Curso de Correspondência Oficial Correspondência Oficial (4ª parte)
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POLÍTICAS DE CURRÍCULO PARA A DOCÊNCIA:
RESPONSABILIZAÇÃO, PROTAGONISMO E PROFISSIONALIZAÇÃO EM
QUESTÃO
As políticas de currículo vêm sendo produzidas nas últimas décadas, em diversas
escalas: global/regional/local, intensificando o debate sobre a docência em suas
diferentes dimensões: da formação (inicial e continuada) ao trabalho docente.
Entendemos que a centralidade da docência nas políticas de currículo vem sendo
produzida discursivamente buscando associar o desempenho do professor com o de seus
alunos e da escola na tentativa de reconfigurar os processos de profissionalização
docente. Na produção dessas políticas para a docência destacamos discursos
ambivalentes sobre o protagonismo, a responsabilização e profissionalização docente.
Neste painel, os trabalhos assumem a perspectiva pós-estrutural com a Teoria do
Discurso de Ernesto Laclau e Chantal Mouffe e ainda dialogam com estudos de Stephen
Ball sobre a performatividade e com a abordagem das Redes de Políticas. Trabalhamos
com análise documental de textos políticos de organismos internacionais, secretaria de
Estado Federal, entidade associativa e periódicos acadêmico-científicos. No primeiro
trabalho, analisamos nos discursos de textos políticos da OEI e OREALC-UNESCO os
sentidos de responsabilização docente, destacando a correspondência entre a formação e
o trabalho docente pelos resultados no desempenho dos alunos e da escola em um
contexto de políticas educacionais voltadas para a performatividade (DIAS, Rosanne e
SOARES, Ana Paula). Em seguida, analisamos a formação de professores no âmbito da
política de inclusão na região da América Latina e Caribe promovida a partir dos anos
1990 na produção do que vem a ser significado como protagonismo docente na
produção dos materiais destinados à formação de professores para a inclusão pela
SECADI-MEC (TOMÉ, Claudia). Por fim, focalizamos as perspectivas de professor
reflexivo e dos saberes docentes nos discursos para a formação docente em documentos
da ANFOPE (2010-2012) e em artigos de periódicos da CAPES para analisar os
processos de significação da profissionalização docente (BORGES, Veronica e LOPES,
Alice).
Palavras-chave: Políticas de Currículo, Formação de Professores, Trabalho Docente
XVIII ENDIPEDidática e Prática de Ensino no contexto político contemporâneo: cenas da Educação Brasileira
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FORMAÇÃO E INCLUSÃO NO ÂMBITO DA SECADI: SUBSIDIANDO
O ENSINO PARA PROTAGONIZAR A DOCÊNCIA
Claudia Maria Felicio Ferreira Tomé
UERJ/UERN
Este trabalho situa a formação de professores a partir da reforma educacional
dos anos de 1990 no âmbito da política de inclusão na região da América Latina e
Caribe. Localiza a Secadi como agente de formação e inclusão da diferença no Brasil e
as relações que tornam possíveis essa secretaria produzir e/ou disponibilizar subsídios
na/para formação de professores (as) como agentes de inclusão. A argumentação está no
entendimento de que professor é uma categoria tradutória. Nesse sentido, o objetivo do
trabalho é discutir a formação subsidiada por guias para a produção da categoria
professor protagonista. A problemática se constitui na ambivalência que a produz, pois
se por um lado o professor é visto como agente de mudança no contexto da inclusão,
por outro, ele é o fracassado que precisa de formação para que não seja expulso do
sistema. A investigação recorre a discursos via subsídios disponibilizados pela Secadi e
a dispositivos legais referentes a projetos regionais (Prelac, PPE, dentre outros) e a
redes de políticas. Teoricamente, apoia-se na Teoria do Discurso de Ernesto Laclau
(2013) e nas Redes de Políticas de Stephen Ball (2014). As considerações que resultam
da discussão compreendem que o investimento na formação de um agente protagonista
produz o outro excluído (o fracassado), aquele que ameaça o sistema de ensino. Então,
dizer que o professor é protagonista não encerra a construção subjetiva em torno do
lugar por ele ocupado. Trata-se de uma identidade móvel que por ser movimento,
desloca-se desestabilizando o cenário social para o qual a ideia de um projeto regional
unificado e estável de formação e de professor está em decadência. Entretanto, torna
possível traduções e invenções no campo da formação, da didática e do currículo.
Palavras-chave: Formação de Professores, inclusão em redes, professor
protagonista
Palavras Iniciais: por uma compreensão da tessitura dos fios e desafios em
redes
Neste texto, oriento-me pela compreensão de currículo como política
cultural e, portanto, discursiva (LOPES e MACEDO, 2011) aliada às redes de políticas
(BALL, 2014) e a teoria do discurso (LACLAU, 2013). Assim, os subsídios
disponibilizados pela Secretaria de Educação Continuada Alfabetização, Diversidade e
Inclusão – Secadi são operados nesse texto como produções curriculares conjuntas que
borram as fronteiras local/global, até porque como diz Ball (2014), as redes de políticas
têm operado de forma global produzindo o que ele chama de uma nova forma de
governamentabilidade, criando novas formas de sociabilidade. Produzidos para/na
implementação de programas, projetos e cursos de formação de professores, os
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subsídios permitem, nessa discussão, compreender as relações de agentes públicos e
privados em articulação com redes de políticas no âmbito da Secadi. Nesse sentido, essa
secretaria é aqui compreendida como agente intermediário que se empenha em executar
uma agenda de políticas que aciona o que Ball (2001), chama de tecnologias de políticas
difundidas pela OCDE, quais sejam: mercado, gestão e performatividade. Os subsídios
aqui mencionadas entram em cena como uma espécie de sociabilidade de um
pensamento global que intenta se universalizar por um modus operandi e modus vivendi
dando, portanto, inteligibilidade a esse novo tipo social que se articula e se dissemina
em parcerias (BALL, 2014). Em considerando a teoria do discurso de Ernesto Laclau
(2013), tais relações são vistas, nesse texto, como que apontando para a constituição do
protagonismo docente em redes de políticas. Entretanto, os efeitos que irradiam de tais
relações são pensados na tessitura de um denso e difuso entrançado que apostam no
protagonismo docente como preenchimento do significante inclusão.
Situando a responsabilização conferida ao professor
As redes de políticas figuram desde quando se desenhava os blocos econômicos
na América Latina consubstanciados por um projeto de integração econômica regional,
cujo desdobramento se deu desde a assinatura do Tratado de Assunção em 1991. No
Brasil, essa política apareceu no crivo do Plano Trienal (1992-1994) para o setor da
educação no Mercosul (Mercado Comum do Sul). Entre os objetivos desse plano
podemos encontrar, segundo as intenções do Mercosul, a reforma curricular da
educação básica a educação profissional, a formação inicial e contínua dos professores e
a criação de estratégias para a equidade das políticas educacionais, preocupando-se com
a classe menos favorecida. Todavia, novos objetivos foram elaborados mediante a sua
avaliação, passando a contemplar novas ações para que fosse assegurada uma educação
de qualidade. Dessa política, surgem as demandas dos agentes privados que articulam o
discurso da eficácia empresarial com a justiça social.
Vale lembrar que essa política pode ser localizada no contexto de aprovação do
Projeto Regional de Educação para América Latina e o Caribe – PRELAC e seu Modelo
de Acompanhamento, com vigência para o período 2002-2017. Tal projeto atenta para a
qualidade educacional e volta-se para a desigualdade na distribuição das oportunidades
educacionais e seu impacto em grupos excluídos de pessoas com necessidades especiais,
povos nativos, zonas rurais isoladas, zonas urbanas marginais. Cabe esclarecer que o
PRELAC dá continuidade aos esforços anteriores a nível regional e mundial. Por um
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lado, considera o Projeto Principal de Educação – PPE, que conseguiu estabelecer
prioridades e enfoques comuns nas decisões de âmbito educativo da América Latina e
do Caribe; por outro, o Movimento Mundial da Educação Para Todos (EPT). Atrela-se a
esse, o movimento empresarial Compromisso Todos pela Educação do qual foi criado o
documento Todos pela Educação rumo a 2022.
Não é de admirar que as proposições desse movimento são ratificadas pelo
governo federal através do Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE), assumindo
todas as metas do movimento. Tal plano, configura, pois, um pacto social que chama a
responsabilidade “pais, sociedade, profissionais da mídia, intelectuais, empresários,
sindicalistas e estudantes [como] uma nova forma de exercer seu protagonismo”
(SHIROMA, GARCIA e CAMPOS, 2011, p. 225)). Entretanto, cabe aqui trazer à cena
a responsabilidade atribuída ao professor, que aponta para duas armadilhas já vistas por
Pinar (2014), no contexto de reforma educacional estadunidense. A primeira é a
armadilha intelectual que consiste no aluno depender do professor para aprender. A
segunda, é a armadilha política definida como aquela em que o professor se torna o
responsável pela responsabilidade do aluno. De tal modo, a relação conjuntiva entre o
currículo e o ensino, entre o currículo e a instrução, entre o currículo e a pedagogia,
sugere uma exagerada responsabilidade do professor, cuja formação está atrelada a
redes de políticas. Tal responsabilidade tem impelido o professor a ocupar um lugar de
protagonista.
Protagonismo em redes. Essa é a lógica do Todos pela Educação que fundado
em 2006, faz parte da rede REEDUCA, definida como uma rede latino-americana de
organizações da sociedade civil para educação. Sua filosofia é a de que a educação
básica inclusiva e de qualidade para todos é um direito humano e também uma
estratégia mais eficaz para reduzir a pobreza e para construir sociedades mais justas.
Contado entre um contingente de 14 países, o Brasil faz parte dessa rede através do
Todos pela Educação. Nessa esteira de políticas nacional e internacional, embora o
Todos pela Educação se apresente como uma iniciativa da sociedade civil, na verdade,
constitui-se também como uma rede de política que agrega diferentes agentes,
instituições, empresas e conta com financiamento da iniciativa privada. As parcerias
público-privado no âmbito do Compromisso Todos pela Educação, ganha abertura aos
estados e municípios que assinaram o Compromisso, a partir da elaboração do Plano de
Ações Articuladas – PAR. Como planejamento multidimensional da política de
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educação, o PAR busca materializar as cinco metas do plano que em 2010 se desdobram
em cinco Bandeiras, entre as quais se encontram a formação e carreira do professor.
