Preservação e Revitalização no Centro do Rio de Janeiro
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Os AutoresVicente del RioPossui graduação em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Federal do Rio de Janeiro(1978), especialização em Planejamento Urbano e Regional pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro(1979), mestrado em Master of Arts in Urban Design pela Oxford Polytechnic(1981), doutorado em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade de São Paulo(1991) e pós-doutorado pela University of Cincinnati(1993). Atualmente é professor titular da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Tem experiência na área de Arquitetura e Urbanismo, com ênfase em Projeto de Arquitetura e Urbanismo. Atuando principalmente nos seguintes temas:Desenho Urbano, Percepcao Ambiental, Revitalizacao.
Denise de AlcantaraAtua como pesquisadora colaboradora no Grupo ProLUGAR da UFRJ. Autora de diversos artigos científicos e capítulos de livros no Brasil e no exterior. Sua experiência acadêmica inclui atuações nacionais e internacionais, tendo lecionado no Urban Studies and Planning Program, no Center for Iberian and Latin American Studies (CILAS) e no Departamento de História, da Universidade da California, San Diego (2009-2010). Na prática profissional tem extensa experiência na área de Arquitetura e Urbanismo, com ênfase em Planejamento e Projetos da Edificação, Arquitetura de Interiores e Instalações Comerciais e Industriais e em projetos de urbanização de favelas (Favela-Bairro).
Introdução• 1980- Surge o primeiro projeto de revitalização para o Centro do Rio de Janeiro,
representando o planejamento e o desenvolvimento da cidade. Era uma ação integrada, preservado a herança histórica e cultural da cidade, mas também a recuperação e renovação do patrimônio urbano e arquitetônico;• O projeto teve total apoio de proprietários, comerciantes e da comunidade do local,
já que o projeto tem como objetivo manter a história, memória e a preservação do local;• O Projeto Corredor Cultural agregou ao
controle do desenvolvimento urbano a aplicação de diretrizes de projeto especificas que visam melhorias na arquitetura e na vida social da comunidade;• Com o projeto, mais de três mil edifícios
foram parcialmente restaurados, e cerca de 900 foram totalmente renovados, além dos novos centros culturais, teatros e museus instalados ou renovados, ocupando edifícios históricos.
Contexto Histórico• Desenvolvimento urbano caracterizado pela fragmentação e
descontinuidade do território, relacionada à situação morfológica da cidade; • A Baia de Guanabara, os mangues e os morros são obstáculos que
limitaram o desenvolvimento do centro histórico, ate serem eliminados por aterros e nivelamento da área central;
• Morfologia urbana e modelos arquitetônicos são resultados de fatores sociais, políticos e econômicos, como a chegada da Família Real e da corte portuguesa, além de eventos que aconteceram até o ano de 1960.
Contexto Histórico• Houve projetos sanitaristas, de
embelezamento e de melhorias na infraestrutura viária e expansão do porto, modernizando a cidade. Com a nova imagem da cidade, em que estava se modernizando aconteceu a erradicação de doenças endêmicas como o tifo;• Transformação da morfologia inspirada na
estética francesa que reflete a logica capitalista. Aberturas de grandes avenidas, com novos eixos de transporte e acessibilidade ao centro. Vários becos e ruas alargadas, expansão de bairros de alta renda na Zona Sul;• Com as mudanças na cidade, haviam
restrições para casas e imóveis de aluguel, onde os grupos de baixa renda foram sendo expulsos para os morros e favelas, se tornando uma das principais características da cidade.
Contexto Histórico• 1920- Com a chegada da industrialização ocorreram mais reformas na
morfologia e na situação econômica, onde houve o arrasamento de morros atingindo a parte pobre da população; • Plano Agache- Cidade monumental, funcional e eficiente. Sendo
transformadas praças e embelezamento da cidade, assim como avenidas e calçadas para pedestres;• A partir de 1950 iniciou a expansão do trafego de veículos particulares,
havendo a necessidade de ruas maiores, sendo alargadas e criando novas vias expressas, assim como viadutos. E logo depois o sistema de metrôs nas áreas centrais;• Importantes edifícios e espaços públicos sobrevivem no centro histórico e
servem de testemunho de períodos passados;• O centro serve como um polo funcional, politico, social e simbólico, enquanto
surgem outras importantes centralidades.
