PÓS GRADUAÇÃO EM LITERATURA, MEMÓRIA CULTURAL E...
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PÓS GRADUAÇÃO EM LITERATURA, MEMÓRIA CULTURAL E SOCIEDADE
PRISCILA GOMES CHAGAS
A CONSTRUÇÃO COLETIVA DA ESCOLA: A EXPERIÊNCIA DA
IMPLEMENTAÇÃO DA UNIDADE DE ENSINO DESCENTRALIZADA DE
GUARUS NO CEFET CAMPOS
CAMPOS DOS GOYTACAZES – RJ
2007
PRISCILA GOMES CHAGAS
A CONSTRUÇÃO COLETIVA DA ESCOLA: A EXPERIÊNCIA DA
IMPLEMENTAÇÃO DA UNIDADE DE ENSINO DESCENTRALIZADA DE
GUARUS NO CEFET CAMPOS
Monografia apresentada ao Centro Federal
de Educação Tecnológica de Campos
como requisito parcial para conclusão do
Curso de PósGraduação em Literatura,
Memória Cultural e Sociedade.
Orientadora: Prof. Ms. Sandra Venancio Kezen Buchaul
CAMPOS DOS GOYTACAZES – RJ
2007
Dados de Catalogação na Publicação (CIP)
C433e Chagas, Priscila Gomes. A construção coletiva da escola : a experiência da implementação da Unidade de Ensino Descentralizada de Guarus no CEFET Campos. / Priscila Gomes Chagas. – C ampos dos Goytacazes, RJ: [s.n.], 2007. 63 f.
Orientadora: Sandra Venâncio Kezen Buchaul. Monografia (Pós Graduação em Literatura, Memória Cultural e Sociedade). Centro Federal de Educação Tecnológica de Campos. Campos dos Goytacazes, RJ, 2007. Bibliografia: f. 3132.
1. Escolas técnicas Brasil. 2. Centro Federal de Educação Tecnológica de Campos. 3. Ensino técnico – B rasil. 4. Escolas – or ganização e administração – B rasil. I. Buchaul, Sandra Venâncio Kezen, orient. II. Título.
CDD – 373.270981
PRISCILA GOMES CHAGAS
A CONSTRUÇÃO COLETIVA DA ESCOLA: A EXPERIÊNCIA DA IMPLEMENTAÇÃO DA
UNED GUARUS NO CEFET CAMPOS
Monografia apresentada ao Centro Federal de Educação Tecnológica de Campos como requisito parcial para conclusão do Curso de PósGraduação em Literatura, Memória Cultural e Sociedade.
Aprovada em 28/11/2007.
Banca Avaliadora:
_______________________________________________________
Sandra Venancio Kezen Buchaul – Orientadora
Mestre em Cognição e Linguagem – UENF
____________________________________________________
SIlvia Lúcia dos Santos Barreto
Doutora em Comunicação e Cultura – UFRJ
___________________________________________________
Valéria de Souza Marcelino Terra
Mestre em Cognição e Linguagem UENF
AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus, Pai criador e guia em todas as horas. À Maria Santíssima,
proteção e segurança nos caminhos percorridos.
À minha família: luz e aconchego no diadia. Obrigada Mãe, Obrigada Pai,
Obrigada Irmãos!
A meu companheiro e amigo, Fabrício, pelo incentivo e presença ao meu lado!
Às minhas irmãs em Cristo: Edna, Monique, Francielle, Larissa, Verônica,
Célia! Que bom ter vocês ao meu lado.
Às amizades feitas durante a pós: Manú, Lili, Andréa, Rozangela; e a amizade
fortalecida com Clarissa. Vocês são demais!!!! Amo vocês!
Às amizades feitas através do trabalho: Chris, Marquinhos, Sandra, Ricardo,
Igor e tantos outros que me ajudaram a crescer profissional e pessoalmente.
A Leandro, diretor da Uned, por me permitir realizar este trabalho e pela
confiança depositada para tal.
A minha orientadora Sandra Kezen, por me guiar nesse trabalho!
Ao Cefet por me proporcionar essa dupla oportunidade: estudar e trabalhar no
mesmo local!
O que é que se encontra no início? O jardim ou o jardineiro? É o
jardineiro. Havendo um jardineiro, mais cedo ou mais tarde um jardim
aparecerá. Mas, havendo um jardim sem jardineiro, mais cedo ou
mais tarde ele desaparecerá. O que é um jardineiro? Uma pessoa
cujo pensamento está cheio de jardins. O que faz um jardim são os
pensamentos do jardineiro. O que faz um povo são os pensamentos
daqueles que o compõem.
Rubem Alves
RESUMO
O presente trabalho trata do processo de implementação da Unidade de Ensino Descentralizada de Guarus – Uned Guarus – em Campos dos Goytacazes. Para tal, relata de maneira crítica como esse processo se deu e busca servir como relato memorialista da escola. Desta forma, analisa a gestão da escola e o papel dos diversos atores que fizeram parte da construção da cultura desta escola.
PALAVRAS CHAVES: IMPLEMENTAÇÃO ESCOLAR. MEMÓRIA. CULTURA ESCOLAR.
ABSTRACT
The current essay deals with the implementation process of Unidade de Ensino Descentralizada de Guarus – UNED Guarus – in Campos dos Goytacazes. For that, it reports in a critical way how such a process happened and it searches to serve as a memoirist report of the school. Threfore, it analyzes the management of the school and the role of the several actors who took part in the construction of the culture of this school.
KEY WORDS: SCHOOL IMPLEMENTATION. MEMORY. SCHOOL CULTURE.
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO.................................................................................................... 9
2 LEVANTAMENTO TEÓRICO.............................................................................. 11
3 BREVE HISTÓRICO DA CIDADE E DE GUARUS............................................. 14
4 HISTÓRIA DO CEFETCAMPOS......................................................................... 16
5 CRIAÇÃO DA UNED........................................................................................... 17
5.1 Processo de implantação................................................................................. 17
5.2 Proposta de Avaliação..................................................................................... 24
5.3 A mudança....................................................................................................... 25
5.4 A inauguração e visita do Presidente............................................................... 25
5.5 A escola após a visita do Presidente Lula........................................................ 26
CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................................... 27
REFERÊNCIAS....................................................................................................... 30
ANEXOS................................................................................................................. 32
Anexo A: Autorização para funcionamento da UNED Guarus........................... 33
Anexo B: Documento de Doação do Terreno para Construção da Escola......... 35
Anexo C Matriz curricular do Curso Técnico de Nível Médio Integrado em
Eletrônica e Calendário escolar 2007.....................................................................
