Procedimentos adotados no atendimento emergencial dos ... · Em função da dimensão do acidente,...

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1 Procedimentos adotados no atendimento emergencial dos acidentes de escorregamentos ocorridos em Santa Catarina em novembro de 2008 Gramani, M. F. Instituto de Pesquisas Tecnológicas, IPT, São Paulo, SP, Brasil, [email protected] Ogura, A.T. Instituto de Pesquisas Tecnológicas, IPT, São Paulo, SP, Brasil, [email protected] Silva, F.C. Instituto de Pesquisas Tecnológicas, IPT, São Paulo, SP, Brasil, [email protected] Gomes, C.L.R. Instituto de Pesquisas Tecnológicas, IPT, São Paulo, SP, Brasil, [email protected] Gomes, L.A. Instituto de Pesquisas Tecnológicas, IPT, São Paulo, SP, Brasil, [email protected] Mirandola, F.A. Instituto de Pesquisas Tecnológicas, IPT, São Paulo, SP, Brasil, [email protected] Resumo: O artigo apresenta e descreve os trabalhos de vistorias técnicas e procedimentos geotécnicos de gestão de desastres naturais adotados para incremento da segurança das equipes de resgate realizadas no âmbito das operações emergenciais desenvolvidas nas áreas atingidas por processos violentos de movimentos de massa que se desenvolveram de forma generalizada na região de Blumenau, Itajaí, Complexo do Baú e Jaraguá do Sul. Os eventos foram deflagrados por chuvas com acumulados diários da ordem de 236,2 mm (22/11) e 214,6 mm (23/11) e total mensal até o evento de 885,3 mm. Abstract: This paper describes the works related to technical inspections and geotechnical safety procedures adopted during the post disaster operations undertaken in Blumenau, Itajaí, Morro do Baú area and Jaraguá do Sul affected by widespread landslides. The mass movements events were triggered by heavy rains with daily totals of 236, 2 mm (22/11/2008) and 214, 6 mm (23/11/2008) and total accumulated rainfalls of 885,3 mm in the month of november. 1 INTRODUÇÃO Este artigo apresenta e descreve os trabalhos realizados no âmbito das operações emergenciais desenvolvidas nas áreas atingidas por processos violentos de movimentos de massa que se desenvolveram de forma generalizada na região de Blumenau, Itajaí, Complexo do Baú (Ilhota, Luiz Alves e Gaspar) e Jaraguá do Sul (Figuras 1 e 2). Os cenários de risco e os processos observados são resultados de chuvas com acumulados diários da ordem de 236,2 mm (23/11) e 214,6 mm (24/11) e total mensal até o evento de 885,3 mm. Diversas vistorias técnicas foram realizadas no âmbito das ações emergenciais conduzidas especificamente nas regiões adjacentes ao Morro do Baú, Blumenau e Jaraguá do Sul com o objetivo de identificar situações de risco decorrentes da instabilização dos terrenos, visando subsidiar a Defesa Civil na determinação das áreas a serem objeto de interdição e remoção preventiva da população. O desastre ocorrido em Santa Catarina teve como números finais: 135 óbitos, 02 desaparecidos, cerca de 80000 desalojados e desabrigados em novembro de 2008 restando cerca de 12030 em abril de 2009.

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Procedimentos adotados no atendimento emergencial dos acidentes de escorregamentos ocorridos em Santa Catarina em novembro de 2008 Gramani, M. F. Instituto de Pesquisas Tecnológicas, IPT, São Paulo, SP, Brasil, [email protected] Ogura, A.T. Instituto de Pesquisas Tecnológicas, IPT, São Paulo, SP, Brasil, [email protected]

Silva, F.C. Instituto de Pesquisas Tecnológicas, IPT, São Paulo, SP, Brasil, [email protected]

Gomes, C.L.R. Instituto de Pesquisas Tecnológicas, IPT, São Paulo, SP, Brasil, [email protected]

