Plataforma Fixa Tipo Jaqueta - Laboratório de Estruturas ... · ... navios e bóias se enquadram...
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PEF – 2506 - Projeto de Estruturas Marítimas PLATAFORMA FIXA TIPO JAQUETA
Como visto, existem os mais variados tipos de plataformas, cada uma com
seus requisitos de projetos.
Neste capítulo será abordada a plataforma fixa tipo jaqueta. Muitos conceitos
aqui desenvolvidos servirão para aplicação em plataformas auto-elevatórias e torres.
As plataformas semi-submersíveis, navios e bóias se enquadram mais na área de
projeto do navio.
Para o projeto estrutural desta plataforma deve-se possuir um sistema que
abranja as mais diferentes áreas de engenharia envolvidas. Vamos dar um
apanhado geral sobre o projeto e análise desta estrutura para que depois
ataquemos cada etapa específica.
O sistema a ser apresentado terá como objetivos básicos o desenvolvimento
de procedimentos para síntese e análise de plataformas de produção, definidas
como estruturas que consistem basicamente de:
I) Uma estrutura tubular chamada jaqueta cujas pernas servem de gabarito
para a cravação das estacas e de contraventamento lateral das mesmas;
II) Estacas que são cravadas no fundo do mar, ancorando a jaqueta, e que
juntamente com ela devem ser projetadas para resistir aos esforços
provenientes das ondas, vento etc.
III) Conveses que se interligam com a jaqueta, sendo a parte realmente útil da
estrutura. (ver fig. 1).
Algumas informações necessárias ao projeto de uma plataforma, podem
assim ser resumidas:
- As finalidades da plataforma, a qual fornece os primeiros elementos para a
concepção da estrutura e que normalmente são: perfuração, produção, sustentação
de poços, habitação, etc., ou combinação destas.
- A área onde se situará a plataforma nos orienta quanto ao tipo e grandeza dos
fenômenos aos quais poderá estar sujeita a estrutura. A localização precisa é
também de grande importância para o levantamento dos parâmetros do solo,
necessários ao cálculo das fundações, para os dados estatísticos dos estados de
mar na região, bem como para uma orientação sobre a escolha da onda de projeto a
ser adotada. Outrossim, é importante conhecer o posicionamento da estrutura em
relação às direções predominantes do vento, correntes e ondas.
- A profundidade da lâmina d’água influirá decisivamente nas dimensões da
jaqueta, métodos de construção e lançamento. Convém lembrar que, em alguns
casos, solicitações estruturais advindas de processos não adequados de
construção, transporte e lançamento podem vir a ser mais críticas que as devidas à
operação em si.
- O número de poços, que dá elementos para a avaliação das áreas de convés
necessárias. Os condutores são responsáveis por grande parte da carga lateral,
devida às ondas e correntes marinhas, sobre a estrutura. Os poços em número
elevado, podem responder por mais de 50% da carga lateral, sendo um fator
importante no dimensionamento da jaqueta e das estacas.
- A altura dos conveses que deve ser maior que a altura atingida pela “maior
onda prevista na área” durante a vida útil da plataforma, dentro de determinadas
probabilidades adotadas no projeto
Como se nota, portanto, o projeto e análise de plataformas requerem o
conhecimento de várias áreas da ciência, tais como: oceanografia, análise estrutural,
mecânica, engenharia de solos, arquitetura , tecnologia de construção etc.
São definidos oito subsistemas, que abrangem todas as fases envolvidas no
projeto, a saber:
- PREPLA – Responsável pela geração de todas as características de
geometria, topologia e rigidez da estrutura.
- CARMAR – Responsável pelo cômputo das cargas impostas pelas ondas,
correntes marinhas,vento e gravidade.
- SOLO – Responsável pelo fornecimento da rigidez do solo nos pontos de
iteração com a plataforma.
- SAP IV – Programa núcleo que, com os dados dos três subsistemas
acima, analisa a estrutura.
- POSPLA – Responsável pela apresentação dos resultados gerados pelo
programa-núcleo.
- JUNTA – Responsável pelo cômputo das tensões agentes nas juntas.
- ESTACA – Responsável pelo projeto das estacas.
- CONSTRU – Responsável pelo desenvolvimento dos procedimentos de
montagem, construção e manutenção da plataforma.
Na figura 2 ilustra-se a organização do sistema, como reunião dos vários
subsistemas. Vamos agora fornecer uma descrição mais clara sobre a função de
cada subsistema.