47
Anexo D: Organograma inicial e atual da UNED Guarus..................................... 52
Anexo E: Cópia do Discurso Oficial do Presidente............................................. 55
Criar o que não existe ainda deve ser a pretensão de todo sujeito que está vivo – Paulo Freire
1 INTRODUÇÃO
Este trabalho trata de uma pesquisa participante/relato a respeito da construção da
Unidade de Ensino Descentralizada de Guarus – UNED Guarus CEFETCampos,tratando
da gestão escolar como parte desse processo.
O objetivo da pesquisa, desta forma, é estudar a construção da cultura escolar
orientada para a ação, destacandoa como parte da gestão escolar e como componente
memorialista de uma sociedade, auxiliando no processo de inclusão escolar, social e
cultural, visto que é uma escola pública de qualidade instalada numa área carente,
descrevendo até que ponto os diversos atores sociais da escola conhecem e colaboraram
com a elaboração e execução do projeto, resgatando/ relatando a memória recente para as
futuras gerações.
A investigação é um estudo de caso, uma observação participante, que visa analisar
a participação do diretor, dos professores, dos funcionários na elaboração e execução do
projeto pedagógico, por meio de observações e reflexões de algumas situações
vivenciadas, passando pelos diversos atores que participaram da construção da Unidade de
Ensino Descentralizada de Guarus UNED GUARUS CEFET CAMPOS, uma escola
pública federal em Campos dos Goytacazes (RJ).
O interesse por estudar o processo de construção da UNED GUARUS se deu a partir
do momento em que descobri que o concurso que havia feito para o Sistema Cefet Campos
era para trabalhar na Construção da escola. Para a área pedagógica foram contratadas
duas pessoas para o cargo de Técnico Administrativo em Educação (TAE), contudo, para
este cargo, poderia ser contratada qualquer pessoa licenciada ou com graduação em
pedagogia. As duas pessoas contratadas são pedagogas: Christiane Menezes Rodrigues e
eu .
O desafio que nos foi dado era muito interessante!!! Montar uma Uned!!!! Logo
percebemos que o desafio era muito maior do que imaginávamos. Além de tentarmos
descobrir o mundo de informações que nos faltava, ainda tínhamos que lidar com muita
gente com objetivos diferentes, pedagogicamente falando. As duas pessoas que
coordenam o projeto de implantação são engenheiros, e por isso têm uma visão mais
prática da educação. Adaptar a nossa visão pedagógica à visão prática dos gestores, à
visão da prática cotidiana presa nas disciplinas dos professores para montar um projeto que
por objetivo não tende a nenhum dos lados era ao mesmo tempo difícil e fascinante.
Tivemos algumas decepções quanto ao nosso ideal pedagógico de integrar as disciplinas e
fazer realmente um curso diferente, novo. Como começamos a trabalhar em Novembro e o
curso iniciaria em fevereiro do próximo ano, fizemos o que foi possível fazer. Esse possível
não significa uma atitude de conformismo, mas de viabilidade de acordo com os
profissionais do curso.
Desta forma, fazer parte de uma história, poder relatála e ainda falar de educação,
algo tão importante e às vezes esquecido, justifica a escolha do tema.
Nesse processo de pesquisa ora será visível o papel da pesquisadora, ora o papel
de pedagoga indignada com os rumos de algumas coisas e, ainda, ambas dividindo o
mesmo espaço.
2 LEVANTAMENTO TEÓRICO
A construção coletiva do espaço comum passa primeiramente pela gestão escolar,
ou seja, pela concepção das pessoas que estão à frente da escola e do que deve ser feito
para melhorar o espaço coletivo.
É importante ressaltar que esse espaço coletivo ou espaço comum se configura
tanto como espaço físico quanto como espaço de gestão financeira e de pessoas. Unir
essas três vertentes é conseguir uma gestão para todos.
De acordo com a Constituição Federal, Título VIII Da ordem social, Capítulo III
seção I Da educação, a gestão democrática é princípio do ensino.
Art. 206. O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios: (...)VI gestão democrática do ensino público, na forma da lei.
A LDB art.3º reforça esse inciso:
Art. 3º. O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios:(...)VIII gestão democrática do ensino público, na forma desta Lei e da legislação dos sistemas de ensino.
O aprendizado da gestão democrática deve ocorrer em todas as esferas, partindo da
decisão coletiva de participação, pois qualquer pretensão de gestão democrática só terá
sucesso se todos estiverem dispostos a mudar.
(...) O processo de mudança não pode ser visto separadamente da cultura organizacional existente, uma vez que esta influencia e determina a forma
e o grau possível da mudança das pessoas e da cultura organizacional, renovando os valores e ganhando eficiência (Teixeira, 2002, p.14).
Para mudar é preciso contagiar a todos, formando um clima agradável. De acordo
com Juan Casassus (2002), um dos pontos que a escola deve ter para favorecer a
aprendizagem é um bom ambiente emocional.
Para Libâneo, Oliveira e Toschi (2003) uma boa escola deve ter um bom clima
escolar e um projeto pedagógico como plano de trabalho bem definido, contendo o
diagnóstico dos problemas da escola, feito a partir do confronto da realidade e das
propostas para melhorála, analisando medidas tomadas anteriormente que deram certo e
corrigindo as que não alcançaram o objetivo proposto.
Desta forma, o projeto político pedagógico passa a ser o ponto chave da gestão
participativa e da construção do espaço comum, favorecendo e sendo favorecido pela
cultura escolar.