No entrançado das redes de política: os subsídios da/para formação de
professores
A formação de professores além de ser materializada pelo PAR, é subsidiada por
ferramentas e materiais de natureza pedagógica avaliados pelo MEC, mas elaborados
tanto por instituições ou empresas públicas quanto privadas que se encontram a
disposição no Guia Tecnologias Educacionais. Tal guia é composto pelas tecnologias
pré-qualificadas em conjunto com as tecnologias desenvolvidas pelo MEC. Organiza-se
em seis blocos de tecnologias, tendo na versão 2011/2012, o acréscimo de mais um:
Gestão da Educação; Ensino-Aprendizagem; Formação de Profissionais da Educação;
Educação Inclusiva; Portais Educacionais; Diversidade e Educação de Jovens e Adultos;
Educação Infantil. É possível encontrar nesse guia os materiais e portais de subsídios e
acesso para efetivação dos programas e cursos da Secadi, Tais como: Coleção Cadernos
EJA, Projeto Escola que Protege, Projeto Educar na Diversidade, Projovem Campo –
Saberes da Terra, Prolind, Brasil Alfabetizado, dentre outros. Vale destacar aqui alguns
desses materiais produzidos para subsidiar o ensino através da formação de professores.
Os Cadernos Secad produzidos com o intuito de cumprir a função de
documentar as suas políticas públicas, têm se apresentado como uma publicação de
conteúdo essencialmente informativo e formativo. O Caderno 05 de título Proteger
para Educar: a escola articulada com as redes de proteção da crianças e adolescentes,
declara o trabalho com redes no seu próprio título, posto que relata o Projeto Escola que
Protege, considerando-o instrumento de política pública educacional do Governo
Federal para o enfrentamento dessa questão. Esse projeto faz parte das Redes de
Proteção Integral que compreendem todas as políticas públicas, serviços, instituições,
órgãos e atores voltados para a garantia dos direitos da criança e do adolescente,
mantendo, pois, uma estrutura múltipla, constituída por redes locais ou micro redes
comunitárias. Nessa cadeia de redes o entrançado de fios conta com inter-redes, a saber,
redes espontâneas (voluntários: família, igreja, etc); Rede não-governamental (agentes
filantrópicos, entidades assistenciais, ONGs); Rede de serviços públicos (juizado,
ministério público, agentes comunitários, dentre outros); Redes de serviços privados
(empresas). E mais, para o funcionamento da rede de Proteção, outra rede é acionada
como ferramenta para seu funcionamento. Trata-se da Rede On-line que possibilita a
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padronização de procedimentos básicos no relacionamento entre os atores participantes,
na comunicação permanente com a sociedade que, por vezes, mantém também ligação
com a Rede de Serviços de Ação Continuada – Rede SAC – do Ministério do
Desenvolvimento Social. Esta, mantém abrigos não-governamentais em todas as regiões
brasileiras, financiados majoritariamente com recursos privados.
Na dinâmica de inter-redes, o terceiro volume da Coleção Educação para Todos
que leva o título: Construção coletiva: contribuições à educação de jovens e adultos,
advoga o processo de construção coletiva da EJA, destacado pelo seu próprio título.
Esse volume, não apenas indica o processo de organização dos textos que o compõem,
mas reflete também os caminhos de construção coletiva da política pública nacional de
educação de jovens e adultos, iniciada pela então Secad com seus diversos
interlocutores. Essa publicação é elaborada em parceria com a Rede de Apoio à Ação
Alfabetizadora do Brasil – RAAAB. Tal rede conta com educadores e coordenadores de
programas de educação de adultos, pesquisadores, administrações públicas, movimentos
sociais, sindicatos e outras entidades ligadas à área no Brasil. O texto registra que seus
membros abordam conceitos, informações e experiências que orientam educadores em
suas práticas, servindo para a ação reflexiva desses profissionais, e para análise crítica
das políticas no contexto nacional e local em que a EJA se insere. Além disso,
fundamenta e inspira a elaboração de propostas educativas e exercita o pensar sobre o
fazer pedagógico.
Os quatro volumes de livros paradidáticos sobre indígenas constituindo, pois, a
Série Via dos saberes da Coleção Educação para todos é mais um dos materiais
disponíveis que conta com a participação de agentes públicos e privados. Essa série é
desenvolvida pelo Projeto Trilhas de Conhecimentos: o Ensino Superior de Indígenas
no Brasil/LACED – Laboratório de Pesquisas em Etnicidade, Cultura e
Desenvolvimento/Museu Nacional – UFRJ. A produção advém de uma parceria entre a
Fundação Ford, a Secadi e a Unesco. A Fundação Ford como agente privado se
responsabiliza pelo seu financiamento, através do seu fundo de investimento: Pathways
to Higher Education Initiative – PHE, pelo qual financia projetos para estudantes
indígenas do Brasil, do Chile, do México e do Peru e tem por objetivo fortalecer
instituições educacionais na oferta de formação em nível de graduação a estudantes
selecionados para o International Fellowships Program – IFP (Programa Internacional
de Bolsas de Estudo – IFP), revendo suas estruturas, metas e rotinas de atuação na
América Latina. A Unesco norteia a agenda política e a Secadi implementa o projeto.
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O quarto volume da coleção Educação Para Todos, intitulado “Educação
Popular na América Latina: diálogos e perspectivas” abre o debate sobre a América
Latina quando publica reflexões sobre Educação Popular que vêm sendo produzidas no
âmbito do Conselho de Educação de Adultos da América Latina (CEAAL). Esse
conselho se constitui em uma rede latino-americana de cerca de 200 organizações não-
governamentais, situadas em 21 países. Sendo, pois, um espaço de articulação e
sistematização do movimento da Educação Popular na América Latina reúne grande
parte das instituições e educadores (as) que desenvolvem práticas de Educação Popular
num movimento cíclico que envolve CEAAL e diversos agentes.
Endereçados ao Programa Brasil Alfabetizado e contando com participação de
agentes públicos e privados, o vigésimo primeiro volume da coleção Educação para
Todos intitulado: “Brasil alfabetizado: como entrevistamos em 2006”, contou com o
envolvimento da equipe técnica do Departamento de Avaliação e Informações
Educacionais (DAIE) e da então Secad. Ademais, o processo de debates envolveu
outros setores do Ministério da Educação (MEC) – como o Departamento de Educação
de Jovens e Adultos (DEJA) – e as entidades parceiras responsáveis pela implementação
do Plano de Avaliação. São parceiros: Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea),
Instituto Paulo Montenegro (IPM) e sua mantenedora Ibope/Opinião, Sociedade
Científica da Escola Nacional de Ciências Estatísticas (Science), Associação Nacional
dos Centros de Pós-Graduação em Economia (Anpec), Centro de Alfabetização, Leitura
e Escrita (Ceale). Além disso, conta-se com representantes da sociedade civil, reunidos
em torno dos Fóruns de Educação de Jovens e Adultos, e das Coordenações de
Educação de Jovens e Adultos vinculadas às Secretarias Estaduais de Educação.
Do exposto, as redes de relações constituídas por agentes públicos e privados,
tornam visíveis, através da produção de tais subsídios, um processo constante de
negociação que mobiliza os duplos macropolítica/micropolítica, inclusão/exclusão.
Nesse processo, faz-se notar, ao modo laclauniano, uma sobredeterminação, cujo
sentido não é finalístico. Ocorre por uma espécie de procura e oferta sempre precária e
contingente, posto que ao se aliançarem em redes, os empresários partícipes do
Movimento Todos pela Educação, quando não são interlocutores diretos do Estado,
tornam-se clientes que abraçam a ideia ao mesmo tempo em que ofertam produtos para
efetivação das metas do PDE via PAR. Este se inscreve programas, projetos e cursos
sem completos fechamentos.
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Julgo, portanto, que é nessa dinâmica que as relações tornam possíveis a
produção/subjetivação do professor pelos quais e para os quais subsídios são
produzidos, o que expressa uma espécie de relação política, de sedimentações e
condensações entre diferentes agentes demarcando o ensino, o currículo e os
professores. Afinal, as redes políticas são “um tipo de “social” novo, envolvendo tipos
específicos de relações sociais de fluxos e de movimentos. Elas constituem
comunidades de políticas, geralmente baseadas em concepções compartilhadas de
problemas sociais e suas soluções” (BALL, 2014, p. 29). Na acepção de Ball, “por meio
delas, é dado espaço e novas vozes dentro do discurso da política. Novas narrativas
sobre o que conta como uma „boa‟ política são articuladas e validadas”.
Nesse sentido, sigo o entendimento de Laclau (2013), sobre hegemonia para
dizer que o protagonismo em redes é um investimento na constituição de uma ordem
hegemônica nomeada de inclusão. Vale lembrar que para o autor, tal ordem vai se
constituindo de um discurso particular que consegue ter representação discursiva de
identidades até então dispersas, até porque o Todos pela Educação agrega
distintos projetos e planos nacionais, regionais e internacionais – PPE, PRELAC, PTE.
Todavia, esses projetos são articulados considerando uma disputa discursiva em torno
de uma sociedade mais justa e igualitária, o que envolve governo, sociedade civil e
mercado. Nesse caso, os sentidos que se busca fixar se voltam para o significante
inclusão, uma vez que o Todos Pela Educação tem como filosofia a educação
básica inclusiva e de qualidade para todos. Esta, é defendida como um
direito humano e também uma estratégia mais eficaz para reduzir a pobreza e para
construir sociedades mais justas. Para Ball (2014), trata-se de um empreendorismo
social aliado a nova filantropia na prestação de serviços da educação, o que, ao modo
laclauniano, poderíamos dizer que aponta para condensação de diferentes sentidos no
que toca a inclusão. De outro modo de dizer, essas relações são, para Ball (ibidem),
investidas de antagonismo e interdependência. Ou seja, são as chamadas relações
complexas e mutáveis entre o mercado, o Estado e o setor público. Nesse modelo, é
imprimido ao currículo uma espécie de alinhamento, adequação advindas do mercado e
dos valores do setor privado, consistindo “em um conjunto de tecnologias morais que
trabalham em, dentro e por meio de instituições do setor público e de trabalhadores”
(BALL, 2014, p. 65).
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É nesse sentido que Ball (2014) ao discutir a tessitura das redes, aponta algumas
das que ele chama muitas amarras e relações que funcionam por meio da rede Atlas
Liberty Network, cuja pauta do empreendorismo intelectual está na ordem do dia, o que
se soma ao comprometimento com a liberdade e com um governo limitado. Entre as
muitas organizações que a Atlas apoia, encontra-se o Instituto Liberdade Brasil e o
Instituto de Estudos Empresarias Brasil. Em algumas das setas que a Atlas conecta na
rede, Ball (ibidem) vai trazendo elementos que fazem parte do interior da rede; ou seja,
alguns atores e organizações-chave vão sendo introduzidas e assinaladas. Uma dessas
setas apontam para o Brasil que tem cerca de sete membros brasileiros da Liberty
Network. Nesse entrançado de muitas linhas, são produzidas subjetividades e práticas
institucionais. Nos termos do autor, trata-se de uma performatividade, entendida
também como uma forma por excelência de govermentabilidade neoliberal que produz
efeitos de primeira e segunda ordem na educação.
