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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social
Isaura Mourão Generoso
COMUNICAÇÃO ORGANIZACIONAL, TEORIA E PRÁXIS:
um estudo sobre o discurso da comunicação no contexto das organizações
Belo Horizonte
2014
Isaura Mourão Generoso
COMUNICAÇÃO ORGANIZACIONAL, TEORIA E PRÁXIS:
um estudo sobre o discurso da comunicação no contexto das organizações
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Comunicação Social.
Orientadora: Profa. Dra. Ivone de Lourdes Oliveira
Belo Horizonte 2014
FICHA CATALOGRÁFICA
Elaborada pela Biblioteca da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais
Mourão, Isaura Generoso
M929c Comunicação organizacional, teoria e práxis: um estudo sobre o discurso da comunicação no contexto das organizações / Isaura Generoso Mourão. Belo Horizonte, 2014.
114 f.:il.
Orientadora: Ivone de Lourdes Oliveira Dissertação (Mestrado) – Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social.
1. Comunicação organizacional. 2. Análise do discurso. 3. Comunicação interpessoal. 4. Práxis (Filosofia). 5. Foucault, Michel 1926-1984. I. Oliveira, Ivone de Lourdes. II. Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social. III. Título.
CDU: 658.012.45
Isaura Mourão Generoso
COMUNICAÇÃO ORGANIZACIONAL, TEORIA E PRÁXIS:
um estudo sobre o discurso da comunicação no contexto das organizações
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Comunicação Social.
________________________________________________________________
Profa. Dra. Ivone de Lourdes Oliveira (Orientadora) – PUC Minas
________________________________________________________________
Profa. Dra. Maria Ângela Mattos – PUC Minas
________________________________________________________________
Prof. Dr. Mozahir Salomão Bruck – PUC Minas
________________________________________________________________
Prof. Dr. Rudimar Baldissera – UFRGS
Belo Horizonte, 20 de fevereiro de 2014.
A Deus, que sempre ilumina nossos caminhos.
Aos meus queridos pais, Tereza e Altino, pelos
quais tenho um forte sentimento de orgulho e admiração.
Os dois, com seus ensinamentos de vida são, certamente,
os grandes responsáveis por eu estar aqui hoje.
AGRADECIMENTOS Em momentos como este, quando paramos para analisar nossa trajetória, percebemos a
importância de estarmos cercados por pessoas amigas, parceiras, companheiras, solidárias e
que sempre nos querem bem. Papai e Mamãe, os grandes protagonistas, companheiros de uma
vida inteira, gente simples com um coração de um tamanho imensurável e ainda muita energia
para nos amparar a todo e qualquer o momento. A vocês dois, pessoas ímpares, com as quais
fui abençoada por tê-las sempre ao meu lado, ensinando-me os valores mais fundamentais
para que possamos ser felizes na nossa caminhada, quero agradecer por tudo. Mamãe,
guerreira; Papai, sonhador e, no meio disso; a busca pelo equilíbrio entre garra e sonho,
firmeza de propósito e leveza na caminhada. Às vezes a gente consegue, outras; nem tanto...
Afinal, assim somos feitos, na complexidade entre a arte de viver e sonhar. Amo vocês dois.
À minha família, aos meus queridos irmãos Micheline, Altino, Chateaubrean, Everson
e Eduardo, à minha amiga-irmã Andréa; cunhadas e sobrinhos – todos – mais queridos ainda.
Tia Fátima, Tia Helena... Família que ampara e protege sempre que precisamos. Família,
enfim; um esteio, porto no qual temos a certeza: pode-se ancorar a qualquer momento. Vocês
são sempre muito importantes para a minha vida.
Aos meus queridos professores do Programa de Pós-Gradução em Comunicação
Social da PUC Minas, vocês são os que nos encorajam e incentivam nessa caminhada. Em
especial, à minha orientadora; Ivone, sempre companheira e pronta a ajudar, compartilhando
conosco seu conhecimento e, com serenidade e leveza, está sempre ao nosso lado, com toda a
sua presteza, humildade e solidariedade. Ivone, você é muito especial, é humana; mestre como
poucos conseguem ser. São especiais também os professores Júlio e Mozahir – vocês não
fazem ideia do quanto me influenciaram nessa trajetória. Aqui, não poderia deixar de
mencionar o professor Rudimar, que apesar de não ser da PUC, partilha conosco seus
conhecimentos como se fosse da casa. Seus questionamentos acerca da comunicação
organizacional, afinados com os pensamentos da minha querida orientadora, me inspiraram a
mergulhar na pesquisa à busca de mais conhecimento. Todos vocês têm, certamente, uma
participação decisiva nessa etapa da minha vida; são pessoas que cruzaram meu caminho me
trazendo energia, entusiasmo e desafios. Vocês se tornaram parte da minha história e serão
vivamente lembrados.
Aos meus amigos de criança, aos da graduação, aos meus clientes que se tornaram
amigos e aos meus amigos recentes, em especial; Bruno, Gislene e Paulo que foram mais que
colegas, mas companheiros nesses dois anos de Mestrado. E, claro, não poderia deixar de
6
mencionar a Fabiane, que caiu como um anjo na minha vida e, mesmo sem me conhecer, por
pura generosidade e solicitude, me deu atenção especial em um momento de muita aflição,
conseguindo aquietar minhas angústias. Todos os médicos deveriam ser como você! Obrigada
por tudo!
No meio do meu caminho, outra amiga, nem de tão longa data, nem tão recente, mas
com participação fundamental nesses últimos anos e, mais ainda nessa etapa final do
Mestrado; a Tiete – ou Maria Antonieta Segall – que, gentilmente, colocou ao meu dispor
seus conhecimentos da nossa Língua Portuguesa, se prontificando, numa ação de carinho e
amizade, a fazer a revisão da minha dissertação.
Ainda que anomimamente, tenho muito o que agradecer aos dez profissionais de
Comunicação entrevistados e às quatro organizações que atenderam prontamente à minha
solicitação de pesquisa, me recebendo e se colocando à disposição. Sem a participação de
vocês, minha pesquisa não seria possível.
Por fim, devo dizer que esse é um momento muito especial. Faz-nos rever muita coisa,
afinal, marca o final de mais uma etapa – e sempre; início de outra. Quando olho minha
trajetória, fica difícil citar todos que têm contribuído nessa caminhada, na qual sigo bem e
feliz, com todos os altos e baixos de uma jornada. São muitas as pessoas que estão ao nosso
lado, entre a família, os amigos, a Equipe da PUC... O fato é que é muito bom sentir que há
quem torça por nós e que está conosco nos mais diferentes momentos. É isso que faz a nossa
vida ficar ainda mais fantástica!
Obrigada a todos!
Sempre coloquei nos meus escritos toda a minha vida e toda a minha
pessoa. (NIETZSCHE)
RESUMO
Esta pesquisa buscou evidenciar elementos dos construtos teóricos e das falas de
profissionais da área que podem constituir enunciados do discurso da comunicação
organizacional estratégica. Trata-se de uma discussão epistemológica, uma vez que busca
compreender os conceitos teóricos que subsidiam a práxis da comunicação no contexto das
organizações. Para isso, foi necessário fazer um estudo bibliográfico que propiciou o
aprofundamento em relação ao encadeamento conceitual acerca da comunicação
organizacional estratégica, contrapondo-o à fala de profissionais de comunicação que atuam
em organizações, por meio da análise de discurso, inspirada em elementos da análise
arqueológica do discurso fundada por Michael Foucault. Como viés condutor dessa análise, a
pesquisa adotou o modelo de comunicação interacional dialógica, cuja construção considera
os construtos mais recentes da comunicação organizacional estratégica, trazendo formulações
do paradigma interacional que inclui o relacionamento, o diálogo e a construção de sentidos,
além do viés informacional como elementos inerentes à comunicação organizacional.
Acredita-se que os achados desta pesquisa levam a concluir sobre a influência de um
paradigma hegemônico e consolidado – o informacional – na orientação do discurso da
comunicação estratégica no contexto das organizações.
Palavras-chave: Discurso da Comunicação Organizacional. Comunicação estratégica.
Construção de sentidos. Processos interacionais.
ABSTRACT
This study sought to highlight elements of the theoretical constructs and statements of
professionals that may constitute the strategic communication discourse in the organizational
context. It is an epistemological discussion, as it aims at understanding the theoretical
concepts that support the communication práxis in the organizational context. For this
purpose it was necessary to carry out a bibliographic study which enabled a better
understanding of the strategic organizational communication chaining, comparing it to
professionals' speech who work in organizations, through discourse analysis, inspired by
elements of the archaeological discourse analysis founded by Michael Foucault. As a driver
bias of this analysis, the research adopted the model of dialogic interactional communication,
whose construction considers the latest concepts of strategic organizational communication,
bringing forth formulations of the interactional paradigm which includes the relationship,
dialogue and the construction of meaning, beyond the informational bias as inherent in
organizational communication elements. It is believed that the findings of this research point
to the conclusion about the influence of an hegemonic and consolidated paradigm – the
informational – in guiding the strategic communication discourse in organizations context.
Keywords: Organizational Communication discourse. Strategic communication.
Construction of meaning. Interactional processes.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
QUADRO 1 – Perfil dos profissionais entrevistados ............................................. ....... 59
QUADRO 2 – Elementos que formam os enunciados relativos aos conceitos de
Comunicação Organizacional e Comunicação Estratégica .................... 64
QUADRO 3 – Palavras e expressões dos profissionais que conceituam Comunicação
Organizacional e Comunicação Estratégica ........................................... 65
QUADRO 4 – Elementos que formam os enunciados relativos aos conceitos de
Comunicação como Processo ................................................................. 68
QUADRO 5 – Palavras e expressões dos profissionais que conceituam Comunicação
como Processo ........................................................................................ 68
QUADRO 6 – Elementos que formam os enunciados relativos à Inserção da
Comunicação na Cadeia Decisória ........................................................ 72
QUADRO 7 – Palavras e expressões dos profissionais que conceituam
Inserção da Comunicação na Cadeia Decisória ..................................... 72
QUADRO 8 – Elementos que formam os enunciados relativos aos conceitos de
Interação e Informação .......................................................................... 76
QUADRO 9 – Palavras e expressões dos profissionais que conceituam Interação
e Informação .......................................................................................... 77
QUADRO 10 – Elementos que formam os enunciados relativos aos conceitos
de Relacionamento com os Públicos ..................................................... 79
QUADRO 11 – Palavras e expressões dos profissionais que conceituam
Relacionamento com os Públicos ........................................................... 80
QUADRO 12 – Elementos que formam os enunciados relativos aos conceitos
de Monitoramento da Comunicação ....................................................... 83
QUADRO 13 – Palvras e expressões dos profissionais que conceituam
Monitoramento da Comunicação ............................................................ 83
SUMÁRIO
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS ............................................... 1 1 INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 12
2 COMUNICAÇÃO E ESTRATÉGIA: ENUNCIADOS DE UM DISCURSO .......... 15 2.1 A contextualização do encadeamento teórico do discurso da comunicação ............... 16 2.2 Do planejamento à estratégia planejada de comunicação ............................................ 24 2.3 O modelo de interação comunicacional dialógica .......................................................... 33
3 ELEMENTOS QUE INTERAGEM NA CONSTITUIÇÃO DE UM DISCURSO .. 39 3.1 A arqueologia de Foucault como inspiração .................................................................. 40 3.2 O autor que reverbera e consolida o discurso da comunicação estratégica ................ 44 3.3 A formação discursiva da comunicação estratégica e sua tessitura conceitual .......... 49
4 A CONSTRUÇÃO DO DISCURSO DA COMUNICAÇÃO ESTRATÉGICA ....... 54 4.1 Percurso metodológico ..................................................................................................... 55 4.2 Caracterização descritiva ................................................................................................ 57 4.2.1 Perfil das organizações ................................................................................................... 57 4.2.2 Os profissionais que constituíram o corpus................................................................... 58 4.3 Categorias analíticas ........................................................................................................ 59 4.3.1 Comunicação Organizacional e Comunicação Estratégica ......................................... 59 4.3.2 Comunicação como Processo ......................................................................................... 65 4.3.3 Inserção da Comunicação na Cadeia Decisória ........................................................... 69 4.3.4 Interação e Informação .................................................................................................. 72 4.3.5 Relacionamento com os Públicos................................................................................... 77 4.3.6 Monitoramento da Comunicação .................................................................................. 80
5 CONCLUSÃO ................................................................................................................. 84
REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 88
APÊNDICE A – CARTA ENVIADA ÀS ORGANIZAÇÕES ........................................... 92
APÊNDICE B – ROTEIRO DE ENTREVISTAS ............................................................... 93
APÊNDICE C – MAPA DAS ENTREVISTAS POR CATEGORIA ANALÍTICA ........ 94
12
INTRODUÇÃO
O mundo está em constante mudança, em velocidade acelerada, impactando os
processos de comunicação e a construção de sentidos em todos os contextos, inclusive no das
organizações. Mas mudanças sempre ocorreram e nisso parece não haver nada de novo. A
diferença de agora pode estar na velocidade ou na noção de tempo e espaço, impactando em
diferentes formas de ser, viver e ver esse mundo, no qual a existência e a ação de uma série de
dispositivos sociotécnico-discursivos1 agenciam “a conformidade de novos procedimentos de
comunicação, alterando substancialmente dinâmicas de interação que se apoiavam em lógicas
determinísticas e lineares” (NETO, 2010, p. 87) e colocando o status de receptor da
mensagem na condição de coprodutor dessa mensagem.
Associa-se à velocidade dessas mudanças a fluidez dos públicos (então receptores),
com identidades ambíguas e perfis também em constante transmutação. Isso traz ainda mais
complexidade aos processos de comunicação, uma vez que o sujeito2 possui mais liberdade de
ação e consegue abrigar grande variedade de valores, crenças e opiniões múltiplas, paradoxais
e até mesmo contraditórias, adaptando-se ao contexto e ao longo do tempo (GIOIA, 1998).
Nesse sentido, a partir de Morin (2011b, p. 66), “ser sujeito é ser autônomo, sendo ao mesmo
tempo dependente. É alguém ser provisório, vacilante, incerto, é ser quase tudo para si e quase
nada para o universo”.
Tais características conferem ao sujeito, também ator social, múltiplas facetas de uma
personalidade complexa que se adequa ao papel que lhe for conveniente em função de um
cenário, contexto ou interesse e em consonância com um universo de crenças. Assim, em
determinado grupo social, o sujeito fornece “uma parafernália de estereótipos expressivos
adaptados às mais diversas situações e, paralelamente, outros tantos estereótipos de leitura à
disposição dos enunciatários3”. (LANDOWSKI, 1992, p. 162, grifos do autor). Dessa forma,
torna-se cada vez mais difícil identificar o perfil e os interesses dos públicos que fazem a
interlocução com a organização, ampliando ainda mais a complexidade dos processos de
comunicação.
1 Termo utilizado por Fausto Neto (2010) como uma das características do que ele denomina “sociedade
midiatizada” (NETO, 2010, p. 87), que instaura outra lógica de enunciação, afetando e modificando os processos interacionais.
2 Gioia (1998) trata dessa perspectiva do indivíduo, mas, nesta pesquisa, esse indivíduo mais autônomo, fluido e paradoxal será tratado como sujeito – ou ator social – dada a perspectiva de complexidade da comunicação que ocorre por meio da interação e da relação.
3 Landowski (1992, p. 155) define como enunciatário “o sujeito do fazer interpretativo” ou seja, o enunciador que deve querer e poder ser acreditado.
13
Soma-se a esses fatores o avanço das tecnologias de informação e comunicação,
principalmente nas duas últimas décadas, e o consequente acesso às informações gerando
maior cobrança por parte da sociedade em relação às atitudes e ações, posturas e
posicionamentos das organizações; especialmente naquilo que a impacta e, mais
especificamente, aos públicos com os quais elas se relacionam.
Os elementos aqui mencionados e associados retratam um cenário de complexidade e
instabilidade no qual se percebe o crescimento do papel conferido à comunicação
organizacional, principalmente a denominada estratégica. As organizações – especialmente as
de médio e grande porte – buscam desenvolver a comunicação a fim de se relacionarem com
os diferentes públicos, promovendo ações e o desenvolvimento de canais e alternativas que
possam contribuir com a interação e a construção de sentidos em relação à organização. Isso
tem sido cada vez mais importante, pois, de forma geral, uma organização precisa se
distinguir das demais, sobressaindo-se em um determinado setor ou local e ter
reconhecimento social. Nessa lógica, “a matéria significante é complexificada, submetida a
novos regimes de produção, estruturada em torno de novas lógicas de contato, em suma, é
submetida às novas condições de comunicação e segundo fundamentos dessa nova
ambiência.” (NETO, 2010, p. 89).
Tais questões trazem à tona a necessidade de (re)pensar a compreensão da
comunicação organizacional estratégica, seu encadeamento teórico e a consequente
repercussão desse desenvolvimento conceitual na prática profissional. Acredita-se, ainda, que
ao fazer a associação entre a construção teórica da comunicação estratégica nas organizações
e sua práxis se possa chegar a determinados conjuntos de enunciados que se apoiam em um
mesmo sistema de formação e, com isso, contribuem para a construção do discurso da
comunicação organizacional e estratégica, compreendida como “prática que tem suas formas
próprias de encadeamento e sucessão” (FOUCAULT, 2012a, p. 206).
A partir desse raciocínio e adotando como referencial o estudo arqueológico de
formação do discurso desenvolvido por Foucault (2012a), esta pesquisa buscou identificar o
discurso construído pelos profissionais de comunicação acerca da comunicação
organizacional e estratégica, uma vez que esses sujeitos “retêm sentido enquanto atividade
constituinte, recolhedora, unificadora”. (FOUCAULT citado por DELEUZE, 1988, p. 25).
Para isso, se investigou a percepção desses profissionais em relação ao tema, adotando como
base o modelo de interação comunicacional dialógica (OLIVEIRA, 2002).
Nesse percurso, parte-se, no Capítulo 2, de um aprofundamento em relação ao
encadeamento dos estudos que culminam nos construtos teóricos da comunicação e,
14
consequentemente nos aportes da comunicação organizacional; discutem-se os paradigmas
clássico-informacional e interacional com seus aspectos relevantes à comunicação; aborda-se
sobre o conceito de estratégia, planejamento estratégico e sua adoção pela comunicação no
contexto das organizações; bem como o modelo de interação comunicacional dialógica,
desenhado por Oliveira (2002), que subsidiará essa pesquisa junto aos profissionais de
comunicação.
No Capítulo 3, busca-se compreender elementos da análise de discurso segundo a
arqueologia, inspiradora dessa reflexão. Também pretende-se evidenciar o papel dos
profissionais que podem ser considerados autores do discurso da comunicação estratégica,
mapeando e procurando apreender, a partir de seus enunciados, os conceitos que regem sua
atuação.
Procede-se, no Capítulo 4, à análise do discurso da comunicação organizacional
estratégica, desenhado pelos dez profissionais de diferentes formações (Jornalismo,
Publicidade e Relações Públicas) e níveis hierárquicos, que atuam em quatro organizações de
setores distintos, abordados por meio de entrevistas em profundidade, constituindo o corpus
dessa pesquisa.
Sabe-se que este é um estudo inicial, com perspectiva de continuidade e
aprofundamento numa possível pesquisa de Doutorado, mas ainda assim acredita-se que seus
primeiros achados já podem contribuir para que se conheçam parâmetros que podem
fundamentar a atuação profissional dos comunicadores em termos de comunicação estratégica
e dialógica, articulando teoria e prática profissional. E, associando teoria e práxis, expostas a
partir do estudo bibliográfico, do conhecimento e da compreensão acerca da comunicação
organizacional que norteia a atuação desses profissionais, espera-se chegar aos enunciados
que regem o discurso da comunicação estratégica nas organizações.
15
2 COMUNICAÇÃO E ESTRATÉGIA: ENUNCIADOS DE UM DISCURSO
Articular comunicação e estratégia pode parecer antagônico num primeiro momento,
principalmente com o encadeamento dos estudos teóricos que mostram a insuficiência do
paradigma informacional4 para explicar e abarcar os processos de comunicação, cada vez
mais complexos. No entanto, a comunicação estratégica no contexto das organizações, se
observada pela perspectiva arqueológica, pode ser compreendida como um saber, definido por
Foucault (2012a, p. 219) como um “conjunto de elementos formado de uma maneira regular
por uma prática discursiva e indispensáveis à constituição de uma ciência, apesar de não se
destinarem necessariamente a lhe dar lugar”.
Para Foucault (2012a), que fundamenta a base teórica desta pesquisa, um saber é
aquilo de que se pode falar – ou compreender – por meio de uma prática discursiva que reúne
objetos, tipos de formulação, conceitos e escolhas teóricas. Pode-se dizer que o saber da
comunicação estratégica no contexto das organizações passa por essa lógica. Trata-se de um
saber transdisciplinar, cujos aportes teóricos mais relevantes e a justaposição desses
encontram-se no próprio campo da Comunicação, mas fortemente influenciados pelos
construtos da Administração e também pelos da Semiótica, da Psicologia, da Sociologia, da
Linguística e da Antropologia. Tais áreas trazem enunciados que se apoiam numa mesma
formação discursiva, que não tem uma unidade retórica ou formal, mas que podem constituir
um discurso. Dessa forma, o saber da comunicação organizacional “é constituído de um
número limitado de enunciados para os quais podemos definir um conjunto de condições de
existência” (FOUCAULT, 2012a, p. 143) e, consequentemente, uma prática discursiva.
Embora a constituição desse saber tenha interface com várias áreas, a presente
pesquisa enfatiza os construtos oriundos de duas delas – Comunicação e Administração –
consideradas as que mais influenciam a formação do discurso da comunicação estratégica nas
organizações. Para compreendê-lo, busca-se, neste capítulo, investigar o encadeamento5
teórico da comunicação, acreditando que dele se possa fazer aparecer alguns dos enunciados
dessa formação discursiva. Parte-se do paradigma clássico-informacional contrapondo, nesse
encadeamento, o modelo de interação comunicacional dialógica, formulado por Oliveira
(2002), que tem como fundantes o paradigma interacional e o processo de construção de
4 Essa perspectiva é oriunda da teoria shannoniana que, segundo Morin (2011a, p. 26), “não é capaz de
compreender nem o nascimento nem o crescimento da informação. [...] Significa dizer que a informação não é um conceito de chegada, é um conceito de partida”.
5 Para Foucault (2012a, p. 42), não existe uma mudança, mas um encadeamento que define o grupo de relações entre os enunciados de um discurso.
16
sentidos; e o construto de planejamento estratégico, fundamental para a compreensão do que
se convencionou denominar comunicação estratégica, a partir da década de 1990.
Dessa forma, busca-se mergulhar na construção teórica da comunicação estratégica
interrogando o discurso utilizado por ela a partir do que Foucault (2012a) define como suas
regras de formação, ou seja, as condições a que estão submetidos os elementos que o
constituem: enunciados diferentes em sua forma e dispersos no tempo, mas referindo-se a um
único discurso; as formas e o tipo de encadeamento desses enunciados; os grupos de
enunciados e os sistemas de conceitos permanentes que se encontram em jogo; bem como a
identidade e persistência dos temas.
2.1 A contextualização do encadeamento teórico do discurso da comunicação
A atividade profissional de Relações Públicas no Brasil completa 100 anos em 2014.
A profissão, no entanto, só foi regulamentada em setembro de 1968, de forma controversa,
uma vez que “as Relações Públicas ainda não eram reconhecidas pela sociedade como campo
acadêmico”. (OLIVEIRA, 2010, p. 183). Mas foi a partir daí que começou a ser formar a
estrutura acadêmica do campo e, paralelamente, iniciaram-se as reflexões epistemológicas,
com aportes significativos do campo da Administração e da própria Comunicação. Na década
de 1980, “as organizações remodelam suas estruturas e um processo estratégico começa a se
instalar na gestão da comunicação, que passa a adotar uma perspectiva mais integrada”.
(OLIVEIRA, 2010, p. 183). No encadeamento desse processo de reflexão, tomam pulso, na
década de 1990, os estudos acerca da comunicação organizacional, que trazem uma
redefinição tanto teórica quanto prática desse campo de estudos, promovendo reflexões sobre
as práticas de comunicação nas e das organizações.
Dessa forma, para compreender o discurso relativo a esse saber, é necessário
investigar a formação dos enunciados da Administração e da Comunicação que, ao longo do
tempo, contribuem para a formação do discurso da comunicação organizacional estratégica.
Para isso, busca-se inspiração na perspectiva arqueológica da análise de discurso, formulada
por Foucault (2012a). Tal perspectiva requer a análise das formações discursivas e dos
enunciados que atravessam as obras6 e são revelados por um conjunto de regras anônimas,
determinadas no tempo e no espaço, constituindo a unidade de análise do discurso. Assim, a
arqueologia não se limita à interpretação ou à formalização do discurso, mas procede à análise
6 Compreende-se obra, a partir de Foucault (2012a), como a materialização de um discurso nas suas mais
diferentes formas.
17
das condições históricas que fizeram aparecer, num determinado momento, um e não outro
enunciado. Ressalta-se, com isso, o potencial multiplicador da análise de discurso inspirada na
arqueologia, segundo a qual o discurso não é definido ou compreendido como uma tradução
exterior, mas como lugar de emergência dos conceitos, ou seja:
não associamos as constantes do discurso às estruturas ideais do conceito, mas descrevemos a rede conceitual a partir das regularidades intrínsecas do discurso; não submetemos a multiplicidade das enunciações à coerência dos conceitos, nem esta ao recolhimento silencioso de uma idealidade meta-histórica; estabelecemos a série inversa: recolocamos as intenções livres de não contradição em um emaranhado de compatibilidade e incompatibilidade conceituais; e relacionamos esse emaranhado com as regras que caracterizam uma prática discursiva. (FOUCAULT, 2012a, p. 73, grifo nosso).
Em outras palavras, conforme marca Deleuze em relação à obra de Foucault (2005, p.
71): “o hospital geral enquanto forma do conteúdo ou lugar da visibilidade da loucura não
tinha absolutamente sua origem na medicina, mas na polícia; e a medicina, enquanto forma de
expressão [...], desdobrava seu regime discursivo [...] para fora do hospital”. Com isso, pode-
se dizer que ao analisar os enunciados do discurso da comunicação organizacional, é
necessário identificar tanto a visibilidade exterior e as compatibilidades quanto a não relação e
incompatibilidades dos enunciados com os conceitos da comunicação de forma geral e
daqueles que emergem dos modelos de gestão organizacional. A partir desse raciocínio, deve-
se ressaltar que o “o atual cenário do campo das Relações Públicas e da Comunicação
Organizacional é resultado de decisões e tendências que fazem parte da trajetória da atividade
profissional, da produção acadêmica, evolução das teorias, metodologias e pesquisas”
(OLIVEIRA, 2010, p. 182) e também dos modelos político e econômico adotados nesse
período e da forma de gestão das organizações.
Nesse sentido, é necessário interrogar os enunciados e as regras de formação que
fazem aparecer as condições a que estão submetidos os elementos da formação – e da prática
– discursiva da comunicação estratégica no contexto das organizações. Assim, pode-se
compreendê-la como o “conjunto de enunciados que se apoia em um mesmo sistema de
formação” (FOUCAULT, 2012a, p. 131), numa analogia ao que Foucault (2012a) denomina
discurso clínico, discurso econômico, discurso da história natural e discurso psiquiátrico.
Pode-se dizer ainda que “o termo Discursos refere-se a sistemas gerais e duradouros
para a formação e articulação de ideias em um momento historicamente demarcado no tempo”
(FAIRHURST; PUTNAM, 2010, p. 110). A partir desse raciocínio, acredita-se que o
encadeamento teórico da comunicação organizacional e sua associação ao conceito de
18
estratégia podem emergir como enunciados constituintes de um discurso aceito e repercutido
pela área na contemporaneidade. Deve-se ressaltar ainda que
nada se apoia na determinação de influências, trocas, informações transmitidas, comunicações. Não que se trate de negá-las ou contestar que jamais possam ser objeto de uma descrição, mas sim de tomar, em relação a elas, um recuo medido, de deslocar o nível de ataque da análise, de revelar o que as tornou possíveis; de demarcar os pontos em que se pôde efetuar a projeção de um conceito sobre outro, de fixar o isomorfismo que permitiu uma transferência de métodos ou de técnicas, de mostrar as vizinhanças, as simetrias ou as analogias que permitiram as generalizações. (FOUCAULT, 2012a, p. 197).
Nesse viés, a comunicação organizacional, assumida como um saber, é revelada por
uma prática discursiva cujos conceitos e enunciados, oriundos dos campos da Comunicação e
da Administração, são organizados e articulados dialeticamente. Por um lado, constituem-se
pela complexidade decorrente do processo de interação e, por outro, pela busca constante de
objetivos e metas organizacionais. Com isso, “no âmbito da práxis, a noção de comunicação
tende a ser simplificada para dar conta das ideias de urgência e economia” (BALDISSERA,
2008, p. 31), sempre presentes na gestão e nos objetivos das organizações. Isso decorre,
segundo Mattos (2008), da forma como a comunicação se introduziu no contexto
organizacional no Brasil: insere-se no mercado como atividade profissional, tendo sua
construção teórica desenvolvida inicialmente pelo campo da Administração e forte interface
com a Comunicação, como atividade de Relações Públicas, somente a partir da década de
1970, quando se inicia a expansão da sua base conceitual. Também nessa mesma lógica,
começam a ser desenvolvidos os estudos relacionados à comunicação organizacional
estratégica, a partir da década de 1990.
Pode-se dizer, ainda, que a prática discursiva da comunicação organizacional, “na
forma em que se acha configurada hoje é fruto de sementes lançadas no período da Revolução
Industrial” (KUNSCH, 2006, p. 169). As mudanças decorrentes do novo formato das relações
de trabalho a partir de então, levaram as empresas a buscar formas de se comunicar com seus
empregados e também com públicos externos. Emerge assim, de uma necessidade de
mercado, uma atividade profissional que desenha um modelo de comunicação sustentado pela
produção de publicações dirigidas. Para os empregados, então identificados como público
interno, a ênfase estava na transmissão da informação de cunho administrativo e funcional; e
para os públicos externos, as informações se concentravam nas características e diferenciais
dos produtos, mais tarde dos serviços, para fazer face à concorrência, mesmo que ainda ínfima
naquela época. A compreensão dessa origem histórica dos estudos da comunicação
19
organizacional é imprescindível para a percepção do discurso da comunicação estratégica no
contexto das organizações, uma vez que os discursos estão sempre associados a uma prática
que determina os sujeitos que falam e têm papéis pré-estabelecidos.
Com isso, a comunicação nas organizações se desenvolveu calcada no valor da
informação – seja ela publicitária ou não – e com um formato funcional, dualista e dialético:
de um lado, a comunicação da organização; de outro, os públicos alvo e receptores;
intermediados pela mensagem e pelos canais. Assim, foi ganhando força como instrumento de
controle e gestão, a partir de “fórmulas, textos, conjuntos ritualizados de discursos que se
narram, conforme circunstâncias bem determinadas” (FOUCAULT, 2012c, p. 21).
Soma-se a tais fatores o fato de que o construto teórico da comunicação organizacional
teve um encadeamento histórico subsidiado pelo paradigma clássico-informacional cuja
característica, segundo Oliveira e Paula (2007), é a bipolarização entre emissores e receptores,
que têm papéis fixos, evidenciando a tendência passiva do receptor, considerado um
receptáculo de informações. Recorrendo aos construtos do paradigma da complexidade7, de
Edgar Morin (2011a), e trazendo-o para o campo da Comunicação, pode-se dizer que o
paradigma clássico-informacional é reputado como mecanicista e simplificador; uma vez que
restringe o processo de comunicação à transmissão da informação, reduzindo o complexo ao
simples, sem considerar a construção, desconstrução e (re)construção de sentidos, bem como
todo o contexto envolvido por e nesse processo (BALDISSERA, 2008; HALL, 2011).
Importante compreender o papel de um paradigma que prevalece na construção de um
saber. Sua institucionalização parece automatizar ações e atitudes que podem ser tomadas e
realizadas até mesmo de forma inconsciente, ou seja: age-se de maneira inercial,
impulsionados pela força de um hábito – ou de um fazer –, sem a consciência ou clareza do
que provoca esse agir, irrigando a construção teórica – e também a práxis – desse saber.
Conforme Morin (2011b, p. 25), “o paradigma instaura relações primordiais, que constituem
axiomas, determina conceitos, comanda discursos e/ou teorias”. Ainda segundo Morin
(2011a, p. 112), “um paradigma é um tipo de relação lógica (indução, conjunção, disjunção,
exclusão) entre certo número de noções ou categorias mestras” que, por priorizar certas
relações lógicas em detrimento de outras, controla a lógica do discurso relacionado.
7 O paradigma da complexidade, postulado por Morin (2011a), surge onde o pensamento simplificador falha e
segundo o autor, só ele permitirá civilizar nosso conhecimento: “A um primeiro olhar, a complexidade é um tecido (complexus: o que é tecido junto) de constituintes heterogêneas inseparavelmente associadas: ela coloca o paradoxo do uno e do múltiplo. Num segundo momento, a complexidade é efetivamente o tecido de acontecimentos, ações, interações, retroações, determinações, acasos, que constituem nosso mundo fenomênico.” (MORIN, 2011a, p. 13).
20
Sendo assim, pode-se inferir que a partir do paradigma informacional da comunicação,
que orienta os estudos dessa área no contexto das organizações, “presta-se atenção à
transmissão de significado, de informação, de conhecimento e aos efeitos de diferentes
mensagens” (DEETZ, 2010, p. 11). Formam-se axiomas que adotam a informação ou a
transmissão da mensagem como a essência da comunicação, determinando conceitos e
orientando discursos e teorias. Soma-se a tais axiomas, o fato de a comunicação
organizacional, amparada pelos construtos da Administração, ser considerada ferramenta,
instrumento e suporte à gestão das organizações. Para elas, a comunicação se reduz à
transmissão das informações de seu interesse aos públicos com os quais se relacionam. Deve-
se ressaltar que a construção da mensagem e a transmissão da informação são elementos
imprescindíveis aos processos de comunicação, mas, recorrendo a Morin (2011b), não se pode
reduzir o processo da comunicação a tais elementos, dada a sua complexidade.
Nesse encadeamento teórico emerge nas organizações brasileiras o termo
comunicação estratégica, a partir da década de 1990 quando a atividade começa a ser
considerada “fator estratégico de resultados que agrega valor à organização, aos negócios e
como parte integrante de gestão das empresas”. (KUNSCH, 2006, p. 179). Deve-se ressaltar
que tanto o termo quanto o conceito são amparados pelo campo da Administração, que busca
nas práticas e ações da comunicação organizacional, suporte para o engajamento de públicos
de interesse – também considerados os receptores das mensagens e informações da
organização – e a conquista de resultados. Nesse viés, considera-se estratégica a comunicação
como produção de mensagens e divulgação da informação de interesse da organização.