Gomes, L.A. Instituto de Pesquisas Tecnológicas, IPT, São Paulo, SP, Brasil, [email protected] Mirandola, F.A. Instituto de Pesquisas Tecnológicas, IPT, São Paulo, SP, Brasil, [email protected] Resumo: O artigo apresenta e descreve os trabalhos de vistorias técnicas e procedimentos geotécnicos de gestão de desastres naturais adotados para incremento da segurança das equipes de resgate realizadas no âmbito das operações emergenciais desenvolvidas nas áreas atingidas por processos violentos de movimentos de massa que se desenvolveram de forma generalizada na região de Blumenau, Itajaí, Complexo do Baú e Jaraguá do Sul. Os eventos foram deflagrados por chuvas com acumulados diários da ordem de 236,2 mm (22/11) e 214,6 mm (23/11) e total mensal até o evento de 885,3 mm. Abstract: This paper describes the works related to technical inspections and geotechnical safety procedures adopted during the post disaster operations undertaken in Blumenau, Itajaí, Morro do Baú area and Jaraguá do Sul affected by widespread landslides. The mass movements events were triggered by heavy rains with daily totals of 236, 2 mm (22/11/2008) and 214, 6 mm (23/11/2008) and total accumulated rainfalls of 885,3 mm in the month of november. 1 INTRODUÇÃO

Este artigo apresenta e descreve os trabalhos realizados no âmbito das operações emergenciais desenvolvidas nas áreas atingidas por processos violentos de movimentos de massa que se desenvolveram de forma generalizada na região de Blumenau, Itajaí, Complexo do Baú (Ilhota, Luiz Alves e Gaspar) e Jaraguá do Sul (Figuras 1 e 2). Os cenários de risco e os processos observados são resultados de chuvas com acumulados diários da ordem de 236,2 mm (23/11) e 214,6 mm (24/11) e total mensal até o evento de 885,3 mm.

Diversas vistorias técnicas foram realizadas no âmbito das ações emergenciais conduzidas especificamente nas regiões adjacentes ao Morro do Baú, Blumenau e Jaraguá do Sul com o objetivo de identificar situações de risco decorrentes da instabilização dos terrenos, visando subsidiar a Defesa Civil na determinação das áreas a serem objeto de interdição e remoção preventiva da população.

O desastre ocorrido em Santa Catarina teve como números finais: 135 óbitos, 02 desaparecidos, cerca de 80000 desalojados e desabrigados em novembro de 2008 restando cerca de 12030 em abril de 2009.

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Figura 1. Localização dos municípios fortemente atingidos por movimentos de massa e inundações deflagrados por eventos de chuvas intensas.

Figura 2. Modelo Digital do Terreno na área do Complexo do Baú destacando-se a topografia acidentada da região severamente afetada.

1.1 Histórico da solicitação Em função da dimensão do acidente, do número de municípios afetados e da amplitude dos movimentos de massa o Governo de Santa Catarina, por meio da Defesa Civil daquele Estado, solicitou ao Governo de São Paulo no dia 24 de novembro de 2008 apoio nas avaliações dos riscos de novas movimentações de massa e nas operações de resgate, remoção e busca de corpos. Visando o rápido auxílio ao Estado de Santa Catarina o governo paulista mobilizou o Corpo de Bombeiros, o Grupamento de Radiopatrulha Aéreo, Grupo de Resgate e

Atendimento às Emergências – Grau, Defesa Civil e técnicos das áreas de geologia e geotecnia.

Dentre os grupos o IPT mobilizou prontamente duas equipes do Laboratório de Riscos Ambientais compostas por 4 geólogos e 2 geotécnicos para atender os municípios em Santa Catarina. No dia 25 de novembro a primeira equipe (2 geólogos e 1 geotécnico) cumpriu sua primeira missão, qual seja: explanar sobre os possíveis cenários de risco, dar orientação aos pilotos e equipes de resgate a cumprir alguns procedimentos que garantissem o mínimo de segurança para as equipes e observar sinais e feições de instabilidade nos terrenos que estavam sendo vistoriados. Na primeira semana todas as ações

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estavam sob o controle do Comando Geral de Operações Aéreas da Defesa Civil - COADC, localizado no aeroporto de Navegantes, coordenados pelo TEN.CEL. Milton Kern Pinto.

