Pereira, Angelina Gonçalves de Faria

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS Programa de Pós-graduação em Comunicação Social Angelina Gonçalves de Faria Pereira A CONSTRUÇÃO DO IMAGINÁRIO DO MUSEU CASA GUIMARÃES ROSA E OS IMPACTOS NA APROPRIAÇÃO DO ESPAÇO SOCIAL Belo Horizonte 2013

Transcript of Pereira, Angelina Gonçalves de Faria

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS

Programa de Pós-graduação em Comunicação Social

Angelina Gonçalves de Faria Pereira

A CONSTRUÇÃO DO IMAGINÁRIO DO MUSEU CASA GUIMARÃES ROSA E OS

IMPACTOS NA APROPRIAÇÃO DO ESPAÇO SOCIAL

Belo Horizonte

2013

Angelina Gonçalves de Faria Pereira

A CONSTRUÇÃO DO IMAGINÁRIO DO MUSEU CASA GUIMARÃES ROSA E OS

IMPACTOS NA APROPRIAÇÃO DO ESPAÇO SOCIAL

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação de Comunicação e Artes da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais como parte dos requisitos necessários para obtenção do título de mestre em comunicação. Orientador: Profº. Drº. Júlio César Machado Pinto Co-Orientadora: Prof.ª Dr.ª Ana Luisa de Castro Almeida

Belo Horizonte

2013

FICHA CATALOGRÁFICA

Elaborada pela Biblioteca da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais

Pereira, Angelina Gonçalves de Faria

P436c A construção do imaginário do Museu Casa Guimarães Rosa e os impactos

na apropriação do espaço social / Angelina Gonçalves de Faria Pereira. Belo

Horizonte, 2013.

147 f.: il.

Orientador: Júlio César Machado Pinto

Coorientadora: Ana Luisa de Castro Almeida

Dissertação (Mestrado)- Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais.

Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social.

1. Rosa, João Guimarães, 1908-1967 - Crítica e interpretação. 2. Museu Casa

Guimarães Rosa - Memória. 3. Imaginário. 4. Relações interpessoais. 5. Espaços

públicos. 6. Significação (Filosofia). I. Pinto, Júlio César Machado. II. Almeida,

Ana Luisa de Castro. III. Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais.

Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social. IV. Título.

CDU: 069.02:82

Angelina Gonçalves de Faria Pereira

A CONSTRUÇÃO DO IMAGINÁRIO DO MUSEU CASA GUIMARÃES ROSA

E SEUS IMPACTOS NA APROPRIAÇÃO DO ESPAÇO SOCIAL

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação de Comunicação e Artes da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais como parte dos requisitos necessários para obtenção do título de mestre em comunicação.

__________________________________________________ Prof.º Dr.º Júlio César Machado Pinto (Orientador) PUC Minas

________________________________________________________ Prof.ª Dr.ª Ana Luisa de Castro Almeida (Coorientadora) PUC Minas

__________________________________________________ Prof.ª Dr.ª Ivone de Lourdes Oliveira - PUC Minas

__________________________________________________ Prof.ª Dr.ª Teresinha Maria Carvalho Cruz Pires - PUC Minas

Belo Horizonte, 19 de dezembro de 2013.

Para minha mãe Angelina Amaral de Faria (in memoriam) mulher determinada e guerreira, exemplo de amor e dedicação. Um porto seguro para sua família e para todos que a conheciam. A você mãe querida, dedico minha vitória.

AGRADECIMENTOS

Mais uma etapa concluída em minha vida. E esta vitória foi fruto de muito

esforço, dedicação e abdicação de vários momentos que deixei de compartilhar com

minha família, para dedicar-me ao mestrado.

Foi um percurso solitário, de muita interiorização e muitas reflexões, mas não

foi um caminho que percorri sozinha. Ao longo desta jornada várias pessoas

estiveram presentes me incentivando e apoiando. A todas quero registrar o meu

mais sincero agradecimento.

Agradeço a Deus, antes e acima de tudo, por ter me dado forças todos os

dias para superar todas as dúvidas e dificuldades que me acompanharam ao longo

deste processo.

A querida mestre Ana Luísa, por ter me incentivado a fazer o mestrado e por

me conduzir com paciência e respeito durante todo o percurso deste trabalho.

Pessoa iluminada que merece toda a minha admiração e respeito.

Ao meu querido professor Júlio Pinto, por me conduzir e orientar na etapa

final desta pesquisa.

Ao meu marido e companheiro, Hélcio, pelo amor, carinho e acima de tudo

paciência em entender o meu momento e fazer parte dele, fazendo com que tudo,

de alguma maneira, se tornasse muito mais fácil.

As minhas filhas Aline e Luiza, pelo carinho e compreensão dos meus

momentos de mau humor e pelas palavras de carinho e motivação, que como me

fortaleciam todos os dias.

Ao meu pai Rinaldo, por entender o meu desejo e me ajudar na concretização

deste sonho.

Ao coordenador do Museu Casa Guimarães Rosa, Ronaldo Alves, por me

receber de braços abertos no Museu e pela sua total disponibilidade durante todas

as etapas da pesquisa.

As minhas amigas Anita Magalhães, Kátia Cristiane e Regina Gaspar,

pessoas especiais que tive a honra de conhecer durante o mestrado. Amigas

sinceras que pude contar nos meus momentos de inquietação, angústias e que me

apoiaram sempre que precisei. Obrigada pela convivência e amizade e por fazerem

das tardes na PUC e dos nossos encontros sempre uma deliciosa experiência.

Aos amigos, todos eles que, de perto ou de longe, viveram comigo esta experiência

e contribuíram para que ela fosse completa.

Á Isana Oliveira, secretária do mestrado da PUC, que com simpatia e

cordialidade sempre me atendeu nas demandas solicitadas.

Ao professor Eduardo de Jesus (PUC) por suas observações e ponderações

durante a banca de qualificação.

O meu agradecimento especial para as professoras Ivone de Lourdes Oliveira

e Terezinha Maria C. Cruz Pires por terem participando da minha banca de defesa.

Agora está claro e evidente para mim que o futuro e o passado não existem,

e que não é exato falar de três tempos: passado, presente e futuro. Seria talvez mais justo dizer que os tempos são três, isto é, o presente dos fatos passados, o presente dos fatos presentes, o presente dos fatos futuros. E estes três tempos estão na mente e não os vejo em outro lugar. O presente do passado é a memória. O presente do presente é a visão. O presente do futuro é a espera.

Se me é permitido falar assim, direi que vejo e admiro três tempos e três tempos existem, Diga-se mesmo que há três tempos: passado, presente e futuro, conforme a expressão abusiva em uso. Admito que se diga assim. Não me importo, não me oponho, nem critico tal uso, contanto que se entenda: o futuro não existe agora, nem o passado. Raramente se fala com exatidão. O mais das vezes falamos impropriamente, mas entende-se o que queremos dizer. (AGOSTINHO, 2004, p. 344-345)

RESUMO

A questão central desta pesquisa é perceber como se dá a construção do imaginário

do Museu Casa Guimarães Rosa e os impactos na apropriação do espaço social.

Entendendo o processo comunicativo como mediador das relações entre o museu e

seus grupos de relacionamento, procura-se compreender como são apresentados os

discursos por meio dos processos comunicacionais. Entre os objetivos elencados,

pretende-se entender o Museu Casa Guimarães Rosa como espaço de interação

social e construção de sentidos; refletir sobre os processos de construção e disputa

de sentidos no contexto social e, finalmente, perceber a imagem construída do

Museu Casa Guimarães Rosa. A vida e obra de Guimarães Rosa foram resgatadas,

fornecendo elementos necessários para a condução dos trabalhos. Buscamos em

Campbell, Eliade e Aranha e Martins o aporte teórico necessário para compreender

a força do mito deste grande escritor, para a comunidade e também para o

fortalecimento da imagem do Museu perante seus visitantes. Abordaremos a

necessidade do indivíduo em coletar e guardar objetos, no intuito de construir uma

memória social. Faremos uma viagem pelo templo das musas, onde o museu tem a

sua origem, até chegar à contemporaneidade. Abordaremos também os museus

como espaços de interação e comunicação, enquanto espaços discursivos e

interpretativos e que estão em constante relação com os indivíduos. Destacamos

conceitos necessários para a construção das interfaces desta pesquisa, como

imaginário, sentidos, linguagem, que nos ajudarão a entender com se dá a relação

entre os indivíduos e a construção e disputa de sentidos. A pesquisa exploratória foi

escolhida como percurso metodológico. E como método optamos pelo estudo de

caso em virtude da importância que confere ao contexto, o que é adequado ao tipo

de formulação que fazemos. Para a obtenção dos dados, foram realizadas

pesquisas qualitativas com os visitantes do Museu, de forma aleatória, utilizando

como abordagem a aplicação de um questionário, com o intuito de compreender

como se dá a construção de sentido e a percepção dos visitantes acerca do Museu

Casa Guimarães Rosa. Foram realizadas também, pesquisas em profundidade com

o Coordenador do Museu Casa Guimarães Rosa, a presidente da Associação de

Amigos do MCGR, o coordenador e fundador do Grupo Caminhos do Sertão e com

a Coordenadora do Grupo de Contadores de Estórias Miguilins, pessoas da

comunidade de Cordisburgo e que estão envolvidos em projetos e ações que

preservam a memória de Guimarães Rosa. As pesquisas realizadas nos deram os

subsídios necessários para o entendimento de como se dá a construção do

imaginário do Museu Casa Guimarães Rosa e seus impactos na apropriação do

espaço social. Por fim, contemplamos considerações sobe o processo de construção

do imaginário do Museu Casa Guimarães Rosa, através da produção discursiva

produzida pelas entrevistas e analise do material pesquisado, que tornou possível a

compreensão dos efeitos produzidos.

Palavras-chave: Construção de sentidos. Imaginário. Memória. Guimarães Rosa.

Museu Casa Guimarães Rosa

ABSTRACT

The central question of this research is to understand how the imaginary construction

of Guimarães Rosa House Museum and the impacts on appropriation of the social

space. Understanding the communicative process as a mediator of the relationship

between the Museum and its relationship groups, seeks to understand how the

speeches are presented by means of communicational processes. Among the

objectives listed, we intend to understand the Guimarães Rosa House Museum as a

space for social interaction and construction of senses; reflect on the processes of

construction and dispute of meanings in social context and, finally, realize the image

constructed of Guimarães Rosa House Museum. The life and work of Guimarães

Rosa have been rescued, providing information needed for the conduct of work. We

seek in Campbell, Eliade and spider and Malik the theoretical contribution necessary

to understand the power of the myth of this great writer, to the community and also to

the strengthening of the image of the Museum before your visitors. We'll cover the

need of the individual to collect and save objects in order to build a social memory.

We will make a trip around the Temple of the Muses, where the Museum has its

origin, until you reach the contemporaneity. We'll cover also the museums as spaces

of interaction and communication, as discursive and interpretive spaces and which

are in constant relationship with individuals. Dstake necessary concepts for the

construction of interfaces of this research, as imaginary, senses, language, which will

help us to understand the relationship between individuals and the construction and

dispute of meanings. Exploratory research was chosen as methodological path. And

as we try for case study method in view of the importance which gives the context,

what is appropriate to the type of formulation. To obtain the data, were conducted

qualitative research with visitors to the Museum, at random, using as the application

of a questionnaire approach, in order to understand how the construction of meaning

and perception of visitors about Guimarães Rosa House Museum. Also, searches

were carried out in depth with the Coordinator of Guimarães Rosa House Museum,

the President of the Association of friends of MCGREGOR, the Coordinator and

founder of the Paths of the hinterland and with the Coordinator of the Group of

storytellers Miguilins, people from the community of Cordisburgo and who are

involved in projects and actions that preserve the memory of Guimarães Rosa. The

research gave us the subsidies necessary to understanding how the imaginary

construction of Guimarães Rosa House Museum and its impacts in the appropriation

of the social space. Finally, we contemplate considerations under the process of

construction of the imaginary of Guimarães Rosa House Museum, through discursive

production produced by interviews and researched material analysis, which made it

possible to understand the effects produced.

Keyword: Construction of meaning. Imaginary. Memory. Guimarães Rosa.

Guimarães Rosa House Museum

LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1- Fachada externa - Museu Casa Guimarães Rosa .................................. 71

FIGURA 2 - Jardim Interno do Museu Casa Guimarães Rosa .................................. 72

FIGURA 3 - Venda do”Seu Fulô” ............................................................................... 73

FIGURA 4 - Grupo de Contadores de Estórias Miguilins e Dora Guimarães ............ 76

FIGURA 5 - Grupo de Terceira Idade Estrelas do Sertão ......................................... 78

FIGURA 6 - XXIII Semana Roseana 2011 ................................................................ 79

FIGURA 7 - Caminhada Eco-Literária ....................................................................... 82

FIGURA 8 - Sala Gabinete ........................................................................................ 86

FIGURA 9 - A cozinha - “Tutaméia” e “Primeiras Estórias” ....................................... 86

FIGURA 10 - "Quarto da Vovó Chiquinha", Sala Corpo de Baile .............................. 87

FIGURA 11 - Exposição temporária .......................................................................... 87

FIGURA 12 - Manto do Vaqueiro .............................................................................. 88

LISTA DE SIGLAS

ABL - Academia Brasileira de Letras

AMMCGR - Associação de Amigos do Museu Casa Guimarães Rosa

CCPL - Circuito Cultural Praça da Liberdade

CNJB - Comissão Nacional de Jardim Botânico

COC/ FIOCRUZ - Casa de Oswaldo Cruz/ Fundação Oswaldo Cruz

EUA - Estados Unidos da América

GSV - Grande Sertão: veredas

IBRAM - Instituto Brasileiro de Museus

ICOM - Conselho Internacional de Museus

IEB - Instituto de Estudos Brasileiros

IEPHA/MG - Instituto Estadual do Patrimônio Histórico de Minas Gerais

INL - Instituto Nacional do Livro

MAC - Museu de Arte Contemporânea

MAM-SP - Museu de Arte Moderna de São Paulo

MAS - Museu de Arte de São Paulo

MASP - Museu de Arte de São Paulo

MCGR - Museu Casa Guimarães Rosa

PUC-MG - Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais

SUMAV - Superintendência de Museus e Artes Visuais

UFMG - Universidade Federal de Minas Gerais

UFRJ - Universidade Federal de Juiz de Fora

USP - Universidade de São Paulo

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 27

2 GUIMARÃES ROSA .............................................................................................. 31

2.1 Vida e obra ......................................................................................................... 31

2.1.1 Guimarães por Guimarães ............................................................................. 40

2.1.2 “As pessoas não morrem, ficam encantadas”: o mito Guimarães Rosa .. 44

2.1.3 O nascimento do mito Guimarães Rosa ....................................................... 49

2.1.4 O mito e a mídia .............................................................................................. 52

3 MUSEUS E MEMÓRIA, CAMINHOS QUE SE ENTRELAÇAM ............................ 57

3.1 Memória: o museu que se faz lembrar ............................................................ 57

3.2 Um museu dedicado a Guimarães Rosa ......................................................... 68

3.2.1 Associação dos Amigos do Museu Casa Guimarães Rosa ........................ 73

3.3.2 Grupo de Contadores de Estórias Miguilim ................................................. 74

3.3.3 Grupo da Melhor Idade Estrelas do Sertão .................................................. 77

3.3.4 Semana Roseana ............................................................................................ 78

3.3.5 Caminhada Eco-literária ................................................................................ 79

3.6 O Museu na contemporaneidade ..................................................................... 90

3.6.1 Museus enquanto espaços de interação e comunicação ........................... 96

3.6.2 Experiência e entretenimento nos museus .................................................. 99

4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS............................................................. 104

4.1 Caracterização da pesquisa: tipo, estratégia e método ............................... 104

4.2 Instrumento de coleta de dados ................................................................... 107

4.3 A coleta de dados ............................................................................................ 108

4.3.1 O “sertão é dentro da gente”, uma viagem pelas obras de Rosa. ........... 110

4.3.2 O museu e a casa ......................................................................................... 112

4.3.3 Miguilins, os arautos de Guimarães Rosa ................................................. 113

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................. 117

REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 120

APÊNDICE A - Transcrição entrevistas - Museu Casa Guimarães Rosa .......... 133

27

1 INTRODUÇÃO

Em todo o mundo, os museus desempenham papel fundamental na

revitalização urbana e no desenvolvimento social e econômico de pequenas e

grandes cidades, que apresentam incríveis histórias de “antes” e “depois" da

implantação de seus museus.

Segundo o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN)

museu é toda instituição a serviço da sociedade e do seu desenvolvimento, aberta

ao público, que adquire, conserva, pesquisa e expõe para fins de estudo, educação

e lazer, evidências materiais do homem e do seu meio ambiente. (BRASIL, 2012b).

A Declaração de Caracas (Venezuela), de 1992, por sua vez, evidencia a

função comunicacional de um museu, ao definir que: “A função museológica é,

fundamentalmente, um processo de comunicação que explica e orienta as atividades

específicas do museu, tais como a coleção, a conservação e exibição do patrimônio

cultural e natural”. (DECLARAÇÃO..., 1992).

Tendo como referência as definições do IPHAN e da Declaração de Caracas,

podemos concluir que os museus não são somente fontes de informação ou

instrumentos de educação, mas espaços e meios de comunicação que servem ao

estabelecimento da interação da comunidade com o processo e com os produtos

culturais.

O Brasil, nas últimas décadas, passou a reconhecer a importância e o poder

dos museus no desenvolvimento das sociedades e vem desenvolvendo uma série

de políticas que beneficiam a criação e manutenção destes equipamentos em todo o

pai. Hoje, segundo informações do Instituto Brasileiro de Museus (IBRAM), cerca de

90 instituições museológicas estão sendo construídas ou passam por revitalizações

profundas, em um universo de 3.500 museus espalhados em todo o território

nacional. (BRASIL, 2012a).

Minas Gerais, de acordo com pesquisa realizada pelo IBRAM, é o Estado com

maior número de municípios do Brasil (853), o segundo em termos de população

absoluta, com aproximadamente 20 milhões de habitantes. É o quarto Estado em

número de museus, com 329, estando São Paulo, Rio de Janeiro e Bahia à sua

frente. (BRASIL, 2012a).

28

Atualmente, a principal demanda para os museus brasileiros é que sejam

interativos e que façam parte da vida das pessoas, integrando-se ao fluxo das

cidades, evoluindo com os movimentos contemporâneos e atuando como pólos de

reflexão sobre temas atuais. Esta interação só se torna possível, quando as pessoas

passam a incluir o museu nas suas escolhas diárias, de motivação turística,

econômica, de lazer e intelectual.

O público visitante de museus não é uma massa uniforme, com

comportamentos constantes, mas sim um sujeito com personalidade, crenças,

motivações e conhecimentos próprios, que escolhe o percurso da visita. Sendo

assim, o processo de comunicação no museu deve ser constituído por múltiplos

significados e sentidos, para públicos específicos, que vão imprimir as suas

singularidades na recepção das mensagens.

No entanto, é importante resaltar, que os estudos da comunicação se

ampliaram e hoje, o paradigma tradicional (emissor/receptor) não dá mais conta de

explicar os processos comunicativos. Percebe-se uma redefinição de papéis dentro

do processo comunicativo, que não parte mais deste paradigma que constitui uma

visão linear, por meio de um processo mecânico. Segundo Vera França (2007) não é

possível analisar o emissor sem levar em conta o outro e não é possível analisar o

receptor separado dos estímulos que lhe foram endereçados e que o constituíram

como sujeito daquela relação. (FRANÇA, 2007, p.12).

Para Rudimar Baldissera (2008), no entanto, a comunicação está num

processo de construção e disputa de sentidos. Esta noção, segundo ele, atenta para

a importância que a significação assume na comunicação e permite pensar os

sentidos que permeiam uma relação de comunicação que está em movimento, ou

seja, em circulação (BALDISSERA, 2008, p.33).

A questão central desta pesquisa é perceber como se dá a construção do

imaginário do Museu Casa Guimarães Rosa e os impactos na apropriação do

espaço social. Entendendo o processo comunicativo como mediador das relações

entre o museu e seus grupos de relacionamento, procura-se compreender como são

apresentados os discursos por meio dos processos comunicacionais.

Entre os objetivos elencados, pretende-se entender o Museu Casa Guimarães

Rosa como espaço de interação social e construção de sentidos; refletir sobre os

processos de construção e disputa de sentidos no contexto social e, finalmente,

perceber a imagem construída do Museu Casa Guimarães Rosa.

29

No capítulo 2, vida e obra de Guimarães Rosa foram resgatadas, fornecendo

elementos necessários para a condução dos trabalhos. Buscamos em Joseph

Campbell (1990; 2005), Mircea Eliade (1994), Maria Lucia de Arruda Aranha e Maria

Helena Pires Martins (2002) o aporte teórico necessário para compreender a força

do mito deste grande escritor, para a comunidade e também para o fortalecimento

da imagem do Museu perante seus visitantes.

No capítulo 3, abordaremos a necessidade do indivíduo em coletar e guardar

objetos, no intuito de construir uma memória social. Faremos uma viagem pelo

templo das musas, onde o museu tem a sua origem, até chegar à

contemporaneidade. Abordaremos também os museus como espaços de interação e

comunicação, enquanto espaços discursivos e interpretativos e que estão em

constante relação com os indivíduos. Ainda nesse capítulo, introduziremos

informações a respeito do Museu Casa Guimarães Rosa, nosso objeto de pesquisa.

Descreveremos as principais ações e atividades que fazem com que a comunidade

de Cordisburgo, local onde o Museu está inserido, se reconheça nestas atividades e

se aproprie deste espaço social.

O capítulo 4, destacamos conceitos necessários para a construção das

interfaces desta pesquisa, como imaginário, sentidos, linguagem, que nos ajudarão

a entender com se dá a relação entre os indivíduos e a construção e disputa de

sentidos.

O capítulo 5 mostra o percurso metodológico que escolhemos para esta

pesquisa exploratória. Optamos pelo método de estudo de caso em virtude da

importância que confere ao contexto, o que é adequado ao tipo de formulação que

fazemos. O somatório da pesquisa exploratória com a abordagem qualitativa

possibilita contato direto do pesquisador com a situação estudada na busca da

compreensão dos fenômenos, sob a perspectiva dos participantes da situação em

estudo (GODOY, 1995).

Para a obtenção dos dados, foram realizadas pesquisas qualitativas com os

visitantes espontâneos do Museu, de forma aleatória, utilizando como abordagem a

aplicação de um questionário, com o intuito de compreender como se dá a

construção de sentido e a percepção dos visitantes acerca do Museu Casa

Guimarães Rosa. As pesquisas realizadas com este público nos deram os subsídios

necessários para o entendimento de como se dá a construção do imaginário do

Museu Casa Guimarães Rosa e seus impactos na apropriação do espaço social.

30

Foram realizadas também, pesquisas em profundidade com o Coordenador

do Museu Casa Guimarães Rosa, o coordenador e fundador do Grupo Caminhos do

Sertão, com a Coordenadora e alguns integrantes do Grupo de Contadores de

Histórias Miguilins, pessoas da comunidade de Cordisburgo que estão envolvidos

em projetos e ações que preservam a memória de Guimarães Rosa. Os

depoimentos destas pessoas, concedidas ao longo do processo de pesquisa, está

fragmentos em todos os capítulos deste estudo.

Por fim, contemplamos considerações sobe o processo de construção do

imaginário do Museu Casa Guimarães Rosa, através da produção discursiva

produzida pelas entrevistas e analise do material pesquisado, que tornou possível a

compreensão dos efeitos produzidos.

31

2 GUIMARÃES ROSA

2.1 Vida e obra

Um dos grandes nomes do modernismo brasileiro é, sem dúvida, o escritor

João Guimarães Rosa, que criou uma maneira única de escrever, em que

transforma e renova radicalmente o uso da língua. Seus livros são marcados pelo

uso da linguagem popular e com grande influência da narrativa falada no sertão. Em

suas obras, é possível encontrar uma mistura de palavras de diferentes culturas,

principalmente com neologismos1, típicos da língua portuguesa, denotando o uso

constante de onomatopéias2 e aliterações3.

Essas características revelam toda a originalidade de Guimarães Rosa, que

sempre surpreendeu ao empregar formações linguísticas surgidas de várias

temporalidades, atingindo um ideal de intangibilidade universal. Sua obra é

construída sobre elementos nacionais e se tornou um marco de nossa identidade,

criando um universo dentro de cada leitor, afinal, o “sertão é dentro da gente”.

Para criar seu mundo imaginário, o autor teve de estabelecer procedimentos

criativos particulares, ressuscitando palavras que caíram em desuso da língua

portuguesa, além de criar novas palavras, como Sagarana, por exemplo. O título de

seu primeiro livro nasceu de uma união de palavras germânicas, portuguesas e um

prefixo extraído do Tupi antigo, o que compôs um neologismo, que significa Maneira

de Saga. Vale ressaltar que mesmo depois de revelar o processo de criação do

título, ele não perde sua força, uma característica na obra do escritor.

Guimarães Rosa era um homem culto e, usando de sua intelectualidade, com

simplicidade, conseguiu renovar e transformar a linguagem literária, valorizando as

características regionais de Minas Gerais, estabelecendo uma ponte entre o

universo de seus personagens e as grandes questões universais. A profunda

identificação do leitor com esse mundo acontece de maneira plausível, porque Rosa

não se colocava acima de seus personagens. Ele não era um autor comum, que

simulava as sensações e os sentimentos de suas criaturas. Mais que escritor, Rosa

é também um de seus personagens e, dessa forma, consegue envolver

1 Palavra ou expressão nova ou antiga com sentido novo. (FERREIRA, 2008, p.576).

2 Imita o som natural da coisa significada. [Ex: tique-taque]. (FERREIRA, 2008, p. 592)..

3 Repetição de fonema(s) no início, meio ou fim de palavras próximas, ou em frases ou versos. [Ex: Quem com ferro fere, com ferro será ferido]. (FERREIRA, 2008, p. 111).

32

espontaneamente o leitor.

A biografia4 de Guimarães Rosa se confunde com sua obra e é impossível

separá-las. E isto fica claro, no decorrer deste trabalho, pois as informações aqui

elencadas foram resultados de muita pesquisa.

Guimarães Rosa nasceu no dia 27 de junho de 1908, em Cordisburgo,

pequena cidade no interior de Minas Gerais. Primogênito do casal Francisca

Guimarães Rosa (Dona Chiquitinha) e Floduardo Pinto Rosa (Seu Fulô), Joãozito,

como era carinhosamente chamado, adorava inventar suas brincadeiras e imaginar

histórias. Cresceu ouvindo causos das pessoas que frequentavam o pequeno

comércio de seu pai, a “venda de seu Fulô”, que ficava na da frente da casa da

família. Causos esses que mais tarde se tornaram enredos de suas obras e, as

pessoas conhecidas, seus personagens (FUNDAÇÃO GUIMARÃES ROSA, 2012).

Em entrevista concedida ao jornalista paraibano Ascendino Leite, em 1946,

uma das poucas entrevistas concedidas pelo autor, Guimarães Rosa revela:

[...] gostava de estudar sozinho e de brincar de geografia. Mas, tempo bom, de verdade, só começou com a conquista de algum isolamento, com a segurança de poder fechar-me num quarto e trancar a porta. Deitar no chão e imaginar histórias, poemas, romances, botando todo mundo conhecido como personagens, misturando as melhores coisas vistas e ouvidas, numa combinação mais limpa e mais plausível, porque - como muita gente já compreendeu e já falou – a vida não passa de história mal arranjada, de espetáculo fora de foco. A arte e o céu serão, pois, assunto mais sério, e também são países de primeira necessidade (LIMA, 1997, p. 39).

Guimarães Rosa deixou Cordisburgo, aos nove anos, e foi morar com seus

avôs, em Belo Horizonte. Sempre muito dedicado aos estudos e frequentador

assíduo da biblioteca, em 1917, completou o primário no Grupo Escolar Afonso

Pena. O escritor adorava o estudo de línguas estrangeiras e aprendeu sozinho

vários idiomas.

Mudou-se para São João Del-Rei, interior de Minas Gerais, em 1918, onde

cursou o secundário, em regime de internato, no Colégio Santo Antônio. Retornou a

Belo Horizonte, em 1919, onde permaneceu até concluir seus estudos no Colégio

Arnaldo.

4 As datas e acontecimentos relacionados neste capítulo foram obtidos através de pesquisas realizadas em diversas obras, sobretudo nos livros de autoria de Eduardo Coutinho, Vicente Guimarães e Vilma Guimarães Rosa, irmão e filha do escritor (citados nas referências bibliográficas no final deste trabalho), além da coletânea de documentos e depoimentos pesquisados na sede do Museu Casa Guimarães Rosa e na sede da Superintendência de Museus e Artes Visuais.

33

Em 1925, aos 16 anos, Guimarães Rosa ingressa na Faculdade de Medicina

da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Foi durante esse período, em

1926, no velório de um aluno do curso de Medicina, vítima de febre amarela, que

Guimarães Rosa teria dito a famosa frase: “As pessoas não morrem, ficam

encantadas”, e que foi repetida em seu discurso de posse na Academia Brasileira de

Letras (ABL), em 1963, cerca de quarenta e um anos depois.

Em 1929, ainda no curso de Medicina, Guimarães Rosa inicia sua trajetória

na literatura e participa do concurso promovido pela revista O Cruzeiro, inscrevendo

quatro contos “Caçador de Camurças”, “Chronos Kai Anagke”, “O mistério de

Highmore Hall” e “Makiné”, que foram premiados e publicados com ilustração entre

os anos de 1929 e 1930.

Casa-se em 1929, aos 22 anos, com Lígia Cabral Penna, então com 16 anos,

com quem teve duas filhas: Vilma e Agnes. Apaixonado pela língua estrangeira

praticava francês constantemente com amigos e parceiros de xadrez.

Escolhido orador da turma pelos colegas de curso, Guimarães Rosa forma-se

em medicina, no dia 21 de dezembro de 1930. No ano seguinte, muda-se com sua

esposa Lygia, para Itaguara, interior de Minas Gerais, onde inicia sua carreira de

médico, por aproximadamente dois anos. Em Itaguara, pequeno povoado rural,

localizado no município de Itaúna, Rosa estabelece uma relação muito forte com a

comunidade, principalmente com raizeiros e receitadores, reconhecendo sua

importância no atendimento aos pobres e marginalizados.

Guimarães Rosa atua como médico voluntário da Força Pública durante a

Revolução Constitucionalista de 1932 e, em 1934, após ser aprovado em concurso,

toma posse como Oficial Médico do 9º Batalhão de Infantaria e muda-se com a

família para a cidade de Barbacena, interior de Minas Gerais. Nesse período, Rosa

já conhecia vários idiomas, mas nem por isso deixava de prestar atenção na

linguagem falada pelo povo simples no seu dia-a-dia.