O efeito de primeira ordem, reorienta as atividades pedagógicas com vistas a um
impacto positivo nos resultados de desempenho mensuráveis para o grupo, a instituição
e nação. Implica conceber o ensino em termos de aprendizagem, o que na expressão de
Pinar (2014), seria insensato, pois imprime ao professor assumir a responsabilidade pela
aprendizagem dos alunos. Vale assinalar que, nos termos dos efeitos de primeira ordem,
a política de inclusão anda pari passu com a ideia de responsabilização dos professores
para com a aprendizagem e consequente inclusão dos alunos. Assemelha-se aquilo que,
segundo Pinar (2014) é defendido, nos Estados Unidos como projeto de nome
“Nenhuma Criança deixada para trás” (No Child left Behind), cuja intenção é explorar a
preocupação com o futuro de filhos de pais negros e pobres, de modo que a escola
assuma a responsabilidade com a aprendizagem dos alunos por meio de exames
padronizados. Esse projeto estadunidense é sublinhado por Ball (2014) ao abordar os
empreendimentos sociais e edu-busineses na prestação de serviços educacionais
privadamente e em nome do Estado de modo a alcançar o seu Millennium Devellopment
Gools e proporcionar acesso em massa a educação básica. Daí resulta a reforma no
currículo que, contextualizando os Estados Unidos, Pinar (2014, p. 211) diz ter sido
substituída pelo que “denominou deforma educativa na qual a peça-chave – seu
currículo – representa um meio para alcançar um fim: os pontos dos alunos nos testes
estandardizados”. Em reverso, o autor entende que em lugar de objetivos para avaliar,
deveríamos pensar no momento histórico, incluindo como o presente se encarna em
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nossas subjetividades individuais e como poderíamos estudar os objetivos através do
conhecimento acadêmico e do diálogo com aqueles que nos rodeiam
O segundo efeito da performatividade apontada por Ball, pode ser visto em
relação a mudança da forma pela qual os professores experienciam o seu trabalho e as
satisfações que obtém a partir dele, o que para Ball (2014), distorce o seu sentido de
propósito moral e de responsabilidade para com seus alunos. Essa lógica aponta para
aquilo que Pinar (2014) chama de conduta docente regulamentada por um processo de
padronização que mina e impede o exercício de autoridade do professor. Entende,
inspirado Christopher Lasch (1978), que essa conduta carreia para “a cultura do
narcisismo”, o que lhe parece exagerada, mas bastante exata. Isto porque sem nenhum
lugar onde esconder-se, muitos se refugiam dentro de si mesmo, incapazes de distinguir
entre si mesmo e o outro e muito menos para participar significativamente da esfera
pública, configurando-se como um pesadelo do presente. Destarte, só é possível o
professor entender sua subjugação no presente se entender que é vítima de uma
misoginia e racismo deslocado e adiado. Com efeito, nos termos de Pinar (2014), a
agencialidade intelectual é preferível à iniciativa empresarial. À parte as preferências, a
discussão em torno do Todo pela Educação aclara que as demandas até então foco das
políticas de reforma dos anos de 1990, rearticulam-se e continuam presentes na agenda
empresarial no setor da educação por meio das redes de políticas no âmbito da América
Latina e Caribe.
Nessa perspectiva, o PRELAC como projeto que dá continuidade ao PPE, torna-
se um importante instrumento no acompanhamento e implementação das metas do
Todos Pela Educação. Em âmbito local, cria-se em 2008 a Rede de Educação para a
Diversidade (Rede), uma parceria da SECADI com a Universidade Aberta do Brasil –
UAB, a chamada rede UAB. Seu foco é fortalecer a educação inclusiva relacionada à
públicos específicos através da disseminação de temas relativos à diversidade. Trata-se,
portanto, de um grupo permanente de instituições públicas de ensino superior dedicado
à formação continuada de profissionais de educação. O seu objetivo é disseminar e
desenvolver metodologias educacionais para a inserção dos temas da diversidade no
cotidiano das salas de aula. Por meio da rede em tela, são ofertados cursos de formação
continuada para professores da rede pública da educação básica em oito áreas da
diversidade: relações étnico-raciais, gênero e diversidade, formação de tutores, jovens e
adultos, educação do campo, educação integral e integrada, ambiental e diversidade e
cidadania. Mais tarde, essa rede se articula também com a Rede Nacional de Formação
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Continuada dos Profissionais do Magistério da Educação Básica Pública
(RENAFORM). A sua finalidade é apoiar as ações de formação continuada de
profissionais do magistério da educação básica. Formada por Instituições de Educação
Superior (IES), públicas e comunitárias sem fins lucrativos, conta também com
Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia - IF que apresentarem seus
termos de adesão. Tem sido por meio da RENAFORM que a Secadi em parceria com as
instituições de ensino superior, oferta cursos em nível de extensão, aperfeiçoamento e
especialização nas modalidades presencial e a distância.
Para Ball (2014), as tecnologias – que são produzidas para tais cursos – são
estabelecidas para superar velhas tecnologias do profissionalismo e burocracia. Assim,
só podemos entender a disseminação do formato de mercado em relação ao papel do
Estado como criador do mercado, e o papel do mercado em relação às necessidades
políticas e econômicas do Estado. Assim, concorrendo para o formato de mercado, a
política educacional do Estado tem colocado a formação continuada como
preponderante em relação a inicial por garantir conhecimento por toda a vida, o que
justifica a ênfase da Secadi à formação continuada, achando-se figurada na sua própria
nomenclatura. No mais, a profissionalização dos professores é reconhecida como
urgente para os organismos internacionais, o que implica numa diversidade de ofertas e
estruturação curricular advinda de forma de organização em áreas ou eixos tecnológicos
que contemplem o setor econômico, industrial, agrícola e serviços tanto na rede pública
quanto privada. Torna-se, portanto, evidente que para a efetivação dos programas e
ações, conta-se com materiais e com a figura do professor adequadamente preparado,
assumindo, pois, o lugar de protagonista.
O protagonismo docente faz, pois, referência ao segundo foco estratégico do
PRELAC, a saber, os docentes e o fortalecimento de seu protagonismo na reforma
educativa para que respondam às necessidades de aprendizagem dos alunos. O
objetivo ligado a tal foco é tornar efetiva a proposta de Educação Para Todos (EPT) e
atender as demandas de desenvolvimento humano da região. Sendo um objetivo de
reforma, o protagonismo expressa uma política de reconversão docente, difundida na
América Latina e Caribe. Daí a corrida por um novo tipo de professor subjetivado como
intelectual que ocupa um lugar de protagonista, o que passa pela ideia aqui discutida no
que afeta a responsabilizar o professor pelos resultados da sua escola à medida que lhe é
requerido articular as políticas internacionais com as nacionais e locais. Trata-se de uma
co-responsabilização, uma vez que o PRELAC (2002), propõe que os professores
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trabalhem em redes e aprendam com o trabalho cooperativo entre pares. Para tanto,
incentiva a criação de redes internacionais, criação de redes de apoio na escola e
subsídios produzidos para/ na formação de professores.
Nessa perspectiva, os professores são objetos de reforma e, portanto, possíveis
de serem reconvertidos a um novo perfil. Assim, de professor obsoleto passa à professor
intelectual e de professor fracassado passa a professor protagonista. Trata-se de
reconverter o professor de empecilho a agente. Nesse contexto, a criação da
Secad/Secadi reitera discursos no que afeta a Reforma Educativa no âmbito da América
Latina e Caribe, fazendo, assim, jus ao protagonismo docente e a mudança educacional,
referente ao segundo foco do PRELAC. Um protagonismo que parece colocar o
professor num entre-lugar diante da ambivalência que se apresenta nesse contexto de
mudanças do século XX para o século XXI. Isto porque, se por um lado é patente a
desvalorização e passividade do professor sem a qualificação exigida; por outro,
reclama-se reconhecimento e valorização, desse mesmo professor, pela política de
reforma. Assim, ao mesmo tempo que o professor é visto como responsável pela má
qualidade da educação é o outro da inclusão, o desejado agente de transformação dos
sistemas educacionais.
Considerações finais: uma questão de tradução
O protagonismo só faz sentido se pensado no marco da reconversão docente via
formação de professores, o que requer co-responsabilidade política com a qualidade
exigida pelos organismos multilaterais. Significa, portanto, abrir mão de um trabalho
individual para um trabalho cooperativo, de uma postura de transmissor de informações
para uma postura reflexiva, autônoma, investigativa, criativa e comprometida com a
mudança educacional. Desse modo, ao passo que o professor é convidado a ocupar esse
lugar através da reconversão pela formação, ele também é o fracassado que precisa ter
acesso a inovação para que não seja expulso do sistema, posto que lhe é delegada a
responsabilidade quanto ao êxito ou fracasso da educação. Trata-se de uma lógica em
que o negado ou o empecilho é também o outro da inclusão – o professor –, o outro que
ameaça o sistema de ensino fazendo com que “com que toda a colonização seja
obrigatoriamente uma negociação com o Outro. O colonizador ao dominar o colonizado
necessita admitir a possibilidade de negociação de sentidos: não posso colonizar quem
eu destruo completamente” (LOPES, 2013, p. 15).
XVIII ENDIPEDidática e Prática de Ensino no contexto político contemporâneo: cenas da Educação Brasileira
3459ISSN 2177-336X
13
O professor. O que dizer? Se as redes de políticas têm produzido uma matriz de
inteligibilidade, vale dizer que o professor vem sendo produzido podendo ser em si
mesmo enquanto tal. Torna-se, pois, problemático pensa-lo a priori. Dizer que é o
protagonista ou o fracassado não encerra a construção subjetiva em torno do lugar por
ele ocupado, o que parece flutuar por entre as demandas da formação, do currículo e do
ensino. Trata-se de uma identidade móvel que por ser movimento, desloca-se
desestabilizando o cenário social para o qual a ideia de um sujeito unificado e estável
está em decadência. Isto posto, se a identidade é móvel, o professor é, pois, uma
categoria tradutória, o que escapa de qualquer determinismo quer seja em subsídios,
quer seja pelo formato que se intenta dar ao ensino, ao currículo e a formação. Trata-se,
por um lado, da impossibilidade de se chegar a um projeto político definitivo. Por outro,
possibilita, no processo de tradução, invenções no campo da formação, da didática e do
currículo.
Referências
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neoliberal. Ponta Grossa: Editora URPG, 2014.
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http://app.crearj.org.br/portalcreav2midia/documentos/declaracaojomtien_tailandia.pdf.
Acesso em: 08 de julho de 2014.
