Plantas Aromáticas e Medicinais nos...

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Plantas Aromáticas e Medicinais nos Açores Susana Mestre Setembro de 2010

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Plantas Aromáticas e

Medicinais nos Açores

Susana Mestre

Setembro de 2010

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ÍNDICE

1. Utilização de plantas aromáticas e medicinais nos Açores 3

2. Flora espontânea de potencial interesse aromático e medicinal 11

3. Cultivo de plantas aromáticas e medicinais em São Miguel: a experiência nas sete Cidades 14

4. Plantas aromáticas e medicinais com interesse potencial para cultivo 16

Bibliografia 37

3

1. UTILIZAÇÃO DE PLANTAS MEDICINAIS E AROMÁTICAS NOS AÇORES

Desde os primórdios da humanidade que as plantas são utilizadas com fins medicinais e aromáticos. O

registo mais antigo que se conhece sobre a sua utilização foi encontrado num túmulo do Neolítico (entre

5000 e 2500 a.C.) no qual se encontraram vestígios de um homem envolvido em plantas aromáticas,

identificadas por restos de pólen (Proença da Cunha et al, 2007).

A maioria das espécies utilizadas com fins medicinais e aromáticos nos Açores são idênticas ou muito

semelhantes às que se usam no continente português, assim como as finalidades com que são usadas, o que

parece indicar que o conhecimento empírico das suas propriedades terapêuticas foi trazido com os

primeiros povoadores.

A bibliografia existente neste âmbito não é rica, constituindo um desafio a pesquisa de documentos sobre a

utilização que nos Açores se faz das plantas aromáticas e medicinais.

Contudo, existem algumas publicações antigas sobre as plantas utilizadas e seus usos tradicionais, assim

como alguns inquéritos realizados à utilização de plantas com fins medicinais em alguns concelhos e

freguesias de São Miguel.

No fim do século XIX Joaquim Cândido de Abranches, ourives de profissão, publicou um pequeno livro,

Medicina Popular Michaelense, após tomar conhecimento de uma listagem elaborada por um autor francês,

que considerou manifestamente insuficiente, e “a fim que se saiba que a ilha não é pobre em tais plantas”.

Esta publicação é composta por ilustrações de algumas das plantas que o autor tinha conhecimento serem

utilizadas para fins medicinais ou que lhe foram indicadas como tendo tais propriedades. No final, este autor

apresenta as utilizações que à época eram dadas a algumas das plantas referenciadas.

Nesta publicação surgem plantas bem conhecidas pelas suas propriedades aromáticas e medicinais como o

sabugueiro, a maria-luísa, malva, arruda, hortelã-pimenta, salva, entre outras.

Em 1953, o regente agrícola Silvano Pereira publica um artigo onde referencia 45 plantas como sendo as

principais espécies utilizadas na medicina popular açoriana. Entre estas podemos encontrar espécies como,

o alecrim, borragem, erva-cidreira, funcho, hortelã, maria-luísa, poejo, salsa entre outras. Na listagem

elaborada por este autor não é feita nenhuma referência a plantas endémicas dos Açores, com excepção da

sub espécie azoricum do funcho. As utilizações aqui dadas não diferem daquelas que são atribuídas a estas

plantas noutros locais de cultivo.

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Em 1986, e depois numa segunda edição em 1997, Yolanda Corsépius, na sua publicação Algumas plantas

Medicinais dos Açores, referencia cerca de 181 espécies existentes nos Açores, como resultado de

conhecimento adquirido em passeios e em pesquisa bibliográfica. Simultaneamente esta autora apresenta

as utilizações potenciais das espécies apresentadas, baseando-se neste caso exclusivamente em informação

recolhida em bibliografia.

Estudos realizados na área da etnobotânica por Félix Rodrigues, em colaboração com outros autores, e

apresentados no 1º Congresso de Desenvolvimento Regional de Cabo Verde, permitiram referenciar mais de

100 plantas com interesse medicinal na ilha de São Miguel, através de inquéritos realizados nas ilhas de São

Miguel, São Jorge e Terceira, a pessoas com idade superior a 55 anos. Contudo, nesta publicação não são

indicadas em pormenor as espécies indicadas pelos inquiridos. Referem igualmente que muitas das

aplicações dadas no Arquipélago são semelhantes às verificadas no continente português e América do Sul,

relacionando este facto com a aquisição de conhecimentos ancestrais que remontam à época do

povoamento das ilhas e ao período dos descobrimentos portugueses.

Estes autores elegem algumas espécies que consideram ter mais interesse para promoção do cultivo nas

ilhas açorianas, numa perspectiva de desenvolvimento de actividades que promovam o desenvolvimento

sustentável da região. São elas a açafroa, o abacateiro e a agrimónia.

Também em São Miguel foram realizados, por coordenação do Dr. Teófilo Braga, alguns inquéritos no

concelho da Ribeira Grande, em 1993, nas freguesias da Ribeira Seca (Ribeira Grande) e nas Sete Cidades em

2000. Nestes inquéritos são referenciadas cerca de 58 espécies no total, sendo que as referidas com mais

frequência pelos inquiridos foram o alecrim, arruda, erva-cidreira, funcho, malva, rabo de asno, laranjeira,

limoeiro, orégãos, macela, alho e o eucalipto, referidas em todos os inquéritos realizados e em alguns casos

por vários inquiridos.

A esta informação acrescenta-se ainda a obtida por Lúcia Vieira em inquérito realizado na Maia em 200,1 no

âmbito do Relatório de Estágio do Curso de Técnico de Gestão Agrícola da Escola Profissional da Ribeira

Grande.

Foi elaborado um quadro comparativo das diversas espécies enumeradas pelos autores referidos

anteriormente, e que se apresenta na Tabela 1, indicando o nome comum e respectivo nome específico.

Optou-se por ordenar as diversas plantas pelo seu nome comum, apesar de, como se sabe, frequentemente

serem atribuídos nomes iguais a plantas distintas e vice-versa, o que torna a comparação entre diversas

fontes algo falível. Aliás, esta questão é particularmente pertinente no universo das plantas medicinais e

aromáticas, onde a confusão entre diversas plantas poderá acontecer, com resultados bastante perigosos

dada a utilização que é feita das plantas. Como tal, em todas as situações se deverá ter em atenção este

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aspecto, em particular em relação a plantas de menor utilização e em que o seu conhecimento e

identificação não se encontra tão solidificado.

Contudo, dados os mecanismos de recolha de informação que foram utilizados, a utilização do nome

específico não traria maior garantia de rigor, pelo que optou por esta solução, que permitia efectuar com

mais eficácia a comparação com a informação recolhida por Abranches (1894), uma vez que será de supor

uma maior alteração na nomenclatura botânica desde essa data. Por essa mesma questão, é indicado o

nome específico indicado por este autor, sendo feita na coluna seguinte a possível correspondência com a

classificação actual.

O nome da espécie que é referido é o indicado pelos diferentes autores.

A análise global da tabela permite-nos concluir que as espécies que são referenciadas com mais frequência

são: alecrim, alho, arruda, erva-cidreira, funcho, hortelã-pimenta, laranjeira, limão, maria-luísa, macela,

sabugueiro e a salva.

Tabela 1 – Quadro comparativo de plantas aromáticas e medicinais referenciadas na Ilha de São Miguel

Nome comum Espécie (Abranches, 1894) Espécie

Abranches (1894)

Pereira (1953)

Braga (2002)

Braga (2002b)

Braga (1993)

Vieira (2001)

1 Aboadeira Erigenon linifolius Wild (?) Conyza bonariensis (L.) Cronquist X

2 Abóbora menina

Cucurbita maxima Duch.

X

3 Agrião d´água Nasturia officinalis R.Br. Nasturtium officinale R.Br. X

4 Agrião da terra Colchlearia armoracia L. Barbarea verna (Mill.) Asch. (?) X

5 Agrião mouro

Lepidium virginicum L.

