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Por que Pregar? Brad Wheeler Na semana passada, eu passei cerca de 25 horas preparando a mensagem para o domingo de manhã da nossa igreja. Ela se baseava em 1 Samuel 9-11, então talvez seja melhor chamá-la de um sermão. Durante esse sermão, eu li todo o texto e, então, falei por outros 40 minutos, explicando o seu significado e o aplicando aos corações dos presentes. Então talvez devamos chamá-lo de um sermão expositivo. E eu não vivo da Inglaterra pré-iluminista, tampouco o sermão foi oferecido em homenagem ao “Domingo da Pregação Puritana” do nosso calendário litúrgico anual. Sendo franco, nosso pastor titular detesta esses calendários anuais, mas isso é assunto para outro artigo. Por que gastar todo esse tempo dedicando-se ao estudo da Palavra de Deus? E por que nós, enquanto congregação, devotamos uma hora ao meu (às vezes penoso) monólogo? Essas perguntas já me foram feitas antes. E eu já fui gentilmente censurado por amigos bem- intencionados. Eles perguntam coisas como: por que você distingue a pregação das outras formas de adoração? Isso não apenas reflete a sua inclinação ocidental ao discurso racional, persuasivo e ordenado? De todo modo, ninguém se lembrará de 95% do que você disser. Em outras palavras, dizem eles, pare de desperdiçar o seu tempo – e o nosso! Contudo, antes de você substituir a Escritura pelas “belas artes” em seus ajuntamentos dominicais, deixe-me oferecer algumas razões pelas quais a pregação deve não apenas estar presente, mas ser prioritária na vida de nossa igreja local. O povo de Deus se ajunta para ouvir a Palavra de Deus Acredite ou não, mas eu não tenho o desejo natural de sentar-me e ouvir alguém falando a mim. Em vez disso, eu seria mais facilmente motivado por um filme, animado por um estridente solo de bateria ou tocado por uma peça de arte comovente. Mas o padrão consistente da Escritura é que o povo de Deus se ajunta para ouvir a Palavra de Deus. Nós devemos ficar em silêncio, enquanto ele fala. Ao estabelecer o seu relacionamento pactual com o seu povo, no Êxodo, Deus usou palavras e ordenou que o seu povo se ajuntasse para ouvir aquelas palavras (Êxodo 24.7). Enquanto Israel tinha os seus inimigos na jornada até a terra prometida, Deus ordena que o seu povo se detenha e marche 32km ao norte até defronte de dois montes. Ali, com as altas escarpas das montanhas proporcionando um anfiteatro natural, “Josué leu todas as palavras da lei, a bênção e a maldição [...]. Não houve uma só

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Por que Pregar?Brad Wheeler

Na semana passada, eu passei cerca de 25 horas preparando a mensagem para o domingo de manhã da nossa igreja. Ela se baseava em 1 Samuel 9-11, então talvez seja melhor chamá-la de um sermão. Durante esse sermão, eu li todo o texto e, então, falei por outros 40 minutos, explicando o seu significado e o aplicando aos corações dos presentes. Então talvez devamos chamá-lo de um sermão expositivo. E eu não vivo da Inglaterra pré-iluminista, tampouco o sermão foi oferecido em homenagem ao “Domingo da Pregação Puritana” do nosso calendário litúrgico anual. Sendo franco, nosso pastor titular detesta esses calendários anuais, mas isso é assunto para outro artigo.Por que gastar todo esse tempo dedicando-se ao estudo da Palavra de Deus? E por que nós, enquanto congregação, devotamos uma hora ao meu (às vezes penoso) monólogo? Essas perguntas já me foram feitas antes. E eu já fui gentilmente censurado por amigos bem-intencionados. Eles perguntam coisas como: por que você distingue a pregação das outras formas de adoração? Isso não apenas reflete a sua inclinação ocidental ao discurso racional, persuasivo e ordenado? De todo modo, ninguém se lembrará de 95% do que você disser. Em outras palavras, dizem eles, pare de desperdiçar o seu tempo – e o nosso!Contudo, antes de você substituir a Escritura pelas “belas artes” em seus ajuntamentos dominicais, deixe-me oferecer algumas razões pelas quais a pregação deve não apenas estar presente, mas ser prioritária na vida de nossa igreja local.

O povo de Deus se ajunta para ouvir a Palavra de Deus

Acredite ou não, mas eu não tenho o desejo natural de sentar-me e ouvir alguém falando a mim. Em vez disso, eu seria mais facilmente motivado por um filme, animado por um estridente solo de bateria ou tocado por uma peça de arte comovente. Mas o padrão consistente da Escritura é que o povo de Deus se ajunta para ouvir a Palavra de Deus. Nós devemos ficar em silêncio, enquanto ele fala.Ao estabelecer o seu relacionamento pactual com o seu povo, no Êxodo, Deus usou palavras e ordenou que o seu povo se ajuntasse para ouvir aquelas palavras (Êxodo 24.7). Enquanto Israel tinha os seus inimigos na jornada até a terra prometida, Deus ordena que o seu povo se detenha e marche 32km ao norte até defronte de dois montes. Ali, com as altas escarpas das montanhas proporcionando um anfiteatro natural, “Josué leu todas as palavras da lei, a bênção e a maldição [...]. Não houve uma só palavra de tudo o que Moisés tinha ordenado que Josué não lesse para toda a assembleia de Israel, inclusive mulheres, crianças, e os estrangeiros que viviam no meio deles” (Josué 8.34-35).É uma coisa curiosa a se fazer no meio de uma “guerra-relâmpago” pelo sul, mas esta não é uma guerra comum e este não é um povo comum. A palavra que os criou é a palavra que os define. Anos depois, quando Josias guia o seu povo de volta ao Senhor, ele o faz pela leitura “em voz alta [de] todas as palavras do Livro da Aliança, que havia sido encontrado no templo do Senhor” (2 Crônicas 34.30). Quando todo o povo de Deus se ajunta como um só homem, depois do exílio, Neemias não os conduz em um treino de crossfit, um exercício de pintura com os dedos ou uma longa meditação nas “estações” da via sacra. Ele põe Esdras numa plataforma de madeira (Neemias 8.4) e, enquanto o povo permanecia em seu lugar (8.7), Esdras e os escribas “leram o Livro da Lei de Deus, interpretando-o e explicando-o, a fim de que o povo entendesse o que estava sendo lido (8.8).O ministério público de Jesus em Lucas começa com ele entrando na sinagoga, tomando o rolo do livro de Isaías, lendo-o e ensinando a partir dele (Lucas 4.14-22). Em Atos 2, o povo não é salvo por meio de um balão evangélico ou qualquer outra engenhoca, mas por meio da exposição pública de Joel 2 feita por Pedro. Os diáconos foram estabelecidos em Atos 6 não para que os apóstolos ficassem livres para estudar as novidades das técnicas teatrais ou da

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moda, mas para que ficassem livres para pregar a Palavra de Deus (Atos 6.2). Paulo exorta Timóteo a pregar a palavra (2 Timóteo 4.2).Eu poderia seguir nos exemplos. O olho empolga, mas o ouvido capacita. Nós não precisamos de sátiras dos portões celestiais e das chamas do inferno, como fazia Tetzel.[1] O povo de Deus precisa se reunir para ouvir a Palavra de Deus.

Pregar a Palavra de Deus ensina o seu povo a como ler a Palavra de Deus

Não muito tempo atrás, David Wells lamentou o fato de os evangélicos não mais possuírem a coragem de ser protestantes.[2] Hoje, nós lutamos pela coragem de ser, em certo sentido, historicamente cristãos. À medida que cai sobre nós a gigantesca onda cultural do gênero e da sexualidade, nós não temos nada a dizer, porque não achamos que a Bíblia tenha algo a dizer afinal, ou porque não sabemos o que ela diz, ou ela está se tornando nada além de uma coletânea de histórias morais, uma versão religiosa das fábulas de Esopo a qual nós podemos reinterpretar para que se encaixe em nossos padrões culturais.Mas manter a Palavra de Deus no centro da vida de sua igreja local, especialmente ao pregá-la por meio de textos consecutivos da Escritura, ensina o seu povo a como ler a Bíblia. Eles não precisam de aulas de seminário sobre hermenêutica para aprenderem isso; eles precisam de pregação fiel. Pregação que conecta o poder da palavra criativa de Deus, a queda do primeiro Adão, a necessidade do sacrifício, a promessa de um segundo Adão e de um novo Éden. Pregação que conecta o que Deus fez por meio de Israel a Jesus e o novo Israel de Deus.Eu passei o início da minha vida cristã em igrejas que amavam a Palavra de Deus, contudo não a tratavam como uma montanha de ouro a ser explorada, mas mais como um morro com algumas pedras espalhadas as quais podíamos pegar e observar com pouco interesse. Foi apenas quando eu pousei em uma igreja que explorava a palavra, conectando cuidadosamente a riqueza dos temas bíblicos e mostrando como toda ela apontava para Cristo, que eu comecei a encarar o Antigo Testamento com confiança e encorajamento. Manter a Palavra de Deus central em sua pregação e ensino não apenas ajudará as pessoas a saberem como lê-la, mas lhes dará o encorajamento para que mergulhem nela por si mesmas.