A primeira avaliação dos cenários de risco feita pela equipe nesse mesmo dia já indicava:

• Quantidade significativa de escorregamentos nas áreas rural e urbana;

• Grandes mobilizações de massa na forma de escorregamentos de maior porte (rotacionais e translacionais) e corridas de lama e detritos;

• Amplo raio de alcance dos escorregamentos; • Grande velocidade de movimentação dos

materiais provindos das encostas; • Grande quantidade de moradias expostas ao

risco. O primeiro atendimento foi dado à cidade de

Blumenau (dias 26 e 27/11/2008) em função da enorme quantidade de áreas atingidas e do número de solicitações de vistorias recebidos pela Secretaria de Planejamento e Defesa Civil do referido município. Posteriormente, em função do grande número de vítimas e do grande número de pessoas expostas a risco, a equipe foi mobilizada para atender a região do Complexo do Baú, principalmente as cidade de Gaspar, Luis Alves e Ilhota, bem como para atender a cidade de Jaraguá do Sul.

1.2 Descrição das atividades realizadas

Em razão da grande abrangência da região afetada pelos processos de movimentos de massa os trabalhos iniciais conduzidos pelas equipes do IPT consistiram no reconhecimento geral da situação visando à identificação prévia dos municípios e

regiões mais severamente atingidas pelos fenômenos de escorregamentos. A partir desse reconhecimento prévio foram organizadas as equipes de técnicos para responder às demandas de solicitações específicas de avaliação das condições de risco que chegavam dos municípios ao comando central de operações, localizado no Aeroporto de Navegantes.

A região do Complexo do Baú foi identificada como uma das áreas mais severamente atingidas sendo objeto de vistorias aéreas e terrestres para um melhor reconhecimento das condições e cenários de risco. Do total de vítimas registradas nesse desastre, 79 se deram nessa região, sendo 21 em Gaspar, 11 em Luis Alves e 47 em Ilhota (IPT, 2009).

Técnicos do IPT foram assim designados para realizar essas vistorias por meio de sobrevoos de helicóptero, o que possibilitou o reconhecimento ágil e rápido de todas as áreas afetadas. Como produtos iniciais desse trabalho regional de vistorias foram definidos os limites das áreas consideradas mais críticas (preta e vermelha).

Essa delimitação foi importante para a definição de critérios de interdição e remoção segura de pessoas. Neste contexto, essas áreas foram definidas como de alto risco para a permanência das pessoas, sendo que na área vermelha o resgate e a remoção se deram tanto por via terrestre quanto por via aérea, enquanto na área preta, essas ações foram conduzidas somente por via aérea (muito alto risco para as equipes de resgate, além de dificuldades de acesso terrestre). A Figura 3 retrata a delimitação das áreas estabelecidas pelos técnicos do IPT em conjunto com o COADC sediado em Navegantes.

Figura 3. Delimitação das áreas avaliadas na região do Complexo do Baú, SC.

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A avaliação dos riscos de evolução dos processos de movimentos de massa nas encostas instabilizadas foi realizada por meio da identificação visual de feições de instabilidade (trincas nos terrenos e degraus de abatimento), presença de massas de solo e rocha instáveis, surgência de água nas encostas e taludes, espessura dos solos, presença de grandes corpos d´água na massa rompida e represamento de cursos d´água devido a barramentos decorrentes de depósitos de encosta.

Mediante a identificação dessas condições de natureza geológica e geotécnica foram reconhecidos cenários de risco associados a obras de infraestrutura tais como vias de acesso, linhas de transmissão de energia elétrica e dutovias, bem como moradias e outras edificações presentes na área.

Por meio das vistorias realizadas nos sobrevôos observaram-se centenas de escorregamentos de diferentes dimensões, cujos materiais se depositaram nas áreas baixas adjacentes e quando alcançaram cursos d´água aumentaram seu raio de alcance destrutivo. Em algumas sub-bacias foram observados o desenvolvimento de processos de fluxos de massa (debris flow) e enchentes com alta energia de escoamento e alta concentração de sólidos. Tais processos ocasionaram acidentes que destruíram moradias e bens públicos e privados de forma parcial e total e causaram dezenas de vítimas fatais. Além desses danos sociais e materiais, os movimentos de massa provocaram acidentes em torres de transmissão de energia elétrica (tombamento e instabilização do pé das torres), instabilizações ao longo do gasoduto Bolívia – Brasil e a interrupção de diversos trechos de rodovias e estradas de acesso.

