Preservação do livro antigo - 5

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O adesivo cristaliza e deixa marcas que não vão sair nunca mais da folha ou da capa do livro. Se o livro estiver despencando, também não é bom usar barbante. Prefiram cadarço de algodão. Os livros devem ser guardados sempre na vertical. Se eles forem muito pesados, podem ficar na horizontal, desde que você não empilhe mais do que dois. Na hora de guardar na prateleira, tentem não apertar muito um no outro, porque na hora que alguém for tirar eles vão acabar danificados na lombada. Também nunca umedeçam os dedos para folhear, nem limpem com pano úmido. Se o livro molhou, é melhor não tentar abrir na hora, porque o líquido pode escorrer para as partes que estavam secas. Deixem secar primeiro naturalmente, sem usar calor muito forte, como o sol ou secador de cabelos. Isso deixa o papel esturricado. Outra coisa que pode causar danos é a luz, e aí não importa se é natural ou artificial. Ela pode, por exemplo, desbotar as capas e envelhecer as folhas antes do tempo. Por isso deixe os livros longe de lugares onde bata sol ou que tenham iluminação muito forte. A pior é a luz fluorescente. É bom saber que os livros respiram, como se fossem seres vivos. Por isso tentem não deixá-los em estantes fechadas. Se não tiver outro jeito, abram as portas uma vez por dia para que eles tomem ar. Quando os livros ficam velhos, às vezes ficam cheirando mal. Para remover esse cheiro ruim, em primeiro lugar tenham certeza de que estejam bem secos, depois coloque-os em um local fresco e seco para tomar ar por algumas horas. Se o cheiro não sair, arranjem duas caixas de papelão, uma maior e uma que caiba dentro da outra. Coloquem os livros na menor, ponham um pouco de bicarbonato de sódio num recipiente e fechem tudo na caixa maior. Não deixem que o bicarbonato toque nos livros. Deixem assim por alguns dias, mas não esqueça de verificar de vez em quando para ver se não aparece mofo. Um jeito de controlar a infestação de insetos, como traças e cupins, é usar ácido bórico. Ele é um inseticida de uso popular que, quando é ingerido pelo inseto, ataca e dissolve seu trato digestivo. Pessoas que tem alergias a produto químico costumam tolerar melhor o ácido bórico, que é usado geralmente junto a ralos, bueiros e rodapés. Vocês podem usar nos livros também, mas não esqueçam de fazer um teste antes para não piorar o estado deles. Ponham uma pequena quantidade sobre um papel do mesmo tipo a ser tratado e esperem dois dias para ver se não causou nenhum dano. Agora, se a obra já está danificada, é preciso o trabalho de restauração especializada, que exige paciência, talento e inspiração dos técnicos envolvidos. Antes de começar, é preciso que se faça um diagnóstico técnico. É tarefa para um especialista e necessita da infra-estrutura de um laboratório. Para fazer qualquer pequeno reparo, deve ser usado só material livre de acidez. Normalmente se usa como adesivo a metil-celulose e como reforço o chamado papel-japonês. Livros do século 18 costumam ser os mais deteriorados. Isso por causa da má qualidade da matéria-prima e do uso de produtos agressivos, que quando se juntam a um alto índice de umidade e temperatura causam enfraquecimento e fragmentação do papel. Aí só dá para restaurar em laboratório. Para evitar este problema, os acervos deveriam ter suas instalações sempre higienizadas. É preciso evitar estantes de madeira e retirar sempre os volumes das prateleiras fazendo a limpeza com um pano meio úmido. A limpeza do miolo da obra deve ser feita com uma trincha macia, página por página, em um local ventilado, usando máscara e luvas cirúrgicas para evitar alergia ou contaminação por fungos. Nunca usem aparelhos elétricos como aspirador de pó. Para os cortes, usa-se flanela seca e trincha macia, tomando o cuidado de manter a obra bem fechada para evitar que o pó se infiltre ou que a página seja danificada. Caso o corte esteja muito enegrecido, é possível fazer a limpeza usando uma lixa bem fina e muito cuidado. Mais cuidado ainda para não danificar a capa. Se o volume seja encadernado em couro, depois de retirar a poeira, passem uma cera incolor à base de cera de abelha ou Tel. (11) 3255 - 0716 Página 1 de 2 BiblioDesign - Design e projetos para Bibliotecas 07/11/2008 http://www.emporiodolivro.com.br/bibliodesign/bibliofilia/index.asp?idMateria=98

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Preservação do Livro Antigo

"Hoje vou falar com vocês sobre restauração e conservação de livros. O assunto é bastante amplo e detalhado, e o tempo é curto para falar sobre tudo. Por isto vou tentar resumir ao máximo.