Estudos mais recentes ampliam a compreensão da comunicação organizacional,
marcando que essa já não pode mais ser reduzida à transmissão da informação, uma vez que
existem “fluxos multidirecionais de significação/comunicação, de diferentes intencionalidades,
somente detectáveis/observáveis no acontecer” (BALDISSERA, 2008, p. 32). Além disso,
pode-se acrescentar, a partir de Braga (2012b), que a comunicação acontece na escuta,
atravessada por circuitos sociais que impactam na construção de sentido em relação a essa
escuta. E, a partir do acontecer e dos feixes de circuito em circulação, ocorre o processo de
disputa, construção e (re)construção de sentidos, inerente à comunicação e ao ser humano,
indo para além da perspectiva informacional.
Isso significa que a própria “posição de fala” já se constitui como uma relação de atenção para a escuta (possível), que se torna, assim, produtiva. A própria ideia de um “contra-fluxo”, da recepção para a produção, se contrapõe ao risco de confundir comunicação com o “fluxo informacional”, pois este se põe apenas para “adiante”.
21
Entendo, pois, que é da reverberação mútua entre “falas” e “escutas”, de parte a parte, que se alimentam os processos interacionais em sua produção de sentido. O que não imaginamos é que a escuta possa ser tratada em uma chave de apenas duas posições, sim-e-não, acolhimento ou recusa. Podemos estar dispostos a “nos modificar” em presença da alteridade – mas nem sempre conseguimos efetivamente sintonizar de modo fino as proposições. Entendemos e não entendemos. Acolhemos e resistimos. Se observamos ao redor, em simples consulta às práticas sociais, é inevitável constatar que há graus de escuta, variações complexas na disponibilidade e no acolhimento. (BRAGA, 2012b, p. 6).
Em consonância aos estudos que trazem à tona a questão da escuta, da construção de
sentidos e a complexidade do processo de comunicação, Oliveira e Paula (2007) afirmam que
o paradigma clássico-informacional, também nas organizações, é “insuficiente para
administrar a abundância dos fluxos e demandas informacionais e a crescente rede de
relacionamentos que se estabelece entre organização e atores sociais”. (OLIVEIRA; PAULA,
2007, p. 23). É importante levar em conta as demandas, experiências e vivências, os interesses
e as exigências dos públicos e da sociedade.
Nesse sentido, conforme ressalta Kunsch (2006), torna-se muito mais complexo
compreender e praticar a comunicação organizacional, já percebida enquanto processo de
interação e prática social que vai além da produção, transmissão e recepção de informações.
Trata-se, portanto, de um processo de interação, no qual está presente a troca de informações,
mas realizada por meio de sistemas simbólicos, de forma mediada, num dado contexto onde
ocorre a circulação da informação e a consequente construção, desconstrução e (re)construção
de sentidos.
A perspectiva que trata a comunicação como um processo complexo, decorrente da
circulação, construção, desconstrução e (re)construção de sentidos evidencia um
encadeamento conceitual em relação à perspectiva mecanicista do paradigma informacional –
hegemônico até a década de 1980 –, para o paradigma interacional da comunicação. Se até
então se enfatizava o caráter instrumental tendo como objetos os estudos das mensagens, a
transmissão de informação, dos códigos, do emissor, do receptor e dos canais, as
transformações ocorridas na sociedade contribuíram para ampliar a abrangência desses
estudos, agora sob essa nova visada, que compreende a comunicação como processo e prática
social que ocorre
a partir da relação entre os interlocutores envolvidos num determinado contexto, marcado pela dimensão simbólica das práticas discursivas e pela disputa de sentidos. Portanto, como processo social multirreferencial que propicia a construção de sentidos, renovados a partir de articulações do ato enunciativo. (OLIVEIRA; PAULA, 2010, p. 41).
22
Nesse viés, os interlocutores deixam de ser vistos como receptores passivos ou
receptáculos de informações para tornarem-se sujeitos que atuam na construção e na disputa
de sentidos, influenciados por sua realidade, vivência e experiência. Esse sujeito passa a ser
compreendido como aquele que é construtor e construção, tece e é tecido nos processos histórico-sócio-culturais, objetiva-se pela consciência de si mesmo, cria, mas também sofre sujeição, experimenta a incerteza, é egocêntrico e tem autonomia-dependência, sofre constrições e contingências, e auto-eco-organiza-se. (BALDISSERA, citado por BALDISSERA, 2008, p. 35).
Os construtos teóricos sobre comunicação organizacional, que emergem no Brasil a
partir da década de 1990 sustentados por uma abordagem mais complexa e interacional da
comunicação8, passam a ter uma importância significativa para analisar os processos de
comunicação das e nas organizações. Nessa linha, esta pesquisa subsidia-se no campo da
comunicação como base do saber, especialmente em França, para quem a comunicação é uma
forma de interação, na qual “um e outro estão sempre, e desde o início, diretamente
implicados”. (FRANÇA, 2007). Conforme a autora, a comunicação, enquanto interação, é um
processo mediado por símbolos e estímulos, que ocorre em diferentes fases que se
influenciam, selecionando e modificando as respostas aos estímulos num sistema de
comportamento, fundamentando o paradigma interacional. Sendo assim,
a comunicação enquanto interação é uma relação de dois: um e outro estão lá desde o princípio, e não podem ser ignorados (ainda que nosso foco de análise incida mais particularmente sobre a ação de um deles). Não é possível, numa perspectiva interacional, analisar a intervenção de um emissor sem levar em conta o outro a quem ele se dirige e cujas respostas potenciais (as respostas do outro imediato e de outrem – o grupo ao qual pertence) já atuam com antecedência sobre o seu dizer. (FRANÇA, 2007).
Dessa maneira, compreender a comunicação enquanto processo de interação implica
em assumi-la como um dos elementos transformadores da sociedade e, consequentemente, das
organizações. Afinal, é por meio da comunicação que ocorre a construção e desconstrução de
sentido entre um e outro; sujeito e sujeito, sujeito e organização, organização e organização;
enfim, nas relações da vida em sociedade.
Importante ressaltar ainda que o processo de comunicação ocorre nas relações e, para
produzir sentido, já se considera, com antecedência, a desconstrução e a construção de sentido
8 Dentre os brasileiros, devem-se destacar autores como Antonio Fausto Neto (Unisinos), Ciro Marcondes Filho (USP), José Luiz Braga (Unisinos), Maria Ângela Mattos (PUC-Minas), Muniz Sodré (UFRJ) e Vera França (UFMG), que trabalham a partir da perspectiva da interação. Aliada a essa perspectiva – ou ao paradigma relacional –, está a complexidade, presente de alguma forma nesses autores, e a importância de se analisar a circularidade, definida por Fausto Neto (2009) como o lugar de construção de sentido da comunicação.
23
que vai se suceder no outro, mesmo sem a garantia de que isso aconteça conforme idealizado
quando da produção. Em alusão a França (2007), “não se trata aí de simplesmente [...] querer
analisar todos os ingredientes do processo comunicativo, mas de pensá-los em articulação e
mútua afetação”, uma vez que a construção de sentido se dá em todo o processo de
comunicação inclusive, e principalmente, no outro, num processo de interação permanente, no
qual ocorre a constituição do discurso da comunicação estratégica no contexto das
organizações.
Na análise que aqui se propõe, as regras de formação [do discurso] têm seu lugar não na “mentalidade” ou na consciência dos indivíduos, mas no próprio discurso; elas se impõem, por conseguinte, segundo um tipo de anonimato uniforme, a todos os indivíduos que tentam falar nesse campo discursivo. (FOUCAULT, 2011a, p. 74).
A partir do que foi posto até o momento, percebe-se no encadeamento histórico desse
discurso, principalmente a partir deste século, visadas diferenciadas na construção teórica
relacionada à comunicação organizacional, buscando-se considerar sua complexidade e
importância no processo de construção de sentidos, sem perder de vista, no entanto, sua
função informacional. Paralelamente a esse movimento no campo da Comunicação, Deetz
(2010, p. 84) destaca que “a comunicação, cada vez mais, vem sendo reconhecida como o
processo fundamental pelo qual as organizações existem e como ponto central para a análise
da produção e reprodução organizacionais” e não como um instrumento ou objeto que se
possa manipular.
Soma-se às transformações que proporcionaram a visada do paradigma interacional,
àquelas decorrentes da globalização da economia e das tecnologias de informação e
comunicação9, também condicionadas, segundo Vizer (2011, p. 83), “à velocidade e à pressão
social e econômica das mudanças tecnológicas”, impactando no fazer da comunicação
organizacional. Percebe-se fortemente a influência dessas mudanças nos modelos de gestão
organizacional e – associada a eles –, na comunicação nesse contexto. Estimuladas pelas
reflexões recentes dos campos da Administração e da Comunicação, as organizações,
principalmente as de médio e grande porte, têm procurado aproximar-se de seus públicos de
relacionamento adotando as tecnologias de informação e comunicação como forma de
interação. No entanto, ainda o fazem a partir de uma lógica informacional: a ênfase está na
técnica (ou na tecnologia) e na transmissão da informação aos diferentes públicos.
9 Tais tecnologias estão relacionadas aos produtos decorrentes da WEB2.0 com destaque para a comunicação via
redes sociais, internet e intranet que, em tese, proporcionam maior interação entre os públicos interlocutores.
24
Para promover a interação a partir das tecnologias digitais, entretanto, seriam
necessárias “invenções sociais de direcionamento interacional” (BRAGA, 2012a, p. 36), uma
vez que o avanço das tecnologias não é suficiente para promover interação: é necessário que o
componente social insira-se nesse processo, fazendo acioná-la como interação (BRAGA,
2012a). Reforçando tal raciocínio deve-se ressaltar, a partir de Foucault (2012b), que a
rapidez e a amplitude das mudanças que ocorrem nos dias de hoje podem estar limitadas a
uma modificação nas regras de formação dos enunciados de um discurso, não significando,
necessariamente, mudanças nos discursos construídos.
Deve-se ressaltar como já mencionado, que os construtos teóricos da comunicação têm
como fundantes a prática e, em função disso, a adoção de um paradigma interacional implica
em mudanças de atitude, o que “exige uma reorientação intelectual, um rompimento com os
vínculos sociais. E uma reestrutura da experiência passada. A mudança de atitude causa uma
desordem nas relações sociais” (BOSI, 1997, p. 100). E essa situação pode levar ao
desconforto e, antagonicamente, ao conformismo10 no desenvolvimento da comunicação no
contexto das organizações, já sustentada por um discurso hegemônico – oriundo do paradigma
informacional – de onde emergem os conceitos e a práxis desse saber.
2.2 Do planejamento à estratégia planejada de comunicação
A visada dos estudos relacionados à comunicação no contexto das organizações, que
parte da perspectiva informacional para a interacional, ocorre a partir da década de 1990 e,
mais intensamente, do século XXI, muito em função dos movimentos da sociedade e das
organizações. Deve-se destacar ainda que o desenvolvimento conceitual da comunicação
organizacional traz aportes do campo da Administração e, dentre eles, os relativos à
estratégia, também inserida nos construtos da comunicação organizacional. Sendo assim, para
compreender os enunciados referentes à estratégia na formação do discurso da comunicação
organizacional, deve-se demarcar o que se denomina estratégia, bem como seu encadeamento
conceitual até chegar ao construto de estratégia planejada de comunicação.
Para isso, recorre-se, inicialmente, à origem e apropriação do termo pela área e pelo
campo da Administração. Originária do grego, etimologicamente, a palavra estratégia
significa a arte dos generais no comando de suas tropas para vencer a batalha – strategos,
10 Deve-se entender conformismo segundo explica Bosi (1997, p. 100), recorrendo a Wertheimer, como “‘prisioneiros do presente’ oscilando ao sabor dos episódios, ou apegando-se a um quadro rígido de referência para se protegerem da desorientação, resistindo arbitrariamente a qualquer mudança. O medo da desagregação traz impenetrabilidade a novas significações, tornando-os ao mesmo tempo rígidos e instáveis”.
25
deriva de stratos (exército) e agos (comando). Nessa linha, segundo Foucault interpretado por
Castro (2009), a estratégia está relacionada à “escolha das soluções ganhadoras” ou aos
“mecanismos utilizados nas relações de poder” (CASTRO, 2009, p. 152). Tal orientação
conceitual – denominada por Perez (2012a, p. 44) como paradigma militar da estratégia –,
permanece ainda hoje, com algumas derivações.
Conforme Maximiano (2008), com o processo de industrialização e o incremento dos
negócios, no início do século XX, o conceito de estratégia começa a ser transferido e adaptado
à gestão das empresas, que precisavam se planejar face à concorrência que começava a se
apresentar. A estratégia nas organizações passa a ser trabalhada a partir de planejamentos
elaborados de negócio. Nesse viés,
O processo de planejamento estratégico compreende a tomada de decisões sobre o padrão de comportamento (ou cursos de ação) que a organização pretende seguir: produtos e serviços que pretende oferecer e mercados e clientes que pretende atingir. [...] consiste em estruturar e esclarecer a visão dos caminhos que a organização deve seguir e os objetivos que deve alcançar. (MAXIMIANO, 2008, p. 231).
Deve-se acrescentar ainda que a estratégia, no campo da Administração, está
relacionada aos objetivos de longo prazo e aos modos de persegui-los que afetam toda a
organização (ACKOFF, 1975). De forma geral, essa perspectiva da estratégia traz a ideia de
linearidade e controle a partir da elaboração e desenvolvimento de planos de ação em busca
de um objetivo específico e da tentativa de se controlar o futuro, numa alusão ao paradigma
militar da estratégia.
Segundo Mintzberg (2004), no entanto, planejamento e estratégia aparecem mais
fortemente na literatura da Administração a partir de 1965 tratados, muitas vezes, como
sinônimos. Antes disso, o planejamento estratégico constituía-se como “um exercício
orçamentário na América dos anos 1950; ele começou a se difundir com rapidez, tendo se
instalado firmemente na maioria das corporações de grande porte em meados de 1960”.
(MINTZBERG, 2004, p. 21). Ainda conforme o autor, desde a adoção do conceito de
estratégia pela Administração, na primeira metade do século passado, são identificadas dez
escolas do pensamento na formação da estratégia: três delas prescritivas, que buscam explicar
as maneiras “corretas” de se ocupar com a elaboração da estratégia e as outras sete, escolas
mais descritivas ou conceituais. A primeira dessas escolas, a do Design, considerada
prescritiva, acaba por subsidiar as demais e define estratégias “como caminhos seguros –
planejados e controlados – de condução ao desejável pela alta administração” (REIS;
MARCHIORI; CASALI, 2010, p. 171).
26
Mintzberg (2004) ressalta, porém, que estratégia e planejamento são conceitos
distintos, embora complementares. Segundo ele, estratégia tanto pode ser um plano, como um
padrão, uma posição ou uma perspectiva e o planejamento pode ser compreendido como o
processo de elaboração da estratégia, mas
“planejamento estratégico” não pode ser sinônimo de formação de estratégia, que abrange tudo isso, e certamente não é eficaz nesse processo. A implicação disso é que o planejamento pode ter menos a ver com formação de estratégia do que geralmente se alega. (MINTZBERG, 2004, p. 39).
Ainda a partir de Mintzberg (2004), o planejamento estratégico pode ser definido e
analisado sob várias perspectivas: a) é pensar no futuro; b) é controlar o futuro; c) é tomada de
decisão; d) é tomada de decisão integrada; e e) é um procedimento formal para produzir um
resultado articulado, na forma de um sistema integrado de decisões. Dessa forma, segundo o
autor, o planejamento deve ser visto “como o esforço de formalizar partes [dessas coisas] –
por meio da decomposição, articulação e racionalização” (MINTZBERG, 2004, p. 28). Pode-
se concluir então que o planejamento é a formulação11 da estratégia que considera a tomada
de decisão, o pensar e a busca por controlar o futuro, numa articulação de todo esse processo.
Entretanto, o autor chama a atenção para as armadilhas do planejamento estratégico e
coloca o seu uso artificial como “relações públicas”, ou “planejamento para apresentação”,
em benefício da imagem da organização, de maneira superficial, como uma dessas
armadilhas. Nesse caso, ressalta, “somente os planejadores aparecem no topo de maneira
perversa, beneficiando menos a organização do que a si mesmos” (MINTZBERG, 2004, p.
181). Conforme explica o autor, o planejamento pode se tornar um jogo para impressionar
tanto interna como externamente, embora sem consistência enquanto planejamento efetivo.
O planejamento decorativo (isto é, relações públicas) pode facilmente tornar-se político, opondo as pessoas de fora em busca de controle às de dentro, que procuram proteção. O mesmo pode acontecer internamente quando o planejamento passa a ser um mecanismo para impressionar a gerência sênior. (MINTZBERG, 2004, p. 181).
Assim, pode-se dizer, recorrendo a Landowski (1992) que, por trás da fachada da
expressão planejamento estratégico, há uma noção ampliada de práticas significantes e de
relações de força – e de poder. E, nesse caso, não é propriamente o planejamento ou a
estratégia que estão em causa, mas o planejamento “manipulatório de um meta-sujeito”
11 Formulação aqui deve ser compreendida enquanto articulação dos elementos ou fatores que constituem a
estratégia.
27
(LANDOWSKI, 1992, p. 150), em condições de interação e representação num determinado
grupo social.
Por outro lado, a prática da comunicação nas organizações tornou-se uma ferramenta
dos planejamentos que passaram a ser vistos, além de programação para as ações
organizacionais, como “meios de comunicação e instrumentos de controle” (MINTZBERG,
2004, p. 278). Desenvolve-se um planejamento que deve ser conhecido e compreendido
interna e externamente, conforme os interesses, objetivos e metas organizacionais. Com isso,
acredita-se no engajamento de pessoas e profissionais envolvidos contribuindo para o alcance
dos objetivos traçados pela organização e expostos por meio do planejamento.
Nessa perspectiva, a comunicação torna-se um dos papéis ou capacidades mais
importantes do planejamento para que todos na organização – e aqueles públicos externos que
a interessam – conheçam sua estratégia e posicionamento. Internamente, a comunicação,
enquanto um dos papéis do planejamento, também é imprescindível: por meio dela, os
empregados sabem o que precisam fazer para que a estratégia seja concretizada. Nesse caso, a
comunicação, por meio do planejamento, proporciona “um meio pelo qual a administração,
como um todo, normalmente, [pode] falar em estratégia”. (MARKS, citado por
MINTZBERG, 2004, p. 279).
No entanto, a comunicação pode ser externa, assim como interna, com os planos sendo usados para buscar o apoio tangível, e também moral, dos influenciadores [...]. Não estamos nos referindo ao que antes chamamos de planejamento como exercício de relações públicas – “planejamento para apresentação” porque parece bom, em vez de porque é bom. Ao contrário, pretendemos informar o público interno sobre a substância dos planos para que ele possa ajudar a organização a realizá-los. (MINTZBERG, 2004, p. 280).
Pode-se dizer que foi essa a linha assumida tanto pela prática profissional quanto pelos
estudos da comunicação organizacional, a partir da década de 1990, quando o conceito de
estratégia passou a ser incorporado por esse saber. É nesse contexto que a comunicação
estratégica ganha corpo na Comunicação, sendo associada à intenção no desenvolvimento de
projetos, planos e ações de comunicação impulsionada por e com vistas aos resultados
organizacionais. Por seu encadeamento, pode-se dizer que o conceito de comunicação
estratégica reforça o paradigma informacional da comunicação no contexto das organizações,
bem como seu discurso, uma vez que a perspectiva adotada traz também a ideia de linearidade
da estratégia, vista como divulgação da informação e não como interação.
Conclui-se, recorrendo a Mattos (2008, p. 21), que “[...] o forte viés ‘administrativo’
adotado pelos estudos de Comunicação Organizacional no Brasil reside justamente nessa
28
dupla origem – mercado e ensino de Administração”, ou seja: a atividade profissional nasce
como necessidade de mercado e seu desenvolvimento conceitual se dá fortemente
influenciado pelos aportes da Administração, campo no qual a comunicação, compreendida
como divulgação da informação ou do planejamento estratégico conforme aqui mencionado, é
considerada instrumento e ferramenta de gestão.
No entanto, a partir do campo da Comunicação,
a concepção estratégica da comunicação trabalha no sentido de convergir esses diferentes interesses [dos públicos de relacionamento da organização] manifestados para um ponto comum, com a ajuda da argumentação e da postura dialógica, dando vitalidade ao ponto comum [constituído pelos interesses comuns dos diferentes interlocutores]. (OLIVEIRA, 2002, p. 94).
Ainda em contraponto à ideia de comunicação como ferramenta de gestão, estudos
mais recentes desse campo a colocam como estruturadora do novo cenário organizacional,
uma vez que as organizações “substituem várias estruturas institucionais tradicionais, tais
como a família, a igreja, os grupos sociais de relacionamento e o governo” (DEETZ, citado
por REIS; MARCHIORI; CASALI, 2010, p. 171). Hoje, são as organizações que definem o
tempo disponível para o trabalho, o lazer e até mesmo para as atividades sociais, além de
definirem também as condições de desenvolvimento pessoal e influenciarem valores morais e
éticos dos sujeitos.
Nesse sentido, percebe-se cada vez mais que as organizações não se limitam à ordem
da racionalidade: “há consenso de que os três elementos centrais e estruturadores deste novo
cenário são: 1) as organizações formais, 2) a comunicação e 3) o declínio do paradigma da
racionalidade”. (REIS; MARCHIORI; CASALI, 2010, p. 170). Ou seja, hoje, a comunicação
exerce grande influência na sociedade e nas relações sociais assumindo uma presença e uma
função também estruturadoras da sociedade. Nesse cenário fortemente influenciado pela
comunicação e no qual as organizações têm uma forte interferência na vida do sujeito, “a
racionalidade perde poder enquanto força organizadora e determinante da vida social
contemporânea”. (REIS; MARCHIORI; CASALI, 2010, p. 170).
Sendo assim, no cenário hodierno, no qual imperam a instabilidade e a complexidade
dos processos de comunicação e das relações, as estratégias passam a ser compreendidas
como
perspectivas de longo alcance que, apesar de propostas pela alta administração, são, segundo Jarzabkowski, Balogun e Seidl (2007), efetivamente construídas por meio da contribuição de vários agentes (internos, externos, hierarquicamente
29
diferenciados). Tais contribuições, como elementos constituintes de processos de produção de sentido realizados pelas (e nas) interações e interpretações de um coletivo, dão à estratégia uma dimensão diferente daquela apresentada no contexto da modernidade: a estratégia deixa de ser compreendida como escolha unicamente racional e sempre antecipada de um caminho seguro a ser seguido. Sob a ótica contemporânea, vislumbra-se a estratégia como processo de produção de sentido sobre o presente, que nos diz e nos faz refletir sobre qual é o futuro que estamos construindo com nossas escolhas. (REIS; MARCHIORI; CASALI, 2010, p. 172).
Conclui-se, com isso, que as estratégias também ocorrem na interação e não dependem
exclusivamente da vontade ou dos interesses da organização. Constituem-se como práticas
sociais que se desenham e interagem sem controle, mas, paradoxalmente, são acopladas pela
organização até como forma de sobrevivência, num movimento de autopoiese12 e
acoplamento, conforme definiram Maturana e Varela (1995) ao explicarem o comportamento
das células: numa atuação estratégica e de sobrevivência, elas se abrem para incorporar – ou
acoplar – uma determinada molécula a seus processos. Os mesmos autores trazem seu
raciocínio de autopoiese e acoplamento para a interação social, também determinada em
função da sobrevivência: “todos os indivíduos de um formigueiro estão estreitamente
acoplados em sua dinâmica estrutural fisiológica” (MATURANA; VARELA, 1995, p. 211).
Pode-se, a partir daí, trazer o comportamento biológico desses insetos sociais,
delineado estrategicamente para sua sobrevivência, para as interações nos “sistemas sociais
humanos”. No entanto, quando se trata de sistemas sociais humanos, o delinear das estratégias
ganha mais complexidade: os sujeitos estão sempre em relação e em relação de forças,
constituída por componentes conjunturais, econômicos, sociais e políticos que influenciam,
alteram ou mantêm o modo particular de desenvolvimento de um sistema. Conforme
Maturana e Varela (1995, p. 224), “assim como a existência do organismo requer a
estabilidade operacional de seus componentes, a existência de um sistema social humano
requer a plasticidade operacional (comportamental) de seus componentes”, o que ocorre por
meio de ações e atitudes estratégicas, por vezes até instintivas.
Consonante ao raciocínio de Maturana e Varela, Pérez (2012a) afirma que a
comunicação é uma das estratégias inerentes à vida e, portanto, comunicação e estratégia são
conceitos associados e complementares. Nesse viés, a estratégia é vista como prática social
que pode ou não ser planejada. Quando planejada, pode ser compreendida como a capacidade
do homem para aproveitar melhor as oportunidades, por meio da interação, dentro de um
12O conceito de autopoiese foi apropriado por Curvello (2009) para a comunicação no contexto das
organizações, para buscar explicar a necessidade, até de sobrevivência dessas, em relação à abertura – necessária – que proporciona a interação e o relacionamento da organização com o ambiente.
30
sistema social atravessado pelas relações de forças, em direção a um futuro e não a outro,
eleito por ele, interpretando e conferindo sentido ao mundo. Dessa forma, pode-se dizer que
os homens fazem coisas e atuam muitas vezes “condicionados” pelos seus sistemas biológicos, pela natureza ou pelo poder econômico ou pelo medo, mas diferentemente da sociedade das formigas se comunicam por meio da linguagem, acham e imaginam alternativas, observam e interpretam o mundo e desenvolvem estratégias de ação. (VIZER, 2011, p. 69, grifo nosso).
Ainda segundo Perez (2012a) a estratégia de comunicação planejada, nunca pode ser
pensada numa perspectiva linear e de controle, mas como prática social. Recorrendo a Braga
(2012), deve-se ressaltar que na prática social encontram-se circuitos13 que “envolvem
momentos dialógicos, momentos “especializados”; momentos solitários – o mundo circula em
nosso self – e momentos tecno-distanciados, difusos” (BRAGA, 2012, p. 44), sugerindo a
complexidade da estratégia planejada de comunicação.
Pode-se inferir que essa forma de compreender a estratégia de comunicação – que
pode ou não ser planejada – está em consonância com o mundo dinâmico no qual nos
inserimos, onde
o novo é a velocidade, a descontinuidade e a turbulência da mudança que vivemos desde os fins da década de 1980. Um tipo de mudança que não permite uma gestão incremental, mas que exige respostas cada vez mais rápidas em função da pressão dos mercados e da sociedade. (PÉREZ, 2012, p. 35, tradução nossa14).
Conforme ressalta Pérez (2012b), a partir dessa perspectiva, estratégia passa a ser
concebida como a necessidade de transformar a realidade, tomando decisões e assumindo
riscos, modificando essa realidade para fazer melhor as coisas e cumprir metas estabelecidas
pelos sujeitos ou pelas organizações. Embora não se tenha controle ou garantia do alcance
dessas metas, uma vez que se está num contexto social e relacional no qual os elementos não
são controláveis, ao assumir os riscos na tomada de decisão, os sujeitos interlocutores tornam-
se construtores parciais de um futuro desejado. Tal perspectiva conceitual, adotada num
coletivo, torna-se a base para se desenvolver uma estratégia planejada de comunicação na
organização, adotando-a como prática social e complexa, não a reduzindo ao controle sobre e
da informação.
13 Braga (2012, p. 44) institui o conceito de circuitos para mostrar que a comunicação, hoje, ocorre a partir de “fatos comunicacionais da sociedade” que envolvem a tecnologia e a cultura, e “cada setor ou processo de sociedade participa de circuitos múltiplos” sendo também a sociedade ou os “campos sociais” atravessados por circuitos diversos.
14 “[...] lo nuevo es la velocidad, discontinuidad y turbulencia del cambio que vivimos desde finales de la década de 1980. Un tipo de cambio que no permite uma gestión incremental, sino que exige respuestas cada vez más rápidas ante la presión de los mercados y la sociedad.” (PÉREZ, 2012, p. 35).
31
Sendo assim, para compreender as estratégias de comunicação nas organizações, a
partir da construção conceitual aqui referenciada, devem-se considerar, fundamentado em
Pérez (2012a, 2012b), quatro premissas: a) o pensamento complexo de Morin e os novos
paradigmas científicos dos séculos XX e XXI; b) a necessidade de recuperar o ser humano só
ou em grupo, mas sempre em relação; como o verdadeiro protagonista de sua vida e de sua
ação; c) as diferenças humanas como causa e como efeito: todos somos diferentes e as
estratégias humanas estão ligadas a essa questão; e d) entender a comunicação e a estratégia
como fenômenos próprios da vida.
Assim, estratégia passa a ser assumida como prática social e não uma formulação ou
método estático e linear. Tal raciocínio vai ao encontro da perspectiva aqui colocada para os
estudos da estratégia, proposta por Pérez (2012a): a estratejar15, que se sustenta na premissa
de que o homem é um animal simbólico; vivendo num mundo de visões múltiplas, formadas
por cada indivíduo, num jogo de relações, percepções e ambiguidades semânticas. Sua
proposta consiste em compreender esse ser humano relacional como base da estratégia.
Conforme o autor,
é necessário abandonar as velhas metáforas e começar a pensar em um conjunto de fluxos e de elementos que se autoproduzem e reconfiguram. Pensar em uma rede de públicos dos quais dependemos e em uma rede de conversações da qual nasce a inovação e que nos ajuda a integrar-nos a nossos ambientes. (PÉREZ, 2012, p. 175, tradução nossa16).
Nessa perspectiva, gerir ou gerenciar a mudança – e os processos de comunicação no
contexto organizacional – é gerenciar o futuro, embora esse gerenciar não esteja associado ao
sentido de controle, mas de atuação na direção estabelecida pelo sujeito individual ou
coletivo. Afinal, estratégia é a interface, concepção que também altera a perspectiva
conceitual advinda inicialmente do campo da Administração, uma vez que nenhuma estratégia
pode nos garantir o sucesso – ou o resultado – porque toda a ação humana se move em
incerteza. Portanto, não se deve esperar nenhuma estratégia infalível que nos leve passo a
passo em direção a um objetivo.
15Tradução nossa para la estrategar, nomenclatura utilizada por Rafael Alberto Pérez para denominar o processo
estratégico e para sintetizar a Nova Teoria da Estratégia, que começou a ser estudada em 2001 e deve estar concluída em 2016, cujas argumentações encontram-se no livro do autor, Pensar la estratégia: outra perspectiva (PÉREZ, 2012a).
16 “[...] hay que abandonar las viejas metáforas y comenzar a pensar en un conjunto de flujos y de elementos que se autoproducen e reconfiguran. Pensar en una red de públicos de lós que dependemos y en uma red de conversaciones de las que nace la innovación y que nos ayudan a engancharnos en nuestros entornos.” (PÉREZ, 2012, p. 175).
32
Por outro lado, no contexto das organizações, é importante que se tenha uma estratégia
planejada de comunicação que aponte em uma direção, considerando a sua falibilidade e todo
o processo de interação e construção, desconstrução e (re)construção de sentido que a abarca.
Nesse viés, exige-se
novo discurso e nova postura, [...] uma vez que se fundamenta na dimensão dialógica com todos os setores da organização e grupos de relacionamento. A circulação de informações pela organização e a respeitabilidade pelas posições divergentes consolidam a produção de sentido da organização, ao mesmo tempo que estimula um processo estratégico de comunicação. (OLIVEIRA, 2002, p. 96).
Dessa maneira, para compreender comunicação e estratégia, parte-se do princípio de
que a comunicação é um dos constituintes das organizações, “tome ela a forma dos processos
espontâneos e informais presentes no cotidiano organizacional ou dos processos planejados”
(OLIVEIRA, 2008, p. 97). Sendo assim, para se pensar em estratégia planejada de
comunicação,
os processos de comunicação precisam ser orientados por estratégias que são elaboradas com base em diferentes metodologias, entre as quais, o planejamento estratégico. Precisam também levar em consideração a realidade de comunicação e os diferentes interesses e perspectivas dos sujeitos na dinâmica interativa. (OLIVEIRA, PAULA, 2012, p. 71).
No entanto, pensar a comunicação de maneira estratégica não significa definir um
planejamento rígido ou de controle, uma vez que a comunicação é um processo dinâmico,
moldado pelas interações e pelas relações – e relações de força – entre os diferentes
interlocutores, em determinados momentos, cenários e contextos.
A partir do que aqui se coloca, a associação entre os conceitos de comunicação e
estratégia à gestão das organizações pode ter duas perspectivas antagônicas e, ao mesmo
tempo, complementares: a partir do campo da Administração significa estabelecer ações e
planos para esperar e buscar resultados por meio e/ou a partir da comunicação, numa tentativa
de manter o poder institucionalizado. Já a partir do campo da Comunicação, as estratégias de
comunicação se constituiriam na busca pela compreensão das interações e do
(re)conhecimento do outro como um interlocutor e não um receptáculo, sujeito na produção e
construção de sentidos, também em constante relação de forças. Portanto, tem-se, de um lado,
uma linha de pensamento na qual a comunicação é desenvolvida de forma linear e objetiva e,
de outro, assumida em sua complexidade e, em função disso, a não garantia da compreensão
da mensagem tal qual foi divulgada.
33
2.3 O modelo de interação comunicacional dialógica No encadeamento dos estudos teóricos da comunicação organizacional,
fundamentados pelo paradigma interacional e pela noção de estratégia como prática social,
pode-se destacar a construção do modelo de interação comunicacional dialógica,
desenvolvido por Oliveira (2002) em sua tese de doutorado, alicerçado em reflexões teóricas e
pesquisa empírica. A base teórica do modelo funda-se na complexidade da comunicação e no
paradigma relacional, conforme declarado por Oliveira e Paula (2007),
um processo plural e multifacetado, de interação entre atores sociais. [...] Para sua construção [do modelo], buscam-se, inicialmente, referências teóricas em autores que estudam a interlocução e a recepção, como Queré (1991) e Fausto Neto (1998), Habermas (1989), com a teoria da ação comunicativa, e Grunig (1992), com a comunicação simétrica de mão dupla. Posteriormente, a concepção do modelo foi ampliada com os estudos de interface de Braga (2001, 2004). (OLIVEIRA; PAULA, 2007, p. 24-26).
Na formulação do modelo, considera-se ainda a transversalidade do saber da
comunicação organizacional, sua interface com outras áreas de conhecimento e a necessidade
de compreender os diversos fenômenos comunicacionais e sociais, conferindo maior
abrangência ao modelo que não se restringe ao recorte de uma disciplina ou a um campo
utilitário. “Sabe-se [...] que nenhuma visão é absoluta, visto que as relações não passam
somente pelo campo utilitário” (OLIVEIRA, 2002, p. 92) e, em função disso, tal recorte
impossibilitaria a compreensão da comunicação como um campo complexo, no qual, fazendo
alusão a Morin (2011b), tudo está tecido junto: as conjunturas econômica e social, a cultura, a
produção da informação, a circulação, a recepção, a construção e desconstrução de sentidos, a
ordem e a desordem.
