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Por que aprender redação?

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Capítulo 1 Por que aprender redação?

1. Por que aprender redação?

Se você está lendo este mate-rial, provavelmente tem a intenção de fazer um curso de Redação. Nesse caso, é impor-tante saber o que vai ser exigido de você no decorrer do curso. Se sua intenção é frequentar as aulas e prestar o máximo de atenção, esse é um bom começo, mas não o sufi ciente. Se você também se propõe a ler este material, isso vai ajudar muito, mas também está longe de ser o bastante. Só existe um jeito de aprender a escrever, e é escrevendo.

Ainda que muitas pessoas concor-dem com essa afi rmação, é bastante comum que elas deixem a prática de lado, e depois se surpreendam ao perceber que não melhoraram sua escrita no decorrer de um ano. É típico também que haja diversas “desculpas” usadas por essas pessoas para não se dedicarem à

escrita. Esperamos que você, por estar lendo este material, já esteja convencido da importância da

Redação; mas, apenas para reforçar essa opinião, dare-mos-lhe alguns motivos para considerar

o aprendizado da escrita algo interessante, neces-

sário, alcançável e até mesmo prazeroso.

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1.1. Redação é útil

Digamos que você já tenha se perguntado: “por que eu preciso aprender Reda-ção?”. Vivemos em uma sociedade letrada e as pessoas capazes de se comunicar melhor por escrito têm acesso a uma série de benefícios. Por exemplo, discursos bem escritos podem convencer mais facilmente as pessoas que o leem e torná-las aliadas do autor do texto; na maioria das situações, quando se deseja garantir um direito, é necessário fazê-lo por escrito; a crescente comunicação por e-mail e a popularização dos blogs na internet são outros motivos para se valorizar o uso da linguagem escrita. E não estamos aqui falando apenas da correção gramatical dos textos, mas principalmente da efetividade deles, ou seja, da sua eficiência para con-vencer, informar e atrair o interesse do leitor.

No caso específico das provas de vestibular, a Redação costuma receber um valor bastante elevado na maioria dos processos seletivos mais concorridos e res-peitados. E, mesmo após seu ingresso na universidade, você irá perceber que a capacidade de se comunicar por escrito é fundamental para o bom desempenho acadêmico e também será um diferencial importante no mercado de trabalho.

Imaginando que você tenha se convencido da utilidade da Redação, passare-mos a outro aspecto: é possível aprender a escrever bons textos, ou é necessário ter nascido com talento para isso?

Para saber mais sobre a importância de escrever bem, acesse uma repor-tagem da Editora Abril.

Disponível em: <http://educarparacrescer.abril.com.br/comportamento/importancia-escrita-559518.shtml>.

1.2. Literatura é arte, mas Redação é técnica

Talvez você mesmo já tenha passado por isso: após ler um texto muito bem escrito, surgem dois sentimentos contraditórios: um é a vontade de escrever algo tão bom, enquanto o outro é a tristeza por imaginar que aquele nível é impossí-vel de se alcançar. A notícia ruim é que, realmente, a probabilidade de você escre-ver como Machado de Assis ou Roberto Pompeu de Toledo é muito baixa. Porém, a notícia boa é que, mesmo sem se tornar um escritor profissional, você ainda tem muito a ganhar com o aprendizado de técnicas de escrita.

Ao contrário do que talvez possa parecer, as redações em provas de vestibular não serão julgados pelos mesmos critérios que os textos jornalísticos ou literários. Não se espera de um vestibulando que, com tempo e espaço limitados, produza um artigo com a mesma qualidade de um escritor profissional. O que será realmente exigido é que o candidato demonstre capacidade de produzir um texto coerente e claro dentro do tema proposto; e a capacidade de escrever uma redação que cum-pra esses requisitos é perfeitamente adquirível em um ano de estudo. Porém, esse aprendizado não será automático, mas virá apoiado em dois fatores: planejamento e prática.