A pregação da Palavra de Deus tem o objetivo de mudar a vida das pessoas, uma semana de cada vez

Que bem todos esses sermões fazem, se nós acabamos esquecendo a maior parte do que ouvimos pouco tempo depois? Bem, nós não esquecemos tudo o que ouvimos. Estou certo de que a maioria de nós pode se lembrar de sermões que desafiaram o modo como pensávamos sobre Deus, casamento, dinheiro etc. – e nós fomos mudados para sempre. Então não vamos desprezar a empreitada por completo.Mas, além disso, a palavra semanal em nossos sermões matutinos tem o objetivo, apenas, de nos levar até o próximo domingo! No ritmo semanal de Deus, ele parece perceber que, ao chegar o domingo, nós estamos famintos e precisamos ser cheios mais uma vez.Meus sermões, seus sermões, não precisam permanecer com o nosso povo pela eternidade. O objetivo não é mudar a vida deles nesse sentido. Eles têm o objetivo de sustenta-los até a próxima semana. Uma semana de cada vez. Até os céus. E, lá, o verbo que se fez carne habitará conosco para sempre e não haverá mais necessidade de sermões.Notas:[1] N.T.: O autor se refere a Johann Tetzel, frade dominicano alemão cujo ensino acerca das indulgências muitos acreditam ter inspirado a reação de Lutero em suas 95 Teses.[2] N.T.: O autor se refere ao livro Coragem para ser protestante: amantes da verdade, marqueteiros e emergentes no mundo pós-moderno (São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2011).Tradução: Vinícius Silva PimentelRevisão: Vinícius Musselman Pimentel

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Por que não devemos nos esquecer dos SalmosPOR AUSTIN GOHN Algumas semanas atrás alguém me perguntou: “como eu posso ser um discípulo se eu preciso enfrentar tantos altos e baixos, fé e dúvida, confiança e medo? Eu sinto como se estivesse fazendo alguma coisa errada”. Se alguém me perguntasse isso um ano trás, eu provavelmente teria respondido com uma solução e uma citação relevante. Mas, nesse dia, eu sugeri apenas que ele lesse os SalmosEsse não era o meu relacionamento com os Salmos doze meses atrás. Antes desse último ano, eu só lia os Salmos para completar o plano de leitura anual da Bíblia. Já havia decidido que sou do tipo “lado esquerdo do cérebro” demais para aproveitar os Salmos e que talvez eles só fossem úteis para os tipos mais criativos.Então, conforme eu vinha estudando, comecei a notar um tema recorrente – quase todo mundo que eu admirava gostava muito dos Salmos: de George Muller a J. Hudson Taylor, de Eugene Peterson a Tim Keller. Conforme eu fui lendo os evangelhos, percebi que Jesus também gostava muito dos Salmos – citando ou fazendo referência a eles nos ensinamentos nos montes, no templo e na cruz.Um mesmo pensamento começou a me perseguir – se eu estou aprendendo a viver como Jesus, como eu posso ignorar os Salmos? Eu comecei a perceber que um discipulado realmente centrado no evangelho requer que nos tornemos amigos de Davi, Asafe, Salomão, os filhos de Corá, Moisés, Etã, o ezraíta e todos os outros salmistas desconhecidos.A partir daí, comecei a ler e orar os Salmos como parte integral do meu próprio discipulado. Em pouco tempo, os Salmos influenciaram a forma como eu discipulava outras pessoas – especialmente na forma com que os Salmos validam nossas emoções, moldam nossa imaginação e nos ensinam a orar.1. Os Salmos validam nossas emoçõesNa cruz, Jesus clamou o Salmo 22.1, “Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?”. Jesus não tinha apenas os Salmos tão enraizados em si que foram suas palavras no momento mais agonizante de sua vida, mas ele experimentou o próprio abandono – o sentimento compartilhado pelo autor do Salmo 22.Quando comecei no ministério, as pessoas (incluindo a minha esposa) me falavam sobre as emoções que estavam experimentando. Eu cometi o erro de iniciante de sutilmente (e nem tão sutilmente) desmerecer a verdade dessas emoções. “Tristeza e abandono não condizem com a verdade do evangelho”, eu dizia a eles. Quanto mais tempo eu passava com nos Salmos, entretanto, mais eu percebia que o evangelho é espaçoso o suficiente para todas as emoções humanas.Como pastor de jovens adultos, tenho visto quão libertador é para eles encontrar lugar para suas emoções nos Salmos. Em uma carta intitulada “Sobre a Interpretação dos Salmos”, Atanásio escreveu: “Você encontra descritos [nos Salmos] todos os movimentos da sua alma, todas as sua mudanças, seus altos e baixos, seus fracassos e restaurações”. Você não lê os Salmos sem encontrar deleite (Salmo 1.2) e depressão (Salmo 42.5), gratidão (Salmo 100.4) e pesar (Salmo 42.3), e praticamente todas as outras emoções. Os Salmos nos ensinam que não há problema em perguntar a Deus o porquê (Salmo 10.1) ou até quando (Salmo 13.1-2) e ser honesto em relação ao que se sente.Os Salmos não deixam nossas emoções como elas são, entretanto. Eles moldam nossas emoções e dão contexto apropriado a elas. Eu tive um professor na faculdade que dizia “Os Salmos dão direção para as nossas emoções sem reprimi-las ou deixando-as correrem soltas. Os Salmos te ajudam a aprender como sentir”. Cada um dos Salmos tem seu próprio ritmo. Nós entramos nesses ritmos com nossas emoções e somos levados por eles a emoções mais profundas. Embora esse ritmo possa estar comprimido em alguns versos em um Salmo, nossa experiência pode durar dias, ou até anos.2. Os Salmos moldam nossa imaginação

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Se queremos viver como Jesus, nossa imaginação precisa estar encharcada com o que ele sabia sobre a vida com Deus. O que cremos e como pensamos sobre Deus é crítico para viver uma vida centrada no evangelho. Onde, então, podemos aprender a pensar e crer como Jesus? Nos Salmos.Os escritores dos Salmos estavam profundamente familiarizados com Deus, seus planos e com a vida no reino. Aqui estão apenas alguns exemplos de como os Salmos moldam nossa imaginação:A vida com Deus é a boa vida (Salmo 1)Deus é nosso refúgio e segurança (Salmo 16)Deus sempre provê o que precisamos (Salmo 23)Deus é cheio de graça para com os pecadores (Salmo 51)Deus deseja alcançar todas as nações (Salmo 96)Deus está sempre presente conosco (Salmo 139)Os Salmos treinam nossa imaginação meditar (Salmo 1) na verdade sobre Deus. Jesus via o mundo através da lente dos Salmos (veja Mateus 5.4 e Salmo 37.11 ou Mateus 21.16 e Salmo 8.2). E ao longo da história da igreja, os Salmos tem tido um dos principais recursos para a “renovação da mente” (Romanos 12.2). Em minha própria experiência, os Salmos tem alterado dramaticamente a forma com que eu vejo o mundo no dia a dia.Como discípulos em aprendizado, muitas vezes concluímos coisas sobre Deus baseados no que estamos enfrentando (especialmente quando as coisas não estão indo tão bem). Eu muitas vezes ouvi coisas como “estou sofrendo… então Deus deve estar bravo comigo”. Quando deixamos que os Salmos moldem nossa imaginação, vemos como o sofrimento é uma parte normal da vida no mundo caído e que Deus irá usá-lo para o bem (Romanos 8.28, Salmo 73).3. Os Salmos nos ensinam a orarEm O pastor contemplativo, Eugene Peterson escreve: “A grande e abrangente universidade que os Hebreus e os Cristãos tem frequentado para aprender a se relacionar com Deus, a orar, tem sido os Salmos”. Isso era estranho para mim. Embora eu soubesse que os Salmos foram escritos como “orações cantadas”, eu tinha dificuldade em ver como orar as orações de outra pessoa poderia ser uma prática útil. Não parecia muito autêntico.Então chegou uma fase da minha vida em que eu tive dificuldade para orar. Oração sempre fora algo fácil e natural, mas agora eu não sabia nem por onde começar. Então eu comecei a orar os Salmos – às vezes, linha por linha, e, por vezes, apenas uma linha por mais de meia hora – e Deus começou a transformar o vocabulário e o tom das minhas orações em algo novo. Em sua carta sobre os Salmos, Atanásio também descreve isso: “No caso de todos os Salmos, é como se eles fossem a própria voz daquele que os lê; qualquer um que os ouve é movido em seu coração, como se eles verbalizassem seus pensamentos mais profundos”. É possível que orar os Salmos seja uma das formas pela qual o Espírito intercede por nós (Romanos 8.26-27).Os Salmos nos ensinam a confessar (Salmo 51), a esperar (Salmo 42 e 43), como pedir (Salmo 69) e como adorar (Salmo 100). Agora, quando estou ajudando novos discípulos a aprenderem a orar, eu os guio pela Oração do Senhor e pelos Salmos.Os Salmos e o DiscipuladoConforme eu descobri a beleza dos Salmos e seus benefícios práticos para o discipulado centrado no evangelho, eu comecei alguns novos hábitos.Primeiro, eu comecei a ler alguns Salmos todos os dias. De manhã, no almoço, antes do jantar e antes de dormir, tenho deixado os Salmos interromperem o que quer que esteja em minha mente e ao meu redor. Às vezes eu leio um Salmo e volto a trabalhar, enquanto, outras vezes, medito sobre ele pelo resto da tarde. Às vezes leio cinco Salmos, às vezes apenas um.Segundo, eu costumo ler um Salmo quando estou junto com outros discípulos. Isso muda nosso discipulado de muitas formas. Eu amo conversas não planejadas ou ouvir a forma como alguém ora diferente de mim. Se você está lendo um Salmo com um discípulo novo, o escritor muitas vezes nos dá assunto para uma discussão sobre teologia com a qual eles não estão familiarizados. Os Salmos estão cheios de boas novas sobre Jesus.

