Pereira, Angelina Gonçalves de Faria
Transcript of Pereira, Angelina Gonçalves de Faria
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS
Programa de Pós-graduação em Comunicação Social
Angelina Gonçalves de Faria Pereira
A CONSTRUÇÃO DO IMAGINÁRIO DO MUSEU CASA GUIMARÃES ROSA E OS
IMPACTOS NA APROPRIAÇÃO DO ESPAÇO SOCIAL
Belo Horizonte
2013
Angelina Gonçalves de Faria Pereira
A CONSTRUÇÃO DO IMAGINÁRIO DO MUSEU CASA GUIMARÃES ROSA E OS
IMPACTOS NA APROPRIAÇÃO DO ESPAÇO SOCIAL
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação de Comunicação e Artes da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais como parte dos requisitos necessários para obtenção do título de mestre em comunicação. Orientador: Profº. Drº. Júlio César Machado Pinto Co-Orientadora: Prof.ª Dr.ª Ana Luisa de Castro Almeida
Belo Horizonte
2013
FICHA CATALOGRÁFICA
Elaborada pela Biblioteca da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais
Pereira, Angelina Gonçalves de Faria
P436c A construção do imaginário do Museu Casa Guimarães Rosa e os impactos
na apropriação do espaço social / Angelina Gonçalves de Faria Pereira. Belo
Horizonte, 2013.
147 f.: il.
Orientador: Júlio César Machado Pinto
Coorientadora: Ana Luisa de Castro Almeida
Dissertação (Mestrado)- Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais.
Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social.
1. Rosa, João Guimarães, 1908-1967 - Crítica e interpretação. 2. Museu Casa
Guimarães Rosa - Memória. 3. Imaginário. 4. Relações interpessoais. 5. Espaços
públicos. 6. Significação (Filosofia). I. Pinto, Júlio César Machado. II. Almeida,
Ana Luisa de Castro. III. Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais.
Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social. IV. Título.
CDU: 069.02:82
Angelina Gonçalves de Faria Pereira
A CONSTRUÇÃO DO IMAGINÁRIO DO MUSEU CASA GUIMARÃES ROSA
E SEUS IMPACTOS NA APROPRIAÇÃO DO ESPAÇO SOCIAL
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação de Comunicação e Artes da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais como parte dos requisitos necessários para obtenção do título de mestre em comunicação.
__________________________________________________ Prof.º Dr.º Júlio César Machado Pinto (Orientador) PUC Minas
________________________________________________________ Prof.ª Dr.ª Ana Luisa de Castro Almeida (Coorientadora) PUC Minas
__________________________________________________ Prof.ª Dr.ª Ivone de Lourdes Oliveira - PUC Minas
__________________________________________________ Prof.ª Dr.ª Teresinha Maria Carvalho Cruz Pires - PUC Minas
Belo Horizonte, 19 de dezembro de 2013.
Para minha mãe Angelina Amaral de Faria (in memoriam) mulher determinada e guerreira, exemplo de amor e dedicação. Um porto seguro para sua família e para todos que a conheciam. A você mãe querida, dedico minha vitória.
AGRADECIMENTOS
Mais uma etapa concluída em minha vida. E esta vitória foi fruto de muito
esforço, dedicação e abdicação de vários momentos que deixei de compartilhar com
minha família, para dedicar-me ao mestrado.
Foi um percurso solitário, de muita interiorização e muitas reflexões, mas não
foi um caminho que percorri sozinha. Ao longo desta jornada várias pessoas
estiveram presentes me incentivando e apoiando. A todas quero registrar o meu
mais sincero agradecimento.
Agradeço a Deus, antes e acima de tudo, por ter me dado forças todos os
dias para superar todas as dúvidas e dificuldades que me acompanharam ao longo
deste processo.
A querida mestre Ana Luísa, por ter me incentivado a fazer o mestrado e por
me conduzir com paciência e respeito durante todo o percurso deste trabalho.
Pessoa iluminada que merece toda a minha admiração e respeito.
Ao meu querido professor Júlio Pinto, por me conduzir e orientar na etapa
final desta pesquisa.
Ao meu marido e companheiro, Hélcio, pelo amor, carinho e acima de tudo
paciência em entender o meu momento e fazer parte dele, fazendo com que tudo,
de alguma maneira, se tornasse muito mais fácil.
As minhas filhas Aline e Luiza, pelo carinho e compreensão dos meus
momentos de mau humor e pelas palavras de carinho e motivação, que como me
fortaleciam todos os dias.
Ao meu pai Rinaldo, por entender o meu desejo e me ajudar na concretização
deste sonho.
Ao coordenador do Museu Casa Guimarães Rosa, Ronaldo Alves, por me
receber de braços abertos no Museu e pela sua total disponibilidade durante todas
as etapas da pesquisa.
As minhas amigas Anita Magalhães, Kátia Cristiane e Regina Gaspar,
pessoas especiais que tive a honra de conhecer durante o mestrado. Amigas
sinceras que pude contar nos meus momentos de inquietação, angústias e que me
apoiaram sempre que precisei. Obrigada pela convivência e amizade e por fazerem
das tardes na PUC e dos nossos encontros sempre uma deliciosa experiência.
Aos amigos, todos eles que, de perto ou de longe, viveram comigo esta experiência
e contribuíram para que ela fosse completa.
Á Isana Oliveira, secretária do mestrado da PUC, que com simpatia e
cordialidade sempre me atendeu nas demandas solicitadas.
Ao professor Eduardo de Jesus (PUC) por suas observações e ponderações
durante a banca de qualificação.
O meu agradecimento especial para as professoras Ivone de Lourdes Oliveira
e Terezinha Maria C. Cruz Pires por terem participando da minha banca de defesa.
Agora está claro e evidente para mim que o futuro e o passado não existem,
e que não é exato falar de três tempos: passado, presente e futuro. Seria talvez mais justo dizer que os tempos são três, isto é, o presente dos fatos passados, o presente dos fatos presentes, o presente dos fatos futuros. E estes três tempos estão na mente e não os vejo em outro lugar. O presente do passado é a memória. O presente do presente é a visão. O presente do futuro é a espera.
Se me é permitido falar assim, direi que vejo e admiro três tempos e três tempos existem, Diga-se mesmo que há três tempos: passado, presente e futuro, conforme a expressão abusiva em uso. Admito que se diga assim. Não me importo, não me oponho, nem critico tal uso, contanto que se entenda: o futuro não existe agora, nem o passado. Raramente se fala com exatidão. O mais das vezes falamos impropriamente, mas entende-se o que queremos dizer. (AGOSTINHO, 2004, p. 344-345)
RESUMO
A questão central desta pesquisa é perceber como se dá a construção do imaginário
do Museu Casa Guimarães Rosa e os impactos na apropriação do espaço social.
Entendendo o processo comunicativo como mediador das relações entre o museu e
seus grupos de relacionamento, procura-se compreender como são apresentados os
discursos por meio dos processos comunicacionais. Entre os objetivos elencados,
pretende-se entender o Museu Casa Guimarães Rosa como espaço de interação
social e construção de sentidos; refletir sobre os processos de construção e disputa
de sentidos no contexto social e, finalmente, perceber a imagem construída do
Museu Casa Guimarães Rosa. A vida e obra de Guimarães Rosa foram resgatadas,
fornecendo elementos necessários para a condução dos trabalhos. Buscamos em
Campbell, Eliade e Aranha e Martins o aporte teórico necessário para compreender
a força do mito deste grande escritor, para a comunidade e também para o
fortalecimento da imagem do Museu perante seus visitantes. Abordaremos a
necessidade do indivíduo em coletar e guardar objetos, no intuito de construir uma
memória social. Faremos uma viagem pelo templo das musas, onde o museu tem a
sua origem, até chegar à contemporaneidade. Abordaremos também os museus
como espaços de interação e comunicação, enquanto espaços discursivos e
interpretativos e que estão em constante relação com os indivíduos. Destacamos
conceitos necessários para a construção das interfaces desta pesquisa, como
imaginário, sentidos, linguagem, que nos ajudarão a entender com se dá a relação
entre os indivíduos e a construção e disputa de sentidos. A pesquisa exploratória foi
escolhida como percurso metodológico. E como método optamos pelo estudo de
caso em virtude da importância que confere ao contexto, o que é adequado ao tipo
de formulação que fazemos. Para a obtenção dos dados, foram realizadas
pesquisas qualitativas com os visitantes do Museu, de forma aleatória, utilizando
como abordagem a aplicação de um questionário, com o intuito de compreender
como se dá a construção de sentido e a percepção dos visitantes acerca do Museu
Casa Guimarães Rosa. Foram realizadas também, pesquisas em profundidade com
o Coordenador do Museu Casa Guimarães Rosa, a presidente da Associação de
Amigos do MCGR, o coordenador e fundador do Grupo Caminhos do Sertão e com
a Coordenadora do Grupo de Contadores de Estórias Miguilins, pessoas da
comunidade de Cordisburgo e que estão envolvidos em projetos e ações que
preservam a memória de Guimarães Rosa. As pesquisas realizadas nos deram os
subsídios necessários para o entendimento de como se dá a construção do
imaginário do Museu Casa Guimarães Rosa e seus impactos na apropriação do
espaço social. Por fim, contemplamos considerações sobe o processo de construção
do imaginário do Museu Casa Guimarães Rosa, através da produção discursiva
produzida pelas entrevistas e analise do material pesquisado, que tornou possível a
compreensão dos efeitos produzidos.
Palavras-chave: Construção de sentidos. Imaginário. Memória. Guimarães Rosa.
Museu Casa Guimarães Rosa
ABSTRACT
The central question of this research is to understand how the imaginary construction
of Guimarães Rosa House Museum and the impacts on appropriation of the social
space. Understanding the communicative process as a mediator of the relationship
between the Museum and its relationship groups, seeks to understand how the
speeches are presented by means of communicational processes. Among the
objectives listed, we intend to understand the Guimarães Rosa House Museum as a
space for social interaction and construction of senses; reflect on the processes of
construction and dispute of meanings in social context and, finally, realize the image
constructed of Guimarães Rosa House Museum. The life and work of Guimarães
Rosa have been rescued, providing information needed for the conduct of work. We
seek in Campbell, Eliade and spider and Malik the theoretical contribution necessary
to understand the power of the myth of this great writer, to the community and also to
the strengthening of the image of the Museum before your visitors. We'll cover the
need of the individual to collect and save objects in order to build a social memory.
We will make a trip around the Temple of the Muses, where the Museum has its
origin, until you reach the contemporaneity. We'll cover also the museums as spaces
of interaction and communication, as discursive and interpretive spaces and which
are in constant relationship with individuals. Dstake necessary concepts for the
construction of interfaces of this research, as imaginary, senses, language, which will
help us to understand the relationship between individuals and the construction and
dispute of meanings. Exploratory research was chosen as methodological path. And
as we try for case study method in view of the importance which gives the context,
what is appropriate to the type of formulation. To obtain the data, were conducted
qualitative research with visitors to the Museum, at random, using as the application
of a questionnaire approach, in order to understand how the construction of meaning
and perception of visitors about Guimarães Rosa House Museum. Also, searches
were carried out in depth with the Coordinator of Guimarães Rosa House Museum,
the President of the Association of friends of MCGREGOR, the Coordinator and
founder of the Paths of the hinterland and with the Coordinator of the Group of
storytellers Miguilins, people from the community of Cordisburgo and who are
involved in projects and actions that preserve the memory of Guimarães Rosa. The
research gave us the subsidies necessary to understanding how the imaginary
construction of Guimarães Rosa House Museum and its impacts in the appropriation
of the social space. Finally, we contemplate considerations under the process of
construction of the imaginary of Guimarães Rosa House Museum, through discursive
production produced by interviews and researched material analysis, which made it
possible to understand the effects produced.
Keyword: Construction of meaning. Imaginary. Memory. Guimarães Rosa.
Guimarães Rosa House Museum
LISTA DE FIGURAS
FIGURA 1- Fachada externa - Museu Casa Guimarães Rosa .................................. 71
FIGURA 2 - Jardim Interno do Museu Casa Guimarães Rosa .................................. 72
FIGURA 3 - Venda do”Seu Fulô” ............................................................................... 73
FIGURA 4 - Grupo de Contadores de Estórias Miguilins e Dora Guimarães ............ 76
FIGURA 5 - Grupo de Terceira Idade Estrelas do Sertão ......................................... 78
FIGURA 6 - XXIII Semana Roseana 2011 ................................................................ 79
FIGURA 7 - Caminhada Eco-Literária ....................................................................... 82
FIGURA 8 - Sala Gabinete ........................................................................................ 86
FIGURA 9 - A cozinha - “Tutaméia” e “Primeiras Estórias” ....................................... 86
FIGURA 10 - "Quarto da Vovó Chiquinha", Sala Corpo de Baile .............................. 87
FIGURA 11 - Exposição temporária .......................................................................... 87
FIGURA 12 - Manto do Vaqueiro .............................................................................. 88
LISTA DE SIGLAS
ABL - Academia Brasileira de Letras
AMMCGR - Associação de Amigos do Museu Casa Guimarães Rosa
CCPL - Circuito Cultural Praça da Liberdade
CNJB - Comissão Nacional de Jardim Botânico
COC/ FIOCRUZ - Casa de Oswaldo Cruz/ Fundação Oswaldo Cruz
EUA - Estados Unidos da América
GSV - Grande Sertão: veredas
IBRAM - Instituto Brasileiro de Museus
ICOM - Conselho Internacional de Museus
IEB - Instituto de Estudos Brasileiros
IEPHA/MG - Instituto Estadual do Patrimônio Histórico de Minas Gerais
INL - Instituto Nacional do Livro
MAC - Museu de Arte Contemporânea
MAM-SP - Museu de Arte Moderna de São Paulo
MAS - Museu de Arte de São Paulo
MASP - Museu de Arte de São Paulo
MCGR - Museu Casa Guimarães Rosa
PUC-MG - Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais
SUMAV - Superintendência de Museus e Artes Visuais
UFMG - Universidade Federal de Minas Gerais
UFRJ - Universidade Federal de Juiz de Fora
USP - Universidade de São Paulo
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 27
2 GUIMARÃES ROSA .............................................................................................. 31
2.1 Vida e obra ......................................................................................................... 31
2.1.1 Guimarães por Guimarães ............................................................................. 40
2.1.2 “As pessoas não morrem, ficam encantadas”: o mito Guimarães Rosa .. 44
2.1.3 O nascimento do mito Guimarães Rosa ....................................................... 49
2.1.4 O mito e a mídia .............................................................................................. 52
3 MUSEUS E MEMÓRIA, CAMINHOS QUE SE ENTRELAÇAM ............................ 57
3.1 Memória: o museu que se faz lembrar ............................................................ 57
3.2 Um museu dedicado a Guimarães Rosa ......................................................... 68
3.2.1 Associação dos Amigos do Museu Casa Guimarães Rosa ........................ 73
3.3.2 Grupo de Contadores de Estórias Miguilim ................................................. 74
3.3.3 Grupo da Melhor Idade Estrelas do Sertão .................................................. 77
3.3.4 Semana Roseana ............................................................................................ 78
3.3.5 Caminhada Eco-literária ................................................................................ 79
3.6 O Museu na contemporaneidade ..................................................................... 90
3.6.1 Museus enquanto espaços de interação e comunicação ........................... 96
3.6.2 Experiência e entretenimento nos museus .................................................. 99
4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS............................................................. 104
4.1 Caracterização da pesquisa: tipo, estratégia e método ............................... 104
4.2 Instrumento de coleta de dados ................................................................... 107
4.3 A coleta de dados ............................................................................................ 108
4.3.1 O “sertão é dentro da gente”, uma viagem pelas obras de Rosa. ........... 110
4.3.2 O museu e a casa ......................................................................................... 112
4.3.3 Miguilins, os arautos de Guimarães Rosa ................................................. 113
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................. 117
REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 120
APÊNDICE A - Transcrição entrevistas - Museu Casa Guimarães Rosa .......... 133
27
1 INTRODUÇÃO
Em todo o mundo, os museus desempenham papel fundamental na
revitalização urbana e no desenvolvimento social e econômico de pequenas e
grandes cidades, que apresentam incríveis histórias de “antes” e “depois" da
implantação de seus museus.
Segundo o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN)
museu é toda instituição a serviço da sociedade e do seu desenvolvimento, aberta
ao público, que adquire, conserva, pesquisa e expõe para fins de estudo, educação
e lazer, evidências materiais do homem e do seu meio ambiente. (BRASIL, 2012b).
A Declaração de Caracas (Venezuela), de 1992, por sua vez, evidencia a
função comunicacional de um museu, ao definir que: “A função museológica é,
fundamentalmente, um processo de comunicação que explica e orienta as atividades
específicas do museu, tais como a coleção, a conservação e exibição do patrimônio
cultural e natural”. (DECLARAÇÃO..., 1992).
Tendo como referência as definições do IPHAN e da Declaração de Caracas,
podemos concluir que os museus não são somente fontes de informação ou
instrumentos de educação, mas espaços e meios de comunicação que servem ao
estabelecimento da interação da comunidade com o processo e com os produtos
culturais.
O Brasil, nas últimas décadas, passou a reconhecer a importância e o poder
dos museus no desenvolvimento das sociedades e vem desenvolvendo uma série
de políticas que beneficiam a criação e manutenção destes equipamentos em todo o
pai. Hoje, segundo informações do Instituto Brasileiro de Museus (IBRAM), cerca de
90 instituições museológicas estão sendo construídas ou passam por revitalizações
profundas, em um universo de 3.500 museus espalhados em todo o território
nacional. (BRASIL, 2012a).
Minas Gerais, de acordo com pesquisa realizada pelo IBRAM, é o Estado com
maior número de municípios do Brasil (853), o segundo em termos de população
absoluta, com aproximadamente 20 milhões de habitantes. É o quarto Estado em
número de museus, com 329, estando São Paulo, Rio de Janeiro e Bahia à sua
frente. (BRASIL, 2012a).
28
Atualmente, a principal demanda para os museus brasileiros é que sejam
interativos e que façam parte da vida das pessoas, integrando-se ao fluxo das
cidades, evoluindo com os movimentos contemporâneos e atuando como pólos de
reflexão sobre temas atuais. Esta interação só se torna possível, quando as pessoas
passam a incluir o museu nas suas escolhas diárias, de motivação turística,
econômica, de lazer e intelectual.
O público visitante de museus não é uma massa uniforme, com
comportamentos constantes, mas sim um sujeito com personalidade, crenças,
motivações e conhecimentos próprios, que escolhe o percurso da visita. Sendo
assim, o processo de comunicação no museu deve ser constituído por múltiplos
significados e sentidos, para públicos específicos, que vão imprimir as suas
singularidades na recepção das mensagens.
No entanto, é importante resaltar, que os estudos da comunicação se
ampliaram e hoje, o paradigma tradicional (emissor/receptor) não dá mais conta de
explicar os processos comunicativos. Percebe-se uma redefinição de papéis dentro
do processo comunicativo, que não parte mais deste paradigma que constitui uma
visão linear, por meio de um processo mecânico. Segundo Vera França (2007) não é
possível analisar o emissor sem levar em conta o outro e não é possível analisar o
receptor separado dos estímulos que lhe foram endereçados e que o constituíram
como sujeito daquela relação. (FRANÇA, 2007, p.12).
Para Rudimar Baldissera (2008), no entanto, a comunicação está num
processo de construção e disputa de sentidos. Esta noção, segundo ele, atenta para
a importância que a significação assume na comunicação e permite pensar os
sentidos que permeiam uma relação de comunicação que está em movimento, ou
seja, em circulação (BALDISSERA, 2008, p.33).
A questão central desta pesquisa é perceber como se dá a construção do
imaginário do Museu Casa Guimarães Rosa e os impactos na apropriação do
espaço social. Entendendo o processo comunicativo como mediador das relações
entre o museu e seus grupos de relacionamento, procura-se compreender como são
apresentados os discursos por meio dos processos comunicacionais.
Entre os objetivos elencados, pretende-se entender o Museu Casa Guimarães
Rosa como espaço de interação social e construção de sentidos; refletir sobre os
processos de construção e disputa de sentidos no contexto social e, finalmente,
perceber a imagem construída do Museu Casa Guimarães Rosa.
29
No capítulo 2, vida e obra de Guimarães Rosa foram resgatadas, fornecendo
elementos necessários para a condução dos trabalhos. Buscamos em Joseph
Campbell (1990; 2005), Mircea Eliade (1994), Maria Lucia de Arruda Aranha e Maria
Helena Pires Martins (2002) o aporte teórico necessário para compreender a força
do mito deste grande escritor, para a comunidade e também para o fortalecimento
da imagem do Museu perante seus visitantes.
No capítulo 3, abordaremos a necessidade do indivíduo em coletar e guardar
objetos, no intuito de construir uma memória social. Faremos uma viagem pelo
templo das musas, onde o museu tem a sua origem, até chegar à
contemporaneidade. Abordaremos também os museus como espaços de interação e
comunicação, enquanto espaços discursivos e interpretativos e que estão em
constante relação com os indivíduos. Ainda nesse capítulo, introduziremos
informações a respeito do Museu Casa Guimarães Rosa, nosso objeto de pesquisa.
Descreveremos as principais ações e atividades que fazem com que a comunidade
de Cordisburgo, local onde o Museu está inserido, se reconheça nestas atividades e
se aproprie deste espaço social.
O capítulo 4, destacamos conceitos necessários para a construção das
interfaces desta pesquisa, como imaginário, sentidos, linguagem, que nos ajudarão
a entender com se dá a relação entre os indivíduos e a construção e disputa de
sentidos.
O capítulo 5 mostra o percurso metodológico que escolhemos para esta
pesquisa exploratória. Optamos pelo método de estudo de caso em virtude da
importância que confere ao contexto, o que é adequado ao tipo de formulação que
fazemos. O somatório da pesquisa exploratória com a abordagem qualitativa
possibilita contato direto do pesquisador com a situação estudada na busca da
compreensão dos fenômenos, sob a perspectiva dos participantes da situação em
estudo (GODOY, 1995).
Para a obtenção dos dados, foram realizadas pesquisas qualitativas com os
visitantes espontâneos do Museu, de forma aleatória, utilizando como abordagem a
aplicação de um questionário, com o intuito de compreender como se dá a
construção de sentido e a percepção dos visitantes acerca do Museu Casa
Guimarães Rosa. As pesquisas realizadas com este público nos deram os subsídios
necessários para o entendimento de como se dá a construção do imaginário do
Museu Casa Guimarães Rosa e seus impactos na apropriação do espaço social.
30
Foram realizadas também, pesquisas em profundidade com o Coordenador
do Museu Casa Guimarães Rosa, o coordenador e fundador do Grupo Caminhos do
Sertão, com a Coordenadora e alguns integrantes do Grupo de Contadores de
Histórias Miguilins, pessoas da comunidade de Cordisburgo que estão envolvidos
em projetos e ações que preservam a memória de Guimarães Rosa. Os
depoimentos destas pessoas, concedidas ao longo do processo de pesquisa, está
fragmentos em todos os capítulos deste estudo.
Por fim, contemplamos considerações sobe o processo de construção do
imaginário do Museu Casa Guimarães Rosa, através da produção discursiva
produzida pelas entrevistas e analise do material pesquisado, que tornou possível a
compreensão dos efeitos produzidos.
31
2 GUIMARÃES ROSA
2.1 Vida e obra
Um dos grandes nomes do modernismo brasileiro é, sem dúvida, o escritor
João Guimarães Rosa, que criou uma maneira única de escrever, em que
transforma e renova radicalmente o uso da língua. Seus livros são marcados pelo
uso da linguagem popular e com grande influência da narrativa falada no sertão. Em
suas obras, é possível encontrar uma mistura de palavras de diferentes culturas,
principalmente com neologismos1, típicos da língua portuguesa, denotando o uso
constante de onomatopéias2 e aliterações3.
Essas características revelam toda a originalidade de Guimarães Rosa, que
sempre surpreendeu ao empregar formações linguísticas surgidas de várias
temporalidades, atingindo um ideal de intangibilidade universal. Sua obra é
construída sobre elementos nacionais e se tornou um marco de nossa identidade,
criando um universo dentro de cada leitor, afinal, o “sertão é dentro da gente”.
Para criar seu mundo imaginário, o autor teve de estabelecer procedimentos
criativos particulares, ressuscitando palavras que caíram em desuso da língua
portuguesa, além de criar novas palavras, como Sagarana, por exemplo. O título de
seu primeiro livro nasceu de uma união de palavras germânicas, portuguesas e um
prefixo extraído do Tupi antigo, o que compôs um neologismo, que significa Maneira
de Saga. Vale ressaltar que mesmo depois de revelar o processo de criação do
título, ele não perde sua força, uma característica na obra do escritor.
Guimarães Rosa era um homem culto e, usando de sua intelectualidade, com
simplicidade, conseguiu renovar e transformar a linguagem literária, valorizando as
características regionais de Minas Gerais, estabelecendo uma ponte entre o
universo de seus personagens e as grandes questões universais. A profunda
identificação do leitor com esse mundo acontece de maneira plausível, porque Rosa
não se colocava acima de seus personagens. Ele não era um autor comum, que
simulava as sensações e os sentimentos de suas criaturas. Mais que escritor, Rosa
é também um de seus personagens e, dessa forma, consegue envolver
1 Palavra ou expressão nova ou antiga com sentido novo. (FERREIRA, 2008, p.576).
2 Imita o som natural da coisa significada. [Ex: tique-taque]. (FERREIRA, 2008, p. 592)..
3 Repetição de fonema(s) no início, meio ou fim de palavras próximas, ou em frases ou versos. [Ex: Quem com ferro fere, com ferro será ferido]. (FERREIRA, 2008, p. 111).
32
espontaneamente o leitor.
A biografia4 de Guimarães Rosa se confunde com sua obra e é impossível
separá-las. E isto fica claro, no decorrer deste trabalho, pois as informações aqui
elencadas foram resultados de muita pesquisa.
Guimarães Rosa nasceu no dia 27 de junho de 1908, em Cordisburgo,
pequena cidade no interior de Minas Gerais. Primogênito do casal Francisca
Guimarães Rosa (Dona Chiquitinha) e Floduardo Pinto Rosa (Seu Fulô), Joãozito,
como era carinhosamente chamado, adorava inventar suas brincadeiras e imaginar
histórias. Cresceu ouvindo causos das pessoas que frequentavam o pequeno
comércio de seu pai, a “venda de seu Fulô”, que ficava na da frente da casa da
família. Causos esses que mais tarde se tornaram enredos de suas obras e, as
pessoas conhecidas, seus personagens (FUNDAÇÃO GUIMARÃES ROSA, 2012).
Em entrevista concedida ao jornalista paraibano Ascendino Leite, em 1946,
uma das poucas entrevistas concedidas pelo autor, Guimarães Rosa revela:
[...] gostava de estudar sozinho e de brincar de geografia. Mas, tempo bom, de verdade, só começou com a conquista de algum isolamento, com a segurança de poder fechar-me num quarto e trancar a porta. Deitar no chão e imaginar histórias, poemas, romances, botando todo mundo conhecido como personagens, misturando as melhores coisas vistas e ouvidas, numa combinação mais limpa e mais plausível, porque - como muita gente já compreendeu e já falou – a vida não passa de história mal arranjada, de espetáculo fora de foco. A arte e o céu serão, pois, assunto mais sério, e também são países de primeira necessidade (LIMA, 1997, p. 39).
Guimarães Rosa deixou Cordisburgo, aos nove anos, e foi morar com seus
avôs, em Belo Horizonte. Sempre muito dedicado aos estudos e frequentador
assíduo da biblioteca, em 1917, completou o primário no Grupo Escolar Afonso
Pena. O escritor adorava o estudo de línguas estrangeiras e aprendeu sozinho
vários idiomas.
Mudou-se para São João Del-Rei, interior de Minas Gerais, em 1918, onde
cursou o secundário, em regime de internato, no Colégio Santo Antônio. Retornou a
Belo Horizonte, em 1919, onde permaneceu até concluir seus estudos no Colégio
Arnaldo.
4 As datas e acontecimentos relacionados neste capítulo foram obtidos através de pesquisas realizadas em diversas obras, sobretudo nos livros de autoria de Eduardo Coutinho, Vicente Guimarães e Vilma Guimarães Rosa, irmão e filha do escritor (citados nas referências bibliográficas no final deste trabalho), além da coletânea de documentos e depoimentos pesquisados na sede do Museu Casa Guimarães Rosa e na sede da Superintendência de Museus e Artes Visuais.
33
Em 1925, aos 16 anos, Guimarães Rosa ingressa na Faculdade de Medicina
da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Foi durante esse período, em
1926, no velório de um aluno do curso de Medicina, vítima de febre amarela, que
Guimarães Rosa teria dito a famosa frase: “As pessoas não morrem, ficam
encantadas”, e que foi repetida em seu discurso de posse na Academia Brasileira de
Letras (ABL), em 1963, cerca de quarenta e um anos depois.
Em 1929, ainda no curso de Medicina, Guimarães Rosa inicia sua trajetória
na literatura e participa do concurso promovido pela revista O Cruzeiro, inscrevendo
quatro contos “Caçador de Camurças”, “Chronos Kai Anagke”, “O mistério de
Highmore Hall” e “Makiné”, que foram premiados e publicados com ilustração entre
os anos de 1929 e 1930.
Casa-se em 1929, aos 22 anos, com Lígia Cabral Penna, então com 16 anos,
com quem teve duas filhas: Vilma e Agnes. Apaixonado pela língua estrangeira
praticava francês constantemente com amigos e parceiros de xadrez.
Escolhido orador da turma pelos colegas de curso, Guimarães Rosa forma-se
em medicina, no dia 21 de dezembro de 1930. No ano seguinte, muda-se com sua
esposa Lygia, para Itaguara, interior de Minas Gerais, onde inicia sua carreira de
médico, por aproximadamente dois anos. Em Itaguara, pequeno povoado rural,
localizado no município de Itaúna, Rosa estabelece uma relação muito forte com a
comunidade, principalmente com raizeiros e receitadores, reconhecendo sua
importância no atendimento aos pobres e marginalizados.
Guimarães Rosa atua como médico voluntário da Força Pública durante a
Revolução Constitucionalista de 1932 e, em 1934, após ser aprovado em concurso,
toma posse como Oficial Médico do 9º Batalhão de Infantaria e muda-se com a
família para a cidade de Barbacena, interior de Minas Gerais. Nesse período, Rosa
já conhecia vários idiomas, mas nem por isso deixava de prestar atenção na
linguagem falada pelo povo simples no seu dia-a-dia.