O modelo de interação comunicacional dialógica traz a ideia do espaço comum da
comunicação, no qual pode ocorrer a construção da interlocução entre a organização e os
diferentes públicos com os quais ela se relaciona direta ou indiretamente. A partir dessa
visada, a organização deixa o lugar exclusivo de emissora ou produtora da comunicação, para
tornar-se um dos interlocutores que tanto atua na construção como na recepção da
informação, construindo e desconstruindo sentidos a todo o momento. Dessa forma, o modelo
“busca contemplar possíveis interações entre a organização e os grupos ligados a ela e
demonstra a complexidade dos processos comunicacionais no contexto organizacional”.
(OLIVEIRA; PAULA, 2007, p. 26).
34
Retomando Deetz (2008) – para quem as mudanças da contemporaneidade desafiam e,
ao mesmo tempo, fornecem potenciais para (re)pensar a comunicação no contexto das
organizações –, pode-se dizer que esse espaço comum, contemplado pelo modelo, vai ao
encontro da realidade contemporânea, caracterizada pela fluidez dos públicos e pela
complexidade dos processos de comunicação. Além disso, o modelo desenvolvido por
Oliveira (2002) articula os construtos de comunicação, a partir de uma perspectiva relacional,
e de estratégia enquanto prática social.
Tal perspectiva sugere uma nova forma de as organizações falarem de si mesmas e de
estabelecerem suas relações sociais com os diferentes interlocutores. Afinal, traz a
necessidade de se considerar a realização de negociações e diálogos abertos, em espaços de
interação constante. Postula ainda a interação dialógica, que insere a ideia do outro – então
receptor – e da circularidade da informação, dos signos e significantes como elementos
definidores do sentido. Conforme Braga (2012), quando se enfatizava os meios nos estudos da
comunicação, a circulação restringia-se à passagem de algo do emissor para o receptor,
buscando verificar a consistência entre os pontos de partida e de chegada. “Com a percepção
de que os receptores são ativos, a circulação passa a ser vista como o espaço do
reconhecimento e dos desvios produzidos pela apropriação”. (BRAGA, 2012, p. 38).
Tais questões nos levam a entender que o modelo de interação comunicacional
dialógica propicia a “interlocução coerente e permanente com os atores sociais; [...] a
construção de sentidos sobre estratégias, políticas e conduta da organização; e a [...] validação
pública da organização” (OLIVEIRA; PAULA, 2007, p. 27), numa atuação circular,
estratégica e em consonância com os objetivos da organização, bem como dos públicos com
os quais ela se relaciona, mas também como uma nova forma de compreender a comunicação
nesse contexto. A partir desse modelo, segundo Oliveira e Lima (2012), os processos
planejados da comunicação seriam compreendidos como estratégicos e conduzidos de forma
intencional pelas organizações. Para tanto,
É importante que a organização compreenda que os grupos interlocutores presentes no processo também têm suas estratégias comunicacionais. [...] a comunicação é um processo dinâmico, em movimento, que pressupõe atualização e renovação constantes, com base nas próprias interações da organização, com os grupos envolvidos em determinada situação. (OLIVEIRA; LIMA, 2012, p. 71).
Dessa maneira, o modelo de interação comunicacional dialógica propõe a revisão do
paradigma informacional, cuja ênfase está na transmissão eficaz da informação – muitas vezes
considerada sinônimo de sentido para as organizações. Ele “amplia essa postura da
35
organização frente aos atores internos e sociais, na medida em que repensa o processo
comunicacional a partir de uma nova visão, considerando todos os grupos como interlocutores
que vão estabelecer uma interação através do diálogo”. (OLIVEIRA, 2002, p. 87).
Busca-se, então, situar o modelo de interação comunicacional dialógica à luz do
contexto das organizações, que tem suas especificidades, mas que recebe e exerce influência
de fatores internos e externos. Aqui, pode-se recorrer à Morin (2010), transpondo a ideia da
sociedade como ecossistema para o campo empírico das organizações, para dizer que a
organização precisa se reconhecer enquanto parte de um ecossistema, abrindo-se para a
comunicação e para a relação com o ambiente, possibilitando trocas e construção de sentidos,
uma vez que
um sistema que funciona precisa de uma energia nova para sobreviver e, portanto, deve captar essa energia no meio ambiente. Consequentemente, a autonomia se fundamenta na dependência do meio ambiente e o conceito de autonomia passa a ser um conceito complementar ao da dependência, embora lhe seja, também, antagônico. Aliás, um sistema autônomo aberto deve ser ao mesmo tempo fechado, para preservar sua individualidade e sua originalidade. Ainda aqui, temos um problema conceitual de complexidade. No universo das coisas simples, é preciso “que a porta esteja aberta ou fechada”, mas, no universo complexo, é preciso que um sistema autônomo esteja aberto e fechado, a um só tempo. É preciso ser dependente para ser autônomo. (MORIN, 2010, p. 184).
A partir desses construtos, acredita-se que as organizações, até para se preservarem,
abram-se, num processo constante e simultâneo de acoplamento, organização e
desorganização, o que impacta também nos processos de comunicação. Nesse viés e segundo
o modelo proposto por Oliveira (2002), a bipolaridade emissor/receptor é redimensionada
para um processo que percebe a ambos – organização e públicos – como interlocutores, ou
seja: as organizações, antes desempenhando o papel fixo de emissores ou protagonistas do
processo de comunicação, tornam-se interlocutores, ora assumindo o papel de emissor, ora o
de receptor, sempre em movimento e de maneira dialógica. Conforme ressaltam Oliveira e
Paula (2012), espera-se que as organizações já percebam que
não é mais possível controlar os processos comunicacionais nem deixar de reconhecer que cada interlocutor do processo interativo constrói significações para os discursos e as ações organizacionais. [...] A comunicação é um processo social que tem movimento próprio e, por isso mesmo, os processos interativos das organizações emergem de processos complexos, multidimensionais e multidirecionais, envolvendo cenários, pessoas, interesses e negociações. (OLIVEIRA; PAULA, 2012, p. 75).
A partir dos estudos de Oliveira (2002), pode-se concluir que as organizações
precisam reconhecer a importância do campo da comunicação, associando-o à construção do
36
conceito organizacional – ou ao sentido da organização – “considerando o envolvimento de
todos os grupos que estão ligados às estratégias organizacionais” (OLIVEIRA, 2002, p. 158),
e atuando como interlocutora nos relacionamentos.
Para o desenvolvimento do modelo, de forma estratégica, Oliveira (2002) postula a
necessidade de se considerar cinco dimensões: a) tratamento processual da comunicação; b)
inserção da comunicação na cadeia de decisões da organização; c) gestão de relacionamentos;
d) processo planejado de comunicação; e e) processo monitorado de comunicação. Pode-se
dizer que, na práxis, o desafio está na compreensão e adoção dessas cinco dimensões,
imprescindíveis ao modelo de interação comunicacional dialógica.
Compreender o que significa cada uma dessas dimensões conceituais é o primeiro
desafio para a comunicação organizacional. A expressão tratamento processual da
comunicação, por exemplo, pode assumir diferentes interpretações dentro da organização. Ela
pode remeter à ideia de processo constituído por etapas ou procedimentos de produção, desde
o início até a entrega de um produto de comunicação, uma vez que a comunicação é percebida
como ferramenta e instrumento de gestão, com ênfase na construção de mensagens e
divulgação de informação, por meio de canais de comunicação. Já no modelo proposto,
considerar o tratamento processual da comunicação implica em compreendê-la como “um
conjunto dinâmico de atividades ou atos interdependentes, que se realizam em uma sequência
contínua e apresentam unidade” (OLIVEIRA; PAULA, 2012, p. 67). No entanto, conforme
ressaltam as autoras, não se trata de linearidade e não é possível estabelecer uma conclusão,
mas momentos ou etapas que possam ser considerados parcialmente concluídos.
Outra questão relevante, que também pode se configurar como desafio para a práxis da
interação comunicacional dialógica, é a necessidade de inserir a comunicação no sistema de
gestão da organização, o que sugere um papel estratégico – e não apenas instrumental da
comunicação. Mesmo que não tenha um papel decisório, uma vez que é necessário considerar
uma série de fatores na tomada de decisão, a comunicação, quando estratégica, pode
influenciar na tomada de decisões, principalmente quando essas afetam o relacionamento com
os públicos. Hoje, muitas organizações colocam os profissionais de comunicação nesses
fóruns decisórios, reconhecendo a importância e a análise desses profissionais na tomada de
decisões. Há casos, no entanto, nos quais as organizações buscam o aconselhamento da área
apenas em momentos de crise, ainda a partir da perspectiva de controle e da estratégia como
divulgação das informações de interesse da organização.
Deve-se observar que, no contexto organizacional, a comunicação é sempre
referenciada como área de apoio, mas que deve fundamentar a tomada de decisões,
37
principalmente quando essas afetam ou são afetadas pelos públicos – ou interlocutores – com
os quais a organização estabelece relacionamentos. Dessa forma, inserir a comunicação na
cadeia de decisões organizacionais significa reconhecer a importância de seu papel
estratégico, no sentido de compreender essa comunicação como prática social e balizadora,
tanto no ambiente interno, como no externo,
na medida em que permite sinalizar cenários e considerar a perspectiva dos atores sociais nas decisões, indagando-se sobre o sentido daí decorrente para eles. [...] O envolvimento da comunicação no processo decisório decorre do entendimento da alta administração sobre a função estratégica do processo na gestão organizacional. (OLIVEIRA; PAULA, 2007, p. 46).
Esse pré-requisito para a comunicação estratégica, a partir do modelo de interação
comunicacional dialógica parece começar a ocorrer, mas não de maneira sistemática.
Algumas organizações assumem tal perspectiva, mas não se pode dizer que tenha se tornado
um procedimento ou uma prática comum: “é incontestável que a direção da organização tenta
guardar um espaço não partilhado para garantir seu poder”. (OLIVEIRA, 2002, p. 94).
Embora se esteja tratando de comunicação, são processos que ocorrem num contexto
específico que detém regras, normas e condutas próprias. Além disso, conforme Oliveira
(2002), a inserção da comunicação na cadeia de decisões está relacionada à noção de poder,
compreendido como uma relação de forças, que nunca está no singular, pois tem como
característica estar em relação com outras forças, ou seja: “toda relação de forças é uma
relação de poder”. (DELEUZE, 2005, p. 79).
Nesse sentido, a dimensão da gestão do relacionamento é também afetada pela relação
de poder, uma vez que cada público possui interesses específicos que são afetados ou que
afetam a organização. Além disso, essa dimensão acaba sendo impactada pela forma como
são consideradas as dimensões já comentadas – da comunicação como processo e de sua
inserção na cadeia de decisões. A gestão do relacionamento, segundo Oliveira e Paula (2007,
p. 47), “enfatiza oportunidades de interação e diálogo da organização com os atores sociais”,
que ainda são vistos e tratados, em grande parte das situações, como receptáculos de
informações, mensagens, iniciativas e produtos comunicacionais.
Para se pensar nessa dimensão, devem-se considerar as características da gestão
organizacional, oriundas de uma perspectiva funcionalista na qual impera a busca pelos
resultados e pouco se considera a inserção e a interação da organização em um ecossistema.
Tais fatores dificultam o desenvolvimento da comunicação a partir de uma perspectiva
interacional, que prioriza o diálogo, no qual todos se tornam interlocutores.
38
As outras duas dimensões do modelo de interação comunicacional dialógica –
processo planejado e processo monitorado – podem ser percebidas com mais clareza, embora
ainda a partir do paradigma informacional e da ideia de estratégia de comunicação oriunda da
Administração: a ênfase está nos canais e veículos e na transmissão das mensagens, ainda a
partir de uma ideia funcionalista. Nesse caso, o monitoramento efetiva-se por meio do
feedback ou controle de como uma determinada mensagem ou iniciativa foi
recebida/percebida. Pode-se inferir ainda que o monitoramento das ações nem sempre é
utilizado para compreender o processo de interlocução e construção de sentido, mas sim a
recepção da informação, uma vez que o foco está na transmissão da mensagem e não na
interação com os interlocutores. Trata-se, enfim, de mensurar resultados.
No entanto, segundo Marchiori (2006, p. 32), “as organizações que desejam garantir
sua efetividade devem ir além de um sistema altamente tecnificado e produtivo, dirigindo seus
esforços para o conhecimento das pessoas, seus comportamentos, suas formas de ser e agir”.
Nesse sentido, para transpor da perspectiva informacional para a interacional,
precisamos reconstruir a maneira como as pessoas se relacionam umas com as outras, evidenciando a natureza homogênea fluida das sociedades contemporâneas. [...] nossa situação requer que nós tomemos mais decisões conjuntas, ao mesmo tempo em que é mais difícil fazer isso. (DEETZ, 2008).
Pode-se concluir, a partir do que aqui foi colocado, que o modelo de interação
comunicacional dialógica propõe uma nova forma de se compreender e trabalhar a
comunicação no contexto das organizações, considerando fundamentos e elementos da
perspectiva interacional e dialógica. Ele postula uma nova abordagem da comunicação
estratégica nas organizações, levando-se em conta os componentes da dimensão estratégica, e
marcando a formação discursiva da comunicação no contexto organizacional, uma vez que
as organizações são unidades de análise do campo de produção/reprodução social, enquanto contextos significativos de ação social. [...] Os sistemas relacionais nas organizações são produtores de significado e de sentido. E, neste quadro, as comunicações só podem ser apreendidas e compreendidas nos contextos da sua produção e a sua interpretação contextualizada. (LALANDA-GONÇALVES, 2008).
Tal raciocínio pode ser reforçado por França (2007) que, em sua análise (numa alusão
a G. H. Mead), entende a comunicação “como momento de costura, de construção, de
transição. A comunicação, portanto, é da ordem do movimento. O desafio é desenvolver os
instrumentos adequados para captar esse movimento” (FRANÇA, 2007). Em relação à
comunicação no contexto das organizações, esse desafio não é diferente.
39
3 ELEMENTOS QUE INTERAGEM NA CONSTITUIÇÃO DE UM DISCURSO
Pode-se inferir, pelo que foi até agora colocado, que construtos relativos à
comunicação organizacional – desde o paradigma informacional ao interacional, atravessados
pelos conceitos de estratégia e planejamento estratégico – trazem elementos que podem
constituir enunciados do discurso da comunicação no contexto das organizações. Além desse
encadeamento conceitual, deve-se considerar também o jogo de interações e de relações entre
um e outro, sujeito e sujeito, sujeito e organização, organização e organização, e da sociedade
enfim na formação desse discurso, constituindo conceitos ao longo do tempo e em função dos
momentos pelos quais passa a sociedade. Nesse viés, o saber da comunicação organizacional
estratégica vai se evidenciando como aquilo de que se pode falar – ou compreender – por
meio de uma prática discursiva que reúne objetos, tipos de formulação, conceitos e escolhas
teóricas (FOUCAULT, 2012a). Em outras palavras, “o saber é um agenciamento prático, um
“dispositivo” de enunciados e de visibilidades”. (DELEUZE, 2005, p. 60).
Esse jogo de interações – e, portanto, jogo de forças – é afetado por alterações nas
relações de trabalho, disparadas pela Revolução Industrial e encadeadas pelo processo de
desenvolvimento da economia e aumento da competitividade; pela globalização e pelo avanço
da tecnologia, abarcando um conjunto de objetos enredados e complexos, num feixe de
relações que demarcam especificidades e caracterizam a formação de enunciados de uma
prática discursiva. Pode-se dizer ainda que mudanças, como as que vêm ocorrendo nas
últimas décadas, demandariam também novas atitudes e formas de trabalhar a comunicação
ou trabalhar em comunicação, especialmente no contexto das organizações.
Nesse sentido, considerando-se a comunicação organizacional como um saber,
percebe-se, a partir de seu encadeamento conceitual, forte influência do paradigma
informacional na construção dos enunciados e da formação de sua prática discursiva. Apesar
de os estudos mais recentes, que introduzem a questão da interação no campo da
Comunicação, e da formulação do modelo de interação comunicacional dialógica
(OLIVEIRA, 2002), associados ao encadeamento dos construtos conceituais de estratégia,
percebem-se elementos constituintes do paradigma informacional – e cartesiano – alicerçando
o discurso da comunicação no contexto das organizações. Pode-se dizer que isso decorre do
fato de que o paradigma, como já mencionado anteriormente, exerce grande influência na
conformação dos conceitos, consolidando-os como prática rotineira e até instintiva,
incorporada pelos sujeitos. Conclui-se, com isso, que na construção do discurso da
comunicação organizacional estratégica, o paradigma informacional “efetua a seleção e a
40
determinação da conceptualização e das operações lógicas. [...] Assim, os indivíduos
conhecem, pensam e agem segundo paradigmas inscritos culturalmente neles”. (MORIN,
2011b, p.24).
A partir desse raciocínio e para fundamentar a análise do discurso da comunicação
organizacional estratégica, busca-se compreender, neste capítulo, os elementos da análise de
discurso a partir da arqueologia. Apesar de não se propor a fazer uma análise arqueológica na
presente pesquisa, a teoria será utilizada como referencial e iluminará a análise do corpus.
Ainda no presente capítulo, será abordado o papel do profissional de comunicação na
construção desse discurso, dada a sua importância, uma vez que esse pode ser visto como
autor do discurso da comunicação organizacional estratégica, já que é sujeito em relação com
os enunciados (DEELUZE, 2005). Por fim, procura-se, a partir do encadeamento teórico
relativo a esse saber, identificar os primeiros enunciados que podem constituir o discurso da
comunicação estratégica, mapeando e buscando apreender os conceitos teóricos que regem a
atuação dos profissionais de comunicação que atuam em organizações.
3.1 A arqueologia de Foucault como inspiração
Deve-se compreender a arqueologia como modalidade de análise do discurso que
considera a diversidade discursiva, não se restringindo à interpretação da obra ou da teoria,
mas definindo e identificando práticas discursivas que atravessam a teoria e fazem com que
determinados enunciados – e não outros – tenham sido possíveis (FOUCAULT, 2012a). A
análise arqueológica faz com que apareçam as relações entre formações discursivas17 (objeto
da descrição arqueológica) e domínios não discursivos, tais como as instituições, os
acontecimentos políticos, as práticas e os processos econômicos. Conforme interpretação de
Foucault por Castro (2009, p. 40), “a arqueologia é uma história das condições históricas de
possibilidade do saber”, que considera a existência de uma ordem anterior às palavras e às
percepções, fixando as condições históricas de possibilidade dos saberes.
Entre a análise interpretativa do discurso e a arqueológica, Foucault (2012a) demarca
quatro grandes diferenças: a questão da novidade, a análise das contradições, as descrições
comparativas e o estabelecimento das transformações. No entanto, conforme explica o autor,
o estudo arqueológico não busca identificar a novidade ou o que foi dito pela primeira vez e
sim a regularidade – compreendida não como uma média, mas uma curva (DELEUZE, 2005)
17 Formações e práticas discursivas são usadas por Foucault (2012a) como sinônimos e se constituem no tempo e
no espaço, a partir dos enunciados e de um conjunto de regras anônimas, como veremos à frente.
41
– dos enunciados, ou seja: “o conjunto das condições nas quais se exerce a função enunciativa
que assegura e define sua existência [do enunciado]”. (FOUCAULT, 2012a, p. 176). Além
disso, na análise arqueológica não se deve opor uma regularidade de um enunciado à
irregularidade de outro, mas sim identificar as regularidades presentes em diferentes
enunciados. Busca-se
revelar a regularidade de uma prática discursiva que é exercida, do mesmo modo, por todos os seus sucessores menos originais, ou por alguns de seus predecessores; prática que dá conta, na própria obra, não apenas das afirmações mais originais (e com as quais ninguém sonhara antes deles), mas das que eles retomaram, até recopiaram de seus predecessores. (FOUCAULT, 2012a, p. 177).
Além disso, na arqueologia, as formações discursivas são descontínuas, diversas e, por
vezes contraditórias, embora possam se estabelecer relações e dependências entre elas. Aqui,
pode se fazer alusão aos construtos teóricos da comunicação e da estratégia, inicialmente
vistos como antagônicos, mas cuja reflexão aponta para o desenvolvimento de construtos
associados e até imbricados, especialmente quando se coloca a comunicação como uma das
estratégias da vida (Perez, 2011a), inerente às relações sociais e, nessas, incluídas as relações
de força – ou de poder.
Sobre as descrições comparativas, a análise arqueológica busca mostrar como a
história geral – que envolve as instituições, os processos econômicos e políticos e as relações
sociais – pode dar lugar a determinados tipos de discurso, não os reduzindo a uma expressão
ou a uma análise causal. No caso do discurso da comunicação estratégica no contexto das
organizações, percebe-se a influência dos processos econômicos e de desenvolvimento das
tecnologias de informação e comunicação determinando seus enunciados. Ressalte-se ainda
que “a arqueologia não remete necessariamente ao passado. Há uma arqueologia do presente.
Presente ou passado, o visível é como o enunciável: eles são objeto não de uma
fenomenologia, mas de uma epistemologia”. (DELEUZE, 2005, p. 60).
Pela arqueologia não se busca identificar o que é permanente em um discurso, mas as
regularidades que estão nos enunciados, até de diferentes grupos de discursos. Ressalte-se
aqui que os enunciados são compreendidos como acontecimentos em “relações discursivas
com os meios não discursivos [...] que constituem o limite [...], o horizonte determinado sem
o qual tais objetos de enunciados não poderiam aparecer, nem tal lugar ser reservado dentro
do próprio enunciado”. (DELEUZE, 2005, p. 21). Conforme interpretação de Foucault por
Deleuze (2005), o cerne da discussão acerca da análise de discurso arqueológica encontra-se
42
no lugar e estatuto que cabem ao sujeito dentro de dimensões que se supõe não estarem inteiramente estruturadas. Assim, enquanto se opõe diretamente a história à estrutura, pode-se pensar que o sujeito retém sentido enquanto atividade constituinte, recolhedora, unificadora. Mas isso já não vale quando passamos a considerar as “épocas” ou formações históricas enquanto multiplicadores. A estrutura é proposicional, tem um caráter axiomático assinalável num nível bem determinado, forma um sistema homogêneo – enquanto o enunciado é uma multiplicidade que atravessa os níveis, que “cruza um domínio de estruturas e de enunciados possíveis e que as faz aparecer, com conteúdos concretos, no tempo e no espaço”18. O sujeito é frásico ou dialético, tem o caráter de uma primeira pessoa com a qual começa o discurso –, enquanto o enunciado é uma função primitiva anônima, que só permite subsistir o sujeito da terceira pessoa e como função derivada. (DELEUZE, 2005, p. 24-25).
Ainda à luz da arqueologia, a análise do discurso não pode se reduzir à análise de uma
unidade, uma obra ou uma teoria. Deve-se adotar a noção de série já que uma mesma obra
literária, por exemplo, pode dar origem a diferentes discursos, uma vez que “a relação entre
um enunciado e um sujeito variável constitui ela mesma uma variável intrínseca do
enunciado” (DELEUZE, 2005, p. 18), o que leva um mesmo enunciado a ter posições e
lugares diversos. Trazendo tal raciocínio ao estudo do discurso da comunicação
organizacional, os conceitos de estratégia e de comunicação são considerados distintos se
pensados a partir do campo da Comunicação ou do campo da Administração. No entanto,
inspirados pela arqueologia, ambos podem constituir enunciados de um mesmo discurso, o da
comunicação estratégica no contexto das organizações.
Na sua metodologia de análise, Foucault (2012c) apresenta o que denomina
procedimentos de controle e delimitação externos e internos do discurso, que se organizam
em torno de contingências históricas, em permanente deslocamento e sustentadas por sistemas
de instituições. Internamente, os procedimentos de controle identificados são os princípios de
classificação, ordenação e distribuição do discurso. Externamente, a interdição, a separação
entre o verdadeiro e o falso e a vontade de saber são os principais procedimentos de controle e
delimitação do discurso. Fazendo alusão a Morin (2008), também o discurso e sua construção
ocorrem a partir das interações com o mundo exterior e são permanentemente por elas
afetados.
Ressalte-se ainda que
as relações de poder e conhecimento são estabelecidas em Discursos culturalmente padronizados, formados pelos conjuntos de padrões de fala, ideias, lógica e pressupostos que constituem objetos e sujeitos. Esses Discursos não apenas ordenam e naturalizam o mundo de maneira particular, mas informam as práticas sociais. (FAIRHURST; PUTNAN, 2010, p. 110).
18 Deleuze (2005, p. 25) recorre à Arqueologia do Saber, em Foucault (1972).
43
Foucault (2012c) considera ainda a questão da rarefação, que se apoia sobre um
suporte institucional e consiste na existência de regras que não permitem que todos tenham
acesso ao discurso, como grande grupo de exclusão em relação ao discurso. Conforme
explica, a rarefação está associada aos sujeitos que falam e aos rituais que envolvem essa fala,
determinando propriedades singulares e papéis preestabelecidos: “ninguém entrará na ordem
do discurso se não satisfizer a certas exigências ou se não for, de início, qualificado para fazê-
lo”. (FOUCAULT, 2012c, p. 35). A rarefação
é também reconduzida, mais profundamente, sem dúvida, pelo modo como o saber é aplicado em uma sociedade, como é valorizado, distribuído, repartido e de certo modo atribuído. Recordemos aqui, e apenas a título simbólico, o velho princípio grego: que a aritmética pode bem ser o assunto das cidades democráticas, pois ela ensina as relações de igualdade, mas que só a geometria deve ser ensinada nas oligarquias pois demonstra as proporções na desigualdade. (FOUCAULT, 2012c, p. 16-17).
Embora a rarefação seja um dos procedimentos de exclusão do discurso, também é
um dos princípios da análise do discurso. Além disso, não se deve buscar o não dito e sim “as
práticas descontínuas que se cruzam por vezes, mas também se ignoram ou se excluem”
(FOUCAULT, 2012c, p. 50). O discurso deve ser concebido enquanto uma prática imposta na
qual os acontecimentos que o constituem encontram a regularidade. Pode-se dizer que, no
caso do discurso da comunicação estratégica, o profissional de comunicação, atuando como
autor, é levado a entrar na ordem desse discurso e a adotar suas regras, uma vez que passa a
fazer parte da instituição, assumindo uma identidade organizacional e adotando “um discurso
definidor de suas singularidades”. (BARROS FILHO, 2007, p. 116).
Deve-se destacar ainda que os enunciados, na análise arqueológica, não podem ser
confundidos com frases ou proposições, embora possam também sê-lo, se considerados a
partir de sua existência. Conforme ressalta Foucault (2012a, p. 103), “se não houvesse
enunciados, a língua não existiria; mas nenhum enunciado é indispensável à existência da
língua”. Para compreendê-los, deve-se entender a modalidade de existência de um conjunto
de signos – ou de uma formulação – que permite ao enunciado ser algo mais que um simples
conjunto de signos, mas referir-se a objetos e a sujeitos, entrar em relação com outras
formulações e ser repetível.
O enunciado articula-se sobre a frase ou sobre a proposição, mas não deriva deles. Em primeiro lugar, o enunciado não se reduz à proposição por duas razões: 1) não é necessário, para falar de enunciado, que exista uma estrutura proposicional; 2) duas
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expressões equivalentes desde o ponto de vista lógico não são necessariamente equivalentes desde o ponto de vista enunciativo. Em segundo lugar, quanto à correspondência entre o enunciado e a frase, Foucault aponta que nem todos os enunciados possuem a estrutura linguística da frase. Não só porque o enunciado compreende os sintagmas nominais [...], mas porque, por exemplo, as palavras dispostas em coluna em uma gramática latina como “amo, amas, amat...” constituem também um enunciado. (CASTRO, 2009, p. 137).
Pode-se concluir com isso que a descrição dos enunciados situa-se em um nível
específico de descrição que não corresponde à análise lógica ou à análise gramatical. Sua
existência deve ser analisada como um jogo de posições possíveis para um sujeito, em um
campo de coexistência que lhe permite relacionar-se com outros enunciados – de um mesmo
grupo ou de grupos distintos de discursos – e de uma materialidade que pode ser repetida. E
são os enunciados que constituem as formações discursivas – cuja descrição coincide com a
da função enunciativa – que, por sua vez, determinam as práticas discursivas definidas por
Foucault como
um conjunto de regras anônimas, históricas, sempre determinadas no tempo e no espaço, que definiram, em uma dada época e para uma determinada área social, econômica, geográfica ou linguística, as condições de exercício da função enunciativa. (FOUCAULT, 2012a, p. 144).
Pode-se dizer ainda que as noções de enunciado e de formação discursiva remetem
uma à outra e suas análises devem ser estabelecidas correlativamente. Conforme Foucault
(2012a, p. 142), “um enunciado pertence a uma formação discursiva como uma frase pertence
a um texto” e, conforme explica, a regularidade do enunciado – ou de um conjunto de
enunciados – é o que caracteriza a formação discursiva. Ambos – enunciado e formação
discursiva – tornam-se unidade e objeto de análise da arqueologia.
3.2 O autor que reverbera e consolida o discurso da comunicação estratégica
Inspirados pela arqueologia acredita-se que o discurso da comunicação organizacional
é construído a partir dos conceitos teóricos da área e de sua práxis ao longo do tempo. Deve-
se ressaltar que o conceito de práxis está relacionado às ações dos homens (VIZER, 2011) e,
no caso da presente pesquisa, refere-se especificamente às ações dos profissionais de
comunicação no contexto organizacional, que serão observadas a partir de sua orientação
conceitual, revelada por meio de seus discursos. Nesse sentido, deve-se trazer novamente à
tona a influência das mudanças sociais que vêm ocorrendo no mundo contemporâneo e
impactam no comportamento do sujeito e da própria sociedade: “embora a diversidade total e
45
a heterogeneidade social do planeta provavelmente tenham sido reduzidas nos últimos
séculos, a experiência da heterogeneidade por grande parte dos indivíduos aumentou”
(DEETZ, 2008), uma vez que se passou a conviver com identidades fluidas num cenário no
qual a mudança e a instabilidade tornaram-se a constante. No entanto, se a lógica ainda é
informacional, fundamentada num modelo racional instrumental e linear, tais implicações
podem dificultar a compreensão e assimilação desse momento por parte dos profissionais de
comunicação e do que o cenário de hoje pede no contexto das organizações: uma
comunicação que considere o interacional; o relacionamento, a interlocução, a transmissão da
informação e a construção de sentidos desenvolvidos sempre de forma dialógica.
Associado a tais fatores, deve-se ressaltar a força do discurso da comunicação
organizacional fundamentado no paradigma informacional, a partir do qual a comunicação é
tratada como ferramenta ou instrumento, com ênfase na transmissão da informação, no
conteúdo das mensagens, na diversidade e na qualidade dos canais de comunicação. Assim,
pode-se inferir que só o encadeamento do paradigma interacional já sinaliza um grande
desafio: a (re)orientação intelectual da comunicação no contexto das organizações que implica
no rompimento com um fazer consolidado e praticamente hegemônico da realidade cotidiana,
que aparece objetivada, isto é, “constituída por uma ordem de objetos que foram designados
como objetos antes de minha entrada na cena” (BERGER; LUCKMANN, 2012, p. 38, grifo
dos autores). Ou seja, a comunicação sempre adotou como prioritários os elementos oriundos
do paradigma informacional. Dessa forma, a realidade cotidiana da comunicação
organizacional pode apresentar-se como a realidade por excelência dentre as múltiplas
realidades que constituem o mundo, uma vez que
As ações tornadas habituais, está claro, conservam seu caráter plenamente significativo para o indivíduo [...] Embora em teoria haja uma centena de maneiras de realizar o projeto de construir uma canoa de paus ajustados, o hábito reduz estas maneiras a uma única. Isto liberta o indivíduo da carga de “todas estas decisões”, dando-lhe um alívio psicológico que tem por base a estrutura instintiva não dirigida do homem. (BERGER ; LUCKMANN, 2012, p. 76).
Embora a visada do paradigma interacional, que insere a importância de se considerar
a subjetividade nas relações e a (re)construção e desconstrução de sentidos, bem como as
discussões acerca de tais construtos, já estejam presentes na produção teórica do saber da
comunicação organizacional nos dias de hoje, pode ser que os conceitos oriundos do modelo
de comunicação clássico-informacional, institucionalizado nas organizações e fortalecido pela
teoria da Administração ainda imperem. Transpondo o que foi colocado por Berger e
46
Luckmann (2012) sobre a realidade social para esse saber, tais conceitos e premissas da
comunicação organizacional podem ter institucionalizado hábitos, uma vez que a atividade
humana está sujeita a eles e esses hábitos podem se postar como obstáculos a novos
pensamentos e construtos conceituais.
Além disso, o discurso da comunicação estratégica é construído em uma estrutura
social, na qual
o indivíduo pode envolver profundamente o seu eu em sua identificação com um determinado papel, instituição ou grupo, e em seu conceito de si mesmo como alguém que não rompe a interação social ou desaponta as unidades sociais que dependem dessa interação. (GOFFMAN, 2011, p. 221).
Tal raciocínio pode ser trazido para a análise arqueológica do discurso da
comunicação estratégica no contexto das organizações, segundo a qual o profissional que
exerce a atividade de comunicador torna-se o “princípio de agrupamento do discurso, como
unidade e origem de suas significações, como foco de sua coerência”. (FOUCAULT, 2012c,
p. 25). Nesse sentido, pode-se dizer que, embora o encadeamento conceitual da comunicação
esteja hoje fundado no paradigma interacional, o paradigma informacional ainda pode reger
sua práxis como um hábito, cuja força da rotinização impede o profissional de enxergar as
outras maneiras de perceber e trabalhar a comunicação.
Isso pode decorrer, especialmente, em função de dois fatores: o primeiro deles é a
realidade, estrutura e sistemática do contexto organizacional, de orientação funcionalista
focada em resultados; o segundo, é o papel desempenhado pelos profissionais de comunicação
nesse contexto, cuja atuação é delineada historicamente pela prática. O que define a profissão
do comunicador organizacional “é seu fazer profissional, suas estratégias de comunicação e
organização. Um fazer que se objetiva em discurso, discurso sobre si, cuja origem é social”.
(BARROS FILHO, 2007, p. 117).
Nesse sentido, também na atuação profissional estão presentes as relações de força e
de poder e o jogo de interesses que podem estar em conflito, assim como os discursos em
interação. Quando esse profissional coloca-se diante de uma prática de comunicação
amparada pelo paradigma interacional e dialógico, sugere-se que deixe a prática rotinizada da
comunicação. Isso gera incerteza e incômodo – ou desconforto –, uma vez que pode colocar a
organização – ou os profissionais de comunicação organizacional – em situações geralmente
percebidas como problemáticas, já que são diferentes das habituais. Ou seja: estabelecer uma
relação dialógica com os interlocutores pode afetar a ideia ou sensação de controle, fazendo
47
tanto a organização como os profissionais saírem do lugar de emissor para assumirem o de
interlocutor.