O hábito mais saudá-vel que um aluno de Reda-ção pode adquirir é o de fazer o projeto de texto, que consiste em uma estrutura ordenada em que se organizam primeiro as ideias e só depois as palavras do texto. É importante que você não confunda projeto de texto com rascunho. A diferença é que o último já corresponde a um texto compreensível para seu leitor, enquanto o primeiro ainda não está estruturado: ele só precisa ser

1.3. Planejar é preciso

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compreendido pelo próprio autor. Uma comparação possível seria dizer que o pro-jeto de texto é a planta de uma casa, enquanto o rascunho é a casa já erguida, mas sem acabamento.

Cada tipo de texto tem um projeto específico, mas pode-se dizer que todos eles partem do mesmo princípio, que é decidir o objetivo final do texto antes de escre-ver o início. Mais sobre isso daqui a alguns capítulos.

1.4. A prática leva à perfeição

Fazer redações pode parecer difícil, e é provável que, com a adição da necessi-dade de se elaborar um projeto de texto, essa tarefa passe a impressão de ser quase impossível para alguns estudantes. Porém, a dificuldade só irá diminuir se você não desistir ao ver que suas primeiras redações ainda estão longe do ideal e con-tinuar escrevendo.

Não há milagres nem fórmulas mágicas: os textos vão melhorar principal-mente pela prática e pelo retorno dado pelos corretores. Você deverá escrever com frequência e prestar atenção aos problemas que o corretor apontar, para buscar corrigi-los. Sempre que receber um texto com comentários, procure observá-los e, se necessário, pedir explicações ao seu professor ou à pessoa que corrige seu texto. Tenha sempre em mente que, durante seu curso de Redação, o foco será o processo de aprendizagem, mas na prova do vestibular o que importa é apenas o produto final. Portanto, aproveite bem todas as oportunidades de diminuir a quantidade de problemas em suas redações. Muitas vezes você poderá até se incomodar com os comentários em seu texto, mas pode ter certeza de que eles só existem para aju-dá-lo a melhorar sua escrita.

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Tipos de textoCapítulo 2

1. Tipo de texto e gênero textual

A distinção entre tipo de texto e gênero textual não é, de forma alguma, uma ciência exata; para fi ns pedagógicos, porém, podemos usar o seguinte critério: a divisão em tipos de texto leva em conta, principalmente, fatores internos ao pró-prio texto (especialmente a presença de certas estruturas discursivas, como os ver-bos de ação no texto narrativo), enquanto a categorização em gêneros textuais dá uma importância maior aos fatores externos, especialmente a intenção do autor e a presença do texto em situações reais de produção.

Dessa forma, podemos dizer que a narração é um tipo de texto, pois contém algumas características constantes, como personagens e enredo, independen-temente da intenção de seu autor ao escrevê-la; o romance, a piada e a crônica, porém, são gêneros textuais, pois cada um deles atende a uma necessidade espe-cífi ca de seu autor. Da mesma forma, pode-se afi rmar que o romance histórico, a novela televisiva e o conto policial são subgêneros, em razão de uma especifi ci-dade ainda maior das intenções de seus autores.

De acordo com essa corrente de análise, os gêneros são virtualmente infi nitos e os tipos de texto, bastante limitados. A maioria dos autores admite a presença de três tipos: a dissertação, a narração e a descrição, enquanto outros expandem essa lista, incluindo nela a injunção (texto que contém instruções para a realiza-ção de determinada tarefa), e outros dividem a dissertação em três (dissertação, exposição e informação).

Para nossos propósitos, interessam principalmente os dois primeiros (disserta-ção e narração), que veremos agora de forma mais detalhada.

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1.1. Narração

Uma narração possui cinco características: personagens, enredo, narrador, tempo e espaço. Nós veremos cada um desses elementos com mais detalhes no futuro, mas já podemos adiantar que os dois principais são os personagens (que vivem a história e devem ser caracterizados) e o enredo (que corresponde aos fatos narrados na história). Resumidamente, é possível defi nir a narração como o texto em que um narrador conta eventos vividos por personagens e localizados no tempo e no espaço. Vejamos um exemplo:

Velha história

Era uma vez um homem que estava pescando, Maria. Até que apanhou um pei-xinho! Mas o peixinho era tão pequenininho e inocente, e tinha um azulado tão indescritível nas escamas, que o homem fi cou com pena. E retirou cuidadosamente o anzol e pincelou com iodo a garganta do coitadinho. Depois, guardou-o no bolso traseiro das calças, para que o animalzinho sarasse no quente.