X

6 Agrimónia Agrimonia eupatorum L. Agrimonia eupatoria L. X

7 Aipo Apium graveolens L. Apium graveolens L. X

8 Alecrim

Rosmarinus officinalis L.

X X X X X

9 Alfacinha Leontondon hirtus L. Taraxacum officinale Weber (?) X X

10 Alho

Allium sativum

X X X X X

11 Alimendro (meimendro) Hyoscyamus albus L. (?) Hyoscyamus albus (Mill.) P.Cout. X

12 Almeirão Chicorium intybus L. Chicorium intybus L. X

13 Araçaleiro

Psidium littorale Raddi

X

X

14 Arruda Ruta graveolens L. Ruta chapelensis L. /Ruta graveolens L. X X X X X X

15 Artemisia dos prados Piretrum partenium Tanacetum parthenium (L.) Sch.-Bip. X

16 Avenca Adiantum capillus veneris L. Adiantum capillus-veneris L. X X

X

17 Babosa

X X

18 Bálsamo Hedistropium pesuviamem (?) X

19 Bananeira

X

20 Bermim Silene inflatu L.

Silene vulgaris (Moench) Garke ou Silene uniflora Roth ssp. uniflora X

21 Bolsa de pastor Capsela bursa-pastoris Capsela bursa-pastoris L. X

22 Bonina

Bellis perenis L. (?)

X X

23 Borragem Borago officinalis L. Borago officinalis L. X X

24 Buliana (?) Centrathus ruber Centrathus ruber (L.) DC. X

25 Buxo

Buxus sempervirens L.

X

26 Capucho

X

7

Nome comum Espécie (Abranches, 1894) Espécie

Abranches (1894)

Pereira (1953)

Braga (2002)

Braga (2002b)

Braga (1993)

Vieira (2001)

27 Cebola

Allium cepa L.

X

X X

28 Cedro

X

X

29 Cedro de cheiro

Chamaecyparis lawsoniana (A.Murr.) Parl.

X

30 Celidónia

Chelidonium majus L.

X

X

31 Cenoura

Daucus carota L.

X

X

32 Cicuta Conium maculatu cicuta L. Conium maculatum L. X

33 Chá

Camellia sinensis L.

X X

34 Conchelo Umbilicus pendulinnus D.C. Umbilicus horizontalis (Guss.) DC. ou Umbilicus rupestris (Salisb.) Dandy X

35 Conchelo do mato Habenaria microntha Platanthera micrantha (Hochst. Ex. Seub) Schlecht X

36 Crista de galo

X X

37 Diabelha

Plantago coronopus L.

X

38 Doiradinha Achrostichum squamosium Sev. X

39 Endro

Anethum graveolens L.

X

40 Erva cidreira Melissa officinalis L. Melissa officinalis L. X X X X

41 Erva das sete sangrias

Lithospermum diffusum Lag.

X

42 Erva de São roberto

Geranium robertianum L .

X X

43 Erva do capitão Sanicula azorica Sanicula azorica Guthn. Ex Seub X

44 Erva férrea Prunella vulgaris L. Prunella vulgaris L. X

X X X

45 Erva prata Paronchya argentea Paronchya argentea Lam. X

46 Erva tábua Helminthotheca echioides (L.) Holub X

47 Erva tintureira

Chelidonium majus L.

X

48 Erva Úrsula Thymus micans Thymus caespititus Brot. X

49 Estramonia Datura stramonium L. Datura stramonium L. X X

50 Eucalipto

Eucalyptus globulus

X X X

51 Fava da cobra

Parietaria officinalis L.

X

X X

52 Fedegosa Cassia occidentalis X

53 Fel da terra Centarium erythrae Pers. Centarium erythrae Rafn. X X

8

Nome comum Espécie (Abranches, 1894) Espécie

Abranches (1894)

Pereira (1953)

Braga (2002)

Braga (2002b)

Braga (1993)

Vieira (2001)

54 Funcho Foeniculum vulgare L. Foeniculum vulgare L. X X X X X X

55 Fura capa Bidens pilosa L. Bidens pilosa L. X

56 Gigante Acanthus lusitanicus Acanthus mollis L. X

57 Goiaba

Psidium guajava L.

X

58 Goivo amarelo Cheiranthus cheiri L. ? X

59 Grama Cynodon dactylon Pers. Cynodon dactylon Pers. X

60 Hortelã

Mentha sp.

X

X X

61 Hortelã-pimenta Mentha piperita L. Mentha piperita L. X X X

X X

62 Junça mansa Cyperus esculentus L. Cyperus esculentus L. X

63 Labaça Rumex obtusifolius ? X

64 Laranjeira

X

65 Laranjeira azeda Citrus vulgaris Ross Citrus aurantium L. X X X X X X

66 Limão

Citrus limon (L.) Burm.

X X X X X

67 Limão galego

Citrus limetta

X X X

68 Limonete Lippia citriodora Aloysia triphylla (L'Her.) Britton X X X X X X

69 Linho

Linum usitassimum L.

X

70 Losna Absinthum officinalis Artemisia absinthum L. X X X

X X

71 Louro

X

72 Louro manso Persea azorica Seub Laurus azorica (Seub.) Franco (?) X

73 Macela Anacyclus aureus (Anthemis nobilis L.)

Anthemis nobilis L. Var Aurea X X X X x X

74 Malva Malva rotundifolia L. X X X X X

75 Manjericão

Ocimum basilicum L.

X X

76 Manjerona Origanum majorana X

77 Maracujá

Passiflora edulis Sims.

X

78 Marroio branco Marrubium vulgare L. Marrubium vulgare L. X X

X

79 Mentrasto Mentha rotundifolia Huds Mentha suavolens L. X

80 Milfurada Hipericum perforatum L. X X

X

81 Milho Zea mays L.

X

X X

9

82 Molarinha Fumaria officinalis L. Fumaria officinalis L. X X

Nome comum Espécie (Abranches, 1894) Espécie

Abranches (1894)

Pereira (1953)

Braga (2002)

Braga (2002b)

Braga (1993)

Vieira (2001)

83 morangueiro Fragaria silvestre Fragaria vesca L. X X

84 Mostarda

Brassica nigra L.

X

85 Nêveda Calaminthe officinalis Monch (Calamintha sylvatica)

Satureja calamintha (L.) Scheel)(2) X X

X X

86 Ouregãos

Origanum vulgare Hoffm. ou Origanum virens Hoffg. et Link

X X X X

87 Perpétua

Helichrysum orientale D.C.

X

88 Perpétua silvestre Gnaphalium (?) luteo album L. Pseudognaphalium luteo-album (L.) Hilliard et Burtt X

89 Pepino

Cucumis sativus L.

X

90 Pepino de São Gregório

Ecballium elauterium Rich

X

91 Poejo Mentha pulegium L. Mentha pulegium L. X X

X X X

92 Rabo de asno

Equisetum arvense L.

X

X X

93 Rainha das ervas Artemisia absinthium L. Artemisia absinthum L. X

94 Ratania Hiameira triandra X

95 Rosa mosqueta Rosa moschata Mill. Rosa moschata Mill. X

96 Roseira

X

97 Rosmaninho

X X

98 Sabugueiro Sambucus nigra L. Sambucus nigra L. X X X X X X

99 Sacafogo Senecio erraticus Bert Senecio sylvaticus L. X

100 Saião

Sempervivum tectorum L.

X

101 Salsa Petroselium sativum Hoff. Petroselinum sativum Hoff. X X X X

102 Salsa burra Daucus carota Daucus carota L. X

103 Salsaparrilha

Smilax aspera L.

X

X

104 Salva Salvia officinalis L. Salvia officinalis L. X X X X X x

105 Sempre noiva

X

106 Serpentina Arum colacasia Arum italicum Mill. X

X

107 Silva Rubus fruticosus L. Rubus ulmifolius P.Cant. X X

108 Tamujo Myrsine retusa Myrsine retusa Aiton X

10

109 Tanchagem Plantago major L. X X

110 Terlantana

Lantana camara L.

