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Uva de Mesa Produção Frutas do Brasil, 13 PRODUÇÃO DE MUDAS INTRODUÇÂO Ao observar pinturas do antigo Egi- to, pode-se constatar a colheita das uvas em plantas de videiras e concluir que esta espécie vem sendo propagada e cultivada desde a mais remota antigüidade há, apro- ximadamente, 6.000 anos a.c. Por ser uma espécie cultivada há milhares de anos, tem evoluído de modo a adaptar-se às mais diversas situações de propagação e cultivo. Propaga-se facilmente por fragmentos de ramos - forma assexuada - epor meio de sementes - forma sexuada. Suas ca- racterísticas genéticas são rnantidas .por incontáveis gerações, por meio de propa- gação assexuada ou vegetativa. A propagação sexuada é empregada exclusivamente em pesquisas de melho- ramento genético, para obtenção de novas variedades, pois a elevada segregação genética pode dar origem a indivíduos com características diferentes dos parentais, o que é desejado pelos melhoristas. Em plantios comerciais, a propa- gação assexuada, que reproduz fielmente as características fenotípicas da planta- mãe, é o processo comumente utilizado. Esse método de propagação pode ser por estaquia, que consiste na simples formação de uma nova planta pelo enraizamento de uma estaca, ou pode ser por enxertia, processo que resulta na formação de uma planta em que o sistema radicular é de uma espécie ou variedade diferente daquela do sistema aéreo. A propagação assexuada pode também ser por meio de células meristemáticas ou gemas, ou seja, micro- propagação. Esse processo é efetuado em l~boratórios e é desenvolvido por viveiris- tas especializados ou órgãos de pesquisa. Patrícia Coelho de Souza Leão Teresinha Costa S. Albuquerque Natoniel Franklin de Meio A estaquia em conjunto com a en- xertia é o método mais antigo de mul- tiplicação e o mais usado comercialmente para a obtenção de mudas de videira. SELEÇÃO DAS ESTACAS PARA PRODUÇÃO DE MUDAS Antes da coleta do material de propagação, é conveniente identificar as plantas matrizes, levando-se em consi- deração aausência de sintomas de doenças, especialmente viroses, o nível de produção (elevada e regular) ao longo das várias safras, e maturaçào uniforme da uva. O mais indicado é a obtenção do material para propagação ou mudas isentos de viroses, de viveiri stas que possuam certificado, ou em órgãos de pesquisa que trabalham na limpeza de espécies de cultivares de videira. Os ramos são selecionados no período de repouso vegetativo da planta, quando se apresentam bem maduros ou lignificados. Os ramos devem ser sadios, com -diâmetro entre 8 e 12 mm, evitando- se retirar as estacas dos ramos sombreados e com entrenós muito curtos ou dema- siadamente longos, pois tais características podem indicar a existência de problemas fitossanitários ou nutricionais. As estacas provenientes de ramos sombreados apresentam menor capacidade de enrai- zamento do que as dos ramos expostos à luz, por possuírem baixas reservas em carboidratos, o que dificulta a regeneração dos tecidos (Albuquerque & Albuquer- que, 1981). Para se obter bons índices de pe- gamento e enraizamento, as estacas de-

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Uva de Mesa Produção Frutas do Brasil, 13

PRODUÇÃODE MUDAS

INTRODUÇÂOAo observar pinturas do antigo Egi-

to, pode-se constatar a colheita das uvasem plantas de videiras e concluir que estaespécie vem sendo propagada e cultivadadesde a mais remota antigüidade há, apro-ximadamente, 6.000 anos a.c. Por ser umaespécie cultivada há milhares de anos, temevoluído de modo a adaptar-se às maisdiversas situações de propagação e cultivo.Propaga-se facilmente por fragmentos deramos - forma assexuada - e por meiode sementes - forma sexuada. Suas ca-racterísticas genéticas são rnantidas .porincontáveis gerações, por meio de propa-gação assexuada ou vegetativa.

