PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC … · A poluição sonora, em termos de...

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i PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC-SP Michele Picanço do Carmo A influência do ruído ambiental nos movimentos sacádicos, na atenção concentrada e na leitura de crianças de 9 e 10 anos. DOUTORADO EM FONOAUDIOLOGIA SÃO PAULO 2016

Transcript of PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC … · A poluição sonora, em termos de...

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    PONTIFCIA UNIVERSIDADE CATLICA DE SO PAULO

    PUC-SP

    Michele Picano do Carmo

    A influncia do rudo ambiental nos movimentos sacdicos, na

    ateno concentrada e na leitura de crianas de 9 e 10 anos.

    DOUTORADO EM FONOAUDIOLOGIA

    SO PAULO

    2016

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    PONTIFCIA UNIVERSIDADE CATLICA DE SO PAULO

    PUC-SP

    Michele Picano do Carmo

    A influncia do rudo ambiental nos movimentos sacdicos, na

    ateno concentrada e na leitura de crianas de 9 e 10 anos.

    DOUTORADO EM FONOAUDIOLOGIA

    Tese apresentada Banca Examinadora da

    Pontifcia Universidade Catlica de So

    Paulo, como exigncia parcial para

    obteno do ttulo de Doutor em

    Fonoaudiologia sob a orientao da Prof

    Dr Teresa Maria Momensohn- Santos

    SO PAULO

    2016

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    A influncia do rudo ambiental nos movimentos sacdicos, na ateno

    concentrada e na leitura de crianas de 9 e 10 anos.

    PRESIDENTE DA BANCA

    _______________________________________________

    Prof. Dr Teresa Maria Momensohn- Santos

    BANCA EXAMINADORA

    _______________________________________________

    Prof. Dr.

    _______________________________________________

    Prof. Dr

    _______________________________________________

    Prof. Dr

    _______________________________________________

    Prof. Dr

    _______________________________________________

    Prof. Dr

    Aprovada em: ____/___/___

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    "O valor das coisas no est no tempo em que elas duram,

    mas na intensidade com que acontecem.

    Por isso existem momentos inesquecveis,

    coisas inexplicveis e pessoas incomparveis".

    (Fernando Pessoa)

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    DEDICATRIA

    Dedico este trabalho aos meus pais,

    Ana Maria e Ubiraci do Carmo, que nunca mediram

    esforos para que eu pudesse alcanar meus objetivos,

    e que mesmo distncia, sempre estiveram ao meu lado e apesar da saudade sempre

    me incentivaram a voar longe.

    minha av Joaquina Corra Picano (in memoriam),

    que em sua simplicidade sempre tinha um sbio conselho.

    Aos meus irmos, especialmente Bruno, pela pacincia e

    compreenso nos dias difceis dessa trajetria e a toda famlia por acreditar em mim.

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    AGRADECIMENTOS

    Agradeo a Prof Dr Teresa Maria Momensohn- Santos, de quem sou f desde

    minha chegada a So Paulo e com quem tive a honra conviver, a quem tanta admiro

    pelo enorme conhecimento e contribuio para a Fonoaudiologia no Brasil, e que a cada

    dia, a cada paciente atendido, transmitiu conhecimentos que me ajudaram a crescer no

    s profissionalmente, mas como ser humano. Agradeo aos ensinamentos constantes e

    pelo desprendimento de compartilhar todo seu conhecimento aos alunos e no alunos

    que a procuram.

    Aos Profs Drs Elizeu Coutinho de Macedo, Lucia Kazuko Nishino, Maria

    Regina Maluf, Edilene Marchini Boechat, Ana Luiza Navas e Yara Aparecida Bohsen

    pela leitura e por toda a contribuio para a finalizao deste trabalho desde a

    qualificao.

    Prof Dr Leslie Picollotto-Ferreira e a toda a equipe editorial da Revista

    Distrbios da Comunicao pelo conhecimento partilhado e os avanos conquistados

    enquanto fiz parte da equipe editorial.

    Aos mestrandos e doutorandos da PUC-SP, em especial da Linha de Pesquisa

    Procedimentos e Implicaes Psicossociais dos Distrbios da Audio pela convivncia

    e crescimento em cada atividade realizada. Cada um contribuiu de maneira especial para

    a realizao deste trabalho.

    Aos professores do PEPG em Fonoaudiologia da PUC-SP pelo ensino, pela

    torcida e incentivo nesta jornada.

    Virgnia Pini, assistente de coordenao do PEPG em Fonoaudiologia da

    PUC-SP, pela ateno, empenho e palavras de acolhimento.

    Aos professores, funcionrios e alunos da Escola Estadual Pedro Voss.

    Ao bibliotecrio da Derdic, Joo Matias sempre paciente e pronto a ajudar.

    Denise Botter, pelo trabalho estatstico precioso antes, durante e aps a coleta

    dos dados.

    CAPES pela bolsa de estudos

    empresa Contronic pelo emprstimo do equipamento para coleta dos dados.

    todos os pais que permitiram a participao de seus filhos nesta pesquisa.

    todas as pessoas que contriburam direta ou indiretamente para a realizao

    deste estudo. Agradeo a todos que acreditaram em mim. Com certeza todas as pessoas

    que passaram pela minha vida e as que fazem parte dela, tm grande contribuio.

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    LISTA DE ABREVIATURAS

    dB NPS decibel nvel de presso sonora

    dB (A) decibel

    dB NA decibel nvel de audio

    LAeq nvel de presso sonora equivalente

    Hz Hertz

    ppm palavras por minuto

    Michele Picano do Carmo

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    A influncia do rudo ambiental nos movimentos sacdicos, na ateno

    concentrada e na leitura de crianas de 9 e 10 anos.

    Resumo

    Introduo: O rudo pode afetar negativamente o desempenho cognitivo,

    interferindo na cognio, na memria de curto prazo, na ateno, nas funes

    executivas, na leitura e na escrita, prejudicando o desempenho cognitivo e a

    aprendizagem de crianas em idade escolar. Escolas brasileiras apresentam nveis de

    rudo acima do recomendado para conforto acstico, o que pode interferir no processo

    de aprendizado. Objetivo: Investigar o efeito do rudo ambiental nos movimentos

    sacdicos, na ateno concentrada e na leitura em um grupo de crianas sem alteraes

    de leitura e escrita. Mtodos: Foram avaliadas 42 crianas com idades entre 9 e 10

    anos, sem alteraes auditivas, visuais ou de leitura e escrita. Os movimentos sacdicos

    foram avaliados atravs da Eletronistagmografia; a ateno foi pelo Teste de Ateno

    por Cancelamento e a leitura foi avaliada atravs de um texto da Prova Brasil. Os testes

    foram realizados na situao de silncio e com rudo de fundo de 76 dB (A) e 95 dB

    (A), previamente medidos na sala de aula. Resultados: O rudo no causou efeitos

    significantes na velocidade, na preciso e na latncia dos movimentos sacdicos, bem

    como no nmero de erros, acertos, omisses e ausncias no teste de ateno. Na prova

    de leitura foram encontradas diferenas na velocidade na presena de rudo. Quando

    expostas a rudos de 76 dB (A) e 95 dB (A) as crianas leram menos palavras por

    minuto do que no silncio. Concluso: O efeito no significativo do rudo nos testes

    realizados, pode ser decorrente da exposio precoce ao rudo, causando um efeito de

    habituao ao rudo e pode-se pensar tambm que o tipo de distrador usado, rudo de

    cafeteria, no foi suficiente para provocar os efeitos esperados.

    Palavras chave: movimentos sacdicos, leitura, ateno, eletronistagmografia, audio,

    Fonoaudiologia.

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    Abstract

    Introduction: Noise can adversely affect cognitive performance, influencing in

    cognition, short-term memory, attention, executive functions, reading and writing,

    impairing cognitive performance and learning in children school age. Brazilian schools

    have noise levels above the recommended for acoustic comfort, which can interfere

    with the learning process. Objective: To investigate the effect of environmental noise in

    saccades, in concentrated and reading in a group of children with reading and writing

    alterations attention. Methods: We evaluated 42 children aged 9 to 10 years no hearing

    impairment, visual or reading and writing. Saccades were evaluated by

    Electronystagmography; attention was measured by Attention Test for Cancellation and

    the reading was assessed using Prova Brasil text. The tests were performed in the

    situation of silence and background noise of 76 dB (A) and 95 dB (A), previously

    measured in the classroom. Results: Noise caused no significant effect on speed,

    accuracy and latency of saccadic movements as well as the number of errors, successes,

    omissions and absences in attention test. In reading test were found differences in speed

    in the presence of noise. When exposed to 76 dB (A) and 95 dB (A) children read fewer

    words per minute than in silence. Conclusion: No significant noise effect in the tests,

    may be due to early exposure to noise, causing a habituation to noise. One can also

    think that the type of distractor used, cafeteria noise, was not enough to bring about the

    expected effects.

    Keywords: saccades, reading, attention, electronystagmography, hearing, Speech,

    Language and Hearing Sciences

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    APRESENTAO DA TESE

    Atendendo solicitao do Programa de Estudos Ps-Graduados em

    Fonoaudiologia da PUC-SP, a apresentao da tese deve ser em formato de estudos.

    Sendo assim, esta tese composta por trs estudos que sero apresentados

    individualmente no decorrer da tese.

    A poluio sonora, em termos de gravidade apenas perde para a poluio do ar e

    da gua e vem se agravando ao longo do tempo, reduzindo a qualidade de vida

    especialmente nas grandes cidades.

    O rudo tem impacto nos aspectos fsicos e psquicos do homem. Dentre os

    diversos efeitos causa distrbios de sono, efeitos cardiovasculares, perda auditiva,

    zumbido e tem impacto negativo no desempenho cognitivo. Crianas expostas ao rudo

    so mais propensas a apresentar deficincias na ateno, na memria, na habilidade para

    resolver problemas e no aprendizado da leitura. Esses impactos adversos do rudo sobre

    o desempenho cognitivo podem levar a uma reduo do desempenho na aprendizagem

    escolar (Organizao Mundial de Sade- OMS, 1999; Boman, Enmarker, Hygee, 2005).