E desde então fi caram inseparáveis. Aonde o homem ia, o peixinho o acompa-nhava, a trote, que nem um cachorrinho. Pelas calçadas. Pelos elevadores. Pelos cafés. Como era tocante vê-los no “17”! – o homem, grave, de preto, com uma das mãos segurando a xícara de fumegante moca, com a outra lendo o jornal, com a outra fumando, com a outra cuidando do peixinho, enquanto este, silencioso e levemente melancólico, tomava laranjada por um canudinho especial... Ora , um dia o homem e o peixinho passeavam à margem do rio onde o segundo dos dois fora pescado. E eis que os olhos do primeiro se encheram de lágrimas. E disse o homem ao peixinho: “Não, não me assiste o direito de te guardar comigo. Por que roubar-te por mais tempo ao carinho do teu pai, da tua mãe, dos teus irmãozinhos, da tua tia solteira? Não, não e não! Volta para o seio da tua família. E viva eu cá na terra sempre triste!...”

Dito isto, verteu copioso pranto e, desviando o rosto, atirou o peixinho na’água.

E a água fez um redemoinho, que foi depois serenando, serenando... até que o pei-xinho morreu afogado...

Mario Quintana

1.1.1. Personagens

No conto há duas personagens: o homem e o peixinho. Mais importante que saber o nome deles, no entanto, é entender suas características: o homem se revela, durante o texto, emotivo e solitário. O peixinho, por sua vez, é pequeno, inocente e bonito (tem um ‘azul indescritível’ nas escamas). Embora o autor mencione uma

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“Maria”, que aparentemente é a pessoa a quem ele está contando a história, ela não é personagem, pois não tem nenhuma característica e também não participa dos eventos.

1.1.2. Enredo

O enredo consiste nos fatos da história. Por exemplo, o momento em que o homem pesca o peixinho é importante, pois, se tivesse ocorrido de maneira dife-rente, causaria mudanças profundas no conto (por exemplo, se o homem tivesse simplesmente jogado o peixinho de volta, a história seria outra). Mas o fato de o homem levar o peixinho ao café não é tão importante: a história poderia ser pra-ticamente a mesma se eles tivessem ido a um restaurante. Podemos dizer, então, que o enredo é o seguinte: Um homem vai pescar e encontra um peixinho; resolve criá-lo, vai com ele para todos os lugares. Um dia, resolve devolvê-lo ao rio. O pei-xinho morre afogado.

1.1.3. Narrador

O narrador aqui é o que se chama de narrador em 3ª pessoa; é aquele que não pertence ao mundo em que ocorre a história. Ele também é onisciente, ou seja, conhece os pensamentos e sentimentos das personagens (prova disso é o momento em que ele diz “o homem fi cou com pena”, no primeiro parágrafo).

1.1.4. Espaço e tempo

Como o autor busca simular a estrutura de uma fábula (note o início “era uma vez”), não há especifi cação do local e do momento em que a história ocorre. No entanto, isso não signifi ca que os elementos de tempo e espaço estejam ausen-tes: como não há características de um momento histórico específi co, presume-se que essa informação é irrelevante. No entanto, alguns elementos, como o café e o jornal, permitem localizar a história em algum ponto do século XX. Da mesma forma, a cidade em que a narrativa ocorre não é identifi cada, mas se trata, pre-sumivelmente, de uma cidade média do Brasil (em que há rios, cafés, calçadas e elevadores).

1.2. Dissertação

A dissertação é o tipo de texto em que há o desenvolvimento de ideias sobre um tema, por meio de argumentos e informações. Na dissertação argumentativa, o foco do nosso curso, o autor tem uma ideia principal (chamada tese) e usa outras ideias para prová-la; vamos chamar essas ideias de argumentos. Percebe-se, tam-bém, que o autor não apresenta suas características pessoais e não se dirige a um leitor específi co. Podemos defi nir a dissertação argumentativa como um texto em que um autor busca provar uma tese para um leitor universal por meio de argu-mentos. Vamos analisar um exemplo?