SUBSISTEMAS
Subsistema PREPLA
A preparação dos dados físicos, requeridos para descrever a estrutura ao
computador, pode tornar-se uma tarefa tediosa e demorada, com o conseqüente
aumento do custo da análise. Todos os usuários de programas de análise matricial
estão familiarizados com o tipo de dados necessários, tais como coordenadas dos
nós, descrição dos membros, propriedades físicas dos elementos etc. O trabalho
torna-se excessivo na análise de grandes plataformas, modeladas por estrutura
reticulada tri-dimensional, onde é comum a ocorrência de 500 a 1000 nós e 1000 a
2000 elementos de viga. O subsistema PREPLA é responsável pela geração
automática e manipulação desses dados, diminuindo muito o custo da análise.
Desenvolvem-se rotinas e técnicas para a descrição dessa espécie de
estruturas de modo a reduzir várias vezes o número de cartões de dados de entrada.
A estrutura deve ser dada de uma forma quase descritiva e o subsistema encarrega-
se de transformá-la em dados “entendíveis” pelo programa-núcleo de análise. Usa-
se também um sistema de plotter para gerar desenhos da estrutura que mostram ao
analista qual o modelo estrutural que vai ser analisado (fig. 3).
Para descrição da estrutura, de modo geral, temos as seguintes etapas
envolvidas:
I) Informações sobre a estrutura, tais como número de pernas, número de
conveses, etc.
II) Dimensões dos vários planos horizontais, necessários à descrição da
topologia.
III) Tabela, de forma codificada, dos tipos de painéis horizontais, verticais e de
condutores, que compõem a estrutura. (fig. 4).
IV) Finalmente, a estrutura é especificada, patamar e patamar, dando-se o
tipo de painel, bem como o tipo de perna e pilar que ocorre entre cada
patamar.
Com esses poucos dados o programa está apto a gerar o modelo estrutural,
fornecendo ao programa-núcleo o grande volume de informações necessárias (ver
figuras de plotter).
Algumas técnicas de modelagem são incorporadas ao sistema, tais como a
simulação da iteração entre os membros coaxiais da perna e pilar, a modelagem dos
condutores seja como elementos que recebem uma grande parcela da carga
proveniente das ondas do mar e correntes descarregando-a sobre a estrutura, seja
como elementos que além disso também colaboram na resistência do conjunto.
Subsistema CARMAR
Este subsistema é responsável pelo cálculo do carregamento sobre a
estrutura (ondas, correntes, vento e peso próprio)
A onda é o fenômeno que normalmente mais solicita a estrutura. O
movimento da superfície do mar é um processo aleatório e a estrutura a cada
instante está sob a ação da superposição de vários tipos de onda. Para
representarmos o fato, teríamos que somar o efeito de cada onda, supor o processo
linear e computar o resultado. Sendo extremamente trabalhoso tal procedimento,
procura-se definir uma onda de projeto, em que se supõe que seu efeito sobre a
estrutura seja o máximo esperado dos estados de mar que possam vir a ocorrer
durante a vida útil da estrutura. A escolha de tal onda é o primeiro grande problema
no cômputo das cargas e depende de dados estatísticos dos estados de mar (e
respectivas alturas significativas de onda) na região onde será instalada a plataforma
(ver figuras 4 de áreas do oceano, levantamento de estados de mar, probabilidade
de onda).
Figura 4.a – Regiões do Globo
Figura 4.b – Número de Ocorrências de Estados de Mar
O programa calcula o carregamento externo agente sobre a estrutura para
várias posições e direções na onda de projeto incidente. É selecionada a posição ou
posições mais desfavoráveis (em combinação com as correntes e vento) usando
determinado critério, por exemplo, aquelas posições que resultem numa máxima
força cortante na base ou momento de tombamento na estrutura. Tais
carregamentos agentes sobre cada elemento de viga são computados a fim de
realizar-se a análise estrutural.
A força da onda nos elementos da estrutura é a soma de duas parcelas: força
de arraste, que de depende da velocidade das partículas d’água e força de inércia,
que depende da aceleração. No caso de fluxo d’água ser perpendicular ao elemento
de viga considerado, a força total é determinada pela equação de Morison:
F = Fa + Fi = ½ Cd ρ D v2 + π/4 Cm ρ D2 a onde:
F = força total por unidade de comprimento
Fa = força de arraste por unidade de comprimento
Fi = força de inércia por unidade de comprimento
Cd e Cm = coeficientes de arraste e de inércia.
O cômputo desses valores para cada caso é um dos problemas mais difíceis
do processo. Depende da rugosidade, da dimensão da forma da secção transversal
da viga, no número de Reynolds, etc. Existem várias pesquisas desenvolvidas nesse
assunto e uma análise detalhada deverá ser levada a cabo para o desenvolvimento
de nosso próprio critério de seleção para Cd e Cm.