X

Nome comum Espécie (Abranches, 1894) Espécie Abranches

(1894) Pereira (1953)

Braga (2002)

Braga (2002b)

Braga (1993)

Vieira (2001)

111 Tília

Tilia cordata

X X

112 Tomilho

Thymus vulgaris L.

X

X X

113 Tremoço

Lupinus luteus L.

X

114 Trovisco Campanula vidalli X

X

115 Urtiga Urtica azorica ? X

116 Urtiga mansa

X

X

117 Uzai d´ella Chenopodium ambrosioides L. Chenopodium ambrosioides L. X X

X

118 Verbasco Verbascum thapsus L. Verbascum thapsus L. X

119 Violeta

X

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2. FLORA ESPONTÂNEA DE POTENCIAL AROMÁTICO E MEDICINAL

Alguns estudos têm vindo a ser desenvolvidos ao longo dos anos sobre as potencialidades da flora açoriana

na utilização como aromáticas e medicinais, mas o desconhecimento sobre este assunto é ainda profundo.

A utilização destas plantas, numa perspectiva de exploração em cultura e não de recolha em meio natural,

encerra oportunidades de exploração comercial de plantas com potencial aromático e medicinal, podendo

simultaneamente contribuir para a preservação da flora, em particular de espécies em perigo.

De facto, dado não existirem normalmente análises qualitativas ou quantitativas da composição destas

plantas para que se possa afirmar com segurança que as aplicações alimentares ou medicinais, que por vezes

lhes são atribuídas, serão necessários estudos aprofundados que permitam conhecer aspectos da

identidade, distribuição e biologia de cada espécie, assim como estudos sobre a sua constituição química e

actividade farmacológica. Naturalmente, estes estudos serão obrigatoriamente da alçada de instituições

com atribuições e competências em áreas de investigação científica.

Em 1988, Maria Helena Lopes, através do cruzamento de informação bibliográfica entre a flora dos Açores e

de plantas medicinais, elaborou uma listagem bibliográfica de espécies de plantas aqui existentes com

potencialidades medicinais. Para a Ilha de São Miguel esta autora identificou 111 espécies, cingindo-se no

entanto a espécies existentes também noutros locais.

Outros estudos têm sido realizados com plantas de flora autóctone, em particular no estudo da composição

dos óleos essenciais, focando espécies como, Laurus azorica, Juniperus brevifolia, e Thymus caespititius.

A espécie Laurus azorica (Seub.) Franco, conhecida por loureiro, existe nos Açores, Madeira e Canárias. As

bagas, por expressão, originam um óleo usado em fricções para dores reumatismais e que também foi

empregue na iluminação doméstica. As hastes dos ramos são empregues na Madeira como suporte de

espetadas de peixe e de carne.

Estudos realizados sobre os óleos essenciais desta espécie, de amostras colectadas em cinco ilhas dos

Açores, revelou serem o α-pinenol e o cineol os principais compostos nas folhas, enquanto no óleo essencial

obtido das bagas são o trans-β-ocimeno e o α-pineno os mais representados

No caso da espécie Juniperus brevifolia (Seub.) Antoine, cedro-do-mato, os estudos desenvolvidos

permitiram observar que, para as amostras recolhidas, nas ilhas de S. Jorge, Terceira, São Miguel e Pico, o

óleo essencial era dominado pela fracção terpénica (84-94%), sendo o limoneno (41-79%) e o α-pineno (6-

40%), os principais componentes.

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Em comparação realizada pelos autores com a informação bibliográfica existente para outras espécies de

Juniperus, verificaram que a quantidade de compostos monoterpénicos é superior à existente na maioria das

espécies elencadas, diferença que se deve a uma maior concentração de limoneno no óleo essencial dos

ramos do cedro-do-mato.

Os autores atribuem potencialmente as diferenças notáveis existentes entre a composição dos óleos desta

espécie e outras do mesmo género às condições climáticas e/ou edáficas únicas do Arquipélago Açoriano.

O Thymus caespititius Brot., conhecido por tomilho dos Açores e localmente por erva úrsula, é um arbusto

de pequeno porte, rastejante, com flores de cor rosa. Característico de zonas atlânticas húmidas, é uma

planta endémica do NW da Península Ibérica e dos Arquipélagos da Madeira e dos Açores.

A erva ursúla é o único representante do género no arquipélago e é uma das poucas plantas açoreanas que

vão de uma altitude do nível do mar até altitudes elevadas. Esta espécie é também uma das primeiras

colonizadoras em vários tipos de substrato, e é consequentemente considerado como um indicador de

colonizações vegetais recentes.

Figura 1 – Thymus caespititius Brot. – Aspecto da planta e pormenor da flor.

Esta planta, rasteira, forma tufos que se enchem de flores de cor rosa durante os meses de Verão,

apresentando um grande interesse como planta ornamental, em particular em jardins rochosos.

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Possui um aroma com notas cítricas e de pinho, sendo o seu uso como condimentar referenciado, utilizado

em substituição ou em conjunto com o tomilho limão.

Diversos estudos realizados em populações desta espécie nos Açores concluíram que esta apresenta um

elevado polimorfismo químico dos seus óleos essenciais.

Estudos realizados na Ilha de São Jorge detectaram um polimorfismo claro mesmo para as 10 populações

estudadas, assim como estudos realizados em amostras recolhidas no Pico e Faial, sendo nalguns casos mais

evidente em populações da mesma ilha do que entre populações em ilhas distintas. As amostras recolhidas

em populações de São Miguel produziram óleos ricos em carvacrol.

Os autores não encontraram nenhuma correlação entre a composição química dos óleos e as altitudes,

longitudes ou clima, o que leva a considerar que se deverá a variabilidade genética ou à influência de

factores edáficos.

Estudos realizados sobre a composição e actividade oxidante de tomilhos endémicos verificaram que o α-

terpineol era a componente principal do óleo essencial nesta espécie, que apresentava a maior actividade

antioxidante dos tomilhos estudados. Contudo, a amostra foi recolhida no Norte de Portugal, que se

verificou apresentar diferenças em relação aos quiomiotipos das ilhas.

Os óleos essenciais obtidos nas populações do continente são dominados por α-terpineol, enquanto os

isolados de populações dos Açores mostram um notável polimorfismo químico, mas com domínio de

carvacrol e timol nos seus óleos essenciais.

Esta espécie apresenta um levado potencial por explorar, pelo que o desenvolvimento de estudos para

melhor conhecer as suas potencialidades seriam muito oportunos, Neste sentido, procurando avaliar as

condições de propagação e cultivo desta planta, foram instaladas no Centro Experimental das Sete Cidades

alguma plantas multiplicadas a partir de estacas recolhidas em São Miguel.

Sem dúvida que muito existirá para estudar e conhecer sobre as potencialidades da flora açoriana neste

domínio, mas será certamente um linha de trabalho que interessará cada vez mais desenvolver no futuro.

14

3. CULTIVO DE PLANTAS AROMÁTICAS E MEDICINAIS EM SÃO MIGUEL: A EXPERIÊNCIA DAS SETE

CIDADES

Em Dezembro de 2006 foram iniciados os trabalhos de instalação de um campo de plantas aromáticas no

Centro Experimental das Sete Cidades, procurando conhecer a adaptação de diversas espécies de uso

tradicional às condições edafo-climáticas do local. Esta linha de trabalho insere-se numa linha mais global de

estudo de adaptação de diversas espécies agrícolas nas Sete Cidades e nas potencialidades de diversificação

agrícola.

Este trabalho experimental, iniciado pela Eng.ª Clara Estrela Rego, passou pela instalação de 2 parcelas,

protegidas com tela preta e incluindo nesta fase inicial as seguintes espécies: tanaceto, santolina, erva-

principe, alfazema, absinto, consolda, majerona, tomilho vulgar, macela e segurelha. Das observações

realizadas, permitiu-se concluir que o tanaceto não se adaptou de todo à localização, enquanto que todas as

outras permaneceram conseguiram vingar.