Em entrevista concedida à Rede Minas, no dia 25 de julho de 2006, Heloisa
Murgel Starling, professora de História das Ideias da UFMG, afirma que:
A experiência de Guimarães Rosa como médico no interior foi muito importante, pois o colocou perto daquilo que é essencial para o ser humano: a dor, a morte, o nascimento, fazendo com que ele tivesse uma vivência de determinadas emoções e de determinados sentimentos do ser humano que, provavelmente, o ajudaram quando
34
ele foi criar os personagens de seus livros.5
O exercício da medicina deixava Guimarães Rosa muito angustiado, por não
conseguir acabar com a dor e o sofrimento das pessoas. Em março de 1934
escreve para seu amigo Pedro Barbosa, manifestando seu descontentamento com a
profissão e revelando seu interesse pela carreira diplomática, proveniente de sua
paixão pelo estudo da língua estrangeira. Nesta carta declara-se:
decepcionado com a realidade da medicina, sentindo até algum arrependimento por não ter estudado direito. [...] ainda que ande navegando bem, apesar de em águas profundas, mas falta-me o amor da profissão, a adaptação às tarefas cotidianas. Não nasci para isso, penso [...] só posso agir satisfeito no terreno das teorias, dos textos, do raciocínio puro, dos subjetivismos. Sou um jogador de xadrez – nunca pude, por exemplo, com bilhar ou com futebol [...].
6
Ainda em 1934, Guimarães Rosa presta concurso e é aprovado para o
Ministério do Exterior. Em julho deste mesmo ano, toma posse no Itamaraty e é
nomeado cônsul de terceira classe. Com a sua nomeação, Rosa pede demissão do
cargo de capitão médico e, logo depois, muda-se com a família para o Rio de
Janeiro, onde permanece por quase quatro anos, trabalhando na Secretaria do
Ministério das Relações Exteriores, no Palácio do Itamaraty.
Em 1936, ganha o 1º lugar do concurso promovido pela ABL, com o livro
Magma, publicado postumamente, 20 anos depois da morte de Guimarães Rosa,
em 1997. Em 1937, classifica-se em 2º lugar no Prêmio Humberto Campos,
realizado pela Editora José Olympio, com o livro Contos. Em 1938, então com 30
anos, é nomeado Cônsul Adjunto do Brasil, em Hamburgo. Parte para a Alemanha,
onde permanece, sem a família, por quatro anos, durante a 2ª Guerra Mundial. E é
durante sua estadia em Hamburgo que conhece Aracy Moebius de Carvalho (Ara),
funcionária graduada do Consulado, que tornaria sua segunda esposa. Durante 30
anos, Aracy foi a grande companheira de Guimarães Rosa, desde Sagarana, sua
primeira grande obra, até a morte do escritor, em 1967.
Trabalhou como diplomata em vários países e, durante a 2ª Guerra Mundial,
ciente dos perigos que enfrentava, com a ajuda de sua mulher Dona Aracy, protegeu
5 Entrevista concedida à Rede Minas de Televisão, no dia 25 de julho de 2006, por ocasião do Programa Especial realizado pela emissora, em comemoração aos 100 de Guimarães Rosa.
6 Carta de Guimarães Rosa a Pedro Barbosa, Rio de Janeiro, 13.08.1938. Consultada durante pesquisa no arquivo do Museu Casa Guimarães Rosa.
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e favoreceu a fuga de judeus perseguidos pelo Nazismo. Em reconhecimento, o
governo Israelense presta homenagem a Guimarães Rosa e Dona Aracy, em abril
de 1985. O nome do casal foi dado a um bosque que fica ao longo das encostas que
dão acesso a Jerusalém. Em 1942, após o rompimento diplomático entre Brasil e
Alemanha, Guimarães Rosa e outros brasileiros ficam retidos em Baden-Baden,
sendo libertados quatro meses depois, em troca de diplomatas alemães. De volta ao
Brasil, Rosa é promovido a 2º Secretário de Embaixada e lotado em Bogotá, onde
permaneceu até junho de 1944.
Em 1945 refaz seu livro de contos e muda o título para Sagarana,
neologismo criado por ele, e o entrega à Editora para publicação. Em fevereiro de
1946 é nomeado Chefe de Gabinete do Ministro das Relações Exteriores, no lugar
de João Neves Fontoura, cargo que ocupará até 1948.
Sagarana, sua primeira obra, é publicada em abril de 1946, pela Editora
Universal e, devido ao grande sucesso, Guimarães Rosa passa a ocupar lugar de
destaque como escritor, tornando-se reconhecido pela crítica. Em julho deste
mesmo ano, Rosa participa da Conferência de Paz, em Paris, como Secretário da
Delegação Brasileira.
Grande estudioso da obra do escritor, Nelly Novaes Coelho (1975) definiu
com felicidade a entrada de Guimarães Rosa no cenário literário brasileiro. Segundo
ele:
No marco divisor de águas que foi o ano de 1946, Guimarães Rosa surge realmente como presença definitiva; como o primeiro entre os brasileiros que logrou captar o mundo regional de um prisma universal. E tão aparentemente virgem de ligações estéticas nascia a ficção rosiana que foi apontada como uma “ilha literária” em nossas letras. Entretanto, a verdade é que nada surge do nada, e a essência de que ela veio impregnada foi, sem dúvida, preparada por um longo processo de maturação. Foi condicionada pela mesma atmosfera que daí por diante se iria delineando nos novos caminhos da nossa literatura. Guimarães foi, pois o brado de alerta. E sua obra veio concretizar a nova dimensão que o regionalismo estava esperando: a dimensão do Espírito e do Mistério das coisas. (COELHO, 1975, p.3).
Durante os anos de 1949 e 1950, Guimarães Rosa permanece em Paris, no
cargo de 1º Secretário e Conselheiro da Embaixada Brasileira. Em 1951, retorna ao
Brasil para o cargo de chefe de Gabinete do Ministério das Relações Exteriores.
Neste mesmo ano, publica a 3ª Edição de Sagarana, pela Editora José Olympio, sua
editora até o final da vida.
36
Em 1952, participou de uma viagem de dez dias pelo sertão de Minas Gerais,
acompanhando um grupo de vaqueiros, com o objetivo de levar 300 cabeças de
gado rumo à Fazenda Algodões, em Araçaí, localizada entre Cordisburgo e Sete
Lagoas. De 19 a 28 de maio, Guimarães Rosa e o grupo de vaqueiros, percorreram
cerca de quarenta léguas (240 km) pelos Campos Gerais, passando por Andrequicé,
Morro da Graça e Cordisburgo. Durante a travessia, Guimarães Rosa fez anotações
detalhadas sobre a flora, a fauna e o povo sertanejo. Anotava os termos com que os
sertanejos nomeavam as coisas da natureza e descrevia com riqueza de detalhes as
cores e os sons e a maneira precisa com que falam e relatam suas estórias.
Dizem que eu sou aristocrata e que invento palavras. Não as invento totalmente. Para escrever Grande Sertão: Veredas, passei um mês inteiro no mato, em lombo de mula, catalogando num caderninho o linguajar do povo sertanejo. Há palavras que, na cidade, nem são conhecidas e que têm, contudo, raízes puras no latim autêntico. Aristocrata não sou. Guardei o caderninho no bolso. Ele ficou sujo de suor, de mato e de terra, até de dejeções de burro. Mas não os joguei fora.
7
Em junho deste mesmo ano, Guimarães Rosa faz uma nova incursão rumo ao
mundo dos vaqueiros, participando de uma grande vaquejada em Caldas do Cipó,
no Sertão da Bahia, em companhia de Assis Chateaubriand e do Presidente Getúlio
Vargas.
O ano de 1956 foi muito especial, pois trouxe com ele muitas expectativas de
mudanças no campo político, com a posse do Presidente JK e tornou-se também um
marco para a literatura brasileira, com a publicação, quase simultânea, de mais duas
obras de Guimarães Rosa. Em janeiro de 1956, Rosa publica Corpo de Baile, depois
desdobrado em três livros: Manuelzão e Miguilim, No Urubuquaquá, No Pinhém e
Noites do Sertão e em maio publica “Grande Sertão: veredas”, seu único romance.
Juntos, Corpo de Baile e Grande Sertão: veredas somam aproximadamente 1.400
páginas, escritas incansavelmente e publicadas em um único ano. A chegada, com
poucos meses de intervalo, de livros tão fortes e realizados com tamanha dedicação
e riqueza de detalhes, revelava o trabalho exaustivo deste escritor, desde a
publicação de Sagarana, sua primeira obra, em 1946. Guimarães Rosa escreve para
seu pai e relata o grande alvoroço que a publicação do romance Grande Sertão:
veredas provocou nas cidades do Rio de Janeiro, São Paulo e em Pernambuco.
7 ROSA, João Guimarães. “Carta de JGR a Maurício Caminha de Lacerda”, [19-- ]; Documento consultado durante pesquisa ao arquivo do Museu Casa Guimarães Rosa.
37
Vamos ver se tem sorte e obtém o mesmo sucesso dos outros, que, graças a Deus, estão retumbando e brilhando, provocando uma barulhada tremenda, aqui no Rio, em São Paulo, em Pernambuco, quase por toda a parte. Inclusive, irritando os ressentidos e invejosos – o que constitui o melhor sinal e a melhor garantia de uma obra. O novo romance é grosso, 594 páginas. É uma história de jagunços, do norte de Minas, narrada pelo ex-jagunço Rioboldo, grande sujeito e brabo. Agora, já estou precisando de meter o peito noutras tarefas, pois : A vida é breve e a arte é longa [...] (ROSA apud CADERNOS..., 2006, p. 34).
Adonias Filho, Ferreira Gullar, Ascendino Leite e José Lins do Rego foram
alguns dos escritores brasileiros que criticaram duramente a obra Grande Sertão:
veredas e utilizavam-se de expressões como: “língua codificada, diferente dos
padrões tradicionais”, “manipulação arbitrária das palavras” para descrever o estilo
literário de Guimarães Rosa.(CADERNOS..., 2006, p. 24-25).
Apesar da grande polêmica que a publicação desta obra causou entre o meio
literário, Grande Sertão: veredas recebeu três prêmios: “Machado de Assis”, do NL;
“Carmem Dolores Barbosa”, em São Paulo e “Paula Brito” da Municipalidade do Rio
de Janeiro.
Quando Grande Sertão: veredas - GSV foi lançado, inúmeros artigos foram
publicados na imprensa. Merece destaque a crônica de Manuel Bandeira, publicada
na ocasião em um jornal do Rio de Janeiro, em forma de carta aberta para João
Guimarães Rosa, e que depois de alguns anos, passou a integrar o caderno de
poemas, organizado por Bandeira, em 1974. Na carta datada de março de 1957,
quase um ano após a primeira edição de GSV, Manuel Bandeira diz:
AMIGO MEU, J. Guimarães Rosa, mano –velho, muito saudar! Me desculpe, mas só agora pude campear tempo para ler o romance de Riobaldo. [...] Aos despois de depois, andaram dizendo que você tinha inventado um língua nova e eu gosto de língua inventada. [...] Vai-se ver, não é língua nova nenhuma a do Riobaldo. Difícil é, às vezes. Quanta palavra do sertão! [...] Ainda por cima disso, você fez Riobaldo poeta, como Shakspeare fez Macbeth poeta. Natural: por que um jagunço dos gerais do Urucuia não poderá ser poeta? Pode sim. Riobaldo é você se você fosse jagunço. [...] E o sertão? O sertão é espera enorme. E o silêncio? O vento é verde. Aí, no intervalo, o senhor pega o silêncio, põe no colo. [...] Ah Rosa, mano-velho, inveja é o que você sabe: O diabo não há! Existe é o homem humano. Soscrevo (BANDEIRA, 1974, p. 511-512)
Grande Sertão: veredas, importante obra de Guimarães Rosa, despertou o
imaginário de estudiosos, artistas e intelectuais. Para Gomes (2012):
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Grande Sertão: Veredas é, talvez, o livro brasileiro sobre o qual mais se escreveu. Críticas, resenhas, crônicas, seminários, dissertações, teses, roteiros, louvores, censuras, análises filosóficas, lingüísticas, estilísticas, psicológicas e, também, filmes, seriados de televisão, peças de teatro, histórias em quadrinhos, balés, canções de música clássica e popular, poemas, exposições, instalações, pinturas, esculturas e demais criações artísticas de todos os gêneros e ramos das artes foram produzidos tendo como tema as aventuras do Jagunço Riobaldo. Generosas, elas representam uma inesgotável fonte de inspiração e estímulo à produção artística e intelectual. Se em nosso organismo existem células-tronco que dão origem às demais células, podemos dizer que obras de arte como Grande Sertão: Veredas são verdadeiras obras-tronco, pois dão origem a outras obras de arte e enriquecem continuamente nosso patrimônio simbólico. (GOMES, 2012, p. 50).
Em entrevista concedida ao Jornal Estado de Minas, no dia 27 de maio de
2006, Mário Alex Rosa, professor de Literatura Brasileira, da Universidade Federal
de Minas Gerais, afirmou que “obras importantes como Grande Sertão: veredas
devem ser muito valorizadas”8. Ainda durante a entrevista, o professor ressalta a
importância desta obra, ao afirmar que:
o impacto de uma obra como essa na nossa cultura deveria ser mais forte. Ninguém pode perder a oportunidade de ler os textos de Guimarães Rosa, que sabe contar uma boa história com naturalidade de quem conta um caso, dando voz a personagens simples como Riobaldo e Diadorim (ROSA, 2006, p. 04).
Com o sucesso de público e crítica dos livros traduzidos e publicados no
exterior, Guimarães Rosa consolida seu prestígio como um dos grandes nomes da
literatura brasileira do século XX e candidata-se, pela primeira vez, a uma vaga na
ABL.
Em janeiro de 1958, porém, é derrotado por Afonso Arinos de Melo Franco na
eleição para a vaga na ABL, deixada por José Lins do Rego. Em maio é promovido a
ministro de 1ª Classe, cargo correspondente a Embaixador, e é o próprio Presidente
JK quem lhe dá a notícia por telefone. Neste mesmo ano, a Editora José Olympio
publica a 2ª edição de Grande Sertão: veredas e a 5ª e definitiva de Sagarana . Em
novembro, Rosa sofre um enfarte.
A partir de 1961, Rosa passa a se dedicar à confecção de estórias curtas, que
foram publicadas, em sua maioria, em colunas literárias do Jornal O Globo, Pulso e
na Revista Senhor, todos periódicos do Estado do Rio de Janeiro. Neste ano, recebe
8 Trecho extraído da matéria do Jornal Estado de Minas, Caderno Pensar, p. 4, publicada no dia 04 de março de 2006, por ocasião das comemorações dos 50 anos de publicação da obra Grande Sertão: veredas.
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o prêmio “Machado de Assis”, da Academia Brasileira de Letras, pelo conjunto de
obra.
Um novo trabalho aparece em 1962: “Primeiras Estórias”, ano em que é
nomeado chefe do Serviço de Demarcação de Fronteiras do Itamaraty.
Rosa candidata-se novamente a uma vaga na Academia Brasileira de Letras
e, firmemente decidido a obter a vitória, inicia pessoalmente uma jornada de visita a
acadêmicos, em campanha eleitoral. No dia 6 de agosto de 1963, é eleito por
unanimidade para ocupar a cadeira de número 42, que pertencia a João Neves da
Fontoura. Guimarães Rosa, no entanto, adiou a cerimônia de sua posse na ABL por
quatro anos, com medo de morrer de emoção, em decorrência da homenagem.
Em 1964, Grande Sertão: veredas é publicado na Alemanha, com tradução de
Curt Meyer-Clason e Corpo di Ballo é lançado na Itália, com tradução, notas e
glossário de Edoardo Bizzarri.
Em janeiro de 1965, Guimarães Rosa participa do Congresso Internacional de
Escritores Latino-Americanos, em Gênova, e é eleito vice-presidente da Sociedade
de Escritores Latino-Americanos. Nessa ocasião, concede entrevista a Günter
Lorenz, publicada posteriormente no Brasil, em 1973. Grande Sertão: veredas é
publicado na França, com tradução de L.L. Villard. Em novembro deste mesmo ano,
durante a 1ª Semana do Cinema Brasileiro, realizada em Brasília, é exibido o filme A
hora e a vez de Augusto Matraga, que ganha 5 prêmios, incluído o de melhor filme.
Em meados de 1967 publica “Tutaméia – Terceiras Estórias”, uma coleção de
quarenta estórias sintéticas e quatro prefácios, sua última obra em vida. Os contos
que compõem esse livro foram publicados inicialmente em uma revista semanal
chamada O Pulso, periódico de propriedade do Laboratório Sidney Ross do Brasil,
distribuída gratuitamente em consultórios médicos e farmácias de todo o Brasil.
No dia 16 de novembro, deste mesmo ano, Guimarães Rosa finalmente toma
posse na Academia Brasileira de Letras e convida o escritor Afonso Arinos de Mello
França, para ser seu anfitrião na solenidade. Rosa faleceu três dias depois, na
cidade do Rio de Janeiro, no auge de sua carreira literária.
Em 1969 e 1970, respectivamente, são organizadas duas publicações
póstumas pela Livraria José Olympio: “Estas Estórias” e “Ave Palavras”, que
estavam em processo de preparação, quando o escritor faleceu.
Mesmo depois de mais de cinquenta anos do seu lançamento, Grande
Sertão: veredas continua desafiando a compreensão dos leitores e estudiosos da
40
obra de Guimarães Rosa, que tem hoje em torno de si uma verdadeira academia de
rosianos espalhados pelos quatro cantos do mundo.
A obra de Rosa é reconhecida internacionalmente, apesar das dificuldades
que os tradutores enfrentavam. Para João Paulo Cunha (2011), editor do Caderno
de Cultura do Jornal Estado de Minas, “Rosa não foi homem de um só idioma, mas
de uma linguagem, que juntamente com James Joyce, Marcel Proust, Willian
Faulkner, elevou a prosa novelística ao status de Poesia”. (CUNHA, 2011, p. 4).
Na opinião de Marli Fantini Scarpelli, professora de teoria da literatura
comparada da Faculdade de Letras da UFMG, em entrevista concedida ao Jornal
Estado de Minas em 2008 [...] “Guimarães Rosa criou muitos paradigmas estéticos,
que em muito o puseram à frente de seu tempo, tornando-o contemporâneo ao
século XXI”9. Ainda segundo a professora, isto se deve “à grande rede de sentidos
com que suas obras instituíram novas formas de comércio simbólico e cultural entre
o sertão e o mundo, entre o muito local e o muito universal”. (SCARPELLI, 2010, p.
3).
2.1.1 Guimarães por Guimarães
Muito já se escreveu sobre Guimarães Rosa, suas biografias e principalmente
sobre suas obras, conhecidas e traduzidas em diversos países do mundo. Nosso
intuito, neste momento, não é escrever mais um capítulo sobre a vida deste incrível
escritor, mas descrever o homem Guimarães Rosa e estabelecer uma relação entre
o escritor e o Museu Casa Guimarães Rosa, objeto de estudo dessa pesquisa. Para
isso, buscamos as informações necessárias para sustentar nossas afirmações em
depoimentos, entrevistas, artigos publicados na imprensa e cartas nos quais
Guimarães Rosa comenta sobre sua biografia e também sua literatura. Um destes
documentos é a entrevista que o escritor concedeu ao jornalista alemão Günter
Lorenz, no Congresso de Escritores Latino-Americanos, em janeiro de 1965 e
publicada em seu livro: Diálogo com América Latina, em 1973. Esta entrevista é de
suma importância para pesquisadores e estudiosos da obra roseana, pois nela o
autor fala sobre seu ofício de escritor, sua obra, expressa sua opinião sobre política,
religião, misticismo, dentre outros temas polêmicos que o acompanharam ao longo
9 Entrevista concedida ao Caderno de Cultura do Jornal Estado de Minas e publicada no dia 27 de junho de 2008, por ocasião das comemorações do Centenário de Guimarães Rosa.
41
da vida, deixando transparecer sua personalidade forte e marcante que continua
encantando as pessoas através de suas obras, nesses 46 anos transcorridos após a
sua morte.
De personalidade forte e muito sistemático, o escritor não gostava de dar
entrevistas e muito menos da abordagem da imprensa, pois segundo ele:
[...] Não gosto do sentido bisbilhoteiro da imprensa. Ela deforma tudo. Irrita-me. [...] Perco a naturalidade. Todas as vezes em que dei entrevistas, fiquei profundamente desgostoso com o que disse e com o que disseram de mim. [...] As entrevistas são trocas de palavras em que um formula ao outro perguntas cujas respostas já conhece de antemão. (ROSA apud LORENZ, 1994, p. 29-40).
Rosa considerava-se um homem do sertão que, atento a tudo e a todos,
procurava descrever em suas anotações o que se passava ao seu redor. Valorizava
suas raízes e descrevia com carinho a cidade onde passara os primeiros nove anos
de sua vida.
[...] É que sou antes de mais nada este “homem do sertão”; e isto não é apenas uma afirmação biográfica, mas também, e nisto pelo menos eu acredito tão firmemente como você, que ele, esse “homem do sertão”, está presente como ponto de partida mais do que qualquer outra coisa. Nós homens do sertão, somos fabulistas por natureza. [...] No sertão, o que pode uma pessoa fazer de seu tempo livre a não ser contar estórias? A única diferença é simplesmente que eu, em vez de contá-las, escrevia. [...] Eu trazia sempre os ouvidos atentos, escutava o que podia e comecei a transformar em lenda o ambiente que me rodeava, porque este, em sua essência, era e continua sendo uma lenda.
[...] devo-lhe dizer que nasci em Cordisburgo, uma cidadezinha não muito interessante, mas para mim sim, de muita importância. Além disso, em Minas Gerais, sou mineiro. E isto sim é o importante, pois quando escrevo, sempre me sinto transportado para esse mundo. [...] Para mim, Cordisburgo sempre foi uma Europa em miniatura. Amamos a Europa como, por exemplo, se ama uma avó. (ROSA apud LORENZ, 1994, p. 31-61)
[...] Eu carrego um sertão dentro de mim, e o mundo no qual eu vivo é também o sertão. As aventuras não têm tempo, não têm princípio nem fim. E meus livros são aventuras, para mim são a minha maior aventura. Escrevendo, descubro sempre um novo pedaço de infinito. Vivo no infinito, o momento não conta. (ROSA apud VIAGENS..., 1991, p.66-67
Guimarães Rosa não gostava de política e acreditava que o escritor é um
homem que assume uma grande responsabilidade perante a sociedade. Em
42
entrevista concedida a Günter Lorenz em 1965, Guimarães Rosa afirma que:
[...] Embora eu veja o escritor como um homem que assume uma grande responsabilidade, creio, entretanto, que não deveria ocupar de política; não desta forma de política. Sua missão é muito mais importante: é o próprio homem. Por isso a política nos toma um tempo valioso. Quando os escritores levam a sério seu compromisso, a política se torna supérflua. Além disso, eu sou escritor, se você quiser, diplomata; político nunca fui. (ROSA apud LORENZ, 1994, p. 43)
Rosa afirmava que era impossível separar sua biografia de sua obra, pois as
duas na verdade se fundiam em uma só: Guimarães Rosa.
Fui médico, rebelde, soldado. Foram etapas importantes de minha vida e, a rigor,
esta sucessão constitui um paradoxo. Como médico, conheci o valor místico do sofrimento; como rebelde, o valor da consciência; como soldado, o valor da proximidade da morte... [...] É uma escala de valores [...] Estas três experiências formaram até agora, meu mundo interior e, para que isto não pareça demasiadamente simples, queria acrescentar que também configuram meu mundo a diplomacia, o trato com cavalos, vagas, religiões e idiomas. (ROSA apud LORENZ, 1994, p. 55)
Minha biografia, sobretudo minha biografia literária, não deveria ser crucificada em anos. As aventuras não tem tempo, não têm princípio nem fim. E meus livros são aventuras; para mim, são minha maior aventura. Escrevendo, descubro sempre um novo pedaço de infinito. Vivo no infinito; o momento não conta. Vou lhe revelar um segredo: creio já ter vivido uma vez. Nesta vida, também fui brasileiro e me chamava João Guimarães Rosa. Quando escrevo, repito o que vivi antes. E para estas duas vidas, um léxico apenas não me é suficiente. Em outras palavras: gostaria de ser um crocodilo vivendo no Rio São Francisco. [...] Gostaria de ser um crocodilo, porque amo os grandes rios, pois são profundos como a alma do homem. Na superfície são muito vivazes e claros, mas nas profundezas são tranqüilos e escuros como os sofrimentos dos homens. Amo ainda mais uma coisa de nossos grandes rios: sua eternidade. Sim,o rio é uma palavra mágica para conjugar eternidade. (ROSA apud LORENZ, 1994, p. 31-61
Muito disciplinado, Guimarães Rosa anotava tudo em sua caderneta,
instrumento de trabalho inseparável e de suma importância para seu ofício de
escritor. Perfeccionista e consciencioso, trabalhava e retrabalhava suas obras
exaustivamente. Ele não inventava contos, segundo ele, os contos iam até ele.
Quando escrevia, se entregava de corpo e alma ao que estava fazendo, como se
estivesse em transe.
Não preciso inventar contos, eles vêm a mim, me obrigam a escrevê-los. Quando escrevo não penso no estilo, na obra, no compromisso. Esqueço tudo e só penso no assunto. Porque quando “eu digo a lua está assim” é
43
porque ela está “assim”. Já passei muitas noites acordado – noites inteiras – para ver como é a lua, como é a escuridão. Sem vê-la demoradamente é impossível descrevê-la. É preciso vê-la passar, ver as suas mudanças de cores, sentir seu ar (é um ar todo especial), seu jeito. Eu procuro captar o fato, o momento – como no cinema! -, para colocar o leitor no centro da trama. O leitor precisa conviver com os personagens. Mas, para captar este momento é preciso que o autor esteja no momento. Por isso eu tenho meus caderninhos que me acompanham em todas as minhas viagens. Eu amarro um lápis com duas pontas e, no sertão, até em cima do cavalo eu escrevo. É o momento. Um passarinho faz um movimento – eu capto o movimento na hora e o escrevo como o vejo. Mas só naquele momento eu poderia registrá-lo. Jamais poderia guardá-lo na cabeça para dali a algumas horas ir me inspirar nele para compor. Não. Não teria valor. (ROSA apud GUIMARÃES..., 1967). Quando se está escrevendo, tudo é um imã. As palavras se atraem, os assuntos também. E vai-se escrevendo, sem parar (importante não parar). Se eu paro, para olhar meu estilo, como vai indo, eu começo a me copiar [...]. O segredo é pensar na coisa (impossível definir essa coisa), você entende? Como no cinema. A coisa está ali, na tela, vai-se desenvolvendo. Nos meus romances muitas vezes eu fecho os olhos e deixo a ação desenrolar. Por exemplo, em Sagarana. Eu gosto de lê-lo com os olhos fechados (engraçado isso, né?). Vendo. Sentindo o cheiro. Quando acabo um livro, já estou com outro na cabeça. Esta nova idéia tem preferência sobre as demais, eu penso sempre que o novo escrito vai ser melhor que todos os demais. É a busca do diferente, todos nós devemos cultivá-la. Quando o artista começa a copiar a si mesmo, está fracassando, em plena decadência. (ROSA apud GUIMARÃES..., 1967).
Durante a conversa com o jornalista alemão, Guimarães Rosa admitiu que
sua maior obra, Grande Sertão: veredas havia lhe rendido muito dinheiro e que ele,
ao contrário de outros escritores, não se envergonhava disto.
[...] Quanto a mim, ao contrário da maioria dos meus colegas, não me envergonho em admitir que Grande Sertão me rendeu um montão de dinheiro. Não me interessa o dinheiro: venho de um mundo onde ele não adianta muito; lá se necessita de pão, armas, cavalos e ainda se pratica o comércio de troca. Naturalmente, não fico infeliz quando tenho dinheiro suficiente para viver como quero. Mas não nego esse fato. A esse respeito, quero dizer uma coisa: enquanto eu escrevia Grande Sertão, minha mulher sofreu muito porque nessa época eu estava casado com o livro. Por isso dediquei-o a ela, para lhe agradecer a sua compreensão e paciência.Você deve saber que eu tenho uma mulher maravilhosa. Como sou um fanático da sinceridade lingüística, isto significou para mim que lhe dei o livro de presente e, portanto, todo dinheiro ganho com esse romance pertence a ela, somente a ela, e pode fazer o que quiser com ele. Não necessito dele, tenho meus vencimentos; uma verdadeira mulher sempre sabe encontrar utilidade para o dinheiro, tanto no sertão quanto no Rio. Pode-se achar precipitada esta atitude, principalmente, quando depois o livro obtém grande êxito. Mas uma dedicatória é uma promessa, e devemos cumprir nossas promessas. (ROSA apud LORENZ, 1994, p. 31-61)
44
Homem de fé, Guimarães Rosa aceitava todas as religiões, rezava por todos
os credos e se guiava por muitas filosofias. Rosa também era um homem místico e
acreditava no poder mágico dos números, na força e magia do número 7. Em suas
raras entrevistas, disse que os livros Sagarana, Corpo de Baile e Grande Sertão:
veredas haviam sido escritos em sete meses.
[...] sou profundamente, essencialmente religioso, ainda que fora do rótulo estrito e das fileiras de qualquer confissão ou seita; antes talvez, como o Riobaldo de G.S.V, pertença eu a todas. E especulativo, demais. Daí todas as minhas constantes preocupações religiosas, metafísicas, embeberem os meus livros. Talvez meio existencialistas-cristãos (alguns me classificam assim), meio neo-platônico (outros me carimbam disto) e sempre impregnado de hinduísmo (conforme terceiros). Os livros são como eu sou. (ROSA apud BIZZARRI, 1981, p. 38).
Guimarães Rosa não aceitava a idéia de ter uma morte prematura, pois tinha
certeza de que viveria por muitos anos, até ficar velhinho, pois somente assim teria
tempo para escrever muitas estórias e contar tudo o que se passava em sua cabeça.
[...] Sem dúvida, comecei a escrever no tempo certo, mas demasiado tarde. Apesar de verdade, isto também é um paradoxo. Não posso permitir uma morte prematura, pois ainda trago dentro de mim muitas, muitíssimas estórias. Mas nasci em Cordisburgo, e lá às vezes as pessoas chegam a ficar muito velhas. O mineiro é obsecado por seu país e seu sol, fica resistente como carne-seca. Conheci pessoas de oitenta e até noventa anos. Portanto, simplesmente tenho de ficar velho, pois esse tempo talvez me baste para eu contar tudo o que ia contar. (ROSA apud BIZZARRI, 1981, p. 35)
Três dias depois de sua posse na ABL, Guimarães Rosa, como havia previsto
em vários momentos de sua vida, morre de infarto em sua residência. Morre o
homem, mas a partir deste momento nasce o mito Guimarães Rosa, cuja imagem se
fortalece por meio de sua obra e de seus personagens.
2.1.2 “As pessoas não morrem, ficam encantadas”: o mito Guimarães Rosa
Ao longo da história da humanidade, de uma forma geral, as sociedades têm
necessidade de criar mitos, com a finalidade de explicar contradições, paradoxos,
dúvidas, inquietações e até mesmo para justificar conceitos morais vigentes em
determinada época.
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São muitos os conceitos e teorias acerca do mito, como a teoria naturalista,
que parte da idéia de que o Sol e a Lua deram origem aos mitos da humanidade
ainda em sua fase “primitiva”. Outra vertente teórica do mito é o historicismo que,
segundo Everardo Rocha (1999), “procurou ver no mito um registro de episódios
verdadeiros do passado [...] O mito visto, literalmente, como registro da história”. O
animismo, por sua vez, parte da idéia de que “todos os elementos da natureza
poderiam ser personificados”. (ROCHA, 1999, p.32)
De acordo com Mircea Eliade (1994) é difícil encontrar uma definição que seja
aceita por todos os estudiosos e ao mesmo tempo acessível aos não especialistas.
