Preparando-se para a Profissão do Futuro

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    Preparando-se para a Profisso do Futuro

    Prof. Jos Carlos Marion

    Talvez, se chamasse este texto deprofisso do futuro, um leitor que no da rea contbilpoderia discordar dele e at no l-lo. Ele poderia indagar que essa profisso uma das maisantigas que existe; poderia dizer que esteretipo da imagem desse profissional em nossasociedade no o melhor possvel (aparentemente no muito criativo, talvez um pouco tmido e,em alguns casos extremos, at com suspeita de ausncia de idoneidade profissional). Adespeito de qualquer juzo j concebido, rogaria ao leitor que lesse este artigo at o fim efizesse um novo juzo, no olhando basicamente o momento que vivemos mas projetando umanova realidade que emergente, inquestionvel e irreversvel.

    Os historiadores dizem que a Contabilidade j existia h pelo menos quatro mil anos a. C.Eu diria que ela existe desde o incio da civilizao humana, pois, se a Contabilidade mensurariqueza e o homem (a razo da existncia dessa cincia) ambicioso por natureza, ainda que de

    modo muito precrio, ela acompanha esse homem ambicioso desde o princpio. Veja casos naBblia, como os de J, Jac e outros, que tiveram a sua riqueza avaliada, bem como a variaodessa riqueza.

    Considerando o fim da escriturao tradicional em funo dos meios eletrnicos; as crticasque o profissional contbil sofreu temporariamente em funo dos escndalos dos bancosEconmico e Nacional ; e o esteretipo, superficialmente abordado desse profissional, pareceloucura iniciar este artigo com o ttulo tremendamente ousado: " preparando-se para a profissodo futuro. Todavia, navegue comigo nessa aventura de descobrir algumas facetas muitas vezesocultas dessa profisso.

    Em primeiro lugar, precisamos entender que a imagem dessa profisso no Brasil ou empases subdesenvolvidos (ou em desenvolvimento) est muito aqum que nos pases

    desenvolvidos. A certificao do contador na Inglaterra dada pela rainha. Nos Estados Unidos,se voc perguntar qual a vocao que algum quer para seu filho, aparecem as profisses demdico, advogado e contador. Em alguns estados americanos o contador o mais bemremunerado entre as profisses liberais. L, os auditores so uma classe privilegiada, ganhamuma fortuna, jogam golfe e so muito respeitados. Isto acontece em outros pasesdesenvolvidos.

    No momento, no Brasil, no vivemos esses privilgios. Mas, na verdade, eles estochegando e dentro de muito pouco tempo surpreendero a muitos. Em meu livro ContabilidadeEmpresarial, publicado pela Editora Atlas SA, inicio dizendo que, ao contrrio de outrasprofisses, a Contabilidade oferece um leque de pelo menos dez alternativas diferentes deexerccio profissional. Farei meno de algumas dessas alternativas.

    Na verdade, na rea de negcios a linguagem universal a Contabilidade. Assim, comomuitas pessoas querem aprender ingls como um idioma internacional para se comunicar, mister se conhecer a Contabilidade para se comunicar no mundo dos negcios.

    Temos hoje um pouco mais de 100.000 contadores registrados em Conselhos Regionais emtodo o pas (os Estados Unidos formam 50.000 novos contadores a cada ano). Considerandoque nosso universo de empresas chega a quase 4,5 milhes, podemos obter um quociente deum profissional habilitado para cada 45 empresas. Em sentido meramente algbrico, cadacontador que se forma teria 45 empresas aguardando seus servios.

    Poderamos argumentar que o contador enfrentaria a concorrncia dos tcnicos emcontabilidade (em torno de 220.000) e dos escritrios de Contabilidade; que o Imposto de Rendadispensa grande parte das empresas de fazer Contabilidade e que poucos estariam interessados

    em fazer os relatrios contbeis. A resposta muito simples:.as empresas esto percebendoque, sem uma boa Contabilidade, no h dados para a tomada de deciso numa economia que

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    a cada dia exige mais competncia e competio; que os tcnicos e escritrios de maneira geralesto mais voltados para a avalancha de guias fiscais, legais, no tendo aptido, salvo algumasexcees, de enfatizar primordialmente os relatrios para a tomada de decises; que a empresaprecisa de profissionais que ajudem no processo decisrio, interpretando as informaes e no "de servios de despachantes contbeis" ou, exclusivamente, escrituradores (passando essatarefa para o computador); que a dispensa da escriturao contbil pelo Imposto de Renda(ausncia dessa escriturao contbil formal facilita o ilcito fiscal) uma faca de dois gumes,pois, sem controle, no h sade financeira. Assim, o contador, em sua nova funo, tem muitoespao pela frente, como o "mdico de empresas".

