Perfil dos idosos que participam do projeto...
Transcript of Perfil dos idosos que participam do projeto...
1
Perfil dos idosos que participam do projeto Vidativa
Marcella Alonso Duarte Teixeira1
Denise Rodrigues Yuaso2
Pós-graduação em Gerontologia – Faculdade Ávila
Resumo
A expectativa de vida da população brasileira cresceu nos últimos anos, mas os idosos estão
vivendo com menor qualidade de vida, pois convivem por mais tempo com doenças crônicas e
incapacitantes, típicas de sua faixa etária. Assim, o conhecimento das características do idoso
tornou-se importante para planejar políticas de saúde. Objetivo: Coletar informações sobre as
condições de saúde de idosos residentes no estado do Amazonas e avaliar diferenças
intrínsecas ao gênero e faixas etárias, relacionando-as às patologias crônicas. Método: Estudo
epidemiológico, descritivo, transversal e quantitativo, envolvendo indivíduos com idade acima
de 60 anos, desenvolvido com base em dados oriundos do Projeto Vidativa em 2012. Os dados
foram coletados de forma aleatória através de entrevista, utilizando um questionário de
cadastro social e submetidos a análises estatísticas através do software R 3.0.1 aplicando
testes de Qui-quadrado e de Fisher, com nível de significância de 5%. Resultados:
Preencheram os critérios de inclusão 287 pessoas, sendo 84,32% do sexo feminino e 15,68%
masculino. A ordem de significância das patologias foi hipertensão (52,6%), reumatismo
(39%), diabetes (16,4%), doenças cardíacas (14,3%) e incontinência urinária (11,1%). Da
amostra, 69% não têm atividade sexual ativa, proporção maior entre as mulheres (62%).
Encontram-se acima do peso 39,02%, sendo que 94,77% praticam atividade física
regularmente. Concluiu-se que a população idosa Amazonense em pouco se difere das demais
regiões do país, com exceção de poucas taxas, como a de IMC que, devido à atividade física
regular proporcionada pelo Projeto Vidativa, revelou-se favorável ao peso ideal, no cenário de
patologias de morbidade.
Palavras-chave: Saúde do Idoso; Envelhecimento da População e Doença Crônica.
1. Introdução
O envelhecimento populacional é um fenômeno mundial, creditado aos avanços nos campos da
medicina, proporcionando melhores condições de saúde; e à redução da taxa de natalidade.
1 Pós Graduanda em Gerontologia. 2 Orientadora: Graduada em Fisioterapia, Pós Graduada em Ginecologia – UNIFESP, Mestrado em Gerontologia
pela Universidade Estadual de Campinas (2000) e Doutoranda em Uroginecologia pela Universidade Federal de
São Paulo. Membro da International Continence Society (ICS), International Urogynecologic Association (IUGA)
e Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG).
2
Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2000), estima-se que
no ano de 2030 o Brasil ocupará o sexto lugar no ranking dos países com alta população de
idosos, espera-se que a expectativa de vida média de idade, no ano de 2020, seja em torno de 73
anos, tanto para homens como mulheres. No Amazonas, os idosos já representam 7,1% da
população. O índice de envelhecimento no estado teve um aumento de 8,2% no ultimo decênio,
de 13,2%, em 2001, para 21,8%, em 2011. Enquanto no Brasil esse aumento foi de 31,7%, em
2001, para 51,8%, em 2011. Estima-se que atualmente haja aproximadamente a proporção de
uma pessoa de 60 anos ou mais, para cada duas pessoas com menos de 15 anos (OMS, 2011).
Segundo o Departamento das Nações Unidas para os Assuntos Econômicos e Sociais,
projeta-se que em 2050, pela primeira vez na história da humanidade, a população terá mais
pessoas idosas do que crianças (Guia Global das Cidades Amigas das Pessoas Idosas, 2009).
Os grandes centros urbanos brasileiros, embora já apresentem um perfil demográfico
semelhante ao dos países mais desenvolvidos, ainda não dispõem de uma infraestrutura de
serviços que dê conta das demandas decorrentes das transformações demográficas vigentes,
considerando que grande parte da população atual irá alcançar a velhice (IBGE, 2006).
