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2º CICLO DE ESTUDOS ECONOMIA E GESTÃO AMBIENTAL Produção Extensiva de Animais: uma ferramenta de gestão do território Carlos Filipe Silva Correia M 2018

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2º CICLO DE ESTUDOS

ECONOMIA E GESTÃO AMBIENTAL

Produção Extensiva de Animais: uma

ferramenta de gestão do território

Carlos Filipe Silva Correia

M 2018

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Produção Extensiva de Animais: uma ferramenta de gestão do território

Carlos Filipe Silva Correia

Dissertação

Mestrado em Economia e Gestão Ambiental

Orientado por Doutora Maria Cristina Guimarães Chaves Nome do Orientador

2018

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I

Agradecimentos

Gostaria de expressar aqui o meu agradecimento para com a minha orientadora de

mestrado, a Doutora Cristina Chaves, pela discussão de ideias, ajuda na procura de

bibliografia importante para o tema e paciência na revisão minuciosa desta dissertação.

Agradeço também a ajuda da minha companheira Dominika Pezda na revisão do

texto e a toda a minha família e amigos que sempre me motivaram na busca por novo

conhecimento.

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II

Resumo

Nesta dissertação pretendo explorar os serviços de ecossistema que os animais

desempenham num regime de exploração extensiva. A exploração de gado é muitas vezes

responsável por graves problemas ambientais como a desertificação e a intensificação das

emissões de metano para a atmosfera.

A gestão adaptativa surge assim como um conceito holístico de gestão do território

que apresenta uma capacidade de regenerar e fornecer uma maior resiliência aos

ecossistemas através do uso de animais.

Sabendo que Portugal apresenta um conjunto de problemas ao nível da gestão do

território, desinvestimento e pouca formação no setor agro-pecuário e um regime climático

vulnerável as alterações climáticas penso que este trabalho pode introduzir ideias

inovadoras de como a produção extensiva de animais pode contribuir para o

desenvolvimento sustentável das diversas regiões de Portugal.

Abstract

This dissertation is intended to explore the ecosystem services that the animals

perform in an extensive exploration regime. Livestock farming is often responsible for

serious environmental problems such as desertification and the intensification of methane

emissions into the atmosphere.

Adaptive management thus emerges as a holistic concept of land management that

has a capacity to regenerate and provide greater resilience to ecosystems through the use of

animals.

Knowing that Portugal presents a number of problems in terms of land management,

disinvestment and poor training in the agro-livestock sector and a climate regime that is

vulnerable to climate change, I believe that this work can introduce innovative ideas of how

extensive production of animals can contribute to the sustainable development of the

various regions of Portugal.

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III

ÍNDICE

Introdução .......................................................................................................................................... 4

1.- Processos Evolutivos de Domesticação e Antropogenização da Paisagem ....................... 4

2. - Serviços de Ecossistema e a Produção Pecuária .................................................................. 13

2.1- Produção Pecuária: Impactes Ambientais e Segurança Alimentar .............................. 13

2.2- Produção Pecuária: Importância da Reciclagem de Resíduos Alimentares ................ 24

2.3- Serviços de Ecossistema das Terras de Pasto ................................................................. 27

3.- Gestão Adaptativa de Sistemas Pecuários Extensivos ......................................................... 35

3.1.- Formas de pastorícia e Degradação Ambiental ............................................................. 35

3.2.- Gestão Adaptativa .............................................................................................................. 40

3.3.- Holistic Management e Críticas ........................................................................................... 45

3.4.- Adaptação do Stock de Animais às condições Climáticas ........................................... 64

4- Produção Pecuária extensiva em Portugal .............................................................................. 69

4.1- Caracterização Climática .................................................................................................... 69

4.2- Caracterização da Produção Pecuária em Portugal ........................................................ 72

4.3- Produção Pecuária Biológica em Portugal ...................................................................... 75

5- Emissões de gases de efeito de estufa em explorações hipotéticas – uma aplicação a

Portugal do programa HOLOS ..................................................................................................... 76

5.1- Emissões de Gases de Efeito de Estufa a Nível Nacional do setor Agrícola ............ 76

5.2.- Explorações hipotéticas através do Programa HOLOS ............................................... 77

5.3- Medidas a implementar para um setor pecuário mais sustentável ............................... 84

Conclusões ................................................................................................................................... 87

Referências Bibliográficas .............................................................................................................. 90

Anexos ............................................................................................................................................ 101

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IV

Índice de Gráficos

Gráfico 1 - Fontes da alimentação animal a nível global .......................................................... 17

Gráfico 2 - Produção Mundial de Cereais ................................................................................... 17

Gráfico 3 - Produção Total de Proteínas por Sistema de Produção na OCDE .................... 18

Gráfico 4 - Produção Total de Proteínas por Sistema de Produção Fora da OCDE .......... 19

Gráfico 5- Impacte Ambiental da Produção Pecuária ............................................................... 26

Gráfico 6 - Densidade populacional de aves de acordo com o sistema de pasto.................. 58

Gráfico 7 - Mudança das condições ambientais a partir de diferentes pontos iniciais de

conservação ao longo de 30 anos ................................................................................................. 67

Gráfico 8 – Média de emissões nacionais do setor agrícola ..................................................... 77

Gráfico 9 - Tolerância ambiental de diferentes raças animais .................................................. 80

Gráfico 10 - Emissões hipotéticas de gases de efeito de estufa na Maia ................................ 82

Gráfico 11 - Emissões hipotéticas de gases de efeito de estufa em Beja ................................ 83

Índice de Tabelas

Tabela 1 – Índice de conversão de energia ................................................................................. 15

Tabela 2- Valor dos serviços de ecossistema por bioma a USD constantes de 2007. .......... 29

Tabela 3 - Serviços de Ecossistema sobre diferentes esquemas de propriedade ................... 33

Tabela 4 - Média de biomassa combustível ................................................................................. 42

Tabela 5- Sistematização das experiências citadas ...................................................................... 62

Tabela 6 - Resultados da exploração bovina no Norte do México 1950-1994 ...................... 66

Tabela 7 - Evolução da produção de produtos animais em Portugal ..................................... 73

Tabela 8- Efetivo animal nacional em milhares .......................................................................... 75

Tabela 9 – Número de produtores Biológicos por região em Portugal .................................. 79

Índice de Figuras

Figura 1- Períodos e tipologia de domesticação ........................................................................... 7

Figura 2- Sistemas de Pasto e relação com a possível densidade animal ................................ 51

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2

INTRODUÇÃO

A crescente pressão antropogénica nos ecossistemas terá no futuro consequências

negativas que poderão ameaçar a sua sustentabilidade. Torna-se urgente o

desenvolvimento de novas formas de gestão dos ecossistemas, em particular naqueles

geridos pelo Homem. A abordagem da gestão terá de ser holística de forma a englobar os

componentes económicos, sociais e ambientais.

A exploração pecuária é um exemplo perfeito dos desafios que o Homem terá de

enfrentar no futuro. A intensificação da atividade pecuária levou a um divórcio entre a

agricultura e a pecuária com consequências positivas em termos de produtividade porém

à custa da externalização do custo ambiental. Mesmo nas explorações extensivas

consideradas mais sustentáveis enfrentam hoje em dia problemas sérios a nível ambiental

devido em parte a uma gestão pouco flexível voltada apenas o mercado e em parte

devidas as alterações climáticas que desencadeiam períodos mais frequentes de stress

ambiental.

Nesta dissertação será explicado o importante papel dos animais na manutenção de

um ecossistema saudável e a sua contribuição para a segurança alimentar a nível global. O

conceito de gestão adaptativa também receberá especial atenção devido a ser uma

ferramenta essencial para sustentabilidade ambiental das explorações pecuárias em

regime extensivo.

O capítulo 1 explora a relação entre o Homem e os animais domésticos e como

essa relação influenciou os ecossistemas ao longo do tempo até aos dias de hoje. No

capítulo 2 é abordado os problemas ambientais da produção pecuária a nível global e as

suas contribuições para a segurança alimentar assim como os seus serviços de

ecossistema. Estes dois primeiros capítulos fornecem um enquadramento histórico e

contextual dos problemas e benefícios inerentes do setor pecuário. O capítulo 3 adensa a

necessidade da adopção de novas técnicas de gestão adaptativa de forma a conciliar a

atividade económica, social e ambiental nas explorações extensivas. Dentro deste

enquadramento de gestão adaptativa é apresentado o conceito de Holistic Management

sendo explorado várias experiências que demonstram as várias técnicas utilizadas e a sua

superioridade ou não face aos métodos mais convencionais de gestão. No capítulo 4 é

caracterizado o pecuário em Portugal. Este capítulo começa por expor a diversidade

climática do nosso país e a sua vulnerabilidade as alterações climáticas passando

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posteriormente para uma caracterização do efetivo pecuário. No capítulo 5 são aplicados

os conceitos de gestão adaptativa a duas explorações nacionais hipotéticas de forma a

verificar o seu efeito na emissão de gases com efeito de estufa. No fim o capítulo 5.3

sugere medidas que poderiam ser aplicadas em Portugal de forma a melhorar a

sustentabilidade ambiental das explorações pecuárias extensivas.

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1.- PROCESSOS EVOLUTIVOS DE DOMESTICAÇÃO E ANTROPOGENIZAÇÃO DA

PAISAGEM

De forma a perceber a evolução da paisagem ao longo do tempo e a modificação

dos seus serviços de ecossistema é primeiro necessário entender o desenvolvimento da

agricultura.

A paisagem portuguesa é por vezes descrita como profundamente

antropogenizada, ou seja, com uma grande influência humana, contudo é mais correto

afirmar que ela reflete as dinâmicas de exploração do território ao longo do tempo. Os

animais desempenharam um papel fundamental na modelação dos sistemas tradicionais

de exploração agrosilvopastoris, desde os lameiros do nordeste transmontano até aos

montados do Alentejo. Estes são apenas dois pequenos exemplos de um processo muito

maior que começou há milhares de anos e continuará a moldar a evolução do planeta.

A domesticação dos animais e das plantas foi uma etapa fundamental na história

do ser humano que em última análise permitiu a ascensão da própria civilização. Este

processo de domesticação vai alterar não só a evolução do Homem e dos animais como a

própria paisagem. A agricultura e a pastorícia permitiram ao Homem passar a ter o poder

de modificar e “criar” novos habitats de forma a suster uma população cada vez mais

numerosa.

Tendo em conta as investigações mais atuais, sabe-se hoje que grande parte do

processo de domesticação ocorreu concomitantemente ao desenvolvimento da

agricultura em três áreas principais: o crescente fértil no atual Iraque, na China central e

nos Andes. (Larson and Fuller, 2014; Hartung, 2015).

O grande salto na domesticação ocorreu durante o período Neolítico (desde 8000

a.C. até 3000 a.C.) caracterizado por uma subida da temperatura mundial marcando o fim

da última glaciação. As alterações climáticas do início do Neolítico criaram um novo

regime de precipitação mais abundante que irá permitir ao Homem a sedentarização. A

sedentarização por sua vez irá despoletar o início da agricultura (Hartung, 2015).

O processo de domesticação é algo raro no tempo e no espaço, pois o Homem e

os animais necessitam de condições especiais para que as duas espécies consigam

estabelecer uma relação de proximidade (Larson and Fuller, 2014).

Esta relação de proximidade pode ser estabelecida através de maneiras intencionais

ou não intencionais. É possível distinguir três formas distintas de domesticação: a

comensal, de predação e direta.

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O primeiro momento de domesticação foi não intencional e seguiu por uma via

comensal, o estreitar de relações através da partilha do mesmo habitat. O primeiro animal

a ser domesticado foi o cão. Apesar de não se conseguir localizar o preciso local onde

este processo ocorreu é possível documentar a sua presença em acampamentos humanos

no final da última glaciação (14000-12000 anos). O cão nesta época desempenhava

papéis importantes na caça e proteção dos acampamentos (Hartung, 2015). A

domesticação do cão é ímpar relativamente aos outros animais pois, para além de ser a

mais antiga, ocorre ainda quando o modo de vida do Homem era nómada no estilo de

vida de caçador recoletor. Na figura 1 é possível visionar que todos os outros processos

de domesticação ocorrem após a revolução neolítica, há cerca de 12 mil anos.

Outros exemplos de animais que foram domesticados por via comensal foram o

pombo e a galinha. A domesticação do pombo ocorreu na Mesopotâmia e no Egipto

quando o Homem começou a criar as primeiras malhas urbanas. Este novo habitat

criado pelo ser humano atraiu animais, entre eles o pombo que encontrou nestas

primeiras habitações um refúgio semelhante ao seu habitat natural. O estreitar de

relações entre os povos do crescente fértil e o pombo encontram-se documentados em

motivos pictóricos nos seus monumentos (Larson and Fuller, 2014).

A domesticação da galinha segue um processo similar, tendo ocorrido no vale do

rio Indo há cerca de 4500 anos, os animais seriam atraídos as povoações humanas em

busca de alimento. Pensa-se que os patos e os gansos seguiram o mesmo processo, só

que num período mais recente na China perto de 500 a.C. (Larson and Fuller, 2014).

Os animais domesticados desta forma foram normalmente os herbívoros de

grande ou médio porte. A domesticação por via da predação foi um processo longo que

teve origem na redução da população animal devido à sua sobre-exploração por parte das

populações sedentárias. Perante a diminuição de animais de caça, o Homem criou

estratégias de controlo dos recursos cinegéticos que culminam na criação de rebanhos e

posteriormente na seleção reprodutiva dos animais (Marom and Bar-Oz, 2013).

O gado ovino, caprino e bovino terá muito provavelmente seguido por esta via de

domesticação durante o início do Neolítico no crescente fértil, um período coincidente

com o início da domesticação dos cereais e o desenvolvimento da agricultura.

A maioria dos animais domesticados por via de predação sofreram posteriormente

um processo adicional de diversificação, intitulada a “revolução de produtos

secundários” (Sherratt, 1983). Esta fase está intimamente ligada à especialização

económica desenvolvida pelas sociedades cada vez mais complexas. A seleção humana da

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reprodução animal torna possível criar diferentes raças especializadas na produção de

carne, leite, têxteis e tração. Este momento marca a passagem de um processo de

domesticação casual para um processo cada vez mais consciente por parte do Homem.

É a partir deste momento que o Homem tem a capacidade de gerir ecossistemas

inteiros quer diretamente através do cultivo da terra fértil como a gestão das zonas

marginais improdutivas geridas pelo pastoreio de animais para os mais diversos usos,

desde a produção têxtil até à produção de alimentos. Na atualidade o ser humano

tornou-se uma espécie tão dominante no planeta que autores como Vernadsky

consideram que a humanidade tornou-se uma força planetária capaz de influenciar os

ciclos dos elementos (Janzen, 2011; Vernadsky, 1945).

A terceira forma de domesticação é designada de direta. É seguro afirmar que este

trata-se do episódio de domesticação mais recente aconteceu com mais frequência nas

periferias das regiões centrais, onde ocorreram os anteriores episódios de domesticação.

Esta forma de domesticação é a única intencional, ou seja, o Homem ativamente

deliberou um plano para atingir o estreitar de relações com os animais alvo (Larson and

Fuller, 2014). Torna-se evidente que, por esta altura, o Homem já teria dominado as

técnicas de especialização secundária dos animais refletindo-se na escolha dos animais

domesticados por via direta. Entre os exemplos de animais que foram domesticados de

forma direta encontramos o burro, o camelo, o cavalo e a abelha melífera. Podemos ligar

estes processos de domesticação à expansão do modo de vida agrícola sedentário para

fora das regiões centrais do crescente fértil.

A domesticação direta é a mais recorrente para épocas mais recentes como a

domesticação do coelho, animal nativo da Península Ibérica que só foi domesticado em

época romana. Numerosas espécies de peixes e pequenos mamíferos foram domesticadas

no último século seguindo este modelo de domesticação direta.

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Figura 1- Períodos e tipologia de domesticação (Larson and Fuller 2014)

O processo de domesticação direta é tão recorrente na atualidade que a perceção

dos processos de domesticação iniciais foram corrompidos pelos seus preceitos, contudo

nos padrões mundiais sobre os primeiros episódios de domesticação fica clara a sua não

intencionalidade.

Ao mesmo tempo que o modo de vida sedentário se estabeleceu em torno de

locais de grande fertilidade surgia um novo modo de vida ainda mais dependente dos

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animais, nomeadamente o nomadismo e o regime semi-nómada, conhecido como a

transumância.

O arqueólogo britânico Andrew Sherratt (1983) defende que a origem deste modo

de vida é posterior à “revolução de produtos secundários” quando o Homem começa a

selecionar conscientemente a reprodução dos seus animais de forma a potenciar uma

determinada característica. Um exemplo referenciado pelo autor é a domesticação do

cavalo ocorrida nas estepes euroasiáticas. Como é possivel visionar na figura 1 a

domesticação do cavalo começou por ter características de uma domesticação de

predação mas posteriormente evoluiu para uma via direta de domesticação onde o

homem conseguiu manipular atributos secundários dos animais.

Especula-se que o nomadismo é resultante de um processo de desertificação

ocorrido na Península do Sinai onde as outrora populações sedentárias passaram a ser

nómadas (Sherratt, 1983). Este estilo de vida assente nos diferentes produtos animais irá

permitir ao Homem adaptar-se a climas cada vez mais extremos, expandindo assim esta

prática pelo globo. Outra vertente importante dos povos nómadas foi o seu papel nas

trocas comerciais possibilitadas novamente pelo uso de animais de tração especializados.

Avançando no tempo, a influência dos animais na sociedade humana irá aumentar

assumindo papeis como símbolos religiosos, de riqueza e status.

Em época romana a produção animal era tida em grande estima. Existem

documentos de autores clássicos como Varro e Columella que discutem boas práticas de

criação de gado e a organização da propriedade rural (Hartung, 2015).

A propriedade rural romana seguia um conjunto de regras básicas de exploração

dos recursos de um determinado ambiente. O sistema agrosilvopastoril romano estava

dividido da seguinte maneira: perto da villa, a casa senhorial, encontrava-se o hortus, o

local do pomar e da horta no sentido tradicional. Numa zona mais periférica

encontravam-se os campos de cultivo em sequeiro, o designado ager. Posteriormente

encontrava-se o saltus, o local de pastagem de animais arborizada com pequenos matos e

por fim a silva, a área florestal da propriedade (Roselaar, 2010; Poux et al., 2009).

Um dos aspetos mais avançados da criação pecuária em época romana é a sua

preocupação com as condições sanitárias dos estábulos que devem ser espaçosos,

arejados, iluminados por luz natural e a existência de chãos perfurados de forma a drenar

excrementos. Todas estas preocupações visam aumentar as condições de saúde dos

animais com o intuito de reduzir a sua mortalidade. Deste modo, é fácil perceber o

grande número de animais que algumas explorações conseguiam albergar. Existem

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registos de época romana de capoeiras com capacidade para albergar 200 galináceos. A

galinha em época romana era o animal mais valioso por quilo porque especula-se que a

sua chegada à Europa fosse, à época, ainda recente (Hartung, 2015).

Estas ideias inovadoras seriam em parte esquecidas durante a Idade Média e só no

início do século XVIII é que acontecem mudanças estruturais na produção de gado na

Europa que viram a culminar na criação de sistemas de produção mais intensivos

(Hartung, 2015).

A rotação de culturas é o grande impulsionador na mudança da estrutura

tradicional de criação de gado. Desenvolvida em Inglaterra, esta técnica agrícola consistia

no cultivo de uma espécie vegetal diferente a cada ano. Este aumento da intensidade do

uso da terra irá abrir caminho ao desenvolvimento da produção de forragens para

animais.

O sistema pecuário extensivo a partir deste ponto passa a ser uma opção em

ambientes mais ricos do ponto de vista da produção de biomassa. Nestes ambientes

torna-se possível manter os animais estabulados todo o ano, sendo alimentados através

de forragens.

A revolução agrícola em curso começa a pensar o espaço rural através do espetro

da eficiência económica. Adam Smith traduz esta preocupação “Um campo de cereais de

fertilidade moderada produz uma maior quantidade de comida do que o melhor pasto do

mesmo tamanho” (Smith, 1776, pág. 120).

A concepção moderna de produção de gado passará a ser marcada pelo aumento

da sua intensidade e especialização, sendo abandonado o pastoreio. Um dos grandes

defensores dos sistemas de produção animal intensivo no século XVIII foi o agrónomo

alemão Albercht Thaer. No seu entender este sistema oferecia várias vantagens em

relação aos sistemas extensivos, como o aumento da produtividade por hectare, a gestão

e armazenamento de fertilizantes animais, aplicação de um sistema de rotação de culturas

mantendo o campo produtivo todo o ano, maior proteção dos animais contra os

elementos e predadores (Hartung, 2015).

Outro impulsionador dos sistemas de produção intensivos foi Johann Erxleben,

considerado como um dos fundadores da medicina veterinária, que recupera a ideia dos

autores clássicos como Varro e Columella sobre as condições sanitárias do abrigo dos

animais. Johann Erxleben defende espaços de dimensão considerável, bem iluminados e

com tetos altos para permitir uma maior ventilação (Hartung, 2015). A melhoria das

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condições sanitárias dos estábulos irá permitir o aumento da sua densidade populacional

e uma diminuição da mortalidade.

Na atualidade o sistema de produção intensivo é ainda pautado pelos princípios

desenvolvidos no século XVIII de intensidade e especialização (Hartung, 2015). O

conceito de intensidade está relacionado, nos sistemas de produção pecuária, com o

elevado número de animais por hectare, a ausência de pasto durante todo o ano e

elevado grau de mecanização. A especialização reflete-se na produção de uma espécie

animal por instalação.

O objetivo principal da agricultura no início do século XX foi o aumento da

produção de forma a fornecer bens essenciais a uma população em rápido crescimento.

Este desenvolvimento produtivo foi possível graças à mecanização do setor que por sua

vez alterou a propriedade agrícola no aumento da área produtiva e na especialização da

mão-de-obra (Bjorklund et al., 1999). Reflexo disto é o aumento da produtividade dos

cereais que mais do que duplicou no século XX (Janzen, 2011).Durante o período de

1961 e 2005 o mercado de produção de carne mais do que quadruplicou (FAO, 2009). O

aumento da produtividade agrícola especificamente na produção de cereais foi

impulsionada no início do século XX graças à invenção do processo de Haber/Bosch

que permite retirar nitrogénio da atmosfera para a produção de fertilizantes químicos. A

invenção dos fertilizantes químicos permitiu a intensificação da agricultura que por sua

vez ajudou a afastar a produção animal para fora dos terrenos agrícolas, visto os animais

serem redundantes em sistemas intensivos, pois a fertilidade da terra é assegurada por

meio artificiais (Fairlie, 2010). A intensificação da agricultura contribuiu para a

intensificação da pecuária, pois parte do excedente agrícola, nomeadamente os cereais,

passaram a fazer parte da base alimentar dos animais em sistemas intensivos de

produção.

Apesar deste grande desenvolvimento do setor agrícola, pouco foi refinado no que

respeita à criação de um sistema agrícola sustentável a longo prazo. É importante referir

que os setores de atividade primários dependem de um ecossistema saudável portanto

um equilíbrio entre a produção agrícola e a provisão de serviços de ecossistema assegura

a sua sustentabilidade a longo prazo (Teague, 2015; Costanza et al., 1997).

O setor pecuário a nível global surge como um dos três setores mais poluentes a

nível global sendo que grande parte desta poluição está relacionada a sistemas intensivos

de produção (Steinfield et al., 2006).Os sistemas intensivos de produção pecuária

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enfrentam hoje grandes desafios como a melhoria do bem-estar animal, aspetos

relacionados com segurança alimentar e a sustentabilidade ambiental.

Nas regiões europeias com maior concentração de indústrias pecuárias intensivas

como o Noroeste da Alemanha, Holanda e o Norte de França os níveis de poluição são

elevados. A poluição proveniente da pecuária intensiva é multifacetada, desde maus

odores devido à elevada concentração de amónia, às emissões de microorganismos e

aerossóis que afetam negativamente a saúde humana (Hartung, 2015).

A poluição nos sistemas intensivos de produção provém de uma desarticulação

entre o território onde estão inseridos e os recursos que utilizam. Nas grandes

explorações intensivas a alimentação animal é assegurada através de cereais produzidos

em várias regiões do planeta. Uma das consequências mais negativas desta especialização

agrícola foi a criação de zonas geográficas dedicadas à produção de culturas e outras

dedicadas à produção pecuária. A desarticulação de uma produção agro-pecuária leva a

consequências negativas entre as quais a criação de deseconomias de transporte e um uso

ineficiente de nutrientes. O papel dos animais é a perpetuação da gestão do território,

sendo retirados do seu habitat os possíveis serviços de ecossistema que poderiam prestar

desaparecem. A enorme densidade animal em sistema de produção intensiva ultrapassa

hoje em muitas regiões a capacidade de assimilação do território gerando graves

problemas de poluição (Hartung, 2015, Janzen, 2011).

No que concerne ao transporte de alimento animal de zonas de produção de

culturas para as zonas de criação animal representa um aumento no custo energético,

resultando em maiores emissões de gases com efeito de estufa. O aumento do custo

energético é contudo mitigado pelo baixo preço dos combustíveis fósseis possibilitando a

manutenção deste sistema. O outro grande problema é a criação de zonas deficitárias em

nitrogénio e fósforo nomeadamente nas zonas de produção de culturas agrícolas e zonas

com excesso de nutrientes que leva a problemas de poluição nas zonas de produção

pecuária (Bjorklund et al., 1999).