Projeto Corredor Cultural• 1970- Questionamento da qualidade de
vida urbana e degradação ambiental. Haviam movimentos na imprensa pedindo para o governo agir contra os excessos da urbanização, da especulação imobiliária e do desenvolvimento, queriam preservar a beleza natural da cidade e a herança histórica;• 1979- Projeto Corredor Cultural-
preservação histórica e desenvolvimento econômico, politico, social e cultural;• Instituição de um conselho técnico
composto por personalidades influentes no cenário cultural da cidade;• Projeto Corredor Cultural abrangia
fragmentos da cidade que possuem características distintas que se complementam na relação sociocultural e morfológica.
Limites originais e subáreas do Projeto Corredor Cultural, RJ. (1) Saara, (2) Largo de São Francisco, (3) Praça XV e (4) Lapa.
Processo de Implementação
• Implementado modificando o Projeto de alinhamento e o projeto de parcelamento da área. Com diretrizes e princípios urbanísticos. Para qualquer mudança deveria ter aprovação do poder executivo e legislativo;• Continuidade da implementação-
novas diretrizes prevalecem sobre antigos regulamentos de uso do solo e códigos construtivos.
• Planejamento realizado pelo governo seguindo suas leis;- Código de obras;- Projeto de alinhamento (Determinam direito de acessibilidade e seções dos
logradouros, alinhamentos frontais);- Projeto de parcelamento (Áreas especificas de parcelamento de lote);
Categorias de preservação e diretrizes do projeto
• O projeto Corredor cultural, com suas exigências e diretrizes especificas, passou a se sobrepor ao processo convencional de aprovação de projetos do município. Divididos em 3 categorias: preservação, reconstrução e renovação;• Mais de três mil edifícios na área de
projeto se enquadra no "período eclético" da arquitetura carioca, sendo que 1 300 foram classificados na categoria preservação;• A categoria renovação abrange lotes e
áreas livres, edifícios construídos mais recentemente e aqueles sem necessidade de uma reconstrução histórica precisa.
Categorias de preservação e diretrizes do projeto
• A categoria de reconstrução, referia-se a edifícios com importância histórica e cultural, semidestruídos ou quase em ruínas, mas acabou sendo descartada em 1987;• Para que pudessem informar e educar
proprietários de imóveis e comerciantes, assim como arquitetos e envolvidos nas obras sobre todos os objetivos do projeto, foi lançado um manual em 1985, Corredor Cultural: Como Recuperar, Reformar ou Construir seu imóvel. E também com esse objetivo, o Escritório Técnico publicou alguns trabalhos, como A Cor e Como Preservar a Sua, a Nossa Herança.
O Escritório Técnico• O Comitê Executivo do Corredor Cultural,
também chamado de Escritório Técnico;• A equipe era composta por jovens arquitetos
que aprenderam seu trabalho ao longo do desenvolvimento do processo, análises intensivas e das visitas a campo diárias;• Como pré-requisito fundamental, o trabalho da
equipe incluía a obtenção do registro de um catálogo das edificações do Corredor, assim como a documentação de suas características, de sua história, da autoria de projetos e construção assim como usos anteriores e atuais;• Esse banco de dados favoreceu a definição de
princípios específicos para cada novo projeto de construção;• A "quinta fachada", como eles chamaram, que
seria o telhado, tem um aspecto importantíssimo para o projeto.