A Organização Mundial da Saúde considera idoso, nos países em desenvolvimento, os
indivíduos com 60 anos ou mais, indivíduos estes, dadas as alterações próprias do
envelhecimento, mais propensos ao desenvolvimento de doenças. De acordo com o IBGE, três
em cada quatro idosos têm alguma doença crônica, ou seja, uma doença de curso arrastado,
sendo boa parte delas, incuráveis. As doenças infecciosas e os acidentes continuam a ser
importantes, mas a maior parte da carga de doenças da terceira idade no Brasil é por causa das
patologias crônicas não transmissíveis, como artrose, diabetes mellitus e as complicações da
hipertensão arterial.
Apesar do processo de envelhecimento não estar, necessariamente, relacionado a doenças e
incapacidades, as doenças crônico-degenerativas são frequentemente encontradas entre os
idosos (CHAIMOWICZ, 1998). Assim, a tendência atual é que se alcance um número crescente
de indivíduos que, apesar de viverem mais, apresentam maiores condições crônicas
relacionadas com incapacidade funcional (ALVES et al., 2007).
Desse modo, a capacidade funcional surge como um novo componente agregado ao modelo de
saúde dos idosos e, particularmente, útil no contexto do envelhecimento, verificando-se
problemas ao se iniciar o deterioramento das funções (KALACHE et al.,1987). A incapacidade
funcional pode ser definida como a inabilidade ou a dificuldade de realizar atividades rotineiras
(do dia-a-dia), e que normalmente são indispensáveis para uma vida independente na sociedade
(YANG et al., 2005). Desempenhar tarefas ou realizar determinado ato, sem a necessidade de
ajuda, caracteriza a potencialidade imprescindível para uma melhor qualidade de vida
(FARINATI, 1997).
Estima-se que em 2020 ocorrerá aumento de 84% a 167% no número de idosos com
incapacidade moderada ou grave. Entretanto, a implantação de estratégias de prevenção, como
a prática da atividade física regular e de programas de reabilitação, poderá promover a melhora
funcional e minimizar e/ou prevenir o aparecimento dessa incapacidade
(NÓBREGA et al., 1999).
Dados do IBGE (2005) mostram que 69% dos idosos brasileiros relatam ter pelo menos uma
doença crônica. As doenças relatadas com mais frequência são hipertensão, artrites, doenças do
coração e diabetes. Tal realidade tem implicações sérias no que se refere ao complexo de
3
problemas de saúde do país, pois a redução da mortalidade, sem melhoria da qualidade de vida,
acaba por incrementar a morbidade.
As doenças ligadas ao processo do envelhecimento levam ao alarmante aumento dos custos
assistenciais de saúde, além de importante repercussão social negativa, com grande impacto na
economia dos países. A maioria das evidências mostra que o melhor modo de otimizar e
promover a saúde no idoso é prevenir seus problemas médicos mais frequentes (NÓBREGA,
1999). O envelhecimento populacional constitui, portanto, um desafio para a saúde pública
atual, pois esta terá que cuidar de uma grande população idosa, com uma alta prevalência de
doenças crônicas.
A velhice não é doença. É uma etapa da vida com características e valores próprios, em que
ocorrem modificações no indivíduo, tanto na estrutura orgânica, como no metabolismo, no
equilíbrio bioquímico, na imunidade, na nutrição, nos mecanismos funcionais e nas
características intelectuais e emocionais (FERRARI, 1975). A saúde no velho consiste em
fatores relacionados à ausência de doenças e à manutenção de ótima função (MAYO, 2000). E
nesse propósito pode-se dizer que atualmente uma das grandes metas é se viver mais anos com
uma melhor capacidade funcional.
O estudo baseou-se na necessidade de se conhecer as características da população idosa do
estado do Amazonas, mostrando-se essencial no sentido de possibilitar o estabelecimento de
estratégias de atenção básica, no intuito de corroborar com a geração de informações para o
planejamento das políticas públicas de saúde e regionalização do atendimento ao idoso. Dessa
forma, a população amostral da pesquisa compreende 287 indivíduos com idade a partir dos 60
anos, integrantes de dezenove grupos ou associações de idosos escolhidos aleatoriamente, dos
quarenta e cinco que foram contemplados pelo Projeto Vidativa em 2012.
2. Objetivos
2.1. Objetivo Geral
O propósito deste estudo foi coletar informações sobre as condições físicas e patológicas dos
indivíduos que participaram do Projeto Vidativa em 2012, residentes no estado do Amazonas, e
avaliar diferenças intrínsecas ao gênero e faixas etárias, relacionando-as ao estado de saúde ─
incidência de doenças crônicas ─ tabagismo, obesidade, atividade física e atividade sexual.