Em Março de 2007 realizou-se nova plantação, com a instalação de uma nova parcela, introduzindo novas

espécies como a betónica, Maria Luísa, tomilho bela luz, tomilho serpão, tomilho laranja, tomilho limão,

salva icterina e piretro. Destas, quer a salva icterina quer o piretro não tiveram sucesso, acabando por

morrer na totalidade.

Em 2009 introduziram-se novas espécies, nomeadamente o poejo, orégãos e hortelã-pimenta, que

ocuparam nas parcelas o lugar das plantas que não tiveram sucesso em plantações anteriores.

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Figura 2 – Aspecto geral do campo de plantas aromáticas e medicinais no Centro Experimental das Sete Cidades.

Procurando diversificar as espécies estudadas, instalou-se no ano de 2010 uma nova parcela, novamente

coberta com tela preta para controlo de infestantes, e instalada em camalhão com cerca de 25 cm de altura.

Instalaram-se aqui tomilho limão, do qual existiam muito poucos exemplares no centro, poejo, orégãos, lúcia

lima e tomilho açoriano. A instalação realizou-se com recurso à colocação de estacas semi herbáceas no local

definitivo, num compasso de 0,4 X 0,4 cm. Com excepção da Lúcia lima com uma taxa de sucesso muito

baixa, as restantes espécies pautaram-se por taxas de sucesso muito elevadas.

Infelizmente, das 56 plantas de cada espécie que foram instaladas, uma percentagem aproximada de 40 %

foram alvo de furto, comprometendo uma vez mais a análise dos resultados.

Quer o poejo quer o tomilho açoriano instalados nesta parcela foram recolhidos na ilha. O poejo é uma

espécie que escapou do cultivo e que se encontra naturalizada, tendo as estacas utilizadas recolhidas numa

pastagem situada na Bacia da Lagoa das Sete Cidades. A erva úrsula, ou como muitas vezes é conhecido,

tomilho açoriano, é como, descrito em pontos anteriores, uma espécie da flora açoriana, tendo as estacas

sido recolhidas na Serra Devassa.

Figura 3– Aspecto geral da nova parcela de plantas aromáticas e medicinais instalada no Centro Experimental das Sete

Cidades.

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Contudo, para uma verdadeira análise do comportamento das plantas aromáticas será necessário referir que

a localização do Centro Experimental apresenta alguns desafios ao cultivo de plantas aromáticas.

O primeiro, infelizmente, relaciona-se com o vandalismo e furtos de que o Centro é frequentemente alvo. De

facto, torna-se impossível avaliar de forma rigorosa as produções potenciais e estabelecer um plano de

cultivo, já que sistematicamente são roubadas plantas, levando a que se esteja permanentemente num ciclo

de replantação, originando na mesma parcela e para a mesma espécie a coexistência de plantas de

diferentes idades, para além de um número elevado de falhas.

Por outro lado, as condições edafo-climáticas em São Miguel distanciam-se das condições de origem da

maioria das plantas aromáticas e medicinais utilizadas em Portugal, que recorde-se, são na sua larga maioria

de origem mediterrânea. Esta situação é ainda mais acentuada nas Sete Cidades onde, devido à altitude, as

temperaturas são mais baixas que nas zonas litorais, não ultrapassando uma temperatura média anual de

16ºC, sendo esse valor de 18ºC em Ponta Delgada. Do mesmo modo, a precipitação anual acumulada situa-

se aqui entre os 1400 e os 1800 mm anuais, enquanto em Ponta Delgada se situa abaixo dos 1000 mm.

Do mesmo modo, a proximidade das margens da lagoa determina que os solos se mantenham

permanentemente com teores de humidade bastante elevados o que favorece o desenvolvimento de fungos

do solo, nomeadamente dos géneros Armillaria e Phytophora, que foram já identificados como responsáveis

pela morte de muitas plantas localizadas no campo experimental.

Contudo, apesar dos condicionalismos descritos, que apenas reforçam a necessidade de continuar a

desenvolver estudos locais, é possível identificar espécies de plantas aromáticas e medicinais que parecem

apresentar boas condições de produção nestas condições. Para estas espécies justifica-se um estudo mais

aprofundado no sentido de conhecer as suas potencialidades de um ponto de vista de exploração comercial,

tendo em vista naturalmente um nicho de mercado de dimensão limitada e ligado à actividade turística.

De entre as espécies observadas e que apresentaram melhores condições de adaptação destacam-se: maria-

luísa, poejo, orégãos, tomilho, erva príncipe, manjerona, segurelha e alecrim.

4. PLANTAS AROMÁTICAS E MEDICINAIS COM INTERESSE POTENCIAL PARA CULTIVO

Considerando a informação bibliográfica recolhida e o conhecimento adquirido pela experiência prática, que

foram alvo de tratamento nos pontos anteriores, considerou-se ser útil estudar de forma mais aprofundada

algumas das plantas que se consideram ter maior potencial para uma eventual produção de carácter agrícola

e exploração comercial.

A selecção das plantas efectuou-se tendo por base a informação sobre as plantas de utilização mais

tradicional na ilha e/ou as que apresentaram um bom potencial de adaptação às condições edafo-climáticas.

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Cymbopogon citratus (D.C.) Stapf.sin Andropogon citratus D.C.

NOME VULGAR: erva príncipe, chá-do-príncipe, citronela

HABITAT: Planta vivaz, originária possivelmente do Sri Lanka

ou Índia. Hoje difundida na África tropical, América Central e

região mediterrânica.

A erva príncipe necessita de verões quentes para um bom

crescimento e de boa exposição solar.

PARTES UTILIZADAS: Folhas e óleo essencial obtido destas.

PRINCIPAIS CONSTITUINTES E ACTIVIDADE FARMACOLÓGICA:

O óleo essencial, também denominado essência de

lemongrass, é constituído entre 65 a 85 % por citral.

Possui actividade sedativa, antiespamódica, anti-séptica e

antifúngica, atribuídas ao óleo essencial.

UTILIZAÇÕES:

Em fitoterapia as folhas são usadas em infusões como calmante e em problemas digestivos, especialmente

na flatulência.

O óleo essencial diluído num óleo fixo é usado para aliviar dores musculares e reumatismais. Em

dermatologia, a essência entra em loções destinadas à limpeza das glândulas sebáceas no caso da acne de

grau 1.

O sabor é ácido e parecido com o dos citrinos, com notas apimentadas. È muito popular na gastronomia

asiática, onde são utilizados essencialmente os caules, sendo um ingrediente fundamental na cozinha de

Singapura e parte da península da Malásia.

Na cozinha ocidental adequa-se a todos os pratos de peixe e marisco, em especial santolas e vieiras.

CONDIÇÕES E TÉCNICAS DE CULTIVO:

PROPAGAÇÃO: preferencialmente por divisão dos pés no início da Primavera. O sucesso da instalação da

cultura, nas condições tecnicamente correctas é de 80 a 90 % .

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PLANTAÇÃO: Primavera- Verão. Colocar os propágulos no terreno com a coroa mesmo abaixo da superfície,

cortando o excesso de folhagem. O compasso utilizado pode ser de 30-40 cm entre plantas, com linhas

distanciadas de 90 cm.

CUIDADOS CULTURAIS: sachas e mondas durante a sua produção. Esta cultura é muito sensível às baixas

temperaturas.

Pragas e doenças: Apresenta ataques de ferrugem quando sujeita a temperaturas baixas e/ou noites frias

com orvalho. Nas Sete Cidades é um problema de ocorrência frequente.

Colheita: como normalmente não floresce nas nossas condições, a colheita é realizada quando existe

crescimento suficiente, normalmente quando a planta atinge 40 a 50 cm de altura. Dependendo das

condições climáticas, as colheitas subsequentes poderão ser realizadas depois de 4-6 semanas de

crescimento.