Podemos tomar a Suécia como um exemplo da intensificação agrícola dos países

desenvolvidos. É possível observar o aumento da produção agrícola assim como o

aumento de inputs no sistema agrícola durante o período de 1951 até 1996. No esquema

tradicional sueco de rotação de culturas de feno, cevada e trigo o aumento de produção é

significativo, 20%, 80% e 140% respetivamente, com a introdução dos métodos

industrializados da agricultura. Contudo se considerarmos os inputs externos à

propriedade agrícola esse aumento de consumo é ainda mais significativo: 110% de

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energia primária, 190% de nitrogénio e 460% de feno importado (Bjorklund et al., 1999).

A alteração do mosaico tradicional para as grandes monoculturas agrícolas é outra

consequência negativa do ponto de vista ambiental. O sistema de mosaico permite uma

maior biodiversidade de espécies e uma maior complexidade de habitats. Esta maior

complexidade permite uma maior capacidade de carga do ambiente e diversidade de

serviços de ecossistema. Segundo Russ et al. (2013) o conceito de capacidade de carga é

entendido como o nível de uso dos recursos tanto pelo Homem como pelos animais que

é suportado durante um longo período de tempo através da capacidade regenerativa do

ambiente.

Meios de produção mais sustentáveis como a produção extensiva dependem

menos de inputs externos sendo mais eficientes do ponto de vista energético, reduzindo a

produção de resíduos e aumentando a biodiversidade que minimiza o recurso a agro-

químicos (Teague, 2015).

Um dos problemas da adição de inputs externos a uma exploração agrícola são as

suas consequências inesperadas que podem contrabalançar o benefício esperado e

desestabilizar o ecossistema. A título de exemplo nos Estados Unidos o uso do anti

parasítico, ivermectin, um medicamento muito utilizado em gado, teve repercussões

inesperadas no meio ambiente. O efeito do medicamento não se limitou aos animais

administrados, sendo reportada a morte de invertebrados e microorganismos no solo. A

morte de escaravelhos bosteiros e da microfauna do solo é especialmente grave pois estes

animais são importantes para o ciclo de minerais que afeta diretamente o crescimento das

plantas. A morte dos escaravelhos levou a uma proliferação de fezes à superfície do solo

que por sua vez atraiu moscas que molestavam o gado reduzindo a sua performance,

menor ganho de massa corporal por mês. Muitos agricultores tiveram de recorrer a

químicos para controlar as moscas que afetavam o gado, enquanto que aqueles que

mantiveram uma população saudável de escaravelhos não o tiveram de fazer (Teague,

2015).

As práticas agrícolas contemporâneas dependentes do uso de fertilizantes

inorgânicos e pesticidas tiveram um efeito nefasto nas comunidades microbianas do solo.

Estima-se que por volta de 90% das funções do ecossistema do solo são controladas por

comunidades microbianas sendo essenciais para a manutenção de altos níveis de

produtividade do solo (Teague et al., 2016). As práticas agrícolas atuais são insustentáveis

a longo prazo e uma grande fonte de gases com efeito de estufa contribuindo assim para

um maior stress ambiental a nível global. Muitos dos problemas das práticas pecuárias e

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13

agrícolas mais intensivas poderiam ser minimizados se ocorresse uma aproximação dos

dois setores de atividade através de uma gestão com objetivos ambientais em mente

(Teague et al., 2016).

A humanidade começa a enfrentar limites na disponibilidade de terra, água e

energia juntando a isso a ameaça das alterações climáticas. Várias individualidades

defendem que o planeta não consegue suportar o crescimento populacional humano

assim como o número crescente de animais (Janzen, 2011). Esta preocupação pela

sustentabilidade do planeta tem atraído cada vez mais atenção para outra forma de

produção animal considerada menos produtiva mas com menor impacte ambiental. Os

sistemas extensivos de produção animal operam na lógica da maximização dos recursos

naturais e não na maximização da produção podendo ser uma ferramenta de gestão

importante dos territórios onde se encontram inseridos.

Atualmente os sistemas de produção em regime extensivo estão relegados para

regiões com baixa produtividade agrícola, onde a aridez e a sazonalidade são uma

realidade. As vantagens deste sistema prendem-se nos serviços de ecossistema prestados

pelo pasto dos animais no território. Contudo este tipo de produção pecuária enfrenta

graves problemas com as alterações climáticas introduzindo um maior risco de

degradação ambiental em ecossistemas de si já frágeis.

Nos capítulos seguintes iremos focar-nos nos problemas e vantagens deste método

de produção e na importância de introduzir medidas de gestão adaptativa num clima em

permanente mudança.

2. - SERVIÇOS DE ECOSSISTEMA E A PRODUÇÃO PECUÁRIA

2.1- PRODUÇÃO PECUÁRIA: IMPACTES AMBIENTAIS E SEGURANÇA ALIMENTAR

As sociedades no futuro terão de enfrentar uma maior pressão na obtenção de

recursos essenciais para a manutenção da sua qualidade de vida. Especialmente

preocupante é a conjugação de uma população mundial crescente e a diminuição dos

serviços de suporte à vida.

O aumento populacional e a urbanização estão a aumentar a pressão na

necessidade de alimentos contudo a nossa habilidade de os providenciar está ameaçada

pelas alterações climáticas, desertificação, aumento do consumo de produtos animais,

desflorestação e o aumento da procura de biocombustíveis (Teague, 2015; Janzen, 2011).

A segurança alimentar no futuro poderá não ser assegurada mantendo o ritmo de

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14

crescimento atual. Perante estes constrangimentos ambientais muitos questionam a

sustentabilidade do consumo de produtos animais.

A controvérsia do consumo de produtos animais e os seus derivados é um

exemplo perfeito de como posições extremadas e opiniões dogmáticas turvam o

julgamento de um problema complexo. Estima-se que em 2010 a média global de

consumo de carne atingiu os 40 kg per capita (Smil, 2014). Este número impressionante é

possível devido a uma indústria alimentar baseada na produção intensiva, contudo os

altos níveis de produtividade são acompanhados por graves problemas ambientais

O aumento da procura de produtos animais continuará a crescer nas próximas

décadas, especialmente em países em desenvolvimento. As principais causas apontadas

para este aumento prendem-se com o aumento do rendimento per capita, aumento da

população e a crescente urbanização. A procura por carne e leite, considerando as atuais

tendências de consumo, aumentará cerca de 57% e 48% respetivamente durante o

período de 2005 e 2050 (Alexandratos and Bruinsma, 2012). Este aumento caso se

verifique poria um enorme stress a nível ambiental, impactando as emissões de gases de

efeito de estufa consideravelmente.

Os alimentos de origem animal a nível global representam cerca de 18% das

calorias globais consumidas e por volta de 25% do consumo global de proteína

(FAOSTAT, 2016). A importância destes produtos para a segurança alimentar é de

especial relevo pelo fornecimento de proteínas de alto valor biológico e vários

micronutrientes, como a vitamina A, vitamina B12, riboflavina, cálcio, ferro e zinco. O

peso dos produtos animais para a segurança alimentar é maior para regiões do globo

onde seja difícil obter uma quantidade de nutrientes essenciais através do uso de

produtos vegetais como no caso de locais áridos.

A pecuária a nível global contribui positivamente para o fornecimento de macro e

micro nutrientes, inputs para o setor agrícola através da tração e fertilização e na obtenção

de rendimento quer a nível familiar quer a nível nacional. As contribuições negativas do

setor pecuário prendem-se com o desvio de alimentação apta para consumo humano

redireccionando-a para alimento animal. O maior uso de terra arável para o cultivo de

alimento animal e o baixo nível de eficiência de conversão de energia de alimento animal

para produtos animais representam o maior risco para a segurança alimentar (Mottet et

al., 2017). Os problemas mais sérios da produção animal advêm da intensificação da

produção pecuária que se traduz na intensificação da produção agrícola. A irrigação de

forragens, utilização de cereais, excesso de fertilizantes químicos, pesticidas e energia

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15

resultante do transporte de forragens e animais (Hartung, 2015; Teague, 2015; Janzen et

al., 2011; Bjorklund et al., 1999).

O uso de animais para alimentação humana é muitas vezes criticado devido ao seu

baixo índice de eficiência de conversão de energia. Os índices de eficiência de conversão

de energia variam conforme a espécie animal em questão, sistema de produção em que o

animal se encontra inserido, a métrica de avaliação de calorias ou conteúdo proteico,

qualidade do alimento de país para país. Tendo em conta as várias circunstâncias acima

enumeradas que influenciam os valores da conversão de energia, não é possível assumir

grandes generalizações a nível mundial. A título de exemplo, no gado bovino o índice de

conversão de energia pode variar entre 6kg até 20kg de cereal de alimento animal para

um quilo de carne produzida (Mottet et al., 2017; Garnett, 2009). Normalmente os

valores mais elevados são verificados em sistemas de produção intensivos que

representam cerca de 13% da produção mundial (Mottet et al., 2017). Diferentes animais

e diferentes produtos animais necessitam de menos ou mais energia de forma a

produzirem os produtos necessários.

Rácio de conversão de alimento animal para alimento Humano

Produtos Animais Energ

ia Proteín

a Média

Carne de vaca 14,3 :

1 12,5 : 1

13,4 : 1

Carne de porco 4,75 :

1 5,25 : 1 5,0 : 1

Carne de frango 5,25 :

1 3,2 : 1

4,25 : 1

Total de Carne - - 7,2 :1

Ovos 5,9 : 1 4,2 : 1 5,1 : 1

Leite 4,0 : 1 4,75 : 1 4,4 : 1

Tabela 1 – Índice de conversão de energia (Fonte: CAST, 1999)

Na tabela 1 podemos visionar um rácio de conversão elaborado pela CAST (Council

for Agricultural Science and Technology), equipa norte americana que realizou um estudo

sobre a média de conversão de energia do alimento animal para produtos animais.

Podemos verificar que, a título de exemplo, um bovino necessita de 14,3 calorias de

alimento vegetal para produzir 1 caloria animal. Este rácio de conservação torna-se mais

eficiente quando se considera a produção de proteínas: no caso dos bovinos são

necessárias 12,5 gramas de proteína vegetal para produzir 1 grama de proteina animal.

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16

Fica patente que os bovinos apresentam o menor índice de conversão, enquanto o

melhor desempenho em termos de conversão de proteína (input-output) é apresentado

pela carne de frango.

O professor britânico Wilkinson realizou no Reino Unido um estudo sobre a

média de conversão de energia dos animais e chegou a valores semelhantes aos

reportados pelo estudo da CAST de 1999 (Wilkinson, 2011; CAST, 2013). É possível

admitir que os valores apresentados na tabela 1 possam refletir o índice de conversão de

energia por parte dos animais nos países desenvolvidos onde as práticas veterinárias e de

alimentação animais sejam semelhantes aos Estados Unidos e ao Reino Unido.

A alimentação animal é um ponto fundamental para a sua criação e varia conforme

os sistemas de produção implementados. É estimado que no ano de 2010 o setor

pecuário a nível mundial consumiu cerca de 6 mil milhões de toneladas de matéria seca

(Mottet et al., 2017).

No gráfico 1 é possível observar que a maior porção de alimento dedicado à

alimentação animal é composta por erva e folhas representando cerca de 46%, ou seja,

2,7 mil milhões de toneladas de matéria seca. O setor seguinte com maior relevo são os

resíduos das culturas agrícolas representando 19% do total da alimentação animal a nível

mundial (Mottet et al., 2017).

O setor da alimentação animal que poderia ser utilizado para alimento humano

representa 14% sendo que 13% são cereais (gráfico 1). Contudo é importante realçar que

estes 13% do uso de cereais para ração animal representam 32% da produção mundial de

cereais em 2010, ou seja, cerca de um terço da produção (gráfico 2). Os produtos

secundários da indústria alimentar representam apenas 5% do total da alimentação

animal a nível mundial (gráfico 1). Um maior controlo sobre a gestão destes resíduos

poderá no futuro contribuir para sua maior representatividade.

É possível visionar que 86% da alimentação animal a nível mundial provém de

fontes não comestíveis para o ser humano. A nível agregado este é o panorama mundial

contudo a nível dos países e dos sistemas de produção a dieta animal varia

consideravelmente.

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17

68%

32%

Produção Mundial de Cereais em 2010 (2,571 milhões de toneladas)

Cereais para consumo humano

Cereais para consumo animal

46%

8%

19%

5%

5%

3%

13% 1%

Alimentação Animal a Nível Mundial (6 mil milhões de Matéria Seca)

Folhas e Pasto

Culturas de Foragem ( Silagem,

Feno…)

Resíduos Agrícolas (Palha de trigo,

Arroz, Caules de banana…)

Bagaço de oligeanosas

Sub-Produtos ( Farelo, Poupa de

beterraba, Melaço...)

Outros Não-Comestíveis (Cereais de

segunda categoria, Resíduos de

matadouro, Resíduos da indústria

pesqueira)

Cereais

Gráfico 2 - Produção Mundial de Cereais (Fonte: Mottet et al. 2017)

Gráfico 1 - Fontes da alimentação animal a nível global (Fonte: Mottet et al. 2017)

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18

5053

7404

1152

242 409 18

2259

4686

99 180

5428

Ext

ensi

vo

Mis

to

Inte

nsi

vo

Ext

ensi

vo

Mis

to

Ext

ensi

vo

Inte

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vo

(o

vo

s)

Inte

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vo

(ca

rne)

Ext

ensi

vo

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to

Inte

nsi

vo

Bovinos e Búfalos Ovinos e Caprinos Gado de Bico Suínos

Países da OCDE

Total de Produção de Proteína (Mt/ano)

Ao analisar os diferentes sistemas de produção pecuária entre os países da OCDE

com os países fora da OCDE é possível observar diferenças significativas no peso dos

diferentes sistemas para a produção total de proteínas. Nos países da OCDE o sistema

intensivo predomina na criação de suínos e de gado de bico. A maioria do aumento da

produção pecuária atualmente ocorre em sistemas intensivos (Janzen, 2011). O sistema

extensivo e misto é apenas relevante para a criação de gado bovino com cerca de 12457

mil toneladas de proteína ao ano1 (gráfico 3).

Nos países em desenvolvimento confirma-se que os sistemas intensivos de

produção são menos representativos no setor pecuário. Ao excluir a criação de gado de

bico a produção total de proteína em sistemas intensivos nos países em desenvolvimento

é de apenas 3311 mil toneladas2 contra as 6580 mil toneladas de proteínas3 dos países da

OCDE (gráfico 3, 4). A maior porção do total de proteínas produzidas nestes países

1 Soma dos valores do gráfico 3 no setor de bovinos e búfalos dos sistemas de produção extensivo e misto. 2 Soma dos valores do gráfico 4 do setor bovino e suíno para os sistemas intensivos. 3 Soma dos valores do gráfico 3 do setor bovino e suíno para os sistemas intensivos.

Gráfico 3 - Produção Total de Proteínas por Sistema de Produção na OCDE (Fonte: Mottet et al.2017)

Page 26: Produção Extensiva de Animais: uma ferramenta de gestão …Outros exemplos de animais que foram domesticados por via comensal foram o pombo e a galinha. A domesticação do pombo

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provém do gado bovino num sistema misto de produção com cerca de 73615 mil

toneladas de proteína ao ano (gráfico 4).

Quanto aos países em desenvolvimento a maioria dos sistemas de produção

agrícola são mistos, combinando a criação animal com o cultivo de cereais e hortícolas.

Na maioria dos casos a presença animal é benéfica contudo para certos biomas isso pode

não acontecer. Um caso particularmente preocupante é a perda de habitat na floresta

Amazónica para o cultivo de soja e produção animal levando à desflorestação de grandes

áreas (Steinfeld and Wassenaar 2007; Herrero et al., 2009). Em sistemas extensivos e de

produção mista a dieta dos ruminantes consiste em cerca de 90% de alimentos com alto

teor de fibra, ou seja, não comestíveis para o ser humano como erva, resíduos agrícolas e

silagem (Mottet et al., 2017).

Gráfico 4 - Produção Total de Proteínas por Sistema de Produção Fora da OCDE (Fonte: Mottet et al.,2017)

Apesar da baixa eficiência na conversão de energia dos sistemas extensivos de

ruminantes esta é compensada através da ingestão de proteínas vegetais não comestíveis

pelo ser humano transformando-as em proteínas animais de alto valor biológico. Para

além disso os animais em regimes mistos ou extensivos de produção providenciam

benefícios ecológicos inegáveis como a conservação das terras de pasto, a manutenção

do ciclo de nutrientes, providenciam alimentos de alta qualidade alimentar e uma série de

benefícios sociais (Teague et al., 2016; Smil, 2014; Janzen, 2011). Nos sistemas mais

intensivos o uso de cereais é mais preponderante especialmente nos países da OCDE

5881

73615

374 975 1250 942 6960 8496

3800 2441 2937

Ext

ensi

vo

Mis

to

Inte

nsi

vo

Ext

ensi

vo

Mis

to

Ext

ensi

vo

Inte

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(o

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Inte

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vo

(ca

rne)

Ext

ensi

vo

Mis

to

Inte

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vo

Bovinos e Búfalos Ovinos e Caprinos Gado de Bico Suínos

Países Fora da OCDE

Total de Produção de Proteína (Mt/ano)

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onde os cereais representam 72% da alimentação animal. Já nos países fora da OCDE a

percentagem do uso de cereais é mais baixa, cerca de 38% (Mottet et al., 2017).

Na produção de animais monogástricos as quantidades de cereal usado para a

alimentação são maiores comparativamente com a dos ruminantes devido à sua

incapacidade de digerir alimentos com alto teor de fibra. Contudo estes animais são mais

eficientes a converter a energia do alimento em massa corporal sendo assim possível

obter um maior output de proteína animal.

O melhor desempenho de conversão de energia de animais monogástricos é

encontrado em sistemas intensivos onde a qualidade do alimento é controlada através de

parâmetros de gestão. Em países da OCDE o índice de conversão de energia varia entre

18-29 kg de matéria seca para 1 kg de proteína enquanto nos países não pertencentes à

OCDE o seu desempenho varia entre 20-27kg de matéria seca para 1 kg de proteína

(Mottet et al., 2017).

As espécies animais referidas anteriormente contribuem de forma diferenciada para

a oferta global de proteína animal. O gado bovino, incluindo os búfalos, fornece cerca de

45% da proteína animal, 31% da proteína é fornecida por galinhas, 20% pelo gado suíno

e o gado caprino e ovino apenas representa 4% (Mottet et al., 2017). Todas as espécies

combinadas consomem cerca de 80 quilos de matéria seca para produzir 1 kg de proteína

animal. Toda esta produção animal tem impactes importantes na emissão de gases com

efeito de estufa. Estima-se que a nível global o setor pecuário é responsável por 14,5%

das emissões antropogénicas globais, representando cerca de 7,1 Gt de dióxido de

carbono ao ano. Os bovinos representam a maior fonte de emissão com cerca de 9,4%

das emissões antropogénicas globais (Ripple et al., 2014).

O setor agrícola, por comparação, não fica muito atrás, com cerca de 13,7% das

emissões de CO2 equivalente de origem antropogénica. Uma análise sobre o ciclo de vida

do setor agrícola monstra este setor como sendo um grande contribuinte para a emissão

de gases de efeito de estufa (Teague et al., 2016).A aragem e fertilização química

representam a maior parte das emissões deste setor primário. Estima-se que cerca de

30% a 75% do conteúdo de carbono do solo foi perdido devido ao uso intensivo da terra

(Teague et al., 2016). A nível global a emissão de gases com efeito de estufa provenientes

da degradação do solo correspondem a 13,7% do total das emissões antropogénicas.

Destas 1,86 Gt aproximadamente 46% são causadas pela ação humana através de inputs

no setor primário como fertilizantes, combustíveis e pesticidas. A restante percentagem,

54% das emissões, advém de fatores naturais associados a processos de erosão como

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vento, chuvas, secas, aragens da terra intensivas e o excesso de pasto (Teague et al.,

2016).

Um conjunto de medidas de gestão poderia contribuir para uma agricultura mais

eficiente quanto ao uso de recursos como a utilização de culturas perenes em conjunto

com culturas anuais, a diversificação do sistema de culturas, a utilização de fertilizantes

naturais, a redução de nitrogénio químico, a utilização de um sistema de pasto flexível e a

adoção do conceito de agricultura de precisão. Todas estas medidas ajudariam a

minimizar as emissões associadas ao setor primário.

Apesar da poluição inerente da produção pecuária o sistema de produção misto e

extensivo contribuem de forma positiva para a produção mundial de proteínas assim

como para a manutenção dos ecossistemas. A utilização de pastagens perenes permite

um sequestro de carbono constantemente, pois o solo não é arado anualmente. A longo

prazo a emissão de CO2 equivalente de um sistema extensivo será menor, mesmo que a

dieta animal seja menos eficiente. Outros fatores ligados aos serviços de ecossistema

podem influenciar um resultado ainda mais positivo (Teague, 2015). Os setores pecuários

mencionados anteriormente consumem um total de 37 milhões de toneladas de proteínas

de alimento passível de ser consumido pelo ser humano, contudo a produção de

produtos animais contribui com 41 milhões de toneladas de proteína de alto valor

biológico (Mottet et al., 2017). A produção pecuária neste exemplo contribui com um

excedente de 4 milhões de toneladas de proteína a nível mundial, cooperando assim no

sentido de uma maior segurança alimentar.

Ao nível da segurança alimentar e da sustentabilidade ambiental a nível mundial

um dos maiores problemas da pecuária é a produção de ração animal a partir de cereais

ou outras culturas aptas para o consumo humano. A crescente competição por terra de

cultivo torna esta prática insustentável no médio a longo prazo. A nível global 2,5 mil

milhões de hectares são usados para a produção de alimento animal. Esta área

corresponde a metade da área agrícola global (Mottet et al., 2017).

A alimentação de cereais por parte dos animais é defendida devido à sua maior

eficiência na criação animal. Como o tempo de criação é mais curto com este tipo de

base alimentar a fermentação entérica ao longo do período de vida do animal é menor,

diminuindo assim as emissões de gases com efeito de estufa. Apesar de uma dieta rica em

cereais ser mais eficiente ao nível das emissões existem outros fatores a considerar. O

ciclo de produção dos cereais não pode ser ignorado tendo de ser incluídas as emissões

associadas à aragem, irrigação, uso de fertilizantes químicos, colheita e posterior

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transporte para a exploração intensiva de animais. Tendo em conta todos estes fatores, o

sistema de produção intensivo é menos eficiente do ponto de vista energético do que

sistemas de produção mais extensivos, mais dependentes dos recursos locais.

A produção agrícola requer uma quantidade substancial de recursos naturais: solo

fértil, água, fertilizantes e energia (Elferink et al., 2007a). Todos os inputs da produção

agrícola têm riscos de impacte ambiental como a emissão de gases com efeito de estufa,

desflorestação e contaminação química do ambiente (Smil, 2014). A rivalidade de

consumo por cereais entre a população humana e animal está a aumentar devido em

parte ao aumento da população humana no mundo e a uma alteração do consumo em

países emergentes por um estilo alimentar mais rico em produtos animais. Estas

conclusões derivam do facto de 32% da produção mundial de cereais e 68% do uso de

cereais nos países desenvolvidos serem usados para a alimentação animal (Elferink et al.,

2007a). No total, 600 milhões de quilos de cereais são utilizados para a alimentação

animal (CAST, 1999). Toda esta produção cerealífera necessita de terras férteis contudo a

percentagem de terras aptas para a agricultura é diminuta. As terras de pasto por sua vez

cobrem cerca de um terço da superfície terrestre livre de gelo, o dobro da área dedicada à

terra arável (Janzen, 2011).

O setor pecuário contudo utiliza apenas uma área de pastos que ronda 2 mil

milhões de hectares. Dentro desta categoria de uso do território é importante distinguir

entre áreas aptas para o cultivo de culturas e as áreas apenas aptas para a prática da

pastorícia. A nível global, os pastos não aptos a receberem culturas representam a maior

porção com cerca de 1,3 mil milhões de hectares enquanto que os pastos aptos para

recebem culturas representam 684 milhões de hectares. A conversão destes pastos para

terra cultivada representaria um aumento de 14% para a área agrícola a nível global. A

terceira grande ocupação de terra destinada ao setor pecuário recai no cultivo de cereais

com uma área de 210,5 milhões de hectares, cerca de 31% da produção total mundial de

cereais (Mottet et al., 2017).

A discussão sobre as áreas dedicadas para a alimentação animal é importante pois é

expetável um aumento do consumo de carne no futuro. As projeções apontam para um

aumento de 21% entre 2010 e 2025. Nos países em desenvolvimento este aumento será

ainda maior, aproximadamente 32-33% (Mottet et al., 2017).

Este aumento da produção irá refletir-se no aumento da área dedicada à produção

de alimento animal, acelerando assim os processos de desflorestação de forma a

aumentar a área de cultivo. Uma possível solução para aumentar a produção sem afetar a

Page 30: Produção Extensiva de Animais: uma ferramenta de gestão …Outros exemplos de animais que foram domesticados por via comensal foram o pombo e a galinha. A domesticação do pombo

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quantidade de área agrícola necessária para alimento animal seria uma maior eficiência do

índice de conversão de energia por parte dos animais. A seleção genética, melhores

cuidados veterinários e melhoria do alimento conseguiu já nas últimas décadas melhorar

a eficiência da produção de suínos e de gado de bico (Wu et al., 2014; Wilkinson, 2011).