Há, no entanto, uma característica das organizações escolares sumamente relevente para as práticas de gestão: a cultura organizacional ou a cultura da escola. Tem sido cada vez mais importante compreender a escola como lugar de construção e reconstrução da cultura, não apenas a cultura científica, mas a cultura social, a cultura das mídias, a cultura dos alunos, a cultura da escola. (LIBÂNEO, 2004, p.32)
Não há como estudar educação no nível da escola, sem se falar da construção da
cultura escolar em um novo ambiente, por isso ele é tão importante. Afirma Schneckenberg
que:
Assim sendo, a política educacional é muito mais que um conjunto de metas e planos setoriais ou de programas de governo, pois fazse presente e atua na subjetividade humana, na maioria, na visão de cada um sobre o mundo, a sociedade, a escola. Não basta, no entanto, quando da definição de políticas educacionais, evidenciar apenas a sua ação sobre o processo de organização do trabalho, ou em delimitar a forma com que os atores vão adquirir o conhecimento necessário para a sua implantação, considerando que pensar em política educacional é também pensar nos seres humanos de hoje e do futuro, enfocando principalmente os aspectos social, cívico e individual. (Schneckenberg, 2000: 116)
Para Silva (2003), um bom gestor precisa conhecer a realidade que pretende dirigir e
relacionála com a teoria, analisando o que pode ser feito, através do contato direto com o
sistema de ensino dirigido. “P ortanto, a visão que o administrador (...) tenha acerca do povo
e de sua condição de ação política condiciona, em muito, a ação concreta que venha a
desencadear” (Silva,2003: 98).
3 BREVE HISTÓRICO DA CIDADE E DE GUARUS
O município de Campos dos Goytacazes, de acordo com dados do IBGE (2005), fica
localizado a 286km do Rio de Janeiro, tendo o seu território cortado pelo Rio Paraíba do Sul
e afluentes. Sua topografia é formada por baixada (altitude de 5 a 14m), por tabuleiros bem
ondulados (30 a 70m), correspondendo a 31% da área do município.
As principais rodovias federais que permitem o acesso a Campos dos Goytacazes
são a BR101 e a BR356, que liga o município ao Estado de Minas Gerais e a São João da
Barra, e as rodovias estaduais são a RJ216, em direção ao litoral e funcionando como via
importante de apoio à exploração do petróleo das plataformas continentais, a RJ158 e a
RJ180; tendo ainda as ferrovias RioVitória e CamposRecreio, em Minas Gerais, cruzando
o seu território.
Dos índios Goitacás (denominação correta) aos nossos dias, a terra campista
registrou os mais importantes acontecimentos históricos, passando por inúmeras
modificações. Tudo começou com a chegada dos chamados "Sete Capitães", em 1629 ao
Cabo de São Tomé. Era o início da colonização da rica planície. Em 1676, a Capitania de
São Tomé passa a se chamar Vila de São Salvador de Campos dos Goytacazes.
A introdução do primeiro engenho a vapor na região, em 1830, trouxe grande
transformação no processo de produção de açúcar. E o aparecimento da ferrovia, em 1837,
com a inauguração do trecho CamposGoitacazes e posteriormente, em direção ao trecho
NorteSul, facilitou a circulação, transformando o município em centro ferroviário da região.
O cultivo da canadeaçúcar hoje um dos principais produtos da região teve início,
provavelmente, no final do século XVII. No século seguinte, os engenhos da baixada
campista se especializaram na produção de aguardente.
O pioneirismo de Campos dos Goytacazes é destaque no cenário nacional. Não se
pode negar que a cidade foi a pioneira do progresso fluminense, como registram os
documentos: em 1798, foi oficializado o tráfego de correspondência; em 1831 foi lançado
seu primeiro jornal, Correio Constitucional Campista; em 1832, foi fundada a primeira loja
maçônica, a Firme União; em 1869 foi feita a sua primeira ligação telefônica para o ex
Distrito Federal, atual Rio de Janeiro; em 1852 foi inaugurada a navegação no Rio Paraíba
do Sul; em 1872 foi inaugurado o Banco Comercial Hipotecário de Campos (Banco do
Vovô), que passou a se chamar Bamerindus e agora chamase HSBC, o quarto
estabelecimento de crédito em antigüidade no Brasil. O pioneirismo de Campos não parou,
pois, em 1883, foi a primeira cidade da América do Sul a adotar o sistema público de
iluminação elétrica e em 1931, a quarta cidade do Brasil a ter Estação Central de Telefones
Automáticos.
Na área educacional, destacase em 1871 a criação da Biblioteca Municipal de
Campos; em 1880, foi criado o Liceu de Humanidades de Campos, começando a funcionar
em 1884. A rede municipal de ensino primário foi criada em 1881.
No Campo Cultural destacase em 1884 a inauguração da Livraria Ao Livro Verde,
hoje a mais antiga do país em funcionamento. Em 1845, foi criado o Teatro Municipal; em
1870, foi fundada a Sociedade Musical Lira de Apolo, uma das mais antigas bandas de
música do Brasil.
Em 1974, foi descoberto amplo lençol petrolífero no Campo de Garoupa, na plataforma continental da Bacia de Campos, o que contribuiu significativamente, com o pagamento de royalties em sua receita municipal.
Pela Lei n.6.001, de dezembro de 1967, os Distritos de Guarus e Goitacazes passam
a fazer parte integrante do 1º Distrito do Município com a denominação de 3º e 4º
Subdistritos, respectivamente.
O desenvolvimento recente, embora ainda ligado à indústria canavieira, se direciona
em outros rumos, favorecido pelo surgimento de pequenas empresas, da melhoria de suas
atividades comerciais e de serviços para o que também contribuiu, sem dúvida, a atividade
petrolífera na plataforma continental a Bacia de Campos.
Atualmente, a cidade possui uma rede de serviços completa, com diversos bancos,
hotéis, restaurantes, escolas, clínicas, entre outros. Transformouse em pólo universitário,
após a instalação da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro Uenf, com
universidades e faculdades dos mais variados cursos. Na área da comunicação, Campos
dos Goytacazes dispõe de três emissoras de televisão, afiliadas às principais no país: Rede
Globo e Record, além de diversas emissoras de rádio e cinco jornais locais. Além disso,
possui várias linhas de ônibus que interligam seus diversos bairros e distritos mais
longínquos. Existem, também, diversas linhas intermunicipais e interestaduais, dentre elas
para o Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte e Vitória, além de capitais e cidades do
Nordeste.