A propagação sexuada é empregadaexclusivamente em pesquisas de melho-ramento genético, para obtenção de novasvariedades, pois a elevada segregaçãogenética pode dar origem a indivíduos comcaracterísticas diferentes dos parentais, oque é desejado pelos melhoristas.

Em plantios comerciais, a propa-gação assexuada, que reproduz fielmenteas características fenotípicas da planta-mãe, é o processo comumente utilizado.Esse método de propagação pode ser porestaquia, que consiste na simples formaçãode uma nova planta pelo enraizamento deuma estaca, ou pode ser por enxertia,processo que resulta na formação de umaplanta em que o sistema radicular é de umaespécie ou variedade diferente daquela dosistema aéreo. A propagação assexuadapode também ser por meio de célulasmeristemáticas ou gemas, ou seja, micro-propagação. Esse processo é efetuado eml~boratórios e é desenvolvido por viveiris-tas especializados ou órgãos de pesquisa.

Patrícia Coelho de Souza LeãoTeresinha Costa S. Albuquerque

Natoniel Franklin de Meio

A estaquia em conjunto com a en-xertia é o método mais antigo de mul-tiplicação e o mais usado comercialmentepara a obtenção de mudas de videira.

SELEÇÃO DAS ESTACASPARA PRODUÇÃODE MUDAS

Antes da coleta do material depropagação, é conveniente identificar asplantas matrizes, levando-se em consi-deração a ausência de sintomas de doenças,especialmente viroses, o nível de produção(elevada e regular) ao longo das váriassafras, e maturaçào uniforme da uva.O mais indicado é a obtenção do materialpara propagação ou mudas isentos deviroses, de viveiri stas que possuamcertificado, ou em órgãos de pesquisa quetrabalham na limpeza de espécies decultivares de videira.

Os ramos são selecionados noperíodo de repouso vegetativo da planta,quando se apresentam bem maduros oulignificados. Os ramos devem ser sadios,com -diâmetro entre 8 e 12 mm, evitando-se retirar as estacas dos ramos sombreadose com entrenós muito curtos ou dema-siadamente longos, pois tais característicaspodem indicar a existência de problemasfitossanitários ou nutricionais. As estacasprovenientes de ramos sombreadosapresentam menor capacidade de enrai-zamento do que as dos ramos expostos àluz, por possuírem baixas reservas emcarboidratos, o que dificulta a regeneraçãodos tecidos (Albuquerque & Albuquer-que, 1981).

Para se obter bons índices de pe-gamento e enraizamento, as estacas de-

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vem ser coletadas da porção mediana dosramos e imediatamente plantadas ou man-tidas em recipiente com água, o que evitaa desidratação do material propagativo.

PROPAGAÇÃO DOPORTA-ENXERTO

Porta-enxerto é a porção da plantaque forma o sistema radicular e é comu-mente utilizado quando as condições desolo são adversas ao desenvolvimentoradicular da produtora. Essas adversidadespodem ser de ordem física (solos de baixafertilidade, muito úmidos, com alto teor decalcário ativo), ou de natureza biológica,(fungos epragas como nematóides, ftloxera,pérola-da-terra). Nas condições do Sub-médio do Vale do São Francisco, a utiliza-ção de porta-enxertos énecessária em razão,principalmente, do ataque dos nematóidesque proliferam nos solos arenosos da região.

Na propagação do porta-enxerto, asestacas podem ser plantadas diretamenteno local definitivo ou enraizadas em sacosde plástico, em viveiro. A produção demudas em viveiro tem como vantagemproporcionar uma seleção rigorosa dasplantas a serem levadas para o campo.

As estacas são cortadas com duas outrês gemas (25 a 30 em), observando-seque o corte da extremidade inferior deveser efetuado imediatamente abaixo dagema, enquanto o corte da extremidadesuperior deve situar-se a, aproximadamente,3 a 5 cm de altura da gema superior, o queevita a desidratação rápida (Fig. 1).