Para sistemas de produção extensivos a melhoria do pasto e formas de gestão mais

eficientes, especialmente em ambientes degradados, podem influenciar um aumento da

produção sem a ocupação de mais território.

A produção extensiva baseada em práticas sustentáveis como o uso de alimento

animal não comestível para o ser humano, aproveitamento das terras marginais ou

improdutíveis para a agricultura, não consegue atingir o nível de produção necessário

para a procura atual. Mesmo reorientando a produção pecuária para animais mais

eficientes a converter matéria vegetal em proteína animal como os suínos e o gado de

bico a produção conseguiria apenas atingir cerca de 70% da procura de carne em 2010,

cerca de 290 milhões de toneladas (Smil, 2014). O teto máximo de produção de proteína

de fonte animal de uma forma considerada sustentável parece rondar os 300 milhões de

toneladas. Com as projeções para 2030 e 2050 a apontar para um aumento no consumo

de carne, é expetável afirmar que a pecuária em regime extensivo não conseguira atender

à procura.

Algumas mudanças culturais nos hábitos alimentares que não incluam carne, não

terão um impacto significativo a nível mundial no futuro aumento do consumo de carne,

contudo a média global não atingirá os níveis ocidentais e é expetável que nos países

desenvolvidos o consumo médio venha a declinar (Smil, 2014).

O consumo acima da média nos países desenvolvidos tem sido possível através de

uma redução do preço da carne. A redução do preço da carne deve-se por um lado ao

contínuo processo de inovação das práticas pecuárias e veterinárias que aumentam a

produtividade em sistemas intensivos, contudo isto é possível devido à grande

disponibilidade de energia fóssil a preços acessíveis. Produzir mais 30% a 50% de carne é

possível através das práticas atuais contudo não é racional nem sustentável (Smil, 2014).

O caminho que reúne uma maior consciência ambiental, justiça social e benefícios para a

saúde humana a uma escala global seria uma convergência gradual no consumo de carne

a nível mundial, eliminando gradualmente as produções intensivas mais agressivas para o

ambiente (Smil, 2014).

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24

2.2- PRODUÇÃO PECUÁRIA: IMPORTÂNCIA DA RECICLAGEM DE RESÍDUOS

ALIMENTARES

Uma outra forma de aumentar a produção ou de diminuir o input de cereais na

alimentação animal seria uma melhor alocação dos resíduos da produção agrícola e da

indústria alimentar.

Estima-se que os resíduos agrícolas (trigo, arroz, cevada, milho e cana de açúcar)

só no continente asiático representem 750 milhões de kg de matéria seca. Em teoria esta

quantidade de alimento é suficiente para fornecer cerca de um terço da produção de

proteína animal a nível mundial (Devendra and Sevilla, 2002). Para além dos resíduos da

produção agrícola também a indústria de processamento alimentar fornece resíduos

importantes para alimentação animal 4 . Todos stes tipos de resíduos são ideais para

animais omnívoros como o porco e a galinha, devido à sua maior performance de

conversão de energia (tabela 1).

No estudo realizado por Elferink et al., (2007a) foi possível determinar que alocar

os resíduos da indústria alimentar para a produção de suínos era capaz de produzir cerca

de 81 gramas de carne de porco per capita por dia. Este valor foi obtido através da

equação 1.

(1) ∑

O símbolo , representa a quantidade (em Kg) de carne de porco per capita por dia;

a quantidade de resíduos (Kg per capita/dia); , valor nutritivo do resíduo alimentar

(EW/kg); e o fator de conversão de energia dos animais (EW/kg). O fator EW 5

representa o valor energético da alimentação animal com um fator de conversão de 4.0

EW para 1kg de carne de porco (Elferink et al., 2007a).

O estudo em questão prova que a gestão de resíduos da indústria alimentar através

do uso de animais gera impactes positivos para o ambiente ao reduzir a necessidade de

energia e terra arável para a produção pecuária.

O consumo médio de carne de porco na Holanda ronda as 150 gramas por dia, se

produzido através de uma alimentação animal derivada de cereais é necessário 2,7 MJ de

energia e por volta de 1,8 m2 de terra arável. Os requerimentos de energia e terra são

4 Um bom exemplo de reutilização de resíduos é dado pela indústria alimentar holandesa, que fornece

cerca de 70% da alimentação animal nesse país (Elferink et al., 2007a). Os resíduos industriais mais representativos são a polpa de beterraba, utilizada na produção de açúcar, resíduos da indústria de óleos vegetais e cascas de batata provenientes da indústria alimentar. 5 “Energie Waarde”

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25

sempre mais elevados numa alimentação animal baseada em cereais do que uma baseada

em resíduos, onde apenas um 1,1 MJ de energia e 0.7 m2 de terra arável são necessários

para obter 150g de carne de porco (Elferink et al., 2007a). Estes resultados são no

entanto subestimados pois apenas foram contabilizados os resíduos da indústria

alimentar deixando de fora outros setores de relevo como o setor agrícola, setor da

distribuição, setor da preparação de comida (restaurantes, domicílios e cantinas públicas).

Apesar de alguns resíduos alimentares não serem permitidos para a alimentação animal,

como os resíduos domésticos e da restauração, a quantidade de resíduos existentes deixa

a crer que a quantidade de carne a ser produzida por este tipo de alimentação animal

possa ser maior do que os dados apresentados.

A proibição de usar alguns resíduos para a alimentação animal foi adoptada na

Europa após casos de encefalopatia espongiforme bovina (EEB). A causa principal para

a ocorrência desta doença foi a incorrecta utilização de resíduos de matadouro para a

alimentação de gado bovino (Elferink et al., 2007b). Os resíduos de matadouro ainda são

permitidos em vários países fora da União Europeia e não oferecem risco de saúde

quando utilizados na alimentação de animais omnívoros com sistemas digestivos capazes

de processar proteína animal, como no caso dos suínos e gado de bico. A proibição

destes resíduos implicou tornar um recurso importante na alimentação animal num

problema de gestão de resíduos onde os matadouros pagam pela sua eliminação através

da incineração (Elferink et al., 2007a). A falta de autorização por parte da União

Europeia dita que muitos destes resíduos animais sejam utilizados para outros fins, como

a produção de energia e fertilizantes onde o seu conteúdo nutricional não consegue ser

maximizado. A acrescer ao problema muitos países recém-chegados à União Europeia

ainda não dispõem das instalações de processamento destes resíduos, sendo a sua

eliminação efetuada através do depósito em aterros sanitários. Estas deposições são

negativas para o meio ambiente devido às emissões de metano inerentes da

decomposição dos resíduos animais (Jędrejek et al., 2016). Tendo em conta que em

sistemas intensivos de criação de suínos e de gado de bico a maior parte das despesas da

exploração recai sobre a alimentação animal a reutilização de resíduos da indústria

alimentar aumentaria a eficiência economica deste tipo de explorações. Aquela imposição

limita a reutilização de resíduos do sistema e potencia uma maior importação de soja e

farinha de peixe, aumentando as emissões de CO2e relacionadas com o transporte destes

recursos.

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26

Outro fator que poderia aumentar a disponibilidade de proteína animal seria o uso

de outros animais que tenham um potencial de conversão energética mais eficiente para

que o output de proteínas seja superior. Um exemplo desta situação seria o uso de gado

bovino ou de bico, que produzem produtos secundários (leite, ovos) com uma maior

eficiência de conversão de energia. Nesta situação a quantidade de proteína animal per

capita aumentaria.

Generalizando, a produção animal apresenta impacte ambiental em forma de taco

de hóquei (Gráfico 5). Na seção A-B a produção animal enquadra-se como uma atividade

auxiliar da agricultura que capitaliza na gestão e transformação de resíduos em produtos

de alto valor nutricional, nomeadamente proteína e gorduras animais. Neste

enquadramento encaixa-se a produção extensiva de animais onde se utilizam recursos

que não são comestíveis para o Homem. O ponto B determina o ponto de transição

onde se encontra o limite de resíduos e alimentos não comestíveis para o Homem. Este

ponto teórico pode variar conforme a adoção de diferentes estilos alimentares,

crescimento ou diminuição da população e disponibilidade de resíduos (Elferink et al.,

2007a).

Gráfico 5- Impacte Ambiental da Produção Pecuária (Fonte: Elferink et al., 2007a)

Para além do ponto B torna-se necessária a utilização de cereais para a alimentação

animal, para acompanhar os níveis de consumo. A utilização de cereais para alimentação

animal é rival com o consumo humano levando a um aumento do impacte ambiental da

produção pecuária. O ponto C determina o nível de consumo de produtos animais.

Uma diminuição do consumo de produtos animais leva a uma rápida diminuição

do seu impacte ambiental, apenas se a indústria adoptar menos cereais na alimentação

animal quando a procura diminui (Elferink et al., 2007a).

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27

Do ponto de vista económico o nível ideal de consumo de produtos animais

deveria ser um pouco acima do ponto B. Isto deve-se a uma questão de maior segurança

alimentar e de estabilidade do preço dos cereais. A elasticidade preço da procura para a

alimentação animal é maior do que para o caso da alimentação humana podendo assim

servir como um mecanismo regulador ao absorver os excedentes da produção agrícola ou

em caso de escassez fornecer mais alimento para a população humana (Mottet et al.,

2017).

Mesmo com o aumento da eficiência, quer de gestão quer da conversão de energia

por parte dos animais, é expetável que no futuro um problema de segurança alimentar

possa surgir se o consumo de produtos animais não for reduzido (Smil, 2014). Podemos

assim afirmar que uma alimentação rica em produtos animais tem maiores impactes

ambientais do que uma alimentação baseada em produtos vegetais devido a uma maior

necessidade de recursos naturais. Contudo é importante referir que nem todos os

sistemas de produção animal são rivais com a produção de cereais. Os resíduos da

atividade agrícola, como a palha dos cereais e diferentes pastos, não são comestíveis

porque o sistema digestivo humano não consegue processar alimentos com um alto teor

de fibra. Os animais ruminantes possuem, pelo contrário, a capacidade de digerir e extrair

energia deste tipo de alimentos, devido ao seu sistema digestivo especializado. Portanto a

produção pecuária tem um papel importante para a utilização e reutilização dos recursos

impróprios para o consumo humano. Os sistemas extensivos e mistos de produção

conseguem um desempenho mais eficiente no que diz respeito ao ciclo de nutrientes.

Num futuro onde os custos de energia poderão limitar o uso de fertilizantes químicos, o

sistema extensivo e misto de produção oferece uma solução no uso e reutilização de

nutrientes.

2.3- SERVIÇOS DE ECOSSISTEMA DAS TERRAS DE PASTO

A exploração pecuária é uma fonte de poluição e representa uma parte significativa

das emissões antropogénicas de gases de efeito de estufa, contudo é importante perceber

que os animais, quando inseridos no seu habitat, providenciam serviços de ecossistema

que ajudam a regular diversas regiões do planeta.

O conceito de serviços de ecossistema captura a noção de capital natural como um

fundo de investimento que gera juros por unidade de tempo à semelhança do sistema

financeiro (Lant et al 2008). Estes juros ou serviços gerados pelo capital natural são

essenciais à regulação do planeta como o ciclo da água, ar e biomassa.

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Os serviços de ecossistema são subdivididos em quatros categorias distintas:

(Costanza et al., 2017)

-Os serviços de provisionamento referem-se à combinação de diferentes capitais

(natural, humano, social) para a produção de bens primários como os alimentos e a

madeira.

-Os serviços de regulação reportam-se a todos os processos de estabilização do

ecossistema como a regulação da qualidade do ar, água, polonização, controlo de pragas e

controlo climático.

-Os serviços culturais dos ecossistemas derivam o seu valor através da atividade

humana originada em motivações estéticas, de identidade cultural, recreação e

investigação científica.

-Os serviços de suporte são descritos com a base dos ecossistemas realizando

processo como a formação do solo, ciclo de nutrientes e provisão de habitat.

Os bens e serviços do ecossistema representam os benefícios que a população

usufrui, direta ou indiretamente de determinado ecossistema, existindo uma relação

proporcional positiva entre a quantidade de capital natural e o bem-estar humano

(Costanza et al., 2014; Lant et al., 2008; Costanza et al., 1997). Quando o capital natural

se aproxima de zero também a qualidade de vida do Homem decai. Esta relação ocorre

pois não é possível substituir completamente o capital natural por capital manufaturado e

capital humano (Costanza et al., 1997). Contudo estes serviços ecológicos não são

propriamente contabilizados como um fator produtivo da economia constituindo assim

uma externalidade positiva do capital natural. Uma externalidade ambiental também pode

ter consequências negativas, como no caso da poluição. Neste caso uma externalidade

pode ser entendida como um custo encapotado. Segundo Epstein et al. (2011) um

externalidade ocorre quando a atividade de um agente afeta o bem-estar de um outro

agente que se encontra fora de qualquer tipo de mecanismo de mercado. A negligência da

sua importância por parte dos decisores políticos compromete a sustentabilidade do

próprio habitat humano (Schmidt et al., 2016; De Groot et al., 2012; Epstein et al., 2011,

Costanza et al.,1997).

As curvas da oferta para os serviços de ecossistema são difíceis de determinar.

Além disso os serviços de ecossistema não são influenciados a curto-prazo pelas decisões

do sistema económico e não conseguem regular a sua oferta sendo que assim a sua curva

da oferta é vertical, o que representa a sua ineslasticidade

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Costanza et al. (1997) estimaram que, a valores constantes de 1994, a nível global

todos os serviços de ecossistema forneciam cerca de 33 biliões de dólares, numa média

de 5 mil dólares per capita a nível global. Este valor era cerca de 1,8 vezes maior do que o

PIB mundial. A maioria do valor dos serviços pertence a valores fora do sistema de

mercado como regulação de gases (1.3 biliões), regulação de distúrbios (1.8 biliões) e

ciclo de nutrientes do solo (17 biliões).

A maior parte dos serviços de ecossistema é providenciado pelos ecossistemas

marinhos que contribuem com 63% do valor total dos serviços de ecossistema a nível

global. Os ecossistemas terrestres contribuem com 38% sendo os maiores contribuidores

as florestas e os Pântanos (Costanza et al.,1997). O valor dos serviços de ecossistema em

1997 foi obtido através de uma estimativa dos serviços de ecossistema existentes num

hectare de determinado bioma. Posteriormente este valor é multiplicado pela área total

de cada bioma. O conjunto dos valores de cada bioma dá o valor final dos serviços de

ecossistema a nível global(Costanza et al.,1997).

A estimação sobre o valor dos serviços de ecossistema é apenas um valor mínimo.

É expetável que o valor real seja maior devido ao fato de ainda não se conhecer todos os

serviços de ecossistema existentes e as suas interligações. O maior stress sobre o capital

natural e nos serviços de ecossistema levará no futuro a uma maior valorização destes

serviços. Num caso hipotético extremo, se valores significativos forem ultrapassados o

seu valor pode rapidamente chegar a perto de infinito (Costanza et al.,1997).

Estimou-se que entre os anos de 1997 e 2011 os serviços de ecossistema sofreram

uma desvalorização de cerca de 20 biliões de dólares ao ano devido a alterações do uso

da terra, especialmente devido a processos de desflorestação (Kubiszeweski et al., 2017;

Costanza et al., 2014). Apesar desta desvalorização dos serviços de ecossistema, as

estimativas do seu valor total em 2011 são de 125 biliões de dólares ao ano

(Kubiszeweski et al., 2017; Costanza et al., 2014). Este valor é 2,7 vezes maior que a

estimativa de 1994 (Costanza et al., 2014). Uma outra estimativa do valor total dos

serviços de ecossistema foi realizada por De Groot et al. (2012), através do uso da base

de dados Ecosystem Services Value Datase (ESVD).

Tabela 2- Valor dos serviços de ecossistema por bioma a USD constantes de 2007. (Fonte: Própria baseada nos valores dos autores mencionados)

Autores Costanza et al., 1997 Kubiszewski et al., 2017

Bioma $ /ha/ano em 1994 $ /ha/ano em 2011 Área (ha x 106) em 2011

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A recolha de dados envolveu cerca de 320 publicações com mais de 1350 dados

relativos a 300 localizações. Os valores expressos desta estimativa dos serviços de

ecossistema são realizados a valores constantes de 2007 de dólares internacionais com

consideração pela paridade de poder de compra entre diferentes países, numa lógica de

dólares por hectare por ano (De Groot et al., 2012).

Os valores expressos na tabela 2 refletem a valorização dos serviços de

ecossistema. É possível observar que a área agrícola assim como a área de campo, que

inclui ecossistemas selvagens e ecossistemas geridos pelo Homem, sofreram uma

valoração importante em termos de serviços de ecossistema de 1994 a 2011. Olhando

para os ecossistemas terrestres, em particular as áreas agrícolas, a sua valoração por

hectare está, em 2011, acima da média dos serviços de ecossistemas terrestres. Já os

ecossistemas de campo são os mais expressivos em termos de área e o seu valor por

hectare muito próximo da média dos ecossistemas terrestres. O valor destes serviços de

ecossistema é interconectado com a forma de exploração do território refletindo a sua

qualidade ambiental.

A valoração dos serviços de ecossistema não é algo fácil de realizar pois existem

inúmeros fatores que influenciam a variação do seu valor. Os constrangimentos para uma

valoração mais precisa sobre os serviços de ecossistema prendem-se com cinco fatores:

1)A grande variedade de localizações com diferentes componentes ecológicas e

socioeconómicas; 2)a grande variedade de métodos de avaliação usados; 3) a existência

de uma grande variedade de sub-serviços;4) a dificuldade em isolar os serviços prestados

pelo ecossistema e 5) o facto da recolha de dados refletir um ponto específico no tempo

e no espaço6 (Costanza et al., 2014 ; De Groot et al., 2012).

Comparando a estimativa de Costanza et al., (1997) com a estimativa de De Groot

et al. (2012), o valor médio por hectare é superior para a estimativa mais recente cerca de

6 De Groot et al. (2012) apresentam como um exemplo da variação de valor dos serviços prestados pelos recifes de corais que dizem ser os mais importantes a nível económico devido ao seu valor turístico, com uma média de 96300 dólares em 2007 por hectare ao ano. Contudo a sua variação de preço é enorme indo de 0,1 dólares por hectare ao ano, para recifes remotos pouco visitados, até valores superiores a 1 milhão de dólares por hectare ao ano para zonas de alta densidade turística

Marinho 796 1368 36302

Terrestre 1109 4901 14822

Campo 321 4166 4414

Área Agrícola 126 5567 1664

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oito vezes (Costanza et al., 2014). A variação das estimativas resume-se a três razões

principais: um aumento da estimativa do valor da unidade por hectare, mudanças das

funcionalidades dos ecossistemas e a mudança do valor por hectare devido a alterações

no capital humano e no capital social (Costanza et al., 2014).

É importante referir que a expressão monetária dos serviços de ecossistema não

implica a sua privatização e comodificação para o mercado. A grande maioria destes

serviços são bens públicos puros, não rivais e não exclusivos. A quantificação do valor

destes serviços tem como finalidade informar a sua importância para que a tomada de

decisão por parte dos agentes políticos e económicos seja a mais consciente possível

(Costanza et al., 2017; Schmidt et al., 2016; Costanza et al., 2014; De Groot et al., 2012).

Apesar dos diferentes métodos de avaliação serem mais ou menos precisos, não existe

uma maneira correta de fazer essa avaliação. Existe contudo uma maneira incorrecta que

é não proceder à avaliação do valor dos serviços de ecossistema (Costanza et al., 2017).

A pouca consciência para a importância dos serviços de ecossistema leva alguns

autores a estabelecerem um paralelismo entre a clássica teoria da “tragédia dos comuns”

de Garret Hardin e a subprovisão dos serviços de ecossistema. De forma a perceber mais

a problemática é primeiro necessário esclarecer as diferenças e similitudes entre a teoria

de Hardin e os serviços de ecossistema (Lant et al., 2008).

A teoria de Hardin de 1968 defende que os processos de degradação ambiental

ocorrem em território baldios, ou seja, de livre acesso através do processo de rivalidade

do consumo onde os agentes têm o incentivo de explorar ou adicionar mais elementos

ao ecossistema exacerbando a sua capacidade de carga. Este processo leva

inevitavelmente à degradação ambiental. A busca por proveito individual resulta numa

situação negativa para todos os agentes tornando-se assim num dilema social ( Hardin,

1968).

Neste enquadramento as soluções propostas por Hardin para a regulação da

exploração dos recursos naturais são duas: a privatização ou a gestão pública central (

Hardin, 1968). Mais recentemente esta teoria tem sido criticada pela sua simplicidade

pois não reflete a complexidade do comportamento humano nem dos mecanismos

culturais e institucionais que o Homem dispõe para gerir os recursos naturais. A

administração dos recursos de base comum pode ser efetuada a nível local pelas

populações e ser tão bem gerida ou melhor do que as outras soluções. É importante

realçar a diferença entre a propriedade comum, com regras estabelecidas pelas

comunidades, e propriedade de livre acesso, sem regras estabelecidas, como descrito por

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Hardin. Aliás experiências empíricas comprovam que tanto a administração pública e

privada dos recursos de base comum não é a solução mais eficiente para as populações

locais levando a situações de pobreza e má gestão dos recursos (Holling and Meffe, 1996;

Ostrom et al., 1999).

A maioria dos serviços de ecossistema são bens públicos, com exceção dos

serviços de provisão. A existência dos serviços de ecossistema depende de um fundo de

capital natural que se encontra sobre diversos tipos de propriedade desde a propriedade

privada, pública, comum ou mesmo de livre-acesso (Lant et al 2008). A realidade

apresenta-se muito mais complexa que a teoria de Hardin, contudo não a invalida por

completo.

Os bens privados são caracterizados pela sua rivalidade de consumo, ou seja,

quando consumidos não podem ser utilizados novamente. Outra característica inerente a

este tipo de bens é a sua exclusão pois é possível negar o acesso ao bem se não forem

atingidas determinadas condições. No caso das mercadorias, pode ser visto como fator

de exclusão o seu valor monetário (Lant et al., 2008).

Os bens públicos pelo contrário são caracterizados pela sua não rivalidade e não

exclusão. O acesso a um bem público não pode ser restringido nem o consumo do

mesmo impede outros de usufruírem do bem. Uma consequência da natureza dos bens

públicos é a sua subprovisão, visto que o produtor não é capaz de cobrar o valor total

que é produzido (Lant et al., 2008).

Os serviços de ecossistema providenciam uma externalidade positiva, contudo não

é possível cobrar um valor pelo serviço prestado pois tem uma característica de não

exclusão. A não exclusão contribui para o fenómeno de free riding pois os agentes

beneficiam do serviço sem ter de investir na sua disponibilidade a longo prazo. Numa

situação em que o capital natural se encontra sob propriedade privada, o proprietário não

recebe compensação pelo serviço prestado, retirando assim o incentivo para a

continuação da atividade (Lant et al., 2008). Neste caso em particular o proprietário pode

optar por desenvolver a sua propriedade para fornecer bens privados passíveis de

comercialização, ocorrendo esta situação mesmo que o valor para a sociedade exceda o

ganho económico para o proprietário. A tragédia dos serviços de ecossistema ocorre

quando os bens são não rivais e a propriedade é privada (tabela 3).

Um exemplo da tragédia dos serviços de ecossistema segundo Bjorklund et al.

(1999), ocorreu na Suécia durante a década de 50 e 90 do século XX: a intensificação da

agricultura através do aumento da produção de bens de consumo, ou seja bens rivais,

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diminuiu os serviços de ecossistema providos pela paisagem agrícola. A longo prazo a

diminuição dos serviços de regulação deteriora a condição ambiental levando a uma

diminuição dos serviços de provisionamento, ou seja, os bens consumíveis

Gestão de capital natural sobre vários regimes de propriedade e regimes de uso

Tipo de propriedade

Uso rival e exclusão Uso congestionável e não exclusão

Uso não rival e não exclusão

Propriedade Privada

Bens produzidos para mercados

competitivos Subprovisão Subprovisão

Propriedade Pública (Propriedade Governamental, autoridade regulatória)

Sobre-exploração dos recursos (ex: subsídio à exploração mineira, produção de madeira em floresta nacional)

Bens públicos comuns (ex.

parques, estradas, sistema de esgoto)

Bens públicos puros

Propriedade Comum (regras sobre o uso dos recursos)

Níveis de consumo potencialmente

sustentável

Níveis de consumo potencialmente

sustentável

Níveis de consumo potencialmente

sustentável

Acesso livre (res nullus)

Insustentável: sobre-exploração

Insustentável: sobre-exploração

Uso sustentável

Tabela 3 - Serviços de Ecossistema sobre diferentes esquemas de propriedade (Fonte: Lant et al., 2008)

.

Neste enquadramento podemos comparar esta situação à “tragédia dos comuns”,

que reflete a sobre-exploração dos recursos num regime de propriedade de acesso livre à

“tragédia dos serviços de ecossistema”. Quando o bem é rival ou congestionável e onde

os agentes têm um incentivo para explorar o território ocorre uma sobre-exploração do

ambiente para além da sua capacidade de carga (tabela 3). Na “tragédia dos serviços de

ecossistema” ocorre o oposto às externalidades positivas que são subprovidenciadas

devido ao comportamento individual em busca do aumento de rendimento que

compromete o colectivo (Lant et al 2008).

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A diferença entre os serviços de ecossistema e outros bens públicos como a

educação, abastecimento de água, saneamento e segurança é a existência de leis e

instituições públicas que garantem o aprovisionamento destes últimos. Apesar de

imperfeitos, os mecanismos de regulação pública, são essenciais para a garantia dos bens

públicos. No caso dos serviços de ecossistema esse trabalho ainda se encontra na sua fase

inicial ou ainda não existe. Soluções para este dilema social e ambiental não são fáceis de

implementar e implicam uma revisão do corpo legislativo, incentivos económicos e uma

reorganização do próprio ordenamento do território (Lant et al., 2008).