A dissertação é o tipo de texto em que há o desenvolvimento de ideias sobre um tema, por meio de argumentos e informações. Na dissertação argumentativa, o foco do nosso curso, o autor tem uma ideia principal (chamada tese) e usa outras ideias para prová-la; vamos chamar essas ideias de argumentos. Percebe-se, tam-bém, que o autor não apresenta suas características pessoais e não se dirige a um leitor específi co. Podemos defi nir a dissertação argumentativa como um texto em que um autor busca provar uma tese para um leitor universal por meio de argu-

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Tema: Unicamp 1999 – 500 anos de Brasil

O Brasil está em vias de completar cinco séculos de existência aos olhos do mundo europeu. São os já conhecidos 500 anos de seu descobrimento, que serão comemorados oficialmente em abril de 2000. Como em qualquer data importante, o momento é oportuno para um balanço e uma reflexão. O balanço pode-ria resultar muito parcial, se se prendesse exclusiva-mente a fatos econômicos e a dados sociais circuns-tanciais. Por isso, faz-se necessário, neste caso, consi-derar a questão de quem somos hoje. Tendo isso em mente, e contando com o apoio obrigatório dos frag-mentos abaixo, escreva uma dissertação sobre o tema

500 anos de Brasil

1. Esqueça tudo o que você aprendeu na escola sobre o descobrimento do Brasil. (...) A dois anos das comemorações oficiais pelos 500 anos de descobri-mento do Brasil, os últimos trabalhos de pesquisado-res portugueses, espanhóis e franceses revelam uma história muito mais fascinante e épica sobre a che-gada dos colonizadores portugueses ao Novo Mundo. O primeiro português a chegar ao Brasil foi o nave-gador Duarte Pacheco Pereira, um gênio da astrono-mia, navegação e geografia e homem da mais abso-luta confiança do rei de Portugal, d. Manuel I. Duarte Pacheco descobriu o Brasil um ano e meio antes de Cabral, entre novembro e dezembro de 1498. (...) As novas pesquisas sobre a verdadeira história do desco-brimento sepultam definitivamente a inocente versão ensinada nas escolas de que Cabral chegou ao Brasil por acaso, depois de ter-se desviado da sua rota em direção às Índias. (ISTOÉ, 26 de novembro de 1997.)

2. ...a despeito de nossa riqueza aparente, somos uma nação pobre em sua generalidade, onde a distri-buição do dinheiro é viciosa, onde a posse das terras é anacrônica. Aquele anda nas mãos dos negocian-tes estrangeiros; estas sob o tacão de alguns senhores feudais. A grande massa da população, espoliada por dois lados, arredada do comércio e da lavoura, neste país essencialmente agrícola, como se costuma dizer, moureja por ali abatida e faminta, não tendo outra indústria em que trabalhe; pois que até os palitos e os paus de vassoura mandam-lhe vir do estrangeiro. (...) povo educado, como um rebanho mole e automá-tico, sob a vergasta do poder absoluto, vibrada pelos governadores, vice-reis, capitães-mores e pelos padres da companhia; povo flagelado por todas as extorsões – nunca fomos, nem somos ainda uma nação culta, livre e original. (Romero, Sílvio. História da Literatura Brasileira. 1881.)

3. O Brasil surge e se edifica a si mesmo, mas não em razão do desígnio de seus colonizadores. Eles só nos queriam como feitoria lucrativa. Contrariando as suas expectativas, nos erguemos, imprudentes, ines-peradamente, como um novo povo, distinto de quan-tos haja, deles inclusive, na busca de nosso ser e de nosso destino. (...) Somos um povo novo, vale dizer um gênero singular de gente marcada por nossas matri-

zes, mas diferente de todas, sem caminho de retorno a qualquer delas. Esta singularidade nos condena a nos inventarmos a nós mesmos, uma vez que já não somos indígenas, nem transplantes ultramarinos de Portugal ou da África. (Ribeiro, Darcy. O Brasil como problema. 1995.)