    No se admite hoje uma empresa, independentemente de seu tamanho (at mesmo amicroempresa), sem custos. Na poca de inflao alta, toda a ineficincia e incompetncia eramjogadas no preo. Hoje, com estabilidade monetria, a margem de lucro reduziu sensivelmente es com uma boa administrao de custo se pode pensar em sobrevivncia. Assim, aContabilidade Financeira, a de Custos e a Gerencial tm, mais do que nunca, um espaogarantido. Sem uma boa Contabilidade, a empresa como um barco em alto mar, sem bssola, merc dos ventos, quase sem chance de sobrevivncia, totalmente deriva.

    Holland (1) divide a carreira de contabilista em trs nveis: Nvel I - Tcnicos emContabilidade e assistentes de contador; Nvel II - Contador geral, contador de custos e auditor;Nvel III - Contador gerencial e executivo em Auditoria. Para o autor citado, no Nvel III, aremunerao bem acima de R$ 100.000 anuais.

    Dentro da Contabilidade Financeira, as especializaes, como Contabilidade Rural,Contabilidade Hospitalar, Contabilidade Imobiliria etc. e os "casamentos" Contabilidade eInformtica, Contabilidade e Direito Tributrio etc., so excelentes opes para essa mudanade milnio.

    E quanto ao auditor? Segundo o professor e contador Stephen Charles Kanitz, no existecorrupo no Brasil. O pas ressente-se, isto sim, da falta de auditores e de auditoria. Somostalvez o pas menos auditado do mundo. Por exemplo, existe aqui um auditor independente paracada grupo de 25.000 habitantes. Na Holanda, h um auditor independente para cada 900habitantes; na Gr-Bretanha, um para cada 1.300 habitantes; nos Estados Unidos, um para cada2.300. Quase todas as empresas nos pases desenvolvidos so auditadas. No Brasil, somente3.000 empresas (das quase 4,5 milhes existentes) esto sujeitas a auditoria obrigatria. J

    existem projetos para mudar este quadro e, certamente, antes da virada do sculo teremosmuitas empresas procurando auditores externos. A nova proposta da Lei das Sociedades porAes obriga para todas as grandes empresas, independentemente do tipo societrio, a seremsubmetidas a auditoria externa. Certamente, ainda neste sculo, haver uma grande demandapor esse profissional.

    Por outro lado, a auditoria interna, que, segundo o Conselho Federal de Contabilidade (2), aopo de 9% dos contadores brasileiros, cresce assustadoramente, principalmente na rea deauditoria de gesto, em que se examina o desempenho administrativo dos gestores da empresa.

    Nunca foram vistas tantas causas judiciais envolvendo empresas no Brasil como nomomento. Quase todos os processos requerem a pessoa do perito contbil, que, assim como oauditor, de competncia exclusiva do contador. Com a terceirizao, as empresas buscam os

    consultores contbeis (em diversas reas de especializao) que substituem com vantagens oempregado permanente. Em recente divulgao do Sebrae (3), 70% das pequenas emicroempresas que entram em contato com a instituio para a obteno de crdito, nodispem de condies para receber financiamento, necessitando de consultoria contbil parareduzir seus custos financeiros. O analista financeiro (de mercado de capitais, de crdito e dedesempenho da empresa) cada vez mais procurado no mercado. Bolsa de Valores melhornegcio dos ltimos 20 anos.

    Para preparar essa demanda enorme de contadores, so necessrios docentes epesquisadores. E aqui encontramos grandes nichos no mercado. Temos hoje apenas 250mestres em Contabilidade enquanto os Estados Unidos formam 6.000 a cada ano. Temos s 55doutores (para mais de 330 cursos supeirores de Contabilidade), enquanto os americanosformam 220 novos doutores por ano, no conseguindo, assim mesmo, atender a sua demanda.

