Poema a Meus Avô e Meu Pai

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Poema de um filho ao seu pai e ao seu avô, escrito com rara sensibilidade, descrevendo a saga do avô e o respeito inspirado por ele.

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A meu av e a meu paiEm algum lugar muito longeLonge mais pelo tempo do que pela distnciaUm homem ceifava algodoEm algum lugar j longe no tempoMas bem perto na sua memriaEm um momento bem vivo na minha imaginaoO homem ceifava o algodoEle ceifava o algodo alheio ironia com a qual a vida se vestia naqueles diasComo as pessoas que vestiam suas roupasde algodoAlheias ao suor que vestiamO homem ceifava a vida para vestir o homemA vida ceifava o homem com medo de passar fomeSua alma e seu corpo pendiam em um equilbrio caticoNa qual a alma se embruteciaMas seu filho comeriaE o homem resistia Da maneira que podiaSe sua alma secavaSeu filho no abraavaSua vida passavaSeu filho comiaSua alma brotavaDo algodo que ceifavaUma histria surgiaO homem no choravaO homem no sorriaO homem trabalhavaNo perdia um s diaO homem era espertoNa fora que exibiaNa beleza em estado bruto que vestiaNa fora do seu carterNa histria que escreviaE eu fruto dessa histriaFilho do filho do homemLigados pelo mesmo fioQue nossa histria teceSe uma alma se embruteceA prxima amoleceA minha se sublimaA fome se afastaMas a dor no cessaO fio que foi tecido nos entrelaa Em um lao eterno de afetoUm afeto disfaradoUm afeto preso na alma do homemPreso no medo da fomeUm afeto longe do bvioDemonstrado no trabalho brutoNa fora de um carterNo esforo e na esperanaQue nunca morreu no homemSe materializou no filho do homemE veio morar no meu coraoO homem sobreviveu E minha histria escreveuO homem e o filho do homem escreveram Meu prefcio e me deram A pena para continuarO homem est vivoSua alma est vivaEu posso ver sua almaNaquele andar temerosoNaquele corpo cansadoNaquele riso gostosoNaquele amor calado Que recebo em segredoQue explode entre o medoEm seu andar deslocadoPerdido e ressabiadoCada passo uma perguntaCada gesto uma respostaQue talvez ele no vejaQue talvez ele no saibaO seu olhar to doceUm doce contraste que exalaUm orgulho e uma ternuraque em meu peito se calaCada vez que eu o vejoRecebo o seu abraoComo uma espcie de postalQue foi pro endereo erradoO abrao do homemPertence ao filho do homemE agora se abraamMeio assim sem jeitoA ternura calada no peitoE o n na gargantaA palavra amor ainda espantaJ no cabe em meu peitoA gratido e o respeitoQue tenho por esses homensEu sou o neto do homemEu sou o filho do filho do homemEu sou o filho de um homemE dentro de mim toda essa histria pulsaEm cada segundo a vida desses homens Pulsa em meu coraoAs lgrimas rolam em uma terna homenagemComo folis guiando um bloco de carnavalQue contam uma histriaQue guardo em minha memriaEssa histria sou euEssa histria somos todos nsO homem ainda viveE seu andar deslocadoSeu riso tmido e doceEnche meu peito de orgulhoEu vejo o mesmo sorrisoA mesma doura no olhar de meu paiE sei que carrego em meu sorrisoO sorriso de meu av O sorriso de meu paiMeu olhar so seus olhosCom os quais vejo o mundoDo qual brotam meus versosE nessa fuso de universosMeus olhos tambm so os delesCada olhar um tributoAo amor que sinto por eles Murilo Silveira de Souza.