Mas, apesar disto, o autor explica que mito é uma realidade cultural extremamente
complexa, que pode ser abordada e interpretada por meio de perspectivas múltiplas
e complementares.
Mircea Eliade (1994) afirma que:
[...] o mito conta uma história sagrada; ele relata um acontecimento ocorrido no tempo primordial, o tempo fabuloso do “princípio”. Em outros termos, o mito narra como, graças às façanhas dos Entes Sobrenaturais, uma realidade passou a existir, seja uma realidade total, o Cosmo, ou apenas um fragmento: uma linha, uma espécie vegetal, um comportamento humano, uma instituição. É sempre, portanto, a narrativa de uma “criação”: ele relata de que modo algo foi produzido e começou a ser. (ELIADE, 1994, p. 11)
O autor ainda explica que o mito retrata apenas aquilo que já aconteceu. Não
é uma ficção, mas um relato real sobre um fato ocorrido. Para o autor, o mito fala
apenas do que realmente ocorreu, do que se manifestou plenamente. O mito é
considerada uma história sagrada e, portanto, uma “história verdadeira”, porque
sempre se refere às realidades. Ele diz que, “[...] O mito cosmogônico é ‘verdadeiro’
porque a existência do Mundo aí está para prová-lo; o mito da origem da morte é
igualmente ‘verdadeiro’ porque é provado pela mortalidade do homem, e assim por
diante” (ELIADE, 1994 p. 12).
Cada sociedade estabelece com o termo mito algumas associações que são
comuns entre elas. A primeira, talvez a mais comum, é a de imaginar algo que
nunca aconteceu (alguma coisa inventada ou imaginada); a segunda, é fazer alguma
alusão à mitologia clássica, grega ou romana. Para Pérsio dos Santos Oliveira
(2001) o mito parece nas primeiras civilizações como “tentativas de compreender o
fenômeno das forças locais que se baseavam na imaginação, na fantasia, na
especulação” (OLIVEIRA, 2001, p.11).
46
Para os gregos, no entanto, uma das principais funções do mito é a de revelar
modelos exemplares de todos os rituais e atividades significativas como o
casamento, o trabalho, a educação, a arte, a sabedoria e tantos outros ritos nos
quais nos inserimos cotidianamente. Presenciamos em nossa sociedade diversos
rituais mitológicos. A cerimônia de casamento é um deles. A cerimônia de posse de
um presidente ou de um juiz é outro. Joseph Campbell (1990) considera a mitologia
como “a canção do universo”, “a música das esferas” (CAMPBELL, 1990, p. 11).
Segundo o autor:
Mitos são histórias de nossa busca da verdade, de sentido, de significação, através do tempo. Todos nós precisamos contar nossa história, compreender nossa história. Todos nós precisamos compreender a morte e enfrentar a morte, e todos nós precisamos de ajuda em nossa passagem do nascimento à vida e depois à morte. Precisamos que a vida tenha significação, precisamos tocar o eterno, compreender o misterioso, descobrir o que somos. (CAMPBELL, 1990, p. 5)
A mitologia tem muito a ver com os estágios da nossa vida. As cerimônias de
iniciação são um bom exemplo deste estágio de mudança, quando o indivíduo passa
da fase da infância para a fase adulta; ou, quando sai da condição de solteiro para a
de casado. Segundo Joseph Campbell (1990) todas estas fases são rituais, são ritos
mitológicos, pois todas elas têm uma ligação com o novo papel que o indivíduo
passa a desempenhar ao longo de sua vida. Durante esses processos, o indivíduo
“retira o que é velho, para voltar com o novo, assumindo uma função responsável”
(CAMPBELL, 1990, p.12). Campbell (2005) Diz ainda que “a primeira função de uma
mitologia viva é conciliar a consciência com as precondições da sua própria
existência - quer dizer, com a natureza da vida” (CAMPBELL, 2005, p.31)
Diante desse fato, enumera quatro funções básicas da mitologia, a saber:
Esta é a primeira função da mitologia: incutir em nós um sentido de deslumbramento grato e afirmativo diante do estupendo mistério que é a existência; a segunda função da mitologia é apresentar uma imagem do cosmos, uma imagem do universo que nos cerca, que conserve no indivíduo um sentido místico e explique tudo com que ele tenha contato no universo à sua volta; a terceira função é validar e preservar dado sistema sociológico: um conjunto comum daquilo que se considera certo e errado, propriedades e impropriedades, no qual esteja apoiada nossa unidade social particular; [...] por fim, a quarta função da mitologia é psicológica: o mito deve fazer o indivíduo atravessar as etapas da vida, do nascimento à maturidade, depois à senilidade e à morte. A mitologia deve fazê-lo em comum acordo com a ordem social do grupo desse indivíduo, em comum acordo com o mistério estupendo. (CAMPBELL, 2005, p.34-36)
47
Por sua vez, Mircea Eliade (1994) afirma que para o homem das sociedades
arcaicas conhecer o mito, significa poder reconstruir uma realidade como a criação
do mundo ou as colheitas fartas, o que não acontece com o homem moderno, já que
fatos históricos como a queda da Bastilha, na Revolução Francesa, ou a queda do
Muro de Berlim, um dos marcos da queda do socialismo, não podem ser
reconstruídos ou atualizados (ELIADE, 1994, p.45).
O conceito de mito proposto por Aranha Maria Lucia de Arruda e Maria
Helena Pires Martins (2002) se aproxima do entendimento de Mircea Eliade (1994).
De acordo com as autoras, em uma leitura mais rápida poderíamos entender o mito
como uma maneira fantasiosa de explicar a realidade não justificada pela razão.
Nesse caso, “[...] os mitos seriam lendas, fabulas crendices e, portanto, uma forma
menor de conhecimento, prestes a ser superado por explicações mais racionais”.
(ARANHA; MARTINS, 2002, p.72)
No entanto, as autoras esclarecem que o mito é mais complexo e mais rico do
que supõe essa visão reducionista. A consciência mítica persiste em todos os
tempos e culturas como componente indissociável da maneira humana de
compreender a realidade. Por isso são reais. Também explicam que o mito vivo é
muito mais expressivo e rico do que supomos quando apenas ouvimos relatos de
lendas, desligadas do ambiente que as fez surgir.
Segundo Aranha Maria Lucia de Arruda e Maria Helena Pires Martins (2002):
Como processo de compreensão da realidade, o mito não é lenda, mas verdade. Quando pensamos em verdade, é comum nos referirmos à coerência lógica, Garantida pelo rigor da argumentação e pela apresentação de provas. A verdade do mito, porém, é intuída, e, como tal, não necessita de comprovações, porque o critério de adesão do mito é a crença, a fé. O mito é, portanto, uma intuição compreensiva da realidade, cujas raízes se fundam nas emoções e na afetividade. Nesse sentido, antes de interpretar o mundo, o mito expressa o que desejamos ou tememos, como somos atraídos pelas coisas ou como delas nos afastamos (ARANHA; MARTINS, 2002, p. 72)
Para as autoras, o mito é o ponto de partida para a compreensão do ser.
Nesse caso, podemos dizer que tudo o que pensamos e queremos se situa
inicialmente no horizonte da imaginação, nos pressupostos míticos, cujo sentido
existencial serve de base para todo o trabalho posterior da razão.
A função fabuladora persiste não só nos contos populares, no folclore, como também na vida diária, quando proferimos certas palavras ricas de ressonâncias míticas: casa, lar, amor, pai, mãe, paz, liberdade, morte, cuja
48
definição objetiva não esgota os significados que ultrapassam os limites da própria subjetividade. Essas palavras nos remetem a valores arquetípicos, modelos universais existentes na natureza inconsciente e primitiva de todos nós. Não por acaso, os psicanalistas aproveitam a riqueza do mito e descobrem nele raízes do desejo humano. (ARANHA; MARTINS, 2002, p. 75)
O termo mito para Christina Maria Pedrazza Sêga (2008) transcendeu o
universo mitológico propriamente dito, sendo utilizado com o sentido de “ideal a ser
alcançado” pelos indivíduos da sociedade contemporânea. É comum ouvirmos em
nosso cotidiano as expressões “o mito da juventude”, da “beleza eterna”. Hoje é
quase impossível dissociarmos a cultura de um povo ao conceito de mito. Porém, o
mito vai além da sua própria cultura. Ele assume uma dimensão universal,
planetária. O mito ultrapassa a característica do efêmero, ou seja, ele deixa de ser
passageiro, alcançando várias gerações e permanecendo dessa forma num
consenso geral (SÊGA, 2008, p. 48).
Joseph Campbell (1990) por sua vez, ensina que os mitos antigos tinham
como função harmonizar o corpo com a mente e também harmonizar a vida humana
com a natureza. Em relação ao mito, hoje, acredita que não existem mitos com essa
tendência unificadora. Desse modo, segundo ele,
Hoje, temos que reaprender o antigo acordo com a sabedoria da natureza e retomar a consciência de nossa fraternidade com os animais, a água e o mar.[...] Mitos e sonhos vêm do mesmo lugar. Vêm de tomadas de consciência de uma espécie tal que precisam encontrar expressão numa forma simbólica. E o único mito de que valerá a pena cogitar, no futuro imediato, é o que fala do planeta, não da cidade, não deste ou daquele povo, mas do planeta e de todas as pessoas que estão nele. (CAMPBELL, 1990, p 33)
Para Roland Barthes (1993), no entanto, “[...] a função do mito é evacuar o
real: literalmente, o mito é um escoamento incessante, uma hemorragia, ou, se
prefere, uma evaporação; em suma, uma ausência sensível”. Dessa forma podemos
afirmar que o mito está presente em nós e em nossos pensamentos por trazer para
o nosso mundo aquilo que muitas vezes não podemos ter (BARTHES, 1993, p.132).
Joseph Campbell (1990), defende a idéia de que mitos são histórias de nossa
busca da verdade, de sentindo, de significação, através dos tempos. O autor ainda
explica que nós, seres humanos, precisamos contar e compreender a nossa própria
história. Que todos nós também precisamos compreender a morte e enfrentá-la, e
que precisamos de ajuda em nossa passagem do nascimento à vida e depois à
49
morte. Precisamos que a vida tenha significação, precisamos tocar o eterno,
compreender o misterioso, descobrir o que somos e o mito adianta essa explicação
do que podemos ser se seguirmos alguns passos.
Vale ressaltar que um mesmo mito pode ser interpretado de maneiras
diferentes. O próprio mito de Édipo, talvez o mais famoso de todos os tempos, tem
compreensões distintas. Neste sentido, o mito de Guimarães Rosa pode
perfeitamente estar sendo interpretado e reinterpretado hoje de maneira
completamente diferente do que fora nas últimas décadas. Esta é uma marca dos
mitos, de acordo com Rocha. “Eles continuam sendo mitos, independente de suas
versões” (ROCHA, 1999, p.52).
2.12.3 O nascimento do mito Guimarães Rosa
Eleito por unanimidade para ocupar a cadeira de nº 42 da ABL, no lugar de
João Neves da Fontoura, Guimarães Rosa só tomou posse quatro anos mais tarde,
no dia 16 de novembro de 1967.
Os quatro anos de adiamento eram reflexos do medo que sentia da emoção
que o momento lhe causaria. Em sua última mensagem, durante o discurso de
posse na Academia Brasileira de Letras, Rosa parecia pressentir que algo de mal
lhe aconteceria, ao falar de seu predecessor na vaga que então assumia.
“Se tomar posse, eu morro [...]. Que pena não ser como um jogo de futebol.
Quando acaba, os jogadores estão a salvo, entram no buraco e somem”. (ROSA
apud VIAGENS..., 1991).
Consagrado nacionalmente e internacionalmente como grande escritor e
importante diplomata do Itamaraty, Guimarães Rosa se torna imortal ao tomar posse
na Academia Brasileira de Letras. Exatamente, três dias após a posse, no dia 19 de
novembro de 1967, Guimarães Rosa morre subitamente em seu apartamento em
Copacabana, no Rio de Janeiro.
Em 1967, João Guimarães Rosa seria indicado ao prêmio Nobel de Literatura,
no entanto, a iniciativa dos seus editores alemães, franceses e italianos foi barrada
devido a morte do escritor. A essa altura, seus livros já corriam mundo e haviam sido
traduzidos, além do alemão, francês e italiano, para o inglês, o espanhol e o sueco.
Guimarães Rosa é acometido por um ataque fulminante no coração, talvez
pela presença de tanto amor, de tantas estórias, que não mais cabiam em seu peito.
50
Mas, como previu com relação a seus heróis, videntes, adivinhos e tantos outros
personagens de suas histórias, guiados pela paixão ou pelo devaneio, ele também
se perpetuou na morte, por meio de sua obra e dos personagens do sertão, ele
mesmo um provável protagonista de suas estórias, por elas igualmente imortalizado.
Guimarães Rosa partiu, certamente, seguro de que, segundo suas próprias
palavras, “a gente morre é para provar que viveu” e, seguramente, “as pessoas não
morrem, ficam encantadas".
Guimarães Rosa ficou para sempre encantado - tornou-se um mito, talvez o
maior e mais duradouro dos mitos da cultura brasileira.
Logo após a sua morte, ocorreu uma grande movimentação por parte de
alguns políticos e pessoas ligadas à literatura, que se mobilizaram para alterar o
nome da pequena Cordisburgo, cidade natal do escritor, para Guimarães Rosa.
Carlos Drummond de Andrade, tendo como fonte de inspiração um trecho da obra
Grande Sertão: veredas, “[...] Nome de lugar onde alguém, já nasceu, devia de ser
sagrado”10, imediatamente veio em defesa da cidade e escreveu um poema que
recebeu o nome de Rosa de Cordisburgo, que dizia :
Não, Cordisburgo não deve passar a chamar-se Guimarães Rosa em homenagem a Guimarães Rosa. Seria desomenagem. Lá dos gerais-do-além, onde o suponho encantado, o Rosa protestaria. Ele nasceu em Cordisburgo, não em Guimarães Rosa. Começou o seu discurso; e terminou-o apresentando-se como tal a seu antigo chefe no Itamarati, para lá das estrelas: “Ministro, aqui está Cordisburgo”. (última palavra pública que pronunciou). Caso de nome de lugar invadindo e ocupando a pessoa nascida nesse lugar, os dois formando uma entidade feita invadindo e ocupando a pessoa nascida nesse lugar, os dois formando uma entidade feita de terra, sangue e imponderáveis, dentro da visão mágica do universo, que era a visão normal, cotidiana, de Guimarães Rosa. Eliminar essa fusão? “Meu Deus do céu, que palpite infeliz!” No universo mágico do Rosa, os nomes fazem as coisas, são as coisas. E mesmo fora dele, na geografia, nas escrituras, nos tratados, na vida de cada um, eles têm essa propriedade e natureza. Só o que é nomeado existe, e o existir não pode subordinar-se à inconstância das apelações, que gera a inexistência. Rosa é Rosa, altíssimo, sozinho em sua altura onde cintila, transluminando-o a estrela Cordisburgo. Intocável, depois de Rosa, por causa de Rosa, por amor de Rosa.
11 (ANDRADE, 1974, p. 67).
Cordisburgo tem 9 mil habitantes e fica a 120 quilômetros da capital mineira,
Belo Horizonte. A primeira povoação foi feita pelo padre João de Santo Antônio que,
10
ROSA, João Guimarães. Grande sertão: veredas. Rio de Janeiro: José Olympio Editora, 1956.p. 35.
11 Poema que faz parte dos documentos que estão sob guarda da Superintendência de Museus e Artes Visuais.
51
fascinado com a beleza do lugar iniciou em 1982, a construção da Igreja do Sagrado
Coração. Em 1890, o povoado passou a chamar-se Arraial de Conceição de Jesus
da Vista Alegre. O município de Cordisburgo foi criado em 1938, com distritos
desmembrados de Paraopeba e de Sete Lagoas.
Cordisburgo ou “cidade do coração”, como é carinhosamente chamada pela
comunidade, é uma típica cidade mineira, que parece ter parado no tempo. Ao
andarmos pela pequena cidade nos deparamos, a todo o momento, com citações de
trechos das obras de Guimarães Rosa. Elas estão nas paredes de lojas, de bares,
nos muros das escolas, no muro do cemitério e reforçam a importância do mito
Guimarães Rosa para a localidade.
Na parede frontal do Centro de Artesanato, na entrada da cidade, está a
primeira citação do escritor: “Comecei a escrever motivado pela saudade do interior
de Minas; lembranças de Cordisburgo que me fizeram escrever Sagarana”. A
inscrição é só o início dos sinais do forte vínculo da cidade com o autor de Grande
sertão: veredas. A cidade natal de Guimarães Rosa procura preservar a memória de
seu filho ilustre.
No centro, na parede da ‘Loja do Brasinha’, de propriedade de José Osvaldo
dos Santos, criador do ‘Grupo Caminho do Sertão’, os trechos escolhidos foram os
que se referem à cidade natal do escritor: “Cordisburgo é o lugar mais famoso
devido ao ar e ao céu, e pelo arranjo que Deus caprichou em seus morros e suas
vargens; por isso mesmo lá, de primeiro, se chamou Vista Alegre”. E mais: “[...]
quando escrevo, sempre me sinto transportado para este mundo, Cordisburgo”. Nos
muros do cemitério, outra frase famosa: “As pessoas não morrem, ficam
encantadas”.
“A população sabe reverenciar João Guimarães Rosa”, afirma Brasinha, que
sempre procura motivos para mostrar o vínculo do escritor com a cidade natal. “No
discurso de posse na Academia Brasileira de Letras, Guimarães Rosa fala 11 vezes
a palavra Cordisburgo”, observa o comerciante, um dos maiores entusiastas dessa
relação do filho ilustre com a terra. “A gente tem que ficar vaidoso, porque ele bota o
nome da cidade no mundo inteiro”, afirma.
João Paulo Cunha (2008), afirma que:
Se a criação de Guimarães Rosa está impregnada pelo sertão e por Cordisburgo, a cidade também vive claramente impregnada pela obra de seu filho. Parece que tudo por lá tem a marca dele. A lista é grande: Bairro
52
Buritis, onde os nomes das ruas são referência a personagens, Bairro Sagarana, Posto Guimarães Rosa, Fazenda Sagarana, Sítio Tutaméia, Biblioteca Riobaldo e Diadorim, Travessa Guimarães Rosa, Academia Cordisburguense de Letras Guimarães Rosa, Loja Sagarana, Restaurante e Pizzaria Um Conto e Cem, Bar Sertão e Veredas e até a Cachaça Rosa do Sertão. (CUNHA, 2008, p. 3).
Em entrevista concedida ao Jornal Estado de Minas, em maio de 2006, a gari
Maria Lúcia de Souza Gomes, de 54 anos, diz que: “esse homem aqui para nós é só
a fama”. Sim, realmente a fama ficou. De propósito ou não, esta afirmação está lá no
livro Grande sertão: veredas, na fala de Riobaldo: “seja a fama de glória [...] Todo o
mundo vai falar nisso, por muitos anos, louvando a honra da gente, por muitas
partes e lugares. Hão de botar verso em feira, assunto de sair divulgado em jornal
da cidade” (ROSA, 1956, p. 275)).
Ronaldo Alves, Coordenador do Museu Casa Guimarães Rosa, lembra que o
escritor “deu a identidade a Minas Gerais e levou Cordisburgo para o mundo”12.
Ronaldo lembra também que o nome da cidade é a primeira e última palavra do
discurso de posse de Guimarães Rosa na Academia Brasileira de Letras, o que
reforça ainda mais o vinculo do escritor com sua terra natal.
O turismo em Cordisburgo e região são impulsionados pelos estudiosos de
literatura, bem como por aqueles que querem conhecer as obras do famoso escritor.
Munidos de espírito aventureiro, eles encontram estradas de chão, caminham pelo
cerrado, hospedam-se em pensões simples e, por alguns dias, vivem a vida simples
da roça, descobrindo lugares presentes na ficção de Guimarães Rosa.
2.1.4 O mito e a mídia
O século XX foi marcado pela constituição de vários mitos que marcaram e
ainda marcam o imaginário das pessoas: Elvis Presly, “o rei o rock”; Marilyn Monroe,
“mito da sensualidade”, Layd Day, “a princesa dos pobres”; Pelé, “o rei do futebol”.
O desenvolvimento tecnológico dos meios de comunicação ocorrido ao longo
dos anos causou profundas alterações nas experiências dos indivíduos, nos modos
de lidar com as temporalidades, na percepção que temos do mundo, possibilitando
assim, novos tipos de interações entre os sujeitos.
As expressões mito e herói, rei e rainha são frequentemente utilizadas pelos
12
Entrevista do Coordenador do Museu concedida a esta pesquisadora durante o trabalho de pesquisa de campo.
53
meios de comunicação de massa, como o rádio, o cinema, a televisão, os jornais e
as revistas, que apropriam-se dessas e de outras formas de representação para
referirem-se àqueles, não apenas para indicar fenômenos ocorridos em sociedades
tradicionais, mas para ocuparem um lugar de destaque no imaginário
contemporâneo.
São personalidades que os meios de comunicação se incumbem de
transformar em imagens exemplares, modelando-as, e que podem representar todos
os tipos de anseios tais como sucesso, beleza, poder, liderança, sexualidade, dentre
outros.
Neste sentido, os mitos geralmente carregam mensagens que se traduzem
nos costumes e nas tradições de um povo tornando, muitas vezes, a maneira
possível de explicar um modo de vida. Para Cláudia Nandi Formentin (2006), ao
contrário da ciência que explica o mundo através da razão, um mito se explica pela
fé (crença sem necessidade de prova). Vê coisas que todos veem sobre outra
perspectiva. Antes de explicar o mundo racionalmente, o ser humano sente o meio
em que vive. Para ao autor, “o mito fez com que o ser humano procurasse entender
o mundo através do sentimento e buscasse a ordem das coisas”. (FORMENTIN,
2006, p.13).
Para Muniz Sodré (2007), a presença da mídia na sociedade modifica o
próprio perfil e a natureza da vida social, em um cenário marcado pela midiatização.
Esta se refere, de acordo com o autor, não à publicização de acontecimentos pelos
meios, mas ao “funcionamento articulado das tradicionais instituições sociais com a
mídia” (SODRÉ, 2007, p.17).
A mídia desempenha um papel importante não apenas no processo de
visibilização da imagem das estrelas, mas na própria constituição de um sujeito
como celebridade. Assim sendo, os significados que a mídia produz sobre a
celebridade são trabalhados a partir das vivências e das experiências (públicas e
privadas) desse sujeito. (MORIN, 1989, p.25-30).
Para Paula Guimarães Simões (2009), no entanto, são as ações e reações
deste mundo que suscitam o interesse dos diferentes veículos por sua narrativa
biográfica. Ainda segundo a pesquisadora, ao se apropriar dessas ações e reações
de um indivíduo, a mídia realiza uma nova ação, construindo um discurso que pode
afetar outros sujeitos e impulsionar diferentes experiências. A celebrização dos
indivíduos, ao mesmo tempo em que aciona vivências dos próprios sujeitos,
54
participa da configuração de novas experiências na sociedade, evidenciando a
reflexibilidade que caracteriza esse processo (SIMÕES, 2009, p. 67-79).
As celebridades são construídas discursivamente. Sendo assim, a análise dos
processos de constituição das mesmas deve atentar para os múltiplos significados
que configuram nessas várias interações (os indivíduos, a mídia e o contexto social)
que ajudam a edificar a cena de visibilidade contemporânea (MARSHALL, 1997, p.
45-47).
Guimarães Rosa e sua obra são objetos de estudos em centenas de
dissertações e teses nas mais diversas áreas do conhecimento, no Brasil e nos
paises onde seus livros foram traduzidos. Sua obra foi adaptada também para
filmes, minissérie, peças de teatro e músicas. Foi fonte de inspiração para artistas
plásticos e bailarinos. Por meio da mídia e das mais diferentes formas de cultura, a
obra de Rosa ultrapassa fronteiras e chega aos lares das pessoas de uma ponta a
outra do pais. A primeira adaptação de um texto de Guimarães Rosa para as telas
de cinema aconteceu em 1965, com o filme A hora a vez de Augusto Matraga,
dirigido por Roberto Santos.
O curta-metragem A João Guimarães Rosa lançado em 1968, também é
dirigido por Roberto Santos e Marcello G. Tassara. Com duração de
aproximadamente nove minutos, o filme exibe fotografias realizadas por Maureem
Bisilliat de sertanejos e do sertão mineiro, com narração em off de Humberto Marçal
a partir de trechos de Guimarães Rosa (BIAGGI, 2007, p. 19).
Em 1970, Paulo Thiago lança A criação literária em João Guimarães Rosa e o
longa-metragem colorido Sagarana - o duelo, tendo no elenco, Rodolfo Arena, Joel
Barcellos, Zózimo Bulbul, Jofre Soares e Milton Moraes, dentre outros. Esse filme,
conta com canções de Tom Jobim e Dorival Caymmi. Em 1975, a Bem-te-Vi Filmes
lança o documentário Veredas de Minas, curta-metragem dirigido por Fernando
Sabino e David Neves. Neste vídeo narrado por Hugo Carvana, Manuelzão e o
vaqueiro João Henriques, contam como ficaram conhecendo Guimarães Rosa e
sobre a sua curiosidade em conhecer o sertão e a natureza local, e a maneira como
o autor escrevia e anotava tudo o que via (BIAGGI, 2007, p. 21-22).
Em 1980, Helvécio Ratton dirigiu a biografia de Guimarães Rosa intitulada
Curta João Rosa. Com aproximadamente treze minutos, o vídeo abarca a cidade de
Cordisburgo, e o mundo literário de Guimarães Rosa. Conta ainda com depoimentos
de Rui Mourão e Vicente Guimarães, irmão de Rosa. Em 1984, Carlos Alberto
55
Prates Correia dirige o longa-metragem Noites do Sertão, adaptado a partir do conto
Buriti. No elenco, atores como Débora Bloch, Tony Ramos, Maria Alves, além da
participação especial do cantor e compositor Milton Nascimento. (BIAGGI, 2007, p.
27-29).
Seu único romance Grande Sertão: vereda foi transformado em minissérie, e
transmitido pela Rede Globo em 1985, um marco da teledramaturgia brasileira. A
história de Riobaldo contada em 25 capítulos, de 18 de novembro a 20 de dezembro
de 1985, é fruto da adaptação de Walter George Durst, responsável também pelo
roteiro, com colaboração de José Antônio de Souza. Para Avancini e Durst, não
bastava o desejo de vencer o desafio e transformar em minissérie talvez o mais
famoso estudo de um romance brasileiro. Era preciso ter um objetivo social, um
objetivo formativo e educativo: levar aos brasileiros letrados e iletrados o mundo de
Guimarães Rosa como forma de atingir o coletivo brasileiro (MUNGIOLI, 2009, p. 37-
48).
Dirigido por Marily da Cunha Bezerra, o curta-metragem Rio de Janeiro,
Minas, lançado em 1993, foi filmado na cidade de Três Marias, interior de Minas
Gerais. Produzido a partir de um trecho de Grande Sertão: veredas, o filme conta em
seu elenco com as participação dos atores Nanna de Castro, Cristina Ferrantini,
Paulo de Souza e com a participação de Manuelzão e sua esposa, Dona Didi; com
voz em off de José Mayer.
Em 1994, Nelson Pereira dos Santos lança o filme A terceira margem do rio,
produzido a partir dos contos A menina de lá, Os irmãos Dagobé, Sequência e
Fatalidade. O filme conta em seu elenco com Ilya São Paulo, Sonjia, Jofre Soares e
Maria Ribeiro (MUNGIOLI, 2009, p. 48 - 51).
Os nomes do Rosa, série em vídeo, produzida especialmente para a
televisão, lançado em 1998 com direção de Pedro Bial; produção de Pedro Bial e
Vânia Catani e roteiro de Pedro Bial, Claufe Rodrigues, Ana Luiza Martins Costa e
Raul Soares. O Longa-metragem Outras estórias, escrito, dirigido e produzido por
Pedro Bial, com roteiro dele e de Alcione Araújo, foi lançado em 1999. O filme é uma
adaptação dos contos: Famigerado; Nada e a nossa condição; Os irmãos Dagobé;
Substância; Sorôco, sua mãe e sua filha. No elenco atores consagrados como Paulo
Jose, Giula Gam, Antônio Calloni e Marieta Severo.
Apesar dos vários filmes e mini series que tornaram possíveis o acesso da
obra de Guimarães Rosa para um público diversificado e heterogêneo em todo do
56
país, não encontramos reportagens específicas sobre a biografia do escritor na
Rede Globo e Rede Minas, emissoras que elencamos para nossas pesquisas.
Apuramos durante as pesquisas, que as herdeiras do escritor detêm o direito
de uso e imagem e muitas vezes dificultam o trabalho das emissoras, pois
estabelecem valores exorbitantes para veicular a imagem do pai na mídia. Por
ocasião do lançamento do projeto de requalificação do Museu Casa Guimarães
Rosa e abertura de sua nova exposição de longa duração, realizada em julho de
2012, a Rede Globo mostrou interesse em fazer um documentário sobre a vida de
Guimarães Rosa, que seria veiculado em âmbito nacional, mas o projeto não foi
viabilizado, pois a Sra. Vilma Guimarães, filha mais velha do escritor, quis interferir
no roteiro proposto e a emissora não aceitou esta interferência e muito menos,
aceitou pagar o valor estipulado por ela.
Estão disponíveis no canal do YouTube, vídeos, filmes e até documentários
sobre o escritor, produzidos por instituições acadêmicas, produtoras de vídeos e por
alguns veículos de comunicação onde a biografia de Guimarães Rosa, é veiculada
de uma forma imparcial, sem se aprofundar em nenhum assunto em específico.
57
3 MUSEUS E MEMÓRIA, CAMINHOS QUE SE ENTRELAÇAM
3.1 Memória: o museu que se faz lembrar
Necessidade e iniciativas no sentido do resgate e construção de uma
memória social, segundo Maria Andréa Dias de Andrade e Washington Dias Lessa
(2010) levaram e levam o ser humano, em vários momentos e contextos históricos, a
coletar objetos para preservação, assim como levam ao agenciamento de lugares
específicos para guarda e vivenciamentos possíveis desses itens (ANDRADE;
LESSA, 2010, p. 45-46).