4. Não conhecemos proletariado, nem fortunas colossais que jamais se hão de acumular entre nós, graças aos nossos hábitos e sistema de sucessão. Nem argentarismo, pior que a tirania, nem pauperismo, pior que a escravidão. (...) O Brasil jamais provocou, jamais agrediu, jamais lesou, jamais humilhou outras nações. (...) A estatística dos crimes depõe muito em favor dos nossos costumes. Viaja-se pelo sertão sem armas, com plena segurança, topando sempre gente simples, honesta, serviçal. Os homens de Estado cos-tumam deixar o poder mais pobres do que nele entra-ram. Magistrados subalternos, insuficientemente remunerados, sustentam terríveis lutas obscuras, em prol da justiça, contra potentados locais. (...) Quase todos os homens políticos brasileiros legam a miséria a suas famílias. (Affonso Celso. Porque me ufano de meu país. 1900.)

5. (…) Se tu vencesses Calabar! / Se em vez de portu-gueses, / ? holandeses!? / Ai de nós! / Ai de nós sem as coisas deliciosas que em nós moram: / redes, / rezas, / novenas, / procissões, ? / e essa tristeza, Calabar, / e essa alegria danada, que se sente / subindo, balan-çando, a alma da gente. / Calabar, tu não sentiste / essa alegria gostosa de ser triste! (Lima, Jorge de. Poe-sia Completa, vol. 1.)

6. O pau-brasil foi o primeiro monopólio estatal do Brasil: só a metrópole podia explorá-lo (ou tercei-rizar o empreendimento). Seria, também, o mais dura-douro dos cartéis: a exploração só foi aberta à inicia-tiva privada em 1872, quando as reservas já haviam escasseado brutalmente. Exploração não é o termo: o que houve foi uma devastação, com a derrubada de 70 milhões de árvores. Como que confirmando a voca-ção simbólica, o pau-brasil seria usado, em setem-bro de 1826, para o pagamento dos juros do primeiro empréstimo externo tomado pelo Brasil. Ao deparar com o Tesouro Nacional desprovido de ouro, d. Pedro I enviou à Inglaterra 50 quintais (3t) de toras de pau-brasil para leiloá-las em Londres. A esperança do Imperador de saldar a dívida com o “pau-de-tinta” esbarrou numa inovação tecnológica: o advento da indústria de anilinas reduzira em muito o valor da árvore-símbolo do Brasil. Os juros foram pagos com atraso. Em dinheiro, não em paus. (Bueno, E. (org). His-tória do Brasil. Empresa Folha da Manhã. 2ª ed. 1997.)

7. Jamais se saberá com certeza, mas quando os portugueses chegaram à Bahia, os índios brasilei-ros somavam mais de 2 milhões - quase três, segundo alguns autores. Agora, dizimados por gripe, sarampo e varíola, escravizados aos milhares e extermina-dos pelas guerras tribais e pelo avanço da civiliza-ção, não passam de 325.652 - menos do que dois Mara-canãs lotados. (...) A idade média dos índios brasilei-

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ros é de 17,5 anos, porque mais da metade da população tem menos de 15 anos. A expectativa de vida é de 45,6 anos, e a mortalidade infantil é de 150 para cada mil nascidos. Existem pelo menos 50 grupos que jamais mantiveram contato com o homem branco, 41 dos quais nem sequer se sabe onde vivem, embora seu destino já pareça traçado: a extinção os persegue e ameaça. (Bueno, E. (org). História do Bra-sil. Empresa Folha da Manhã. 2ª ed. 1997.)

8. Há um Código de Defesa do Consumidor, há leis que cuidam do racismo, do direito de greve, dos crimes hediondos, do juizado de pequenas causas, do sigilo da conversação telefônica, da tortura, etc. O país cresceu. (Carvalho Filho, L. F. Folha de S. Paulo. 3 de outubro de 1998.)

Redação

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Faltam quinhentos e tantos dias para os qui-nhentos anos do Brasil. Quem, ao ouvir esta frase, não se lembra da fatigante contagem regressiva da Rede Globo? Como se sabe, toda contagem regres-siva leva a alguma coisa; ou a um acontecimento, ou a uma comemoração, como é o caso. Mas uma reflexão a respeito disso leva a uma pergunta: O que será comemorado em menos de dois anos, em abril de 2000?

A resposta imediata é: os quinhentos anos do Brasil! Mas isso não é certo. Não se sabe com certeza nem a data nem a forma como ocorreu o descobri-mento do maior país da América do Sul. Se a razão da festa fosse apenas a data histórica, esta já não teria tanto sentido.