4 HISTÓRIA DO CEFET CAMPOS
O Centro Federal de Educação Tecnológica de Campos foi criado pelo ato de criação
das Escolas de Aprendizes Artífices, dado pelo Decreto nº 7566 de 23 de janeiro de 1909,
do então presidente da República, o campista Nilo Peçanha. O principal objetivo era
atender os filhos de trabalhadores, iniciando suas atividades em 23 de setembro de 1910,
com cinco cursos de formação: alfaiataria, marcenaria, tornearia, sapataria e eletricidade.
A localização inicial da Escola de Aprendizes Artífices de Campos foi num prédio
público, na Rua Tenente Coronel Cardoso, onde hoje funciona a Faculdade de Direito de
Campos.
Em 1942, em decorrência do investimento na indústria no Brasil, essas escolas
passam a ser denominadas Escolas Industriais Técnicas, oferecendo a partir de então o
curso ginasial. Em 1959, ganham o patamar de Escolas Técnicas Federais, implantando a
formação técnica de 2º grau.
Os primeiros cursos técnicos de 2º grau na Escola Técnica de Campos (ETFC)
datam de 1967: Mecânica, Eletrotécnica e Edificações. Este movimento coincide com a
mudança da escola para seu atual endereço.
Em 19 de janeiro de 1999, a ETFC foi transformada em Centro Federal de Educação
Tecnológica (CEFET Campos), sendo hoje uma das maiores instituições deste porte no
país. Já possuindo uma Unidade de Ensino Descentralizada em Macaé – UNED Macaé,
inaugurada em 1993, a UNED GUARUS, começou a funcionar em 2007
Atualmente, o CEFET Campos atua nos três níveis da Formação Profissional.
Trabalhando na educação inicial e continuada de trabalhadores, oferece cursos técnicos e
cursos superiores de tecnologia, Ensino Médio, Educação de Jovens e Adultos,
licenciaturas e cursos de Pósgraduação, todos ofertados gratuitamente.
Recentemente, em 1º de outubro de 2004, sob Decretos nº 5224 de 04/10/2004,
assinados pelo Presidente Luís Inácio Lula da Silva, a instituição CEFET ascendeu à
condição de Centro Universitário, com todas as prerrogativas que lhe são inerentes.
5 A CRIAÇÃO DA UNED GUARUS
As Unidades de Ensino Descentralizadas provêm de um projeto de expansão do
Governo Federal para os Centros Federais de Educação Tecnológica, ampliando a mais
pessoas o acesso à tecnologia, autorizada pela Portaria Nº 1971 de dezoito de dezembro
de 2006, de acordo com o Anexo A.
Apesar de estar na mesma cidade que sua sede, o objetivo é atender ainda mais as
camadas pobres da população. Separada geograficamente pelo rio Paraíba do Sul, que
corta a cidade, a margem esquerda onde está localizada a Uned é também separada socio
economicamente. A população, na sua maioria, atravessa o rio em busca de emprego e
estudo. Apesar da busca pela emancipação, o bairro de Guarus é dependente do centro de
Campos.
A unidade está localizada próxima à BR 101, em local doado pelo exército, conforme
documento no Anexo B, e de fácil acesso, à Avenida Souza Mota, s/n, Parque Fundão, em
documento anexo.
5.1 PROCESSO DE IMPLANTAÇÃO
O grupo de trabalho foi escolhido por meio de concurso realizado em maio de 2006.
Em setembro daquele ano foi feita uma primeira convocação para explicar o que
aconteceria daí para frente. Em 30/10/2006 começaram a ser assinados os atos de posse.
Em novembro, foi explicado que a equipe que ficou na sede estaria responsável por criar a
UNED GUARUS. O governo federal já havia liberado verba para a obra, prevista para
terminar em novembro/2006, e, a princípio, seria ofertado o curso integrado de nível médio
em eletrônica em 3 turnos, sendo o noturno intitulado PROEJA (Programa Nacional de
Integração da Educação Profissional à Educação Básica na Modalidade de Educação de
Jovens e Adultos).
Neste momento foi preciso ‘ descobrir’ o que seria o curso integrado de nível médio e
o que seria o PROEJA.
O primeiro susto veio quando foi descoberto que o curso de eletrônica não existia na
sede e o curso integrado em apenas UM TURNO ainda não existia em nenhuma escola
federal. Depois, foi dito que este seria em 3 anos, com carga mínima de 3000 horas e o
PROEJA com carga horária de 2400 horas, divididas entre ensino médio e técnico, sendo
em ambos casos, 1200 horas de disciplinas específicas ou profissionalizantes. Este projeto
está fundamentado nas bases legais e nos princípios norteadores explicitados na
Constituição Federal, na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de nº 9.394/96,
nas Diretrizes e Referenciais Curriculares propostos pelo MEC, nos decretos de nº 5154/04,
5840 de 13/07/2006; nas resoluções CNE/CEB n°1 – 03/02/2005 e de nº 4, de 27/10/2005,
nos pareceres CNE/CEB de nº 16/1999, de nº 20/2005 que normatizam a Educação
Profissional e o Ensino Médio no Sistema Educacional Brasileiro.
Olhando um pouco a legislação fica mais fácil entender o projeto. O parecer 20/2005 explica claramente o objetivo do projeto.
(...) O curso de Educação Profissional Técnica de nível médio realizado na forma integrada com o Ensino Médio deve ser considerado como um curso único desde a sua concepção, plenamente integrado e ser desenvolvido como tal, desde o primeiro dia de aula até o último. Todos os seus componentes curriculares devem receber tratamento integrado, nos termos do projeto pedagógico da instituição de ensino. Por isso mesmo, essa nova circunstância e esse novo arranjo curricular pode possibilitar uma economia na carga horária mínima exigida, uma vez que o necessário desenvolvimento de competências cognitivas e profissionais pode ser facilitado exatamente por essa integração curricular.