2.2. Objetivos Específicos
Promover um maior diálogo entre a incidência e fatores de risco de patologias crônicas e
comorbidades que fazem parte do processo de envelhecimento, a fim de fortalecer um trabalho
interdisciplinar multiprofissional.
4
3. Metodologia
3.1. Material e Método
Trata-se de um estudo epidemiológico, transversal, quantitativo, envolvendo indivíduos com
faixa etária igual ou superior a 60 anos, residentes do Amazonas, atendidos no ano 2012 pelo
Projeto Vidativa. A pesquisa utilizou-se de dados oriundos do referido projeto, que tendo sido
implantado em 2006, foi fruto de uma parceira entre a SEJEL/AM (Secretaria de Estado da
Juventude, Desporto e Lazer/Amazonas) e o Conselho Estadual do Idoso (CEI). O
Vidativa promove ações que atendem às necessidades de pessoas maiores de 45 anos. Atua
levando in loco, através de acompanhamento e orientação da equipe multiprofissional ─
assistente social, bailarina, educador físico, fisioterapeuta e psicólogo ─ um atendimento
biopsicossocial a 47 grupos ou associações de idosos (dados de 2013), localizados nas seis
zonas da cidade de Manaus e seis municípios do Estado: Rio Preto da Eva, Presidente
Figueiredo, Manacapuru, Novo Airão, Iranduba e Cacau Pirêra. Cerca de 5.000 idosos (capital
e interior) são contemplados atualmente pelo projeto, proporcionando a inclusão social através
de atividades esportivas, sociais, artísticas, culturais, sócio-educacionais, preventivas,
corretivas (reabilitação), de entretenimento e de lazer para pessoas idosas, respeitando sua
peculiar condição, a fim de possibilitar que os mesmos possam redescobrir suas
potencialidades, independências, autonomia, assegurando desta forma a implementação de uma
política pública, no favorecimento e melhoria da qualidade de vida (Portal do Governo do
Amazonas, 2013).
Essa pesquisa foi autorizada pela Coordenação do Projeto Vidativa, na pessoa da Sra. Lilian
Albuquerque, estando a mesma ciente da divulgação e/ou publicação dos resultados
encontrados.
3.2. Delimitação do Estudo
Os dados foram coletados no período que compreende de Janeiro a dezembro de 2012, através
de entrevista, utilizado um questionário de cadastro social, aplicado pelos assistentes sociais
que atuam no Projeto Vidativa, contendo informações descritivas sobre: características físicas,
demográficas, sociais, religiosas, econômicas, do grupo familiar, da situação habitacional e
ocupacional, das condições crônicas e agudas de saúde, do uso de medicamentos, da atividade
física e atividade sexual. Sendo de interesse desta pesquisa somente os dados relacionados às
características físicas, condições de saúde, atividade física e sexual.
3.3. População
A população amostral desta pesquisa é composta de 287 indivíduos, de ambos os sexos, sem
distinção étnica, religiosa, de nacionalidade, padrão socioeconômico ou qualquer outra
condição. Estes participantes estavam ativos, no ano de 2012, em dezenove grupos atendidos
pelo projeto Vidativa, escolhidos aleatoriamente. Dos grupos escolhidos, dois deles estão
situados em municípios circunvizinhos a Manaus, Cacau Pirêra e Rio Preto da Eva.
Enquadram-se nos fatores de exclusão os participantes dos grupos com idade inferior a 60 anos,
5
aqueles cujo questionário de cadastro social encontrava-se incompleto (que não continha as
informações pertinentes ao estudo) e os não assíduos ao projeto.
Para classificação do estado nutricional dos idosos foi utilizado o Índice de Massa Corporal –
IMC, uma media de referência internacional reconhecida pela OMS (Organização Mundial da
Saúde), que consiste na divisão do peso corporal, em quilogramas (kg), pela altura, em metros
quadrados. Portanto, a fórmula de cálculo do IMC = massa / (altura x altura).
3.4. Análise Estatística
Os dados foram analisados estatisticamente, utilizando o software R 3.0.1 com o pacote {stats}
(R Development Core Team: http://www.R-project.com). Utilizou-se o teste não paramétrico
de Qui-Quadrado com correção de Yates (ou de continuidade) e quando o mesmo não foi
possível aplicou-se o teste exato de Fisher para dados de contagem considerando-se um nível de
confiança de 5%. As amostras que não responderam os questionários foram retirados para a
realização do teste.