    As escolas brasileiras apresentam elevados nveis de rudo, especialmente nas

    primeiras sries escolares, valores muito alm dos nveis recomendados para que haja

    conforto acstico, boa inteligibilidade de fala e desempenho adequado no processo de

    aprendizagem (Dreossi, 2000; Martins, 2005; Clark et al., 2006).

    Sabe-se que o ambiente acstico em uma sala de aula ou outro ambiente

    educacional uma varivel crtica para o desenvolvimento acadmico, psicoeducacional

    e psicossocial de crianas com audio normal, assim como de crianas com perda

    auditiva e / ou outras deficincias (por exemplo, transtornos do processamento auditivo,

    dificuldades de aprendizagem, distrbios de dficit de ateno). Nveis inadequados de

    reverberao e / ou rudo podem prejudicar a percepo de fala, a leitura, o desempenho

    escolar, o comportamento em sala de aula, a ateno e a concentrao. Alm de

    comprometer o desempenho do aluno, a acstica da sala de aula tambm pode afetar

    negativamente o desempenho dos professores e aumentar patologias vocais e

    absentesmo (American Speech-Language-Hearing Association- ASHA, 2005).

    Os efeitos negativos do rudo podem ter maior impacto nas crianas,

    principalmente em fase de alfabetizao, j que estas ao lerem em ambiente ruidoso,

    apresentam maior dificuldade para a concentrao e por isso cometem mais erros

    relacionados, por exemplo, entonao, pontuao e autocorreo, diferentemente do

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    que ocorre na leitura realizada em ambiente silencioso. Diferentemente do que ocorre na

    leitura realizada em ambiente silencioso (Dreossi, 2000; Clark et al., 2006).

    A leitura uma atividade multissensorial, que envolve diversos processos, entre

    eles ateno e percepo visual, movimento ocular, associao visuo-auditiva e

    memria visual e auditiva. Tambm uma atividade dinmica na qual os olhos realizam

    movimentos de fixao e movimentos rpidos (sacdicos ou sacadas) para extrair

    informao (Rayner et al., 1996; Starr e Rayner, 2001; Etchepareborda, 2003).

    Considerando os efeitos adversos do rudo no processo de leitura, ateno e

    movimentos oculares, esta pesquisa teve trs objetivos e foi dividida em trs estudos:

    Estudo 1- Influencia do rudo ambiental nos movimentos sacdicos;

    Estudo 2- Influencia do rudo ambiental na ateno concentrada;

    Estudo 3: Influncia do rudo ambiental na leitura

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    SUMRIO

    1.Estudo 1: INFLUENCIA DO RUDO AMBIENTAL NOS MOVIMENTOS

    SACDICOS....................................................................................................................1

    Objetivo.............................................................................................................................2

    Mtodo...............................................................................................................................2

    Resultados..........................................................................................................................6

    Discusso.........................................................................................................................18

    Concluso........................................................................................................................22

    Referncias Bibliogrficas...............................................................................................22

    2.ESTUDO 2- INFLUENCIA DO RUDO AMBIENTAL NA ATENO

    CONCENTRADA..........................................................................................................25

    Objetivo...........................................................................................................................27

    Mtodo.............................................................................................................................27

    Resultados........................................................................................................................30

    Discusso.........................................................................................................................33

    Concluso........................................................................................................................35

    Referncias Bibliogrficas...............................................................................................35

    3.ESTUDO 3- INFLUENCIA DO RUDO AMBIENTAL NA

    LEITURA.......................................................................................................................39

    Objetivo...........................................................................................................................43

    Mtodo.............................................................................................................................43

    Resultados........................................................................................................................46

    Discusso.........................................................................................................................55

    Concluso........................................................................................................................57

    Referncias Bibliogrficas...............................................................................................58

    4.CONCLUSO GERAL.............................................................................................60

    5.ANEXOS......................................................................................................................61

    Anexo 1. Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.................................................61

    Anexo 2. Triagem visual- Escala de Sinais de Snellen....................................................63

    Anexo 3. Eletronistagmografia........................................................................................64

    Anexo 4. Texto utilizado para a prova de leitura............................................................65

    Anexo 5. Teste de Ateno por Cancelamento................................................................67

    Anexo 6. Autorizao da escola para realizao da pesquisa..........................................70

    Anexo 7. Parecer Consubstanciado do Comit de tica em Pesquisa.............................71

  • xiii

  • 1

    Estudo 1: INFLUENCIA DO RUDO AMBIENTAL NOS

    MOVIMENTOS SACDICOS

    A leitura uma atividade multissensorial e durante sua realizao diversos

    processos esto envolvidos, entre eles: ateno e percepo visual, movimento ocular,

    associao visuo-auditiva, reconhecimento auditivo, processamento fonolgico,

    memria visual e auditiva, expresso oral, reconhecimento auditivo e processos verbais

    superiores (Etchepareborda, 2003).

    Embora a leitura parea ser um processo fluido e contnuo, na realidade no o .

    um processo mental complicado e dinmico no qual o leitor move ativamente seus

    olhos para extrair informaes para a compreenso. Nesse processo, os olhos realizam

    movimentos de fixaes, breves perodos de tempo durante os quais os olhos

    permanecem estveis, examinando uma pequena rea do estmulo. Os olhos realizam

    tambm movimentos sacdicos ou sacadas, que so movimentos oculares rpidos dos

    quais os olhos saltam de um local para outro e que tem a finalidade de posicionar a

    imagem sobre a fvea, ou seja, so os movimentos que os olhos executam para a rea de

    fixao. Durante cada fixao, decises tm que ser tomadas sobre quando mover os

    olhos e para onde os direcionar (Rayner et al., 1996; Starr e Rayner, 2001).

    Esses movimentos dos olhos mudam em leitores mais ou menos eficientes e a

    anlise do padro do movimento ocular ajuda a diferenciar leitores competentes

    daqueles com dificuldades de leitura (Rayner et al., 1996; Rayner, 1998; Starr e Rayner,

    2001; Macedo et al., 2007).

    A Eletronistagmografia (ENG) um mtodo empregado para o registro dos

    movimentos oculares. Utiliza o princpio da variao de potencial crneo-retinal durante

    a movimentao dos olhos para gravar e analisar caractersticas do comportamento

    funcional do reflexo vestbulo-ocular e dos sistemas visuais sacdico, de perseguio,

    optocintico e de fixao. Dentre as provas da ENG fazem parte a pesquisa dos

    movimentos sacdicos, a pesquisa de nistagmo espontneo, semi-espontneo e

    optocintico e o rastreio pendular (Ganana, Caovilla, Ganana, 2010).

    O movimento sacdico pode ser apresentado de forma fixa, com o alvo com

    movimentao de mesma amplitude e intervalo de tempo e de forma randomizada, com

    alvo com movimentao aleatria quanto amplitude e intervalo de tempo. Alm da

    anlise qualitativa dos traados obtidos nas provas, os equipamentos digitais permitem a

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    anlise da latncia, preciso ou acurcia e velocidade dos movimentos oculares,

    ampliando os parmetros de avaliao (Zeigelboim, 2011; Mor, Fragoso, 2012; Nishino,

    2013).

    O rudo tem impactos negativos no processo de leitura e esses podem ter maiores

    nas crianas, principalmente em fase de alfabetizao. Isso porque as crianas ao lerem

    em ambiente ruidoso, apresentam maior dificuldade para manter sua concentrao e

    cometem mais erros relacionados, por exemplo, entonao, pontuao e auto-correo,

    diferentemente do que ocorre na leitura realizada em ambiente silencioso. No Brasil, as

    escolas apresentam elevados nveis de rudo, especialmente nas primeiras sries

    escolares, valores estes muito alm dos nveis recomendados para que haja conforto

    acstico e adequado desempenho durante as atividades escolares (Dreossi, 2000;

    Martins, 2005; Clark et al., 2006, American Speech-Language-Hearing Association-

    ASHA, 2005; Associao Brasileira de Normas Tcnicas- ABNT, 1987).

    Os estudos mostram que: o nvel de rudo presente nas salas de aula est acima

    do recomendado pelas normas de conforto acstico da ABNT; que o rudo interfere no

    desempenho da leitura da criana; que a leitura est diretamente relacionada aos

    movimentos sacdicos do olho, nossa hiptese nesse estudo de que o rudo presente na

    sala de aula interfere na medida do movimento sacdico da criana. O objetivo deste

    estudo foi avaliar os efeitos do rudo ambiental nos movimentos sacdicos de um grupo

    de crianas por meio das medidas eletronistagmogrficas.

    MTODO

    O projeto de pesquisa foi aprovado pelo Comit de tica em Pesquisa sob

    nmero 22163714.0.0000.5482. A pesquisa foi do tipo prospectiva, descritiva,

    exploratria e quantitativa, realizada em uma sala silenciosa de uma escola estadual da

    cidade de So Paulo. Os responsveis pelos sujeitos do estudo assinaram o Termo de

    Consentimento Livre e Esclarecido e as crianas assinaram o Termo de Assentimento

    para participao no estudo.

    Participaram da pesquisa 42 alunos, do sexo masculino e feminino, com nove e

    dez anos de idade cursando o 4 ano do ensino fundamental. Foram includos na

    pesquisa alunos sem dificuldades escolares, de leitura ou escrita e excludas crianas

    com alteraes visuais e auditivas e aquelas cujos responsveis no permitiram a

    participao das mesmas no estudo.

  • 3

    Para seleo da amostra os sujeitos foram avaliados atravs de triagem da

    acuidade visual realizada atravs da Escala de Sinais de Snellen. Foi considerada normal

    a acuidade maior do que 0,7 em cada olho.