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Retornando à história do começo, após ler alguns Salmos, meu amigo percebeu que a vida é bagunçada, e que não há problema nisso. Altos e baixos são normais. Fé e dúvida existem juntas. Davi, em meio aos seus inimigos, resume bem essa tensão quando ora “Ensina-me, Senhor, o teu caminho e guia-me por vereda plana, por causa dos que me espreitam” (Salmo 27.11).

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Deus tem um livro de oração. Você o usa?POR JOSH BLOUNT Orar é difícil. Não por causa de alguma coisa em Deus – como o puritano Matthew Henry observou, Deus está mais ansioso em ouvir nossas orações do que nós em fazê-las. Não, orar é difícil por nossa causa. A carne pecadora e a fraqueza humana batalham contra nossa capacidade de perseverar na oração. Os editores sabem disso. Procure por “oração” na Amazon.com e você vai encontrar livros suficientes para construir uma pequena mansão inteira com pilhas de livros de bolso no estilo “7 Passos para…”. Muitos deles são livros úteis (embora alguns deles não o sejam!). Mas não seria bom ter o livro definitivo sobre oração, um que incluísse tanto formas de orar quanto as palavras a orar, um que poderia ser usado em qualquer época da vida?Na verdade, isso soa como os Salmos.Os Salmos são o livro de oração e louvor da Bíblia. Quando lemos um salmo, estamos escutando uma conversa inspirada entre Deus e o seu povo. A conversa ocorre por vezes em momentos de puro deleite e outras vezes em temporadas de desespero esmagador. Às vezes é uma conversa privada: “Tem misericórdia de mim, SENHOR, porque sou fraco!” (Salmo 6.2). Em outros momentos, ouvimos as vozes de uma multidão feliz de adoradores: “Vinde, cantemos ao SENHOR; jubilemos a rocha da nossa salvação” (Salmo 95.1). Em certo sentido, os Salmos são a resposta mais abrangente de Deus para o pedido “Ensina-nos a orar”.Até pouco tempo atrás eu não usava salmos regularmente na minha vida de oração. Nos últimos meses tenho incorporado os salmos ao meu dia a dia, e tem sido uma grande bênção para mim. Vou descrever a minha prática atual e algumas coisas que aprendi, mas com esta ressalva em primeiro lugar: eu não sou você! Eu fui vítima muitas vezes de seguir servilmente a mais recente sugestão devocional que li em algum blog como se alguém tivesse o melhor produto no mercado da oração. Não faça isso. As probabilidades são que, em poucos meses, a prática que descrevo agora terá mudado de alguma forma. Portanto, escolha o que pode ser útil, adapte para sua própria situação e descarte o resto. Bom, com isso fora do caminho, aqui está o que eu estou fazendo.Há dois momentos no meu dia onde oro por meio de um salmo. O primeiro é após a minha leitura regular da Bíblia. Eu uso um plano de leitura da Bíblia e queria cumpri-lo, então eu adicionei a leitura de 10 a 12 versículos dos Salmos por vez. Às vezes eu leio mais, às vezes eu leio menos. Mas uma porção de um salmo é sempre parte da minha manhã. O outro momento é depois que termino cada dia de trabalho. Eu memorizei alguns dos salmos mais curtos e os oro ao Senhor enquanto volto dirigindo para casa. Enquanto tenho feito isso, aprendi algumas coisas que podem ser úteis, aqui vão elas.Escolha salmos que refletem sua situação. A variedade de experiências de vida refletida em Salmos é incrível. Tire proveito disso. Se seu coração está alegre, ore um salmo que reflita sua alegria. Se você está lutando, dê voz a sua batalha com as palavras de um dos lamentos de Davi, como o Salmo 6 ou o Salmo 42. Os Salmos não falam em um tom monótono, uma única voz para todos. Nem nossas orações deveriam.Personalize-os enquanto você ora a Deus. Você sabia que é bom reescrever as Escrituras? Não, eu não estou falando sobre sincronizar o Apocalipse com o calendário maia. Estou falando da aplicação personalizada. Isto é o que a Bíblia nos convida a fazer. Quando Davi ora “Bem-aventurados os retos em seus caminhos, que andam na lei do SENHOR” (Sl 119.1), podemos orar: “Senhor, ajuda-me a andar irrepreensivelmente hoje quando sou tentado. Dá-me a bem-aventurança dos que guardam os teus mandamentos”. O primeiro verso do Salmo 46: “Deus é o nosso refúgio e fortaleza, socorro bem presente na angústia” pode se tornar “Deus, tu és o meu refúgio, neste problema. Tu és minha força neste momento”. É assim que os Salmos são combustível para nossa vida de fé. Eles foram feitos para habitar onde você habita. Personalize-os.Considere memorizar alguns salmos especiais. Você pode memorizar um capítulo inteiro da Bíblia. Comece com o Salmo 117, são apenas três versos! Há uma série de salmos que contém

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menos de dez versos. Escolha um que seja significativo para você e memorize-o. Escreva-o repetidamente. Coloque-o em um cartão e leve-o no bolso durante o dia. O trabalho de memorização exige que você medite nas Escrituras, e é apenas um passo de daí para uma conversa com Deus sobre isso.Orar é difícil, mas os Salmos são uma das provisões de Deus para fortalecer nossa vida de oração. Vamos aprender a usar o livro de orações de Deus!

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6 maneiras de alavancar sua vida devocionalPOR STEPHEN ALTROGGE Há momentos em que, por qualquer motivo, a nossa vida devocional fica estagnada. A leitura bíblica parece ser uma tarefa colossal, nossas orações ficam mornas e fracas, e nosso amor por Deus diminui. Sentimos que estamos presos em uma rotina espiritual, como se não tivéssemos nenhuma tração na alma, como se estivéssemos apenas girando em nossas rodas espirituais. Estes tempos de estagnação podem ser incrivelmente frustrantes e desanimadores.Você está em uma rotina espiritual? Aqui vão algumas dicas práticas para inflar sua vida devocional de novidade e vigor.Ore! Ore! Ore!Todas as dicas práticas no mundo não farão um pingo de diferença se Deus não agir poderosamente em seu coração. Deus não pode ser controlado. Ele não é um gênio pessoal que pode ser convocado ao seu comando. Ele não pode ser resumido ou contido em uma simples fórmula. Mas, ele promete responder nossas humildes petições. Ele é um bom pai que ama dar boas dádivas aos seus filhos. Em Lucas 11.13, Jesus disse:Ora, se vós, que sois maus, sabeis dar boas dádivas aos vossos filhos, quanto mais o Pai celestial dará o Espírito Santo àqueles que lho pedirem?Deus ama nos dar o Espírito Santo, mas temos de pedir! Se a sua vida devocional está estacionada, humildemente confesse sua frieza de coração a Deus e peça-lhe para soprar uma afeição incandescente em você.Leia um livroVer os esplendores de Deus pelos olhos não turvados de outra pessoa pode ser extremamente útil. Uma das maneiras de ver Deus através dos olhos de outra pessoa é ler um livro. Muitas vezes nossa visão de Deus está confusa e obstruída pelas circunstâncias da vida. Ler um livro nos permite estar sobre os ombros de alguém e ver acima de toda a confusão. Se a sua vida devocional é fraca e obstruída, faça uma pequena pausa em sua leitura regular da Bíblia e passe algum tempo saboreando um bom livro. Eu recomendo qualquer um dos livros dessa lista.Leia os SalmosOs Salmos são uma seção intensamente devocional das Escrituras. Os autores dos Salmos experimentaram os altos e baixos da vida e se encontraram com Deus no meio desses altos e baixos. Eles experimentaram a fidelidade de Deus nos tempos de seca e nas temporadas de fertilidade. Se está faltando robustez em sua vida devocional, tente gastar algum tempo nos Salmos.Inicie um plano de leitura bíblicaMuitas vezes nossas devoções não têm solidez porque não as planejamos adequadamente. Vagamos de versículo a versículo, lendo um pouco aqui, um fragmento dali, mas nunca fazendo um progresso real através da palavra de Deus. Se isso descreve suas devoções, talvez você precise de um plano de leitura bíblica para coloca-lo no caminho. O site da Sociedade Bíblica do Brasil tem alguns planos para você começar. Se a sua vida devocional está sem direção tente iniciar um plano de leitura da Bíblia.Abandone seu planoAlguns de nós gostamos de planos um pouco demais. Gostamos de fazer listas e, em seguida, riscar os itens delas. Gostamos da sensação de progresso, de avançar, de terminar algo. Aplicamos o nosso amor em planos para a leitura bíblica e, assim, lemos a Bíblia todos os anos como um relógio preciso. Isso é uma coisa boa, não me interpretem mal. Mas há momentos em que precisamos abandonar nosso plano e simplesmente acalmar nossa leitura da Bíblia. Para nos deliciarmos e saborearmos um capítulo ou uma seção, ou apenas um versículo. Se estiver sentindo sua vida devocional muito rígida e dura, tente abandonar seu plano por um tempo.Mude seus métodos