XVIII ENDIPEDidática e Prática de Ensino no contexto político contemporâneo: cenas da Educação Brasileira
3461ISSN 2177-336X
15
POLÍTICAS CURRICULARES PARA FP E A
PROFISSIONALIZAÇÃO DOCENTE: SEDIMENTAÇÕES DISCURSIVAS EM
MARCHA
Veronica Borges (UERJ)
Alice Casimiro Lopes (UERJ)
Apresentamos aqui o resultado de uma pesquisa sobre os discursos nas políticas
curriculares para a formação de professores, com foco nas articulações discursivas sobre
a profissionalização docente nas referidas políticas. Para investigação desses discursos,
foram acessados atas finais das reuniões da ANFOPE, artigos sobre formação de
professores veiculados no site de periódicos da Capes, bem como textos dos livros mais
citados nos referidos artigos. A estratégia teórico-metodológica foi construída por meio
de uma concepção discursiva de política e de currículo, apoiada na teoria do discurso de
Laclau. Defendemos que, por intermédio dessa estratégia, se abrem possibilidades para
compreender como algumas sedimentações se tornam hegemônicas e tendem a
configurar um projeto de mundo. De forma mais específica, interpretamos as
perspectivas de professor reflexivo e dos saberes docentes, abordagens bastante
difundidas no campo das políticas curriculares para formação docente, defendendo que
elas contribuem para o fortalecimento do significante profissionalização docente.
Defendemos ainda que as práticas discursivas da profissionalização docente tendem a
ressoar sentidos em torno da ideia de controle (do) social. Tais sentidos têm importantes
implicações para as políticas curriculares da formação docente, na medida em que,
através delas, há reiteração de práticas amplamente criticadas no campo da Didática e da
Formação de Professores, tais como o tecnicismo e a secundarização do saber dos
professores. Concluímos que operar com categorias que se apoiam na ambivalência
constitutiva pode se constituir como uma estratégia fértil para colocar os sentidos em
marcha e ampliar as disputas de sentidos, sem perder de vista o caráter político dessas
práticas discursivas.
Palavras-chave: discurso, profissionalização docente, currículo.
Na pesquisa aqui apresentada, investigamos e interpelamos certos discursos no
XVIII ENDIPEDidática e Prática de Ensino no contexto político contemporâneo: cenas da Educação Brasileira
3462ISSN 2177-336X
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campo de Formação de Professores (FP), a fim de colocar em marcha a política
curricular nessa área. Em outras palavras, buscamos promover a disputa de sentidos já
consolidados e apontar outras possibilidades de ressignificar as práticas discursivas
curriculares para a formação docente. Investigamos certas sedimentações discursivas e
buscamos apresentar como estas favorecem a instituição provisória e precária de
determinados sentidos para o campo da formação de professores, com foco no discurso
da profissionalização docente. Defendemos que certas noções que compõem a tradição
do campo e tensionam as formações discursivas, quer sejam hegemônicas ou não, vêm
sendo reconfiguradas para bloquear ou possibilitar certos discursos nessa disputa. Vale
ressaltar que se trata da condição política dessas articulações, não havendo nenhum ato
de significação necessário (em si): toda significação é contingencial (LACLAU, 2000).
O aparato teórico-metodológico com o qual operamos “requer lidar ilusoriamente com
uma estagnação da(s) cadeia(s) discursiva(s), mesmo sabendo que uma estagnação não é
real ou jamais entra em curso” (CUNHA, 2015).
Em nossa concepção, construir políticas implica tentativas de instituição
originária do social. Esse movimento constitui bloqueios de várias opções razoáveis (ou
não) que circulam no contexto da tomada de decisão política. Nessa medida, cabe
promover des-sedimentacões visando buscar as contingências que pavimentaram as
condições de possibilidade para que um discurso (prática, imagem, texto, instituição) se
sedimentasse. Essas sedimentações são perspectivas, valores e/ou tradições que se
cristalizam a partir de parcialidades na significação de certos objetos e/ou realidades.
Para Marchart (2009), na sociedade ocidental, operamos com o apagamento da condição
não plena dos objetos/realidades e com a tentativa de fazê-los parecer completos. Nessa
concepção (metafísica) do mundo, o apagamento se dá por meio de uma hierarquia
naturalizadora que dificulta a percepção de que há privilégios nas escolhas políticas,
sempre envolvidas em disputas de poder. Outros princípios metafísicos se fazem
presentes, como a concepção de que a objetividade está dada pela presença (algo “real”
sustenta/justifica certa ideia ou prática) alimentando o realismo. Esse realismo promove
e é promovido pela suposição de transparência da linguagem, associado ao
determinismo que tende a estabelecer relações de causa e efeito biunívocas.
Interpelações do discurso pedagógico às políticas curriculares para FP
XVIII ENDIPEDidática e Prática de Ensino no contexto político contemporâneo: cenas da Educação Brasileira
3463ISSN 2177-336X
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O discurso pedagógico interpela e é interpelado pelas políticas, na medida em
que esse discurso constitui/subjetiva os diferentes atores sociais. É sempre importante
atentar que não se pode definir/estabelecer, ainda que resguardados todos os recortes
teórico-metodológicos, quais práticas discursivas têm força para reconfigurar um
cenário político-social. Ainda assim, consideramos potente esse exercício de
interpretação, no sentido de oferecer outras possibilidades de compreensão que
subvertam a lógica da causalidade e traga os conflitos desses momentos de decisão
política.
Para a investigação proposta, foram acessados atas finais das reuniões da
ANFOPE no período de 2000 a 2012, artigos sobre formação de professores
selecionados no site de periódicos da Capes a partir da palavra-chave profissionalização
docente, bem como textos dos dez livros mais citados nos referidos artigos. A
investigação, contudo, não se circunscreveu ao material empírico selecionado, ainda que
este tenha sido a principal fonte de pesquisa, por entendermos que há várias articulações
discursivas que tangenciam ou até sustentam os discursos acessados via textos
investigados. Operamos uma interpretação privilegiando as cadeias discursivas da
profissionalização docente, a fim de evidenciar as condições de possibilidade de certas
articulações que, muitas vezes, estão silenciadas pela tentativa de total apagamento da
contingencialidade. Por meio desse levantamento identificamos o destaque conferido
aos trabalhos de Schön e Tardif, e a eles nos dedicamos mais detalhadamente.
Investigamos e problematizamos certos discursos pedagógicos que ressoam
outras articulações, num intenso remetimento de significantes para significantes, como é
característico dos processos discursivos. Houve confronto de diferentes discursos que se
apresentam no campo, com pretensões de promover a profissionalização docente, quer
por negarem propostas conservadoras, quer por afirmarem as propostas ditas
progressistas ou por apresentarem possibilidades “concretas” de atuação. Entendemos
que há negociações de sentidos desses discursos e que conhecê-los talvez favoreça o
debate no sentido de produzir outras possibilidades de confronto/subversão do
significante de profissionalização docente.
Não sem razão, é exatamente nas décadas de 1980 e 1990 que as propostas de
formação de professores começam a se referir aos saberes docentes, aos
saberes da experiência, a insistir sobre o(a) professor(a) que reflete sobre a
própria prática e que pesquisa sobre ela (SHULLMAN, 1987; GAUTHIER et
al, 1998; TARDIF, 2003; TARDIF; LESSARD; LAHAYE, 1991;
ZEICHNER, 1995; PIMENTA; GHEDIN, 2000; PIMENTA;
ANASTASIOU, 2002; LÜDKE, 2005), bem como a ressaltar as
competências necessárias ao exercício da docência (PERRENOUD, 2000;
XVIII ENDIPEDidática e Prática de Ensino no contexto político contemporâneo: cenas da Educação Brasileira
3464ISSN 2177-336X
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BRASLAVISKY, 1999), as quais remetem também, de certa forma, aos
saberes circunstanciados. (...) O discurso do(a) professor(a) reflexivo(a), que
se dissemina amplamente no Brasil, presume que o(a) professor(a) deve
refletir e pesquisar sobre a própria prática (GATTI; BARRETO; ANDRÉ,
2011, p. 43)
Esse fragmento destaca alguns desses discursos que se reinscrevem, no campo
pedagógico e no campo de formação docente, evidenciando conceitos os quais também
identificamos ser destacado nos documentos curriculares investigados. Tal recorrência
nos serviu como mais um indício de que estas sedimentações circulam amplamente.
Alguns desses discursos são o foco deste trabalho: professor reflexivo e saberes
docentes. A seguir, apresentamos essas formações discursivas numa busca de
articular/evidenciar os tensionamentos que se empreendem a partir da relação intrínseca
entre discurso pedagógico e as políticas curriculares para a FP.
Professor reflexivo e a epistemologia da prática
Tendo em vista a literatura especializada do campo de formação de professores,
o emprego da noção de reflexividade se sustenta nos trabalhos de Schön (2000)
desenvolvidos por Alarcão (1996, 2001), bem como por trabalhos de Zeichner (1993,
2008) e tantos outros autores que incorporam essa teorização. Este conceito tem sido
discutido amplamente, tanto no Brasil como em diversos países. Schön desenvolve a
noção de professor reflexivo a partir Dewey - ambos inscritos numa filosofia
pragmática.
[a ação reflexiva] implica uma consideração ativa, persistente e cuidadosa
daquilo em que acredita ou que pratica, à luz dos motivos que o justificam e
das consequências a que conduz. Não é, portanto, nenhum conjunto de
técnicas que possa ser empacotado e ensinado aos professores (ZEICHNER,
1993, p. 18).
Entendemos ser construída uma relação que coloca o tecnicismo de um lado e
professor reflexivo do outro. O discurso em defesa da ação reflexiva se fortalece frente
à crítica à ideia de que o professor seria um mero técnico que aplica
conhecimentos/conteúdos produzidos por outros atores sociais, os especialistas, por
exemplo. Os discursos que sustentam essa sedimentação - tanto de um discurso quanto
do outro - implicam binarismos do tipo ativo/passivo, especialista/generalista,
técnico/reflexivo, treinamento e formação docente, reduzindo e naturalizando relações
heterogêneas de maior complexidade. Ressaltamos esse aspecto por entender que a
crítica ao tecnicismo serve/funciona como um aglutinador de ideias, se considerarmos,
XVIII ENDIPEDidática e Prática de Ensino no contexto político contemporâneo: cenas da Educação Brasileira
3465ISSN 2177-336X
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por exemplo, o momento sócio-político da realidade brasileira no momento de
emergência desse discurso. É construído um corte antagônico, no qual o tecnicismo
funciona como aquele significante posto para fora da cadeia de sentidos (LACLAU,
2010), o outro excluído, favorecendo que outros discursos entrem em negociação e se
reconfigurem por oposição a essa prática discursiva.