Incentivos Fiscais e Econômicos
• As implicações econômicas do Projeto Corredor Cultural configuram outro fator decisivo para seu êxito, principalmente os incentivos em nível municipal, isenção de imposto predial e taxas municipais, e também federal, como a Lei Rouanet;• Por conta dessas isenções muitas filiais de cadeias de lojas famosas se
instalaram ali;• Um estudo feito em 1999 na área do Saara por David Rodrigues mostra
que, embora a cidade tenha uma significativa perda de receita por conta dessas isenções, ela acaba recuperando e ganhando por outros meios, como turismo e ficar livre de recuperar e restaurar esses imóveis históricos;• A avaliação do custo de uma reforma de um imóvel histórico é quase
impossível, os dados disponíveis são específicos caso a caso, por esse motivo não existe um levantamento ou dados oficiais sobre custos.
Participação Comunitária
• Um dos mais importantes ingredientes para o sucesso do Projeto Corredor Cultural foi a consistente e ativa participação da comunidade;• Cultura singular na área do Saara, grande parte de judeus e árabes que
imigraram no final do século XIX e início do século XX.
Parceiros na revitalização: PROJETOS CULTURAIS• A reciclagem de edifícios e casarões históricos é um aspecto importante do
projeto corredor cultural:- Recuperação de museus existentes;- Atividades culturais;- Instalação de novos centro culturais.• Com isso o centro foi revitalizado, tornando-se um dos principais destinos
para além do horário comercial, assim como espaço de entretenimento nos finais de semana.• Em vários lugares do corredor cultural - principalmente em torno dos novos
polos culturais – restaurantes, bares e boates se multiplicaram;• Em 2003, tinha-se um total de 25 edifícios culturais fundamentais para a
revitalização do centro histórico. • Desses, oito foram reformados e modernizados e mantiveram suas funções
culturais originais, enquanto 15 foram restaurados e convertidos para novos usos.
Parceiros na revitalização: PROJETOS CULTURAIS• Investidores privados, muitas vezes em parceria com o poder publico
perceberam a existência de um mercado consumidor que dava total apoio a esse tipo de empreendimento cultural; • Um número cada vez maior de visitantes vêm ao centro durante o horário
comercial e também a noite e nos fim de semana;
• Atraídos por exposições de artes nacionais e internacionais, shows, pela animação desses novos centros de arte e cultura, ou simplesmente pelas multidões nos bares e cafés que se multiplicam.
Parceiros na revitalização: PROJETOS CULTURAIS• Exemplo: Área em
torno da Praça XV (Praça Quinze de Novembro) • No caminho, além de
belas construções, monumentos e igrejas, como parte final se pode curtir as atrações do CCBB, junto com Centro Cultural dos Correios e a Casa França Brasil.
Parceiros na revitalização: PROJETOS CULTURAIS• Exemplo: A Lapa é um bairro de classe média da Zona
Central do município do Rio de Janeiro, no Brasil;• Possui uma grande variedade de bares, restaurantes, boates e pubs
temáticos, que atendem a todos os gostos ao longo de suas trezes ruas;• Sendo conhecido como o "berço" da boemia carioca, na atual efervescência
do bairro, quinze novos estabelecimentos foram abertos apenas em 2009.
Parceiros na revitalização: PROJETOS CULTURAIS
• Também é famosa pela arquitetura, a começar pelo Aqueduto da Carioca, sua principal referência e cartão postal;• Foi construído para funcionar
como aqueduto nos tempos do Brasil Colonial, e desde 1896, serve como via para o bonde que liga o centro da cidade ao bairro de Santa Teresa.
Desdobramentos e Novas Tendências• O projeto Corredor Cultural expandiu-se para muito além da reabilitação
de edificações históricas, promovendo a renovação urbana, projetos de desenvolvimento inovadores, eventos culturais e a atração de novos residentes para a área central.
O projeto recém-anunciado de revitalização da Zona Portuária promete uma das mais radicais reformas urbanísticas da história do Rio de Janeiro.