(...) na adoção da forma integrada, o estabelecimento de ensino não estará ofertando dois cursos à sua clientela. Tratase de um único curso, com projeto pedagógico único, com proposta curricular única e com matrícula única. A duração do curso, obviamente, deverá ter a sua carga horária total do curso ampliada, de forma a assegurar, nos termos do § 2º do Artigo 4º do Decreto nº 5.154/2004, o cumprimento simultâneo das finalidades estabelecidas, tanto para a Educação Profissional Técnica de nível médio quanto para o Ensino Médio, como etapa de conclusão da Educação Básica.
A institucionalização do ensino médio integrado à educação pros sional tem como objetivo principal romper com a dualidade que historicamente separou os estudos preparatórios para a educação superior da formação pros sional no Brasil e deverá contribuir com a melhoria da
qualidade nessa etapa final da educação básica.
A formação integral do profissionalcidadão é o marco orientador desta proposta, que tem como objetivo institucional a compreensão da Educação como uma prática social, que se traduz pela promoção de uma Educação Científica, Tecnológica e Humanística competente, críticoreflexiva, técnica e eticamente comprometida com as transformações sociais, políticas e culturais.
Para o Ensino Médio já se tinha a noção do que deveria ser, uma vez que já era
conhecida a LDB e vários exemplos de bons cursos, incluindo no próprio CEFET.
Entretanto, para a área técnica, apesar de todo um histórico da unidade sede, para nós era
tudo novo. Aliás, não somente para nós, mas também para o Cefet, já que é dada uma nova
caracterização.
A resolução CNE/CEB 4/99, dá a caracterização da área Indústria e sua
competências, declarando que a carga horária mínima para o curso é de 1200 horas.
Caracterização da áreaCompreende processos, contínuos ou discretos, de transformação de matérias primas na fabricação de bens de consumo ou de produção. Esses processos pressupõem uma infraestrutura de energia e de redes de comunicação. Os processos contínuos são automatizados e transformam materiais, substâncias ou objetos ininterruptamente podendo conter operações biofisicoquímicas durante o processo. Os discretos, não contínuos, que geralmente requerem a intervenção direta do profissional caracterizamse por operações físicas de controle das formas dos produtos. Com a crescente automação, os processos discretos tendem a assemelharse aos processos contínuos, de modo que o profissional interfira de forma indireta por meio de sistemas microprocessados. A presença humana, contudo, é indispensável para o controle, em ambos os processos, demandando um profissional apto para desenvolver atividades de planejamento, instalação, operação, manutenção, qualidade e produtividade. As atividades industriais de maior destaque, excluídas as da indústria química, são as de mecânica, eletroeletrônica, automotiva, gráfica, metalurgia, siderurgia, calçados, vestuário, madeira e mobiliário e artefatos de plástico, borracha, cerâmica e tecidos, automação de sistemas, refrigeração e ar condicionado (p.19).
A LDB no seu capítulo III enuncia os princípios da Educação Profissional. O artigo 3°
desta mesma resolução reafirma esses princípios e acrescenta mais alguns.
Art. 3º São princípios norteadores da educação profissional de nível técnico os enunciados no artigo 3º da LDB, mais os seguintes:
I independência e articulação com o ensino médio; II respeito aos valores estéticos, políticos e éticos; III desenvolvimento de competências para a laborabilidade; IV flexibilidade, interdisciplinaridade e contextualização; V identidade dos perfis profissionais de conclusão de curso; VI atualização permanente dos cursos e currículos; VII autonomia da escola em seu projeto pedagógico.
Até então, pensouse que o PROEJA seria apenas uma cópia do curso diurno.
Criado pela lei 5840 de 13/07/2006, o PROEJA tem por objetivo dar uma formação técnica
voltada para o trabalho.
Art. 1º Fica instituído, no âmbito federal, o Programa Nacional de Integração da Educação Profissional à Educação Básica na Modalidade de Educação de Jovens e Adultos PROEJA, conforme as diretrizes estabelecidas neste Decreto.
§ 1º O PROEJA abrangerá os seguintes cursos e programas de educação profissional:
I formação inicial e continuada de trabalhadores; e
II educação profissional técnica de nível médio.
Art. 4º Os cursos de educação profissional técnica de nível médio do PROEJA deverão contar com carga horária mínima de duas mil e quatrocentas horas, assegurandose cumulativamente:
I a destinação de, no mínimo, mil e duzentas horas para a formação geral;
II a carga horária mínima estabelecida para a respectiva habilitação profissional técnica; e
III a observância às diretrizes curriculares nacionais e demais atos normativos do Conselho Nacional de Educação para a educação profissional técnica de nível médio, para o ensino fundamental, para o ensino médio e para a educação de jovens e adultos.
Após pesquisar em toda a legislação e começar a pensar no projeto pedagógico do
curso, descobriuse que já estava sendo feito edital para ingresso de alunos, que as aulas
começariam dia 26/02/2007 e que a obra da unidade estava atrasada. No mesmo momento
em que se começava a pensar na matriz também tivemos que passar essas informações
aos professores, avisando que todos teriam carga horária reduzida, mas independente
disso, o curso teria que ter uma boa formação tanto para o ensino médio quanto para o
ensino técnico, sem menosprezar nenhuma disciplina, ao contrário, o desafio era integrar as
disciplinas em uma nova forma de ensinar e aprender.
Elaborar um currículo é muito difícil, ainda mais com pouco tempo e com pessoas
que nem sabiam por onde começar. Era muita informação nova para pouco tempo de
execução. A discussão girava em torno do que era importante para o professor ensinar e
não do que seria importante para o aluno aprender, conforme os objetivos do curso.
Vasconcelos define bem currículo dentro desse processo de decisão e mediação.
Portanto, currículo abarca o conjunto de formulações e de experiências/ atividades/ práticas propiciado pela instituição de ensino (dentro ou fora da sala de aula) para a formação dos sujeitos (educandos, mas também educadores e comunidade), de acordo com as finalidades que se propõe. Currículo, do ponto de vista teóricometodológico, é da ordem da mediação; portanto, é fruto da tensão entre leitura da realidade e a intencionalidade que se tem (articulação intrínseca entre proposta curricular e projeto político pedagógico)(2006, p. 29).