    Para excluir quaisquer alteraes auditivas e sua influncia no desempenho

    escolar, os sujeitos foram avaliados por meio da audiometria tonal e vocal e

    imitanciometria. Os resultados foram classificados segundo os critrios de Northern;

    Downs (2005) para classificao de grau de perda auditiva na audiometria tonal e Jerger

    (1970) para classificao das curvas timpanomtricas. Foram considerados limiares

    audiomtricos dentro dos padres de normalidade (para a mdia de 500 Hz a 4000 Hz)

    at 15 dB NA, timpanometria tipo A e presena de reflexos acsticos na via aferente

    contralateral para as frequncias de 500 Hz,1000 Hz e 2000 Hz, em ambas as orelhas.

    Antes do registro dos movimentos sacdicos, foram registrados os nveis de

    presso sonora em salas de aula do 4 ano do ensino fundamental da Escola Estadual

    Pedro Voss, localizada na cidade de So Paulo. A medio foi realizada nos perodos da

    manh e da tarde, em diferentes pontos (frente, meio e fundo da sala), durante as aulas e

    o intervalo por meio de um equipamento medidor de presso sonora (Decibelmetro),

    calibrado de acordo com as normas nacionais NBR 10.151 e NBR 10.152 (ABNT,

    1987).

    As respostas foram registradas com a curva de ponderao A, por apresentar

    resposta mais prxima do ouvido humano e leitura lenta (slow), pela ocorrncia de

    situaes de grande flutuao de intensidade sonora presentes em sala de aula. Os nveis

    de presso sonora foram medidos e analisados automaticamente pelo equipamento. O

    nvel de presso sonora equivalente (LAeq) do rudo obtido em sala de aula foi utilizado

    nas etapas seguintes da pesquisa.

    Cada sala de aula continha entre 25 e 30 alunos e todos permanecem na escola

    em tempo integral. Foram encontrados valores mnimos de 70 dB (A), mediana de 76dB

    (A) e mximo de 95 dB (A) e no houve diferena nos nveis de rudo quando medidos

    no perodo da manh e da tarde.

    A pesquisa dos movimentos sacdicos foi utilizado o equipamento

    vectonistagmgrafo digital computadorizado (SCE Nistagmus) e estimulador visual

    SCE, ambos da marca Contronic. As crianas foram avaliadas sentadas

    confortavelmente em uma cadeira em uma sala silenciosa da escola com iluminao

    controlada. A barra luminosa foi posicionada a um metro de distncia e sua altura foi

    regulada na altura dos olhos de cada criana (Figura 1). A colocao dos eletrodos se

  • 4

    deu com a limpeza da pele com gaze embebida em lcool e fixao dos mesmos pele

    com fita micro porosa, sendo dois eletrodos em posio frontal mediana (um deles

    sendo o eletrodo terra) e dois eletrodos em regio temporal dos olhos (um direita e

    outro esquerda) (Figura 2). Em seguida, foi medida a impedncia em cada interface

    eletrodo-pele.

    Foram realizadas as seguintes provas da vectoeletronistagmografia

    computadorizada:

    _Movimentos sacdicos fixos: a criana foi orientada a olhar, alternadamente,

    para dois pontos luminosos que se moviam a uma velocidade de 0,5 Hz, 10 direita e

    esquerda da barra de led posicionada sua frente. Esta prova foi utilizada como

    calibrao para os movimentos sacdicos aleatrios;

    _Movimentos sacdicos aleatrios: a criana foi orientada a olhar para um ponto

    luminoso, que se movia a uma velocidade de 0,5 Hz de forma randomizada na barra de

    led.

    Foi solicitado criana que no mexesse a cabea e tentasse piscar o mnimo

    possvel. As provas incompletas e com traados de difcil anlise foram excludas. As

    provas foram realizadas em ordem aleatria nas situaes de silncio, com rudo

    ambiental mximo de 45 dB (A) e com rudo do tipo cafeteria apresentado com fones de

    ouvido do tipo TDH39 com intensidades de 76 dB (A) e 95 dB (A), medidos

    anteriormente na sala de aula.

    Os tipos de movimentos sacdicos analisados em todos os indivduos foram os

    horizontais randomizados. A anlise dos sacdicos verticais no foi includa no presente

    estudo, j que este estudo pretende fazer um paralelo entre os movimentos sacdicos e a

    movimentao ocular realizada durante a leitura. Para cada prova foi selecionado o

    trecho com o melhor traado e foram realizadas anlises manuais de: nmero de sacadas

    (diferena entre as sacadas realizadas pela criana e as fornecidas pelo equipamento);

    latncia (mensurada em milissegundos- ms); velocidade de pico (em graus por segundo-

    /s) e acurcia (ou preciso em porcentagem-%) com movimentao ocular em 10.

    Os dados foram analisados considerando as trs condies de realizao do teste

    (Fase 1- silncio, 76 dB (A) e 95 dB (A)) e apenas a primeira condio de realizao

    (Fase 2- silncio ou 76 dB (A) ou 95 dB (A)).

    1 Fase do Estudo - Anlise Descritiva das Condies de Silncio e Rudo

  • 5

    Foram analisados os valores de velocidade, latncia e a relao entre o nmero

    de sacadas detectadas pela criana e o nmero de sacadas apresentadas pelo

    equipamento na prova de movimento sacdico aleatrio nas condies de silncio e

    rudo. As crianas foram avaliadas trs vezes (momentos 1, 2 e 3) em cada condio do

    teste (silncio, rudo em 76 dB (A) e 95 dB (A)) para descartar o efeito do cansao ou

    aprendizado durante a tarefa.

    A anlise dos dados foi realizada em duas etapas: descritiva e inferencial.

    Na anlise descritiva foram construdas tabelas e grficos com o objetivo de

    explorar o comportamento das variveis nmero de sacadas (Bussab e Morettin, 2013).

    Na anlise inferencial, foi ajustado um modelo normal com medidas repetidas e

    dois fatores fixos (Condio e Momento). Os efeitos dos indivduos foram considerados

    aleatrios e os fatores fixos como fatores de medidas repetidas. O uso de um modelo de

    medidas repetidas para a anlise dos dados pode ser justificado ao notarmos que todos

    os indivduos foram avaliados nas trs condies e em trs momentos (Kutner et al.,

    2004; Winer et al., 1991).

    A verificao da adequao do ajuste do modelo foi realizada por meio da

    construo do grfico de probabilidades para os resduos condicionais, conforme

    sugerido em Kutner et al. (2004). O modelo mostrou-se bem ajustado.

    O nvel de significncia adotado para todos os testes de hipteses realizados foi

    igual a 5%.

    2 Fase do Estudo 1- Anlise Descritiva somente primeira condio

    Nesta etapa do estudo foi analisada apenas a primeira condio de realizao do

    teste. Sendo assim, as crianas foram divididas em grupos de acordo com a condio do

    teste (silncio, rudo em 76 dB (A) e 95 dB (A)).

    A anlise dos dados foi realizada em duas etapas: descritiva e inferencial.

    Na anlise descritiva foi construda uma tabela e um grfico com o objetivo de

    explorar o comportamento da varivel Nmero de sacadas (Bussab e Morettin, 2013).

    Na anlise inferencial, foi aplicado o teste de Kruskal-Wallis para comparar a

    mediana da varivel Nmero de sacadas sob as trs condies. O uso do teste de

    Kruskal-Wallis pode ser justificado ao notarmos que a varivel Nmero de sacadas no

    segue uma distribuio normal sob as trs condies (Kutner et al., 2004).

  • 6

    O nvel de significncia adotado para todos os testes de hipteses realizados foi

    igual a 5%.

    RESULTADOS

    1 Fase do Estudo - Anlise Descritiva das Condies de Silncio e Rudo

    Nmero de sacadas

    A Tabela 1 mostra que as medidas descritivas do nmero de sacadas so

    prximas, quando comparamos as trs condies em cada perodo. J a mdia e a

    mediana do nmero de sacadas no momento 1 so, em geral, maiores do que nos demais

    momentos, para as trs condies.

    Tabela 1. Estatsticas descritivas para o nmero de sacadas.

    Condio Momento n Mdia DP* Moda n Moda Mnimo Mediana Mximo

    1 42 23,17 11,78 19 4 7 19 49

    Silncio 2 42 19,71 11,53 12 3 2 18 51

    3 42 22,57 13,70 18; 22 3 1 20 58

    1 42 24,36 13,51 19; 39 3 1 24 57

    76 dB(A) 2 42 22,14 13,09 8; 19; 32 3 3 19 65

    3 42 22,93 11,18 18; 23; 29 4 0 23 52

    1 42 23,07 11,76 28 4 3 24 52

    95 dB(A) 2 42 22,14 13,07 19; 23; 32 3 3 19 66

    3 42 22,57 13,62 20; 30 3 2 20 63

    n: nmero de indivduos; DP: desvio padro; n Moda: frequncia da Moda.

  • 7

    Condio

    Momento

    321

    321321321

    70

    60

    50

    40

    30

    20

    10

    0

    N

    mero

    de s

    acad

    as

    Crculo cheio: mediana; Crculo vazado: mdia

    Figura 1. Boxplot para o Nmero de sacadas por momento e condio.

    Pela anlise inferencial, podemos concluir que no h evidncia (valor-p =

    0,499) de efeito de Condio. O comportamento da mdia do nmero de sacadas sob as

    trs condies pode ser considerado o mesmo, mas h evidncia de efeito de momento

    (valor-p = 0,016). Pela Tabela 2, observa-se que a diferena de mdia das sacadas foram

    encontradas apenas entre os momentos 1 e 2. Neste caso, a mdia de sacadas no

    momento 1 (23,53) maior do que no momento 2 (21,33).

    Tabela 2. Valores-p dos testes t- Student para a diferena de mdias do nmero de

    sacadas sob os diferentes momentos.

    Diferena

    de mdias

    Valor-p

    MdiaMomento 1 Mdia Momento 2 0,042

    Mdia Momento 1 Mdia Momento 3 0,625

    Mdia Momento 3 Mdia Momento 2 0,295

    Velocidade das Sacadas (/s)

    A Tabela 1 e a Figura 1 mostram que as medidas da Velocidade (/s) so

    prximas.

  • 8

    Tabela 1. Estatsticas descritivas para a Velocidade (/s).

