PETER-PAN

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PETER PAN CENA 1 _ CASA DE WENDY Peter entra em cena com sininho, eles correm pelo quarto das crianças, ouvem passos e fogem pela janela, mas a sombra de Peter fica presa. Sra. Darling entra em cena, pega a sombra e a guarda num baú. Wendy, João e Miguel entram em cena. João: Wendy, Wendy! Vamos brincar! Você é a mamãe e eu sou o papai! Miguel: E eu? João: Ninguém! Miguel fica emburrado, senta ao lado da mãe e fica olhando; João e Wendy começam a dançar. João: Senhora Darling, tenho o prazer de lhe informar que você terá uma filha! (Wendy rodopia de alegria fingindo segurar uma criança nos braços). Senhora Darling, você terá um filho! (Wendy rodopia alegremente de novo). Miguel: E eu? Eu quero nascer também. João: Acho que não queremos mais nenhum filho! Miguel: Ninguém me quer! Sra. Darling: Eu quero. Eu quero muito um terceiro filho. João: Então tudo bem. Miguel: Wendy! Conta uma história pra gente, conta! Aquela da Cinderela, ela foi pro baile, mas o que aconteceu depois? Wendy: Cinderela saiu voando, fugindo de tudo o que é feio e cruel, mas, chegando ao baile, se viu rodeada por piratas! Quanta insolência! João: Mocinha! Disse Gancho. Eu quero esses sapatinhos de cristal. Wendy: Quem você pensa que é pra me chamar de mocinha? Cinderela e Gancho lutam bravamente, ele ataca, mas Cinderela

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PETER PAN

CENA 1 _ CASA DE WENDY

Peter entra em cena com sininho, eles correm pelo quarto das crianças, ouvem passos e fogem pela janela, mas a sombra de Peter fica presa. Sra. Darling entra em cena, pega a sombra e a guarda num baú. Wendy, João e Miguel entram em cena.

João: Wendy, Wendy! Vamos brincar! Você é a mamãe e eu sou o papai!

Miguel: E eu?

João: Ninguém!

Miguel fica emburrado, senta ao lado da mãe e fica olhando; João e Wendy começam a dançar.

João: Senhora Darling, tenho o prazer de lhe informar que você terá uma filha! (Wendy rodopia de alegria fingindo segurar uma criança nos braços). Senhora Darling, você terá um filho! (Wendy rodopia alegremente de novo).

Miguel: E eu? Eu quero nascer também.

João: Acho que não queremos mais nenhum filho!

Miguel: Ninguém me quer!

Sra. Darling: Eu quero. Eu quero muito um terceiro filho.

João: Então tudo bem.

Miguel: Wendy! Conta uma história pra gente, conta! Aquela da Cinderela, ela foi pro baile, mas o que aconteceu depois?

Wendy: Cinderela saiu voando, fugindo de tudo o que é feio e cruel, mas, chegando ao baile, se viu rodeada por piratas! Quanta insolência!

João: Mocinha! Disse Gancho. Eu quero esses sapatinhos de cristal.

Wendy: Quem você pensa que é pra me chamar de mocinha? Cinderela e Gancho lutam bravamente, ele ataca, mas Cinderela desvia e acerta Gancho em cheio! Ela resgata o príncipe e todos vivem felizes para sempre!

Eles simulam uma luta de espadas enquanto Wendy narra, Peter se diverte observando pela janela. Sr. Darling entra correndo e irritado.

Sr. Darling: Que bagunça é essa? De onde vieram todas essas folhas?

Miguel: Deve ter sido o Peter! Muita falta de educação ele não ter limpado o chão!

Sra. Darling: Quem é esse tal Peter?

João: Você sabe, mamãe! Peter Pan, o das histórias!

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Sra. Darling: Sim, eu me lembro dele, mas como ele ia conseguir entrar aqui, no terceiro andar? De qualquer forma ele já deve ter crescido.

Wendy: Não cresceu não, mamãe, ele é do meu tamanho!

Sr. Darling: Pode escrever o que eu digo, deve ser uma dessas bobagens que a Naná pôs na cabeça dessas crianças. É o tipo de idéia que só um cachorro teria mesmo! Onde já se viu isso? Um cachorro como babá! O que os vizinhos vão pensar? Estou te falando, querida, ela trata nossos filhos como se fossem cachorrinhos!

Ele tenta amarrar a gravata e não consegue, fica irritado e a joga no chão.

Miguel: Qual é o problema, papai?

Sr. Darling: Essa gravata! O não quer ser amarrada de jeito nenhum! Pelo menos não no meu pescoço! No pé da cama sim, já amarrei centenas de vezes, mas no meu pescoço não, ela não dá nó! (Se dirigindo à esposa) Estou falando, se essa gravata não ficar no meu pescoço, nós não saímos pro jantar, e se eu não for no jantar não preciso mais nem pisar no escritório, e se eu não for para o escritório não teremos o que comer e nossos filhos acabarão jogados na rua!

Sra. Darling: Deixa eu tentar, meu bem. (Ela amarra a gravata)

Sr. Darling: Já para a cama meninos! Está tarde! E você, Wendy! Já está na hora de parar com essas brincadeiras de criança, essa coisa de piratas, isso lá é coisa de menina? Como você espera se casar assim?

Todos: Casar?

Sra. Darling: Mas, querido, a Wendy nem tem treze anos, é quase uma criança. Deixe ela brincar.

Sr. Darling: Não quero saber! Já está na hora de você crescer, Wendy. Melhor tratar de passar menos tempo com seus irmãos. Onde já se viu, uma menina que se preze, brincando de piratas! Agora vamos, querida! Esse jantar é importante, uma promoção depende dele, e a filha de um gerente casa bem mais fácil que a filha de um caixa!

O pai sai de cena, Wendy está junto aos irmãos chorando. A mãe põe as crianças na cama e deixa uma vela acesa na mesinha e senta-se na cama ao lado de Wendy.