1.3 Missões do IPT

Em função dos cenários encontrados e da abrangência da área afetada foram estabelecidas missões para minimização e redução dos riscos identificados.

Dentre as missões designadas aos técnicos do IPT, destacam-se:

• vistorias aéreas e terrestres, diárias para a avaliação dos riscos (geral e local) das regiões atingidas;

• delimitação das áreas de interdição: estabelecimentos das áreas preta e vermelha;

• comunicação e conscientização da população, pilotos, equipes de socorro e poder público sobre os riscos existentes mesmo com o término das chuvas;

• definição de procedimentos de segurança e apoio técnico para equipes de resgate;

• vistorias aéreas para a avaliação das condições de segurança de torres de alta tensão da Celesc;

• vistorias aéreas de trechos do gasoduto Bolívia-Brasil atingidos por escorregamentos e processos erosivos;

• participação em todas as reuniões (debriefings) ao final das operações diárias;

• participação na montagem do Sistema de Comando de Operações;

• definição e aplicação de procedimentos de segurança para a busca de corpos e apoio das operações;

• sobrevoo e reuniões com autoridades do Estado (Governador, Defesa Civil e Militares) afim de apresentar os cenários de risco e as medidas a serem adotadas.

De forma geral as equipes do IPT realizaram cerca de 95 vistorias aéreas, 80 vistorias terrestres e 40 reuniões diversas, envolvendo Governador do Estado de Santa Catarina, Secretários de Estado (Saúde, Segurança e Defesa Civil), Bombeiros, Força Nacional, Força Aérea Brasileira, Empresas e Comunidades afetadas. A Tabela 1 apresenta a carga horária utilizada pelas equipes no atendimento pós-desastre.

Tabela 1 – Carga horária utilizada pelas equipes.

Equipe Carga horária de trabalho

Período

(horas/dia) 1 18 25/11 a 02/12 2 14 01/12 a 12/12 3 10 15/12 a 20/12

2 CENÁRIOS DE RISCO IDENTIFICADOS

2.1 Dados Gerais

Como resultados dos trabalhos de vistorias foram reconhecidos os seguintes cenários de risco residual decorrentes dos processos de instabilização ocorridos, ou associados ao desenvolvimento de novos processos, mesmo com a parada das chuvas, em função do alto grau de instabilidade e saturação por água das encostas:

• risco de novos acidentes com possibilidade de perda de mais vidas humanas, destruição de moradias e infraestrutura;

• risco de novos acidentes na faixa do gasoduto Bolívia – Brasil. Especificamente no trecho afetado (km 658+557) por processos de movimentos de grande porte com risco de trabalhadores serem atingidos por processos de escorregamentos, durante os trabalhos de reconstrução do gasoduto rompido;

• risco de evolução dos processos de instabilização nas torres das linhas de transmissão de energia elétrica com acidentes que poderiam comprometer o abastecimento e equipes de manutenção trabalhando no local;

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• risco de novas interrupções no tráfego em estradas e rodovias e possibilidade de acidentes envolvendo usuários dessas vias;

• risco de acidentes envolvendo rupturas de barragens de terra e de barramentos gerados pelos processos de movimentos de massa.