    Condio Olho Momento n

    Mdia

    DP Moda N

    Moda Mnimo Mediana Mximo

    Silncio

    1 42 267,02 30,78 290 9 200 275 310

    D 2 42 268,57 32,65 290 12 200 285 300

    3 42 270,48 34,50 300 12 200 290 310

    1 42 265,48 35,35 300 9 200 280 310

    E 2 42 269,76 29,34 290 11 200 280 300

    3 42 266,67 31,21 290 9 200 280 310

    76 dB(A)

    1 42 267,38 41,32 290 9 120 280 370

    D 2 42 268,10 33,15 300 9 210 280 320

    3 42 267,62 38,24 300 13 170 285 300

    1 42 253,33 40,22 200 7 140 265 300

    E 2 42 260,48 37,67 290 8 160 270 310

    3 42 259,52 33,56 270;

    280; 300

    6 200 270 320

    95 dB(A)

    1 42 260,71 37,51 290; 300 7 190 270 310

    D 2 42 265,95 35,41 290; 300 7 190 270 320

    3 42 267,62 37,53 300 10 190 280 310

    1 42 264,17 32,94 300 7 200 270 310

    E 2 42 261,67 37,86 290 7 180 270 350

    3 42 259,76 40,86 280; 290 7 150 265 370

    D: direita; E: esquerda; n: nmero de indivduos; DP: desvio padro; n Moda: frequncia da

    Moda.

    Figura 1. Boxplot para a Velocidade (/s) por Condio, Olho e Momento.

    Condio

    Orelha

    Momento

    321

    EsquerdaDireitaEsquerdaDireitaEsquerdaDireita

    321321321321321321

    400

    350

    300

    250

    200

    150

    100

    Velo

    cid

    ad

    e (

    o/s

    )

    Crculo cheio: mediana; Crculo vazado: mdia

  • 9

    Pelos resultados da anlise inferencial, podemos concluir que no h evidncia

    (valor-p = 0,353) de efeito de condio. O comportamento da mdia do nmero de

    sacadas sob as trs condies pode ser considerado o mesmo. Nem de efeito de

    momento (valor-p = 0,596). No entanto, h evidncia de efeito de olho (valor-p =

    0,013). Sendo que a mdia da velocidade no olho direito (267,05) maior do que no

    esquerdo (262,31).

    Latncia (ms)

    A Tabela 2 e a Figura 2 mostram que as medidas descritivas da Latncia (ms)

    so prximas. Como os valores-p de todas as comparaes foram superiores ou iguais a

    0,159, podemos concluir que no h efeito de momento, olho ou condio sobre a

    mediana populacional da latncia.

    Tabela 2. Estatsticas descritivas para a Latncia (ms).

    Condio Olho Momento n Mdia DP Moda n Moda Mnimo Mediana Mximo

    Silncio

    1 42 164,76 27,43 150 18 120 150 250

    D 2 42 169,36 26,10 150 10 130 160 250

    3 42 165,95 35,27 150 14 100 150 290

    1 42 168,33 35,95 150 15 100 150 250

    E 2 42 166,67 33,62 150 18 100 150 260

    3 42 170,95 31,22 150 13 140 160 270

    76 dB(A)

    1 42 166,90 35,16 150 23 130 150 290

    D 2 42 164,76 29,73 150 15 140 150 250

    3 42 153,40 25,11 140 14 90 150 210

    1 42 169,29 33,96 150 16 120 150 290

    E 2 42 161,19 28,98 150 20 120 150 260

    3 42 162,86 27,87 150 19 110 150 240

    95 dB(A)

    1 42 164,29 36,30 150 14 110 150 280

    D 2 42 163,64 34,67 150 16 110 150 310

    3 42 163,81 28,71 150 16 130 150 270

    1 42 166,55 29,19 150 11 130 160 270

    E 2 42 160,24 27,00 150 14 100 150 240

    3 42 161,79 27,76 150 14 110 150 250

    D: direito; E: esquerdo; n: nmero de indivduos; DP: desvio padro; n Moda: frequncia da

    Moda.

  • 10

    Condio

    Orelha

    Momento

    321

    EsquerdaDireitaEsquerdaDireitaEsquerdaDireita

    321321321321321321

    300

    250

    200

    150

    100

    Lat

    ncia

    (m

    s)

    Crculo cheio: mediana; Crculo vazado: mdia

    Figura 2. Boxplot para a Latncia (ms) por Condio, Olho e Momento.

    Teste no paramtrico de Friedman

    Acurcia (%)

    A Tabela 3 e a Figura 3 mostram que as medidas descritivas da Acurcia (%) so

    prximas. Podemos concluir que no h efeito de momento, olho ou condio sobre a

    mediana populacional da acurcia.

    Tabela 3. Estatsticas descritivas para a Acurcia (%).

    Condio Olho Momento n

    Mdia

    DP Moda n

    Moda Mnimo Mediana Mximo

    Silncio

    1 42 90,24 25,13 80 12 40 85 140

    D 2 42 89,05 23,25 80 12 30 80 140

    3 42 92,86 25,81 120 9 50 90 140

    1 42 94,52 23,58 80 11 50 90 150

    E 2 42 94.64 23,59 80 11 60 93 140

    3 42 91,55 23,59 80;120 8 30 90 130

    76 dB(A)

    1 42 90,24 20,66 80 10 50 90 140

    D 2 42 96,31 24,37 80 8 50 95 160

    3 42 96,19 25,66 100 9 40 100 150

    1 42 94,29 27,86 80 10 40 95 150

    E 2 42 89,76 29,75 80 13 40 80 160

  • 11

    3 42 95,83 25,28 100 9 40 100 140

    95 dB(A)

    1 42 96,79 20,48 90 10 60 95 150

    D 2 42 94,17 26,69 70; 80;

    100; 120

    6 50 90 160

    3 42 95,60 23,12 80 12 60 90 150

    1 42 95,95 27,77 90; 100;

    110

    6 40 100 150

    E 2 42 90,60 25,43 80 11 40 90 140

    3 42 92,62 22,75 80 15 40 90 140

    D: direito; E: esquerdo; n: nmero de indivduos; DP: desvio padro; n Moda: frequncia da

    Moda.

    Condio

    Orelha

    Momento

    321

    EsquerdaDireitaEsquerdaDireitaEsquerdaDireita

    321321321321321321

    160

    140

    120

    100

    80

    60

    40

    20

    Acu

    rcia

    (%

    )

    Crculo cheio: mediana; Crculo vazado: mdia

    Figura 3. Boxplot para a Acurcia (%) por Condio, Olho e Momento.

    Teste no paramtrico de Friedman

    2 Fase do Estudo 1- Anlise Descritiva somente primeira condio

  • 12

    Nesta etapa do estudo foi analisada apenas a primeira condio de realizao do

    teste. Sendo assim, as crianas foram divididas em grupos de acordo com a condio do

    teste (silncio e rudo em 76 dB (A) e 95 dB (A).

    Nmero de sacadas

    A Tabela 1 mostra que as medidas descritivas do nmero de sacadas so

    prximas, quando comparamos as trs condies, em cada perodo. J a mdia e a

    mediana do nmero de sacadas no momento 1 so, em geral, maiores do que nos demais

    momentos, para as trs condies.

    Tabela 1. Estatsticas descritivas para o Nmero de sacadas.

    Condio n Mdia DP* Moda n Moda Mnimo Mediana Mximo

    Silncio 15 23,80 13,28 7; 22 2 7 22,0 45

    76 dB(A) 14 26,93 8,79 19 3 19 23,5 47

    95 dB(A) 13 20,31 9,91 10; 12 2 9 18,0 39

    n: nmero de indivduos; DP: desvio padro; n Moda: frequncia da Moda.

    Teste no paramtrico de Kruskal-Wallis valor-p = 0,228

    c95dBb76dBaSilncio

    50

    40

    30

    20

    10

    Condio

    N

    mero

    de s

    acad

    as

    Crculo cheio: mediana; Crculo vazado: mdia

    Figura 1. Boxplot para o Nmero de sacadas por condio.

  • 13

    Pela anlise inferencial, podemos concluir que no h evidncia de efeito de

    condio. A mediana do nmero de sacadas sob as trs condies pode ser considerada

    a mesma.

    Velocidade (/s)

    A Tabela 1 e a Figura 1 mostram medidas descritivas da Velocidade (/s).

    Tabela 1. Estatsticas descritivas para a Velocidade (o/s).

    Condio Orelha n Mdia DP Moda N Moda Mnimo Mediana Mximo

    Silncio D 15 274,33 28,84 290 4 200 285 300

    E 15 269,33 26,85 280 5 200 280 300

    76 dB(A) D 14 275,71 28,75 290; 300 4 220 290 300

    E 14 265,00 33,22 300 4 200 270 300

    95 dB(A) D 13 270,77 34,99 290 3 210 280 310

    E 13 258,08 29,97 250 4 210 250 300

    D: direita; E: esquerda; n: nmero de indivduos; DP: desvio padro; n Moda: frequncia da

    Moda.

    Condio

    Orelha

    95dB76dBSilncio

    OEODOEODOEOD

    320

    300

    280

    260

    240

    220

    200

    Velo

    cid

    ad

    e (

    o/s

    )

    Figura 1. Boxplot para a Velocidade (/s) por condio e olho.

  • 14

    Pelos resultados da anlise inferencial, podemos concluir que no h evidncia

    (valor-p = 0,774) de efeito de condio. A mdia da velocidade sob as trs condies

    pode ser considerada a mesma, mas h evidncia de efeito de olho (valor-p = 0,007).

    Sendo que a mdia da velocidade no olho direito (273,69/s) maior do que no

    esquerdo (264,40/s).