Segundo Michel Pollak (1992), a memória social é um fenômeno coletivo e
social, construído coletivamente e submetido a transformações constantes. Ela
transmite a cultura local herdada e é constituída por acontecimentos vividos
socialmente. Nessa ótica, são três os elementos que servem de apoio à memória: os
acontecimentos vividos, as pessoas e os lugares; responsáveis pelo
estabelecimento dos laços afetivos entre as pessoas. De acordo com o autor, a
memória é seletiva, pois, nem todos os fatos ficam registrados e os indivíduos só
têm recordações dos momentos a que dão importância e que, por alguma razão,
ficaram marcados na sua memória. Além do mais, parte das lembranças pode ser
herdada dos acontecimentos relacionados aos seus antepassados (POLLAK, 1992,
p. 10)
Ao se constatar a importância da memória na constituição do ser, começa-se
a atribuir a ela uma função decisiva na existência, já que permite a relação do corpo
presente com o passado e, ao mesmo tempo, interfere no curso atual das
representações. Segundo Ecléa Bosi (2003), pela memória, o passado “não só vem
à tona das águas presentes, misturando com as percepções imediatas, como
também empurra, descola estas últimas”, ocupando todo o espaço da consciência. A
autora adverte, porém, que a memória parte do presente, de um presente ávido pelo
passado, cuja percepção “é a apropriação veemente do que nós sabemos que não
nos pertence mais”. E assim, a rigor, a apreensão plena do tempo passado é
relativa, e o papel da consciência se resume a ligar com o fio da memória as
apreensões instantâneas do real (BOSI, 2003, p. 85).
Sendo assim, entendemos que a memória é uma construção social, produzida
pelos homens a partir de suas relações, de seus valores e de suas experiências
58
vividas. Ela sofre transformações e à medida que o tempo passa a história dos
indivíduos toma um novo rumo. Assim, pode-se dizer que a memória não é apenas
um registro histórico dos fatos, mas uma combinação de construções sociais
passadas, com fatores significantes da vida social do presente, sendo
permanentemente reconstruída.
Desta forma, compreendemos que a memória é construída interativamente,
por meio do contato entre os indivíduos e que, a partir deste contato e da troca de
experiências, é possível a construção de uma memória coletiva. Neste caso, quando
percebemos que nossa memória está relacionada a um quadro mais amplo, relativo
a representações do espaço, tempo e sujeitos relacionados à construção desta
memória coletiva, nos é possível compreender que ela, às vezes, está em um
contexto anterior a nós mesmos, apesar desta construção se dar sempre no
presente.
Entendemos que a memória coletiva envolve sentimentos de pertencimento e
identidade, uma vez que a memória depende das interações e dos grupos sociais. A
memória coletiva, portanto, é caracterizada por um intenso componente afetivo que
surge da interação e das experiências entre os membros da comunidade. Nessa
medida, ela é importante para manter a integridade e a sobrevivência do grupo no
tempo, pois no nosso entendimento, é o grupo quem faz o tempo da memória
coletiva. Para Maurice Halbwachs (2006) “a construção de laços sociais
permanentes, mantidos com relativa firmeza entre os indivíduos, está diretamente
ligada à coesão garantida pelos quadros sociais da memória”. Tais quadros são
entendidos como um sistema de valores que unifica determinados grupos:
familiares, religiosos, de classe, etc. (HALBWACHS, 1990, p.45).
Agrupados em coleções, os museus possuem natureza variada, podendo
incluir em seu acervo pequenos ossos de animais, grandes telas pintadas, armas,
tapeçarias, cerâmicas ou moedas. Esse coletar e guardar tem motivações
diferentes, seja meramente por prazer pessoal ou mesmo como uma forma de
investimento financeiro.
Os homens ao longo dos anos coletam e guardam objetos para si e para as
instituições às quais pertencem, organizando-os em coleções. Na Antiguidade
Clássica, por exemplo, objetos eram coletados e conservados em templos como
oferendas para os deuses. Na Idade Média, as igrejas colecionavam objetos que
eram considerados relíquias sagradas. Com o desenvolvimento e expansão nos
59
meios de transporte, o homem passou a atravessar oceanos e montanhas coletando
e transportando objetos de e para pontos muito distantes. Agrupados ou
isoladamente, alguns desses objetos se tornaram de domínio público
(BENCHETRIT, 2003, p. 11-15)
Bruno César Brulon Soares (2008), por sua vez, afirma que os objetos podem
funcionar sobre nós como “trampolins para o passado” e nos transportar através de
tempos remotos nos quais, assim como no presente, estabeleceu-se entre eles e
nossos antepassados uma relação de pertencimento. O objeto antigo conservado
não escapa do tempo, pelo contrário, está duplamente inscrito no tempo, passado e
presente, colocando-se de formas diferentes em sua época e na nossa (SOARES,
2008, p.56).
Para Marcel Proust (2004), no entanto, o passado não está escondido nos
objetos, mas sim em nossa memória. Aquele passado tão distante, que tentamos
evocar, está escondido fora de nosso domínio e de nosso alcance, pois o passado
está em nós, e só dentro de nós mesmos, poderemos eventualmente encontrá-lo.
Somos nós que atribuímos aos objetos, percebidos a partir de nossa experiência, o
poder de buscar, por associação, esse passado, a partir da memória. E quando
essa memória, evocada por eles, é importante para o coletivo, eles são nomeados
objetos de memória, ou, simplesmente, patrimônio (PROUST, 2004, p. 51-53).
Tereza Cristina Scheiner (2004) reforça o pensamento de Proust, ao afirmar
que os traços de memória estão sempre dentro de nós, estejamos cientes deles ou
não. Mesmo quando um objeto nos faz remeter a uma memória esquecida, não é o
objeto em si que nos transporta, mas são nossos sentidos que o fazem – olfato,
audição, tato, paladar, ou simplesmente a visão do objeto (SCHEINER, 2004, p. 56).
É importante preservar os objetos de memória, que fazem parte do
patrimônio, pois eles possibilitam encontrar o passado. Estes objetos, sejam eles de
valor histórico ou emocional para uma coletividade, é que atribui o estatuto de
patrimônio aos objetos. Esta atribuição de valor pode ser feita por uma comunidade
com a intenção de preservar um elemento de seu passado cultural através do
museu. Neste caso, o museu transforma-se em um instrumento que pode ser
verdadeiramente utilizado pela sociedade.
Entendemos que os museus são a um só tempo: lugares de memória e de
poder. Estes dois conceitos estão permanentemente articulados em toda e qualquer
instituição museológica. Os museus podem simbólica e efetivamente operar como
60
espaços onde se celebra, de modo acrítico, a “memória do poder”. Ou podem vir
assumir a função de equipamentos interessados em trabalhar democraticamente
com o poder da memória (CHAGAS, 1998, p. 13).
A compreensão do museu como sendo também arena e campo de luta está
distante da idéia de espaço neutro e apolítico de celebração de memórias.
Entretanto, segundo Mário de Souza Chagas (1998), a memória é construção e não
está aprisionada nas coisas e sim situada na dimensão inter-relacional entre os
seres, e entre os seres e as coisas; encontram-se, deste modo, elementos
necessários para o entendimento de que a constituição dos museus exaltadores da
memória do poder decorre da vontade política de indivíduos e grupos, e representa
os interesses de determinados segmentos sociais (CHAGAS, 1998, p. 25-26).
A partir do século XVIII acentua-se no mundo a onda nacionalista e,
exatamente neste momento, constata-se um significativo aumento do número de
museus históricos. Assim, nascem os lugares de memória da nação, como os
monumentos, os arquivos e os museus que, incorporados ao patrimônio nacional,
transformam-se segundo Sarah Fassa Benchetritt (2003), em “espaços de
consagração da materialidade do patrimônio da nação e em um instrumento de
celebração da identidade coletiva dos cidadãos” (BENCHETRITT, 2003, p. 22).
As instituições de memória, e de modo particular aos museus, é
frequentemente atribuída a função de ‘Casas de guarda do tesouro’. Nos museus,
normalmente, estão preservados os testemunhos materiais de determinados
períodos históricos. No entanto, a estes testemunhos materiais, alguns com valor de
mercado, associam-se valores simbólicos e espirituais de diferentes matizes.
De acordo com Mário de Souza Chagas (1998), a constituição dos museus
celebrativos da memória do poder decorre da vontade política de indivíduos e
grupos e representa a concretização de determinados interesses. Segundo ele, para
estes museus, a celebração do passado, seja ele recente ou remoto, o culto à
saudade, aos acervos valiosos e gloriosos é fundamental para a sua sobrevivência
(CHAGAS, 1998, p. 25).
Não por acaso, muitos museus encontram-se fisicamente localizados em
edifícios que um dia serviram de sedes de poder ou residências de indivíduos
poderosos. O poder evocado pela memória irá garantir, com sua força, a
transmissão dos valores e tradição. Nos museus, segundo Chagas, o poder é
concebido como alguma coisa que tem lócus próprio, vida independente e está
61
concentrado em indivíduos e instituições ou grupos sociais (CHAGAS, 2000, p. 13).
No entanto, vale ressaltar que o poder do museu está em toda parte, em
qualquer instância das relações do humano com o real ele pode ser evocado.
Museus que dão lugar à participação social e à possibilidade de conexão com o
presente, possibilitando que o poder circule por seus espaços. Todos os museus
estabelecem certa relação com o passado, presente e futuro, e a natureza da
relação estabelecida com estas três instâncias de tempo é o que irá determinar em
que sentido a memória está sendo utilizada, em que sentido o poder que circula está
sendo apropriado, e por quem.
Podemos afirmar, de acordo os estudos realizados até a presente data, que o
museu nasce a partir do desejo de uma comunidade de identificar-se ou reconhecer
sua memória, em face de um estranhamento que brota do confronto com o presente.
Tereza Cristina Scheiner (2004), afirma que este museu “não está sujeito a um lugar
específico, mas que é fato dinâmico, eternamente a conjugar memória, tempo e
poder, recriando-se continuamente para seduzir o ouvinte com a sua voz”. É esse
museu a principal instância que vai, através dos anos, conservar13 e transmitir, de
forma ativa, o patrimônio (SCHENER, 2004, p. 56-57).
Assim, o museu que não passou ao longo dos séculos de coleções
particulares, buscou torna-se um serviço público, um museu-laboratório ou museu-
escola e, ao perpassar os muros, tornou-se um museu aberto, um local onde a
população se identifica e se expressa, ou seja, transformando-se em verdadeiro
patrimônio desta comunidade.
Por outro lado, o Museu, além de possibilitar o conhecimento sobre o
passado, participa da construção social dos cidadãos, pois ao permitir o
conhecimento do que lhes é próprio da cultura, propicia a identificação do diferente
e, principalmente o respeito a esta diferença. O museu então, além de ser um
patrimônio cultural, é uma forma de expressar a memória, o que permite tanto à
identificação quanto a diferenciação.
A emergência de identidades locais e dos movimentos sociais leva a buscar
na memória um espaço de disputa sobre o passado, onde passam as instituições da
13
Referimos-nos, aqui, a uma conservação ativa do patrimônio que se dá sempre no presente, ou seja, uma conservação daquilo que ainda está em uso no cotidiano, sujeito às variações e trocas que se dá em contato com o humano e com o meio. É o tipo de conservação que se atribui às línguas faladas, que são preservadas por aqueles que fazem uso delas e estão em constante mutação.
62
memória, neste caso, os museus, a assumir papel fundamental no contexto social.
Sendo assim, conforme Vânia Carvalho Rola Santos (2000) os museus
estariam comprometidos com o futuro de cada nação, estudando e tornando
compreensíveis os elos que nos unem aos nossos antepassados. Dessa forma, o
museu enquanto meio de preservar o patrimônio cultural, que interage com a
sociedade que o cerca, contribui para que a sociedade conheça sua história e possa
refletir sobre seu presente e projetar um futuro melhor (SANTOS, 2000, p.15).
Entendemos que o museu é uma instituição dinâmica, comprometida com o
desenvolvimento, a educação e a identificação do grupo a que pertence. É comum
acreditar que a comunidade em geral entende que o patrimônio promove o
desenvolvimento. Então, para que as pessoas se identifiquem com determinado
grupo, é necessário que se sintam parte dele, se reconheçam. Isso só é possível
através do patrimônio cultural, de sua materialização e representação, neste caso, o
museu.
A palavra museu14 se origina do termo grego mouseîon, ou templo das musas
- uma mistura de templo e instituição de pesquisa, voltada, sobretudo, para o saber
filosófico. As obras expostas nesse templo tinham a intenção de agradar às
divindades mais do que propriamente serem abertas à contemplação e admiração
de possíveis visitantes. As musas na mitologia grega eram as filhas que Zeus gerara
com Mnemosine, a divindade da memória. As musas, donas da memória absoluta,
imaginação criativa e presciência, favoreciam o desenvolvimento das letras e das
artes e ajudavam os homens a esquecer a ansiedade e a tristeza (SOARES, 2008,
p. 17-18)
Para Vinicio Stein Campos (1965), no entanto as descreve juntamente com
suas ‘aptidões’:
[...] as Musas, em número de nove, eram filhas de Zeus (o deus dos deuses) e Mnemosine (a deusa da memória). Eram elas: Caliope, a rainha das musas, inspiradora da poesia épica e da eloqüência; Polínia, a musa da poesia lírica. Erato, as poesia erótica e da elegia; Clio, da história; Euterpe, da música; Tália, da comedia; Melpóneme, da tragédia; Terpsicore, da dança e Urânia, da Astronomia (CAMPOS, 1965, p.11).
14
O Conselho Internacional de Museus (ICOM) define museu como uma instituição sem fins lucrativos, estando permanentemente à serviço da sociedade e de seu desenvolvimento, e aberta ao público que adquire, conserva pesquisa, divulga e expõe, para fins de estudo, educação e divertimento, testemunhos materiais do povo e de seu ambiente.( CONSELHO INTERNACIONAL DE MUSEUS, 2014).
63
As musas eram cultuadas como inspiradoras da poesia e do canto, e além
das artes presidiam o pensamento sob todas as suas formas. Um dos primeiros
museus foi criado no século III a.C., em Alexandria, no Egito, por Ptolomeu II. Essa
proeminente cidade do Mediterrâneo era um centro importante de conhecimento e o
museu funcionava como biblioteca, lugar de pesquisa e refúgio contemplativo. Os
romanos, por seu turno, encaravam os museus como um empreendimento
sistemático e eclético, em que se acumulavam coleções adquiridas em campanhas
militares e de colonização. E no século II a.C. eles passavam a ser associados não
apenas ao armazenamento, mas também à mostra dessas coleções.
Na idade média, a Igreja passou a ser a principal receptora de doações
eclesiásticas e de patrimônio de príncipes e famílias abastadas da época. Neste
período, no museu, eram conservados os conhecimentos humanos que eram
utilizados como inspiração para artistas, no mesmo tempo em que serviam como
veículo de reprodução da estética aprovada pela Igreja. Isto porque a representação
artística estava intimamente relacionada com os objetivos didáticos da Igreja e
propagação da religião cristã.
Mas foi no Renascimento que, aliada ao rompimento das ideias do mundo
medieval, rompeu-se também com a confiança nos velhos caminhos para a
produção do conhecimento: a fé e a contemplação não eram mais consideradas vias
satisfatórias para se chegar à verdade. Para Myrian dos Santos Sepúlveda (2004),
o embrião do museu moderno surge no Renascimento, com os chamados Gabinetes
de Curiosidades. Segunda a autora:
Foi no Renascimento que surgiu o “embrião do museu moderno”, os chamados Gabinetes de Curiosidades. Estes eram quartos pequenos, localizados em palácios de nobres e estudiosos que reuniam objetos variados. Tanto as peças artísticas, quanto as científicas passavam pelos critérios de autenticidade e capacidade de suscitar emoção e surpresa em quem às observava. As visitas a esses locais ainda eram restritas a um público seleto de nobres, monges, poetas e sábios, dentre outros (SEPÚlLVEDA, 2004, p.12)
Os gabinetes de curiosidades eram uma “espécie de vanguarda que viria a
estimular e orientar o trabalho dos colecionadores do Renascimento e dos Tempos
Modernos, alicerce que possibilitam o admirável movimento museológico que se
seguiu à Revolução Francesa. de 1789” (CAMPOS, 1965, p.16).
64
Somente após a Revolução Francesa foi possível ter acesso às grandes
coleções, tornando-as públicas e passíveis de serem visitadas em diferentes
museus. O primeiro museu como conhecemos hoje surgiu a partir da doação da
coleção de John Tradescant, feita por Elias Ashmole, à Universidade de Oxford,
conhecido como Ashmolean Museum. O segundo museu público foi criado em 1759,
por obra do parlamento inglês, na aquisição da coleção de Hans Sloane (1660-
1753), que deu origem ao Museu Britânico. O primeiro museu público só foi criado
na França, pelo Governo Revolucionário, em 1793: o Museu do Louvre, com
coleções acessíveis a todos, com finalidade recreativa e cultural.
É a partir do século XIX, com a criação de importantes instituições
museológicas na Europa, que a acepção moderna do museu se consolida. Em 1808,
surgia o Museu Real dos Países Baixos, em Amsterdã; em 1810, o Atles Museum,
em Berlim; em 1819, O Museu do Prado, em Madri, e em 1852, o Museu Hermitage,
em São Petersburgo, antecedidos pelo Museu Britânico, 1753, em Londres, e o
Belvedere, 1783, em Viena.
Segundo Letícia Julião (2006), esses museus, que eram concebidos dentro
de um “espírito nacional”, nasciam imbuídos de uma ambição pedagógica, pois
tinham a intenção de formar o cidadão, através do conhecimento do passado –
participando de maneira decisiva do processo de construção das nacionalidades
(JULIÃO, 2006, p.19-32).
No Brasil, o surgimento das primeiras instituições museológicas data do
século XIX. O Museu Real, atual Museu Nacional, foi criado em 1808, por D. João
VI, cujo acervo era composto por uma pequena coleção de história natural doada
pelo monarca. Vários museus foram criados a partir desta data, entre eles:
a) os museus do Exército (1864), da Marinha (1868);
b) o Paranaense (1876), do Instituto Histórico e Geográfico da Bahia (1894),
no entanto, o primeiro museu data de 1862, o Museu do Instituto Arqueológico
Histórico e Geográfico de Pernambucano (Pernambuco). Os outros museus
brasileiros foram fundados durante o século XX, sendo o mais importante, pela
qualidade do acervo, o Museu de Arte de São Paulo (MASP), fundado em 1947.
Merece destaque também, dois museus etnográficos:
65
a) o Paraense Emílio Goeldi, constituído em 1866, por iniciativa de uma
instituição provada, transferido para o Estado em 1871 e reinaugurado em
1891; e
b) o Museu Paulista, mais conhecido como Museu do Ipiranga, inaugurado em
1894.
Desde o surgimento do primeiro museu no Brasil até os dias de hoje, muita
coisa mudou. De acordo com pesquisa realizada pelo IBRAM, que resultou na
publicação em 2010 do Guia dos Museus Brasileiros, foram mapeados 3.025
museus em todo país, espalhados por 1.172 municípios, representando 21,1% do
total de municípios brasileiros, que somam 5.564 municípios. A sua distribuição,
todavia, não é uniforme, pois entre os municípios que possuem museus, 771 deles
possuem apenas um museu, enquanto os demais municípios (401) concentram
2.254 museus. (BRASIL, 2012a).
De acordo com os dados levantados nesta pesquisa, é possível constatar que
a presença de museus ocorre de forma desigual nas regiões brasileiras. O Sudeste
e o Sul do País são as regiões com maior número de unidades museológicas,
concentrando aproximadamente 67% dos museus brasileiros. Os Estados de São
Paulo, Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Paraná e Rio de Janeiro aparecem, nessa
ordem, como os que apresentam a quantidade mais elevada de museus. (BRASIL,
2012a).
O Nordeste é a terceira região em quantitativo de museus, abrigando
aproximadamente 21% do total de instituições mapeadas. Bahia, Ceará e
Pernambuco são os Estados nordestinos que mais se destacam em números de
instituições museológicas.
Nas Regiões Norte e Centro-Oeste, estão situados 12% dos museus
brasileiros, ressaltando-se neste caso que Pará, Amazonas, Goiás e Distrito Federal
são os Estados que detêm o maior número de museus nestas regiões (BRASIL,
2010).
A maioria das instituições é jovem e tem menos de 30 anos de existência.
Dos museus mapeados, mais de 67% são públicos e 88% são gratuitos. Ainda de
acordo com a pesquisa IBRAM, Minas Gerais é o Estado com maior número de
municípios do Brasil (853), o segundo em termos de população absoluta, com
66
aproximadamente 20 milhões de habitantes. É o quarto Estado em número de
museus, com 319, à sua frente estão São Paulo, Rio de Janeiro e Salvador.
Sobre a concentração dos museus brasileiros, é preciso levar em
consideração sua história. Desde o surgimento dos primeiros museus, sua
localização privilegiava áreas urbanas, ligadas aos centros de poder econômico e
financeiro. (BRASIL, 2012a).
Os museus foram criados como locais de guarda e preservação de itens de
cultura e conhecimento, depositários de coleções raras e autênticas e sendo
considerados como verdadeiros templos. A história da constituição do patrimônio
cultural está condicionada por uma sequência de rupturas: mudanças nas crenças
coletivas e modos de vida, desorganizações técnicas, propagação de novos estilos
que substituem os antigos.
Toda a construção patrimonial se dá num constante processo em que a
memória entremeia concomitantemente passado, presente e futuro. A verdadeira
memória é uma construção também resultante de rupturas; é na complexa relação
entre passado e presente, que se formam as lembranças do agora.
Sendo assim, de acordo com Luiz Borges (2011), todo museu é uma proposta
de ver, recortar, conhecer, classificar, compreender e representar uma dada
realidade, ou seja, ele inscreve-se em uma visão de mundo, a partir de uma
determinada posição de autoria. Os museus abrigam objetos que, em sua maioria,
vêm de um passado ou que já tenham participado de processos de mudanças e
trocas, na constituição de um patrimônio presente. Esses objetos constituem parte
do passado de uma sociedade à qual este museu está servindo, e a qual deve
oferecer um espaço de encontro e, ao mesmo tempo, de confronto com a sua
realidade (BORGES, 2011, p.43).
O passado não tem valor por si só. Ele tem importância na medida em que se
encontram elementos de resposta para os problemas atuais. O domínio da
identidade e da memória, o domínio dos museus, não é o domínio das ciências
exatas, mas dos mitos, símbolos e representações, que indicam no presente os
caminhos já tomados e aqueles que poderão se tomar.
Desse modo, o museu institui-se como interseção entre a história e a
linguagem, tornando-se sujeito-ator de suas narrativas (narrativas museais), aqui
representadas por seu acervo, exposições temporárias e de longa duração e por
suas ações educativas, pelas quais faz representar em seus leitores (visitantes,
67
especialistas) a sua construção / interpretação da realidade. Com isso, o discurso
museológico mobiliza memórias, estabelece sentidos estabilizadores relativos à
coisa exposta.
Para Luiz Borges (2011), no entanto, ao inscrever-se em um dado jogo das
redes simbólicas, o museu funciona como um lugar em que a realidade é transposta,
deslocada para uma representação de segunda instância e, como tal, reordenada e
ressignificada (BORGES, 2011, p. 37-62)
Neste caso, o museu se faz, igualmente, um lugar de disputa de/por
memórias e sentidos. Disputa que se estabelece entre museu e sociedade (entre
museu e outros atores sociais, bem como entre museus, como frações da
sociedade). Portanto, é uma arena de negociação, espaço de controvérsias e
consenso, logo, dicções e interdições (BORGES, 2011, p. 46).
Diferentes sociedades e culturas têm concepções próprias do tempo e do
transcurso da vida, e tendem a organizar de forma própria os fatos acontecidos e a
história. Em sociedades de cultura mítica, em geral, o tempo é circular e a vida é
concebida como uma eterna repetição do que já aconteceu, num passado remoto
narrado pelo mito. Este museu de memórias, em seu estado mais intangível, se
constrói constantemente no cotidiano das pessoas, em suas relações com os
antepassados (CHAGAS, 1998, p. 20).
O museu faz da história algo concreto: faz dela uma performance da qual não
se pode duvidar, uma vez que estão exibidas as suas provas. E o museu tem como
forma de expressão para exibir estas provas do passado a exposição, que não é
única, mas é uma das formas mais poderosas que ele possui para construir o seu
discurso a partir do que tem de concreto: os objetos. Assim, ele se faz sempre
presente, na mudança. Sua linguagem, além de seu discurso, deve adequar-se de
forma que permita uma leitura atual (BORGES, 2011, p. 38).
O museu não é apenas a casa de memória e de poder conforme advoga
Mario de Souza Chagas (2009), mas também é o lugar de vestígios deslocados e no
qual ocorrem entrecruzamentos e coocorrências de memórias e contra-memórias.
Segundo Pierre Nora (1993) o museu não se apresenta apenas como um lugar de
memória, mas igualmente como lugar de interpretação, produção/ordenação de
sentidos, um espaço de entrelaçamento tensionado de diversas memórias (dos
objetos, da sua ressignificação, da comunicabilidade, das muitas formações
discursivas e imaginário-ideológicas) (NORA, 1993, p.1-28).
68
Sendo assim, entendemos que em qualquer museu podem ser encontrados
efeitos de uma memória líquida (aquela que se adapta ou se molda a novos
contextos e necessidades), de uma memória mecânica (aquela em que o real da
história é reduzido a formas de armazenamento), dentre outras (BORGES, 2011, p.
55-57). O museu não se limita apenas ao objeto nem à temporalidade que
representa: o seu maior objeto é o próprio ser humano.
3.2 Um museu dedicado a Guimarães Rosa
Museu Casa Guimarães Rosa (MCGR), órgão que está vinculado à
Superintendência de Museus e Artes Visuais (SUMAV) da Secretaria de Estado de
Cultura de Minas Gerais, foi idealizado inicialmente tendo como pano de fundo dois
acontecimentos marcantes para o Estado naquela época: o falecimento repentino de
João Guimarães Rosa, no dia 19 de novembro de 1967, e a criação do IEPHA-MG,
em setembro de 1971. (MINAS GERAIS, 2012).
A idéia de transformar a casa onde Guimarães Rosa nasceu e viveu seus
primeiros nove anos de vida (1905-1917), em uma instituição cultural, surgiu a partir
de apelos de jornalistas, acadêmicos, políticos, familiares, amigos do escritor e da
própria comunidade de Cordisburgo, que se mobilizaram logo após a sua morte.
O museu foi concebido em 1971 e inaugurado em 30 de março de 1974, com
a “finalidade de manter em permanente atividade um centro divulgador da obra
literária de Guimarães Rosa, assim como uma fonte viva de informações abertas a
estudos e pesquisas” (MINAS GERAIS, 2013).15.
A casa, de arquitetura modesta, destinada à moradia, foi construída no final
do século XIX e princípios do XX. Está localizada na Rua Padre João, esquina com
a Travessa Guimarães Rosa, região central de Cordisburgo. O prédio onde funciona
o Museu Casa Guimarães Rosa, composto pela residência da família de João
Guimarães Rosa e pela venda mantida por seu pai, “seu” Florduado, é um dos
principais itens de acervo do Museu.
A venda do “seu Fulo”, como era carinhosamente chamado o pai de
Guimarães Rosa, tinha como frequentadores os vaqueiros, que traziam as boiadas
15
Informação retirada do Plano Museológico dos Museus da Superintendência de Museus e Artes Visuais da Secretaria de Estado de Cultura de Minas Gerais.
69
para serem embarcadas nos trens da Central. Foi nessa venda que Rosa, ainda
menino, teve a oportunidade de conviver e ouvir dos vaqueiros e demais usuários
que frequentavam o comércio de seu pai histórias e os mais diferentes causos que,
sem sombra de dúvidas, estimularam e acusaram a imaginação do futuro escritor.
De acordo com documentos que estão sob a guarda da Superintendência de
Museus e Artes Visuais (SUMAV), a casa que hoje abriga a sede do Museu, passou
por três proprietários antes de ser adquirida pelo Governo do Estado de Minas
Gerais, em 1971. O Governo do Estado, na ocasião, comprou o imóvel do Senhor
Ildefonso Rodrigues Costa, e o transferiu para o Instituto Estadual do Patrimônio
Histórico e Artístico de Minas Gerais.
O Museu possui em seu acervo aproximadamente 200 objetos e é composto
por registros da vida profissional do escritor, como médico e diplomata, além de
fragmentos do universo rural descrito por Guimarães Rosa em seus livros, a
exemplo de objetos de montaria e relacionados à atividade pecuária. Também está
sob a guarda do Museu uma coleção de cerca de 1200 documentos textuais entre
os quais merecem destaque:
a) os registros de caráter pessoal do escritor:
certidões, correspondências recebidas e emitidas, documentos escolares;
b) discursos:
artigos em periódicos e originais manuscritos ou datilografados.
De acordo com informações obtidas através do Plano Museológico16 da
Superintendência de Museus e Artes Visuais, que foi concebido para ser implantado
nos cinco museus do Estado:
a) Museu Mineiro, em Belo Horizonte;
b) Museu Casa Guignard, em Ouro Preto;
c) Museu Casa Guimarães Rosa, em Cordisburgo;
16
De acordo a seção III, artigo 45, da Lei 11.904 de 2009, que institui o Estatuto de Museus, o Plano Museológico é compreendido com sendo: a ferramenta básica de planejamento estratégico de sentido global, integrador, indispensável para a identificação da vocação da instituição museológica para a definição, o ordenamento e a priorização dos objetivos e das ações de cada uma de suas áreas de funcionamento, bem como para fundamentar a criação ou fusão de museus constituindo instrumento fundamental para a sistematização do trabalho interno e para atuação dos museus na sociedade. (BRASIL, 2009).
70
d) Museu Casa Alphonsus de Guimarães, em Mariana; e
e) Museu do Crédito Real, em Juiz de Fora)
e que estão sob a gestão da Superintendência, a constituição do acervo do MCGR,
aproximadamente 90%, foi feita por meio de doações realizadas por familiares e
amigos do escritor, quase todas na década de 1970, precisamente nos anos de
1973, 1974 e 1979.
Ao longo dos anos, a instituição mantém-se fiel à missão original, ou seja, de
ser um centro divulgador da obra literária de Guimarães Rosa. É possível afirmar, de
acordo com pesquisas realizadas em documentos que estão sob a guarda da
Superintendência, que a criação do Museu, no contexto da morte do escritor, tem
contribuído para que a imagem da casa da infância e da vida em família suplantasse
a obra.
A exposição de longa duração, que culminou com a inauguração do Museu
em 1974, sofreu pequenas alterações ao longo dos anos. A mostra, que ocupava
todos os cômodos, designados conforme seus respectivos usos: sala de visitas;
alcova ou quarto escuro; quarto dos pais, quarto da avó, sala de jantar, cozinha,
eram ambientações próprias de uma casa térrea, de padrão construtivo modesto,
típica de fins do século XIX.
O museu passou por uma série de reformas e foi reinaugurado em 1984,
reforçando ainda mais a imagem da “casa da infância” de Guimarães Rosa, fato que
foi reafirmado com a reconstituição de uma venda típica, mesmos moldes das
existentes nas pequenas cidades mineiras, para representar o antigo comércio de
“Seu Fulô”, pai do escritor e que foi incorporada à Exposição de Longa Duração do
Museu.
71
Figura 1- Fachada externa - Museu Casa Guimarães Rosa
Fonte: Foto de Ronaldo Alves
O documento do arquivo técnico da Superintendência denominado “Subsídios
para a montagem de uma exposição permanente”, datado de 1984, reafirma ser o
Museu um “centro difusor da vida e obra de Guimarães Rosa” e numa proposta
arrojada para os anos de 1980, o documento insere o Museu em Cordisburgo e na
região do cerrado.