Uma argumentação enunciada (ALARCÃO, 1996; SCHEIBE, 2002;) é a de que
as perspectivas aplicacionistas desativam a possibilidade de reflexão e tomam os
professores como meros tarefeiros. Alarcão (1996) ainda argumenta que, além disso,
frustram/inibem a condição sine qua non do humano - seu caráter racional.
Por outro lado, a argumentação em prol do professor reflexivo ativa sentidos
acerca da autonomia, associando a capacidade de reflexão docente ao desenvolvimento
da autonomia tanto no aluno como do professor. As ideias da reflexão/autonomia
(SCHON, 2000) focalizam-se no caráter humano e racional dos sujeitos. Ambos os
princípios - reflexão e autonomia - promovem deslizamentos de sentidos da matriz
histórico-cultural que servem bem às concepções pedagógicas que se contrapõem ao
tecnicismo. São elementos presentes-ausentes nos discursos que focalizam na prática
quando se apoiam no binômio reflexão–autonomia e se associam à ideia de que “quanto
maior reflexão maior a capacidade de autonomização” (ALARCÃO, 1996, p. 177).
Defendemos que há vários desdobramentos desse discurso sem que haja uma
superação de uma ideia por outras. De acordo com nossa perspectiva teórico
metodológica, esses processos se dão por deslocamentos e condensações dos
significantes-chave de cada cadeia discursiva. Por exemplo, Alarcão associa reflexão/
autonomização ao conceito freireano de práxis, defendendo ser esse o sentido que
atribui “conscientização como elemento base de uma atitude de questionamento”
(Idem). Para a autora, há uma dimensão formativa e pragmática sustentada na noção de
reflexão. O professor, ao refletir sobre os fundamentos que o levam a agir e ao agir de
determinada forma, estará no comando de sua formação (a autonomia estaria
contemplada). Isso subsidia sua prática em situações outras e tende a ser incorporado ao
seu fazer docente (reflexão sobre a ação).
Exercendo a estratégia de des-sedimentar, destacamos aqui como esse discurso
da reflexividade se apoia também no estabelecimento de relações de causa e efeito,
fixando certos aspectos – como os fundamentos que levarão o professor a agir. No caso
em questão, o fundamento primeiro seria a essência reflexiva do ser humano. Além
disso, argumentamos que a reflexidade apoia-se em universais que atribuem ao ser
XVIII ENDIPEDidática e Prática de Ensino no contexto político contemporâneo: cenas da Educação Brasileira
3466ISSN 2177-336X
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humano a condição primeira - “penso, logo existo”. Essa racionalidade cartesiana
parece estar subsumida no professor reflexivo e reafirmando a dissociação entre res
extensa e res cogitans. No que se refere à ideia de autonomia, esta carreia sentidos
como ser livre, agir por si, destacar-se do outro, por exemplo. Associados, estes
significantes tendem a reiterar posições causalistas, de que haja um fundamento, uma
ordem primeira, a reflexão/razão, da qual derivam outras características.
A nosso ver, a centralidade na ideia de um fundamento primeiro ganha relevo
expondo uma incompatibilidade com o discurso de professor reflexivo. Esse discurso se
enfraquece, perde sua potência, frente ao tecnicismo. Supor (ainda que remotamente)
não racionalidade (irracionalidade) como antagonismo deveria ser algo impensável na
lógica da reflexidade. No entanto, tal relação se apresenta como princípio universal.
Além disso, promove a hierarquização e a secundarização da ideia de práxis (sentido
freireano), um conceito caro à epistemologia da prática, quando subordina todos os
processos à condição de ser reflexivo. Na ideia de práxis, há indissociabilidade entre
teoria e prática com radicalização da dimensão relacional. Cabe indagar como essa
condição se manteria ao afirmar que há um princípio primeiro. A própria argumentação
de Alarcão acerca do conceito de meta-práxis (1996, p. 179) funciona como mais um
indício de que essa abordagem apoia-se em fundamentos fixos/universalizantes. Para
ela, a noção de meta-práxis reflete a indissociabilidade entre reflexão e conhecimento:
Quer para o professor como para o aluno, a reflexão serve ao objetivo de
atribuição de sentido com vistas a um melhor conhecimento e a uma melhor
atuação:
Professor: conhece a tua profissão e conhece-te a ti mesmo como professor
para te assumires como profissional de ensino.
Aluno: conhece a língua que aprendes e conhece-te a ti mesmo como aluno
para assumires como aluno de línguas. (ALARCÃO, 1996, p. 180).
Essas máximas remetem, mais uma vez, à ideia de origem, de busca de um
fundamento fixo, primeiro, essencial – o conhecimento de si – justificam/explicam o
uso da reflexão para conhecer mais e melhor, a partir do entendimento da lógica dos
processos de reflexão singulares de cada sujeito. Essa forte ênfase no indivíduo, em sua
capacidade de reflexão e de autonomia, numa relação consigo mesmo, reforça a crítica
de que essa teoria desconsidera aspectos sociais. Assim, reforçam que os processos de
formação implicam o sujeito num processo pessoal, de questionamento do saber e da
experiência numa atitude de compreensão de si próprio.
(...) Nenhuma estratégia formativa será produtiva se não for acompanhada de
um espírito de investigação no sentido de descoberta e envolvimento pessoal
XVIII ENDIPEDidática e Prática de Ensino no contexto político contemporâneo: cenas da Educação Brasileira
3467ISSN 2177-336X
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e é esta uma das ideias que deve estar na base do conceito de professor-
investigador (ALARCÃO, 1996, p. 181).
Outro sentido, principalmente a partir das incorporações que Alarcão faz de
Schön (2000), baseia-se na tomada de consciência da capacidade de
pensamento/reflexão, dando a ver que isso caracteriza o humano. Há uma
recusa/combate/rejeição, nessa conceptualização, quanto à ideia de que o ser humano
seja um mero reprodutor de ideias e que suas práticas lhe sejam exteriores. Há
reiteração da intencionalidade, de que é possível ter controle sobre as ações.
Zeichner (2008) ressalta a conexão entre a emergência da ideia de professor
reflexivo em oposição à psicologia comportamentalista, que dominava o campo de
formação de professores nos EUA à época.
(...) mudança de foco na formação docente: de uma visão de treinamento de
professores que desempenham certos tipos de comportamento para uma mais
ampla, em que os docentes deveriam entender as razões e racionalidades
associadas com as diferentes práticas e que desenvolvesse nos professores a
capacidade de tomar decisões sábias sobre o que fazer, baseados em objetivos
educacionais cuidadosamente estabelecidos por eles, dentro do contexto em
que trabalham e levando em consideração as necessidades de aprendizagem
de seus alunos (ZEICHNER, 2008, p. 536).
Para o autor, apesar da rejeição explícita à racionalidade técnica por Schön, essa
ideia se mantém forte, havendo muitos exemplos do modelo de racionalidade técnica na
prática reflexiva. Aponta para:
(...) limitação do processo reflexivo em considerar as estratégias e
habilidades do ensino (os meios para ensinar) e exclusão, da alçada dos
professores, da reflexão sobre os fins da educação, bem como aspectos
morais e éticos do ensino (ZEICHNER, 2008, p. 542).
(...) a ênfase clara do foco interiorizado das reflexões dos professores sobre
seu próprio ensino e sobre os estudantes, desconsiderando as condições
sociais de educação escolar (ZEICHNER, 2008, p.542).
(...) Muitos trabalhos sobre ensino reflexivo enfatizam a reflexão que os
professores fazem sobre si mesmos e seus trabalhos (ZEICHNER, 2008,
p.542).
Para ele, há pouca ênfase sobre a reflexão como prática social. Considera que
formação docente reflexiva, que realmente fomenta o desenvolvimento profissional,
somente deveria ser apoiada, se ela estivesse conectada a lutas mais amplas por justiça
social e contribuísse para a diminuição das lacunas na qualidade da educação: “assim
como reflexão docente, o desenvolvimento profissional e a transferência de poder para
os professores não devem ser vistos como fins em si mesmos” (ZEICHNER, 2008, p.
545).
XVIII ENDIPEDidática e Prática de Ensino no contexto político contemporâneo: cenas da Educação Brasileira
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Entendemos que o antagonismo que estabiliza/estabilizou o discurso do
professor reflexivo envolve a rejeição (bloqueio) ao tecnicismo no campo de FP, no
mesmo movimento em que afirma a autonomia docente e o caráter racional/intencional
do trabalho docente. Esse é um discurso hegemônico, havendo expressiva defesa da
ideia de professor reflexivo no campo de formação de professores e que tem sido
utilizado também nos discursos da profissionalização docente (GATTI; BARRETO;
ANDRÉ, 2011; AMARAL; VEIGA, 2002). Outra vertente que se apresenta legitimada
no campo de FP é a exaltação/valorização do saber docente como veremos a seguir.
Saberes docentes: o protagonismo na produção de saberes
Um dos principais aspectos a ser ressaltado no que se refere aos saberes
docentes é que estes não se inserem na lógica da transmissão de conhecimento já
constituídos (TARDIF, 2002). Os saberes docentes focalizam saberes diferenciados com
os quais os professores vão se relacionar de modo também diferenciado. Estaria mais
próximo à ideia de um saber plural decorrente de saberes que se constituem em várias
outras dimensões, tais como saberes profissionais, saberes disciplinares, saberes da
experiência ou saberes curriculares.
Esse discurso advoga pela ideia de que os saberes são elementos constitutivos da
prática docente. Assim, professor ideal
é alguém que deve conhecer sua matéria, sua disciplina e seu programa, além
de possuir certos conhecimentos relativos às ciências da educação e à
pedagogia e desenvolver um saber prático baseado em sua experiência
quotidiana com os alunos (TARDIF, 2002, p. 39).
Tardif afirma que o professor ocupa uma posição desvalorizada, mas estratégica
no campo dos saberes e isso repercute positivamente no campo de FP. Discursos da
profissionalização docente apoiam-se em aspectos distintos: a desvalorização docente, a
desprofissionalização, a emancipação, o déficit da formação docente, a condição de
semi-profissão (FREITAS, 2002; SCHEIBE, 2002; OLIVEIRA, 2010; BRZEZINSKI,
2008). Do ponto de vista dos saberes docentes, o professor ganha uma posição destaque.
Somente o professor (e não o especialista, ou o governo, ou a política curricular),
levando em conta todos os outros saberes em disputa, vai ser capaz de, exercer sua
condição de profissional da interação humana e construir/produzir os saberes de sua
prática (TARDIF, 2002).
Por outro lado, Tardif pondera que os professores, muitas vezes, incorporam os
saberes da formação profissional, os disciplinares e os curriculares, mas sem a devida
legitimidade de sua prática docente. Nesse caso assumem a condição de transmissores
XVIII ENDIPEDidática e Prática de Ensino no contexto político contemporâneo: cenas da Educação Brasileira
3469ISSN 2177-336X
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de saber. Isso retira do professor a condição de produtores de saberes, bem como retira a
condição de ser um profissional com papel legitimado pela sociedade.