O resultado das vistorias feitas pelos profissionais do IPT da área de Riscos e Desastres Naturais com a identificação desses cenários de risco residual foi comunicado ao Governo do Estado e ao Comando Geral das Operações, balizando as seguintes decisões:

• trabalhos de resgate, salvamento e busca de corpos devem ser precedidos por uma avaliação de risco específica de profissionais habilitados na área a ser objeto de atuação por parte das equipes de busca e salvamento;

• comunicar aos órgãos competentes pelas obras de infraestrutura as condições de risco presentes e manter interditadas as áreas acidentadas. No caso do trecho onde ocorreu rompimento e explosão do gasoduto Bolívia-Brasil os trabalhos de reconstrução foram paralisados e solicitado um plano de contingência para dar condições mínimas de segurança aos trabalhadores da obra;

• qualquer intervenção nos terrenos instabilizados deve ser precedida por uma avaliação específica de profissional habilitado;

• liberação de áreas para retorno à normalidade deve ser precedida por avaliação realizada por profissional habilitado;

• necessidade de definição de procedimentos baseados no conhecimento geológico e geotécnico para aumentar o controle e a segurança dos profissionais nas atividades de resgate, salvamento e busca de corpos.

2.2 O agente deflagrador

Os cenários de risco observados nas áreas foram resultados de chuvas de muita alta intensidade pluviométrica concentradas em dois dias, precedidas de dois meses contínuos de chuvas de baixa a média intensidade (Gramani et al.,2009).

Um evento extremo sob o ponto de vista pluviométrico é uma ocorrência que apresenta valores de chuvas considerados elevados. No entendimento de meteorologistas, um evento chuvoso superior a 50 mm seria considerado um evento extremo de chuva. Sob o ponto de vista da dinâmica dos processos superficiais nas regiões serranas ou de relevo acidentado a definição sobre o que é um evento extremo é controversa. Um evento extremo sob o ponto de vista dos processos de movimentos de massa seria aquele com alto potencial de causar danos de grande magnitude. Poderia assim, ser tanto a ocorrência de um grande número de escorregamentos generalizados do tipo

translacional raso, quanto a ocorrência de processos de fluxos de massa, e mesmo a ocorrência de um processo de instabilização de grande porte em áreas ocupadas. Geralmente, tais processos são deflagrados por eventos chuvosos bem superiores a 50 mm. Um evento extremo sob o ponto de vista de desastres naturais no território brasileiro são aqueles que geram expressivos danos sociais, econômicos ou ambientais e grande repercussão nas comunidades atingidas, geralmente ultrapassando a capacidade de resposta dos agentes locais envolvidos. No presente caso, podemos considerar o ocorrido na costa leste de Santa Catarina como evento extremo tanto sob o ponto de vista da pluviometria quanto da quantidade, dimensões e impacto destrutivo dos escorregamentos. As Figuras 4 e 5 mostram, respectivamente, o registro histórico das chuvas acumuladas no mês de novembro desde o ano de 1995 na cidade de Blumenau e as chuvas acumuladas de 6 dias que atingiram a mesma cidade. Nota-se que somente nos dias 22 e 23 de novembro de 2008 o índice atingiu cerca de 495 mm de chuva.

Cidade: Blumenau (novembro)

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600

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1000

1200

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ANO

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A (

mm

)

Fonte: CEOPS - IPA / FURB / ANA. Figura 4. Recordes mensais do mês de novembro na cidade de Blumenau, SC a partir de 1995.

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50

100

150

200

250

300

18 19 20 21 22 23

DIA (novembro)

CH

UV

A (

mm

)

Fonte: CEOPS - IPA / FURB / ANA.

Figura 5. Chuvas diárias a partir do dia 18/11/2008 até o final de semana no qual houve a ocorrência dos processos de movimentos de massa.

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Como exemplos das chuvas que atingiram as áreas pode-se citar a cidade de Jaraguá do Sul com acumulado de 4 dias da ordem de 700 mm e a cidade de Timbó com acumulado mensal de cerca de 799,3 mm. 3 PROCEDIMENTOS DE SEGURANÇA

Em função dos cenários residuais de risco existentes e da necessidade de aumentar a segurança dos profissionais do Corpo de Bombeiros e da Guarda Nacional de Segurança Pública, técnicos do IPT propuseram a seguinte sequência de procedimentos para evitar acidentes envolvendo as equipes de busca de corpos e resgate de pessoas isoladas:

• inspeção prévia, aérea e terrestre (quando possível), a ser realizada por equipe de geólogo e geotécnico especializados em Riscos e Desastres Naturais nos locais a serem objeto das operações de busca de corpos soterrados (“ponto quente”, segundo terminologia utilizada pelas equipes), remoção de pessoas e salvamento;

• comunicação das condições de risco observadas e estabelecimento dos procedimentos específicos a serem seguidos pelas equipes de socorro;

• acompanhamento dos trabalhos de socorro por equipe de geólogos e geotécnicos.