As plantas deverão ser cortadas na base dos crescimentos novos. As folhas deverão ser cortadas antes de

secar, pelo que devem ser mantidas alinhadas durante a colheita. Quando o objectivo é a utilização para chá,

deverá ser cortada em pedaços de cerca de 1 cm antes de secar, o que deverá ser feito a temperaturas

inferiores a 35ºC.

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Foeniculum vulgare Miller

NOME VULGAR: funcho, erva-doce

O funcho é uma das plantas mais antigas e foi utilizada em

medicina pelos egípcios e romanos.

A variedade espontânea no Continente é F. vulgare Miller subsp.

piperitum (Ucria)P.Cout. A subespécie mais utilizada é a F.

vulgare subsp vulgare nas suas veriedades amara (amarga) e

dulcis (doce).

Existe ainda uma variedade de funcho, originária da Macaronésia

e designada por F. vulgare azoricum (Mill.) Thell., caracterizada

por caules mais suculentos e doces e menor concentração de

óleos essenciais, o que os torna facilmente comestível em fresco.

É hoje comercializada com a designação varietal de Florence. Esta

forma da planta é espontânea nos Açores e na Madeira. A sua

abundância está na origem do nome da cidade do Funchal, a

actual capital madeirense

HABITAT: nativo da região mediterrânea, é possível encontrar em

locais ruderalizados, terrenos baldios, campos, bermas de caminhos e estradas. Prefere locais abrigados,

quentes e soalheiros, sendo espontânea e relativamente vulgar um pouco por todo o país.

PARTES UTILIZADAS: as folhas frescas, a raiz e o fruto.

PRINCIPAIS CONSTITUINTES E ACTIVIDADE FARMACOLÓGICA:

O óleo essencial dos frutos do funcho amargo é constituído no mínimo por 60% de anetol e 15% de

fenchanona e 5% no máximo de estragol. O óleo essencial dos frutos do funcho-doce é constituído no

mínimo por 80% de anetol, estragol (máximo 10 por cento), fenchona (máximo de 7,5%) e hidrocarbonetos

monoterpénicos.

As folhas têm acção cicatrizante e anti-séptica local. A raiz possui propriedades diuréticas. Os frutos, devido

ao óleo essencial, têm acção cicatrizante, anti-séptica, antiespamódica e digestiva.

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UTILIZAÇÕES:

Em fitoterapia é utilizada para tratamento de infecções, mau funcionamento do fígado, intestinos, estômago

e má disposição. Utiliza-se a infusão (30 g de sementes para um litro de água) para o tratamento de gases

intestinais, digestão pesada, estômago, sendo ainda indicado para o catarro, constipações e brônquios.

Os frutos têm sido utilizados como carminativos e eupépticos, nas cólicas abdominais e disquinésias biliares

e na flatulência, particularmente úteis nas crianças. Aumentam a produção de leite na amamentação.

A decocção da raiz é um excelente diurético, recomendado para desordens do rim e da bexiga. Diz-se ainda

que é um auxiliar do emagrecimento por acelerar a digestão das gorduras

A sua utilização tornou-se clássica como condimentar para aromatizar peixe e azeitonas. Também comestível

como legume, sobretudo em sopas. Nos Açores é tradicional a utilização das folhas numa sopa elaborada

com feijão e toucinho.

As folhas podem ainda ser utilizadas para aromatizar sopas, saladas e molhos, sendo muito utilizadas para

acompanhar presunto e peixe. A semente de funcho é um dos componentes do pó das cinco especiarias, a

principal mistura de especiarias chinesa, usada principalmente com pratos de carne e criação.

Deve-se usar de preferência o funcho doce, pois a variedade amarga tem maior quantidade de fenchona,

que é tóxica.

Em São Miguel é utilizada para diversos fins, nomeadamente para a prisão de ventre, dores de barriga,

constipações, rouquidão e dores de cabeça.

EFEITOS SECUNDÁRIOS E TOXICIDADE:

Não ultrapassar as doses recomendadas com as sementes, porque pode provocar convulsões.

O óleo essencial não deve ser usado durante a gravidez e em crianças menores de seis anos.

CONDIÇÕES E TÉCNICAS DE CULTIVO:

Propagação: por semente. A germinação faz-se com muita facilidade, podendo ser semeada em local

definitivo.

Cuidados culturais: as mondas e sachas habituais para a manutenção de condições adequadas de

desenvolvimento. As plantas de funcho deverão ser substituídas a cada 3-4 anos.

Pragas e doenças: não são conhecidas pragas e doenças de registo significativo.

Colheita: as folhas colhem-se quando a planta começa a florir. Os frutos são colhidos em Setembro-Outubro.

Quando os frutos adquirem uma coloração verde amarelada devem ser envolvidos com um saco de papel e

conservadas em local quente e arejado até ficarem secas, agitando-as depois para se soltarem.

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Lippia triphylla (L’Her.) Kuntze sin. Aloysia triphylla, Lippia

citriodora L. e Verbena citriodora Cav.

NOME VULGAR: lúcia-lima, maria Luísa, bela-luísa, bela-aloísia,

doce-lima, erva-luísa, limonete

HABITAT: originária da Argentina, Peru e Chile, sendo cultivada

na Europa Meridional. Actualmente Marrocos é o principal

produtor munidal.

Foi trazida para a Europa pelos Espanhóis no século XVIII.

PARTES UTILIZADAS: Folhas e óleo essencial obtido destas.

PRINCIPAIS CONSTITUINTES E ACTIVIDADE FARMACOLÓGICA:

No óleo essencial predomina o citral (30 a 35 %) e menores

quantidades de hidrocarbonetos monoterpénicos, alcóois

terpénicos, cineol, um aldeído sesquiterpénico e β-cariofileno.

Pelo óleo essencial e flavonóides tem acção anti-séptica e anti-

inflamatória.

UTILIZAÇÕES:

Em fitoterapia, as folhas, de aroma muito agradável, são utilizadas em dispepsias hiposecretoras, falta de

apetite, flatulência, cólicas gastrointestinais, gastrites, perda de apetite, flatulência, cólicas gastrointestinais,

gastrites, agitação e insónias.São também utilizadas como um sedativo ligeiro.

Em aromaterapia, o óleo essencial é empregue como espasmolítico e estimulante hepatobiliar. As folhas

secas são um ingrediente inestimável em poutpourris, e utilizadas para almofadas de cheiro ou perfumar

roupa de cama.

È usado na elaboração de perfumes, utilizada dada desde os tempos em que foi introduzida na Europa.

Na culinária é uma companheira natural do peixe e da criação podendo ser utilizada em recheios e

marinadas. O seu sabor vibrante combina bem com carnes gordas, como o porco e pato, em sopas de

legumes. A lúcia-lima também é utilizada para aromatizar sobremesas e bebidas.

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Até há cerca de 100 anos era muito apreciada como planta ornamental de jardim, merecendo lugar de

destaque em qualquer jardim perfumado devido à sua intensa e fresca fragrância de limão.

Em São Miguel é considerada útil para a tosse e canseira, estômago e sistema nervoso.

EFEITOS SECUNDÁRIOS E TOXICIDADE:

Não deve ser usado por períodos longos pois pode provocar perturbações gástricas e até gastrites.

CONDIÇÕES E TÉCNICAS DE CULTIVO:

Propagação: por via vegetativa a partir do enraizamento de estacas, herbáceas ou lenhosas, no Outono ou

Primavera. O sucesso de enraizamento parece ser algo errático.

Plantação: Primavera

Cuidados culturais: sachas e mondas durante o desenvolvimento da cultura. Os arbustos deverão ser

cortados de forma intensa para estimular novos crescimento, erectos e mais vigorosos. Depois da colheita as

plantas poderão necessitar de poda adicional para manter uma forma adequada.

Pragas e doenças: podridão das raízes provocada por humidade excessiva do solo.