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A maioria de nós lê a Bíblia. Afinal, a Bíblia é um livro e os livros são feitos para serem lidos. Sem argumentos meus aqui. Mas lembre-se, uma parte significativa das escrituras foi originalmente destinada a ser ouvida. As cartas apostólicas eram lidas em voz alta nas igrejas. Os Salmos eram lidos em voz alta nas sinagogas. A Escritura era para ser tanto lida quanto ouvida. O site Bíblia Online permite ouvir a Bíblia em vez de lê-la. Se sua vida devocional está tornando repetitiva, tente ouvir a palavra de Deus. Faça anotações enquanto ouve.De todas essas dicas, a primeira é a mais importante. Você pode fazer todas as coisas certas e, ainda assim, se Deus não trabalhar poderosamente em sua vida nada vai acontecer. No entanto, eu sei que Deus quer que suas devocionais sejam significativas. Ele quer que você tenha uma vida devocional alegre, vibrante. À luz dessa verdade gostaria de encorajá-lo a experimentar em oração essas diferentes sugestões.Não se contente com uma vida espiritual medíocre. Aprofunde-se Deus. Ele quer conhecê-lo.

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Lendo os Salmos devocionalmentePOR JOE HOLLAND | 06 de novembro de 2014Os Salmos formam o maior conjunto de um dos gêneros mais únicos do cânon bíblico, a saber, o gênero de música e poesia. Cristãos evangélicos tendem a negligenciar esse gênero por diversas razões. Em nosso modo de pensar ocidental pós-Reforma, pós-iluminismo, a maioria pensa que as partes mais didáticas da Escritura são mais importantes porque são cheias de afirmações lógicas e proposicionais. Alguns pensam que poesia e música são, de alguma forma, menos masculinas. Isso é uma visão completamente não ortodoxa de música, adoração e masculinidade. A maioria dos homens não gostariam de encontrar com o rei Davi em um beco escuro; ainda assim, o melhor poeta e compositor que esse mundo já viu! Biblicamente falando, enxergamos um forte laço entre canto, poesia e masculinidade. Ainda há aqueles que não percebem as qualidades únicas da poesia e música hebraica. Por exemplo: a poesia hebraica tende a “rimar” pensamentos e temas, ao invés de rimar o sons das palavras, embora também faça isso. É por essas e outras razões que muitas vezes sentimos dificuldades, quando se trata de ler qualquer poesia ou canção na Bíblia – sem falar de um livro com 150 delas!Ao mesmo tempo, e de uma forma única e culturalmente esquizofrênica, somos obcecados com devocionais e literaturas especializadas. Queremos canja de galinha para nossa alma, o manual de estudo para a mulher e o guia devocional do homem para evangelismo no golfe. Um bufê de comida chinesa tem menos opções do que uma livraria cristã tem de material devocional extra-bíblico.Somos uma cultura obcecada com devocionais com um pé atrás com a poesia canônica. Você está começando a ver o problema? Duas mudanças na igreja cristã contribuíram substancialmente para a forma com que os cristãos negligenciam os Salmos como material devocional.Primeiro, cristãos agora tem acesso à Bíblia de formas que nunca tiveram antes. Da impressora ao aplicativo no celular, cristão tem aumentado cada vez mais o acesso à Palavra de Deus. Devemos notar que isso é um maravilhoso dom de nosso Deus gracioso. Mas também devemos considerar o quanto isso mudou a forma com que a comunidade cristã aborda a Bíblia. Até a Bíblia se tornar presente em todas as casas e todos os celulares, o acesso predominante à palavra inerrante de Deus para o cristão comum se dava por meio dos componentes litúrgicos, especialmente as partes cantadas, da adoração cristã. E até pouco Séculos atrás, essa era uma dieta composta quase unicamente de Salmos.Em segundo lugar, os cristãos dos últimos dois milênios de existência da igreja da nova aliança estão cantando cada vez menos os salmos. Eu não sou contra cantarmos músicas fora do saltério, de forma alguma. Creio que devemos incluí-los como parte do repertório. Mas também é inegável que cantar salmos está em declínio na adoração cristã, não no auge.Então temos uma série de coisas agindo em conjunto. Temos cristãos obcecados com devocionais e avessos a poesia interagindo cada vez menos com os salmos na adoração. Pode ser que esses aspectos da minha avaliação caricata do evangelicalismo tenham ressoado em você, e você gostaria de integrar os salmos na sua vida devocional. Como é que se faz isso?

6 dicas pra ler os Salmos devocionalmente1) Encontre um plano de leitura dos salmos. Seu primeiro passo é encontra um plano de leitura dos salmos. Uma rápida busca na internet pode ser tudo o que você precisa para encontrar um que te agrade. O bom de ler os salmos sucessivamente em, digamos, um mês, é que eles não são consecutivos, logo, se você não puder fazer uma ou outra leitura, você pode começar de onde parou sem precisar pular algumas partes. Você pode até mesmo ler apenas um salmo por dia e, assim, ler todos os salmos duas vezes por ano.2) Utilize recursos que mostram Jesus nos salmos. Tão importante quanto encontra rum plano de leitura e segui-lo é encontrar recursos que mostram como os salmos apontam para a pessoa e a obra de Jesus. As razões por que isso é tão importante é porque os autores do Novo

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Testamento enxergavam os salmos como material crucial para o entendimento de quem Jesus era e o que ele veio fazer. Há, aproximadamente, 147 referências diretas aos salmos no Novo Testamento. Há quase tantas citações de salmos no Novo Testamento quanto há salmos no saltério! Os salmos são fundamentalmente messiânicos.3) Marque sua cópia dos salmos. Se há um livro da Bíblia que merece uma boa dose de marcação ou sublinhados, é o livro dos Salmos. Por que não conectar a sugestão anterior com essa e marcar todas as 147 referências do Novo Testamento a eles?4) Ore os salmos. Isso é chave. Os salmos são, fundamentalmente, orações cantadas. Você pode não ser um cantor de salmos (veja o próximo ponto), mas você, definitivamente, deveria ser um orador de salmos. Conforme você lê os salmos, leia-os em voz alta, parafraseando como sendo suas próprias orações. Fazer isso, com o tempo, te ajudará a desenvolver uma vida de oração saudável que utiliza temas e vocabulário da própria Bíblia.5) Cante os Salmos. Isso é um pouco mais difícil se a sua igreja não faz isso ou você não é muito musical. Mas também é possível encontrar alguns bons recursos na internet para te ajudar a fazê-lo.6) Leia os Salmos com outros. Por último, ler os salmos com outras pessoas te dá uma perspectiva mais profunda, conforme vocês discutem o que estão aprendendo. Se você encontrou um bom plano de leitura, por que não convidar um amigo para fazê-lo junto com você? Saber que outros estão lendo os mesmos salmos ao mesmo tempo ou nos mesmos dias pode ser uma prática única e edificante.

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O que fazemos em segredoPOR BOB KAUFLIN Por Bob KauflinNesta manhã, uma das minhas leituras foi Mateus 6. Três vezes essas palavras chamaram minha atenção:E teu Pai, que vê em secreto, te recompensará. (Mt 6.4,5,18)Jesus usou essa frase quando estava falando sobre dar, orar e jejuar. Isso me fez pensar mais cuidadosamente sobre levar os outros a adorarem a Deus.Tendo a pensar que as partes mais importantes da minha vida são aquelas que todos veem. Culto de domingo, conferências, eventos públicos. Gasto muito tempo me preparando para os momentos em que estarei em frente de pessoas. Tenho uma tendência de pensar que esses momentos devem ter um significado maior que aquilo que faço quando ninguém está olhando. Certamente Deus está olhando mais atentamente e mais é alcançado pra o Reino quando estou liderando grandes multidões que quando estou sozinho. Certo?Talvez.Como sempre, Jesus atravessa as minhas pressuposições. O que ele disse pode revolucionar como eu penso sobre ministério público.1. Deus acha que o que faço quando ninguém está olhando é muito importante.Tempo sozinho pode parecer tão trivial. É por isso que podemos preenchê-lo facilmente com atividades aparentemente inofensivas, como o Facebook, Twitter, videogames, TV, filmes, internet; ou atividades mais pecaminosas, como ver pornografia, guardar amargura ou cobiçar aquilo que não temos. Mas Deus vê tudo. Nosso Pai celestial vê o que fazemos em segredo. Meditar nisso consistentemente nos leva ao temor do Senhor.2. As recompensas da eternidade são melhores que as recompensas desta vida.Milhões de pessoas gastam suas vidas perseguindo objetivos, posses e vitórias que desaparecerão quando elas morrerem. Jesus nos conta um segredo. As recompensas pelas quais viver são aquelas que o Pai entregará no último dia. Neste momento, o número de meus leitores no blog, amigos no Facebook, seguidores no Twitter, ou fãs terá efeito nulo em minha posição diante de Deus. Então por que essas coisas são tão importantes para mim agora?3. Ser recompensado pelo Pai é infinitamente mais importante que ser recompensado pelas pessoas.Não há nada inerentemente errado em honrar aos outros e ser honrado. De fato, Deus nos diz para dar honra a quem é digno dela (Rm 13.7). O problema é quando procuramos e vivemos pelo louvor dos homens ao invés do louvor de Deus (Jo 5.41-44). Quando agimos espiritualmente para impressionar os outros, temos toda a recompensa que conseguiríamos. Quando, pela graça de Deus em Cristo, ouvirmos “muito bom” no último dia, perceberemos, em um momento, a única avaliação que importa.Resumindo: se eu estimo minha maturidade somente pelo que faço quando os outros me veem, posso estar terrivelmente enganado sobre minha verdadeira condição diante de Deus.Que possamos ser fieis para ajudar pessoas em nossas igrejas a lembrarem que nosso Pai Celestial vê e recompensa – o que fazemos em segredo.