Desde a década de 1980, o Museu Casa Guimarães Rosa atrai
pesquisadores e estudiosos de diversos Estados brasileiros e de outros países,
interessados não só em conhecer a casa onde Guimarães Rosa nasceu, mas
também o patrimônio cultural e natural da região de Cordisburgo. O Museu é hoje
uma referência muito importante para o turismo em Minas Gerais, integrando o
roteiro tradicional de visitas à Gruta do Maquiné17 e arredores da cidade de
Cordisburgo (MINAS GERAIS, 2013).
Segundo Ronaldo Alves, Coordenador do Museu, em entrevista concedida
ao Jornal Estado de Minas, em de junho de 2010.
as relações entre o Museu Casa Guimarães e a comunidade de Cordisburgo estreitam-se significativamente, sobretudo a partir dos primeiros anos da década de 90, graças à criação da Associação de Amigos do Museu Casa Guimarães Rosa e aos programas de ações educativas e
17
A Gruta de Maquiné foi descoberta em 1825 pelo fazendeiro Joaquim Maria Maquiné, dono das terras, naquela época. A gruta entrou para a história por ter sido desbravada, quase 10 anos depois, pelo cientista dinamarquês Peter Lund (1801 – 1880) considerado o pai da paleontologia brasileira. (MINAS GERAIS, 2013).
72
culturais desenvolvidas, que resultaram em experiências contínuas de apropriação pela comunidade da obra do escritor. (ALVES, 2010, p. 10).
Figura 2 - Jardim Interno do Museu Casa Guimarães Rosa
Fonte: Foto de Ronaldo Alves
Ainda segundo o Coordenador do Museu, “as mais reconhecidas ações
culturais desenvolvidas pela Instituição são aquelas que procuram ampliar a
compreensão da obra do escritor através da intimidade com que os cidadãos usam o
lugar e participam das atividades promovidas”. (ALVES, 2010, p. 7).
O caráter contínuo e permanente desses projetos, envolvendo diferentes
atores, em especial moradores da cidade de Cordisburgo, possibilitou a
consolidação de uma dinâmica cultural particularmente produtiva que vem
contribuindo para o desenvolvimento social e cultural do município.
A visita ao Museu Casa Guimarães Rosa é uma experiência única, tanto para
o conhecedor da obra deste grande escritor, filho ilustre de Cordisburgo, quanto para
quem nunca leu nenhuma obra de Guimarães Rosa. Para aqueles que estão
acostumados à literatura do escritor, a visita oferece a oportunidade de conhecer no
acervo do Museu, elementos que retratam o ambiente em que Rosa nasceu e se
formou, bem como sua biografia posterior e de sua obra. Para o iniciante, a visita
pode significar o impulso que faltava para mergulhar na leitura deste grande escritor
e adentrar o universo roseano.
73
Figura 3 - Venda do”Seu Fulô”
Fonte: Foto de Ronaldo Alves
A área de atuação do Museu Casa Guimarães Rosa ultrapassa as fronteiras
físicas da instituição, graças ao turismo cultural local e à presença de pesquisadores
nacionais e estrangeiros na região, além de projetos e eventos realizados em
parceria com a Associação de Amigos do MCGR.
3.2.1 Associação dos Amigos do Museu Casa Guimarães Rosa
A Associação de Amigos do Museu Casa Guimarães Rosa (AMMCGR),
entidade filantrópica reconhecida como de utilidade pública municipal e estadual, foi
criada em 1994 com o objetivo de apoiar e proporcionar a participação da
comunidade de Cordisburgo nas atividades do Museu. (ASSOCIAÇÃO DE AMIGOS
DO MUSEU CASA GUIMARÃES ROSA, 2012).
A AMMCGR constitui um centro de convergência e referência cultural para os
moradores da pequena Cordisburgo e, com essa diretriz, foram criados os Grupos
de Contadores de Estórias Miguilim, da Terceira Idade Estrelas do Sertão e
implementados o Telecentro e a Biblioteca Riobaldo Diadorim.
Dentre os objetivos da Associação está o de promover a integração da
comunidade de Cordisburgo e os projetos desenvolvidos pelo MCGR em parceria
com Superintendência de Museus e Artes Visuais, divulgando e incentivando a
leitura da obra e tornando dinâmico todo o espaço do Museu, com apresentações
74
artísticas e culturais de toda natureza.
Desde a sua criação, a AAMCGR estabeleceu uma série de parcerias
informais, com grupos de professores de diversas instituições de ensino do país, que
prestam apoio ao Museu e à Associação na realização de ações e projetos
direcionados para a comunidade de Cordisburgo e visitantes.
Em 2010, as atividades socioculturais e educativas promovidas pela
Associação dos Amigos do Museu Casa Guimarães Rosa foram reconhecidas como
relevantes pelo Ministério da Cultura e pela Secretaria de Estado de Cultura de
Minas Gerais, passando a funcionar como Ponto de Cultura18.
3.3.2 Grupo de Contadores de Estórias Miguilim
O Projeto Grupo de Contadores de Estórias Miguilins foi criado em 1995, por
meio da Associação de Amigos do Museu Casa Guimarães Rosa, pela doutora
Calina Guimarães Rosa, prima do escritor, responsável pela formação das
primeiras turmas de Miguilins. Desde então, os jovens selecionados recebem
preparação específica para atuarem na difusão da literatura roseana.
Conduzido desde 2002 pelas professoras Elisa Almeida e Dora Guimarães,
coordenadoras do Projeto Tudo Era Uma Vez, de Belo Horizonte, o Grupo de
Contadores de Estórias Miguilins conta atualmente com aproximadamente trinta
adolescentes, entre 13 e 18 anos, que recebem treinamento permanente em
técnicas de narração de histórias, apresentando um repertório rico que inclui
trechos e contos de livros como: Sagarana, Manuelzão e Miguilim, Grande
Sertão:veredas, Primeiras Estórias, Ave Palavra, No Urubuquaquá no Pinhém e
Magma.
18
O Ponto de Cultura é um programa em parceria com o Governo Federal, por meio do Ministério da Cultura, e Governo de Minas Gerais, através da Secretaria de Estado de Cultura. O objetivo do convênio, além de garantir o acesso da população a bens e serviços culturais, é apoiar projetos de entidades sem fins lucrativos, de caráter cultural ou com histórico de atividades culturais comprovadas que atendam a pelo menos um dos seguintes públicos: estudantes da rede pública de ensino; crianças, adolescentes, jovens, adultos e idosos em situação de vulnerabilidade social; populações de baixa renda; moradores em áreas com oferta precária de serviços públicos e de cultura, tanto nos grandes centros urbanos, como nos pequenos municípios; portadores de deficiência; e outros grupos minoritários. Para ser Ponto de Cultura, é preciso ser pessoa jurídica de direito, privado sem fins lucrativos, legalmente constituída, que desenvolva ações de caráter cultural devidamente comprovada no Estado e que seja selecionada e tenha seu Projeto aprovado em edital. (MINAS GERAIS, 2013).
75
Dentro das atividades culturais e educativas desenvolvidas pelo Museu e
Associação de Amigos do Museu Casa Guimarães Rosa, o Grupo de Contares de
Histórias Miguilins é considerado o projeto de maior alcance sociocultural. Criado
com o objetivo de promover, de forma viva, ampla e contínua a difusão da obra de
Guimarães Rosa para o público visitante do Museu, os Miguilins, por meio de
narração oral de trechos das obras de Rosa, ultrapassou as fronteiras
institucionais, adquirindo expressão regional e nacional. Além do Museu, o Grupo
apresenta-se em diversos municípios do Estado de Minas e também do país, em
universidades, congressos, seminários, escolas públicas e privadas, instituições
culturais e filantrópicas. (MINAS GERAIS, 2013).
O trabalho de formação dessas crianças e jovens inicia-se com a constituição
de um grupo de crianças de 10 a 12 anos, indicadas e/ou convidadas nas escolas de
Educação Fundamental da cidade de Cordisburgo. A pré-seleção é feita por meio de
leitura e interpretação de textos, coordenada pela pedagoga Lúcia Corrêa Goulart de
Castro. As crianças pré-selecionadas passam a frequentar a Oficina Conta-Contos,
ministrada pelas professoras Dôra Guimarães e Elisa Almeida, diretoras do Projeto.
Nesse módulo, os alunos aprendem a contar pequenos contos da tradição oral.
As crianças selecionadas passam por um treinamento de dois anos, antes de
se tornarem guias no Museu Casa Guimarães Rosa. Concluído o treinamento, e em
cerimônia realizada no MCGR, aberta para o público, os jovens recebem uma
camiseta, que os identifica, a partir de então, como integrantes do Grupo de
Contadores de Estórias Miguilins, tornando-se oficialmente membros efetivos do
Grupo e multiplicadores da literatura de Guimarães Rosa.
O Museu Casa Guimarães Rosa, através da narração oral de textos
roseanos, promove a aproximação de crianças e jovens com a literatura. No Projeto
de Contadores de Estórias Miguilins, os jovens participam ativamente da dinâmica
do Museu, identificando-se com sua missão institucional, compartilhado a
responsabilidade pela preservação e valorização do patrimônio cultural da cidade.
Por outro lado, com os Miguilins, o Museu pode desenvolver um trabalho de
ampliação do acesso à obra de Guimarães Rosa para além das fronteiras de sua
própria sede; as narrações não somente se tornam estímulo inicial para futuros
leitores da obra Roseana, como confirma à obra e ao Museu renovadas formas de
comunicação.
76
O projeto tem permitido à comunidade de Cordisburgo se apropriar de seu
valioso patrimônio, incorporá-lo em suas práticas culturais, criar identificações
sociais com a obra e torná-la importante referência de sua identidade cultural.
Durante os 17 anos de funcionamento, o projeto que já se encontra em sua
7ª geração, já formou cerca de 100 Miguilins, concorrendo decisivamente para a
ampliação do público visitante do Museu Casa Guimarães Rosa e de leitores da
obra do escritor. O Projeto oferece ao jovem de Cordisburgo o acesso à técnica de
narração do texto literário, noções de ética, regras de comportamento, trabalho em
grupo e etiqueta social.
O contato próximo com a literatura de Guimarães Rosa apura a sensibilidade
dos jovens narradores desenvolvendo uma visão de mundo mais rica. O trabalho
constante de leitura, compreensão e preparação dos textos de Rosa, leva-os a se
interessarem pela literatura de outros autores, abre-lhes novos caminhos,
instigando-os a dar prosseguimento aos seus estudos fora de Cordisburgo, nas mais
diversas áreas do conhecimento.
Figura 4 - Grupo de Contadores de Estórias Miguilins e Dora Guimarães
Fonte: Foto de Ronaldo Alves
77
Segundo Solange Agripa Trombini (2012), presidente da AAMCGR
a atuação dos contadores de estórias do Museu Casa Guimarães Rosa e Associação de Amigos, tem sido fonte de inspiração para outros projetos que, a exemplo dos Miguilins, procuram integrar arte, literatura, desenvolvimento pessoal e comunitário por meio da narração de estórias. (TROMBINI, 2012).
O modelo criado em Cordisburgo foi implementado e/ou adaptado por
entidades de outros municípios mineiros, como Araçaí, Morro da Garça, Três Marias
e Itabira.
3.3.3 Grupo da Melhor Idade Estrelas do Sertão
Criado em 2003, o Grupo da Melhor Idade Estrelas do Sertão é mantido pela
Associação dos Amigos do Museu Casa Guimarães Rosa, e é formado atualmente
por 30 senhoras do município de Cordisburgo, com idade entre 30 e 80 anos, que se
reúnem semanalmente para realizar trabalhos que tem o sertão como tema.
Esse trabalho se aproxima da obra de Rosa de uma maneira simples e
afetuosa, por meio da realização de bordados de frases e imagens extraídas da
literatura roseana, da tradição oral e do imaginário das pessoas. Lançado em 2006,
o livro O Coração do Lugar - Depoimento para Guimarães Rosa coloca em evidencia
a relação entre a realidade vivida pelas bordadeiras e a obra literária de Rosa, que
reúne as memórias individuais e coletivas referenciadas nos arquivos de
correspondências de Guimarães Rosa, que compõem o acervo do Museu.
78
Figura 5 - Grupo de Terceira Idade Estrelas do Sertão
Fonte: Foto de Ronaldo Alves
3.3.4 Semana Roseana
Criada em 1989, pela Academia Cordisburguense de Letras Guimarães Rosa,
a Semana Roseana é realizada desde o final da década de 90 graças a uma ação
cooperada entre a Academia, o Museu Casa Guimarães Rosa, a Superintendência
de Museus e Artes Visuais, a Secretaria de Estado de Cultura e a Associação dos
Amigos do Museu Casa Guimarães Rosa, com o apoio da Prefeitura e Câmara
Municipal de Cordisburgo.
Este evento, de repercurssão nacional, tem o objetivo de promover a
divulgação da obra de Rosa, favorecendo o conhecimento da sua literatura por meio
de diversas linguagens, entre elas: palestras, seminários, contação de estórias,
caminhadas eco-literárias, apresentações musicais e de dança.
Todos os anos, uma caravana de fascinados vai a Cordisburgo para ‘rosear’.
Durante uma semana, estudantes, professores, estudiosos da obra de Guimarães
Rosa participam de palestras, serestas, exposições, shows, oficinas, caminhadas em
“uma semana dedicada ao estudo e à conservação da obra do imortal Guimarães
Rosa, para amarmos cada vez mais essa obra formidável”19, define o presidente da
Academia Cordisburguense de Letras, Raimundo Alves, advogado, professor na
19
Sr. Raimundo Alves, presidente da Academia Cordisburguense de Letras, durante solenidade de abertura da 24ª Semana Roseana, realizada no dia 26 de junho de 2012.
79
vizinha Araçaí e cronista. “Eu queria ser poeta, mas não dei conta”, brinca.
Boa parte dos roseanos que frequentam a Semana Roseana são de São
Paulo e, em sua maioria, pertencem a uma confraria que durante quase uma década
se reúne todas as semanas no Instituto de Estudos Brasileiros (IEB), na
Universidade de São Paulo (USP), para ler textos de Guimarães Rosa sem
pretensões acadêmicas, apenas um encontro de amigos para ler e trocar ideias.
A Semana Roseana, que acontece há 25 anos em data próxima ao
aniversário de nascimento do escritor, atrai um turismo cultural significativo de todas
as regioes do país, além de reunir pesquisadores e estudiososo provenientes de
centros acadêmicos, a exemplo da USP, UFMG, PUC-MG, UFRJ, dentre outros.
É nesta ocasião que a comunidade estreita e reafirma seus laços com o
Museu, apropriando-se de seu espaço social e a cidade de Cordisburgo se projeta
como destino atraente para turistas nacionais e internacionais, além de referência
para intelectuais, artistas, estudantes e professores.
Figura 6 - XXIII Semana Roseana 2011
Fonte: Foto de Ronaldo Alves
3.3.5 Caminhada Eco-literária
Em Cordisburgo, uma das iniciativas mais singulares do trabalho em torno
da literatura de Guimarães Rosa é a Caminhada Eco-literária, idealizada e dirigida
80
por José Osvaldo dos Santos, o “Brasinha”. Esse comerciante é um estudioso
sobre os lugares e pessoas que aparecem nos livros de Guimarães Rosa . Aponta
dados que apenas derivam da capacidade inventiva do autor de Grande
Sertão:veredas, mas indica a localização das referências dos escritos a
determinados lugares que realmente existem e que surgem no desenrolar dos
livros do escritor.
Brasinha faz gestos e conta: “Rosa está vivo, e vai chegando devagar, cada
vez que alguém sente que o sertão é sozinho, o sertão é dentro da gente, o sertão
é sem lugar”20.
Nasceu em Sabará, e com um ano de idade foi morar com a família em
Cordisburgo. Terminou o ginásio e virou comerciante, mas a sua maior paixão é o
estudo de Guimarães Rosa. O comerciante seguiu os passos dos personagens
Manuelzão, Juca Bananeira, Zito, Gregório e sabe até que ponto existe ficção ou
realidade e afirma: “tento procurar o real dentro da ficção. E saio por ai, pelo
campo, pelas montanhas, pelas veredas. Com isso, é mesmo possível sentir
Rosa”.21
A Caminhada Eco-literária tem por objetivo percorrer espaços rurais e
urbanos citados nas obras de Guimarães Rosa, levando os participantes a
conhecer a paisagem cultural do sertão perpetuada pelo escritor. Durante a
caminhada, os participantes são conscientizados sobre a importância da
conservação e preservação da região e de sua biodiversidade, por meio dos textos
selecionados e narrados pelo Grupo Caminhos do Sertão, composto por ex-
integrantes do Grupo de Contadores de Histórias Miguilim, que atingiram a
maioridade.
A caminhada percorre locais citados pelo escritor em suas obras, como a
antiga Estação Ferroviária, descrita no conto Sorôco, sua mãe e sua filha; a antiga
residência do escritor, hoje sede do Museu; a Capela de São José; a Igreja do
Rosário e a Fazenda Bento Velho, ambas citadas em Recados do Morro; a Escola
do Mestre Candinho, onde Rosa aprendeu a ler, e o Jardim Sagarana, onde, na
infância do escritor, havia um curral de embarque de gado.
20
Depoimento do comerciante realizado nos meses de novembro e dezembro de 2012, na cidade de Cordisburgo.
21 Depoimento realizado nos meses de novembro e dezembro de 2012, na cidade de Cordisburgo.
81
A primeira caminhada ocorreu em 1999, e percorreu vários pontos de
Cordisburgo relatados nas obras de Guimarães Rosa. Em 2000, a caminhada
ocorreu nos arredores da cidade, porem sem encenação dos contos, apenas com
a narração de trechos de histórias. Somente em 2001, o evento passou a reunir
paisagens literárias ao texto vivo.
Desde a sua criação e com as devidas mudanças e adaptações, as
caminhadas vêm ocorrendo, principalmente em Cordisburgo e nos municípios
vizinhos, mas também já foram realizadas em outras regiões de Minas Gerais,
como Alto Belo e Montes Claros e também em São Paulo, no Parque Ibirapuera e
no bairro de Pinheiros.
Na caminhada, muitos episódios aconteceram sem estarem previstos no
roteiro, mas os participantes os interpretavam como pertencentes ao evento,
constatando que a ficção e a realidade se completam na interpretação das
passagens dos livros de Guimarães Rosa. Neste caso, “o mundo ficcional se apóia
parasiticamente no mundo real, que toma por seu pano de fundo” (ECO, 2009,
p.99).
Ao analisar o que se passa durante as caminhadas, Brasinha afirma que:
“foi nesse ambiente que cenas inusitadas aconteceram, como se as passagens
dos livros de Guimarães Rosa tivessem brotado para a realidade, na percepção de
quem está lá”. Dentre as cenas inusitadas ocorridas durante uma caminhada, uma
delas mereceu destaque de Brasinha, quando “alguns bois, surgiram de repente e
ficaram perto das pessoas, parecendo querer saber o que estava acontecendo”.
Para o idealizador da caminhada eco-litarária, esse acontecimento “Só pode ser
coisa de Guimarães Rosa” e relaciona o ocorrido a um trecho do livro Sagarana,
Conversa entre os bois, que diz:
O homem é um bicho esmochado, que não devia haver. Nem convém espiar muito para o homem. É o único vulto que faz ficar zonzo, de se olhar muito. É comprido demais, para cima, e não cabe todo de uma vez dentro dos olhos da gente. (ROSA, 1964, p.331).
O projeto Caminhada Eco-literária é uma experiência de ação cultural de
repercussão regional e nacional, que faz parte da programação da Semana
Roseana. É muito procurado por grupos e escolas que visitam a cidade.
82
Figura 7 - Caminhada Eco-Literária
Fonte: Foto de Ronaldo Alves
As atividades educativas realizadas pelo Museu em parceria com a
Associação de Amigos fizeram com que a comunidade de Cordisburgo se
apropriasse do Museu, numa relação de pertencimento, em que os sentidos são
construídos e reconstruídos a todo o momento. Desde a sua criação em 1974, o
Museu Casa Guimarães Rosa já recebeu um público que ultrapassa o número de
300 mil visitantes. Este número expressivo proporcionou uma mudança na economia
da pequena cidade de Cordisburgo, que conta hoje com uma população de 9.000
habitantes.
Em entrevista concedida ao Jornal Diário do Comércio, em março de 2013, a
professora de Economia do Departamento de Geografia da Universidade Federal de
Minas Gerais, Diomira Pinto Faria, afirma que:
Os museus como equipamentos culturais, podem gerar uma série de impactos econômicos e culturais sobre suas regiões: o impacto de uma receita sobre a economia local, através dos gastos em bens e serviços culturais por consumidores locais e não locais; impactos dos gastos em setores correlatos, como restaurantes e serviços de transportes: efeitos de emprego, diretos e indiretos [...] (FARIA, 2013, p. 14).
83
Concordamos com a professora, quando ela afirma que
dentro do enfoque da nova museologia, o museu tem uma função social no território onde se localiza e oferece aos cidadãos o direito à memória, à história e à educação. Desta forma, o museu passa a ser um elemento de transformação social das comunidades onde está localizado e do seu entorno. (FARIA, 2013, p. 14).
Partindo deste pressuposto, podemos afirmar que o MCGR é um elemento
de transformação social que através do programa de ações educativas e culturais do
Museu e a parceria constante da Associação dos Amigos do MCGR reforçaram
ainda mais as relações entre a instituição e a comunidade local, resultando em
experiências contínuas de apropriação da comunidade local e das regiões
circunvizinhas da obra do escritor.
A análise do público do Museu Casa Guimarães Rosa revela que grande
parte de sua visitação é constituída por grupos escolares e turísticos que estão
visitando os atrativos culturais de Cordisburgo e região. Grupos que passam pelo
Museu, mas não permanecem nele durante um tempo significativo.
Em 2012 o Museu recebeu ao longo do ano 32.217 visitantes, um aumento de
27,5% comparado ao número de visitantes de 2011, que foi de 23.295. O número
de visitantes no museu é computado levando em consideração: visitas espontâneas,
visitas agendadas, eventos, oficinas e capacitações realizadas ao longo do ano.
De acordo com informações dos relatórios de 2011 e 201222, da
Superintendência de Museus e Artes Visuais, da Secretaria de Estado de Cultura de
Minas Gerais, em 2011 o MCGR recebeu 4.102 visitantes espontâneos (turistas,
estudiosos e comunidade de Cordisburgo) e 14.991 visitas agendadas (escolas do
Ensino fundamental, médio e de Graduação) e grupos variados (turistas, terceira
idade). O número de participantes que frequentou os eventos e oficinas promovidas
pelo Museu ao longo deste ano foi de 4.202.
Esses números tiveram um aumento significativo no decorrer do ano de 2012.
O Museu recebeu 4.678 visitas espontâneas e 14.991 visitas agendadas, e registrou
o total de 6.616 participantes em seus eventos e oficinas.
O Programa Educativo desenvolvido pelo Museu Casa Guimarães Rosa não
abandona o público que está de passagem pelo Museu, porém, concentra esforços
22
Os relatórios citados nesta etapa do trabalho fazem parte dos documentos da Diretoria de Desenvolvimento de Linguagens Museológicas da SUMAV, e foram disponibilizados para consulta e pesquisa.
84
em ações específicas para a comunidade.
Porque antes de ser um divulgador para os turistas, os museus devem atuar de forma contextualizada com os problemas locais e com as pessoas que formam a comunidade, de outra forma, terá como conseqüência o seu isolamento. Em sua localidade, os museus têm a capacidade de promover a identidade local por meio de ações que colocam em evidência aspectos relevantes de sua cultura e história, além de promover o diálogo, o reconhecimento e a solidariedade entre os diferentes grupos sociais
(BARBOSA; OLIVEIRA; TICLE, 2010, p. 24).
No caso do MCGR, a comunidade não só possui relação estrita com o Museu,
como constitui-se seu objeto. Concebendo paisagem cultural como relação dialética
e instável entre sociedade e natureza que formam uma só entidade no espaço
geográfico, tem-se a comunidade como seu objeto / acervo operacional. (SCHIER,
2003).
Considerado hoje um Museu de Território, suas exposições não se
restringem apenas às referências da vida privada do escritor - a casa da infância, o
pai, a mãe, a família, os objetos de uso pessoal. Balizadas pela nova requalificação
do Museu, cujo projeto foi inaugurado em 6 de julho de 2012, com a abertura da
nova exposição de longa duração do Museu Casa Guimarães, Rosa dos Ventos,
Rosa dos Tempos, as exposições centram-se agora na obra e na região,
materializadas, respectivamente, no texto em seu sentido literal (publicações,
primeiras edições, correspondências, manuscritos, dentre outras) e no patrimônio
natural e cultural da cidade de Cordisburgo e da região no seu entorno.
Nessa mostra, a vocação original do museu foi mantida, ou seja, a de ser um
museu-casa, apresentando móveis originais da residência e objetos pessoais do
escritor, de forma que público ainda verá as gravatas borboletas usadas por ele, seu
guarda-roupa, sua maleta de médico, suas condecorações, sua máquina de
escrever, seus móveis de escritório, entre outros objetos. O processo de
requalificação foi concebido com a intenção de tornar mais marcante a presença da
vida e da literatura de João Guimarães Rosa dentro de sua antiga residência.
Antes das mudanças, os visitantes passeavam pela casa em que o escritor
viveu com a família tendo alguns móveis de época e réplicas, bem como o escritório.
Com a nova museografia, essas características foram acrescidas de reprodução de
trechos de obras, texto crítico, com o fac-símile das correções que o autor fazia nos
textos e com a história editorial do livro. Também encontram-se em exposição as
85
principais edições dos livros, algumas muito raras como “Com o vaqueiro Mariano”,
que teve uma tiragem de 116 exemplares, todas numeradas e assinadas por Rosa.
O exemplar deste livro que está em exposição no museu é o de número 96.
Com a nova requalificação do Museu, a exposição de longa duração Rosa
dos Tempos, Rosa dos Ventos apresenta o museu com a seguinte configuração:
a) Sala de acolhimento - contendo a biografia de Guimarães Rosa;
b) O quarto em que João Guimarães Rosa dormia recebeu o nome de
“Cordisburgo”, cidade evocada por ele em várias de suas entrevistas e
pronunciamentos, como em seu discurso de posse na Academia Brasileira de
Letras. O visitante poderá conferir o carinho que o escritor mantinha pela
cidade natal, a partir de trechos do início e fim do discurso de posse na ABL,
proferido em 16 de novembro de 1967, com a voz do próprio Rosa;
c) A alcova, ou quarto escuro, foi dedicada ao livro “Sagarana”, onde estão
expostas as matrizes das gravuras criadas por Poty para ilustrar esta obra;
d) No quarto dos pais, toda a biografia e a cronologia da vida e da obra do
escritor podem ser conferidas em uma completa mostra de slides, além de
alguns de seus objetos pessoais;
e) A sala de jantar foi concebida com inspiração na obra “Corpo de Baile”;
f) A cozinha se transforma nos livros “Tutaméia” e “Primeiras Estórias”;
g) No depósito da venda, denominado Gabinete, o visitante terá acesso ao
mobiliário do escritório do apartamento do escritor no Rio de Janeiro. Nesse
espaço, foi montada também uma vitrine com todas as primeiras edições dos
livros e a edição mais significativa.
h) A venda de “Seu Fuló”, pai de Guimarães Rosa, recebe “Grande Sertão:
Veredas”, “Estas Histórias” e “Ave Palavra”.
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Figura 8 - Sala Gabinete
Fonte: Foto de Ronaldo Alves
Figura 9 - A cozinha - “Tutaméia” e “Primeiras Estórias”
Fonte: Foto de Ronaldo Alves
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Figura 10 - "Quarto da Vovó Chiquinha", Sala Corpo de Baile
Fonte: Foto de Ronaldo Alves
A exposição temporária “A boiada: 60 anos de travessia” traz fotos realizadas
pelo fotógrafo Eugênio Silva, e publicada na Revista Manchete, durante a famosa
viagem de Guimarães Rosa pelo sertão mineiro.
Figura 11 - Exposição temporária
Fonte: Foto de Ronaldo Alves
88
Em 1952, o fotógrafo registrou a viagem que o escritor fez acompanhando
oito vaqueiros e levando 300 cabeças de gado, durante 10 dias, pelos 240
quilômetros que separam Três Marias e Araçaí, na região central de Minas Gerais.
Nesta viagem, Guimarães Rosa trazia amarrada ao pescoço uma caderneta, onde
anotava tudo que via e ouvia - as conversas com os vaqueiros, as sensações, as
dificuldades e tudo que brotasse daquele mundo que ele reencontrava depois de
anos vivendo como diplomata no exterior. A viagem e as anotações provenientes
deste evento serviram como inspiração para as obras “Grande Sertão: veredas”,
“Corpo de Baile” e “Tutameia”.
O projeto Memória Viva do Sertão refez o trecho percorrido pelo escritor em
1952, indo mais além e entrando definitivamente no sertão de João Guimarães
Rosa. O projeto resultou em dois produtos: um documentário e no “Manto do
Vaqueiro”. O documentário “Conto o que vi, o que não vi, não conto”, com roteiro e
direção da professora e pesquisadora Beth Ziani, formada pela USP, e direção de
fotografia de Joacélio Batista, mostra a cultura sertaneja retratada nas obras de
Guimarães Rosa, assim como sua transformação ao longo dos anos.
Figura 12 - Manto do Vaqueiro
Fonte: Foto de Ronaldo Alves
89
O “Manto do Vaqueiro” foi concebido pela professora Beth Ziani e pela
figurinista Joana Salles, a partir da indumentária usada no cotidiano dos vaqueiros.
A vestimenta foi bordada durante uma ação educativa promovida pelo Museu Casa
Guimarães Rosa, por mais de 200 pessoas das comunidades de Cordisburgo, André
Quisé e Morro das Garças, que gravaram no tecido trechos da obra "Grande Sertão:
Veredas". No manto é possível ler trechos do livro, com anotações do escritor e um
mapa do trajeto da boiada feito em 1952. Como desdobramentos do manto original,
três réplicas, em dimensões menores, foram produzidas e serão enviadas para as
três cidades que estiveram envolvidas no processo e que imprimiram a cultura local
por cima do bordado.
O processo de requalificação do museu criou novos instrumentos para
trabalhar a obra de Guimarães Rosa com o público que o visita. Foi criado um
quebra-cabeça com o léxico do escritor que auxilia os estudantes no entendimento
das palavras usadas pelos vaqueiros, além daquelas inventadas pelo próprio
escritor. Um jogo da memória com palavras, expressões e significados retirados do
livro “Correspondências com o Tradutor Italiano”, em que João Guimarães Rosa e
Eduardo Bizzarri trocam cartas sobre a tradução da obra do escritor, e o quebra-
cabeça com desenhos feitos por Júlia Bianchi relacionados a trechos das obras de
Guimarães Rosa são algumas das peças criadas com o intuito de aproximar o
visitante cada vez mais do universo de Rosa.