As atividades florestais, agrícolas e pecuárias são atividades que influenciam

diretamente no capital natural e consequentemente nos seus serviços de ecossistema.

Será possível produzir bens alimentares e ao mesmo tempo proteger a natureza, ao

assegurar os serviços de ecossistema? A agricultura orgânica e os sistemas extensivos de

criação de gado são a forma que mais se aproxima de uma produção que tenta valorizar o

capital natural, pois o rendimento deste tipo de sistemas depende da boa condição

ambiental do ecossistema. Neste tipo de enquadramento a produção pecuária extensiva

ou mista, como forma de apoio à agricultura, desempenha serviços importantes tanto

para o Homem como para a natureza.

Os animais para além de fornecerem alimentos também prestam serviços de

ecossistema importantes. A reciclagem de produtos não comestíveis e posteriormente a

produção de estrume são, por exemplo, essenciais para a produção agrícola. Na Europa

estima-se que 38% da contribuição de nitrogénio no solo provém ainda de estrume

animal (Mottet et al., 2017). Os animais domésticos desempenham um papel importante

em muitos países em desenvolvimento. Nestes países os animais são considerados como

uma forma de riqueza, “um banco em quatro patas”, úteis para tempos de escassez,

trocas comercias e estabelecimento de relações sociais. Os animais providenciam ainda

transporte, força para a aragem do solo, combustível e bens não comestíveis como lã e

couro (Janzen, 2011 pág. 788). A tração animal ainda continua a desempenhar um papel

importante em muitos países. No setor agrícola, no norte de África, 81% da lavra dos

campos ainda continua a ser desempenhada por tração animal (Mottet et al., 2017). A

tração animal é ainda essencial em zonas rurais em vários países em desenvolvimento

como um meio de transporte de bens e pessoas.

O gado é mais do que uma forma de produzir leite, carne e dinheiro ou produtos

para consumo. Ele é uma parte integral de ecossistemas inteiros e parte de toda a

comunidade biótica na qual todos nos inserimos (Janzen, 2011).

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Como mencionado anteriormente, o tipo de propriedade influencia a provisão de

serviços de ecossistema, contudo o comportamento humano e os seus objetivos de

determinado território também podem condicionar os serviços de ecossistema

providenciados. A razão da posse de uma propriedade rural reflete-se na terra em si

assim como na sua gestão (Sorice et al., 2014). Atualmente nos países desenvolvidos as

razões para o uso da terra estão a mudar de uma preferência de produção agrícola para

outras mais relacionadas com amenidades naturais e culturais (Sorice et al., 2014). Estas

mudanças terão necessariamente um impacte na composição dos ecossistemas que se irá

refletir no tipo de serviços prestados pelos ecossistemas7 (Collins et al., 2011).

Tradicionalmente os agricultores e produtores pecuários baseiam a sua atividade na

produção de bens de consumo tendendo a ser mais dependentes dos recursos locais.

Esta atividade confere aos agricultores um conhecimento mais íntimo das condições

locais e quais as melhores técnicas de gestão da terra. Por outro lado, proprietários

orientados para outros fins como lazer, conservação da natureza e atividades culturais

poderão ter uma maior consciência ambiental e maior disponibilidade financeira para

contribuir na gestão da terra, contudo falta-lhes a experiência de gestão do território

(Sorice et al., 2014).

A questão de maior relevância que se levanta é saber qual o impacto que o uso da

propriedade rural tem na oferta de serviços de ecossistema. Perceber se esta mudança no

uso da terra é positiva ou negativa é complexo. Por um lado, a falta de adoção das

melhores práticas de gestão do território por parte dos proprietários orientados para

amenidades culturais e naturais, como a gestão do pasto ou das áreas ripícolas, tornam o

território menos produtivo e resiliente, por outro a menor pressão produtiva

contrabalança o resultado. Os maiores problemas residem na fragmentação da

propriedade e na proliferação de habitações pela paisagem que cria problemas associados

a zonas de maior densidade populacional aumentando assim o consumo de recursos

(Sorice et al., 2014).

3.- GESTÃO ADAPTATIVA DE SISTEMAS PECUÁRIOS EXTENSIVOS

3.1.- FORMAS DE PASTORÍCIA E DEGRADAÇÃO AMBIENTAL

7 No caso em particular do estado do Texas esta mudança de comportamento foi notória entre 1997 e 2007, o número de propriedades agrícolas com menos de 40 hectares aumentou 22%. No mesmo período de tempo o valor da terra aumentou 140% e mais de 849 mil hectares de terras agrícolas foram convertidos em florestas ou outros usos (Sorice et al., 2014; Lund et al., 2017).

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Os ecossistemas de pasto são o resultado de um longo processo evolutivo entre as

comunidades vegetais, animais e a ação do fogo (Teague et al., 2016; Teague et al., 2009;

Frank et al., 1998). O início deste processo teve as suas raízes no período geológico do

Mesozóico tardio. Hoje em dia as áreas de pasto são ecossistemas seminaturais que

ocupam grandes porções de território na África, Asia, Austrália e nas Américas. Estes

ecossistemas providenciam um conjunto de serviços importantes para a regulação do

planeta. Dentro desses serviços podemos enumerar a manutenção de solos estáveis e

produtivos, de água potável, a preservação de comunidades de plantas e de animais que

são a base da economia das comunidades locais (Teague et al., 2009). A Austrália é uma

região do globo excepcional devido à ausência de ungulados nativos. A coevolução de

animais e plantas não se registou até um período mais recente. Comparando a Austrália a

outras regiões do mundo como as savanas africanas ou as pradarias norte americanas

verificamos solos mais áridos e pobres em matéria orgânica. A quando da colonização

europeia da Austrália a introdução de ungulados, oligoquetas e espécies vegetais

fixadoras de nitrogénio, leguminosas em geral, iniciou o processo de formação de solo

rico em carbono em regiões onde a quantidade de precipitação o permitiu (Teague et al.,

2016). Os animais desempenham um papel de regulação da vegetação perpetuando um

equilíbrio e interdependência dentro do ecossistema.

Os grandes ecossistemas de pasto anteriores à domesticação da paisagem eram

caracterizados por um grande número de herbívoros que reagiram constantemente a um

conjunto de mudanças na disponibilidade de vegetação. Nestes ecossistemas os

herbívoros desenvolveram padrões de migração em massa em busca de alimento. Este

comportamento surgiu devido a diversas razões, desde a topografia, variabilidade

climática e a ação predatória de outros animais (Teague et al., 2011). O pasto dos animais

era concentrado, contudo existiam longos períodos de recuperação que permitia a

regeneração da vegetação. A domesticação dos animais veio alterar os seus padrões de

pasto passando a ser o Homem a decidir onde e por quanto tempo dura o pasto em

determinado território.

A gestão do gado é essencial para a manutenção da qualidade ambiental. Uma

gestão mal cuidada pode facilmente esgotar os recursos de um território contudo uma

gestão criteriosa é capaz de manter e melhorar os recursos disponíveis. De forma a

compreendermos a importância de uma gestão adaptativa para uma exploração em

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regime extensivo, primeiro temos de perceber como evoluem os processos que estão na

origem da desertificação, de forma a evitá-la.

O conceito de desertificação é definido como a redução do potencial de

produtividade da terra afetando as atividades económicas envolventes e a biodiversidade

(Reynolds, 2001). O processo de desertificação é complexo, sendo a sua causa uma

interação de vários componentes climáticos, ecológicos e socioeconómicos. O processo

de desertificação é pautado pela existência de fenómenos de degradação do solo, através

da erosão por ação do vento e de água. O aumento da salinidade do solo, a redução da

capacidade de retenção de humidade e o decrescimento da área de vegetação e

produtividade dos solos são fenómenos associados ao processo de desertificação (Costa

et al., 2012). O clima é um dos fatores mais importantes no processo de desertificação

pelos seus impactes na hidrologia dos locais, influenciando o tipo e quantidade de

vegetação presente. Em última análise, o clima dita o próprio uso da terra efetuado pelo

Homem. As atividades humanas insustentáveis exacerbam o problema em ecossistemas

fragilizados como a agricultura intensiva repetitiva, a excessiva recolha de material

lenhoso, desflorestação, excesso de pasto e técnicas de irrigação desadequadas (Reynolds,

2001).

Especula-se que oscilações climáticas no passado tenham dado origem a novas

formas de pastorícia como a transumância e o nomadismo que são formas de adaptação

a um clima mais instável. A migração temporária para um determinado local permitia a

regeneração vegetativa evitando assim a exaustão de recursos.

As sociedades tradicionais que vivem da pastorícia têm um conjunto de saber

empírico essencial de como gerir o seu rebanho em relação aos pastos, a saúde dos

animais, a predação, as condições climatéricas e as determinantes culturais em que estão

inseridos. As regiões áridas e semiáridas onde predomina a pecuária extensiva são

dominadas por espécies herbáceas e arbustivas. As únicas ferramentas de gestão destas

grandes áreas são o fogo e os animais. Nestes ambientes o fator determinante é a falta de

água que varia bastante tanto espacialmente como temporalmente (Weber and Horst,

2011).

Uma forma de repor o potencial de produtividade da terra é efetuar um período de

descanso. Este período pode ter denominações diferentes para designar diversos níveis

temporais: pousio, recuperação e abandono. Estas formas de evitar a desertificação vão

depender das condições bioclimáticas das regiões (Briske et al., 2008).

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O pousio da terra é essencial para garantir a sua produtividade, todavia períodos

demasiado curtos ou longos podem acelerar o processo de desertificação (Weber and

Horst, 2011). Para períodos demasiado longos de descanso a acumulação de matéria

orgânica morta acima do solo impede o desenvolvimento de uma nova camada de pasto

enquanto períodos demasiado curtos de descanso não garantem a regeneração vegetativa.

De forma a garantir um período de recuperação do solo, muitas das sociedades

tradicionais são nómadas ou seminómadas com rotas de pasto de forma a maximizar a

produção animal. Os animais domesticados, em especial o gado ovino, caprino e bovino

constituem a base de muitas culturas pastorícias. A sua cultura e costumes dependem

intrinsecamente dos animais, tendo prosperado por séculos (Teague et al., 2016; Herrero

and Thorton, 2013). Podemos considerar que estas sociedades evoluíram para um estilo

de vida muito além da economia de subsistência tendo padrões complexos de gestão do

território, dos animais e de interações sociais (Weber and Horst, 2011).

Portanto podemos afirmar que as técnicas de gestão destas sociedades, como o

controlo do movimento dos animais, mesmo que rudimentares, são de alguma forma

adaptativas às condicionantes ambientais, permitindo um maior desempenho ambiental e

económico do território.

Segundo Khazanov (1994) muitas das sociedades nómadas estão a substituir o seu

sistema tradicional de pastoreio por um mais sedentário. A exposição mais prolongada

do território à pressão animal contribui para a sua desertificação. Daí verifica-se uma

maior degradação dos ecossistemas associados à produção de gado em regime extensivo

em regiões áridas e semiáridas do mundo durante todo o século XX.

A sedentarização de muitas culturas e a pressão económica para o aumento da

produção de animais ditou o início de um longo processo de degradação em várias

regiões do mundo que culminou na sua desertificação. O pasto excessivo foi uma das

principais causas deste processo de degradação do ambiente devido ao aumento do

número de animais por hectare e à falta de planos de gestão do pasto. Esta situação

afetou negativamente a regeneração vegetativa levando a um processo acelerado de

erosão. O solo exposto e pobre em matéria orgânica perde a sua capacidade hidrológica

aumentando a aridez e impossibilitando o crescimento da flora, perpetuando assim o

ciclo de degradação ambiental (Teague et al., 2009).

Um estudo interessante que demonstra como a intensidade de pasto pode ter um

impacte determinante para o processo de desertificação mesmo em climas temperados

foi realizado no Canadá, mais propriamente na região oeste, caracterizada por grandes

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planícies de pasto onde predomina a espécie festuca campestres. Este ecossistema é gerido

através do pastoreio extensivo de gado bovino. O local foi escolhido para estudar a

relação entre a intensidade de pasto com a capacidade de carga do ambiente a longo

prazo. A recolha de dados começou em 1949 por parte da instituição Canadiana,

Agriculture and Agri-Food Canada.

O local de estudo localiza-se mais concretamente no sudeste de Alberta, 80 km a

noroeste de Lethbridge. A topografia do local varia entre os 1280 e 1420 metros de

altitude relativos ao nível do mar. O Clima é classificado como sub-húmido com uma

média anual de precipitação de 550 mm (Dormaar and Willms, 1998). A área de estudo

foi dividida em várias cercas de forma a influenciar a intensidade de pasto. Cada cerca

contava com 13 vacas adultas e a sua descendência, contudo o tamanho de cada cerca

diferenciava de 65, 32 e 16 ha correspondendo a uma pressão de pasto baixa, alta e muito

alta. O período de pasto em cada cerca tinha a duração de meados de Maio até meados

de Novembro (Dormaar and Willms, 1998).

Em 1992 recolhas de amostras do solo comprovaram que as cercas com altas

intensidades de pasto modificaram a composição do solo. A coloração do solo em

particular na cerca com uma intensidade de pasto muito alta apresentou modificações na

coloração da terra de preto para castanho, modificação do ph de 5,7 para 6,2, perdas de

matéria orgânica no solo, redução da quantidade de fósforo e diminuição da humidade

do solo. Estes indicadores demonstram que a pressão alta de pasto teve impactos

significativos no solo transformando-o num solo típico de um microclima mais árido

(Dormaar and Willms, 1998). A quantidade de solo exposto sem alguma vegetação

registou um aumento de 0 % para 15% no tratamento de alta intensidade de pasto.

Extrapolando esta situação para climas mais áridos e sazonais é expetável que o efeito da

alta intensidade de pasto por períodos prolongados tenha efeitos ainda mais negativos do

que os apresentados nas pradarias canadianas.

A solução encontrada no início do século XX para reverter o processo de

desertificação foi a remoção por completo dos animais a médio e longo prazo destes

ecossistemas, de forma a providenciar um tempo de recuperação. Esta solução, contudo,

teve consequências indesejáveis, como a perda de biodiversidade e a capacidade de

circulação de nutrientes no solo. Os animais são essenciais para a manutenção da

qualidade ambiental em ecossistemas de pasto e a sua ausência prolongada prejudica a

capacidade regenerativa do território. É amplamente reconhecido que para manter a

funcionalidade ecológica e o fluxo de serviços de ecossistema os proprietários de

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explorações extensivas devem evitar qualquer tipo de degradação ecológica (Wessels et

al., 2007; Holechek et al., 2006; Walker, 1995; Milchunas and Lauenroth, 1993;

Oesterheld et al., 1992).

Na maioria dos ecossistemas de pasto, a proliferação de plantas lenhosas causa

problemas no crescimento das plantas herbáceas reduzindo a produção primária e

secundária. Muitos gestores optam pelo fogo como uma forma barata de controlar o seu

crescimento. O uso repetitivo do fogo causa também problemas graves a nível ambiental

desde a degradação do solo, emissões de gases com efeito de estufa e o perigo de

descontrolo, pondo em risco bens e pessoas. O uso correto de uma elevada pressão de

pasto por um curto espaço de tempo poderia controlar na maior parte o problema do

crescimento da vegetação indesejada. O stock ideal de animais ao longo do ano influencia

diretamente a quantidade de vegetação, integridade do solo, os lucros da exploração e a

qualidade do habitat para a vida selvagem (Díaz-Solís et al., 2016; Teague et al., 2009;

Walker, 1995; White and McGinty, 1992).

Fica evidente que o problema em ecossistemas de pasto não são os animais em si

mas as técnicas de gestão que o Homem aplica no território. A sedentarização levou à

perda de práticas nómadas ou seminómadas que apesar de rudimentares serviam como

controlo da pressão de pasto. Sendo estas práticas cada vez menos usadas outras terão de

as substituir de forma a controlar a pressão de pasto, o seu grau de controlo e precisão

sobre as variáveis ambientais também terão de ser maiores, pois a deslocação para outras

áreas não é opção. No próximo subcapítulo iremos analisar novas formas de gestão que

permitem a regeneração e valorização do capital natural dos ecossistemas de pasto.

3.2.- GESTÃO ADAPTATIVA

A gestão adaptativa é um conceito abrangente que designa um conjunto de práticas

que têm em conta vários indicadores ambientais de forma a minimizar riscos e potenciar

a condição ambiental dos ecossistemas. A gestão adaptativa é regida por 5 princípios

fundamentais: 1) Providenciar um pasto de qualidade e quantidade adequada à dieta dos

animais; 2) gerir o pasto de forma a fornecer uma dieta variada, diminuindo assim o

impacto nas plantas mais desejadas; 3) limitar o pasto excessivo da parte aérea das

plantas, de forma a facilitar a retenção e infiltração de água no solo e assim facilitar a

regeneração das plantas; 4) permitir um período de recuperação adequado, que permita a

manutenção do vigor das plantas e 5) planear um programa de pasto de forma a

controlar a pressão animal sobre o ambiente no tempo e no espaço. Estes princípios

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estão interligados a ações operativas no terreno sendo necessário a ação humana para as

regular como providenciar uma recuperação vegetativa adequada, modificar a

distribuição animal, regular a intensidade do pasto e modificar a nutrição e o

comportamento seletivo de alimentação por parte dos animais. É a partir deste quadro de

referência que a atividade pecuária em regime extensivo se deve desenvolver.

Quando o ecossistema em questão é um bem público onde existem várias partes

interessadas é necessário identificar três pontos essenciais de forma a implementar a

gestão adaptativa. Em primeiro lugar é necessário identificar quais os objetivos

partilhados para a gestão do território. O passo seguinte passa por confirmar se a

estratégia de gestão adaptativa tem bases científicas e é aplicável no terreno. Por último, é

necessário desenhar, implementar e monitorizar coletivamente as práticas de gestão

(Briske et al., 2011). A gestão adaptativa colaborativa ou individual não é uma solução

universal para todos os problemas ecológicos, contudo é um mecanismo essencial para

uma maior comunicação entre as partes envolvidas de forma a desenvolverem uma

estratégia de gestão do ecossistema (Ostrom et al., 2007).

Em todo o mundo existem grupos e culturas inteiras que dependem da pastorícia.

A sua sustentabilidade a longo prazo depende da manutenção da boa condição dos

ecossistemas que habitam de modo a manter a sua capacidade produtiva. A produção

extensiva de gado é atrativa para os grandes produtores, pois a relação entre os custos de

mão-de-obra e a área de terra gerida é baixa. De forma a ser viável economicamente, a

produção extensiva necessita de manter ou melhorar as funções biofísicas e os processos

necessários de forma a manter o ecossistema saudável e resiliente (Teague, 2015).

Existe consenso científico que um ecossistema saudável é mais produtivo, estável,

resiliente e oferece mais serviços de ecossistema do que outro que se encontre

desequilibrado. (Teague et al., 2013, 2011; Wessels et al.,, 2007; Milchunas and

Lauenroth, 1993). Os animais para além de serem a base de rendimento das explorações

extensivas desempenham um papel importante no ecossistema. Os serviços de

ecossistema que estes prestam, afetam tanto a paisagem como o próprio bem-estar

humano. Talvez o serviço de ecossistema mais conhecido desempenhado pela pastorícia

dos animais é a gestão da vegetação. A gestão da vegetação através do uso de animais é

uma forma eficaz e barata de controlar o seu crescimento. No caso de países com

elevado risco de incêndio florestal, está provado que o pasto de animais nas faixas de

gestão de material combustível, uma técnica comum de combater a extensão de fogos

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florestais, é uma forma barata e eficaz de limpeza, ajudando assim a prevenir a

propagação de fogos florestais.

A pesquisa realizada por Pardini et al., (2007) comprova que animais são uma

forma eficaz de gerir o crescimento da vegetação. Este estudo decorreu em Nugola na

Toscânia, região central de Itália. A temperatura média anual é de 14,7 C e precipitação

anual média de 958mm e o período estival de Junho a Setembro é propenso ao risco de

incêndio (Pardini et al., 2007). Em 2000 foi criada uma faixa de combustível que se

estende por volta de 2400 m2 numa floresta de carvalhos. Os dados recolhidos do local

de estudo reportam-se ao período de Janeiro de 2001 até Dezembro de 2004. A faixa foi

subdividida em locais de 20x30 metros uns com pasto de animais e locais sem pasto de

animais. O período de pasto dos animais (cavalos) ocorreu por 5 dias de cada mês de

Abril até Agosto de forma a reduzir a matéria orgânica nos períodos críticos do verão.

Foi possível observar uma distinção na quantidade de biomassa entre os locais com

pasto e sem pasto registando-se uma diferença de 32% (tabela 4). A quantidade de

biomassa combustível foi significativamente menor nos locais de pasto assim como a

altura das plantas comprovando a eficiência do uso de animais no controlo da vegetação.

Ao longo dos anos espécies nativas invadiram a faixa de combustíveis aumentando a

média de altura das plantas na faixa de combustível.

Na redução do risco de incêndio os resultados deste estudo foram positivos. O

pasto permitiu reduzir a biomassa da faixa de combustíveis nos períodos críticos de

verão. Durante os quatro anos da experiência não foram encontradas diferenças na

biodiversidade de plantas entre os locais de pasto e de não pasto, contudo é expetável

que no decurso dos anos espécies arbustivas possam invadir os locais onde a pressão

animal é menor (Pardini et al., 2007).

Média de Biomassa Combustível (t /ha/ano) 2001-2004

Primavera Verão Outono Inverno

Cercas com pasto 0,26 0,23 1,45 (sem pasto) 0,99 (sem pasto)

Cercas sem pasto 2,01 0,67 1,63 1,23

Tabela 4 - Média de biomassa combustível (Fonte: Pardini et al., 2007)

O baixo nível de matéria combustível após pasto é explicado não apenas pela

desfoliação das plantas mas também pelo incremento de produção de novas folhas que

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se mantêm verdes por vários meses (Pardini et al., 2007). A intervenção dos animais

nesta experiência pode ser classificada como “pastoreio táctico” devido ao baixo stock e

densidade de animais. Por consequência os animais não conseguem desempenhar um

controlo total do crescimento das plantas nem da invasão de arbustos na faixa de

combustíveis. Para isso acontecer o pasto deveria ser mais intensivo e frequente.

Para além do controlo da vegetação em territórios extensos ou de difícil acesso, a

produção de gado em regime extensivo pode ainda assumir um valor cultural importante

sendo mesmo identitário para algumas sociedades.

De forma a garantir a sustentabilidade da atividade pecuária extensiva a

manutenção de um ecossistema equilibrado é uma prioridade. Para atingir este objetivo é

necessário ter uma visão a longo prazo e definir metas. A gestão adequada dos recursos

tem necessariamente de ser adaptativa para lidar com as dinâmicas ecológicas, sociais e

económicas em constante mutação (Teague et al., 2013; Holling and Meffe, 1996 ).

Uma prática de gestão que tenha uma visão a curto prazo poderá não ter em

atenção as pequenas alterações ambientais que a longo prazo poderão afetar a

sustentabilidade da exploração pecuária (Teague et al., 2013; Knight et al., 1990).

Portanto num regime de produção extensivo, o respeito pelas condições ambientais do

ecossistema em que está inserido é fundamental para o seu sucesso.

A gestão adaptativa necessita de uma base de conhecimentos alargados,

especialmente de campos como a biologia, economia e gestão de forma a responder

adequadamente às condicionantes ambientais, económicas e socias. A prática pecuária

em regime extensivo é desafiante pois os ecossistemas de pastos são heterogéneos

quanto à sua produtividade, quer a nível espacial como temporal, dependendo de um

regime de chuvas variável.

Um bom gestor de uma exploração deve melhorar a condição ambiental da sua

propriedade, pois é dela que dependem os lucros da sua atividade. O melhor uso do solo,

água e das plantas potencia os serviços de ecossistema da exploração, trazendo assim

melhorias para a sociedade como um todo (Teague et al., 2013; Holling and Meffe, 1996).

Para atingir este objetivo é necessário juntar princípios científicos e empíricos, adquiridos

através de anos de experiência no setor, para chegar a uma forma de gestão adaptativa

que potencia a melhoria das condições ambientais através do uso dos animais8.

8 Experiências de longo prazo e grande escala no norte do Texas demonstram que quando as explorações extensivas adotam medidas de gestão adaptativa ocorre uma melhoria das condições biofísicas do ecossistema, traduzida num aumento da produção herbácea de 8,5% e um aumento da cobertura vegetal de 27% (Briske et al., 2011; Teague et al., 2010). Estes resultados comprovam que o estabelecimento de

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Outro aspeto importante da gestão adaptativa é a adequação das práticas e das

espécies animais ou vegetais ao território em questão. A diversidade de espécies num

pasto promove a estabilidade da comunidade vegetal e permite uma maior quantidade de

forragem ao longo do ano. A complexidade da flora potencia a utilização mais eficiente

de recurso porque diferentes plantas necessitam de espaço, luz, água e minerais

diferenciadamente (Schellenberg et al., 2012).