A seguir são descritos e ilustrados a rotina de trabalho e o método proposto de resgate e busca de corpos realizados em área com risco de novos movimentos de massa na região do Morro do Baú (Figuras 6 a 27). Ressalta-se que as avaliações tiveram como base o conhecimento geológico-geotécnico dos processos ocorrentes nas áreas, aspectos geomorfológicos condicionantes dos processos e observações das feições de superfície indicadoras de instabilidades. Também foram avaliadas as condições de vulnerabilidade dos locais onde os trabalhos foram realizados.

Figura 6. As equipes do IPT participaram de todas as reuniões das equipes ao final das missões desde o primeiro momento da montagem do sistema. (Foto: Daltrozo, N. - Imprensa Oficial, Santa Catarina).

Figura 7. Uma das atividades dos briefings foi a comunicação e conscientização dos riscos e orientação de procedimentos de segurança às equipes de resgate, salvamento e busca de corpos, socorro e aviação (Foto: Daltrozo, N. - Imprensa Oficial, Santa Catarina).

Figura 8. Reunião com o Governador de Santa Catarina para repasse de informações no Centro de Operações em Navegantes (Foto: Corpo de Bombeiro - SC).

Figura 9. Definição e revisão dos procedimentos de segurança, envolvendo as equipes da aviação, geologia, geotecnia e defesa civil, antes de cumprir a missão (IPT).

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Figura 10. Geólogo em prontidão para sobrevoo com objetivo de avaliação de risco em área a ser objeto de trabalho de resgate, busca e salvamento (IPT).

Figura 11. Vistoria aérea em ponto a ser objeto de resgate, busca e salvamento. O “ponto quente” localiza-se no trecho final da massa, tendo a montante um corpo d´água suspenso (IPT).

Figura 12. Vistoria aérea dos trechos superiores das encostas. Sinais de instabilidade, degraus de abatimento e depósitos de material rompido a meia encosta (IPT).

Figura 13. Vista das condições do terreno adjacente ao local onde foi realizado o trabalho de busca. Observar que o curso d´água retoma seu escoamento superficial indicando caminho preferencial caso ocorra novas mobilizações (IPT).

Figura 14. Vista da área a ser acessada pelas equipes de busca. Os terrenos possuem espessuras de material rompido acima de 3 m que se encontra com alto grau de saturação (IPT).

Figura 15. Vista de casa situada em ponto alto do terreno, escolhido para ser o ponto de controle e observação das ações de resgate de corpos, bem como ponto de referência para o qual a equipe de resgate deve se dirigir para abrigo caso seja acionada a evacuação imediata do local de resgate (IPT).

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Figura 16. Geólogo observando os trabalhos de colocação de pranchas de madeira para criar acesso e caminho de fuga entre o “pontos quente” e o ponto de observação e controle, definindo-se claramente a rota de fuga (IPT).

Figura 17. Vista de depósito de massa rompida e corpo d´água. Foi instalado um ponto de observação no barranco próximo desse local por se tratar de terreno instável e com potencial de risco de ruptura (IPT).

Figura 18. Avaliação visual da estabilidade das encostas para balizar os procedimentos a serem seguidos pelas equipes de resgate e busca de corpos em região extremamente afetada (IPT).

Figura 19. Reunião para revisar os procedimentos de segurança antes do início da operação de busca de corpos acompanhado por geotécnico (IPT).

Figura 20. Vista das condições e arranjo deposicional das massas rompidas e localização do “ponto quente” (IPT).

Figura 21. Equipes de busca (Força Nacional) acompanhadas por geólogo e geotécnico (IPT) que orientam nos cuidados em relação à possibilidade de instabilizações pontuais na massa rompida quando das escavações para busca de corpos soterrados.