Colheita: quando se inicia a floração. Serão possíveis duas e eventualmente 3 colheitas durante a estação.

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Melissa officinalis L.

NOME VULGAR: erva-cidreira, anafa, anafe,

citronela menor, melissa

HABITAT: planta herbácea vivaz, das regiões

meridionais da Europa, Ásia e Norte de África. A

erva-cidreira aprecia condições de humidade e

protecção dos ventos.

È cultivada há mais de 2000 anos.

PARTES UTILIZADAS: Folhas, ramos jovens e óleo

essencial.

PRINCIPAIS CONSTITUINTES E ACTIVIDADE

FARMACOLÓGICA:

Nas folhas encontram-se flavonóides, ácidos fenólicos (no mínimo 4% de ácido rosmarínico), triperpenos,

mucilagens poliurónicas. No óleo essencial predominam os aldeídos monoterpénicos (citral, citronelal, neral

e geranial. O aroma é proveniente do óleo essencial, com cerca de 50% dos aldeídos citral e citronelal.

Possui actividade farmacológica como eupéptico, digestivo e espamolítico, principalmente o óleo essencial,

ligeiramente sedativo, anti-séptico e cicatrizante.

UTILIZAÇÕES:

A principal utilização da erva-cidreira é um chá calmante e relaxante, feito com folhas frescas ou secas. Diz-

se que alivia o cansaço, dores de cabeça e estados de ansiedade, melancolia e insónia.

È um poderoso anti-séptico que estimula o sistema imunitário. Devido ao seu alto teor em timol é um tónico

digestivo e a sua infusão, misturada com mel, é também um eficaz anti-tússico; alivia as dores de garganta e

as infecções das vias respiratórias.

As folhas, principalmente, são usadas na falta de apetite, espasmos gastrointestinais, meteorismo, vómitos e

diarreias.

Em uso externo, as cataplasmas da sua decocção são aconselhadas em dermatoses, reumatismos e

artritismo, e ainda em afecções cutâneas, equimoses e para diminuir o efeito das picadas de insectos.

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Depois de esmagadas, as folhas jovens possuem um perfume fresco e duradouro a limão e um sabor suave

limão-menta. O aroma é subtil e agradável e não é tão penetrante como o da lúcia -lima. As folhas grandes e

mais velhas possuem um sabor bolorento.

Para cozinhar, o sabor de limão menta das folhas frescas complementa os pratos de peixe e de criação em

molhos, recheios e marinadas.

As folhas, dado o sabor semelhante ao do limão, utilizam-se inteiras em ponches, bebidas de frutas, sopas e

saladas. O vinho branco de cidreira é muito apreciado (deixar em contacto por alguns dias 60 g de de folhas

num litro de vinho).

A planta, por ser muito odorífera e nectarífera, é muito visitada pelas abelhas.

Em São Miguel é utilizada para combater as dores de barriga, acalmar os nervos e contra as febres.

EFEITOS SECUNDÁRIOS E TOXICIDADE:

Por vezes o efeito sedativo é antecedido de um curto período de excitação. A ingestão de 2g de óleo

essencial origina manifestações tóxicas, pois já pode provocar sonolência, bradicardia, bradipneia e

hipotensão.

CONDIÇÕES E TÉCNICAS DE CULTIVO:

Propagação: realizada por semente, estacas, caulinares ou radiculares ou por divisão da planta. O sucesso de

germinação das sementes é de cerca de 35%, enquanto o sucesso de enraizamento está entre os 50 e 70%

Plantação: O transplante deverá ser efectuado entre Abril e Maio (. O compasso deverá ser de 20-70 cm na

entre linha e 25-30 na linha. Prefere solos bem drenados, de fertilidade média e em locais com luz directa do

sol.

Cuidados culturais: Sachas e mondas de forma a evitar que as infestantes sufoquem a planta. As plantas

dever se podadas após a floração para encorajar novos desenvolvimentos. A erva-cidreira cresce bastante e

vai espalhar-se rapidamente.

Pragas e doenças: Em algumas condições é afectada por míldio e oídio e ácaros. Nas nossas condições pode

sofrer por vezes ataques de cochonilha algodão.

Colheita: Seca com relativa facilidade, mas infelizmente, perde o seu aroma característico durante o

processo, mesmo a temperaturas baixas. As temperaturas de secagem deverão ser mantidas abaixo dos

30ºC.

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Mentha pulegium L.

NOME VULGAR: poejo, hortelã-dos-Açores, hortelã-pimenta-

mansa

Segundo o historiador Plínio, o poejo era considerado um

purificador da água salobra. Discorióides afirmou que o

poejo provoca a menstruação e trabalho de parto e ainda

que “tem força para aquecer, de emagrecer e de digerir”.

O epíteto pulegium, se derivado de pulex, pode estar

relacionado com a acção insecticida, propriedade que lhe é

atribuída desde há muito tempo, nomeadamente no uso

tradicional do poejo como repelente de pulgas, usado em

fumigações.

Conhecem-se duas variedades de poejo, a erecta (erecta) e

a prostada (decumbens).

HABITAT: É nativa da Europa e Ásia Ocidental. Ocorre em

lugares húmidos, desde o litoral até ao interior, em especial

em zonas húmidas e até encharcados de Inverno, frescas e

ligeiramente sombrias, preferindo solos ácidos. Desenvolve-se em climas temperados a quentes

É frequente em todo o país, inclusive nos Açores.

PARTES UTILIZADAS: As partes aéreas floridas e o óleo essencial destas.

PRINCIPAIS CONSTITUINTES E ACTIVIDADE FARMACOLÓGICA:

As partes aéreas floridas são constituídas pelo óleo essencial (1 a 2%), substâncias amargas, taninos, ácido

fenólicos e flavonóides. O óleo essencial é constituído 60 a 90 % por pulegona, mentona (10 a 20%),

isomentona e outros constituintes em menores quantidades.

As partes aéreas são estimulantes do apetite e da digestão e têm acção espasmolítica. O óleo essencial é

anti-séptico e cicatrizante, em uso externo.

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UTILIZAÇÕES:

Uma infusão (10 a 20 g de poejo para um litro de água) tomada após as refeições torna-se útil nos processos

digestivos, aumentando a secreção de sucos gástrico, intestinal e pancreático, elimina os excessos de gases e

combate as fermentações intestinais.

É ainda utilizado seco em infusões para combater constipações e gripes e como tranquilizante nos distúrbios

menstruais. Externamente, utilizando uma infusão mais concentrada, é útil no combate ao mau hálito ou a

piorreia. É ainda utilizado em inflamações cutâneas.

Em fresco, é comum fresco em pratos da culinária alentejana, nomeadamente caldos, açordas e pratos de

bacalhau. Serve também para aromatizar doces, xaropes e licores.

Excelente repelente, colocado em saquinhos entre a roupa afugenta as traças.

O óleo essencial emprega-se em perfumaria barata, em detergentes e como repelente de insectos.

Em São Miguel é utilizado para acalmar os nervos e para aliviar as dores de barriga.

EFEITOS SECUNDÁRIOS E TOXICIDADE:

O óleo essencial não deve ser administrado por via interna a grávidas e crianças menores de seis anos. A

existência de pulegona e outras cetonas torna a planta hepatotóxica, especialmente o óleo essencial quando

é usado em doses elevadas ou em períodos longos.

CONDIÇÕES E TÉCNICAS DE CULTIVO:

Propagação: realizada por semente ou estacas, caulinares ou radiculares.

Plantação: O transplante deverá ser efectuado até Maio. O compasso deverá ser de 20-70 cm na entre linha

e 25-30 na linha. O poejo prefere solos húmidos de fertilidade mediana.

Cuidados culturais: são dormentes no Inverno.

Pragas e doenças: não se conhecem pragas e doenças dignas de registo.

Colheita: deve ser cortada até ao nível das folhas de qualidade; depois são cortadas mais pela base, de modo

a que os lançamentos venham de baixo, já que os crescimentos originários dos lançamentos são de pior

qualidade.