Em entrevista concedida à Rede Minas, no dia 25 de julho de 2006, Heloisa

Murgel Starling, professora de História das Ideias da UFMG, afirma que:

A experiência de Guimarães Rosa como médico no interior foi muito importante, pois o colocou perto daquilo que é essencial para o ser humano: a dor, a morte, o nascimento, fazendo com que ele tivesse uma vivência de determinadas emoções e de determinados sentimentos do ser humano que, provavelmente, o ajudaram quando

34

ele foi criar os personagens de seus livros.5

O exercício da medicina deixava Guimarães Rosa muito angustiado, por não

conseguir acabar com a dor e o sofrimento das pessoas. Em março de 1934

escreve para seu amigo Pedro Barbosa, manifestando seu descontentamento com a

profissão e revelando seu interesse pela carreira diplomática, proveniente de sua

paixão pelo estudo da língua estrangeira. Nesta carta declara-se:

decepcionado com a realidade da medicina, sentindo até algum arrependimento por não ter estudado direito. [...] ainda que ande navegando bem, apesar de em águas profundas, mas falta-me o amor da profissão, a adaptação às tarefas cotidianas. Não nasci para isso, penso [...] só posso agir satisfeito no terreno das teorias, dos textos, do raciocínio puro, dos subjetivismos. Sou um jogador de xadrez – nunca pude, por exemplo, com bilhar ou com futebol [...].

6

Ainda em 1934, Guimarães Rosa presta concurso e é aprovado para o

Ministério do Exterior. Em julho deste mesmo ano, toma posse no Itamaraty e é

nomeado cônsul de terceira classe. Com a sua nomeação, Rosa pede demissão do

cargo de capitão médico e, logo depois, muda-se com a família para o Rio de

Janeiro, onde permanece por quase quatro anos, trabalhando na Secretaria do

Ministério das Relações Exteriores, no Palácio do Itamaraty.

Em 1936, ganha o 1º lugar do concurso promovido pela ABL, com o livro

Magma, publicado postumamente, 20 anos depois da morte de Guimarães Rosa,

em 1997. Em 1937, classifica-se em 2º lugar no Prêmio Humberto Campos,

realizado pela Editora José Olympio, com o livro Contos. Em 1938, então com 30

anos, é nomeado Cônsul Adjunto do Brasil, em Hamburgo. Parte para a Alemanha,

onde permanece, sem a família, por quatro anos, durante a 2ª Guerra Mundial. E é

durante sua estadia em Hamburgo que conhece Aracy Moebius de Carvalho (Ara),

funcionária graduada do Consulado, que tornaria sua segunda esposa. Durante 30

anos, Aracy foi a grande companheira de Guimarães Rosa, desde Sagarana, sua

primeira grande obra, até a morte do escritor, em 1967.

Trabalhou como diplomata em vários países e, durante a 2ª Guerra Mundial,

ciente dos perigos que enfrentava, com a ajuda de sua mulher Dona Aracy, protegeu

5 Entrevista concedida à Rede Minas de Televisão, no dia 25 de julho de 2006, por ocasião do Programa Especial realizado pela emissora, em comemoração aos 100 de Guimarães Rosa.

6 Carta de Guimarães Rosa a Pedro Barbosa, Rio de Janeiro, 13.08.1938. Consultada durante pesquisa no arquivo do Museu Casa Guimarães Rosa.

35

e favoreceu a fuga de judeus perseguidos pelo Nazismo. Em reconhecimento, o

governo Israelense presta homenagem a Guimarães Rosa e Dona Aracy, em abril

de 1985. O nome do casal foi dado a um bosque que fica ao longo das encostas que

dão acesso a Jerusalém. Em 1942, após o rompimento diplomático entre Brasil e

Alemanha, Guimarães Rosa e outros brasileiros ficam retidos em Baden-Baden,

sendo libertados quatro meses depois, em troca de diplomatas alemães. De volta ao

Brasil, Rosa é promovido a 2º Secretário de Embaixada e lotado em Bogotá, onde

permaneceu até junho de 1944.

Em 1945 refaz seu livro de contos e muda o título para Sagarana,

neologismo criado por ele, e o entrega à Editora para publicação. Em fevereiro de

1946 é nomeado Chefe de Gabinete do Ministro das Relações Exteriores, no lugar

de João Neves Fontoura, cargo que ocupará até 1948.

Sagarana, sua primeira obra, é publicada em abril de 1946, pela Editora

Universal e, devido ao grande sucesso, Guimarães Rosa passa a ocupar lugar de

destaque como escritor, tornando-se reconhecido pela crítica. Em julho deste

mesmo ano, Rosa participa da Conferência de Paz, em Paris, como Secretário da

Delegação Brasileira.

Grande estudioso da obra do escritor, Nelly Novaes Coelho (1975) definiu

com felicidade a entrada de Guimarães Rosa no cenário literário brasileiro. Segundo

ele:

No marco divisor de águas que foi o ano de 1946, Guimarães Rosa surge realmente como presença definitiva; como o primeiro entre os brasileiros que logrou captar o mundo regional de um prisma universal. E tão aparentemente virgem de ligações estéticas nascia a ficção rosiana que foi apontada como uma “ilha literária” em nossas letras. Entretanto, a verdade é que nada surge do nada, e a essência de que ela veio impregnada foi, sem dúvida, preparada por um longo processo de maturação. Foi condicionada pela mesma atmosfera que daí por diante se iria delineando nos novos caminhos da nossa literatura. Guimarães foi, pois o brado de alerta. E sua obra veio concretizar a nova dimensão que o regionalismo estava esperando: a dimensão do Espírito e do Mistério das coisas. (COELHO, 1975, p.3).

Durante os anos de 1949 e 1950, Guimarães Rosa permanece em Paris, no

cargo de 1º Secretário e Conselheiro da Embaixada Brasileira. Em 1951, retorna ao

Brasil para o cargo de chefe de Gabinete do Ministério das Relações Exteriores.

Neste mesmo ano, publica a 3ª Edição de Sagarana, pela Editora José Olympio, sua

editora até o final da vida.

36

Em 1952, participou de uma viagem de dez dias pelo sertão de Minas Gerais,

acompanhando um grupo de vaqueiros, com o objetivo de levar 300 cabeças de

gado rumo à Fazenda Algodões, em Araçaí, localizada entre Cordisburgo e Sete

Lagoas. De 19 a 28 de maio, Guimarães Rosa e o grupo de vaqueiros, percorreram

cerca de quarenta léguas (240 km) pelos Campos Gerais, passando por Andrequicé,

Morro da Graça e Cordisburgo. Durante a travessia, Guimarães Rosa fez anotações

detalhadas sobre a flora, a fauna e o povo sertanejo. Anotava os termos com que os

sertanejos nomeavam as coisas da natureza e descrevia com riqueza de detalhes as

cores e os sons e a maneira precisa com que falam e relatam suas estórias.

Dizem que eu sou aristocrata e que invento palavras. Não as invento totalmente. Para escrever Grande Sertão: Veredas, passei um mês inteiro no mato, em lombo de mula, catalogando num caderninho o linguajar do povo sertanejo. Há palavras que, na cidade, nem são conhecidas e que têm, contudo, raízes puras no latim autêntico. Aristocrata não sou. Guardei o caderninho no bolso. Ele ficou sujo de suor, de mato e de terra, até de dejeções de burro. Mas não os joguei fora.

7

Em junho deste mesmo ano, Guimarães Rosa faz uma nova incursão rumo ao

mundo dos vaqueiros, participando de uma grande vaquejada em Caldas do Cipó,

no Sertão da Bahia, em companhia de Assis Chateaubriand e do Presidente Getúlio

Vargas.

O ano de 1956 foi muito especial, pois trouxe com ele muitas expectativas de

mudanças no campo político, com a posse do Presidente JK e tornou-se também um

marco para a literatura brasileira, com a publicação, quase simultânea, de mais duas

obras de Guimarães Rosa. Em janeiro de 1956, Rosa publica Corpo de Baile, depois

desdobrado em três livros: Manuelzão e Miguilim, No Urubuquaquá, No Pinhém e

Noites do Sertão e em maio publica “Grande Sertão: veredas”, seu único romance.

Juntos, Corpo de Baile e Grande Sertão: veredas somam aproximadamente 1.400

páginas, escritas incansavelmente e publicadas em um único ano. A chegada, com

poucos meses de intervalo, de livros tão fortes e realizados com tamanha dedicação

e riqueza de detalhes, revelava o trabalho exaustivo deste escritor, desde a

publicação de Sagarana, sua primeira obra, em 1946. Guimarães Rosa escreve para

seu pai e relata o grande alvoroço que a publicação do romance Grande Sertão:

veredas provocou nas cidades do Rio de Janeiro, São Paulo e em Pernambuco.

7 ROSA, João Guimarães. “Carta de JGR a Maurício Caminha de Lacerda”, [19-- ]; Documento consultado durante pesquisa ao arquivo do Museu Casa Guimarães Rosa.

37

Vamos ver se tem sorte e obtém o mesmo sucesso dos outros, que, graças a Deus, estão retumbando e brilhando, provocando uma barulhada tremenda, aqui no Rio, em São Paulo, em Pernambuco, quase por toda a parte. Inclusive, irritando os ressentidos e invejosos – o que constitui o melhor sinal e a melhor garantia de uma obra. O novo romance é grosso, 594 páginas. É uma história de jagunços, do norte de Minas, narrada pelo ex-jagunço Rioboldo, grande sujeito e brabo. Agora, já estou precisando de meter o peito noutras tarefas, pois : A vida é breve e a arte é longa [...] (ROSA apud CADERNOS..., 2006, p. 34).

Adonias Filho, Ferreira Gullar, Ascendino Leite e José Lins do Rego foram

alguns dos escritores brasileiros que criticaram duramente a obra Grande Sertão:

veredas e utilizavam-se de expressões como: “língua codificada, diferente dos

padrões tradicionais”, “manipulação arbitrária das palavras” para descrever o estilo

literário de Guimarães Rosa.(CADERNOS..., 2006, p. 24-25).

Apesar da grande polêmica que a publicação desta obra causou entre o meio

literário, Grande Sertão: veredas recebeu três prêmios: “Machado de Assis”, do NL;

“Carmem Dolores Barbosa”, em São Paulo e “Paula Brito” da Municipalidade do Rio

de Janeiro.

Quando Grande Sertão: veredas - GSV foi lançado, inúmeros artigos foram

publicados na imprensa. Merece destaque a crônica de Manuel Bandeira, publicada

na ocasião em um jornal do Rio de Janeiro, em forma de carta aberta para João

Guimarães Rosa, e que depois de alguns anos, passou a integrar o caderno de

poemas, organizado por Bandeira, em 1974. Na carta datada de março de 1957,

quase um ano após a primeira edição de GSV, Manuel Bandeira diz:

AMIGO MEU, J. Guimarães Rosa, mano –velho, muito saudar! Me desculpe, mas só agora pude campear tempo para ler o romance de Riobaldo. [...] Aos despois de depois, andaram dizendo que você tinha inventado um língua nova e eu gosto de língua inventada. [...] Vai-se ver, não é língua nova nenhuma a do Riobaldo. Difícil é, às vezes. Quanta palavra do sertão! [...] Ainda por cima disso, você fez Riobaldo poeta, como Shakspeare fez Macbeth poeta. Natural: por que um jagunço dos gerais do Urucuia não poderá ser poeta? Pode sim. Riobaldo é você se você fosse jagunço. [...] E o sertão? O sertão é espera enorme. E o silêncio? O vento é verde. Aí, no intervalo, o senhor pega o silêncio, põe no colo. [...] Ah Rosa, mano-velho, inveja é o que você sabe: O diabo não há! Existe é o homem humano. Soscrevo (BANDEIRA, 1974, p. 511-512)

Grande Sertão: veredas, importante obra de Guimarães Rosa, despertou o

imaginário de estudiosos, artistas e intelectuais. Para Gomes (2012):

38

Grande Sertão: Veredas é, talvez, o livro brasileiro sobre o qual mais se escreveu. Críticas, resenhas, crônicas, seminários, dissertações, teses, roteiros, louvores, censuras, análises filosóficas, lingüísticas, estilísticas, psicológicas e, também, filmes, seriados de televisão, peças de teatro, histórias em quadrinhos, balés, canções de música clássica e popular, poemas, exposições, instalações, pinturas, esculturas e demais criações artísticas de todos os gêneros e ramos das artes foram produzidos tendo como tema as aventuras do Jagunço Riobaldo. Generosas, elas representam uma inesgotável fonte de inspiração e estímulo à produção artística e intelectual. Se em nosso organismo existem células-tronco que dão origem às demais células, podemos dizer que obras de arte como Grande Sertão: Veredas são verdadeiras obras-tronco, pois dão origem a outras obras de arte e enriquecem continuamente nosso patrimônio simbólico. (GOMES, 2012, p. 50).

Em entrevista concedida ao Jornal Estado de Minas, no dia 27 de maio de

2006, Mário Alex Rosa, professor de Literatura Brasileira, da Universidade Federal

de Minas Gerais, afirmou que “obras importantes como Grande Sertão: veredas

devem ser muito valorizadas”8. Ainda durante a entrevista, o professor ressalta a

importância desta obra, ao afirmar que:

o impacto de uma obra como essa na nossa cultura deveria ser mais forte. Ninguém pode perder a oportunidade de ler os textos de Guimarães Rosa, que sabe contar uma boa história com naturalidade de quem conta um caso, dando voz a personagens simples como Riobaldo e Diadorim (ROSA, 2006, p. 04).

Com o sucesso de público e crítica dos livros traduzidos e publicados no

exterior, Guimarães Rosa consolida seu prestígio como um dos grandes nomes da

literatura brasileira do século XX e candidata-se, pela primeira vez, a uma vaga na

ABL.

Em janeiro de 1958, porém, é derrotado por Afonso Arinos de Melo Franco na

eleição para a vaga na ABL, deixada por José Lins do Rego. Em maio é promovido a

ministro de 1ª Classe, cargo correspondente a Embaixador, e é o próprio Presidente

JK quem lhe dá a notícia por telefone. Neste mesmo ano, a Editora José Olympio

publica a 2ª edição de Grande Sertão: veredas e a 5ª e definitiva de Sagarana . Em

novembro, Rosa sofre um enfarte.

A partir de 1961, Rosa passa a se dedicar à confecção de estórias curtas, que

foram publicadas, em sua maioria, em colunas literárias do Jornal O Globo, Pulso e

na Revista Senhor, todos periódicos do Estado do Rio de Janeiro. Neste ano, recebe

8 Trecho extraído da matéria do Jornal Estado de Minas, Caderno Pensar, p. 4, publicada no dia 04 de março de 2006, por ocasião das comemorações dos 50 anos de publicação da obra Grande Sertão: veredas.

39

o prêmio “Machado de Assis”, da Academia Brasileira de Letras, pelo conjunto de

obra.

Um novo trabalho aparece em 1962: “Primeiras Estórias”, ano em que é

nomeado chefe do Serviço de Demarcação de Fronteiras do Itamaraty.

Rosa candidata-se novamente a uma vaga na Academia Brasileira de Letras

e, firmemente decidido a obter a vitória, inicia pessoalmente uma jornada de visita a

acadêmicos, em campanha eleitoral. No dia 6 de agosto de 1963, é eleito por

unanimidade para ocupar a cadeira de número 42, que pertencia a João Neves da

Fontoura. Guimarães Rosa, no entanto, adiou a cerimônia de sua posse na ABL por

quatro anos, com medo de morrer de emoção, em decorrência da homenagem.

Em 1964, Grande Sertão: veredas é publicado na Alemanha, com tradução de

Curt Meyer-Clason e Corpo di Ballo é lançado na Itália, com tradução, notas e

glossário de Edoardo Bizzarri.

Em janeiro de 1965, Guimarães Rosa participa do Congresso Internacional de

Escritores Latino-Americanos, em Gênova, e é eleito vice-presidente da Sociedade

de Escritores Latino-Americanos. Nessa ocasião, concede entrevista a Günter

Lorenz, publicada posteriormente no Brasil, em 1973. Grande Sertão: veredas é

publicado na França, com tradução de L.L. Villard. Em novembro deste mesmo ano,

durante a 1ª Semana do Cinema Brasileiro, realizada em Brasília, é exibido o filme A

hora e a vez de Augusto Matraga, que ganha 5 prêmios, incluído o de melhor filme.

Em meados de 1967 publica “Tutaméia – Terceiras Estórias”, uma coleção de

quarenta estórias sintéticas e quatro prefácios, sua última obra em vida. Os contos

que compõem esse livro foram publicados inicialmente em uma revista semanal

chamada O Pulso, periódico de propriedade do Laboratório Sidney Ross do Brasil,

distribuída gratuitamente em consultórios médicos e farmácias de todo o Brasil.

No dia 16 de novembro, deste mesmo ano, Guimarães Rosa finalmente toma

posse na Academia Brasileira de Letras e convida o escritor Afonso Arinos de Mello

França, para ser seu anfitrião na solenidade. Rosa faleceu três dias depois, na

cidade do Rio de Janeiro, no auge de sua carreira literária.

Em 1969 e 1970, respectivamente, são organizadas duas publicações

póstumas pela Livraria José Olympio: “Estas Estórias” e “Ave Palavras”, que

estavam em processo de preparação, quando o escritor faleceu.

Mesmo depois de mais de cinquenta anos do seu lançamento, Grande

Sertão: veredas continua desafiando a compreensão dos leitores e estudiosos da

40

obra de Guimarães Rosa, que tem hoje em torno de si uma verdadeira academia de

rosianos espalhados pelos quatro cantos do mundo.

A obra de Rosa é reconhecida internacionalmente, apesar das dificuldades

que os tradutores enfrentavam. Para João Paulo Cunha (2011), editor do Caderno

de Cultura do Jornal Estado de Minas, “Rosa não foi homem de um só idioma, mas

de uma linguagem, que juntamente com James Joyce, Marcel Proust, Willian

Faulkner, elevou a prosa novelística ao status de Poesia”. (CUNHA, 2011, p. 4).

Na opinião de Marli Fantini Scarpelli, professora de teoria da literatura

comparada da Faculdade de Letras da UFMG, em entrevista concedida ao Jornal

Estado de Minas em 2008 [...] “Guimarães Rosa criou muitos paradigmas estéticos,

que em muito o puseram à frente de seu tempo, tornando-o contemporâneo ao

século XXI”9. Ainda segundo a professora, isto se deve “à grande rede de sentidos

com que suas obras instituíram novas formas de comércio simbólico e cultural entre

o sertão e o mundo, entre o muito local e o muito universal”. (SCARPELLI, 2010, p.

3).

2.1.1 Guimarães por Guimarães

Muito já se escreveu sobre Guimarães Rosa, suas biografias e principalmente

sobre suas obras, conhecidas e traduzidas em diversos países do mundo. Nosso

intuito, neste momento, não é escrever mais um capítulo sobre a vida deste incrível

escritor, mas descrever o homem Guimarães Rosa e estabelecer uma relação entre

o escritor e o Museu Casa Guimarães Rosa, objeto de estudo dessa pesquisa. Para

isso, buscamos as informações necessárias para sustentar nossas afirmações em

depoimentos, entrevistas, artigos publicados na imprensa e cartas nos quais

Guimarães Rosa comenta sobre sua biografia e também sua literatura. Um destes

documentos é a entrevista que o escritor concedeu ao jornalista alemão Günter

Lorenz, no Congresso de Escritores Latino-Americanos, em janeiro de 1965 e

publicada em seu livro: Diálogo com América Latina, em 1973. Esta entrevista é de

suma importância para pesquisadores e estudiosos da obra roseana, pois nela o

autor fala sobre seu ofício de escritor, sua obra, expressa sua opinião sobre política,

religião, misticismo, dentre outros temas polêmicos que o acompanharam ao longo

9 Entrevista concedida ao Caderno de Cultura do Jornal Estado de Minas e publicada no dia 27 de junho de 2008, por ocasião das comemorações do Centenário de Guimarães Rosa.

41

da vida, deixando transparecer sua personalidade forte e marcante que continua

encantando as pessoas através de suas obras, nesses 46 anos transcorridos após a

sua morte.

De personalidade forte e muito sistemático, o escritor não gostava de dar

entrevistas e muito menos da abordagem da imprensa, pois segundo ele:

[...] Não gosto do sentido bisbilhoteiro da imprensa. Ela deforma tudo. Irrita-me. [...] Perco a naturalidade. Todas as vezes em que dei entrevistas, fiquei profundamente desgostoso com o que disse e com o que disseram de mim. [...] As entrevistas são trocas de palavras em que um formula ao outro perguntas cujas respostas já conhece de antemão. (ROSA apud LORENZ, 1994, p. 29-40).

Rosa considerava-se um homem do sertão que, atento a tudo e a todos,

procurava descrever em suas anotações o que se passava ao seu redor. Valorizava

suas raízes e descrevia com carinho a cidade onde passara os primeiros nove anos

de sua vida.

[...] É que sou antes de mais nada este “homem do sertão”; e isto não é apenas uma afirmação biográfica, mas também, e nisto pelo menos eu acredito tão firmemente como você, que ele, esse “homem do sertão”, está presente como ponto de partida mais do que qualquer outra coisa. Nós homens do sertão, somos fabulistas por natureza. [...] No sertão, o que pode uma pessoa fazer de seu tempo livre a não ser contar estórias? A única diferença é simplesmente que eu, em vez de contá-las, escrevia. [...] Eu trazia sempre os ouvidos atentos, escutava o que podia e comecei a transformar em lenda o ambiente que me rodeava, porque este, em sua essência, era e continua sendo uma lenda.

[...] devo-lhe dizer que nasci em Cordisburgo, uma cidadezinha não muito interessante, mas para mim sim, de muita importância. Além disso, em Minas Gerais, sou mineiro. E isto sim é o importante, pois quando escrevo, sempre me sinto transportado para esse mundo. [...] Para mim, Cordisburgo sempre foi uma Europa em miniatura. Amamos a Europa como, por exemplo, se ama uma avó. (ROSA apud LORENZ, 1994, p. 31-61)

[...] Eu carrego um sertão dentro de mim, e o mundo no qual eu vivo é também o sertão. As aventuras não têm tempo, não têm princípio nem fim. E meus livros são aventuras, para mim são a minha maior aventura. Escrevendo, descubro sempre um novo pedaço de infinito. Vivo no infinito, o momento não conta. (ROSA apud VIAGENS..., 1991, p.66-67

Guimarães Rosa não gostava de política e acreditava que o escritor é um

homem que assume uma grande responsabilidade perante a sociedade. Em

42

entrevista concedida a Günter Lorenz em 1965, Guimarães Rosa afirma que:

[...] Embora eu veja o escritor como um homem que assume uma grande responsabilidade, creio, entretanto, que não deveria ocupar de política; não desta forma de política. Sua missão é muito mais importante: é o próprio homem. Por isso a política nos toma um tempo valioso. Quando os escritores levam a sério seu compromisso, a política se torna supérflua. Além disso, eu sou escritor, se você quiser, diplomata; político nunca fui. (ROSA apud LORENZ, 1994, p. 43)

Rosa afirmava que era impossível separar sua biografia de sua obra, pois as

duas na verdade se fundiam em uma só: Guimarães Rosa.

Fui médico, rebelde, soldado. Foram etapas importantes de minha vida e, a rigor,

esta sucessão constitui um paradoxo. Como médico, conheci o valor místico do sofrimento; como rebelde, o valor da consciência; como soldado, o valor da proximidade da morte... [...] É uma escala de valores [...] Estas três experiências formaram até agora, meu mundo interior e, para que isto não pareça demasiadamente simples, queria acrescentar que também configuram meu mundo a diplomacia, o trato com cavalos, vagas, religiões e idiomas. (ROSA apud LORENZ, 1994, p. 55)

Minha biografia, sobretudo minha biografia literária, não deveria ser crucificada em anos. As aventuras não tem tempo, não têm princípio nem fim. E meus livros são aventuras; para mim, são minha maior aventura. Escrevendo, descubro sempre um novo pedaço de infinito. Vivo no infinito; o momento não conta. Vou lhe revelar um segredo: creio já ter vivido uma vez. Nesta vida, também fui brasileiro e me chamava João Guimarães Rosa. Quando escrevo, repito o que vivi antes. E para estas duas vidas, um léxico apenas não me é suficiente. Em outras palavras: gostaria de ser um crocodilo vivendo no Rio São Francisco. [...] Gostaria de ser um crocodilo, porque amo os grandes rios, pois são profundos como a alma do homem. Na superfície são muito vivazes e claros, mas nas profundezas são tranqüilos e escuros como os sofrimentos dos homens. Amo ainda mais uma coisa de nossos grandes rios: sua eternidade. Sim,o rio é uma palavra mágica para conjugar eternidade. (ROSA apud LORENZ, 1994, p. 31-61

Muito disciplinado, Guimarães Rosa anotava tudo em sua caderneta,

instrumento de trabalho inseparável e de suma importância para seu ofício de

escritor. Perfeccionista e consciencioso, trabalhava e retrabalhava suas obras

exaustivamente. Ele não inventava contos, segundo ele, os contos iam até ele.

Quando escrevia, se entregava de corpo e alma ao que estava fazendo, como se

estivesse em transe.

Não preciso inventar contos, eles vêm a mim, me obrigam a escrevê-los. Quando escrevo não penso no estilo, na obra, no compromisso. Esqueço tudo e só penso no assunto. Porque quando “eu digo a lua está assim” é

43

porque ela está “assim”. Já passei muitas noites acordado – noites inteiras – para ver como é a lua, como é a escuridão. Sem vê-la demoradamente é impossível descrevê-la. É preciso vê-la passar, ver as suas mudanças de cores, sentir seu ar (é um ar todo especial), seu jeito. Eu procuro captar o fato, o momento – como no cinema! -, para colocar o leitor no centro da trama. O leitor precisa conviver com os personagens. Mas, para captar este momento é preciso que o autor esteja no momento. Por isso eu tenho meus caderninhos que me acompanham em todas as minhas viagens. Eu amarro um lápis com duas pontas e, no sertão, até em cima do cavalo eu escrevo. É o momento. Um passarinho faz um movimento – eu capto o movimento na hora e o escrevo como o vejo. Mas só naquele momento eu poderia registrá-lo. Jamais poderia guardá-lo na cabeça para dali a algumas horas ir me inspirar nele para compor. Não. Não teria valor. (ROSA apud GUIMARÃES..., 1967). Quando se está escrevendo, tudo é um imã. As palavras se atraem, os assuntos também. E vai-se escrevendo, sem parar (importante não parar). Se eu paro, para olhar meu estilo, como vai indo, eu começo a me copiar [...]. O segredo é pensar na coisa (impossível definir essa coisa), você entende? Como no cinema. A coisa está ali, na tela, vai-se desenvolvendo. Nos meus romances muitas vezes eu fecho os olhos e deixo a ação desenrolar. Por exemplo, em Sagarana. Eu gosto de lê-lo com os olhos fechados (engraçado isso, né?). Vendo. Sentindo o cheiro. Quando acabo um livro, já estou com outro na cabeça. Esta nova idéia tem preferência sobre as demais, eu penso sempre que o novo escrito vai ser melhor que todos os demais. É a busca do diferente, todos nós devemos cultivá-la. Quando o artista começa a copiar a si mesmo, está fracassando, em plena decadência. (ROSA apud GUIMARÃES..., 1967).

Durante a conversa com o jornalista alemão, Guimarães Rosa admitiu que

sua maior obra, Grande Sertão: veredas havia lhe rendido muito dinheiro e que ele,

ao contrário de outros escritores, não se envergonhava disto.

[...] Quanto a mim, ao contrário da maioria dos meus colegas, não me envergonho em admitir que Grande Sertão me rendeu um montão de dinheiro. Não me interessa o dinheiro: venho de um mundo onde ele não adianta muito; lá se necessita de pão, armas, cavalos e ainda se pratica o comércio de troca. Naturalmente, não fico infeliz quando tenho dinheiro suficiente para viver como quero. Mas não nego esse fato. A esse respeito, quero dizer uma coisa: enquanto eu escrevia Grande Sertão, minha mulher sofreu muito porque nessa época eu estava casado com o livro. Por isso dediquei-o a ela, para lhe agradecer a sua compreensão e paciência.Você deve saber que eu tenho uma mulher maravilhosa. Como sou um fanático da sinceridade lingüística, isto significou para mim que lhe dei o livro de presente e, portanto, todo dinheiro ganho com esse romance pertence a ela, somente a ela, e pode fazer o que quiser com ele. Não necessito dele, tenho meus vencimentos; uma verdadeira mulher sempre sabe encontrar utilidade para o dinheiro, tanto no sertão quanto no Rio. Pode-se achar precipitada esta atitude, principalmente, quando depois o livro obtém grande êxito. Mas uma dedicatória é uma promessa, e devemos cumprir nossas promessas. (ROSA apud LORENZ, 1994, p. 31-61)

44

Homem de fé, Guimarães Rosa aceitava todas as religiões, rezava por todos

os credos e se guiava por muitas filosofias. Rosa também era um homem místico e

acreditava no poder mágico dos números, na força e magia do número 7. Em suas

raras entrevistas, disse que os livros Sagarana, Corpo de Baile e Grande Sertão:

veredas haviam sido escritos em sete meses.

[...] sou profundamente, essencialmente religioso, ainda que fora do rótulo estrito e das fileiras de qualquer confissão ou seita; antes talvez, como o Riobaldo de G.S.V, pertença eu a todas. E especulativo, demais. Daí todas as minhas constantes preocupações religiosas, metafísicas, embeberem os meus livros. Talvez meio existencialistas-cristãos (alguns me classificam assim), meio neo-platônico (outros me carimbam disto) e sempre impregnado de hinduísmo (conforme terceiros). Os livros são como eu sou. (ROSA apud BIZZARRI, 1981, p. 38).

Guimarães Rosa não aceitava a idéia de ter uma morte prematura, pois tinha

certeza de que viveria por muitos anos, até ficar velhinho, pois somente assim teria

tempo para escrever muitas estórias e contar tudo o que se passava em sua cabeça.

[...] Sem dúvida, comecei a escrever no tempo certo, mas demasiado tarde. Apesar de verdade, isto também é um paradoxo. Não posso permitir uma morte prematura, pois ainda trago dentro de mim muitas, muitíssimas estórias. Mas nasci em Cordisburgo, e lá às vezes as pessoas chegam a ficar muito velhas. O mineiro é obsecado por seu país e seu sol, fica resistente como carne-seca. Conheci pessoas de oitenta e até noventa anos. Portanto, simplesmente tenho de ficar velho, pois esse tempo talvez me baste para eu contar tudo o que ia contar. (ROSA apud BIZZARRI, 1981, p. 35)

Três dias depois de sua posse na ABL, Guimarães Rosa, como havia previsto

em vários momentos de sua vida, morre de infarto em sua residência. Morre o

homem, mas a partir deste momento nasce o mito Guimarães Rosa, cuja imagem se

fortalece por meio de sua obra e de seus personagens.

2.1.2 “As pessoas não morrem, ficam encantadas”: o mito Guimarães Rosa

Ao longo da história da humanidade, de uma forma geral, as sociedades têm

necessidade de criar mitos, com a finalidade de explicar contradições, paradoxos,

dúvidas, inquietações e até mesmo para justificar conceitos morais vigentes em

determinada época.