Schellenberg et al., (2012) realizou uma experiência em Saskatchewan no Canadá

durante 2001 e 2004, de forma a determinar que mistura de pasto traria melhores

resultados. Duas misturas de pasto foram predeterminadas. Uma mistura de 7 espécies de

gramíneas nativas adaptadas a climas frios foi selecionada para ser semeada em 8 campos

de 2,1 ha. Em outros 8 campos de tamanho similar foi semeada uma mistura de 14

espécies de gramíneas nativas com espécies adaptadas ao clima frio e espécies adaptadas

a climas mais quentes.

A mistura de 7 espécies produziu mais forragem do que a mistura de 14 espécies

ao longo dos quatro anos (Schellenberg et al., 2012). As espécies adaptadas a climas mais

quentes apenas representavam 7% da cobertura vegetal total da área designada à mistura

das 14 espécies (7 de adaptadas a climas frios e 7 adaptadas a climas quentes). O tempo

de crescimento para estas plantas é muito limitado, restringindo-se aos meses de Agosto

e Setembro. Por essa altura a comunidade de plantas adaptadas a um clima mais frio já se

encontra em pleno desenvolvimento, limitando o crescimento das plantas adaptadas a

um clima mais quente.

Este estudo demonstra a importância da diversidade de espécies assim como a sua

adequação ao regime climático em que se insere. Ao comparar a utilização de espécies

nativas com espécies comerciais de sementes fica demonstrado que as espécies nativas

possuem um maior potencial sustentabilidade a longo prazo (Schellenberg et al., 2012).

A gestão adaptativa é uma ferramenta para a gestão do território todavia não

consegue garantir sucesso, isto porque a gestão de ecossistemas implica invariavelmente

escolhas. A inclusão de animais num ecossistema pode melhorar o conteúdo orgânico do

solo e melhorar a sua qualidade em geral, contudo levará a um aumento das emissões de

gases com efeito de estufa. Os animais poderão aumentar o valor estético e económico

contudo poderá acontecer um decréscimo na disponibilidade de água. As escolhas

efetuadas irão depender dos valores que cada um dá a determinada variável, alguns desses

objetivos e a gestão do território determinam o sistema de gestão de pasto a implementar e não o contrário.

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valores não são necessariamente quantitativos. Estas escolhas não são inteiramente

científicas mas antes uma escolha social baseada nos valores da sociedade e idealmente

instruída pelo conhecimento científico (Janzen, 2011).

3.3.- HOLISTIC MANAGEMENT E CRÍTICAS

As pesquisas sobre o processo de desertificação no início do século XX indicavam

que este problema era provocado pelo excesso de animais no ecossistema. A solução

sugerida era a exclusão de animais dos ecossistemas de pasto, de forma a providenciar

uma recuperação da vegetação através de um descanso da terra prolongado. Na década

de 60 do século XX, Allan Savory um biólogo zimbabuano com funções de gestão do

território africano pretendia compreender quais os fatores que contribuíam para a

degradação e desertificação das áreas naturais em África (Nordborg and Röös, 2016). As

suas conclusões contrariavam a tese que o pasto de animais era a principal causa da

desertificação. Era antes de opinião que este processo ocorria pela falta de animais no

ecossistema em questão, a savana africana.

A teoria de Savory recupera a ideia de André Voisin um bioquímico francês, que

em 1959 referiu a importância do movimento dos animais pois a degradação do pasto

ocorre não pelo número de animais mas sim pelo tempo a que a vegetação é exposta ao

pasto. O mecanismo de tempo de pasto como um fator importante é assim citado pela

primeira vez por André Voisin. Allan Savory desenvolve a ideia de Holistic Management um

método de gestão adaptativa específico que dá enfase à elaboração de um plano de

decisão e dum sistema de pasto rotacional de múltiplas cercas flexível e adaptável ao

meio que tenta imitar os padrões naturais dos animais ruminantes (Nordborg and Röös,

2016, Fairlie, 2010). Para além de oferecer uma compreensão dos processos ecológicos

em ação nos ecossistemas de pasto o trabalho de Savory foca a sua atenção no gestor

destes territórios de forma a providenciar um conjunto de ferramentas como o

estabelecimento de objetivos, plano de decisão e um plano financeiro. Deste modo,

capacita e melhora as qualidades de gestão dos indivíduos, famílias e sociedades que

dependem destes ecossistemas (Briske et al., 2011).

O método de sistema de pasto rotacional por múltiplas cercas proposto por Savory

foi adoptado em várias regiões do mundo desde a América do Norte, América do Sul,

África e Ásia, especialmente em ecossistemas degradados com um historial de processos

de desertificação. Os resultados empíricos demonstram o seu sucesso, tendo o número

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de praticantes deste método aumentado. Porém, a nível académico várias experiências de

campo tiveram resultados ambíguos.

O argumento principal da imperatividade da presença de animais de pasto em

ambientes desta natureza é a sua interdependência evolutiva (Nordborg and Röös, 2016).

A desertificação pode ocorrer pela falta de animais em ambientes áridos e semiáridos

porque a vegetação sem a ação dos herbívoros apenas se decompõe através da oxidação,

tornando assim mais difícil a regeneração vegetativa no ano posterior, devido à existência

de uma camada de vegetação morta.

Segundo a teoria de Savory, na natureza os animais deslocam-se pelo território em

grandes manadas de forma a se protegerem de predadores. A sua presença num

determinado tempo é de curta duração mas de grande número de indivíduos por hectare.

Esta alta densidade e curto espaço de tempo é o ponto essencial que deve ser replicado

pelo gestor, de modo a tirar o máximo partido deste sistema de gestão (Nordborg and

Röös, 2016).

A alta densidade de animais vai permitir que o pasto seja quebrado e compactado

permitindo que a matéria orgânica aérea se decomponha biologicamente no solo. Permite

ainda uma fertilização do solo e a quebra do solo ressequido o que permitirá uma maior

aeração do solo e uma maior penetração de água na época húmida.

O curto espaço de tempo que os animais permanecem em determinado local é um

ponto essencial para evitar uma desfoliação excessiva, que exponha o solo a fatores que o

possam deteriorar como o vento e escorrências excessivas em caso de precipitação

(Teague et al., 2013).

A nível do ecossistema, os animais desempenham um papel importante na

distribuição de nutrientes e minerais no solo. A maior disponibilidade de nutrientes irá

fomentar a atividade microbiana e rizomática das plantas, aumentando desta maneira a

nutrição e a atividade fotossintética das plantas que contribuirá para um aumento da sua

produção (Teague et al., 2013; Briske et al., 2008; Hamilton and Frank, 2001).

Para além de ser um sistema de controlo do pasto, Holistic Management tenta dar aos

gestores de explorações extensivas um método de decisão onde aspetos ambientais,

sociais e económicos são tidos em conta. Um fator a destacar é o modo de vida das

populações que dependem do pastoreio onde existem dinâmicas diferentes de exploração

dos recursos quanto ao seu grau de mobilidade. A título de exemplo, existem várias

formas de adaptação ao meio passando por comunidades sedentárias, transumantes e

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nómadas. Cada uma terá uma forma de exploração do território e de gestão do gado de

acordo com a sua situação específica.

A crítica mais preponderante à teoria de Savory foi realizada no trabalho de Briske

et al. (2008). O grupo de investigadores reviu cerca de 28 estudos e chegaram à conclusão

que o sistema de pasto contínuo e o sistema de pasto rotacional por múltiplas cercas, não

apresentam diferenças estatísticas relevantes9. Os estudos no artigo em questão sobre os

sistemas de pasto reportam normalmente três variáveis quantitativas: a produção vegetal,

a produção animal e a biomassa área das culturas. É reportado que 89% das experiências

de campo (17 de 19) não encontraram diferenças em termos de produção vegetal e de

biomassa aérea entre o sistema de pasto contínuo e o sistema de pasto rotacional com

um nível de densidade do stock semelhantes. Ainda de referir que 57% das experiências

(16 de 28) não verificaram diferenças na produção animal por hectare entre o sistema de

pasto contínuo e o sistema de pasto rotacional (Briske et al., 2008).

Os resultados destas experiências levam a crer que não existe um sistema

claramente superior ao outro em termos de produção vegetal e animal. A necessidade de

um sistema adaptativo que consiga gerir as dinâmicas climáticas, densidade animal e

crescimento das plantas parece ter um maior peso na conservação das áreas de pasto

(Briske et al., 2008).

Teague et al. (2013) critica as conclusões apontadas por Briske et al. (2008)

argumentando que uma investigação científica para ter significado para um gestor de uma

exploração extensiva deve ter em conta várias variáveis de estudo como o solo, a

vegetação, os animais e o fator humano ao longo de um período de tempo considerável.

Uma limitação apontada na maioria dos estudos que analisam os sistemas de pasto é a

escala. As explorações extensivas operam normalmente a uma grande escala, portanto

experiências em pequenas áreas e por curto espaço de tempo não representam processos

ecológicos da paisagem (Teague et al., 2013).

O princípio do debate sobre a eficácia dos diferentes sistemas de pasto pode ser

traçado até a década de 50 do século XX com o simpósio sobre o pasto rotacional na

América do Norte encabeçado por Arthur Sampson (Briske et al., 2011). Estes primeiros

pioneiros das ciências agrónomas baseavam os seus trabalhos num paradigma

Clementsiano, ou seja, a sucessão natural das plantas é conduzida invariavelmente para o

seu clímax após um período de descanso. Os primeiros trabalhos sobre o tema do

sistema de pasto rotacional tinham assim uma base de teoria científica sem

9 Anexos Gráfico I

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48

experimentação de campo sistemática. O debate sobre os sistemas de pasto adensou-se

com a abordagem inovadora de Allan Savory e o seu método de gestão Holístico. Ao

contrário do paradigma Clementsiano em que o foco era o descanso da terra, na teoria de

Savory o papel principal é dado as manadas de herbívoros na recuperação e manutenção

dos ecossistemas.

De forma a determinar qual o melhor sistema de pasto a adoptar é preciso

considerar a grande complexidade da tarefa onde inúmeras variáveis tornam o problema

difícil de resolver. A variabilidade sazonal das condições climáticas intra e inter anual

assim como o histórico da propriedade em termos de uso da terra e a sua composição

passando pelas características genéticas dos animais influenciam os resultados obtidos

(Briske et al., 2008). A determinação da capacidade de carga do ambiente é um ponto

fundamental. Saber qual a quantidade de forragem produzida e quantos animais esta

pode alimentar é essencial contudo este é apenas um fator a ter em consideração. A

distribuição animal, movimentação, período de recuperação após pasto e diminuição do

pasto seletivo são outros fatores que influenciam a condição ecológica de uma

exploração (Teague et al., 2011; Provenza, 2008).

Tudo isto é necessário, porque a vegetação reage de maneira diferenciada

conforme a intensidade do pasto e o stock animal. O pasto intensivo crónico é prejudicial

para crescimento das plantas e em casos mais severos coloca em causa a sua

sobrevivência. Uma redução significativa da parte aérea da planta A composição de

espécies vegetais pode ser manipulada através da intensidade, frequência e a sazonalidade

do pasto.

A qualidade do pasto pode variar devido a vários fatores como a idade dos tecidos

vegetais, tipo de tecido, espécie da planta e a presença de agentes agressivos para a

digestão animal como lignina, sílica, celulose. Plantas com um maior rácio entre

substâncias solúveis para componentes estruturais são as preferidas dos animais. A

preferência animal por certas plantas mais palatáveis é manifestada no pasto sucessivo de

certas zonas em detrimento de outras. Esta situação acontece mesmo que a quantidade

de biomassa seja significativamente inferior nas zonas preferidas, todavia em termos

energéticos o animal é mais eficiente na sua digestão (Briske et al., 2008). O

comportamento seletivo por parte dos animais irá influenciar a degradação das espécies

vegetais mais nutritivas e deixar determinadas áreas do território com o solo exposto,

enquanto outras zonas terão pouca ou nenhuma utilização (Coughenour, 1991). Os

padrões de alimentação dos animais são ainda influenciados por diversos fatores como a

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variação topográfica, distribuição de água, disponibilidade de sais minerais e as interações

sociais entre os herbívoros (Teague et al., 2013; Coughenour,1991).

Desta forma um fator a ter em conta quando se desenha um plano de pastoreio é o

comportamento animal. Os animais são seletivos no seu consumo de plantas preferindo

consumir plantas com maior valor nutricional (Bailey and Provenza 2008; Müller et al.,

2007). A heterogeneidade vegetativa é algo normal num ecossistema de pasto, sendo esta

diversidade determinada por diferenças na escala da exploração, na topografia, solo e a

presença de corpos de água. O problema da pastagem seletiva por parte dos animais é

pouco significativa para explorações pecuárias de pequenas dimensões, contudo para

explorações de grande escala a maior heterogeneidade da comunidade vegetativa ditará

um comportamento mais seletivo dos animais (WallisdeVries et al., 1999). O padrão de

pasto em grandes superfícies é fortemente influenciada pela topografia, acessibilidade de

água e as interações entre as comunidades animais (Coughenour, 1991). A degradação da

condição do ecossistema através do pasto seletivo reduz o seu output de serviços de

ecossistema afetando assim a sustentabilidade económica e social.

Um sistema contínuo de pasto não consegue controlar o comportamento seletivo

animal, portanto a longo prazo provoca um desequilíbrio das condições ambientais entre

determinadas zonas da exploração, reduzindo assim a capacidade de carga do ambiente

em explorações de grandes dimensões. Pelo contrário o uso do sistema rotativo de

múltiplas cercas permite a maximização da área de exploração. A subdivisão da

propriedade facilita a gestão do movimento dos animais podendo assim gerir o local e a

duração do pasto. Torna-se assim possível gerir áreas da exploração que anteriormente

eram pouco utilizadas. Esta técnica permite limitar o comportamento seletivo de

alimentação dos animais permitindo assim um pasto mais uniforme sobre o território.

A diminuição da pressão animal nas zonas preferidas e o aumento dessa pressão

em zonas pouco usadas irá permitir que os animais encontrem mais forragem levando

assim a um aumento da capacidade de carga do ambiente. As diferenças no

comportamento de alimentação nas diferentes técnicas de pasto podem ser caracterizadas

como “eat the best leave the rest” para pasto contínuo e “mix the best with the rest” para as

técnicas de múltiplas cercas (Teague et al., 2013 pág. 704; Shaw et al., 2006).

O grau de controlo das variáveis do ecossistema é proporcional ao número de

cercas. Quanto maior o seu número, mais facilmente será controlar a quantidade de

forragem produzida versus a necessidade de alimentação dos animais. A grande limitação

do uso do método de múltiplas cercas prende-se com a intensidade de gestão necessária.

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O aumento do número de cercas e de rebanhos a circular dentro do sistema rapidamente

atinge graus de complexidade elevados (Teague et al., 2013). A falta de experiência ou

conhecimento de todos os processos envolvidos à escala da paisagem dificulta a

implementação deste tipo de sistema. A variabilidade dos ecossistemas é outro fator que

vai ditar a complexidade do sistema e quais as ferramentas a aplicar de forma a retirar o

maior proveito ambiental, económico e social da exploração.

Briske et al., (2011), críticos dos sistemas rotacionais de pasto admitem que a

maioria dos dados que utilizaram no seu trabalho de 2008 são deliberadamente

estandardizados, portanto sendo o pasto rotativo um sistema adaptativo e flexível, não se

consegue capturar todas as variáveis em jogo.

Tendo em conta as limitações das investigações científicas realizadas sobre os

diferentes sistemas de pasto e as experiências empíricas positivas de vários gestores de

explorações pecuárias extensivas em todo o mundo com sistemas rotacionais de pasto,

são necessários mais estudos de longo prazo realizados ao nível de escala da paisagem10

para determinar a sua eficiência (tabela 5). Uma das razões para o afastamento das

experiências científicas e das experiências empíricas positivas reportadas pelos gestores

prende-se com os objetivos a atingir. Enquanto que nas experiências científicas o

objetivo é segregar variáveis de forma a compreender a sua relação com o meio, nas

explorações comerciais que adoptam praticas de gestão em linha com o Holistic

Management o sistema de pasto tem como objetivo obter o melhor resultado possível a

nível ambiental e consequentemente económico (Teague, 2015; Teague et al., 2013). A

acrescentar ao problema, algumas mudanças de gestão só são refletidas passados vários

anos ou mesmo décadas como é o caso do conteúdo orgânico do solo. Um sistema de

pasto pensado em aumentar o conteúdo orgânico do seu solo só terá uma diferença

expressiva passado uma década. Este longo espaço de tempo torna difícil a

experimentação científica sendo que o tempo normal para experiências de campo ronda

os 2 a 3 anos (Teague, 2015).

De forma a capturar as formas de gestão praticadas em explorações pecuárias

comerciais, as experiências científicas devem implementar o sistema rotacional de cercas

múltiplas numa escala ao nível da paisagem, onde o movimento dos animais é planeado

de forma a gerar o melhor resultado em termos de produtividade vegetal e animal. A

gestão adaptativa dos recursos neste quadro potenciará os serviços de ecossistema, os

10 Escala da paisagem refere-se a uma grande extensão de território que engloba parte ou totalmente a paisagem onde se insere, a exploração pecuária neste caso em particular.

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proveitos económicos e bem-estar social no longo prazo (Teague et al., 2013). Só neste

enquadramento uma comparação entre os vários sistemas de pasto com os mesmos

objetivos fará sentido, de forma a obter uma comparação significativa. Uma forma de

tentar minimizar a distância entre as experiências científicas e o conhecimento local seria

uma colaboração mais estreita na adoção de práticas de gestão que reflitam as práticas de

cada exploração (Teague, 2015, Janzen, 2011).

Uma experiência de campo que tenta aproximar a prática empírica das explorações

extensivas com o conhecimento académico foi realizada por Teague et al., (2011) no

Norte do Texas11. Nesta experiência foram comparados diferentes sistemas de gestão do

pasto: o sistema rotativo de múltiplas cercas de alta densidade, o sistema contínuo de alta

densidade de pasto, o sistema contínuo de baixa densidade de pasto e uma área de

exclusão (figura 2).

Figura 2- Sistemas de Pasto e relação com a possível densidade animal (Fonte: Elaboração Própria)

O estudo foi realizado em três locais diferentes para cada um dos sistemas de pasto

sendo que a prática de gestão do pasto já era aplicada 9 anos antes da realização da

11 A região do Norte do Texas é caracterizada por um clima continental com uma média 220 dias sem formação de geada. A média de temperatura anual é de 18,1ºC e a precipitação anual é de 820mm. A altitude varia entre os 300 e 330 metros. A paisagem corresponde a uma pradaria norte americana típica. A vegetação é composta maioritariamente por espécies herbáceas altas e alguma vegetação lenhosa junto dos cursos de água. O solo na região é demasiado fino para suportar a agricultura, sendo dominado por

vegetação nativa utilizada para a alimentação animal (Teague et al., 2011).

Sistemas de Pasto

Rotacional (existência

simultâneas de áreas de pasto e de

pousio)

Baixa Alta

Exclusão (não ocorre pasto)

apenas ocorre em períodos

excepcionais

Contínuo (não existe pousio)

Baixa

Densidade Animal (stock)

Alta

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amostragem. Todas as explorações visadas tinham uma dimensão que variava entre os

1200 ha e os 4000 ha estando dentro dos parâmetros da região em questão (Teague et al.,

2011). De forma a manter o máximo de homogeneidade possível, as explorações em

cada região eram vizinhas, excepto para duas que distavam 15 km e 10 km das

propriedades mais próximas.

A gestão do pasto utilizando o sistema rotacional de múltiplas cercas foi adaptativa

utilizando uma intensidade de pasto baixa a moderada dependendo das condições

ecológicas12. Em cada exploração, duas amostras de solo foram retiradas, os sítios de

amostragem foram selecionados pelos especialistas do instituto Natural Resource

Conservation Service do Texas. Todas as amostras tiveram uma distância do ponto de água

mais próximo de 200-400 metros de forma a identificar a média da intensidade do pasto.

A distância do ponto de água é importante pois está comprovado que a intensidade de

pasto diminui acentuadamente para distâncias maiores que 1 km (Teague et al., 2011).

Nas amostras de solo foram ainda realizadas medições para determinar a densidade do

solo, resistência à penetração, estabilidade do agregado, condutividade hidráulica e

filtração de água de forma a determinar o impacto do sistema de pasto no solo.

Os resultados da amostragem demonstraram que a humidade no solo na primeira

camada até aos 300 mm de profundidade era menor nas explorações que utilizavam o

sistema de pasto contínuo de alta densidade. A perda de solo através de lixiviação foi

menor no sistema de pasto contínuo de baixa densidade enquanto que a estratégia com

maior perda de sedimentos foi o sistema de pasto contínuo de alta densidade.

O sistema rotacional de múltiplas cercas demonstrou juntamente com os terrenos

em exclusão de pasto ter mais matéria orgânica no solo na primeira camada de solo até

aos 300 mm de profundidade. Em profundidades mais pronunciadas não foram

encontradas diferenças entre as explorações. O total de biomassa bacterial do solo entre

os diferentes sistemas de pasto não registou diferenças contudo a biomassa fúngica

registou diferenças significativas tendo, no sistema rotacional de múltiplas cercas,

registado o maior valor. O menor valor de atividade fúngica foi registado no sistema de

pasto contínuo de alta densidade (Teague et al., 2011). A quantidade de solo exposto foi

semelhante entre as explorações que usam um dos sistemas de pasto, cerca de 0,05 %.

Todavia os valores mais elevados foram detetados nos sistemas de pasto contínuo. O

12

Normalmente o período de pasto numa determinada cerca demorava de 1 a 3 dias, seguindo-se um período de descanso de 30 a 50 dias. Ao longo do ano a mesma cerca era desfoliada 2 vezes durante a época de crescimento vegetativo antes da fase reprodutiva das plantas. No inverno o pasto foi mais intensivo de forma a remover através do pisotear da vegetação para que no início da primavera não existisse vegetação morta a bloquear a luz solar (Teague et al., 2011).

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sistema de múltiplas cercas e de exclusão de pasto apresentaram os valores mais baixos

de solo exposto e não registaram grandes diferenças entre si.

Os diferentes sistemas de pasto produziram efeitos interessantes na composição da

vegetação. No sistema contínuo de alta densidade, a vegetação é maioritariamente

composta por espécies herbáceas curtas e arbustos perenes. A vegetação no sistema

contínuo de baixa densidade é, na sua maioria, composto por comunidades herbáceas

curtas e longas. No sistema rotacional existe uma predominância significativa de

herbáceas longas com baixa prevalência de arbustos perenes à semelhança do sistema de

exclusão do pasto (Teague et al., 2011). Os níveis totais de biomassa são mais elevados

no sistema rotacional de pasto e exclusão seguidos pelo sistema contínuo de baixa

densidade e por último o sistema contínuo de alta densidade. É provável que as

diferenças no solo demonstradas no sistema rotacional de pasto e na exclusão de pasto se

devam à presença de comunidades herbáceas altas, dado que o seu sistema radicular mais

profundo permite a esta planta aceder a mais nutriente e água, e por sua vez, a maior

quantidade de matéria orgânica favorece a retenção de água e o ciclo de nutrientes

(Teague et al., 2011).

É possível afirmar que o sistema rotacional de múltiplas cercas foi o sistema mais

produtivo do ponto de vista ambiental e económico. Este sistema conseguiu uma maior

produção de biomassa disponível para o consumo animal do que o sistema contínuo de

baixa densidade, mesmo utilizando uma maior densidade de animais por hectare, 27 para

14 respetivamente. Parte deste resultado positivo deve-se ao maior controlo do

comportamento seletivo dos animais sendo possível gerir melhor a desfoliação e o tempo

de descanso do pasto permitindo ainda reagir melhor a qualquer stress ambiental que

possa ocorrer. O pasto pouco frequente e a deposição de matéria orgânica providenciada

pelos animais é importante na formação de um solo mais rico. A presença de matéria

orgânica no solo e uma comunidade vegetal estabelecida promove a atividade microbiana

no solo melhorando o ciclo de nutrientes contribuindo assim para o desempenho

superior do sistema de pasto rotacional.

Um outro aspeto pouco abordado pelos estudos científicos é a abordagem dos

gestores e como as suas preocupações ou falta delas impactam o meio ambiente. Os

trabalhos de Arguello et al. (2010) e Fergunson et al. (2013) demonstram como uma

maior preocupação ambiental influencia o desempenho das explorações extensivas. Estes

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estudos tiveram por base o mesmo local de estudo e produtores pecuários13. De forma a

conhecer as práticas de gestão dos produtores realizaram-se inquéritos a 25 produtores

de gado com o intuito de conhecer as diferenças entre as práticas convencionais das

práticas dos produtores que aplicam os métodos holísticos. O estudo contou com a

participação de 18 produtores extensivos convencionais e 7 produtores que aplicam as

práticas de Holistic Management. De forma a controlar a variação de propriedade apenas

foram tidas em conta propriedades com áreas semelhantes. Dos dois grupos foram

apenas selecionados 7 produtores holísticos e 7 produtores convencionais (Ferguson et

al., 2013; Arguello et al., 2010). As explorações holísticas tendem a ser maiores com

maior diversidade na composição do pasto e dedicam uma maior área para a cobertura

florestal. Em termos de gestão os proprietários holísticos empregam o uso de vedações

elétricas, tem maior número de subdivisões, aplicam maior pressão de pasto e tempo de

recuperação, usam menos pesticidas, o recurso ao fogo é menos frequente e a

mortalidade animal é menor (Ferguson et al., 2013). Nas propriedades holísticas o

número médio de divisões do terreno é 7 vezes superior aos proprietários com sistemas

convencionais.