4. Resultados e Discussão
Verificou-se que no período de janeiro a dezembro de 2012, foram entrevistados 422 pessoas
pertencentes a 19 grupos, que estão inseridos no Projeto Vidativa, sendo 17 da região
metropolitana de Manaus e 2 de municípios circunvizinhos: Manacapuru e Rio Preto da Eva.
Foram incluídos na pesquisa 287 indivíduos que apresentaram o perfil estipulado para esse
estudo, os quais, dessa amostra, se autoidentificaram na seguinte proporção: cor parda
(39,02%), cor branca (37,63%) e cor negra (8,71%). Os participantes estavam divididos em
15,68% do sexo masculino e 84,32% do sexo feminino (gráfico e tabela 1), valor este, mais
elevado que o encontrado no Censo 2000, de 59,5% de mulheres. Esse dado chama a atenção
para a feminilização da velhice, e segundo Veras (1994), essas diferenças nos gêneros,
constituem uma tendência internacional que vai se acentuando com o passar dos anos.
Gráfico 1. Amostra por distinção de gênero.
A idade dos idosos variou entre 60 e 89 anos, com média de 68,87 (gráfico 2 – quadro
demonstrativo), valor semelhante ao estudo encontrado no projeto SABE (Saúde, bem-estar e
envelhecimento), realizado no município de São Paulo (LEBRÃO et al., 2003). Em 1989,
quando Ramos et al. (1993) realizaram inquérito domiciliar entre idosos em algumas regiões do
Município de São Paulo, essa média era de 69 anos. Foi observado que 32% da amostra,
encontravam-se com idade entre 60 e 64 anos, seguida por 28% entre 85 e 89 anos (gráfico 2).
Sexo Quant. %
F 242 84,32
M 45 15,68
Total 287 100,00
84%
16%
FEM.
MASC.
Tabela 1. Amostra por distinção de gênero e quantidade.
6
Foi analisada a incidência nas seguintes patologias crônicas: hipertenção arterial, reumatismo,
diabetes, doenças cardiológicas e incontinência urinária.
Entre essas cinco patologias observadas, foi feita uma distribuição, apontando as proporções de
gênero para cada uma delas, conforme o gráfico 4.
Média = 68,8711
Mediana = 68
Desvio Padrão = 6,43424
Gráfico 2. Amostra dividida por faixa etária.
Gráfico 3. Incidência das patologias crônicas analisadas na amostra.
Gráfico 4. Incidência das patologias crônicas distinguidas por gênero.
32%
28%
19%
14%
5% 2%
60--64
65--69
70--74
75--79
80--84
85--89
7
A hipertensão arterial foi observada como a patologia crônica mais frequente, 52,6%, conforme
o gráfico 3. Em pesquisa similar, Alves et al. (2007) encontrou o percentual de 53,4% de idosos
portadores de hipertensão arterial. Considera a autora, que essa patologia concentra os maiores
índices em sua pesquisa, realizada no município de São Paulo, de janeiro de 2000 a março de
2001. Muito semelhante foi o resultado da pesquisa nacional por amostragem apresentada pelo
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2008, onde 53,3% dos entrevistados
com 60 anos ou mais, revelaram sofrer com essa doença crônica. Neste quesito o índice de
portadores de hipertensão arterial encontra-se no mesmo patamar que o do restante do país, não
se encontrando disparidades regionais. Vários estudos longitudinais e transversais confirmam
que, mesmo nos idosos, a hipertensão sistólica, por si ou combinada com a pressão diastólica
elevada, continua sendo um importante fator preditivo da mortalidade e morbidade
cardiovasculares. Nos idosos, a incidência de doenças cardiovasculares se relaciona mais
estreitamente com a pressão sistólica do que com a diastólica e não há dúvidas de que a pressão
arterial elevada é o fator de risco mais importante para os acidentes vasculares cerebrais,
isquêmicos ou hemorrágicos (LEBRÃO, 2003).
De acordo com a tabela 2, a incidência de hipertensão nos idosos foi distribuída conforme a
faixa etária. Obteve-se 53 casos (55,20%) na faixa etária de 70 a 79 anos, seguida por 10 casos
(52,63%) nas idades entre 80 e 89 anos e 88 ocorrências (51,16%) no grupo de 60 a 69 anos.
Assim, apesar da pouca diferença percentual, observa-se que a os entrevistados entre 70 e 79
anos tem maior proporção de casos de hipertensão.