45

São muitos os conceitos e teorias acerca do mito, como a teoria naturalista,

que parte da idéia de que o Sol e a Lua deram origem aos mitos da humanidade

ainda em sua fase “primitiva”. Outra vertente teórica do mito é o historicismo que,

segundo Everardo Rocha (1999), “procurou ver no mito um registro de episódios

verdadeiros do passado [...] O mito visto, literalmente, como registro da história”. O

animismo, por sua vez, parte da idéia de que “todos os elementos da natureza

poderiam ser personificados”. (ROCHA, 1999, p.32)

De acordo com Mircea Eliade (1994) é difícil encontrar uma definição que seja

aceita por todos os estudiosos e ao mesmo tempo acessível aos não especialistas.

Mas, apesar disto, o autor explica que mito é uma realidade cultural extremamente

complexa, que pode ser abordada e interpretada por meio de perspectivas múltiplas

e complementares.

Mircea Eliade (1994) afirma que:

[...] o mito conta uma história sagrada; ele relata um acontecimento ocorrido no tempo primordial, o tempo fabuloso do “princípio”. Em outros termos, o mito narra como, graças às façanhas dos Entes Sobrenaturais, uma realidade passou a existir, seja uma realidade total, o Cosmo, ou apenas um fragmento: uma linha, uma espécie vegetal, um comportamento humano, uma instituição. É sempre, portanto, a narrativa de uma “criação”: ele relata de que modo algo foi produzido e começou a ser. (ELIADE, 1994, p. 11)

O autor ainda explica que o mito retrata apenas aquilo que já aconteceu. Não

é uma ficção, mas um relato real sobre um fato ocorrido. Para o autor, o mito fala

apenas do que realmente ocorreu, do que se manifestou plenamente. O mito é

considerada uma história sagrada e, portanto, uma “história verdadeira”, porque

sempre se refere às realidades. Ele diz que, “[...] O mito cosmogônico é ‘verdadeiro’

porque a existência do Mundo aí está para prová-lo; o mito da origem da morte é

igualmente ‘verdadeiro’ porque é provado pela mortalidade do homem, e assim por

diante” (ELIADE, 1994 p. 12).

Cada sociedade estabelece com o termo mito algumas associações que são

comuns entre elas. A primeira, talvez a mais comum, é a de imaginar algo que

nunca aconteceu (alguma coisa inventada ou imaginada); a segunda, é fazer alguma

alusão à mitologia clássica, grega ou romana. Para Pérsio dos Santos Oliveira

(2001) o mito parece nas primeiras civilizações como “tentativas de compreender o

fenômeno das forças locais que se baseavam na imaginação, na fantasia, na

especulação” (OLIVEIRA, 2001, p.11).

46

Para os gregos, no entanto, uma das principais funções do mito é a de revelar

modelos exemplares de todos os rituais e atividades significativas como o

casamento, o trabalho, a educação, a arte, a sabedoria e tantos outros ritos nos

quais nos inserimos cotidianamente. Presenciamos em nossa sociedade diversos

rituais mitológicos. A cerimônia de casamento é um deles. A cerimônia de posse de

um presidente ou de um juiz é outro. Joseph Campbell (1990) considera a mitologia

como “a canção do universo”, “a música das esferas” (CAMPBELL, 1990, p. 11).

Segundo o autor:

Mitos são histórias de nossa busca da verdade, de sentido, de significação, através do tempo. Todos nós precisamos contar nossa história, compreender nossa história. Todos nós precisamos compreender a morte e enfrentar a morte, e todos nós precisamos de ajuda em nossa passagem do nascimento à vida e depois à morte. Precisamos que a vida tenha significação, precisamos tocar o eterno, compreender o misterioso, descobrir o que somos. (CAMPBELL, 1990, p. 5)

A mitologia tem muito a ver com os estágios da nossa vida. As cerimônias de

iniciação são um bom exemplo deste estágio de mudança, quando o indivíduo passa

da fase da infância para a fase adulta; ou, quando sai da condição de solteiro para a

de casado. Segundo Joseph Campbell (1990) todas estas fases são rituais, são ritos

mitológicos, pois todas elas têm uma ligação com o novo papel que o indivíduo

passa a desempenhar ao longo de sua vida. Durante esses processos, o indivíduo

“retira o que é velho, para voltar com o novo, assumindo uma função responsável”

(CAMPBELL, 1990, p.12). Campbell (2005) Diz ainda que “a primeira função de uma

mitologia viva é conciliar a consciência com as precondições da sua própria

existência - quer dizer, com a natureza da vida” (CAMPBELL, 2005, p.31)

Diante desse fato, enumera quatro funções básicas da mitologia, a saber:

Esta é a primeira função da mitologia: incutir em nós um sentido de deslumbramento grato e afirmativo diante do estupendo mistério que é a existência; a segunda função da mitologia é apresentar uma imagem do cosmos, uma imagem do universo que nos cerca, que conserve no indivíduo um sentido místico e explique tudo com que ele tenha contato no universo à sua volta; a terceira função é validar e preservar dado sistema sociológico: um conjunto comum daquilo que se considera certo e errado, propriedades e impropriedades, no qual esteja apoiada nossa unidade social particular; [...] por fim, a quarta função da mitologia é psicológica: o mito deve fazer o indivíduo atravessar as etapas da vida, do nascimento à maturidade, depois à senilidade e à morte. A mitologia deve fazê-lo em comum acordo com a ordem social do grupo desse indivíduo, em comum acordo com o mistério estupendo. (CAMPBELL, 2005, p.34-36)

47

Por sua vez, Mircea Eliade (1994) afirma que para o homem das sociedades

arcaicas conhecer o mito, significa poder reconstruir uma realidade como a criação

do mundo ou as colheitas fartas, o que não acontece com o homem moderno, já que

fatos históricos como a queda da Bastilha, na Revolução Francesa, ou a queda do

Muro de Berlim, um dos marcos da queda do socialismo, não podem ser

reconstruídos ou atualizados (ELIADE, 1994, p.45).

O conceito de mito proposto por Aranha Maria Lucia de Arruda e Maria

Helena Pires Martins (2002) se aproxima do entendimento de Mircea Eliade (1994).

De acordo com as autoras, em uma leitura mais rápida poderíamos entender o mito

como uma maneira fantasiosa de explicar a realidade não justificada pela razão.

Nesse caso, “[...] os mitos seriam lendas, fabulas crendices e, portanto, uma forma

menor de conhecimento, prestes a ser superado por explicações mais racionais”.

(ARANHA; MARTINS, 2002, p.72)

No entanto, as autoras esclarecem que o mito é mais complexo e mais rico do

que supõe essa visão reducionista. A consciência mítica persiste em todos os

tempos e culturas como componente indissociável da maneira humana de

compreender a realidade. Por isso são reais. Também explicam que o mito vivo é

muito mais expressivo e rico do que supomos quando apenas ouvimos relatos de

lendas, desligadas do ambiente que as fez surgir.

Segundo Aranha Maria Lucia de Arruda e Maria Helena Pires Martins (2002):

Como processo de compreensão da realidade, o mito não é lenda, mas verdade. Quando pensamos em verdade, é comum nos referirmos à coerência lógica, Garantida pelo rigor da argumentação e pela apresentação de provas. A verdade do mito, porém, é intuída, e, como tal, não necessita de comprovações, porque o critério de adesão do mito é a crença, a fé. O mito é, portanto, uma intuição compreensiva da realidade, cujas raízes se fundam nas emoções e na afetividade. Nesse sentido, antes de interpretar o mundo, o mito expressa o que desejamos ou tememos, como somos atraídos pelas coisas ou como delas nos afastamos (ARANHA; MARTINS, 2002, p. 72)

Para as autoras, o mito é o ponto de partida para a compreensão do ser.

Nesse caso, podemos dizer que tudo o que pensamos e queremos se situa

inicialmente no horizonte da imaginação, nos pressupostos míticos, cujo sentido

existencial serve de base para todo o trabalho posterior da razão.

A função fabuladora persiste não só nos contos populares, no folclore, como também na vida diária, quando proferimos certas palavras ricas de ressonâncias míticas: casa, lar, amor, pai, mãe, paz, liberdade, morte, cuja

48

definição objetiva não esgota os significados que ultrapassam os limites da própria subjetividade. Essas palavras nos remetem a valores arquetípicos, modelos universais existentes na natureza inconsciente e primitiva de todos nós. Não por acaso, os psicanalistas aproveitam a riqueza do mito e descobrem nele raízes do desejo humano. (ARANHA; MARTINS, 2002, p. 75)

O termo mito para Christina Maria Pedrazza Sêga (2008) transcendeu o

universo mitológico propriamente dito, sendo utilizado com o sentido de “ideal a ser

alcançado” pelos indivíduos da sociedade contemporânea. É comum ouvirmos em

nosso cotidiano as expressões “o mito da juventude”, da “beleza eterna”. Hoje é

quase impossível dissociarmos a cultura de um povo ao conceito de mito. Porém, o

mito vai além da sua própria cultura. Ele assume uma dimensão universal,

planetária. O mito ultrapassa a característica do efêmero, ou seja, ele deixa de ser

passageiro, alcançando várias gerações e permanecendo dessa forma num

consenso geral (SÊGA, 2008, p. 48).

Joseph Campbell (1990) por sua vez, ensina que os mitos antigos tinham

como função harmonizar o corpo com a mente e também harmonizar a vida humana

com a natureza. Em relação ao mito, hoje, acredita que não existem mitos com essa

tendência unificadora. Desse modo, segundo ele,

Hoje, temos que reaprender o antigo acordo com a sabedoria da natureza e retomar a consciência de nossa fraternidade com os animais, a água e o mar.[...] Mitos e sonhos vêm do mesmo lugar. Vêm de tomadas de consciência de uma espécie tal que precisam encontrar expressão numa forma simbólica. E o único mito de que valerá a pena cogitar, no futuro imediato, é o que fala do planeta, não da cidade, não deste ou daquele povo, mas do planeta e de todas as pessoas que estão nele. (CAMPBELL, 1990, p 33)

Para Roland Barthes (1993), no entanto, “[...] a função do mito é evacuar o

real: literalmente, o mito é um escoamento incessante, uma hemorragia, ou, se

prefere, uma evaporação; em suma, uma ausência sensível”. Dessa forma podemos

afirmar que o mito está presente em nós e em nossos pensamentos por trazer para

o nosso mundo aquilo que muitas vezes não podemos ter (BARTHES, 1993, p.132).

Joseph Campbell (1990), defende a idéia de que mitos são histórias de nossa

busca da verdade, de sentindo, de significação, através dos tempos. O autor ainda

explica que nós, seres humanos, precisamos contar e compreender a nossa própria

história. Que todos nós também precisamos compreender a morte e enfrentá-la, e

que precisamos de ajuda em nossa passagem do nascimento à vida e depois à

49

morte. Precisamos que a vida tenha significação, precisamos tocar o eterno,

compreender o misterioso, descobrir o que somos e o mito adianta essa explicação

do que podemos ser se seguirmos alguns passos.

Vale ressaltar que um mesmo mito pode ser interpretado de maneiras

diferentes. O próprio mito de Édipo, talvez o mais famoso de todos os tempos, tem

compreensões distintas. Neste sentido, o mito de Guimarães Rosa pode

perfeitamente estar sendo interpretado e reinterpretado hoje de maneira

completamente diferente do que fora nas últimas décadas. Esta é uma marca dos

mitos, de acordo com Rocha. “Eles continuam sendo mitos, independente de suas

versões” (ROCHA, 1999, p.52).

2.12.3 O nascimento do mito Guimarães Rosa

Eleito por unanimidade para ocupar a cadeira de nº 42 da ABL, no lugar de

João Neves da Fontoura, Guimarães Rosa só tomou posse quatro anos mais tarde,

no dia 16 de novembro de 1967.

Os quatro anos de adiamento eram reflexos do medo que sentia da emoção

que o momento lhe causaria. Em sua última mensagem, durante o discurso de

posse na Academia Brasileira de Letras, Rosa parecia pressentir que algo de mal

lhe aconteceria, ao falar de seu predecessor na vaga que então assumia.

“Se tomar posse, eu morro [...]. Que pena não ser como um jogo de futebol.

Quando acaba, os jogadores estão a salvo, entram no buraco e somem”. (ROSA

apud VIAGENS..., 1991).

Consagrado nacionalmente e internacionalmente como grande escritor e

importante diplomata do Itamaraty, Guimarães Rosa se torna imortal ao tomar posse

na Academia Brasileira de Letras. Exatamente, três dias após a posse, no dia 19 de

novembro de 1967, Guimarães Rosa morre subitamente em seu apartamento em

Copacabana, no Rio de Janeiro.

Em 1967, João Guimarães Rosa seria indicado ao prêmio Nobel de Literatura,

no entanto, a iniciativa dos seus editores alemães, franceses e italianos foi barrada

devido a morte do escritor. A essa altura, seus livros já corriam mundo e haviam sido

traduzidos, além do alemão, francês e italiano, para o inglês, o espanhol e o sueco.

Guimarães Rosa é acometido por um ataque fulminante no coração, talvez

pela presença de tanto amor, de tantas estórias, que não mais cabiam em seu peito.

50

Mas, como previu com relação a seus heróis, videntes, adivinhos e tantos outros

personagens de suas histórias, guiados pela paixão ou pelo devaneio, ele também

se perpetuou na morte, por meio de sua obra e dos personagens do sertão, ele

mesmo um provável protagonista de suas estórias, por elas igualmente imortalizado.

Guimarães Rosa partiu, certamente, seguro de que, segundo suas próprias

palavras, “a gente morre é para provar que viveu” e, seguramente, “as pessoas não

morrem, ficam encantadas".

Guimarães Rosa ficou para sempre encantado - tornou-se um mito, talvez o

maior e mais duradouro dos mitos da cultura brasileira.

Logo após a sua morte, ocorreu uma grande movimentação por parte de

alguns políticos e pessoas ligadas à literatura, que se mobilizaram para alterar o

nome da pequena Cordisburgo, cidade natal do escritor, para Guimarães Rosa.

Carlos Drummond de Andrade, tendo como fonte de inspiração um trecho da obra

Grande Sertão: veredas, “[...] Nome de lugar onde alguém, já nasceu, devia de ser

sagrado”10, imediatamente veio em defesa da cidade e escreveu um poema que

recebeu o nome de Rosa de Cordisburgo, que dizia :

Não, Cordisburgo não deve passar a chamar-se Guimarães Rosa em homenagem a Guimarães Rosa. Seria desomenagem. Lá dos gerais-do-além, onde o suponho encantado, o Rosa protestaria. Ele nasceu em Cordisburgo, não em Guimarães Rosa. Começou o seu discurso; e terminou-o apresentando-se como tal a seu antigo chefe no Itamarati, para lá das estrelas: “Ministro, aqui está Cordisburgo”. (última palavra pública que pronunciou). Caso de nome de lugar invadindo e ocupando a pessoa nascida nesse lugar, os dois formando uma entidade feita invadindo e ocupando a pessoa nascida nesse lugar, os dois formando uma entidade feita de terra, sangue e imponderáveis, dentro da visão mágica do universo, que era a visão normal, cotidiana, de Guimarães Rosa. Eliminar essa fusão? “Meu Deus do céu, que palpite infeliz!” No universo mágico do Rosa, os nomes fazem as coisas, são as coisas. E mesmo fora dele, na geografia, nas escrituras, nos tratados, na vida de cada um, eles têm essa propriedade e natureza. Só o que é nomeado existe, e o existir não pode subordinar-se à inconstância das apelações, que gera a inexistência. Rosa é Rosa, altíssimo, sozinho em sua altura onde cintila, transluminando-o a estrela Cordisburgo. Intocável, depois de Rosa, por causa de Rosa, por amor de Rosa.

11 (ANDRADE, 1974, p. 67).

Cordisburgo tem 9 mil habitantes e fica a 120 quilômetros da capital mineira,

Belo Horizonte. A primeira povoação foi feita pelo padre João de Santo Antônio que,

10

ROSA, João Guimarães. Grande sertão: veredas. Rio de Janeiro: José Olympio Editora, 1956.p. 35.

11 Poema que faz parte dos documentos que estão sob guarda da Superintendência de Museus e Artes Visuais.

51

fascinado com a beleza do lugar iniciou em 1982, a construção da Igreja do Sagrado

Coração. Em 1890, o povoado passou a chamar-se Arraial de Conceição de Jesus

da Vista Alegre. O município de Cordisburgo foi criado em 1938, com distritos

desmembrados de Paraopeba e de Sete Lagoas.

Cordisburgo ou “cidade do coração”, como é carinhosamente chamada pela

comunidade, é uma típica cidade mineira, que parece ter parado no tempo. Ao

andarmos pela pequena cidade nos deparamos, a todo o momento, com citações de

trechos das obras de Guimarães Rosa. Elas estão nas paredes de lojas, de bares,

nos muros das escolas, no muro do cemitério e reforçam a importância do mito

Guimarães Rosa para a localidade.

Na parede frontal do Centro de Artesanato, na entrada da cidade, está a

primeira citação do escritor: “Comecei a escrever motivado pela saudade do interior

de Minas; lembranças de Cordisburgo que me fizeram escrever Sagarana”. A

inscrição é só o início dos sinais do forte vínculo da cidade com o autor de Grande

sertão: veredas. A cidade natal de Guimarães Rosa procura preservar a memória de

seu filho ilustre.

No centro, na parede da ‘Loja do Brasinha’, de propriedade de José Osvaldo

dos Santos, criador do ‘Grupo Caminho do Sertão’, os trechos escolhidos foram os

que se referem à cidade natal do escritor: “Cordisburgo é o lugar mais famoso

devido ao ar e ao céu, e pelo arranjo que Deus caprichou em seus morros e suas

vargens; por isso mesmo lá, de primeiro, se chamou Vista Alegre”. E mais: “[...]

quando escrevo, sempre me sinto transportado para este mundo, Cordisburgo”. Nos

muros do cemitério, outra frase famosa: “As pessoas não morrem, ficam

encantadas”.

“A população sabe reverenciar João Guimarães Rosa”, afirma Brasinha, que

sempre procura motivos para mostrar o vínculo do escritor com a cidade natal. “No

discurso de posse na Academia Brasileira de Letras, Guimarães Rosa fala 11 vezes

a palavra Cordisburgo”, observa o comerciante, um dos maiores entusiastas dessa

relação do filho ilustre com a terra. “A gente tem que ficar vaidoso, porque ele bota o

nome da cidade no mundo inteiro”, afirma.

João Paulo Cunha (2008), afirma que:

Se a criação de Guimarães Rosa está impregnada pelo sertão e por Cordisburgo, a cidade também vive claramente impregnada pela obra de seu filho. Parece que tudo por lá tem a marca dele. A lista é grande: Bairro

52

Buritis, onde os nomes das ruas são referência a personagens, Bairro Sagarana, Posto Guimarães Rosa, Fazenda Sagarana, Sítio Tutaméia, Biblioteca Riobaldo e Diadorim, Travessa Guimarães Rosa, Academia Cordisburguense de Letras Guimarães Rosa, Loja Sagarana, Restaurante e Pizzaria Um Conto e Cem, Bar Sertão e Veredas e até a Cachaça Rosa do Sertão. (CUNHA, 2008, p. 3).

Em entrevista concedida ao Jornal Estado de Minas, em maio de 2006, a gari

Maria Lúcia de Souza Gomes, de 54 anos, diz que: “esse homem aqui para nós é só

a fama”. Sim, realmente a fama ficou. De propósito ou não, esta afirmação está lá no

livro Grande sertão: veredas, na fala de Riobaldo: “seja a fama de glória [...] Todo o

mundo vai falar nisso, por muitos anos, louvando a honra da gente, por muitas

partes e lugares. Hão de botar verso em feira, assunto de sair divulgado em jornal

da cidade” (ROSA, 1956, p. 275)).

Ronaldo Alves, Coordenador do Museu Casa Guimarães Rosa, lembra que o

escritor “deu a identidade a Minas Gerais e levou Cordisburgo para o mundo”12.

Ronaldo lembra também que o nome da cidade é a primeira e última palavra do

discurso de posse de Guimarães Rosa na Academia Brasileira de Letras, o que

reforça ainda mais o vinculo do escritor com sua terra natal.

O turismo em Cordisburgo e região são impulsionados pelos estudiosos de

literatura, bem como por aqueles que querem conhecer as obras do famoso escritor.

Munidos de espírito aventureiro, eles encontram estradas de chão, caminham pelo

cerrado, hospedam-se em pensões simples e, por alguns dias, vivem a vida simples

da roça, descobrindo lugares presentes na ficção de Guimarães Rosa.

2.1.4 O mito e a mídia

O século XX foi marcado pela constituição de vários mitos que marcaram e

ainda marcam o imaginário das pessoas: Elvis Presly, “o rei o rock”; Marilyn Monroe,

“mito da sensualidade”, Layd Day, “a princesa dos pobres”; Pelé, “o rei do futebol”.

O desenvolvimento tecnológico dos meios de comunicação ocorrido ao longo

dos anos causou profundas alterações nas experiências dos indivíduos, nos modos

de lidar com as temporalidades, na percepção que temos do mundo, possibilitando

assim, novos tipos de interações entre os sujeitos.

As expressões mito e herói, rei e rainha são frequentemente utilizadas pelos

12

Entrevista do Coordenador do Museu concedida a esta pesquisadora durante o trabalho de pesquisa de campo.

53

meios de comunicação de massa, como o rádio, o cinema, a televisão, os jornais e

as revistas, que apropriam-se dessas e de outras formas de representação para

referirem-se àqueles, não apenas para indicar fenômenos ocorridos em sociedades

tradicionais, mas para ocuparem um lugar de destaque no imaginário

contemporâneo.

São personalidades que os meios de comunicação se incumbem de

transformar em imagens exemplares, modelando-as, e que podem representar todos

os tipos de anseios tais como sucesso, beleza, poder, liderança, sexualidade, dentre

outros.

Neste sentido, os mitos geralmente carregam mensagens que se traduzem

nos costumes e nas tradições de um povo tornando, muitas vezes, a maneira

possível de explicar um modo de vida. Para Cláudia Nandi Formentin (2006), ao

contrário da ciência que explica o mundo através da razão, um mito se explica pela

fé (crença sem necessidade de prova). Vê coisas que todos veem sobre outra

perspectiva. Antes de explicar o mundo racionalmente, o ser humano sente o meio

em que vive. Para ao autor, “o mito fez com que o ser humano procurasse entender

o mundo através do sentimento e buscasse a ordem das coisas”. (FORMENTIN,

2006, p.13).

Para Muniz Sodré (2007), a presença da mídia na sociedade modifica o

próprio perfil e a natureza da vida social, em um cenário marcado pela midiatização.

Esta se refere, de acordo com o autor, não à publicização de acontecimentos pelos

meios, mas ao “funcionamento articulado das tradicionais instituições sociais com a

mídia” (SODRÉ, 2007, p.17).

A mídia desempenha um papel importante não apenas no processo de

visibilização da imagem das estrelas, mas na própria constituição de um sujeito

como celebridade. Assim sendo, os significados que a mídia produz sobre a

celebridade são trabalhados a partir das vivências e das experiências (públicas e

privadas) desse sujeito. (MORIN, 1989, p.25-30).

Para Paula Guimarães Simões (2009), no entanto, são as ações e reações

deste mundo que suscitam o interesse dos diferentes veículos por sua narrativa

biográfica. Ainda segundo a pesquisadora, ao se apropriar dessas ações e reações

de um indivíduo, a mídia realiza uma nova ação, construindo um discurso que pode

afetar outros sujeitos e impulsionar diferentes experiências. A celebrização dos

indivíduos, ao mesmo tempo em que aciona vivências dos próprios sujeitos,

54

participa da configuração de novas experiências na sociedade, evidenciando a

reflexibilidade que caracteriza esse processo (SIMÕES, 2009, p. 67-79).

As celebridades são construídas discursivamente. Sendo assim, a análise dos

processos de constituição das mesmas deve atentar para os múltiplos significados

que configuram nessas várias interações (os indivíduos, a mídia e o contexto social)

que ajudam a edificar a cena de visibilidade contemporânea (MARSHALL, 1997, p.

45-47).

Guimarães Rosa e sua obra são objetos de estudos em centenas de

dissertações e teses nas mais diversas áreas do conhecimento, no Brasil e nos

paises onde seus livros foram traduzidos. Sua obra foi adaptada também para

filmes, minissérie, peças de teatro e músicas. Foi fonte de inspiração para artistas

plásticos e bailarinos. Por meio da mídia e das mais diferentes formas de cultura, a

obra de Rosa ultrapassa fronteiras e chega aos lares das pessoas de uma ponta a

outra do pais. A primeira adaptação de um texto de Guimarães Rosa para as telas

de cinema aconteceu em 1965, com o filme A hora a vez de Augusto Matraga,

dirigido por Roberto Santos.

O curta-metragem A João Guimarães Rosa lançado em 1968, também é

dirigido por Roberto Santos e Marcello G. Tassara. Com duração de

aproximadamente nove minutos, o filme exibe fotografias realizadas por Maureem

Bisilliat de sertanejos e do sertão mineiro, com narração em off de Humberto Marçal

a partir de trechos de Guimarães Rosa (BIAGGI, 2007, p. 19).

Em 1970, Paulo Thiago lança A criação literária em João Guimarães Rosa e o

longa-metragem colorido Sagarana - o duelo, tendo no elenco, Rodolfo Arena, Joel

Barcellos, Zózimo Bulbul, Jofre Soares e Milton Moraes, dentre outros. Esse filme,

conta com canções de Tom Jobim e Dorival Caymmi. Em 1975, a Bem-te-Vi Filmes

lança o documentário Veredas de Minas, curta-metragem dirigido por Fernando

Sabino e David Neves. Neste vídeo narrado por Hugo Carvana, Manuelzão e o

vaqueiro João Henriques, contam como ficaram conhecendo Guimarães Rosa e

sobre a sua curiosidade em conhecer o sertão e a natureza local, e a maneira como

o autor escrevia e anotava tudo o que via (BIAGGI, 2007, p. 21-22).

Em 1980, Helvécio Ratton dirigiu a biografia de Guimarães Rosa intitulada

Curta João Rosa. Com aproximadamente treze minutos, o vídeo abarca a cidade de

Cordisburgo, e o mundo literário de Guimarães Rosa. Conta ainda com depoimentos

de Rui Mourão e Vicente Guimarães, irmão de Rosa. Em 1984, Carlos Alberto

55

Prates Correia dirige o longa-metragem Noites do Sertão, adaptado a partir do conto

Buriti. No elenco, atores como Débora Bloch, Tony Ramos, Maria Alves, além da

participação especial do cantor e compositor Milton Nascimento. (BIAGGI, 2007, p.

27-29).

Seu único romance Grande Sertão: vereda foi transformado em minissérie, e

transmitido pela Rede Globo em 1985, um marco da teledramaturgia brasileira. A

história de Riobaldo contada em 25 capítulos, de 18 de novembro a 20 de dezembro

de 1985, é fruto da adaptação de Walter George Durst, responsável também pelo

roteiro, com colaboração de José Antônio de Souza. Para Avancini e Durst, não

bastava o desejo de vencer o desafio e transformar em minissérie talvez o mais

famoso estudo de um romance brasileiro. Era preciso ter um objetivo social, um

objetivo formativo e educativo: levar aos brasileiros letrados e iletrados o mundo de

Guimarães Rosa como forma de atingir o coletivo brasileiro (MUNGIOLI, 2009, p. 37-

48).

Dirigido por Marily da Cunha Bezerra, o curta-metragem Rio de Janeiro,

Minas, lançado em 1993, foi filmado na cidade de Três Marias, interior de Minas

Gerais. Produzido a partir de um trecho de Grande Sertão: veredas, o filme conta em

seu elenco com as participação dos atores Nanna de Castro, Cristina Ferrantini,

Paulo de Souza e com a participação de Manuelzão e sua esposa, Dona Didi; com

voz em off de José Mayer.

Em 1994, Nelson Pereira dos Santos lança o filme A terceira margem do rio,

produzido a partir dos contos A menina de lá, Os irmãos Dagobé, Sequência e

Fatalidade. O filme conta em seu elenco com Ilya São Paulo, Sonjia, Jofre Soares e

Maria Ribeiro (MUNGIOLI, 2009, p. 48 - 51).

Os nomes do Rosa, série em vídeo, produzida especialmente para a

televisão, lançado em 1998 com direção de Pedro Bial; produção de Pedro Bial e

Vânia Catani e roteiro de Pedro Bial, Claufe Rodrigues, Ana Luiza Martins Costa e

Raul Soares. O Longa-metragem Outras estórias, escrito, dirigido e produzido por

Pedro Bial, com roteiro dele e de Alcione Araújo, foi lançado em 1999. O filme é uma

adaptação dos contos: Famigerado; Nada e a nossa condição; Os irmãos Dagobé;

Substância; Sorôco, sua mãe e sua filha. No elenco atores consagrados como Paulo

Jose, Giula Gam, Antônio Calloni e Marieta Severo.

Apesar dos vários filmes e mini series que tornaram possíveis o acesso da

obra de Guimarães Rosa para um público diversificado e heterogêneo em todo do

56

país, não encontramos reportagens específicas sobre a biografia do escritor na

Rede Globo e Rede Minas, emissoras que elencamos para nossas pesquisas.

Apuramos durante as pesquisas, que as herdeiras do escritor detêm o direito

de uso e imagem e muitas vezes dificultam o trabalho das emissoras, pois

estabelecem valores exorbitantes para veicular a imagem do pai na mídia. Por

ocasião do lançamento do projeto de requalificação do Museu Casa Guimarães

Rosa e abertura de sua nova exposição de longa duração, realizada em julho de

2012, a Rede Globo mostrou interesse em fazer um documentário sobre a vida de

Guimarães Rosa, que seria veiculado em âmbito nacional, mas o projeto não foi

viabilizado, pois a Sra. Vilma Guimarães, filha mais velha do escritor, quis interferir

no roteiro proposto e a emissora não aceitou esta interferência e muito menos,

aceitou pagar o valor estipulado por ela.

Estão disponíveis no canal do YouTube, vídeos, filmes e até documentários

sobre o escritor, produzidos por instituições acadêmicas, produtoras de vídeos e por

alguns veículos de comunicação onde a biografia de Guimarães Rosa, é veiculada

de uma forma imparcial, sem se aprofundar em nenhum assunto em específico.

57

3 MUSEUS E MEMÓRIA, CAMINHOS QUE SE ENTRELAÇAM

3.1 Memória: o museu que se faz lembrar

Necessidade e iniciativas no sentido do resgate e construção de uma

memória social, segundo Maria Andréa Dias de Andrade e Washington Dias Lessa

(2010) levaram e levam o ser humano, em vários momentos e contextos históricos, a

coletar objetos para preservação, assim como levam ao agenciamento de lugares

específicos para guarda e vivenciamentos possíveis desses itens (ANDRADE;

LESSA, 2010, p. 45-46).

