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Veiocom os DescobrimentosSempre esteve à frente dos nossos olhos, mas nunca foi
cultivada em Portugal, até agora. A figueira da índia tem
servido de sebe para delimitar hortas ou propriedades
e também para alimento de animais, mas há quem veja
nela um potencial que vai muito mais além. Seja o fruto,
para consumo directo ou para fazer sumo, óleo para a
indústria cosmética, compotas, doces ou licores, seja a
palma, a partir da qual se podem fazer pickles ou usar
como forragem para o gado, a figueira da índia, para
alguns não é mais do que um cacto, é das poucas plan-
tas que pode ser totalmente aproveitada, à excepção da
raiz. E o Sul de Portugal, nomeadamente o Alentejo, é a
zona "ideal" para a cultivar texto Angela Nobre
Avontade de desenvolver novas produções ievou
alguns agricultores a juntarem-se para criar a As-
sociação de Profissionais de Figo da índia Portu-
gueses (APROFIP). Nascida este ano, a recenteentidade associativa une produtores e transfor-
madores do fruto e da palma no esforço conjunto de impulsionara produção nacional de uma planta que não tem sido valorizada
no país, que reúne boas condições de produção, tanto a nível de
solos, como de clima.
"A APROFIP tem como finalidade promover o consumo do figoda índia em Portuga!, mas principalmente no estrangeiro", expli-cou à revista Mais Alentejo o presidente da associação formalizada
em Abril deste ano, Mário Nunes, acrescentando que o objectivoconsiste em criar um mercado para exportar, à medida que se
desenvolvem as produções no país.
Actualmente, existem poucas produções já implementadas no ter-
reno, num total de cerca de 20 hectares, havendo contudo projec-tos candidatados a fundos comunitários em processo de avaliação
que poderão representar mais 1 5 hectares de plantação cada.
A zona ideal para este tipo de produção, revelou Mário Nunes,
que está também nesta altura a começar a plantar figueiras daíndia em Alcoutim, é no Sul do país, particularmente no Alentejoe no Algarve, havendo já plantações em Beja.Arraiolos e Sesimbra,
embora ainda em fase inicial.
A produção mais avançada, adiantou José Alves, engenheiro agró-nomo e dirigente da mesma associação, está em Sesimbra, onde se
começou a cultivar a planta há cerca de quatro anos.
"Não possui uma área muito grande, tem um hectare, mas este
já é o quarto ano que faz produção, pelo que vai tirar cerca de
15 a 17 toneladas de fruto, o que é muito", disse, calculando que,ao todo, "só daqui a dois ou três anos haverá produção com a
algum volume", para responder às necessidades do mercado da
exportação."Em Portugal é muito difícil escoar o produto", sublinhou, referin-do-se aos hábitos de consumo, bem como ao preço final do fruto,
que "nos supermercados é vendido a cerca de nove a 12 euros
por quilo" e, geralmente, "importado de Marrocos, Itália, Espanhae ainda da Colômbia".
Uma situação que considera desnecessária, tendo em conta exis-
tir"condições ideais de clima e de solo, além de terrenos abando-nados no Alentejo e no Algarve", que poderiam ver neste tipo de
produção uma forma de serem rentabilizados.
De qualquer forma, acrescentou, o mercado nacional não permite
um escoamento sustentável do produto,
seja como fruta, seja para transformação,
já que, argumentou, "um produtor actual-
mente para Portugal só conseguiria vender
cerca de 30 por cento da produção", pelo
que "interessa mais a exportação", esclare-
ceu, motivo pelo qual a associação já mar-
cou presença em feiras internacionais, na
Alemanha e em Itália.
SOMENTE NÃO SE APROVEITA A RAIZ
Compotas, pickles, conservas, corantes
naturais, sumos, doces, licores, chá da flor,
farinhas e óleo, com propriedades antioxi-
dantes para uso na cosmética, são alguns
dos produtos que podem ser feitos a partirda figueira da índia, cuja palma pode servir
ainda para alimentação animal.
