeiro: Universidade Federal do Rio de Janeiro. Dissertao de Mestrado.

    Barbosa, Joel Lus da Silva (1994). An adaptation of American band instruction methods to Brazilian music education, using Brazilian melodies. University of Washington-Seattle. Tese de Doutorado.

    __________. (2005). Entrevistado pelo autor em 21 de julho de 2005 no II Curso de Frias da Cidade de Tatu-SP.

    Cruvinel, Flvia Maria (2005). O ensino coletivo de instrumentos musicais. Educao Musical e Transformao social. Goinia: Instituto Centro-Brasileiro de Cultura. 67-86.

    Duarte, Mnica (2001). Prtica interacionista em msica. Debates 4 Caderno do Programa de ps-graduao em Msica. Rio de Janeiro: UNIRIO/CLA. 75-94.

    Fernandes, Jos Nunes (2000). Pesquisa em Educao Musical: situao do campo nas dissertaes e teses dos cursos de ps-graduao stricto senso em Educao. Revista da ABEM. Porto Alegre: Associao Brasileira de Educao Musical.

    Fidalgo, Heloiza Helena Carestiato (1996). As Bandas de Msica de Nova Friburgo sua organizao, sua trajetria e o seu papel enquanto agentes de Educao Musical. Rio de Janeiro: Conservatrio Brasileiro de Msica. Dissertao de Mestrado.

    Leaner, Delia (1998). Piaget Vygotsky novas contribuies para o debate. So Paulo: Afiliada.

    Mazzotti, Alda J. A, Fernando Gewandsznajder (2004). O Planejamento de Pesquisas Qualitativas. O mtodo nas cincias naturais e sociais: pesquisa quantitativa e qualitativa. So Paulo: Pioneira, 2. ed. 147-176.

    10 Design: O termo design, no que se refere pesquisa, tem sido traduzido como desenho ou planejamento. O

    design corresponde ao plano e s estratgicas utilizadas pelo pesquisador para responder s questes propostas pelo estudo, incluindo os procedimentos e instrumentos de coleta, anlise e interpretao dos dados, bem como a lgica que liga entre si diversos aspectos da pesquisa (Alves-Mazzotti e Gewandsznajder, 2004:147).

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    Nascimento, Marco Antonio Toledo (2003). A banda de msica como formadora de msicos profissionais, com nfase nos clarinetistas profissionais do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: UNIRIO. Monografia de final de curso.

    Santos, Regina Mrcia Simo (2001). Jaques-Dalcroze, avaliador da instituio escolar: em que se pode reconhecer Dalcroze um sculo depois? Debates 4 Caderno do Programa de ps-graduao em Msica. Rio de Janeiro: UNIRIO/CLA. 7-48.