Sra. Darling: Ah, como queria não ir nessa festa! Mas não tem como. Seu pai pode ser um homem corajoso, mas precisa de um beijo especial para enfrentar os colegas às vezes. Que olhares são esses? Seu pai é sim, um homem muito corajoso. Ele nunca segurou uma espada, ou lutou contra piratas, ainda bem! Mas há vários tipos de coragem, como a de abrir mão dos próprios sonhos pela família. Seu pai tem muitos sonhos, mas os guardou bem fundo numa gaveta. Às vezes, de noite, vejo seu pai abrir a gaveta, admirar esses sonhos, e cada vez fica mais difícil fechar ela, mas ele sempre fecha. Por isso ele é corajoso.

Miguel: Mamãe, alguma coisa pode acontecer com a gente enquanto a vela estiver acesa?

Sra. Darling: Não, meu filho, essa vela são os olhos que a mamãe deixa pra olhar os filhos enquanto ela não está em casa. Vai ficar tudo bem, agora durmam.

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Sra. Darling sai de cena. As crianças dormem, Sininho entra pela janela e corre por todo o quarto, procurando pela sombra. Ela apaga a vela. Peter entra logo depois.

Peter: Sininho? Si? Onde está você? Já descobriu onde colocaram minha sombra?

Sininho corre e aponta para o baú. Peter o abre e pega a sombra mas, sem querer, fecha sininho dentro dele. Ele se senta no chão, pega um sabão e tenta colar a sombra,sem sucesso. Começa então a chorar. Wendy acorda e se senta na cama.

Wendy: Por que você está chorando, menino?

Peter se levanta e faz uma mesura. Wendy se curva ainda sentada na cama.

Peter: Peter Pan.

Wendy: Wendy Moira Ângela Darling. Onde você mora?

Peter: Segunda à direita e depois siga em frente até o amanhecer! (Diz apontando pela janela)

Wendy: É assim que escrevem nas cartas?

Peter: Eu não recebo cartas.

Wendy: Mas sua mãe deve receber, não?

Peter: Eu não tenho mãe!

Wendy: Coitadinho! É por isso que estava chorando?

Peter: Eu não estava chorando por causa de mães! Estava chorando porque não consigo colar minha sombra. E eu não estava chorando!

Wendy: Deixa eu ver. Mas você estava tentando colar com sabão? Espera, vou costurar pra você, mas estou avisando, isso pode doer um pouco.

Pega as linha e costura a sombra de volta em Peter. Ele se levanta feliz admirando sua sombra.

Peter: Que esperteza a minha!

Wendy: Claro, eu não fiz nada! (se deita. Peter vai até a cama dela)

Peter: Wendy, uma menina vale mais que vinte meninos. (Wendy se senta e ouve a Peter) Sabe, quando eu nasci, ouvi meus pais conversando sobre o que eu seria quando crescesse, e eu não queria crescer! Então fugi, e fui levado pra Terra do Nunca, as fadas me criaram.

Wendy: Fadas? Mas elas não... (Peter tampa a boca de Wendy)

Peter: Não fale isso. Sempre que alguém diz isso, uma fada cai mortinha em algum lugar. Falando nisso, onde está Sininho? Sino!

Wendy: Não vai me dizer que tem uma fada aqui no quarto!

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Peter: Sim, mas não sei onde ela se meteu. Sabe, quando uma criança ri pela primeira vez uma fada nasce. Lá onde vivo é cheio delas. Você ia adorar conhecer lá, e a todos os meninos perdidos. São crianças que caem dos carrinhos quando a babá não está olhando. Se ninguém procura por eles em uma semana, eles vão pra lá. Mas não tem nenhuma menina por lá, meninas são muito espertas pra caírem de seus carrinhos.

Wendy: É lisonjeiro o modo como fala das meninas. Sabe, Peter, eu queria tanto te dar um beijo... (ele estende a mão) Você não sabe o que é um beijo?

Peter: Vou saber quando você me der.

Wendy pega um dedal e dá a Peter.

Peter: Agora devo te dar um beijo também? (Wendy faz que sim com a cabeça e se inclina em direção a Peter. Ele pega um botão de flor e dá a ela. Wendy pega e o prende com uma linha fazendo um colar)

Wendy: Peter, eu queria tanto te dar um... Dedal.

Wendy se inclina para dar um beijo em Peter, ele faz o mesmo. Nesse momento Sininho sai do baú, corre até Wendy e puxa o cabelo dela, a afastando de Peter.

Peter: Aí está você, Sino. (dirigindo-se a Wendy enquanto Sininho faz gestos irritada) Ela não é muito educada, disse que próxima vez que tentar me dar um dedal, ela te mata.

Peter e Sininho vão saindo pela janela.

Wendy: Onde você vai?

Peter: Tenho que ir, contar aos meninos perdidos o que aconteceu com a Cinderela. Por que você não vem também? Poderia contar histórias pra gente!

Wendy: Meus irmãos podem ir também? (Peter faz que sim com a cabeça, Wendy sacode os meninos, que estavam roncando) Venham! Peter está aqui! Ele vai nos levar para a Terra do Nunca!

Miguel: E como chegamos lá?

Peter: Voando, é claro!

João: Você desafia as leis da física.

Peter: Tenha pensamentos felizes, eles te levam pra cima!

Miguel: Índios, lama, nunca mais tomar banho! (Corre na cama e pula, logo cai no chão)

João: Piratas, espadas, Napoleão! (Corre e pula e, como Miguel, cai. Peter ri dos dois)

Peter: Um pouco de pó das fadas, ajuda vocês a voarem. Vamos.

Joga pó de fadas em cima deles e aponta a janela.

Miguel: Mas, e a mamãe? E o papai?

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Peter: Lá tem piratas! E índios, e sereias também!

Os meninos saltam até a janela. Peter sobe no parapeito da janela, sopra um pouco de pó em cima dela e estende a mão para ela.

Peter: Vamos, Wendy, para onde você nunca terá de se preocupar com os problemas dos adultos.

Wendy: Nunca... é um tempo muito grande.

Dá a mão a ele e sai pela janela. Peter sai logo depois e fecha a janela. Momentos depois Sr. e Sra. Darling entram no quarto.