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Reinicie sua vida de oraçãopor Joe ThornHá pouco tempo, confessei a um amigo que frequentemente me sentia mais como um deísta que cristão. Ele sabia exatamente o que eu queria dizer. Eu estava tendo problemas com oração.Um deísta não crê que Deus está envolvido ativamente no mundo, mas que criou o universo para funcionar sozinho e foi embora. Em outras palavras, Deus não se envolve com nosso mundo ou nossas vidas. Ele é essencialmente ausente. Em um mundo assim, a oração seria algo sem sentido, pois Deus não escutaria, muito menos interviria em nosso favor. Em contraste, o cristão crê que Deus é um Deus de providência; que ele ativamente governa todos os assuntos do mundo e está intimamente envolvido mesmo em detalhes de nossas vidas. A grama que cresce, a morte de pássaros, a prosperidade de um, e a pobreza de outro, quando e onde viveremos, e o dia de nossa morte são assuntos que Deus está cuidadosamente supervisionando. Uma vez que Deus está ligado ao nosso mundo e às nossas vidas, simplesmente faz sentido que desejemos apelar a ele em oração.De fato, Deus nos convida a termos comunhão com ele; falar com ele sobre nossos desejos e experiências – nossas necessidades e feridas. Ele nos chama a chamá-lo e ele responde. Deus age. E, ainda assim, a oração é muito frequentemente um dom maravilhoso que deixo passar despercebido. Então, quando digo que me sinto mais deísta que cristão, estou confessando que minha vida de oração é normalmente muito pequena, e nem sempre reflete a crença no Deus que está lá, que se importa e se envolve. Assim, enquanto passava muito tempo trabalhando minha prática de oração, cheguei a algumas conclusões.Eu estava orando muito pouco.Eu estava orando com pouca paixão.Eu estava orando com muito pouco otimismo (essa é uma maneira legal de dizer que eu estava orando com pouca fé).Assim, enquanto estive pensando sobre as implicações de minha teologia sobre oração, e procurando entendimento de como uma vida saudável de oração se pareceria, também comecei a criar um plano para reiniciar tudo. O objetivo, para simplificar, é desenvolver uma atitude e um espírito de oração mais constantes a cada dia. Aqui está como recomecei minha vida de oração. Pode ser útil para alguns de vocês por aí.1. Defina oração corretamente.Sim, a oração pode ser entendida simplesmente como conversar com Deus. Mas, o que muitos precisam é de uma perspectiva teológica robusta sobre a oração. Um dos meus tratamentos favoritos no assunto é a famosa definição de John Bunyan. Seu conceito de oração é claro e útil.Oração é o derramar de modo sincero, consciente e afetuoso o coração ou alma diante de Deus, por meio de Cristo, no poder e ajuda do Espírito Santo, por aquelas coisas que Deus tem prometido ou de acordo com a Palavra, pelo bem da igreja, com submissão, em fé, à vontade de Deus.Esta definição bíblica de oração merece uma considerável meditação. Melhor ainda – leia Bunyan neste assunto. Por que isto é importante? Quanto melhor você entender o que oração é, melhor se tornará sua vida de oração. Por exemplo, para a oração ser legítima, Bunyan diz que deve ser afetuosa. Isso caracteriza sua conversa com Deus, ou é ela seria mais uma recitação, uma leitura fria de uma lista de compras com suas necessidades? Não realizarei uma exegese dessa definição agora, mas dedique tempo pensando nas implicações. Você pede por coisas que Deus prometeu, de acordo com a Palavra? Você ora submetendo-se a si mesmo à sabedoria e caminhos de Deus? Você ora em fé – crendo? Definir claramente o que oração é nos ajuda a guiar e avaliar nossas orações.2. Agende-se para um tempo maior de oração.Orações casuais e espontâneas são algo bom, mas orações planejadas e formais também são. Separe um tempo do dia para estar a sós com Deus. No início da manhã, no fim da noite, na

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pausa do almoço – o que for. Dedique um tempo para acalmar-se e entrar em um período de comunhão real com Deus. Eu sei que alguns entendem que agendar orações parece algo artificial, mas esse tipo de pensamento também despreza um encontro marcado com um cônjuge. Marcar uma saída com sua esposa significa falta de intimidade? Espero que não. A verdade é que, sem ter um horário marcado, será bem mais difícil ter um tempo maior de oração.3. Aprenda um método de oraçãoReservar um tempo a mais com Deus é complicado para muitos, e sem um método para guiar, esses períodos são frequentemente roubados por assuntos urgentes, ansiosos para tomar nossa atenção. Mesmo voltar ao momento de oração pode ser difícil. Aqui está o modelo que sigo:Salmo (um salmo diferente cada vez que oro): É útil pois atrai meu foco para o caráter e a obra de Deus, prepara minha mente e meu coração em uma direção em que posso funcionar bem durante o período.Adoração: Adorar a Deus por quem ele é, o que ele tem feito. É focar sua glória. Os salmos são particularmente úteis aqui, e esse aspecto da oração depende bastante de termos uma teologia bem desenvolvida.Confissão: Dedicar tempo considerando, confessando e crucificando o pecado.Gratidão: Agradecer a Deus por sua provisão, cuidado, promessas, etc.Súplica: Nossos pedidos a Deus por necessidades nossas e de outros.4. Crie lembretes para incentivá-lo durante o diaLembretes são incentivos ou suportes que nos levam a orar durante o dia. Isso não é simplesmente adicionar outro ritual, mas chamar a si mesmo de volta a um padrão de mente em que você reconhece que Deus está presente com você, e que você está sempre dependente dele. Seja criativo e use a tecnologia como lembrete. Cole bilhetes no vidro do seu espelho, post-its na sua agenda, deixe uma mensagem de voz no trabalho, envie um e-mail para si mesmo, consiga que amigos prometam te ligar aleatoriamente para lembrar-lhe de orar, etc.5. Aprimore-se na oração curtaA oração curta é um interação breve, espontânea e informal que você tem com Deus. Pode ser louvor, pedido ou confissão. Eu digo que a oração curta deve ser “aprimorada” porque ela não pode ser simplesmente a oração de um preguiçoso, em que Deus é tratado com menos interesse que a moça do drive-trhu. Para aprimorar-se na oração curta, não devemos apenas ter em mente a definição correta de oração (é claro que ainda se aplica aqui!), também temos de nos exercitar em “praticar a presença” de Deus. A não ser que aprendamos a caminhar todos os dias com a consciência de que Deus está conosco e de que somos dependentes deles, nunca dominaremos a arte da oração curta.