Em relação ao reumatismo, há que se considerar que essa palavra serve para designar inúmeras
enfermidades como artrite, artrose, osteoartrose que afetam cartilagens e articulações e
provocam dor, deformação e limitação de movimentos. Segundo o IBGE (2008), dos
entrevistados em pesquisa Nacional, 24,2% alegaram sofrer de artrite ou reumatismo. E Alves
et al (2007) em seu trabalho, no município de São Paulo, encontrou 33,8% de pessoas com
Artropatia − Uma doença que designa a destruição progressiva do osso e dos tecidos moles das
articulações. Tendo por base a pesquisa do IBGE, o índice de 39% encontrado em nossa
pesquisa está acima da média nacional. É difícil identificar, em morbidade referida na
entrevista, tratar-se de artrite, artrose ou algum outro tipo específico de reumatismo. Infere-se
sua existência por meio de queixas como dores articulares, limitação de atividades ou,
particularmente neste inquérito, pelo fato de não ter sido um profissional de saúde a fazer a
entrevista. Em nosso meio, o leigo geralmente refere como tendo “reumatismo” ou, algumas
vezes, “artrite”. A limitação de atividades é bastante frequente no idoso e o conjunto
Faixa
Etária
Hipertensão
Total SIM Não
60--69 88 84 172
70--79 53 43 96
80--89 10 9 19
TOTAL 151 136 287
Tabela 2. Incidência de hipertensão por faixa etária (quantidade absoluta).
8
“artrite/reumatismo/artrose” é um dos principais responsáveis por esse quadro
(LEBRÃO, 2003).
Outro dos indicadores de morbidade bastante utilizados em geriatria é a prevalência de diabetes
mellitus. Neste estudo, essa condição foi referida em 16,4% da amostra, demonstrada no
gráfico 3, majoritariamente no sexo feminino, 15% (gráfico 4). Esse percentual mostrou-se
equivalente ─ se for considerada uma margem de 1,5% para mais ou para menos ─ aos
resultados obtidos por Alves (2007) e IBGE (2008) de 17,5%; e 17,9% em
Lebrão et. al., (2003).
O índice de 14% de idosos que possuem doenças cardíacas é menor, se comparado aos 17,3%
registrado pelo IBGE (2008), aos 20,6% encontrado por Alves et al., (2007) e aos 24% do
estudo do SILVA et al 2007 em Araraquara/SP.
Entre os entrevistados, 11% tem incontinência urinária (IU), (gráfico 3), em concordância com
outros estudos que revelam que a prevalência dessa patologia no idoso varia de 8% a 34%
(HERZOG et al., 1990 e HOLST et al., 1988). A IU é definida como a condição na qual há a
perda involuntária de urina, sendo considerada um problema social ou higiênico que afeta
principalmente as mulheres (8,4%) e, em menor proporção (2,8%), os homens (gráfico 4). Essa
patologia é, por muitas vezes, erroneamente interpretada como parte natural do
envelhecimento. Alterações que comprometem o convívio social como o sentir-se
envergonhado, a depressão e o isolamento, frequentemente fazem parte do quadro clínico,
causando grande transtorno aos pacientes e familiares (WYMAN et al., 1990).
No presente estudo, 9% dos idosos relataram tabagismo habitual. Esses resultados foram
inferiores aos encontrados em outros estudos com idosos realizados no estado de São Paulo
(NICOLAU et al., 1998; RASKIN, 2000). O hábito de fumar não apresentou associação
significativa com o gênero, estando 9% em mulheres e 6% nos homens, ao contrario do Projeto
Bambuí-SP, que encontrou a prevalência de tabagismo entre idosos do sexo masculino cerca de
três vezes superior a população feminina (PEIXOTO et al., 2005).
Os dados obtidos revelaram um percentual de 24,04% de idosos com peso normal (adequado),
24,39% sobrepeso e 14,63% com obesidade (tipo I, II e III). O oposto do estudo de SILVA et
al., 2007, que encontrou uma frequência mais elevada de obesidade (52,0%), estando de acordo
com os dados mais recentes de pesquisas populacionais (Monteiro et al., 2002; Silva et al.,
2003). Credita-se a discrepância entre este estudo e os demais, ao estilo de vida da amostra
amazonense, pois 94,77% dos idosos entrevistados praticam atividade física regular no Projeto
Vidativa no qual se inserem. Nos resultados locais, não houve diferença estatística entre os
gêneros, com relação ao índice de massa corpórea. O oposto foi observado em um estudo sobre
o perfil antropométrico da população idosa, na região sudeste brasileira, o qual apresentou
30,2% de sobrepeso nos homens e de 35,8% nas mulheres (Tavares & Anjos, 1999), mesma
proporção encontrada no estudo de Teichmann et al., (2006).