Segundo Michel Pollak (1992), a memória social é um fenômeno coletivo e

social, construído coletivamente e submetido a transformações constantes. Ela

transmite a cultura local herdada e é constituída por acontecimentos vividos

socialmente. Nessa ótica, são três os elementos que servem de apoio à memória: os

acontecimentos vividos, as pessoas e os lugares; responsáveis pelo

estabelecimento dos laços afetivos entre as pessoas. De acordo com o autor, a

memória é seletiva, pois, nem todos os fatos ficam registrados e os indivíduos só

têm recordações dos momentos a que dão importância e que, por alguma razão,

ficaram marcados na sua memória. Além do mais, parte das lembranças pode ser

herdada dos acontecimentos relacionados aos seus antepassados (POLLAK, 1992,

p. 10)

Ao se constatar a importância da memória na constituição do ser, começa-se

a atribuir a ela uma função decisiva na existência, já que permite a relação do corpo

presente com o passado e, ao mesmo tempo, interfere no curso atual das

representações. Segundo Ecléa Bosi (2003), pela memória, o passado “não só vem

à tona das águas presentes, misturando com as percepções imediatas, como

também empurra, descola estas últimas”, ocupando todo o espaço da consciência. A

autora adverte, porém, que a memória parte do presente, de um presente ávido pelo

passado, cuja percepção “é a apropriação veemente do que nós sabemos que não

nos pertence mais”. E assim, a rigor, a apreensão plena do tempo passado é

relativa, e o papel da consciência se resume a ligar com o fio da memória as

apreensões instantâneas do real (BOSI, 2003, p. 85).

Sendo assim, entendemos que a memória é uma construção social, produzida

pelos homens a partir de suas relações, de seus valores e de suas experiências

58

vividas. Ela sofre transformações e à medida que o tempo passa a história dos

indivíduos toma um novo rumo. Assim, pode-se dizer que a memória não é apenas

um registro histórico dos fatos, mas uma combinação de construções sociais

passadas, com fatores significantes da vida social do presente, sendo

permanentemente reconstruída.

Desta forma, compreendemos que a memória é construída interativamente,

por meio do contato entre os indivíduos e que, a partir deste contato e da troca de

experiências, é possível a construção de uma memória coletiva. Neste caso, quando

percebemos que nossa memória está relacionada a um quadro mais amplo, relativo

a representações do espaço, tempo e sujeitos relacionados à construção desta

memória coletiva, nos é possível compreender que ela, às vezes, está em um

contexto anterior a nós mesmos, apesar desta construção se dar sempre no

presente.

Entendemos que a memória coletiva envolve sentimentos de pertencimento e

identidade, uma vez que a memória depende das interações e dos grupos sociais. A

memória coletiva, portanto, é caracterizada por um intenso componente afetivo que

surge da interação e das experiências entre os membros da comunidade. Nessa

medida, ela é importante para manter a integridade e a sobrevivência do grupo no

tempo, pois no nosso entendimento, é o grupo quem faz o tempo da memória

coletiva. Para Maurice Halbwachs (2006) “a construção de laços sociais

permanentes, mantidos com relativa firmeza entre os indivíduos, está diretamente

ligada à coesão garantida pelos quadros sociais da memória”. Tais quadros são

entendidos como um sistema de valores que unifica determinados grupos:

familiares, religiosos, de classe, etc. (HALBWACHS, 1990, p.45).

Agrupados em coleções, os museus possuem natureza variada, podendo

incluir em seu acervo pequenos ossos de animais, grandes telas pintadas, armas,

tapeçarias, cerâmicas ou moedas. Esse coletar e guardar tem motivações

diferentes, seja meramente por prazer pessoal ou mesmo como uma forma de

investimento financeiro.

Os homens ao longo dos anos coletam e guardam objetos para si e para as

instituições às quais pertencem, organizando-os em coleções. Na Antiguidade

Clássica, por exemplo, objetos eram coletados e conservados em templos como

oferendas para os deuses. Na Idade Média, as igrejas colecionavam objetos que

eram considerados relíquias sagradas. Com o desenvolvimento e expansão nos

59

meios de transporte, o homem passou a atravessar oceanos e montanhas coletando

e transportando objetos de e para pontos muito distantes. Agrupados ou

isoladamente, alguns desses objetos se tornaram de domínio público

(BENCHETRIT, 2003, p. 11-15)

Bruno César Brulon Soares (2008), por sua vez, afirma que os objetos podem

funcionar sobre nós como “trampolins para o passado” e nos transportar através de

tempos remotos nos quais, assim como no presente, estabeleceu-se entre eles e

nossos antepassados uma relação de pertencimento. O objeto antigo conservado

não escapa do tempo, pelo contrário, está duplamente inscrito no tempo, passado e

presente, colocando-se de formas diferentes em sua época e na nossa (SOARES,

2008, p.56).

Para Marcel Proust (2004), no entanto, o passado não está escondido nos

objetos, mas sim em nossa memória. Aquele passado tão distante, que tentamos

evocar, está escondido fora de nosso domínio e de nosso alcance, pois o passado

está em nós, e só dentro de nós mesmos, poderemos eventualmente encontrá-lo.

Somos nós que atribuímos aos objetos, percebidos a partir de nossa experiência, o

poder de buscar, por associação, esse passado, a partir da memória. E quando

essa memória, evocada por eles, é importante para o coletivo, eles são nomeados

objetos de memória, ou, simplesmente, patrimônio (PROUST, 2004, p. 51-53).

Tereza Cristina Scheiner (2004) reforça o pensamento de Proust, ao afirmar

que os traços de memória estão sempre dentro de nós, estejamos cientes deles ou

não. Mesmo quando um objeto nos faz remeter a uma memória esquecida, não é o

objeto em si que nos transporta, mas são nossos sentidos que o fazem – olfato,

audição, tato, paladar, ou simplesmente a visão do objeto (SCHEINER, 2004, p. 56).

É importante preservar os objetos de memória, que fazem parte do

patrimônio, pois eles possibilitam encontrar o passado. Estes objetos, sejam eles de

valor histórico ou emocional para uma coletividade, é que atribui o estatuto de

patrimônio aos objetos. Esta atribuição de valor pode ser feita por uma comunidade

com a intenção de preservar um elemento de seu passado cultural através do

museu. Neste caso, o museu transforma-se em um instrumento que pode ser

verdadeiramente utilizado pela sociedade.

Entendemos que os museus são a um só tempo: lugares de memória e de

poder. Estes dois conceitos estão permanentemente articulados em toda e qualquer

instituição museológica. Os museus podem simbólica e efetivamente operar como

60

espaços onde se celebra, de modo acrítico, a “memória do poder”. Ou podem vir

assumir a função de equipamentos interessados em trabalhar democraticamente

com o poder da memória (CHAGAS, 1998, p. 13).

A compreensão do museu como sendo também arena e campo de luta está

distante da idéia de espaço neutro e apolítico de celebração de memórias.

Entretanto, segundo Mário de Souza Chagas (1998), a memória é construção e não

está aprisionada nas coisas e sim situada na dimensão inter-relacional entre os

seres, e entre os seres e as coisas; encontram-se, deste modo, elementos

necessários para o entendimento de que a constituição dos museus exaltadores da

memória do poder decorre da vontade política de indivíduos e grupos, e representa

os interesses de determinados segmentos sociais (CHAGAS, 1998, p. 25-26).

A partir do século XVIII acentua-se no mundo a onda nacionalista e,

exatamente neste momento, constata-se um significativo aumento do número de

museus históricos. Assim, nascem os lugares de memória da nação, como os

monumentos, os arquivos e os museus que, incorporados ao patrimônio nacional,

transformam-se segundo Sarah Fassa Benchetritt (2003), em “espaços de

consagração da materialidade do patrimônio da nação e em um instrumento de

celebração da identidade coletiva dos cidadãos” (BENCHETRITT, 2003, p. 22).

As instituições de memória, e de modo particular aos museus, é

frequentemente atribuída a função de ‘Casas de guarda do tesouro’. Nos museus,

normalmente, estão preservados os testemunhos materiais de determinados

períodos históricos. No entanto, a estes testemunhos materiais, alguns com valor de

mercado, associam-se valores simbólicos e espirituais de diferentes matizes.

De acordo com Mário de Souza Chagas (1998), a constituição dos museus

celebrativos da memória do poder decorre da vontade política de indivíduos e

grupos e representa a concretização de determinados interesses. Segundo ele, para

estes museus, a celebração do passado, seja ele recente ou remoto, o culto à

saudade, aos acervos valiosos e gloriosos é fundamental para a sua sobrevivência

(CHAGAS, 1998, p. 25).

Não por acaso, muitos museus encontram-se fisicamente localizados em

edifícios que um dia serviram de sedes de poder ou residências de indivíduos

poderosos. O poder evocado pela memória irá garantir, com sua força, a

transmissão dos valores e tradição. Nos museus, segundo Chagas, o poder é

concebido como alguma coisa que tem lócus próprio, vida independente e está

61

concentrado em indivíduos e instituições ou grupos sociais (CHAGAS, 2000, p. 13).

No entanto, vale ressaltar que o poder do museu está em toda parte, em

qualquer instância das relações do humano com o real ele pode ser evocado.

Museus que dão lugar à participação social e à possibilidade de conexão com o

presente, possibilitando que o poder circule por seus espaços. Todos os museus

estabelecem certa relação com o passado, presente e futuro, e a natureza da

relação estabelecida com estas três instâncias de tempo é o que irá determinar em

que sentido a memória está sendo utilizada, em que sentido o poder que circula está

sendo apropriado, e por quem.

Podemos afirmar, de acordo os estudos realizados até a presente data, que o

museu nasce a partir do desejo de uma comunidade de identificar-se ou reconhecer

sua memória, em face de um estranhamento que brota do confronto com o presente.

Tereza Cristina Scheiner (2004), afirma que este museu “não está sujeito a um lugar

específico, mas que é fato dinâmico, eternamente a conjugar memória, tempo e

poder, recriando-se continuamente para seduzir o ouvinte com a sua voz”. É esse

museu a principal instância que vai, através dos anos, conservar13 e transmitir, de

forma ativa, o patrimônio (SCHENER, 2004, p. 56-57).

Assim, o museu que não passou ao longo dos séculos de coleções

particulares, buscou torna-se um serviço público, um museu-laboratório ou museu-

escola e, ao perpassar os muros, tornou-se um museu aberto, um local onde a

população se identifica e se expressa, ou seja, transformando-se em verdadeiro

patrimônio desta comunidade.

Por outro lado, o Museu, além de possibilitar o conhecimento sobre o

passado, participa da construção social dos cidadãos, pois ao permitir o

conhecimento do que lhes é próprio da cultura, propicia a identificação do diferente

e, principalmente o respeito a esta diferença. O museu então, além de ser um

patrimônio cultural, é uma forma de expressar a memória, o que permite tanto à

identificação quanto a diferenciação.

A emergência de identidades locais e dos movimentos sociais leva a buscar

na memória um espaço de disputa sobre o passado, onde passam as instituições da

13

Referimos-nos, aqui, a uma conservação ativa do patrimônio que se dá sempre no presente, ou seja, uma conservação daquilo que ainda está em uso no cotidiano, sujeito às variações e trocas que se dá em contato com o humano e com o meio. É o tipo de conservação que se atribui às línguas faladas, que são preservadas por aqueles que fazem uso delas e estão em constante mutação.

62

memória, neste caso, os museus, a assumir papel fundamental no contexto social.

Sendo assim, conforme Vânia Carvalho Rola Santos (2000) os museus

estariam comprometidos com o futuro de cada nação, estudando e tornando

compreensíveis os elos que nos unem aos nossos antepassados. Dessa forma, o

museu enquanto meio de preservar o patrimônio cultural, que interage com a

sociedade que o cerca, contribui para que a sociedade conheça sua história e possa

refletir sobre seu presente e projetar um futuro melhor (SANTOS, 2000, p.15).

Entendemos que o museu é uma instituição dinâmica, comprometida com o

desenvolvimento, a educação e a identificação do grupo a que pertence. É comum

acreditar que a comunidade em geral entende que o patrimônio promove o

desenvolvimento. Então, para que as pessoas se identifiquem com determinado

grupo, é necessário que se sintam parte dele, se reconheçam. Isso só é possível

através do patrimônio cultural, de sua materialização e representação, neste caso, o

museu.

A palavra museu14 se origina do termo grego mouseîon, ou templo das musas

- uma mistura de templo e instituição de pesquisa, voltada, sobretudo, para o saber

filosófico. As obras expostas nesse templo tinham a intenção de agradar às

divindades mais do que propriamente serem abertas à contemplação e admiração

de possíveis visitantes. As musas na mitologia grega eram as filhas que Zeus gerara

com Mnemosine, a divindade da memória. As musas, donas da memória absoluta,

imaginação criativa e presciência, favoreciam o desenvolvimento das letras e das

artes e ajudavam os homens a esquecer a ansiedade e a tristeza (SOARES, 2008,

p. 17-18)

Para Vinicio Stein Campos (1965), no entanto as descreve juntamente com

suas ‘aptidões’:

[...] as Musas, em número de nove, eram filhas de Zeus (o deus dos deuses) e Mnemosine (a deusa da memória). Eram elas: Caliope, a rainha das musas, inspiradora da poesia épica e da eloqüência; Polínia, a musa da poesia lírica. Erato, as poesia erótica e da elegia; Clio, da história; Euterpe, da música; Tália, da comedia; Melpóneme, da tragédia; Terpsicore, da dança e Urânia, da Astronomia (CAMPOS, 1965, p.11).

14

O Conselho Internacional de Museus (ICOM) define museu como uma instituição sem fins lucrativos, estando permanentemente à serviço da sociedade e de seu desenvolvimento, e aberta ao público que adquire, conserva pesquisa, divulga e expõe, para fins de estudo, educação e divertimento, testemunhos materiais do povo e de seu ambiente.( CONSELHO INTERNACIONAL DE MUSEUS, 2014).

63

As musas eram cultuadas como inspiradoras da poesia e do canto, e além

das artes presidiam o pensamento sob todas as suas formas. Um dos primeiros

museus foi criado no século III a.C., em Alexandria, no Egito, por Ptolomeu II. Essa

proeminente cidade do Mediterrâneo era um centro importante de conhecimento e o

museu funcionava como biblioteca, lugar de pesquisa e refúgio contemplativo. Os

romanos, por seu turno, encaravam os museus como um empreendimento

sistemático e eclético, em que se acumulavam coleções adquiridas em campanhas

militares e de colonização. E no século II a.C. eles passavam a ser associados não

apenas ao armazenamento, mas também à mostra dessas coleções.

Na idade média, a Igreja passou a ser a principal receptora de doações

eclesiásticas e de patrimônio de príncipes e famílias abastadas da época. Neste

período, no museu, eram conservados os conhecimentos humanos que eram

utilizados como inspiração para artistas, no mesmo tempo em que serviam como

veículo de reprodução da estética aprovada pela Igreja. Isto porque a representação

artística estava intimamente relacionada com os objetivos didáticos da Igreja e

propagação da religião cristã.

Mas foi no Renascimento que, aliada ao rompimento das ideias do mundo

medieval, rompeu-se também com a confiança nos velhos caminhos para a

produção do conhecimento: a fé e a contemplação não eram mais consideradas vias

satisfatórias para se chegar à verdade. Para Myrian dos Santos Sepúlveda (2004),

o embrião do museu moderno surge no Renascimento, com os chamados Gabinetes

de Curiosidades. Segunda a autora:

Foi no Renascimento que surgiu o “embrião do museu moderno”, os chamados Gabinetes de Curiosidades. Estes eram quartos pequenos, localizados em palácios de nobres e estudiosos que reuniam objetos variados. Tanto as peças artísticas, quanto as científicas passavam pelos critérios de autenticidade e capacidade de suscitar emoção e surpresa em quem às observava. As visitas a esses locais ainda eram restritas a um público seleto de nobres, monges, poetas e sábios, dentre outros (SEPÚlLVEDA, 2004, p.12)

Os gabinetes de curiosidades eram uma “espécie de vanguarda que viria a

estimular e orientar o trabalho dos colecionadores do Renascimento e dos Tempos

Modernos, alicerce que possibilitam o admirável movimento museológico que se

seguiu à Revolução Francesa. de 1789” (CAMPOS, 1965, p.16).

64

Somente após a Revolução Francesa foi possível ter acesso às grandes

coleções, tornando-as públicas e passíveis de serem visitadas em diferentes

museus. O primeiro museu como conhecemos hoje surgiu a partir da doação da

coleção de John Tradescant, feita por Elias Ashmole, à Universidade de Oxford,

conhecido como Ashmolean Museum. O segundo museu público foi criado em 1759,

por obra do parlamento inglês, na aquisição da coleção de Hans Sloane (1660-

1753), que deu origem ao Museu Britânico. O primeiro museu público só foi criado

na França, pelo Governo Revolucionário, em 1793: o Museu do Louvre, com

coleções acessíveis a todos, com finalidade recreativa e cultural.

É a partir do século XIX, com a criação de importantes instituições

museológicas na Europa, que a acepção moderna do museu se consolida. Em 1808,

surgia o Museu Real dos Países Baixos, em Amsterdã; em 1810, o Atles Museum,

em Berlim; em 1819, O Museu do Prado, em Madri, e em 1852, o Museu Hermitage,

em São Petersburgo, antecedidos pelo Museu Britânico, 1753, em Londres, e o

Belvedere, 1783, em Viena.

Segundo Letícia Julião (2006), esses museus, que eram concebidos dentro

de um “espírito nacional”, nasciam imbuídos de uma ambição pedagógica, pois

tinham a intenção de formar o cidadão, através do conhecimento do passado –

participando de maneira decisiva do processo de construção das nacionalidades

(JULIÃO, 2006, p.19-32).

No Brasil, o surgimento das primeiras instituições museológicas data do

século XIX. O Museu Real, atual Museu Nacional, foi criado em 1808, por D. João

VI, cujo acervo era composto por uma pequena coleção de história natural doada

pelo monarca. Vários museus foram criados a partir desta data, entre eles:

a) os museus do Exército (1864), da Marinha (1868);

b) o Paranaense (1876), do Instituto Histórico e Geográfico da Bahia (1894),

no entanto, o primeiro museu data de 1862, o Museu do Instituto Arqueológico

Histórico e Geográfico de Pernambucano (Pernambuco). Os outros museus

brasileiros foram fundados durante o século XX, sendo o mais importante, pela

qualidade do acervo, o Museu de Arte de São Paulo (MASP), fundado em 1947.

Merece destaque também, dois museus etnográficos:

65

a) o Paraense Emílio Goeldi, constituído em 1866, por iniciativa de uma

instituição provada, transferido para o Estado em 1871 e reinaugurado em

1891; e

b) o Museu Paulista, mais conhecido como Museu do Ipiranga, inaugurado em

1894.

Desde o surgimento do primeiro museu no Brasil até os dias de hoje, muita

coisa mudou. De acordo com pesquisa realizada pelo IBRAM, que resultou na

publicação em 2010 do Guia dos Museus Brasileiros, foram mapeados 3.025

museus em todo país, espalhados por 1.172 municípios, representando 21,1% do

total de municípios brasileiros, que somam 5.564 municípios. A sua distribuição,

todavia, não é uniforme, pois entre os municípios que possuem museus, 771 deles

possuem apenas um museu, enquanto os demais municípios (401) concentram

2.254 museus. (BRASIL, 2012a).

De acordo com os dados levantados nesta pesquisa, é possível constatar que

a presença de museus ocorre de forma desigual nas regiões brasileiras. O Sudeste

e o Sul do País são as regiões com maior número de unidades museológicas,

concentrando aproximadamente 67% dos museus brasileiros. Os Estados de São

Paulo, Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Paraná e Rio de Janeiro aparecem, nessa

ordem, como os que apresentam a quantidade mais elevada de museus. (BRASIL,

2012a).

O Nordeste é a terceira região em quantitativo de museus, abrigando

aproximadamente 21% do total de instituições mapeadas. Bahia, Ceará e

Pernambuco são os Estados nordestinos que mais se destacam em números de

instituições museológicas.

Nas Regiões Norte e Centro-Oeste, estão situados 12% dos museus

brasileiros, ressaltando-se neste caso que Pará, Amazonas, Goiás e Distrito Federal

são os Estados que detêm o maior número de museus nestas regiões (BRASIL,

2010).

A maioria das instituições é jovem e tem menos de 30 anos de existência.

Dos museus mapeados, mais de 67% são públicos e 88% são gratuitos. Ainda de

acordo com a pesquisa IBRAM, Minas Gerais é o Estado com maior número de

municípios do Brasil (853), o segundo em termos de população absoluta, com

66

aproximadamente 20 milhões de habitantes. É o quarto Estado em número de

museus, com 319, à sua frente estão São Paulo, Rio de Janeiro e Salvador.

Sobre a concentração dos museus brasileiros, é preciso levar em

consideração sua história. Desde o surgimento dos primeiros museus, sua

localização privilegiava áreas urbanas, ligadas aos centros de poder econômico e

financeiro. (BRASIL, 2012a).

Os museus foram criados como locais de guarda e preservação de itens de

cultura e conhecimento, depositários de coleções raras e autênticas e sendo

considerados como verdadeiros templos. A história da constituição do patrimônio

cultural está condicionada por uma sequência de rupturas: mudanças nas crenças

coletivas e modos de vida, desorganizações técnicas, propagação de novos estilos

que substituem os antigos.

Toda a construção patrimonial se dá num constante processo em que a

memória entremeia concomitantemente passado, presente e futuro. A verdadeira

memória é uma construção também resultante de rupturas; é na complexa relação

entre passado e presente, que se formam as lembranças do agora.

Sendo assim, de acordo com Luiz Borges (2011), todo museu é uma proposta

de ver, recortar, conhecer, classificar, compreender e representar uma dada

realidade, ou seja, ele inscreve-se em uma visão de mundo, a partir de uma

determinada posição de autoria. Os museus abrigam objetos que, em sua maioria,

vêm de um passado ou que já tenham participado de processos de mudanças e

trocas, na constituição de um patrimônio presente. Esses objetos constituem parte

do passado de uma sociedade à qual este museu está servindo, e a qual deve

oferecer um espaço de encontro e, ao mesmo tempo, de confronto com a sua

realidade (BORGES, 2011, p.43).

O passado não tem valor por si só. Ele tem importância na medida em que se

encontram elementos de resposta para os problemas atuais. O domínio da

identidade e da memória, o domínio dos museus, não é o domínio das ciências

exatas, mas dos mitos, símbolos e representações, que indicam no presente os

caminhos já tomados e aqueles que poderão se tomar.

Desse modo, o museu institui-se como interseção entre a história e a

linguagem, tornando-se sujeito-ator de suas narrativas (narrativas museais), aqui

representadas por seu acervo, exposições temporárias e de longa duração e por

suas ações educativas, pelas quais faz representar em seus leitores (visitantes,

67

especialistas) a sua construção / interpretação da realidade. Com isso, o discurso

museológico mobiliza memórias, estabelece sentidos estabilizadores relativos à

coisa exposta.

Para Luiz Borges (2011), no entanto, ao inscrever-se em um dado jogo das

redes simbólicas, o museu funciona como um lugar em que a realidade é transposta,

deslocada para uma representação de segunda instância e, como tal, reordenada e

ressignificada (BORGES, 2011, p. 37-62)

Neste caso, o museu se faz, igualmente, um lugar de disputa de/por

memórias e sentidos. Disputa que se estabelece entre museu e sociedade (entre

museu e outros atores sociais, bem como entre museus, como frações da

sociedade). Portanto, é uma arena de negociação, espaço de controvérsias e

consenso, logo, dicções e interdições (BORGES, 2011, p. 46).

Diferentes sociedades e culturas têm concepções próprias do tempo e do

transcurso da vida, e tendem a organizar de forma própria os fatos acontecidos e a

história. Em sociedades de cultura mítica, em geral, o tempo é circular e a vida é

concebida como uma eterna repetição do que já aconteceu, num passado remoto

narrado pelo mito. Este museu de memórias, em seu estado mais intangível, se

constrói constantemente no cotidiano das pessoas, em suas relações com os

antepassados (CHAGAS, 1998, p. 20).

O museu faz da história algo concreto: faz dela uma performance da qual não

se pode duvidar, uma vez que estão exibidas as suas provas. E o museu tem como

forma de expressão para exibir estas provas do passado a exposição, que não é

única, mas é uma das formas mais poderosas que ele possui para construir o seu

discurso a partir do que tem de concreto: os objetos. Assim, ele se faz sempre

presente, na mudança. Sua linguagem, além de seu discurso, deve adequar-se de

forma que permita uma leitura atual (BORGES, 2011, p. 38).

O museu não é apenas a casa de memória e de poder conforme advoga

Mario de Souza Chagas (2009), mas também é o lugar de vestígios deslocados e no

qual ocorrem entrecruzamentos e coocorrências de memórias e contra-memórias.

Segundo Pierre Nora (1993) o museu não se apresenta apenas como um lugar de

memória, mas igualmente como lugar de interpretação, produção/ordenação de

sentidos, um espaço de entrelaçamento tensionado de diversas memórias (dos

objetos, da sua ressignificação, da comunicabilidade, das muitas formações

discursivas e imaginário-ideológicas) (NORA, 1993, p.1-28).

68

Sendo assim, entendemos que em qualquer museu podem ser encontrados

efeitos de uma memória líquida (aquela que se adapta ou se molda a novos

contextos e necessidades), de uma memória mecânica (aquela em que o real da

história é reduzido a formas de armazenamento), dentre outras (BORGES, 2011, p.

55-57). O museu não se limita apenas ao objeto nem à temporalidade que

representa: o seu maior objeto é o próprio ser humano.

3.2 Um museu dedicado a Guimarães Rosa

Museu Casa Guimarães Rosa (MCGR), órgão que está vinculado à

Superintendência de Museus e Artes Visuais (SUMAV) da Secretaria de Estado de

Cultura de Minas Gerais, foi idealizado inicialmente tendo como pano de fundo dois

acontecimentos marcantes para o Estado naquela época: o falecimento repentino de

João Guimarães Rosa, no dia 19 de novembro de 1967, e a criação do IEPHA-MG,

em setembro de 1971. (MINAS GERAIS, 2012).

A idéia de transformar a casa onde Guimarães Rosa nasceu e viveu seus

primeiros nove anos de vida (1905-1917), em uma instituição cultural, surgiu a partir

de apelos de jornalistas, acadêmicos, políticos, familiares, amigos do escritor e da

própria comunidade de Cordisburgo, que se mobilizaram logo após a sua morte.

O museu foi concebido em 1971 e inaugurado em 30 de março de 1974, com

a “finalidade de manter em permanente atividade um centro divulgador da obra

literária de Guimarães Rosa, assim como uma fonte viva de informações abertas a

estudos e pesquisas” (MINAS GERAIS, 2013).15.

A casa, de arquitetura modesta, destinada à moradia, foi construída no final

do século XIX e princípios do XX. Está localizada na Rua Padre João, esquina com

a Travessa Guimarães Rosa, região central de Cordisburgo. O prédio onde funciona

o Museu Casa Guimarães Rosa, composto pela residência da família de João

Guimarães Rosa e pela venda mantida por seu pai, “seu” Florduado, é um dos

principais itens de acervo do Museu.

A venda do “seu Fulo”, como era carinhosamente chamado o pai de

Guimarães Rosa, tinha como frequentadores os vaqueiros, que traziam as boiadas

15

Informação retirada do Plano Museológico dos Museus da Superintendência de Museus e Artes Visuais da Secretaria de Estado de Cultura de Minas Gerais.

69

para serem embarcadas nos trens da Central. Foi nessa venda que Rosa, ainda

menino, teve a oportunidade de conviver e ouvir dos vaqueiros e demais usuários

que frequentavam o comércio de seu pai histórias e os mais diferentes causos que,

sem sombra de dúvidas, estimularam e acusaram a imaginação do futuro escritor.

De acordo com documentos que estão sob a guarda da Superintendência de

Museus e Artes Visuais (SUMAV), a casa que hoje abriga a sede do Museu, passou

por três proprietários antes de ser adquirida pelo Governo do Estado de Minas

Gerais, em 1971. O Governo do Estado, na ocasião, comprou o imóvel do Senhor

Ildefonso Rodrigues Costa, e o transferiu para o Instituto Estadual do Patrimônio

Histórico e Artístico de Minas Gerais.

O Museu possui em seu acervo aproximadamente 200 objetos e é composto

por registros da vida profissional do escritor, como médico e diplomata, além de

fragmentos do universo rural descrito por Guimarães Rosa em seus livros, a

exemplo de objetos de montaria e relacionados à atividade pecuária. Também está

sob a guarda do Museu uma coleção de cerca de 1200 documentos textuais entre

os quais merecem destaque:

a) os registros de caráter pessoal do escritor:

certidões, correspondências recebidas e emitidas, documentos escolares;

b) discursos:

artigos em periódicos e originais manuscritos ou datilografados.

De acordo com informações obtidas através do Plano Museológico16 da

Superintendência de Museus e Artes Visuais, que foi concebido para ser implantado

nos cinco museus do Estado:

a) Museu Mineiro, em Belo Horizonte;

b) Museu Casa Guignard, em Ouro Preto;

c) Museu Casa Guimarães Rosa, em Cordisburgo;

16

De acordo a seção III, artigo 45, da Lei 11.904 de 2009, que institui o Estatuto de Museus, o Plano Museológico é compreendido com sendo: a ferramenta básica de planejamento estratégico de sentido global, integrador, indispensável para a identificação da vocação da instituição museológica para a definição, o ordenamento e a priorização dos objetivos e das ações de cada uma de suas áreas de funcionamento, bem como para fundamentar a criação ou fusão de museus constituindo instrumento fundamental para a sistematização do trabalho interno e para atuação dos museus na sociedade. (BRASIL, 2009).

70

d) Museu Casa Alphonsus de Guimarães, em Mariana; e

e) Museu do Crédito Real, em Juiz de Fora)

e que estão sob a gestão da Superintendência, a constituição do acervo do MCGR,

aproximadamente 90%, foi feita por meio de doações realizadas por familiares e

amigos do escritor, quase todas na década de 1970, precisamente nos anos de

1973, 1974 e 1979.

Ao longo dos anos, a instituição mantém-se fiel à missão original, ou seja, de

ser um centro divulgador da obra literária de Guimarães Rosa. É possível afirmar, de

acordo com pesquisas realizadas em documentos que estão sob a guarda da

Superintendência, que a criação do Museu, no contexto da morte do escritor, tem

contribuído para que a imagem da casa da infância e da vida em família suplantasse

a obra.

A exposição de longa duração, que culminou com a inauguração do Museu

em 1974, sofreu pequenas alterações ao longo dos anos. A mostra, que ocupava

todos os cômodos, designados conforme seus respectivos usos: sala de visitas;

alcova ou quarto escuro; quarto dos pais, quarto da avó, sala de jantar, cozinha,

eram ambientações próprias de uma casa térrea, de padrão construtivo modesto,

típica de fins do século XIX.

O museu passou por uma série de reformas e foi reinaugurado em 1984,

reforçando ainda mais a imagem da “casa da infância” de Guimarães Rosa, fato que

foi reafirmado com a reconstituição de uma venda típica, mesmos moldes das

existentes nas pequenas cidades mineiras, para representar o antigo comércio de

“Seu Fulô”, pai do escritor e que foi incorporada à Exposição de Longa Duração do

Museu.