Esta fase foi bastante conturbada. Os professores não entenderam o que seria essa
nova forma de ensinar e aprender e começaram a discutir que o curso seria uma
enganação, que não se formaria ninguém para nada, que cortar conteúdo seria prejudicial
ao ensino já tão defasado, que não saberiam dar aula assim, como trabalhar uma profissão
com adolescentes, como dar um ensino decente para alunos do noturno que já vem com
defasagens, muitos enganados na escola anterior, que o diretor é louco em aceitar, que o
Gerente de Ensino não entende nada, que os ‘ executivos’ do MEC criam as loucuras, mas
não estão no campo trabalhando. Enfim, foram várias reuniões girando em torno do mesmo
assunto, sem se chegar a nenhuma conclusão. Por fim, foi dito que o curso seria integrado
em nível médio, que o PROEJA era possível de ser feito e que as ementas curriculares
deveriam ser entregues o mais breve possível.
E o currículo integrado foi esquecido. Não tínhamos nem um consenso do que seria
o curso, qual seria o currículo, quiçá integrálo. Nem o nome exatamente sabíamos. Mesmo
buscando a legislação, muita confusão com o nome foi gerada.
De acordo com a resolução N°1, 03/02/2005
Art. 3º A nomenclatura dos cursos e programas de Educação Profissional passará a ser atualizada nos seguintes termos:I. “ Educação Profissional de nível básico” passa a denominarse “ formação inicial e continuada de trabalhadores” ;II. “ Educação Profissional de nível técnico” passa a denominarse “ Educação Profissional Técnica de nível médio” ;III. “ Educação Profissional de nível tecnológico” passa a denominarse “ Educação Profissional Tecnológica, de graduação e de pósgraduação” .
Desta forma, o nome correto do curso é: EDUCAÇÃO PROFISSIONAL TÉCNICA DE
NÍVEL MÉDIO EM ELETRÔNICA.
No momento de se fazer as ementas, os professores voltaram a discutir como seria
dar aula, com aquela carga horária mínima, e por que tal disciplina tem tanta carga horária,
por que não diminuir um pouco a carga horária das disciplinas técnicas. Apesar de ser dito
constantemente que a carga horária das disciplinas técnicas não pode ser diminuída para a
carga horária das disciplinas do Ensino Médio, a questão continuava, pois já estávamos no
mínimo.
Em meio a tantos entraves, a matriz foi montada (Anexo C) as ementas foram
entregues e o curso começou. Como o prédio da escola em Guarus não estava pronto,
utilizamos uma sala de aula emprestada na Sede. Aliás, todo o nosso trabalho foi realizado
em um laborátório, que virou um “Qu artel General” (QG, como era chamado na sede).
O susto de alguns professores foi maior do que se imaginava. No diurno eles não
imaginavam que os alunos eram realmente adolescentes, agitados e descobrindo o mundo
agora, e no noturno que o nível de conhecimento fosse inferior ao que eles achavam baixo.
Um outro problema que tivemos foi em relação á matrícula dos alunos. Como a unidade não ficava pronta, e surgiu um boato que só ficaria pronta em 2010, muitos alunos não fizeram prova e outros não se matricularam. Foi dada a oportunidade aos alunos que passaram para a sede de se matricularem para a Uned Guarus até o preenchimento das vagas, sem possibilidade de transferência para a unidade sede. Foi confuso, mas conseguimos.
Outro problema foi o fato do calendário escolar da sede estar atrasado e o nosso, não, nossos alunos começaram a estudar no final do semestre letivo da sede, no período de recesso escolar também.
Com relação à gestão escolar, tomamos um outro susto. Apesar de ter sido aluna da
instituição, não tinha essa visão administrativa e muito menos pedagógica.
Quando chegamos, o organograma da instituição era composto por Leandro (Diretor)
e Marcos (Gerente Educacional) apenas. Essas pessoas foram escolhidas pelo diretor do
sistema Cefet, Luiz Augusto Caldas. Na verdade, durante apresentação deles, o que
sabíamos é que eles são funcionários há muito tempo na instituição, conhecem bastante da
escola, a parte administrativa e um pouco da área educacional. Esses organogramas estão
no Anexo D.
Na verdade, tínhamos que montar um curso que ninguém sabia como, mas com o
objetivo de atender as demandas do MEC e com isso conseguir mais investimento.
Apesar de quase todo o corpo docente ter no mínimo mestrado (apenas dois entre
os 13 professores não o têm), o medo do novo foi decepcionante. Sair do lugar de
conformismo que se encontravam e se arriscar a novos vôos foi difícil. Ainda mais que
somos um grupo pequeno e que cada um acaba mostrando sua forma de trabalhar, de
pensar e de agir. Esse fato causou muito medo e repulsa: estar em um lugar novo, com
objetivos diferentes, pessoas desconhecidas e ainda se mostrar é difícil.
Após fecharmos a matriz curricular, conforme anexo, e depois de muita pesquisa
tanto em legislação quanto em outras matrizes de vários lugares do país, fomos discutila
com esse grupo de professores para podermos pensar melhor o curso. Essas reuniões
pedagógicas eram dirigidas pelo gerente Marcos Maciel. Apesar de não ser pedagogo, ele
tinha uma visão mais aberta do plano de trabalho e um sonho de não repetir o mesmo erro
de outros cursos, e nos apoiou em tudo que fizemos. Outro fato de surpresa foi o fato dos
professores da área técnica serem mais abertos a mudanças do que os do Ensino Médio.
O horário foi um outro problema, como é em qualquer escola. Como só era uma
turma em cada turno, alguns professores se esqueceram que eram concursados para 40
horas, e muitos ainda queriam trabalhar apenas e no máximo de terça a quintafeira.
