PONTE DE FUGA #1

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Begemott - deviantart.com/art/to-the-beach-359177698 -- Garfield - Jim Davis FANZINE DE DESPEJOS CULTURAIS – N.º 1 – JANEIRO DE 2014

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Fanzine de divulgação de artistas amadores nas áreas de desenho, BD, ilustração, escrita e outras artes.

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Begemott - deviantart.com/art/to-the-beach-359177698

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Garfield - Jim Davis

FANZINE DE DESPEJOS CULTURAIS – N.º 1 – JANEIRO DE 2014

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Horas de corda

Ali num canto da velha sala repleta de relógios derretidos e moles. Peço um minuto de silêncio… Desperto dum sonho onde relógios moles agarravam-se a mim. Um deles disse-me: «Vive cada segundo, pois o tempo é egoísta e está sempre com pressa». Horas impróprias que contemplo. O tempo será perfeito? Será que sofre ou ama? Insana a minha mente, pois os relógios são estátuas dum mundo normal. Os ponteiros enlouqueceram, foram fracções de vida. Um deles diz-me que tenho de dar corda ao amor. Dou corda e com um sorriso deito-me, talvez acorde apaixonada. Diana Beja www.facebook.com/pages/Gotas-de-tinta-num-traço-de-carvão/1412447995650688?fref=ts

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INTRODUÇÃO

“Ponte de Fuga” foi

nome de blog

dedicado à BD,

desenho, pintura,

ilustração. Acabei

com ele por ser

complicado gerir

tanto blog. A

vontade te ter uma

publicação já é

velha. Já tive um

fanzine intitulado

“Pedras Rollantes”,

mas não passou do

N.º3. O motivo é

simples. Não

consegui

colaboradores.

Neste novo projeto

comecei ao

contrário.

Primeiro arranjei

os colaboradores,

mas podem vir

mais. Se tem um

desenho, uma BD,

um poema ou um

conto na gaveta

mande para mim e

terei muito gosto

em publicar.

Agora divirta-se

Vítor Paulo

Fernandes

“PONTE DE FUGA” é um fanzine sem fins lucrativos

financiado por donativos. Os lucros anuais revertem a favor

de uma organização humanitária a eleger por leitores e

assinantes.

Colaboram neste número: Vítor Fernandes, Vítor Stones,

Diana Beja, Ana Ribeiro, Lucinda Maria, Marisa Soares e

Monique Ferreira

Edição: Vítor Paulo Fernandes

e-mail: [email protected]

Blog: pontedefuga.blogspot.com

Facebook: : www.facebook.com/vitorfernandes1966 (provisório)

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Calimero - Nino e Toni Pagot

Fácil seria se o tempo passasse tão rápido quanto o fim de semana. Seria mais fácil se às vezes o coração sofresse de amnésia. Seria mais fácil se não olhássemos tantas vezes para trás quando o caminho é para a frente. Não seria tão difícil esquecer se o "histórico" não fosse tão profundo. Enfim.. muitos se.. Se tivesse asas voava como não tenho, vivo. Viver é relativo eu cá sobrevivo. Sobrevivo aos ventos que sopram na mesma depois de tantos momentos Tenho tempo mas não tenho força. Tenho vontade mas falta-me coragem.. Não tenho asas mas sinto ventos, vivo momentos.. Esqueço dos tempos em que tudo era lindo esqueço o perfeito pois tudo morreu.. e agora eu? Choro… Ana Ribeiro http://anaribeiro98.blogspot.pt

O TEMPO

Qual é a forma do tempo?

De que cor é o tempo?

O tempo é uma rocha a que todos os

dias arrancamos um bocadinho.

Para trás fica uma estrada coberta de

pedras arrancadas à rocha do tempo.

Pedras negras, pedras cor-de-rosa.

Pedras frias, pedras quentes.

Pedras redondas, pedras pontiagudas.

Pedras grandes sem valor.

Pedras pequenas, mas preciosas.

Pedras de tempos passados que

cobrem a estrada da vida.

E o futuro? De que forma é essa rocha?

De que cor?

Não lhe conhecemos o tamanho nem a

forma nem a cor.

Mas vamos dar-lhe a cor da esperança

seja ela qual for.

Vítor Stones

vpf-escrita.blogspot.com

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Queria dizer-te… Queria dizer-te muitas coisas. Queria mostrar-te como a tua imagem luminosa Atravessa as florestas sombrias da minha alma. Queria falar-te dos momentos que se transformam Quando os preenches com a tua presença tão terna, tão calma! Queria dizer-te tantas coisas... Queria dizer-te que estás sempre tão longe de mim Como os olhos o estão do olhar. Que quando penso que não estou a pensar em ti Estou a pensar em ti, sem pensar... Queria dizer-te que te amo. Queria dar-me aos teus braços e neles cair Como uma criança cai na cama para dormir. Queria dizer-te muitas coisas. Mas agora que aqui estou afogo-me em emoção E não sou capaz de te falar De tudo o que trago no coração.