Na variedade IAC 766, as estacaslenhosas, com cerca de 9 cm de comprimentoe apenas uma gema, apresentaram índices deenraizamento médio de 96% e brotação de90%. Foi possível observar também aviabilidade da utilização de estacas herbá-ceas com enraizamento superior a 60%, emcondições de viveiro convencional semnebulização intermitente (Souza Leão &Ramos, 1996). Segundo Albuquerque &Choudhury (1993), a eliminação das gemasbasais da estaca aumenta o número de estacas

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Fig. 1. Estacasdo porta-enxerto preparadaspara enraizamento.

brotadas e enraizadas por causa da movimen-tação e acúmulo de substâncias nutritivas ehormonais na lesão, facilitando a cicatrizaçãodos tecidos e agindo na formação das raizes.

Após a preparação das estacas, 'estasdevem ser imediatamente plantadas emsaquinhos de plástico contendo substratoumedecido ou devem ser plantadas nolocal definitivo, desde que a área possua osistema de irrigação instalado. É importantefixar bem o substrato dos saquinhos ou osolo em torno das estacas.

As variedades IAC 572 e IAC 313apresentam elevado índice de enraizamentoe pegamento das estacas. Um dos principaisfatores que influenciam o enraizamento deestacas de videira é a quantidade desubstâncias de reserva armazenadas nosramos e, por esse motivo, os ramos lig-nificados apresentam melhores resultados.Entre 60 e 90 dias após o plantio, as mudaspodem ser levadas para o campo. A utili-zação de reguladores de crescimento paraindução de enraizamento de estacas deporta-enxerto de videira não é necessária.

PROPAGAÇÃO DAVARIEDADE COPAPOR ENXERTIA

Enxertar consiste em unir, por meiode camadas geradoras ou câmbio, partesde vegetais oriundas de plantas distintas,resultando em uma só planta. Denomina-se enxerto ou garfo a parte vegetal que daráorigem ao sistema aéreo, e porta-enxerto,aquela que formará o sistema radicular.

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Na viticultura, a enxertia é utilizadacom os seguintes propósitos: obter plantascom maior produtividade e frutos comqualidade adequada aos mercados; gerarplantas com sistema radicular toleranteàs condições adversas de solo, no quediz respeito às características físico-quí-micas e de doenças ou pragas radiculares;e substituir variedades em vinhedosjá instalados.

Os fatores mais importantes para oêxito da enxertia são: compatibilidade eafinidade entre o porta-enxerto e avariedadecopa, condições favoráveis de aeração etemperatura do substrato, contato dostecidos do câmbio do porta-enxerto e davariedade copa, com a boa formação dostecidos de soldadura, os quais asseguram acirculação das seivas bruta e elaborada.

A enxertia pode resultar em alte-rações na absorção de nutrientes, vigorvegetativo, frutificação, tamanho de bagas,época de maturação e coloração de frutos,fatores que também são influenciados porvariações de solo, clima ou práticas cultu-rais. As características genéticas, inerentesà própria variedade, não são alteradas pelaenxertia. A influência do porta-enxerto so-bre o vigor vegetativo da variedade copaconstitui um dos principais efeitos da enxer-tia. Porta-enxertos pouco vigorosos ten-dem a reduzir o desenvolvimento vege-tativo das variedades, sendo este com-portamento de grande importância para oestudo de porta-enxertos mais adequadosa uvas sem sementes que, em geral, sãomuito vigorosas no Submédio do Vale doSão Francisco.

PROCESSO DE ENXERTIAA videira presta-se, de um modo geral,

a todos os processos de enxertia: de garfo,de borbulha e de encosto. No Submédiodo Vale do São Francisco, o processo deenxertia utilizado, tanto em viveiros comoem vinhedos comerciais, é o de garfagemno topo de fenda cheia. Este método deenxertia tem apresentado bons resultados,com um índice de pegamento da enxertia

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acima de 90%, quando se utiliza os porta-enxertos IAC 572 e IAC 313. Outravantagem deste método é amaior facilidadede execução.