    Os livros didticos esto nas mos de menos de meia dzia de autores e atendem mais de 90%das instituies de ensino. Revistas e boletins so rarssimos pela escassez de autores. H

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    verbas disponveis para pesquisas contbeis, porm so moscas brancas os pesquisadores.Muitas universidades querem introduzir mestrados e doutorados (com bons salrios), mas noh ofertas de docentes e pesquisadores no mercado. Praticamente, no h autores, docentes decarreira e pesquisadores disponveis. A demanda por docentes titulados e pesquisadores tem-seintensificado aps a iniciativa do Provo, a ponto de existir instituio de ensino superior queprope remunerao ao docente doutor de cinco aulas por cada aula dada.

    Os dados estatsticos mostram que os graduados em Contabilidade tm um ndice maior deaproveitamento nos concursos pblicos em reas afins que outros graduados. Muitos

    concursos vm por a. Em 1970, o Brasil tinha 20.000 fiscais na Receita Federal. Hoje, fala-se em 5.500para controlar todas as fronteiras, litoral, aeroportos e portos, milhes de empresas e 30 milhes decontribuintes. Diversas reas esto nessa situao no setor pblico. No bastasse tudo isto, notrio o desempenho do contador em cargo administrativo, pois homem que normalmentemais conhece a empresa.

    Outros aspectos interessantes da perspectiva profissional nessa rea poderiam serabordados. Todavia, analisando a Histria, chegamos Era da Informao, e do Conhecimento.Comeamos com uma sociedade primitiva (caa e pesca), passamos para uma sociedadeagrcola e h 250 anos atingimos a sociedade industrial que parecia ficar para sempre. Noaconteceu. Vemos uma revoluo na sociedade que concentra sua ateno em um novorecurso que a informao. A Contabilidade, por excelncia, uma cincia de informao.

    Temos hoje 330 cursos superiores de Cincias Contbeis no Brasil. H em torno de 250processos (pedidos de instituio de ensino superior) solicitando abertura de novos cursos deContabilidade no MEC. Isto mostra que os "empresrios" do ensino superior visualizam umfuturo promissor para a profisso contbil.

    Por outro lado, novas perspectivas profissionais vo surgindo, como, por exemplo, a deInvestigador Contbil (profissional que investiga fraudes, o lado podre das empresas), aContabilidade Ecolgica, a Auditoria Ambiental, a Contabilidade Estratgica, a ContabilidadeProspectiva (voltada para cenrios e procedimentos futuros), o empresrio contbil com umnovo perfil etc

    Em pesquisa recente (4) que revela o perfil do fraudador nas empresas, detecta-se que 43%fraudam por apropriao indbita, sendo que Caixas, Bancos e Estoques so os itens mais

    visados. As empresas norte-americanas perdem cerca de US$ 9,00 por dia devido a fraudes.Esse tipo de ao ilcita consome dezenas de bilhes de dlares por ano naquele pas. Asperdas das empresas podem chegar at 6% de seu faturamento com fraudes. Por a, possvel ter uma idia do campo de trabalho para o Investigador Contbil, rea ainda quaseinexplorada pela profisso. Nos Estados Unidos e Europa, rotina fazer o trabalho deinvestigao contbil duas vezes por ano; portanto, essa especializao profissional bastanteconhecida. No Brasil, temos ainda menos de 30 profissionais nessa rea, com a remuneraoem torno de R$ 100,00 por hora

    O Novo Perfil do Profissional Contbil

    Diante deste quadro sensivelmente favorvel, alguns aspectos preponderantes deveriam serconsiderados no planejamento profissional. comum ouvir dizer hoje que 1) o emprego

    duradouro est perto do fim; 2) fala-se muito, dentro da profisso contbil, sobre administraode conflitos (em poucas profisses vamos encontrar tantos conflitos como na de contador), sobreinteligncia emocional, isto , saber lidar com emoes, empatia, facilidade em se relacionarcom outras pessoas.

    Neste segundo enfoque, saber lidar com presses, frustraes, ser integrado e,principalmente, saber criar empatia com os outros, evitando julgamentos crticos baseados emsensaes e no em fatos, alavancam a carreira de qualquer pessoa, em qualquer rea deatuao. Investir na inteligncia emocional indispensvel no mundo moderno.