Para o autor, muitas vezes, os professores exercem uma relação de exterioridade
com os saberes curriculares, disciplinares, o que recoloca no cenário discursos que
concebem os professores como técnicos/executores/tarefeiros. Afirma ainda que essa
exterioridade também ocorre em relação aos saberes profissionais. Tais saberes
estabelecem uma relação de subordinação às universidades e/ou dos formadores
universitários (atores legitimados para produção desses saberes). Tardif enfatiza que a
legitimidade dos saberes docentes está dada pela ênfase da prática com foco nas
vivências, mas também na concepção de currículo suposto como real (objetivo,
determinado, transparente).
Assim, o professor teria seu saber da experiência reconhecido. Um dos efeitos
disso é a dissociação entre prática e política, e a presunção de que a prática seja um
espaço de implementação de saberes produzidos em outras esferas: a da Universidade,
da política, das disciplinas, dos setores governamentais, etc. Esses efeitos repercutem
negativando sua condição de profissional, por um lado, se consideramos que
enfraquecem sua autoridade e legimidade frente aos outros campos de saber. Por outro
lado, pode operar sua valorização, via exacerbação da prática como locus privilegiado
do fazer docente (alcançável apenas pelo professor de sala de aula).
Destacamos que esse discurso do professor que produz saberes comparece ao
debate da profissionalização docente ao fortalecer a ideia da especificidade do professor
como protagonista de seu fazer e capaz de afrontar a lógica do especialista que retira
dele a possibilidade de exercer esse lugar de destaque. Além disso, consideramos que,
com tal discurso, o professor, com foco em sua condição docente, ganha centralidade,
ampliando-se as práticas discursivas de valorização do seu pensar/agir, de suas crenças,
tradições e valores como aspectos importantes para compreender esse fazer.
Com a compreensão de que há vários elementos educativos que também
informam o fazer docente, um discurso dominante na ANFOPE, por ex., passa por
compreender o exercício da docência não apenas na prática da sala de aula, mas também
na produção dos saberes docentes inseridos num contexto mais amplo:
Na perspectiva da formação de profissionais da educação que sejam capazes
de uma atitude crítica e transformadora diante dos desafios dessa realidade
tem-se construído e defendido a necessidade de uma concepção sócio-
histórica de educador onde a docência seja base de sua identidade
profissional. Historicamente, a ANFOPE defende a formação de um
XVIII ENDIPEDidática e Prática de Ensino no contexto político contemporâneo: cenas da Educação Brasileira
3470ISSN 2177-336X
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profissional da educação que tenha uma referência ampliada do fenômeno
educativo. Que seja capaz de compreender criticamente os determinantes e
as contradições do contexto em que está inserido, assim como, de atuar na
transformação desse contexto e na criação das condições para que se
efetivem os processos de ensino-aprendizagem. [grifo meu] (ANFOPE,
2002, p. 12).
Nessa passagem, no que concerne à profissionalização docente, a ideia de
“docência como base da identidade profissional” tensiona o que se entende por
profissionalização. Traz outro elemento que não se refere apenas à dimensão
epistemológica (natureza dos saberes), mas (tende a) agrega(r) sentidos das dimensões
sociais e políticas. Opera-se um reinscrição, reiteração, remarca desses sentidos
(DERRIDA, 1994) e isso pode contribuir para a construção da identidade profissional
dos professores, baseada na docência, uma prática discursiva que se afirma no campo
como indispensável para o estatuto do profissional docente.
Considerações finais: tentativas de controle no debate da
profissionalização docente
A fim de construir maior amplitude do debate da profissionalização docente,
outras facetas dessa cadeia discursiva foram investigadas, além das que foram discutidas
neste trabalho: o discurso das competências e o de professor como agente de mudança
(cfr BORGES, 2015). Compreendemos que se forjaram convergências de sentidos nas
quais perpassam, em diferentes nuances, a possibilidade do exercício do controle, de
certo poder sobre o outro. Em alguma medida cada discurso, guardadas as
especificidades, propõe/prevê, antecipa um projeto de sociedade. Trata-se de um projeto
que estabelece um fim e, a partir disso, definem-se as possibilidades de atuação. O
discurso da profissionalização docente emerge em campos discursivos advindos de
setores profissionais, como o de médicos e advogados. Nesses casos, há uma estreita
relação entre profissionalismo e controle: manter no cenário um fim a ser alcançado.
Um bom profissional seria aquele que “sabe/conhece/controla” seu ofício.
No caso da docência, outros contextos (contingências) se apresentam para
afastar o professor de um contexto de doação/sacerdócio/boa vontade (Idem) e
aproximá-lo a sentidos de profissionalização. Assim, entram em cena essas cadeias de
sentidos como as de professor reflexivo e saberes docentes, peças-chave na sustentação
do discurso da profissionalização docente no Brasil. De certo modo, rejeitou-se a ideia
de doação/entrega/amadorismo para assumir seus saberes via profissionalização. Ambas
as cadeias carreiam sentidos de controle. No entanto, a profissionalização tende a uma
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3471ISSN 2177-336X
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relação de subordinação aos saberes científicos, de um outro que pode ser a
Razão/reflexão, bem como pode ser representado por saberes legitimados por essa
Razão/reflexão como os saberes especialistas e/ou governamentais. Tanto a ideia de
professor que reflete sobre seu fazer (epistemologia da prática) como os saberes
docentes compõem o campo discursivo da profissionalização docente num movimento
de aproximações sucessivas, mas nunca as mesmas, do sentido de que é possível
antecipar, prever, controlar os processos formativos a fim de chegar num professor
ideal. Biesta (2014), Lopes (2015), Macedo (2014), de modos bem diversos, abordam a
problemática de que há que estar alerta para qualquer tentativa de controle da formação.
Neste caso, isso emerge via formação docente, na tentativa de controlar o que o outro
pode/deve conhecer. Consideramos que se trata de uma luta perdida – os sentidos são
fluidos, deslocam-se incessantemente, no mesmo movimento em que instituem já se
tornam outros – são contingentes, provisórios e precários. Por isso, operamos com a
ideia de “impossibilidade” da formação docente, da sociedade ou de qualquer projeto a
ser definido previamente à luta política (Lopes e Borges, 2015). Todavia, isso não quer
dizer que nada há a fazer. Ao contrário, fortalecer processos de formação que envolvam
disputa de sentidos, sabendo que estes serão fixados contingencialmente, pode ser um
caminho profícuo para as políticas curriculares para FP. Nesse sentido, acompanhar os
movimentos das ideias de reflexidade do fazer docente ou as de valorização dos saberes
docentes, buscando quais as articulações foram forjadas de acordo com seu contexto,
pode contribuir para ampliar o debate no campo da formação docente e de suas
políticas.
Neste trabalho buscamos conexões entre as práticas discursivas que circulam nas
políticas curriculares para FP e a de profissionalização docente. Empreendemos
interpelações aos sentidos eleitos no discurso pedagógico acessados via material
empírico (professor reflexivo e saberes docentes) para recolocá-los em marcha, numa
discussão edificada sob outro ponto de vista. De acordo com nossa investigação,
identificamos um imaginário de controle do outro que perpassa as cadeias discursivas e
ativa sentidos que são/foram bastante rechaçados pelo discurso pedagógico. Um dos
propósitos desta discussão passa por contribuir com o debate compreendendo que a
cada deslocamento/condensação de sentidos outras possibilidades emergem – e a
disputa permanece no horizonte sem possibilidades de alcance de uma redenção final.
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DISCURSOS DE RESPONSABILIZAÇÃO DOCENTE NAS POLÍTICAS
DE CURRÍCULO IBEROAMERICANAS
Rosanne Evangelista Dias (UERJ/UFRJ)
Ana Paula Peixoto Soares (UFRJ)
Resumo
Em textos políticos curriculares, o trabalho docente vem sendo ressignificado diante das
demandas contemporâneas. Em um cenário de intensa produção de políticas para a
educação básica e a formação profissional, em diferentes níveis e modalidades,
discursos sobre a defesa da qualidade da educação e do controle social, têm acentuado
os processos de avaliação externa na educação básica. Entendemos que os discursos que
vêm sendo produzidos e propagados em diferentes escalas, produzem sentidos sobre a
profissão docente tendo como foco o conteúdo de sua formação e atuação. Nesses
discursos, registramos a centralidade da responsabilização do professor pelos resultados
no desempenho dos alunos e da escola. Essa correspondência, entre formação e atuação
docente e o resultado das escolas, assim como dos seus alunos não é um fenômeno
recente, mas já verificado desde os anos 1960 nos Estados Unidos. Neste trabalho,
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analisamos textos políticos Ibero-americanos destacando os sentidos de
responsabilização docente presentes nas políticas de currículo para a região. A produção
analisada foi publicada entre 2008 e 2015, destacando os textos políticos da
Organização dos Estados Iberoamericanos - OEI e da OREALC-UNESCO, em seu
escritório regional para a América Latina e o Caribe. Trabalhamos com a Teoria do
Discurso de Ernesto Laclau e Chantal Mouffe como abordagem privilegiada para a
análise dos processos de articulação e produção dos sentidos sobre responsabilização
nos textos políticos e com Stephen Ball para orientar a discussão sobre a cultura da
performatividade, na qual a educação contemporânea vem submetendo os professores
em busca de desempenhos futuros. Os discursos produzidos nesse contexto defendem
não apenas os resultados dos alunos nas avaliações externas, como também pretendem
avaliar o trabalho docente e o currículo da sua formação.
Palavras-chave: Políticas de currículo; Docência; Responsabilização
Introdução
A produção de políticas de currículo nas últimas décadas tem destacado o papel
protagonista do professor como sujeito responsável pelo alcance do resultado da
qualidade para a educação. Em discursos de governos, organizações não-
governamentais, organismos internacionais, representações mais diversas da sociedade
civil e de movimentos sociais, o protagonismo é central, em especial devido ao papel do
professor frente às necessidades educativas da escola básica contemporânea e as
expectativas de índices de desempenho elevados. Se todos os atores concordam na
figura protagônica do docente, os sentidos sobre esse protagonismo não são os mesmos.
A compreensão e defesa do que vem a ser o protagonismo docente propõe na
centralidade da atuação do professor discussões que envolvem também o currículo de
sua formação e do seu trabalho.