Sra. Darling: Miguel! João! Wendy! (Procura nas camas e não os vê, começa a chorar)

Sr. Darling: Tarde demais. Eles se foram. O que fazemos agora? Acho que fui duro demais... São apenas crianças...

Sra. Darling: A janela! Temos que deixar a janela aberta, para eles poderem sempre voltar!

Eles abrem a janela e se abraçam. Saem de cena.

CENA 2 _ CHEGANDO NA ILHA

Peter, Wendy, Sininho, João e Miguel vão rumo à Terra do Nunca. Sininho corre à frente, quando volta cochicha algo para Peter.

Peter: Sininho está dizendo que os piratas nos viram, estão preparando o canhão.

João: Aquele canhão grande? E agora?

Miguel: João, cuidado!

Som de explosão. Todos caem, um para cada lado. Peter some de vista. Wendy olha assustada para os lados, Sininho dá a mão a ela e a puxa, saem de cena. Miguel e João aparecem, assustados.

João: Você está machucado, Miguel?

Miguel: Não, mas tem algo pior.

João: O que poderá ser pior que isso?

Miguel: Meus pensamentos não estão felizes!

Eles saem de cena também.

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CENA 3 _ENCONTROS E DESENCONTROS

Andam pelo palco, primeiro os meninos perdidos, chamando por Peter. Logo que saem de cena passam pelo mesmo caminho os piratas, dando risadas e brandindo espadas. Logo depois os índios, tocando tambores andando pelo caminho atrás dos piratas. Os meninos perdidos reaparecem, andam à procura de Peter.

Peninha: Onde está o Peter! Ele está demorando muito dessa vez!

Magrela: Ele tinha ido ouvir o resto da historia sobre a Cinderela. O que você acha que aconteceu?

Peninha: Não sei, mas espero que ela tenha matado todos os piratas!

Magrela: Agora estou curioso. Ele está demorando muito! Se bem que o Peter é assim, vai pra uma aventura e esquece o resto do mundo.

Peninha: É mesmo. Como naquela vez que ele e Sininho saíram voando pro mundo das fadas, ele só voltou um mês depois, contando um monte de aventuras, falando dos lugares que ele tinha ido, mas para ele é como se ele tivesse acabado de sair.

Magrela: Isso eu já percebi, Peter não tem muita noção de tempo não.

Peninha: Fora que não é bom de memória também. Não lembra nem se já comeu ou não! Odeio quando ele esquece que não comeu, daí ninguém pode comer também porque ele acha que todo mundo já comeu, fico com fome o dia inteiro!

Magrela: Olha só! Sininho vem aí! Oi Sininho!

Peninha: Onde está o Peter? Tem notícias sobre a Cinderela?

Sininho vai de um lugar a outro falando (som de sinos). Os meninos correm atrás dela. Wendy vai se aproximando ao longe, um pouco perdida.

Magrela: O que? Algo melhor que a história?

Peninha: Um grande pássaro Wendy? Acho que já ouvi falar sobre esses pássaros.

Magrela: O Peter quer o quê? Matar?

Peninha: Você ouviu. Vamos matar o pássaro Wendy! Peter vai ficar tão feliz!

Magrela: Olha, lá vem vindo! Que coisa supermaravilhosa! Nunca vi um pássaro assim.

Peninha: Preparem os arcos!

Magrela procura por seu arco, mas Peninha já pegou o seu e atira em Wendy, que estava se aproximando e cai no chão.

Magrela: Conseguimos!

Se aproximam de Wendy e se espantam.

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Peninha: Mas... Não é um pássaro.

Magrela: Era uma menina. E você a matou, Peninha! E agora?

Peter chega por trás deles, eles se põem na frente de Wendy, tampando-a.

Peter: Tenho boas notícias! Sobre a Cinderela! Mas, melhor que isso, trouxe ela pra vocês, a garota que me contou as histórias! Ela está...

Peninha: Morta... Trágico.

Peter se ajoelha ao lado Wendy, pega a flecha e a segura ameaçadoramente em direção aos meninos.

Peter: Quem fez isso? Me digam!

Peninha: Fui eu Peter, pode me matar. (se ajoelha ao lado de Peter, quando esse ia acertar Peninho com a flecha, Wendy se move) Está viva! (Se vira para ela e vê, onde estava a flecha, o botão de rosa) Foi meu beijo! Meu beijo a salvou! Sorte a de vocês.

Magrela: E agora? O que fazemos? Temos que levá-la pra dentro.

Peninha: Não. É falta de educação. Fora que nossas mãos estão sujas.

Magrela: Então fazemos o que? Deixamos ela morrer de frio aqui fora?

Peninha: Podemos construir uma casa ao redor dela, com janelas, flores, e uma chaminé!

Peter: Vão logo. Vão buscar os materiais então.

Os meninos vão saindo, Magrela volta correndo até Peter e fala ao ouvido dele.

Magrela: Foi a Sininho. (Sai junto de Peninha)

Peter: Sininho! Sino, venha cá! (Sininho vai ao lado dele, olhando para os lados disfarçando) Si, foi você que fez isso? Diga! (ela faz que sim com a cabeça) Então saia daqui! Não sou mais seu amigo. Não quero falar com você nunca mais!

Sininho sai irritada. Os meninos voltam com materiais e constroem a casinha, depois ficam na porta esperando Wendy sair. Quando esta sai eles se ajoelham em frente a ela.

Meninos: Por favor, seja nossa mãe!

Wendy: Nossa, quanta gentileza! Mas, vejam, não tenho experiência.

Peninha: Você sabe contar histórias?

Wendy: Sim.

Magrela: Então é perfeita!

Peninha: Vem, vamos para a casa secreta com o papai.

Wendy: Esperem. João! Miguel! Peter, onde estão meus irmãos?

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Peter: Não sei. Venha, vamos procurá-los!

Todos saem de cena, um dos meninos esquece um chapéu para trás. Assim que todos saíram de cena entram os piratas. Barrica vai até onde está o chapéu e o pega.