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Mentha x piperita L.híbrido triplo: Mentha spicata (M. longifolia x

M. rotundifolia) x Mentha aquática

NOME VULGAR: hortelã-pimenta, hortelã-apimentada, hortelã-

de-água-de-cheiro, hortelã-das-damas

HABITAT: Por ser uma planta obtida artificialmente não têm

origem fitogeográfica.

PARTES UTILIZADAS: Folhas, caules jovens e óleo essencial da

parte aérea florida

PRINCIPAIS CONSTITUINTES E ACTIVIDADE FARMACOLÓGICA:

As folhas são constituídas em 1 a 4% de óleo essencial,

constituído por mentol (30 a 55%) e seus ésteres dos ácidos

acético e isovalérico, mentona (14 a 32%) e outros

constituintes em menores quantidades.

As folhas têm acção anti-séptica, tranquilizante suave,

analgésica (sobretudo a nível local e das mucosas do aparelho

digestivo) mais pelo óleo essencial. Pelos polifenóis possui

acção espamolítica, antitússica, mucolítica, expectorante e descongestionante nasofaríngeo. Pelos

constituintes amargos tem acção acção digestiva e eupéptica.

UTILIZAÇÕES:

Em fitoterapia as folhas são usadas para inibir espasmos da musculatura lisa do tracto intestinal, como

colerético e carminativo.

O óleo essencial de hortelã-pimenta é um aromatizante com propriedades anti-sépticas, muito utilizado no

fabrico de dentífricos, rebuçados, pastilhas elásticas e indústria farmacêutica e perfumaria.

Também usada em infusões e como condimento e aromatizante de bebidas.

Em São Miguel é utilizada no combate à tosse e às dores de barriga.

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EFEITOS SECUNDÁRIOS E TOXICIDADE:

Em pessoas sensíveis pode originar nervosismo, insónia e dermatites de contacto. O óleo essencial, por

inalação, pode causar espasmos da laringe e dos brônquios, sobretudo em crianças.

CONDIÇÕES E TÉCNICAS DE CULTIVO:

Propagação: Por via vegetativa, pelos rizomas ou estacas, devido a ser um híbrido estável e infecundo. Deve-

se propagar no início da Primavera e o seu sucesso de enraizamento é aproximadamente de 70%

Plantação: Primavera e inícios do Verão.

Cuidados culturais: sachas e mondas para combater infestantes.

Pragas e doenças: Ferrugem provocada por Puccina menthae, que se manifesta em pequenos pontos ou

crostas sobre as folhas, de cor amarela que depois passa a castanho ferrugem.

O pulgão verde que provoca o enrolar das folhas e nemátodos fitófagos que atacam os rizomas, levando ao

amarelecimento das folhas e potencialmente à morte da planta.

Colheita: Normalmente pode permitir 3 colheitas durante o ano. As plantas deverão ser cortadas logo acima

da camada de folhas amarelas ou descoloradas. Depois da colheita deve ser podada bastante baixa, de

modo a estimular os novos crescimentos a partir dos rizomas.

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Origanum vulgare Hoffm.

NOME VULGAR: orégão, ouregão, manjerona brava,

manjerona-selvagem

Vem do grego oros gano, que significa “alegria das

montanhas”, e deve-se ao aroma intenso desta planta, que

povoa a paisagem montanhosa do Mediterrâneo, dizendo-

se até que levanta o ânimo das pessoas.

Os gregos consideravam o orégão como cura para todos os

males e mesmo o filósofo Aristóteles sugeriu que fosse

utilizado como antídoto contra venenos.

O Origanum virens Hoffgg. et Link com o nome vernáculo

também de orégão, é de carácter mais mediterrâneo, muito

vulgar nos terrenos secos e incultos e margens do campos,

um pouco por todo o País, incluindo os Açores. Distingue-se

do O. vulgare principalmente pelas brácteas das

inflorescências que são um pouco maiores, ovado-

orbiculares, apiculares, membranáceas e verde pálidas. É

usado como a espécie, dado ter uma composição bastante semelhante, embora o óleo essencial apresente

algumas variações qualitativas.

O O. vulgare é mais raro em Portugal que a espécie Origanum virens, havendo alguma confusão entre as

duas espécies.

HABITAT: nativa da Ásia Menor e subespontânea no Médio Oriente. Em Portugal aparece como espontânea

nas margens do rio Minho e noutros locais do Noroeste em locais frescos, com um mínimo de humidade.

Cresce em zonas secas e expostas ao sol. Desenvolve-se em qualquer tipo de solo, desde o nível do mar até

os 3000 m de altitude, preferindo solos pesados, pedregosos e quentes, ricos em matéria orgânica.

PARTES UTILIZADAS: Parte aérea da planta e óleo essencial das folhas.

PRINCIPAIS CONSTITUINTES E ACTIVIDADE FARMACOLÓGICA:

No óleo essencial (0,2 a 1%), predominam os fenóis (cerca de 50%, timol e carvacrol), compostos terpénicos

e sesquiterpénicos.

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É talvez um dos melhores anti-sépticos que se conhecem, devido ao elevado teor de timol, com

propriedades anti-bacterianas e anti-fúngicas.

Em problemas respiratórios como antitússico e em dispepsias pela acção colagoga e carminativa.

UTILIZAÇÕES:

Em fitoterapia usa-se na perda de apetite, dispepsias hipossecretoras, flatulência, cólicas gastrointestinais e

afecção broncopulmonares.

É utilizado como expectorante, no tratamento de problemas respiratórios, como asma e bronquite. Em

infusão, combate a tosse, as dores de cabeça de origem nervosa e a irritabilidade. Possui também

propriedades antiespamódicas e digestivas.

O óleo essencial é utilizado topicamente em inflamações orofaríngeas, na dor de dentes e em fricções no

reumatismo.

Dão essencialmente utilizados uma erva condimentar, sendo muito utilizados secos na cozinha algarvia e

alentejana, nomeadamente nas saladas de tomate e nas sopas de peixe, e em pratos de caracóis e azeitonas.

Também é utilizado em molhos de tomate, massas e pizzas. Em verde é utilizado para fazer um licor

aperitivo e digestivo

O óleo essencial também é usado pela indústria alimentar em molhos e alimentos pré-preparados.

Em São Miguel é usado para combater a tosse e as dores de estômago e barriga.

EFEITOS SECUNDÁRIOS E TOXICIDADE:

O óleo essencial não deve ser administrado, nem aplicado topicamente, a pessoas com alergias

respiratórias.

CONDIÇÕES E TÉCNICAS DE CULTIVO:

Os orégãos adaptam-se a uma gama alargada de condições ambientais, e apesar de alguns autores

Propagação: é realizada através de sementeira, divisão dos pés ou por estaca. A propagação pode ser feita

no Outono ou início da Primavera.

Plantação: na Primavera e inicio do Verão O compasso deverá ser de 20-70 cm na entre linha e 25-30 na

linha.

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Cuidados culturais: Sachas e mondas durante o ciclo vegetativo. Necessita de ser podada fortemente pela

base para estimular o crescimento a partir da base.

Pragas e doenças: não são conhecidos ataques de pragas e doenças dignos de registo.

Colheita: próximo da floração. São normalmente possíveis duas colheitas durante o ano. Os orégãos secam

com facilidade, mas o material murcho danifica-se e escurece facilmente quando manipulado.

A secagem deve ser feita a temperaturas inferiores a 35º.

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Rosmarinus officinalis L.

NOME VULGAR: alecrim, alecrinzeiro, alecrim-da-

terra, rosmaninho

O termo latino rosmarinus significa “orvalho

marinho” e officinalis designa medicinal.

Tem sido utilizado por cozinheiras e boticários

desde os tempos mais remotos. Outrora queimava-

se resina de alecrim para purificar os quartos dos

doentes. Possui um aroma balsâmico canforáceo

característico.