Quanto ao número de patologias crônicas encontradas na amostra em relação ao índice de
massa corpórea (IMC), se pode constatar, segundo a tabela 3, que nos idosos que apresentaram
peso normal, 41% têm apenas uma patologia e dos que estão em sobrepeso, o maior índice
(31%) está sobre aqueles que têm duas patologias. É interessante observar que na amostra
inserida na faixa da obesidade, há a incidência, mesmo que pequena (2%), de idosos com cinco
patologias, fato não ocorrente nas outras faixas de IMC. Observou-se também que o percentual
de idosos sem qualquer patologia leu-se muito menor (apenas 19%) naqueles compreendidos na
9
faixa de obesidade e que na coluna de quatro patologias, o índice de 7% lido na secção de
obesidade é relevantemente maior do que os demais.
Massa Corpórea (IMC)
Quantidade de Patologias*
TOTAL 0 1 2 3 4 5
Peso normal (24,04%) 29% 41% 17% 9% 4% 0% 100%
Sobrepeso (24,39%) 29% 29% 31% 10% 1% 0% 100%
Obesidade graus I, II e III (14,63%) 19% 38% 24% 10% 7% 2% 100%
A sexualidade, como afirma Perez (1994), é um elemento presente e importante na boa
qualidade de vida dos idosos e muitos estudos mostram que não há uma idade específica para
que ela termine, pois aí pesam fatores como as alterações fisiológicas do envelhecimento e os
aspectos psicossociais e culturais que influenciam, em especial as mulheres idosas, na sua
maioria religiosas e/ou de educação rígida. A prática de atividade sexual, neste estudo, foi
referida por 27% dos entrevistados, sendo 9% do sexo masculino e 22% do feminino, conforme
o gráfico 5. O contrário foi obtido no estudo realizado em 1998, na Universidade Aberta da
Terceira Idade – UnATI/UERJ (ASSIS et al., 2004), onde o número de respostas afirmativas
entre os homens foi de 70%, bem superior ao das mulheres, 18%. Dada a amostra total, 69%
(somando-se homens e mulheres) não possuem atividade sexual ativa. O mesmo resultado foi
encontrado no estudo Assis et al., (2004) onde a grande maioria, 75% dos idosos, respondeu
que não possui atividade sexual ativa.
Tabela 3. Índice de Massa Corpórea x Patologias Crônicas.
* 0 = nenhuma patologia; 1 = uma patologia; 2 = duas patologias; 3 = três patologias; 4 = quatro patologias;
5 = cinco patologias.
Gráfico 5. Prática de atividade sexual por gênero.
10
5. Conclusão
A maior parte dos resultados obtidos na presente pesquisa não apresentaram diferenças
significativas, se comparados aos demais estudos realizados em outras regiões do país. Por
exemplo, taxas como a média de idade na população idosa, a predominância de mulheres nas
amostras de pesquisa, a hipertensão como patologia mais relatada, obtiveram proporções
equivalentes em todos os estudos, fazendo com que a amostra de nossa pesquisa esteja em
conformidade com as demais regiões do Brasil.
Os fatores de diferente averiguação entre os estudos foram obtidos com relação ao índice de
massa corpórea que, contrapondo os resultados de outras regiões pesquisadas, onde a população
é predominantemente obesa, em nossa amostra se encontrou em maior proporção, os indivíduos
que apresentaram IMC normal e sobrepeso. Os idosos da amostra local frequentam grupos ou
associações onde recebem atendimento multidisciplinar especializado, através do Projeto
Vidativa (SEJEL-AM), sendo acompanhados e orientados com avaliações físicas e palestras,
além de praticarem atividades físicas em grupo, tais como ginástica, dança, alongamentos,
pilates e esportes. Esse trabalho, associado ao acompanhamento psicológico e assistencial
prestados por profissionais devidamente habilitados, resulta em uma população mais ativa,
mais participativa sócio-psicologicamente, o que se reflete também em índices referente à
condição de saúde física, como o IMC. A obesidade é um fator de risco à saúde muito
preponderante para a população em geral, especialmente para os indivíduos acima dos 60 anos
de idade. Foi observado os indivíduos que se inserem na faixa de IMC referente à obesidade
(graus I, II e III) foram os únicos que apresentaram 5 patologias crônicas; já naqueles que têm
peso adequado, a incidência mais elevada foi de apenas 1 patologia. Assim, pôde-se averiguar
que quanto maior o IMC, mais chances de se adquirir patologias crônicas.