Barrica: Capitão! Capitão! Veja! Eles não podem estar muito longe daqui.

Gancho: Ah, esses meninos. Ainda pego todos eles. Mas quero principalmente o chefe deles, aquele maldito Pan! Faz tempo que ele cortou minha mão. Desde então não vejo a hora de apertar a mão dele com esta belezinha aqui! (admirando o gancho) Ah, vou estraçalhar aquele pilantra!

Smith: Mas o senhor sempre diz que o gancho vale mais que uma porção de mãos!

Barrica: Sim. Serve para pentear o cabelo, lutar, e fazer uma porção de outras coisas...

Gancho: De fato. Acho que todos deveriam nascer com um gancho no lugar das mãos, muito útil... Peter jogou minha mão para um maldito crocodilo que ia passando.

Smith: Já percebi que o senhor tem medo de crocodilo, Capitão...

Gancho: De crocodilo não, daquele crocodilo! O bicho gostou tanto que agora me persegue, tentando comer o que sobrou de mim.

Barrica: Isso não deixa de ser uma espécie de elogio, né?

Gancho: Dispenso esse tipo de elogio. Por sorte ele engoliu um relógio, quando ouço o tique-taque, saio correndo.

Barrica: Ih, já imaginou quando o relógio parar de funcionar?

Smith: Verdade, sem o tique-taque, o que vai ser do capitão?

Barrica: O bicho ainda pega ele desprevenido, isso sim.

Smith: E depois o que vai ser da gente então? Quem ia ser o capitão?

Barrica: Eu, é claro! Sou o mais forte e melhor lutador.

Smith: Ah, você? Não consegue ganhar nem de uma criança, eu sou o favorito do capitão, nada mais justo que assumir o posto dele.

Barrica: Só por cima do meu cadáver!

Os dois se entreolham e seguram as espadas ameaçadoramente, Gancho que estava distraído olhando o chapéu vai interromper a briga.

Gancho: Parem com isso seus idiotas! O capitão aqui sou eu e continuarei sendo! Vou matar Pan e também aquele maldito crocodilo. O que ainda estão fazendo aqui afinal, não mandei vocês procurarem os meninos?

Smith: Na verdade não, senhor.

Gancho: Ora! Pois então vão! Olha só o que tenho que agüentar!

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Barrica e Smith se afastam resmungando.

Barrica: Olha só o que a gente tem que aguentar, isso sim! Capitão ta com um mau humor cada vez pior. E sobra pra gente sempre que Pan escapa.

Smith: Isso mesmo. É lavar todo o navio, lutar contra os índios, cozinhar, porque ele mesmo não faz nada disso, só reclama...

Barrica: Ontem mesmo, ele queria que queria encontrar o Pan, fez a gente revirar a ilha inteira mesmo o menino tendo fugido, daí entram no caminho aqueles caras vermelhas, indiozinhos insolentes, amiguinhos do Peter!

Smith: Como se não bastasse todo o trabalho duro que a gente faz agora mais essa! Lutar contra índios! Aqueles lá se movem fazendo menos barulho que o Peter quando voa, do nada estão atrás da gente e puf! Cai alguém morto no chão.

Barrica: Como se o capitão desse a mínima pra isso, só o que sabe faze é reclamar de tudo, descontar na gente quando não consegue por as mãos no Peter.

Smith: Ele devia desistir de uma vez, o garoto é esperto, isso eu tenho que admitir, e o capitão ta ficando meio velho pra esse tipo de coisa já... Igual um velhinho mesmo, só reclama.

Barrica: Quando ele começa, não para mais. Incomoda mais que aquele seu papagaio velho, que só sabe gritar no ouvido dos outros.

Smith: Não é minha culpa se vocês escondem comida, Bicuço apenas conta pro capitão quando vocês fazem algo errado.

Barrica: Claro, e depois vai voando e pega comida escondido pra você. Ainda mato esse seu papagaio, enfio ele numa gaiola e mato de fome! Só que sempre que tento chegar perto dele ele me bica. Bicho desgraçado, quase arranca meus dedos!

Smith: Olha que se encostar um dedo no meu Bicuçinho quem vai arrancar seus dedos sou eu!

Gancho: Vão logo e parem de resmungar ou desço meu gancho em vocês! E ouça bem, Smith, se seu papagaio incomodar meu sono mais uma vez, desço o gancho nele também!

Os dois saem correndo. Gancho vai até a casinha e a examina, mas então ouve um tique-taque e sai correndo assustado. Pouco depois chegam João e Miguel, perdidos vão andando e caem em uma armadilha dos índios, tentam se soltar da rede mas não conseguem. Tigrinha fica espiando ao longe.

João: Era só o que me faltava! Não bastava o Peter ter sumido, depois a Wendy, e agora isso! Presos numa armadilha idiota. Quanta humilhação! Afinal, a quanto tempo estamos aqui?

Miguel: Como assim há quanto tempo? A gente mora aqui, não?

João: Não. Quer dizer, não sei. Não lembro mais de nada antes de chegar aqui. Acho que a gente tinha saído então. É, é isso, a gente tinha viajado e agora voltamos pra casa, só que Peter não está aqui e isso é estranho.

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Miguel: Vai ver ele estava preparando uma surpresa pra quando a gente chegasse. Passamos muito tempo longe, não foi?

João: Acho que sim. Mas ele veio junto da gente, então quem deve preparar a surpresa é a mamãe.

Miguel: Mamãe, eu já ouvi falar dela. Não me lembro dela mas acho que estou com saudades. João, como é a mamãe?

João: Eu não sei. Também estou com saudades do papai. E da Wendy, e do Peter. Onde será que eles estão? Agora estamos sozinhos, e pior, presos numa armadilha idiota!

Miguel: (vendo Tigrinha que se aproximava) Tem coisa pior, João.

João: O que desta vez?

Miguel: Não estamos sozinhos. Olha!

Eles vêem Tigrinha, que começa a rir dos dois.

João: Não é muito educado rir dos outros, sabia?