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A Trindade e a vida cristãPOR FELIPE SABINO | 23 de abril de 2014A Trindade, embora uma doutrina cardinal do cristianismo, às vezes não recebe a devida atenção. Isso se dá mesmo por parte daqueles que reconhecem a importância e a necessidade de sermos trinitarianos, de abraçarmos a fé num Deus que é um em substância e essência, mas três em Pessoa: Pai, Filho e Espírito Santo. A experiência de Sam Alberry, infelizmente, não é coisa rara:Quando jovem cristão, eu tinha um entendimento básico que, oficialmente, Deus era uma Trindade. Mas não oficialmente, isso quase não fazia diferença na minha vida cristã. Eu orava a Deus. Sabia que Jesus tinha morrido por meus pecados. Eu lia a Bíblia e tentava viver a vida de uma maneira que agradasse ao meu Pai celestial. Nunca me ocorreu ir além disso. A doutrina da Trindade estava cuidadosamente arquivada na gaveta de “Coisas que todos os bons cristãos creem” e, então, nunca mais revista.[1]Gostamos de enfatizar a importância da justificação pela fé. Alegamos, seguindo Lutero e tantos outros, que ela é a doutrina pela qual a Igreja cai ou fica de pé. Embora reconheçamos a importância da bendita verdade de que somos justificados unicamente por causa de Cristo, por termos fé nele, como nosso Salvador e Substituto, há algo ainda mais fundamental. É a doutrina de Deus.Se não conhecermos o Deus verdadeiro, que se revela na sua Palavra de maneira infalível, qualquer outro conhecimento será deturpado e carente de significado. Antes de conhecermos a obra da salvação, devemos conhecer o Deus que nos salva. Assim, creio que Bavinck coloca a questão de uma forma mais bíblica:A doutrina da Trindade é de importância incalculável para a religião cristã. Todo o sistema cristão de crença, toda a revelação especial fica de pé ou cai com a confissão da doutrina da Trindade. Ela é o núcleo da fé cristã, a raiz de todos os seus dogmas, o conteúdo básico da nova aliança.[2]Sim, devemos conhecer o Deus que se revela. E ele, ao se autorrevelar, nos informa que é uma Trindade. A partir do que encontramos na Bíblia, a autorrevelação de Deus, podemos dizer que o ensino bíblico sobre a Trindade abrange quatro afirmações essenciais:Há um e somente um Deus vivo e verdadeiro;Este único Deus existe eternamente em três pessoas — Deus o Pai, Deus o Filho e Deus o Espírito Santo;Essas três pessoas são completamente iguais em atributos, cada uma com a mesma natureza divina;Embora cada pessoa seja plena e completamente Deus, as pessoas não são idênticas.As diferenças entre Pai, Filho e Espírito Santo estão fundamentadas na forma como eles se relacionam um com o outro e o papel que cada um desempenha ao realizar o propósito divino.A unidade da natureza e a distinção de pessoas da Trindade podem ser ilustradas nas seguintes afirmações adicionais:O Pai é Deus;O Pai não é o Filho;O Pai não é o Espírito Santo;O Filho é Deus;O Filho não é o Pai;O Filho não é o Espírito Santo;O Espírito Santo é Deus;O Espírito Santo não é o Pai;O Espírito Santo não é o Filho.Ao longo da história da Igreja cristã, diversos credos, confissões e catecismos tentaram resumir e apresentar as principais doutrinas do cristianismo. Como era de se esperar, os documentos que se mantiveram fieis à Escritura apresentam a doutrina da Trindade de maneira clara. Aqui, vale citar as três perguntas e respostas do Breve Catecismo de Westminster:

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Pergunta 4. O que Deus é?Resposta: Deus é espírito, infinito, eterno e imutável em seu ser, sabedoria, poder, santidade, justiça, bondade e verdade.Pergunta 5. Há mais de um Deus?Resposta: Há um só Deus, o Deus vivo e verdadeiro.Pergunta 6. Quantas pessoas há na Divindade?Resposta: Há três pessoas na Divindade: O Pai, o Filho e o Espírito Santo, e estas três pessoas são um Deus, da mesma substância, iguais em poder e glória.Devemos deixar claro que o ensino sobre a Trindade não é uma verdade descoberta pelo homem, mas revelada por Deus. E trata-se de uma revelação especial, disponível apenas na Escritura Sagrada. Deus se revela na criação também, mas inúmeras verdades só são encontradas na Bíblia. A Trindade é uma delas, ao lado das duas naturezas de Cristo e tantas outras doutrinas gloriosas. Contemplar o céu e as demais obras da criação podem me apontar para a existência de um Criador, de um Deus, mas não para a existência de um Deus que subsiste em três Pessoas. É por isso que o Evangelho deve ser pregado, pois somente nele temos a revelação plena e salvífica de Deus. Sim, ninguém será salvo sem conhecer a Trindade.O objetivo deste artigo é analisar como a doutrina da Trindade se relaciona com a vida cristã. Antes disso, veremos alguns erros a se evitar.A Trindade e alguns erros comunsDurante toda a história da Igreja, muitos tentaram simplificar a doutrina da Trindade, torná-la mais “palatável”, mais fácil de crer. Mas ao fazê-lo, eles acabaram não representando o que a Escritura ensina verdadeiramente, e terminaram com uma doutrina da Trindade bem diferente da doutrina bíblica.Os erros mais comuns, que ainda persistem em nossos dias, são os seguintes: triteísmo, monarquismo e modalismo.O triteísmo ignora a afirmação bíblica recorrente de que Deus é um. Essa heresia afirma que há três deuses, que são do mesmo tipo e, todavia, distintos e separados um do outro. Devemos cuidar para que não sejamos triteístas quando pensamos sobre Deus, mesmo que não verbalizemos isso. O alerta é oportuno, pois alguns cristãos tendem a pensar em “Deus mais em trindade do que unidade.[3] Eles pensam nele mais facilmente como Três do que como Um-em-Três ou Três-em-Um”.[4] Note que o triteísmo é uma forma de politeísmo.O monarquismo é o erro daqueles que não reconhecem a igualdade das Pessoas da Trindade. Alguns pensam que o Filho é menos Deus que o Pai, e o Espírito Santo menos Deus que o Filho. Ou pensam que há uma subordinação ontológica das Pessoas. É verdade que na economia da salvação há uma subordinação do Filho ao Pai, e do Espírito ao Filho e ao Pai. Mas isso não está ligado à essência das Pessoas, pois os três são Deus. Trata-se do cumprimento do Pacto, do Acordo feito entre as três Pessoas. O Filho deliberadamente aceitou ser subordinado ao Pai para resgatar o seu povo, e o Espírito aceitou ser subordinado ao Filho e ao Pai para aplicar a salvação adquirida pelo Filho.Por último, o modalismo é a heresia de que não existem três Pessoas na Trindade. Há um Deus, que é apenas uma Pessoa, mas que se revela de diversos modos (daí o nome modalismo). Portanto, existem vários modos, diversas maneiras de Deus se revelar à humanidade. Em tempos diferentes, ele se revela como Pai, como Filho e então como Espírito Santo.[5]Tendo visto rapidamente alguns erros comuns sobre a doutrina da Trindade, vejamos a relevância dessa verdade para a vida cristã.A Trindade e o Fim Principal do HomemNenhum cristão verdadeiro ousaria dizer que o ensino sobre Deus é irrelevante, ou de pouca praticidade. Longe disso! Aquele que foi salvo deseja conhecer mais e mais o Deus que o salvou.

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Para o cristão reformado[6], a primazia do conhecimento de Deus é ainda mais nítida. Afinal, o Breve Catecismo de Westminster, um dos belos e antigos símbolos de fé da tradição reformada, começa com a seguinte pergunta: Qual é o fim principal do homem?A resposta, que mesmo as crianças da família da aliança conhecem,[7] não poderia ser mais bela e bíblica:O fim principal do homem é glorificar a Deus e gozá-lo para sempre.[8]Embora a necessidade e obrigação de conhecermos e prosseguirmos em conhecer a Deus (Oseias 6.3) seja uma verdade abraçada e afirmada com vigor pelos cristãos, o mesmo não acontece com a Trindade. Muitos consideram a Trindade uma doutrina obscura, estranha, difícil demais para merecer a nossa atenção. Uma doutrina que não pode ser negada, mas que deve ser deixada de lado; afinal, é mais seguro, a fim de evitarmos alguma heresia ao lidar com tão “perigosa” doutrina.Além disso, não poucos lutam e não conseguem encontrar alguma praticidade na doutrina de que Deus existe em três Pessoas distintas e igualmente gloriosas.A ideia subjacente a esse pensamento é que ensinar sobre a Trindade não é diferente de ensinar sobre Deus. Contudo, o Deus que existe é uma Trindade. Se em nosso forço diário para conhecermos a Deus não buscarmos conhecer o Deus que é uma Trindade, estaremos atrás de um falso deus, um deus criado pela nossa imaginação pecaminosa.Em outras palavras, se haveremos de cumprir o nosso fim principal, devemos necessariamente aprender sobre a Trindade. Nada pode ter mais relevância prática do que a doutrina sobre Deus, e o Deus que existe é uma Trindade.Conhecer a Deus, conhecer como ele realmente é, conhecê-lo como revelado na Bíblia, é conhecê-lo como o Pai, o Filho e o Espírito Santo.A Trindade e a SalvaçãoQuando as pessoas são salvas, geralmente elas não percebem que algo trinitariano lhes aconteceu. Mas “algo trinitariano” é precisamente o que aconteceu na salvação: todo aquele que é salvo foi trazido pelo Pai (Jo 6.44) e levado pelo Espírito a confessar que Jesus é Senhor (1Co 12.3).O Evangelho nos dá tremendo discernimento sobre a Trindade, pois no Evangelho vemos o Pai enviando o Filho, revestido de poder pelo Espírito Santo, para receber a ira do Pai e nos colocar em eterna comunhão com Deus.Voltando à alegação, por parte de alguns, que a Trindade é irrelevante, ou no mínimo uma doutrina “opcional”. Ora, nenhum cristão argumentaria que o Evangelho é opcional. Afinal, o Evangelho é o poder de Deus, para salvação de todo aquele que crê (Rm 1.16). Todavia, o Evangelho é uma realidade trinitariana. O Evangelho torna-se ininteligível sem um conceito das Pessoas distintas de Deus.Em 1 João 4.14, por exemplo, lemos que “o Pai enviou o seu Filho como Salvador do mundo”. Este simples versículo abre os nossos olhos para as pessoas da Trindade trabalhando em prol da nossa salvação.A Trindade é indispensável para entendermos o Evangelho. Sem ela, “todo o plano da redenção fica em pedaços”[9].A Trindade e a OraçãoA falta do entendimento da Trindade é muitas vezes revelada na forma como oramos. Não poucas vezes as pessoas da Trindade são confundidas nas orações do povo de Deus.― Ó Pai, Deus de amor, te agradecemos por ter morrido em nosso lugar.Essa é, infelizmente, uma oração comum, mas revela um erro grosseiro por não distinguir as Pessoas da Trindade. Somente o Filho encarnou e somente o Filho morreu em favor do seu povo. O Pai, nem o Espírito fez isso.[10]A nossa oração é, ou ao menos deveria ser trinitariana. O nosso Senhor ensinou claramente que devemos orar ao Pai (Lucas 11.2), em nome de Jesus (isto é, por causa dos seus méritos), e no poder do Espírito Santo.