Ambos os estudos recolheram amostragens do solo e do pasto tendo decorrido

durante o período de Maio a Agosto de 2007, os primeiros meses da estação das chuvas

de forma a obter o máximo de matéria orgânica possível. Realizaram-se ainda inquéritos

que decorram em 2007, reportando-se a dados relativos ao ano anterior sobre a

produtividade e as práticas de gestão das operações pecuárias (Ferguson et al., 2013;

Arguello et al., 2010).

No estudo de Arguello et al., (2010) a forma usada para determinar qual o sistema

de produção mais eficiente em termos de produtividade, sustentabilidade e impacte

ambiental foi através do índice: Emergy Sustainability Index (ESI). Este índice tem em conta

todos os tipos de energia utilizados num ecossistema, ou seja, desde a energia solar,

energia fóssil utilizadas nas propriedades, energia da matéria orgânica e dos próprios

13

O sistema extensivo de criação de gado na América Latina desenvolve-se normalmente em grandes monoculturas de espécies herbáceas, um modelo de produção pouco adaptativo para a região que experiencia secas sazonais. Estes pastos não nativos são frágeis exibindo uma baixa produtividade e são suscetíveis a degradação do solo por uma alta intensidade de pasto assim como uma baixa intensidade de pasto (Ferguson et al., 2013). O local de estudos decorreu na zona de Frailesca mais concretamente em Chiapas no sul do México. O clima é descrito como quente e húmido mas é pautado por uma época seca. A temperatura anual ronda os 24,9ºC e a precipitação anual é de 1168 mm ao ano. A área da propriedade dos selecionados varia entre os 6 hectares e os 170 hectares sendo que 63% a 100% da propriedade é composta por pasto (Arguello et al., 2010). Em todas as propriedades o gado pasta durante 6 horas e recebe alimento suplementar na época seca. A maioria das explorações típicas na região produzem tanto carne como leite e as explorações visadas no estudo demonstram esta tendência, contudo as diferenças de gestão entre os dois grupos variam.

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processos naturais de transformação de energia (Arguello et al., 2010). A avaliação da

sustentabilidade através do conceito de emergia é realizada a partir da emergia solar (sej

joules equivalentes solares). Aplicando este conceito à gestão de uma exploração

pecuária, aquela que utilizar menos joules equivalentes solares de forma a produzir os

bens desejados é a mais eficiente e sustentável. Os produtos ou serviços são calculados

por unidades multiplicadoras de energia e pelos rácios de conversão, as transformidades.

Posteriormente este valor de emergia de determinado produto e serviço é multiplicado

pela sua massa e por unidades monetárias. Um exemplo hipotético seria, 100 mil sej são

necessários para produzir 2kg de carne que tem um valor no mercado de 5 unidades

monetárias.

Os resultados demonstram que os sistemas holísticos têm uma média de ESI duas

vezes maior que os produtores convencionais. A emergia relativa à produtividade

também se revelou superior para os produtores holísticos rondando os 30%. A menor

dependência de inputs externos nas propriedades holísticas pode explicar a sua maior

eficiência a nível da emergia. A mortalidade de bezerros em sistemas holísticos também

se revelou mais baixa do que os reportados pelos produtores convencionais, cerca de

66% (Arguello et al., 2010).

Já no trabalho de Ferguson et al., (2013) a forma utilizada para determinar quais as

explorações que detinham as práticas mais sustentáveis foi realizada através do indicador,

Organic Conversion Index (OCI). Este indicador combina 10 variáveis diferentes, passando

pela qualidade do alimento dos animais, gestão do pasto, controlo de infestantes,

controlo de pestes até à qualidade de vida dos animais. O indicador OCI é baseado em

standards internacionais de produção orgânica (UE, 1991; IFOAM, 2014).

Os resultados do indicador OCI relativo aos produtores holísticos ficaram nos

81,8% enquanto os produtores convencionais ficaram pelos 32,1% (Ferguson et al.,

2013). A análise efetuada demonstrou que os produtores holísticos tiveram resultados

mais elevados e menos variáveis. Um fator a destacar é a composição da comunidade

vegetal que entre os dois grupos difere consideravelmente. Enquanto os produtores

convencionais baseiam a sua produção em monoculturas, os produtores holísticos

praticam policultura com leguminosas. A nutrição animal nas explorações convencionais

é suplementada com a compra de rações. Já no caso dos produtores holísticos a

suplementação é efetuada com os recursos da própria exploração como resíduos

agrícolas e grãos de soja plantados nas explorações. A composição química do solo

também não apresentou diferenças, contudo a presença microbiana e de invertebrados,

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mais especificamente oligoquetas, foi significativamente mais elevada no grupo dos

produtores holísticos.

Apesar do indicador OCI demonstrar que em termos de sustentabilidade a

produção holística supera a produção convencional, os resultados devem ser tomados

com precaução. Existem variáveis, como a maior área das explorações holísticas

relativamente as explorações convencionais, que distorcem o resultado. O nível de

instrução no grupo holístico é maior, em média 2,5 anos superior em termos de educação

formal. Outro fator a ter em consideração é a existência de contactos no grupo holístico

com o poder político (Ferguson et al., 2013). As condicionantes apresentadas podem

influenciar o resultado final mas dificilmente o alteram na sua essência.

Relativamente aos inquéritos as diferentes práticas de gestão tornaram-se

evidentes. Os produtores holísticos reportaram maiores preocupações com a

biodiversidade tanto de animais como de plantas nas suas propriedades. Aqueles

produtores praticantes de Holistic Management com área florestal demonstraram interesse

no uso produtivo da mesma. É importante ressalvar que estas observações são apenas as

reportadas pelos produtores de gado portanto estes resultados demonstram a sua

consciência para a importância da biodiversidade. Ambos os grupos utilizam espécies

animais adaptadas à região, não existindo diferenças significativas (Ferguson et al., 2013;

Arguello et al., 2010).

A conversão de um sistema convencional para um sistema holístico teria um

impacto positivo a nível ambiental sem prejudicar na maioria os níveis de produção de

gado e leite, contudo para propriedades de menor dimensão com menos de 15 hectares

sem o uso de agro-químicos e fertilizantes os níveis de produção declinariam (Arguello et

al., 2010).

Os sistemas de pasto podem ainda contribuir para a reabilitação de solos

previamente exauridos e degradados. Uma experiência realizada por Chaplot et al. (2016)

analisou o potencial de diferentes sistemas de pasto e de descanso na reabilitação do

solo 14 . A experiência utilizou uma parcela de terreno declivoso de 30x50 m2 com

propriedades do solo semelhantes mas com diversos níveis de conservação,

negativamente relacionados com a altitude da encosta.

14 A experiência teve lugar Potshini, uma localidade a 10 km de Bergville na província de KwaZulu-Natal na África do Sul O regime climático da região é caracterizado por verões quentes e húmidos e invernos frios e secos. A média anual de precipitação é de 684mm e a média de temperatura de 13ºC, classificando-se como um clima árido de savana. A topografia do local pode ser descrita como um planalto que varia de 1080 a 1455m com um gradiente de 8%. O tipo de solo predominante é arenoso e argiloso. A presença vegetal é caracterizada pelas espécies Hyparrhenia hirta e Sporobolus africanu.

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O estudo contou com diferentes ocupações da terra como o pasto contínuo, pasto

rotacional, exclusão, exclusão com arragem, exclusão com fertilização e pasto contínuo

com queima anual (Figura 2). De referir que durante o período de 2011-2013, no qual

decorreu este estudo. a média de precipitação ficou 57% abaixo da média impactando

negativamente a produção de biomassa.

O sistema de pasto rotacional e a exclusão com fertilização provaram ter os

melhores resultados na reabilitação de solos degradados. A adição de nutrientes no solo é

o principal fator da reabilitação de ecossistemas como solos exauridos (Chaplot et al.,

2016). O sistema rotacional de pasto teve os melhores resultados em solos

intermediamente degradados enquanto que a exclusão com fertilização teve os melhores

desempenhos em solos muito degradados. Uma explicação para os fracos resultados de

sistema rotacional em solos muito degradados é o comportamento animal que tenta

evitar solos sem vegetação e muito compactados (Chaplot et al., 2016). O aumento da

produção de biomassa induz o aumento de sequestro de carbono por parte do solo

contribuindo para a mitigação ambiental a nível global.

O impacte dos diferentes sistemas de pasto na vida selvagem é ainda pouco

conhecido e muitos dos estudos realizados apenas incidem numa espécie concreta

providenciando assim uma imagem incompleta do ecossistema (Golding and Dreitz,

2017).

O estudo de Golding and Dreitz, (2017) compara as diferentes comunidades de

aves existentes em dois sistemas de pasto a fim de perceber a importância dos diferentes

sistemas de pasto para a vida selvagem foram selecionados dois esquemas de pasto

diferentes15.

O sistema rotativo nesta experiência envolveu um grande período de descanso

entre pastagem, 15-18 meses de descanso e apenas 2-3 meses de pasto. O outro esquema

de pasto é mais intensivo sendo o pasto utilizado anualmente de Maio a Novembro de

forma contínua (Golding and Dreitz, 2017). Foram selecionadas 8 espécies de aves

representantes das várias especializações em relação ao uso das espécies vegetais (gráfico

6). Fica comprovado neste estudo que a abundância de determinadas espécies de aves

varia conforme o sistema de pasto utilizado. A divergência pode ser explicada pela

relação próxima entre determinadas espécies de aves e de plantas. O pasto mais

15 O estudo realizou-se em Golden Valley e Musselshell em Montana, Estados Unidos da América. A área de estudo é árida com uma precipitação anual de 360 mm com uma temperatura média de -11ºC em Janeiro e 30ºC em Julho. A área selecionada é importante do ponto de vista ambiental pois é o habitat de uma espécie de arbusto nativo dos EUA, a Artemisia tridentata, determinante na nidificação das aves

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frequente não permite o desenvolvimento de grandes áreas de arbusto, impactando a

diversidade faunística. Do ponto de vista da conservação da natureza de forma a obter

uma comunidade saudável de aves, a implementação de um sistema misto em mosaico

(áreas de pasto contínuo e áreas de pasto rotacional) parece oferecer os melhores

resultados em termos de biodiversidade de aves no ecossistema em questão (Golding and

Dreitz, 2017).

O uso criterioso de um sistema de pasto para além de permitir uma melhoria das

condições ambientais condiciona as emissões de dióxido de carbono por parte dos

animais.

Gráfico 6 - Densidade populacional de aves de acordo com o sistema de pasto (Fonte: Golding and Dreitz, 2017).

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No estudo de Alemu et al. (2017) é avaliado o impacto de diferentes sistemas de

pasto na intensidade de emissão de gases de efeito de estufa (Kg CO2e Kg/Animal) nas

pradarias Canadianas16.

A avaliação da emissão de gases ocorreu através de uma análise do ciclo de vida

durante um período de 8 anos, o necessário para a substituição dos animais em idade

reprodutiva pela sua descendência, numa quinta hipotética com stock de animais de 120

vacas, 4 touros e a sua descendência. As quatro variáveis de gestão em estudo são as

seguintes: pasto contínuo de baixa densidade (LC), pasto contínuo de alta densidade

(HC), pasto contínuo baixa densidade para progenitoras-crias e rotação a uma densidade

média para os restantes animais (LCMR) e por último pasto contínuo pesado para

progenitoras-crias e rotação a uma densidade média para os restantes (HCMR) (figura 2).

Dentro da análise do ciclo de vida da quinta hipotética foram consideradas todas as

emissões relacionadas com a produção de alimento para os animais assim como as

emissões dos próprios. Contudo todas a emissões relacionadas com o transporte dos

animais para o matadouro e posterior transporte para o consumidor foram excluídas,

assim como emissões relacionadas com o fabrico de maquinaria e construção de edifícios

(Alemu et al., 2017).

Os dados relativos à produção de gado foram baseados em estudos de longa

duração estabelecidos em 1949 pelas autoridades Canadianas em Stavely, Alberta, Canadá.

Baseando-se nestes estudos a capacidade de carga do ambiente considerada para as

pradarias canadianas varia entre 1-1,6 animais por hectare.

A estimativa da emissão de gases com efeito de estufa foi realizada através do

modelo Holos Research. O programa HOLOS é um modelo empírico baseado na

metodologia do Painel Internacional para as Alterações Climáticas (IPCC) modificado

para representar o sistema de produção Canadiano.

Verificou-se que as emissões totais de gases de efeito de estufa foram superiores

para as operações com sistemas de pasto leve comparativamente aos valores com formas

de gestão onde o pasto é mais intensivo. As emissões foram 10,2% maiores em sistemas

de pasto contínuo leve do que em sistemas de pasto contínuo pesado. Nos esquemas

onde existe rotação, a diferença entre os sistemas de pasto leve e pesado ficou por 7,5%

(Alemu et al.,2017). A diferença entre os sistemas com e sem rotação não é expressiva

sendo menor que 3% na emissão de gases com efeito de estufa. As principais fontes de

16

Concretamente em Vulcan County no sudoeste de Alberta. O clima da região caracteriza-se como temperado subhumído com verões suaves e invernos rigorosos, a precipitação anual é de 502 mm e a temperatura média na época de pasto varia entre os 11,6ºC e os 5,5 ºC.

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60

emissão de gases com efeito de estufa, independente do esquema de pasto, são, em

primeiro lugar, a fermentação entérica com 67-68% do total das emissões. Em segundo

lugar, aparecem emissões relacionadas com a decomposição do estrume animal

contabilizando 14-16% para o óxido nitroso e 9-10% para metano (Alemu et al.,2017).

Comparando os sistemas de pasto com maior densidade animal com os sistemas de

pasto com menor densidade animal é reportado que as emissões de metano são 7-15%

mais baixas nos sistemas de alta densidade animal. A razão para isso prende-se com a

maior qualidade e digestibilidade do pasto observado em sistemas de pasto pesado

(Alemu et al.,2017).

Estes resultados mostram a importância da qualidade da alimentação animal na

redução das emissões de gases associados ao setor pecuário.

Os requerimentos de terra também apontam para um uso mais eficiente de

esquemas de pasto mais pesado. O cenário de pasto contínuo leve requer mais 35% de

terra de pasto do que o esquema contínuo pesado para produzir a mesma quantidade de

carne. No caso dos esquemas rotacionais o sistema de pasto leve requer mais 26% de

terra (Alemu et al., 2017). Este uso mais eficiente a longo prazo pode não se registar pois

o uso mais intensivo da terra sem uma monitorização adequada pode facilmente levar a

processos de degradação do ecossistema.

Ao introduzir a sequestro de carbono do solo as emissões totais de gases com

efeito de estufa diminuíram 12-25% por cabeça de gado. A maior redução foi observada

nos sistemas de pasto leve e leve com rotação com uma redução de 22% e 24%. O

sequestro de carbono é superior nestes sistemas devido a dois fatores: a maior

disponibilidade de terra e uma maior eficiência do solo em sequestrar carbono.

Apesar das vantagens demonstradas do sistema rotacional na limitação do

comportamento seletivo dos animais e na recuperação de solos exauridos o debate

científico sobre qual sistema é superior continua. O enraizamento do debate sobre os

sistemas de pasto em particular o esquema rotacional advém da discrepância entre as

diversas experiências empíricas de gestão do território sobre este sistema com resultados

positivos e as experiências científicas com resultados ambíguos. A ambiguidade dos

resultados poderá ser explicada pelos ambientes variáveis em que são realizados as

experiências e a exclusão da componente humana.

As experiências de campo de forma a isolar fatores ecológicos são intrinsecamente

protocolos rígidos e não permitem a variedade de ações que podem ser implementadas

num contexto de variação do ecossistema. Assim as experiências científicas podem

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61

excluir a componente humana da gestão de ecossistemas complexos retirando o

conhecimento, interpretação e capacidade de decisão sobre qual a melhor estratégia a

tomar num determinado momento. A ação do Homem na gestão dos ecossistemas de

pasto não é totalmente antecipada pelas experiências cientificas, daí ser possível existir

uma dicotomia entre o conhecimento empírico dos gestores de gado e do conhecimento

académico.

Autor Localização Anos de Estudo Escala Dados

Climáticos Resultados

Teague et al. (2011)

EUA, Texas 9 1200 - 4000 ha Temperatura média anual:

18,1ºC

O sistema rotacional de múltiplas cercas foi o

sistema mais produtivo do ponto de vista

ambiental e económico.

Arguello et al.

(2010)

México, Chiapas

1 6 - 170 ha

Temperatura média anual:

24,9ºC Precipitação

anual: 1168 mm

O sistema rotacional foi mais eficiente em termos de emergia

Fergunson et al.

(2013)

México, Chiapas

1 6 - 170 ha

Temperatura média anual:

24,9ºC Precipitação

anual: 1168 mm

Em termos de sustentabilidade a produção holística supera a produção

convencional

Chaplot et al. (2016)

África do Sul,

KwaZulu-Natal

2 1500 m2

Temperatura média anual:

13ºC Precipitação

anual: 684 mm

O sistema de pasto rotacional e a exclusão

com fertilização provaram ter os

melhores resultados na reabilitação de solos

degradados

Golding and

Dreitz, (2017)

EUA, Montana

2 Amostras de

25 ha

Temperatura média anual:

15,4ºC Precipitação

anual: 360 mm

Do ponto de vista da conservação da natureza

um sistema misto em mosaico os melhores

resultados

Alemu et al. (2017)

Canadá, Alberta

8 441 - 463 ha hipotéticos

Temperatura média anual:

15,4ºC Precipitação

anual: 360 mm

Comparando os sistemas de pasto com maior densidade animal

com os sistemas de pasto com menor densidade animal é reportado que as

emissões de metano são 7-15% mais baixas nos

sistemas de alta densidade animal

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62

Tabela 5- Sistematização das experiências de campo citadas ao longo do Capítulo

(Fonte: Elaboração própria)

A discussão sobre os sistemas de pasto revela um problema de fundo da prática

científica atual no que respeita a problemas complexos com várias variáveis. A aplicação

de um modelo rígido a um problema complexo com a gestão de um ecossistema não só é

reducionista como tende a exagerar a força das estimativas do modelo em questão

(Briske et al., 2011). Mesmo na presença de um grande conhecimento sobre as funções

ecológicas de um determinado local este apenas representa uma parte do conhecimento

necessário para a gestão eficiente do território.

Um estudo que documenta a importância do plano de decisão da gestão holística

em período de crise é o estudo de McLachlan et al. (2008) sobre a adaptação dos

produtores canadianos ao surto de encefalopatia espongiforme bovina (EEB). Em 2003

foi documentado o surto, dois anos mais tarde os custos totais com o controlo da doença

ultrapassaram os 7 mil milhões de dólares canadianos. Durante o período de crise

verificou-se uma queda de 33% no rendimento das produções pecuárias de bovinos

(Mitura and Di Pietro, 2004).

O estudo de McLachlan et al., (2008) pretendeu descobrir as diferenças entre

produtores convencionais e produtores holísticos e qual dos sistemas era mais vulnerável

perante os desafios que a EEB apresentou para o setor pecuário. A vulnerabilidade é

definida como a sensibilidade a uma exposição adversa, o sistema mais eficaz seria aquele

mais resiliente, capaz de se adaptar e recuperar dessa condição.

A recolha de dados envolveu a realização de inquéritos efetuados em Fevereiro de

200617. Os participantes foram divididos em dois grupos produtores convencionais e

produtores holísticos sendo questionados em tópicos diversos que incluíam questões

ambientais, sociais e económicas. O estudo contou com 315 questionários completos de

produtores holísticos e 1470 de produtores convencionais, totalizando com 1785

questionários. A taxa de resposta ao questionário rondou os 33% (McLachlan et al.,

2008).

17 O estudo abrangeu as províncias de Manitoba, Saskatchewan e Alberta. O clima destas regiões é

caracterizado por invernos rigorosos com médias mínimas de -9.4ºC e verões curtos com médias máximas

de 16.1ºC. A precipitação média varia regionalmente entre os 250mm e os 700mm (McLachlan et al.,

2008).

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63

Ambos os grupos concordam que o risco de saúde pública apresentado pela EEB é

baixo e que esta doença continuará a apresentar desafios no futuro (McLachlan et al.,

2008). O grupo de produtores convencionais demonstrou mais apreensão sobre o futuro

e os potenciais impactos negativos na sociedade. Os níveis de ansiedade do grupo

holístico revelaram-se menores refletindo o sistema de planeamento que permite uma

maior adaptabilidade a variáveis em constante mudança. Revelador desta menor

ansiedade é o questionário do grupo praticante de Holistic Management nº199 que refere

“A definição de objetivos e a frequente monitorização permite-nos questionar com mais

confiança ideias prévias e realizar as mudanças necessárias de forma a adaptar

rapidamente. Agora conseguimos agir mais do que simplesmente reagir” (McLachlan et

al., 2008, pág. 310).

Existem diferenças em termos de adaptação entre indivíduos de ambos os grupos,

aqueles com maior sentido de comunidade tem uma maior resiliência aos desafios

apresentados pela EEB (McLachlan et al., 2008). Dentro do grupo de produtores

holísticos existem quatro variáveis que explicam o sucesso da sua adaptabilidade: ser

membro de um clube de produtores holísticos, a dimensão da propriedade, diversidade

de culturas agrícolas e a idade do produtor (McLachlan et al., 2008).

O clube de produtores é de grande importância pois permite aos seus membros

partilhar e discutir novas formas de gestão e procurar soluções para os problemas em

conjunto. A dimensão da propriedade é outra variável que influencia o sucesso da

exploração. Quanto maior o território, maior a facilidade de gestão, pois o controlo da

intensidade não necessita de ser tão rigorosa.

A produção holística apresenta uma maior resiliência em momentos de crise sendo

uma resposta para as comunidades rurais. No futuro apoios no sentido de implementar e

aumentar a escala destas operações para mais regiões contribuiria positivamente para

uma maior resiliência da população rural e do meio ambiente.

Numa análise final ainda existe ambiguidade científica quanto às vantagens do

sistema rotacional de pasto defendido pelo Holistic Management em termos de produção de

biomassa, contudo a gestão do sistema de pasto é apenas uma vertente deste sistema de

gestão adaptativa. O papel do gestor em ecossistemas complexos é de grande

importância. O seu modelo mental das várias variáveis em jogo influencia positivamente

ou negativamente a exploração. As vantagens do sistema rotacional de pasto podem

nesta perspectiva derivar do aumento da intensidade de gestão (Briske et al., 2011). O

sistema rotacional de pasto é intensivo do ponto de vista da sua gestão pois é necessário

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64

um plano prévio de definição da subdivisão da propriedade em parcelas de pasto,

elaboração de vários pontos de água e um plano de movimentação dos animais que

necessita de ajustamentos conforme as condições bioclimáticas ao longo das estações.

O aumento da intensidade de gestão cria um novo modelo mental no gestor mais

versátil conseguindo adaptar-se a diferentes características e contrariedades dos

ecossistemas. Torna-se assim possível o aumento da produção sem necessariamente

aumentar a produção ecológica do ecossistema. Novamente a aparente contradição entre

a literatura científica e a experiência empírica pode ser explicada através da necessidade

de uma gestão adaptativa do ecossistema.

3.4.- ADAPTAÇÃO DO STOCK DE ANIMAIS ÀS CONDIÇÕES CLIMÁTICAS

A estimação da capacidade de carga do ambiente é um elemento essencial para

uma gestão sustentável num sistema de produção extensivo. A capacidade de carga do

ambiente determina o stock máximo de animais no território antes de ocorrer uma

degradação ambiental.

Segundo os autores White and McGinty (1992) um regra básica para o gestor

conseguir um stock de animais sustentável é a regra do take half, leave half, ou seja, os

animais devem utilizar metade da capacidade produtiva do território durante o período

de pasto. A determinação da capacidade produtiva de biomassa é essencial para

determinar o stock aplicado pois a eficiência de pasto é apenas de 25%. Imaginando que a

produção de biomassa num hectare é de 3000kg segundo a regra do take half, leave half

apenas 1500kg seriam utilizados. Dos 1500kg de biomassa utilizada apenas metade seria

consumida pelos animais, o resto é perdido devido ao pisotear dos animais ou a

intempéries.

A tecnologia de satélite desenvolvida nos anos 70 do século XX começa a ser

usada para medir e identificar a quantidade de vegetação acima do solo de forma eficaz

(Villa-Herrera et al., 2014). Esta tecnologia funciona através do contraste entre luz

vermelha e infravermelha, permitindo identificar a vegetação dos demais objetos

terrestres18.

18 Experiências realizadas no México usando o indicador IVPN (normalized slopes vegetation índex), em

24 amostras de terreno com 225 ha, demonstraram uma eficácia da tecnologia ao determinar com uma baixa margem de erro a capacidade de carga do ambiente ajudando a determinar o stock de animais a utilizar (Villa-Herrera et al., 2014).

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65

Os ecossistemas de pasto são caracterizados pela sua variabilidade climática que

afeta diretamente a produção primária de biomassa, portanto o stock de animais deve ser

gerido para não ultrapassar a capacidade de carga do ambiente e provocar uma perda de

rendimento a longo prazo.

O estudo de Díaz-Solís et al. (2016) comprovou que a adoção de estratégia de

gestão adaptativa em relação ao stock de animais promove a melhoria dos indicadores

ambientais e a sustentabilidade económica das explorações pecuárias.

Dada a variabilidade do regime de precipitação na região de estudo, no norte do

México, a fixação de um stock constante de animais é pouco visado todavia é uma

estratégia comum onde é introduzida alimentação suplementar para os animais em

períodos de seca (Díaz-Solís et al., 2016). A prática de suplementação alimentar em

períodos de crise pode exacerbar o problema ambiental pois é permitida uma densidade

animal muito superior à capacidade de carga do ambiente, tornando a vegetação escassa e

o solo exposto aos elementos erosivos.

