Position Paper 2 - Lean Office serviço público v1.docx
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS
FACULDADE DE TECNOLOGIA
MBA GESTÃO DA QUALIDADE TOTAL NAS ORGANIZAÇÕES
GESTÃO E IMPLEMENTAÇÃO DE SISTEMAS ENXUTOS
Aplicação dos conceitos Lean Office no setor administrativo de uma Prefeitura
Position Paper
Leôncio Araújo Oliveira
O presente Position Paper objetiva analisar o artigo publicado no XXVI ENEGEP –
Encontro Nacional de Engenharia de Produção, ocorrido nos dias 9 a 11 de Outubro
de 2006, cujo título é “Aplicação dos conceitos Lean Office no setor Administrativo
Público”, que tem como foco a apresentação de conceitos da Produção Enxuta
desenvolvida para processos administrativos na Secretaria Municipal da Fazenda
(SMF), Divisão de Receitas (DR), da Prefeitura Municipal do Estado de São Paulo e os
resultados obtidos como a redução de etapas no atendimento fiscal a população,
através do mapeamento de fluxo de valor (VSM). Após a análise do artigo em questão,
o position paper apresentará uma breve discussão onde serão fornecidas informações
sobre a comparação do ambiente demonstrado pelo artigo respondendo de maneira
crítica sobre a implantação deste mesmo projeto ser favorável ou não no
Departamento de Logística (DELOG), da Secretaria Municipal de Administração
(SEMAD), da Prefeitura Municipal de Manaus, ambiente de trabalho do autor.
Os conceitos relativos a sistemas enxutos têm sido aplicados pela indústria automotiva
e manufatura em geral e até mesmo, ainda de forma mais incipiente, em processos
administrativos ou empresas de outros segmentos de atuação (BORCHARDT, 2005).
Para confirmar, basta olhar para os resultados alcançados de algumas empresas que
migraram o Lean Thinking da produção para os processos administrativos, como é o
caso da Alcoa e Bosch, que implementaram inúmeras melhorias nos processos de ida
e vinda de informações entre as áreas de vendas, compras, engenharia, produção e
controladoria, com a aplicação do SVM. Conceitualmente, o pensamento enxuto, antes
da etapa de aplicação, passa por varias etapas administrativas, por assim dizer, que
vai da elaboração do projeto, definição dos indicadores, treinamento dos envolvidos e
configuração dos elementos de estudo. Após esta fase inicial é que as ferramentas
são aplicadas no processo. Diante disto, não seria tão complicado transpor estas
mesmas ferramentas para uma área administrativa.
Esta adaptação foi conseguida, segundo Turati (apud TAPPING e SHUKER, 2003),
para aplicar em ambientes administrativos através da reconfiguração de algumas
ferramentas e metodologias, como: 5S, Takt Time (tempo de ciclo), Estoques de
recursos e recursos de segurança, Trabalho padronizado, Células de Trabalho, FIFO,
Balanceamento de linhas e Fluxo contínuo. A metodologia 5S, por exemplo, já havia
migrado para a área administrativa, desde que as escolas de pré-alfabetização nos
países asiáticos, como Japão e Coréia do Sul, aplicaram como forma de melhorar a
disciplina e o respeito pelo meio ambiente por parte das crianças.
A experiência prática do Departamento de Logística ocorreu a partir da implantação de
um Sistema de Gestão da Qualidade baseado na norma NBR ISO 9001:2008, no ano
de 2011. Um dos pontos principais para implantação da norma é o mapeamento do
processo. Este mapeamento consiste em identificar os elementos do processo:
fornecedor, input, processo, output e cliente. Durante o mapeamento, o processo,
inevitavelmente, é subdividido em atividades onde são alocados recursos materiais,
mão-de-obra e tempo destinados a ela. Este tempo será considerado na implantação
dos indicadores de desempenho, pois seus resultados (eficiência e eficácia) serão
avaliados conforme a metodologia PDCA.