Nesse sentido, pode-se dizer que o profissional torna-se um autor do discurso da
comunicação organizacional estratégica, repercutindo os conceitos e o status quo de uma
estrutura racional da organização, que assume posição fixa de emissora no processo de
comunicação. No entanto, além dos construtos mais recentes que reforçam a importância da
interação no processo de comunicação, a posição biunívoca emissor/receptor tem se mostrado
cada vez mais insuficiente, principalmente a partir da ascensão das tecnologias de informação
e comunicação e do que se convencionou denominar sociedade 2.0. A sociedade 2.0, que se
refere ao conceito de sociedade em rede, de Castells (2005), aponta desafios para a
compreensão e o fazer da comunicação organizacional sob o paradigma interacional. Segundo
Castells (2005), a sociedade hodierna, constituída por indivíduos, empresas e Estado, opera
local, nacional e internacionalmente, suportada pela tecnologia 2.0 o que, consequentemente,
proporciona o acesso e discussões instantâneas, por meio da internet, sobre todo e qualquer
assunto, em qualquer lugar do mundo; interligando, dessa forma, diferentes lugares e espaços.
Numa alusão a Mcluhan, quando apontava como o grande drama do século XX o fato
de que “as nossas sociedades altamente letradas se desconcertam quando se defrontam com
novas estruturas de opinião e sentimento resultantes da informação instantânea e global”
(MCLUHAN, 2006, p.384); o drama do século XXI pode estar na instantaneidade e no acesso
quase irrestrito à informação, na falta de controle da informação e na lógica hodierna dos
processos de comunicação, cada vez mais instáveis e complexos.
Nesse viés, pode-se dizer que um dos principais desafios para se trabalhar a
comunicação, a partir do paradigma interacional, está relacionado ao discurso da comunicação
no contexto das organizações, visto que os problemas colocados pelas formações discursivas
são bem mais difíceis do que o discurso inscrito no livro, na obra ou na teoria (FOUCAULT,
2012a). Além disso:
Sabemos – e talvez desde que os homens falam – que as coisas, muitas vezes são ditas uma pelas outras; que uma mesma frase pode ter, simultaneamente, duas significações diferentes; que um sentido manifesto, aceito sem dificuldade por todos, pode encobrir um segundo, esotérico ou profético, que uma decifração mais sutil ou apenas a erosão do tempo acabarão por descobrir; que sob uma formulação visível pode reinar uma outra que a comande, desordene, perturbe, lhe imponha uma articulação que só a ela pertence; enfim, que, de um modo ou de outro, as coisas ditas dizem bem mais que elas mesmas. (FOUCAULT, 2012a, p. 134).
Nesse processo, no qual as coisas são ditas e geram enunciados, é que se constitui o
discurso da comunicação organizacional estratégica, reverberado e consolidado pelos
48
profissionais de comunicação que atuam nas organizações. Eles têm seu lugar de fala e um
papel de autoria nesse discurso, cuja construção é influenciada por interesses em conflito e
por relações de força e de poder como já mencionado. Além disso, atuando num contexto
específico, o da organização, os profissionais adotam um quadro de referência que está “em
conformidade com questões dinâmicas, criadas pela necessidade de sustentar uma definição
da situação que foi projetada diante de outras pessoas”. (GOFFMAN, 2011, p. 218).
Dessa maneira, a construção do discurso está para além do espaço da interação e do
momento em que ele foi falado, uma vez que traz elementos como valores, vivências, cultura
e experiência na sua constituição. O sujeito, profissional de comunicação, também traz para
seu discurso elementos inerentes ao papel assumido e à sua identificação com o grupo,
instituição ou organização da qual faz parte ou está em interação, e no qual assume
responsabilidades – e promessas – a partir do papel desempenhado (GOFFMAN, 2011).
Deve-se ressaltar ainda que somos indivíduos dotados da capacidade de escolha e de
construção de sentidos e que “a comunicação é igualmente importante na organização e
transformação da sociedade [...] A sociedade existe enquanto realização permanente de atos e
trocas possibilitadas pela comunicação” (FRANÇA, 2007).
Sendo assim, pode-se dizer, a partir de Goffman (2011), que os profissionais ancoram-
se em valores culturais consolidados para determinar sua atuação e a forma como se sentem e
se posicionam em relação ao discurso da comunicação no contexto das organizações,
estabelecendo um quadro de referência de aparências. Afinal, “quando um indivíduo se
apresenta diante de outros, consciente ou inconscientemente projeta uma definição da
situação, da qual uma parte importante é o conceito de si mesmo”, num jogo de interações.
(GOFFMAN, 2011, p. 220 ).
Nessa perspectiva, a definição do discurso não se restringe a
uma mudança de conteúdo (refutação de erros antigos, nascimento de novas verdades), nem tampouco uma alteração da forma teórica (renovação do paradigma, modificação dos conjuntos sistemáticos). O que está em questão é o que rege os enunciados e a forma como eles se regem entre si. (FOUCAULT, 2012b, p. 39).
Essas reflexões podem contribuir para os estudos da comunicação no contexto das
organizações, uma vez que trazem à tona a importância de se identificar o que rege os
enunciados19 e seu sistema de formação, buscando compreender o discurso da comunicação
organizacional estratégica e os elementos que circulam entre seus enunciados: os aportes do
19 Os enunciados são os formadores dos discursos, segundo Foucault (2012a).
49
paradigma clássico-informacional, a ideia de estratégia assumida pela comunicação, bem
como os contributos da perspectiva que coloca a comunicação como interação, considerando
o relacional, o informacional e a produção de sentidos.
3.3 A formação discursiva da comunicação estratégica e sua tessitura conceitual
Conforme mencionado inicialmente, o paradigma informacional, nascido um século
atrás partir de uma formulação matemática, conceituava a comunicação como um processo
com definições claras do que seriam emissão e recepção de mensagens e/ou informações.
Com a Revolução Industrial, nasce a necessidade prática de se levar essa comunicação para o
contexto das organizações, uma vez que uma nova ordem de relações foi imposta e, junto
dela, demandas de transmissão de informações aos públicos que se relacionavam com as
organizações. A tônica da comunicação, nesse contexto, girou em torno do engajamento
dessas com os públicos de interesse, por meio de ações e canais de comunicação,
indispensáveis para a transmissão das mensagens que tinham interesse em publicizar.
Dessa forma, as raízes da comunicação organizacional estão na informação pública e
na publicidade e assim se consolidaram, conforme assinala Kunsch (2009a, p. 22): “por
muitas décadas, profissionais e acadêmicos se concentraram, sobretudo, em “o que fazer” e
“como fazer” a atividade, sem maiores preocupações com a formulação de um arcabouço
teórico que a fundamentasse”. Na década de 1980, quando o acesso à informação era restrito e
limitado aos interesses das organizações, fossem elas públicas ou privadas, a comunicação
organizacional permanecia calcada na produção e distribuição da informação. Segundo
Kunsch (2009b, p. 22), os profissionais que atuavam nessa área “aprenderam a preparar press
releases, programar a cobertura da mídia, redigir discursos, elaborar folhetos, atuar como
lobistas ou elaborar um relatório anual de atividades”.
[...] as relações públicas, o jornalismo empresarial e a assessoria de imprensa ainda cumpriam suas tarefas de forma estanque, sem uma preocupação maior quanto a uma sinergia de esforços entre os setores de comunicação institucional, comunicação mercadológica, comunicação interna e comunicação administrativa. (KUNSCH, 2009a, p. 187).
Era necessário, conforme Kunsch (2009a), o desenvolvimento de uma comunicação
integrada com a maior interface entre as diferentes áreas de comunicação nas organizações,
principalmente a partir da segunda metade da década de 1980, quando ocorreu o que ficou
conhecido como globalização da economia, acirrando a concorrência e a demanda por
50
transparência por parte da sociedade. A transmissão das informações, por parte das
organizações, passa a ser ainda mais valorizada, uma vez que a atuação das empresas não
mais se restringia a questões de produção e economia, elas tornaram-se “personagens
extremamente importantes nos cenários político, econômico, cultural e social” (NASSAR,
1995, p. 8). A partir dessa época, a sociedade passa a querer saber cada vez mais sobre as
organizações: como elas tratam o meio ambiente, de onde retiram as matérias-primas
necessárias à sua produção, as condições de trabalho e segurança dos seus empregados e
como contribuem para o desenvolvimento social (NASSAR, 1995).
Nesse contexto e já no final da década de 1980, proliferavam os cursos de Relações
Públicas no Brasil e os departamentos da área nas empresas. Visando a caracterizar a maior
abrangência das atividades, tais departamentos começavam a se configurar enquanto
comunicação empresarial, embora o foco das ações ainda se mantivesse na lógica de mercado
e na comunicação informacional:
A comunicação empresarial se utiliza de muitas linguagens, que não têm necessariamente como objetivo imediato o processo de vendas. Mas que não deixam, por isso, de ser ferramentas fundamentais no marketing da empresa. Dentre essas linguagens estão a das relações públicas, a de imprensa e a de atendimento direto ao consumidor. As ações dessas áreas de comunicação empresarial, se não são diretamente mensuráveis num balanço contábil, podem significar, no mínimo, a simpatia da sociedade, a fidelidade dos consumidores, um bom relacionamento com trabalhadores, governos e sindicatos. (NASSAR; FIGUEIREDO, 1995, p. 12).
A partir dessa tessitura, percebe-se que a comunicação começa a ganhar importância
nas organizações, sob a perspectiva da divulgação da informação: enquanto ferramenta de
marketing, de controle e de gestão, fragmentada de certa forma e posicionando-se como
produtora de mensagens e informações organizacionais na busca pela simpatia da sociedade e
fidelização de clientes; além de um bom relacionamento com empregados e públicos de
grande interesse naquela época, dentre eles governos e sindicatos.
Na década de 1990, em função das mudanças que ocorrem na sociedade e da
necessidade de mais transparência por parte das organizações, houve maior valorização da
comunicação organizacional, bem como dos estudos relativos à área, que se tornaram mais
abrangentes. Naquela época, a comunicação empresarial, como passa a ser denominada a área
em grande parte das organizações, era sinal de modernidade para as organizações que se
colocavam como engajadas naquela nova realidade, na tentativa de mostrar transparência
com a sociedade. A comunicação já não estava mais diretamente relacionada à ideia de uma
aparente estabilidade biunívoca emissor-receptor, uma vez que a partir daquela época, começa
51
a ocorrer o que foi nomeado por Bauman (2001, p. 15) como liquefação da sociedade: “os
padrões e configurações não são mais “dados”, e menos ainda “autoevidentes”; eles são
muitos, chocando-se entre si e contradizendo-se em seus comandos conflitantes”. Com essa
nova tessitura e sistematização da sociedade, pode-se concluir, de fato, a insuficiência do
paradigma informacional para o que pede essa nova sociedade, líquida, e consequentemente,
fluida e complexa.
Nesse encadeamento conceitual e mais precisamente a partir do século XXI, emergem
os construtos amparados pelo paradigma da complexidade, que levam à ideia de construção e
desconstrução de sentidos e remetem à própria complexidade do processo de comunicação.
Torna-se cada vez mais claro que esse processo se concretiza no outro que tem toda uma
bagagem cultural, experiência e apreensão de vida particulares, num dado contexto e cenário.
Paralelamente, também ganha corpo a ideia de estratégia enquanto prática social. Embora isso
ocorra, a comunicação organizacional e os profissionais dessa área já desenvolveram sua
representação, alicerçados por um quadro de referência fundamentado no paradigma
informacional e consolidaram sua imagem em consonância com a expectativa das
organizações.
Assumindo a arqueologia como inspiradora dessa análise, pode-se dizer que na
tessitura na qual se desenvolvem os aportes teóricos que fundamentam o saber da
comunicação organizacional, alguns enunciados que constituem a formação do discurso da
comunicação estratégica, nesse contexto, já podem ser revelados. Percebe-se a influência do
encadeamento histórico nesse discurso, afetado pelas relações de poder e pelas
transformações econômicas, sociais e culturais que atravessam a sociedade neste último
século, mais fortemente nas duas últimas décadas. Afinal, compreende-se a comunicação
enquanto prática social, resultado de interações que obedecem a regras, atravessando a
opacidade importuna para encontrar a profundidade do essencial. No entanto, “os discursos
são feitos de signos; mas o que fazem é mais do que utilizar esses signos para designar as
coisas. É esse mais que os tornam irredutíveis à língua e ao ato de fala. É esse “mais” que é
preciso fazer aparecer e que é preciso descrever”. (FOUCAULT, 2011a, p. 60).
Pode-se dizer que, no encadeamento histórico que fundamenta o discurso da
comunicação organizacional estratégica, são reveladas especificidades e a irredutibilidade do
jogo das regras desse discurso a qualquer outro; definindo tipos e regras de práticas
discursivas que atravessam o saber da comunicação organizacional e fazendo, enfim, o que
Foucault (2012a, p. 171) define como “a descrição sistemática de um discurso-objeto”. Dessa
forma, pode-se dizer que é possível revelar um conjunto bem determinado de formações
52
discursivas que têm relações descritíveis entre si e vão conformando o discurso da
comunicação estratégica em função da série de elementos que o abarcam.
Pelo que já foi aqui colocado, pode-se identificar claramente sete formulações ou
conceitos que subsidiam enunciados conceituais que, por sua vez, constituem formações
discursivas da comunicação estratégica no contexto das organizações, dispersos no tempo, às
vezes contraditórios, mas inter e intrarrelacionados, configurando-se de forma interdiscursiva,
a saber: a) a relação biunívoca – e fixa – emissor/receptor; b) a necessidade da transmissão de
informações por parte das organizações; c) a adoção do conceito de comunicação estratégica –
com aportes teóricos trazidos do campo da Administração – como viés do planejamento
estratégico organizacional; d) o surgimento de modelos que focam o aspecto interacional
como uma nova forma de se compreender os processos de comunicação; e) a perspectiva de
complexidade – da sociedade e da comunicação – em contraposição à da simplicidade; f) o
processo de construção de sentidos como inerente à comunicação; e, talvez menos conhecida,
g) a concepção da estratégia planejada de comunicação.
Essas sete formulações, detectadas a partir do encadeamento teórico e histórico da
comunicação organizacional, já fazem aparecer os acontecimentos discursivos20 que podem
constituir a formação discursiva da comunicação estratégica no contexto das organizações. Na
série de acontecimentos decorrentes dos campos da Comunicação e da Administração, até
aqui mencionados, formam-se determinados enunciados que reconstituem o discurso
específico da comunicação estratégica no contexto das organizações.
Tais formulações foram atravessadas por uma série de fatores exteriores decorrentes
das transformações na sociedade. Parte-se de uma sociedade concebida sob um sistema
fechado e autoritário, com definição clara dos papéis e das relações de poder, para uma
sociedade globalizada, em rede, na qual os sujeitos, atores sociais, não têm identidades ou
papéis fixos ou predeterminados. Dessa forma, fazendo referência a Foucault (2012b, p. 38),
“o ritmo das transformações não obedecia aos esquemas suaves e continuístas de
desenvolvimento que normalmente se admite”. Pelo contrário, atropelaram um status quo e
um modus operandi de práticas sociais consolidadas e enraizadas em paradigmas aceitos
como verdadeiros. Paradoxalmente a esse ritmo, parece encontrar-se uma sociedade
20 Acontecimentos discursivos, segundo Foucault (2012c, p. 55), devem ser tratados como séries homogêneas, mas descontínuas umas em relação a outras [...] trata-se de cesuras que rompem o instante e dispersam o sujeito em uma pluralidade de posições e de funções possíveis. Na interpretação de Foucault por Castro (2009, p. 25), acontecimento é a modalidade de análise histórica da arqueologia: “Foucault opõe a análise discursiva em termos de acontecimento às análises que descrevem o discurso desde o ponto de vista da língua ou do sentido, da estrutura ou do sujeito. A descrição em termos de acontecimento, em lugar das condições gramaticais ou das condições de significação, leva em consideração as condições de existência que determinam a materialidade própria do enunciado”.
53
congelada nesse status quo em função de hábitos cristalizados, o que dificulta a adesão a
novos paradigmas.
A partir das formulações aqui colocadas que serão confrontadas, no próximo capítulo,
aos conceitos que orientam a prática profissional, apreendidos por meio das entrevistas em
profundidade com profissionais de comunicação, parte-se para compreender como apareceu
um enunciado e não outro nessa formação discursiva, restituindo a ele sua singularidade de
acontecimento. Nessa perspectiva, o enunciado não está restrito à palavra ou ao sentido e sua
existência; ele pode estar no campo de uma memória, na história vivida ou na materialidade
de um registro, uma política ou uma orientação da gestão. Trata-se assim
de compreender o enunciado na estreiteza e singularidade de sua situação; de determinar as condições de sua existência, de fixar seus limites da forma mais justa, de estabelecer suas correlações com os outros enunciados a que pode estar ligado, de mostrar que outras formas de enunciação exclui. (FOUCAULT, 2012a, p. 34).
Deve-se ressaltar, ainda, à luz de Foucault (2012a), que os enunciados do discurso da
comunicação estratégica no contexto das organizações estão ligados àqueles que o precedem e
àqueles que o seguem. E, ao mesmo tempo em que é único – assim como o é todo
acontecimento –, o enunciado também pode ser repetido, transformado e reativado.
Recorrendo novamente a Foucault (2012a), pode-se dizer que as formulações até aqui
descritas constituem uma sequência de enunciados aos quais se pode atribuir modalidades
particulares de existência, dispersos ao longo do tempo, em contextos distintos – e talvez até
contraditórios –, relacionados ao objeto específico da comunicação organizacional e a seu
discurso.
Desenvolve-se neste trabalho uma primeira aproximação que permitiu fazer com que
apareçam as relações que sustentam o discurso da comunicação estratégica no contexto das
organizações. Encontramos enunciados dispersos e heterogêneos, mas que coexistem num
sistema de formação discursiva, apoiando-se uns nos outros, transformando-se num jogo de
revezamento, substituição e transformação, sustentando o que estamos denominando discurso
da comunicação estratégica no contexto das organizações.
54
4 A CONSTRUÇÃO DO DISCURSO DA COMUNICAÇÃO ESTRATÉGICA
Para alcançar os objetivos propostos nesta pesquisa, estabeleceu-se uma metodologia
que contemplou o aprofundamento em relação ao encadeamento teórico acerca da
comunicação organizacional, por meio de pesquisa bibliográfica e a investigação empírica
que consistiu na realização de entrevistas em profundidade com dez21 profissionais de
comunicação que atuam em organizações de diferentes setores, em Belo Horizonte, no estado
de Minas Gerais.
Em relação à construção teórica, buscou-se apreender os elementos conceituais desse
saber que podem constituir as regras de formação e, consequentemente, os enunciados do
discurso da comunicação organizacional estratégica. Em contraponto, a partir das entrevistas
em profundidade, buscou-se evidenciar os reflexos desses construtos na prática profissional,
investigando o que orienta conceitualmente a práxis para, com isso, se chegar ao discurso.
Deve-se ressaltar ainda que
O discurso se constitui em seu sentido porque aquilo que o sujeito diz se inscreve em uma formação discursiva e não outra para ter um sentido e não outro. Por aí podemos perceber que as palavras não têm um sentido nelas mesmas, elas derivam seus sentidos das formações discursivas em que se inscrevem. As formações discursivas, por sua vez, representam no discurso as formações ideológicas. [...] O estudo do discurso explicita a maneira como linguagem e ideologia se articulam, se afetam em sua relação recíproca. (ORLANDI, 2003, p. 43).
Sendo assim, as entrevistas – que somaram mais de 80 horas de gravação-
constituíram o corpus desta pesquisa. Para a definição do objeto empírico, estabeleceram-se
como critérios a necessidade de contemplar: a) organizações públicas, da iniciativa privada e
não governamentais; b) organizações nas quais a área ou setor de Comunicação tivesse status
mínimo de gerência; c) profissionais das diferentes formações (Jornalismo, Publicidade e
Relações Públicas); e d) profissionais com níveis hierárquicos diversos – júnior, pleno e
sênior. Deve-se ressaltar ainda que, visando à preservação da identidade, tanto dos
profissionais quanto das organizações, ficou acordado a não menção de seus nomes,
referenciando apenas o perfil de cada um: tipo de organização e porte, formação dos
entrevistados e tempo de trabalho na área de Comunicação Organizacional.
21 Inicialmente, estavam previstos 12 profissionais. No entanto, em uma das organizações, em função de
disponibilidade e compatibilidade de agendas, não foi possível a realização de duas entrevistas, o que não comprometeu os resultados em função do nível de saturação alcançado que se perceberá ao longo da análise.
55
4.1 Percurso metodológico
A definição das organizações a serem acionadas se deu no primeiro semestre de 2013
e, buscando contemplar universos distintos, optou-se por pesquisar uma organização da
iniciativa privada, um órgão federal, uma organização filantrópica e outra de capital misto.
Naquela ocasião, foi redigida uma carta (apêndice A) para formalização dos contatos e
autorização da organização para a realização das entrevistas, que ocorreram nas dependências
de cada uma delas, entre os meses de setembro e novembro de 2013.
Para a realização das entrevistas semiestruturadas com os profissionais de
comunicação, foi desenvolvido um roteiro (apêndice B), inspirado nas dimensões estratégicas
da comunicação organizacional, elencadas pelo modelo de interação comunicacional
dialógica (OLIVEIRA, 2002), definido, desde o início da pesquisa, como o referencial que
guia a linha de análise.
Para o que se propõe na pesquisa, a técnica de entrevistas em profundidade foi
imprescindível, pois permitiu observar as regularidades e a dispersão contidas no discurso da
comunicação estratégica a partir do que orienta a fala dos profissionais, uma vez que “toda
palavra é sempre parte de um discurso. E todo discurso se delineia na relação com outros:
dizeres presentes que se alojam na memória” (ORLANDI, 2003, p. 43), em linha com a
metodologia arqueológica de Foucault (2012a). Nesse sentido, as entrevistas em
profundidade, que constituíram o corpus da presente pesquisa, forneceram “os dados básicos
para o desenvolvimento e a compreensão das relações entre os atores sociais e sua situação”.
(GASKELL, 2007, p. 65).
As entrevistas revelaram o espectro de opiniões e as representações que os
profissionais de comunicação, que atuam nas organizações, têm em relação aos construtos
teóricos que fundamentam o exercício da comunicação organizacional estratégica. Percebeu-
se que os profissionais investigados não têm, necessariamente, o mesmo ponto de vista sobre
o tema, mas, por outro lado, confirmou-se que “existe um número relativamente limitado de
pontos de vista, ou posições, sobre um tópico dentro de um meio social específico”
(GASKELL, 2007, p. 68), mostrando o nível de saturação do tema, o que pode ser percebido
no mapa construído a partir das falas que conferem uma visão geral dos discursos dos
profissionais (apêndice C). Afinal,
há um número limitado de interpelações, ou versões, da realidade. Embora as experiências possam parecer únicas ao indivíduo, as representações de tais experiências não surgem das mentes individuais; em alguma medida, elas são o
56
resultado de processos sociais. Neste ponto, representações de um tema de interesse comum, ou de pessoas de um meio social específico são, em parte, compartilhadas. (GASKELL, 2007, p. 71).
Com o corpus em mãos, foi necessário definir os procedimentos para sua análise.
Optou-se por fazer a análise desse discurso, à luz da arqueologia, mas se restringindo a
elementos fornecidos pelo encadeamento teórico desse saber e seu confronto com a fala dos
profissionais de comunicação organizacional, entendendo-a como orientadora para o
desenvolvimento de suas atividades, a práxis.
Para isso, delimitaram-se alguns elementos da análise arqueológica como inspiradores:
a) as regularidades – ou curvas – manifestadas nos enunciados, independentemente da época
ou se são originais, retomadas ou recopiadas, tanto pelos construtos teóricos como pela fala
dos profissionais; b) as relações entre as formações discursivas (observadas a partir do
encadeamento conceitual e das entrevistas) e os domínios não discursivos (aqui considerados
as mudanças relacionadas à globalização e o advento das tecnologias de informação e
comunicação); e c) os procedimentos de controle, interno e externo, presentes nas formações
discursivas.
Retomam-se, para esta análise, as sete formulações evidenciadas a partir do
encadeamento histórico dos construtos acerca da comunicação organizacional estratégica, que
podem subsidiar os enunciados desse discurso: a) a relação biunívoca – e fixa –
emissor/receptor; b) a necessidade da transmissão de informações por parte das organizações;
c) a adoção do conceito de comunicação estratégica como viés do planejamento estratégico
oriundo do campo da Administração; d) o surgimento de modelos que focam o aspecto
interacional como uma nova forma de se compreender os processos de comunicação; e) a
perspectiva de complexidade em contraposição à da simplicidade; f) o processo de construção
de sentidos como inerente à comunicação; e g) a concepção da estratégia planejada de
comunicação.
Esses primeiros achados foram contrapostos ao corpus, que foi categorizado a partir
das dimensões estratégicas do modelo de interação comunicacional dialógica (OLIVEIRA,
2002), que assumem os construtos relacionados à perspectiva interacional, constituída pelos
aspectos informacionais, relacionais e pela construção de sentidos, inerentes ao processo de
comunicação; e num contexto específico, o das organizações. Sendo assim, o corpus foi
analisado a partir de elementos da arqueologia, mas buscando o retorno em relação aos
aportes conceituais, contidos na fala dos profissionais de Comunicação entrevistados, com
base nas seguintes categorias de análise: Comunicação Organizacional (que tratará também da
57
abordagem relativa à Comunicação Estratégica); Comunicação como Processo; Inserção da
Comunicação na Cadeia Decisória; Interação e Informação; Relacionamento com Públicos; e
Monitoramento da Comunicação.
4.2 Caracterização descritiva
Ao abordar as organizações e profissionais que contribuíram, constituindo o corpus
para a realização da presente pesquisa, buscou-se contemplar um universo que pudesse ser
representativo para o estudo. No entanto, deve-se destacar que não se faz a análise da atuação
de cada uma delas em relação à comunicação, mas sim dos construtos teóricos que podem
orientar sua atuação, bem como os enunciados que constroem o discurso da comunicação
organizacional estratégica.
4.2.1 Perfil das organizações
A organização privada na qual atuam três entrevistados22 (Violeta Montes, Lélia e
Gravatá) possui atuação global, mais de 130 mil empregados no Brasil e cerca de 35 mil no
Estado de Minas Gerais, com orientações corporativas para o desenvolvimento das ações de
comunicação, mas com atuação local. No Brasil, a organização possui 140 profissionais
atuando na área de comunicação e, no Estado, 40.
Já a organização filantrópica, com atuação regional, possui cerca de 1.300
colaboradores e seis profissionais atuando na Comunicação, implementada há dez anos. Até
três anos atrás, conforme as entrevistadas (Imbuia, Bromélia e Catléia), a atuação do setor
limitava-se ao atendimento a demandas da diretoria e ao desenvolvimento de peças
informativas.
A organização de capital misto possui cerca de oito mil empregados próprios e tem sua
atuação concentrada no Estado de Minas Gerais, além de operações em outros estados
brasileiros e em parte da América Latina. A área de Comunicação conta com 42 profissionais
(dentre eles, os três entrevistados: Jacarandá, Jaborandi e Jequitibá) entre efetivos e
contratados como prestadores de serviços.
22 Os dez profissionais entrevistados para a pesquisa tiveram seus nomes substituídos por nomes de espécies da
flora da Mata Atlântica Brasileira. Tal associação deve-se à necessidade de definir nomes fictícios para não expor os entrevistados conforme já mencionado.
58
A quarta organização, um órgão público, possui cerca de 20 mil servidores em Minas
Gerais. Para a atuação da Comunicação, adota diretrizes nacionais, mas também imprime
ênfase em demandas locais, e conta com cerca de 40 profissionais na área (uma entrevistada,
Braúna), lotados em seis diferentes unidades no município de Belo Horizonte.
4.2.2 Os profissionais que constituíram o corpus
Para constituição do corpus, não foi possível encontrar a mesma representatividade
das três habilitações que se desejava. Dessa forma, foram entrevistados quatro profissionais
com formação em Jornalismo (Bromélia, que atua na organização filantrópica; Braúna, na
pública; Lélia, na organização privada; e Jacarandá, na de capital misto); quatro formados em
Relações Públicas (Imbuia e Catléia – que também fez uma segunda habilitação em
Jornalismo –, ambas atuando na organização filantrópica; Gravatá, na iniciativa privada; e
Jaborandi, na empresa de capital misto); e dois com formação em Publicidade (Violeta
Montes, da iniciativa privada; e Jequitibá, da organização de capital misto).
O tempo de atuação profissional da maioria dos profissionais oscila entre seis e 17
anos. A exceção vai para Catléia e Jequitibá, que estão trabalhando há três anos na área, e
Jaborandi, há 35 anos. Bromélia, Lélia e Gravatá têm entre seis e dez anos de atuação na
comunicação organizacional; e Imbuia, Braúna, Violeta Montes e Jacarandá, entre 12 e 17
anos. O tempo de conclusão do curso de graduação em Comunicação Social é o mesmo de
atuação na área para quase todos os profissionais entrevistados; exceto Jequitibá, que
trabalhou oito anos em outra área, e Lélia, dois anos em área diferente da Comunicação
depois de formados. Vale ressaltar que, exceto Jequitibá, os demais cursaram uma ou duas
especializações. Abaixo, um quadro resumo com o perfil dos profissionais entrevistados.
Quadro 1 – Perfil dos profissionais de comunicação entrevistados Nome fictício do
profissional
Tipo de
organização
Formação
profissional
Tempo (anos)
atuação C.O.
Nível
hierárquico
Imbuia Filantrópica Rel.Públicas 17 Gerente
Bromélia Filantrópica Jornalismo 8 Coordenadora
Catléia Filantrópica R.P/Jorn. 3 Analista
Braúna Pública Jornalismo 11 Coordenadora
Violeta Montes Privada Publicidade 12 Analista
59
Lélia Privada Jornalismo 6 Coordenadora
Gravatá Privada Rel.Públicas 10 Gestor
Jacarandá Capital misto Jornalismo 16 Gerente
Jaborandi Capital misto Rel. Públicas 35 Coordenador
Jequitibá Capital misto Publicidade 3 Analista Fonte: Dados da pesquisa
4.3 Categorias analíticas
As falas dos profissionais entrevistados, analisadas como elementos constituintes dos
enunciados da formação discursiva da comunicação organizacional estratégica, foram
agrupadas em seis categorias: a) Comunicação Organizacional (incluindo Comunicação
Estratégica); b) Comunicação como Processo; c) Inserção da Comunicação na Cadeia
Decisória; d) Interação e Informação; e) Relacionamento com Públicos; e f) Monitoramento
da Comunicação. Tal categorização foi necessária para que se pudesse proceder à análise
sistemática do corpus.
4.3.1 Comunicação Organizacional e Comunicação Estratégica
Esta categoria é, intencionalmente, a primeira a ser analisada. Por meio dela, busca-se
compreender o que os profissionais conceituam como Comunicação Organizacional e
Comunicação Estratégica, levando-se em conta os elementos do paradigma clássico-
informacional e os construtos teóricos das duas últimas décadas que enfatizam a necessidade
de se pensar a comunicação fundamentada pelo paradigma interacional. A partir dele, a
comunicação no contexto das organizações adquire maior complexidade e abrangência,
considerando-se a perspectiva do relacionamento, do diálogo e da construção de sentidos,
além da informação, elementos inerentes ao processo de comunicação. Tal encadeamento
teórico torna a comunicação nesse contexto menos instrumental e mais dialógica e estratégica,
ou seja; ela deixa a concepção reducionista da transmissão da informação e passa a ser
percebida como a interação entre os interlocutores, atores sociais, na qual ocorre a circulação
e a produção de sentidos estratégicos no relacionamento entre a organização e os demais
interlocutores.
Percebeu-se, durante a realização das entrevistas em profundidade, que os
profissionais utilizam comunicação organizacional e estratégica como sinônimos, sem que se
60
estabelecesse um limite conceitual. Visto isso, definiu-se por analisar as categorias
Comunicação Organizacional e Comunicação Estratégica em conjunto.
Nas falas dos profissionais, Comunicação Organizacional e Estratégica têm os
seguintes construtos: é a forma que a empresa utiliza pra dizer pro mercado, pra dizer pro público interno, pra dizer pros stakeholders o que ela quer dizer, divulgar. [...] Então existe uma preocupação muito grande, ainda mais hoje, em fazer com que a comunicação, com que a informação chegue de forma uniforme para todos os stakeholders. [...] Então cada público tem uma visão diferente da instituição. É lógico que eles vão ter porque eles interagem conosco de forma diferenciada. Mas o quê que a gente quer que eles entendam? (Imbuia, 17 anos na área)23.
É a comunicação da empresa com seus diversos públicos de interesse, [...] como a empresa leva suas mensagens tanto pra fora quanto pra dentro. [...] A gente desenha as formas, a gente desenha as mensagens, utiliza as ferramentas mais apropriadas pra conseguir levar aquela informação até o receptor. [...] é a área que formata as mensagens de acordo com cada público, você pode falar de um jeito com um público, de outro com outro público, de acordo com o público-alvo escolhe o meio mais adequado pra falar com aquele público-alvo e recebe o feedback daquela mensagem. (Violeta Montes, 12 anos na área)24.
Ela [a comunicação] é o instrumento para se atingir vários objetivos dentro de uma organização e aí ela [a organização] pode se (sic) usar desses instrumentos, de ferramentas mesmo para comunicar, para se antever, para se prevenir, as vezes até para [...] reverter uma situação, então são várias questões que compõem uma comunicação organizacional. (Catléia, três anos na área)25. é informar o que se passa aqui dentro, informar as ações e os programas que são desenvolvidos pro público que precisa da organização, então envolve tanto as pessoas que trabalham aqui quanto as pessoas de fora. [...] eu acho que é passar a informação relevante pra sociedade. (Braúna, 11 anos)26.
É um meio pelo qual a empresa se relaciona com os seus subordinados, com as suas equipes, pra difundir a sua estratégia. [...] é uma forma de trabalhar e disseminar as informações de maneira que todos tenham conhecimento daquilo que deve ser feito da forma mais adequada. (Jacarandá, 16 anos)27.
A comunicação é uma área de facilitação para poder [...] agregar mais participação do empregado, uma área extremamente estratégica dentro desse processo na corporação [...]. Comunicação organizacional é a gestão da comunicação estratégica. (Jaborandi, 35 anos)28.
23Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada com profissional de Relações Públicas que atua em
organização filantrópica, em setembro. 2013. 24 Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada com profissional de Publicidade que atua em organização da
iniciativa privada, em outubro. 2013. 25Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada com profissional de Relações Públicas e Jornalismo que atua
em organização filantrópica, em setembro. 2013. 26Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada com profissional de Publicidade que atua em organização
pública, em setembro. 2013. 27Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada com profissional de Jornalismo que atua em organização de
capital misto, em novembro. 2013. 28Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada com profissional de Relações Públicas que atua em
organização de capital misto, em novembro. 2013.