Ainda neste estudo, o índice de idosos tabagistas apresentou menor valor em relação aos demais
estudos de outras localidades. Não foi observada, na amostra amazonense, relação significativa
de tabagismo no que concerne ao gênero, enquanto que no sudeste do país, essa proporção é três
vezes maior entre os homens.
Observou-se também um elevado índice de idosos que não possuem atividade sexual ativa, vale
ressaltar que o presente estudo não avaliou o estado civil dos entrevistados, não podendo
concluir ou inferir nenhuma relação a esse respeito. Outras pesquisas, no entanto, apontam que
esse resultado se deve ao fato de que a maioria dos idosos declaram-se viúvos ou solteiros.
Aliado a isso, há que se considerar que a maioria da população masculina de idosos prefere
casar com mulheres mais jovens, fazendo com que a população feminina, acima dos 60 anos,
fique sem uma gama elevada de escolhas de parceiros sexuais, situação agravada pelo fato delas
estarem em maior número que os idosos homens. Porém, ao revés dessa estatística, na amostra
estudada no Amazonas, verificou-se que o quantitativo feminino tem a atividade sexual mais
elevada que o masculino, situação contrária à encontrada na maioria dos estudos, onde a
atividade sexual masculina é mais presente.
Estudos como este são primordiais para que se desenvolvam políticas públicas de saúde
voltadas para a população idosa. Seria extremamente proveitoso que cada região brasileira
fizesse um apanhado das características e do perfil de seus idosos para que se possa planejar
ações regionalizadas de assistência a essa população crescente. Mesmo com os dados até aqui
obtidos, para que se possa ter um panorama mais detalhado sobre a situação do idoso na região,
11
faz se necessário um estudo mais abrangente, com uma amostra maior e nos demais municípios
do Estado do Amazonas.
6. Agradecimentos
Ao Guilherme Peña Cespedes, pela colaboração na análise estatística dos resultados. À
Coordenação e equipe de profissionais Assistentes Sociais do Projeto Vidativa; e aos
voluntários que aceitaram participar da pesquisa.
7. Referências
1. AITKEN P. Advance care planning in primary care. Am Fam Physician, 1999.
2. ALVES L. C., et al. A influência das doenças crônicas na capacidade funcional dos
idosos do Município de São Paulo,Brasil. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 2007.
3. ASSIS M. Promoção da Saúde e Envelhecimento: avaliação de uma experiência no
ambulatório do Núcleo de Atenção ao Idoso da UnATI / UERJ. FIOCRUZ / Escola
Nacional de Saúde Pública .Tese de doutorado, 2004.
4. CHAIMOWICZ F. Os idosos brasileiros no século XXI. Belo Horizonte: Postgraduate;
1998.
5. FARINATI P. T. V. Avaliação da autonomia do idoso: definição de critérios para uma
abordagem positiva a partir de um modelo de interação saúde-autonomia. Arq Geriatr
Gerontol, 1997.
6. FERRARI M. A. C. Geriatria – Aspectos educacionais e de terapia ocupacional (Tese).
São Paulo: Faculdade de Saúde Pública – Universidade de São Paulo, 1975.
7. Fundação Calouste Gulbenkian. Guia Global das Cidades Amigas das Pessoas Idosas.
Lisboa, 2009.
8. GUS I. Expectativa de vida do idoso e fatores de risco coronariano. Rev Soc.
Cardiologica , Porto Alegre, 1999.
9. HALL W.J. Update in geriatrics. Ann Intern Med, 1997.
10. HERZOG A. R., FULTZ N. H. Prevalence and incidence in community-dwelling
populations. J Am Geriatric Soc 1990.
11. HOLST K, WILSON P. D. The prevalence of female urinary incontinence and reasons
for not seeking treatment. N Z Med J, 1988.
12. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Perfil dos idosos responsáveis
pelo domicílio. Censo 2000.
12
13. IBGE F. Acesso e utilização dos serviços de saúde. In: Pesquisa Nacional por Amostras
de Domicílio, 2005.
14. Indicadores Sociodemográficos: Prospectivos para o Brasil 1991-2030. Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 2006 Disponível em:
http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/indic_sociosaude/2009/com_sobre
15. KALACHE A., Veras R. P., Ramos L. R. O envelhecimento da população mundial. Um
desafio novo. Rev Saúde Pública 1987.