Tigrinha: (rindo) Calma. Mim vai ajudar vocês. Mim ouviu vocês falando do Peter. Mim glande amiga do Peter, Peter salvar Tigrinha dos pilatas. Se vocês amigos do Peter, Tigrinha amiga de vocês, mas se vocês machucar Peter, Tigrinha matar vocês, entendeu?

João: Você conhece o Peter? Pode levar a gente até ele? Estamos perdidos, onde é a casa dele?

Tigrinha: Silêncio! Quer que pilatas ouvir vocês? Casa do Peter ser segledo. Tigrinha levar vocês lá mas vocês não poder contar pla ninguém onde ser casa do Peter. Peter grande guerreiro, semple ajudar os calas vermelhas, e calas vermelhas ajudar Peter a matar pilatas. Quem ser vocês? Vocês estranhos. Mim nunca ver vocês aqui. Peter trazer vocês?

Miguel: Eu sou Miguel, e ele é meu irmão João.

João: O Peter trouxe a gente aqui, mas agora sumiu. Você sabe onde ele está?

Tigrinha: Mim levar vocês até Peter. Tigrinha ser amiga de Peter. Uma vez piratas seqüestrar chefe da tribo de Tigrinha, pilatas matar muitos calas vermelhas e prender mãe da Tigrinha. Peter vir com meninos perdidos salvar Princesa Tigrinha, Peter ser corajoso e lutar contra os piratas, Peter salvar o chefe e a mãe da Tigrinha. Mim agora semple ajudar o Peter e os amigos do Peter. Peter ter muitos amigos aqui, quase semple meninos perdidos, pássalos ou fadas, mas vocês ser amigos estranhos, mim nunca ver vocês aqui, Peter trazer vocês de aventura muito longe, não é? Peter gostar muito de aventuras, Tigrinha já participar de aventuras com Peter, mas Tigrinha ter medo dos pilatas. Peter não ter medo de pilatas, Peter semple lutar com eles. Tigrinha tem medo que pilatas machucar Peter, mas Peter não tem medo não. Os glandes espílitos da natureza semple ajudar Tigrinha, e eles ajudar Peter também, eles contar pra Peter onde esconder dos pilatas. Tigrinha não conhecer vocês mas se vocês amigos do Peter e não gostar dos pilatas, Tigrinha levar vocês lá.

Tigrinha solta os dois mas, ao mesmo tempo, os piratas se aproximam e os prendem.

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Gancho: Ora, ora, ora. Se não é a bela Princesa Tigrinha. Vamos, me diga, onde está Peter?

Tigrinha: Mim não saber nada e mim não contar nada pla vocês! (cospe no pé dele)

Gancho: Bem, não sabe? Meu gancho diz que sim. Vamos seus marmanjos, amarrem-nos e os levem pra pedra negra. Vamos ver se Peter aparece para salvar seus amiguinhos.

Piratas saem com os meninos.

CENA 4 _ A PEDRA DAS SEREIAS

Os piratas trazem os três para a pedra e os deixam lá. Peter chega sorrateiro com Wendy e se escondem. Logo depois Peter imita a voz de Gancho.

Barrica: Solte os pirralhos nessa pedra, logo a água sobe e as sereias vêm buscar eles

Smith: Fiquem quietos moleques. Mil perdões majestade.

Barrica: Pare de paparicar essa indiazinha, ela é princesa da tribo mas não esqueça que quem manda aqui é o Gancho. Melhor implorar por suas vidas, garotos!

João: Senhores, nós somos cavalheiros, e cavalheiros nunca imploram!

Miguel: Por favor! Por favor! Não me matem! Por favor!

João: Não me matem também! Por favor! Não quero morrer!

Tigrinha: Ficar quietos vocês dois!

Peter: Sr. Smith! Barrica! O que estão fazendo?

Barrica: Prendemos as crianças como o senhor mandou, Capitão.

Peter: Pois as soltem, ora!

Smith: Soltar? Mas acabamos de prendê-las!

Peter: Soltem logo ou desço meu gancho em vocês!

Barrica: Prender, soltar. Esse capitão nunca se decide?

Nesse momento Gancho se aproxima, Miguel, João e Tigrinha aproveitam para se esconder.

Gancho: Então, como vão as crianças?

Smith: As soltamos, como o senhor mandou, capitão!

Gancho: Com mil raios que os partam! Soltaram, o que quer dizer com soltaram?

Peter: Senhor Smith! Barrica! O que estão fazendo aí seus inúteis?

Gancho: Quem é você, estranho?

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Peter: Com mil raios que o partam! Sou o Capitão Jaime Gancho!

Gancho: Então quem sou eu?

Peter: Você é... um bacalhau!

Barrica: Então quer dizer que passamos todos esses anos servindo a um bachalhau?

Gancho: Cale-se! Então, Capitão Jaime Gancho, você tem outro nome?

Peter: Sim!

Gancho: Vegetal? Mineral?

Peter: Não e não.

Gancho: Animal?

Peter: Sim!

Gancho: Homem?

Peter: Não!

Gancho: Menino? (gancho vai andando em direção à voz)

Peter: Sim!

Gancho: Menino comum?

Peter: Não!

Gancho: Menino especial? (Para atrás de Peter)

Peter: Sim! Você se rende? Eu sou Peter Pan!

Gancho tenta atacá-lo mas ele desvia. Começa uma luta entre os dois. Wendy, João, Miguel e Tigrinha também começam a lutar com os outros piratas. Um dos piratas tenta atacar Tigrinha pelas costas mas João bate nele e o joga na água. Tigrinha abraça João agradecida. João, Tigrinha e Miguel fogem, Wendy luta com o outro pirata.Gancho luta com Peter, machuca a perna dele e o derruba no chão.

Gancho: Preparado para morrer, Peter?

Quando Gancho se prepara para dar o golpe fatal ele ouve um tique-taque, Peter aproveita, empurra-o e tenta correr, mas está machucado. Gancho e os piratas fogem. Wendy vai até Peter.

Wendy: Vamos, Peter, vamos voltar para os meninos perdidos. Temos que sair daqui.