Figura 1 – Organograma do DLOG
Fonte: Próprio autor
Vamos tomar como exemplo a atividade de inventário do Departamento de Logística
que é realizada nas escolas municipais, aqui chamadas de Unidades Estratégicas
Educacionais (UEE). Observando o organograma abaixo, o inventário é uma atividade
da Comissão Técnica Especial de Implantação de Projetos Logísticos - TEIPL, que por
sua vez, responde a Divisão de Gestão de Demanda e Estoque. Antes do
INVENTÁRIO RELATÓRIOPLANEJAMENTO
PlanejamentoElab. CronogramaAgendamento
InventárioTreinamentoImplant. de saldosCadastro de materiaisConferênciaValidação
Elaboração do RelatórioAssinaturasPublicaçãoArquivamento
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INVENTÁRIO RELATÓRIOPLANEJAMENTO
PlanejamentoElab. CronogramaAgendamento
InventárioTreinamentoImplantação de saldos
Elaboração do RelatórioAssinaturasPublicaçãoArquivamento
IMPLANTAÇÃO SALDOVALIDAÇÃO
Pesquisa materialCadastro materiaisCorreção de duplicidade
ConferênciaCálculo da taxa de acuracidade
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mapeamento, o inventário era uma única atividade, conforme figura 2. Não havia
subdivisões que permitissem melhor visualização de todo processo. Assim, os
servidores tinham dificuldades em conhecer as etapas do processo de inventário, a
distribuição de responsabilidades e o conhecimento se os objetivos estavam sendo
cumpridos ou não.
Figura 2 – Processo de inventário antes do mapeamento
Fonte: Próprio autor
Após o mapeamento, cada etapa da situação anterior foi analisada criticamente,
considerando o tempo de realização, o número de pessoas e o grau de dificuldade
para desempenhar cada atividade. Desta forma, foi identificado um número de
subatividades que estavam encobertas pelas principais. Estas atividades, apesar de
subordinadas, eram igualmente importantes no processo, pois, sem as mesmas os
inventários poderiam até mesmo ser invalidados. A ação foi destacar estas
subatividades dentro do processo de inventário, considerando o grau de importância
que cada uma delas representava no geral, conforme pode ser observado na figura 3
abaixo.
Figura 3 – Processo de inventário após o mapeamento
Fonte: Próprio autor
Após esta ação, foram observadas varias melhorias no processo. Para efeito didático,
como estamos falando em Lean Office, as melhorias conquistadas será explicado
conforme o conceito Lean atribuindo o tipo de ferramenta que a mesma se adéqua.
a) Takt Time (ciclo do processo): é o tempo determinado através da coleta de
dados sobre a demanda do cliente, sendo, portanto, o ritmo imposto ao fluxo
de trabalho por essa demanda, determinando quão rápido ele deve ser para
atingi-la.
Ação realizada: O Tempo total de inventário (do planejamento até a
disponibilidade do sistema para o usuário) foi reduzido de 4 dias para 2 dias.
b) Estoques de Recursos e Recursos de Segurança: são ferramentas
utilizadas para assegurar que a demanda do cliente seja atendida
imediatamente, em qualquer condição. Os Estoques de Recursos são sempre
utilizados em fluxos de valor administrativos, pois o volume de trabalho
requerido pelo cliente dificilmente é exato.
Ação realizada: Com a distribuição de pessoal e redução do tempo de
inventário, o tempo destinado a treinamento aumentou fazendo com que
houvesse menos reclamações por parte dos clientes. Outrossim, foi possível
manter duas equipes de inventário, o que aumentou ainda mais a produtividade
do processo.
c) Trabalho Padronizado: é um conceito que significa estabelecer e
documentar o procedimento que fornece o melhor resultado, com o
melhor método e a melhor seqüência para as atividades.
Ação realizada: A padronização de atividades faz parte do processo de
implantação da ISO 9000.
d) Células de Trabalho: consiste no arranjo das pessoas e ferramentas,
necessárias para um serviço, colocando-as próximas umas das outras, na
seqüência das atividades que serão realizadas em fluxo contínuo.
Ação realizada: Com a distribuição de pessoal nos novos processos, foi
possível melhorar a comunicação entre os processos ficando mais clara a
sequência de atividades e a redução do estoque entre os mesmos.
e) Linhas FIFO (First In – First Out): é um conceito que estabelece que todas as
tarefas devem ser processadas seguindo a ordem de entrada no fluxo, assim
a primeira unidade de trabalho que entra é a primeira que sai.