Preparação dos enxertosNo momento da seleção dos garfos,

é importante observar que o diâmetro dosramos da variedade copa seja compatívelcom o diâmetro do porta-enxerto. Para apreparação dos garfos, os bacelos devemser cortados com duas gemas, efetuando-se o corte na extremidade superior, a umadistância de cerca de 2 cm da gema api-cal, em ângulo reto; na extremidadeinferior, efetua-se o corte em forma decunha, a cerca de 0,5 cm abaixo da gema(Fig. 2), devendo apresentar o mesmocomprimento da fenda do porta-enxerto,ou seja, de 2 a 3 cm. O corte da cunha nogarfo deve ser efetuado com movimentosrápidos e firmes, de maneira que fiquembem lisos.

Fig. 2. Garfos da cultivar copa preparadospara enxertia.

Operação de enxertioO garfo é introduzido imediata-

mente na fenda do porta-enxerto, devendohaver um perfeito contato entre os tecidosdo câmbio do enxerto e do porta-enxerto.Quando não houver semelhança entre osdiâmetros do porta-enxerto e do garfo,deve-se ajustar o contato direto da cascado lado em que se situa a gema basal dogarfo. Em seguida, o enxerto deve serenrolado com fita de plástico, a partir daregião da enxertia até a porção apical do

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garfo, deixando-se apenas as gemasdescobertas. A extremidade superior deveser protegida com a fita para evitar odessecamento do enxerto (Fig. 3 A e 3 B).A produção de mudas enxertadas pode serfeita por meio das enxertias de mesa ede campo.

Fig. 3 A. União por meio de enxertia demesa.

Fig. 3 B. União por meio de enxertiaherbácea no campo.

Enxertia de mesaConsiste no processo de enxertia

e enraizamento no viveiro, partindo-sede porta-enxertos ainda não enraizados.As estacas enxertadas, conforme jádescrito, deverão ser plantadas logo após aenxertia, em saquinhos de plástico con-tendo substrato úmido. ão sendo possí-vel o plantio imediato, elas devem seramarradas em feixes e colocadas em po-sição vertical, num recipiente com águaaté a altura de 7 a 10 em, até o plantio.

Em situações em que o plantio dasestacas enxertadas não é feito imedia-tamente, é necessário o seu o armazena-rnento por alguns dias. Se o material depropagação for transportado por longasdistâncias, deve-se efetuar a estratificaçãodo material em serragem úmida, em caixas

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de isopor, ou envolver o material emjornal umedecido, colocando-o, em se-guida, em sacos de plástico. O tempo deconservação dos ramos depende, prin-cipalmente, da sua qualidade e hidra-tação. O armazenamento dos ramosem câmara fria também é possível,desde que esta apresente umidade relativaem torno de 90% e temperatura entre 2°Ce soe. Os feixes devem ser mantidos comas bases dos ramos imersas em água e aparte não submersa envolta em saco deplástico umedecido.

As mudas enxertadas no viveiropodem ser levadas ao campo cerca de 45a 60 dias após a enxertia. A principalvantagem é a aquisição, pelo produtor, demudas enxertadas e selecionadas prontaspara o plantio. Por outro lado, comodesvantagem, essas mudas apresentamdesenvolvimento vegetativo mais lentodurante a fase de crescimento, o que podereduzir o vigor vegetativo da copa, eexigir podas de formação durante dois oumais ciclos consecutivos.