Peter: Não adianta, Wendy. Estamos presos nessa pedra, estou machucado, a água está subindo, logo vamos nos afogar. Sabe, Wendy, morrer vai ser uma grande aventura.

Nesse momento Tigrinha vai até eles.

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Tigrinha: Tigrinha vir pala ajudar Peter. Peter salvar Tigrinha, Tigrinha glande amiga de Peter. Mim não deixar pilata machucar Peter. Nós calas vermelhas glandes guerreilos, mas nós saber também curar. Pilata machucar Peter, mim curar ele. Deixa mim ver sua perna.

Tigrinha enfaixa a perna de Peter enquanto fala.

Tigrinha: Essa pedla ser perigosa. Nos calas vermelhas conhecer os segledos dessa terra. Pedla trazer morte. Muitas seleias aqui. Mim não gostar das seleias. Elas palecer bonitas, palecer legais mas seleias ser malvadas. Nós calas vermelhas contar histolias das seleias. Chefe contar pla Princesa Tigrinha sobre seleias. Elas cantar bonito, sim. Mas elas também fazer silêncio, chegar escondidas, chegar pertinho de você, olhar no seu olho, te enfeitiçar e te puxar pla água sem você perceber. Puxar assim, devagarzinho, quando você ver já estar afogando. Seleias não gostar dos pilatas, então nós, calas vermelhas, deixar seleias quietas, ser amigo delas, mas também nós aplender a tomar cuidado com elas. Seleias sabem tudo, semple poder perguntar pla elas onde estar os pilatas que elas saber e te contar, mas elas poder contar plos pilatas onde estar a gente, pilatas dar pla elas ouro, pedlas, seleias gostar de coisas brilhantes, por isso não poder confiar demais nas seleias. Essa pedla aqui ser peligosa, mim vir pla tilar vocês daqui. Vocês salvar Tigrinha então Tigrinha salvar vocês. Essa pedla ser das seleias, a água subir e afogar quem estar na pedla, seleias espelar de noite pala puxar pessoa pla água. Nós ter que sair rápido antes que seleias chegar, então Tigrinha vir ajudar vocês. Peter estar machucado mas Tigrinha curar ele. Mim acreditar nos glandes espílitos da natuleza, eles conhecer o segledo de tudo, eles ser bons. Se nós bons com eles, eles ser bons com a gente. Nós calas vermelhas respeitar a natuleza, então glandes espílitos ajudar a gente quando a gente chamar eles. Espílitos vão curar perna de Peter.

Faz gestos de invocar os espíritos e põe as mãos na ferida de Peter, depois tira a faixa e os três saem da pedra.

Tigrinha: Plonto, agola Peter poder voltar, Tigrinha levar Peter pla longe da pedla das Seleias. Peter salvar Tigrinha e Tigrinha salvar Peter, Tigrinha agora glande amiga de Peter.

Tigrinha se despede abraçando Peter, o que deixa Wendy enciumada.

CENA 5 _ WENDY, UMA PIRATA

Peter e Wendy vão até em casa onde os meninos os esperam, comemorando.

Peninha: Pai, mãe! Finalmente chegaram!

Magrela: Vamos comemorar! Nós vencemos os piratas!

Peninha: Por que não me levaram com vocês? Eu queria ter acertado o gancho com minha espada!

Magrela: Você? O gancho fica pra mim! Eu sozinho consigo lutar com dez piratas! Peter, próxima vez você vai me levar, não vai?

Peninha: Não! Ele vai me levar! Não é Peter?

Wendy: Meninos, calma, próxima vez Peter vai levar todo mundo, não é?

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Todos começam a festejar. Peter se vira para Wendy e faz uma mesura, ela retribui, os dois começam a dançar se afastando um pouco dos outros. Gancho e Sininho observam tristes, escondidos.

Gancho: Que dia triste! Os meninos arrumaram uma mãe... E Peter arrumo uma... (sininho cochicha algo para ele) Uma Wendy! (Sininho fala novamente com ele) O quê? Ele também te expulsou? Venha, acho que podemos ser grandes amigos.

Gancho e Sininho saem de cena. Peter e Wendy dançam, mas Peter interrompe a dança.

Peter: Wendy, é tudo faz de conta, não é?

Wendy: Se é assim que você quer...

Peter: É que... eu pareceria tão mais velho se fosse pai deles de verdade.

Wendy: Peter, me diga uma coisa. Você tem sentimentos? Raiva, ciúmes?

Peter: Ciúmes? Sininho!

Wendy: Ódio?

Peter: Ódio? Gancho!

Wendy: Amor?

Peter: Amor? Nunca ouvi falar de tal coisa!

Wendy: Ora, acho que sim! Ouso até mesmo dizer que já sentiu, por algo, ou por alguém.

Peter: Nunca! Nem nunca vou sentir. Agora me deixe em paz!

Peter dá as costas para ela, Wendy vai chorando para sua casinha. Peter e os meninos saem de cena. Os piratas chegam e carregam a casinha de Wendy até o barco. Wendy sai da casinha e se depara com os piratas.

Gancho: Aí está ela! A mãe! Venha cá, minha garota. Por que está tão triste? É aquele Pan? Não fique assim por um garoto aleijado como ele. Ah, não, Pan não tem sentimentos, é parte do grande enigma que ele é. Me diga, você alguma vez já pensou em se tornar pirata?

Wendy: Uma vez pensei em me chamar Vulcaneira Jyu.

Gancho: Vulcaneira Jyu! Mas que belo nome! Esse será seu nome se juntar-se a nós.

Wendy: Mas, o que eu teria que fazer?

Barrica: Você sabe contar histórias?

Smith: Nós nunca tivemos uma mãe que nos contasse historias antes.

Wendy: O que minha mãe pensaria se eu me tornasse uma pirata?

Gancho a conduz novamente à casinha que os piratas levam de volta. Wendy sai e vai de encontro aos meninos.

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CENA 6 _ CAPTURADOS

Wendy e os meninos estão sentados fazendo muito barulho. Peter chega e todos se calam.