ρ = densidade d’água
D = diâmetro externo do caso de tubos (dimensão característica da secção
transversal em outros casos)
v e a = velocidade e aceleração das partículas d’água.
Cada onda é assimilada a um determinado formato e comportamento.
Existem vários procedimentos para escolher uma determinada equação de
movimento às suas partículas. A velocidade e aceleração dependem
fundamentalmente da altura de onda, lâmina d’água e do período, sendo ambas
função do tempo. As várias teorias desenvolvidas de onda são mais ou menos
precisas dependendo dos valores de altura de onda, lâmina d’água e período de
onda de estudo. Como bom guia recomenda-se o uso das curvas da figura 5. Tais
curvas podem ser incorporadas ao programa para uma automatizada seleção da
teoria mais conveniente. Um exemplo de escolha de Cd e Cm nas figuras 5.a e 5.b.
Figura 5 – Regiões de Validade das Teorias de Onda
No caso da velocidade e aceleração não serem perpendiculares à viga, que é
o que geralmente acontece, a equação de Morison está sujeita a várias
interpretações. Esses diversos métodos deverão ser comparados e escolhido
aquele que, no nosso entender, seja mais lógico e satisfatório. Esta é outra das
etapas a ser vencida.
No caso de correntes marinhas, sua velocidade pode ser linearmente
adicionada à velocidade das partículas da onda e computada a força de arraste total.
Procedimentos análogos deverão ser desenvolvidos para o cômputo da força
devida ao vento. O peso próprio é facilmente computado e adicionado aos outros
carregamentos.
O carregamento total é gerado num formato apropriado para ser diretamente
aplicado pelo programa núcleo de análise.
Subsistema SOLO
No projeto e análise de plataformas fixas é usual analisar a estrutura
propriamente dita e a região das estacas dentro do selo como dois problemas
independentes. Isto é natural pois, enquanto a estrutura pode ser associada a
sistema elástico linear, a análise das fundações é de natureza não linear pelo
próprio fato do solo ter esse tipo de comportamento (fig. 6).
Ora, ao “separar” as duas porções, condições de contorno conveniente
devem ser atribuídas na região do “corte”. Isso é feito colocando-se na base da
estrutura elementos de contorno (vigas ou molas) que tenham a mesma rigidez que
o conjunto estaca + solo teria. Mas, devido ao comportamento não linear desse
conjunto, não se sabe a priori qual a rigidez necessária nesses pontos. Daí a
necessidade de um processo iterativo entre o subsistema SOLO e o SAP IV, caso se
necessitem resultados mais precisos. Tal processo pode ser resumido como se
segue:
I) A estrutura é engastada no solo, sendo analisada pelo sistema SAP IV sob
o carregamento advindo do subsistema CARMAR (fig. 2).
II) As reações dos pontos de engastes, advindas de (I) (forças e momentos)
são aplicadas como ação na fundação isolada da estrutura. Neste ponto já
deveremos ter as “curvas” do conjunto estaca + solo, que são encontradas
no subsistema ESTACA. Tais curvas determinam a relação entre esforço
e deslocamento aplicados na região do “corte” das estacas (fig. 7).
Tais curvas podem ser levantadas a partir dos parâmetros físicos do
solo. Existem vários processos para determinar tais curvas, devendo ser
escolhido um deles para uso no nosso SISTEMA. Com o uso dessas curvas
podemos encontrar os deslocamentos para cada estaca na interface com a
estrutura.
III) As reações de (I) e os deslocamentos de (II) permitem-nos determinar
uma “viga equivalente” cuja matriz de rigidez (12 x 12) fornece a mesma
resistência que o conjunto estaca + solo.
IV) A matriz de rigidez dessa “viga equivalente” é adicionada à estrutura e
nova análise é levada a cabo determinando-se um novo conjunto de
reações e deslocamentos. Nesta etapa deve-se utilizar técnicas matriciais
de modo a reduzir o problema para somente computar as reações e
deslocamentos dos nós da interface, reduzindo grandemente o tempo de
processamento e tornando o método economicamente viável.
V) Com as novas reações calculadas em (IV) utiliza-se o mesmo
procedimento de (II), (III) e (IV). O processo é repetitivo até que haja
convergência.
Subsistema ESTACA
Este subsistema além de fornecer as “curvas de resistência” do conjunto
estaca + solo encarrega-se de, a partir das reações finais agentes na interface
estaca e estrutura, dimensionar as próprias estacas, (ver figura 7.a de diferentes
camadas de terreno).