71

Figura 1- Fachada externa - Museu Casa Guimarães Rosa

Fonte: Foto de Ronaldo Alves

O documento do arquivo técnico da Superintendência denominado “Subsídios

para a montagem de uma exposição permanente”, datado de 1984, reafirma ser o

Museu um “centro difusor da vida e obra de Guimarães Rosa” e numa proposta

arrojada para os anos de 1980, o documento insere o Museu em Cordisburgo e na

região do cerrado.

Desde a década de 1980, o Museu Casa Guimarães Rosa atrai

pesquisadores e estudiosos de diversos Estados brasileiros e de outros países,

interessados não só em conhecer a casa onde Guimarães Rosa nasceu, mas

também o patrimônio cultural e natural da região de Cordisburgo. O Museu é hoje

uma referência muito importante para o turismo em Minas Gerais, integrando o

roteiro tradicional de visitas à Gruta do Maquiné17 e arredores da cidade de

Cordisburgo (MINAS GERAIS, 2013).

Segundo Ronaldo Alves, Coordenador do Museu, em entrevista concedida

ao Jornal Estado de Minas, em de junho de 2010.

as relações entre o Museu Casa Guimarães e a comunidade de Cordisburgo estreitam-se significativamente, sobretudo a partir dos primeiros anos da década de 90, graças à criação da Associação de Amigos do Museu Casa Guimarães Rosa e aos programas de ações educativas e

17

A Gruta de Maquiné foi descoberta em 1825 pelo fazendeiro Joaquim Maria Maquiné, dono das terras, naquela época. A gruta entrou para a história por ter sido desbravada, quase 10 anos depois, pelo cientista dinamarquês Peter Lund (1801 – 1880) considerado o pai da paleontologia brasileira. (MINAS GERAIS, 2013).

72

culturais desenvolvidas, que resultaram em experiências contínuas de apropriação pela comunidade da obra do escritor. (ALVES, 2010, p. 10).

Figura 2 - Jardim Interno do Museu Casa Guimarães Rosa

Fonte: Foto de Ronaldo Alves

Ainda segundo o Coordenador do Museu, “as mais reconhecidas ações

culturais desenvolvidas pela Instituição são aquelas que procuram ampliar a

compreensão da obra do escritor através da intimidade com que os cidadãos usam o

lugar e participam das atividades promovidas”. (ALVES, 2010, p. 7).

O caráter contínuo e permanente desses projetos, envolvendo diferentes

atores, em especial moradores da cidade de Cordisburgo, possibilitou a

consolidação de uma dinâmica cultural particularmente produtiva que vem

contribuindo para o desenvolvimento social e cultural do município.

A visita ao Museu Casa Guimarães Rosa é uma experiência única, tanto para

o conhecedor da obra deste grande escritor, filho ilustre de Cordisburgo, quanto para

quem nunca leu nenhuma obra de Guimarães Rosa. Para aqueles que estão

acostumados à literatura do escritor, a visita oferece a oportunidade de conhecer no

acervo do Museu, elementos que retratam o ambiente em que Rosa nasceu e se

formou, bem como sua biografia posterior e de sua obra. Para o iniciante, a visita

pode significar o impulso que faltava para mergulhar na leitura deste grande escritor

e adentrar o universo roseano.

73

Figura 3 - Venda do”Seu Fulô”

Fonte: Foto de Ronaldo Alves

A área de atuação do Museu Casa Guimarães Rosa ultrapassa as fronteiras

físicas da instituição, graças ao turismo cultural local e à presença de pesquisadores

nacionais e estrangeiros na região, além de projetos e eventos realizados em

parceria com a Associação de Amigos do MCGR.

3.2.1 Associação dos Amigos do Museu Casa Guimarães Rosa

A Associação de Amigos do Museu Casa Guimarães Rosa (AMMCGR),

entidade filantrópica reconhecida como de utilidade pública municipal e estadual, foi

criada em 1994 com o objetivo de apoiar e proporcionar a participação da

comunidade de Cordisburgo nas atividades do Museu. (ASSOCIAÇÃO DE AMIGOS

DO MUSEU CASA GUIMARÃES ROSA, 2012).

A AMMCGR constitui um centro de convergência e referência cultural para os

moradores da pequena Cordisburgo e, com essa diretriz, foram criados os Grupos

de Contadores de Estórias Miguilim, da Terceira Idade Estrelas do Sertão e

implementados o Telecentro e a Biblioteca Riobaldo Diadorim.

Dentre os objetivos da Associação está o de promover a integração da

comunidade de Cordisburgo e os projetos desenvolvidos pelo MCGR em parceria

com Superintendência de Museus e Artes Visuais, divulgando e incentivando a

leitura da obra e tornando dinâmico todo o espaço do Museu, com apresentações

74

artísticas e culturais de toda natureza.

Desde a sua criação, a AAMCGR estabeleceu uma série de parcerias

informais, com grupos de professores de diversas instituições de ensino do país, que

prestam apoio ao Museu e à Associação na realização de ações e projetos

direcionados para a comunidade de Cordisburgo e visitantes.

Em 2010, as atividades socioculturais e educativas promovidas pela

Associação dos Amigos do Museu Casa Guimarães Rosa foram reconhecidas como

relevantes pelo Ministério da Cultura e pela Secretaria de Estado de Cultura de

Minas Gerais, passando a funcionar como Ponto de Cultura18.

3.3.2 Grupo de Contadores de Estórias Miguilim

O Projeto Grupo de Contadores de Estórias Miguilins foi criado em 1995, por

meio da Associação de Amigos do Museu Casa Guimarães Rosa, pela doutora

Calina Guimarães Rosa, prima do escritor, responsável pela formação das

primeiras turmas de Miguilins. Desde então, os jovens selecionados recebem

preparação específica para atuarem na difusão da literatura roseana.

Conduzido desde 2002 pelas professoras Elisa Almeida e Dora Guimarães,

coordenadoras do Projeto Tudo Era Uma Vez, de Belo Horizonte, o Grupo de

Contadores de Estórias Miguilins conta atualmente com aproximadamente trinta

adolescentes, entre 13 e 18 anos, que recebem treinamento permanente em

técnicas de narração de histórias, apresentando um repertório rico que inclui

trechos e contos de livros como: Sagarana, Manuelzão e Miguilim, Grande

Sertão:veredas, Primeiras Estórias, Ave Palavra, No Urubuquaquá no Pinhém e

Magma.

18

O Ponto de Cultura é um programa em parceria com o Governo Federal, por meio do Ministério da Cultura, e Governo de Minas Gerais, através da Secretaria de Estado de Cultura. O objetivo do convênio, além de garantir o acesso da população a bens e serviços culturais, é apoiar projetos de entidades sem fins lucrativos, de caráter cultural ou com histórico de atividades culturais comprovadas que atendam a pelo menos um dos seguintes públicos: estudantes da rede pública de ensino; crianças, adolescentes, jovens, adultos e idosos em situação de vulnerabilidade social; populações de baixa renda; moradores em áreas com oferta precária de serviços públicos e de cultura, tanto nos grandes centros urbanos, como nos pequenos municípios; portadores de deficiência; e outros grupos minoritários. Para ser Ponto de Cultura, é preciso ser pessoa jurídica de direito, privado sem fins lucrativos, legalmente constituída, que desenvolva ações de caráter cultural devidamente comprovada no Estado e que seja selecionada e tenha seu Projeto aprovado em edital. (MINAS GERAIS, 2013).

75

Dentro das atividades culturais e educativas desenvolvidas pelo Museu e

Associação de Amigos do Museu Casa Guimarães Rosa, o Grupo de Contares de

Histórias Miguilins é considerado o projeto de maior alcance sociocultural. Criado

com o objetivo de promover, de forma viva, ampla e contínua a difusão da obra de

Guimarães Rosa para o público visitante do Museu, os Miguilins, por meio de

narração oral de trechos das obras de Rosa, ultrapassou as fronteiras

institucionais, adquirindo expressão regional e nacional. Além do Museu, o Grupo

apresenta-se em diversos municípios do Estado de Minas e também do país, em

universidades, congressos, seminários, escolas públicas e privadas, instituições

culturais e filantrópicas. (MINAS GERAIS, 2013).

O trabalho de formação dessas crianças e jovens inicia-se com a constituição

de um grupo de crianças de 10 a 12 anos, indicadas e/ou convidadas nas escolas de

Educação Fundamental da cidade de Cordisburgo. A pré-seleção é feita por meio de

leitura e interpretação de textos, coordenada pela pedagoga Lúcia Corrêa Goulart de

Castro. As crianças pré-selecionadas passam a frequentar a Oficina Conta-Contos,

ministrada pelas professoras Dôra Guimarães e Elisa Almeida, diretoras do Projeto.

Nesse módulo, os alunos aprendem a contar pequenos contos da tradição oral.

As crianças selecionadas passam por um treinamento de dois anos, antes de

se tornarem guias no Museu Casa Guimarães Rosa. Concluído o treinamento, e em

cerimônia realizada no MCGR, aberta para o público, os jovens recebem uma

camiseta, que os identifica, a partir de então, como integrantes do Grupo de

Contadores de Estórias Miguilins, tornando-se oficialmente membros efetivos do

Grupo e multiplicadores da literatura de Guimarães Rosa.

O Museu Casa Guimarães Rosa, através da narração oral de textos

roseanos, promove a aproximação de crianças e jovens com a literatura. No Projeto

de Contadores de Estórias Miguilins, os jovens participam ativamente da dinâmica

do Museu, identificando-se com sua missão institucional, compartilhado a

responsabilidade pela preservação e valorização do patrimônio cultural da cidade.

Por outro lado, com os Miguilins, o Museu pode desenvolver um trabalho de

ampliação do acesso à obra de Guimarães Rosa para além das fronteiras de sua

própria sede; as narrações não somente se tornam estímulo inicial para futuros

leitores da obra Roseana, como confirma à obra e ao Museu renovadas formas de

comunicação.

76

O projeto tem permitido à comunidade de Cordisburgo se apropriar de seu

valioso patrimônio, incorporá-lo em suas práticas culturais, criar identificações

sociais com a obra e torná-la importante referência de sua identidade cultural.

Durante os 17 anos de funcionamento, o projeto que já se encontra em sua

7ª geração, já formou cerca de 100 Miguilins, concorrendo decisivamente para a

ampliação do público visitante do Museu Casa Guimarães Rosa e de leitores da

obra do escritor. O Projeto oferece ao jovem de Cordisburgo o acesso à técnica de

narração do texto literário, noções de ética, regras de comportamento, trabalho em

grupo e etiqueta social.

O contato próximo com a literatura de Guimarães Rosa apura a sensibilidade

dos jovens narradores desenvolvendo uma visão de mundo mais rica. O trabalho

constante de leitura, compreensão e preparação dos textos de Rosa, leva-os a se

interessarem pela literatura de outros autores, abre-lhes novos caminhos,

instigando-os a dar prosseguimento aos seus estudos fora de Cordisburgo, nas mais

diversas áreas do conhecimento.

Figura 4 - Grupo de Contadores de Estórias Miguilins e Dora Guimarães

Fonte: Foto de Ronaldo Alves

77

Segundo Solange Agripa Trombini (2012), presidente da AAMCGR

a atuação dos contadores de estórias do Museu Casa Guimarães Rosa e Associação de Amigos, tem sido fonte de inspiração para outros projetos que, a exemplo dos Miguilins, procuram integrar arte, literatura, desenvolvimento pessoal e comunitário por meio da narração de estórias. (TROMBINI, 2012).

O modelo criado em Cordisburgo foi implementado e/ou adaptado por

entidades de outros municípios mineiros, como Araçaí, Morro da Garça, Três Marias

e Itabira.

3.3.3 Grupo da Melhor Idade Estrelas do Sertão

Criado em 2003, o Grupo da Melhor Idade Estrelas do Sertão é mantido pela

Associação dos Amigos do Museu Casa Guimarães Rosa, e é formado atualmente

por 30 senhoras do município de Cordisburgo, com idade entre 30 e 80 anos, que se

reúnem semanalmente para realizar trabalhos que tem o sertão como tema.

Esse trabalho se aproxima da obra de Rosa de uma maneira simples e

afetuosa, por meio da realização de bordados de frases e imagens extraídas da

literatura roseana, da tradição oral e do imaginário das pessoas. Lançado em 2006,

o livro O Coração do Lugar - Depoimento para Guimarães Rosa coloca em evidencia

a relação entre a realidade vivida pelas bordadeiras e a obra literária de Rosa, que

reúne as memórias individuais e coletivas referenciadas nos arquivos de

correspondências de Guimarães Rosa, que compõem o acervo do Museu.

78

Figura 5 - Grupo de Terceira Idade Estrelas do Sertão

Fonte: Foto de Ronaldo Alves

3.3.4 Semana Roseana

Criada em 1989, pela Academia Cordisburguense de Letras Guimarães Rosa,

a Semana Roseana é realizada desde o final da década de 90 graças a uma ação

cooperada entre a Academia, o Museu Casa Guimarães Rosa, a Superintendência

de Museus e Artes Visuais, a Secretaria de Estado de Cultura e a Associação dos

Amigos do Museu Casa Guimarães Rosa, com o apoio da Prefeitura e Câmara

Municipal de Cordisburgo.

Este evento, de repercurssão nacional, tem o objetivo de promover a

divulgação da obra de Rosa, favorecendo o conhecimento da sua literatura por meio

de diversas linguagens, entre elas: palestras, seminários, contação de estórias,

caminhadas eco-literárias, apresentações musicais e de dança.

Todos os anos, uma caravana de fascinados vai a Cordisburgo para ‘rosear’.

Durante uma semana, estudantes, professores, estudiosos da obra de Guimarães

Rosa participam de palestras, serestas, exposições, shows, oficinas, caminhadas em

“uma semana dedicada ao estudo e à conservação da obra do imortal Guimarães

Rosa, para amarmos cada vez mais essa obra formidável”19, define o presidente da

Academia Cordisburguense de Letras, Raimundo Alves, advogado, professor na

19

Sr. Raimundo Alves, presidente da Academia Cordisburguense de Letras, durante solenidade de abertura da 24ª Semana Roseana, realizada no dia 26 de junho de 2012.

79

vizinha Araçaí e cronista. “Eu queria ser poeta, mas não dei conta”, brinca.

Boa parte dos roseanos que frequentam a Semana Roseana são de São

Paulo e, em sua maioria, pertencem a uma confraria que durante quase uma década

se reúne todas as semanas no Instituto de Estudos Brasileiros (IEB), na

Universidade de São Paulo (USP), para ler textos de Guimarães Rosa sem

pretensões acadêmicas, apenas um encontro de amigos para ler e trocar ideias.

A Semana Roseana, que acontece há 25 anos em data próxima ao

aniversário de nascimento do escritor, atrai um turismo cultural significativo de todas

as regioes do país, além de reunir pesquisadores e estudiososo provenientes de

centros acadêmicos, a exemplo da USP, UFMG, PUC-MG, UFRJ, dentre outros.

É nesta ocasião que a comunidade estreita e reafirma seus laços com o

Museu, apropriando-se de seu espaço social e a cidade de Cordisburgo se projeta

como destino atraente para turistas nacionais e internacionais, além de referência

para intelectuais, artistas, estudantes e professores.

Figura 6 - XXIII Semana Roseana 2011

Fonte: Foto de Ronaldo Alves

3.3.5 Caminhada Eco-literária

Em Cordisburgo, uma das iniciativas mais singulares do trabalho em torno

da literatura de Guimarães Rosa é a Caminhada Eco-literária, idealizada e dirigida

80

por José Osvaldo dos Santos, o “Brasinha”. Esse comerciante é um estudioso

sobre os lugares e pessoas que aparecem nos livros de Guimarães Rosa . Aponta

dados que apenas derivam da capacidade inventiva do autor de Grande

Sertão:veredas, mas indica a localização das referências dos escritos a

determinados lugares que realmente existem e que surgem no desenrolar dos

livros do escritor.

Brasinha faz gestos e conta: “Rosa está vivo, e vai chegando devagar, cada

vez que alguém sente que o sertão é sozinho, o sertão é dentro da gente, o sertão

é sem lugar”20.

Nasceu em Sabará, e com um ano de idade foi morar com a família em

Cordisburgo. Terminou o ginásio e virou comerciante, mas a sua maior paixão é o

estudo de Guimarães Rosa. O comerciante seguiu os passos dos personagens

Manuelzão, Juca Bananeira, Zito, Gregório e sabe até que ponto existe ficção ou

realidade e afirma: “tento procurar o real dentro da ficção. E saio por ai, pelo

campo, pelas montanhas, pelas veredas. Com isso, é mesmo possível sentir

Rosa”.21

A Caminhada Eco-literária tem por objetivo percorrer espaços rurais e

urbanos citados nas obras de Guimarães Rosa, levando os participantes a

conhecer a paisagem cultural do sertão perpetuada pelo escritor. Durante a

caminhada, os participantes são conscientizados sobre a importância da

conservação e preservação da região e de sua biodiversidade, por meio dos textos

selecionados e narrados pelo Grupo Caminhos do Sertão, composto por ex-

integrantes do Grupo de Contadores de Histórias Miguilim, que atingiram a

maioridade.

A caminhada percorre locais citados pelo escritor em suas obras, como a

antiga Estação Ferroviária, descrita no conto Sorôco, sua mãe e sua filha; a antiga

residência do escritor, hoje sede do Museu; a Capela de São José; a Igreja do

Rosário e a Fazenda Bento Velho, ambas citadas em Recados do Morro; a Escola

do Mestre Candinho, onde Rosa aprendeu a ler, e o Jardim Sagarana, onde, na

infância do escritor, havia um curral de embarque de gado.

20

Depoimento do comerciante realizado nos meses de novembro e dezembro de 2012, na cidade de Cordisburgo.

21 Depoimento realizado nos meses de novembro e dezembro de 2012, na cidade de Cordisburgo.

81

A primeira caminhada ocorreu em 1999, e percorreu vários pontos de

Cordisburgo relatados nas obras de Guimarães Rosa. Em 2000, a caminhada

ocorreu nos arredores da cidade, porem sem encenação dos contos, apenas com

a narração de trechos de histórias. Somente em 2001, o evento passou a reunir

paisagens literárias ao texto vivo.

Desde a sua criação e com as devidas mudanças e adaptações, as

caminhadas vêm ocorrendo, principalmente em Cordisburgo e nos municípios

vizinhos, mas também já foram realizadas em outras regiões de Minas Gerais,

como Alto Belo e Montes Claros e também em São Paulo, no Parque Ibirapuera e

no bairro de Pinheiros.

Na caminhada, muitos episódios aconteceram sem estarem previstos no

roteiro, mas os participantes os interpretavam como pertencentes ao evento,

constatando que a ficção e a realidade se completam na interpretação das

passagens dos livros de Guimarães Rosa. Neste caso, “o mundo ficcional se apóia

parasiticamente no mundo real, que toma por seu pano de fundo” (ECO, 2009,

p.99).

Ao analisar o que se passa durante as caminhadas, Brasinha afirma que:

“foi nesse ambiente que cenas inusitadas aconteceram, como se as passagens

dos livros de Guimarães Rosa tivessem brotado para a realidade, na percepção de

quem está lá”. Dentre as cenas inusitadas ocorridas durante uma caminhada, uma

delas mereceu destaque de Brasinha, quando “alguns bois, surgiram de repente e

ficaram perto das pessoas, parecendo querer saber o que estava acontecendo”.

Para o idealizador da caminhada eco-litarária, esse acontecimento “Só pode ser

coisa de Guimarães Rosa” e relaciona o ocorrido a um trecho do livro Sagarana,

Conversa entre os bois, que diz:

O homem é um bicho esmochado, que não devia haver. Nem convém espiar muito para o homem. É o único vulto que faz ficar zonzo, de se olhar muito. É comprido demais, para cima, e não cabe todo de uma vez dentro dos olhos da gente. (ROSA, 1964, p.331).

O projeto Caminhada Eco-literária é uma experiência de ação cultural de

repercussão regional e nacional, que faz parte da programação da Semana

Roseana. É muito procurado por grupos e escolas que visitam a cidade.

82

Figura 7 - Caminhada Eco-Literária

Fonte: Foto de Ronaldo Alves

As atividades educativas realizadas pelo Museu em parceria com a

Associação de Amigos fizeram com que a comunidade de Cordisburgo se

apropriasse do Museu, numa relação de pertencimento, em que os sentidos são

construídos e reconstruídos a todo o momento. Desde a sua criação em 1974, o

Museu Casa Guimarães Rosa já recebeu um público que ultrapassa o número de

300 mil visitantes. Este número expressivo proporcionou uma mudança na economia

da pequena cidade de Cordisburgo, que conta hoje com uma população de 9.000

habitantes.

Em entrevista concedida ao Jornal Diário do Comércio, em março de 2013, a

professora de Economia do Departamento de Geografia da Universidade Federal de

Minas Gerais, Diomira Pinto Faria, afirma que:

Os museus como equipamentos culturais, podem gerar uma série de impactos econômicos e culturais sobre suas regiões: o impacto de uma receita sobre a economia local, através dos gastos em bens e serviços culturais por consumidores locais e não locais; impactos dos gastos em setores correlatos, como restaurantes e serviços de transportes: efeitos de emprego, diretos e indiretos [...] (FARIA, 2013, p. 14).

83

Concordamos com a professora, quando ela afirma que

dentro do enfoque da nova museologia, o museu tem uma função social no território onde se localiza e oferece aos cidadãos o direito à memória, à história e à educação. Desta forma, o museu passa a ser um elemento de transformação social das comunidades onde está localizado e do seu entorno. (FARIA, 2013, p. 14).

Partindo deste pressuposto, podemos afirmar que o MCGR é um elemento

de transformação social que através do programa de ações educativas e culturais do

Museu e a parceria constante da Associação dos Amigos do MCGR reforçaram

ainda mais as relações entre a instituição e a comunidade local, resultando em

experiências contínuas de apropriação da comunidade local e das regiões

circunvizinhas da obra do escritor.

A análise do público do Museu Casa Guimarães Rosa revela que grande

parte de sua visitação é constituída por grupos escolares e turísticos que estão

visitando os atrativos culturais de Cordisburgo e região. Grupos que passam pelo

Museu, mas não permanecem nele durante um tempo significativo.

Em 2012 o Museu recebeu ao longo do ano 32.217 visitantes, um aumento de

27,5% comparado ao número de visitantes de 2011, que foi de 23.295. O número

de visitantes no museu é computado levando em consideração: visitas espontâneas,

visitas agendadas, eventos, oficinas e capacitações realizadas ao longo do ano.

De acordo com informações dos relatórios de 2011 e 201222, da

Superintendência de Museus e Artes Visuais, da Secretaria de Estado de Cultura de

Minas Gerais, em 2011 o MCGR recebeu 4.102 visitantes espontâneos (turistas,

estudiosos e comunidade de Cordisburgo) e 14.991 visitas agendadas (escolas do

Ensino fundamental, médio e de Graduação) e grupos variados (turistas, terceira

idade). O número de participantes que frequentou os eventos e oficinas promovidas

pelo Museu ao longo deste ano foi de 4.202.

Esses números tiveram um aumento significativo no decorrer do ano de 2012.

O Museu recebeu 4.678 visitas espontâneas e 14.991 visitas agendadas, e registrou

o total de 6.616 participantes em seus eventos e oficinas.

O Programa Educativo desenvolvido pelo Museu Casa Guimarães Rosa não

abandona o público que está de passagem pelo Museu, porém, concentra esforços

22

Os relatórios citados nesta etapa do trabalho fazem parte dos documentos da Diretoria de Desenvolvimento de Linguagens Museológicas da SUMAV, e foram disponibilizados para consulta e pesquisa.

84

em ações específicas para a comunidade.

Porque antes de ser um divulgador para os turistas, os museus devem atuar de forma contextualizada com os problemas locais e com as pessoas que formam a comunidade, de outra forma, terá como conseqüência o seu isolamento. Em sua localidade, os museus têm a capacidade de promover a identidade local por meio de ações que colocam em evidência aspectos relevantes de sua cultura e história, além de promover o diálogo, o reconhecimento e a solidariedade entre os diferentes grupos sociais

(BARBOSA; OLIVEIRA; TICLE, 2010, p. 24).

No caso do MCGR, a comunidade não só possui relação estrita com o Museu,

como constitui-se seu objeto. Concebendo paisagem cultural como relação dialética

e instável entre sociedade e natureza que formam uma só entidade no espaço

geográfico, tem-se a comunidade como seu objeto / acervo operacional. (SCHIER,

2003).

Considerado hoje um Museu de Território, suas exposições não se

restringem apenas às referências da vida privada do escritor - a casa da infância, o

pai, a mãe, a família, os objetos de uso pessoal. Balizadas pela nova requalificação

do Museu, cujo projeto foi inaugurado em 6 de julho de 2012, com a abertura da

nova exposição de longa duração do Museu Casa Guimarães, Rosa dos Ventos,

Rosa dos Tempos, as exposições centram-se agora na obra e na região,

materializadas, respectivamente, no texto em seu sentido literal (publicações,

primeiras edições, correspondências, manuscritos, dentre outras) e no patrimônio

natural e cultural da cidade de Cordisburgo e da região no seu entorno.

Nessa mostra, a vocação original do museu foi mantida, ou seja, a de ser um

museu-casa, apresentando móveis originais da residência e objetos pessoais do

escritor, de forma que público ainda verá as gravatas borboletas usadas por ele, seu

guarda-roupa, sua maleta de médico, suas condecorações, sua máquina de

escrever, seus móveis de escritório, entre outros objetos. O processo de

requalificação foi concebido com a intenção de tornar mais marcante a presença da

vida e da literatura de João Guimarães Rosa dentro de sua antiga residência.

Antes das mudanças, os visitantes passeavam pela casa em que o escritor

viveu com a família tendo alguns móveis de época e réplicas, bem como o escritório.

Com a nova museografia, essas características foram acrescidas de reprodução de

trechos de obras, texto crítico, com o fac-símile das correções que o autor fazia nos

textos e com a história editorial do livro. Também encontram-se em exposição as

85

principais edições dos livros, algumas muito raras como “Com o vaqueiro Mariano”,

que teve uma tiragem de 116 exemplares, todas numeradas e assinadas por Rosa.

O exemplar deste livro que está em exposição no museu é o de número 96.

Com a nova requalificação do Museu, a exposição de longa duração Rosa

dos Tempos, Rosa dos Ventos apresenta o museu com a seguinte configuração:

a) Sala de acolhimento - contendo a biografia de Guimarães Rosa;

b) O quarto em que João Guimarães Rosa dormia recebeu o nome de

“Cordisburgo”, cidade evocada por ele em várias de suas entrevistas e

pronunciamentos, como em seu discurso de posse na Academia Brasileira de

Letras. O visitante poderá conferir o carinho que o escritor mantinha pela

cidade natal, a partir de trechos do início e fim do discurso de posse na ABL,

proferido em 16 de novembro de 1967, com a voz do próprio Rosa;

c) A alcova, ou quarto escuro, foi dedicada ao livro “Sagarana”, onde estão

expostas as matrizes das gravuras criadas por Poty para ilustrar esta obra;

d) No quarto dos pais, toda a biografia e a cronologia da vida e da obra do

escritor podem ser conferidas em uma completa mostra de slides, além de

alguns de seus objetos pessoais;

e) A sala de jantar foi concebida com inspiração na obra “Corpo de Baile”;

f) A cozinha se transforma nos livros “Tutaméia” e “Primeiras Estórias”;

g) No depósito da venda, denominado Gabinete, o visitante terá acesso ao

mobiliário do escritório do apartamento do escritor no Rio de Janeiro. Nesse

espaço, foi montada também uma vitrine com todas as primeiras edições dos

livros e a edição mais significativa.

h) A venda de “Seu Fuló”, pai de Guimarães Rosa, recebe “Grande Sertão:

Veredas”, “Estas Histórias” e “Ave Palavra”.

86

Figura 8 - Sala Gabinete

Fonte: Foto de Ronaldo Alves

Figura 9 - A cozinha - “Tutaméia” e “Primeiras Estórias”

Fonte: Foto de Ronaldo Alves

87

Figura 10 - "Quarto da Vovó Chiquinha", Sala Corpo de Baile

Fonte: Foto de Ronaldo Alves

A exposição temporária “A boiada: 60 anos de travessia” traz fotos realizadas

pelo fotógrafo Eugênio Silva, e publicada na Revista Manchete, durante a famosa

viagem de Guimarães Rosa pelo sertão mineiro.

Figura 11 - Exposição temporária

Fonte: Foto de Ronaldo Alves

88

Em 1952, o fotógrafo registrou a viagem que o escritor fez acompanhando

oito vaqueiros e levando 300 cabeças de gado, durante 10 dias, pelos 240

quilômetros que separam Três Marias e Araçaí, na região central de Minas Gerais.

Nesta viagem, Guimarães Rosa trazia amarrada ao pescoço uma caderneta, onde

anotava tudo que via e ouvia - as conversas com os vaqueiros, as sensações, as

dificuldades e tudo que brotasse daquele mundo que ele reencontrava depois de

anos vivendo como diplomata no exterior. A viagem e as anotações provenientes

deste evento serviram como inspiração para as obras “Grande Sertão: veredas”,

“Corpo de Baile” e “Tutameia”.

O projeto Memória Viva do Sertão refez o trecho percorrido pelo escritor em

1952, indo mais além e entrando definitivamente no sertão de João Guimarães

Rosa. O projeto resultou em dois produtos: um documentário e no “Manto do

Vaqueiro”. O documentário “Conto o que vi, o que não vi, não conto”, com roteiro e

direção da professora e pesquisadora Beth Ziani, formada pela USP, e direção de

fotografia de Joacélio Batista, mostra a cultura sertaneja retratada nas obras de

Guimarães Rosa, assim como sua transformação ao longo dos anos.

Figura 12 - Manto do Vaqueiro

Fonte: Foto de Ronaldo Alves

89

O “Manto do Vaqueiro” foi concebido pela professora Beth Ziani e pela

figurinista Joana Salles, a partir da indumentária usada no cotidiano dos vaqueiros.

A vestimenta foi bordada durante uma ação educativa promovida pelo Museu Casa

Guimarães Rosa, por mais de 200 pessoas das comunidades de Cordisburgo, André

Quisé e Morro das Garças, que gravaram no tecido trechos da obra "Grande Sertão:

Veredas". No manto é possível ler trechos do livro, com anotações do escritor e um

mapa do trajeto da boiada feito em 1952. Como desdobramentos do manto original,

três réplicas, em dimensões menores, foram produzidas e serão enviadas para as

três cidades que estiveram envolvidas no processo e que imprimiram a cultura local

por cima do bordado.

O processo de requalificação do museu criou novos instrumentos para

trabalhar a obra de Guimarães Rosa com o público que o visita. Foi criado um

quebra-cabeça com o léxico do escritor que auxilia os estudantes no entendimento

das palavras usadas pelos vaqueiros, além daquelas inventadas pelo próprio

escritor. Um jogo da memória com palavras, expressões e significados retirados do

livro “Correspondências com o Tradutor Italiano”, em que João Guimarães Rosa e

Eduardo Bizzarri trocam cartas sobre a tradução da obra do escritor, e o quebra-

cabeça com desenhos feitos por Júlia Bianchi relacionados a trechos das obras de

Guimarães Rosa são algumas das peças criadas com o intuito de aproximar o

visitante cada vez mais do universo de Rosa.