Peter: Trouxe notícias das sereias! Gancho tem uma nova pirata a bordo. O nome dela é Vulcaneira Jyu!

Peninha: Vamos lá então! Vamos acabar com ela! É uma garota afinal.

Wendy: Mas essa Vulcaneira pode ser também uma ótima espadachim.

Peter: Há! Eu acabo com ela em um golpe!

Wendy: Pois melhor se preparar então Peter, pois eu sou Vulcaneira Jyu!

Magrela: Ah não! Mamãe e papai estão brigando de novo!

Peter: Wendy, você não vai mesmo se tornar uma pirata, vai?

Wendy: Não. (garotos comemoram) Mas eu vou para casa.

Miguel: Casa? Aqui é nossa casa!

Wendy: Não, Miguel. Por isso que precisamos ir. Já estamos esquecendo nossa casa, nossos pais. Precisamos voltar, antes que eles também se esqueçam da gente.

João: É verdade. Eu esqueci meus pais. Wendy, a gente tem que voltar! Papai e mamãe devem estar preocupados com a gente.

Peter: Não vai adiantar. Eles já devem ter se esquecido. Pais são assim. Eu já tentei voltar pra casa uma vez. Mas quando cheguei lá, a janela estava trancada, tinha outra criança dormindo na minha cama. Eles tinham me esquecido.

Miguel: Não! A mamãe nunca ia se esquecer da gente, não é Wendy?

Wendy: Claro que não.

Peninha: Mamãe a gente pode ir com você?

Wendy: Se seu pai deixar;

Magrela: Papai, a agente pode?

Peter: Se vocês quiserem... Vou pedir que as fadas acompanhem vocês.

João: Peter, você não vem com a gente?

Peter: Provavelmente me colocariam na escola, não é? E depois o escritório. Logo, logo eu seria um homem... Vocês não podem me pegar e fazer de mim um homem!

Wendy: Vamos então, meninos. Peter, você não vem mesmo? (ele não responde, ela pega uma xícara) Bem, não esqueça de tomar o seu remédio. Adeus, Peter.

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Ouvem um grito de índio.

Peninha: O que é isso?

Magrela: Os piratas devem estar por perto, silêncio.

Saem todos de cena. Enquanto isso, do lado de fora os piratas se aproximam dos índios e começam uma luta. Os piratas vencem e prendem a Tigrinha. Na casa os meninos escutam.

Miguel (em off): Quanto silêncio. Quem será que ganhou?

Peninha(em off): Quando os índios ganham, eles tocam o tambor.

Gancho sorri, empurra Tigrinha até um tambor e coloca seu gancho na garganta dela.

Gancho: Você ouviu, Princesa? Toque o tambor.

Tigrinha, chorando, toca. Os meninos comemoram e saem de casa, e são presos e amordaçados pelos piratas antes que possam se defender. Wendy sai logo depois e é também amordaçada.

Gancho: Fiquem de olho, não deixem elas fugirem, vou eu mesmo acabar com o menino Peter.

Gancho sai de cena, ficam todos se entreolhando com medo, logo depois gancho volta segurando um vidrinho na mão.

Gancho: Não consegui entrar. Malditas portas que só cabem uma criança! Mas, ah, acreditem, Gancho teve sua vingança. Apenas algumas gotinhas deste veneno que pus no remédio e Pan cairá morto. Agora vão seus marmanjos, levem as crianças para o barco!

Os piratas saem empurrando as crianças, Sininho sai de onde estava escondida. Peter entra em cena, triste, com a xícara na mão, quando vai beber Sininho pula na frente e tampa a boca dele, começa a falar rápido (som de sinos)

Peter: O quê? Capturados? Pois vamos lá, vamos salvar a Wendy. (tenta levar a xícara à boca novamente e Sininho não deixa) Quieta, sininho, tenho que tomar meu remédio!

Sininho toma a xícara dele e bebe todo o conteúdo, pouco depois cai no chão.

Peter: Sininho! Sino, você está bem? Sino me responda! Você parece tão fraca. Por favor não me deixe! Sininho! (chora ajoelhado ao lado dela)

No navio pirata, eles ouvem um trovão.

Gancho: Sabem o que isso significa? Pan está morto! Um minuto de silêncio por nosso inimigo.

Peter, ao lado de sininho começa a falar baixo, depois cada vez mais alto. As crianças no barco repetem também:

Peter e crianças: Eu acredito em fadas, acredito, acredito! Eu acredito em fadas, acredito, acredito! Eu acredito em fadas, acredito, acredito! Eu acredito em fadas, acredito, acredito!

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Peter: Eu acredito em fadas! Sininho! (Sininho se levanta e abraça Peter) Agora vamos, temos que salvar Wendy! Serei Gancho ou eu desta vez.

Vão para baixo do navio pirata.

Gancho: Parem com essa baboseira de fadas! Era só o que me faltava, pelo jeito o garoto continua vivo! Agora venha, mãe, você vai contar sua última história, a história de Peter Pan!

Smith: Silêncio rapazes, a Vulcaneira vai contar uma história!

Wendy: Era uma vez, um menino chamado Peter Pan. Ele não queria crescer, então fugiu e foi viver com as fadas...

Gancho: Pule a introdução. Como se conheceram?

Wendy: Ele ia à minha casa ouvir histórias.

Gancho: Que tipo de histórias?

Wendy: Cinderela, Branca de neve... Aventuras em que o bem triunfa sobre o mal!

Gancho: Histórias de amor! (os piratas riem) Então quer dizer que o Pan tem sentimentos afinal. Agora me diga, como ele voa?

Wendy: Tenha pensamentos felizes, eles te levam pra cima.

Gancho: Que pena, não tenho esse tipo de pensamento.

Wendy: Isso te traz pra baixo.

Gancho: Então, quer dizer que se Peter tiver pensamentos tristes ele perde seu poder?

Wendy: Ele não tem esse tipo de pensamento.

Gancho: Não? E o que ele acharia se sua Wendy andasse na prancha? Vamos!