Por outro lado, o que a Rede Globo e o Brasil estão comemorando é o país de hoje. Um lugar onde havia apenas índios, hoje tem uma economia forte, uma grande população, grandes indústrias. Antes havia escravidão e hoje os negros são livres e feli-zes. Conquistaram-se leis para os trabalhadores e pobres, além de hoje haver até eleição direta. Real-mente hoje o Brasil é outro.

No entanto, uma visão menos ufanista e mais realista mostrará que a evolução houve, mas esta foi da pior maneira possível. Os índios, que antes domi-navam esta terra, hoje fazem parte de uma minús-cula parcela da população. Se um dia o Brasil deixou de ser colônia para se tornar Reino Unido, para se tornar um país, isso aconteceu porque era interes-sante para a parcela poderosa da população. A razão ideológica contribuiu muito pouco para isso. A eco-nomia brasileira que antes exportava matéria-prima para importar produto manufaturado hoje importa

produtos mais modernos. É inegável que a indústria brasileira cresceu, mas 99% das grandes indústrias são multinacionais estrangeiras que, se por um lado geram empregos, por outro levam o lucro para seus países de origem. As grandes indústrias brasileiras são em sua maior parte estatais que estão sendo pri-vatizadas (inclusive as que geram lucro) a preços não muito justos e em leilões de legitimidade ques-tionável. Além do mais, a política econômica atual não é a ideal para que o país cresça.

Quanto ao aspecto social, houve, sem dúvida, enormes conquistas por parte dos brasileiros. Mas deve-se lembrar que essas conquistas foram, na maioria das vezes, tardias se comparadas com outros países. Além do mais a desigualdade social, o racismo e a má distribuição de terras são problemas vigentes até hoje.

É então por estes fatores que se questiona a comemoração dos quinhentos anos do Brasil. A grande modificação que seria digna de comemora-ção seria o fim do pensamento individualista para um pensamento mais coletivo por parte dos gover-nantes do país. A frase: “Tudo deve mudar para ficar como está” ainda é válida hoje, como foi válida nes-ses quinhentos anos e foi a responsável pelas modi-ficações brasileiras. É até compreensível que a Rede Globo comemore o meio milênio do Brasil, mas para a maioria da população não há outra razão se não a duvidável data histórica. Se daqui a 250 anos o Brasil tiver solucionado boa parte dos problemas que tem hoje, esta seria uma data muito mais digna de come-moração do que a atual. Esteticamente não ficaria tão bonito, mas seria mais justo. O fato é que nes-ses quinhentos anos o maior país da América Latina evoluiu bastante, mas não o suficiente que justifique uma comemoração. Ainda não.

Tese

O texto defende a tese de que a comemoração dos 500 anos do Brasil é questionável, afirmando que o país, embora tenha evoluído, ainda não se livrou de seus problemas.

Introdução

Na introdução do texto, o autor deixa claro qual é o assunto que será discutido: não apenas a data come-morativa de 500 anos, mas principalmente o signifi-cado das comemorações envolvendo essa data.

A estratégia usada foi a da introdução indu-tiva, em que o autor cita um fato particular para em seguida discutir um assunto mais amplo abrangendo esse fato.

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Argumentos

O autor do texto precisa de argumentos para sustentar principalmente duas afirmações: a de que o Brasil evoluiu nos últimos 500 anos e a de que essa evolução não é suficiente para justificar uma comemoração.

Alguns argumentos usados para provar a primeira afirmação: o Brasil desenvolveu uma indústria forte, a escravidão acabou e há eleições diretas.

Entre os argumentos usados para relativizar as conquistas, estão os seguintes: as indústrias são pre-dominantemente estrangeiras, ainda há racismo e as conquistas políticas foram muito atrasadas em rela-ção a outros países.

Desenvolvimento

O desenvolvimento é a parte do texto em que sur-gem os argumentos e as informações: o autor admite

que o Brasil mudou e, sob muitos aspectos, evoluiu desde a chegada dos portugueses, mas questiona o modo como essa evolução se deu. Argumentos como “os índios, que antes dominavam esta terra, hoje fazem parte de uma minúscula parcela da população” servem para sustentar essa ideia.