61
comunicar pra mim é o ato de você tornar uma mensagem comum... quando a gente traz pra dentro da questão da empresa, do ambiente organizacional. (Lélia, seis anos na área)29.
Pode-se perceber que, para os entrevistados, a ideia de comunicação organizacional
está fortemente associada à divulgação da informação e à necessidade de se “levar” ou “dizer”
aos públicos de interesse da organização, o que eles precisam conhecer e saber em relação a
ela, a partir de sua ótica e de seus objetivos. Ou seja: comunicação organizacional é
conceituada como informar, transmitir, falar para o “público-alvo” as mensagens que a
organização deseja. Trata-se de uma relação biunívoca, na qual a organização assume, a partir
dos enunciados presentes nas entrevistas, o papel fixo de emissora no processo de
comunicação.
Em contraponto, uma entrevistada, Lélia, traz, mesmo que de maneira incipiente, a
ideia de construção de sentidos. Ela discorre sobre a diferença entre concordância e
entendimento, deixando implícito que há, na interpretação, um processo de construção e
desconstrução de sentido e que somente a transmissão da informação não se mostra suficiente
para que a comunicação ocorra:
eu acho que a comunicação é você tornar comum a mensagem da empresa com seus públicos, mas aí eu acho que existe o segundo passo que além de tornar comum, de levar essa informação, que ela seja devidamente compreendida. Um passo além [...] que (os públicos) entendam, não significa concordância, por exemplo. Significa entendimento. (Lélia, seis anos de atuação na área)30.
Percebe-se ainda, em algumas falas (“cada público tem uma ideia diferente da
instituição”, “interagem conosco de forma diferenciada”, “utiliza ferramentas mais
apropriadas”, “formata as mensagens de acordo com cada público”), a presença da ideia de
interação; no entanto, a partir de uma lógica informacional e não dialógica, sob a qual a
organização, firme no seu papel de emissora, deve divulgar sua informação de maneira
uniforme, buscando o feedback, elemento constituinte do paradigma informacional.
Pode-se dizer que os dez profissionais entrevistados repercutem e reverberam a
relação biunívoca e dualista da comunicação organizacional e, dessa forma, em seu lugar de
fala, fortalecem enunciados constituindo regularidades de um discurso – independentemente
29 Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada com profissional de Jornalismo que atua em organização da
iniciativa privada, em outubro. 2013. 30 Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada com profissional de Jornalismo que atua em organização da
iniciativa privada, em outubro. 2013.
62
das influências que levam à causalidade entre esses sujeitos e os construtos teóricos –,
demonstrando a força de um paradigma consolidado e seus axiomas na construção de um
determinado discurso. Deve-se ressaltar que a perspectiva da comunicação organizacional
presente no encadeamento teórico desse saber, introduzindo os elementos da interação, do
diálogo e da construção de sentidos, não foi percebida na fala da maioria dos entrevistados.
Por outro lado, percebe-se, de maneira implícita nas entrevistas, a necessidade de legitimar a
própria área de comunicação.
Ainda nessa linha, outros enunciados presentes nas falas dos profissionais, quando
conceituam comunicação estratégica, reforçam a ideia da comunicação como instrumento e
ferramenta de suporte à gestão:
Quando você busca comunicação estratégica, acho que o profissional busca que a gestão da empresa use a comunicação de forma estratégica para haver os ganhos. [...] É trabalhar para que a empresa, independentemente do que faça, possa utilizar a comunicação para atingir seus objetivos. (Gravatá, dez anos na área)31. o que a gente quer [...] é fortalecer a cultura organizacional, fortalecer a nossa imagem, fortalecer a nossa marca. [...] hoje o foco da comunicação está muito ligado em divulgar estrategicamente, seja através dos veículos de comunicação, seja através da assessoria de imprensa. Então o que a gente quer é fortalecer a comunicação e não ser só o setor que faz o jornal mural, faz o jornal interno, sair um pouco do setor operacional pra que a instituição entenda que nós somos o setor estratégico que tem que estar aliado à diretoria, munido de informações pra que a gente consiga divulgar pro mercado e fazer com que através disso a instituição cresça. [...] criar estratégias de divulgação que possam ser rentáveis em algum momento pra instituição, através da divulgação bem feita. (Imbuia, 17 anos na área)32. precisa ter um vínculo muito estreito com os objetivos de negócio da empresa, [...] acho que a comunicação, se ela está dentro da organização, tem que estar alinhada com os objetivos maiores, não pode ser comunicação pra si mesmo (sic). [...] pra comunicação ser estratégica, precisa de um amadurecimento de objetivos. (Lélia, seis anos na área)33.
Alinhamento é uma forma de trabalhar e disseminar as informações de maneira que todos tenham conhecimento daquilo que deve ser feito da forma mais adequada. [os públicos] devem estar alinhados ao que foi estabelecido. A empresa deve se comunicar com o [público] externo da maneira mais adequada para que eles percebam a empresa como ela deseja ser percebida, então as ações de comunicação têm que ser planejadas, pensadas de maneira estratégica para atingir seu objetivo. (Jacarandá, 16 anos na área)34.
31Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada com profissional de Relações Públicas que atua em
organização da iniciativa privada, em outubro. 2013. 32Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada com profissional de Relações Públicas que atua em
organização filantrópica, em setembro. 2013. 33Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada com profissional de Jornalismo que atua em organização da
iniciativa privada, em outubro. 2013. 34Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada com profissional de Jornalismo que atua em organização de
capital misto, em novembro. 2013.
63
Os enunciados presentes nas falas acima trazem claramente os aportes teóricos do
campo da Administração, segundo o qual a comunicação é utilizada como ferramenta e
instrumento de controle do planejamento estratégico conforme mencionado por Mintzberg
(2004). Segundo essa perspectiva, a comunicação é fundamental para o sucesso do
planejamento estratégico da organização que deve ser conhecido e compreendido interna e
externamente, conforme os interesses, objetivos e metas organizacionais. Nesse sentido,
retomando Mintzberg (2004, p. 280), a comunicação é fundamental “para buscar o apoio
tangível, e também moral, dos influenciadores” nos planos definidos, ideia que pode ser
percebida nas falas dos profissionais.
Em consonância com tais construtos, os profissionais associam a comunicação com a
ideia de alinhamento e da busca por engajamento dos públicos à organização. As palavras
alinhar, alinhada, alinhamento estão presentes nas falas de todos os entrevistados. Estas
palavras reforçam a ideia de comunicação como instrumento e ferramenta vinculada aos
objetivos da empresa, refletindo, mais uma vez, a lógica informacional. Evidentemente que a
comunicação precisa estar atenta aos objetivos organizacionais, mas isto não impede que
perceba o público como interlocutor da relação a ser estabelecida.
Conforme já mencionado, a comunicação organizacional é usada como sinônimo de
comunicação estratégica. Deve-se ressaltar ainda que, nas menções feitas à comunicação
organizacional, a maioria dos profissionais entrevistados a coloca como estratégica quando
passa pela gestão da empresa, conhece os objetivos organizacionais e, assim, pode trabalhar a
divulgação e a transmissão das informações em consonância – ou em linha – com tais
objetivos. Por vezes, o conceito de estratégia é também associado à definição das ações,
canais, formato e linguagem em função dos públicos que se quer atingir.
Deve-se ressaltar ainda que a perspectiva de estratégia planejada de comunicação no
contexto das organizações, orientada a partir do paradigma interacional e do conceito
proposto por Pérez (2012a), também não se mostrou presente na fala dos profissionais de
comunicação entrevistados. Em termos conceituais, predominou a definição mais clássica e
ligada ao paradigma militar, segundo a qual a estratégia é pensada para atingir o alvo; nesse
caso, o público de interesse da organização, com as informações que essa deseja tornar
públicas.
Importante mencionar que dois entrevistados relataram que os construtos conceituais
que fundamentam a práxis da comunicação nesse contexto, têm relação com a formação dos
profissionais, ainda sedimentada por uma base funcionalista e reducionista do processo de
comunicação:
64
Eu me formei por uma grade de comunicação mais antiga e eu acho que os profissionais, principalmente de jornalismo e de publicidade, não saem da faculdade muito prontos para a comunicação organizacional. Hoje a grade de comunicação foi um pouco mais diversificada, foi ampliado o conteúdo que diz respeito à comunicação organizacional, mas eu acho que ele não é bem trabalhado pelas universidades. A gente sabe, eu tenho essa impressão e pelo que converso com algumas pessoas que estão no mercado há menos tempo, dois, três anos, elas têm a mesma sensação e saíram um pouco órfãos pra trabalhar com comunicação organizacional. [...] Então, acaba que o profissional atua muito de forma experimental e não encontra forma de fazer aquilo de uma forma melhor, tendo em vista o que ele aprendeu de conceitos. (Bromélia, oito anos na área)35.
“na teoria ela [a comunicação] é muito bonita, o papel dela é muito bonito e eu acho que além de ser bonito é muito importante [...]. Eu acho que é muito bacana se ela acontecesse assim. Mas infelizmente não acontece”. (Catléia, três anos na área)36
Pode-se dizer, a partir do relato de Bromélia e Catléia, que a presente pesquisa aponta
outro ponto importante na construção do discurso da comunicação organizacional estratégica:
o distanciamento entre teoria e prática para se pensar a comunicação organizacional. Tais
depoimentos nos levantam outra questão que leva a articular a formação acadêmica e os
conceitos que subsidiam a práxis: é perceptível, na fala dos profissionais, o distanciamento
desses em relação aos construtos mais recentes acerca da comunicação e da comunicação no
contexto das organizações, trabalhados nesta pesquisa. O que fundamenta os enunciados de
seus discursos são os construtos conceituais amparados pelo paradigma clássico-
informacional, que se tornou hegemônico, criando axiomas e influenciando fortemente a
prática da comunicação nesse contexto, conforme já mencionado.
Quadro 2 – Elementos que formam os enunciados relativos aos conceitos de Comunicação Organizacional e Comunicação Estratégica
COMUNICAÇÃO ORGANIZACIONAL / COMUNICAÇÃO ESTRATÉGICA
Curvas/regularidades
manifestadas nos
enunciados
Relação entre formações
discursivas (encadeamento
conceitual e práxis)
Procedimentos de
controle
Comunicação
organizacional e
estratégica como
divulgação de informação
Posição fixa emissor/receptor
Necessidade de transmissão da
informação
Comunicação estratégica como
Comunicação como
instrumento e
ferramenta de controle
no processo de gestão
35Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada com profissional de Jornalismo que atua em organização
filantrópica, em setembro. 2013. 36Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada com profissional de Relações Públicas que atua em
organização filantrópica, em setembro. 2013.
65
para públicos de interesse
da organização
viés do planejamento estratégico, a
partir do campo da Administração
organizacional
Fonte: Elaborado pela autora
Quadro 3 – Palavras e expressões dos profissionais que conceituam Comunicação Organizacional e Comunicação Estratégica
PALAVRAS E EXPRESSÕES DOS PROFISSIONAIS QUE CONCEITUAM
COMUNICAÇÃO ORGANIZACIONAL/ COMUNICAÇÃO ESTRATÉGICA
Dizer/divulgar/comunicar/informar/informar as ações/levar suas mensagens/divulgar
estrategicamente
Receptor/público de interesse
Objetivos/atingir objetivos estratégicos/atrelar às atividades da empresa/ comunicação
para atingir os objetivos da empresa/usar a comunicação para atingir seus objetivos/estar
ligada à estratégia da empresa/ações para atingir um objetivo
Comunicação da empresa com seus públicos/especificidades de cada público/definir a
forma, a mensagem chave que vamos passar de acordo com cada público
Ferramenta/instrumento/meio
Alinhamento/alinhar/alinhando/entendimento de todos Fonte: Elaborado pela autora
4.3.2 Comunicação como Processo
Buscou-se identificar, na fala dos profissionais entrevistados, a ideia de comunicação
como processo, postulada por Oliveira e Paula (2012), segundo a qual a comunicação é
compreendida como um processo dinâmico de atividades ou atos interdependentes, realizados
em uma sequência. Tais atividades ou atos apresentam uma unidade, numa visão ampla e
integrada, combinando e articulando os fluxos informacionais e relacionais, que podem ter
etapas parcialmente concluídas, mas não são apresentados como produtos.
Acho que seria pensar e planejar as atividades desenvolvidas pra poder executar, conseguir executar essas tarefas, todas essas funções e atividades de forma a difundir as informações. (Braúna, 11 anos na área)37.
Tem o processo de comunicação externa que é a visibilidade da nossa marca, da nossa empresa pra sociedade, pro público externo, processo de comunicação interna
37Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada com profissional de Jornalismo que atua em organização
pública, em setembro. 2013.
66
é o desdobramento das mensagens pro público interno; tem essa divisão. (Violeta Montes, 12 anos na área)38.
são processos da área de comunicação, mas que envolvem a empresa como um todo. [...] são processos divididos em comunicação interna, comunicação externa e abriria a externa em publicidade. [...] é perceptível nos planos, nas formas de atuação que você consegue mapear o que é de cada processo; eles vão fazer uma entrega grande para os clientes deles que envolva todos esses processos, mas você consegue percebê-los de forma separada. (Gravatá, dez anos)39.
os processos de comunicação, são os planos de comunicação, é o trabalho que a gente realiza com as áreas para tornar viável todas as necessidades, não só das áreas como da própria área nossa, da área de comunicação e da diretoria. (Jaborandi, 35 anos)40.
são frentes de trabalho distintas com início, meios e fins diferentes. Então você consegue distinguir ali [...] o ponto de partida; pode vir da comunicação interna, pode ser uma demanda do gerente. [...] é processo exatamente por essa questão do início, meio e fim quase como particularizado. (Jequitibá, três anos na área)41.
pensar e planejar as atividades desenvolvidas para poder executar [...] as tarefas, todas essas funções e atividades, de forma a difundir as informações. (Braúna, 11 anos na área)42.
seguir um processo para que ela [a informação] possa ser divulgada ou através de um veículo ou através da própria diretoria, de uma palavra, da formalização de um evento, de um seminário, de um encontro com público interno, então trazer a informação pra cá e fazer com que ela se torne realidade. Então hoje a comunicação não é um processo aqui porque as demandas vêm muito picadas pra comunicação e vêm já formatadas como devem ser feitas. (Imbuia, 17 anos na área)43.
[a equipe de qualidade] trouxe esse conceito de se trabalhar como processo e a comunicação se inseriu nisso [...], trabalhando como um processo com metodologias, com procedimentos padrão para atividades que são corriqueiras, que são cotidianas. [...] A gente tem o procedimento operacional padrão para redigir o jornal, para apuração, definição de pauta, isso tudo é feito sempre da mesma forma, com prazos específicos para cada atividade [...], existe esse processo até chegar no produto final. (Bromélia, oito anos na área)44.
38 Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada com profissional de Publicidade que atua em organização da
iniciativa privada, em outubro. 2013. 39Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada com profissional de Relações Públicas que atua em
organização da iniciativa privada, em outubro. 2013. 40Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada com profissional de Relações Públicas que atua em
organização de capital misto, em novembro. 2013. 41Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada com profissional de Publicidade que atua em organização de
capital misto, em novembro. 2013. 42 Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada com profissional de Jornalismo que atua em órgão público,
em setembro. 2013. 43Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada com profissional de Relações Públicas que atua em
instituição filantrópica, em outubro. 2013. 44Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada com profissional de Jornalismo que atua em organização
filantrópica, em setembro. 2013.
67
Quando falo de um processo de comunicação eu entendo que existe uma cadeia: não são áreas isoladas, e aí eu estou falando de publicidade trabalhando na sua caixinha, eventos trabalhando na sua caixinha; mas o entendimento da comunicação como algo transversal a todas essas caixinhas. E se for nesse sentido eu entendo que aqui a gente trabalha comunicação como um processo. (Lélia, seis anos na área)45.
As falas dos entrevistados indicam que não há clareza quando se conceitua
comunicação como processo. De maneira geral, a percepção desse conceito está relacionada à
organização de determinadas atividades ou dos passos para a produção da
mensagem/informação, remetendo à ideia de gestão das atividades de comunicação ou de
organização das tarefas e “entregas” que precisam ser feitas, de maneira linear. Deve-se
ressaltar que o termo “entregas” é comum no ambiente organizacional, usado também de
maneira corriqueira pelos profissionais entrevistados para se referir a atendimento a demandas
ou a desenvolvimento de ações e atividades de comunicação. Uma entrevistada associou a
ideia de comunicação como processo às certificações de qualidade que são almejadas pelas
organizações, em especial, a certificação ISO 900046.
Importante destacar que, ao fazerem a reflexão sobre o conceito de comunicação como
processo e o atendimento a demandas, os profissionais levantam a questão do cumprimento de
tarefas em contraponto ao desenvolvimento da comunicação de maneira estratégica. Definem-
se como tarefeiros em função das demandas e exigências de mercado:
aqui na instituição eu não vejo ela [a comunicação] como um processo não. A gente é tarefeiro às vezes com um fim específico e não como uma evolução de alguma coisa que diz o processo. [...] pela dinâmica do mercado, das empresas estarem tendo que apresentar resultados, da concorrência que é muito grande; então eu acho que tudo isso faz com que a comunicação seja mais deixada como tarefeira mesmo. [...] as demandas são tão grandes eu acho, essa parte de tarefa ela exige tanto do profissional que eu acho que sobra pouco tempo. (Catléia, três anos)47. [o profissional de comunicação] vai entregando, é uma área de muito serviço, que vai entregando serviço para outras áreas. [...] é aquele que tira atendimento da padaria: quer pão, tome pão, quer uma empada, tome uma empada (sic). (Gravatá, dez anos na área)48.
45Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada com profissional de Jornalismo que atua em organização da
iniciativa privada, em outubro. 2013. 46A ISO ou International Organization for Standardization, é uma organização não governamental, fundada em
Genebra em 1947, que designa uma série de normas técnicas internacionais que estabelecem um modelo de gestão da qualidade para as organizações, independentemente de porte, área ou localização. Nas organizações, a certificação ISO já é aplicada às áreas de comunicação, certificando produtos e processos de comunicação.
47Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada com profissional de Relações Públicas e Jornalismo que atua em instituição filantrópica, em outubro. 2013.
48Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada com profissional de Relações Públicas que atua em organização da iniciativa privada, em outubro. 2013.
68
O profissional tarefeiro, conforme definiu Gravatá (acima), é o que se preocupa com
as “entregas” que precisam ser feitas em detrimento do pensar estratégico. Segundo ele, esse
profissional não pensa sobre a comunicação ou o processo de comunicação no contexto das
organizações, mas nas entregas e cumprimento das demandas que aparecem no dia a dia.
A partir da fala dos entrevistados, nota-se que não há clareza em relação ao conceito
de comunicação como processo, no sentido proposto pelo modelo de interação
comunicacional dialógica, postulado por Oliveira (2002), como uma das dimensões
estratégicas da comunicação. A partir da análise dos enunciados presentes nas falas dos
profissionais, apenas uma definição da comunicação como processo foi apresentada
aproximando-se do conceito aqui trabalhado. Conforme essa fala, comunicação como
processo implica a existência de uma cadeia que integra os diferentes campos de atuação da
comunicação, compreendida como algo transversal dentro da organização, numa aproximação
também com os construtos de comunicação integrada.
A organização das atividades de comunicação equivalendo à comunicação como
processo pode estar relacionada à implantação dos modelos de gestão nas organizações, que
adotam uma perspectiva linear da comunicação, pensada como ferramenta de controle e
gestão e, portanto, enunciados que estão relacionados ao paradigma informacional,
constituindo o discurso da comunicação organizacional estratégica.
Quadro 4 – Elementos que formam os enunciados relativos aos conceitos de Comunicação como Processo
COMUNICAÇÃO COMO PROCESSO
Curvas/regularidades
manifestadas nos
enunciados
Relação entre formações
discursivas (encadeamento
conceitual e práxis)
Procedimentos de
controle
Desenvolvimento das
atividades de
comunicação para uma
entrega alinhada aos
objetivos organizacionais
Necessidade de transmissão da
informação
Planos de comunicação
alinhados como
ferramenta estratégica
Fonte: Elaborado pela autora
Quadro 5 – Palavras e expressões dos profissionais que conceituam Comunicação como Processo
PALAVRAS E EXPRESSÕES DOS PROFISSIONAIS QUE CONCEITUAM
69
COMUNICAÇÃO COMO PROCESSO
Seguir um processo para que ela [a informação] possa ser divulgada
A gente estabeleceu uma política de qualidade [...], e aí [...] esse conceito de trabalhar
como processo/Existe esse processo até chegar no produto final
Tarefeiros com um fim específico/As demandas grandes/tarefa exige do profissional/É um
profissional muito de entrega
A gente tem diversos processos [comunicação interna, externa], mas a gente trabalha
muito integrado/Existe uma cadeia [de atividades], não são áreas isoladas/São processos
de comunicação que envolvem a empresa como um todo
Alinhados à missão e à visão da empresa
São planos de comunicação/São ferramentas estratégicas/Frentes de trabalho distintas com
início, meio e fim/Nos planos você consegue mapear o que é de cada processo/fazer uma
entrega grande para os clientes [internos, áreas da organização] Fonte: Elaborado pela autora
4.3.3 Inserção da Comunicação na Cadeia Decisória
A inserção da comunicação na cadeia de decisões é outro componente da dimensão
estratégica da comunicação organizacional. Conforme postulam Oliveira e Paula (2007, p.
45), ela “é um requisito para orientar a análise de situações e cenários que afetam os atores
sociais e a adoção, pela organização, de mecanismos que considerem expectativas e demandas
desses atores”. Sendo assim, quando inserida na cadeia decisória, a área de comunicação e
seus profissionais são convocados a participar da tomada de decisões importantes para a
organização, buscando contribuir com a análise de impactos dessas em relação aos
interlocutores que estão em relacionamento com a organização, o que já se mostra presente na
práxis, a partir dos enunciados que constituem as falas dos entrevistados:
ela [a comunicação] pauta algumas ações operacionais. [...] Sempre, quando tem um assunto de relevância estratégica para a empresa, a comunicação é chamada à mesa pra discutir junto. [...] A decisão da empresa a gente não consegue influenciar; a gente faz análise do cenário, apresenta para o gestor, mas a decisão é dele. Mas eu acho que é uma forma de ajudá-lo a tomar decisão. (Violeta Montes, 12 anos na área)49.
49Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada com profissional de Publicidade que atua em organização da
iniciativa privada, em outubro. 2013.
70
O grupo gestor foi criado há quatro anos e meio e, na segunda modificação a comunicação já foi inserida. [...] Ele é consultado, ele é chamado para as decisões mais importantes. [...] A diretora atual faz questão de participar então, nessa gestão, [a comunicação] já teve um papel maior. Antes disso não, a comunicação era um setor muito alheio às decisões da instituição. (Bromélia, oito anos na área)50.
A gente tem essa clareza que nós somos uma área de apoio e que trabalhamos para o negócio da organização. [...] Eu vejo que a comunicação é uma área, aqui hoje, dentro da empresa, que é consolidada. Ela é chamada para mesas da alta diretoria, para conversar sobre temas que são estratégicos, em momentos de crise, ela é uma área que realmente é consultada. Eu sinto que ela é ouvida dentro da empresa, em momentos de decisões importantes. (Lélia, seis anos na área) 51.
hoje, os profissionais de comunicação têm assento na mesa de decisões, seja de novos negócios, seja de Comitê quando tem crises. [...] Então eu acho que evoluiu muito [a área de comunicação] e alcançou um respeito. O próprio gestor, a gestão da empresa sabe a importância de ter a comunicação, de usar a comunicação para que as ideias e soluções possam ser mais assertivas e benéficas pra organização. (Gravatá, dez anos na área)52.
a criação de uma diretoria de comunicação [...] reforça a presença e o peso da comunicação nas decisões da empresa, então isso aconteceu há três anos e a gente percebe internamente como as áreas da empresa, de uma certa forma, elas respeitam, estão atentas às questões que podem impactar a marca, a reputação, a imagem da empresa e não se posicionam, principalmente externamente, sem que a comunicação seja envolvida. (Jacarandá, 16 anos na área)53.
Percebe-se grande avanço quando se busca identificar a inserção da comunicação na
cadeia de decisão. De forma geral, segundo os profissionais entrevistados, a comunicação, nas
organizações nas quais atuam, já faz parte da cadeia decisória. Em duas das organizações, a
área possui posição hierárquica de diretoria e, em outra, assento no grupo gestor, que reúne
representantes das diferentes áreas de toda a organização, convocados em momentos de
tomada de decisões importantes. A atuação da área como suporte na tomada de decisões e em
processos de gestão revela enunciados que indicam um novo olhar para o processo de
comunicação nas organizações, que passa a ser considerado em momentos importantes,
fornecendo informações que podem subsidiar a tomada de decisão.
Dois entrevistados, no entanto, mencionam a dificuldade de uma atuação decisória da
comunicação, pelo fato de que “todos entendem de comunicação” e da visão da comunicação
como tarefeira, sendo procurada para consulta, sem, contudo, ter poder de decisão:
50Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada com profissional de Jornalismo que atua em organização filantrópica, em outubro. 2013.
51Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada com profissional de Jornalismo que atua em organização da iniciativa privada, em novembro. 2013.
52Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada com profissional de Relações Públicas que atua em organização da iniciativa privada, em novembro. 2013.
53Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada com profissional de Jornalismo que atua em organização de capital misto, em novembro. 2013.
71
os empresários têm muita visão de que eles também têm que interferir na comunicação, de que eles também entendem de comunicação, mas a gente sofre, acaba sofrendo vários tipos de interferências que ou eles tornam o processo mais moroso ou isso faz com que a gente tenha vários ajustes de produção de material, de produção de veículos ao longo do caminho. [...] hoje, a área está virando um pouco a chave [...], era uma área completamente reativa. Era aquela área assim: diretoria pedia, a gente fazia. (Imbuia, 17 anos na área)54.
quando você trabalha o seu planejamento sem estratégia você vai ser o tarefeiro, aquele que tira atendimento da padaria (sic). Quer pão tome pão, quer uma empada toma empada. Se você trabalha sem planejamento, sem estratégia, não fizer parte da gestão, você vai ser só um tarefeiro. (Gravatá, dez anos na área)55.
Alguns profissionais mencionam ainda que o posicionamento da comunicação no
processo decisório, além de estar relacionado ao perfil da organização, depende diretamente
do perfil e da postura do gestor da área de comunicação. Na opinião de alguns entrevistados,
mesmo que a comunicação não faça parte da cadeia decisória, o gestor precisa conhecer a
abrangência da área para que possa argumentar a respeito dos processos e ações de
comunicação:
é preciso estar no lugar [fora do escritório] pra conhecer os seus públicos. [...] Não é a gestão da empresa, eu acho que é a gestão da comunicação, [...] você ter essa visão integrada, de comunicação integrada, de ir a campo, é equipe, não é empresa, é gestão da comunicação. [...] Não tem verba pra viajar, isso pode acontecer, mas, sei lá se você tem uma boa gestão você consegue argumentar. (Violeta Montes, 12 anos na área) 56.
[o gestor] enquanto profissional de comunicação, também deve se impor, questionar. (Jequitibá, três anos na área)57.
Observa-se, a partir das entrevistas, que a dimensão da inserção da comunicação na
cadeia decisória das organizações já se mostra presente nos enunciados do discurso da
comunicação organizacional estratégica, como suporte e orientação à gestão. A presença da
área na cadeia decisória é, certamente, um avanço no discurso e na práxis. No entanto, de
maneira geral, sustentados pelas falas dos profissionais, pode-se perceber que a área tem sua
importância percebida pela cadeia decisória no suporte à tomada de decisões e no
desenvolvimento dos veículos e canais de comunicação; não necessariamente na tomada
54Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada com profissional de Relações Públicas que atua em organização filantrópica, em setembro. 2013. 55Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada com profissional de Relações Públicas que atua em organização da iniciativa privada, em outubro. 2013. 56Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada com profissional de Publicidade que atua em organização da iniciativa privada, em outubro. 2013. 57Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada com profissional de Publicidade que atua em organização de capital misto, em novembro. 2013.
72
conjunta de decisões organizacionais, mas na definição estratégica do destino ou da produção
da informação, ainda com foco na tratativa da informação.
Quadro 6 – Elementos que formam os enunciados relativos à Inserção da Comunicação na Cadeia Decisória
INSERÇÃO DA COMUNICAÇÃO NA CADEIA DECISÓRIA
Curvas/regularidades
manifestadas nos
enunciados
Relação entre formações
discursivas (encadeamento
conceitual e práxis)
Procedimentos de
controle
Comunicação como
executora e suporte, usada
em função das demandas
da organização
Posição fixa emissor/receptor
Necessidade da transmissão da
informação
Comunicação
controlada pela gestão,
como parte do controle
organizacional Fonte: Elaborado pela autora
Quadro 7 – Palavras e expressões dos profissionais que conceituam Inserção da Comunicação na Cadeia Decisória
PALAVRAS E EXPRESSÕES DOS PROFISSIONAIS QUE CONCEITUAM
INSERÇÃO NA CADEIA DECISÓRIA
[a comunicação] Faz parte do grupo gestor [...]/É chamado para as decisões mais
importantes/É consultada
É muito de suporte/Somos uma área de apoio/Ela não é de decisão, mas de suporte
Varia muito de gestão/A gestão usa a comunicação, com alguns objetivos/comunicação é
embasadora da gestão/A gestão da empresa sabe a importância de ter a comunicação, de
usar a comunicação
As áreas da empresa [...] respeitam a comunicação
É um setor de execução/Aqui a gente cumpre ordem/Está alinhada aos processos/Em
algumas situações [a área de comunicação] é demandada sem pudor Fonte: Elaborado pela autora
4.3.4 Interação e Informação
Esta categoria busca enfatizar a compreensão e a relação entre interação e informação
no processo de comunicação. Se a perspectiva da informação enfatiza a divulgação e
transmissão da informação, a da interação “pressupõe a circularidade de discurso entre os
73
envolvidos, o que reforça a importância da interlocução” (OLIVEIRA; PAULA, 2007, p. 23).
Segundo o modelo de interação comunicacional dialógica, essa interação ocorre no espaço
comum no qual os diferentes interlocutores, dentre eles a organização, estão em diálogo
constante; em contraponto ao modelo clássico-informacional que investe na unilateralidade e
na fixação de papéis emissor/receptor. Deve-se ressaltar a importância da informação também
nos processos e atos interacionais, mas que essa não deve ocupar a sua centralidade, o que
parece mais comum, a partir dos enunciados presentes nas falas dos profissionais:
eu acho que há uma necessidade cada vez mais premente de não se parar no ato de transmitir somente a mensagem, mas de buscar canais de diálogo, de retorno. [...] abrir canais de diálogo eu acho que é um grande desafio hoje para qualquer instituição. Hoje, acredito que façamos bem essa transmissão. Sabemos da importância do diálogo, mas ainda não chegamos lá. [...] A comunicação aqui é informacional; acho que [trabalhar o interacional] é uma questão de amadurecimento da organização e do profissional. (Lélia, seis anos na área)58.
A gente tem um jornal bimensal, também impresso que vai para cada colaborador, chega na casa dele, a gente tem urnas internas na instituição e a gente tem alguns eventos internos de integração. Por exemplo, dia do trabalhador; a gente sempre faz um teatro motivacional e todos os colaboradores são contemplados. A gente tem os eventos aniversariantes do mês, dia dos profissionais, tem esses eventos comemorativos... (Bromélia, oito anos na área)59.
Informacional é mão única. Você informa, pronto acabou. Interacional você passa aquela mensagem, espera o retorno e vai construindo o significado. Vai e volta. Você faz o ciclo da comunicação completa: emissor, meio, receptor, meio, mensagem e feedback. (Violeta Montes, 12 anos na área)60.
A gente tem inclusive o Comitê de Comunicação [...] onde a gente tem um representante de cada uma das diretorias para poder trazer as pautas para serem discutidas, serem analisadas e a gente fazer uma seleção daquelas que a gente julga ser mais oportunas ou mais estratégicas para poder divulgar nos nossos meios de comunicação interna ou externa. (Jaborandi, 35 anos na área)61.
Eu acho que informacional é uma comunicação voltada só pra informar, não é uma via de mão dupla, é uma via de mão única, e a interacional é onde tem uma interação, uma via de mão dupla, tem um diálogo, consegue ter um retorno daquela informação se tornando um diálogo. (Gravatá, dez anos na área)62.
58Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada com profissional de Jornalismo que atua em organização da
iniciativa privada em outubro. 2013. 59Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada com profissional Jornalismo que atua em organização
filantrópica em setembro. 2013. 60Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada com profissional de Publicidade que atua em organização da
iniciativa privada em outubro. 2013. 61Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada com profissional de Relações Públicas que atua em
organização de capital misto em novembro. 2013. 62Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada com profissional de Relações Públicas que atua em
organização da iniciativa privada em outubro. 2013.
74
eu chamo de comunicação relacional quando a gente quer divulgar alguma coisa, mas pra um público aberto. [...] quando eu vou fazer uma campanha de prevenção à saúde e [...] eu quero atingir qual público? Eu quero atingir todo mundo que está acima do peso, que pode chegar à obesidade, então eu vou fazer uma campanha pro meu público interno. [...] uma campanha de interação que aquelas pessoas que estão fora do peso se conscientizem, comecem a se preparar para participar de uma campanha, façam inscrição. (Imbuia, 17 anos na área)63.
Interessante notar que os profissionais entrevistados, de maneira geral, levantam a
necessidade de se estabelecer maior interação nos relacionamentos com os públicos, o que
sugere uma predisposição para incorporar o paradigma interacional ao discurso e à práxis da
comunicação organizacional estratégica. Exemplificam ainda a realização de atos interativos
(reuniões de comitês e conselhos editoriais, nas quais o empregado tem a oportunidade de
sugerir pautas para serem avaliadas pela área de comunicação; reuniões de pré-testes para o
desenvolvimento de alguma ação de comunicação, teatros motivacionais, aniversariantes do
mês ou grandes campanhas) como evidência da comunicação interacional e/ou relacional no
seu dia a dia, no entanto, presos à lógica informacional. Também a partir da análise das falas,
parece ter mais peso a ideia de que a interação esteja associada – ou reduzida – a ações que
buscam o feedback, ou seja: o retorno ou opinião dos interlocutores em relação à comunicação
já divulgada ou ao desenvolvimento de eventos, e não a construção conjunta dessa
comunicação. Deve-se ressaltar, como já mencionado anteriormente, que a interação também
ocorre por meio da informação compreendida como um processo de troca, mas não se
restringe à opinião de um determinado público, em função dos objetivos organizacionais.
Apesar dessa predisposição pela perspectiva interacional, os profissionais reconhecem
e ressaltam o fato de trabalharem mais a perspectiva informacional e que na práxis, ou no dia
a dia, as ações e atividades de comunicação são de cunho informacional, com foco nos
veículos e no atendimento a demandas. Evidenciam, assim, essa característica como uma
regularidade presente nos enunciados e na formação discursiva da comunicação
organizacional estratégica. Nesse sentido, pode-se dizer que os profissionais conhecem e
reconhecem a necessidade de se trabalhar o interacional, mas estão presos a um discurso e
uma práxis informacional.