    No que tange nova tendncia do fim do emprego duradouro, o profissional contbil levado a administrar sua prpria carreira. Requer o fato de estar atento para as oportunidadesde mercado, descobrir os nichos existentes e investir em marketing pessoal (muito mal cuidado,

    diga-se de passagem, pelos profissionais contbeis).

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    O emprego assalariado no Brasil est acabando. At 1980 (5), de cada 10 ocupaes criadaspelo mercado de trabalho, oito eram assalariadas (sendo sete com registro em carteira e umasem registro). As outras duas eram de trabalho por conta prpria, incluindo os sem-remuneraoe os empregadores. De 1989 a 1995, de cada 10 novas ocupaes, duas eram assalariadas, eoito no assalariadas (cinco por conta prpria e trs sem remunerao). Essa tendncia dereduo do trabalho assalariado com registro ainda mais acentuada na profisso contbil.

    A idia de "empregabilidade" transformar cada profissional em administrador da prpria

    carreira. Em certo sentido o fim dos compromissos com a empresa e o incio dasresponsabilidades com a administrao pessoal de sua carreira. Assim, cada profissional setransforma em uma empresa e passa a administrar a prpria profisso como um produto queprecisa ser vendido no mercado.

    De certa maneira, o empresrio contbil, aquele que presta servios para terceiros pormeio de uma infra-estrutura pessoal ou de um escritrio, j vem fazendo isto: sai de cena opatro nico e surgem diversos clientes. Entendemos, todavia, que, de maneira geral, isto temsido feito de forma amadorstica, sem investimento em marketing para garantir uma "boa marca".

    A Marca do Profissional

    Pode-se dizer que as empresas esto constantemente diante de inmeros desafios e que hnecessidade de muita competncia, habiilidade, marketing pessoal e criatividade do profissionalcontbil para superar as expectativas do cliente.

    Para melhorar o marketing pessoal dever-se-ia pensar em ser executivo-chefe de si mesmo.Ns, pessoas fsicas, somos uma empresa e precisamos ter nossa marca. Precisamos demarketing pessoal para fazer negcios. Como agentes livres que a profisso e a economia nosproporciona, temos chances de nos destacar, ter uma marca registrada.

    No so s os produtos que se vendem pela marca. Quando voc tem um caso grave desade, procura um mdico de marca; na rea jurdica busca um advogado de marca; para umaauditoria ou avaliao de uma empresa, um nome conhecido indispensvel. interessanteque o patrimnio fsico, o ativo tangvel, parece j no ter peso como alguns anos atrs,

    surgindo o intangvel, principalmente a marca, como ponto fundamental.

    preciso definir exatamente a rea de aco, a especialidade, criar uma mensagem e umaestratgia para promover a marca pessoal. Destacar cuidadosamente o que o seu servio sediferencia dos outros. A marca deve encantar o cliente. Deve ficar claro qual o benefcio que setrar para o cliente. O prestador de servio dever acrescentar valor mensurvel para seucliente. As pessoas devero elogiar o profissional, e o marketing boca a boca estar iniciado.

    No que tange Contabilidade, pode-se dizer que ela s til se acrescentar valor, se seubenefcio for mais representativo que o custo de faz-la. Assim, a prestao de sevios fiscais,aspectos burocrticos como fim, nunca acrescentaro valor. Deixe que os menos ambiciososfaam isto.

    Dar aulas, palestras, escrever em jornais da regio, participar de debates, ter uma "homepage" na Internet, ter logotipo moderno em seu carto, alimentar redes de amigos influentes, terum bip, usar seu poder de influncia podem, entre outras coisas, ser fundamental para seconstruir o marketing pessoal.

    Tom Peters (6) faz algumas perguntas interessantes para que voc avalie sua marca: "Vocsempre entrega o trabalho dentro do prazo? Seu cliente interno ou externo recebe umatendimento confivel que satisfaz as suas necessidades estratgicas? Voc antecipa e resolveos problemas antes que eles se transformem em crises? Seu cliente poupa dinheiro e dor-de-cabea pelo simples fato de contar com voc na equipe? Voc sempre completa seus projetosdentro do oramento previsto? (no sei de nenhum cliente de uma firma de serviosprofissionais que no vire uma fera quando os custos excedem o oramento previsto) ". Euainda acrescentaria uma pergunta: "seu cliente acha voc tico?"