Renovação das Áreas Públicas
• Logo após o Corredor Cultural, o escritório técnico se deu conta de que a renovação arquitetônica por si só não seria suficiente;• Dependia fortemente da qualidade dos espaços públicos; • A infraestrutura viária e a paisagem urbana foram recuperadas e áreas
pedestres criadas no Centro;• Encorajando e intensificando o uso público e diversificando e
aumentando a dimensão pública do centro histórico;• Embora previsto dês do inicio do projeto as reformas públicas apenas
começaram cinco anos após o inicio das reformas do casario histórico;• A prefeitura teve de ceder as pressões de comerciantes locais conscientes
de que seus edifícios históricos recém-renovados estavam cercados por ruas, praças e largos decadentes ou ocupados por terminais de ônibus, estacionamentos e outros usos não atraentes para sua clientela.
Renovação das Áreas Públicas
• Algumas das recuperações feitas que complementam os objetivos arquitetônicos do Corredor Cultural:
- Avenida Rio branco, projeto rio cidade (1995);
- Praça XV, inteiramente reformada (1998);
- A área da Lapa, que estava severamente comprometida com um ineficiente traçado urbano.
Uso Residencial: Mais Vida para o Corredor
• Para ilustrar essas novas leis, em 2006 o lote de uma antigo deposito de cerveja foi convertido no condomínio Cores da Lapa, constituído de edifícios de 668 unidades habitacionais de 1 e 2 quartos. O sucesso foi tão grande que surpreendeu até mesmo os mais otimistas, todos os apartamentos foram vendidos em apenas 1 dia.
• Por conta de um decreto, a construção de residências e hotéis era proibida na área central do Corredor Cultural;• Em 2002 a Câmara de Vereadores aprovou importantes mudanças no
plano diretor da cidade, e o governo expediu leis de mudanças que proporcionaram novos usos residenciais para toda área central e adjacentes;
Novas Ideias• As novas ideias para o Centro e o Corredor Cultural continuaram
surgindo, inclusive a proposta de expandir o projeto para incluir uma grande quantidade de edifícios históricos distintos de diferentes estilos;• Entre torres modernas de estilo internacional, estilos ecléticos e art
déco, e até mesmo aqueles representantes da fase “heroica” do modernismo (1930 e 1940);• Encontra-se entre eles edifícios antiquados, em precário estado de
conservação e ameaçados pela renovação urbana;• Porem a equipe do Corredor Cultural entende a dificuldade políticas ao
ampliar demais o escopo do projeto, entendo que a preservação desses edifícios nem sempre é essencial;• Já que muitos exemplares já se encontram protegidos em áreas mais
homogenias;• A intenção é que o município estabeleça diretrizes e incentivos flexíveis e
específicos para sua manutenção, apenas enquanto suas características históricas e arquitetônicas fossem respeitadas e conservadas.
Novas Ideias
• Há muitos desdobramentos do Corredor Cultural sobre toda área central, e um episódio recente demonstra bem espírito do projeto e seu impacto fora de sua área de influencia direta;
Considerações finais
• Como observado por Augusto Pinheiro, principal articulador do Projeto Corredor Cultural desde sua concepção:• “A experiência tem mostrado que passado e presente, preservação e
renovação, cultura e turismo, lazer e negócios podem e devem conviver entre si e, melhor, juntos produzir riqueza, trabalho, desenvolvimento econômico e social, bem-estar e auto estima, ou seja, uma nova cultura para as cidades” (Pinheiro, 2002).
Considerações finais
Em 20 anos de existência do projeto, muito se conheceu sobre a revitalização do Centro Histórico do Rio de Janeiro, mas ainda há muito a aprender e fazer, já que o processo de recuperação de um centro vital esta acontecendo diariamente em uma cidade em continua evolução: seus costumes se alteram seus interesses se diversificam e seus habitantes desenvolvem novas percepções e relações com o ambiente em que vivem. De acordo com Augusto Pinheiro, com base em sua longa experiência como iniciador principal e articulador do Projeto Corredor Cultural, a conjugação dos diversos conceitos relativos ao valor – histórico, arquitetônico, imobiliário, simbólico, ambiental e cultural – será a determinante mais abrangente na qualidade da cidade do século XXI.