Tal questão traz novamente à tona a força de um paradigma cujos axiomas já estão
consolidados, proporcionando certa comodidade e conforto à práxis. Retomando Berger e
Luckmann (2012), essa comodidade e o conforto gerados pela força do hábito, eximem o
sujeito da carga de se tomar decisões, conferindo-lhe “um alívio psicológico que tem por base
63Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada com profissional de Relações Públicas que atua em
organização filantrópica em setembro. 2013.
75
a estrutura instintiva não dirigida do homem” (BERGER; LUCKMANN, 2012, p. 76), o que
pode ser percebido a partir dos enunciados dos profissionais:
a gente vem historicamente de modelos que não conversavam nada, que não comunicavam nada. A organização existia e ponto. Independentemente de quem ela impactava ou enfim, o empregado ele ia lá cumpria seu horário de trabalho, ia embora. Então, isso é muito recente, eu acho que a gente tem caminhado, tem avançado e acho que essa comunicação interacional ela é um passo a ser dado, e acredito que na maioria das organizações. (Lélia, seis anos na área)64.
Ela é mais informacional. Deveria ser mais interacional, a gente vem discutindo algumas formas de fazer com que ela seja mais interacional, mas, hoje ela está mais informacional. Talvez pela cultura, pelo tipo de produto que ela [a organização] oferece, pela forma como ela está inserida no mercado, talvez até um certo comodismo, vamos dizer assim. (Jacarandá, 16 anos)65.
é mais fácil fazer informacional. É mais fácil, é mais cômodo. Não é muito cômodo? Eu preciso passar uma informação; pá, jornal mural, não é muito mais fácil? [risos]. Fácil não é não. Mas muitas vezes a gente faz é isso mesmo”. (Violeta Montes, 17 anos na área)66.
Por outro lado, mas ainda nesse viés, dois entrevistados colocam que a hegemonia do
paradigma clássico-informacional é decorrente do que a organização busca em relação à sua
comunicação:
De forma geral, acho que as empresas buscam só passar informação. Acho que é mesmo só informar, as empresas hoje estão no momento de só informar. Acho que o caminho, o próximo passo, seria ter uma interação maior, melhor e ser mais estratégico e está muito ligado ao fato de você ser uma comunicação que só informa com o de tirar pedido da padaria e ser pouco estratégico (sic). [...] evoluindo nessa pirâmide, aí você consegue se tornar mais próximo, estratégico e deixar de ser simplesmente comunicação informacional. (Gravatá, dez anos na área)67.
há ainda a postura da empresa e pela natureza mesmo quando você vê a atuação da organização [...], você vê que ela é muito reativa, ela é muito estática, muito de informação, ela é muito de caráter de informação. [...]de prestar contas aos públicos, mas sem abrir muita margem para retorno, pra poder alterar diante do que eles enxergam. (Jequitibá, três anos na área)68.
64Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada com profissional de Jornalismo que atua em organização da
iniciativa privada em outubro. 2013. 65Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada com profissional de Jornalismo que atua em organização de
capital misto em novembro. 2013. 66Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada com profissional de Publicidade que atua em organização da
iniciativa privada em outubro. 2013. 67Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada com profissional de Relações Públicas que atua em
organização da iniciativa privada em outubro. 2013. 68Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada com profissional de Publicidade que atua em organização de
capital misto em novembro. 2013.
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A partir do que aqui foi colocado, pode-se perceber a hegemonia do paradigma
clássico-informacional na formação do discurso da comunicação organizacional estratégica.
Retomando Morin (2012b), conclui-se que esse paradigma orienta a construção dos conceitos
e dos discursos, gerando enunciados diferentes, mas ainda fundamentados nesse, o que faz
com que os profissionais conheçam, pensem e ajam segundo conceitos e operações lógicas
cirstalizados e inscritos culturalmente neles, simplificando a complexidade do real, ou do
processo de comunicação organizacional estratégica.
Pode-se dizer, analisando as falas dos profissionais, que isso decorre tanto em função
da postura das organizações como dos profissionais em relação ao processo de comunicação.
Nesse sentido, em alusão a Berger e Luckmann (2012), conclui-se, subsidiados por tais
relatos, que o paradigma informacional, que ainda fundamenta o conhecimento e o discurso
da comunicação organizacional estratégica, é suposto como certo ou adequado, pois já se
tornou parte da vida cotidiana profissional.
Em contraponto, a análise das entrevistas mostra que os profissionais reconhecem que
a comunicação não pode mais se restringir aos fluxos informacionais, hoje insuficientes,
devido à complexidade dos processos comunicacionais, conforme já colocado por Oliveira e
Paula (2007). Pode-se dizer que a percepção e o reconhecimento dos profissionais da
necessidade de se considerar o interacional na práxis mostra-se iminente já com o
desenvolvimento de atos interativos e a busca de se considerar mais as necessidades e
expectativas dos interlocutores, ainda que numa lógica informacional.
Quadro 8 – Elementos que formam os enunciados relativos aos conceitos de Interação e Informação
INTERAÇÃO E INFORMAÇÃO
Curvas/regularidades
manifestadas nos
enunciados
Relação entre formações
discursivas (encadeamento
conceitual e práxis)
Procedimentos de
controle
Feedback ou retorno da
informação divulgada
Necessidade premente de
se buscar a interação
Consolidação de uma
práxis, cujos construtos
teóricos encontram-se no
Posição fixa emissor/receptor
Necessidade de transmissão da
informação
A perspectiva da complexidade em
contraponto à da simplicidade
(busca, incipiente, pela interação)
Comunicação
permanece com foco na
transmissão, com a
organização ocupando o
lugar de emissor e com
a ideia de controle
Atos interativos
77
paradigma clássico-
informacional Fonte: Elaborado pela autora
Quadro 9 – Palavras e expressões dos profissionais que conceituam Interação e Informação
PALAVRAS E EXPRESSÕES DOS PROFISSIONAIS QUE CONCEITUAM
INTERAÇÃO E INFORMAÇÃO
Tem duas formas de ferramentas, mas acho que as que sobrepõem são as informacionais
Interação, via de mão dupla/retorno daquela informação, se tornando um diálogo
Quando o público colabora com aquele mural, quando leva informação pra lá
A gente deveria ouvir mais, mas a tônica é mais da empresa para o empregado que do
empregado para a empresa
A gente fica tão imerso nas atividades rotineiras, que às vezes esquece um pouco de ouvir
o outro lado. Fonte: Elaborado pela autora
4.3.5 Relacionamento com os Públicos
Em função da organização da sociedade atual em rede e dos múltiplos papéis
desempenhados pelos sujeitos que dela fazem parte, é imprescindível que a organização
busque compreender os públicos com os quais se relaciona, suas demandas e expectativas,
fazendo a gestão desses relacionamentos. Essa gestão propicia a identificação dos interesses
dos públicos e, com isso, oportunidades de interação e diálogo. Deve-se ressaltar que, nessa
perspectiva, os públicos passam a ser reconhecidos como interlocutores, atores sociais, em
contraponto à ideia de público-alvo, ou seja: aquele que se busca atingir por determinada ação
de comunicação, perspectiva mais presente nas falas dos profissionais:
a gente precisa tratar públicos diferenciados de forma diferenciada: eu não vou divulgar pra um jornal do público externo uma mudança de gestão interna da instituição, isso pra eles não é interessante. Eles querem saber os projetos que vão poder contribuir, eles querem saber os congressos, os eventos. [...] Então, é importante que eu entenda do público interno, do formador de opinião, o que ele quer ler no jornal, o que ele quer ver no veículo que ele recebe. [...] É importante que eu saiba de cada stakeholder o que é do interesse dele pra, em cima disso, a gente fazer um trabalho de divulgação prévia. (Imbuia, 17 anos na área)69.
69Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada com profissional de Relações Públicas que atua em
organização filantrópica em setembro. 2013.
78
[a comunicação age como] mediadora entre a empresa e esses públicos [os de relacionamento] mostrando exatamente aquilo que a empresa pretende fazer, pretende entregar. Então, se tem por exemplo determinada situação que deve ser levada para esses públicos, a comunicação vai fazer da maneira mais adequada considerando as particularidades de cada um deles de maneira [...] alinhada. É a mesma mensagem para públicos distintos e ela precisa ser adequada para esses públicos e é papel da comunicação fazer isso. (Jacarandá, 16 anos na área)70.
a gente tem que considerar o público na hora de falar com ele; tenho o meu público operacional que é meu chão de fábrica, meu público não tem e-mail, [...] tem um nível de escolaridade menor que o restante dos empregados. Então, a forma pra eu falar pro público operacional que trabalha em regime de turno é diferente da forma de eu falar pro público administrativo por exemplo. E os meios são diferentes também. (Violeta Montes, 12 anos na área)71.
a partir do momento que [a organização] busca a participação do empregado para poder trazer as experiências que ele tem no mercado de trabalho dele, para relatar isso nos seus meios de comunicação [da organização] e buscar o envolvimento de outros empregados. Às vezes você gera um interesse, uma busca por conhecimento, uma participação. (Jaborandi, 35 anos na área)72.
A gente tem um Comitê de Comunicação por localidade, então são pessoas das áreas operacionais que estão nas pontas e que além de cederem informações para nos ajudar com essa replicação, são também fontes pra gente, elas nos contam dentro desse Comitê se uma campanha foi bem recebida; se não foi, porquê que não foi; o que estão achando daquela mensagem, a gente faz pré-testes com eles, mas ainda é um grupo. Esse grupo tem papel consultivo também, ele é um grupo que nos ajuda replicar, é um grupo de realiza pré-testes, é um grupo que nos ajuda com questão de leitura de cenário nas áreas e é um grupo consultivo onde a gente pergunta: vocês acham que isso vai dar certo? (Lélia, seis anos)73.
Ao tratar sobre o relacionamento com os públicos, os enunciados presentes nas falas
dos profissionais retornam, novamente, ao paradigma informacional. A ênfase na gestão dos
relacionamentos a partir dos discursos dos entrevistados está no conhecimento do perfil dos
públicos para que a comunicação estabeleça a melhor forma de se transmitir a informação: o
canal adequado, a mensagem, a linguagem e o formato. Nesse sentido, pode-se dizer que os
públicos são vistos pela organização como receptores, cujo feedback (ou retorno em relação à
mensagem divulgada) é considerado, mas sem que haja, necessariamente, interação ou
diálogo, mantendo a organização na posição fixa de emissora da comunicação.
70Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada com profissional de Jornalismo que atua em organização da
iniciativa privada em novembro. 2013. 71Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada com profissional de Publicidade que atua em organização da
iniciativa privada em outubro. 2013. 72Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada com profissional de Relações Públicas que atua em
organização de capital misto em novembro. 2013. 73Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada com profissional de Jornalismo que atua em organização da
iniciativa privada em novembro. 2013.
79
Nota-se, no entanto, mudanças incipientes nesse discurso, quando os empregados são
convidados a participar de comitês ou a sugerir pautas para os veículos de comunicação. No
entanto, deve-se ressaltar que a gestão de relacionamentos desenvolvida de forma a propiciar
a identificação dos interesses dos públicos interlocutores e, consequentemente, oportunidades
de interação e diálogo, não se mostra presente no discurso. Deve-se ressaltar que tais
oportunidades, em três das organizações contempladas nessa pesquisa, não estão sob a
responsabilidade da comunicação, mas de outras áreas da organização – recursos humanos, no
caso de público interno; relacionamento com investidores, com comunidades e
relacionamento institucional para públicos específicos tais como investidores, patrocinadores,
apoiadores e comunidades: tem uma área que é só pra isso [tratar das ações relacionais], por exemplo, com o público externo, que é a área de relacionamento com comunidades”. (Gravatá, dez anos na área)74.
Considerando os discursos analisados, pode-se dizer que a ênfase no caráter
informacional da comunicação mediada pelos canais e veículos, desobriga a organização – e
os profissionais – da interação e, consequentemente, de enfrentar a expressividade dos
públicos com os quais se relacionam, normalmente com interesses distintos e, por vezes,
contraditórios. Percebe-se novamente, nas falas dos entrevistados, a ideia de conformismo
com a prática institucionalizada da perspectiva informacional da comunicação organizacional
estratégica.
Quadro 10 – Elementos que formam os enunciados relativos aos conceitos de Relacionamento com os Públicos
RELACIONAMENTO COM OS PÚBLICOS
Curvas/regularidades
manifestadas nos
enunciados
Relação entre formações
discursivas (encadeamento
conceitual e práxis)
Procedimentos de
controle
Informação como central
no relacionamento entre a
organização e os públicos
Necessidade de adequar
linguagem e formato em
Posição fixa emissor/receptor
Necessidade de transmissão da
informação
Comunicação/
informação produzida
pela organização,
segundo seus interesses
74Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada com profissional de Relações Públicas que atua em
organização da iniciativa privada em outubro. 2013.
80
função dos perfis dos
diferentes públicos
Público receptor
Participação dos públicos
como ideia incipiente Fonte: Elaborado pela autora
Quadro 11 – Palavras e expressões dos profissionais que conceituam Relacionamento com os Públicos
PALAVRAS E EXPRESSÕES DOS PROFISSIONAIS QUE CONCEITUAM
RELACIONAMENTO COM OS PÚBLICOS
Tratar públicos diferenciados de forma diferenciada/O público tem que estar totalmente
ciente do objetivo da comunicação [...] pra que ela consiga passar de forma clara e
objetiva, e a estratégia [de passar a informação] seja bem sucedida/a gente tem que
considerar o público na hora de falar com ele/busco novas formas, novos meios de falar
com esse pessoal [...], eu preciso usar uma linguagem mais simples/tanto os públicos como
os meios que você vai utilizar para atingi-los
Levo [a informação] pro público/a gente mantém uma comunicação mais formal do ponto
de vista de envio de jornais/mantém um contato direto, envia jornal/a gente busca informar
o cidadão
Preciso construir uma imagem positiva [da organização] no coletivo
A gente tem o Fale Conosco, a gente tem um e-mail
Parece muito piloto automático [o relacionamento com os públicos] Fonte: Elaborado pela autora
4.3.6 Monitoramento da Comunicação
A categoria de análise monitoramento da comunicação busca identificar os enunciados
presentes nos discursos dos profissionais relativos ao tema e está relacionada à comunicação
como processo, não se limitando à análise dos resultados de uma determinada ação de
comunicação nas organizações. Prevê a identificação e avaliação sistemática e periódica em
relação às expectativas e demandas dos interlocutores que estão em relacionamento com a
organização, bem como a influência desses atores sociais na atuação da organização. Esse
monitoramento é que vai possibilitar o acompanhamento do processo de construção de
sentidos, tanto na perspectiva da organização como na dos interlocutores com os quais ela se
81
relaciona. Associado a essa perspectiva, o monitoramento ainda permite o gerenciamento da
qualidade da comunicação desenvolvida pela organização, bem como seus impactos em
relação a uma situação inicial detectada, viés que se mostra mais presente nos discursos dos
entrevistados:
O profissional, muitas vezes agente está sempre correndo pra poder fazer entregas e às vezes a gente não pára para poder mensurar aquilo que a gente está fazendo... Lógico que a gente tem aquelas pesquisas normais, antes de lançamento de campanha e tem pra avaliar qual a percepção do público pra determinado jornal, pesquisa de publicidade... Mas pesquisas que dão retorno, que subsidiem a estratégia macro da empresa, eu te diria que a principal pesquisa que a gente faz é uma de imagem, que vai subsidiar o nosso trabalho no Brasil como um todo. (Gravatá, dez anos)75.
acho que todo profissional de comunicação tem dificuldade em trabalhar com indicadores, definir indicadores e mensurar indicadores que não sejam operacionais. (Bromélia, oito anos na área)76.
Medição em comunicação é um gargalo. Eu quero agregar valor pra minha marca ali, eu quero mostrar que sou eu que tô patrocinando e transformar aquilo na imagem positiva. Dar significado pra aquela ação minha naquela comunidade. Como é que se mensura seu resultado? [...] como eu sei que aquele projeto, que aquele planejamento especificamente contribuiu para aquilo. Pode ter sido um tanto de coisa, eu faço um tanto de coisa lá... (Violeta Montes, 12 anos na área)77.
Então, quando a gente fala em apresentar resultados, a gente faz relatórios sobre as nossas ações, a gente tem um esforço muito grande hoje em procurar formas de mensurar, ainda é o ponto mais sensível no nosso planejamento, mas a gente tem tentado. É incipiente, mas a gente mostra planejado e realizado, quando tem algum outro tipo de mensuração, a gente leva isso também e aí vou te dar exemplos: programa de visitas, a gente consegue mostrar que a visita que chegou aqui com imagem X da empresa, na hora que ela foi embora ela teve uma imagem Y. [...] Então, o que está na nossa rotina, quando eu falo que é pra mostrar os nossos serviços, resultados na verdade, é o report das ações que a gente entregou, a gente tenta enriquecer isso com alguns depoimentos. (Lélia, seis anos na área)78.
Bom, busca-se monitorar para ver se efetivamente os esforços que estão sendo feitos [pela comunicação] estão realmente atingindo seus objetivos e contribuindo para os resultados da empresa e aí é uma forma de avaliar se precisa haver um redirecionamento ou alguma mudança estratégica de maneira a mensurar se o que está sendo feito, está sendo conduzido pela comunicação, está de fato contribuindo para alcançar os resultados esperados. (Jacarandá, 16 anos)79.
75Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada com profissional de Relações Públicas que atua em
organização da iniciativa privada em outubro. 2013. 76Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada com profissional de Jornalismo que atua em organização
filantrópica em setembro. 2013. 77Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada com profissional de Publicidade que atua em organização da
iniciativa privada em outubro. 2013. 78Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada com profissional de Jornalismo que atua em organização da
iniciativa privada em outubro. 2013. 79Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada com profissional de Jornalismo que atua em organização de
capital misto em novembro. 2013.
82
A primeira dificuldade para monitorar a comunicação, relatada por quase todos os
profissionais entrevistados, está na complexidade de se estabelecer indicadores para medir os
resultados da comunicação. Percebe-se aí que a ideia está sempre associada à gestão dos
resultados e não ao monitoramento dos processos de comunicação, que têm uma perspectiva
mais abrangente. Quando se busca acompanhar a qualidade – ou os resultados – dos produtos
de comunicação, ocorre parte do que prescreve o monitoramento do processo, reduzindo a sua
abrangência e, com isso, a compreensão dos processos de interação e interlocução o que,
certamente, impacta na construção de sentidos.
Além da dificuldade de se mensurar a comunicação, o custo na contratação de
pesquisas específicas foi outra questão colocada. Os profissionais – das quatro organizações –
mencionaram o desenvolvimento de ações de sondagem feitas pela própria equipe por meio
de reuniões com públicos que consideram prioritários, ou ainda do aproveitamento de outras
pesquisas como as de imagem e reputação, cujos dados são utilizados também para nortear as
ações de comunicação. Mas, de maneira geral, trabalham com indicadores mais relacionados
ao processo de gestão, demonstrando o que foi planejado e realizado pela área; além de
pesquisas de satisfação em relação a eventos realizados, à entrega de produtos, pesquisas pré e
pós-lançamento de campanhas de comunicação. Mencionam ainda a realização de pesquisas e
monitoramentos de produtos de comunicação – jornais, revistas, eventos –, a partir da lógica
de certificação do processo em função das normas de qualidade ISO80, que têm um padrão
internacional de certificação de qualidade, a partir de uma linearidade de processos. Sendo
assim, pode-se associar o monitoramento relatado pelos profissionais de comunicação à
perspectiva do modelo de gestão das organizações e ao planejamento estratégico no que diz
respeito a ações planejadas e ações realizadas, conforme mencionado por alguns
entrevistados. Essa perspectiva reduz a complexidade dos processos comunicativos.
Percebe-se, assim, que os profissionais não demonstram, por meio de suas falas, ações
de monitoramento no sentido de identificar expectativas e demandas dos interlocutores no seu
relacionamento com a organização, o que também consta na concepção de processo
monitorado do modelo de comunicação interacional dialógica (OLIVEIRA, 2002). A ênfase
do monitoramento está na apresentação de resultados da comunicação, restringindo a ideia de
monitoramento à perspectiva linear e informacional da comunicação, na qual a ênfase está na
80 A ISO ou International Organization for Standardization, é uma organização não governamental, que designa
uma série de normas técnicas internacionais que estabelecem um modelo de gestão da qualidade para as organizações, independentemente de porte, área ou localização.
83
verificação da qualidade dos produtos, na “entrega dos produtos de comunicação” e nos
resultados que esses trazem para a organização.
Quadro 12 – Elementos que formam os enunciados relativos aos conceitos de
Monitoramento da Comunicação MONITORAMENTO DA COMUNICAÇÃO
Curvas/regularidades
manifestadas nos
enunciados
Relação entre formações
discursivas (encadeamento
conceitual e práxis)
Procedimentos de
controle
Monitoramento como
feedback em relação a
produtos e ações de
comunicação produzidas e
realizadas
Posição fixa emissor/receptor
Necessidade de transmissão da
informação
Comunicação estratégica como
viés do planejamento estratégico, a
partir do campo da Administração
Comunicação como
entrega de produtos e
serviços
Públicos receptores
Fonte: Elaborado pela autora
Quadro 13 – Palavras e expressões dos profissionais que conceituam Monitoramento da Comunicação
PALAVRAS E EXPRESSÕES DOS PROFISSIONAIS QUE CONCEITUAM
MONITORAMENTO DA COMUNICAÇÃO
Pesquisa para fazer acompanhamento da efetividade da comunicação/A gente não tem um
retorno mais efetivo dessa comunicação
A gente não tem estrutura para contratar uma consultoria para nos ajudar nessa pesquisa
de comunicação/você não tem muito tempo pra fazer essa mensuração/a gente tem que
fazer entregas [...], a gente não para para mensurar aquilo que a gente tá fazendo
O resultado da comunicação não é prático/o grande diferencial dela [da comunicação] é
qualitativo/ eles [a organização] querem números e muitas vezes a gente não tem
A gente mostra planejado e realizado/resultado, na verdade, é o report das ações [de
comunicação]/busca-se monitorar para ver se efetivamente os esforços [...] feitos estão
realmente atingindo seus objetivos e contribuindo para os resultados da empresa
Tem vários indicadores. Tem indicadores de processo, tem indicadores de produto. Fonte: Elaborado pela autora
84
5 CONCLUSÃO
A pesquisa desenvolvida possibilitou refletir sobre a relação entre o encadeamento
histórico da comunicação organizacional e seu discurso, especialmente reverberado pelos
profissionais de comunicação. Tanto na tessitura histórica desse encadeamento como na
práxis da comunicação organizacional estratégica, que fornecem elementos constituintes
desse saber e seu discurso, pode-se dizer que a transmissão da informação é a regularidade, ou
a curva, que atravessa a construção dos enunciados dessa formação discursiva, uma vez que:
a) na relação entre diferentes enunciados, ao longo do tempo, permanece a ideia de se
trabalhar a transmissão das informações no contexto das organizações; b) na relação entre os
grupos de enunciados dos dois campos – Comunicação e Administração –, mais uma vez
encontra-se o discurso da transmissão da informação nas organizações, fortemente associado
à ideia de estratégia, seja a comunicação vista como ferramenta ou construção de sentido; e,
finalmente, c) nas relações entre os enunciados ou grupos de enunciados dos diferentes
campos, os acontecimentos fazem emergir, mais uma vez, a concepção da transmissão da
informação como perspectiva indispensável no contexto das organizações.
Deve-se ressaltar a permanência dessa regularidade ainda que os construtos teóricos da
comunicação organizacional do século XX não sejam os mesmos do século XXI: percebe-se o
encadeamento da perspectiva informacional para a interacional. No entanto, essa não suplanta
a primeira, mas incorpora a questão da informação e da transmissão da mensagem trazida para
a interação; amplificando sua abrangência. A partir desse encadeamento conceitual, chegou-se
a sete formulações, compreendidas como enunciados e elementos na formação desse discurso.
Duas delas – a relação biunívoca emissor/receptor e a necessidade da transmissão das
informações, encontram-se ancoradas no paradigma clássico-informacional –, uma terceira, a
adoção do conceito de comunicação estratégica, é oriunda do campo da Administração; e as
demais – modelos que incorporam o aspecto interacional, a perspectiva da complexidade, a
ideia de construção de sentidos e a concepção da estratégia planejada de comunicação – são
fundamentadas pelo paradigma interacional.
Acreditava-se, a princípio, que tais formulações subsidiassem os enunciados do
discurso da comunicação organizacional estratégica. No entanto, quando se buscou contrapor
essas formulações aos enunciados presentes nos discursos dos profissionais entrevistados,
percebeu-se certo distanciamento entre o encadeamento dos construtos teóricos e os
enunciados presentes nas falas. Essas repercutem formulações do modelo clássico-
informacional e do campo da Administração, com enunciados incipientes que levam à ideia
85
de interação e de construção de sentidos. Percebeu-se que, embora o encadeamento histórico
conceitual da comunicação caminhe em direção ao paradigma interacional, o clássico-
informacional mantém-se hegemônico e reforçado pelos profissionais, parecendo conduzir
grande parte das ações e iniciativas da comunicação no contexto das organizações. Chega-se a
tal inferência em função da presença constante de regularidades encontradas nos enunciados
que levam aos elementos desse paradigma: a necessidade de transmissão da informação por
parte das organizações conforme já mencionado, e a relação biunívoca e fixa entre emissor e
receptor.
Ainda a partir do que disseram os profissionais, percebe-se a presença da comunicação
estratégica como sinônimo de planejamento, no sentido colocado pelo campo da
Administração; como o desenvolvimento de planos para se chegar a um resultado
determinado, sem, contudo, considerar a não linearidade e a complexidade dos processos.
Por outro lado, isso leva a pensar na forte interface que existe entre o campo da
Administração e os estudos da comunicação organizacional estratégica. Por meio dos
discursos, acredita-se que tal influência ocorra em função de se estar num contexto específico,
no qual os modelos de gestão têm forte predominância no desenvolvimento das atividades,
inclusive as de comunicação. Nesse sentido, parece se manifestar o que Foucault (2012a)
definiu como o jogo de posições possíveis para um sujeito, em um campo de coexistência que
lhe permite relacionar-se com outros enunciados. Infere-se ainda, recorrendo a Goffman
(2011), que os discursos dos profissionais refletem valores consolidados, fundamentados num
determinado paradigma, que determinam sua atuação e a forma como se posicionam em
relação à comunicação organizacional estratégica, estabelecendo um quadro de referência de
aparências que rege os enunciados desse discurso.
Acreditava-se que, por estar em consonância com os estudos de comunicação
organizacional das últimas décadas, o modelo de interação comunicacional dialógica –
formulado por Oliveira em sua tese de doutorado, apresentada em 2002 e, cinco anos depois,
condensada na publicação de um livro –, já seria de conhecimento e estaria subsidiando o
discurso e a práxis da comunicação organizacional estratégica. No entanto, quando se busca
associar o encadeamento teórico, a práxis e o discurso da comunicação organizacional
estratégica, percebe-se o conhecimento superficial ou pouco aprofundado em relação a
conceitos como interação, relacionamento com públicos, comunicação como processo ou até
monitoramento, cujos enunciados ainda se mostram influenciados e fundamentados por uma
lógica informacional. Nesse sentido, deve-se ainda ressaltar a existência de organizações
como a Associação Brasileira de Pesquisa em Comunicação Organizacional e Relações
86
Públicas (Abrapcorp) e publicações como a Organicom que buscam articular esses construtos,
ainda não assimilados no discurso desse saber, conforme revelou esta pesquisa. Tais questões
podem suscitar novas pesquisas e estudos buscando identificar o que tem levado à
manutenção do paradigma clássico-informacional e seus axiomas nessa posição hegemônica,
mesmo já sendo conhecidas as suas limitações.
Pode-se inferir que os resultados dessa pesquisa nos levam a um paradoxo: ainda se
está preso – na práxis – a um paradigma de comunicação simplificador, o clássico-
informacional, que não se sustenta na contemporaneidade devido às grandes mudanças como
a globalização e as tecnologias de informação e comunicação, paralelamente à construção
teórica de um paradigma interacional – que não se repercute na práxis. Ressalte-se que, ao
mesmo tempo em que é necessário considerar o contexto no qual se pensa a comunicação: o
da organização, que possui suas regras, normas e objetivos definindo e direcionando também
a práxis desse saber nesse contexto específico; é também preciso incorporar os construtos
recentes acerca da comunicação organizacional dada a complexidade desse processo, a fluidez
e as demandas da sociedade atual. Em contraponto, já se faz presente, entre os profissionais, a
ideia de insuficiência do paradigma informacional; entretanto, parece não haver clareza em
relação ao que seria o paradigma interacional, bem como os elementos que o caracterizam,
dada a força e a hegemonia do clássico-informacional.
Percebe-se, ainda, a reprodução da ideia de centralidade das organizações, na sua
posição fixa de emissora que considera o público como receptor e não interlocutor que escuta,
dialoga e possui suas estratégias de comunicação. Ressalte-se que as palavras interlocução ou
interlocutor não foram mencionadas, espontaneamente, por nenhum dos entrevistados. Nesse
sentido, pode-se concluir que a organização – e os profissionais de comunicação que nela
atuam – parecem não considerar o processo de interlocução e a circularidade da comunicação.
Em muitos momentos, os profissionais parecem ser orientados por construtos mais recentes
em relação à sua atividade, mas que não permanecem na construção de suas falas. Recorrendo
a Foucault (2012c), talvez isso decorra do fato de que o novo – compreendido, na presente
pesquisa – como o encadeamento conceitual da perspectiva informacional para a interacional
– não está no que é dito, mas no que acontece à sua volta e na reverberação dos axiomas de
um paradigma.
Ressalte-se ainda que o discurso, à luz da arqueologia, nunca é linear ou fundado no
ato da fala, nem preso ao modelo de fluxo de consciência no qual o presente escapa em
função das amarras do passado ou do futuro que está por vir; mas conforme ressalta Foucault
87
(2012a, p. 206), “é uma prática que tem suas formas próprias de encadeamento e sucessão”,
constituindo enunciados a partir de
coisas que se transmitem e se conservam, que têm um valor, e das quais procuramos nos apropriar; que repetimos, reproduzimos e transformamos; para as quais preparamos circuitos preestabelecidos e às quais damos uma posição dentro da instituição; coisas que são desdobradas não apenas pela cópia ou pela tradução, mas pela exegese, pelo comentário e pela proliferação interna do sentido. (FOUCAULT, 2011a, p. 147).
Nesse sentido, pode-se inferir que, do ponto de vista teórico da comunicação
organizacional, os acontecimentos foram se modificando ao longo do tempo, embora tais
mudanças não tenham sido capazes de alterar o discurso consolidado e hegemônico da
comunicação nas organizações, que permaneceu ao longo do tempo sendo apropriado pelo
campo e pelos profissionais que nele atuam. Com isso, conclui-se que não foi a escolha
teórica que regulou a formação dos conceitos que constituem os enunciados, mas o jogo de
relações e de forças que se deu entre eles.
Deve-se ressaltar ainda que esta pesquisa traz os primeiros achados relativos ao
discurso da comunicação organizacional estratégica e que, para se revelar, de fato, o discurso
desse saber, deve-se aprofundar os estudos, mergulhando nos arquivos e enunciados da
comunicação organizacional estratégica e buscando evidenciar os componentes que revelam a
apropriação e/ou negação dos princípios de uma comunicação dialógica e interacional.
88
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92
APÊNDICE A – CARTA ENVIADA ÀS ORGANIZAÇÕES
Prezado (a) ...................,
Cargo / Organização
Faço parte do Corpo Discente do Mestrado em Comunicação Social da PUC Minas,
sob orientação da Profa. Dra. Ivone de Lourdes Oliveira, investigando as interfaces entre o
conceito e a práxis da comunicação organizacional nos dias de hoje. E, para isso, gostaria de
contar com seu apoio.
No meu processo de investigação do tema, precisarei entrevistar profissionais de
comunicação das diferentes habilitações (Jornalismo, Publicidade e Relações Públicas) e com
níveis hierárquicos distintos (Júnior, Pleno e Sênior), em organizações cuja área de
Comunicação tenha status mínimo de gerência.
Além dessas entrevistas, precisaria ter acesso a políticas de Comunicação da sua
organização e às diretrizes de planejamento estratégico da área, bem como outros documentos
e/ou manuais que direcionem o processo de comunicação na sua organização.
Gostaria de ressaltar que, em nenhum momento, mencionarei nomes de empresas ou
de profissionais entrevistados. Será necessário, no entanto, mencionar o setor em que a
organização atua, habilitações dos profissionais entrevistados e tempo de trabalho na área de
Comunicação Organizacional.
Desde já, agradeço seu apoio e colaboração.
Atenciosamente;
Isaura Mourão.
93
APÊNDICE B – ROTEIRO DE ENTREVISTAS
Questões para as entrevistas:
Perfil:
o Formação:
o Tempo de formação:
o Tempo em que trabalha na comunicação organizacional:
o Último curso feito na área:
O que você considera comunicação organizacional?
E comunicação estratégica no contexto das organizações? De onde vem esse
conceito?
Como ocorre, na prática, a concretização da estratégia de comunicação na
sua organização?
No caso dessa organização, você diria que a comunicação se insere na gestão
da empresa? De que forma?
A comunicação, nessa organização, é trabalhada como processo? O que
significa isso?
Como a sua organização se posiciona diante dos públicos com os quais ela se
relaciona? (Buscar identificar se há priorização na transmissão de informações
ou no desenvolvimento do diálogo e como isso ocorre)
A comunicação influencia no posicionamento da empresa com os diferentes
públicos? De que forma?
De que forma vocês fazem o monitoramento do processo de comunicação?
O que vocês buscam monitorar?
Como você conceituaria a comunicação desenvolvida na sua organização: mais
informacional ou interacional? Porquê? (buscar identificar os conceitos de
interacional e relacional)
Você participa de fóruns para discussões conceituais acerca da comunicação
no contexto das organizações? (buscar identificar quais e frequência)
94
APÊNDICE C – MAPA DAS ENTREVISTAS POR CATEGORIA ANALÍTICA
Perfil Compreensões/percepções conceituais acerca de:
Organização Formação/ Cargo
Ano formação / Tempo C.Org.
Comunicação Organizacional
Comunicação Estratégica
Comunicação como Processo
Inserção na Cadeia
Decisória Informação/Interação Relacionamento
com os Públicos Monitoramento Papel da Comunicação
Comentários adicionais
Instituição Filantrópica
Imbuia Relações Públicas/ Gerente (duas
especializa-ções:
Marketing e Responsabili-dade Social)
1996 / 17 anos
é a forma que a empresa utiliza pra dizer pro mercado, pra
dizer pro público interno, pra dizer pros stakeholders o que ela quer
dizer, divulgar... ... Então existe
uma preocupação muito grande
ainda mais hoje em fazer com
que a comunicação,
com que a informação
chegue de forma uniforme para
todos os stakeholders...