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    Quando h "solidariedade" de qualquer profissional num processo esprio, como por exemploa sonegao, parece que o prestador de servio est agradando o cliente. Mas saiba que ocliente, at mesmo inconscientemente, tem uma imagem ruim desse profissional. Imagineaquela prtica antiga (felizmente, parece que j no existe mais) em que um funcionrio pblicoera subornado para desembaraar um documento, ou adiantar um papel emperrado naburocracia. Os beneficiados estimulavam essa atitude, mas, certamente, no a aplaudiam. Serque o beneficiado faria uma parceria empresarial com esse funcionrio? Certamente, no.Ningum gosta dessas atitudes, nem mesmos os beneficiados. A marca fica comprometida em

    atitudes desse tipo.

    Foco no Cliente

    Por outro lado, parece que, de maneira geral, os profissionais contbeis brasileiros tmdificuldade em adaptar-se a "era do cliente". Os slogans "o cliente em primeiro lugar" ou "ocliente sempre tem razo" ou "o cliente satisfeito sempre est disposto a nos remunerar melhor"ou "o usurio (cliente) da Contabilidade a pessoa mais importante no mundo contbil" aindano tm causado a ressonncia desejada na classe contbil brasileira.

    Algumas perguntas podem direcionar-nos para a concluso de que, geralmente, osprofissionais contbeis, principalmente os voltados para micros, pequenas e mdias empresas,no tm centrado sua prestao de servios no principal usurio da Contabilidade, ou seja, o

    administrador, o gerente, o scio-gerente que administra seu negcio:

    - A prestao de servio contbil tem sido totalmente voltada para o cliente (customer-driver), o principal gestor, a pessoa que toma deciso na empresa?

    - O profissional contbil ou a empresa que presta servios de Contabilidade fazregularmente pesquisas de opinio com o principal cliente (usurio da Contabilidade),exatamente aquele que remunera a prestao de servios?

    - Esse profissional ou empresa tem uma forma especial de ser ou de pensar que propiciaa definio de cada iniciativa de acordo com a vontade do cliente?

    - Na definio da hierarquia dos usurios, o prestador de servio contbil tem absoluta

    certeza de que os poderes dominantes (governo, fisco, instituies financeiras ...) no podeminfluenciar na qualidade das demonstraes contbeis que serviro de base para o principalcliente da Contabilidade?

    - Em funo dos padres modernos e das exigncias do principal usurio daContabilidade, o prestador de servio contbil est disposto a passar por uma mudanafundamental de crenas e valores em sua cultura?

    - A universidade (considerando o curso de Cincias Contbeis) tem pesquisado em suaregio o perfil ideal de profissionais a serem formados considerando a demanda, os anseios doprincipal cliente da Contabilidade?

    - Essa mesma universidade tem reavaliado o currculo e/ou curso em relao ao feedback

    obtido junto dos egressos (ex-alunos) e aos usurios dos servios contbeis desses egressos?

    - O prestador de servio contbil um aliado no sucesso de seu cliente: ajuda-o nareduo de custos, no melhor perfil de endividamento, nos avanos tecnolgicos, noencurtamento do ciclo de produo, no aumento da qualidade, rentabilidade, na fatia demercado? Esse prestador de servios tem-se reunido com o cliente para tratar dessesassuntos ?

    Se a maioria das respostas for "sim", h tendncia em focalizar o principal usurio daContabilidade (o cliente).

    Em recente pesquisa feita pelo Conselho Federal de Contabilidade em 1995/1996 (2), apenas1,98% dos contadores est interessada de forma direta em contribuir para o crescimento dos

    clientes.

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    Qualquer tipo de servio que no acrescentar valor e/ou satisfao ao cliente no perdurarnos dias de hoje. De maneira geral, servios excessivamente voltados para a escriturao,nfase fiscal, servios burocrticos etc, no agregam valor, no aumentam riqueza do cliente e,consequentemente, no podem trazer satisfao. A Contabilidade um processo para servire satisfazer ao cliente e no para a satisfao do criador ou idealizador de mtodoscontbeis.