Se o livro for bem cuidado e manuseado, ele vai durar muito mais tempo. Por isso a primeira coisa que tenho a dizer é: jamais façam reparos caseiros com fita adesiva. Nem durex, nem fita crepe, nem papel contact, nem cola branca. O adesivo cristaliza e deixa marcas que não vão sair nunca mais da folha ou da capa do livro. Se o livro estiver despencando, também não é bom usar barbante. Prefiram cadarço de algodão.

Os livros devem ser guardados sempre na vertical. Se eles forem muito pesados, podem ficar na horizontal, desde que você não empilhe mais do que dois. Na hora de guardar na prateleira, tentem não apertar muito um no outro, porque na hora que alguém for tirar eles vão acabar danificados na lombada.

Também nunca umedeçam os dedos para folhear, nem limpem com pano úmido. Se o livro molhou, é melhor não tentar abrir na hora, porque o líquido pode escorrer para as partes que estavam secas. Deixem secar primeiro naturalmente, sem usar calor muito forte, como o sol ou secador de cabelos. Isso deixa o papel esturricado.

Outra coisa que pode causar danos é a luz, e aí não importa se é natural ou artificial. Ela pode, por exemplo, desbotar as capas e envelhecer as folhas antes do tempo. Por isso deixe os livros longe de lugares onde bata sol ou que tenham iluminação muito forte. A pior é a luz fluorescente.

É bom saber que os livros respiram, como se fossem seres vivos. Por isso tentem não deixá-los em estantes fechadas. Se não tiver outro jeito, abram as portas uma vez por dia para que eles tomem ar.

Quando os livros ficam velhos, às vezes ficam cheirando mal. Para remover esse cheiro ruim, em primeiro lugar tenham certeza de que estejam bem secos, depois coloque-os em um local fresco e seco para tomar ar por algumas horas. Se o cheiro não sair, arranjem duas caixas de papelão, uma maior e uma que caiba dentro da outra. Coloquem os livros na menor, ponham um pouco de bicarbonato de sódio num recipiente e fechem tudo na caixa maior. Não deixem que o bicarbonato toque nos livros. Deixem assim por alguns dias, mas não esqueça de verificar de vez em quando para ver se não aparece mofo.

Um jeito de controlar a infestação de insetos, como traças e cupins, é usar ácido bórico. Ele é um inseticida de uso popular que, quando é ingerido pelo inseto, ataca e dissolve seu trato digestivo. Pessoas que tem alergias a produto químico costumam tolerar melhor o ácido bórico, que é usado geralmente junto a ralos, bueiros e rodapés. Vocês podem usar nos livros também, mas não esqueçam de fazer um teste antes para não piorar o estado deles. Ponham uma pequena quantidade sobre um papel do mesmo tipo a ser tratado e esperem dois dias para ver se não causou nenhum dano.

Agora, se a obra já está danificada, é preciso o trabalho de restauração especializada, que exige paciência, talento e inspiração dos técnicos envolvidos. Antes de começar, é preciso que se faça um diagnóstico técnico. É tarefa para um especialista e necessita da infra-estrutura de um laboratório. Para fazer qualquer pequeno reparo, deve ser usado só material livre de acidez. Normalmente se usa como adesivo a metil-celulose e como reforço o chamado papel-japonês.

Livros do século 18 costumam ser os mais deteriorados. Isso por causa da má qualidade da matéria-prima e do uso de produtos agressivos, que quando se juntam a um alto índice de umidade e temperatura causam enfraquecimento e fragmentação do papel. Aí só dá para restaurar em laboratório.

Para evitar este problema, os acervos deveriam ter suas instalações sempre higienizadas. É preciso evitar estantes de madeira e retirar sempre os volumes das prateleiras fazendo a limpeza com um pano meio úmido. A limpeza do miolo da obra deve ser feita com uma trincha macia, página por página, em um local ventilado, usando máscara e luvas cirúrgicas para evitar alergia ou contaminação por fungos. Nunca usem aparelhos elétricos como aspirador de pó. Para os cortes, usa-se flanela seca e trincha macia, tomando o cuidado de manter a obra bem fechada para evitar que o pó se infiltre ou que a página seja danificada. Caso o corte esteja muito enegrecido, é possível fazer a limpeza usando uma lixa bem fina e muito cuidado. Mais cuidado ainda para não danificar a capa. Se o volume seja encadernado em couro, depois de retirar a poeira, passem uma cera incolor à base de cera de abelha ou

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carnaúba, com movimentos circulares. Não usem este método se o couro estiver ressecado e já formando pó. Neste caso é preciso trabalho de laboratório. E tomem cuidado para não atingir as folhas de papel.

A climatização é a forma mais eficiente de conservação. O ambiente deve ser mantido a uma temperatura por volta de 18 a 20 graus celsius com umidade relativa do ar de 55% a 60%".

Palestra proferida a convite da BiblioDesign na Casa das Rosas, em 28/10/05, durante o "Corredor Literário na Paulista"

Por: Maristela Montesanti Calil Atalah Bibliotecária, proprietária da Livraria Calil Antiquária Publicada em: 31/10/2005

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