Então cada público tem uma visão diferente
da instituição. É lógico que eles vão ter porque eles interagem
conosco de forma
diferenciada. Mas o quê que a gente quer que eles entendam? ... É isso que a
A gente precisa de uma
comunicação estratégica,
definir qual que é o objetivo que
a gente vai trabalhar e
cascatear as estratégias em
cima desse objetivo... Eu entendo como um norte que
permeia a gente para as ações que vão ser
realizadas ao longo do
próximo ano. Então definir
uma estratégia, um objetivo que vai nos guiar e trabalhar ações ao longo deste ano que vão
estar alinhadas dentro dessa
estratégia, que vão possibilitar fortalecer o que
a gente quer, que é fortalecer
a cultura organizacional,
fortalecer a nossa imagem,
Você receber uma informação,
tratar aquela informação se ela é importante ou não pra você. Se ela é importante
que tipo de atitude você vai
tomar com ela, se ela não é
importante descartar a
informação. Isso é um processo
pra mim... seguir um processo para que ela possa ser
divulgada ou através de um
veículo ou através da própria diretoria, de uma
palavra, da formalização de
um evento, de um seminário, de um
encontro com público interno, então trazer a
informação pra cá e fazer com que ela se torne realidade. Então
hoje a comunicação não
é um processo aqui porque as
... os empresários têm muita visão
de que eles também têm que
interferir na comunicação, de que eles também
entendem de comunicação, mas a gente sofre, acaba
sofrendo vários tipos de
interferências que ou eles tornam o
processo mais moroso ou isso faz com que a
gente tenha vários ajustes de
produção de material, de produção de
veículos ao longo do caminho. Então hoje a
gente tá muito em negociação
com a gestão pra que eles
construam uma relação de confiança
conosco pra que eles consigam
fazer com que a área de
comunicação
... a gente acaba se envolvendo muito no operacional do dia a
dia... ... Se você não ver a comunicação como parceiro e só como
setor operacional que ah ela vai só divulgar, então a comunicação
só é envolvida no último passo... a gente só consegue perceber
isso daí quando a comunicação é
envolvida ao longo do processo lá no início quando aconteceu o
problema, como que a gente vai resolver isso,
de que forma, quais veículos nós vamos
usar, pra qual público...
... eu chamo de comunicação
relacional quando a gente quer divulgar
alguma coisa mas pra um público aberto, nesse caso a gente tinha pessoas que
tinham direito a um benefício e eram
pessoas que a gente precisava fazer um
contato mais pessoal. Então assim quando eu
a gente precisa tratar públicos
diferenciados de forma
diferenciada... eu não vou divulgar pra um jornal do público externo
uma mudança de gestão interna da instituição, isso pra eles não é
interessante. Eles querem saber os projetos que eles
vão poder contribuir, eles querem saber os congressos, os
eventos... Então até essa
classificação do que urgente, do que não é, do
que tem, porque as notícias ficam
velhas, elas caducam muito
rápido... ... Então assim é importante pra
mim que eu entenda do
público interno, do formador de opinião que ele
quer ler o jornal, que ele quer ver
falei do interesse da gente
implantar a pesquisa pra
fazer um acompanhamento da efetividade da
comunicação, mas pra isso a gente precisa implantar um
outro projeto que é ter uma
comunicação mais ativa, mais
proativa, isso envolve muito não só recursos humanos mas mudança da
percepção das pessoas, da importância
disso, de que a gente tem que ser mais proativo do que reativo, de que a gente tem que levar mais, buscar mais do
que só esperar as coisas
acontecerem, então acaba sendo uma
mudança de cultura também.
Pela parte operacional da divulgação da
informação. Era esse o papel da comunicação. Ah diretoria decidiu X,
comunicação divulga... qual
que é o papel da comunicação? É
justamente apoiar a direção
na tomada de decisões e criar estratégias de
divulgação que possam ser
rentáveis em algum momento pra instituição.
Através da divulgação bem
feita a gente pode captar um
parceiro que pode ser um
patrocinador pra um determinado projeto. Então é dessa forma que
a gente vê o papel da
comunicação, futuramente apoiando a direção na
95
gente quer unificar hoje pro mercado, para os demais públicos, que ele nos veja
como essa instituição... ...
Reforçar a imagem, a
reputação, a marca.
fortalecer a nossa marca... hoje o foco da comunicação
está muito ligado em divulgar
estrategicamente seja através dos
veículos de comunicação, seja através da assessoria de
imprensa. Então o que a gente
quer é fortalecer a comunicação e
não ser só o setor que faz o
jornal mural, faz o jornal interno, sair um pouco
do setor operacional pra que a instituição entenda que nós somos o setor
estratégico que tem que estar
alinhado à diretoria,
munido de informações pra
que a gente consiga divulgar pro mercado e fazer com que através disso a
instituição cresça, ganhe
mais em conhecimento... ... durante os dez últimos anos nós somos um setor
reativo que
demandas vem muito picadas pra
comunicação e vem já
formatadas como devem ser
feitas...
realmente realize o que é da área
de comunicação...
Então hoje a área tá virando um pouco a chave porque quando eu cheguei era
uma área completamente
reativa. Era aquela área assim diretoria pedia a
gente fazia.
vou fazer uma campanha de
prevenção a saúde e vamos falar e eu quero atingir qual público? Eu quero atingir todo mundo que está acima
do peso, que pode chegar a obesidade
então eu vou fazer uma campanha pro meu
público interno. Isso uma companha de
interação que aquelas pessoas que estão fora
do peso se conscientizem,
comecem a se preparar para participar de uma
campanha, façam inscrição, entendo um
pouco assim.
no veículo que ele recebe.
Porque a partir daí eu posso
trazê-lo como captador. É
importante saber do público
interno o que ele quer saber, quais
são as informações
importantes pra ele, pra que isso chegue nele no momento certo.
Então é importante que eu saiba de cada
stakeholder o que é do
interesse dele pra em cima disso a gente fazer um
trabalho de divulgação
prévia... nem sempre o que eu levo pro público é o que a gente quer saber e às vezes se a gente
ouvir o que o público
realmente quer, com ações simples,
pequenas, com ações até do dia
a dia a gente pode sanar
grandes problemas
futuros... Então é este
relacionamento,
tomada de decisão... trazer algumas coisas de mercado e mostrar pra
diretoria que a comunicação
consegue ser um braço
estratégico para conquista de
oportunidades, novos parceiros
e que a comunicação é
um braço de apoio
efetivamente que ela ta aqui para suportar
todas as necessidades da instituição, para construção de
reputação, divulgação de
mercado... Altamente importante porque a
comunicação é uma fonte pra
relacionamento com todos os
públicos. Que é ela junto com a
diretoria que define quais são
as estratégias que nós vamos usar, quais são
os objetivos desse ano,
baseado nesse objetivo quais estratégias eu
96
sempre levou o que foi pedido.
entender que tudo faz parte de um ciclo e que
em determinado momento os
públicos interagem entre si e interagem com a empresa
também.
vou desencadear para cada tipo
de público, como que eu
vou me relacionar com eles, como eu vou divulgar marca, como vou divulgar
produto, como vou divulgar
responsabilidade social.
Instituição Filantrópica
Bromélia Jornalista /
Coordenadora (duas
especializa-ções: Gestão Estratégica e Marketing -
essa em curso)
2005 / 8 anos
comunicação organizacional é aplicar alguns conceitos da
comunicação pra alcançar alguns
objetivos estratégicos nas organizações.
Seria estabelecer relacionamentos,
políticas, estratégias e
diretrizes alinhando a
comunicação aos objetivos
daquela organização,
tanto financeiros, quanto de
posicionamento de marca, de
mercado, enfim os objetivos
gerais da organização.
é alinhar as ações de
comunicação às estratégias mesmo da
organização pra alcançar
objetivos tanto em termos de clima, clima
interno, clima externo,
posicionamento perante o
mercado, gestão de crise também que é uma ação estratégica tanto
a preventiva quanto a
corretiva, é isso que eu
consideraria... ... Hoje na
instituição a gente conseguiu consolidar uma
divisão de setores e ações peculiares de
ela é trabalhada como um
processo porque a gente tem na
verdade... há um ano a gente
estabeleceu uma política de
qualidade aqui na instituição muito
em função de buscar uma certificação
específica e aí a qualidade trouxe esse conceito de trabalhar como
processo e a comunicação se inseriu nisso. Na verdade há um
ano ela vem trabalhando como um
processo com metodologias,
com procedimentos padrões para
atividades que
Uma das primeiras
cadeiras desse grupo gestor...
ele começou com 7 pessoas quando
ele tinha esse formato de 7
pessoas a gente não tinha a gerência de
comunicação inserida nele.
Quando ele foi ampliado pra 12,
segunda transformação desse grupo
gestor a comunicação já foi inserida; isso tem quatro anos mais ou menos. O grupo gestor foi criado há quatro anos e
meio na segunda modificação a
comunicação já foi inserida... Ele
Eu acho mais informacional. A gente tenta trabalhar pra ser
mais interacional mas...
... A comunicação interna aqui ela
acontece muito através dos veículos de
comunicação mesmo; do jornal mural... A gente tem um jornal bimensal também
impresso que vai para cada colaborador,
chega na casa dele e a gente tem urnas
internas na instituição e a gente tem alguns eventos internos de
integração. Por exemplo, dia do
trabalhador a gente sempre faz um teatro motivacional e todos os colaboradores são
contemplados. A gente tem os eventos
aniversariantes do mês, dia dos profissionais,
A gente mantêm encontros,
reuniões, a gente promove eventos
internamente para trazer essas pessoas até aqui, a gente vai até
elas, esse processo hoje eu ainda acho um pouco distante do que seria
ideal, do que eu considero
conceito porque a gente faz essa comunicação
ativa muito mais próximo do que a gente necessita
(público específico, para
captação de recursos)... ... (com os
demais públicos) a gente mantêm
uma comunicação
A gente não tem um retorno mais
efetivo dessa comunicação
porque a gente não consegue
fazer essa pesquisa de
comunicação devido a
abrangência que seria necessária, a gente não tem estrutura para contratar uma consultoria pra
nos ajudar nessa pesquisa de
comunicação então a gente faz por amostragem
mas a gente considera que ela não é efetiva do ponto de vista de
mensurar o resultado já que
o público é muito diversificado...
... a nossa última
sempre que existe uma
demanda ela é tratada em
grupo (referindo-se às
equipes de Comunicação,
em setores distintos).
Eu me formei por uma grade
de comunicação mais antiga e eu
acho que os profissionais,
principalmente de jornalismo e de publicidade,
eles não saem da faculdade muito prontos para a comunicação
organizacional. Hoje a grade de comunicação foi um pouco mais
diversificada, foi ampliado o
conteúdo que diz respeito à comunicação
organizaciona,l mas eu acho que
ele não é bem trabalhado pelas universidade. A gente sabe, eu
tenho essa impressão e pelo
97
cada um desses coordenadores de forma que cada núcleo
cuide de uma relação
estratégica da instituição... ...
É uma integração muito forte... ... Aquilo que a instituição considerou
como prioridade ela trouxe para
mais próximo da diretoria que é a área de captação de recursos e a comunicação estratégica
permanece no mesmo formato
anterior cortando a diretoria, a
superintendência mas com o
intermediário da gerência...
... a gente acaba virando tarefeiro mesmo muitas vezes. Aqui na
instituição, depois que eu
sai da comunicação (está hoje em
Relações Institucionais),
eu me senti mais estratégica, uma
percepção pessoal.
são corriqueiras, que são
cotidianas... A gente tem o
procedimento operacional padrão para
redigir o jornal, pra apuração, definição de
pauta, isso tudo é feito sempre na mesma forma,
com prazos específicos para cada atividade,
óbvio nem sempre a gente
cumpre, na maioria das vezes
a gente não consegue
cumprir, existe a definição do que
seria ideal, é dessa e dessa
forma, passando por essa e essa
superintendência, aprovando com
essa e essa pessoas existe
esse processo até se chegar no
produto final...
é consultado, ele é chamado pras decisões mais importantes
sim... A diretora (atual) faz questão de
participar então nessa gestão já teve um papel maior. Antes disso não, a
comunicação era um setor muito
alheio às decisões da instituição.
tem esses eventos comemorativos... Não, a gente não tem uma ouvidoria interna por exemplo, é uma das
demandas que a gente tem de comunicação de relacionamento
institucional. A gente, na verdade a gente tem
o setor de recursos humanos que acaba absorvendo essas
demandas, esse espaço de diálogo com o
colaborador... a gente tem a comunicação
mais informacional... os nossos
colaboradores são muito órfãos desse espaço de diálogo...
acho que é muito por uma dificuldade de
gerir a crítica.
efetiva com eles. Todos recebem o
jornal da instituição
impresso, os voluntários presenciais recebem o
eletrônico. Os que doam
recursos pra instituição via telemarketing,
projetos incentivados por lei de incentivo enfim qualquer
pessoa que aporta o recurso
ela recebe o jornal impresso
em casa todos os meses não falha,
isso é bem regulado, e a
gente promove esses eventos, sempre que há
uma inauguração a gente convida eles aqui a gente
mantêm uma comunicação
mais efetiva com eles...
... Com empresas a gente mantêm
também uma comunicação
mais formal do ponto de vista de envio de jornais, correspondências
que são um público
estratégico pra
pesquisa de satisfação ela é de 2011, a gente não conseguiu
fazer o ano passado... ... a gente já fez
algumas (pesquisas)
específicas de comunicação
então a gente tem uma mensuração, a mais recente é de 2011 que aí
foi específica dos veículos, o quê
que os colaboradores
gostariam de ver, internamente e
por amostragem...
Não só aqui acho que todo
profissional de comunicação tem
dificuldade em trabalhar com indicadores,
definir indicadores e
mensurar indicadores que
não sejam operacionais,
porque o indicador
operacional é fácil, mas o estratégico a
gente ainda tem muita
dificuldade.
que converso com algumas pessoas que
estão no mercado há
menos tempo, dois, três anos
elas têm a mesma sensação
e saíram um pouco órfãos pra
trabalhar com comunicação
organizacional... Então, acaba que
o profissional atua muito de
forma experimental e não encontra
forma de fazer aquilo de uma forma melhor
tendo em vista o que ele aprendeu
de conceitos... Mas eu acho que poderia investir um pouco mais
até porque a comunicação ganhou muito
espaço e eu acho que a gente
poderia preparar melhor os
acadêmicos e os profissionais que
estão se formando
porque a gente vê gente muito cru tanto em conceito e
prática, mas em conceito pelo
98
gente também. menos eu acho que as pessoas
têm muita confusão ainda.
Instituição Filantrópica
Catléia Relações Públicas e Jornalista /
Analista (especializa-
ção em Marketing, em curso)
2010 / três anos
a comunicação ela é um
conjunto de elementos assim
que são combinados para
a gente atingir um objetivo
estratégico... eu acho que além de ser o setor assim ela é o
instrumento para se atingir vários objetivos dentro
de uma organização e aí ela pode se usar
desses instrumentos, de
ferramentas mesmo para
comunicar, para se antever, para se prevenir, as vezes até para evitar crises...
uma vez ocorrida alguma coisa, reverter uma situação
então são várias questões que compõe uma comunicação
organizacional, na minha opinião.
Eu acho que ela é estratégica
porque a gestão da organização
os próprios colaboradores eles precisam
dessas ferramentas e das ações de comunicação para entender,
alinhar e chegar a objetivos
específicos... E o que você
denominaria como
comunicação estratégica eu acho que vai
mais pelo lado de atingir um
objetivo. Quando a
comunicação ela passa por uma
série de processos e
enfim e ações pra atingir um
objetivo específico. Uma
estratégia mesmo.
aqui na instituição eu não vejo ela como um
processo não. (atuamos como)
Tarefeiro às vezes com um
fim específico e não como uma evolução de
alguma coisa que diz o processo por exemplo.
(Para funcionar como processo)
Eu acho que principalmente a
percepção da importância da
comunicação por parte das
lideranças, acho que isso ainda
não é muito claro não. O papel dela
(da comunicação)
não é tão considerável ainda... pela dinâmica do mercado, das
empresas estarem tendo que apresentar
resultados, da concorrência que é muito grande, então eu acho
que tudo isso faz com que a
eu acho que a gestão... ela usa a comunicação em
determinados momentos com
alguns objetivos, mas eu não acho
que a comunicação ela é o tempo todo embasadora da
gestão, por exemplo. Eu
acho que quando é necessário se
utiliza a comunicação... as
decisões institucionais eu
acho que a comunicação; ela
não tem uma opinião muito forte. Eu acho
que não interfere...
Eu acho que hoje o mercado impõe
isso para as organizações, o
nosso atual mercado
financeiro impõe isso para as
organizações que elas se adaptem à
realidade financeira, por exemplo. E aí isso deixa a
comunicação um
Tem das duas formas de ferramentas, mas eu
acho que a que sobrepõe são as informacionais.
Como é que você definiria uma e outra?É, as informacionais
são aquelas que apenas comunica, né? Passa uma mensagem a fim de atingir um objetivo de comunicar mesmo. E as interacionais eu acho que são aquelas
ferramentas que trazem os públicos para serem
parceiros daquela ferramenta. Parceiros no sentido de colocar aquela ferramenta pra
funcionar... ... Quando o público colabora com aquele
mural, quando ele leva informação pra lá, os diversos públicos da
instituição levam informações pra lá,
alimentam ou alimentar aquele mural ele se torna um mural
interativo e não apenas informacional...
O público, ele tem que estar
totalmente ciente do objetivo da
comunicação pra que a
comunicação consiga passar por todos esses
públicos, na verdade, de
forma que ela seja clara,
objetiva e a estratégia seja
bem sucedida... ... A gente faz a
parte de aproximação
com esses públicos mesmo
pra que esse público não
fique distante da instituição, então a gente mantêm
ele sempre próximo,
mantêm sempre um contato
direto, envia jornal... envia jornal, faz um evento aqui
anual para trazer esses parceiros pra instituição.
Eles vêm conhecer coisas novas, novas...
o resultado da comunicação ele não é prático... a comunicação ela
pode ser demonstrada
através de números também mas eu acho que
o grande diferencial dela é
uma questão mais qualitativa. O resultado de um processo de comunicação
você vai mensurar ele, por
exemplo, num impacto de
relacionamento dos
colaboradores... ... Olha, assim,
do setor de comunicação
específico como eu não trabalho
desconheço. Mas no marketing a
gente tem algumas formas de mensurar e ai
a gente tem relatórios por exemplo de
relacionamento, que a gente
mensura relacionamento
com os parceiros,
eu acho que a comunicação ainda, pelo
menos pelos locais que eu
passei, ela não tem esse papel tão forte como, por exemplo,
um setor financeiro que
tem uma opinião importante no
processo... (Papel dos
profissionais) ... Porque se a
gestão daquela instituição ou
daquela organização não
consegue visualizar isso acho que os
colaboradores da comunicação,
assim os comunicadores,
os comunicólogos
e tal é evidenciar isso,
mostrar essa importância,
salientar mesmo... Eu acho que a
comunicação na teoria ela é
muito bonita assim o papel
Desvio da comunicação: A
dinâmica do mercado, a
percepção das diretorias, dos
gestores sobre o quê é de fato o
papel da comunicação
tudo isso contribuiu para
o desvio. Eu acho que também a
desvalorização de um setor de
comunicação no sentido de ah não precisa de
tantos profissionais então ela é
sempre muito enxuta e o
profissional fica sempre
sobrecarregado e não sobra muito tempo para ele
pensar um pouco na
comunicação estratégica e vai
mais na parte tarefeira porque
precisa apresentar
alguma coisa no prazo x. Então
eu acho que uma
99
comunicação seja mais deixada
como tarefeira mesmo...
... as demandas são tão grandes eu acho, essa
parte de tarefa ela exige tanto do
profissional que eu acho que sobra pouco
tempo.
pouco aquém do processo de tomada de
decisão. Isso exclui um pouco a comunicação. Todos sabem da importância, mas
na hora da decisão ela é um pouco deixada de
lado.
que a gente mensura contatos,
algumas coisas assim mais subjetivas mesmo...
dela é muito bonito e eu acho que além de ser bonito é muito
importante mesmo quando
de fato é realizada
pensando sua base teórica
assim. Eu acho que é muito
bacana se ela acontecesse assim. Mas
infelizmente não acontece...
série de questões contribuem para
que a comunicação
desvie da parte teórica...
... Mas talvez eu acho que seja predominante
mesmo o uso de outras áreas do conhecimento pra embasar
comunicação... Da
administração por exemplo.
Com resultados mais palpáveis assim. E aí ela
recorre sim dessas outras
literaturas para se fortalecer
assim.
100
Organização Pública
Braúna Jornalista /
Coordenadora (especializa-
ção em Comunicação Interna para
relacionamen-tos
estratégicos)
2002 / 11 anos
é informar o que se passa aqui
dentro, informar as ações e os
programas que são
desenvolvidos pro público que
precisa da organização, então envolve
tanto as pessoas que trabalham aqui quanto as
pessoas de fora e que precisam e
quase todo mundo precisa... Então eu acho que é passar a
informação relevante pra sociedade.
Nunca parei pra pensar (sobre o
conceito de comunicação estratégica).
Mas eu acho que são conceitos
(organizacional e estratégica)
associados, mas a estratégica eu acho que é um
pouco mais relacionado com o tempo assim o
aumento que vai, por
exemplo, ser divulgado pra determinada coisa ou pra
quem especificamente, pra que grupo de pessoas pra que isso possa ser
melhor difundido... tem essa ideia com esse foco de
divulgar o que é feito, mas uma outra forma de
atingir... ... Eu acho que é um pouco, não
sei, talvez intuitivo de
querer mostrar o trabalho da
melhor forma. Como que a
gente vai conseguir isso?
Acho que pensando
Acho que seria pensar e planejar
as atividades desenvolvidas
pra poder executar, conseguir
executar essas tarefas, todas
essas funções e atividades de
forma a difundir as informações... ... É porque tem todas as etapas
assim a gente tem que saber o público, as
informações, que tipo de
informação que interessa, o quê
que não interessa, tem que
conhecer, tem que planejar, tem
que conseguir. Mas aí você
planeja tem que conseguir
executar, planejar é uma coisa que
você tem que conseguir alcançar.
... ainda é muito de suporte, ela não é ainda, já
mudou, as pessoas
consultam mais, têm consultado
mais a área, mas é muito como um
setor de execução, tanto que ainda tem
muito na cabeça das pessoas essa velha história de
falar que comunicação é atividade meio não é atividade
fim... essa mentalidade que a comunicação é atividade meio,
que as vezes ela é importante, as vezes ela não é
tão importante... (a comunicação é vista), mas como
uma área que divulga
informações... Por fim, a pessoa na época que era
assessor do presidente, falou olha aqui a gente cumpre ordem, é
pra você publicar, nem eu sei o quê que é... a gente é ligada a presidência né, mas acaba que
quem tem contato com o
Mais informacional. (uma comunicação mais interacional
seria...) Que as pessoas
pudessem participar mesmo. O máximo de interação é na verdade, como é que eu posso falar? A interação é
mais no sentido assim pessoa pode dar sugestão, mas a
sugestão é pra gente mesmo, é mais
interessante pra gente do que pra quem ta
sugerindo... ... (em relação às redes
sociais) A gente não responde muito, é mais
da gente postar... É mais no sentido da
gente postar e receber essas solicitações que
aparecem eventualmente...
... Relacionamento o que tem por parte do
cerimonial tem o Conhecendo o
Judiciário que é com os estudantes, com faculdades então
sempre vem estudantes pra conhecer aqui, saber o que é, mas
você fala assim com a sociedade, com o
interno ai?
Na maioria das vezes sim, a não ser quando tem
alguma campanha... que
a gente busca mais o cidadão
mesmo de informar as
pessoas, mas no dia a dia a maior parte são esses dois (público
interno e cidadãos).
A gente faz no que está no nosso alcance e o que eu já tinha te
falado antes que a gente quer até
chamar uma empresa de fora pra poder fazer
uma análise junto com a gente.
vamos fazer mais decisão
porque a gente consegue mais
visibilidade se a gente fizer mais
decisão, em relação a jornal
e tudo... ... Então precisa
convencer o pessoal aqui dentro que precisa de
informar quem ta aqui para que
eles possam repassar isso, acho que é um
trabalho que vai ser muito mais difícil da gente
fazer.
Assim cada um faz o seu e aí se reúne e aí vai
ver. Mas acontece na
organização as vezes de setor
pedir determinada
coisa ou determinada
área está sabendo de
alguma atividade e aí
não repassar. Ás vezes a gente tem um pouco de dificuldade
de comunicação entre a gente,
entre os comunicadores...
...eu fico pensando se a gente tivesse
todo mundo no mesmo local, porque acaba
que você escuta uma coisa, você
pesca, nossa gente isso aqui
dá pra gente fazer isso, então
acaba comentando e acho que flui melhor sim.
Acontece, se a gente pensar
como um todo assim. É difícil cada um no seu
quadrado.
101
mesmo o público, quem que vai atingir, de que forma
então é organizar, é
separar mesmo a informação para
ela possa ter maior
destaque... Eu acho que essa
questão estratégia, não
sei se porque eu sempre gostei,
fiz e acho importante, a
organização ta longe disso, de valorizar esse
capital humano que tem aqui
porque pessoal daqui que vai fazer também,
que vai multiplicar o
que é feito aqui dentro.
presidente é a gerente, que tem
que ir lá olhar com ele alguma coisa, a gente
tem mais algum evento. E varia
muito de gestão.
Organização Privada
Violeta Montes
Publicidade / Analista
(especializa-ção em
Gestão e Comunciação Empresarial; MBA FGV)
2002 / doze anos
Comunicação organizacional...
hoje ela compreende a
comunicação da empresa com seus diversos públicos de
interesse, como que a empresa se comunica, como que a empresa
leva suas mensagens tanto
Primeiro eu preciso estar
ligada a estratégia da empresa, tem que ta muito
ligada muito a estratégia, a alta
diretoria da empresa pra eu saber quais são as mensagens
que são importantes eu
... processo de comunicação
externa que é a visibilidade da
nossa marca, da nossa empresa pra sociedade,
pro público externo, processo de comunicação
interna é o desdobramento das mensagens
pro público
Posicionamento... não diria tanto
posicionamento. Mas que ela
pauta algumas ações
operacionais, ela pauta... Sempre quando tem um
assunto de relevância
estratégica pra empresa a
comunicação é
Porque eu acho que a gente deveria ouvir mais a comunidade,
ouvir mais os empregados, mas a
tônica é mais da empresa pro
empregado que do empregado pra
empresa... acho que a tendência é mudar essa
visão muito unilateral... Eu não
acho que a organização
... eu acho que a gente tem que considerar a estratégia do público, não
chama a estratégia do público como
relacionamento, mas a gente tem que considerar o público na hora de falar com ele. ...tenho o meu
... medição em comunicação é
um gargalo... Eu quero agregar
valor pra minha marca ali, eu quero mostrar
que sou eu que to patrocinando e
transformar aquilo na
imagem positiva. Dar significado pra aquela ação
Não, não é necessário que
ela (a comunicação)
esteja na gestão da organização, mas o gestor da comunicação
precisa ter essa consciência de
que é importante que o analista
que atende aquela... preciso
102
pra fora quanto pra dentro, de empregados,
com os públicos de interesse
mesmo. ...eu já ouvi diversas perguntas do tipo: 'ah você
que é a menina da
comunicação? Sou eu. Tudo
bem? Tudo bem. Aqui meu mouse
não tá funcionando
você podia me ajudar?' Então as
pessoas confundem
muito a função do comunicador.
Já escutei em reunião assim:
'ah mas porque a área de
comunicação não funciona
aqui na empresa, área da
comunicação deveria
providenciar blackberry pra todo mundo',
então eles entendem muito a comunicação
como ferramenta,
como meio. E comunicação
organizacional não é isso. A
gente desenha as
levar para o público. A partir dessa orientação
estratégica a gente
desenvolve as mensagens.
Acho que é isso. É difícil explicar
isso conceitualmente,
a gente mexe com isso todo
dia de uma forma tão
natural e tão fluida que parar pra pensar nisso é engraçado, faz a gente pensar...
É aquela comunicação
que está intimamente
ligada à estratégia da empresa, às diretrizes
estratégicas da empresa, à visão da empresa e a comunicação caminha junto
com essa estratégia que a empresa quer,
então se a estratégia da empresa é crescer a
comunicação está junto pra
ajudar a empresa nisso. Se a
estratégia da empresa é
interno; tem essa divisão. Mas na minha cabeça
tem essa divisão, mas ... até pouco
tempo atrás a gente fazia tudo muito integrado. Eu nunca fiz um planejamento só
pro público interno, sempre
que eu tinha alguma demanda
eu podia até escrever sozinha, mas eu sempre
chamava o profissional da Comunciação Externa pra
compartilhar com ele... a gente tem
diversos processos mas a meu ver a gente trabalha muito
integrado.
chamada pra mesa pra discutir junto... Eu acho que a decisão da empresa a gente
não consegue influenciar... a
gente faz análise do cenário,
apresenta pro gestor mas a
decisão é dele. Mas eu acho que é uma forma de
ajudar ele a tomar decisão.
não deixa ouvir não... a gente fica tão imerso
nas atividades do dia a dia, rotineiras, que às
vezes esquece um pouco de ouvir o outro lado... tô falando uma vontade íntima que a
gente deveria ouvir um pouco mais...
... A gente ouvia na área: poxa a
informação não chega aqui. Então foi um
exercício de ouvir. A partir dessa audição, a
gente desenhou estratégias pra chegar a esse público... Então a gente leva informação pra ele e foi uma forma que a gente achou de levar informação pra
ele porque a gente escutou (falando de um
novo canal)... Informacional é mão única. Você informa,
pronto acabou. Interacional você passa
aquela mensagem, espera o retorno e vai
construindo o significado. Vai e
volta. Você faz o ciclo da comunicação
completa, emissor, meio, receptor, meio,
mensagem e feedback...É mais fácil fazer informacional. É
mais fácil, é mais cômodo. Não é muito cômodo? Eu preciso
passar uma informação... pá, jornal
público operacional que é meu chão de fábrica, meu
público não tem e-mail, o meu
público tem um nível de
escolaridade menor que o restante dos empregados.
Então a forma pra eu falar pro
público operacional que
trabalha em regime de turno é diferente da
forma de eu falar pro público
administrativo por exemplo. E
os meios são diferentes
também. Público administrativo eu
consigo usar mais ao meu
favor o e-mail, uma newsletter, eu consigo fazer
informação chegar mais fácil, público
operacional não, eu busco novas formas de falar
com esse pessoal, novos
meios que cheguem a eles e
a linguagem é um pouco diferente
também, eu
minha naquela comunidade.
Como é que se mensura seu resultado? ...
como que eu sei que aquele projeto, que
aquele planejamento
especificamente contribuiu para aquilo. Pode ter sido um tanto de coisa, eu faço um
tanto de coisa lá... se eu fiz uma ação pra público interno a gente tem aqui um Comitê de
Comunicação formado por
pessoas de várias áreas, não só formadas em comunicação,
que são os nossos radares. Então sempre
que eu faço uma ação de
planejamento mensalmente eu me reúno com essas pessoas,
que são os meus radares e ou eu
aplico uma pesquisa para
esse Comitê me responder ou eu
pego percepções...
... E trabalhando numa empresa
viajar, é preciso estar no lugar
pra conhecer os seus públicos e o
gestor de comunicação
como não tinha essa visão não possibilitava
essa visão frequentemente, entendeu? não é
a gestão da empresa, eu acho que é a
gestão da comunicação,
diferente daqui... você ter essa
visão integrada, de comunicação integrada, de ir a campo, é equipe, não é empresa, é
gestão da comunicação. Ela podia ter
algumas coisas ah não tem
verba pra viajar, isso pode
acontecer, mas... sei lá, se você tem uma boa gestão você consegue
argumentar.
103
formas, a gente desenha as mensagens,
utiliza as ferramentas
mais apropriadas pra gente
conseguir levar aquela
informação até o receptor...
... é a área que formata as
mensagens de acordo com cada
público, você pode falar de um
jeito com um público, de outro
com outro público, de
acordo com o público alvo,
escolhe o meio mais adequado pra falar com
aquele público alvo e recebe o
feedback daquela
mensagem.
vender mais, colocar mais produtos no
mercado, que seja, qual for a estratégia da empresa, a
comunicação está junta.
Qualquer outro tipo de coisa a comunicação
fica descolada... se a empresa
investe nisso eu vou junto, tem
que estar sempre ligado senão não é comunicação
estratégia, senão eu afundo a empresa...
definir a forma, a mensagem
chave que nós vamos passar de acordo com cada
público... quando a gente constrói junto a estratégia não chega aquela bola quadrada
pra gente poder comunicar.
mural, não é muito mais fácil? (risos).
Fácil não é não. Mas muitas vezes a gente
faz é isso mesmo.
preciso usar uma linguagem mais simples... Então
só aí eu já te falei que eu considero a
forma diferente e a estratégia, os interesses eu considero os
interesses mas eu também falo o que a empresa
quer que aquele público saiba, não só o que o público quer
saber, entende? ...Porque eu
preciso construir uma imagem positiva no
coletivo desses empregados
porque eles são formadores de
opinião.
com engenheiros é mais difícil ainda, porque eles querem
números e muitas vezes a gente não tem. Eu tenho a
percepção.
Organização Privada
Lélia Jornalista /
Coordenadora (especializa-
ções em Gestão
Estratégica de
2005 / seis anos
... comunicar pra mim é o ato de
você tornar uma mensagem comum...
quando a gente traz pra dentro da questão da empresa, do
Eu vejo grandes avanços nesse
sentido, de uma comunicação
que hoje a gente trabalha bastante vinculados com os objetivos de
negócio por
Quando falo um processo de
comunicação eu entendo que
existe uma cadeia não são áreas
isoladas, e aí eu to falando de publicidade
A primeira coisa que fica muito
claro é a questão da gente
trabalhar pro negócio. A gente tem essa clareza que nós somos
uma área de
Eu acho que às vezes a gente tem um pouco a ilusão de que à medida
que a gente dispara uma comunicação organizacional, por exemplo, sobre um
determinado assunto de que os nossos
... A gente tem um Comitê de Comunicação por localidade,
então são pessoas das áreas operacionais que estão nas pontas e que além de
A gente tem a pesquisa Imagem e Reputação, que ela é anual, feita em todas as áreas
de atuação da instituição, então cada um de seus municípios tem o
... hoje, mesmo que você não
queira conversar, as redes sociais
estão ai pra isso, os canais estão
muito mais acessíveis e a
104
Comunicação e em
Responsabili-dade Social)
ambiente organizacional, eu acho que a
comunicação é você tornar comum a
mensagem da empresa com seus públicos, mas aí eu acho
que existe o segundo passo que além de
tornar comum, de levar essa
informação, que ela seja
devidamente compreendida.