Consideramos as tensões presentes nos discursos que apontam na perspectiva
de políticas de responsabilização docente em diferentes escalas e os possíveis nexos
entre global e local. Defendemos a importância de analisar os textos políticos
produzidos pelos organismos internacionais, considerando o papel catalizador de
políticas que tais organismos exercem em diferentes países da região (DIAS & LÓPEZ,
2006). Na região, destacamos a produção da Organização dos Estados Iberoamericanos
- OEI e da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura –
UNESCO, em especial sua Oficina Regional para a América Latina e o Caribe –
OREALC. Neste trabalho, analisamos em textos políticos dos organismos internacionais
para a região Iberoamericana os sentidos produzidos em torno da responsabilização
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docente. Os textos selecionados para a análise: “Miradas sobre la Educación en
Iberoamérica. Desarrollo profesional docente y mejora de la educación” (OEI, 2013) e
“Antecedentes y Criterios para la Elaboración de Políticas Docentes en América Latina
y el Caribe” (UNESCO, 2012).
Não pretendemos representar na análise dos textos dos organismos
internacionais selecionados a totalidade do pensamento sobre a responsabilização
docente. Nem seria possível tal finalidade por entendermos que os discursos são
produzidos por diferentes sujeitos e envolvem diferentes processos de articulação na
luta pela constituição de uma proposta que venha a se constituir como hegemônica. Os
textos que fazem parte da análise difundem discursos na sua contingência e
parcialidade. Apoiadas pela Teoria do Discurso de Ernesto Laclau e Chantal Mouffe
(2015) para a análise da produção discursiva disseminadas pelos textos políticos,
focalizamos os diferentes sentidos que o significante responsabilização docente assume
nos textos políticos como também nas políticas de currículo do presente,
particularmente associadas ao trabalho docente e o desempenho escolar dos alunos.
Iniciamos o trabalho com uma seção na qual apresentamos os diferentes
sentidos que o termo responsabilização assume em análises de políticas de currículo e
suas relações com a cultura da performatividade desenvolvidas por Ball (1994, 2010) e
Lyotard (2002). Na segunda seção nos dedicamos à análise dos discursos presentes nos
textos analisados, destacando os sentidos que envolvem o significante
“responsabilização” e sua vinculação com as propostas curriculares contemporâneas
para a região Iberoamericana.
Sentidos da responsabilização docente e os vínculos com a avaliação externa
Observamos que os discursos de responsabilização têm interferido
profundamente no cotidiano escolar, no trabalho do professor e na sua formação, à
medida que este profissional passa a ser considerado como o grande responsável, mas
também como principal meio para se reverter o jogo, superar o fracasso escolar e
melhorar a qualidade da educação (BARRETO, 2012).
Para compreender os processos de responsabilização, segundo Ball (2010), é
preciso olhar para as mudanças que ocorreram na própria natureza do Estado, ao passo
que este deixa de ser um Estado provedor para assumir a posição de um Estado
regulador, redistribuindo responsabilidades e introduzindo novas formas de controle.
XVIII ENDIPEDidática e Prática de Ensino no contexto político contemporâneo: cenas da Educação Brasileira
3476ISSN 2177-336X
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Esse discurso pautado na descentralização e na ideia de responsabilidade partilhada
lança-se como alternativa para o até então controle coercitivo, uma vez que as restrições
são substituídas por incentivos e a prescrição dá lugar para a autonomia,
responsabilizável a posteriori (BALL, 1994). Indo ao encontro do argumentado por Ball
(1994), acreditamos que há um discurso polivalente no âmbito do Estado, pois, ao
mesmo tempo em que este liberta, emancipa e empodera os sujeitos, também restringe,
aprisiona e subordina os mesmos.
Entre as novas formas de controle que emergem dessa nova configuração do
Estado, destacamos aquela relacionada à prestação de contas, também conhecida como
accountability. A accountability é um termo comum na esfera econômico-
administrativa, que passou a ganhar espaço no cenário educacional, assim como sua
lógica e seus valores pautados em um modelo de gestão com foco nos resultados
(SCHNEIDER & NARDI, 2015).
Nas últimas décadas, a accountability tem se feito presente nas políticas
educacionais, associada principalmente às avaliações de amplo espectro (dos estudantes,
das escolas e dos professores). A avaliação é uma das suas principais ferramentas e,
portanto, figurando como elemento crucial em seus processos de reforma educacional,
principalmente quando se compreende que o progresso das metas quantitativas
representa a melhoria em termos de qualidade da educação.
A principal evidência da accountability nas políticas educacionais está ainda
restrita ao sistema de avaliação de larga escala. E será pela via da discussão dos testes e
exames estandardizados, que o debate acerca da responsabilização ganha espaço no
cenário educacional da região ibero-americana e em diferentes escalas de produção das
políticas.
As análises de Diane Ravitch (2011) sobre a experiência da política de
accountability norte-americana tem contribuído de modo destacado para esse debate no
campo. Ravitch destaca o quanto essas políticas não só foram como ainda são
questionadas nos Estados Unidos, sobretudo, as suas consequências, que vão desde a
responsabilização e exposição dos professores, com base nos resultados dos testes
estandardizados, até a demissão dos mesmos e o fechamento de escolas com rendimento
considerado “insatisfatório”.
Ainda que autores do campo como Brooke (2006) e Schneider e Nardi (2015)
argumentem que a existência de uma accountability “fraca”, seus desdobramentos nas
escolas, no currículo escolar, no trabalho e na formação docente dão indícios de que há
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3477ISSN 2177-336X
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sim consequências implícitas nessas políticas que nos fazem compreender, inclusive, a
grande resistência da categoria e do movimento sindical dos professores.
Segundo Bonamino e Sousa (2012) podemos mencionar como uma das
consequências supracitadas a interferência das avaliações no campo do currículo. Ao
estipular o que será avaliado, os testes e exames estandardizados, em alguma medida,
pretendem regular o currículo escolar, assim como fomentam discursos em torno da
elaboração de parâmetros e referenciais curriculares e a entrada de materiais
estruturados nas escolas, adotados como política curricular (BONAMINO & SOUSA,
2012).
Consideramos que a responsabilização está estreitamente vinculada ao trabalho
docente, principalmente quando atribui correspondência entre a atuação do professor e o
desempenho dos estudantes, via testes e exames estandardizados (DIAS, 2013). Esses
resultados têm indicado como professores serão responsabilizados, indicando
mecanismos de gratificação e/ou sanção. É ainda por meio desses dados que as políticas
obtêm “respaldo” para elaborarem programas e projetos de formação, que visam
promover a cultura do desempenho e, sobretudo, envolver os docentes na busca por
melhores resultados.
O desempenho, a excelência e/ou a eficiência da prática docente é tomada
subjetivamente, como se fosse de responsabilidade de cada profissional exercer certa
autovigilância para se alcançar uma performance considerada “desejável” (DIAS, 2009;
OLIVEIRA, 2012). Ou seja, o professor é levado a buscar o desenvolvimento
profissional mais por iniciativa própria do que por ações diretas do Estado. Como
argumentado anteriormente (DIAS,2009), a responsabilização está centralmente ligada
aos discursos contemporâneos da profissionalização docente.
De acordo com Ball (2010), tais mecanismos considerados de responsabilização
“forte” podem ser compreendidos ainda, no âmbito da cultura da performatividade. A
cultura da performatividade será a principal responsável pela busca incansável por
desempenho, excelência e eficácia. A presença da cultura da performatividade
(LYOTARD, 2002) nos discursos educacionais enfatiza os processos marcados por
métodos de mensuração e de controle e a responsabilidade. No discurso curricular, a
cultura da performatividade enfatiza a ideia de conhecimento e aprendizagem de caráter
instrumental e operacional, na qual a finalidade da educação passa a ser mais a utilidade
do saber (LYOTARD, 2002).
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3478ISSN 2177-336X
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Nesse contexto, no qual os professores têm atuado, não só há mudanças nas
condições de trabalho, com a sua intensificação, mas também na própria relação destes
com a sua prática profissional. Emergem, assim, novas subjetividades, novos papéis
sociais, novas identidades profissionais, que vão definir o que é ser um bom professor
(BALL, 2010).
Como docentes, somos cotidianamente interpelados pela performatividade e suas
ideias um tanto quanto sedutoras, que dizem respeito à conquista de um bom
desempenho, a melhoria da qualidade profissional e o alcance da excelência. Tais
efeitos agem direta e profundamente no nosso “eu”, nos nossos valores e princípios.
Seus desdobramentos são responsáveis tanto por inflar sentimentos de satisfação e
orgulho, como os de culpa e vergonha. Pode-se dizer, então, que
(...) operamos dentro de uma desconcertante imensidão de dados,
indicadores de performance, comparações e competições de tal modo
que a satisfação da estabilidade é cada vez mais fugidia, os propósitos
são contraditórios, as motivações são borradas e a autoestima é
escorregadia (BALL, 2010, p. 40).
Em contextos nos quais há processos de responsabilização docente, ainda que
tenha sido observado que o professor é o principal sujeito responsabilizável pelo
“fracasso escolar” e o quanto isso tem sido fortemente atrelado à sua formação, não
podemos negar também que este é considerado uma figura central para se obter sucesso
nas reformas e alcançar a melhoria da qualidade da educação. Como defendido
anteriormente (Dias,2013) não há consenso em torno da temática da responsabilização
docente. Se por um lado a expectativa em torno do professor com relação ao
desempenho dos seus estudantes é vista de forma negativa, por outro, ainda há que se
considerar que essa “responsabilidade” tem dado ao professor um papel de destaque, de
protagonismo no cenário educacional, a fim de que este possa assumir cada vez mais,
autonomamente, a tarefa de curriculista (DIAS, 2013).
Discursos da responsabilização docente na região Iberoamericana
A região ibero-americana tem investido, nas últimas décadas, na tentativa de
produção de consensos sobre as políticas de currículo para a região, tendo em vista a
superação dos índices de desenvolvimento educacional que ainda revelam um
contingente de estudantes com problemas no acesso e permanência na escola básica. Ao
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longo das primeiras décadas do terceiro milênio, conferências foram realizadas com o
intuito de pactuar com os ministros de estado da educação as metas que devem orientar
o que vem a ser denominado, a Geração dos Bicentenários. A perspectiva posta nessas
conferências e definidas nos textos políticos da OEI é o de vir a alcançar melhores
resultados até o ano de 2021, quando se comemora o bicentenário da independência de
vários países da região. No caso da UNESCO que envolve Estados-nação que também
fazem parte da região Iberoamericana, agendas políticas também são constituídas
buscando apoiar e fomentar políticas que, na avaliação dos organismos internacionais,
atendam às expectativas de atingir patamares mais elevados de escolarização da
população em idade escolar.
Na produção dos consensos também se fazem presentes, via organismos
internacionais a atuação de lideranças da comunidade acadêmica, muitas vezes ligada a
determinada agenda de governos. Parte dessa comunidade de conhecimento é convidada
a produzir textos que vêm a compor números especiais de publicações no formato de
revistas com o propósito de divulgação de diferentes ideias para a promoção das
políticas para o currículo e à docência na coleção Metas Educativas 2021, da OEIi.