Enxertia de campoNeste caso, os porta-enxertos (esta-

cas ou mudas enraizadas) são plantadosno local definitivo, onde permanecempor 6 a 8 meses, até apresentarem diâme-tro e maturação adequados para seremenxertados. A principal vantagem desseprocesso é o desenvolvimento rápido euniforme das brotações após a enxertia,por causa do maior vigor vegetativoresultante da presença do sistema radicularjá desenvolvido. Em conseqüência, épossível obter plantas com melhordesenvolvimento e ramos mais uniformes.As principais desvantagens são a demorapara tornar o porta-enxerto apto para aenxertia de campo e o maior risco de perdasde plantas ou falhas na enxertia, o queresulta em vinhedos desuniformes.

Quando o processo de enxertia érealizado no campo, são selecionados doisramos para receberem os garfos, dos quaisse eliminam todas as folhas abaixo docorte. Os ramos restantes do porta-enxerto

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são eliminados, com exceção de um oudois que permanecem para distribuir oexcesso de seiva e evitar o afogamentodos enxertos, até o completo pegamentode pelo menos um deles. Nos ramosselecionados, escolhe-se uma porção lisae reta, a uma altura de aproximadamente50 em do solo, onde se efetua o corte ho-rizontal para eliminação da copa. Com oauxílio do canivete de enxertia, abre-seuma fenda de aproximadamente 2 a 4 cmde profundidade para introdução do garfoque se deseja enxertar. Quando ocorrero pegamento dos dois enxertos, esco-lhe-se aquele que apresentar brotaçãomais vigorosa.

Enxertia herbáceaA enxertia verde ou herbácea é aquela

realizada quando os ramos do porta-enxertoe do garfo não se encontram ainda ligni-ficados, mas estão no mesmo estádio dematuração e apresentam o mesmo diâmetro.Geralmente, é utilizada para a reposição defalhas da enxertia. Nesse caso, deve-seproceder da seguinte maneira: coletar osramos da variedade copa, escolhendo a por-ção mediana; eliminar as folhas, colocan-do-as imersas em água. No porta-enxerto,as brotações são decepadas a partir do40 ou 50 entrenó (Fig. 4), permanecendo asfolhas da base do porta-enxerto. Realiza-se,então, a enxertia como descrito ante-riormente, prendendo-se o enxerto com fi-ta de plástico apropriada (Fig. 5). A seguir,envolve-se o local da enxertia e o garfo compapel absorvente e sobre ele coloca-seum saco de plástico (Fig. 6), para evitar adesidratação do enxerto. As brotações quesurgirem no porta-enxerto após a enxertiasão eliminadas.

PRODUÇÃO DASMUDAS EM VIVEIRO

o viveiro para produção de mudasdeve ser protegido de ventos fortes, estarpróximo a uma fonte de água constante e deboa qualidade, estar localizado em solobem drenado e com boas estradas de acesso.

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Fig. 6. Enxertia herbácea envolvida com papelabsorvente e saco de plástico.

Na construção do viveiro, são utili-zados rnourões de madeira resistente ou decimento armado, responsáveis por suasustentação, com 3 m de altura, com 70 cmenterrados no solo e distanciados 3 m entresi. O viveiro deve ser coberto para evitar oressecamento das mudas, utilizando-se telasombrite, com densidade de 50%. O som-brite permite uma distribuição uniforme da

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luz no interior do viveiro, evitando odesenvolvimento irregular das mudas.

Os sacos para mudas de videira de-vem ter dimensões de 14 x 22 cm, com furosna base para permitir o escoamentodo excesso de água, organizados em cantei-ros de 1 m de largura, com comprimentovariável. Os canteiros são distanciados60 a 80 cm um do outro, a fim de permitiro deslocamento das pessoas no interior doviveiro (Fig. 7).

Fig. 7. Interior de um viveiro de mudas de videira.