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“Orando no Espírito Santo” (Judas 20), é o que devemos fazer. É ele, a Terceira Pessoa da Trindade, quem desperta em nós o desejo de orar, e quem intercede por nós, pois não sabemos orar como convém. É Paulo quem nos ensina isso claramente:Também o Espírito, semelhantemente, nos assiste em nossa fraqueza; porque não sabemos orar como convém, mas o mesmo Espírito intercede por nós sobremaneira, com gemidos inexprimíveis. (Romanos 8.26)Todas as três pessoas da Trindade estão presentes na verdadeira oração. Dirigimo-nos ao Pai, o Filho conseguiu esse livre acesso, e o Espírito nos capacita e nos auxilia neste santo dever. A Trindade e a AdoraçãoO verdadeiro culto cristão é trinitariano. É algo inescapável. Deixe-me explicar.Gosto como Tim Chester coloca isso:Nossa adoração é inevitavelmente trinitariana. O Pai e o Filho se deleitam um no outro, na alegria do Espírito e juntos participamos desse deleite (Lucas 10.21-22).[11] Mas frequentemente perdemos a percepção disso quando não é algo explícito na forma como moldamos a nossa adoração. Mas a Trindade impacta nossa adoração (quer percebamos ou não)! Mesmo quando nossa adoração é fraca e desfigurada pelo pecado, o Espírito nos conecta a Cristo nosso Sacerdote, que nos representa diante do Pai na congregação celestial (Hb 2.11-13).[12]Em outras palavras, a verdade da Trindade deveria estar explícita em nosso culto comunitário: nas orações, nos hinos e, sobretudo, na pregação. Contudo, mesmo quando isso não acontece, o culto ainda é trinitariano. O motivo é belo e enche o coração de alegria: a Trindade está trabalhando para nos perdoar e tornar o nosso culto aceitável.Todavia, isso não é escusa para não trabalharmos em busca de um culto cada vez mais trinitariano. A nossa liturgia deve ser evidentemente triúna, e não apenas os ministros do Evangelho, mas toda a congregação deve ser capaz de explicar o motivo de ser assim.A Trindade e “Deus como Amor”Em 1 João 4.8, lemos que “Deus é amor”. Mesmo crianças podem entender que o amor exige a existência de mais de uma pessoa. Assim, se Deus é amor, entendemos que Deus é tanto o amante como o amado.Mas se Deus não fosse uma Trindade, ele não poderia ser amor. Ele existiria durante uma eternidade “passada”,[13] isto é, antes de ter criado, sozinho, sem amar e sem ser amado.A ideia de que Deus precisa de nós, de que ele precisava criar, é uma ideia de quem não entendeu a Trindade. Deus não estava sozinho, não estava em busca de alguém para amar ou por quem ser amado. Ele já amava e era amado antes da fundação do mundo. Vejamos:Portanto, a criação não é Deus em busca de amor, mas Deus derramando o seu amor, jorrando o seu amor. O fato de ele nos criar, mesmo sem precisar, nos revela o seu amor. Se ele não estava carente de companhia (e de fato não estava!), se não necessitava da criação (longe disso!), e mesmo assim decidiu ir adiante e criar, só podemos exclamar: quão grande é esse amor!Uma Palavra de CautelaNão precisamos e não devemos simplificar o conceito da Trindade. Mas permitir que a explicação da Trindade seja complexa não significa entrar em todos os detalhes da Trindade econômica, muito menos nas noções especulativas a partir dos debates acadêmicos.A Trindade não é um mistério, pois está revelada na Escritura.[14] Trata-se de uma verdade que Deus nos apresentou em sua Palavra inspirada, inerrante e infalível. Por outro lado, ela é um mistério[15] no sentido de não sabermos diversas coisas; na Escritura, não nos foi revelado tudo acerca da existência de Deus como uma Trindade. Não há uma descrição detalhada e exaustiva de como a Trindade “funciona”.Portanto, devemos lidar apenas com aquilo que a Escritura nos revela acerca do Deus que existe, do Deus que é uma Trindade. Não nos é lícito especular sobre inúmeras verdades, muito menos a verdade sobre Deus. E mais: não apenas não sabemos tudo sobre Deus, mas não podemos, e nunca poderemos saber! Eu explico:

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As Pessoas da Trindade são plenamente conhecidas apenas uma pelas outras. Deus é um ser Infinito e nós, seres finitos, não podemos saber tudo o que é possível saber sobre ele. Digo possível, pois, como já dissemos, trata-se de algo possível e factual entre as Pessoas da Trindade. Jesus diz em Mateus 11.27:Ninguém conhece o Filho, senão o Pai; e ninguém conhece o Pai, senão o Filho…É verdade que ao final Jesus diz: “e aquele a quem o Filho o quiser revelar”. Mas não se trata de uma revelação completa. Esta não é uma interpretação forçada, pois é corroborada por outras passagens, dentre elas 1 Coríntios 2.11:Porque qual dos homens sabe as coisas do homem, senão o seu próprio espírito, que nele está? Assim, também as coisas de Deus, ninguém as conhece, senão o Espírito de Deus.O Pai conhece o Filho, o Filho conhece o Pai e ambos conhecem e são conhecidos pelo Espírito de uma forma que nunca estará acessível a nós, criaturas. A distinção Criador-criatura é instransponível. Alguns reconhecem isso, mas acham que a distinção e a limitação de conhecimento serão eliminadas no céu, após sermos glorificados. É claro que teremos um conhecimento mais claro e abrangente de quem Deus é, mas ainda será um conhecimento muitíssimo limitado. Afinal, seremos glorificados, mas não deixaremos de ser criaturas.Este é o nosso Deus. Prostremo-nos diante dele.[1] Sam Allberry, Connected: Living in the light of the Trinity (Nottingham: IVP, 2012), p. 13.[2] Herman Bavinck, Dogmática Reformada — Deus e a Criação, Volume 2 (São Paulo: Cultura Cristã, 2012), p. 341. Ênfase adicionada.[3] Ou seja, embora usemos o termo Trindade, devemos pensar em Deus como triunidade, como um Deus triúno. Há unidade na pluralidade![4] Stuart Olyott, What the Bible Teaches about The Trinity (Darlington, England: EP Books, 2011), 88.[5] A tentativa de explicar a Trindade como a água em seus três estados (líquido, gasoso e sólido) é claramente uma visão modalista. Vale lembrar que qualquer analogia para a Trindade é inapropriada, pois não se trata de uma realidade presente e descoberta na criação. Conhecemos a Trindade somente mediante revelação proposicional do Criador, em sua Palavra.[6] Ou seja, que creem naquilo que é comumente chamado de Teologia Reformada. Para os não familiarizados com a Teologia Reformada, recomendo as seguintes leituras: O que é teologia reformada, de R. C. Sproul; Calvinismo, de Abraham Kuyper; Vivendo para a glória de Deus, de Joel Beeke.[7] Na verdade, o Breve Catecismo de Westminster, embora usado em nossos dias para instrução de adultos, foi criado para o ensino das crianças.[8] Ou, como sugerem alguns amigos, “deleitar-se nele para sempre”.[9] Stuart Olyott, What the Bible Teaches about The Trinity (Darlington, England: EP Books, 2011), 98.[10] É claro, muitos dos que oram assim o fazem por ignorância, sem perceberem o que estão fazendo. Aliás, não poucos soltam essas “pérolas” devido ao nervosismo quando oram em público. A despeito da não intencionalidade desses cristãos, orar dessa maneira é afirmar a heresia do modalismo.[11] Naquela hora, exultou Jesus no Espírito Santo e exclamou: Graças te dou, ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque ocultaste estas coisas aos sábios e instruídos e as revelaste aos pequeninos. Sim, ó Pai, porque assim foi do teu agrado. Tudo me foi entregue por meu Pai. Ninguém sabe quem é o Filho, senão o Pai; e também ninguém sabe quem é o Pai, senão o Filho, e aquele a quem o Filho o quiser revelar. (Lucas 10.21-22)[12] Credo Magazine, Abril 2013, p. 18.RelacionadosTeologia para vomitarTerrível beleza, beleza e apenas terrívelConfissões de uma mulher que não gostava de teologia

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Um Calvinista e um Fundamentalista entram em um bar…[13] Como Deus criou o próprio tempo, não existe uma eternidade passada.[14] Diferente do uso popular do termo, mesmo por grandes teólogos, mistério não é algo desconhecido, algo nebuloso, muito menos um conhecimento místico. Antes, é um conhecimento que estava oculto, que era desconhecido, mas foi posteriormente revelado por Deus. O termo é muito usado pelo apóstolo Paulo e pode ser visto em diversas passagens, das quais citamos três: “Mas falamos a sabedoria de Deus em mistério, outrora oculta, a qual Deus preordenou desde a eternidade para a nossa glória” (1 Coríntios 2.7); “Eis que vos digo um mistério: nem todos dormiremos, mas transformados seremos todos” (1 Coríntios 15.51); “O mistério que estivera oculto dos séculos e das gerações; agora, todavia, se manifestou aos seus santos” (Colossenses 1.26).[15] Não há contradição aqui. Estou simplesmente dizendo que sabemos alguma coisa, mas não tudo (longe disso!).