"Esta planta não precisa de muita água e
consegue.com um consumo mínimo, criar
muita matéria verde para alimentação ani-
mal, cem muita fibra e muita água", o que é
apontado por José Alves como "uma gran-de vantagem" para os agricultores, que a
podem produzir ou adquirir a custos mais
baixos do que os cereais.
"Em alturas de seca, como houve este ano
em Portugal, se isto já escivesse implemen-tado, não era preciso estar a comprar ali-
mento para o gado, até porque atinge pro-dutividades altíssimas, que podem chegaràs 800 toneladas por hectare", destacou.
Além disso, para o consumo humano, asse-
gurou o mesmo responsável, há benefícios
estudados associados, como o chá da flor
seca, que "é bom para quem tem diabetes",
os frutos, "muito ricos em potássio, mag-nésio, vitamina A, C e 81, com proprieda-des antioxidantes e, também, bom para o
colesterol".
Até para a construção civil, a figueira da
índia pode ser usada, através da extracçãode uma "mucilagem viscosa" que permite"uma maior durabilidade das tintas", já que"impede a oxidação"."Da figueira da índia, praticamente só não
se aproveita a raiz", disse Mário Nunes,destacando o potencial da exploração des-
te tipo de produção, que se adapta bem
em terrenos arenosos e se desenvolve fa-
cilmente, com pouca necessidade de regae com o recurso a "uma lavoura e uma
aplicação de matéria orgânica anualmen-
te", sem aplicação de aplicar "produtos
químicos".Habituados a ver as figueiras da índia ape-nas como "cactos" que servem de sebes
em torno de propriedades e hortas, ou
como alimento para os porcos, poucosprodutores agrícolas olharam, até hoje,
para a planta e viram o seu verdadeiro po-tencial.
INVESTIMENTO RECUPERADO EM QUA-
TRO ANOS
Um investimento de 78 mil euros, com-
participado pelo PRODER (Programa de
Desenvolvimento Rural), permitiu a Te-
resa Laranjeira, que se estreia enquantoagricultora, iniciar este ano o projecto de
produção num terreno de seis hectares, na
freguesia de Vimieiro, em Arraiolos.
Daqui a quatro anos, ou seja, em 2016, cal-
cula ter recuperado o valor investido, "se
tudo correr bem", caso a produção atinja as
estimadas 20 toneladas de figo da índia por
hectare, ou seja, 1 20 toneladas ao todo.
Antes de atingir esse patamar, Teresa La-
ranjeira espera em 20 1 4 "já começar a terrendimento" da plantação, até porque está
a desenvolver em paralelo um outro pro-jecto, em processo de candidatura a fun-
dos do PRODER, que visa a transformaçãodo figo da índia.
"O meu objectivo na plantação é o fruto,
mas também para transformar em sumo
e aproveitar as sementes para produziróleo", revelou a vice-presidente da APRO-
FIP, que, entretanto, começou já a fazer tes-
tes de venda de pequenas quantidades de
figo da índia através da Internet, revelando
ter esgotado o stock.
Além das vantagens e poucas exigências da
plantação de figueiras da índia, a nível am-biental também há"mais pontos positivos",
garantem os dirigentes da APROFIP, já que"há poucos impactos sobre o terreno".
"Isto é um cacto, o que a planta extrai do
solo não é muito, permite mesmo a recu-
peração de solos para posterior plantaçãohortícola ou de morangos", exemplificou
José Alves, assegurando que, após 1 0 anos
a produzir,"o terreno consegue recuperar"
para voltar a introduzir outras plantações.A planta funciona ainda como "barreira
corta-fogo" e "retira quantidades de dióxi-
do de carbono muito elevadas" da atmos-
fera, "1 6 vezes mais do que uma frutícola
qualquer", concluiu, lembrando que é umdado "cada vez mais relevante nos dias quecorrem", ainda por cima — acrescentamos- em tempo de crise... ¦