    Geralmente, parece que, em termos de cultura brasileira, no se levam muito a srio as

    necessidades do cliente. Como exemplo podemos citar a seguinte afirmao : "No Brasil, oempreendedor olha para o prprio umbigo ao escolher onde investir seu dinheiro: o que eu seifazer, o que eu vou vender, o quanto eu posso ganhar. Desde a dcada de 60, a maioria dasinovaes mercadolgicas americanas obedece um parmetro bsico: uma necessidadedesatendida do consumidor. Novos produtos e servios, portanto, esto quase sempre ligadosao esforo de satisfazer demandas, desejos e caprichos do cliente. nisso que o empreendedoramericano pensa ao perscrutar oportunidades de mercado "(7).

    Diversas situaes poderiam aqui ser destacadas sobre como no Brasil se tem maltratado oconsumidor. Uma grande empresa automobilstica manteve por quase 40 anos, sempraticamente nenhuma alterao, a sua perua Van, sendo que as famlias grandes, ainda quetivessem poder aquisitivo para adquirir um automvel maior, amargaram um transporte prpriode quinta categoria (que chamar de carroa, como o ex-presidente Collor fez, era um elogio !).

    Se se quiser tomar um txi para um aeroporto de uma cidade satlite (como o caso deGuarulhos), o passageiro precisa pagar quase o dobro, pois o taxista no pode pegar passageiropara o retorno (que "se dane" o consumidor, o importante so as regras imbecis !). Por outrolado, as Vans americanas e japonesas so veculos extremamente confortveis e modernos, aum preo bastante baixo. Uma Limosine do aeroporto JFK at o centro da cidade vizinha, NewYork, muito mais barata que um txi de So Paulo a Guarulhos.

    Esses so exemplos tpicos do desprezo ao consumidor. Poderamos dizer que aContabilidade brasileira tambm tem maltratado seus usurios (clientes)? Normalmente, sim e,se no mudarmos o foco para o cliente principal, nossa imagem, marca, sucesso ficarocomprometidos. A profisso do futuro est diretamente ligada soluo dos problema dosconsumidores. Para isto, necessrio ouvir o cliente, comportamento este que, como regrageral, a classe dos contabilistas no tem tido. Creio existirem algumas explicaes para isto.

    O bero da Contabilidade a Itlia. No sculo XV, o cenrio mundial da Contabilidade era aItlia. Praticamente, durante quatro sculos, esse pas foi o grande formador da doutrinacontbil, perdendo a primazia para os norte-americanos nos primrdios deste sculo.

    Se h um fator preponderante na mudana do cenrio mundial da Contabilidade da Itliapara os Estados Unidos, certamente, este fator foi o foco no cliente, no usurio principal daContabilidade.

    Enquanto na Itlia havia exagerado culto personalidade, ou seja, aos grandes tericos daContabilidade, nos Estados Unidos o usurio era consultado, sendo proporcionado a ele amanifestao de seus anseios em relao s informaes contbeis. Essa manifestao dosusurios estimulava o desenvolvimento da Contabilidade Gerencial, que se contrapunha

    nfase terica dos italianos.

    Quando o foco est nos grandes estudiosos (gnios) da Contabilidade, a Auditoria tem papelsecundrio. Todavia, quando o usurio o centro das atenes, a Auditoria desenvolve-se,ganha papel proeminente. Auditoria continua sendo a nfase maior no cenrio mundial daContabilidade, que so os Estados Unidos.

    Este novo cenrio mundial da Contabilidade coloca como objetivo principal da Contabilidadepropiciar ao usurio avaliar a situao econmica e financeira da entidade, em sentido esttico,bem como fazer inferncias sobre a tendncia futura. A Estrutura Conceitual Bsica daContabilidade (8) afirma que "os objetivos da Contabilidade, pois, devem ser aderentes, dealguma forma explcita ou implcita, quilo que o usurio considera como elementos importantespara o seu processo decisrio. No tem sentido ou razo de ser a Contabilidade como uma

    disciplina neutra, que se contenta em perseguir esterilmente sua verdade ou beleza. A verdade

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    Voltando ao Brasil, parece-nos que ainda no absorvemos essa realidade. Uma mistura fortede influncia da escola contbil italiana e de imposies governamentais tm conduzido osprofissionais contbeis a darem um tratamento no mnimo criticvel ao cliente, fazendo com queeste geralmente no esteja satisfeito com o nvel do servio prestado e, consequentemente,proporcionando uma imagem duvidosa para a profisso. Por um lado, no exercitamos emprofundidade o lado dogmtico da escola contbil italiana (embora, a nosso ver, isto no seja

    desejvel) e, muito menos, o lado pragmtico da escola contbil americana.