Hoje o MCGR é reconhecido como um centro de atração para pesquisadores

nacionais e internacionais, interessados em conhecer o seu acervo museológico,

bem como o patrimônio cultural e ambiental disperso nas áreas urbana e rural do

município de Cordisburgo, paisagens que deixaram marcas inesquecíveis expressas

em cada página da obra do escritor.

O Museu Casa Guimarães Rosa pode ser visto como um exemplo de

equipamento cultural transformador. Por meio de suas exposições e de suas ações

educativas realizadas com a parceria da Associação de Amigos do Museu, a

comunidade de Cordisburgo e os diversos visitantes nacionais e estrangeiros que ali

transitam diariamente, se apropriam deste espaço, construindo e reconstruindo

sentidos, modificando o contexto cultural e econômico da comunidade.

O presente estudo tem o objetivo de investigar como se dá a construção do

imaginário do MCGR e os impactos dessa imagem na apropriação do espaço social.

Para isso é preciso entender o Museu Casa Guimarães Rosa enquanto espaço de

90

interação social e construção de sentidos; refletir sobre os processos de construção

e disputa de sentidos no contexto social e investigar qual a imagem construída deste

museu.

3.6 O Museu na contemporaneidade

No contexto contemporâneo, os museus deixaram de ser apenas lugares de

consagração da cultura, transformando-se num lugar de produção de

conhecimentos, significados e valores desempenhando também o papel de meio de

comunicação por meio do qual, segundo Sarah Fassa Benchetritt (2003), “múltiplas

vozes existentes no tempo e no espaço podem ser ouvidas” (BENCHETRITT, 2003,

p. 22). Os museus oferecem experiências que não estão disponíveis em outros

locais. Eles se diferem em tamanho, arquitetura, facilidades, exposições, coleções e

serviços. Desenvolvidos ao longo da história, por organizações da elite econômica e

cultural, sua função foi, primeiramente, a de guardar e cuidar da preservação de

seus acervos como testemunho para futuras gerações.

De acordo com Maria Andréa Dias de Andrade e Washington Dias Lessa

(2010), no início do século XX esse contexto histórico passou por alterações. As

propostas e programas dos museus foram se voltando para o público em geral,

destacando diretrizes didáticas no tratamento do acervo, ao mesmo tempo em que

foi se desenvolvendo maior clareza quanto às intenções educativas, visando

proporcionar experiências memoráveis (ANDRADE; LESSA, 2010, p.89).

Hoje em dia, embora as coleções continuem sendo o foco principal, pois se

colocam como a primordial razão de ser dos museus, estes procuram se guiar mais

ativamente pelos parâmetros contemporâneos da vida social. As mudanças nos

museus têm se efetivado por naturezas diversas incluindo, até mesmo, projetos

arquitetônicos que, por vezes, chamam mais atenção do que o próprio material

exposto.

Tecnologias modernas e novos conceitos museográficos mudaram os modos

de exposição das coleções. A abertura das galerias e as mostras de longa duração,

além de exposições temporárias do próprio acervo, bem como o intercâmbio com

outras instituições, a acessibilidade e serviços como cafeterias e lojas de souvenires

tem atraído novos públicos e dinamizado o espaço dos museus.

91

A utilização de novos meios digitais (computador, internet, áudio guia), assim

como a teatralização das exposições e a montagem de ambientes imersivos

demonstram que os museus interativos e multimídias correspondem às expectativas

dos mercados e aos anseios do público. Ao enfatizar uma inteligência múltipla e

diversificada, melhor equaciona o tratamento e a transmissão de informações

(MUCHACHO, 2010, p.154).

Com o desenvolvimento tecnológico das últimas décadas, o modo de

percepção da cultura se modificou. A internet se tornou uma ferramenta de

promoção, reconstrução e inovação da cultura.

As transformações ocorridas no campo da eletrônica, com a criação do

universo digital, também atingiram os museus. Vistas inicialmente como ferramentas

técnico-profissionais, no caso dos museus de ciências, passando da documentação

à interpretação de bens, geraram uma forma própria e específica de expressão e

manifestação, abrindo canais e oportunidades de interação. A instalação de espaços

multimídia e a implementação de exposições virtuais passaram a contribuir nos

processos de inclusão cultural e digital, colaborando para a democratização do

conhecimento, estabelecendo novos portais de acesso, principalmente em regiões

carentes.

A internet tornou-se um instrumento precioso no processo de comunicação

entre o museu e o seu público. A sua utilização como complemento do espaço físico

do museu possibilitou a transmissão da mensagem pretendida, além de captar a

atenção do visitante, possibilitando uma nova visão do objeto museológico.

Possibilitou também uma interação de forma globalizada, alterando a noção de

tempo e de espaço, afinal, na internet, o museu nunca fecha.

O contato com obras de arte e com exposições de artefatos que marcaram a

história, faz parte da formação intelectual de qualquer estudante. Incluídos na

programação das escolas, os passeios a museus e galerias de arte conquistaram

um aliado - a visita virtual. Museus de todo o mundo têm investido na exposição on-

line de seu acervo, promovendo a interatividade com os visitantes virtuais. Esse tipo

de visita é uma grande oportunidade para conhecer, sem sair de casa ou da escola,

a cultura de diversos povos e a história de milhões de anos.

92

O museu virtual23 é essencialmente um museu sem fronteiras, capaz de criar

um diálogo virtual com o visitante, proporcionando-lhe uma visão dinâmica,

multidisciplinar e um contato interativo com a coleção e com o espaço expositivo. Ao

tentar representar o real cria-se uma nova realidade, paralela e coexistente com a

primeira, que deve ser vista como uma nova visão, ou conjunto de novas visões,

sobre o museu tradicional (MUCHACHO, 2011, p. 46).

Neste caso, o visitante deixa de ser um sujeito passivo, que apenas reage à

mensagem transmitida, passando a ser incentivado a participar e interagir com o

espaço. De acordo com a experiência, gostos pessoais e nível cultural, cada

visitante pode criar o seu próprio percurso expositivo. A visita em um museu virtual é

um verdadeiro laboratório de experimentação, que se manifesta especificamente na

maneira como a tecnologia determina a própria forma de experiência do internauta.

Visitamos alguns museus, em seus endereços eletrônicos, e descrevemos a

seguir nossa experiência ao percorrer esses espaços virtuais.

No site do British Museum localizado em Londres, é oferecida uma série de

61 visitas guiadas. A partir de uma dessas visitas chega-se à Agatha Christie and

Archaeology, onde se encontram artefatos dos sítios arqueológicos escavados no

oriente médio, entre 1928 e 1958, pela escritora e seu marido. Ainda pelo site do

British Museum , o visitante terá acesso às galerias:

a) África;

b) Américas;

c) Antigo Egito;

d) Grécia Antiga;

e) Roma;

f) Ásia; e

g) Europa, onde estão postadas várias exposições disponíveis para visitação on-

line. (BRITISH , 2012).

23

Para Rute Muchacho (2010), só pode ser considerado museu virtual, aquele que tem suas ações museológicas ou parte delas trabalhadas num espaço virtual. Segundo a autora: “o museu virtual é um espaço virtual de mediação e de relação do patrimônio com os utilizadores. É um museu paralelo e complementar que privilegia a comunicação como forma de envolver e dar a conhecer determinado patrimônio”. (MUCHACHO, 2010, p. 35).

93

O site do Museu do Louvre, por sua vez, é muito dinâmico e interativo,

proporcionando ao visitante a possibilidade de ver, mesmo de longe, uma parte das

obras de seu rico acervo em exposição nas diversas galerias. No canto direito do

site, o visitante terá acesso a uma série de ferramentas que facilitam as pesquisas

às coleções e obras, além de um tour virtual por vários espaços do museu. Estão

disponíveis também, o acesso ao calendário de eventos e exposições, vídeos mais

acessados, compra de ingressos e visita à loja on-line. (MUSEU..., 2012)

O Museum of Fine Arts-Boston, localizado nos Estados Unidos da América

(EUA), possui um link online denominado Collections Database que oferece ao

visitante mais de 50 mil obras de grandes celebridades como Monet, Renoir,

Rembrandt, Sargent Copley, Van Gogh, Chinese, Millet, Picasso, Greek, dentre

outras. Ao clicar na obra escolhida, abre-se uma página com a foto e um texto com

informações com a ficha técnica da obra, o autor, a data e técnica com a qual foi

criada, entre outros detalhes. (MUSEUM…, 2012).

O Museum of London, em Londres, divide a seção Galleries em seis tópicos,

todos com textos curtos, de apenas um parágrafo. À direita da página, há um

dispositivo que permite um giro de 360º, proporcionando uma visão geral da

imagem. (MUSEUM…, 2013).

Hermitage Museum, em São Petersburgo-Rússia, proporciona ao visitante um

passeio ao museu via fotos. Basta clicar na página Virtual Visit, escolher entre o

térreo, o primeiro ou o segundo andar, ou ainda visitar do telhado. Surge, então, o

desenho/mapa esquematizado do pavimento escolhido, com números indicando as

obras. Basta clicar no número desejado para ir à página com o conteúdo escolhido.

O Hermitage também tem um link para a Digital Collection, que mostra obras

selecionadas a partir do título ou do nome do autor, e que podem ser visualizadas

em tamanhos menores ou maiores. (HERMITAGE..., 2012).

O Van Gogh Museum, em Amsterdã, guarda as obras do genial pintor

holandês, dentre outras, e tem o recurso mais sofisticado dos museus a que tivemos

acesso. A interface do programa, em inglês, oferece um mapa 3D do site, com a

opção de exibir em tela inteira, além do visitante poder fotografar o quadro que

desejar e enviá-la por e-mail. Bem à direita, há uma planta do museu, com as salas

assinaladas por números. Para movimentar-se dentro do museu, é preciso utilizar as

setas do teclado. É possível aproximar ao máximo de qualquer quadro e, com a

ferramenta disponível, percorrer o quadro, ampliá-lo e ver detalhes. São seis salas

94

para visitar, quadro a quadro. (VAN GOGH..., 2012).

O desafio dos museus que começam a se lançar no ciberespaço é justamente

divulgar seus acervos da forma mais adequada possível. O projeto Era Virtual

iniciou suas atividades em 2008 com o desenvolvimento de projetos de visitação

virtual a diversas instituições culturais de todo o país, com o objetivo de promover

ampla divulgação e promoção dos museus brasileiros e de seus acervos ao maior

número de pessoas.

Em constante mutação, a plataforma interativa de visitação virtual aos

museus, desenvolvida pela Era Virtual lançada oficialmente no dia 26 de março de

2010, tem como principal objetivo ampliar consideravelmente o alcance sociocultural

das exposições. A estratégia desenvolvida pelos idealizadores do projeto baseia-se

em dois pilares: modernizar a linguagem com a proposta de potencializar a

comunicação com as crianças e jovens e democratizar o acesso utilizando-se da

internet e da distribuição gratuita de dvd-roms para Escolas Públicas de ensino

fundamental e médio. (ERA VIRTUAL..., 2012).

O site do Era Virtual permite ao internauta visitar os museus brasileiros por

meio de sequências de fotos em 360º e áudio em quatro idiomas: português, inglês,

francês e espanhol. Atualmente, podem ser visitados dezesseis museus, espalhados

pelos Estados:

a) Goiás (Casa de Cora Coralina);

b) Minas Gerais (Museu de Artes e Ofícios, em Belo Horizonte;

c) Museu do Oratório, em Ouro Preto;

d) Casa Fiat de Cultura, em Nova Lima;

e) Museu Casa Guignard, em Ouro Preto;

f) Museu Casa Guimarães Rosa, em Cordisburgo;

g) Museu do Diamante, em Ouro Preto;

h) Museus Histórico Abílio Barreto, em Belo Horizonte;

i) Memorial Tancredo Neves, em - Juiz de Fora??;

j) Museu da Inconfidência, em Ouro Preto);

k) Rio de Janeiro (Museu da República, Casa da Ciência, Casa de Oswaldo

Cruz (COC)/ Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ), Biomas do Brasil); e

l) em Santa Catarina (Museu Nacional do Mar, Museu Victor Meirelles).

95

Em entrevista concedida ao Jornal Estado de Minas, em 2010, Carla Sardin,

coordenadora e produtora do Projeto Era Virtual, afirmou que o site recebe também

visitas de turistas, que acessam a página para programar viagens e saber que locais

irão visitar, mesmo antes de chegar ao seu destino. “Muita gente acaba descobrindo

museus que nem estavam no roteiro inicial da viagem e isso é bom para acabar com

o estigma de que todos os museus são iguais”. (SARDIN, 2010, p. 3).

Visitamos o Museu Casa Guimarães Rosa, objeto de estudo desta pesquisa,

pelo site do Era Virtual, e constatamos que o acesso é muito simples. Para dar inicio

ao tour pelo MCGR, basta clicar na imagem da fachada do Museu, localizada no

canto esquerdo do site. O visitante é então recepcionado por Fábio Barbosa,

funcionário do Museu e responsável pela coordenação dos Miguilins. No site, a

visita aos espaços do MCGR é guiada por jovens que integram o Grupo de

Contadores de Histórias Miguilins, guias mirins do Museu, que no final do tour

virtual, conduzem o visitante para o jardim da casa e narram trechos da obra de

Guimarães Rosa. Na barra de rolagem à esquerda da tela, é possível também ter

acesso e conhecer um pouco mais, sobre espaços, ruas e locais turísticos da cidade

de Cordisburgo.

A resistência de algumas instituições ao ambiente virtual foi uma das maiores

dificuldades enfrentadas pelo Projeto Era Virtual, pois “muitas delas ainda pensam

no acervo como uma propriedade e temem que o público pare de visitar os museus”,

(SARDIN, 2010, p. 3). No entanto, a diretora da empresa revela, que o que acontece

é o oposto: com a divulgação online, as pessoas se tornam interessadas e

estimuladas a saírem de casa. Um exemplo disso é o Museu Casa Guimarães Rosa,

que recebeu um número recorde de visitas, depois que foi ao ar no site do Era

Virtual, em março de 2010. Carla Sardin (2010) destaca o que considera mais

importante: “A visita é virtual, mas o visitante é real”.

O Art Projet é um serviço do Google que permite a qualquer internauta visitar

museus em qualquer parte do mundo, através de uma ferramenta similar ao Street

View - recurso do Google Maps, em que é possível caminhar virtualmente pelas ruas

de uma cidade. Em sua primeira fase, lançada em fevereiro de 2012, 17 museus

foram incluídos no Art Project:

a) The Metropolitan Museum of Art e MoMA, em Nova York;

b) The State Hermitage Museum, em São Petersburgo;

96

c) Tate Britain e The National Gallery, em Londres;

d) Museo Reina Sofia, em Madrí;

e) Uffizi Gallery, em Florença; e

f) Van Gogh Museum, em Amsterdã. (MAGENTA, 2012).

Hoje, o projeto conta com 151 museus, com cerca de 30.000 obras

digitalizadas. Entre eles estão ainda o Museu D'Orsay, de Paris (França), o Museu

da Acrópole, em Atenas (Grécia) e o museu de arte islâmica do Qatar.

No Brasil, a Pinacoteca do Estado de São Paulo e o MAM-SP fazem parte

deste projeto. A Pinacoteca tem 98 obras disponibilizadas no Google Art Project e

o MAM-SP, 89 obras. Cada instituição escolheu uma obra a ser digitalizada em

altíssima resolução: o painel dos irmãos Otávio e Gustavo Pandolfo, denominados

Os Gêmeos, foi a obra escolhida pelo Museu de Arte Moderna de São Paulo, e o

quadro Saudade, de Almeida Júnior, foi a obra escolhida pela Pinacoteca. Na

América Latina, dez museus estão no projeto, dentre eles o Museu Nacional de

Antropologia, do México, e o Museu Botero, da Colômbia. (MAGENTA, 2012).

Em entrevista concedida à Folha de São Paulo, em 2012, Alessandro

Germano, gerente de novos negócios do Google Brasil disse que "O objetivo é

tornar a arte mais universalmente acessível. Poucas pessoas vão ter o privilégio de

viajar pelo mundo e conhecer esses museus". (GERMANO apud MAGENTA,

2012).

O museu que se abre para o novo, se vê cada vez mais permeado pelo

humano, e permeia-o também. Com as novas tecnologias e a disseminação da

informação digital, nas mais diversas formas, o museu virtual é o modelo

contemporâneo de um Museu que se instalou na modernidade, cuja abertura agora

já não tem mais limites.

3.6.1 Museus enquanto espaços de interação e comunicação

A museologia tem traçado ao longo de sua história diferentes compreensões

sobre a sua função, sobre as possibilidades de aplicação de seus saberes, e sobre

sua importância como ferramenta de disseminação da memória social através de

representações e práticas culturais (BORGES, 2011, p. 37). Em meio às diversas

características que (re)criam o sentido dos museus, Mário de Souza Chagas (1998)

97

destaca três funções básicas que estão sempre presentes nestas instituições, pois

são alicerces para seu desenvolvimento enquanto instrumento social: preservar,

investigar e comunicar (CHAGAS, 1998, p. 177-199).

Para Luiz Borges (2011) no entanto, cada uma dessas três características

possui uma importância fundamental, pois é a partir de seus significados que os

museus definem sua identidade. No percurso da história dos museus, diferentes

debates e questionamentos vêm sendo realizados. Sendo a comunicação em

museus um dos grandes destaques, pois essas instituições se transformaram em um

importante difusor de narrativas das coisas do homem e do mundo, propiciando a

significação/resignificação comigo, com o outro e com a realidade que o cerca

(BORGES, 2011, p. 58).

O museu enquanto espaço de interação social procura revitalizar a sua

capacidade de diálogo, assumindo-se como um meio de ligação entre o passado e o

presente e incorporando as mais diversas formas e instrumentos para implementar a

comunicação com a sociedade. Isso pode ser observado através das exposições

(temporárias e de longa duração), dos programas educativos, da pesquisa e

produção científica, das publicações e das atividades de lazer cultural,

desenvolvidos por estas instituições.

Para Zita Possamai (2001) o museu contemporâneo seleciona os “vestígios

do passado”, organizando discursos para promover e veicular suas representações

sobre o passado, o presente e o que deverá permanecer para o devir. Segundo o

pesquisador, “sua ação básica desenrola-se em torno da seleção/conservação de

um dado conjunto de documentos, objetos, artefatos ou imagens, e na comunicação

dos conteúdos que deseja apresentar” (POSSAMAI, 2001, p.10).

O museu não é uma estrutura estática, é um processo dinâmico, um espaço

discursivo e interpretativo que, segundo Maria Andréa Dias de Andrade e

Washington Dias Lessa (2010), “está em permanente relação com os atores sociais”

(ANDRADE; LESSA, 2010, p.89).

Sendo assim, observa-se uma re-significação nos museus, na qual as

premissas de conservação e preservação cedem espaço para a comunicação, onde

o objeto museal, além de tombado e salvaguardado, deve ser explorado,

relacionado e interpretado.

Para Manuel Castells (2008), esse processo acompanha as transformações

que provocaram a configuração da sociedade em rede. Segundo o autor “os museus

98

como conectores culturais de espaço e tempo” potencializam as diferentes

alternativas de conexões temporais e espaciais, fato que elucida a criação dos

variados tipos de museus: virtuais, itinerantes, comunitários, museu de território,

ecomuseus, museus casa, dentre outros. (CATELLS, 2008, p. 25-30)

Tal multiplicidade demonstra a potencialidade dos museus como instrumentos

que trabalham para a realização da harmonia social, através da sua capacidade de

realizar diferentes conexões, trabalhando a pluralidade expressada na sociedade

contemporânea.

No momento em que o mundo, marcado pelo signo da globalização, por meio

de novas tecnologias, passa a demandar novas formas de relacionamento com a

diversidade, valorizando a herança, a memória e a multiplicidade de pessoas e

culturas, os museus vêm assumindo uma dimensão social cada vez mais importante.

Segundo Luiz Borges (2011), isso se dá em razão de seu potencial de

legitimação de uma determinada história ou de um determinado grupo social, por

seu caráter de reduto vivo e atuante, onde as vivências sociais se encontram, se

chocam, legitimando o heterogêneo, o híbrido e até mesmo o irreconciliável. De

acordo com o autor, “um dos aspectos que conferem identidade aos Museus é a sua

linguagem, essencialmente simbólica” (BORGES, 2011, p. 55-57).

Por sua vez, Vânia Carvalho Rola Santos (2005) afirma que o museu é,

portanto “uma poderosa construção simbólica, que se constitui e institui a partir de

percepções identitárias, utilizando os jogos de memória e expressando-se sob as

mais diferentes formas, no tempo e no espaço” (SANTOS, 2005, p.15).

Partindo-se deste pressuposto, podemos afirmar que, mais do que uma

representação, o Museu será, portanto, criador de sentidos: que circulam essas

sensações, atos e experiências. E é desses sentidos que o Museu constrói o seu

discurso, veiculado para a sociedade, essencialmente através das exposições e

ações educativas direcionadas para a comunidade e seu entorno e também para os

visitantes que circulam neste espaço.

A comunicação torna-o protagonista da contemporaneidade, confirmando a

sua legitimidade na posse do patrimônio que recebeu do passado e se prepara para

legar ao futuro. Por meio da dinamização dos seus acervos, os museus estabelecem

canais de comunicação, com seus diversos grupos de relacionamentos

(comunidade, visitantes, imprensa, governo, dentre outros), sejam pela realização de

exposições, ou pela realização de ações educativas, oferecem instrumentos para

99

informar, estimular ideias e reflexões. Cada museu constrói uma identidade ou

unidade derivada de suas funções ou missão construídas de forma relacional. Para

Luiz Borges (2011), os museus, enquanto instituições, modelos de comportamento,

“sustentam normas sociais, mediam uma forma de interação de seus grupos de

relacionamento com sistemas mais abrangentes dentro dos quais se situam,

possuindo de forma constitutiva uma dimensão comunicacional” (BORGES, 2011,

p.44-45).

3.6.2 Experiência e entretenimento nos museus

Os museus são capazes de gerar experiências inesquecíveis nas pessoas

que os visitam, seja pela beleza constituída por suas formas arquitetônicas ou a

partir dos aspectos psicológicos, cognitivos, sensoriais, perceptivos e de

interatividade com o ambiente.

Não há como medir ou explicar o que determina, nos indivíduos, o poder de

atratividade dos museus, devido à complexidade dos fatores que influenciam nas

decisões de uma pessoa, assim como em sua definição de gosto e beleza. Os

aspectos psicológicos e cognitivos são moldados a partir de diversas interferências

culturais constituídas em meio familiar e social, que sofrem a ação de valores

imputados pelo ambiente em que vivem.

Para Mário de Souza Chagas (2005) a percepção está ligada aos

“acontecimentos que ocorrem em consequência da observação, participação em

fatos reais e imaginários” (CHAGAS, 2005, p.10). Os aspectos sensoriais são

estimulados pelo contato e pela interação do sujeito com o objeto, e também com a

arquitetura. É possível investigar os diferentes sentidos do corpo humano mediante

um objeto de arte, por meio de cores, materiais, luzes e texturas capazes de

provocar todos os sentidos do nosso corpo.

A respeito da interatividade, proporcionada pelo espaço do museu, ressalta-

se o entretenimento. O lazer, entendido como tempo destinado à fuga das

responsabilidades do cotidiano, momento de diversão, ócio, descanso e estímulo ao

prazer, é desfrutado no ambiente museológico. A contemplação pelo indivíduo

perante a beleza de seus espaços é perceptível na utilização de um banco, dos

jardins, de restaurantes e cafés.

100

A imaginação é capaz não só de transportar o indivíduo à outra realidade,

segundo Oliveira (2001) como “reconstrói o mundo e a relação do ser humano com

ele”, o que possibilita um contato mais profundo com o ambiente (OLIVEIRA, 2001,

p.205).

Pode ser também o responsável pela criação de expectativas, que

implicariam nos fatores motivacionais em relação aos locais visitados e impactariam

no tipo de experiência proporcionada.

Na medida em que o sujeito cria expectativas, idealiza um local e espera

encontrar o que deseja e, se a imagem do real não estiver de acordo com a

imaginada, ocorrerá uma quebra de sentimentos, uma desilusão, que tem reflexos

diretos na experiência e na imagem que o museu, como espaço, apresenta. Se, ao

chegar a um lugar que não corresponda às suas expectativas, ele pode não mais

voltar ao museu e também não indicá-lo a ninguém.

A expressão estética é comum nas criações humanas, principalmente na

arquitetura. A arquitetura é arte, constituída pelos adornos, esculturas e materiais

que compõem o espaço do museu. Os museus são conhecidos como um dos

principais atrativos turísticos, presentes nos mais variados roteiros. Muitas vezes, a

razão da visita não é a busca pelo que ele expõe e, sim, pelo local, pois os edifícios

são, também, importantes obras de arte. A atratividade vem de sua arquitetura,

história, o que ele representa como signo à sociedade.

Vale destacar, nesse momento, a importância do acervo dos museus. O

acervo continua exercendo seu importante papel nas instituições museológicas. No

entanto, a arquitetura possibilita outra forma de atratividade, que as recentes

instituições utilizam na valorização de seus projetos para torná-las mais atraentes ao

público. Muitos museus, como o Frick Collection não exercem atratividade por sua

arquitetura e, sim, pelo seu acervo, com valores inestimáveis à sociedade. Dentre

alguns artistas que têm obras nessa coleção estão: Rembrandt van Rijn, Giovanni

Bellini, El Greco, Frans Hals, Johannes Vermeer, Francois Boucher. (THE FRICK…,

2013).

Mesmo não tendo projetos arquitetônicos singulares, alguns museus

apresentam estilos artísticos e estéticos em seus edifícios, tanto no exterior quando

no seu interior, o que instiga também a experiência estética. Ao considerar o

patrimônio urbano como artefato cognitivo, tem-se na arquitetura dos museus a fonte

para a criação de uma imagem turística, assumindo complexas e curiosas funções

101

(RUFINONI, 2010, p.7).

Na forma de edifícios, ícones, tendências observadas na arquitetura dos museus contemporâneos, essas novas construções assumem um duplo papel: por um lado propõe imagens-símbolo” para a cidade e, por outro, se inserem no tecido urbano, restaurando áreas degradadas (RUFINONI, 2010, p. 7).

O Museu de Arte Contemporânea (MAC), em Niterói, e o Museu Guggenheim,

em Bilbao, Espanha, são exemplos bem peculiares de arquitetura dos novos

museus usados pelo turismo como atrativos e que se tornaram ícones urbanos.

Ambos possuem características em comum, mas merece destaque a singularidade

da arquitetura. Além de os dois serem assinados por arquitetos renomados,

influenciam diretamente no turismo da região inserida e também na criação de uma

imagem junto à comunidade a qual pertencem e ao público que os visitam.

O Museu de Arte Contemporânea de Niterói, do arquiteto Oscar Niemeyer,

por exemplo, foi uma iniciativa da Prefeitura local para criar uma nova imagem para

a cidade, inserindo-o no roteiro turístico. No início de sua construção, a população

criticava a função do museu e sua figura. Hoje, segundo Bruno César Brulon Soares

(2008) “o prédio do MAC é visto como o ícone de uma nova Niterói, agora

considerada muito mais moderna, arrojada, cosmopolita, bonita e, portanto, mais

orgulhosa” (SOARES, 2008, p.97).

O Museu Guggenheim Bilbao (Espanha), por sua vez, foi projetado pelo

arquiteto americano Frank Gehry, colocou a cidade espanhola no roteiro turístico

mundial a partir de uma renovação urbana que propiciou a criação de um ícone para

seus habitantes (SOARES, 2008, p.95).

Por meio de sua arquitetura temática, o museu possibilitou a criação de uma

nova imagem urbana, o que passou a valorizar do lugar. O Museu Guggenheim

Bilbao possibilitou a notoriedade turística através de seu projeto arquitetônico,

conhecido como “flor metálica”. Sobre o museu Guggenheim Bilbao, Mariana Fialho

Bonates (2009), afirma que “sua atribuição estética promove e estimula a

curiosidade de turistas intensificando o número de visitantes ao local” (BONANTES,

2009, p.5).

Constatamos durante a pesquisa, que ocorreu uma mudança significativa na

postura dos cidadãos destas duas cidades, como consequência da criação destes

museus. Os moradores destas cidades ganharam autoestima e as prefeituras

102

passaram a adotar os museus como marca das suas cidades.

Não precisamos ir muito longe para presenciarmos as mudanças ocorridas

nos museus nos últimos anos. O Circuito Cultural Praça da Liberdade (CCPL), em

Belo Horizonte, e o Instituto Inhotim, em Brumadinho, são exemplos de instituições

que se enquadram dentro desta nova realidade dos museus contemporâneos.

O CCPL foi definido como um dos projetos estruturadores do Plano

Plurianual de Ação Governamental, em 2003, pelo então governador de Minas

Gerais, Aécio Neves. Implantado por meio da Secretaria de Estado de Cultura, e

desenvolvido em parceria com a iniciativa privada e com entidades públicas, o

Circuito Cultural já oferece à população cultura, arte e educação, tecnologia,

conhecimento e cidadania. (CIRCUITO CULTURAL DA PRAÇA DA LIBERDADE,

2013).

Os antigos prédios públicos existentes no entorno da Praça da Liberdade,

foram transformados em espaços interativos que buscam espelhar a diversidade, no

maior conjunto integrado de cultura do Brasil: acervos históricos, artísticos e

temáticos; centros culturais interativos; biblioteca e espaços para oficinas, cursos e

ateliês abertos; além de planetário, cafeterias, restaurantes e lojas.

Atualmente, dez espaços estão em pleno funcionamento:

a) Memorial Minas Gerais -Vale;

b) Museu das Minas e do Metal;

c) Espaço UFMG do Conhecimento;

d) Arquivo Público Mineiro;

e) Biblioteca Pública Estadual Luiz de Bessa;

f) Museu Mineiro;

g) Centro de Arte Popular-Cemig;

h) Centro Cultural Banco do Brasil e o Palácio da Liberdade.

Para 2014 estão previstas as inaugurações de novos museus:

a) Museu do Automóvel;

b) Inhotim Escola;

c) Casa Fiat de Cultura; e

103

d) o Centro de Referência da Economia Criativa Sebrae / MG.

O Circuito Cultural Praça da Liberdade já é reconhecido como o maior centro de

cultura, lazer e entretenimento do país. Em 2012, aproximadamente 700 mil pessoas

visitaram o complexo de museus existentes. Só o programa educativo, atendeu a

mais de 75 mil alunos da rede pública de ensino, além de associações e entidades

filantrópicas. O Governador do Estado de Minas Gerais, Antônio Anastasia, em

solenidade realizada no Palácio da Liberdade, em novembro de 2012, afirmou que o

CCPL é hoje “um corredor cultural que tem na arte, cultura e cidadania uma janela

entre o Estado de Minas Gerais e o mundo”. (CIRCUITO CULTURAL DA PRAÇA DA

LIBERDADE, 2012).