Marisa Soares

CAIU… A noite caiu sobre nós e tudo escureceu... Enegreceu demais e aninhou-se em mim, no meu coração nostálgico e triste... Não quero sentir-me assim... Não quero transmitir esta sensação de queda, num abismo sem fim... num túnel onde não se vislumbra nenhuma luz, nem sequer um lusco-fusco, um fiozinho trémulo, uma chama ainda que fraca e bruxuleante... Quero, sim... adormecer nos braços da esperança... sentir que algo ainda pode ser bom... encontrar um ramo seguro a que agarrar-me... antever uma saída do labirinto da infelicidade... sentir a carícia de umas mãos doces que se me estendem... estreitar num abraço quente quem me quer bem... aguardar o dia de amanhã, com a certeza de que vou VIVÊ-LO!

Lucinda Maria www.facebook.com/lucindamaria.brito?fref=ts

Milo Manara

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PERGUNTAS ESTÚPIDAS

Ele não gostava de perguntas estúpidas e ela era especialista nesse tipo de coisas. Isso

irritava-o, mas que havia de fazer? Gostava dela mesmo assim. Naquela noite acordou com

o som do telefone que estava a meio do corredor. Levantou-se e foi atender resmungando

palavrões nacionais e estrangeiros. Pelo caminho abalroou um vaso chinês. Não um vaso

de uma qualquer dinastia, mas um vaso comprado no bazar do fundo da rua. Atendeu o

telefone e ouviu a voz dela.

- Estás em casa?

- Se me ligas para o telefone fixo e eu atendo é lógico que estou em casa. Não achas

uma pergunta estúpida?

- Estás a dormir?

Ele impacientou-se.

- Olha… se estou a falar contigo é porque estou bem acordado. Outra pergunta

estúpida.

- Talvez as minhas perguntas não sejam assim tão estúpidas. Pensa bem.

- Por mais que pense não vejo nada de inteligente nas tuas perguntas.

- Então vê lá como respondes a esta: Estás vivo?

Só então caiu em si. Só então viu que não havia nada de estúpido nas perguntas

dela. Só então se lembrou que tinha morrido há seis meses.

Vítor Paulo Fernandes

Vpf-escrita.blogspot.com

“A vida é apenas uma visão

momentânea das maravilhas deste

assombroso universo, e é triste que

tantos se desgastem sonhando com

fantasias espirituais.”

Carl Sagan

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OLIVIER RAMEAU

Numa qualquer pesquisa

dei-me de caras com uma

personagem que encantou a

minha infância: Olivier

Rameau. Uma bela série

desenhada por Dany com

argumento de Greg.

Olivier Rameau, um

jovem ajudante de notário,

mais o seu colega, Sr.

Pertinent, vão parar ao

mundo maravilhoso de

Rêverose (sonho cor-de-

rosa). Um mundo onde tudo

pode acontecer num

ambiente de felicidade,

romantismo, otimismo e pura diversão. Para o sucesso da série muito contribui a bela

reverosiana Colombe Tiredaille por quem Olivier se apaixona. Outros personagens inesquecíveis

são o espantalho Pazubrin, o guarda Labanquise, os três governantes Zirobudou, o leão

Magestor, o anão Kolossal, o passarão Razibus, etc.

A série faz lembrar Alice no País das Maravilhas, mas numa versão Hippie a fazer lembrar

o “Flower Power”. Apareceu pela primeira vez em 1968 na revista Tintin (edição belga). Em

Portugal chegou em 1970 também na mesma revista. Tanto quanto sei não há nenhum álbum

com edição portuguesa. Pena. A foto da capa é desta mesma BD.

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AS AVENTURAS DE DOG MENDONÇA E PIZZABOY

São três livros de BD grande qualidade estética, do

melhor que já se fez neste país onde a BD é coisa de

putos ou de “nerd’s”. Aliás, numa sociedade onde se

cultiva e promove a ignorância é “nerd” todo aquele

que procure a luz do conhecimento. As aventuras de

Dog Mendonça e Pizzaboy foram assim um grande e

ganho desafio para a equipa luso-argentina de

autores de BD constituída pelo argumentista

português Filipe Melo, e pelos argentinos Juan Cavia,

desenhador, e Santiago Villa, colorista. O facto de ser

um português a escrever o argumento/guião, Lisboa

tem sido recorrentemente cenário na trilogia

terminada no final de 2013.