As estratégias fixas têm desvantagem a curto e longo prazo. A curto prazo o

aumento pela competição de pasto pelos animais provoca uma menor ingestão de

matéria orgânica por cabeça de gado. A longo prazo o risco de exploração excessiva do

pasto coloca-o em risco de desertificação pois a produtividade da terra reduz-se

significativamente (Díaz-Solís et al., 2016).

No estudo que compreende um período de 44 anos de recolha de dados foi

utilizado o modelo SESS (Simple Ecological Sustainability Simulator). Este modelo usa uma

equação de recorrência que estipula uma relação entre a ANPP (aboveground net primary

production), ou seja, os quilos de matéria orgânica produzida por hectare ao ano com a

precipitação em mm ao ano. Considera-se que quanto maior ANPP melhor será a

condição da terra. O sequestro de carbono é calculado através da quantidade de matéria

seca acima e abaixo do solo. Abaixo do solo a matéria orgânica é considerada ser 2,8

vezes o valor da matéria orgânica aérea.

O modelo usou raças de gado como Angus, Charolais, Hereford. A época de

reprodução durava três meses (Abril a Junho). A extensão das propriedades usadas no

modelo foi de 5 mil hectares. Quanto a estratégias de gestão, a estratégia de controlo

representa as práticas locais com um stock de animais mais elevado constante, prática da

suplementação alimentar em períodos de stress ambiental e manutenção das fêmeas não

gestantes. A estratégia de baixo stock é igual à primeira estratégia mencionada só que com

um baixo stock de animais ao longo do ano. A estratégia REPLA-PPT (gestão do

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66

número de animais em relação à média anual de precipitação) não pratica suplementação

alimentar e elimina as fêmeas que não estão em gestação em períodos de seca (Díaz-Solís

et al., 2016).

A estratégia REPLA-PPT é a mais bem-sucedida pois é capaz de se adaptar as

condições climáticas mesmo em períodos críticos nunca ultrapassando a capacidade de

carga do ambiente. Esta estratégia adaptativa apresentou os melhores indicadores em

termos de sequestro de carbono, emissões de metano, performance animal e receita

líquida (tabela 6). Estes resultados demonstram a necessidade de uma gestão adaptativa

em climas variáveis.

Simulação de três estratégias de gestão

Variáveis Unidades Controlo Baixo

Stock

REPLA-

PPT

Stock de Animais AUY (animal unit year) 250 150 150

Sequestro de carbono Mg CO2 eq. 389 248 496 052 551 580

Emissões de metano Mg CO2 eq. 9945 6671 5887

Mortalidade %/Ano 45.87 28.88 9.42

Ganho de massa

corporal Kg/há/ano 1.3 1.94 2.68

Lucros USD x 106 -4.79 -0.39 1.97

Tabela 6 - Resultados da exploração bovina no Norte do México 1950-1994 (Fonte: Díaz-Solís et al., 2016)

Outro estudo revelador sobre a necessidade de gerir o stock de animais conforme as

limitações ambientais foi realizado por Teague et al., (2009). Este estudo desenvolve um

modelo que simula a gestão de uma quinta hipotética19 e quais os stocks de animais a

manter por 100 hectares de forma a obter diferentes objetivos ao longo de 30 anos.

Foram criados 3 cenários representantes dos vários objetivos de gestão: a manutenção da

condição ambiental, maximização do lucro e o melhoramento da condição ambiental.

19 O simulador SESS (Simple Ecological Sustainability Simulator) utilizou dados relativos à produção

primária, clima e de gestão do gado baseados numa experiência conduzida em Rolling Plains no Texas desde 1955 (Teague et al., 2009). Esta simulação em particular utilizou os dados de 1970 a 2000. O perfil climático dos dados recolhidos inserem-se num clima temperado seco com uma média anual de precipitação de 648 mm e temperaturas que variam em média de 3,9 ºC em Janeiro até 36,4 ºC em Julho.

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67

A exploração pecuária extensiva no Texas é normalmente considerada marginal e a

recomendação mais comum para o aumento dos lucros da atividade é a redução dos

custos de produção em vez da melhoria das condições ambientais da exploração (Teague

et al., 2009). O principal produto explorado na região é a carne de bovino.

Como é possível visionar no gráfico 7 o modelo informático assume 4 estados de

conservação das terras, representando a sua capacidade produtiva, a escala utilizada varia

entre 1,25 sendo considerado excelente nível de conservação passando por 1,0 (Bom),

0,75 (razoável) e 0,50 (mau). Este modelo tem em conta presença de plantas lenhosas e

não palativas estando programado para decrescer a condição de conservação mediante a

sua presença (Teague et al., 2009).

Ao nível da gestão dos animais a simulação tomou em consideração os seguintes

dados: os nascimentos de bezerros acontecem em Fevereiro e Março, a mortalidade dos

bezerros ocorre a cada mês em função do peso corporal, fêmeas adultas mortas ou que

Gráfico 7 - Mudança das condições ambientais a partir de diferentes pontos iniciais de conservação ao longo de 30 anos

IRC – Inicial Range Condition (estado de

conservação ambiental inicial)

a – Objetivo de manutenção da

condição ambiental.

b – Objetivo de maximização do

lucro.

C – Objetivo de melhoria das condições (Fonte: Teague et al. 2009).

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não tenham dado à luz no ano anterior são substituídas em Novembro e o uso do fogo é

prescrito a cada 8 anos para impedir a proliferação de cactos e plantas lenhosas (Teague

et al., 2009).

Para cada estado de conservação (excelente, bom, razoável e mau) quando geridas

com o objetivo de maximizar o lucro foi registado um declínio da condição de

conservação ao longo do período de trinta anos. O declínio mais acentuado verifica-se

no grupo de estado de conservação excelente, 1,25, a maior abundância de matéria

orgânica comestível dita um maior número de animais por hectare. O maior stock de

animais dita uma maior pressão animal levando a uma degradação da condição ambiental

mais rápida do que nos outros três casos. Este caso exemplifica a necessidade que existe

de monitorizar regularmente e fazer ajustes no stock de animais de modo a não perpetuar

práticas que prejudiquem a sustentabilidade do pasto a longo prazo (Teague et al., 2009).

De forma a melhorar a condição ambiental do pasto é necessário uma redução do

stock animal. Esta decisão tem impactos económicos a curto prazo negativos, contudo a

redução do stock deve ser encarada como um investimento no capital natural do sistema

de produção de forma a aumentar a capacidade de produção primária. Os dividendos

deste aumento na capacidade produtiva do ambiente poderão ser convertidos em lucro

num ponto mais distante no tempo através do aumento do stock de animais. O ponto

principal para manter e alcançar uma condição ambiental excelente do pasto é usar

apenas os dividendos do sistema de produção sem consumir o seu capital natural

(Teague et al., 2009). Apesar destas evidências, muita da prática continua a ter uma visão

de maximização dos lucros a curto prazo enquanto se externaliza os custos da

degradação ambiental.

Os níveis de produtividade e por conseguinte os lucros associados variam

consideravelmente dependendo da condição ambiental da terra. Na simulação em

questão a média anual de peso por hectare de bezerros num pasto em pobre condição

ambiental é de 45 kg contrastando com os 150 kg de um pasto em excelente condição

ambiental. (Teague et al., 2009). Estas diferenças na produtividade determinam um maior

lucro das explorações que conseguem manter ou melhorar as suas condições ambientais.

Os lucros totais para uma gestão de manutenção da condição ambiental durante os

30 anos de simulação variam entre os 238.000 USD e os 990,000 USD para terras

consideradas pobres e excelentes respetivamente (Teague et al., 2009).

Para manter a condição ambiental do pasto em condições de “excelente” o stock

máximo de animais não deve ultrapassar os 32 por 100 hectares ao ano. De forma a

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recuperar a condição ambiental do pasto para excelente a densidade animal deve ser de

15 animais por 100 hectares ao ano para terras consideradas em bom estado de

conservação, 8 animais por 100 hectares ao ano para terras consideradas razoáveis e 1

animal por 100 hectares ao ano para terras consideradas pobres (Teague et al., 2009).

Quanto pior for a condição de conservação do pasto, menor deve ser a densidade animal

aplicada de forma a evitar a sua deterioração.

Um ponto fundamental na produção pecuária extensiva é a obtenção de lucro,

contudo são poucos os produtores que prestam devida atenção à monitorização da sua

produção primária ou a mudança na gestão do pasto que influenciem a condição

ambiental do território. Exemplo disto é a manutenção de stock de animais ao longo do

ano em climas variáveis e suscetíveis a secas. Quando estes períodos de stress ambiental

acontecem é normalmente usado alimento suplementar de forma a manter o elevado

stock de animais. Esta prática causa problemas de degradação do solo, pois a capacidade

de carga do ambiente em períodos de stress é menor (Díaz-Solís et al., 2016; Teague et al.,

2009).

Outra prática comum que pode descompensar o equilíbrio do ecossistema é a

procura de animais de maiores dimensões de forma a obter maiores lucros, contudo está

comprovado que raças de animais de menores dimensões mais adaptadas às condições

climáticas locais são capazes de produzir mais massa corporal por ano comparadas com

raças de maiores dimensões (Tisdell, 2015; Teague et al., 2009).

Neste estudo fica patente a importância de um estudo de longo para perceber quais

as melhores práticas de gestão em explorações extensivas. Caso este estudo fosse

realizado para apenas alguns anos, como a maioria dos estudos publicados, não existiria

evidência de redução da condição ambiental em resposta aos diferentes níveis de

densidade animal e a maximização do lucro seria a estratégia mais lógica a seguir que

causaria no futuro problemas de degradação do solo. Assim como no caso do estudo de

Alemu et al. (2017) o sistema pasto contínuo intensivo a curto prazo é o mais eficiente

quanto às emissões de gases de efeito de estufa contudo o cenário a longo prazo poderá

ser diferente devido à maior tendência a fenómenos de degradação ambiental associados

a este sistema de pasto.

4- PRODUÇÃO PECUÁRIA EXTENSIVA EM PORTUGAL

4.1- CARACTERIZAÇÃO CLIMÁTICA

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70

Ao longo da História a prática da pecuária extensiva desempenhou um papel

importante para a economia rural de Portugal. A diversidade climática originou uma

diversidade de ecossistemas que se reflete na diversidade das práticas pecuárias e na

diversidade biológica das raças autóctones portuguesas.

A nível climático, Portugal localiza-se no limite sul das zonas temperadas do

Hemisfério Norte. Apesar da sua pequena dimensão geográfica, Portugal apresenta uma

grande variedade climática. Esta variedade é explicada pela circulação atmosférica de

diferentes massas de ar e pela orografia do país (Alcoforado, 1991).

As massas de ar são normalmente classificadas quanto à sua temperatura, quentes e

frias, e quanto à sua humidade, secas ou húmidas. Portugal é influenciado por quatro

massas de ar distintas: a massa de ar polar, caracterizada por ser fria e húmida, a massa de

ar polar continental fria e seca, a massa de ar tropical continental quente e seca e a massa

de ar tropical marítima quente e húmida. Outros fatores importantes para a variação

climática em Portugal relacionam-se com a proximidade ou afastamento do Oceano

Atlântico assim como a concordância da orografia com a linha de costa. Em termos

gerais o clima em Portugal é considerado mediterrânico contudo existem quatro

subconjuntos explicados pelos fatores acima mencionados. No Norte Litoral o clima é

caracterizado como mediterrânico com influência marítima, o Norte Interior como

mediterrânico com influência continental, no Sul como mediterrânico e as zonas

montanhosas exibem um clima próprio condicionado pela altitude.

A precipitação é determinante na criação destes subconjuntos climáticos de uma

forma geral a distribuição da precipitação em Portugal é assimétrica. O noroeste do país é

a região que mais precipitação recebe, ultrapassando os 2500 mm em média por ano,

contudo algumas das serras noroeste e do maciço central superam os 3000 mm devido

ao efeito da altitude. Para além da altitude a forma da orografia determina a quantidade

de precipitação (Alcoforado, 1991). Exemplo disto é a baixa precipitação registada em

certas zonas de Trás-os-Montes onde a existência de vales encaixados condiciona a

pluviosidade enquanto no litoral a concordância da orografia facilita a condensação do ar.

A região central de Portugal apresenta uma gradual diminuição da precipitação tendo o

maciço central um papel importante na baixa pluviosidade do interior. A Beira Baixa em

termos climáticos é mais parecida com o clima Algarvio e Alentejano. A região a sul do

rio Tejo é caracterizada por verões, quentes e secos, prolongados de 5 a 6 meses. Os

invernos são amenos e pouco chuvosos. A precipitação anual nesta região varia entre os

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71

500 mm e os 700 mm com a exceção das serras de São Mamede e de Monchique com

uma média superior de 1200mm (Alcoforado, 1991).

O regime de precipitação no sul da Península Ibérica é caracterizado pela sua

irregularidade interanual. É normal a ocorrência de anos abaixo da média de precipitação

histórica sendo seguidos por anos com valores acima da média. Para além da variação

interanual também a variação intraanual do regime de precipitação é uma realidade

presente podendo acontecer que apenas alguns meses recebam grande parte da

percentagem da precipitação anual (García-Barrón et al., 2011).

A exploração pecuária, como atividade primária. Encontra-se muito dependente

dos recursos naturais disponíveis. A gestão do território em locais com um ecossistema

mais frágil e com fatores de risco, como a variabilidade do regime de precipitação, deve

ser mais criteriosa de forma a não impactar negativamente o equilíbrio ambiental. As

regiões a sul do Tejo encontram-se numa posição relativamente frágil e as projeções para

o futuro são de um agravamento desta situação.

A ameaça das alterações climáticas provocadas pela ação antropogénica poderão

no futuro acelerar o processo de desertificação. Os modelos climáticos prevêem um

aumento dos períodos de seca e um aumento da aridez do solo em várias regiões do

mundo, em particular na região do mediterrâneo (Costa and Soares, 2012). A existência

do anticiclone dos Açores é determinante para a ocorrência de períodos de seca nos

meses de inverno em Portugal. No sul e interior de Portugal é onde a sua influência é

mais sentida levando a que estas áreas sejam mais suscetíveis à ocorrência de fenómenos

de seca prolongada, prevendo-se um aumento da sua ocorrência e severidade no futuro

(Costa and Soares, 2012).

Nas últimas três décadas do século XX registou-se no sul de Portugal um aumento

da intervariabilidade anual da precipitação (García-Barrón et al., 2011). A severidade das

condições de seca durante o verão também se intensificou especialmente na região do

Alentejo. No Algarve a ocorrência de fenómenos de precipitação intensa aumentou

constituindo um risco para a aceleração da erosão do solo contribuindo assim para o

processo de desertificação a médio e longo prazo (Costa and Soares, 2012).

O processo de desertificação que afeta Portugal é caracterizado por uma falta de

recursos hídricos, especialmente nos meses de verão, solos pobres e vegetação

subdesenvolvida. No sul de Portugal, especialmente no Baixo Alentejo, o processo de

desertificação intensificou-se no século XX devido à campanha dos cereais promovida

pelo Estado-Novo. A cultura extensiva de cereais exaustou o solo e anos sucessivos de

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72

exposição aos elementos sem a vegetação natural para que o protegessem, aumentou o

processo de erosão. Em anos mais recentes, o êxodo rural para as grandes cidades

provocou um abandono da agricultura deixando os solos ainda degradados sem qualquer

tipo de gestão (Costa and Soares, 2012).

O Alentejo sendo a região do país considerada com maior potencial agrícola é

também a região mais suscetível ao processo de desertificação, torna-se urgente a tomada

de medidas que assegurem a disponibilidade de água e reduzam processos de degradação

do solo. A adoção de novas técnicas de gestão adaptativa na exploração extensiva

pecuária poderia ser uma solução de forma a mitigar os efeitos das alterações climáticas

especialmente na degradação do solo.

4.2- CARACTERIZAÇÃO DA PRODUÇÃO PECUÁRIA EM PORTUGAL

O setor pecuário em Portugal representa uma fatia importante da produção

agrícola do país. Estima-se que por volta de 37,3% do valor total do ramo agrícola, ou

seja 2627 milhões de euros, é referente à produção animal no ano de 2005 (MADRP,

2007).

O setor pecuário com maior peso económico em 2005 foi a produção de leite que

representou cerca de 28% do valor total da produção de produtos animais. Outros

setores com peso na pecuária nacional são a produção de carne de bovino com 25%, a

carne de suíno representando 20,7% e a carne de aves de capoeira com 12,5%. A carne

de ovinos, caprinos, coelho e equídeos representa apenas uma pequena parte da

produção pecuária nacional contribuindo apenas com 10% para o total do valor

económico (MADRP, 2007).

O panorama de 2005 para os últimos dados sobre a produção animal de 2017

indicam uma mudança na produção pecuária afetando assim o peso económico dos seus

subsetores. Em termos globais a produção de carnes aumentou 9,44% de 2005 para

2017(tabela 7). Este crescimento contudo foi assimétrico tendo-se assistido a uma

diminuição da produção de carne de bovinos, ovinos e caprinos na ordem dos 15% a

28%(tabela 7). A carne de suíno foi a única das carnes vermelhas a registar um aumento

da produção de 7,04%. O subsetor que registou um grande crescimento no período de

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73

análise foram as carnes de aves de capoeira que registaram um aumento de 32,07%. A

produção de leite também registou uma queda na ordem dos 7,8% (INE, 2018a).

Produção de Produtos Animais em Portugal (toneladas)

2005 2017 %

Carnes

Total 812687 889402 9,44%

Bovinos 119019 91187 -23,38%

Ovinos 21990 15803 -28,14%

Caprinos 1364 1148 -15,84%

Suínos 352998 377866 7,04%

Aves de Capoeira

294368 388773 32,07%

Leite

Total 2195210 2023930 -7,80%

Tabela 7 - Evolução da produção de produtos animais em Portugal (Elaboração Própria, Fontes: MADRP, 2007; INE, 2018a)

Estes aumentos e quedas na produção de produtos animais influenciam a

representatividade dos subsetores sendo expetável um aumento significativo do peso

económico da produção de aves de capoeira e um aumento moderado da produção de

suínos, tendo os restantes subsetores perdido importância. Quanto à distribuição

geográfica das diferentes populações animais destaca-se a região do Alentejo pela sua

grande concentração de animais. Relativamente aos bovinos, é possível verificar na tabela

8 que em 2017 cerca de 41,5% do efetivo nacional encontra-se no Alentejo, 18,9% no

Norte de Portugal, 16,6% na Região Autónoma dos Açores e 12,8% na região de Lisboa

e Vale do Tejo (INE, 2018b). A produção pecuária de bovinos encontra-se subdividida

em duas formas distintas mas complementares de exploração. A exploração de vitelos e

as explorações de engorda de novilhos e sua distribuição geográfica é distinta. A maioria

das explorações de vitelos encontra-se maioritariamente concentrada no Alentejo, cerca

de 72%, em sistemas extensivos com um número médio de cabeças de gado a rondar os

50 animais. As explorações de engorda de novilhos estão distribuídas pelo Entre Douro e

Minho com 33% da produção, Ribatejo e Oeste com 23% e o Alentejo com 25%

(MADRP 2007). Os sistemas de exploração são predominantemente intensivos para

produção e engorda de novilhos no Entre Douro e Minho e no Ribatejo e Oeste; em

contraste, no Alentejo, o sistema de exploração extensivo é o mais expressivo.

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74

A exploração pecuária de caprinos em Portugal é maioritariamente voltada para a

produção leiteira, estando disseminada um pouco por todo o território nacional. O

sistema de produção de caprinos é quase sempre extensivo, devido à capacidade destes

animais em retirar nutrientes de uma grande variedade de plantas e arbustos (MADRP,

2007). Os caprinos têm um papel importante na gestão de territórios com terras pobres,

zonas arbustivas e florestais. Em Portugal as regiões com maiores efetivos caprinos são o

Alentejo, Beira Interior e Trás-os-Montes, áreas do país com baixa densidade

populacional e de zonas montanhosas com terras pobres para a agricultura. Apesar dos

benefícios ecológicos e económicos desempenhados pelos rebanhos de caprinos, o seu

efetivo tem vindo a declinar mas últimas décadas. Uma das explicações para o declínio da

exploração pecuária de caprinos prende-se com a exigência de mão-de-obra na gestão

tradicional destes animais.

A produção ovina tem várias semelhanças à exploração caprina podendo mesmo

existir rebanhos mistos. A produção de ovino ocorre maioritariamente em sistemas

extensivos. Os ovinos são explorados tanto pela sua carne como pelo leite (MADRP,

2007). A exploração de carne de ovino ocorre principalmente no Alentejo onde se

concentra 59,5% do efetivo nacional. A produção de leite de ovino encontra-se

distribuída pelo norte e centro do país tendo como zonas de maior produção a Beira

Interior e Trás-os-Montes (MADRP, 2007).

No que diz respeito à produção de suínos é possível verificar que dentro do setor

existem diferentes abordagens. A forma tradicional de criação de suínos é considerado

um regime de exploração complementar à atividade agrícola estando normalmente

associado ao autoconsumo e/ou a uma atividade complementar (MADRP, 2007). Em

contraste, temos as explorações industriais de suínos voltadas para o mercado e que

representam a maior parte da produção nacional, com uma densidade populacional

média por exploração rondando as 100 cabeças. As explorações extensivas de suínos,

como o caso da raça autóctone do porco preto alentejano, apesar de registarem um

crescimento significativo nas últimas décadas, continuam a representar um contributo

ainda pouco significativo para a produção global de suínos .

A distribuição de suínos pelo território nacional é dispersa encontrando-se um

pouco por todo o país, porém as grandes indústrias de suinicultura encontram-se

concentradas em três polos: a zona de Leiria, Alto Alentejo e o Litoral Alentejano

(MADRP, 2007). Os dados sobre o efetivo de suínos de 2017 confirmam esta

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75

concentração de animais na região do Alentejo e do Centro que em conjunto

representam 84,6% do efetivo nacional (tabela 8).

Efetivo Animal em 2017 por localização Geográfica (NUTS- 2001)

Efetivo

Bovino

Efetivo

Caprino

Efetivo

Ovino

Efetivo

Suíno

Portugal 1670 340 2225 2165

Continente 1388 326 2218 2131

Norte 315 81 297 61

Centro 157 112 506 886

Lisboa e Vale do Tejo 214 9 45 221

Alentejo 693 108 1324 947

Algarve 10 16 47 17

Região Autónoma da

Madeira 4 7 3 4

Região Autónoma dos

Açores 278 7 3 30

Tabela 8- Efetivo animal nacional em milhares (Fonte: INE, 2018b)

A exploração de aves de capoeira em Portugal é subdividada em duas categorias: as

explorações industriais intensivas e a produção doméstica. A produção doméstica

encontra-se disseminada por todo o território contudo não apresenta importância no

mercado. A avicultura industrial por seu lado é a mais expressiva tanto na produção

como no peso económico da atividade. Segundo dados do INE em 2017 o efetivo

animal de aves fêmeas em aviculturas industriais ultrapassa os 10 milhões de animais

(INE, 2018c). A distribuição dos sistemas intensivos de criação de aves é concentrada em

duas zonas do país, a Beira Litoral com 50% e o Ribatejo e Oeste com 36% da produção

de aves (MADRP, 2007).

4.3- PRODUÇÃO PECUÁRIA BIOLÓGICA EM PORTUGAL

Um outro aspeto da produção de produtos animais que tem vindo a ganhar

representatividade de mercado é a produção biológica. Em termos gerais a agricultura

biológica cresceu em Portugal consideravelmente nos últimos 20 anos. Os primeiros

registos da superfície de agricultura biológica em Portugal datam de 1994 onde contavam

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7183 hectares. Os dados mais recentes do ano de 2015 indicam que a superfície agrícola

em agricultura biológica aumentou para 239864 hectares (DGADR, 2016). Esta nova

forma de agricultura mais focada na produção de produtos com elevada qualidade

alimentar com baixo impacte ambiental tem vindo a dinamizar as explorações pecuárias

em regime extensivo.

Ao analisar a superfície em agricultura biológica constatamos que cerca de 78% é

relativa a pastagens sendo de longe o setor mais representativo. Em segundo lugar

aparece o olival com apenas 9%. A distribuição da superfície em agricultura biológica

pelo território nacional reflete a predominância das pastagens como o seu componente

principal sendo o Alentejo, a Beira Interior e Trás-os-Montes as regiões mais

significativas, com 63,8%, 18,6% e 7,2% respetivamente (DGADR, 2016). A nível

nacional as pastagens biológicas representam aproximadamente 9,7% do total de

pastagem e prados existentes em 2016 (INE, 2017).

O efetivo animal em produção biológica em 2015 mais significativo são os bovinos

com cerca de 97 mil cabeças, os ovinos com cerca 108 mil cabeças e aves de capoeira

com cerca de 61 mil bicos (DGADR, 2016). Os efetivos de suínos, caprinos e equídeos

não apresentam relevância numérica no global. Tendo em conta o número de animais e a

sua massa corporal verifica-se que o efetivo bovino é o mais importante em produção

biológica. O número de produtores também confirma a importância dos bovinos para a

produção biológica tendo o maior número de produtores seguido dos produtores de

ovinos.