Caracterizamos esse contexto marcado por múltiplas possibilidades de influências que
se fazem presentes nessas políticas, atribuindo a elas também a ação de lideranças locais
na disputa de projetos que são forjados para as diferentes políticas curriculares (DIAS,
2009). Concordamos com Lopes (2004) que os processos discursivos de produção da
política de currículo devem ser analisados nos processos de articulação que envolve a
significação, sempre complexa de ideias, valores e concepções daquilo que constitui o
currículo.
Nos textos políticos analisados, podemos identificar entre as metas e as
estratégias formuladas para o alcance da qualidade da educação o papel central do
professor e da avaliação em um cenário de ênfase no processo de ensino mais do que da
educação, como abordado por Macedo (2012). A docência, é defendida como
protagônica no desenvolvimento do ensino-aprendizagem a partir de um discurso que,
ambivalentemente, busca valorizar o trabalho docente como autoral como também
marcado por formas de controle na atuação, em especial, aquelas voltadas aos resultados
do desempenho dos alunos. Na produção de políticas que estão focadas para os
resultados do desempenho, surge com destaque o conceito de responsabilização nos
textos políticos para a região Iberoamericana.
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3480ISSN 2177-336X
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Nossa compreensão sobre discurso para a análise dos textos políticos envolve
todas as ações e relações que possuem significado social (LACLAU, 2005). Desse
modo, discurso deve ser entendido como prática social articulatória que constitui e
organiza as relações sociais. Analisar discursos implica a compreensão de que neles
estão presentes significados, sentidos e acordos produzidos em torno de determinada
questão e que na sua dinâmica social produz efeitos no contexto social, entre os quais o
de reconhecimento e legitimação, assim como o oposto.
Ao tratar mais especificamente os discursos sobre a responsabilização devemos
destacar como estão envoltos em tensões sobre os diferentes sentidos que advogam para
o trabalho docente no quadro de ambivalência presente nos textos políticos analisados.
A construção de consensos entre diferentes grupos (MOUFFE, 1996), uma importante
finalidade da política, para além de desafiadora, não pode desconsiderar os sentidos
forjados pelos grupos e sujeitos que articulam suas propostas curriculares em busca de
legitimidade.
A responsabilização vem sendo expressa nos textos políticos analisados na
tentativa de definir novos papeis para a docência diante das novas exigências e metas
que vem sendo definidas nas políticas curriculares para a educação básica. Tais políticas
têm no professor a figura central para que alcancem êxito e estão marcadamente
definindo-se em torno de sentidos de controle de desempenho. O sentido da
responsabilização via correspondência entre desempenho docente e discente podemos
verificar em texto da UNESCO (2012) afirmando que “La evidencia disponible apunta a
que los maestros son la clave para el buen desempeño de alumnos, escuelas y sistemas”
(PISA, 2009; OCDE, 2009; MOURSHED, CHIJIOKE Y BARBER, 2010 apud
UNESCO, 2012, p. 59). Associando o desempenho do professor via trabalho docente e
o resultado dos alunos, especialmente em processos de avaliação externa a
correspondência produzida discursivamente indica uma postura por parte do docente
colocando-o no lugar de quem é o responsável pelo fracasso ou sucesso dos alunos.
Hay consenso en que el trabajo de los maestros es crucial para la
calidad de los aprendizajes que alcancen los estudiantes, pero
identificar a los maestros eficaces, distinguiéndo-los de manera
confiable de los que no lo son, sigue siendo uma tarea no resuelta
(OEI, 2013, p.225).
No trecho destacado anteriormente, podemos verificar como ainda está
presente a ideia de um perfil profissional projetado para a docência, a despeito dos
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próprios textos políticos defenderem a singularidade da profissão e a necessidade de os
professores atenderem às diferentes demandas sociais presentes na escola básica
contemporânea (OEI, 2013, UNESCO, 2012). Como nos anos 1960 algumas pesquisas
buscavam identificar o que seriam os bons professores, baseado nos resultados de seus
alunos conhecendo o que eles eram e o que eles faziam, os textos políticos analisados
voltam a defender a necessidade de desenvolvimento de estudos do que vem a ser um
“bom professor” ou “professor eficaz”. Para além das recontextualizações com os
cenários atuais das políticas de currículo para a formação docente, verificamos nessas
proposições vínculo com as teorias de currículo influenciadas pela eficiência social que
marcou muito o trabalho docente e o currículo da sua formação. Nesse discurso o foco
está fixado no desempenho e comportamento do professor buscando a construção de
modelos de avaliação do trabalho docente, envolvendo seus conhecimentos e suas
práticas (OEI, 2013).
Punto de partida indispensable para uma buena evaluación de
docentes es uma definición precisa de lo que es un buen docente; solo
después habrá que buscar las mejores formas de obtener información
sobre el grado en que el trabajo de ciertos maestros reúne o no los
rasgos identificados (OEI, 2013, p.234).
Nos marcos de uma cultura de performatividade, como desenvolvido por Ball
(1994, 2010), os sentidos da responsabilização nos textos analisados, estão marcados
também pelo o que vem a ser a necessidade de definição de “una identidad professional
basada en lo que debe saber y poder hacer un docente, en general y de acuerdo a su
respectiva área de especialización (UNESCO, 2012, p.112). Fortalecem discursos pela
autoregulação dos docentes voltados não apenas aos aspectos de sua carreira e estatuto
profissional como também do seu desempenho “que orienten y regulen su quehacer,
cuestión sobre la cual no se han encontrado mayores evidencias en la Región y que
debiera ser un norte de su quehacer y desarrollo futuros (UNESCO, 2012, p.113). Tal
perspectiva vem corroborar com a centralidade da prática como conteúdo de formação
privilegiado vindo por vezes a antagonizar com aspectos teóricos da formação docente.
Los resultados insatisfactorios y, muchas veces, decrecientes de la
calidad de la educación publica, dramatizados por los resultados de las
evaluaciones comparativas internacionales, han llevado em muchos
países a la creación de sistemas externos que buscan influenciar y
conducir las atividades docentes desde afuera (UNESCO, 2012,
p.110).
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Entre as proposições defendidas para a docência comprometida e responsável
com o desenvolvimento das metas educacionais encontramos o investimento em
mecanismos de avaliação do trabalho docente. Embora o documento da OEI (2013)
aponte para uma diversidade de experiências que dão conta de uma variedade de
situações em que o trabalho docente pode ser avaliado, notamos uma tendência na busca
de um consenso em torno de um processo de caráter externo, a exemplo dos exames de
avaliação praticados nas escolas básicas, tendendo a um modelo denominado de valor
agregado que combine resultado da avaliação do trabalho docente (como aplicação de
provas e instrumentos de observação) e dos alunos dos respectivos professores em
avaliações externas. No texto da UNESCO (2012) a avaliação do magistério constitui-se
um paradigma para a responsabilização docente articulado discursivamente com a
concepção de que tais ações acarretam “la mejora de la calidad de la enseñanza” (p.88).
Um aspecto discursivo que merece debate no âmbito da produção das políticas
de currículo para a formação docente é destacado no texto da UNESCO (2012) ao
apontar que na Finlândia o sucesso escolar não é resultado de processos de avaliação
externa de docentes ou dos nentros de formação, mas “se basa en la confianza sobre el
docente y su profesionalidad” (p.88). Diante de tal posição afirmamos que a falta de
confiança no professor, intensificada com as políticas que pretendem controlar o
trabalho docente via currículo da escola básica e desempenho de alunos e professores
produzem discursivamente sentidos que, ao invés de valorizar aspectos autorais e
autônomos do magistério, acabam por desqualificar seu trabalho naquilo que tem de
mais singular.
Conclusões
A articulação de discursos de responsabilização nos textos políticos
Iberoamericanos tende a fortalecer a correspondência entre o desempenho docente e
discente, fixado muito mais nos resultados de avaliações externas do que propriamente
nos mecanismos de valorização do profissional docente nos projetos educativos
envolvendo as comunidades nas quais atua, embora os textos políticos apontem na
necessidade dessa valorização. Contudo, nas metas apresentadas o foco predomina no
desempenho da prática docente que valoriza resultados do desempenho escolar dos
alunos expressos nos exames externos de diferentes escalas.
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Podemos concluir que os discursos produzidos e difundidos pelos organismos
internacionais que atuam em países da região Iberoamericana reconhecem as diferenças
existentes entre os Estados-nação, mas tendem a buscar uma medida que padronize
condutas como a avaliação dos professores de modo a projetar papeis para a profissão
docente. Na busca de um consenso possível, como defendido por Mouffe (1996) as
tensões estão colocadas nos diferentes cenários do trabalho docente que pretende
afirmar-se nas ações que envolvem processos de responsabilização.
A necessária responsabilidade pela atuação docente no desenvolvimento do
trabalho nas escolas nos diferentes níveis e modalidades de ensino é algo indiscutível.
Defendemos o compromisso social dos professores com seu trabalho que envolve a
formação cultural de seus alunos. O que criticamos nos discursos analisados é o modo
como os sentidos do que constitui ser docente vem atribuindo à profissão cada vez mais
uma responsabilidade que acarreta individualismo, competitividade e autoregulação em
detrimento de princípios mais coletivos e solidários que envolvem a finalidade da
educação. Tais processos de formação e atuação docente que vêm sendo difundidos de
diferentes modos, via políticas de currículo e avaliação merecem nossa reflexão para
que possamos pensar o quanto estamos nos submetendo às regras performativas e
atuamos como produtores na cultura da performatividade, como analisado por Ball
(1994, 2010) e Lyotard (2002).
Em nossa análise partindo da Teoria do Discurso é possível articular novas
análises da responsabilização docente que, de forma ambivalente, tenta mobilizar a
docência para sentidos do compromisso social com o êxito dos estudantes na educação
como também os sentidos de controle de resultados dos desempenhos acompanhados
por processos de mensuração da avaliação externa. Uma disputa de sentidos que merece
uma incessante discussão dos diferentes setores envolvidos com a responsabilidade
social da educação para além dos seus agentes mais diretos.
Este trabalho pretende contribuir nesse debate considerando a contingência e
parcialidade da discussão aqui proposta e a impossibilidade de uma representação de
todos os sentidos possíveis nos textos analisados. Defendemos que na luta política o
embate sobre as definições sobre a responsabilização docente que vem sendo
significadas nas políticas possam vir a ser desconstruídas e significada em novos
processos de articulação discursiva por todos os envolvidos na lutam pela educação.
i Esse e outros textos políticos citados ou utilizados neste trabalho encontram-se disponíveis no
site da OEI: http://www.oei.es/metas2021/index.php
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