Hoje o MCGR é reconhecido como um centro de atração para pesquisadores
nacionais e internacionais, interessados em conhecer o seu acervo museológico,
bem como o patrimônio cultural e ambiental disperso nas áreas urbana e rural do
município de Cordisburgo, paisagens que deixaram marcas inesquecíveis expressas
em cada página da obra do escritor.
O Museu Casa Guimarães Rosa pode ser visto como um exemplo de
equipamento cultural transformador. Por meio de suas exposições e de suas ações
educativas realizadas com a parceria da Associação de Amigos do Museu, a
comunidade de Cordisburgo e os diversos visitantes nacionais e estrangeiros que ali
transitam diariamente, se apropriam deste espaço, construindo e reconstruindo
sentidos, modificando o contexto cultural e econômico da comunidade.
O presente estudo tem o objetivo de investigar como se dá a construção do
imaginário do MCGR e os impactos dessa imagem na apropriação do espaço social.
Para isso é preciso entender o Museu Casa Guimarães Rosa enquanto espaço de
90
interação social e construção de sentidos; refletir sobre os processos de construção
e disputa de sentidos no contexto social e investigar qual a imagem construída deste
museu.
3.6 O Museu na contemporaneidade
No contexto contemporâneo, os museus deixaram de ser apenas lugares de
consagração da cultura, transformando-se num lugar de produção de
conhecimentos, significados e valores desempenhando também o papel de meio de
comunicação por meio do qual, segundo Sarah Fassa Benchetritt (2003), “múltiplas
vozes existentes no tempo e no espaço podem ser ouvidas” (BENCHETRITT, 2003,
p. 22). Os museus oferecem experiências que não estão disponíveis em outros
locais. Eles se diferem em tamanho, arquitetura, facilidades, exposições, coleções e
serviços. Desenvolvidos ao longo da história, por organizações da elite econômica e
cultural, sua função foi, primeiramente, a de guardar e cuidar da preservação de
seus acervos como testemunho para futuras gerações.
De acordo com Maria Andréa Dias de Andrade e Washington Dias Lessa
(2010), no início do século XX esse contexto histórico passou por alterações. As
propostas e programas dos museus foram se voltando para o público em geral,
destacando diretrizes didáticas no tratamento do acervo, ao mesmo tempo em que
foi se desenvolvendo maior clareza quanto às intenções educativas, visando
proporcionar experiências memoráveis (ANDRADE; LESSA, 2010, p.89).
Hoje em dia, embora as coleções continuem sendo o foco principal, pois se
colocam como a primordial razão de ser dos museus, estes procuram se guiar mais
ativamente pelos parâmetros contemporâneos da vida social. As mudanças nos
museus têm se efetivado por naturezas diversas incluindo, até mesmo, projetos
arquitetônicos que, por vezes, chamam mais atenção do que o próprio material
exposto.
Tecnologias modernas e novos conceitos museográficos mudaram os modos
de exposição das coleções. A abertura das galerias e as mostras de longa duração,
além de exposições temporárias do próprio acervo, bem como o intercâmbio com
outras instituições, a acessibilidade e serviços como cafeterias e lojas de souvenires
tem atraído novos públicos e dinamizado o espaço dos museus.
91
A utilização de novos meios digitais (computador, internet, áudio guia), assim
como a teatralização das exposições e a montagem de ambientes imersivos
demonstram que os museus interativos e multimídias correspondem às expectativas
dos mercados e aos anseios do público. Ao enfatizar uma inteligência múltipla e
diversificada, melhor equaciona o tratamento e a transmissão de informações
(MUCHACHO, 2010, p.154).
Com o desenvolvimento tecnológico das últimas décadas, o modo de
percepção da cultura se modificou. A internet se tornou uma ferramenta de
promoção, reconstrução e inovação da cultura.
As transformações ocorridas no campo da eletrônica, com a criação do
universo digital, também atingiram os museus. Vistas inicialmente como ferramentas
técnico-profissionais, no caso dos museus de ciências, passando da documentação
à interpretação de bens, geraram uma forma própria e específica de expressão e
manifestação, abrindo canais e oportunidades de interação. A instalação de espaços
multimídia e a implementação de exposições virtuais passaram a contribuir nos
processos de inclusão cultural e digital, colaborando para a democratização do
conhecimento, estabelecendo novos portais de acesso, principalmente em regiões
carentes.
A internet tornou-se um instrumento precioso no processo de comunicação
entre o museu e o seu público. A sua utilização como complemento do espaço físico
do museu possibilitou a transmissão da mensagem pretendida, além de captar a
atenção do visitante, possibilitando uma nova visão do objeto museológico.
Possibilitou também uma interação de forma globalizada, alterando a noção de
tempo e de espaço, afinal, na internet, o museu nunca fecha.
O contato com obras de arte e com exposições de artefatos que marcaram a
história, faz parte da formação intelectual de qualquer estudante. Incluídos na
programação das escolas, os passeios a museus e galerias de arte conquistaram
um aliado - a visita virtual. Museus de todo o mundo têm investido na exposição on-
line de seu acervo, promovendo a interatividade com os visitantes virtuais. Esse tipo
de visita é uma grande oportunidade para conhecer, sem sair de casa ou da escola,
a cultura de diversos povos e a história de milhões de anos.
92
O museu virtual23 é essencialmente um museu sem fronteiras, capaz de criar
um diálogo virtual com o visitante, proporcionando-lhe uma visão dinâmica,
multidisciplinar e um contato interativo com a coleção e com o espaço expositivo. Ao
tentar representar o real cria-se uma nova realidade, paralela e coexistente com a
primeira, que deve ser vista como uma nova visão, ou conjunto de novas visões,
sobre o museu tradicional (MUCHACHO, 2011, p. 46).
Neste caso, o visitante deixa de ser um sujeito passivo, que apenas reage à
mensagem transmitida, passando a ser incentivado a participar e interagir com o
espaço. De acordo com a experiência, gostos pessoais e nível cultural, cada
visitante pode criar o seu próprio percurso expositivo. A visita em um museu virtual é
um verdadeiro laboratório de experimentação, que se manifesta especificamente na
maneira como a tecnologia determina a própria forma de experiência do internauta.
Visitamos alguns museus, em seus endereços eletrônicos, e descrevemos a
seguir nossa experiência ao percorrer esses espaços virtuais.
No site do British Museum localizado em Londres, é oferecida uma série de
61 visitas guiadas. A partir de uma dessas visitas chega-se à Agatha Christie and
Archaeology, onde se encontram artefatos dos sítios arqueológicos escavados no
oriente médio, entre 1928 e 1958, pela escritora e seu marido. Ainda pelo site do
British Museum , o visitante terá acesso às galerias:
a) África;
b) Américas;
c) Antigo Egito;
d) Grécia Antiga;
e) Roma;
f) Ásia; e
g) Europa, onde estão postadas várias exposições disponíveis para visitação on-
line. (BRITISH , 2012).
23
Para Rute Muchacho (2010), só pode ser considerado museu virtual, aquele que tem suas ações museológicas ou parte delas trabalhadas num espaço virtual. Segundo a autora: “o museu virtual é um espaço virtual de mediação e de relação do patrimônio com os utilizadores. É um museu paralelo e complementar que privilegia a comunicação como forma de envolver e dar a conhecer determinado patrimônio”. (MUCHACHO, 2010, p. 35).
93
O site do Museu do Louvre, por sua vez, é muito dinâmico e interativo,
proporcionando ao visitante a possibilidade de ver, mesmo de longe, uma parte das
obras de seu rico acervo em exposição nas diversas galerias. No canto direito do
site, o visitante terá acesso a uma série de ferramentas que facilitam as pesquisas
às coleções e obras, além de um tour virtual por vários espaços do museu. Estão
disponíveis também, o acesso ao calendário de eventos e exposições, vídeos mais
acessados, compra de ingressos e visita à loja on-line. (MUSEU..., 2012)
O Museum of Fine Arts-Boston, localizado nos Estados Unidos da América
(EUA), possui um link online denominado Collections Database que oferece ao
visitante mais de 50 mil obras de grandes celebridades como Monet, Renoir,
Rembrandt, Sargent Copley, Van Gogh, Chinese, Millet, Picasso, Greek, dentre
outras. Ao clicar na obra escolhida, abre-se uma página com a foto e um texto com
informações com a ficha técnica da obra, o autor, a data e técnica com a qual foi
criada, entre outros detalhes. (MUSEUM…, 2012).
O Museum of London, em Londres, divide a seção Galleries em seis tópicos,
todos com textos curtos, de apenas um parágrafo. À direita da página, há um
dispositivo que permite um giro de 360º, proporcionando uma visão geral da
imagem. (MUSEUM…, 2013).
Hermitage Museum, em São Petersburgo-Rússia, proporciona ao visitante um
passeio ao museu via fotos. Basta clicar na página Virtual Visit, escolher entre o
térreo, o primeiro ou o segundo andar, ou ainda visitar do telhado. Surge, então, o
desenho/mapa esquematizado do pavimento escolhido, com números indicando as
obras. Basta clicar no número desejado para ir à página com o conteúdo escolhido.
O Hermitage também tem um link para a Digital Collection, que mostra obras
selecionadas a partir do título ou do nome do autor, e que podem ser visualizadas
em tamanhos menores ou maiores. (HERMITAGE..., 2012).
O Van Gogh Museum, em Amsterdã, guarda as obras do genial pintor
holandês, dentre outras, e tem o recurso mais sofisticado dos museus a que tivemos
acesso. A interface do programa, em inglês, oferece um mapa 3D do site, com a
opção de exibir em tela inteira, além do visitante poder fotografar o quadro que
desejar e enviá-la por e-mail. Bem à direita, há uma planta do museu, com as salas
assinaladas por números. Para movimentar-se dentro do museu, é preciso utilizar as
setas do teclado. É possível aproximar ao máximo de qualquer quadro e, com a
ferramenta disponível, percorrer o quadro, ampliá-lo e ver detalhes. São seis salas
94
para visitar, quadro a quadro. (VAN GOGH..., 2012).
O desafio dos museus que começam a se lançar no ciberespaço é justamente
divulgar seus acervos da forma mais adequada possível. O projeto Era Virtual
iniciou suas atividades em 2008 com o desenvolvimento de projetos de visitação
virtual a diversas instituições culturais de todo o país, com o objetivo de promover
ampla divulgação e promoção dos museus brasileiros e de seus acervos ao maior
número de pessoas.
Em constante mutação, a plataforma interativa de visitação virtual aos
museus, desenvolvida pela Era Virtual lançada oficialmente no dia 26 de março de
2010, tem como principal objetivo ampliar consideravelmente o alcance sociocultural
das exposições. A estratégia desenvolvida pelos idealizadores do projeto baseia-se
em dois pilares: modernizar a linguagem com a proposta de potencializar a
comunicação com as crianças e jovens e democratizar o acesso utilizando-se da
internet e da distribuição gratuita de dvd-roms para Escolas Públicas de ensino
fundamental e médio. (ERA VIRTUAL..., 2012).
O site do Era Virtual permite ao internauta visitar os museus brasileiros por
meio de sequências de fotos em 360º e áudio em quatro idiomas: português, inglês,
francês e espanhol. Atualmente, podem ser visitados dezesseis museus, espalhados
pelos Estados:
a) Goiás (Casa de Cora Coralina);
b) Minas Gerais (Museu de Artes e Ofícios, em Belo Horizonte;
c) Museu do Oratório, em Ouro Preto;
d) Casa Fiat de Cultura, em Nova Lima;
e) Museu Casa Guignard, em Ouro Preto;
f) Museu Casa Guimarães Rosa, em Cordisburgo;
g) Museu do Diamante, em Ouro Preto;
h) Museus Histórico Abílio Barreto, em Belo Horizonte;
i) Memorial Tancredo Neves, em - Juiz de Fora??;
j) Museu da Inconfidência, em Ouro Preto);
k) Rio de Janeiro (Museu da República, Casa da Ciência, Casa de Oswaldo
Cruz (COC)/ Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ), Biomas do Brasil); e
l) em Santa Catarina (Museu Nacional do Mar, Museu Victor Meirelles).
95
Em entrevista concedida ao Jornal Estado de Minas, em 2010, Carla Sardin,
coordenadora e produtora do Projeto Era Virtual, afirmou que o site recebe também
visitas de turistas, que acessam a página para programar viagens e saber que locais
irão visitar, mesmo antes de chegar ao seu destino. “Muita gente acaba descobrindo
museus que nem estavam no roteiro inicial da viagem e isso é bom para acabar com
o estigma de que todos os museus são iguais”. (SARDIN, 2010, p. 3).
Visitamos o Museu Casa Guimarães Rosa, objeto de estudo desta pesquisa,
pelo site do Era Virtual, e constatamos que o acesso é muito simples. Para dar inicio
ao tour pelo MCGR, basta clicar na imagem da fachada do Museu, localizada no
canto esquerdo do site. O visitante é então recepcionado por Fábio Barbosa,
funcionário do Museu e responsável pela coordenação dos Miguilins. No site, a
visita aos espaços do MCGR é guiada por jovens que integram o Grupo de
Contadores de Histórias Miguilins, guias mirins do Museu, que no final do tour
virtual, conduzem o visitante para o jardim da casa e narram trechos da obra de
Guimarães Rosa. Na barra de rolagem à esquerda da tela, é possível também ter
acesso e conhecer um pouco mais, sobre espaços, ruas e locais turísticos da cidade
de Cordisburgo.
A resistência de algumas instituições ao ambiente virtual foi uma das maiores
dificuldades enfrentadas pelo Projeto Era Virtual, pois “muitas delas ainda pensam
no acervo como uma propriedade e temem que o público pare de visitar os museus”,
(SARDIN, 2010, p. 3). No entanto, a diretora da empresa revela, que o que acontece
é o oposto: com a divulgação online, as pessoas se tornam interessadas e
estimuladas a saírem de casa. Um exemplo disso é o Museu Casa Guimarães Rosa,
que recebeu um número recorde de visitas, depois que foi ao ar no site do Era
Virtual, em março de 2010. Carla Sardin (2010) destaca o que considera mais
importante: “A visita é virtual, mas o visitante é real”.
O Art Projet é um serviço do Google que permite a qualquer internauta visitar
museus em qualquer parte do mundo, através de uma ferramenta similar ao Street
View - recurso do Google Maps, em que é possível caminhar virtualmente pelas ruas
de uma cidade. Em sua primeira fase, lançada em fevereiro de 2012, 17 museus
foram incluídos no Art Project:
a) The Metropolitan Museum of Art e MoMA, em Nova York;
b) The State Hermitage Museum, em São Petersburgo;
96
c) Tate Britain e The National Gallery, em Londres;
d) Museo Reina Sofia, em Madrí;
e) Uffizi Gallery, em Florença; e
f) Van Gogh Museum, em Amsterdã. (MAGENTA, 2012).
Hoje, o projeto conta com 151 museus, com cerca de 30.000 obras
digitalizadas. Entre eles estão ainda o Museu D'Orsay, de Paris (França), o Museu
da Acrópole, em Atenas (Grécia) e o museu de arte islâmica do Qatar.
No Brasil, a Pinacoteca do Estado de São Paulo e o MAM-SP fazem parte
deste projeto. A Pinacoteca tem 98 obras disponibilizadas no Google Art Project e
o MAM-SP, 89 obras. Cada instituição escolheu uma obra a ser digitalizada em
altíssima resolução: o painel dos irmãos Otávio e Gustavo Pandolfo, denominados
Os Gêmeos, foi a obra escolhida pelo Museu de Arte Moderna de São Paulo, e o
quadro Saudade, de Almeida Júnior, foi a obra escolhida pela Pinacoteca. Na
América Latina, dez museus estão no projeto, dentre eles o Museu Nacional de
Antropologia, do México, e o Museu Botero, da Colômbia. (MAGENTA, 2012).
Em entrevista concedida à Folha de São Paulo, em 2012, Alessandro
Germano, gerente de novos negócios do Google Brasil disse que "O objetivo é
tornar a arte mais universalmente acessível. Poucas pessoas vão ter o privilégio de
viajar pelo mundo e conhecer esses museus". (GERMANO apud MAGENTA,
2012).
O museu que se abre para o novo, se vê cada vez mais permeado pelo
humano, e permeia-o também. Com as novas tecnologias e a disseminação da
informação digital, nas mais diversas formas, o museu virtual é o modelo
contemporâneo de um Museu que se instalou na modernidade, cuja abertura agora
já não tem mais limites.
3.6.1 Museus enquanto espaços de interação e comunicação
A museologia tem traçado ao longo de sua história diferentes compreensões
sobre a sua função, sobre as possibilidades de aplicação de seus saberes, e sobre
sua importância como ferramenta de disseminação da memória social através de
representações e práticas culturais (BORGES, 2011, p. 37). Em meio às diversas
características que (re)criam o sentido dos museus, Mário de Souza Chagas (1998)
97
destaca três funções básicas que estão sempre presentes nestas instituições, pois
são alicerces para seu desenvolvimento enquanto instrumento social: preservar,
investigar e comunicar (CHAGAS, 1998, p. 177-199).
Para Luiz Borges (2011) no entanto, cada uma dessas três características
possui uma importância fundamental, pois é a partir de seus significados que os
museus definem sua identidade. No percurso da história dos museus, diferentes
debates e questionamentos vêm sendo realizados. Sendo a comunicação em
museus um dos grandes destaques, pois essas instituições se transformaram em um
importante difusor de narrativas das coisas do homem e do mundo, propiciando a
significação/resignificação comigo, com o outro e com a realidade que o cerca
(BORGES, 2011, p. 58).
O museu enquanto espaço de interação social procura revitalizar a sua
capacidade de diálogo, assumindo-se como um meio de ligação entre o passado e o
presente e incorporando as mais diversas formas e instrumentos para implementar a
comunicação com a sociedade. Isso pode ser observado através das exposições
(temporárias e de longa duração), dos programas educativos, da pesquisa e
produção científica, das publicações e das atividades de lazer cultural,
desenvolvidos por estas instituições.
Para Zita Possamai (2001) o museu contemporâneo seleciona os “vestígios
do passado”, organizando discursos para promover e veicular suas representações
sobre o passado, o presente e o que deverá permanecer para o devir. Segundo o
pesquisador, “sua ação básica desenrola-se em torno da seleção/conservação de
um dado conjunto de documentos, objetos, artefatos ou imagens, e na comunicação
dos conteúdos que deseja apresentar” (POSSAMAI, 2001, p.10).
O museu não é uma estrutura estática, é um processo dinâmico, um espaço
discursivo e interpretativo que, segundo Maria Andréa Dias de Andrade e
Washington Dias Lessa (2010), “está em permanente relação com os atores sociais”
(ANDRADE; LESSA, 2010, p.89).
Sendo assim, observa-se uma re-significação nos museus, na qual as
premissas de conservação e preservação cedem espaço para a comunicação, onde
o objeto museal, além de tombado e salvaguardado, deve ser explorado,
relacionado e interpretado.
Para Manuel Castells (2008), esse processo acompanha as transformações
que provocaram a configuração da sociedade em rede. Segundo o autor “os museus
98
como conectores culturais de espaço e tempo” potencializam as diferentes
alternativas de conexões temporais e espaciais, fato que elucida a criação dos
variados tipos de museus: virtuais, itinerantes, comunitários, museu de território,
ecomuseus, museus casa, dentre outros. (CATELLS, 2008, p. 25-30)
Tal multiplicidade demonstra a potencialidade dos museus como instrumentos
que trabalham para a realização da harmonia social, através da sua capacidade de
realizar diferentes conexões, trabalhando a pluralidade expressada na sociedade
contemporânea.
No momento em que o mundo, marcado pelo signo da globalização, por meio
de novas tecnologias, passa a demandar novas formas de relacionamento com a
diversidade, valorizando a herança, a memória e a multiplicidade de pessoas e
culturas, os museus vêm assumindo uma dimensão social cada vez mais importante.
Segundo Luiz Borges (2011), isso se dá em razão de seu potencial de
legitimação de uma determinada história ou de um determinado grupo social, por
seu caráter de reduto vivo e atuante, onde as vivências sociais se encontram, se
chocam, legitimando o heterogêneo, o híbrido e até mesmo o irreconciliável. De
acordo com o autor, “um dos aspectos que conferem identidade aos Museus é a sua
linguagem, essencialmente simbólica” (BORGES, 2011, p. 55-57).
Por sua vez, Vânia Carvalho Rola Santos (2005) afirma que o museu é,
portanto “uma poderosa construção simbólica, que se constitui e institui a partir de
percepções identitárias, utilizando os jogos de memória e expressando-se sob as
mais diferentes formas, no tempo e no espaço” (SANTOS, 2005, p.15).
Partindo-se deste pressuposto, podemos afirmar que, mais do que uma
representação, o Museu será, portanto, criador de sentidos: que circulam essas
sensações, atos e experiências. E é desses sentidos que o Museu constrói o seu
discurso, veiculado para a sociedade, essencialmente através das exposições e
ações educativas direcionadas para a comunidade e seu entorno e também para os
visitantes que circulam neste espaço.
A comunicação torna-o protagonista da contemporaneidade, confirmando a
sua legitimidade na posse do patrimônio que recebeu do passado e se prepara para
legar ao futuro. Por meio da dinamização dos seus acervos, os museus estabelecem
canais de comunicação, com seus diversos grupos de relacionamentos
(comunidade, visitantes, imprensa, governo, dentre outros), sejam pela realização de
exposições, ou pela realização de ações educativas, oferecem instrumentos para
99
informar, estimular ideias e reflexões. Cada museu constrói uma identidade ou
unidade derivada de suas funções ou missão construídas de forma relacional. Para
Luiz Borges (2011), os museus, enquanto instituições, modelos de comportamento,
“sustentam normas sociais, mediam uma forma de interação de seus grupos de
relacionamento com sistemas mais abrangentes dentro dos quais se situam,
possuindo de forma constitutiva uma dimensão comunicacional” (BORGES, 2011,
p.44-45).
3.6.2 Experiência e entretenimento nos museus
Os museus são capazes de gerar experiências inesquecíveis nas pessoas
que os visitam, seja pela beleza constituída por suas formas arquitetônicas ou a
partir dos aspectos psicológicos, cognitivos, sensoriais, perceptivos e de
interatividade com o ambiente.
Não há como medir ou explicar o que determina, nos indivíduos, o poder de
atratividade dos museus, devido à complexidade dos fatores que influenciam nas
decisões de uma pessoa, assim como em sua definição de gosto e beleza. Os
aspectos psicológicos e cognitivos são moldados a partir de diversas interferências
culturais constituídas em meio familiar e social, que sofrem a ação de valores
imputados pelo ambiente em que vivem.
Para Mário de Souza Chagas (2005) a percepção está ligada aos
“acontecimentos que ocorrem em consequência da observação, participação em
fatos reais e imaginários” (CHAGAS, 2005, p.10). Os aspectos sensoriais são
estimulados pelo contato e pela interação do sujeito com o objeto, e também com a
arquitetura. É possível investigar os diferentes sentidos do corpo humano mediante
um objeto de arte, por meio de cores, materiais, luzes e texturas capazes de
provocar todos os sentidos do nosso corpo.
A respeito da interatividade, proporcionada pelo espaço do museu, ressalta-
se o entretenimento. O lazer, entendido como tempo destinado à fuga das
responsabilidades do cotidiano, momento de diversão, ócio, descanso e estímulo ao
prazer, é desfrutado no ambiente museológico. A contemplação pelo indivíduo
perante a beleza de seus espaços é perceptível na utilização de um banco, dos
jardins, de restaurantes e cafés.
100
A imaginação é capaz não só de transportar o indivíduo à outra realidade,
segundo Oliveira (2001) como “reconstrói o mundo e a relação do ser humano com
ele”, o que possibilita um contato mais profundo com o ambiente (OLIVEIRA, 2001,
p.205).
Pode ser também o responsável pela criação de expectativas, que
implicariam nos fatores motivacionais em relação aos locais visitados e impactariam
no tipo de experiência proporcionada.
Na medida em que o sujeito cria expectativas, idealiza um local e espera
encontrar o que deseja e, se a imagem do real não estiver de acordo com a
imaginada, ocorrerá uma quebra de sentimentos, uma desilusão, que tem reflexos
diretos na experiência e na imagem que o museu, como espaço, apresenta. Se, ao
chegar a um lugar que não corresponda às suas expectativas, ele pode não mais
voltar ao museu e também não indicá-lo a ninguém.
A expressão estética é comum nas criações humanas, principalmente na
arquitetura. A arquitetura é arte, constituída pelos adornos, esculturas e materiais
que compõem o espaço do museu. Os museus são conhecidos como um dos
principais atrativos turísticos, presentes nos mais variados roteiros. Muitas vezes, a
razão da visita não é a busca pelo que ele expõe e, sim, pelo local, pois os edifícios
são, também, importantes obras de arte. A atratividade vem de sua arquitetura,
história, o que ele representa como signo à sociedade.
Vale destacar, nesse momento, a importância do acervo dos museus. O
acervo continua exercendo seu importante papel nas instituições museológicas. No
entanto, a arquitetura possibilita outra forma de atratividade, que as recentes
instituições utilizam na valorização de seus projetos para torná-las mais atraentes ao
público. Muitos museus, como o Frick Collection não exercem atratividade por sua
arquitetura e, sim, pelo seu acervo, com valores inestimáveis à sociedade. Dentre
alguns artistas que têm obras nessa coleção estão: Rembrandt van Rijn, Giovanni
Bellini, El Greco, Frans Hals, Johannes Vermeer, Francois Boucher. (THE FRICK…,
2013).
Mesmo não tendo projetos arquitetônicos singulares, alguns museus
apresentam estilos artísticos e estéticos em seus edifícios, tanto no exterior quando
no seu interior, o que instiga também a experiência estética. Ao considerar o
patrimônio urbano como artefato cognitivo, tem-se na arquitetura dos museus a fonte
para a criação de uma imagem turística, assumindo complexas e curiosas funções
101
(RUFINONI, 2010, p.7).
Na forma de edifícios, ícones, tendências observadas na arquitetura dos museus contemporâneos, essas novas construções assumem um duplo papel: por um lado propõe imagens-símbolo” para a cidade e, por outro, se inserem no tecido urbano, restaurando áreas degradadas (RUFINONI, 2010, p. 7).
O Museu de Arte Contemporânea (MAC), em Niterói, e o Museu Guggenheim,
em Bilbao, Espanha, são exemplos bem peculiares de arquitetura dos novos
museus usados pelo turismo como atrativos e que se tornaram ícones urbanos.
Ambos possuem características em comum, mas merece destaque a singularidade
da arquitetura. Além de os dois serem assinados por arquitetos renomados,
influenciam diretamente no turismo da região inserida e também na criação de uma
imagem junto à comunidade a qual pertencem e ao público que os visitam.
O Museu de Arte Contemporânea de Niterói, do arquiteto Oscar Niemeyer,
por exemplo, foi uma iniciativa da Prefeitura local para criar uma nova imagem para
a cidade, inserindo-o no roteiro turístico. No início de sua construção, a população
criticava a função do museu e sua figura. Hoje, segundo Bruno César Brulon Soares
(2008) “o prédio do MAC é visto como o ícone de uma nova Niterói, agora
considerada muito mais moderna, arrojada, cosmopolita, bonita e, portanto, mais
orgulhosa” (SOARES, 2008, p.97).
O Museu Guggenheim Bilbao (Espanha), por sua vez, foi projetado pelo
arquiteto americano Frank Gehry, colocou a cidade espanhola no roteiro turístico
mundial a partir de uma renovação urbana que propiciou a criação de um ícone para
seus habitantes (SOARES, 2008, p.95).
Por meio de sua arquitetura temática, o museu possibilitou a criação de uma
nova imagem urbana, o que passou a valorizar do lugar. O Museu Guggenheim
Bilbao possibilitou a notoriedade turística através de seu projeto arquitetônico,
conhecido como “flor metálica”. Sobre o museu Guggenheim Bilbao, Mariana Fialho
Bonates (2009), afirma que “sua atribuição estética promove e estimula a
curiosidade de turistas intensificando o número de visitantes ao local” (BONANTES,
2009, p.5).
Constatamos durante a pesquisa, que ocorreu uma mudança significativa na
postura dos cidadãos destas duas cidades, como consequência da criação destes
museus. Os moradores destas cidades ganharam autoestima e as prefeituras
102
passaram a adotar os museus como marca das suas cidades.
Não precisamos ir muito longe para presenciarmos as mudanças ocorridas
nos museus nos últimos anos. O Circuito Cultural Praça da Liberdade (CCPL), em
Belo Horizonte, e o Instituto Inhotim, em Brumadinho, são exemplos de instituições
que se enquadram dentro desta nova realidade dos museus contemporâneos.
O CCPL foi definido como um dos projetos estruturadores do Plano
Plurianual de Ação Governamental, em 2003, pelo então governador de Minas
Gerais, Aécio Neves. Implantado por meio da Secretaria de Estado de Cultura, e
desenvolvido em parceria com a iniciativa privada e com entidades públicas, o
Circuito Cultural já oferece à população cultura, arte e educação, tecnologia,
conhecimento e cidadania. (CIRCUITO CULTURAL DA PRAÇA DA LIBERDADE,
2013).
Os antigos prédios públicos existentes no entorno da Praça da Liberdade,
foram transformados em espaços interativos que buscam espelhar a diversidade, no
maior conjunto integrado de cultura do Brasil: acervos históricos, artísticos e
temáticos; centros culturais interativos; biblioteca e espaços para oficinas, cursos e
ateliês abertos; além de planetário, cafeterias, restaurantes e lojas.
Atualmente, dez espaços estão em pleno funcionamento:
a) Memorial Minas Gerais -Vale;
b) Museu das Minas e do Metal;
c) Espaço UFMG do Conhecimento;
d) Arquivo Público Mineiro;
e) Biblioteca Pública Estadual Luiz de Bessa;
f) Museu Mineiro;
g) Centro de Arte Popular-Cemig;
h) Centro Cultural Banco do Brasil e o Palácio da Liberdade.
Para 2014 estão previstas as inaugurações de novos museus:
a) Museu do Automóvel;
b) Inhotim Escola;
c) Casa Fiat de Cultura; e
103
d) o Centro de Referência da Economia Criativa Sebrae / MG.
O Circuito Cultural Praça da Liberdade já é reconhecido como o maior centro de
cultura, lazer e entretenimento do país. Em 2012, aproximadamente 700 mil pessoas
visitaram o complexo de museus existentes. Só o programa educativo, atendeu a
mais de 75 mil alunos da rede pública de ensino, além de associações e entidades
filantrópicas. O Governador do Estado de Minas Gerais, Antônio Anastasia, em
solenidade realizada no Palácio da Liberdade, em novembro de 2012, afirmou que o
CCPL é hoje “um corredor cultural que tem na arte, cultura e cidadania uma janela
entre o Estado de Minas Gerais e o mundo”. (CIRCUITO CULTURAL DA PRAÇA DA
LIBERDADE, 2012).