    Portanto, o foco no cliente indispensvel para o sucesso do profissional. Uma posturaarrojada, rompendo o mito de que ns sabemos definir o que o cliente precisa e assumindo anecessidade de pesquisa em que o cliente revele suas necessidades trar grandes benefciospara a profisso.

    Por fim, concluie-se que as perspectivas da profisso realmente so extraordinrias, masnada vai acontecer sem um planejamento adequado. Nos dias que seguem, as empresas serovistas como clientes (ou, quem sabe, parceiras); os profissionais como fornecedores de servios,exigindo-se por parte destes diversas nfases: competncia, profissionalismo, intelignciaemocional e marketing pessoal (ver o mundo como um mercado e as pessoas em volta comoclientes).

    Certamente a idia de "empresrio da Contabilidade" ser estimulada, mas com uma "cara"muito diferente do que se tem visto no momento.

    Para aqueles que pretendem se manter com vnculo empregatcio por um bom tempo ainda, importante lembrar que se vive na base de um novo vnculo entre empresa e empregados.Com a globalizao cau o velho vnculo que trocava a lealdade do funcionrio por segurana noemprego. Diante da necessidade de competitividade, reestruturao, pelo impacto da tecnologia,reengenharia, downsising e outras iniciativas das empresas, essas no hesitaram em demitirempregados que julgavam estar seguros, confortveis, rompendo assim um grau de confianaentre as duas partes.

    Com o fim do emprego garantido, descobre-se o fim da lealdade, da submisso cega, da

    obedincia permanente dos funcionrios. Hoje os colaboradores querem cada vez maistransparncia da empresa no sentido de melhor conhecer a sua viso, sua estratgia, suamisso e valores. Por outro lado cabe aos colaboradores estarem investindo no seu talento,sabendo que no se permanecem mais "eternamente" numa mesma empresa. .

    (1) - HOLLAND, Charles B. Contador: uma profisso em asceno. Boletim do Ibracon, No.229/97.

    (2) - O perfil do contabilista brasileiro - CFC - Pesquisa realizada em 1995/1996.(3) - "O Estado de So Paulo", Caderno de Economia em 24/8/97.(4) - "Folha de So Paulo", Folha de Empregos em 17/8/97.(5) - "O Estado de So Paulo", Caderno de Economia e Negcios em 24/8/97.

    (6) - Corra. Reportagem de Capa da revista Exame No.643, Agosto de 1997.(7) - Por que os americanos so melhores do que ns ? revista Exame No. 644,

    setembro/97.(8) - Aprovada pela Deliberao da CVM No. 29/86 e IBRACON em janeiro de 1996.

    Jos Carlos Marion docente e pesquisador na rea contbil, presta servios FEA/USP, ao mestrado da PUC-SP, FEA/USF de Bragana Paulista e UNIP de Campinas.

    autor de 17 livros na rea contbil (sendo alguns em co-autoria), mestre, doutor e livredocente pela FEA/USP com ps doutoramento pela Kansas University, Kansas (EUA).

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    Para Publicao

    Artigo:

    Preparando-se para aProfisso do Futuro

    Este artigo foi preparado como resposta as afirmaes de uma granderevista brasileira e de um site da Internet que afirmam que aContabilidade uma profisso em extino.

    muito fcil provar que estas afirmaes so totalmente

    improcedentes e que, o que est acontecendo, exatamente o contrrio:a profisso contbil projeta-se como "a profisso do futuro".

    Todavia, para que isto se torne realidade, h necessidade de seadequar a um novo perfil do profissional contbil. necessrio umplanejamento profissional, cuidadosamente proposto neste artigo.

    So Paulo, Novembro de 1997

    Prof. Jos Carlos Marion

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