A matriz curricular do Proeja: Educação Profissional para Jovens e Adultos, foi outro
problema. Ao explicarmos que a atenção dada a esse nível de ensino deveria ser diferente,
pois são alunos que têm outro objetivo, que não têm tempo a perder, muitos vieram de
ensino supletivo e/ou estavam há muito tempo sem estudar e todo o tipo de discurso e
exemplificação das especificidades que deveriam ser dadas a esse curso, que a integração
deveria ser muito maior. Muitos professores começaram a confundir que a especificidade do
curso significava inferioridade, que os professores deveriam ser bonzinhos e passar um
ensino de “f az de conta”. Apesar de todas as tentativas de conscientização, quando
começaram as aulas, alguns professores resistiram a mudar. Para alguns, trabalhar com
nível médio ou com adolescente era menosprezar o currículo profissional.
5.2 PROPOSTA DE AVALIAÇÃO
Com o objetivo realmente de se construir uma escola diferente, todo o processo de
implementação e construção da escola foi coletivo. A proposta de avaliação também. Ao
tentarmos construir em uma reunião a proposta de avaliação nós não conseguimos sair do
lugar, pois dos poucos professores que se posicionaram, a maioria procurava punir o aluno
por meio da avaliação.
Como havia pouco tempo, foi decidido que as TAEs fariam uma proposta e esta seria
levada à votação em reunião. Havia apenas uma semana para montar essa proposta.
Na semana seguinte, a proposta foi levada para a votação. Apesar das discussões
em torno do mesmo ponto, conseguimos aprovar uma proposta de avaliação que ainda não
foi a ideal, mas para esse primeiro momento foi satisfatório. Agora estamos passando por
modificações.
Mesmo com a obra do prédio da UNED atrasada, as aulas realmente começaram no
dia 26/02/2007, logo após o carnaval. Faltava uma semana e não havia sido feito ainda o
manual do aluno. Nele deveriam estar contidos os direitos e deveres do aluno, normas da
escola, formas de avaliação, recuperação, entre outros temas. Ele também foi feito às
pressas, à véspera do início das aulas.
Na verdade, a Uned começou a funcionar com o seu objetivo em fevereiro de 2007,
com a atuação de várias pessoas.
5.3 A MUDANÇA
O primeiro semestre letivo da Uned terminou dia treze de julho de 2007, ainda na
unidade sede e sem ter a certeza de onde começaríamos o próximo semestre, no dia vinte
e sete de julho.
Apenas uma semana antes do início das aulas foi feita a mudança para o prédio
próprio da Uned Guarus, no parque Fundão, mesmo sem estar completamente pronto.
O dia vinte e oito de julho foi o primeiro dia letivo do curso Técnico de Enfermagem,
no turno da manhã, e do curso Técnico em Farmácia, no turno da tarde, ambos
subseqüentes ao Ensino Médio, e o recomeço das turmas do curso Técnico de Nível Médio
Integrado em Eletrônica.
Foi realizada uma solenidade com a participação do diretor do Sistema Cefet
Campos, Luiz Augusto Caldas, da vicediretora, Cibele Daher, do diretor da UNED, Leandro
Crespo, e do Tenente Coronel Angonese, Comandante do 56° Batalhão de Infantaria de
Campos, que doou o terreno, de alunos, professores e funcionários. Apesar da estrutura
ainda estar sendo montada, o início foi bom.
Poucos dias depois, foi confirmado que o ministro da Educação Fernando Haddad
viria para a inauguração oficial e que possivelmente o presidente da República, Luiz Inácio
Lula da Silva, também. A notícia foi confirmada. a inauguração aconteceria no dia dezessete
de agosto.
Esse fato causou grande frisson na cidade inteira, pois o último presidente esteve na
cidade em 1985, portanto há vinte e dois anos, foi José Sarney, para sancionar a lei dos
royaties.
5.4A INAUGURAÇÃO E VISITA DO PRESIDENTE
Na semana anterior à chegada do presidente, a comitiva e os seguranças já estavam
na escola verificando toda a estrutura e montando o possível esquema de segurança.
Enquanto isso, a escola foi modificada rapidamente. A instalação de um
transformador, que a empresa responsável só iria instalar posto em quarenta dias, foi feito
em apenas dois. Sem ela, havia iluminação apenas na metade da escola. A prefeitura
limpou o terreno da escola e o do exército. A segurança presidencial verificou todo o terreno
para ver se não restava nenhuma pedra ou nada que pudesse ser jogado contra o
presidente.
As informações dadas pelo cerimonial eram desencontradas, mudando de rumo
duas vezes por dia. Ora os funcionários e os alunos poderiam ficar dentro do prédio da
escola, ora ninguém poderia ficar. O esquema de segurança montado por eles foi enorme,
como era de se esperar.
Enfim, a escola foi preparada para a cerimônia oficial de inauguração.
No dia dezessete, soubemos que apenas alguns funcionários entrariam e duas
turmas de alunos. Os funcionários que estavam na escola desde as sete horas da manhã
tiveram que sair às nove horas para a varredura do prédio pela Polícia Federal e apenas
algumas pessoas voltaram em seguida.
Por volta das treze horas o presidente Lula chegou, acompanhado de vários políticos
da região. O presidente cumprimentou os funcionários, os alunos e tirou fotos com eles, foi
simpático e receptivo. Fez o discurso oficial (Anexo E) no pátio para professores, alunos,
funcionário do sistema Cefet Campos e a comunidade em geral. Discursaram antes dele o
diretor do Sistema Cefet Campos, Luiz Augusto Caldas, o Governador do estado do Rio de
Janeiro, Sérgio Cabral, um aluno do curso Proeja em Eletrônica, Rogério Menezes. O
presidente ficou cerca de duas horas na escola, mas sua visita foi marcante, importante e
emocionante.
5.5 A ESCOLA APÓS A VISITA DO PRESIDENTE LULA
No dia seguinte à visita, a escola estava mais tranqüila, tirando a indignação de
alunos que não puderam entrar na escola, nem tirar foto com o presidente.
A comunidade passou a visualizar a escola como uma boa possibilidade e começou
a pedir informações a respeito dos cursos, se eram pagos, quem poderia fazer. Em suma, a
visita do Presidente da República trouxe a esperança de se integrar a escola e a
comunidade, a escola foi acolhida e deixou de ser algo estranho. A nível nacional a
Implantação de uma Uned na “r egião do Petróleo” ganhou importância.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A construção de uma escola passa por muitas fases e meandros. Enfrentar o novo,
ter atitude, aceitar o desafio são peças chaves para essa etapa.