Empurra Wendy até a prancha, Peter está logo abaixo dela e pega um relógio, os piratas se assustam ao ouvir o tique-taque.

Gancho: Ora, ora. Ele veio atrás do Gancho, e ganhou uma história!

Empurra Wendy. Ela pula da prancha e Peter a pega. Eles entram sorrateiramente no barco e se escondem atrás dos meninos e os soltam.

Smith: Não ouvi barulho de nenhum corpo caindo na água, e você?

Barrica: Eu também não. Deve ter sido engolida inteira pelo crocodilo.

Gancho: Isso pouco me importa. Agora aos meninos!

Nesse momento os meninos se levantam brandindo espadas e começam a lutar contra os piratas, Peter luta contra Gancho.

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Gancho: Ela vai embora, Peter. E você vai deixar. Sua preciosa Wendy está te deixando. Você vai procurá-la mas as portas estão fechadas.

Peter: Eu entro pela janela.

Gancho: Está fechada.

Peter: Eu abro!

Gancho: Está trancada. Ela te esqueceu, tem outro em seu lugar, e ele se chama marido.

Peter: Não!

Gancho: Prepare-se para dizer suas últimas palavras!

Gancho derruba Peter no chão e prepara o golpe final, todos param as lutas para olhar. Wendy se solta do pirata que a prendia e corre até Peter.

Wendy: Por favor, deixe eu me despedir. Só quero lhe dar um dedal.

Gancho: Dedal! Coisa de menina. Vá, dê a Peter seu precioso dedal!

Wendy se ajoelha ao lado de Peter.

Wendy: Isso é seu, e sempre será. (beija Peter)

Peninha: Isso não foi um dedal.

Miguel: Foi o beijo da Wendy!

Gancho: Peter, você está ficando rosa!

Peter se levanta de um salto e começa a lutar com Gancho.

Gancho: Não, não é possível, eu venci!

Peter: Você é velho!

Gancho: Mas eu venci, eu venci!

Peter: E sozinho.

Gancho: Eu venci! Eu venci! Eu venci!

João: Acabado.

Crianças: Velho, sozinho, acabado. Velho, sozinho, acabado. Velho, sozinho, acabado!

Gancho: Tudo bem. Tudo bem. Velho... (se dirige à beirada do barco) Sozinho... (começa um tique-taque que fica cada vez mais alto) Acabado (pula).

As crianças comemoram e os piratas fogem.

CENA 7 _ DE VOLTA AO LAR

Peter chega à casa, Sra. Darling está dormindo ao lado da cadeira.

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Peter: A Wendy pode ser de nós dois!

Fecha a janela e sai. Sra. Darling acorda assustada e vê a janela fechada.

Sra. Darling: A janela! Quem fechou? Ela tem que estar sempre aberta! Tem que estar sempre aberta para os meninos!

Abre a janela e se senta na cadeira chorando e dorme novamente. Wendy, João e Miguel entram pela janela e ficam de frente pra mãe.

João: Mamãe, voltamos. Somos nós!

Sra. Darling acorda, olha para os filhos sem entender, depois se levanta e corre para abraçá-los.

Sra. Darling: Querido! Venha! As crianças voltaram!

Sr. Darling entra correndo e para de frente a elas. Estende a mão.

João: Oi, pai, sentimos sua falta.

Sr. Darling aperta a mão de João e logo depois o abraça, depois abraça aos outros filhos. Nesse momento chegam os meninos perdidos.

Wendy: Mãe, esses são os meninos perdidos, eles precisam de uma mãe. Podemos ficar com eles?

Sra. Darling: Claro! Venham!

Meninos correm para abraçar ao Sr. e Sra. Darling. Peter observa pela janela, Wendy o vê e vai até ele.

Wendy: Você vai voltar?

Peter: Claro! Toda primavera! Para ouvir histórias sobre mim!

Sai de cena. Wendy vai até onde estão os outros, todos saem de cena.

CENA 8 _ WENDY CRESCE

Wendy põe Jane na cama.

Jane: Feche os olhos mamãe. O que você está vendo?

Wendy: Não estou vendo nada.

Jane: Claro que está. Está vendo quando você era menina.

Wendy: Ah, isso faz tanto tempo. Como o tempo voa!

Jane: Voa como você voava quando era menina? Mamãe, e o que aconteceu com o Peter depois?

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Wendy: Ele derrotou o Gancho e nos trouxe para casa. Ele disse que viria toda primavera, quando ele apareceu no outro ano, tinha tantas aventuras novas pra contar que nem se lembrava mais das antigas. Mas depois, no outro ano ele não veio, e nem no outro. Nunca mais vi Peter Pan outra vez. Acho que ele se esqueceu por completo de mim.

Jane: Você ainda sabe voar?

Wendy: Não. Quando a gente cresce a gente desaprende. A gente deixa de ser assim, alegre, inocente e sem coração, daí esquece. Agora vamos, está na hora de dormir.

Cobre Jane e se senta perto da lareira. Peter entra pela janela.

Peter: Wendy, vim te buscar. Vamos para a Terra do Nunca.

Wendy: Oi, Peter. Eu não posso. Esqueci como se voa.

Peter: Não tem problema, eu te ensino.

Wendy: Não posso mais voar.

Peter: O que foi que aconteceu?

Wendy: (Se levantando) Eu cresci, Peter. Já tenho mais de vinte anos, faz tempo que cresci.

Peter: Você prometeu que não ia crescer!

Wendy: Não pude evitar. Sou uma mulher casada agora. Esta aí na cama é minha filha.

Peter: Não é, não. (começa a chorar Jane acorda e se senta na cama)

Jane: Por que você está chorando, menino? (Peter se levanta e faz uma mesura, Jane retribui ainda sentada na cama) Jane Ângela Darling.

Peter: Peter Pan.

Jane: Eu sei, estava esperando por você. Mamãe, posso ir com ele? Peter precisa de uma mãe, e eu quero viver minhas próprias aventuras.

Wendy faz que sim com a cabeça. Peter e Jane saem pela janela. Wendy vai e fica olhando pela janela.

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