Outro espaço conhecido mundialmente é Inhotim, um museu a céu aberto,

localizado na cidade de Brumadinho, interior do Estado de Minas Gerais. O Instituto

Inhotim foi idealizado pelo empresário Bernardo Paz, em meados da década de

1980. Em 1984, o espaço recebe a visita de Roberto Burle Marx. Paisagista

renomado nacional e internacionalmente, Burle Marx apresentou algumas sugestões

e colaborações para os jardins (INHOTIM, 2012).. Desde então, o projeto

paisagístico cresceu e passou por várias modificações.

De acordo com o site oficial da Instituição, a propriedade particular foi se

transformando com o tempo. Começava a nascer um grande espaço cultural, com a

construção das primeiras edificações destinadas a receber obras de arte

contemporânea. Ganhava vida também o rico acervo botânico, consolidado a partir

de 2005 com o resgate e a introdução de coleções botânicas de diferentes partes do

Brasil e com foco nas espécies nativas. No dia 5 de abril de 2010, os jardins do

Instituto Inhotim recebem o título de Jardim Botânico, concedido pela Comissão

Nacional de Jardins Botânico (CNJB).

Um museu deve estar comprometido e envolvido com a experiência. Não são

os aparatos interativos e tecnológicos que fazem do museu uma experiência

humana. Estes apenas tornam evidente o que já existia, pois a experiência sempre

esteve ali, fosse ela semiótica, filosófica, contemplativa, científica ou inconsciente.

O que sempre esteve ao centro de qualquer concepção do Museu é a

relação, como defende Tereza Cristina Scheiner (1998). Relação entre o humano e

as coisas do mundo; entre ele e seus semelhantes; entre ele e seu inconsciente, no

diálogo mais profundo que o museu pode promover. (SCHEINER, 1998, p.35).

104

4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

O homem atua na natureza não somente em relação às necessidades de

sobrevivência, mas, principalmente, pela incorporação de experiências e

conhecimentos produzidos e transmitidos de geração a geração, através da

educação e cultura.

O homem imprime sua marca na natureza, tornando-a humanizada. E à

medida que a domina e transforma, também amplia ou desenvolve suas próprias

necessidades. Necessita fazer-se ouvir e busca desenvolver suas teorias e técnicas

e, com base em seus estudos e pesquisas, busca provar o que dá sentido à

existência, margeado pelo mundo, pela fé e pela ciência buscando o embasamento

para provar o que pensa.

Aristóteles afirma que o conhecimento só se dá de maneira absoluta quando

sabemos qual a causa que produziu o fenômeno e o motivo. Assim, o homem passa

a pesquisar, experimentar e desenvolver teorias que provem um determinado objeto

de estudo, que não se afirma em hipóteses, mas sim na certeza advinda do estudo e

da pesquisa. (ARISTÓTELES apud MELLO, 2014).

Este capítulo tem por objetivo descrever os procedimentos metodológicos e

fases da pesquisa realizada, na busca de se compreender as construções de

sentido por parte dos visitantes do Museu Casa Guimarães Rosa.

No desenvolvimento da pesquisa, foram adotados procedimentos

metodológicos no intuito de garantir organicidade e consistência científica às suas

diversas fases de produção. Entende-se que, a partir do mesmo, é possível traçar

perspectivas acadêmicas e profissionais e as possíveis construções de sentido de

determinados visitantes do Museu Casa Guimarães Rosa.

4.1 Caracterização da pesquisa: tipo, estratégia e método

A pesquisa, segundo João José Saraiva Fonseca (2002), possibilita uma

aproximação e um entendimento da realidade a investigar, como um processo

permanentemente inacabado. Para o autor, a realidade se processa através das

aproximações sucessivas da realidade, fornecendo subsídios para uma intervenção

do real. (FONSECA, 2002, p.31).

105

A pesquisa aqui proposta é do tipo descritiva-exploratória. A partir da técnica

de estudo de caso, a pesquisa Descritiva propõe-se a utilizar procedimentos de

análise qualitativa.

O estudo de caso é um método de pesquisa que parte do pressuposto de que

se pode adquirir conhecimento sobre uma determinada realidade a partir da

exploração de um único caso (BECKER, 1993). Esta realidade aqui explorada é a do

Museu Casa Guimarães Rosa e seu contexto de relação e interação com os

visitantes da instituição.

Para Jorge Duarte (2005), o estudo de caso deve ser utilizado quando o

objeto de análise está situado em um contexto atual

o estudo de caso deve ter preferência quando se pretende examinar eventos contemporâneos, em situações onde não se podem manipular comportamentos relevantes e é possível empregar duas fontes de evidência [...], que são a observação direta e série sistemática de entrevistas (DUARTE, 2005, p. 219).

Na visão de João José Saraiva Fonseca (2002) o estudo de caso pode

decorrer:

[...] de acordo com uma perspectiva interpretativa, que procura compreender como é o mundo do ponto de vista dos participantes, ou uma perspectiva pragmática, que visa simplesmente apresentar uma perspectiva global, tanto quanto possível, completa e coerente, ao objeto de estudo do ponto de vista do investigador. (FONSECA, 2002, p.33).

É uma metodologia capaz de lidar com uma grande variedade de evidências

como artefatos, documentos, entrevistas e observações. Dentro desta perspectiva,

essas técnicas foram utilizadas para uma análise da realidade proposta, já que o

estudo de caso representa um modo de investigação de um objeto empírico que

segue um conjunto de procedimentos pré-definidos.

A partir do estudo de caso, é possível fazer a análise de uma realidade social

específica para transpô-la para outras realidades de estudo da comunicação, em um

contexto específico, neste caso o Museu Casa Guimarães Rosa, já que um dos

objetivos do método é a descoberta de novas relações entre elementos. Isso garante

a relevância da pesquisa para o campo da comunicação, já que no método “o

interesse primeiro não é pelo caso em si, mas pelo que ele sugere a respeito do

todo” (DUARTE, 2005, p. 219).

106

Além da aplicação teórica, questões de ordem prática também foram

levantadas para a escolha desta metodologia de análise. No caso específico desta

pesquisa, o uso do estudo de caso é o mais apropriado à natureza do problema,

cuja proposta é a observação e a compreensão de como se dá a construção do

imaginário do Museu Casa Guimarães Rosa e os impactos dessa imagem na

apropriação do espaço social.

Para atingir tais objetivos, o método qualitativo se faz pertinente, já que a

pesquisa proposta pretendeu estudar os fenômenos em seu ambiente natural,

tentando dar-lhes sentido ou interpretá-los a partir de significados atribuídos a eles.

A abordagem qualitativa é um tipo de pesquisa que enfatiza a natureza da realidade

socialmente construída. Dito de outra forma, “o pesquisador procura respostas para

questões que venham realçar aspectos como a criação da experiência social e a

interpretação dos significados que lhe são dados” (FONSECA, 2002, p.35).

A pesquisa qualitativa tem como foco de interesse a obtenção de dados

descritivos mediante contato direto e interativo do pesquisador com o seu objeto de

estudo. O método qualitativo tem seu foco na interpretação dos fenômenos

estudados e, por isso, de modo frequente, “o pesquisador procura entender os

fenômenos a partir da perspectiva dos participantes da situação estudada” (NEVES,

1996, p.55).

Assim sendo, o ambiente natural como fonte direta de dados e o pesquisador

como instrumento fundamental, o caráter descritivo, o significado que as pessoas

dão às coisas e à vida como preocupação do investigador e o enfoque dedutivo são

as características principais da pesquisa qualitativa. É uma abordagem que envolve

o uso de diversos materiais empíricos como estudo de caso, pesquisa documental,

entrevista, observação, entre outros.

Segundo José Luis Neves (1996), a pesquisa do tipo qualitativa:

Compreende um conjunto de diferentes técnicas interpretativas que visam a descrever e decodificar os componentes de um sistema complexo de significados. Tem por objetivo traduzir e expressar o sentido dos fenômenos do mundo social; trata-se de reduzir a distância entre o indicador e indicado, entre teoria e dados, entre contexto e ação (NEVES, 1996, p. 45).

É um método que faz do pesquisador um interpretador da realidade e tem sua

relevância em situações em que o entendimento do contexto social e cultural é um

elemento importante para a pesquisa. É um tipo de pesquisa em que se “deve

107

aprender a observar, registrar e analisar interações reais entre pessoas e entre

pessoas e sistemas” (NEVES, 1996, p.55).

Nesse sentido é que a utilização da abordagem do tipo qualitativa para a

pesquisa aqui proposta justifica-se ao considerarmos a aplicação e as

características deste trabalho, que se propôs a perceber como se dá a construção

do imaginário do Museu Casa Guimarães Rosa e os impactos na apropriação do

espaço social. Por meio de entrevistas individuais realizadas com os visitantes

espontâneos do Museu, pretendeu-se buscar informações, percepções e

experiências desse público, que possibilitaram a construção de sentidos sobre o

MCGR.

4.2 Instrumento de coleta de dados

O estudo de caso prevê algumas fases da pesquisa necessárias para se obter

dados e informações essenciais para a sistematização das informações e análise de

resultados. A etapa de coleta de dados é uma destas etapas de grande relevância

para a técnica proposta.

Jorge Duarte (2005) considera que, para a etapa de coleta de dados e

evidências num estudo de caso, seis fontes distintas de dados devem ser

consideradas, a saber: documentos, registros em arquivos, entrevistas, observação

direta, observação participante e artefatos físicos. Cada uma destas fontes exige do

pesquisador habilidades e procedimentos metodológicos distintos. (DUARTE, 2005,

p.55).

Dentre os procedimentos metodológicos adotados, a pesquisa bibliográfica e

a pesquisa documental foram fundamentais durante todo o desenvolvimento deste

trabalho. A pesquisa bibliográfica é feita a partir do:

[...] levantamento de referências teóricas já analisadas, e publicadas por meios escritos e eletrônicos como livros, artigos científicos, páginas de web e sites. Qualquer trabalho científico inicia-se com uma pesquisa bibliográfica, que permite ao pesquisador conhecer o que já se estudou sobre o assunto. (FONSECA, 2002, p. 32).

Segundo João José Saraiva Fonseca (2002) a pesquisa documental, por sua

vez “[...] recorre a fontes mais diversificadas e dispersas, sem tratamento analítico,

tais como: tabelas, estatísticas, jornais, revistas, relatórios, documentos, oficiais,

108

pinturas, tapeçarias, vídeos de televisão, etc.”. (FONSECA, 2002, p. 32).

A pesquisa documental foi feita a partir da coleta de informações realizadas

em registros em arquivos, levantamento em documentos oficiais, relatórios, cartas,

reportagens em jornais desde a inauguração do Museu até a presente data. A coleta

dos dados foi realizada na Superintendência de Museus e Artes Visuais, órgão da

Secretaria de Estado de Cultura, e também na sede do Museu Casa Guimarães

Rosa, em Cordisburgo,que registraram todo o processo de criação, tombamento e

reformas ocorridas deste a sua criação do Museu em 1974. De acordo com Jorge

Duarte (2005) “o uso de informações documentais é essencial para confirmar e

valorizar as evidências encontradas em outras fontes, como conferir nomes, datas,

fazer inferências, confrontar dados contraditórios” (DUARTE, 2005, p. 230).

4.3 A coleta de dados

Além da pesquisa bibliografia e documental, foi realizada pesquisa qualitativa,

procedimento metodológico fundamental para a realização deste trabalho. Para

Maria Cecília de Souza Minayo (2001), “a pesquisa qualitativa trabalha com o

“universo de significados, motivos, aspirações e valores dos processos e dos

fenômenos que não podem ser reduzidos a operacionalização de variáveis”.

(MINAYO, 2001, p. 14).

O trabalho de campo por sua vez, foi dividido em duas etapas: observação e

realização de entrevistas por meio da aplicação de questionário. Durante a etapa de

observação, que aconteceu durante quatro sábados do mês de outubro de 2012, a

pesquisadora pode conviver com a comunidade de Cordisburgo e vivenciar a

relação que a população local tem com o Museu Casa Guimarães Rosa.

Durante o período de observação no Museu, constatamos que a instituição

recebe diariamente três categorias de visitantes: pessoas da comunidade de

Cordisburgo, grupos agendados previamente (escolas, grupos da terceira idade,

turistas de outras regiões do país, dentre outros) e visitantes espontâneos. Para a

realização desta pesquisa, nosso foco foi o visitante espontâneo do Museu. Este

visitante muitas vezes está a passeio, sozinho ou com a família, pela região

conhecendo os pontos turísticos da cidade.

Nos meses de novembro e dezembro de 2012, foram realizadas entrevistas

individuais com os visitantes espontâneos do Museu Casa Guimarães Rosa,

109

utilizando-se de questionário estruturado, e entrevistas em profundidade com o

Coordenador do Museu Casa Guimarães Rosa, com a Presidente da Associação de

Amigos do MCGR e com o Fundador do Grupo Caminhos do Sertão e da

Caminhada Ecoliterária.

Para Jorge Duarte (2005) a entrevista constitui:

uma técnica alternativa para se coletarem dados não documentados sobre determinado tema. É uma técnica de interação social, uma forma de diálogo assimétrico, em que uma das partes busca obter dados, e a outra se apresenta como fonte de informação (DUARTE, 2005, p.72)

As entrevistas realizadas ao longo destes meses, foram aplicadas aos

sábados, sempre no horário de 11 às 16 horas, pois constatamos durante a etapa

de observação, que é durante este período de tempo, que o museu recebe grande

número de visitantes.

Os visitantes eram abordados pela pesquisadora no hall de entrada do Museu

Casa Guimarães Rosa, que se apresentava e em poucas palavras tecia breve relato

sobre seu trabalho e ao final da explanação solicitava aos visitantes, que

preenchessem um questionário tão logo terminassem a visita ao Museu.

Os visitantes aceitavam de bom grado participar da pesquisa, mas muitos se

recusavam a preencher o questionário. Diante de tal situação, a pesquisadora optou

por gravar as falas dos visitantes, que se disponibilizaram em responder as

perguntas formuladas no questionário, que eram entregues previamente para eles.

Ao longo deste período, foram realizadas trinta entrevistas, que foram

gravadas e, posteriormente, transcritas na integra, possibilitando assim, a análise

dos depoimentos. Compõem o universo das pessoas entrevistadas, homens e

mulheres com faixa etária entre 18 e 70 anos, com diferentes níveis de escolaridade,

provenientes de vários municípios do Estado de Minas Gerais e também, de outras

cidades do país.

A transcrição das entrevistas possibilitou dividir os visitantes em três

categorias distintas de acordo com o interesse e motivação que os levaram a visitar

o MCGR, com as quais procederemos à análise das informações coletadas.

110

4.3.1 O “sertão é dentro da gente”, uma viagem pelas obras de Rosa.

A obra de Guimarães Rosa está contida em sete livros dos quais cinco foram

publicados ainda em vida:

a) Sagarana, em 1946;

b) Corpo de Baile e Grande Sertão: veredas, em 1956;

c) Primeiras Estórias, em 1962; Tutaméia, em 1967.

Os outros dois livros, Estas Estórias, de 1969, e Ave, Palavra, de 1970,

estavam em processo de preparação quando o escritor faleceu, em novembro de

1967.

Para muitas pessoas, ler uma obra de Guimarães Rosa requer uma atenção

especial, pois sua leitura é de difícil entendimento, pois é um léxico único, próprio do

sertão. A arte de Rosa vai muito além de uma invenção linguística. Ela se tornou um

marco da identidade brasileira, pois foi construída sobre vários elementos essenciais

de nossa nacionalidade.

O leitor tem uma profunda identificação com o mundo Roseano, pois

Guimarães Rosa não se coloca acima de seus personagens. Mais do que um

escritor, Rosa é, igualmente um de seus personagens.

Mesmo depois de quatro décadas e meia após sua morte, a obra de Rosa

permanece viva despertando o imaginário das pessoas, que se sentem atraídas pelo

sertão de Riobaldo e Diadorim.

Para muitos dos entrevistados, conhecer mais sobre a vida e obra deste

escritor, foi um dos motivos que os levaram a conhecer o Museu Casa Guimarães

Rosa.

Isto fica claro na fala da E10, 46 anos, psicóloga, natural de Belo Horizonte ao

afirmar que: “Sempre tive interesse em conhecer melhor a vida e obra de Guimarães

Rosa. Ele é Um mito da literatura brasileira e seus romances são conhecidos em

diversas partes do mundo”.

Criado em 30 de março de 1974, o Museu desperta o interesse de turistas

nacionais e internacionais, que desejam conhecer um pouco mais sobre a biografia

deste grande mito da literatura brasileira, que consegue com sua linguagem singular

despertar o imaginário das pessoas, transportando-as para o mundo mágico do

111

sertão.

Mesmo aqueles que não possuem intimidade com sua obra se sentem

atraídos por sua história de vida é o que relata o E14, 44 anos, fotógrafo, natural de

Santos, São Paulo: “Mesmo não conhecendo toda a obra de Guimarães Rosa,

sempre tive uma grande admiração por seu trabalho. Sua biografia é fantástica.

Visitar o Museu será a oportunidade de conhecer um pouco mais sobre este escritor

e suas obras”.

Guimarães Rosa de dedicava integralmente à sua obra e aos seus

personagens, e se desligava de tudo quando estava escrevendo, como se estive em

transe. Sempre que acabava uma obra, já estava com outra na cabeça.

Começando a escrever eu me desligo. Dedico-me apenas a meus personagens, à minha inspiração. Muita gente diz que é difícil ler minhas obras. Não é difícil. E não precisa ler em voz alta, como muita gente que conheço, para assimilar. Basta ler, ler com atenção. Você pensa que não está entendendo, mas mentalmente está. (GUIMARÃES..., 1967).

Quem já teve a oportunidade de visitar o Museu antes, sempre volta em outro

momento e em outra circunstância. As pessoas se sentem atraídas por aquele

espaço mágico e acolhedor. O depoimento do E11, médico, 50 anos, natural de

Formiga, relata o que o motivou a retornar a cidade de Cordisburgo, depois de vários

anos. Segundo ele: “Minha visita ao Museu foi motivada pelo desejo de melhorar

culturalmente e proporcionar aos meus filhos de 10 e 8 anos, a oportunidade de

conhecer um pouco da história deste grande escritor, imortalizado por sua obra”.

Com a requalificação do Museu e abertura de sua mostra de longa duração

Rosa dos Tempos, Rosa dos Ventos, inaugurada em julho de 2012, o Museu Casa

Guimarães Rosa oferece a seu público a oportunidade de visitar o grande universo

contido na obra de João Guimarães Rosa. Em cada cômodo do Museu, o visitante

encontrará em exibição importante acervo referente a momentos significativos da

biografia e da cidade natal do escritor cordisburguense, além de seleções de

textos, apreciações críticas e imagens ilustrativas da história editorial de cada um

de seus livros.

112

4.3.2 O museu e a casa

A imagem da casa, assim como a do museu, é, a primeira vista, a de um

objeto rigidamente geométrico, o que nos leva a analisar tanto um quanto outro

racionalmente.

Segundo Gaston Bachelard (2005), “todo espaço realmente habitado traz a

essência da noção de casa” (BACHELARD, 2005, p.25, Ela é o princípio de tudo,

onde o mundo inicia, e constitui para o indivíduo o primeiro contato com o real. A

casa ensina ao indivíduo a descobrir o mundo sem que este se exponha

completamente.

A casa onde Guimarães Rosa passou parte de sua infância atrai visitantes de

diversas regiões do estado e também de outras cidades brasileiras. Seja pela

indicação de amigos, pela busca na internet de atrações turísticas, ou simplesmente

para ver de perto a casa onde o escritor nasceu o número de visitantes cresce a

cada ano.

O interesse em cultura de uma maneira geral e de modo especial pela vida e

obra de Guimarães Rosa, levou o nosso entrevistado E22, Cirurgião Dentista, 43

anos, natural de Santa Catarina a conhecer o Museu Casa Guimarães Rosa.

Segundo ele: “o museu é muito interessante. A casa é acolhedora e os objetos que

pertenciam ao escritor, muito bem conservados. Quando a gente entra no museu,

parece que está dentro de um livro de Guimarães Rosa”.

Nascida em Bom Despacho, interior de Minas Gerais, a Assistente Social, de

65 anos, aposentada, disse que sua visita ao Museu foi motivada por sua filha, que

já o havia visitado anteriormente. Ela explica que:

é,realmente a minha filha tinha razão. O museu é muito lindo e acolhedor. A gente fica pressa olhando todos os detalhes e não vê o tempo passar. Não tem como não imaginar Guimarães Rosa andando por esta casa. Parece até, que ele está ao nosso lado fazendo a visita também.( E27)

A casa onde hoje funciona o Museu Casa Guimarães Rosa, passou por várias

reformas e adequações desde a sua criação em 30 de março de 1974, mas guarda

características da época. Com o projeto de requalificação do Museu, a vida e obra

de Guimarães Rosa esta mais presente na casa onde ele nasceu. O projeto

propiciou a constituição de um acervo com toda a obra de João Guimarães Rosa,

113

em suas principais edições, inclusive edições raras, disponibilizando-o a

pesquisadores.

A obra de Rosa tem sua cartografia própria. Os nomes dos lugares onde

transcorrem as aventuras de seus personagens são em sua maioria, inspirados em

localidades reais, existentes em mapas comuns do interior de Minas Gerais.

Com a reavaliação e inclusão de novos pontos de vistas, resultado de

pesquisas do Projeto de Requalificação, o espaço físico do Museu amplia-se. Na

área externa do Museu, está exposto o mapa geográfico, contendo a identificação

de marcos territoriais instalados em noventa e cinco pontos estratégicos. Quarenta

deles instalados em Cordisburgo e os outros cinquenta e cinco marcos, citados em

sua obra, foram instalados em um território que abrange dezesseis cidades do

interior de Minas Gerais.

Admiradora da obra de Guimarães Rosa, a roteirista de 51 anos natural da

cidade do Rio de Janeiro, afirmou durante a entrevista que: “ficou muito admirada

com o espaço e com tudo o que o Museu tem. Ao passar pelos cômodos tinha a

impressão de que ele também estava ali acompanhando de perto tudo o que o

jovem Miquilim falava”.

4.3.3 Miguilins, os arautos de Guimarães Rosa

A Cordisburgo que, para o próprio Guimarães, "era pequenina terra sertaneja,

trás montanhas, no meio de Minas Gerais", agora é uma zona de fronteira entre a

imaginação e a realidade, onde os personagens, aventuras e amores roseanos

podem ser encontrados em cada esquina.

Mesmo que não conhece a obra de Guimarães Rosa se sente encantado ao

ouvir um jovem do Grupo de Contadores de Estórias Miguilins narrando um trecho

da obra deste grande escritor.

Crido em 1995, o Grupo de Contadores de Estórias Miguilim despertou

Cordisburgo para a obra de seu filho mais ilustre. Até então, havia certa apatia, uma

distância, entre a cidade e os escritos de Guimarães Rosa. Distância que caiu por

terra quando um grupo de meninos e meninas começou a contar as histórias

maravilhosas do escritor mineiro.

Emoção, encantamento, são alguns dos sentimentos que estes jovens

provocam em cada visitante que chega para conhecer o Museu. Ouvir os Miguilins

114

proporciona aos turistas uma viagem ao mundo imaginário de Rosa.

É o que relata o E8, estudante, 28 anos, natural de Sete Lagoas,

Embora não tenha lido nenhuma obra de Guimarães Rosa. Passei a admirar Guimarães Rosa ainda mais, depois que conheci este espaço. Acredito que será muito fácil ler algum livro seu depois de ver e ouvir a apresentação do Miguilim. Foi realmente muito mágico.

Mas, nem sempre foi assim. “Guimarães Rosa em Cordisburgo é antes e

depois dos Miguilins. Depois que começaram a narrar textos, foram encantando as

pessoas” - conta José Osvaldo dos Santos, o Brasinha, morador da cidade e

estudioso de Rosa. Brasinha ressalta que a narração revela uma identidade da

musicalidade da obra de Guimarães com a fala do mineiro, que ajuda a obra a ser

acolhida pela população.

“As histórias tem uma função simbólica importante para o ser humano”, afirma

a Professora Regina Machado, pesquisadora da USP (Universidade de São Paulo).

Para a estudiosa, a narração de histórias é diferente da leitura, que em geral se faz

de forma solitária, porque coloca pessoas diferentes em conexão. Uma vez

conectadas, elas dedicam atenção uma à outra ao que está sendo contado. Além de

fortalecer a concentração, especialmente a de quem ouve, a dinâmica conduz a uma

forma mais humana de relacionamento.

Além de aproximar narrador e ouvinte, contar histórias também aproxima

ambos da literatura - o que ajuda a ampliar horizontes e abrir caminhos profissionais.

“Se eu não tivesse me tornado contador, com certeza não teria a visão de mundo

que tenho hoje e talvez não tivesse continuado os estudos”, afirma Thiago Goulart,

integrante da terceira turma de Miguilins. Hoje com 26 anos, Thiago é programador

visual e mora em Belo Horizonte.

Dora Guimarães e Elisa Almeida, coordenadoras do grupo, introduzem os

textos de Guimarães aos jovens Miguilins de forma gradual. Elas não vão

diretamente aos textos literários, começam com uma oficina, com textos mais

simples, de tradição oral, como contos de fadas e fábulas. As crianças aprendem

primeiramente técnicas gerais para narrar um texto em voz alta, encontram a

entonação certa lendo em voz alta para compreendê-lo. Guimarães Rosa em sua

obra brinca com a linguagem de sua terra natal elaborando construções literárias

eruditas e inventivas, inspiradas no jeito de falar do sertão mineiro.

115

A experiência da oralidade ajuda os adolescentes do Grupo Miguilim a

compreender a obra do autor. Miguilim é um garoto do sertão e não entende o

universo dos adultos. Um dia, ganha uns óculos e começa a enxergar o mundo de

uma forma diferente e a descrever tudo de uma maneira intensa, cheia de

impressões que antes desconhecia.

“Ele descreve a cor da pele, da terra e diz, meu Deus, quanta coisa”, conta

Magna, integrante da primeira turma do Grupo de Contadores de Histórias Miguilins.

“No começo, não percebemos a importância do nome. Aos poucos, fomos nos

dando conta de que Miguilim é uma questão de descoberta. Ser Miguilim é estar se

descobrindo. É ir aprendendo a ver com profundidade”. Hoje com 32 anos e formada

em Matemática, Magna explica que o grupo tem por princípio não narrar contos com

os quais se identifica. “Ficaria uma narrativa comum, sem personalidade”.

Talvez seja por isso mesmo que muitos dos contadores afirmam que a

literatura de Guimarães Rosa nunca mais sairá de suas vidas, mesmo que elas

sigam caminhos totalmente diferentes. Ao se tornar um contador de histórias, estes

jovens transformam todas as suas relações. Mudam na escola, na família, na

comunidade, na forma de verem as coisas que os rodeiam.

A força da obra literária, naquilo que ela proporciona de abertura para uma

experiência de encontro de realidades diferentes. Ela é revitalizada na figura do

contador de histórias, que, ao vivenciar este encontro, quando em contato com um

conto, decide compartilhá-lo com outras pessoas, revivendo assim, a cada narração,

este momento de encontro e iluminação. É o ato de repetir e inaugurar que se

presentifica o escritor Guimarães Rosa, dando aos contadores a certeza de que ele

está lá, perto deles.

Em seu depoimento E16, 51 anos, afirma que ficou “muito admirada com

espaço e com tudo que o Museu tem. Ao passar pelos cômodos tinha a impressão

de que ele também estava ali acompanhando de perto tudo o que o jovem Miguilim

falava”.

A experiência de encontro entre os Contadores de Histórias Miguilins e o

visitante se faz presente nas reações dos ouvintes, no momento que vibram e se

emocionam com a apresentação dos jovens, estabelecendo uma relação concreta

entre ambos.

A relação entre o grupo e Guimarães Rosa se dá de forma íntima e pessoal.

Através dele, estes jovens passam a se conhecer, a conhecer Cordisburgo, e

116

também a serem conhecidos. Sentem-se próximos a ele, inspiram-se nele, mas o

que é importante: neste relacionamento descobrem a si mesmos. E nesta relação,

Guimarães Rosa lhes ajuda nesse reconhecimento, traduzindo ao mesmo tempo

uma experiência regional e universal através de seus contos.

117

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

“O real não está na saída nem na chegada: ele se dispõe para gente é no meio da travessia.”

(ROSA, João Guimarães)

Este trabalho buscou fazer uma reflexão de como se dá a construção do

imaginário do Museu Casa Guimarães Rosa e seus impactos na apropriação do

espaço social, pelos visitantes espontâneos do Museu.

A analise discursiva empreendida nesta pesquisa indica que os visitantes do

Museu, reconhecem o Museu como equipamento relevante para o turismo local e

nacional. Pelos discursos analisados, constatamos que a construção do imaginário

do Museu por seus visitantes está ligada concomitantemente por três vertentes:

Guimarães Rosa e sua obra; a casa onde abriga a memória de Guimarães Rosa e a

narração do Grupo de Contadores de Histórias Miguilins.

Na primeira vertente, pudemos constatar, pelos discursos de grande parte dos

entrevistados, que o imaginário dos visitantes a cerca do Museu Casa Guimarães

Rosa, está ligado diretamente à memória da biografia e obras deste grande escritor

brasileiro. Como espaço de memória, o MCGR, possui em seu acervo todos os livros

publicados pelo escritor, velhas e novas edições, incluindo as obras traduzidas para

outros idiomas. O museu também é ponto de referências para estudiosos e

pesquisadores que desejam se aprofundar ainda no universo roseano. Todos os

anos, durante a Semana Roseana, realizada no mês de julho, a cidade de

Cordisburgo, com um população de 9 mil habitantes, recebe durante este período

aproximadamente 4 mil pessoas, que procuram conhecer mais o escritor e sua obra.

A segunda vertente, o imaginário do visitante faz uma relação da casa,

enquanto local onde o escritor Guimarães Rosa nasceu e passou parte de sua

infância. A preservação da memória de Rosa pelo Museu se dá por meio das

exposições de longa duração e temporária e também pelas ações educativas

realizadas pelo Museu em parceria com AAMCGR e do Grupo Caminhos do Sertão.

O imaginário social existe em todas as sociedades e está presente nas

interações. Por meio destes papeis, o imaginário atribui significados e forma a

imagem da realidade. Reconhecendo que a realidade é uma construção que vem

tanto do exterior como do interior, compreende-se que as coisas do mundo interior

118

influenciam o indivíduo de forma relativa, por serem inconsciente.

O patrimônio cultural do mundo de Guimarães Rosa sobrevive não apenas na

paisagem, mas também nas vozes de homens e mulheres, de todas as idades, que

se lembram, e ao se lembrar preservam e contribuem para que a memória

permaneça viva pelos tempos. Mesmo que os velhos caminhos de tropeiros tenham

se transformado em estradas cheias de asfalto. Ou que velhas estações do trem de

ferro guardem, em suas ruínas, pedaços da memória dos tempos. No sertão de

Rosa, resta ainda muita memória. Muita história. Muita vida.

No processo de interpretação do real, devemos levar em consideração o que

o visitante traz consigo ao visitar o Museu Casa Guimarães Rosa o que levará dali

com ele. O real é composto por nossas percepções e experiências a parti dele,

tendemos a defini-lo como aquilo que se vê. Cada museu é único e representa uma

visão do humano sobre a realidade. Seja ele um ecomuseu, ou um museu de

território, como é o caso do Museu Casa Guimarães Rosa, todos os museus estão

em constante transformação.