No início do século IX, Carlos Magno no seu

Capitulaire de Villes, incluiu esta erva na lista das plantas essenciais a serem cultivadas nos estados

imperiais. No final da Idade Média continuava a ser utilizada como erva aromática ou incenso.

HABITAT: Litoral mediterrâneo até aos 1400 m de altitude. Vive em zonas secas, áridas e expostas ao sol.

Desenvolve-se em quase todos os tipos de solo, preferindo os calcários e bem drenados. Prefere clima

temperado a temperado-quente. É espontânea em charnecas, matagais e pinhais do centro e Sul do

território continental português.

PARTES UTILIZADAS: Folhas, partes aéreas floridas e óleo essencial destas.

PRINCIPAIS CONSTITUINTES E ACTIVIDADE FARMACOLÓGICA (1):

As folhas e partes aéreas floridas são constituídas em 1 a 2,5 % de óleo essencial e outros constituintes como

taninos e flavonóides, entre outros. O óleo essencial tem α-pineno (até 30%), β-pineno, canfeno, limoneno,

mirceno e cânfora, entre outros. A composição varia de acordo com a região geográfica, sendo clássicas as

variedades seguintes: a cineólica (em que predomina o cineol) característica dos óleos essenciais do Norte

de África, a canforácea (com elevados teores de cânfora) e a com teores de verbenona, ambas mais

características da Península Ibérica.

Tem sido verificado que possui actividade colerética, colagoga, antiespamódica e hepaprotectora, atribuída

aos flavonóides e outros constituintes polifenólicos. Os compostos amargos estimulam as secreções

gástricas.

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O óleo essencial tem acção anti-séptica e, devido à cânfora, acção estimulante sobre a circulação e o sistema

nervoso. Externamente, activa a circulação periférica e é anti-inflamatório.

UTILIZAÇÕES:

Em fitoterapia, as folhas e as partes aéreas floridas normalizam as perturbações digestivas ligeiras associadas

a disfunções hepáticas e flatulência. Actua como tónico circulatório e hipertensor.

Em infusão é eficaz nas depressões ligeiras e nas enxaquecas e cefaleias. A decocção do alecrim, quando

aplicada em compressas externas, estimula a circulação sanguínea, sendo coadjuvantes no tratamento de

reumatismo musculares e articulares, como analgésico e anti-inflamatório nas mialgias, nevralgias e

inflamações osteoarticulares.

È utilizado em banhos para activar a circulação e como anti-reumatismal. Em aromaterapia o óleo essencial

emprega-se para combater a tosse e outros problemas respiratórios, no tratamento da colite, dispepsia e

flatulência.

Na culinária é utilizado em marinadas de caça, carne de porco, vitela e coelho e também para aromatizar

caldos, molhos, omeletes e batatas assadas. Constitui o ingrediente principal da clássica mistura de ervas

secas, conhecida por “Ervas da Provença”

O sabor é fortemente aromático, quente e apimentado, resinoso e um pouco amargo. O sabor do alecrim é

forte e pouco discreto, não diminuindo ao longo da cozedura, mesmo que longa, pelo que deve ser utilizado

com critério.

Favorece a digestão das gorduras.

O alecrim também é muito utilizado como planta ornamental e origina um mel muito apreciado.

Insecticida natural, plantado na horta protege as outras plantas de afídeos. Os ramos de alecrim fresco

colocado entre a roupa defende-as do ataque de traças.

Em São Miguel é utilizado para combater problemas intestinais, dores de barriga, de cabeça e de estômago.

EFEITOS SECUNDÁRIOS E TOXICIDADE:

Pela sua acção hipertensora deve ser evitado por pessoas que sofram deste problema. Doses elevadas desta

planta poderão ser tóxicas.

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CONDIÇÕES E TÉCNICAS DE CULTIVO:

Propagação: estacas com 15 cm de comprimento no mês de Fevereiro, enraizando após cerca de 2 meses.

Plantação: A plantação em local definitivo necessita de uma boa preparação do terreno e estrumação. O

compasso deverá ser de 20-70 cm na entre linha e 25-30 na linha.

Os solos devem ser extremamente bem drenados.

Pragas e doenças: não se conhecem problemas significativos com pragas e doenças.

Colheita: Colher uma vez no final do Verão a inicio do Outono, depois dos crescimentos novos se tornarem

mais resistentes. Se os crescimentos novos forem cortados muito cedo escurecerão quando secos.

O seu foco de regeneração situa-se mais acima, regenerando fracamente na parte mais baixa. Por isso, a

colheita deve ser efectuada de modo a assegurar que quantidade suficiente de folhas é deixada para

regeneração, o que se traduz numa acolheita de cerca de 2/3, deixando 1/3.

A colheita não é mais do que uma poda, e deve ser feita tendo em atenção a forma que se quer dar á planta.

O alecrim deverá ser seco de forma relativamente rápida para manter a cor verde. Se secar muito

lentamente ou com demasiada humidade, tende a adquirir com uma cor acastanhada.

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Thymus vulgaris L.

NOME VULGAR: tomilho, tomilho ordinário, arçanha,

arçã

O termo Thymus deriva da palavra grega thymon,

que significa coragem. De acordo com esta

simbologia, era utilizado na água de banhos dos

soldados romanos para lhes dar mais força e

coragem. Para os gregos, “cheirar a tomilho”

constituía um símbolo de graça e elegância. Já os

egícios utilizavam esta planta para embalsamar,

precisamente porque tinha propriedades

conservantes.

HABITAT: originário da Bacia do Mediterrâneo,

ocorre em zonas secas e áridas de encosta, tanto

em solos calcários como argilosos, preferindo no

entanto, os solos ricos de aluvião e pH neutro. Em

Portugal não surge de forma espontânea.

PARTES UTILIZADAS: partes aéreas floridas e óleo essencial.

UTILIZAÇÕES:

È um poderoso anti-séptico que estimula o sistema imunitário. Devido ao seu alto teor em timol é um tónico

digestivo e a sua infusão, misturada com mel, é também um eficaz anti-tússico; alivia as dores de garganta e

as infecções das vias respiratórias. Em uso externo, as cataplasmas da sua decocção são aconselhadas em

dermatoses, reumatismos e artritismo (Ferreira, M.; Saraiva, I, 2006).

Ao contrário da maior parte das aromáticas, resiste a cozeduras longas e lentas, e usado com discrição,

realça o sabor de outras ervas sem as subjugar em guisados e estufados, já que combina bem com cebolas e

vinho tinto.

Na culinária é indicado para pratos que exigem uma cozedura longa, nomeadamente carnes de caça.

Combina bem com beterraba, cogumelos, pratos à base de massa e/ou arroz. O seu sabor é forte,

sobrepondo-se a todos os outros, pelo que deve ser utilizado com moderação (Ferreira, M.; Saraiva, I, 2006).

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CONDIÇÕES E TÉCNICAS DE CULTIVO:

Propagação: realizada por semente ou estacas, caulinares ou radiculares. O sucesso de germinação é de 70%

a 80% e no enraizamento deve rondar os 70%.

Plantação: O transplante deverá ser efectuado até Maio. O compasso deverá ser de 20-70 cm na entre linha

e 25-30 na linha. Prefere a luz directa mas tolera sombra parcial. Deve ser plantado em solosleves e bem

drenados, de fertilidade baixa a moderada.

Cuidados culturais: Sachas e mondas durante o desenvolvimento da cultura.

Pragas e doenças: sofre por vezes ataques de nemátodos fitófagos nas raízes que levam ao amarelecimento

das plantas.

Colheita: Deve ser colhido no início da floração. O seu foco de regeneração situa-se mais acima, regenerando

fracamente na parte mais baixa. Por isso, a colheita deve ser efectuada de modo a assegurar que quantidade

suficiente de folhas é deixada para regeneração, o que se traduz numa acolheita de cerca de 2/3, deixando

1/3. As colheitas frequentes (2 a 3 vezes ao ano) ajudam a manter a forma.

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