O substrato utilizado é a terra reti-rada das camadas superficiais do solo.É importante a realização de análise defertilidade, principalmente para verificar aocorrência de problemas como salinidade,que podem causar fitotoxidez nas mudas.A utilização de 10% de vermiculita emmistura com solo arenoso favorece aformação de um sistema radicular maisdesenvolvido, fibroso e ramificado. Essasinformações foram apresentadas porAlbuquerque & Choudhury (1993), emestudo realizado com diferentes tipos desubstratos no Submédio do Vale do SãoFrancisco, onde observaram que ossubstratos compostos por argila e areia,com 10%, 20% e 30% de vermiculita, nãoinfluenciaram o percentual de mudasformadas, melhorando, no entanto, aqualidade do sistema radicular.

Por ocasião do plantio, é importanteselecionar mudas homogêneas, sadias e queapresentem desenvolvimento normal dasbrotações, com sistema radicular bem for-mado e boa soldadura da enxertia (Fig. 8).

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Fig. 8. Aspecto da muda selecionada paraplantio: à direita, muda enxertada e, àesquerda, muda de porta-enxerto.

CUIDADOSFITOSSANITÁRIOS E TRATOSCULTURAIS

Durante a produção de mudas, deve-se tomar todos os cuidados com relação àpreservação das condições sanitárias domaterial vegetativo e com a desinfecçãodos instrumentos de trabalho, tais como,tesouras de poda e canivetes, que devemser imersos, periodicamente, em soluçãode hipoclorito de sódio (proporção 3:1),para prevenir a contaminação das mu-das por doenças fúngicas, especialmenteBotriodiplodia theobromae.

Os problemas' fitossanitários tambémmerecem atenção durante o desenvolvimen-to das mudas. Os mais freqüentes são:

ÁcarosOcorrem especialmente nos perío-

dos mais quentes e secos. Afetam a porçãoapical da brotação, causando o encur-tamento dos entrenós e a redução dotamanho e encarquilhamento das folhas.Devem ser tratados com acaricidas.

FormigasAlimentam-se dos tecidos tenros da

muda e devem ser tratadas nos caseiroscom iscas e formicidas.

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MíldioOcorre principalmente nos períodos

mais úmidos e chuvosos do ano. Deve sertratado preventivamente com fungicidasespecíficos. Os tratamentos fitos sanitáriose a aplicação de adubos foliares devem serrealizados sempre que necessário.

Os tratos culturais no viveiro devemser permanentes, para que as mudas sedesenvolvam satisfatoriamente. As ervasinvasoras que surgem nos saquinhos ounas estradas internas devem ser eliminadasmanualmente. As mudas devem ser irri-gadas diariamente por meio de regadormanual ou por um sistema suspenso demicroaspersão. Nos períodos mais quentesdo ano, a irrigação deve ser mais freqüentedo que nos períodos mais amenos.

PROPAGAÇÃO IN VITROA cultura de tecidos vegetais funda-

menta-se na descoberta e comprovação datotipotencialidade celular. Diz-se que umacélula é to tipo tente quando possui acapacidade e a competência de regenerar umorganismo inteiro, completo e funcional.

No cultivo in vitro, são identificadostrês estágios de cultura: o Estágio O,caracterizado pelo isolamento do tecidomeristemático; o Estágio 1, que é a fase deregeneração, multiplicação e enraizamentoem meio de cultura sob condições con-troladas; e o Estágio 3, que consiste naaclimatação ex vitro, sob condições decasa de vegetação.

Estágio OO tamanho dos meristemas isolados

no Estágio O varia de 0,1 a 0,5 mm decomprimento, sendo composto, princi-palmente, por células em constantesdivisões mitóticas (tecido meristemático)e, no máximo, por dois primórdios foliares.Na planta, existem vários centros me-ristemáticos de onde é possível isolar osmeristemas, que podem ser denominadoscomo meristema apical, axilar, adventício,terminal e lateral. Entre eles, o utilizadopara o início do cultivo in vitro da videira