Um passo além... que (os
públicos) entendam, não
significa concordância, por exemplo.
Significa entendimento.
exemplo. Então eu vejo que hoje quando a gente
fala de comunicação
estratégica aqui dentro da
organização, a gente não está falando nem só
de um planejamento
estratégico que se encerra
dentro da nossa própria área,
mas inclusive de um vínculo
muito estreito com os objetivos
de negócio da empresa...
... acho que a comunicação, se ela ta dentro da
organização, tem que tá
alinhada com os objetivos
maiores, não pode ser
comunicação pra si mesmo. Mas eu tive algumas
experiências pontuais, em
outras empresas que trabalhei ...
que era um processo meio autofágico: as pessoas faziam comunicação
para si mesmas, então a chefe
ficou super legal
trabalhando na sua caixinha,
eventos trabalhando na sua caixinha;
eventos trabalhando na
sua caixinha, mas o entendimento da comunicação
como algo transversal a todos essas
caixinhas. E se for nesse sentido eu entendo que
aqui a gente trabalha
comunicação como um processo.
apoio e que trabalhamos para
o negócio da organização e
tal... ... Eu vejo a
comunicação é uma área aqui hoje dentro da empresa que é
consolidada, ela é chamada para mesas da alta diretoria, para
conversar sobre temas que são
estratégicos, em momentos de
crise, ela é uma área que
realmente é consultada. Eu sinto que ela é
ouvida dentro da empresa, em momentos de
decisões importantes... ela
tem assento nessas reuniões
como ela é chamada a participar
ativamente mostrando seus
resultados.
receptores vão pegar aquilo passivamente...
hoje além de não concordar as pessoas
têm canais muito acessíveis de inclusive
manifestar essa não concordância com a mensagem seja ela
qual for... eu acho que há uma necessidade
cada vez mais premente de não se
parar no ato de transmitir somente a mensagem, mas de
buscar canais de diálogo, de retorno...
abrir canais de diálogo eu acho que é um
grande desafio hoje para qualquer
instituição... Hoje, acredito que façamos bem essa transmissão.
Sabemos da importância do
diálogo, mas ainda não chegamos lá... A
comunicação aqui é informacional... acho que é uma questão de
amadurecimento (trabalhar o
interacional)... da organização e do
profissional... a gente vem historicamente de
modelos que não conversavam nada, que
não comunicavam nada. Que a
organização, ela existia e ponto. Independente de quem ela impactava ou enfim, o empregado
cederem informações para nos ajudar com essa replicação
são também fontes pra gente, elas nos contam
dentro desse Comitê se uma campanha foi
bem recebida, se não foi porquê que não foi, o quê que estão
achando daquela mensagem, a gente faz pré-
testes com eles mas ainda é um
grupo... Esse grupo tem papel
consultivo também, ele é um grupo que
nos ajuda replicar, é um
grupo de realiza pré-testes, é um grupo que nos
ajuda com questão de
leitura de cenário nas áreas e é um grupo consultivo
onde a gente pergunta, vocês acham que isso vai dar certo?
(Sobre canais de diálogo com os públicos) Na
verdade isso é informalmente a
gente... assim tem alguns
canais mas que
seu retrato nesse momento e os empregados a gente tem uma
pesquisa também voltada para
empregado, não necessariamente pra falar única e exclusivamente
com comunicação mas a gente
consegue tirar uma série de comunicação, uma série de
coisas... Então, quando a gente
fala em apresentar
resultados, a gente faz
relatórios sobre as nossas ações, a gente tem um esforço muito
grande hoje em procurar formas
de mensurar, ainda é o ponto mais sensível no
nosso planejamento,
mas a gente tem tentado. É
incipiente, mas a gente mostra planejado e realizado,
quando tem algum outro tipo de mensuração a gente leva isso
também e ai vou te dar exemplos:
nossa equipe é uma equipe de pessoas jovens que estão super ligadas nesses movimentos. Então eu acho que o dia a dia
acaba não deixando pensar
nisso. Nós somos obrigados
a pensar nisso hoje, mas ainda
existem uma parcela que acho
que acho não tem isso tanto
no drive.
105
esse mote, essa abordagem, mas
e o público? Será que o público vai
compreender? ... ... pra
comunicação ser estratégica
precisa de um amadurecimento
de objetivos principalmente. Então, mais do
que produto que você vá gerar é a solução; de onde
você partiu, quais são seus
objetivos, o seu problema pra uma solução e
não necessariamente a entrega de um produto... Hoje a
gente trabalha com um
planejamento de comunicação
todo desenhado com equipe... Além desse
planejamento anual, a gente
faz uma releitura de cenário, com as estratégias, as
principais entregas, faz
toda uma análise de imagem.
ele ia lá cumpria seu horário de trabalho, ia embora. Então, isso é muito recente, eu acho
que a gente tem caminhado, tem
avançado e acho que essa comunicação
interacional ela é um passo a ser dado, e
acredito que na maioria das
organizações.
eu não entendo que sirvam nesse sentido que você está dizendo. A gente tem o Fale Conosco, a gente
tem um e-mail que as pessoas
podem mandar, a gente tem
enfim... mas eu não acho que
seja nesse sentido não... o relações com a
comunidade (que não é da
comunicação) faz uma reunião e tem todo apoio da comunicação principalmente com a parte de
conteúdo, mensagem,
posicionamento.
programa de visitas, a gente
consegue mostrar que a visita que
chegou aqui com imagem X da
empresa, na hora que ela foi
embora ela teve uma imagem Y... Então, o que está na nossa rotina, quando eu falo
que é pra mostrar os nossos serviços,
resultados na verdade é o
report das ações que a gente
entregou, a gente tenta enriquecer isso com alguns depoimentos e sempre que a gente aplica
pesquisa mostrando esses
resultados, também.
106
Organização Privada
Gravatá Relações Públicas / Gestor de Processo
(especiali-zações em
Marketing e em Gestão
Estratégica da Comunicação)
2003 / Dez anos
Comunicação organizacional pra mim é toda
forma de comunicação, processo de
comunicação na empresa que envolve a sub
área de comunicação
interna, comunicação
externa, publicidade, de maneira geral
isso. Formas de comunicação da
empresa com seus públicos. E
aí tem as sub divisões,
definição de público, tudo
aqui que envolve
comunicação dentro de uma empresa com
seus públicos... acho que
comunicação organizacional
ainda precisa ser melhor
entendida pelos gestores, precisa
ser mais valorizada de forma geral
pelas empresas, o profissional
precisa entender o seu papel dentro desse cenário das
Comunicação estratégica pra
mim é uma comunicação
que passa pela gestão da
empresa. É uma comunicação,
um processo de comunicação
que faz parte da gestão da
empresa como um todo. Não só
da área de comunicação...
É ser considerada uma área estratégica pra tomada de decisão, uma
área que é muito consultada para tomada decisões
não só que envolvam a
comunicação, mas de uma
maneira geral... Eu acho que o
conceito de comunicação estratégica
perpassa por isso eu acho que nós profissionais de comunicação buscamos mais
isso, entendemos
mais comunicação dessa forma,
buscamos mais a comunicação
estratégica dessa
(Comunicação Organizacional)
Acho que são processos da área de comunicação,
mas que envolvem a
empresa como um todo... Acho, por exemplo, que
comunicação interna é um público da
empresa que é feito através de
processo de comunicação e muitas vezes ou na sua maioria das vezes com
gestores da empresa... a
externa também, são processos de comunicação que são puxados pela
área de comunicação, mas que têm
como mediador um porta voz, uma pessoa da empresa, um
gestor da empresa... são
processos divididos em comunicação
interna, comunicação
externa e abriria a externa em publicidade e todas elas, e
talvez em publicidade e
... a gestão não vê comunicação em
sua forma tão estratégica como deveria... a gente é só uma dentre outras e vejo um
anseio dos profissionais de comunicação pra
que isso seja realmente
estratégico ou que comunicação estratégica seja entendida dessa
forma pelas organizações...
hoje, os profissionais de
comunicação têm assento na mesa de decisões, seja
de novos negócios, seja de Comitê quando
tem crises... Então eu acho que evoluiu
muito e alcançou um respeito. O
próprio gestor, a gestão da
empresa sabe a importância de
ter a comunicação, de
usar a comunicação pra que as ideias e
soluções possam ser mais
assertivas e benéficas pra organização. Desde novas
Eu acho que informacional; é uma comunicação voltada só pra informar, não é uma via de mão dupla
é uma via de mão única, e a interacional
é onde tem uma interação, uma via de mão dupla, tem um
diálogo, consegue ter um retorno daquela
informação se tornando um diálogo. Informacional é o que
o veículo de comunicação faz simplesmente te
informa de determinada... te passa uma informação, mas
não te escuta... Ela caminha pra ser bem
interacional... No planejamento, você
escuta público interno pra fazer o
planejamento de comunicação, primeiro
você faz uma consultoria com eles, faz um levantamento de cenário com ele
para traçar as soluções de comunicação. Você
faz uma pesquisa ao final do ano pra ver
como que foi o atendimento de
comunicação de forma geral. Como
comunicação atuou nesse cenário que ele opera de forma geral.
Então, acho que a gente consegue chegar
... tanto os públicos quanto
os meios que você vai utilizar para atingi-los, o
formato acho que tudo isso faz
parte dessa estratégia, tanto
que essa subdivisão de
processos ajuda muito... Eu acho
que ela (a organização)
procura ter uma comunicação muito aberta com os seus
públicos. ... É criar um
canal, um diálogo com eles seja através da comunicação direta, seja através de veículos de
comunicação pra que haja uma
troca de informações que você possa suprir
a necessidade que eles têm de informação...
(sobre ações de diálogo) Tem
uma área que é só pra isso, por exemplo, com o público externo
que é área de relacionamento
com comunidades.
... a gente tem vários tipos de pesquisa, desde um evento, você
ter pessoas fazendo
questionários, até pesquisas
maiores de opinião pública,
de como é que os temas estão
sendo absorvidos por aqueles
públicos... Eu acho que de uma maneira geral pra
comunicação muito poucas empresas vão fazer grandes
pesquisas ou na quantidade que a gente faz. Todo evento vai ter uma pesquisa
que nos supre de informações... a pesquisa grande
de imagem externa, ela nos
balizou ela sempre foi o
balizador para nossa estratégia, mas ter uma área que faz pesquisas
ou a gente analisar
pesquisas ta hoje nos nossos planos de
comunicação como item que
não pode faltar, o item que tem que
E você não perguntou, mas eu acho que é
uma coisa interessante, é
claro que o nosso papel é
trabalhar a imagem da empresa,
visibilidade, e fica a cargo do relacionamento
trabalhar realmente o
relacionamento, isso não impede
que nós comunicação... não quero dizer que trabalhar
com comunidade não
tenha que ter proximidade,
você tem que ter todos os inputs pra trabalhar proximidade,
fica muito claro o objetivo do
profissional com essa separação.
Com isso, prioriza a
informação, a transmissão da informação... ... Tem que entender eu
acho que é uma coisa cíclica. A
partir do momento que
você tira pedido você deixa de
Eu acho que o profissional de
comunicação ele é muito de fazer, ele faz entrega e já vem outro job e vai pra outra entrega ele não
tem muito tempo pra
pesquisar, pra ver se deu certo ou não... É um
profissional muito de entrega
né? Um profissional que vai entregando,
é uma área muito de
serviço, que vai entregando
serviço para as outras áreas e
acho que é visto por isso, por
uma demanda rápida, seja por uma demanda interna e você não tem muito
tempo pra poder fazer essa
mensuração, que hoje é vital para comunicação da empresa. Então a gente evoluiu nesse quesito (pesquisas), deve ter uns
dois, três anos mas que é uma
grande evolução...
quando você
107
empresas, dentro desse cenário da gestão para que possa oferecer e
ser visto realmente de
forma estratégica para os objetivos da
empresa.
forma. E da forma de gestão não havia essa contrapartida
forte, mas profissional de comunicação
acho importante ter, ter
trabalhado essas disciplinas dessa
forma... Estratégico, eu
acho que é o que pensa junto com
o gestor nas soluções. Propõe
soluções para aquele
problema... ... Quando você
busca comunicação
estratégica, acho que o
profissional busca que a gestão da
empresa use a comunicação de
forma estratégica para haver os ganhos e não seja só um plus, que faz só
quando tiver dinheiro...
Comunicação estratégica busca um pouco disso,
trabalhar pra empresa pra que
ela, independente do
que faça, ela possa utilizar a
institucional... é perceptível nos
planos, nas formas de
atuação que você consegue mapear o que é de cada processo, eles vão fazer uma entrega grande para os clientes
deles que envolva todos esses
processos mas você consegue percebê-los de
forma separada.
estruturas até passar uma mensagem
estratégica de alguma mudança
hoje a gente participa dessa
decisão... (é uma participação)
Consultiva. Se o profissional falar
não e o gestor achar que sim ele vai fazer... Então
ela não é de decisão, mas de um suporte da área pra ver oh eu tenho que
entrar nessa área o quê eu faço, com quem eu
devo conversar, quais os melhores
caminhos, mas eu estou entrando, nesse sentido... acho que 90% dos casos nós
somos escutados.
num nível bem estratégico com esses
gestores locais pra propor soluções e a
gente acaba sendo uma via mais de mão dupla
com ele, desde o planejamento até esse
retorno. Acho que você fecha esse ciclo... Também a gente
trabalha com informações passadas pelos gestores locais, pelos relações com
comunidade, rc’s, pra poder trabalhar a
mensagem, os temas que a gente vai
trabalhar.
ser avaliado então ta sendo importante pra
gente poder lembrar isso, por
isso no nosso farol.
Profissional muitas vezes a gente tá sempre
correndo pra poder fazer
entregas e as vezes a gente não para para poder mensurar aquilo que a gente ta
fazendo... Lógico que a gente tem aquelas outras
pesquisas normais, antes de
lançamento de campanha e tem pra avaliar qual a
percepção do público pra determinado
jornal, pesquisa de publicidade. Mas pesquisas
que dão retorno, que subsidiem a estratégia macro da empresa , eu
te diria que a principal
pesquisa que a gente faz é uma de imagem, que vai subsidiar o
nosso trabalho no Brasil como um
todo.
ser estratégico pra empresa, você deixa de ser estratégico, você deixa de ser valorizado. É uma coisa em ciclos. Eu acho que a gente tem
que pensar o que nos
diferencia o profissional de
comunicação de uma gráfica que
é só produzir um informativo. Na comunicação organizacional você tem que ser uma área
pensante que vai propor soluções
que vai subsidiar
comunicação daquela
empresa, não fazer
comunicação como um todo, mas subsidiar para que os
gestores possam tomar decisões.
Se você simplesmente
for uma pessoa que imprime o
jornalzinho você não é nada
estratégico, não faz diferença pra
estratégia da empresa e da
organização de
trabalha o seu planejamento sem estratégia você vai ser o
tarefeiro, aquele que tira
atendimento da padaria. Quer pão tome pão,
quer uma empada toma
empada. Se você trabalha sem
planejamento, sem estratégia, não fizer parte da gestão, você vai ser só um
tarefeiro... .... De forma
geral, acho que as empresas buscam só
passar informação. Acho que é mesmo só
informar, as empresas hoje
estão no momento de só informar. Acho que o caminho, o próximo passo ... seria ter uma interação maior,
melhor e ser mais estratégico e ta muito ligado
o fato de você ser uma
comunicação que só informa com o de tirar
pedido da padaria e ser
108
comunicação ou usa
comunicação pra atingir seus objetivos...
uma maneira geral.
pouco estratégico...
evoluindo nessa pirâmide, ai
você consegue se tornar mais
próximo, estratégico e deixar de ser simplesmente comunicação
informacional.
109
Organização de capital
misto
Jacarandá Jornalista /
Gerente (especializa-
ções em Marketing e
em Comunicação Corporativa)
1996 / 16 anos
É um meio pelo qual a empresa
se relaciona com os seus
subordinados, com as suas equipes, pra
difundir a sua estratégia, fazer um alinhamento
com os seus públicos de
relacionamento interno e externo...
Alinhamento é uma forma de
trabalhar e disseminar as
informações de maneira que todos tenham conhecimento daquilo que
deve ser feito da forma mais
adequada... (os públicos) devem estar alinhadas
ao que foi estabelecido... (em relação a alinhamento externo) A
empresa deve se comunicar com
o externo da maneira mais adequada para
que eles percebam a
empresa, como ela quer ser
definida, como ela deseja ser
percebida, então
Comunicação estratégica é o que deve ser
feito, deve ser trabalhado pelas empresas, pelas corporações de forma geral de maneira que
haja um entendimento de todos que estão envolvidos para que a empresa
consiga alcançar os resultados esperados... a comunicação
organizacional ela tem que ser feita e deve ser feita de maneira estratégica... se não for assim
acaba que você corre o risco de não alcançar os
objetivos esperados... pra
mim, a comunicação
organizacional, ela
necessariamente, ela deve ser de
forma estratégica... as
ações as atividades que
estão sendo feitas pela
comunicação que são de
responsabilidade da comunicação
eles estão
seria... a contribuição da comunicação para que os objetivos
estratégicos sejam
alcançados. Alinhados à
missão e à visão da empresa.
a criação de uma diretoria de
comunicação, então isso reforça
a presença e o peso vamos dizer
assim, da comunicação nas
decisões da empresa, então
isso aconteceu há três anos e a
gente percebe internamente como que as
áreas da empresa de uma certa forma elas
respeitam, estão atentas às
questões que podem impactar
a marca, a reputação, a imagem da
empresa e não se posicionam
principalmente externamente
sem que a comunicação seja
envolvida.
Ela é mais informacional, deveria ser mais interacional, a gente vem discutindo
algumas formas de fazer com que ela seja mais interacional, mas,
hoje ela ta mais informacional. Talvez pela cultura, pelo tipo
de produto que ela oferece, pela forma
como ela está inserida no mercado, talvez até um certo comodismo vamos dizer assim,
uma certa... não seria comodismo, como ela tem os clientes cativos acaba que ela não faz uma interação muito
grande. Faz com alguns desses públicos,
tem uma interação, mas a grande maioria não há uma interação, há um atendimento, então a gente precisa caminhar pra isso... Preocupação que as
corporações têm tido e a gente aqui também com as redes sociais, que é uma forma que
as pessoas estão encontrando para se
manifestar e é importante que as empresas estejam
atentas a isso, porque elas podem ser
atingidas direta ou indiretamente, positiva
ou negativamente, então é um ponto de atenção que é preciso
... ela busca é um equilíbrio para
atender os desejos, os
anseios desses três (prioritários,
clientes, investidores e empregados)...
Então ela procura
relacionar principalmente com esses três
públicos de maneira
equilibrada buscando atender os interesses dos
três.
... nem sempre dá pra mensurar aquilo que é resultado da
empresa, mas que foi
impactado positivamente
pela comunicação, na medida em que
você conduz ações, você
realiza campanhas, faz
alguma publicidade e
aquilo contribui para que você
atinja melhores resultados, seja
através da publicidade, da participação em
eventos, de ações sociais,
patrocínios culturais enfim,
são várias formas de mostrar que
aquela empresa é uma empresa socialmente responsável, empresa que
preocupa com as questões
culturais onde ta inserida,
contribui para o desenvolvimento
da sociedade, qualidade de vida
das pessoas... Bom, busca-se monitorar para
... (a comunicação é a) mediadora
entre a empresa e esses públicos
(os de relacionamento)
mostrando exatamente aquilo que a
empresa pretende fazer,
pretende entregar. Então,
se tem por exemplo
determinada situação que
deve ser levada para esses públicos, a
comunicação vai fazer da
maneira mais adequada
considerando as particularidades
de cada um deles de maneira
como a gente tinha falado no
início, de maneira
alinhada. É a mesma
mensagem para públicos
distintos e ela precisa ser
adequada para esses públicos e
é papel da comunicação fazer isso...
Então comunicação
... apesar do posicionamento de outras áreas,
que sempre envolve a
comunicação numa empresa que não é uma
empresa de comunicação,
acaba que é vista como uma empresa de
engenharia e a comunicação ela
é vamos dizer assim um
apoio... (sobre a participação de discussões mais conceituais) ... Acaba que a
gente fica muito envolvido na
rotina, no dia a dia, é um pouco
atribulado e acaba ficando em segundo
plano. É importante
também a gente tá tentando trabalhar e
buscando essa mudança que eu considero que é
fundamental para que
aprimore as nossas entregas e acaba que essa
discussão conceitual hoje ela não é uma prática nossa
110
as ações de comunicação
elas têm que ser planejadas, pensadas de
maneira estratégica para
atingir seu objetivo. Como
eu quero ser visto, como eu
quero ser percebido pelos meus diversos stakeholders sejam eles clientes,
sociedade de uma forma geral dependendo do tipo de serviço da empresa no nosso caso aqui por exemplo que é uma empresa
que presta serviço e
relaciona com diversos
públicos, o alinhamento é uma ação de comunicação
considerando as especificidades de cada público.
contribuindo direta ou
indiretamente para o alcance do resultado
como um todo da empresa...
... (concretização da estratégia) Na medida em
que você conduz as atividades, o
trabalho, as ações mostrando para empresa ou
para os empregados que a sua atividade,
que a sua atribuição, sua atividade está
relacionada aos objetivos
estratégicos da corporação... seja ela uma comunicação face a face ou
uma comunicação por meio dos
diversos veículos que a empresa tem.
ter... Acho que é importante estar atento
ás mídias sociais e o que é postado. Fazer o
monitoramento da forma geral e ter um cuidado especial com
as mídias sociais.
ver se efetivamente os
esforços que estão sendo feitos estão realmente
atingindo seus objetivos e
contribuindo para os
resultados da empresa e aí é uma forma de
avaliar se precisa haver um
redirecionamento ou alguma mudança
estratégica de maneira a
mensurar se o que está sendo feito está sendo conduzido pela comunicação está de fato
contribuindo para alcançar os
resultados esperados.
tem esse papel e tem como
contribuir nesse sentido pra preservar a imagem,
reputação, a marca enfim... ... é papel da comunicação
fazer esse trabalho de
envolvimento, de engajamento
pros empregados...
embora muito importante até
para gente saber o que está
acontecendo na academia, o que
pode ser aplicado no dia a
dia nosso aqui importante que seja feito isso mas não é um hábito, não é uma prática
usual no nosso dia a dia...
... isso é que faz com a gente aprimore as
nossas atividades,
embora muita coisa que seja discutido, que
seja apresentado na academia na hora de aplicar
há um certo distanciamento
mas é importante a
gente acompanhar
isso. Teoria da prática as vezes
há um distanciamento mas importante que haja uma discussão e
aplicar aquilo que é avaliado, que é adequado para a empresa.
111
Organização de capital
misto
Jaborandi Relações Públicas /
Coordenador (especializa-
ção em Gestão
Estratégica)
1981 / 35 anos
Bom, eu vejo mais com
relação à gestão da comunicação, é o alinhamento
que a área da comunicação
tem que ter com as áreas da
empresa pra poder focar nos
objetivos estratégicos e tornar mais
viável a obtenção dos
resultados que são traçados
pela área específica que
faz esse trabalho, esse vamos dizer
assim direcionamento
estratégico corporativo macro. A
comunicação é uma área de
facilitação para poder tornar, agregar mais
participação do empregado, uma
área extremamente
estratégica dentro desse processo na corporação... comunicação
organizacional é a gestão da
comunicação estratégica.
... eu vejo a comunicação muito mais
estratégica do que ela era
anteriormente há 15 anos atrás a percepção era
outra, talvez 20 anos atrás a
comunicação era mais voltada
para área também
obviamente de levar
informações para os
empregados mas ela não tinha
esse foco estratégico, ela não tinha essa
busca do envolvimento
dos empregados nas questões
administrativas da empresa. Aí que eu vejo a
grande mudança que houve nos 20, 15 anos pra cá. ... (como a comunicação estratégica se
materializa) Por meio dos meios de comunicação
interna que a gente tem aqui.
A gente vê a transmissão das
informações pela área
responsável por
... os processos de comunicação, são os planos de comunicação, é o
trabalho que a gente realiza com
as áreas para tornar viável
todas as necessidades não
só das áreas como da própria área nossa, da
área de comunicação e da diretoria. A gente
é demandado pelo diretor que
tem um alinhamento
obviamente com as outras
diretorias... o processo como
um meio extremamente
importante e que vem sendo
valorizado nos últimos anos, cada vez mais
como uma ferramenta
estratégica que anteriormente não tinha essa conotação e o processo de
comunicação das grandes
empresas, hoje ele é levado com
muito mais importância...
Hoje a comunicação é
... Ela está alinhada aos processos de comunicação, principalmente
de recursos humanos, porque a demanda a área de comunicação eu colocaria aqui pelo menos 60% da demanda que a gente tem aqui é com relação a área de recursos
humanos... ... (se a área influencia na
tomada de decisões) eu não tenho acesso a
esse tipo de informação mas eu acredito que sim, eu não sei até que ponto... Eu ousaria até
dizer que algumas
situações ela (a área de
comunicação) é demanda sem
pudor... simplesmente me
dá isso aqui eu vou escrever e publique-se,
pronto.
O foco é mais na troca de informações entre o corpo gerencial com a
base da empresa, é levar informação de uma forma eficiente,
clara, onde possa haver um questionamento empregado e esse
questionamento pode ser respondido na hora de forma a buscar cada
vez mais trazer o empregado pra perto da administração...
... A gente tem inclusive o Comitê de
Comunicação que você conhece onde a gente um representante de
cada uma das diretorias pra poder trazer as pautas para
serem discutidas, serem analisadas e a
gente fazer uma seleção daquelas que a gente julga ser mais oportunas ou mais
estratégicas para poder divulgar nos nossos
meios de comunicação interna ou externa... ... no jornal interno
você tem uma série de editorias que você vai relatar experiências,
sejam elas técnicas ou pessoais de
empregados. Isso é interação, você dar oportunidade para o
empregado relatar uma história dentro do
cotidiano dele no dia a dia, como no jornal
... Eu acho que a organização tem interatividade a
partir do momento que
busca participação do empregado para poder trazer as
experiências que ele tem no mercado de
trabalho dele para relatar isso nos seus meios de comunicação
e buscar o envolvimento de
outros empregados... Às vezes você gera
um interesse, uma busca por conhecimento,
uma participação...
Tem vários indicadores. Tem
indicadores de processo, tem indicadores de
produto. No caso da nossa área de
comunicação interna a gente
tem alguns indicadores que a gente monitora
como, por exemplo, no caso
do Comitê, a gente monitora o
número de inserção das
matérias que são sugeridas, no
caso do atendimento
online, a gente monitora
também o índice de satisfação dos
meios de comunicação que a gente faz com
todos os empregados pra gente monitorar
também.
Pra buscar o envolvimento, pra buscar a
participação, pra buscar o
empregado vestir a camisa e realmente dar o
retorno esperado, então
quer dizer a comunicação ela tem esse papel extremamente significativo dentro desse processo... ... a área de
comunicação vai facilitar a
comunicação e o envolvimento,
levar informação
estratégica para os empregados
para buscar esse retorno e no final vai ser canalizado
obviamente para área financeira e
pros investidores e pro retorno... tem a mídia
também voltada para o público externo para poder levar
essas informações e
buscar e agregar valor a marca, percepção da
marca,
O retorno esperado são os
resultados financeiros. Eu
vejo isso de uma forma muito
preto no branco, quer dizer, o investidor no
caso específico da nossa
empresa ele espera o resultado
financeiro no final...
... Tem discurso mas não tem resultado...
Então assim, eu não vejo
empenho e engajamento que deveria ter nos gerentes... Isso (o não falar, ou
a não transparência
em alguns momentos) é
uma estratégia a gente tem que respeitar essa estratégia da empresa e a
gente tem que fazer de acordo
com o que é determinado. ...
A área de comunicação, ela sempre foi
muito aberta ao diálogo, à
transparência, ao trabalho que a
112
isso, a criação de um
informativo que é voltado
estrategicamente para
comunicação estratégica e
voltado para o face a face que é um dos maiores entraves que a gente tem nas
empresas que é o comunicação
face a face, infelizmente.
vista como área estratégica da empresa, uma
área importante que vai facilitar o
trabalho em várias frentes, eu vejo dessa forma.
Processo de comunicação
hoje é um processo
significativo e é dado a
importância e o valor pra ela,
pelo menos é o que ocorre aqui na organização.
mural por exemplo, de ter uma série de
matérias que a gente divulga a empresa com
a participação do empregado, seja ela
por meio de experiências ou por meio de histórias, e tem a comunicação
informativa que são as informações que a
gente julga importantes transmitir para todos
os empregados...
percepção da reputação da
empresa que vai gerar mais valor
obviamente a empresa.
gente faz de divulgação dos assuntos que as diferentes áreas
da empresa julgam ser
importantes. A gente sempre faz o possível para
poder atender as reivindicações, as necessidades das diferentes
áreas e dos diferentes
assuntos que são apresentados
aqui pra gente... ... Eu vejo
chegando os estagiários, os
novos profissionais, mas não vejo
uma visão assim dessa
importância da comunicação dentro da área estratégica por exemplo, com a
visão que a pessoa tem que ter com relação
a esse posicionamento.
113
Organização de capital
misto
Jequitibá
Publicidade / Analista
2002 / três anos
Olha, quando vem esse nome,
comunicação organizacional, a gente imagina realmente uma
associação, uma comunicação com um peso
maior na organização e você atrelar as atividades dela
realmente à estratégia da
empresa. Ela ter esse peso maior.
E ela ser mais atuante no sentido de também
influenciar na estratégia...
... Eu acredito que na hora que
mudou o conceito que às vezes o pessoal tem uma ideia meio frívola de imaginar que
comunicação é só fazer uma
propaganda na TV e tudo mais, ou não se dar a
devida importância ao atendimento à imprensa ou à organização de um evento, ou verificar que isso deu um
peso pra imagem da
... é atrelar (a comunicação)
cada vez mais as atividades da organização. Não ser algo dissociado.
Porque acredito que antigamente
as empresas muitas vezes
contratavam fora profissionais de comunicação ou achavam que só contratando um
agente de publicidade dava
conta das demandas que
surgiam da natureza da
comunicação e hoje em dia a
gente vê que não é isso...
... Entrave de mentalidade.
Tem hora que a impressão que
dá é que as coisas não foram bem planejadas ou que assim eu sempre associo muito a questão
da estratégia com uma certa
medida de planejamento e
de você conseguir
atender e aquele planejamento aconteça. Não quer dizer que
... são frentes de trabalho distintas com início, meios e fins diferentes.
Então você consegue
distinguir ali as vezes o ponto de partida pode vir da comunicação interna, pode ser uma demanda do
gerente... processo
exatamente por essa questão do
início, meio e fim quase como
particularizado... por mais que fale de comunicação
integrada, eu acho que tem hora que fica muito feudo
então acho que... eu não sei,
quando falam em trabalho de
processos, você lê alguma coisa a respeito parece
que formam mini equipes mesmo
multidisciplinares para trabalhar
aquela questão ou aquele processo, aquele evento,
aquele projeto. É as vezes as coisas
são muito dissociadas, não a minha área, eu
só vou mexer com as coisas da
... se você for pensar a nível de diretoria, você tem um diretor, acredito que ele realmente deve
participar mas eu não sei qual é o
nível não consigo enxergar isso tão claro. Não sei até
que ponto que ele...é aquele
negócio que eu falei de impor, se ele ta lá também decidindo tudo, se ele entra na
pauta pras decisões, eu
acredito que sim mas eu não
consigo enxergar tão claramente.
Em termos de interação com os
públicos porque na verdade interação sempre pressupõe
também um retorno deles, e você também alterar diante dessa
demanda. Olha eu acho que há ainda a postura
da empresa e pela natureza mesmo quando você vê a
atuação da organização em rede social você vê que ela é muito reativa, ela é
muito estática, ela muito de informação, ela é muito de caráter
de informação e muitas vezes que há
reclamações de clientes não vejo uma
preocupação grande da empresa de ficar respondendo não.
Então assim acho que no geral a empresa é muito do caráter de
informação, caráter de prestar contas aos
públicos mas sem abrir muita margem para retorno, pra poder
alterar diante do que eles enxergam... às vezes o pessoal tem
informação por outros meios que não a
imprensa e porque no primeiro momento o pessoal fica muito fechado e poder de
tomar decisão é meio lento... Eu acho que é
... eu não vejo com tanta
clareza quais que são os
posicionamentos da organização para os diversos públicos... e esse é um problema até mesmo pra
poder trabalhar a imagem da
empresa, eu não sei, não é muito claro para mim
não qual que é o foco dela quando
trata a comunidade,
quando trata o consumidor
final, dentro dos consumidores finais há uma divisão então
tem o consumidor que
você faz um contrato
específico com ele, tem o
residencial, tem o rural então
assim eu não sei e eu também não consigo enxergar
como que comunicação
aqui pesa diante desses
posicionamentos, não sei isso ta
muito claro, não sei se isso parte
da nossa comunicação.
... nós somos os empregados
encarregados de tratar, de cuidar da comunicação
da empresa e acho que há uma falsa impressão
que é muito fácil tratar de
comunicação, todo mundo
acha que é um pouco
profissional de comunicação.
Então isso tira a credibilidade da área e acaba a gente sofrendo essa pressão
externa. Então por pressão acabamos
atendendo essas demandas de paraquedas...
... eu não vou na engenharia e falar: ah não você tem que
fazer essa obra desse jeito, mais ou menos nesse
sentido. E às vezes, na área de humanas, parece que as pessoas enxergam com
pouco importância as
áreas de humanas...
... muita coisa baseada em
pesquisa, então
114
empresa, pra as atividades de
peso estratégico antigamente não
tinha essa percepção e hoje
em dia tem. Então eu
acredito que essa mudança de
percepção dos diretores é que deu o devido
valor e acabou formando a área de comunicação organizacional.
num planejamento você não vai
cumprir 100% você vai
cumprir, você tenta cumprir
mas quase sempre você não
consegue mas tem hora que parece que as coisas surgem
muito de paraquedas.
Soltas.
minha área e a pessoa parece que fecha não
quer nem enxergar o que
veio antes e o que veio depois. Tipo assim, fiz minha
parte agora...
da mentalidade da empresa, eu acho que a
empresa ela tem um caráter ela é muito tradicional, muito
tradicionalista e essa questão de ser do
governo também e então... eu acho que muita coisa já fica velada meio que
automaticamente.
Ao que me parece, parece muito piloto
automático. Ah a gente tá fazendo
assim então...
assim quanto mais a gente se
impor nesse valor técnico
que a gente, ter o suporte da
gestão pra que a gente se imponha
acredito que mais a gente vai
ganhar em termos de
estratégia de poder
estabelecer realmente a estratégia
nossa... às vezes também o
profissional atua nesse sentido
(da estratégia) e ele é tolhido e não recebe o
devido suporte dos gestores... O gestor enquanto profissional de comunicação também se
impor, questionar,
nesse sentido.