Os cálculos baseiam-se em analisar uma viga contínua (estaca) sobre apoios
(solo) de comportamento não linear (fig. 8). As propriedades desses apoios podem
ser retiradas das características físicas do solo através de um dos processos
existentes na engenharia de solos.
Os resultados da análise dessa viga contínua servem para fornecer as
“curvas de resistência” e os esforços solicitantes nas estacas, propiciando seu
dimensionamento. Portanto, trata-se aqui de desenvolver programas que resolvam
esse problema não linear.
Figura 7.a – Diferentes Camadas de um Terreno
Subsistema SAP IV
Este subsistema é constituído de um programa-núcleo de análise que, a partir
dos dados dos subsistemas já citados, realiza a análise linear do modelo estrutural
da plataforma. O programa nomeado SAP IV, pode corresponder a qualquer outro
programa de análise estrutural. A forma de operação de tais programas é conhecida
junto à comunidade que trabalha na área, evitando-se aqui entrar em maiores
detalhes.
Subsistema POSPLA
Este Subsistema, partindo dos resultados do programa núcleo, tem a
finalidade de apresentá-los de forma facilmente “entendíveis” pelo analista. Entre
suas tarefas podemos citar:
- cômputo das tensões agentes nos membros. Comparação com as tensões
admissíveis. Caso as tensões sejam insatisfatórias, um redimensionamento e
nova análise devem ser levados a cabo.
- desenhos, através de um sistema de plotter, da estrutura deformada; da estrutura
onde estejam assinaladas as vigas cujas tensões são excessivas; vigas onde
haja flambagem, etc.
- listagem dos elementos e materiais da estrutura para ser usada na construção
(Ex.: metros de cada tipo de tubo ou perfis, chapas, peso da estrutura, etc.)
- esforços solicitantes de cada junta da estrutura, para serem usados no
subsistema JUNTA.
Subsistema JUNTA
Em plataformas fixas existem vários tipos de juntas (fig. 9), cujos
componentes básicos estão mostrados na (fig. 10). É nessas regiões onde ocorrem
as máximas tensões. Tem-se constatado a ocorrência de trincas exatamente nesses
pontos. Conseqüentemente, devem essas tensões ser calculadas o mais
precisamente possível.
O modelo de viga utilizado até esta etapa de processo de análise não é capaz
de detectar o nível de tensões nessas regiões. Para tanto, a partir dos resultados de
esforços agentes no contorno da junta e através de um modelo de elementos finitos
de placa em flexão (com comportamento conjunto de membrana) pode-se chegar a
bons resultados, usando-se o mesmo programa-núcleo para resolver o problema de
análise estrutural, (figuras 11, 12 e 13).
Figura 12 – Malha de Elementos Finitos
Figura 13 – Tensão Normal Longitudinal e
Cicunferencial
Apesar desse procedimento resolver o problema, o grande número de juntas, de
vários tamanhos e geometrias, existentes em uma plataforma típica, faz prever um
custo elevado para a análise total. Portanto, deverá ser tentado o desenvolvimento
de um conjunto de equações semi-empíricas para estimar o valor do fator de
concentração de tensões nos diferentes tipos de juntas, sob diferentes tipos de
carregamentos. Do modo geral, para determinar tais equações, cada tipo de junta
terá os parâmetros que governam a distribuição de tensões (diâmetros,
comprimentos, espessuras, ângulos, etc.), variando em uma gama de valores. Para
cada configuração são calculadas as tensões (usando a técnica de elementos
finitos). Análises de regressão convenientes poderão fornecer tais equações. Tal
procedimento vem sendo usado em todo mundo e procurar-se-á, a partir do já
existente, avançar para procedimentos próprios.
Subsistema CONSTRU
Deverão ser desenvolvidos manuais e “know-how” para uso no montagem,
construção e manutenção de plataformas fixas. Alguns problemas, sobre os quais
serão desenvolvidos procedimentos podem ser citados:
- tipos, técnicas e procedimentos de soldagem, principalmente no aspecto de
construção de juntas soldadas. Vantagens e desvantagens dos vários métodos.
- procedimentos para reparos de estruturas offshore. O problema da soldagem sob
a água.
- proteção contra corrosão. Cuidados a serem tomados. Tipos de proteção.
- seleção de materiais e seu tratamento. Uso de aços-liga. Alumínio. Uso de aços
de alta tensão. Aço inoxidável. Seleção do concreto.
- a ocorrência de fissuras em plataformas.Procedimentos para evitar seu
aparecimento. Previsão de sua propagação.