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é o meristema apical. Há várias teoriaspara explicar a escolha desse tipo dematerial. A primeira é a falta de conexãodireta entre o meristema apical e os vasoscondutores de seiva (xilema e floema) daplanta. Sabe-se que os vírus são disse-minados pela planta, principalmente, viavasos condutores. Como não existe umaconexão direta de fluxo de seiva entre omeristema e os vasos, supõe-se que hajamaior dificuldade de contaminaçãovirótica, especificamente nesse tipo detecido. Outra teoria é que, caso hajacontaminação do meristema apical, ocultivo da planta sob condições cons-tantes de alta temperatura (36°C a 38°C),em fitotron, por exemplo, inibe amultiplicação dos vírus no tecido vegetal.Desta forma, o tecido meristemáticocontinua dividindo-se mitoticamente,dando origem às outras estruturas ve-getais, enquanto os vírus permanecemnos tecidos originais sem multiplicaçãoou, caso esta ocorra, será com velocidadebastante lenta. Assim sendo, pode-se isolaros meristemas recém-formados sem a-presença dos vírus.

Estágio 1O Estágio 1 é caracterizado pela

regeneração completa de uma planta, apartir do tecido meristemático. Essa rege-neração é feita sob condições controladas,tanto físicas como químicas. O tecido éinoculado, sob condições assépticas, emrecipientes contendo um meio de culturacomposto por macro e micronutrientes,água, aminoácidos, vitaminas, uma fontede carbono, hormônios e reguladores decrescimento. Esses recipientes são, então,acondicionados em câmaras de cresci-mento em condições ambientais contro-ladas, onde a temperatura seja de 25 ±2°C, luminosidade entre 1.000 e 3.000 lux,e fotoperíodo de 16 horas de luz: Dessaforma, consegue-se regenerar uma plantade videira após um período de 60 dias,multiplicando-se as plantas formadas emintervalos de 30 dias, empregando-se, nessecaso, o método de microestaquia in vitro.

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Um fato importante a considerar, porém, éanecessidade de confirmação da eliminaçãodos vírus por meio de testes sorológicos oude indexagem, para que seja realizada amultiplicação em larga escala.

Estágio 3A fase seguinte do cultivo in vitro é

a adimatação das plantas produzidasno laboratório. Como já foi mencionado,as condições de cultivo in vitro são ex-tremamente controladas, sem mencionara forma heterotrófica de sobrevivênciadas plantas, devido ao fornecimento deuma fonte de carbono (açúcar) no meiode cultura. Assim, a aclimatação é feitapor meio do plantio das mudas enraiza-das em laboratório, em sacos de plásticoou em bandejas contendo substrato,mantidas em casa de vegetação ou vivei-ro e com um sistema de irrigação pormicroaspersão intermitente ou pornebulização. O tempo necessário paraaclimatação, no caso da videira, gira emtorno de 45 dias. Após esse período, omaterial pode ser levado para plantio emcampo para posterior enxertia (levan-

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do-se em consideração a produção, pri-meiramente, do porta-enxerto) ou sermultiplicado em campos de matrizes pararetirada de bacelos certificados.

Como já mencionado, após a ob-tenção das plântulas sadias, forma-seum clone por meio do cultivo de meris-temas que constitui o material básico depropagação. Essas mudas podem serplantadas em campo, de modo a formarum pomar de matrizes de onde devemser colhidos os bacelos para produção demudas e distribuição aos viveiristas. Esseprocesso de seleção sanitária é conduzidono Brasil por órgãos de pesquisa,destacando-se, entre eles, a EmbrapaUva e Vinho e o Instituto Agronômicode Campinas -,IAC. A Embrapa Serviçode Negócios Tecnológicos, em Petrolina,dispõe de um campo de matrizes devideira livres de vírus para comer-cialização de mudas e gemas das culti-vares de porta-enxerto IAC 572, IAC766 e cultivares copa Itália e Piratininga(Souza Leão et al., 1997). Outras cultiva-res estão em fase de aclimatação em casasde vegetação.