    Latncia (ms)

    A Tabela 2 e a Figura 2 mostram medidas descritivas da varivel latncia. Pela

    Tabela 3, podemos concluir que no h evidncia de diferena entre as medianas

    populacionais da varivel latncia para os olhos direito e esquerdo, para as trs

    condies (valores-p 0,285). Observando ainda a Tabela 3, comparando as medianas

    populacionais da varivel latncia sob as diferentes condies, duas a duas, observamos

    que h evidncia de que as medianas populacionais da varivel latncia sob as trs

    condies no so iguais (valor-p = 0,023). H evidncia de que as medianas

    populacionais da varivel latncia nas condies Silncio e 95 dB (A) no diferem

    (valor-p = 0,675) mas ambas so maiores do que a mediana populacional sob a condio

    76 dB (A) (valores-p 0,030).

    Tabela 2. Estatsticas descritivas para a Latncia (ms).

    Condio Olho n Mdia DP Moda N Moda Mnimo Mediana Mximo

    Silncio D 15 169,33 22,19 150 6 150 160 220

    E 15 164,67 33,35 150 6 140 150 260

    76 dB(A) D 14 149,29 6,16 150 9 140 150 160

    E 14 150,00 12,40 150 10 120 150 180

    95 dB(A) D 13 165,38 34,55 150 6 140 150 270

    E 13 165,00 29,58 150 5 140 150 250

    D: direita; E: esquerda; n: nmero de indivduos; DP: desvio padro; n Moda: frequncia da

    Moda.

    Teste no paramtrico de Friedman

  • 15

    Condio

    Orelha

    95dB76dBSilncio

    OEODOEODOEOD

    280

    260

    240

    220

    200

    180

    160

    140

    120

    100

    Lat

    ncia

    (m

    s)

    Figura 2. Boxplot para a Latncia (ms) por Condio e Olho.

    Teste no paramtrico de Friedman

    Tabela 3. Valores-p dos testes para a comparao das medianas populacionais da

    varivel Latncia (ms).

    Comparao Valor-p

    OD x OE Silncio 0,285

    OD x OE 76 dB(A) 0,655

    OD x OE 95 dB(A) 0,763

    Silncio x 76 dB(A) x 95 dB(A) 0,023

    Silncio x 76 dB(A) 0,012

    Silncio x 95 dB(A) 0,675

    76 dB x 95 dB(A) 0,030

    Teste no paramtrico de Kruskal-Wallis

  • 16

    95dB76dBSilncio

    275

    250

    225

    200

    175

    150

    Lat

    ncia

    (m

    s)

    Figura 3. Boxplot para a latncia (em milissegundos) por condio.

    Acurcia (%)

    A Tabela 4 e a Figura 4 mostram medidas descritivas da varivel acurcia. Pela

    Tabela 5 e da Figura 5, podemos concluir que no h evidncia de diferena entre as

    medianas populacionais da varivel acurcia sob os olhos direito e esquerdo, para as trs

    condies (valores-p 0,480).

    Tabela 4. Estatsticas descritivas para a acurcia (%).

    Condio Olho n Mdia DP Moda N Moda Mnimo Mediana Mximo

    Silncio D 15 93,67 20,74 80 6 70 85 140

    E 15 94,00 19,48 80 4 60 90 130

    76 dB(A) D 14 96,07 19,82 80; 100; 120 3 60 100 120

    E 14 95,00 27,67 80 5 40 90 140

    95 dB(A) D 13 86,54 17,00 90; 100 3 60 90 120

    E 13 83,46 20,95 80 4 50 80 120

    D: olho direito; E: olho esquerdo; n: nmero de indivduos; DP: desvio padro; n Moda:

    frequncia da Moda.

  • 17

    Grupo

    Orelha

    95dB76dBSilncio

    OEODOEODOEOD

    150

    125

    100

    75

    50

    Acu

    rcia

    (%

    )

    Figura 4. Boxplot para a Acurcia (%) por condio e olho.

    Tabela 5. Valores-p dos testes para a comparao das medianas populacionais da

    varivel Acurcia (%).

    Comparao Valor-p

    OD x OE Silncio 0,480

    OD x OE 76dB(A) 0,527

    OD x OE 95dB(A) 0,527

    Silncio x 76dB(A) x 95dB(A) 0,352

    Teste no paramtrico de Kruskal-Wallis

    95dB76dBSilncio

    150

    125

    100

    75

    50

    Acu

    rcia

    (%

    )

    Figura 5. Boxplot para a Acurcia (%) por Condio.

  • 18

    DISCUSSO

    O objetivo deste estudo foi analisar os movimentos sacdicos de crianas no

    silencio e na presena de rudo ambiental.

    Pesquisas brasileiras realizadas com crianas atravs da eletronistagmografia

    encontraram diferenas na movimentao ocular entre crianas com e sem dificuldade

    de leitura e escrita. No que se refere aos testes de oculomotricidade, houve diferena

    estatisticamente significante entre os grupos, com piora de desempenho das crianas

    com distrbios de aprendizagem. Os resultados demonstraram que alteraes na

    oculomotricidade, assim como mau desempenho do reflexo vestbulo-ocular, podem

    interferir na dificuldade do desenvolvimento da leitura e da escrita

    (Santos, Behlau, Caovilla, 1995; Ventura et al., 2009; Sales, Colafmina, 2014).

    Entretanto, no se podem comparar os valores obtidos nos estudos citados (realizados

    apenas no silencio) com a presente pesquisa, que foi realizada na presena de rudo.

    Para os leitores qualificados, a mdia do comprimento da sacada 7 a 9 espaos

    de letra e a durao mdia de cada fixao 200 a 250 ms (Rayner, 1998). Nesta

    pesquisa os valores para latncia no silncio variou entre 140-260; entre 120 e 180ms

    com 76 dB (A) e entre 140- 270ms com 95 dB (A).

    Durante a leitura fluente, scadas movem os olhos para que uma palavra possa

    ser centrada na retina de modo que ele pode ser mais eficazmente processada. No

    entanto, tanto o comprimento quanto a durao da fixao da scada, variam

    consideravelmente de palavra a palavra. A localizao das fixaes dos olhos dentro das

    palavras no aleatria, h um local de observao preferido. Os olhos dos leitores

    tendem a pousar em algum lugar entre o meio e o incio da palavra. Alm disso, para

    longas palavras, os leitores inicialmente fixam perto do incio da palavra ou em algum

    lugar entre o meio e o incio das palavras. Alm disso, para longas palavras, os leitores

    inicialmente ficam perto do incio da palavra e, em seguida, fazem um refixao perto

    do fim da palavra (Starr e Rayner, 2001).

    A anlise do padro do movimento ocular ajuda a discriminar leitores

    competentes daqueles com dificuldades de leitura. O padro de leitura dos movimentos

    oculares afetado por propriedades psicolingusticas da palavra, tais como:

    comprimento, regularidade, frequncia e lexicalidade (Macedo et al., 2007).

    Macedo et al., (2007) analisaram os movimentos oculares durante a leitura de

    palavras e pseudopalavras em universitrios com idade mdia de 20 anos. Os autores

    http://pesquisa.bvsalud.org/portal/?lang=pt&q=au:%22Santos,%20Maria%20Thereza%20Mazorra%20dos%22http://pesquisa.bvsalud.org/portal/?lang=pt&q=au:%22Behlau,%20Mara%20Suzana%22http://pesquisa.bvsalud.org/portal/?lang=pt&q=au:%22Caovilla,%20Helo%C3%ADsa%20Helena%22

  • 19

    observaram influncia da frequncia e do tamanho das palavras nos movimentos

    oculares. O tempo da primeira fixao e da fixao total aumentou de acordo com a

    familiaridade do leitor com a palavra, sendo este mais curto nas palavras de alta

    frequncia e mais longo nas pseudopalavras. O nmero de fixaes tambm aumentou

    de acordo com o comprimento da palavra, semelhante ao que ocorre em outras lnguas.

    Com isso, os autores supem que na ausncia de um contexto, o tempo de fixao total

    reflete o processamento lexical e semntico.

    A literatura demonstra que a fixao melhora com a idade, uma vez que o

    nmero de sacadas durante a fixao significativamente reduzida no grupo de sujeitos

    mais velhos (14-17 anos), quando comparados aos mais jovens (6-10 anos de idade)

    (Ajrezo, Wiener-Vacher, Bucci, 2013). A acurcia da latncia em crianas atinge

    valores similares aos de adultos por volta dos 8 anos de idade (Munoz et al., 1998).

    O comprimento da palavra determina a localizao da primeira fixao. Assim

    como a maior familiaridade com a palavra e a maior previsibilidade contextual, levam

    diminuio na durao e no nmero de fixaes. H influncia das palavras nos

    movimentos oculares. O tempo da primeira fixao e da fixao total e tambm o

    nmero de fixaes dentro da palavra variam de acordo com a frequncia, o tamanho e a

    familiaridade do leitor com a palavra, sendo esse tempo menor nas palavras de alta

    frequncia e mais longo nas pseudopalavras e nas palavras maiores (Macedo et al.,

    2007; Monaghan, Ellis, 2002).

    Embora os valores para o nmero de sacadas, velocidade das sacadas, acurcia e

    latncia no sejam estatisticamente significantes entre as condies de silencio e rudo,

    observou-se que no silncio o nmero de sacadas apresentou valores de desvio-padro e

    mediana menores do que na presena de rudo. J a mdia e a mediana do nmero de

    sacadas no momento 1 so, em geral, maiores do que nos demais momentos, para as trs

    condies. Outra pequena diferena encontrada diz respeito ao efeito de olho para a

    velocidade, sendo que a mdia da velocidade no olho direito foi maior do que no

    esquerdo. Diferentemente do encontrado por outros pesquisadores brasileiros, cujos

    resultados foram maiores para o olho esquerdo (Franco, Panhoca, 2008).