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Figura 22. Reavaliação dos procedimentos preestabelecidos para garantia da segurança das equipes durante a realização das atividades no local da busca (IPT).

Figura 23. Apoio aéreo durante os trabalhos de busca de corpos (IPT). O monitoramento aéreo garantia a segurança das equipes de terra por meio da visualização de possíveis movimentações a média e alta encosta.

Figura 24. Vista do ponto de controle na porção superior da massa rompida junto ao corpo d´água represado. Um geólogo e um membro da Guarda Nacional munido de rádio e sinalizador mantinham observação de possível indício de movimentação de massas nesse trecho (IPT).

Figura 25. Planos de ação específicos eram definidos e revisados após as missões nas reuniões entre os representantes técnicos e da Defesa Civil que formavam o Comando de Operações (Foto: CEDEC-SP).

Figura 26. Estudos de análise prévia de locais objetos dos trabalhos de busca e salvamento e resgate de corpos (Foto: CEDEC-SP).

Figura 27. Reunião do comando de operações constituído por representantes da Defesa Civil, militares da aeronáutica, corpo de bombeiros, Guarda Nacional e geólogos e geotécnicos de diversas entidades (IPT).

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4 CONTRIBUIÇÕES DA GEOLOGIA DE ENGENHARIA

A oportunidade de participar das ações emergenciais, logo após o desastre ocorrido em Santa Catarina, em conjunto com profissionais da área de segurança e de outras áreas do conhecimento e com experiências diversas possibilitou uma análise crítica da importância da participação do profissional de Geologia de Engenharia especializado em Desastres Naturais no pronto atendimento a cenários de Riscos de natureza geológica. No contexto das ações realizadas em Santa Catarina pelas equipes do IPT são destacados alguns pontos:

• A importância da rápida mobilização das equipes de apoio relacionadas às áreas de Geologia, Geotecnia e Desastres Naturais;

• A importância da formação de profissionais habilitados para execução das vistorias e avaliações dos distintos cenários de risco a processos do meio físico, com foco na Gestão de Desastres e com experiência para a tomada de decisões em momentos de crise;

• A boa aceitação dos profissionais da área de segurança pública aos conhecimentos trazidos pelos técnicos do IPT;

• A correta integração entre os conhecimentos de natureza geológica-geotécnica e gestão de Desastres Naturais e a definição dos procedimentos de segurança.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O acidente ocorrido no mês de novembro em Santa Catarina demonstrou que a experiência das equipes é fator decisivo e fundamental para minimização dos danos e no embasamento das tomadas de decisão.

No caso dos técnicos do Laboratório de Riscos Ambientais do IPT esta experiência esta consubstanciada por centenas de atendimentos emergenciais ao longo dos últimos 21 anos do Plano Preventivo de Defesa Civil em São Paulo, e em trabalhos em outros Estados, pela experiência adquirida durante a operação do Plano de Contingência do Pólo Petroquímico de Cubatão, pelos mapeamentos de outras centenas de áreas de risco em diversas cidades brasileiras, pela elaboração de cerca de 30 cartas geotécnicas em diversas escalas, 10 Planos Diretores, 8 Planos Municipais de Redução de Riscos - PMRRs, elaboração de Planos de Gestão Ambiental, realização de cursos de capacitação que treinaram mais de 3000 técnicos municipais e de diversos órgãos públicos.

6 AGRADECIMENTOS Os autores manifestam seus agradecimentos ao Instituto de Pesquisas Tecnológicas – IPT por terem

tornado possível a realização dos trabalhos técnicos executados em Santa Catarina.

7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Gramani, M.F. et al. (2009) Processos e cenários de

risco identificados durante as ações desenvolvidas na região do Vale do Itajaí – SC em 2008. 5a Conferência Brasileira de Estabilidade de Encostas, São Paulo, nov./2009 (no prelo).

Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo - IPT (2009) Banco de dados de mortes por escorregamentos no Brasil: período – 1988 até 2009. CD-Rom.

Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo - IPT (2009) Os escorregamentos e os fluxos de massa em Santa Catarina – 2008: cenários de risco, ações emergenciais e lições aprendidas. Relatório Técnico IPT (no prelo).