Quando pensamos em escola como espaço de convivência vemos como é
interessante este local. E, também, quando entendemos escola como espaço de
aprendizagens é que se torna ainda mais rica essa estrutura chamada “e scola”.
A Uned permitiu que essas duas vertentes fossem construídas no diaadia. É claro
que não sem embates, mas com construção de caminhos novos. Libâneo define bem essa
questão: “A s escolas são, portanto, organizações, e nela sobressai a interação entre as
pessoas, para a promoção da formação humana “( LIBÂNEO, 2004:100).
Dos profissionais chamados para participarem desse processo, acredito que até
hoje, cerca de quase um anos depois, muitos ainda não se deram conta de que estão
fazendo memória.
A escola é o lugar da memória: oral, escrita e física. A aprendizagem também
depende da memória.
Nesse final de primeiro ano de Uned começase a lembrar do que foi feito e fazer um
balanço dos caminhos tomados. Entretanto, não se pode negar que questões como carga
horária e organização bimestral voltam ao foco das discussões. Isso nos leva a afirmar que
não há uma cultura organizacional fechada, pronta, mas em processo. E é exatamente
assim que deve ser. Os indivíduos fazem a cultura organizacional, mas ao mesmo tempo
são modificados por ela.
(...) a escola tem uma cultura própria que permite entender tudo o que acontece nela, mas essa cultura pode ser modificada pelas próprias pessoas, ela pode ser discutida, avaliada, planejada, num rumo que responda aos propósitos da direção, da coordenação pedagógica, do corpo docente (LIBANÊO,2004:109).
Libâneo, em outro trecho, reafirma essa idéia:
Ou seja, também as pessoas constroem uma cultura organizacional. Há, portanto, uma trama de relações implicadas na escola. Por um lado, a organização educa os indivíduos que a compõesm; por outro, os próprios indivíduos educam à organização, a medida que são eles que a constroem e, no final de contas, a definem com base nos seus valores, práticas, procedimentos, usos e costumes (34).
Durante os primeiros encontros, foinos dito que a comunidade em que iríamos
trabalhar era carente e que a escola iria suprir muitas necessidade da margem esquerda do
rio Paraíba do Sul. Ora, esse “a viso” causou muito preconceito velado, escondido atrás da
idéia de impossibilidade do curso. E esse préconceito foi levado à sala de aula. Mesmo o
curso começando na sede, e vendose que os alunos da Uned não eram diferentes dos
alunos da sede, a luta foi grande.
Hoje podemos afirmar que muita coisa mudou, mas não totalmente. As pessoas
trazem em si idéias que só elas mesmas podem querer mudar.
Quanto ao fato do curso integrado demandar uma nova forma de ensinar e aprender,
a repulsa em muitos foi não somente em voltar a atuar em nível médio, mas em se
reformular constantemente para trabalhar com adolescente, pois sabiase que eram
universos bem distintos. Ao invés de se procurar trocar inúmeras experiências, era mais
fácil afastarse e menosprezar. A ignorância foi a forma encontrada por muitos deles para
disfarçar o despreparo.
É necessário uma formação continuada do professor. E isso nem sempre é fácil.
Libâneo define bem esta idéia: “é no exercício do trabalho que, de fato, o professor produz
sua profissionalidade. Esta é a idéiachave do conceito de formação continuada” (2004:34).
A escola não proporcionou nenhum curso ou palestra que ajudasse os professores.
Como no concurso não foi exigido licenciatura, muitos não tinham nem lidado com
adolescentes durante a graduação. Mesmo sabendose que a licenciatura por si só não
resolveria os problemas, pelo menos facilitaria o processo de compreensão.
Nesse ponto a gestão da escola teve muita responsabilidade. Como no processo
seletivo não foi dito para que nível dar– seiam aulas, nem em qual escola do Sistema Cefet
Campos, deveria ter sido feita uma explicação do trabalho sem preconceitos.
Quando começamos o trabalho, a preocupação do diretor era com os recursos
financeiros e com a prestação de contas. É claro que sabemos que esta parte da gestão é
importantíssima para o trabalho da escola e mostra organização. Entretanto, isso não
justifica frases ditas com relação ao ensino como: eu não estou preocupado com isso, ou
isso a gente resolve depois. Esse tipo de colocação prejudicou muito o trabalho
pedagógico.
Como poderíamos cobrar dos professores atitudes diferentes se não era “i mportante”
no momento? A junção de administração financeira e gestão de pessoas na instituição não
foi fácil. Atualmente são mais velados os impasses, mas ainda temos professores que não
querem ficar na Uned, mas irem trabalhar na sede. Muitas decisões foram apresentadas
como única solução. A gestão democrática muitas vezes se transformou em deliberação de
funções.
Com a mudança essa característica ficou mais clara. É perfeitamente entendível que
na escola temos várias funções e que há necessidade de coordenações para elas. Mas a
autonomia das coordenações é menor do que se imagina.
Os espaços na escola estão sendo preenchidos. A história institucional começa a ser
escrita. Fazer parte desse processo é muito interessante, e poder analisálo de forma
participativa também. Acredito que daqui a alguns anos é bem provável que veja o processo
de forma diferente. Mas torço para ser melhor!
Os temas abordados aqui não esgotam, em hipótese alguma, as inúmeras vertentes
envolvidas no trabalho de construção de uma escola. É apenas um primeiro passo de uma
caminhada rumo ao crescimento e reconhecimento maior. Aliás, é importante deixar claro
que também foram contratadas pessoas para trabalhar na parte administrativa da escola:
administrador, bibliotecária, técnicos de laboratório de indústria e de química, e vários
auxiliares administrativos que foram espalhados pelo Cefet Campos para aprenderem
diversas funções. Eles também tiveram papel importante nessa construção. Como
praticamente não trabalharam no QG, tiveram menos visualidade e menos participação no
processo de construção. Após a mudança, cada um deles está ajudando a construir uma
página da cultura e da história escolar.
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