Ação realizada: Como a equipe de inventário obedece a um cronograma, os
inventários seguem uma ordem natural. Quando uma UEE desmarca a visita,
imediatamente a próxima da vez entra no lugar. Isso acontece em toda a cadeia
do processo, uma vez que não há mais acúmulo de serviços.
f) Balanceamento da Linha de Produção: consiste na determinação de uma
distribuição nivelada de unidades de trabalho no fluxo de valor para atender ao
Takt time, otimizando a utilização do pessoal, distribuindo a carga de serviço,
de forma que todos tenham cargas semelhantes e capacidade de atender ao
Takt time.
Ação realizada: Com a distribuição de pessoal nos novos processos, houve
melhor balanceamento das atividades. Esse nivelamento permitiu que uns
ajudassem aos outros, quando necessário.
g) Fluxo Contínuo: é um conceito que permite que a unidade de trabalho flua
entre as etapas do processo sem paradas entre elas e, portanto, sem a
necessidade de transporte e estoques.
Ação realizada: Com a distribuição de pessoal e o balanceamento foi possível
manter certo ritmo em todas as etapas do processo.
Com tudo que foi abordado podemos afirmar que o pensamento enxuto é
recomendado para as áreas administrativas? Creio que sim. Na realidade o que
importa mesmo é você se colocar na posição do cliente e refletir criticamente sobre os
processos, na forma em que são realizados para avaliar se são essenciais ou não, se
não está sendo feito a revelia, sem controle ou padronização. O que importa é eliminar
ou reduzir os desperdícios.
Conforme o exposto, as possibilidades de aplicação das ferramentas Lean dentro de
uma área administrativa são muitas. O que falta na maioria dos gestores é entender o
conceito e transportar para os processos onde realmente precisam obter bons
resultados através de pequenos incrementos no processo e, preferencialmente, com
baixo custo. Verificar quais atividades são de fato úteis para o cliente e que tarefas são
realizadas, não em favor dele, mas antes, em favor das economias de escala dos
próprios ativos do sistema. Ou são feitas, da forma que são, em função de hábitos
históricos, ou mesmo pelo simples conforto em realizá-las de uma forma
aparentemente mais tranquíla. A proposta é que entendendo o que é valor para o
cliente o gestor será capaz de identificar e eliminar os desperdícios e impulsionar a
competitividade da organização, ou no caso do serviço público, atender a sociedade
com excelência, através da velocidade de atendimento dos serviços.
O Sistema Toyota de Produção (STP) pode ser cada vez mais usado em qualquer
área, inclusive serviços, pois permite atender os clientes com alta qualidade, baixos
custos e prazos de entrega apropriados. O sucesso em longo prazo dessa filosofia em
serviços deve-se ao modo de pensar lean (enxuto) e deve estar em todas as áreas de
negócio, principalmente quando se tratar de trabalhos administrativos (FERRO, 2006).
Referências
BORCHARDT, M. . Diretrizes para a implementação dos princípios da mentalidade enxuta: o caso das empresas de transporte coletivo rodoviário urbano. 295p. Tese (Doutorado) – Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2005.
COSTA R.S. e JARDIM E.G.M. - Os cinco passos do pensamento enxuto net, Rio de Janeiro, 2010. Disponível em:<http://www.trilhaprojetos.com.br>.
FERRO, J. R. Novas fronteiras da aplicação do sistema Lean em serviços. Disponível em: <http://www.lean.org.br>. Acesso em: 20 fev 2006.
PICCHI, F. A. Lean na Administração. In: LEAN SUMMIT 2002, Gramado, RS, 17- 19 nov. Apresentações: Lean Institute Brasil, 2002.
TAPPING, D; SHUKER, T. Value stream management for the Lean Office. In: TURATI, R. C. Aplicação do lean office no setor administrativo público. 108 p. Dissertação (Mestrado). Escola de Engenharia de São Carlos da Universidade de São Paulo, São Carlos, 2007.
TURATI, R. C. Aplicação do lean office no setor administrativo público. 108p. Dissertação (Mestrado em Engenharia de Produção). Escola de Engenharia de São Carlos da Universidade de São Paulo, São Carlos, 2007.
Womack, J. Jones, D. A mentalidade enxuta nas empresas (Lean Thinking). In: COSTA R.S. e JARDIM E.G.M. - Os cinco passos do pensamento enxuto net, Rio de Janeiro, 2010. Disponível em:<http://www.trilhaprojetos.com.br>.