Um antigo lobisomem com mau feitio (Dog

Mendonça), um distribuidor de pizzas (Pizzaboy), um

demónio de seis mil anos encarcerado no corpo de

uma menina de seis anos (Pazuule) a cabeça de uma

gárgula são os heróis que vivem incríveis aventuras.

Tudo acontece desde a ressurreição do exercito Nazi nos esgotos de Lisboa até à invasão de

aranhas gigantes passando pelo próprio Apocalipse descrito na Bíblia. Para mais informações

recomendo a página do Facebook: (www.facebook.com/dog.pizzaboy?fref=ts) e tratem de

comprar os três livros. Recomendo a FNAC ou a editora Tinta da China.

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CARICATURA - MICK JAGGER CARICATURA - MARILYN MONROE

FONTE DE SÃO JOÃO - LAGOS DA BEIRA – VÍTOR FERNANDES

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HISTÓRIAS DE VIDA

Não são os outros que têm que nos aceitar. Somos nós que temos que nos aceitar.

O vício de Samanta.

Olá o meu nome é Samanta, sou relativamente jovem e já sem vida alguma. Tenho 45 anos, não tenho filhos, marido, família ou casa. Eu podia ter tudo mas escolhi ficar sem nada por meros vícios. Hoje sou uma sem-abrigo que vive pelos arredores de Lisboa, cada dia estou numa parte diferente.

Tudo começou quando eu entrei para o básico, eu estava assustada e tinha medo do que poderia vir. Eu queria que corresse tudo bem, mas correu tudo mal. Os meus colegas agrediam-me e insultavam-me, eu não passava de uma rapariga indefesa e com medo. Não paravam, cada ano se intensificava mais e mais.

Ao chegar ao 8º ano não aguentei mais e comecei a cortar-me. Eu era diferente. Eu nunca tinha sido aceite. Amigos? Nem sabia o que era isso. Os anos passavam e o secundário iria mudar a minha vida... para pior.

Ao chegar ao secundário via os meus "amigos" a ter a vida que queriam e eu tinha de ser diferente, os meus pais tentavam a todo o custo impedir-me de ir pelo caminho errado. Mas eu fui. Comecei a fugir de casa, entrei no mundo do álcool e da droga. Tudo para me integrar, pela primeira vez eu sentia-me aceite, sentia que fazia parte de algo. Pela primeira vez eu tinha "a-m-i-g-o-s".

Eu pensei que seria uma coisa passageira, mas na verdade nunca consegui largar o vício. Com apenas 17 anos fugi de casa para ir viver para a casa de uma "amiga". Eu era, aliás sou, louca. Com o passar do tempo a minha vida só piorou.

Com 20 anos conheci um rapaz diferente de mim, fora deste meu mundo paralelo. Ele ajudou-me, quase me tirou do álcool e da droga. Eu amava-o e ele a mim. Namorávamos à 4 anos e pouco quando decidimos ir viver juntos. 5 meses após nos mudarmos eu engravidei, ele tinha acabado de receber a melhor notícia da sua vida e eu apenas a destruí. Eu matei o meu próprio filho. Durante a gravidez voltei intensamente às drogas e ao álcool. Sim, eu sabia que não o podia fazer. Dentro da minha barriga sentia o meu filho a gritar por socorro, sentia ele a perguntar-me "porque mama?". Errei e ele nasceu morto, eu sabia que a culpa era minha. O meu marido não aguentou a dor e suicidou-se. Devido ao meu vício, aos meus erros eu perdi as duas pessoas que mais amei em toda a minha vida. Nunca ultrapassei a dor, vou ao cemitério todos os dias e choro a todos os segundos. Foram os melhores 6 anos da minha vida.

Quando tudo aconteceu eu voltei para a rua, sou uma mera pedinte mal encarada que dorme no passeio das ruas de Lisboa. Sou uma pessoa horrível. Deixei de viver à muitos anos. E após tudo, após a dor toda, após ver o mal que fiz não deixei de ser toxicodependente.

O meu nome é Samanta, não vivo, apenas eu respiro. Matei a mim, ao meu filho e ao meu marido com o vício. Estraguei a minha vida para ser aceite. Hoje não sei mais quem sou. Vivo cada dia com mais dor do mal que fiz. (SAMANTA COMEÇA A CHORAR DESALMADAMENTE, SEM SABER O QUE FAZER). Eu não tinha que ser aceite, eu tinha que me aceitar a mim mesma. Agora choro por estar perdida no mundo, choro por não ser ninguém. Sou uma alma vazia que vagueia por aqui e por ali. O vício dominou-me. Eu amo o meu marido e o meu filho apesar de já terem partido. Desculpem pelo que vos fiz meus amores. Desculpem…

Monique Ferreira – amorsemasas.blogspot.com

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