Ao entrar no MCGR o visitante o imagina o menino Rosa olhando de sua

janela e sente a sua ansiedade em percorrer e escrever sobre a vista que dela tinha.

Ao entrar na reconstituição da venda do Seu Florduardo, o visitante permite que sua

mente viaje e reproduza a entrada dos tropeiros e comerciantes que ali vinham

negociar ou mesmo prosear.

Na última vertente, apontada no capítulo anterior, analisamos a atuação do

Grupo de Contadores de Estórias Miguilins para a construção do imaginário do

Museu Casa Guimarães Rosa. A partir do que ouvimos e vivenciamos, entendemos

que, no contexto de Cordisburgo e do próprio MCGR, o ato de conta histórias

representa um processo de enraizamento sempre em construção. Os contadores de

histórias, de causos, são tão antigos quanto o próprio sertão. Isto, aliado ao fato de

Guimarães Rosa pertencer a esta cidade e traduzir tão bem as coisas deste lugar,

explicam grande parte da repercussão desta arte na vida destes jovens Miguilins.

A arte de contar histórias é enraizada naquilo que ela promove de

pertencimento, relacionamento, encontro. Em seu pode de colocar a pessoa em

contato com sua tradição, seu lugar de origem e, com isto, transformar o modo de se

relacionar com seu futuro. O Grupo de Contadores de Histórias Miguilins ao narrar

trechos da obra de Guimarães Rosa, permitem que os visitantes do MCGR viagem

pelo mundo deste grande escritor, vivenciando emoções e sentimentos diferentes a

119

cada palavra.

As entrevistas realizadas com os visitantes espontâneos do Museu Casa

Guimarães Rosa foram marcadas pela espontaneidade e autenticidade nas

respostas, o que releva que os visitantes de fato estavam emitindo uma opinião

própria sobre o que os levavam a visitar o museu.

Ao chegarmos à etapa final desta pesquisa, constatamos que este trabalho é

apenas o início, pois o Museu, seus visitantes e a própria comunidade de

Cordisburgo, são fontes inesgotáveis de pesquisa. O Museu Casa Guimarães Rosa

é diferente para cada indivíduo que o experimenta e que tem a possibilidade de

vivenciar tudo que ele representa. A construção do imaginário dos visitantes está

intimamente ligada à biografia do escritor e de sua obra. Se dá também pelo

encantamento proporcionado pelas ações desenvolvidas pela Associação de

Amigos do MCGR, instituição importantíssima para a realização de atividades que

possibilitam a interação da comunidade de Cordisburgo e de seus visitantes com o

museu. A apropriação deste espaço social, pelos visitantes se dá de forma a

preservar a memória do mito e de seu legado.

Trouxe-nos também a certeza de que o Museu Casa Guimarães Rosa, a

comunidade de Cordisburgo, e os visitantes que por ali passam, são fontes

inesgotável de pesquisa para todas as áreas do conhecimento.

O universo roseano é imenso e a conclusão deste trabalho não põe um fim a

esta pesquisa, mas abre um grande número de possibilidades.

Afinal, "o sertão é do tamanho do mundo".

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APÊNDICE A - Transcrição entrevistas - Museu Casa Guimarães Rosa

Entrevistado 1

Idade: 40 anos

Naturalidade: Sou natural da cidade de Itu – São Paulo

Escolaridade: Superior Completo

Profissão: Empresária

Já visitou o Museu antes? Não é a primeira vez que venho ao MCGR.

Como ficou sabendo do MCGR? Tomei conhecimento do Museu por intermédio da

minha irmã, que já havia visitado o museu anteriormente.

Já leu alguma obra de Guimarães Rosa? Qual? Sim. Já li Sagarana e Grande

Sertão Veredas.

O que te levou a visitar o MCGR - Sempre gostei das obras de Guimarães Rosa e

tinha o desejo de saber mais sobre este grande escritor brasileiro.

Qual foi a sua impressão depois de visitar o Museu - “Que lugar lindo. Parece que

Guimarães Rosa está em cada canto desta casa”.

Entrevistado 2

Idade: 48 anos

Naturalidade: Moro na cidade de Cuiabá, Mato Grosso

Escolaridade: Tenho o ensino Médio Completo

Já visitou o Museu antes? Não, é a primeira vez que venho ao MCGR.

Como ficou sabendo do MCGR: Fiquei sabendo do Museu através de parentes, que

residem aqui em Cordisburgo.

Já leu alguma obra de Guimarães Rosa? Qual? Sim. Li Sagarana na minha

adolescência, na época do colégio.

O que te levou a visitar o MCGR: Sempre tive o desejo de conhecer um pouco mais

sobre a história e a obra de Guimarães Rosa.

Qual foi a sua impressão depois de visitar o MCGR? - “Este lugar é mágico. Esta

casa é realmente a Casa de Guimarães Rosa, pois guarda toda a memória deste

grande escritor”.

134

Entrevistado 3

Idade: 74 anos

Naturalidade: Nasci na cidade de Laguna, Santa Catarina

Escolaridade: Superior Completo

Profissão: Empresária

Já visitou o Museu antes? Não é a primeira vez que vem ao MCGR.

Como ficou sabendo do MCGR: Tomei conhecimento do Museu por meio de jornais

e revistas, só não me lembro o nome deles agora.

Já leu alguma obra de Guimarães Rosa?Qual? Sim. Tive a oportunidade de ler

Sagarana e Grande Sertão Veredas. A linguagem é muito difícil no início, mas

depois que você começa não quer parar mais. É muito lindo.

O que te levou a visitar o MCGR: Aproveitei a minha vinda à cidade de Morro das

Garças, para visitar uns parentes e resolvi conhecer de perto a casa onde

Guimarães Rosa passou parte de sua infância.

Qual a sua impressão depois de visitar o Museu? “Fiquei encantada com o Museu e

com tudo o que ele tem. É como se o Guimarães ainda estivesse aqui”.

Entrevistado 4

Idade: 25 anos

Naturalidade: Sou da cidade de Santana de Pirapama – Minas Gerais

Escolaridade: Superior Incompleto

Profissão: Estudante

Já visitou o Museu antes? Não. E a primeira vez que venho ao Museu Casa

Guimarães Rosa.

Como ficou sabendo do MCGR? Fiquei sabendo do Museu aqui na cidade mesmo,

pois estou passeando aqui em Cordisburgo com alguns amigos.

Já leu alguma obra de Guimarães Rosa? Sim. Já li Sagarana.

O que te levou a visitar o MCGR? “A profunda admiração pelas obras de Guimarães

Rosa” foi o que levou a conhecer o Museu Guimarães Rosa.

Qual a sua impressão depois de visitar o Museu? “O Museu é lindo demais. É uma

verdadeira viagem no tempo e na história”.

135

Entrevistado 5

Idade: 35 anos

Naturalidade: Nasci em Belo Horizonte – Minas Gerias

Escolaridade: Ensino Médio Completo

Profissão: Pastora

Já visitou o Museu antes?Não. Nunca tinha estado no museu antes

Como ficou sabendo do MCGR: Estava fazendo uma pesquisa na internet sobre a

Gruta de Maquiné e vi alguma coisa do Museu. Fiquei muito interessada em

conhecer o museu e cá estou.

Já leu alguma obra de Guimarães Rosa?Qual? Sim. Tive a oportunidade de ler

Grande Sertão: Veredas.

O que te levou a visitar o MCGR - Sou fá do Guimarães Rosa. Ele era um grande

escritor.

Qual a sua impressão depois de visitar O MCGR: “O museu está muito bem

conservado. É muito bom ver todos os originais de suas obras em um único lugar”.

Entrevistado 6

Idade: 25 anos

Naturalidade: natural de Belo Horizonte – Minas Gerais

Escolaridade : Superior Completo

Profissão: Jornalista

Já visitou o Museu antes? Não é a primeira vez.

Como ficou sabendo do MCGR: Já conhecia o Museu de nome, então fiz uma

pesquisa na internet.

Já leu alguma obra de Guimarães Rosa?Qual? Sim. Li Sagarana na época do

vestibular”.

O que te levou a visitar o MCGR - Sempre tive o desejo de conhecer o Museu, pois

sou uma grande fã do trabalho de Guimarães Rosa.

Qual a sua impressão depois de visitar o Museu: Estou encantada com tudo o que

vi. Aqui realmente é a casa de Guimarães Rosa.

Entrevistado 7

Idade: 46 anos

Naturalidade: Nasci em São Vicente - São Paulo

136

Escolaridade: Superior Completo

Profissão: Professor

Já visitou o Museu antes? Não é a primeira vez

Como ficou sabendo do MCGR: Fiquei sabendo do Museu pelos Jornais.

Já leu alguma obra de Guimarães Rosa? Qual? Sim. Já li Sagarana, Grande Sertão

e Corpo de Baile. O que te levou a visitar o MCGR – Aproveite a minha vinda à

Gruta de Maquiné para conhecer a Casa de Guimarães Rosa, pelo valor histórico e

cultural deste grande escritor brasileiro.

Qual a sua impressão depois de visitar o Museu: O Museu é muito bonito. Tudo

muito conservado. Ouvir a voz dele na sala Cordisburgo e depois visitar a Sala

Gabinete, com todos os exemplares de suas obras. Foi demais.

Entrevistado 8

Idade: 28 anos

Naturalidade: Nasci em natural de Sete lagoas – Minas Gerais

Escolaridade: Ensino Médio Completo

Profissão: Estudante

Já visitou o Museu antes? Não. É a primeira vez que venho aqui.

Como ficou sabendo do MCGR: Fiquei sabendo do Museu, pelo guia turístico,

quando fui visitar a Gruta de Maquiné, aqui em Cordisburgo.

Já leu alguma obra de Guimarães Rosa: Não, ainda não tive a oportunidade de ler

nenhuma obra deste grande escritor.

O que te levou a visitar o MCGR: Embora não tenha lido nenhuma obra de

Guimarães Rosa, sempre tive muita curiosidade para conhecer a casa onde ele

nasceu.

Qual foi a sua impressão depois de visitar o Museu: Tudo aqui é muito bonito.

Passei a admirar Guimarães Rosa ainda mais, depois que conheci este espaço.

Acredito que será muito fácil ler algum livro seu depois de ver e ouvir a apresentação

do Miguilim. Foi realmente muito mágico

Entrevistado 9

Idade: 51 anos

Naturalidade: Nasci em São Vicente – São Paulo

Escolaridade:Superior Completo

137

Profissão:Professora

Já visitou o museu antes? Não, é a primeira vez que venho aqui.

Como ficou sabendo do MCGR: Fiquei sabendo do Museu durante uma vista a casa

de parentes em Sete Lagoas.

Já leu alguma obra de Guimarães Rosa: Sim. Já li quase todas as obras dele. Não é

uma leitura fácil, mas é cativante

O que te levou a visitar o MCGR: Minha visita ao Museu foi motivada pela

curiosidade e admiração pela obra deste grande mito da literatura brasileira.

Qual a sua impressão depois de visitar o Museu - Ver de perto a casa onde morou,

sua coleção de gravatas, as mobílias de sua sala no Rio e todas as suas obras, foi

realmente mágico. Valeu a visita.

Entrevistado 10

Idade: 46 anos

Naturalidade: Nasci em Belo Horizonte, Minas Gerais.

Escolaridade: Superior Completo

Profissão: Sou psicóloga.

Já visitou o Museu antes? Não é a primeira vez.

Como ficou sabendo do MCGR? Fiquei sabendo da existência do Museu durante um

passeio à Gruta de Maquiné, aqui na cidade de Cordisburgo.

Já leu alguma obra de Guimarães Rosa: Já li Sagarana na minha adolescência e

recentemente terminei de ler Grande Sertão Veredas. Que romance bonito.

O que te levou a visitar o MCGR: Sempre tive interesse em conhecer melhor a vida e

obra de Guimarães Rosa. Ele é um mito da literatura brasileira e suas obras são

conhecidas e diversas partes do mundo.

Qual a sua impressão depois de visitar o Museu? “Visitar o Museu, ver todas as

coisas que pertenciam a ele e depois terminar a visita ouvindo um Miguilim, foi

demais. Realmente muito bonito”.

Entrevistado 11

Idade: 50 anos

Naturalidade: Nasci em Formiga, Minas Gerais

Escolaridade: Tenho o superior completo

Profissão: Médico

138

Já visitou o Museu antes: Não, é a primeira vez que eu venho aqui.

Como ficou sabendo do MCGR: Fiquei sabendo do Museu durante um passeio à

Gruta de Maquiné, quando ainda era criança.

Já leu algum livro de Guimarães Rosa? Qual? Sim. Já li Grande Sertão : veredas.

Ainda não tive a oportunidade de ler outros dele.

O que te levou a visitar o MCGR? “Minha visita ao Museu foi motivada pelo desejo

de melhorar culturalmente e proporcionar aos meus filhos de 10 e 8 anos, a

oportunidade de conhecer um pouco da história deste grande escritor, imortalizado

por sua obra”.

Qual a sua impressão depois de visitar o Museu: Depois de visitar o Museu – “Meus

filhos adoraram o passeio que fizemos aqui em Cordisburgo. Eles ainda são muito

novos para ler Guimarães Rosa, mas adoraram ouvir a menina do Grupo Miguilim

narrando trechos de sua obra. Foi emocionante”.

Entrevistado 12

Idade: 58 anos

Naturalidade: Nasci em Santos, São Paulo.

Escolaridade: Tenho o Superior Completo

Profissão: Sou advogado

Já visitou o museu antes?Não. É a primeira vez.

Como ficou sabendo do MCGR: Fiquei sabendo do Museu por intermédio de amigo

que mora aqui em minas Gerais.

Já leu algum livro de Guimarães Rosa: “Tive a oportunidade de ler Sagarana na

adolescência e li recentemente Grande Sertão: Veredas. Romance bonito demais”. F

O que te levou a visitar o MCGR? “Minha visita foi motivada pela admiração

profunda que tenho deste grande escritor e de sua obra.”

Qual a sua impressão depois de visitar o Museu: “Fiquei encantado com o cuidado e

preservação da antiga casa de Guimarães Rosa. O Museu é muito lindo. Parabéns a

todos que trabalham neste local mágico”.

Entrevistado 13

Idade: 38 anos

Naturalidade: nasci em Conselheiro Lafaiete – Minas Gerais

Escolaridade: Tenho o Superior Completo

139

Profissão: sou servidor público federal.

Já visitou o Museu antes? “Sim. Já havia visitado o Museu Casa Guimarães Rosa,

quando criança juntamente com meus pais”

Como ficou sabendo do MCGR: Já estive aqui antes.

Já leu algum livro de Guimarães Rosa: Sim. Já li Sagarana e Grande Sertão :

veredas.

O que te levou a visitar o Museu? “Sempre tive admiração por Guimarães e sua

obra, minha visita ao museu é para conhecer o pouco mais sobre a vida deste

grande escritor brasileiro”.

Qual a sua impressão depois da visita de visitar o Museu? “Retorno ao Museu anos

depois e fico emocionado. Ela está muito diferente do museu que trago em minhas

lembranças. Ele está muito bonito. Parabéns a todos pelo cuidado”.

Entrevistado 14

Idade: 44 anos

Naturalidade: Nasci na cidade de Santos, São Paulo

Escolaridade Ensino Superior Completo

Profissão: Fotógrafo

Já visitou o Museu antes? Não é primeira vez que venho aqui.

Como ficou sabendo do MCGR? Tomei conhecimento do Museu por intermédio de

um amigo, e depois procurei mais informações sobre ele na internet.

Já leu algum livro de Guimarães Rosa? Sim. Já li Grande Sertão: Veredas.

O que te levou a visitar o Museu? Mesmo não conhecendo toda a obra de

Guimarães Rosa, sempre tive uma grande admiração por seu trabalho. Sua biografia

é fantástica. Visitar o Museu será a oportunidade de conhecer um pouco mais sobre

este escritor e suas obras.

Qual a sua impressão depois de visitar o Museu? O Museu é muito lindo. Tudo aqui

é perfeito, a começar pelo acolhimento. Fomos acolhidos por um Miguilim, que nos

conduziu em visita pelo Museu. Não esquecerei a apresentação daquele garoto

narrando trechos da obra Grande Sertão. Foi emocionante.

Entrevistado 15

Idade: 25 anos

Naturalidade: Nasci em Niterói, Rio de Janeiro

140

Escolaridade: Ensino Médio Completo

Já visitou o Museu antes: Não, é a primeira vez.

Como ficou sabendo do MCGR: Fiquei sabendo do Museu pela internet. Estava

procurando informações sobre a Gruta de Maquiné e ai apareceu também

informações sobre o Museu.

Já leu algum livro de Guimarães Rosa? Não ainda não tive a oportunidade de ler

nenhum livro de Guimarães Rosa.

O que te levou a visitar o Museu: Sempre ouvi falar muito de Guimarães Rosa e ai

quando vim conhecer a Gruta, aproveite a oportunidade para visitar também o

Museu.

Qual foi a sua impressão depois de visitar o Museu? O Museu é fantástico. Tudo

muito limpo e os objetos dele estão todos em bom estado. Aproveitei ao máximo

minha visita ao Museu para conhecer mais sobre a vida deste grande escritor.

Entrevistado 16

Idade: 51 anos

Naturalidade: Nasci no Rio de Janeiro

Escolaridade: Superior Completo

Profissão: Roteirista

Já visitou o Museu antes? Sim. Estive aqui na minha adolescência com um grupo de

amigos para visitar a Gruta de Maquiné.

Como ficou sabendo do MCGR: Estivemos aqui em Cordisburgo com uma excursão

de escola.

Já leu algum livro de Guimarães Rosa? Qual? : Sim. Já li Sagarana, Grande Sertão :

veredas e Corpo de Baile.

O que te levou a visitar o Museu? Sou uma admiradora da obra de Guimarães e

gostaria de conhecer um pouco mais sobre ele.

Qual foi a sua impressão depois de visitar o Museu? Fiquei muito admirada com

espaço e com tudo que o Museu tem. Ao passar pelos cômodos tinha a impressão

de que ele também estava ali acompanhando de perto tudo o que o jovem Miguilim

falava. Foi muito legal.

141

Entrevistado 17

Idade: 49 anos

Naturalidade: nasci na cidade do Rio de Janeiro

Escolaridade: Superior Completo

Profissão: Editor de imagens

Já visitou o museu antes: Não. É primeira vez que venho aqui no Museu

Como ficou sabendo do MCGR: Fiquei sabendo da existência do museu através de

amigos que estiveram aqui.

Já leu algum livro de Guimarães Rosa: Sim. Li Sagarana na época do Pré-

Vestibular.

O que te levou a visitar o Museu? Meus amigos falaram muito do Museu e das

atividades culturais daqui de Cordisburgo, principalmente a caminhada eco-literária.

Qual foi a sua impressão depois de visitar o Museu? Realmente os meus amigos

tinham razão. O Museu é muito legal mesmo. Tudo muito bem conservado e

organizado. Não deu para ver de perto a caminhada. Sendo assim, acho que terei

que voltar novamente para fazer este passeio.

Entrevistado 18

Idade: 37 anos

Naturalidade: Nasci em Cuiabá, Mato Grosso

Escolaridade: Superior completo

Profissão: Enfermeira

Já visitou o Museu antes? Não é a primeira vez.

Como ficou sabendo do MCGR? Fiquei sabendo do Museu através de uma prima

que tinha vindo aqui antes.

Já leu algum livro de Guimarães Rosa? Qual? Sim, Já Grande Sertão Veredas, mas

faz muito tempo.

O que levou a visitar o Museu? Minha prima falou muito bem do Museu e disse que

era um lugar muito bonito, com os objetos e livros do escritor.

Qual foi a sua impressão depois de visitar o Museu? Realmente o Museu é muito

bonito. Fiquei muito encantada com os cômodos da casa. Cada um tem o nome de

uma obra dele.

142

Entrevistado 19

Idade: 57 anos

Naturalidade: Nasci em Belo Horizonte, MG

Escolaridade: Sou formada em psicologia.

Profissão: Sou Funcionária Pública Estadual

Já visitou o Museu Antes: Não é a primeira vez que venho aqui no Museu.

Como ficou sabendo do MCGR? Fiquei sabendo do Museu pela internet, estava

procurando informações sobre a Gruta de Maquiné e ai apareceu outros pontos

turísticos da cidade.

Já leu algum livro de Guimarães Rosa? Devo ter lido mais ou menos, uns cinco

livros dele, mas ainda faltam alguns. Grande Sertão e Sagarana com certeza eu já li.

O que te levou a visitar o Museu? Minha curiosidade sobre o Museu que está

construído na casa onde Guimarães Rosa morou.

Qual a sua impressão depois de visitar o Museu? O lugar é muito bonito, mas o

lugar que mais gostei foi a sala chamada Gabinete, que tem os objetos e móveis

dele. Nesta sala também tem uma vitrine com todas as obras dele. É muito legal ter

acesso a tudo isso.

Entrevistado 20

Idade: 26 anos

Naturalidade: Nasci em Belo Horizonte, MG

Escolaridade: Tenho o Superior completo

Profissão: Jornalista

Já visitou o Museu antes? Sim. Já visitei o Museu muitas vezes.

Já leu algum livro de Guimarães Rosa? Qual? Sim, já li Sagarana.

Como ficou sabendo do MCGR? Como disse anteriormente, já estive qui no Museu

antes.

O que te levou a conhecer o MCGR? Me identifico muito com este.lugar. Meu pai é

daqui de cidade e cresci rodeado pelas atrações de Cordisburgo, incluindo o

museu”.

Qual a sua impressão depois de visitar o Museu? O Museu está muito bonito. Há

muito tempo não venho aqui. Ele está muito diferente, desde a última vez que tive

aqui. Foi legal ver a nova exposição do Museu. Foi muito legal mesmo.

143

Entrevistado 21

Idade: 34 anos

Naturalidade: Nasci em Belo Horizonte, MG

Escolaridade: Superior Completo

Profissão: Professora.

Já visitou o Museu antes? Não. É a primeira vez que venho aqui.

Como tomou conhecimento do MCGR? Tive conhecido do museu pela internet. Esta

fazendo um pesquisa sobre os pontos turísticos de Cordisburgo.

Já leu algum livro de Guimarães Rosa? Qual?

O que te levou a visita o MCGR? Sempre gostei muito da obra de Guimarães Rosa e

fiquei curiosa para conhecer a casa onde ele nasceu.

Qual a sua impressão depois de visitar o Museu? A casa, ou melhor, o Museu é

muito bonito e acolhedor. É muito bom ver os objetos deste escritor em um só lugar.

Entrevistado 22

Idade: 43 anos

Naturalidade: Moro em Joinvile - Santa Catarina

Escolaridade: Sou Mestre em Odontologia

Profissão: Cirurgião dentista

Já visitou o Museu antes: Não é a primeira vez que venho ao Museu Guimarães

Rosa.

Como tomou conhecimento do MCGR: Fiquei sabendo do Museu durante minha

visita à Gruta de Maquiné.

Já leu algum livro de Guimarães Rosa: Sim. Tive a oportunidade de ler Sagarana e

Grande Sertão : Veredas

O que te levou a visitar o MCGR: tenho grande interesse na cultura de modo geral e

principalmente pela vida e obra deste grande escritor.

Qual foi a sua impressão depois de visitar o Museu - O Museu é muito interessante.

A casa é acolhedora e os objetos que pertenciam a ele muito conservados. Quando

a gente entra no museu, parece que está dento de um livro de Guimarães Rosa.

Entrevistado 23

Idade: 30 anos

Naturalidade: Moro em Taubaté, São Paulo

144

Escolaridade: Superior Completo

Profissão: Professor

Já visitou o Museu antes? Não. É a primeira vez.

Como tomou conhecimento do MCCGR: Fiquei sabendo do Museu através do Guia

durante uma excursão à Gruta de Maquiné.

Já leu algum livro de Guimarães Rosa? Qual? Sim. Li Sagarana, mas faz muito

tempo. Eu estava no 2º Grau.

O que te levou a visita o Museu? Fiquei curioso para conhecer a casa que

Guimarães Rosa nasceu e que virou Museu.

Qual foi a sua impressão depois de visitar o Museu? O museu é muito legal mesmo.

Tem muita coisa da vida do escritor em um só lugar. Vou agendar a vinda dos meus

alunos para conhecer o Museu ainda este ano.

Entrevistado 24

Idade: 28 anos

Naturalidade: Nasci em Taubaté, interior de São Paulo.

Escolaridade: Mestre em Linguística

Profissão: Professora

Já visitou o museu antes? Não é a primeira vez.

Como tomou conhecimento do MCGR? Fiquei sabendo da Casa de Guimarães

Rosa através de outros professores, amigos meus, que já visitaram o Museu antes.

Já leu algum livro de Guimarães Rosa: Sim. Já li praticamente todos os livros de

Guimarães Rosa, pois sua estudiosa de sua obra.

O que te levou a visitar o Museu? Como estudiosa da obra de Guimarães Rosa, não

podia deixar de conhecer a cidade onde ele nasceu e o Museu dedicado a ele.

Queria ver de perto este sertão descrito tão fielmente em sua obra, através de

detalhada descrição de fauna, flora ou tipo humano típica desta região.

Qual a sua impressão depois de visitar o Museu? É realmente um lugar muito bonito,

digno da grandiosidade deste grande escritor brasileiro.

Entrevistado 25

Idade: 29 anos

Naturalidade: nasci em Belo Horizonte – Minas Gerais

Escolaridade: Mestre em Educação

145

Profissão: Professora

Já visitou o Museu antes? Não, é primeira vez.

Como tomou conhecimento do MCGR? Ficou sabendo do Museu pela internet.

Já leu algum livro de Guimarães Rosa? Qual? Sim. Já li Grande Sertão e Sagarana,

suas maiores obras na minha opinião.

O que levou a visitar o Museu? Estava visitando a Gruta de Maquiné e não podia

deixar de conhecer o Museu.

Qual foi a sua impressão depois de visitar o MCGR? A visita valeu a pena. O museu

é muito bonito. Tudo bem conservado e arrumado. Terminar a visita ouvindo trecho

de Grande Sertão na voz de um adolescente foi emocionante demais.

Entrevistado 26

Idade: 25 anos

Naturalidade: Nasceu em Belo Horizonte – MG

Escolaridade: Superior em andamento

Já visitou o Museu antes: Não tive a oportunidade de visitar o museu antes.

Como tomou conhecimento do MCGR? Fiquei sabendo do museu através do meu

primo, que já tinha vindo aqui antes.

Já leu algum livro de Guimarães Rosa? Qual? Sim. Li Sagarana na minha

adolescência, quando estava no colégio ainda.

O que levou a visitar o MCGR? Fiquei muito interessado para conhecer a casa onde

Guimarães Rosa nasceu.

Qual a sua impressão depois de visitar o Museu? Que lugar bonito. Não tem como

não visitar o Museu. É um lugar que deixa a gente mais perto do Guimarães Rosa e

de seus livros. Não sabia que ele tinha escrito tanta coisa.

Entrevistado 27

Idade: 65 anos

Naturalidade: Nasci em Bom Despacho, Minas Gerais

Escolaridade: Superior Completo

Profissão: Assistente Social Aposentada

Já visitou o Museu antes? Não é a primeira vez.

Como tomou conhecimento do MCGR? Fiquei sabendo do Museu através da minha

146

filha. Ela já visitou o museu com meus netos.

Já leu algum livro de Guimarães Rosa? Qual? Sim. Já li Grande Sertão, Sagarana e

Sagarana. E já assisti também a mini série da Globo, que passou há muitos anos

atrás.

O que te levou a visitar o Museu? Minha filha sempre falou muito bem do Museu, e

quando eu disse que viria para Cordisburgo, ela disse para eu não deixar de visitar o

Museu.

Qual foi a sua impressão depois de visitar o Museu? É, realmente a minha filha tinha

razão. O museu é muito bonito. A gente fica pressa olhando todos os detalhes e

não vi o tempo passar. Não tem como não imaginá-lo andando por esta casa.

Parece que ele está do nosso lado, fazendo a visita também. A equipe do museu ta

de parabéns. Tudo muito limpo e arrumado.

Entrevistado 28

Idade: 68 anos

Naturalidade: Natural de Bom Despacho – Minas Gerais

Escolaridade: Superior Completo

Profissão: Professora

Já visitou o museu antes: Não é a primeira vez

Como tomou conhecimento do MCGR? Fiquei sabendo do Museu através de

parentes e amigos que já visitaram o museu.

Você já leu algum livro de Guimarães Rosa? “Já li Sagarana e Grande Sertão, mas

já faz muito tempo”.

O que te levou a visitar o Museu? Queria muito conhecer o Museu, pois tenho

grande admiração pelas obras do escritor.

A visita ao MCGR se deve ao fato de “ser uma grande apaixonada pela obra de

Rosa”.

Depois de visitar o Museu: “Tudo é muito lindo no Museu. A casa, o acervo, mas o

mais bonito foi ouvir a menina do Miguilim. Ela narra com uma facilidade. É muito

bonito”.

Entrevistado 29

Idade: 42 anos

Naturalidade: Nasci em Paracatu, Minas Gerais

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Escolaridade: Superior Completo

Profissão: Publicitário

Já visitou o Museu antes? Não é primeira vez que venho aqui, mas já ouvi falar

muito deste museu.

Como ficou sabendo do MCGR? Fiquei sabendo do museu através de amigos e

depois fiz uma pesquisa na internet.

Já leu algum livro de Guimarães Rosa? Qual? Sim. “Já li Sagarana na adolescência,

na época do vestibular. Ainda não tive a oportunidade de ler Grande Sertão”.

O que te levou a visitar o MCGR? Desde criança escuto falar de Guimarães Rosa.

Depois de ler seus livros e um pouco de sua vida resolvi conhecer um pouco mais

sobre ele

Qual a sua impressão depois de visitar o Museu? “O Museu é muito bonito. É muito

bom saber que existe este lugar, ou seja, uma casa para guardar as obras dele. Um

lugar para guardar a memória deste grande escritor e de tudo o que ele representa

para o país.

Entrevistado 30

Idade: 57 anos

Naturalidade: Nasci em Pelotas. Rio Grande do Sul.

Escolaridade: Superior Completo

Profissão: Relações Públicas

Já visitou o Museu antes? Não é primeira vez que venho aqui, mas já ouvi falar

muito deste museu.

Como ficou sabendo do MCGR? Fiquei sabendo do museu através de amigos, que

já estiveram aqui no Museu antes.

Já leu algum livro de Guimarães Rosa? Qual? Sim. “Já li Sagarana na adolescência,

na época do vestibular. Ainda não tive a oportunidade de ler Grande Sertão”.

O que te levou a visitar o MCGR? Desde criança escuto falar de Guimarães Rosa.

Depois de ler seus livros e um pouco de sua vida resolvi conhecer um pouco mais

sobre ele

Qual a sua impressão depois de visitar o Museu? “O Museu é acolhedor. Trechos de

obra estão em todos os cômodos da casa. É muito bom saber que existe este lugar.

Uma casa para preservar a vida e obra deste grande escritor.