Outro espaço conhecido mundialmente é Inhotim, um museu a céu aberto,
localizado na cidade de Brumadinho, interior do Estado de Minas Gerais. O Instituto
Inhotim foi idealizado pelo empresário Bernardo Paz, em meados da década de
1980. Em 1984, o espaço recebe a visita de Roberto Burle Marx. Paisagista
renomado nacional e internacionalmente, Burle Marx apresentou algumas sugestões
e colaborações para os jardins (INHOTIM, 2012).. Desde então, o projeto
paisagístico cresceu e passou por várias modificações.
De acordo com o site oficial da Instituição, a propriedade particular foi se
transformando com o tempo. Começava a nascer um grande espaço cultural, com a
construção das primeiras edificações destinadas a receber obras de arte
contemporânea. Ganhava vida também o rico acervo botânico, consolidado a partir
de 2005 com o resgate e a introdução de coleções botânicas de diferentes partes do
Brasil e com foco nas espécies nativas. No dia 5 de abril de 2010, os jardins do
Instituto Inhotim recebem o título de Jardim Botânico, concedido pela Comissão
Nacional de Jardins Botânico (CNJB).
Um museu deve estar comprometido e envolvido com a experiência. Não são
os aparatos interativos e tecnológicos que fazem do museu uma experiência
humana. Estes apenas tornam evidente o que já existia, pois a experiência sempre
esteve ali, fosse ela semiótica, filosófica, contemplativa, científica ou inconsciente.
O que sempre esteve ao centro de qualquer concepção do Museu é a
relação, como defende Tereza Cristina Scheiner (1998). Relação entre o humano e
as coisas do mundo; entre ele e seus semelhantes; entre ele e seu inconsciente, no
diálogo mais profundo que o museu pode promover. (SCHEINER, 1998, p.35).
104
4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
O homem atua na natureza não somente em relação às necessidades de
sobrevivência, mas, principalmente, pela incorporação de experiências e
conhecimentos produzidos e transmitidos de geração a geração, através da
educação e cultura.
O homem imprime sua marca na natureza, tornando-a humanizada. E à
medida que a domina e transforma, também amplia ou desenvolve suas próprias
necessidades. Necessita fazer-se ouvir e busca desenvolver suas teorias e técnicas
e, com base em seus estudos e pesquisas, busca provar o que dá sentido à
existência, margeado pelo mundo, pela fé e pela ciência buscando o embasamento
para provar o que pensa.
Aristóteles afirma que o conhecimento só se dá de maneira absoluta quando
sabemos qual a causa que produziu o fenômeno e o motivo. Assim, o homem passa
a pesquisar, experimentar e desenvolver teorias que provem um determinado objeto
de estudo, que não se afirma em hipóteses, mas sim na certeza advinda do estudo e
da pesquisa. (ARISTÓTELES apud MELLO, 2014).
Este capítulo tem por objetivo descrever os procedimentos metodológicos e
fases da pesquisa realizada, na busca de se compreender as construções de
sentido por parte dos visitantes do Museu Casa Guimarães Rosa.
No desenvolvimento da pesquisa, foram adotados procedimentos
metodológicos no intuito de garantir organicidade e consistência científica às suas
diversas fases de produção. Entende-se que, a partir do mesmo, é possível traçar
perspectivas acadêmicas e profissionais e as possíveis construções de sentido de
determinados visitantes do Museu Casa Guimarães Rosa.
4.1 Caracterização da pesquisa: tipo, estratégia e método
A pesquisa, segundo João José Saraiva Fonseca (2002), possibilita uma
aproximação e um entendimento da realidade a investigar, como um processo
permanentemente inacabado. Para o autor, a realidade se processa através das
aproximações sucessivas da realidade, fornecendo subsídios para uma intervenção
do real. (FONSECA, 2002, p.31).
105
A pesquisa aqui proposta é do tipo descritiva-exploratória. A partir da técnica
de estudo de caso, a pesquisa Descritiva propõe-se a utilizar procedimentos de
análise qualitativa.
O estudo de caso é um método de pesquisa que parte do pressuposto de que
se pode adquirir conhecimento sobre uma determinada realidade a partir da
exploração de um único caso (BECKER, 1993). Esta realidade aqui explorada é a do
Museu Casa Guimarães Rosa e seu contexto de relação e interação com os
visitantes da instituição.
Para Jorge Duarte (2005), o estudo de caso deve ser utilizado quando o
objeto de análise está situado em um contexto atual
o estudo de caso deve ter preferência quando se pretende examinar eventos contemporâneos, em situações onde não se podem manipular comportamentos relevantes e é possível empregar duas fontes de evidência [...], que são a observação direta e série sistemática de entrevistas (DUARTE, 2005, p. 219).
Na visão de João José Saraiva Fonseca (2002) o estudo de caso pode
decorrer:
[...] de acordo com uma perspectiva interpretativa, que procura compreender como é o mundo do ponto de vista dos participantes, ou uma perspectiva pragmática, que visa simplesmente apresentar uma perspectiva global, tanto quanto possível, completa e coerente, ao objeto de estudo do ponto de vista do investigador. (FONSECA, 2002, p.33).
É uma metodologia capaz de lidar com uma grande variedade de evidências
como artefatos, documentos, entrevistas e observações. Dentro desta perspectiva,
essas técnicas foram utilizadas para uma análise da realidade proposta, já que o
estudo de caso representa um modo de investigação de um objeto empírico que
segue um conjunto de procedimentos pré-definidos.
A partir do estudo de caso, é possível fazer a análise de uma realidade social
específica para transpô-la para outras realidades de estudo da comunicação, em um
contexto específico, neste caso o Museu Casa Guimarães Rosa, já que um dos
objetivos do método é a descoberta de novas relações entre elementos. Isso garante
a relevância da pesquisa para o campo da comunicação, já que no método “o
interesse primeiro não é pelo caso em si, mas pelo que ele sugere a respeito do
todo” (DUARTE, 2005, p. 219).
106
Além da aplicação teórica, questões de ordem prática também foram
levantadas para a escolha desta metodologia de análise. No caso específico desta
pesquisa, o uso do estudo de caso é o mais apropriado à natureza do problema,
cuja proposta é a observação e a compreensão de como se dá a construção do
imaginário do Museu Casa Guimarães Rosa e os impactos dessa imagem na
apropriação do espaço social.
Para atingir tais objetivos, o método qualitativo se faz pertinente, já que a
pesquisa proposta pretendeu estudar os fenômenos em seu ambiente natural,
tentando dar-lhes sentido ou interpretá-los a partir de significados atribuídos a eles.
A abordagem qualitativa é um tipo de pesquisa que enfatiza a natureza da realidade
socialmente construída. Dito de outra forma, “o pesquisador procura respostas para
questões que venham realçar aspectos como a criação da experiência social e a
interpretação dos significados que lhe são dados” (FONSECA, 2002, p.35).
A pesquisa qualitativa tem como foco de interesse a obtenção de dados
descritivos mediante contato direto e interativo do pesquisador com o seu objeto de
estudo. O método qualitativo tem seu foco na interpretação dos fenômenos
estudados e, por isso, de modo frequente, “o pesquisador procura entender os
fenômenos a partir da perspectiva dos participantes da situação estudada” (NEVES,
1996, p.55).
Assim sendo, o ambiente natural como fonte direta de dados e o pesquisador
como instrumento fundamental, o caráter descritivo, o significado que as pessoas
dão às coisas e à vida como preocupação do investigador e o enfoque dedutivo são
as características principais da pesquisa qualitativa. É uma abordagem que envolve
o uso de diversos materiais empíricos como estudo de caso, pesquisa documental,
entrevista, observação, entre outros.
Segundo José Luis Neves (1996), a pesquisa do tipo qualitativa:
Compreende um conjunto de diferentes técnicas interpretativas que visam a descrever e decodificar os componentes de um sistema complexo de significados. Tem por objetivo traduzir e expressar o sentido dos fenômenos do mundo social; trata-se de reduzir a distância entre o indicador e indicado, entre teoria e dados, entre contexto e ação (NEVES, 1996, p. 45).
É um método que faz do pesquisador um interpretador da realidade e tem sua
relevância em situações em que o entendimento do contexto social e cultural é um
elemento importante para a pesquisa. É um tipo de pesquisa em que se “deve
107
aprender a observar, registrar e analisar interações reais entre pessoas e entre
pessoas e sistemas” (NEVES, 1996, p.55).
Nesse sentido é que a utilização da abordagem do tipo qualitativa para a
pesquisa aqui proposta justifica-se ao considerarmos a aplicação e as
características deste trabalho, que se propôs a perceber como se dá a construção
do imaginário do Museu Casa Guimarães Rosa e os impactos na apropriação do
espaço social. Por meio de entrevistas individuais realizadas com os visitantes
espontâneos do Museu, pretendeu-se buscar informações, percepções e
experiências desse público, que possibilitaram a construção de sentidos sobre o
MCGR.
4.2 Instrumento de coleta de dados
O estudo de caso prevê algumas fases da pesquisa necessárias para se obter
dados e informações essenciais para a sistematização das informações e análise de
resultados. A etapa de coleta de dados é uma destas etapas de grande relevância
para a técnica proposta.
Jorge Duarte (2005) considera que, para a etapa de coleta de dados e
evidências num estudo de caso, seis fontes distintas de dados devem ser
consideradas, a saber: documentos, registros em arquivos, entrevistas, observação
direta, observação participante e artefatos físicos. Cada uma destas fontes exige do
pesquisador habilidades e procedimentos metodológicos distintos. (DUARTE, 2005,
p.55).
Dentre os procedimentos metodológicos adotados, a pesquisa bibliográfica e
a pesquisa documental foram fundamentais durante todo o desenvolvimento deste
trabalho. A pesquisa bibliográfica é feita a partir do:
[...] levantamento de referências teóricas já analisadas, e publicadas por meios escritos e eletrônicos como livros, artigos científicos, páginas de web e sites. Qualquer trabalho científico inicia-se com uma pesquisa bibliográfica, que permite ao pesquisador conhecer o que já se estudou sobre o assunto. (FONSECA, 2002, p. 32).
Segundo João José Saraiva Fonseca (2002) a pesquisa documental, por sua
vez “[...] recorre a fontes mais diversificadas e dispersas, sem tratamento analítico,
tais como: tabelas, estatísticas, jornais, revistas, relatórios, documentos, oficiais,
108
pinturas, tapeçarias, vídeos de televisão, etc.”. (FONSECA, 2002, p. 32).
A pesquisa documental foi feita a partir da coleta de informações realizadas
em registros em arquivos, levantamento em documentos oficiais, relatórios, cartas,
reportagens em jornais desde a inauguração do Museu até a presente data. A coleta
dos dados foi realizada na Superintendência de Museus e Artes Visuais, órgão da
Secretaria de Estado de Cultura, e também na sede do Museu Casa Guimarães
Rosa, em Cordisburgo,que registraram todo o processo de criação, tombamento e
reformas ocorridas deste a sua criação do Museu em 1974. De acordo com Jorge
Duarte (2005) “o uso de informações documentais é essencial para confirmar e
valorizar as evidências encontradas em outras fontes, como conferir nomes, datas,
fazer inferências, confrontar dados contraditórios” (DUARTE, 2005, p. 230).
4.3 A coleta de dados
Além da pesquisa bibliografia e documental, foi realizada pesquisa qualitativa,
procedimento metodológico fundamental para a realização deste trabalho. Para
Maria Cecília de Souza Minayo (2001), “a pesquisa qualitativa trabalha com o
“universo de significados, motivos, aspirações e valores dos processos e dos
fenômenos que não podem ser reduzidos a operacionalização de variáveis”.
(MINAYO, 2001, p. 14).
O trabalho de campo por sua vez, foi dividido em duas etapas: observação e
realização de entrevistas por meio da aplicação de questionário. Durante a etapa de
observação, que aconteceu durante quatro sábados do mês de outubro de 2012, a
pesquisadora pode conviver com a comunidade de Cordisburgo e vivenciar a
relação que a população local tem com o Museu Casa Guimarães Rosa.
Durante o período de observação no Museu, constatamos que a instituição
recebe diariamente três categorias de visitantes: pessoas da comunidade de
Cordisburgo, grupos agendados previamente (escolas, grupos da terceira idade,
turistas de outras regiões do país, dentre outros) e visitantes espontâneos. Para a
realização desta pesquisa, nosso foco foi o visitante espontâneo do Museu. Este
visitante muitas vezes está a passeio, sozinho ou com a família, pela região
conhecendo os pontos turísticos da cidade.
Nos meses de novembro e dezembro de 2012, foram realizadas entrevistas
individuais com os visitantes espontâneos do Museu Casa Guimarães Rosa,
109
utilizando-se de questionário estruturado, e entrevistas em profundidade com o
Coordenador do Museu Casa Guimarães Rosa, com a Presidente da Associação de
Amigos do MCGR e com o Fundador do Grupo Caminhos do Sertão e da
Caminhada Ecoliterária.
Para Jorge Duarte (2005) a entrevista constitui:
uma técnica alternativa para se coletarem dados não documentados sobre determinado tema. É uma técnica de interação social, uma forma de diálogo assimétrico, em que uma das partes busca obter dados, e a outra se apresenta como fonte de informação (DUARTE, 2005, p.72)
As entrevistas realizadas ao longo destes meses, foram aplicadas aos
sábados, sempre no horário de 11 às 16 horas, pois constatamos durante a etapa
de observação, que é durante este período de tempo, que o museu recebe grande
número de visitantes.
Os visitantes eram abordados pela pesquisadora no hall de entrada do Museu
Casa Guimarães Rosa, que se apresentava e em poucas palavras tecia breve relato
sobre seu trabalho e ao final da explanação solicitava aos visitantes, que
preenchessem um questionário tão logo terminassem a visita ao Museu.
Os visitantes aceitavam de bom grado participar da pesquisa, mas muitos se
recusavam a preencher o questionário. Diante de tal situação, a pesquisadora optou
por gravar as falas dos visitantes, que se disponibilizaram em responder as
perguntas formuladas no questionário, que eram entregues previamente para eles.
Ao longo deste período, foram realizadas trinta entrevistas, que foram
gravadas e, posteriormente, transcritas na integra, possibilitando assim, a análise
dos depoimentos. Compõem o universo das pessoas entrevistadas, homens e
mulheres com faixa etária entre 18 e 70 anos, com diferentes níveis de escolaridade,
provenientes de vários municípios do Estado de Minas Gerais e também, de outras
cidades do país.
A transcrição das entrevistas possibilitou dividir os visitantes em três
categorias distintas de acordo com o interesse e motivação que os levaram a visitar
o MCGR, com as quais procederemos à análise das informações coletadas.
110
4.3.1 O “sertão é dentro da gente”, uma viagem pelas obras de Rosa.
A obra de Guimarães Rosa está contida em sete livros dos quais cinco foram
publicados ainda em vida:
a) Sagarana, em 1946;
b) Corpo de Baile e Grande Sertão: veredas, em 1956;
c) Primeiras Estórias, em 1962; Tutaméia, em 1967.
Os outros dois livros, Estas Estórias, de 1969, e Ave, Palavra, de 1970,
estavam em processo de preparação quando o escritor faleceu, em novembro de
1967.
Para muitas pessoas, ler uma obra de Guimarães Rosa requer uma atenção
especial, pois sua leitura é de difícil entendimento, pois é um léxico único, próprio do
sertão. A arte de Rosa vai muito além de uma invenção linguística. Ela se tornou um
marco da identidade brasileira, pois foi construída sobre vários elementos essenciais
de nossa nacionalidade.
O leitor tem uma profunda identificação com o mundo Roseano, pois
Guimarães Rosa não se coloca acima de seus personagens. Mais do que um
escritor, Rosa é, igualmente um de seus personagens.
Mesmo depois de quatro décadas e meia após sua morte, a obra de Rosa
permanece viva despertando o imaginário das pessoas, que se sentem atraídas pelo
sertão de Riobaldo e Diadorim.
Para muitos dos entrevistados, conhecer mais sobre a vida e obra deste
escritor, foi um dos motivos que os levaram a conhecer o Museu Casa Guimarães
Rosa.
Isto fica claro na fala da E10, 46 anos, psicóloga, natural de Belo Horizonte ao
afirmar que: “Sempre tive interesse em conhecer melhor a vida e obra de Guimarães
Rosa. Ele é Um mito da literatura brasileira e seus romances são conhecidos em
diversas partes do mundo”.
Criado em 30 de março de 1974, o Museu desperta o interesse de turistas
nacionais e internacionais, que desejam conhecer um pouco mais sobre a biografia
deste grande mito da literatura brasileira, que consegue com sua linguagem singular
despertar o imaginário das pessoas, transportando-as para o mundo mágico do
111
sertão.
Mesmo aqueles que não possuem intimidade com sua obra se sentem
atraídos por sua história de vida é o que relata o E14, 44 anos, fotógrafo, natural de
Santos, São Paulo: “Mesmo não conhecendo toda a obra de Guimarães Rosa,
sempre tive uma grande admiração por seu trabalho. Sua biografia é fantástica.
Visitar o Museu será a oportunidade de conhecer um pouco mais sobre este escritor
e suas obras”.
Guimarães Rosa de dedicava integralmente à sua obra e aos seus
personagens, e se desligava de tudo quando estava escrevendo, como se estive em
transe. Sempre que acabava uma obra, já estava com outra na cabeça.
Começando a escrever eu me desligo. Dedico-me apenas a meus personagens, à minha inspiração. Muita gente diz que é difícil ler minhas obras. Não é difícil. E não precisa ler em voz alta, como muita gente que conheço, para assimilar. Basta ler, ler com atenção. Você pensa que não está entendendo, mas mentalmente está. (GUIMARÃES..., 1967).
Quem já teve a oportunidade de visitar o Museu antes, sempre volta em outro
momento e em outra circunstância. As pessoas se sentem atraídas por aquele
espaço mágico e acolhedor. O depoimento do E11, médico, 50 anos, natural de
Formiga, relata o que o motivou a retornar a cidade de Cordisburgo, depois de vários
anos. Segundo ele: “Minha visita ao Museu foi motivada pelo desejo de melhorar
culturalmente e proporcionar aos meus filhos de 10 e 8 anos, a oportunidade de
conhecer um pouco da história deste grande escritor, imortalizado por sua obra”.
Com a requalificação do Museu e abertura de sua mostra de longa duração
Rosa dos Tempos, Rosa dos Ventos, inaugurada em julho de 2012, o Museu Casa
Guimarães Rosa oferece a seu público a oportunidade de visitar o grande universo
contido na obra de João Guimarães Rosa. Em cada cômodo do Museu, o visitante
encontrará em exibição importante acervo referente a momentos significativos da
biografia e da cidade natal do escritor cordisburguense, além de seleções de
textos, apreciações críticas e imagens ilustrativas da história editorial de cada um
de seus livros.
112
4.3.2 O museu e a casa
A imagem da casa, assim como a do museu, é, a primeira vista, a de um
objeto rigidamente geométrico, o que nos leva a analisar tanto um quanto outro
racionalmente.
Segundo Gaston Bachelard (2005), “todo espaço realmente habitado traz a
essência da noção de casa” (BACHELARD, 2005, p.25, Ela é o princípio de tudo,
onde o mundo inicia, e constitui para o indivíduo o primeiro contato com o real. A
casa ensina ao indivíduo a descobrir o mundo sem que este se exponha
completamente.
A casa onde Guimarães Rosa passou parte de sua infância atrai visitantes de
diversas regiões do estado e também de outras cidades brasileiras. Seja pela
indicação de amigos, pela busca na internet de atrações turísticas, ou simplesmente
para ver de perto a casa onde o escritor nasceu o número de visitantes cresce a
cada ano.
O interesse em cultura de uma maneira geral e de modo especial pela vida e
obra de Guimarães Rosa, levou o nosso entrevistado E22, Cirurgião Dentista, 43
anos, natural de Santa Catarina a conhecer o Museu Casa Guimarães Rosa.
Segundo ele: “o museu é muito interessante. A casa é acolhedora e os objetos que
pertenciam ao escritor, muito bem conservados. Quando a gente entra no museu,
parece que está dentro de um livro de Guimarães Rosa”.
Nascida em Bom Despacho, interior de Minas Gerais, a Assistente Social, de
65 anos, aposentada, disse que sua visita ao Museu foi motivada por sua filha, que
já o havia visitado anteriormente. Ela explica que:
é,realmente a minha filha tinha razão. O museu é muito lindo e acolhedor. A gente fica pressa olhando todos os detalhes e não vê o tempo passar. Não tem como não imaginar Guimarães Rosa andando por esta casa. Parece até, que ele está ao nosso lado fazendo a visita também.( E27)
A casa onde hoje funciona o Museu Casa Guimarães Rosa, passou por várias
reformas e adequações desde a sua criação em 30 de março de 1974, mas guarda
características da época. Com o projeto de requalificação do Museu, a vida e obra
de Guimarães Rosa esta mais presente na casa onde ele nasceu. O projeto
propiciou a constituição de um acervo com toda a obra de João Guimarães Rosa,
113
em suas principais edições, inclusive edições raras, disponibilizando-o a
pesquisadores.
A obra de Rosa tem sua cartografia própria. Os nomes dos lugares onde
transcorrem as aventuras de seus personagens são em sua maioria, inspirados em
localidades reais, existentes em mapas comuns do interior de Minas Gerais.
Com a reavaliação e inclusão de novos pontos de vistas, resultado de
pesquisas do Projeto de Requalificação, o espaço físico do Museu amplia-se. Na
área externa do Museu, está exposto o mapa geográfico, contendo a identificação
de marcos territoriais instalados em noventa e cinco pontos estratégicos. Quarenta
deles instalados em Cordisburgo e os outros cinquenta e cinco marcos, citados em
sua obra, foram instalados em um território que abrange dezesseis cidades do
interior de Minas Gerais.
Admiradora da obra de Guimarães Rosa, a roteirista de 51 anos natural da
cidade do Rio de Janeiro, afirmou durante a entrevista que: “ficou muito admirada
com o espaço e com tudo o que o Museu tem. Ao passar pelos cômodos tinha a
impressão de que ele também estava ali acompanhando de perto tudo o que o
jovem Miquilim falava”.
4.3.3 Miguilins, os arautos de Guimarães Rosa
A Cordisburgo que, para o próprio Guimarães, "era pequenina terra sertaneja,
trás montanhas, no meio de Minas Gerais", agora é uma zona de fronteira entre a
imaginação e a realidade, onde os personagens, aventuras e amores roseanos
podem ser encontrados em cada esquina.
Mesmo que não conhece a obra de Guimarães Rosa se sente encantado ao
ouvir um jovem do Grupo de Contadores de Estórias Miguilins narrando um trecho
da obra deste grande escritor.
Crido em 1995, o Grupo de Contadores de Estórias Miguilim despertou
Cordisburgo para a obra de seu filho mais ilustre. Até então, havia certa apatia, uma
distância, entre a cidade e os escritos de Guimarães Rosa. Distância que caiu por
terra quando um grupo de meninos e meninas começou a contar as histórias
maravilhosas do escritor mineiro.
Emoção, encantamento, são alguns dos sentimentos que estes jovens
provocam em cada visitante que chega para conhecer o Museu. Ouvir os Miguilins
114
proporciona aos turistas uma viagem ao mundo imaginário de Rosa.
É o que relata o E8, estudante, 28 anos, natural de Sete Lagoas,
Embora não tenha lido nenhuma obra de Guimarães Rosa. Passei a admirar Guimarães Rosa ainda mais, depois que conheci este espaço. Acredito que será muito fácil ler algum livro seu depois de ver e ouvir a apresentação do Miguilim. Foi realmente muito mágico.
Mas, nem sempre foi assim. “Guimarães Rosa em Cordisburgo é antes e
depois dos Miguilins. Depois que começaram a narrar textos, foram encantando as
pessoas” - conta José Osvaldo dos Santos, o Brasinha, morador da cidade e
estudioso de Rosa. Brasinha ressalta que a narração revela uma identidade da
musicalidade da obra de Guimarães com a fala do mineiro, que ajuda a obra a ser
acolhida pela população.
“As histórias tem uma função simbólica importante para o ser humano”, afirma
a Professora Regina Machado, pesquisadora da USP (Universidade de São Paulo).
Para a estudiosa, a narração de histórias é diferente da leitura, que em geral se faz
de forma solitária, porque coloca pessoas diferentes em conexão. Uma vez
conectadas, elas dedicam atenção uma à outra ao que está sendo contado. Além de
fortalecer a concentração, especialmente a de quem ouve, a dinâmica conduz a uma
forma mais humana de relacionamento.
Além de aproximar narrador e ouvinte, contar histórias também aproxima
ambos da literatura - o que ajuda a ampliar horizontes e abrir caminhos profissionais.
“Se eu não tivesse me tornado contador, com certeza não teria a visão de mundo
que tenho hoje e talvez não tivesse continuado os estudos”, afirma Thiago Goulart,
integrante da terceira turma de Miguilins. Hoje com 26 anos, Thiago é programador
visual e mora em Belo Horizonte.
Dora Guimarães e Elisa Almeida, coordenadoras do grupo, introduzem os
textos de Guimarães aos jovens Miguilins de forma gradual. Elas não vão
diretamente aos textos literários, começam com uma oficina, com textos mais
simples, de tradição oral, como contos de fadas e fábulas. As crianças aprendem
primeiramente técnicas gerais para narrar um texto em voz alta, encontram a
entonação certa lendo em voz alta para compreendê-lo. Guimarães Rosa em sua
obra brinca com a linguagem de sua terra natal elaborando construções literárias
eruditas e inventivas, inspiradas no jeito de falar do sertão mineiro.
115
A experiência da oralidade ajuda os adolescentes do Grupo Miguilim a
compreender a obra do autor. Miguilim é um garoto do sertão e não entende o
universo dos adultos. Um dia, ganha uns óculos e começa a enxergar o mundo de
uma forma diferente e a descrever tudo de uma maneira intensa, cheia de
impressões que antes desconhecia.
“Ele descreve a cor da pele, da terra e diz, meu Deus, quanta coisa”, conta
Magna, integrante da primeira turma do Grupo de Contadores de Histórias Miguilins.
“No começo, não percebemos a importância do nome. Aos poucos, fomos nos
dando conta de que Miguilim é uma questão de descoberta. Ser Miguilim é estar se
descobrindo. É ir aprendendo a ver com profundidade”. Hoje com 32 anos e formada
em Matemática, Magna explica que o grupo tem por princípio não narrar contos com
os quais se identifica. “Ficaria uma narrativa comum, sem personalidade”.
Talvez seja por isso mesmo que muitos dos contadores afirmam que a
literatura de Guimarães Rosa nunca mais sairá de suas vidas, mesmo que elas
sigam caminhos totalmente diferentes. Ao se tornar um contador de histórias, estes
jovens transformam todas as suas relações. Mudam na escola, na família, na
comunidade, na forma de verem as coisas que os rodeiam.
A força da obra literária, naquilo que ela proporciona de abertura para uma
experiência de encontro de realidades diferentes. Ela é revitalizada na figura do
contador de histórias, que, ao vivenciar este encontro, quando em contato com um
conto, decide compartilhá-lo com outras pessoas, revivendo assim, a cada narração,
este momento de encontro e iluminação. É o ato de repetir e inaugurar que se
presentifica o escritor Guimarães Rosa, dando aos contadores a certeza de que ele
está lá, perto deles.
Em seu depoimento E16, 51 anos, afirma que ficou “muito admirada com
espaço e com tudo que o Museu tem. Ao passar pelos cômodos tinha a impressão
de que ele também estava ali acompanhando de perto tudo o que o jovem Miguilim
falava”.
A experiência de encontro entre os Contadores de Histórias Miguilins e o
visitante se faz presente nas reações dos ouvintes, no momento que vibram e se
emocionam com a apresentação dos jovens, estabelecendo uma relação concreta
entre ambos.
A relação entre o grupo e Guimarães Rosa se dá de forma íntima e pessoal.
Através dele, estes jovens passam a se conhecer, a conhecer Cordisburgo, e
116
também a serem conhecidos. Sentem-se próximos a ele, inspiram-se nele, mas o
que é importante: neste relacionamento descobrem a si mesmos. E nesta relação,
Guimarães Rosa lhes ajuda nesse reconhecimento, traduzindo ao mesmo tempo
uma experiência regional e universal através de seus contos.
117
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
“O real não está na saída nem na chegada: ele se dispõe para gente é no meio da travessia.”
(ROSA, João Guimarães)
Este trabalho buscou fazer uma reflexão de como se dá a construção do
imaginário do Museu Casa Guimarães Rosa e seus impactos na apropriação do
espaço social, pelos visitantes espontâneos do Museu.
A analise discursiva empreendida nesta pesquisa indica que os visitantes do
Museu, reconhecem o Museu como equipamento relevante para o turismo local e
nacional. Pelos discursos analisados, constatamos que a construção do imaginário
do Museu por seus visitantes está ligada concomitantemente por três vertentes:
Guimarães Rosa e sua obra; a casa onde abriga a memória de Guimarães Rosa e a
narração do Grupo de Contadores de Histórias Miguilins.
Na primeira vertente, pudemos constatar, pelos discursos de grande parte dos
entrevistados, que o imaginário dos visitantes a cerca do Museu Casa Guimarães
Rosa, está ligado diretamente à memória da biografia e obras deste grande escritor
brasileiro. Como espaço de memória, o MCGR, possui em seu acervo todos os livros
publicados pelo escritor, velhas e novas edições, incluindo as obras traduzidas para
outros idiomas. O museu também é ponto de referências para estudiosos e
pesquisadores que desejam se aprofundar ainda no universo roseano. Todos os
anos, durante a Semana Roseana, realizada no mês de julho, a cidade de
Cordisburgo, com um população de 9 mil habitantes, recebe durante este período
aproximadamente 4 mil pessoas, que procuram conhecer mais o escritor e sua obra.
A segunda vertente, o imaginário do visitante faz uma relação da casa,
enquanto local onde o escritor Guimarães Rosa nasceu e passou parte de sua
infância. A preservação da memória de Rosa pelo Museu se dá por meio das
exposições de longa duração e temporária e também pelas ações educativas
realizadas pelo Museu em parceria com AAMCGR e do Grupo Caminhos do Sertão.
O imaginário social existe em todas as sociedades e está presente nas
interações. Por meio destes papeis, o imaginário atribui significados e forma a
imagem da realidade. Reconhecendo que a realidade é uma construção que vem
tanto do exterior como do interior, compreende-se que as coisas do mundo interior
118
influenciam o indivíduo de forma relativa, por serem inconsciente.
O patrimônio cultural do mundo de Guimarães Rosa sobrevive não apenas na
paisagem, mas também nas vozes de homens e mulheres, de todas as idades, que
se lembram, e ao se lembrar preservam e contribuem para que a memória
permaneça viva pelos tempos. Mesmo que os velhos caminhos de tropeiros tenham
se transformado em estradas cheias de asfalto. Ou que velhas estações do trem de
ferro guardem, em suas ruínas, pedaços da memória dos tempos. No sertão de
Rosa, resta ainda muita memória. Muita história. Muita vida.
No processo de interpretação do real, devemos levar em consideração o que
o visitante traz consigo ao visitar o Museu Casa Guimarães Rosa o que levará dali
com ele. O real é composto por nossas percepções e experiências a parti dele,
tendemos a defini-lo como aquilo que se vê. Cada museu é único e representa uma
visão do humano sobre a realidade. Seja ele um ecomuseu, ou um museu de
território, como é o caso do Museu Casa Guimarães Rosa, todos os museus estão
em constante transformação.