    As pequenas diferenas obtidas no presente estudo podem ser explicadas pelo

    fato de a criana na primeira prova no ter entendido completamente a realizao do

    teste ou estar distrada, uma vez que a ateno est envolvida na execuo dos

    movimentos oculares sacdicos (Deubel, Schneider, 1996). Pode-se considerar que estas

    pequenas diferenas encontradas no presente estudo, deve-se a falta de ateno ou

    http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/?term=Ajrezo%20L%5BAuthor%5D&cauthor=true&cauthor_uid=24278379http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/?term=Wiener-Vacher%20S%5BAuthor%5D&cauthor=true&cauthor_uid=24278379http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/?term=Bucci%20MP%5BAuthor%5D&cauthor=true&cauthor_uid=24278379http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC4879146/#B42

  • 20

    distrao por parte da criana durante a realizao do teste. Quanto aos valores de

    latncia, os valores encontrados foram abaixo dos obtidos por outros pesquisadores

    brasileiros em crianas (Bohlsen, 2002; Sales, Colafmina, 2014), mas prximos aos

    obtidos em adultos (Mezzalira et al., 2005).

    Outra pesquisa registrou a movimentao ocular na presena de rudo babble

    apresentado em 50 dB NPS (nvel de presso sonora) e 70 dB NPS e no silncio durante

    uma tarefa de leitura de textos. Os resultados obtidos, no mostraram efeito negativo do

    rudo sobre a durao de fixao, a amplitude sacdica e as regresses realizadas

    durante a leitura. Entretanto, houve um efeito significativo sobre o tamanho da pupila e

    a frequncia de piscadas, alm de maior estresse relatado pelos participantes na

    presena de rudo de 70 dB NPS (Strukelj et al., 2012).

    As recomendaes nacionais (ABNT,1987) para conforto acstico em sala de

    aula determinam nveis de rudo inferiores a 35 dB (A), enquanto a ASHA (2005)

    preconiza valores de relao sinal/rudo de pelo menos +15 dB nas orelhas das crianas

    para que a aprendizagem possa ser mais eficiente. Isso porque pode haver piora na

    compreenso de fala com uma pequena diferena na relao sinal/rudo de apenas 5 dB

    (A). O processo de ensino e aprendizagem sofre interferncia, uma vez que no h um

    ambiente favorvel para a concentrao e entendimento da fala (Martins, 2005). Por

    outro lado, a melhora de 5 dB (A) na relao sinal/rudo favorece o reconhecimento de

    fala e o desempenho de crianas na tarefa de escrita de sentenas (Silva, 2011). Para a

    memria e leitura, uma reduo do nvel de rudo em 5 dB NA dentro da gama de 65-80

    dB NA melhora o desempenho em quase 10%. Esses impactos adversos do rudo sobre

    o desempenho cognitivo podem levar a uma reduo da produtividade no trabalho e do

    desempenho na aprendizagem escolar (OMS, 1999).

    A OMS recomendou em 2011, atravs do Community Noise Guidelines, que o

    rudo interno de uma sala de aula no ultrapassasse valores de LAeq35 dB. Entretanto,

    observa-se elevados nveis de rudos em escolas brasileiras, especialmente nas salas de

    aula das primeiras sries escolares. Os valores variaram entre 53,5 dB (A) e 103 dB (A)

    durante as atividades escolares e entre 41,9 dB (A) e 67,3 dB (A) durante o recesso

    escolar (Dreossi, Momensohn-Santos, 2004; Eniz, 2004; Martins, 2005; Libarti et al.,

    2006; Jaroszewski et al., 2007; Silva, 2011; Almeida Filho et al., 2012). No presente

    estudo foi utilizado o rudo de cafeteria com LAeq76 dB e LAeq95 dB, pois estes foram os

    valores medidos nas salas de aula do 4 ano na escola avaliada.

  • 21

    Outra possibilidade para a no diferena estatstica das sacadas na presena de

    rudo pode estar relacionada ao tipo de distrator utilizado. Estudos demonstraram que a

    a fonte de rudo mais perturbadora fala. Isso porque o efeito perturbador de um som

    determinado pela semelhana fonolgica entre o material a ser ensaiado e o material

    perturbador irrelevante. Sendo assim, pode-se supor que sons de fala causariam piores

    efeitos do que outros tipos de rudos, como o ruido de cafeteria, utilizado nesta

    pesquisa. Tarefas desempenhadas em ambientes ruidosos na presena de rudo de fala

    sofreram efeitos negativos, o que no aconteceu quando foi usado o rudo de banda

    larga (Salame, Baddeley, 1982; Haapakangas et al., 2008; Szalma, Hancock, 2011).

    Os efeitos dos sons de fala e outros que no de fala pode ser entendida em

    termos de um filtro e o sistema detector que seletivamente passa para memria sons que

    se assemelham a fala. Foi sugerido um mecanismo em que o grau de interrupo

    proporcional similaridade fonolgica entre o material escrito e material que ouvido.

    Assim, apenas a fala, pode mostrar um efeito irrelevante na fala (Salame, Baddeley

    1982).

    Acredita-se ainda que a maneira como o teste nesta foi realizado tambm possa

    ter interferido nas respostas das crianas - durante o teste a criana precisa seguir luzes

    de led que so apresentadas em uma barra de forma fixa e randomizada. Porm essas

    luzes no ser consideradas estmulos significativos pelas crianas, diferentes de

    estmulos como palavras ou imagens e por isso podem no so ser atraentes e no ter

    despertado sua ateno como o esperado. Talvez se fosse usado outro tipo de material,

    como por exemplo, imagens ou mesmo palavras em invs de luz, teriam mais

    significado e chamariam mais a ateno da criana.

    CONCLUSO

    No foram encontradas diferenas estatisticamente significantes para o nmero

    de sacadas, velocidade, latncia e acurcia e dos movimentos sacdicos quando

    avaliados no silncio e na presena de rudo ambiental. Observou-se apenas diferena

    estatstica para velocidade, cujos valores foram maiores para o olho direito.

  • 22

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

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  • 25

    ESTUDO 2 INTERFERNCIA DO RUDO NA ATENO CONCENTRADA

    A poluio sonora, em termos de gravidade apenas perde para a poluio do ar e

    da gua e vem se agravando ao longo do tempo, reduzindo a qualidade de vida

    especialmente nas grandes cidades. O rudo causa distrbios de sono, efeitos

    cardiovasculares, perda auditiva, zumbido e tem impacto negativo no desempenho

    cognitivo. Crianas expostas ao rudo podem ter deficincias na ateno, na memria,

    na habilidade de resolver problemas e no aprendizado da leitura. Para a memria e a

    leitura, uma reduo do nvel de rudo em 5 dB (A) dentro da faixa de 65 dB (A) a 80

    dB (A) melhora o desempenho em quase 10%. Esses impactos adversos do rudo sobre

    o desempenho cognitivo podem levar a uma reduo da produtividade no trabalho e do

    desempenho na aprendizagem escolar (Organizao Mundial da Sade, OMS, 1999;

    American Speech-Language-Hearing Association- ASHA, 2005).

    O ruido pode afetar negativamente o desempenho cognitivo, influenciando na

    cognio, na memria de curto prazo, ateno, nas funes executivas, na compreenso

    de leitura, na escrita e na auto-correo, prejudicando o desempenho cognitivo e a

    aprendizagem em crianas em idade escolar. Essas dificuldades, mesmo aps o fim da

    exposio ao rudo, podem persistir por algum tempo (OMS, 2011; Basner et al., 2014;

    Srqvist, 2015).

    Sabe-se que o ambiente acstico em uma sala de aula ou outro ambiente

    educacional uma varivel crtica para o desenvolvimento acadmico, psicoeducacional

    e psicossocial de crianas com audio normal, assim como de crianas com perda

    auditiva e / ou outras deficincias (por exemplo, transtornos do processamento auditivo,

    dificuldades de aprendizagem, distrbios de dficit de ateno). Nveis inadequados de

    reverberao e / ou rudo podem prejudicar a percepo de fala, a leitura, o desempenho

    escolar, o comportamento em sala de aula, a ateno e a concentrao. Alm de

    comprometer o desempenho do aluno, a acstica da sala de aula tambm pode afetar

    negativamente o desempenho dos professores e aumentar patologias vocais e

    absentesmo (ASHA, 2005). Pensando na necessidade do silncio e do conforto acstico

    me sala de aula para que as crianas possam aprender de forma adequada a Organizao

    Mundial da Sade (OMS, 2011) recomendou que o rudo de fundo de uma sala de aula

    no excedesse a LAeq35 dB. A realidade, no entanto, bastante diferente, tanto no Brasil

    como em outros pases do mundo (Dreossi, Momensohn-Santos, 2004; Eniz, 2004;

  • 26

    Martins, 2005; Libarti et al., 2006; Jaroszewski et al., 2007; Silva, 2011; Almeida Filho

    et al., 2012).

    A questo da ateno tem sido bastante pontuada em todos os momentos que se

    discute o impacto do rudo sobre a aprendizagem e sobre a vida escolar da criana. A

    ateno seletiva responsvel por facilitar a entrada de informaes relevantes e inibir

    estmulos no relevantes. O rudo acstico ambiental, mesmo de baixa ou moderada

    intensidade, afeta de forma adversa o processamento da informao em animais e

    humanos atravs do mecanismo da ateno (Trimmel, Schtzer, Trimmel, 2014). Este

    processamento da informao, atravs das funes de facilitao ou inibio ocorre no

    sistema nervoso central, que por sua vez, afetado por todo o processo de

    desenvolvimento da criana. No processo da ateno, a facilitao da informao

    relevante e a inibio da informao no relevante so vistas como mecanismos bsicos

    subjacentes da ateno seletiva (Milliken, Tipper, 1998).

    Existem dois sistemas de ateno que facilitam o processamento e selecionam

    informaes: o sistema "endgeno" (tambm conhecido como ateno sustentada) um

    sistema voluntrio que corresponde nossa capacidade de monitorar voluntariamente

    informaes em um determinado local; e, o sistema "exgeno" (conhecido como

    ateno transitria) um sistema involuntrio que corresponde a uma resposta de

    orientao automtica para um local onde ocorreu a estimulao sbita (Carrasco,

    2011).