16. LEBRÃO M. L., et al. O Projeto SABE no Município de São Paulo: uma abordagem
inicial. Brasília: OPAS/MS; 2003.
17. MAYO. Clinics Rochester. Geriatric Medicine, Community Internal Medicine Division
- Preventive Medicine, 2000. Dados obtidos via internet. Disponível em:
http://www.mayo.edu/mcr/.
18. MILLER K. E., ZYLSTRA R. G., STANDRIDGE J. B. The geriatric patient: A
systematic approach to maintaning health. In: American Academy of Family Physicians
2001. Dados obtidos via Intenet. Disponível em: http://www.aafp.org/afp.
19. MONTEIRO C.A., CONDE W.L., POPKIN B.M. Is obesity replacingor adding to
under-nutrition? Evidence from different social classes in Brazil. Public Health. Nutr,
2002.
20. NÓBREGA et al. Posicionamento oficial da sociedade brasileira de medicina do
esporte e da sociedade brasileira de geriatria e gerontologia: atividade física e saúde
no idoso. Rev Bras Med Esporte vol.5 no.6 Niterói Nov./Dec. 1999. Disponível em:
http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1517-86921999000600002&script=sci_arttext
21. NICOLAU J. C., NOGUEIRA C., MAIA L. N., RAMORES J. A. F Evolução dos níveis
de colesterol na População adulta de São José do Rio Preto (1991-1997). Arq Bras
Cardiol 1998; 71:699-704.
22. Organização Mundial de Saúde (OMS), Guia Global: Cidade Amiga do Idoso., 2008.
23. Organização Mundial de Saúde (OMS). Metabolic syndrome in patients with
hypertension attending a family practice clinic in Jordan. Novembro, 2011. Disponível
em http://www.emro.who.int/publications/emhj/1604/article5.htm
24. Portal do Governo do Amazonas. Projeto Vidativa, do Governo do Estado, leva
cidadania à zona norte de Manaus. Matéria de 24 de maio de 2013. Disponível em:
http://www.amazonas.am.gov.br/2013/05/projeto-vidativa-do-governo-do-estado-leva-
cidadania-a-zona-norte-de-manaus.
13
25. PEIXOTO S.V., FIRMO J.O.A., LIMA-COSTA M.F. Factors associated to smoking
habit among older adults (The Bambuí Healthand Aging Study). Rev Saúde Pública
2005.
26. PEREZ E. A. - Sexualidad en los ancianos. In: Pérez, E. A et al (Org) La atención de
los ancianos: um desafio para los años noventa. Washington : OPS, 1994.
27. RAMOS L. R., ROSA T. E. C., OLIVEIRA Z. M., MEDINA M. C. G., SANTOS
F.R.G. Perfil do idoso em área metropolitana na região sudeste do Brasil: resultados
de inquérito domiciliar. Rev Saúde Pública 1993.
28. RASKIN D. B. F. Menopausa, obesidade, Gordura corporal e Fatores de risco
parágrafo Doenças cardiovasculares [Dissertação]. Campinas: Faculdade de Educação
Física, Universidade Estadual de Campinas, 2000.
29. SILVA R.C.P. Fatores de risco para doenças cardiovasculares em idosos com diabetes
mellitus tipo 2. Rev.Ciênc.Farm.Básica Apl.,v.28,n.1,p.113-121, 2007.
30. SILVA R. C. P., TELAROLLI J. R. R., CESAR T.B. Sobrepeso e obesidade em idosos
de Araraquara, SP. Alim Nutr 2003.
31. TAVARES E. L., ANJOS L. A. Perfil antropométrico da população idosa brasileira.
Resultados da Pesquisa Nacional sobre a Saúde e Nutrição. Cad Saúde Pública 1999.
32. TEICHMANN L., OLINTO M. T. A., COSTA J. S. D. , ZIEGLER D. Fatores de risco
associados ao sobrepeso e a obesidade em mulheres de São Leopoldo, RS. Rev Bras
Epidemiológica, 2006.
33. VERAS R.P. País jovem de cabelos brancos: a saúde do idoso no Brasil. Rio de Janeiro:
Relume Dumará/ UERJ; 1994.
34. WYMAN J. F., HARKINS S. W., FANTL J. A. Psychosocial impact of urinary
incontinence in the community dwelling population. J Am Geriatric Soc, 1990.
35. YANG Y., GEORGE L. K. Functional disability, disability transitions, and depressive
symptoms in late life. J Aging Health, 2005.