Ao entrar no MCGR o visitante o imagina o menino Rosa olhando de sua
janela e sente a sua ansiedade em percorrer e escrever sobre a vista que dela tinha.
Ao entrar na reconstituição da venda do Seu Florduardo, o visitante permite que sua
mente viaje e reproduza a entrada dos tropeiros e comerciantes que ali vinham
negociar ou mesmo prosear.
Na última vertente, apontada no capítulo anterior, analisamos a atuação do
Grupo de Contadores de Estórias Miguilins para a construção do imaginário do
Museu Casa Guimarães Rosa. A partir do que ouvimos e vivenciamos, entendemos
que, no contexto de Cordisburgo e do próprio MCGR, o ato de conta histórias
representa um processo de enraizamento sempre em construção. Os contadores de
histórias, de causos, são tão antigos quanto o próprio sertão. Isto, aliado ao fato de
Guimarães Rosa pertencer a esta cidade e traduzir tão bem as coisas deste lugar,
explicam grande parte da repercussão desta arte na vida destes jovens Miguilins.
A arte de contar histórias é enraizada naquilo que ela promove de
pertencimento, relacionamento, encontro. Em seu pode de colocar a pessoa em
contato com sua tradição, seu lugar de origem e, com isto, transformar o modo de se
relacionar com seu futuro. O Grupo de Contadores de Histórias Miguilins ao narrar
trechos da obra de Guimarães Rosa, permitem que os visitantes do MCGR viagem
pelo mundo deste grande escritor, vivenciando emoções e sentimentos diferentes a
119
cada palavra.
As entrevistas realizadas com os visitantes espontâneos do Museu Casa
Guimarães Rosa foram marcadas pela espontaneidade e autenticidade nas
respostas, o que releva que os visitantes de fato estavam emitindo uma opinião
própria sobre o que os levavam a visitar o museu.
Ao chegarmos à etapa final desta pesquisa, constatamos que este trabalho é
apenas o início, pois o Museu, seus visitantes e a própria comunidade de
Cordisburgo, são fontes inesgotáveis de pesquisa. O Museu Casa Guimarães Rosa
é diferente para cada indivíduo que o experimenta e que tem a possibilidade de
vivenciar tudo que ele representa. A construção do imaginário dos visitantes está
intimamente ligada à biografia do escritor e de sua obra. Se dá também pelo
encantamento proporcionado pelas ações desenvolvidas pela Associação de
Amigos do MCGR, instituição importantíssima para a realização de atividades que
possibilitam a interação da comunidade de Cordisburgo e de seus visitantes com o
museu. A apropriação deste espaço social, pelos visitantes se dá de forma a
preservar a memória do mito e de seu legado.
Trouxe-nos também a certeza de que o Museu Casa Guimarães Rosa, a
comunidade de Cordisburgo, e os visitantes que por ali passam, são fontes
inesgotável de pesquisa para todas as áreas do conhecimento.
O universo roseano é imenso e a conclusão deste trabalho não põe um fim a
esta pesquisa, mas abre um grande número de possibilidades.
Afinal, "o sertão é do tamanho do mundo".
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APÊNDICE A - Transcrição entrevistas - Museu Casa Guimarães Rosa
Entrevistado 1
Idade: 40 anos
Naturalidade: Sou natural da cidade de Itu – São Paulo
Escolaridade: Superior Completo
Profissão: Empresária
Já visitou o Museu antes? Não é a primeira vez que venho ao MCGR.
Como ficou sabendo do MCGR? Tomei conhecimento do Museu por intermédio da
minha irmã, que já havia visitado o museu anteriormente.
Já leu alguma obra de Guimarães Rosa? Qual? Sim. Já li Sagarana e Grande
Sertão Veredas.
O que te levou a visitar o MCGR - Sempre gostei das obras de Guimarães Rosa e
tinha o desejo de saber mais sobre este grande escritor brasileiro.
Qual foi a sua impressão depois de visitar o Museu - “Que lugar lindo. Parece que
Guimarães Rosa está em cada canto desta casa”.
Entrevistado 2
Idade: 48 anos
Naturalidade: Moro na cidade de Cuiabá, Mato Grosso
Escolaridade: Tenho o ensino Médio Completo
Já visitou o Museu antes? Não, é a primeira vez que venho ao MCGR.
Como ficou sabendo do MCGR: Fiquei sabendo do Museu através de parentes, que
residem aqui em Cordisburgo.
Já leu alguma obra de Guimarães Rosa? Qual? Sim. Li Sagarana na minha
adolescência, na época do colégio.
O que te levou a visitar o MCGR: Sempre tive o desejo de conhecer um pouco mais
sobre a história e a obra de Guimarães Rosa.
Qual foi a sua impressão depois de visitar o MCGR? - “Este lugar é mágico. Esta
casa é realmente a Casa de Guimarães Rosa, pois guarda toda a memória deste
grande escritor”.
134
Entrevistado 3
Idade: 74 anos
Naturalidade: Nasci na cidade de Laguna, Santa Catarina
Escolaridade: Superior Completo
Profissão: Empresária
Já visitou o Museu antes? Não é a primeira vez que vem ao MCGR.
Como ficou sabendo do MCGR: Tomei conhecimento do Museu por meio de jornais
e revistas, só não me lembro o nome deles agora.
Já leu alguma obra de Guimarães Rosa?Qual? Sim. Tive a oportunidade de ler
Sagarana e Grande Sertão Veredas. A linguagem é muito difícil no início, mas
depois que você começa não quer parar mais. É muito lindo.
O que te levou a visitar o MCGR: Aproveitei a minha vinda à cidade de Morro das
Garças, para visitar uns parentes e resolvi conhecer de perto a casa onde
Guimarães Rosa passou parte de sua infância.
Qual a sua impressão depois de visitar o Museu? “Fiquei encantada com o Museu e
com tudo o que ele tem. É como se o Guimarães ainda estivesse aqui”.
Entrevistado 4
Idade: 25 anos
Naturalidade: Sou da cidade de Santana de Pirapama – Minas Gerais
Escolaridade: Superior Incompleto
Profissão: Estudante
Já visitou o Museu antes? Não. E a primeira vez que venho ao Museu Casa
Guimarães Rosa.
Como ficou sabendo do MCGR? Fiquei sabendo do Museu aqui na cidade mesmo,
pois estou passeando aqui em Cordisburgo com alguns amigos.
Já leu alguma obra de Guimarães Rosa? Sim. Já li Sagarana.
O que te levou a visitar o MCGR? “A profunda admiração pelas obras de Guimarães
Rosa” foi o que levou a conhecer o Museu Guimarães Rosa.
Qual a sua impressão depois de visitar o Museu? “O Museu é lindo demais. É uma
verdadeira viagem no tempo e na história”.
135
Entrevistado 5
Idade: 35 anos
Naturalidade: Nasci em Belo Horizonte – Minas Gerias
Escolaridade: Ensino Médio Completo
Profissão: Pastora
Já visitou o Museu antes?Não. Nunca tinha estado no museu antes
Como ficou sabendo do MCGR: Estava fazendo uma pesquisa na internet sobre a
Gruta de Maquiné e vi alguma coisa do Museu. Fiquei muito interessada em
conhecer o museu e cá estou.
Já leu alguma obra de Guimarães Rosa?Qual? Sim. Tive a oportunidade de ler
Grande Sertão: Veredas.
O que te levou a visitar o MCGR - Sou fá do Guimarães Rosa. Ele era um grande
escritor.
Qual a sua impressão depois de visitar O MCGR: “O museu está muito bem
conservado. É muito bom ver todos os originais de suas obras em um único lugar”.
Entrevistado 6
Idade: 25 anos
Naturalidade: natural de Belo Horizonte – Minas Gerais
Escolaridade : Superior Completo
Profissão: Jornalista
Já visitou o Museu antes? Não é a primeira vez.
Como ficou sabendo do MCGR: Já conhecia o Museu de nome, então fiz uma
pesquisa na internet.
Já leu alguma obra de Guimarães Rosa?Qual? Sim. Li Sagarana na época do
vestibular”.
O que te levou a visitar o MCGR - Sempre tive o desejo de conhecer o Museu, pois
sou uma grande fã do trabalho de Guimarães Rosa.
Qual a sua impressão depois de visitar o Museu: Estou encantada com tudo o que
vi. Aqui realmente é a casa de Guimarães Rosa.
Entrevistado 7
Idade: 46 anos
Naturalidade: Nasci em São Vicente - São Paulo
136
Escolaridade: Superior Completo
Profissão: Professor
Já visitou o Museu antes? Não é a primeira vez
Como ficou sabendo do MCGR: Fiquei sabendo do Museu pelos Jornais.
Já leu alguma obra de Guimarães Rosa? Qual? Sim. Já li Sagarana, Grande Sertão
e Corpo de Baile. O que te levou a visitar o MCGR – Aproveite a minha vinda à
Gruta de Maquiné para conhecer a Casa de Guimarães Rosa, pelo valor histórico e
cultural deste grande escritor brasileiro.
Qual a sua impressão depois de visitar o Museu: O Museu é muito bonito. Tudo
muito conservado. Ouvir a voz dele na sala Cordisburgo e depois visitar a Sala
Gabinete, com todos os exemplares de suas obras. Foi demais.
Entrevistado 8
Idade: 28 anos
Naturalidade: Nasci em natural de Sete lagoas – Minas Gerais
Escolaridade: Ensino Médio Completo
Profissão: Estudante
Já visitou o Museu antes? Não. É a primeira vez que venho aqui.
Como ficou sabendo do MCGR: Fiquei sabendo do Museu, pelo guia turístico,
quando fui visitar a Gruta de Maquiné, aqui em Cordisburgo.
Já leu alguma obra de Guimarães Rosa: Não, ainda não tive a oportunidade de ler
nenhuma obra deste grande escritor.
O que te levou a visitar o MCGR: Embora não tenha lido nenhuma obra de
Guimarães Rosa, sempre tive muita curiosidade para conhecer a casa onde ele
nasceu.
Qual foi a sua impressão depois de visitar o Museu: Tudo aqui é muito bonito.
Passei a admirar Guimarães Rosa ainda mais, depois que conheci este espaço.
Acredito que será muito fácil ler algum livro seu depois de ver e ouvir a apresentação
do Miguilim. Foi realmente muito mágico
Entrevistado 9
Idade: 51 anos
Naturalidade: Nasci em São Vicente – São Paulo
Escolaridade:Superior Completo
137
Profissão:Professora
Já visitou o museu antes? Não, é a primeira vez que venho aqui.
Como ficou sabendo do MCGR: Fiquei sabendo do Museu durante uma vista a casa
de parentes em Sete Lagoas.
Já leu alguma obra de Guimarães Rosa: Sim. Já li quase todas as obras dele. Não é
uma leitura fácil, mas é cativante
O que te levou a visitar o MCGR: Minha visita ao Museu foi motivada pela
curiosidade e admiração pela obra deste grande mito da literatura brasileira.
Qual a sua impressão depois de visitar o Museu - Ver de perto a casa onde morou,
sua coleção de gravatas, as mobílias de sua sala no Rio e todas as suas obras, foi
realmente mágico. Valeu a visita.
Entrevistado 10
Idade: 46 anos
Naturalidade: Nasci em Belo Horizonte, Minas Gerais.
Escolaridade: Superior Completo
Profissão: Sou psicóloga.
Já visitou o Museu antes? Não é a primeira vez.
Como ficou sabendo do MCGR? Fiquei sabendo da existência do Museu durante um
passeio à Gruta de Maquiné, aqui na cidade de Cordisburgo.
Já leu alguma obra de Guimarães Rosa: Já li Sagarana na minha adolescência e
recentemente terminei de ler Grande Sertão Veredas. Que romance bonito.
O que te levou a visitar o MCGR: Sempre tive interesse em conhecer melhor a vida e
obra de Guimarães Rosa. Ele é um mito da literatura brasileira e suas obras são
conhecidas e diversas partes do mundo.
Qual a sua impressão depois de visitar o Museu? “Visitar o Museu, ver todas as
coisas que pertenciam a ele e depois terminar a visita ouvindo um Miguilim, foi
demais. Realmente muito bonito”.
Entrevistado 11
Idade: 50 anos
Naturalidade: Nasci em Formiga, Minas Gerais
Escolaridade: Tenho o superior completo
Profissão: Médico
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Já visitou o Museu antes: Não, é a primeira vez que eu venho aqui.
Como ficou sabendo do MCGR: Fiquei sabendo do Museu durante um passeio à
Gruta de Maquiné, quando ainda era criança.
Já leu algum livro de Guimarães Rosa? Qual? Sim. Já li Grande Sertão : veredas.
Ainda não tive a oportunidade de ler outros dele.
O que te levou a visitar o MCGR? “Minha visita ao Museu foi motivada pelo desejo
de melhorar culturalmente e proporcionar aos meus filhos de 10 e 8 anos, a
oportunidade de conhecer um pouco da história deste grande escritor, imortalizado
por sua obra”.
Qual a sua impressão depois de visitar o Museu: Depois de visitar o Museu – “Meus
filhos adoraram o passeio que fizemos aqui em Cordisburgo. Eles ainda são muito
novos para ler Guimarães Rosa, mas adoraram ouvir a menina do Grupo Miguilim
narrando trechos de sua obra. Foi emocionante”.
Entrevistado 12
Idade: 58 anos
Naturalidade: Nasci em Santos, São Paulo.
Escolaridade: Tenho o Superior Completo
Profissão: Sou advogado
Já visitou o museu antes?Não. É a primeira vez.
Como ficou sabendo do MCGR: Fiquei sabendo do Museu por intermédio de amigo
que mora aqui em minas Gerais.
Já leu algum livro de Guimarães Rosa: “Tive a oportunidade de ler Sagarana na
adolescência e li recentemente Grande Sertão: Veredas. Romance bonito demais”. F
O que te levou a visitar o MCGR? “Minha visita foi motivada pela admiração
profunda que tenho deste grande escritor e de sua obra.”
Qual a sua impressão depois de visitar o Museu: “Fiquei encantado com o cuidado e
preservação da antiga casa de Guimarães Rosa. O Museu é muito lindo. Parabéns a
todos que trabalham neste local mágico”.
Entrevistado 13
Idade: 38 anos
Naturalidade: nasci em Conselheiro Lafaiete – Minas Gerais
Escolaridade: Tenho o Superior Completo
139
Profissão: sou servidor público federal.
Já visitou o Museu antes? “Sim. Já havia visitado o Museu Casa Guimarães Rosa,
quando criança juntamente com meus pais”
Como ficou sabendo do MCGR: Já estive aqui antes.
Já leu algum livro de Guimarães Rosa: Sim. Já li Sagarana e Grande Sertão :
veredas.
O que te levou a visitar o Museu? “Sempre tive admiração por Guimarães e sua
obra, minha visita ao museu é para conhecer o pouco mais sobre a vida deste
grande escritor brasileiro”.
Qual a sua impressão depois da visita de visitar o Museu? “Retorno ao Museu anos
depois e fico emocionado. Ela está muito diferente do museu que trago em minhas
lembranças. Ele está muito bonito. Parabéns a todos pelo cuidado”.
Entrevistado 14
Idade: 44 anos
Naturalidade: Nasci na cidade de Santos, São Paulo
Escolaridade Ensino Superior Completo
Profissão: Fotógrafo
Já visitou o Museu antes? Não é primeira vez que venho aqui.
Como ficou sabendo do MCGR? Tomei conhecimento do Museu por intermédio de
um amigo, e depois procurei mais informações sobre ele na internet.
Já leu algum livro de Guimarães Rosa? Sim. Já li Grande Sertão: Veredas.
O que te levou a visitar o Museu? Mesmo não conhecendo toda a obra de
Guimarães Rosa, sempre tive uma grande admiração por seu trabalho. Sua biografia
é fantástica. Visitar o Museu será a oportunidade de conhecer um pouco mais sobre
este escritor e suas obras.
Qual a sua impressão depois de visitar o Museu? O Museu é muito lindo. Tudo aqui
é perfeito, a começar pelo acolhimento. Fomos acolhidos por um Miguilim, que nos
conduziu em visita pelo Museu. Não esquecerei a apresentação daquele garoto
narrando trechos da obra Grande Sertão. Foi emocionante.
Entrevistado 15
Idade: 25 anos
Naturalidade: Nasci em Niterói, Rio de Janeiro
140
Escolaridade: Ensino Médio Completo
Já visitou o Museu antes: Não, é a primeira vez.
Como ficou sabendo do MCGR: Fiquei sabendo do Museu pela internet. Estava
procurando informações sobre a Gruta de Maquiné e ai apareceu também
informações sobre o Museu.
Já leu algum livro de Guimarães Rosa? Não ainda não tive a oportunidade de ler
nenhum livro de Guimarães Rosa.
O que te levou a visitar o Museu: Sempre ouvi falar muito de Guimarães Rosa e ai
quando vim conhecer a Gruta, aproveite a oportunidade para visitar também o
Museu.
Qual foi a sua impressão depois de visitar o Museu? O Museu é fantástico. Tudo
muito limpo e os objetos dele estão todos em bom estado. Aproveitei ao máximo
minha visita ao Museu para conhecer mais sobre a vida deste grande escritor.
Entrevistado 16
Idade: 51 anos
Naturalidade: Nasci no Rio de Janeiro
Escolaridade: Superior Completo
Profissão: Roteirista
Já visitou o Museu antes? Sim. Estive aqui na minha adolescência com um grupo de
amigos para visitar a Gruta de Maquiné.
Como ficou sabendo do MCGR: Estivemos aqui em Cordisburgo com uma excursão
de escola.
Já leu algum livro de Guimarães Rosa? Qual? : Sim. Já li Sagarana, Grande Sertão :
veredas e Corpo de Baile.
O que te levou a visitar o Museu? Sou uma admiradora da obra de Guimarães e
gostaria de conhecer um pouco mais sobre ele.
Qual foi a sua impressão depois de visitar o Museu? Fiquei muito admirada com
espaço e com tudo que o Museu tem. Ao passar pelos cômodos tinha a impressão
de que ele também estava ali acompanhando de perto tudo o que o jovem Miguilim
falava. Foi muito legal.
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Entrevistado 17
Idade: 49 anos
Naturalidade: nasci na cidade do Rio de Janeiro
Escolaridade: Superior Completo
Profissão: Editor de imagens
Já visitou o museu antes: Não. É primeira vez que venho aqui no Museu
Como ficou sabendo do MCGR: Fiquei sabendo da existência do museu através de
amigos que estiveram aqui.
Já leu algum livro de Guimarães Rosa: Sim. Li Sagarana na época do Pré-
Vestibular.
O que te levou a visitar o Museu? Meus amigos falaram muito do Museu e das
atividades culturais daqui de Cordisburgo, principalmente a caminhada eco-literária.
Qual foi a sua impressão depois de visitar o Museu? Realmente os meus amigos
tinham razão. O Museu é muito legal mesmo. Tudo muito bem conservado e
organizado. Não deu para ver de perto a caminhada. Sendo assim, acho que terei
que voltar novamente para fazer este passeio.
Entrevistado 18
Idade: 37 anos
Naturalidade: Nasci em Cuiabá, Mato Grosso
Escolaridade: Superior completo
Profissão: Enfermeira
Já visitou o Museu antes? Não é a primeira vez.
Como ficou sabendo do MCGR? Fiquei sabendo do Museu através de uma prima
que tinha vindo aqui antes.
Já leu algum livro de Guimarães Rosa? Qual? Sim, Já Grande Sertão Veredas, mas
faz muito tempo.
O que levou a visitar o Museu? Minha prima falou muito bem do Museu e disse que
era um lugar muito bonito, com os objetos e livros do escritor.
Qual foi a sua impressão depois de visitar o Museu? Realmente o Museu é muito
bonito. Fiquei muito encantada com os cômodos da casa. Cada um tem o nome de
uma obra dele.
142
Entrevistado 19
Idade: 57 anos
Naturalidade: Nasci em Belo Horizonte, MG
Escolaridade: Sou formada em psicologia.
Profissão: Sou Funcionária Pública Estadual
Já visitou o Museu Antes: Não é a primeira vez que venho aqui no Museu.
Como ficou sabendo do MCGR? Fiquei sabendo do Museu pela internet, estava
procurando informações sobre a Gruta de Maquiné e ai apareceu outros pontos
turísticos da cidade.
Já leu algum livro de Guimarães Rosa? Devo ter lido mais ou menos, uns cinco
livros dele, mas ainda faltam alguns. Grande Sertão e Sagarana com certeza eu já li.
O que te levou a visitar o Museu? Minha curiosidade sobre o Museu que está
construído na casa onde Guimarães Rosa morou.
Qual a sua impressão depois de visitar o Museu? O lugar é muito bonito, mas o
lugar que mais gostei foi a sala chamada Gabinete, que tem os objetos e móveis
dele. Nesta sala também tem uma vitrine com todas as obras dele. É muito legal ter
acesso a tudo isso.
Entrevistado 20
Idade: 26 anos
Naturalidade: Nasci em Belo Horizonte, MG
Escolaridade: Tenho o Superior completo
Profissão: Jornalista
Já visitou o Museu antes? Sim. Já visitei o Museu muitas vezes.
Já leu algum livro de Guimarães Rosa? Qual? Sim, já li Sagarana.
Como ficou sabendo do MCGR? Como disse anteriormente, já estive qui no Museu
antes.
O que te levou a conhecer o MCGR? Me identifico muito com este.lugar. Meu pai é
daqui de cidade e cresci rodeado pelas atrações de Cordisburgo, incluindo o
museu”.
Qual a sua impressão depois de visitar o Museu? O Museu está muito bonito. Há
muito tempo não venho aqui. Ele está muito diferente, desde a última vez que tive
aqui. Foi legal ver a nova exposição do Museu. Foi muito legal mesmo.
143
Entrevistado 21
Idade: 34 anos
Naturalidade: Nasci em Belo Horizonte, MG
Escolaridade: Superior Completo
Profissão: Professora.
Já visitou o Museu antes? Não. É a primeira vez que venho aqui.
Como tomou conhecimento do MCGR? Tive conhecido do museu pela internet. Esta
fazendo um pesquisa sobre os pontos turísticos de Cordisburgo.
Já leu algum livro de Guimarães Rosa? Qual?
O que te levou a visita o MCGR? Sempre gostei muito da obra de Guimarães Rosa e
fiquei curiosa para conhecer a casa onde ele nasceu.
Qual a sua impressão depois de visitar o Museu? A casa, ou melhor, o Museu é
muito bonito e acolhedor. É muito bom ver os objetos deste escritor em um só lugar.
Entrevistado 22
Idade: 43 anos
Naturalidade: Moro em Joinvile - Santa Catarina
Escolaridade: Sou Mestre em Odontologia
Profissão: Cirurgião dentista
Já visitou o Museu antes: Não é a primeira vez que venho ao Museu Guimarães
Rosa.
Como tomou conhecimento do MCGR: Fiquei sabendo do Museu durante minha
visita à Gruta de Maquiné.
Já leu algum livro de Guimarães Rosa: Sim. Tive a oportunidade de ler Sagarana e
Grande Sertão : Veredas
O que te levou a visitar o MCGR: tenho grande interesse na cultura de modo geral e
principalmente pela vida e obra deste grande escritor.
Qual foi a sua impressão depois de visitar o Museu - O Museu é muito interessante.
A casa é acolhedora e os objetos que pertenciam a ele muito conservados. Quando
a gente entra no museu, parece que está dento de um livro de Guimarães Rosa.
Entrevistado 23
Idade: 30 anos
Naturalidade: Moro em Taubaté, São Paulo
144
Escolaridade: Superior Completo
Profissão: Professor
Já visitou o Museu antes? Não. É a primeira vez.
Como tomou conhecimento do MCCGR: Fiquei sabendo do Museu através do Guia
durante uma excursão à Gruta de Maquiné.
Já leu algum livro de Guimarães Rosa? Qual? Sim. Li Sagarana, mas faz muito
tempo. Eu estava no 2º Grau.
O que te levou a visita o Museu? Fiquei curioso para conhecer a casa que
Guimarães Rosa nasceu e que virou Museu.
Qual foi a sua impressão depois de visitar o Museu? O museu é muito legal mesmo.
Tem muita coisa da vida do escritor em um só lugar. Vou agendar a vinda dos meus
alunos para conhecer o Museu ainda este ano.
Entrevistado 24
Idade: 28 anos
Naturalidade: Nasci em Taubaté, interior de São Paulo.
Escolaridade: Mestre em Linguística
Profissão: Professora
Já visitou o museu antes? Não é a primeira vez.
Como tomou conhecimento do MCGR? Fiquei sabendo da Casa de Guimarães
Rosa através de outros professores, amigos meus, que já visitaram o Museu antes.
Já leu algum livro de Guimarães Rosa: Sim. Já li praticamente todos os livros de
Guimarães Rosa, pois sua estudiosa de sua obra.
O que te levou a visitar o Museu? Como estudiosa da obra de Guimarães Rosa, não
podia deixar de conhecer a cidade onde ele nasceu e o Museu dedicado a ele.
Queria ver de perto este sertão descrito tão fielmente em sua obra, através de
detalhada descrição de fauna, flora ou tipo humano típica desta região.
Qual a sua impressão depois de visitar o Museu? É realmente um lugar muito bonito,
digno da grandiosidade deste grande escritor brasileiro.
Entrevistado 25
Idade: 29 anos
Naturalidade: nasci em Belo Horizonte – Minas Gerais
Escolaridade: Mestre em Educação
145
Profissão: Professora
Já visitou o Museu antes? Não, é primeira vez.
Como tomou conhecimento do MCGR? Ficou sabendo do Museu pela internet.
Já leu algum livro de Guimarães Rosa? Qual? Sim. Já li Grande Sertão e Sagarana,
suas maiores obras na minha opinião.
O que levou a visitar o Museu? Estava visitando a Gruta de Maquiné e não podia
deixar de conhecer o Museu.
Qual foi a sua impressão depois de visitar o MCGR? A visita valeu a pena. O museu
é muito bonito. Tudo bem conservado e arrumado. Terminar a visita ouvindo trecho
de Grande Sertão na voz de um adolescente foi emocionante demais.
Entrevistado 26
Idade: 25 anos
Naturalidade: Nasceu em Belo Horizonte – MG
Escolaridade: Superior em andamento
Já visitou o Museu antes: Não tive a oportunidade de visitar o museu antes.
Como tomou conhecimento do MCGR? Fiquei sabendo do museu através do meu
primo, que já tinha vindo aqui antes.
Já leu algum livro de Guimarães Rosa? Qual? Sim. Li Sagarana na minha
adolescência, quando estava no colégio ainda.
O que levou a visitar o MCGR? Fiquei muito interessado para conhecer a casa onde
Guimarães Rosa nasceu.
Qual a sua impressão depois de visitar o Museu? Que lugar bonito. Não tem como
não visitar o Museu. É um lugar que deixa a gente mais perto do Guimarães Rosa e
de seus livros. Não sabia que ele tinha escrito tanta coisa.
Entrevistado 27
Idade: 65 anos
Naturalidade: Nasci em Bom Despacho, Minas Gerais
Escolaridade: Superior Completo
Profissão: Assistente Social Aposentada
Já visitou o Museu antes? Não é a primeira vez.
Como tomou conhecimento do MCGR? Fiquei sabendo do Museu através da minha
146
filha. Ela já visitou o museu com meus netos.
Já leu algum livro de Guimarães Rosa? Qual? Sim. Já li Grande Sertão, Sagarana e
Sagarana. E já assisti também a mini série da Globo, que passou há muitos anos
atrás.
O que te levou a visitar o Museu? Minha filha sempre falou muito bem do Museu, e
quando eu disse que viria para Cordisburgo, ela disse para eu não deixar de visitar o
Museu.
Qual foi a sua impressão depois de visitar o Museu? É, realmente a minha filha tinha
razão. O museu é muito bonito. A gente fica pressa olhando todos os detalhes e
não vi o tempo passar. Não tem como não imaginá-lo andando por esta casa.
Parece que ele está do nosso lado, fazendo a visita também. A equipe do museu ta
de parabéns. Tudo muito limpo e arrumado.
Entrevistado 28
Idade: 68 anos
Naturalidade: Natural de Bom Despacho – Minas Gerais
Escolaridade: Superior Completo
Profissão: Professora
Já visitou o museu antes: Não é a primeira vez
Como tomou conhecimento do MCGR? Fiquei sabendo do Museu através de
parentes e amigos que já visitaram o museu.
Você já leu algum livro de Guimarães Rosa? “Já li Sagarana e Grande Sertão, mas
já faz muito tempo”.
O que te levou a visitar o Museu? Queria muito conhecer o Museu, pois tenho
grande admiração pelas obras do escritor.
A visita ao MCGR se deve ao fato de “ser uma grande apaixonada pela obra de
Rosa”.
Depois de visitar o Museu: “Tudo é muito lindo no Museu. A casa, o acervo, mas o
mais bonito foi ouvir a menina do Miguilim. Ela narra com uma facilidade. É muito
bonito”.
Entrevistado 29
Idade: 42 anos
Naturalidade: Nasci em Paracatu, Minas Gerais
147
Escolaridade: Superior Completo
Profissão: Publicitário
Já visitou o Museu antes? Não é primeira vez que venho aqui, mas já ouvi falar
muito deste museu.
Como ficou sabendo do MCGR? Fiquei sabendo do museu através de amigos e
depois fiz uma pesquisa na internet.
Já leu algum livro de Guimarães Rosa? Qual? Sim. “Já li Sagarana na adolescência,
na época do vestibular. Ainda não tive a oportunidade de ler Grande Sertão”.
O que te levou a visitar o MCGR? Desde criança escuto falar de Guimarães Rosa.
Depois de ler seus livros e um pouco de sua vida resolvi conhecer um pouco mais
sobre ele
Qual a sua impressão depois de visitar o Museu? “O Museu é muito bonito. É muito
bom saber que existe este lugar, ou seja, uma casa para guardar as obras dele. Um
lugar para guardar a memória deste grande escritor e de tudo o que ele representa
para o país.
Entrevistado 30
Idade: 57 anos
Naturalidade: Nasci em Pelotas. Rio Grande do Sul.
Escolaridade: Superior Completo
Profissão: Relações Públicas
Já visitou o Museu antes? Não é primeira vez que venho aqui, mas já ouvi falar
muito deste museu.
Como ficou sabendo do MCGR? Fiquei sabendo do museu através de amigos, que
já estiveram aqui no Museu antes.
Já leu algum livro de Guimarães Rosa? Qual? Sim. “Já li Sagarana na adolescência,
na época do vestibular. Ainda não tive a oportunidade de ler Grande Sertão”.
O que te levou a visitar o MCGR? Desde criança escuto falar de Guimarães Rosa.
Depois de ler seus livros e um pouco de sua vida resolvi conhecer um pouco mais
sobre ele
Qual a sua impressão depois de visitar o Museu? “O Museu é acolhedor. Trechos de
obra estão em todos os cômodos da casa. É muito bom saber que existe este lugar.
Uma casa para preservar a vida e obra deste grande escritor.