    Sabe-se que as crianas so mais afetadas em tarefas auditivas e no auditivas

    (pois tm menor habilidade em ignorar sons irrelevantes) do que adultos por causa da

    imaturidade de sua habilidade de controle atencional. Dependendo da natureza da tarefa

    e/ou do som, esse comprometimento pode ser resultar em uma interferncia especfica

    em processos perceptivos e cognitivos envolvidos em uma tarefa focal e / ou em um

    processo mais geral de captura de ateno (Elliot, 2002; Klate et al., 2013). Os estudos

    mostram que o nvel de ateno concentrada tende a aumentar progressivamente

    conforme o aluno tambm progride em sua srie escolar (Carreiro et al, 2015; Benczik,

    Leal, Cardoso, 2016).

    O processo de ensino e aprendizagem sofre interferncia na presena de rudo,

    uma vez que no h um ambiente favorvel para a concentrao e entendimento da fala

    (Martins, 2005). Por outro lado, a melhora de 5 dB (A) na relao sinal/rudo favorece

    o reconhecimento de fala e o desempenho de crianas na tarefa de escrita de sentenas

    (Silva, 2011).

    http://pesquisa.bvsalud.org/portal/?lang=pt&q=au:%22Carreiro,%20Luiz%20Renato%20Rodrigues%22

  • 27

    Considerando os efeitos adversos do rudo sobre a ateno, o objetivo desta

    pesquisa foi investigar o efeito do rudo ambiental na ateno seletiva em um grupo de

    crianas.

    MTODO

    O projeto de pesquisa foi aprovado pelo Comit de tica em Pesquisa sob

    nmero 22163714.0.0000.5482. A pesquisa foi do tipo prospectiva, descritiva,

    exploratria e quantitativa, realizada na Escola Estadual Pedro Voss, em uma sala

    silenciosa. Os responsveis pelos sujeitos do estudo assinaram o Termo de

    Consentimento Livre e Esclarecido e as crianas assinaram o Termo de Assentimento

    para participao no estudo.

    Fizeram parta da amostra 42 crianas com idades entre 9 e 10 anos e que

    preencheram os seguintes critrios de incluso: apresentarem acuidade auditiva e visual

    normal, no apresentarem alteraes de desenvolvimento cognitivo aparentes, e

    dificuldades de leitura e escrita segundo critrio do professor da sala de aula. Foram

    includos na pesquisa alunos sem dificuldades escolares, de leitura ou escrita e excludas

    crianas com alteraes visuais e auditivas e aquelas cujos responsveis no permitirem

    a participao das mesmas no estudo.

    Para seleo da amostra os sujeitos foram avaliados atravs de triagem da

    acuidade visual realizada atravs da Escala de Sinais de Snellen. Foi considerada normal

    a acuidade maior do que 0,7 em cada olho.

    Para excluir quaisquer alteraes auditivas e sua influncia no desempenho

    escolar, os sujeitos foram avaliados por meio da audiometria tonal e vocal e

    imitanciometria. Os resultados foram classificados segundo os critrios de Northern,

    Downs (2005) para classificao de grau de perda auditiva na audiometria tonal e Jerger

    (1970) para classificao das curvas timpanomtricas. Foram considerados limiares

    audiomtricos dentro dos padres de normalidade (para a mdia de 500 Hz a 4000 Hz)

    at 15 dB NA, timpanometria tipo A e presena de reflexos acsticos na via aferente

    contralateral para as frequncias de 500 Hz,1000 Hz e 2000 Hz, em ambas as orelhas.

    Foram registrados os nveis de presso sonora em uma sala de aula do 4 ano do

    ensino fundamental da Escola Estadual Pedro Voss, localizada na cidade de So Paulo.

    A medio foi realizada nos perodos da manh e da tarde, em diferentes pontos (frente,

  • 28

    meio e fundo da sala), durante as aulas e o intervalo por meio de um equipamento

    medidor de presso sonora (Decibelmetro), calibrado de acordo com as normas

    nacionais NBR 10.151 e NBR 10.152 (ABNT, 1987).

    As respostas foram registradas com a curva de ponderao A, por apresentar

    resposta mais prxima do ouvido humano e leitura lenta (slow), pela ocorrncia de

    situaes de grande flutuao de intensidade sonora presentes em sala de aula. Os nveis

    de presso sonora foram medidos e analisados automaticamente pelo equipamento. O

    nvel de presso sonora equivalente (LAeq) do rudo obtido em sala de aula foi utilizado

    nas etapas seguintes da pesquisa.

    Cada sala de aula continha entre 25 e 30 alunos e todos permanecem na escola

    em tempo integral. Foram encontrados valores mnimos de 70 dB (A), mediana de 76

    dB (A) e mximo de 95 dB (A) e no houve diferena nos nveis de rudo quando

    medidos no perodo da manh e da tarde.

    O Teste de Ateno por Cancelamento (Montiel, Seabra, 2012, 2012) foi

    aplicado individualmente, em ordem aleatria de condio. Isto significa que a cada

    criana que chegava o procedimento era aplicado em uma condio diferente, ora no

    silncio, ora na condio de rudo a 76 dB (A), ora no rudo a 95 dB (A).

    O Teste de Ateno por Cancelamento consiste em trs matrizes impressas com

    diferentes tipos de estmulos. A tarefa assinalar todos os estmulos iguais ao estmulo-

    alvo previamente determinado. A primeira parte avalia a ateno seletiva e consiste em

    uma prova de cancelamento de figuras numa matriz impressa com seis tipos de

    estmulos (crculo, quadrado, tringulo, cruz, estrela, trao), num total de 300 figuras,

    aleatoriamente dispostas, sendo que a figura alvo indicada na parte superior da folha.

    A segunda parte avalia a ateno seletiva numa prova com maior grau de dificuldade,

    sendo que a tarefa semelhante da primeira parte, porm o estmulo alvo composto

    por figuras duplas. Na terceira diviso, o teste avalia a ateno alternada, ou a

    capacidade de mudar o foco de ateno. Nessa terceira parte, o estmulo-alvo muda a

    cada linha, sendo que a figura inicial de cada linha deve ser considerada o alvo. O

    nmero de vezes que o estmulo-alvo aparece dentre as alternativas muda a cada linha,

    variando de duas a seis vezes. O tempo mximo para execuo em cada parte da tarefa

    de um minuto.

    Cada parte que compe o teste foi dividida em trs blocos (que ficaram com 100

    figuras cada) e cada bloco foi realizado em uma das trs diferentes condies - silncio,

  • 29

    rudo em 76 e 95 dB A, restando 100 figuras para cada condio do teste. O tempo para

    realizao do teste em cada condio foi de 20 segundos.

    Os dados foram analisados considerando as trs condies de realizao do teste

    (Fase 1- silncio, 76 dB (A) e 95 dB (A)) e apenas a primeira condio de realizao

    (Fase 2- silncio ou 76 dB (A) ou 95 dB (A)).

    Anlise dos Dados

    Em cada uma das trs partes do Teste de Ateno por Cancelamento so

    computados trs diferentes escores, a saber, o nmero total de acertos, i.e., nmero de

    estmulos-alvo adequadamente cancelados; nmero de erros, i.e., o nmero de estmulos

    no alvo incorretamente cancelados; e o nmero de ausncias, i.e., o nmero de

    estmulos alvo que no foram cancelados. Neste estudo foi tambm utilizado um escore

    total para acertos, erros e ausncias referente soma dos respectivos escores nas trs

    partes constituintes do instrumento.

    A anlise estatstica dados foi realizada em duas etapas: descritiva e inferencial.

    Na anlise descritiva foram construdas tabelas e grficos com o objetivo de

    explorar o comportamento das variveis analisadas.

    Na anlise inferencial, para as variveis nmero de acertos e Nmero de

    ausncias no teste de ateno concentrada, foram ajustados modelos normais com

    medidas repetidas e um fator fixo (Condio). Os efeitos dos indivduos foram

    considerados aleatrios e o fator fixo como um fator de medidas repetidas. O uso de um

    modelo de medidas repetidas para a anlise dos dados pode ser justificado ao notarmos

    que todos os indivduos foram avaliados nas trs condies (Winer et al., 1991; Kutner

    et al., 2004).

    A verificao da adequao do ajuste do modelo foi realizada por meio da

    construo do grfico de probabilidades para os resduos condicionais, conforme

    sugerido por Kutner et al. (2004). Os modelos mostraram-se bem ajustados.

    A varivel nmero de erros no teste de ateno concentrada mostrou no ter

    distribuio normal (valor-p

  • 30

    RESULTADOS

    Nmero de acertos no Teste de Ateno Concentrada

    A Tabela 1 mostra que as medidas descritivas do nmero de acertos no Teste de

    Ateno Concentrada so prximas, quando comparamos as trs condies.

    Tabela 1. Estatsticas descritivas para o Nmero de acertos no Teste de Ateno

    Concentrada.

    Condio n* Mdia DP

    * Moda Mnimo Mediana Mximo

    Silncio 42 25,45 4,96 24; 28 14 26,5 33

    76dB(A) 42 24,74 5,78 21; 28 11 25,5 34

    95dB(A) 42 25,00 6,76 26 10 26,0 36

    *n: nmero de indivduos; DP: desvio padro; cada valor da Moda apareceu 5

    vezes.

    95dB76dBSilncio

    35

    30

    25

    20

    15

    10

    Condio

    N

    mero

    de a

    cert

    os

    Crculo cheio: mediana; Crculo vazado: mdia

    Figura 1. Boxplot para o Nmero de acertos no Teste de Ateno Concentrada por

    condio.

    Pela anlise inferencial, podemos concluir que no h evidncia (valor-p =

    0,653) de efeito de Condio (o comportamento da mdia do nmero de acertos sob as

    trs condies pode ser considerado o mesmo).

  • 31

    Nmero de erros no Teste de Ateno Concentrada

    A Tabela 2 mostra que as medidas descritivas do nmero de erros no Teste de

    Ateno Concentrada so prximas, quando comparamos as trs condies.

    Tabela 2. Estatsticas descritivas para o Nmero de erros no Teste de Ateno

    Concentrada.