O autor usou aqui o que chamamos de plano de desenvolvimento dialético: ele apresenta ideias opostas em sequência, usando a ideia que vem depois para relativizar a que veio antes.

Conclusão

A conclusão é o momento em que a tese do texto é explicitada. O autor usou uma expressão claramente conclusiva para introduzir o parágrafo:

“É então, por estes fatores que...”; essa expressão retoma os fatores (argumentos) apresentados em parágrafos anteriores.

1.3. Temas para praticar

Escolha um dos temas a seguir e produza um texto de acordo com as instruções.

Narração PUCCamp-SP

Com a interrupção da energia elétrica, um elevador parou entre andares, e assim ficará por uns longos minutos.

Dentro dele, encontram-se uma babá com uma criança de três anos, uma professora de português aposentada, um casal de namorados adolescentes, o síndico do edifício... e você.

Aproveitando a situação e as personagens acima referidas, desenvolva uma narrativa, explorando o potencial das personagens em suas diferentes reações.

Dissertação ENEM

Com base na leitura dos seguintes textos motivadores e nos conhecimentos construídos ao longo de sua formação, redija um texto dissertativo-argumenta-tivo em norma culta escrita da língua portuguesa sobre o tema “O trabalho na construção da dignidade humana”, apresentando experiência ou proposta de ação social que respeite os direitos humanos. Selecione, organize e relacione, de forma coerente e coesa, argumentos e fatos para a defesa de seu ponto de vista.

O que é trabalho escravo

Escravidão contemporânea é o trabalho degradante que envolve cercea-mento da liberdade.

A assinatura da Lei Áurea, em 13 de maio de 1888, representou o fim do direito de propriedade de uma pessoa sobre a outra, acabando com a possibilidade de possuir legalmente um escravo no Brasil. No entanto, persistiram situações que mantêm o trabalhador sem possibilidade de se desligar de seus patrões. Há fazendeiros que, para realizar derrubadas de matas nativas para a formação de pastos, produzir carvão para a indústria siderúrgica, preparar o solo para plan-tio de sementes, entre outras atividades agropecuárias, contratam mão de obra utilizando os contratadores de empreitada, os chamados “gatos”. Eles aliciam os trabalhadores, servindo de fachada para que os fazendeiros não sejam respon-sabilizados pelo crime.

Trabalho escravo se configura pelo trabalho degradante aliado ao cercea-mento da liberdade. Este segundo fator nem sempre é visível, uma vez que não mais se utilizam correntes para prender o homem à terra, mas sim ameaças físi-

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cas, terror psicológico ou mesmo as grandes distâncias que separam a proprie-dade da cidade mais próxima.

Disponível em: <http://www.reporterbrasil.org.br>. Acesso em: 2 set. 2010. Fragmento.

O futuro do trabalho

Esqueça os escritórios, os salários fixos e a aposentadoria. Em 2020, você tra-balhará em casa, seu chefe terá menos de 30 anos e será uma mulher.

Felizmente, nunca houve tantas ferramentas disponíveis para mudar o modo como trabalhamos e, consequentemente, como vivemos. E as transfor-mações estão acontecendo. A crise despedaçou companhias gigantes tidas até então como modelos de administração. Em vez de grandes conglomerados, o futuro será povoado de empresas menores reunidas em torno de projetos em comum. Os próximos anos também vão consolidar mudanças que vêm acon-tecendo há algum tempo: a busca pela qualidade de vida, a preocupação com o meio ambiente e a vontade de nos realizarmos como pessoas também em nossos trabalhos. “Falamos tanto em desperdício de recursos naturais e energia, mas e quanto ao desperdício de talentos?”, diz o filósofo e ensaísta suíço Alain de Bot-ton, em seu novo livro The Pleasures and Sorrows of Works (Os prazeres e as dores do trabalho, ainda inédito no Brasil).

Disponível em: <http://revistagalileu.globo.com>. Acesso em: 2 set. 2010.Fragmento.

Instruções

• Seu texto tem de ser escrito à tinta, na folha própria.• Desenvolva seu texto em prosa: não redija narração, nem poema.• O texto com até 7 (sete) linhas escritas será considerado texto em branco.• O texto deve ter, no máximo, 30 linhas.• O rascunho da redação deve ser feito no espaço apropriado.

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