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Se você espera frutos sem uma árvore, você é loucoPOR KEVIN DEYOUNG | 05 de março de 2013Nós igualamos amor com indiferença ao pecado quando a lógica da Bíblia é exatamente o contrário. A cruz é a mais completa expressão do amor de Deus não porque ela mostra a indiferença de Deus ao pecado, mas porque ela mostra o ódio santo de Deus contra o pecado e seu desejo de Ele próprio pagar pelo pecado. Isso é amor.No final de Atos 7, vemos Estevão orando pela multidão furiosa que lhe apedrejava até a morte. Ele diz com seu último fôlego: “Senhor, não lhes impute este pecado!”. Certamente isso é amor: Estevão queria que eles recebessem a misericórdia que eles não tiveram com ele. Ele não tinha feito nada de errado. Estevão não merecia morrer. A atitude deles foi um profundo exemplo de injustiça criminal. Ainda assim, em seu suspiro final, ele clama em favor deles: “Senhor, tenha misericórdia”.Como ele fez isso? Como Estevão pode amar assim? Como podemos amar assim? Como podemos orar assim? Como podemos perdoar assim? Muitas pessoas no mundo querem amar e perdoar. Gostamos dessas virtudes em nossa cultura. Mas poucas pessoas estão interessadas nos princípios que fazem essas virtudes possíveis. Pessoas querem amar como Estevão sem se incomodar em entender e ganhar convicção da teologia que fez esse amor possível. Eles não querem ver o Jesus que ele viu, ou crer na vindicação que ele sabia que viria, ou entregar a ofensa deles ao Deus de justiça que um dia irá endireitar todas as coisas.No mundo, eles querem ser boas pessoas. Mas não percebem que precisam ser pessoas de Deus antes. Espero que você não esteja indo para a igreja apenas para se tornar uma pessoa melhor ou apenas pelos valores morais que seus filhos possam aprender. Não é assim que o Cristianismo funciona. Tornar-se um cristão não se trata simplesmente de autoaprimoramento. Mas Cristianismo é sobre uma centena de verdades específicas que ensinam nossas mentes e tocam nossos corações – verdades sobre Deus, Cristo, pecado e salvação. E sim, depois, e somente em conexão com todo o restante, ele é sobre ser uma boa pessoa. Quando você abraça a cosmovisão bíblica do Pai, Filho e Espírito Santo; Criação, Queda, Redenção e Consumação; Redenção consumada e aplicada – quando seu coração exultar por tudo isso, então você dará fruto. Mas nunca espere parecer com Estevão se você deseja o fruto sem a árvore.

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Expulsando o mundanismo com uma nova afeiçãoPOR SINCLAIR FERGUSON | 18 de novembro de 2009Thomas Chalmers (1780-1847) foi um dos homens mais notáveis de seu tempo – matemático, teólogo evangélico, economista, sacerdote, político e reformador social, tudo de uma vez. Seu sermão mais famoso foi publicado com o estranho título “O Poder Expulsivo de uma Nova Afeição”. Ali ele expõe uma ideia de importância permanente para a vida cristã: você não pode destruir o amor pelo mundo meramente mostrando sua futilidade. Mesmo se pudéssemos, isso nos levaria somente ao desespero. O primeiro amor de nossos corações, centrado no mundo, só pode ser expulso por um novo amor e afeição – por Deus e proveniente de Deus. O amor ao mundo e o amor ao Pai não podem habitar juntos no mesmo coração. O amor ao mundo só pode ser lançado fora pelo amor do Pai. Daí o título do sermão de Chalmers.A verdadeira vida cristã, o viver santo e reto, requer uma nova afeição pelo Pai como força-motora. Esta nova afeição é parte do que William Cowper chamou de “a bem-aventurança que eu senti quando vi o Senhor pela primeira vez” – um amor pelo santo, no início da vida cristã, que parece desferir em nossas afeições carnais um golpe mortal. Entretanto, logo descobrimos que, embora tenhamos morrido para o pecado em Cristo, o pecado certamente não morreu em nós. Algumas vezes sua contínua influência nos surpreende, parece até nos controlar em uma ou outra de suas manifestações. Descobrimos que nossas “novas afeições” pelas coisas espirituais deve ser renovada constantemente durante toda a nossa peregrinação. Se perdermos o primeiro amor, nos encontraremos em sério perigo espiritual.Onde está o relacionamento vivo com Deus?Algumas vezes, cometemos o erro de substituir isso por outras coisas. Os favoritos aqui são ativismo e estudo. Tornamos-nos ativos no serviço eclesiástico (ganhamos posições anteriormente ocupadas por aqueles a quem admirávamos, e medimos nosso crescimento espiritual em termos da posição conquistada); tornamos-nos ativos no evangelismo e, no processo, medimos nosso poder espiritual em termos do crescimento de nossa influência; ou nos tornamos ativos socialmente, em campanhas morais e políticas, e medimos o crescimento em termos de envolvimento. Alternativamente, reconhecemos o desafio e a fascinação intelectual do Evangelho, e nos devotamos a entendê-lo, talvez para nosso prazer, às vezes para comunicar aos outros. Medimos nossa vitalidade espiritual em termos de entendimento ou em termos da influência que temos sobre os outros. Mas, nem posição, influência ou envolvimento podem expulsar o mundo de nossos corações. De fato, elas podem ser expressões deste amor.Outros de nós cometem o erro de substituir a afeição amorosa pelo Pai por regras de piedade: “Não manuseie! Não prove! Não toque!”. Essas disciplinas têm um ar de santidade nelas, mas de fato elas não têm o poder de deter o amor pelo mundo. A raiz do problema não está em minha mesa ou na minha vizinhança, mas em meu coração. O mundanismo ainda não foi expelido.Onde está o primeiro amor?É também possível, nessas diferentes maneiras, ter a forma de piedade genuína (quão sutis nossos corações são!) sem seu poder. O amor pelo mundo não foi removido, mas apenas entretido. Somente um novo amor é capaz de expulsar o antigo. Somente o amor por Cristo, com tudo o que ele implica, pode empurrar para fora o amor por este mundo. Somente aqueles que anseiam pelo aparecimento de Cristo serão libertos da deserção, semelhante à de Demas, causada pelo amor a este mundo.Como podemos recuperar a nova afeição por Cristo e seu reino, que impactou tão poderosamente nosso mundanismo, e onde crucificamos a carne e suas paixões?O que provocou aquele primeiro, afinal? Você se lembra? Foi nossa descoberta da graça de Cristo no reconhecimento de nosso próprio pecado. Não somos naturalmente capazes de amarmos a Deus; na verdade, nós o odiamos. Mas ao descobrir isto sobre nós mesmos, e ao aprender sobre o amor sobrenatural de Deus por nós, o amor pelo Pai nasceu. Aquele que é muito perdoado, muito ama. Nos alegramos na esperança da glória, no sofrimento, e no

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próprio Deus. Essa nova afeição parece primeiro atacar nosso mundanismo e depois dominá-lo. As realidades espirituais – Cristo, graça, Escritura, oração, comunhão, serviço, viver para a glória de Deus – preenchem nossa visão, e parecem tão grandiosas, tão desejáveis, que outras coisas em comparação parecem diminuir de tamanho e se tornam insossas ao paladar.Voltemos à Maravilhosa Graça!A maneira de mantermos “o poder expulsivo da nova afeição” é a mesma de quando o conhecemos pela primeira vez. Somente quando a graça ainda é “maravilhosa” para nós, ela retém seu poder em nós. Somente quando continuamos com um senso de nossa profunda pecaminosidade podemos reter um senso da graciosidade da graça.Muitos de nós compartilhamos as tristes perguntas de Cowper: “Onde está a bem-aventurança que conheci quando vi o Senhor pela primeira vez? Onde está a visão de Jesus e de sua Palavra que restaura a alma?”. Vamos nos lembrar de onde temos caído, nos arrepender e retornar às primeiras obras. Seria triste se uma análise mais profunda de nosso cristianismo apresentasse a falta do senso de pecado e de graça. Isto sugeriria que sabíamos pouco sobre o poder expulsivo de uma nova afeição. Mas não há vida reta que dure sem isso.