    Condio n* Mdia DP

    * Moda Mnimo Mediana Mximo

    Silncio 42 3,09 5,07 0 0 1,0 19

    76

    dB(A)

    42 3,50 4,84 0 0 1,0 17

    95dB(A) 42 4,02 6,27 0 0 0,5 25

    *n: nmero de indivduos; DP: desvio padro; cada valor da Moda apareceu 20, 15 e

    21 vezes, respectivamente.

    aSilncio95dB76dB

    25

    20

    15

    10

    5

    0

    Condio

    N

    mero

    de e

    rro

    s

    Crculo cheio: mediana; Crculo vazado: mdia

    Figura 2. Boxplot para o Nmero de erros no Teste de Ateno Concentrada por

    condio.

    Pela anlise inferencial, podemos concluir que no h evidncia (valor-p =

    0,641) de efeito de Condio. O comportamento da mediana do nmero de acertos sob

    as trs condies pode ser considerado o mesmo.

  • 32

    Nmero de ausncias no Teste de Ateno Concentrada

    A Tabela 3 mostra que a mdia e a mediana do nmero de ausncias no Teste de

    Ateno Concentrada so maiores na condio Silncio do que nas demais condies.

    Tabela 3. Estatsticas descritivas para o Nmero de ausncias no Teste de Ateno

    Concentrada.

    Condio n* Mdia DP

    * Moda Mnimo Mediana Mximo

    Silncio 42 12,69 6,06 14 2 13 26

    76dB(A) 42 10,91 6,11 10 2 10 24

    95dB(A) 42 10,45 6,15 3 3 10 23

    *n: nmero de indivduos; DP: desvio padro; cada valor da Moda apareceu 5, 5 e 6 vezes,

    respectivamente.

    .

    95dB76dBSilncio

    25

    20

    15

    10

    5

    0

    Condio

    N

    mero

    de

    au

    sn

    cia

    s

    Crculo cheio: mediana; Crculo vazado: mdia

    Figura 2. Boxplot para o Nmero de ausncias no Teste de Ateno Concentrada por

    condio.

    Pela anlise inferencial, podemos concluir que h evidncia (valor-p = 0,028) de

    efeito Condio (o comportamento da mdia do nmero de ausncias sob as trs

    condies no pode ser considerado o mesmo). Pela Tabela 4, observa-se que as

    diferenas de mdias de ausncias foram encontradas apenas entre as condies Silncio

    e 95 dB (A). Neste caso, a mdia de ausncias no Silncio maior do que em 95 dB

    (A).

  • 33

    Tabela 4. Valores-p dos testes t- Student para a diferena de mdias do nmero de

    ausncias no Teste de Ateno Concentrada sob as diferentes condies.

    Diferena

    de mdias

    Valor-p

    MdiaSilncio Mdia76dB(A) 0,104

    MdiaSilncio Mdia95dB(A) 0,031

    Mdia95 dB(A) Mdia76dB(A) 0,861

    DISCUSSO

    A pesquisa teve como objetivo investigar os efeitos do rudo na ateno atravs

    do Teste de Ateno por Cancelamento. Os resultados no demonstraram diferena

    estatisticamente significativa para o nmero de acertos, erros ou ausncias quando

    pesquisados com silencio ou na presena de rudo. A pequena diferena observada se

    refere ao desvio-padro, que foi maior com o uso de rudo em 95 dB (A), assim como

    menor nmero de acertos mnimos. Para o nmero de erros, houve pequeno efeito do

    rudo. O desvio-padro e o nmero de erros aumentaram nas condies de rudo. Por

    outro lado, a condio de silncio apresentou maiores valores de mdia e mediana para

    o nmero de ausncias do que nas demais condies e no foi possvel encontrar

    explicao para este pior desempenho no silencio.

    O fato de as crianas no demonstrarem piora do desempenho no teste de

    ateno nas situaes de rudo pode ser explicado pelo fato de que estas j esto

    habituadas ao rudo, j que as crianas esto expostas a brinquedos ruidosos, msica,

    ambientes recreativos desde o nascimento e depois ao entrar na escola, onde passam a

    maior parte do tempo. Elevados nveis de rudos foram medidos em escolas brasileiras,

    especialmente nas salas de aula das primeiras sries escolares. Os nveis de rudo

    medidos variaram entre 53,5 dB (A) e 103 dB (A) durante as atividades escolares e

    entre 41,9 dB (A) e 67,3 dB(A) durante o recesso escolar (Dreossi, Momensohn-Santos,

    2004; Eniz, 2004; Martins, 2005; Libarti et al., 2006; Jaroszewski et al., 2007; Silva,

    2011; Almeida Filho et al., 2012).

    As recomendaes nacionais (ABNT, 1987) para conforto acstico em sala de

    aula determinam nveis de rudo inferiores a 35 dB (A), enquanto a ASHA (2005)

    preconiza valores de relao sinal/rudo de pelo menos +15 dB nas orelhas das crianas

  • 34

    para que a aprendizagem possa ser mais eficiente (ASHA, 2005). Em 2011 a OMS,

    atravs do Community Noise Guidelines recomendou que o rudo interno de uma sala

    de aula no ultrapassasse valores de LAeq35 dB.

    Nesta pesquisa foi utilizado o rudo de cafeteria com LAeq76 dB, pois este foi o

    valor medido nas salas de aula do 4 ano na escola avaliada.

    Foi comprovado que o indivduo pode estar habituado ao rudo, tanto para sons

    de fala quanto para outros sons (como ruidos de escritrio- sons de telefone, impressora,

    etc) depois de um perodo de 20 minutos de exposio (Banburry, Berry, 1997).

    Entretanto, outros pesquisadores ressaltam que na medida em que a exposio crnica

    ao rudo tem o efeito de diminuir o nvel de excitao das crianas em resposta a

    agentes estressores, esta habituao poderia prejudicar as respostas comportamentais de

    enfrentamento e outros processos biolgicos relevantes para os processos de sade e

    doena (McEwen, Lasley, 2003). Um padro de habituao ou dessensibilizao ao

    rudo e a outros estressores que no sejam rudo pode ser um indicativo de que o

    sistema de resposta ao estresse est desregulado (Lepore et al., 2010).

    Outra possibilidade pode estar relacionada ao tipo de distrator utilizado. Estudos

    demonstraram que a fonte de rudo mais perturbadora a fala. Isso porque o efeito

    perturbador de um som determinado pela semelhana fonolgica entre o sinal a ser

    ouvido e o rudo perturbador. Pesquisas anteriores verificaram que tarefas

    desempenhadas em ambientes ruidosos na presena de rudo de fala sofreram efeitos

    negativos, o que no aconteceu quando foi usado o rudo de banda larga (Salame,

    Baddeley, 1982; Haapakangas et al, 2008; Szalma, Hancock, 2011). Tambm foi

    observado que crianas foram mais hbeis em ignorar o ruido quando este teve

    frequencia similar ao estmulo-alvo (Jones, Moore, Amitay, 2015). Sendo assim, pode-

    se considerar que sons de fala causam piores efeitos do que outros tipos de rudos e por

    isso, o rudo usado neste estudo pode ter sido o fator que no produziu o efeito de

    inibio na ateno concentrada que estvamos esperando.

    Os efeitos dos sons de fala e outros sons que no sejam de fala pode ser

    entendida em termos de um filtro de o sistema detector que seletivamente passa para

    memria sons que se assemelham a fala. Foi sugerido um mecanismo em que o grau de

    interrupo proporcional similaridade fonolgica entre o material escrito e material

    que ouvido. Assim, pode-se entender que apenas a fala, pode mostrar um efeito

    irrelevante na fala (Salame, Baddeley 1982).

    http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/?term=Lepore%20SJ%5Bauth%5Dhttp://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/?term=Jones%20PR%5Bauth%5Dhttp://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/?term=Moore%20DR%5Bauth%5Dhttp://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/?term=Amitay%20S%5Bauth%5D

  • 35

    A capacidade de filtrar distratores est amadurecida de forma semelhante ao

    padro adulto por volta dos 9 a 11 anos de idade. Esta mudana se deve por melhorias

    na ateno seletiva (Jones, Moore, Amitay, 2015). Eventos auditivos inesperados tem

    forte poder de capturar a ateno (Klatte, Bergstrom, Lachmann, 2013). Isto foi

    demonstrado em estudo realizado em tarefas de leitura com crianas expostas a ao ruido

    de trnsito e de trfego areo. Os achados do estudo mostraram que nveis de rudo

    elevados, mas de curta durao (trfego areo) tinham maior poder de perturbar a

    concentrao das crianas e de distra-las em tarefas de aprendizagem, do que o rudo

    constante (trfego rodovirio) (Clark et al., 2006).

    Em termos de acurcia e velocidade em tarefas que avaliam a seletividade e

    alternncia, constatou-se aumento significativo no desempenho dos estudantes nas trs

    primeiras sries do ensino fundamental e estabilizao dos resultados nos trs ltimos

    anos, o que aponta para estabelecimento de plat no desenvolvimento atencional. O

    TAC apresentou sensibilidade para a deteco de aspectos neurodesenvolvimentais e

    caractersticas socioculturais do funcionamento cognitivo humano. Tais dados so de

    grande relevncia e apontam para a necessidade de uma maior compreenso dos efeitos

    dessas variveis sobre as habilidades de ateno, uma vez que a ateno sustentada e a

    vigilncia, quando alteradas, costumam traduzir-se em dificuldades de concentrao,

    ocasionando prejuzos para o desenvolvimento e a aprendizagem (Hazin et al., 2012)

    CONCLUSO

    Os resultados obtidos em crianas com nove e dez anos de idade no mostraram

    efeitos significativos do rudo no Teste de Ateno por Cancelamento. O nmero de

    erros e acertos no foi influenciado pela presena de rudo. Os resultados podem ser

    justificados pela presena de habituao ao rudo ou o tipo de distrator utilizado ser

    pouco eficiente para afetar a ateno.

    Referncias Bibliogrficas

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    http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/?term=Jones%20PR%5Bauth%5Dhttp://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/?term=Moore%20DR%5Bauth%5Dhttp://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/?term=Amitay%20S%5Bauth%5D

  • 36

    American Speech-Language-Hearing Association. Acoustics in Educational Settings:

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