5- EMISSÕES DE GASES DE EFEITO DE ESTUFA EM EXPLORAÇÕES HIPOTÉTICAS –

UMA APLICAÇÃO A PORTUGAL DO PROGRAMA HOLOS

5.1- EMISSÕES DE GASES DE EFEITO DE ESTUFA A NÍVEL NACIONAL DO SETOR

AGRÍCOLA

Tendo verificado a importância da pecuária para a economia, mais concretamente

para o setor agrícola é importante perceber o seu impacte ambiental ao nível das

emissões de gases com efeito de estufa a nível nacional. No ano de 2012 as emissões de

CO2e do setor agrícola representaram 10,5 % das emissões totais de Portugal (INE,

2014). Os dados mais recentes sobre a poluição inerente ao setor agrícola reportam-se ao

ano de 2016 com um valor de 6,48 milhões de toneladas de carbono equivalente

(FAOSTAT, 2018). Ao discriminar as fontes mais poluentes do setor agrícola durante o

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período de 1990 a 2016 verificamos que a fermentação entérica é a maior fonte de

emissões, com cerca de 41,8% do total de emissões (gráfico 8). A exploração pecuária

assume um papel importante na emissão de gases com efeito de estufa. Para além da

fermentação entérica a gestão do estrume animal é outro setor com uma grande

percentagem de emissão de gases com efeito de estufa. Tendo em conta a caracterização

do efetivo animal podemos afirmar que os ruminantes, em especial os bovinos, são os

maiores contribuidores para a poluição atmosférica. Quanto à poluição proveniente da

gestão do estrume, o segundo setor mais poluente, os animais em sistemas intensivos são

provavelemte a principal causa com especial destaque para os suínos e o gado de bico.

Apesar destes dados darem uma ideia geral das fontes de poluição do setor agrícola

não é possível discriminar quais os sistemas de produção mais poluentes. A quantificação

da poluição dos sistemas intensivos e extensivos é dado essencial de forma a informar e

consciencializar produtores e consumidores.

Gráfico 8 – Média de emissões nacionais do setor agrícola (Fonte: FAOSTAT, 2018)

5.2.- EXPLORAÇÕES HIPOTÉTICAS ATRAVÉS DO PROGRAMA HOLOS

De forma a determinar as emissões totais de gases de efeito de estufa ao nível da

uma exploração pecuária extensiva média em Portugal foi utilizado o programa

informático HOLOS. O programa HOLOS é um modelo empírico baseado na

0,90% 1,40%

41,80%

9,20%

9,70%

20,10%

4,30% 11,70%

0,90%

Emissões por Setor Agrícola (1990-2016)

Queimadas

Resíduos de Culturas

Fermentação Entérica

Aplicação de Estrume no Solo

Aplicação de Estrume no Pasto

Gestão de Estrume

Cultivo de Arroz

Fertilizantes Sintéticos

Outras Fontes

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78

metodologia do Painel Internacional para as Alterações Climáticas (IPCC) modificado

para representar o sistema de produção Canadiano utilizado com sucesso nos trabalhos

de Alemu et al. (2017), Hünerberg et al., (2014), McGeough et al., (2012) e Beauchemin

et al., (2011).

O modelo informático funciona à escala da exploração pecuária ou agrária e

contabiliza todas as possíveis fontes de emissão de gases com efeito de estufa. O modelo

conta ainda com potenciais sequestrações de carbono induzidas por mudanças no uso da

terra, plantação de árvores e de culturas anuais. No final da introdução de um ano das

variáveis da exploração agrícola é possível examinar qual a quantidade e o tipo de gases

que mais contribuíram para o total de emissões.

Para efeitos práticos desta tese foram criadas duas explorações pecuárias de

bovinos hipotéticas, uma na região do Entre-Douro e Minho (exploração A), mais

concretamente na Maia, e outra no Alentejo, em Beja (exploração B). O foco da

produção das explorações é a carne de bovino biológico de forma a assegurar a adoção

do sistema de produção extensivo com objetivos ambientais. A escolha destas regiões

não foi aleatória, ambas possuem um efetivo de gado bovino considerável em 2015. O

efetivo bovino biológico distribui-se maioritariamente na região do Alentejo, com cerca

de 69% do total, na Beira Interior com 18%, no Ribatejo e Oeste com 6% e no Entre-

Douro e Minho com 5% (DGADR, 2016). O contraste climático marcado é outro fator

importante de forma a espelhar a diversidade climática em Portugal.

O primeiro passo da criação das explorações pecuárias foi a determinação da sua

área. Tendo em conta que a exploração pecuária no Entre-Douro e Minho é

caracterizada por um sistema de produção intensivo e pela propriedade pulverizada, o

minifúndio, a escolha pela agricultura biológica nesta região parece oferecer o cenário

mais próximo da realidade, isto porque a dimensão média das propriedades biológicas é 5

vezes maior que as propriedades em produção convencional, evidenciando o caracter

extensivo da agricultura biológica em particular a pecuária. A dimensão média das

propriedades em produção biológica em 2015 ronda os 63 hectares contudo a variação

da dimensão da propriedade entre regiões é elevada sendo Alentejo e a Beira Interior as

regiões de maior área média (tabela 9).

Levando em consideração os dados do relatório da Direção-Geral de Agricultura e

Desenvolvimento Rural (DGADR) de 2016 a dimensão assumida para as explorações

foram de 18 hectares para a exploração da Maia e 160 hectares para a exploração de Beja

(tabela 9).

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Tabela 9 – Número de produtores Biológicos por região em Portugal

(Fonte: DGADR, 2016)

Outro fator muito importante para a atividade agrícola é o clima da região que

influencia tanto a produção como as emissões de gases de efeito de estufa. Os dados

climáticos utilizados para a simulação das explorações foram as médias de temperatura e

precipitação para cada um dos meses do ano. A precipitação anual para a região da Maia

é elevada com 1217 mm existindo apenas dois meses com pouca precipitação - Julho e

Agosto. Em Beja a precipitação anual é mais baixa, típica de um clima mediterrânico

atingindo apenas os 581 mm anuais com meses com pouca precipitação desde Maio até

Setembro. Quanto à temperatura a variação anual é mais acentuada em Beja tendo uma

média de temperatura em Janeiro de 9,6ºC e de 23,8ºC em Agosto. As variações de

temperatura são menos intensas na Maia sendo a temperatura média de Janeiro de 9,1ºC

e de 19,5ºC em Agosto20.

Portugal apresenta uma grande variedade de condições climáticas que favorecem a

biodiversidade. As raças de animais autóctones portuguesas evoluíram ao longo do

tempo através de um longo processo de seleção empírica do Homem e seleção natural.

Apesar de algumas raças se terem perdido, hoje em dia Portugal conta com cerca de 53

raças autóctones constituindo um património genético importante (MADRP, 2007). Esta

riqueza genética leva a FAO a considerar que Portugal constitui um “Hot Spot” de

biodiversidade21. Outra vantagem do uso de raças autóctones é a sua adaptação ao clima

e vegetação presentes no seu habitat, contribuindo assim para uma maior segurança

20 www.climate-date.org 21 www.sprega.com.pt

Regiões Área Produtores Área Média

ha Nº ha

Continente 239863 3820 63

Entre-Douro e

Minho 8799 476 18

Trás-os-Montes 17176 966 18

Beira Litoral 2279 244 9

Beira Interior 44547 716 62

Ribatejo e Oeste 11276 360 31

Alentejo 152969 956 160

Algarve 2818 99 28

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económica para o produtor em climas suscetíveis a período previsíveis ou impressíveis de

stress ambiental.

A diferença na produção de animais adaptados a um determinado clima versus

uma raça que apresenta maior produção mas que não é apta a determinado clima é

explicado pelo economista australiano Clement Tisdell. O desenvolvimento de raças mais

produtivas, ou seja com um crescimento mais rápido e maior massa corporal, tende a

torná-las mais dependentes de um ambiente rico em calorias. Estas qualidades de maior

produção são apelativas para os produtores e tendem a ser adotadas (Tisdell, 2015).

Contudo a dependência destas raças em ambientes ricos pode ser uma desvantagem em

climas que experienciam mudanças e stress ambiental. As raças adaptadas a determinado

ambiente toleram um leque mais alargado de condições ambientais mantendo a sua

produção.

Gráfico 9 - Tolerância ambiental de diferentes raças animais (Fonte: Tisdell, 2015)

No gráfico 9 a raça I é típica das raças de animais produtivos mas que necessitam

de um ambiente controlado para atingir o máximo da produção neste caso x1. Qualquer

alteração ambiental que altere esse ponto óptimo revela-se numa queda acentuada da

produção animal. Em x0 e x2 a produção iguala a produção de uma raça adaptada ao seu

meio ambiente e para lá destes pontos a performance animal é ainda inferior.

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81

No caso das explorações hipotéticas (A e B) com um sistema de produção

extensivo biológico apresentam uma maior susceptibilidade às variações climáticas, por

esta razão foram selecionadas raças autóctones portuguesas adaptadas a cada uma da

região em questão. No caso da exploração da Maia (A) foi seleccionado a raça Barrosã

típica do Nordeste de Portugal que hoje em dia se encontra em perigo de extinção

devido ao baixo número de efetivos de cerca de 9163 fêmeas e 331 machos distribuídos

por 1823 criadores no ano de 201722 (MADRP, 2007). A raça Barrosã tem um porte

médio de 124 cm no garrote nas fêmeas, podendo atingir os 418 kg de peso. Os machos

são de maior porte atingindo os 136 cm de altura no garrote e os 701 kg de peso23. O

peso médio ao nascimento dos bezerros é de apenas 26,6 kg (DGAV, 2013). Todos os

dados sobre o peso dos animais foram tidos em conta para a simulação das emissões

totais anuais.

O efetivo animal assumido para o modelo foi composto por 28 vacas e 20 vitelos

durante o ano de estudo, traduzindo-se em 2 unidades animais ao ano. O stock de animais

ao ano teve em consideração o clima, precipitação, tamanho dos animais e seguindo as

regras estabelecidas pelo regulamento nº 889/2008 da União Europeia que define as

normas de produção, rotulagem e controlo da produção biológica. Segundo o

regulamento em questão o número máximo de animais por hectare é equivalente a 170

kg de nitrogénio por hectare ao ano, traduzindo-se em duas vacas adulta por hectare ao

ano e 5 vitelos por hectare ao ano (UE, 2008).

Para a região do Alentejo (B) a raça bovina selecionada foi a raça alentejana. A raça

alentejana é caracterizada pelo seu grande porte. O peso médio da fêmeas adultas varia

ente os 600kg a 700kg, os machos adultos desta raça podem atingir os 1000 kg de peso.

Os vitelos ao nascimento pesam em média 31kg24. O stock de animais assumido para a

simulação foi de 120 vacas adultas e 100 vitelos, traduzindo-se em 1 unidade animal ao

ano. O stock animal teve em conta o clima mais árido e variável dos montados

alentejanos. Comparando dados sobre a precipitação em outra zonas do globo com

valores semelhantes ao Alentejo é possível observar que a capacidade de carga em

ambientes semiáridos varia entre 1 a 1,6 animais por hectare ao ano (Alemu et al., 2017;

Dormaar and Willms, 1998). O sistema de pasto utilizado em ambos os cenários foi o

pasto de múltiplas cercas com rotação.

22 www.sprega.com.pt 23 www.amiba.pt 24 www.bovinoalentejano.pt e www.sprega.com.pt

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82

Após aplicação do programa Holos, os resultados demonstram que em ambos os

cenários a fermentação entérica dos bovinos representa a maior fonte de emissões

poluentes das explorações. A fermentação entérica foi mais representativa no caso de

Beja com uma emissão anual de 571 Mg CO2e, ou seja, 76,6%.

No cenário da Maia a percentagem de emissões provenientes da fermentação

entérica rondam os 67,3% equivalentes a 70 Mg CO2e durante o período de um ano. A

segunda fonte de emissões mais significativas das explorações foi o óxido nitroso direto

com 26 Mg CO2e para a Maia e 133 Mg CO2e e para Beja. O óxido nitroso é um gás

produzido através da ação de microorganismos que decompõem a matéria orgânica em

especial compostos ricos em nitrogénio. A ação dos microorganismos ocorre dentro do

organismo dos bovinos assim como no solo fazendo-se assim a distinção entre emissões

diretas ou indiretas.

Gráfico 10 - Emissões hipotéticas de gases de efeito de estufa na Maia (Fonte: Elaboração Própria)

0

20

40

60

80

100

120

Mg CO2e

Emissões Anuais - Maia

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83

Gráfico 11 - Emissões hipotéticas de gases de efeito de estufa em Beja (Fonte: Elaboração Própria)

A exploração localizada na Maia registou o maior número de emissões por hectare

durante o ano de simulação cerca de 5,7 Mg CO2e enquanto a exploração de Beja

registou 4,7 Mg CO2e por hectare ao ano (gráficos 10 e 11). Estes resultados são

interessantes quando comparados com o stock animal das duas localizações. A exploração

na Maia teve um stock de dois animais por hectare ao ano por sua vez em Beja o stock

animal por hectare ao ano foi de apenas metade contudo as emissões de gases de efeito

de estufa por hectare só registam um diminuição de 18,3%. Esta diferença é notada

também no trabalho de Alemu et al., (2017) onde ficou demonstrado que stocks mais

elevados de animais são mais eficientes relativamente as emissões de gases com efeito de

estufa. Uma variável importante para uma possível explicação desta diferença é o

tamanho e massa corporal dos animais em questão que é mais elevada para a raça

alentejana. Ao analisar os requerimentos alimentares das duas raças a explicação fica

reforçada sendo que a raça alentejana precisa em média de 21,46 kg de matéria seca por

dia enquanto a raça barrosã necessita apenas de uma média de 11,20 Kg de matéria seca

por dia. O maior processamento de matéria orgânica reflete-se numa maior produção de

gases com efeito de estufa por hectare.

Outro fator a ter em consideração nesta simulação que influencia o total de

emissões é o sistema de pasto escolhido. O sistema utilizado na elaboração dos gráficos

10 e 11 foi o sistema de múltiplas cercas contudo quando escolhido outro sistema de

pasto como o confinamento em estábulo ocorre uma diminuição de cerca de 12% em

0100200300400500600700800

Mg CO2e

Emissões Anuais - Beja

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84

ambas as explorações. Já no caso do pasto contínuo regista-se um aumento das emissões

na ordem dos 10,5% em ambas as explorações. As diferenças no total de emissões

relativamente ao sistema de pasto podem ser explicadas pelos diferentes níveis de

atividade física exigida aos animais que se reflete na maior ou menor ingestão de

alimento.

Relativamente ao uso de energia o resultado é nulo porque não foi introduzido na

simulação qualquer tipo de atividade agrícola que necessite o uso de energia fóssil. O

sequestro de carbono também equivale a zero pois não existe nenhuma plantação de

árvores nas explorações e o uso no passado das terras simuladas não teve uma mudança

de uso. O sequestro de carbono por parte das terras de pasto é um fator importante no

abatimento de emissões do setor pecuário extensivo contudo o programa informático

não assume nenhum valor para a sequestro de carbono por parte do pasto sem que

ocorra uma alteração do uso da terra ou utilização de culturas agrícolas.

Um outro ponto que a simulação não consegue determinar são os serviços de

ecossistema prestados pelos animais. De forma a perceber o impacto do pasto no

território é necessário observação direta algo que uma simulação não consegue refletir. O

mesmo pode ser dito da aplicação da gestão adaptativa que implica o cruzamento de

dados climáticos com a observação direta de forma a maximizar a condição ambiental do

território. O objetivo de gestão de uma exploração pecuária extensiva é extremamente

importante para o seu desempenho ambiental. Por exemplo uma exploração orientada

para a criação de um solo fértil a sequestro de carbono ocorrida no solo é capaz de

mitigar as emissões entéricas produzida pelo sistema digestivo dos animais (Teague et al.,

2016; Janzen, 2011).

5.3- MEDIDAS A IMPLEMENTAR PARA UM SETOR PECUÁRIO MAIS SUSTENTÁVEL

Os recursos naturais são o fim de um longo processo de interação em permanente

evolução ente o Homem e a natureza (Ploeg et al., 2006). As atividades de produção

primária são aquelas mais dependentes desta interação e as que mais sofrem com um

desequilíbrio nessa interação.

O desenvolvimento agrícola e a exploração pecuária ao longo da Historia

partilharam uma relação de proximidade sendo em muitos casos complementares

ajudando a formar as paisagens que hoje conhecemos. A separação dois setores através

de sistemas intensivos de produção colocaram uma enorme pressão ambiental sobre os

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recursos naturais verificando-se a sua degradação (Teague et al., 2016; Janzen, 2011;

Bjorklund et al., 1999). Um primeiro passo para um setor primário mais eficiente em

termos energético e de ciclagem dos nutrientes é uma aproximação do setor agrícola e

pecuário.

É necessário que os governos promovam legislação que incentive e promova a

adoção de práticas ambientalmente responsáveis no setor primário e que desincentive

práticas que necessitem de grandes inputs de energia, irrigação e fertilizantes químicos que

fragilizam o solo e a biodiversidade. A aplicação de uma taxa ambiental gradual para as

produções intensivas mais poluentes, especialmente explorações intensivas de bovinos,

seria uma tomada de posição importante para a internalização do custo ambiental deste

tipo de explorações. A contabilização das emissões de determinada exploração deveria

ter em conta o ciclo de vida dos alimentos destinados para a alimentação animal. Estima-

se que 32% da produção mundial de cereais é usada para a alimentação de gado sendo

bastante representativos na alimentação de animais em sistemas intensivos (Mottet et al.,

2017). A aplicação da taxa ambiental sobre as explorações pecuárias mais poluentes

levaria estes agentes a ponderar o uso de cereais na alimentação animal. Uma redução do

uso de cereais para a alimentação animal teria impactes positivos importantes não só

ambientais como também para a segurança alimentar global ao aumentar o número de

calorias disponíveis para consumo humano (Tisdell, 2015).

Para além de medidas pecuniárias um estímulo à reutilização de resíduos da

indústria alimentar para o setor pecuário seria uma medida importante de forma a reduzir

o peso do uso de cereais na alimentação animal. Um entrave na reutilização de resíduos

alimentares para a alimentação animal advém da própria União Europeia que proíbe a

utilização de resíduos de origem doméstica e de matadouro (Elferink et al., 2007ª;

Jędrejek et al., 2016). A lei comunitária restrita surgiu após os casos de encefalopatia

espongiforme bovina (EEB) nos anos 90 onde ficou provado a utilização incorrecta de

resíduos de origem animal para a alimentação de bovinos. Contudo a utilização de

animais omnívoros para a reciclagem de resíduos de origem animal sempre ocorreu e

ainda é efetuada em vários países na Ásia e América Latina sem consequências adversas

para a saúde humana (Fairlie, 2010). Uma revisão do tipo de resíduos que são admissíveis

para a alimentação animal e que animais os podem consumir, ajudaria os países da União

Europeia a pouparem nos custos de eliminação destes resíduos e ao mesmo tempo

transformá-los em produtos animais contribuindo assim positivamente para a sua

soberania alimentar.

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Uma forma interessante de como os governos e os produtores agrícolas podem

acordar na resolução de problemas de carácter ambiental foi desenvolvida na Holanda no

final do século XX com a criação das primeiras cooperativas ambientais. Este conceito

inovador à época pretendia criar um estreitar de relações entre o poder estatal e as

associações agrícolas de forma a atingirem metas ambientais negociadas em vez de

impostas. As cooperativas comprometeram-se a uma redução na fuga de efluentes

danosos para o ambiente como o nitrogénio, cerca de 180kg de nitrogénio ao ano por

hectare. O estado por sua vez não impos qualquer norma de gestão deixando espaço de

manobra para cada exploração desenvolver as suas estratégias de redução de nitrogénio

(Ploeg et al., 2006).

É importante referir que o nitrogénio é essencial ao desenvolvimento das plantas

mas apenas uma fração do nitrogénio adicionado na fertilização da terra acaba

diretamente nas plantas pretendidas, uma grande parte é perdida para a água e para o ar.

No ecossistema o nitrogénio degrada-se em diferentes moléculas, como a amônia e

nitratos, cada uma destas diferentes moléculas causa impactes significativos no ambiente

(Janzen, 2011).

A maioria das explorações agrícolas na Holanda são legalmente obrigadas a um

conjunto de tecnologia e técnicas de gestão prescritas pelo estado. Esta pressão externa e

sancionamento tende a condicionar a adoção de técnicas alternativas. A vantagem das

cooperativas ambientais prende-se com o espaço de manobra negociado para atender às

necessidades do território e não às necessidades da lei (Ploeg et al., 2006).

As cooperativas agrícolas ambientais conseguiram resultados interessantes no que

diz respeito à redução de nitrogénio proveniente do estrume da produção leiteira na

Holanda. Ao contrário das estipulações da lei holandesa a gestão do estrume nestas

explorações foi realizado através da sua deposição à superfície em vez da injecção no

solo. Registou-se uma menor emissão de amónia e um aumento da produção de pasto.

Outra inovação introduzida na produção agrícola foi a alteração da dieta dos animais,

uma dieta mais rica em fibra e pobre em proteína demonstrou ser capaz de produzir

estrume com um rácio de alto carbono para baixo nitrogénio (Ploeg et al., 2006).

A ideia de estreitar relações e da flexibilidade de soluções encontradas nas

associações de produtores ambientais para resolver os problemas de poluição vai de

encontro com os ideais da gestão adaptativa.

A gestão adaptativa é talvez a medida mais importante a longo prazo de forma a

preservar os ecossistemas rurais e os seus serviços de ecossistema. No que diz respeito à

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produção animal em sistemas extensivos as novas técnicas de gestão como a técnica de

múltiplas cercas têm dado provas da sua capacidade de regenerar o solo e atingir níveis

de produção iguais ou superiores aos convencionais (Díaz-Solís et al., 2016; Ferguson et

al., 2013; Arguello et al., 2010; Teague et al., 2009). Todo o enquadramento da gestão

adaptativa tem em conta a flexibilidade necessária a adaptar o sistema de exploração de

forma a potenciar as condições ambientais que ao mesmo tempo potencia a sua

rentabilidade. As próprias estratégias a aplicar poderão ser diferentes conforme as

diversas condicionantes ambientais e regiões do globo sendo assim necessário um

diálogo mais profundo entre produtores e decisores políticos de forma a adequar técnicas

e metas a atingir para determinados ecossistemas.

Em Portugal com uma posição geográfica vulnerável às alterações climáticas e um

setor pecuário representativo dentro do setor primário, torna-se urgente tomar medidas

de forma a proteger os sistemas extensivos de produção, ou seja, os próprios

ecossistemas únicos criados pelo Homem ao longo do tempo e todo o seu património

natural, cultural e histórico inerente.

CONCLUSÕES

A disponibilidade dos recursos naturais encontra-se ameaçada por uma série de

fatores naturais e antropogénicos. As alterações climáticas e a gestão descuidada dos

recursos naturais quando conjugada com a crescente população mundial deixam a crer

que uma possível crise ambiental venha a afetar as sociedades a nível global num futuro

próximo.

A produção pecuária tem sido alvo de um debate sério e justificado sobre a sua

sustentabilidade a longo prazo e quais as suas contribuições para a segurança alimentar a

nível global. Por um lado as contribuições para a disponibilidade de proteínas são

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positivas por outro as emissões de gases com efeito de estufa associadas ao setor e o seu

consumo rival de alimentos, em especial os cereais, tornam a questão mais complexa.

Uma distinção importante que consegue esclarecer os impactes do setor pecuário é

uma análise dos sistemas de produção. O sistema intensivo é mais prevalente nos países

da OCDE apesar da maior eficiência de produção este apresenta graves problemas de

poluição. Por oposição os sistemas extensivos e mistos são mais prevalentes em países

menos desenvolvidos apesar da sua baixa produtividade são uma ferramenta importante

na manutenção das funções dos ecossistemas onde se inserem.

No futuro um novo olhar sobre estes sistemas de produção poderia fazer diminuir

o risco ambiental do setor e contribuir para a manutenção de ecossistemas mais

funcionais. Apesar da contribuição importante dos sistemas extensivos e mistos com

preocupações ambientais os atuais níveis de consumo são superiores aos possíveis níveis

de produção, nas melhores das hipóteses os estudos apontam para um valor a rondar os

70%. Sendo expetável que no futuro se registe um aumento do consumo de carne e

populacional as sociedades devem começar a debater seriamente quais são os níveis de

consumo que respeitam a nutrição humana e a sustentabilidade ambiental.

No que concerne aos sistemas de extensivos de produção verifica-se que desde o

início século XX que várias áreas do globo apresentam um processo de degradação

ambiental no qual o mais gravoso é a desertificação. Em resposta à grande variedade de

ecossistemas e climas que a atividade pecuária extensiva enfrentada surge o conceito de

gestão adaptativa. A gestão adaptativa pretende que a atividade económica promova e se

adapte à capacidade de carga do ambiente contribuindo assim para a sua sustentabilidade

a longo prazo. Dentro deste enquadramento, Allan Savory desenvolve a sua proposta de

gestão adaptativa, o Holistic Management. O debate sobre o sistema de pasto rotacional,

defendido por Savory, e os métodos mais convencionais ainda contínua em aberto tendo

a exploração da bibliografia demonstrado uma ligeira superioridade do pasto rotacional.

Quanto à necessidade de gestão do stock de animais em função das condições climáticas a

bibliografia é mais clara em demonstrar que uma gestão adaptativa consegue melhores

resultadas a nível económico e ambiental.

Analisando o setor pecuário extensivo em Portugal verificamos que é fortemente

influenciado pelas condicionantes ambientais. A diversidade climática contribui para a

diversidade natural refletida no extenso património genético oferecido pelas raças

autóctones portuguesas. As áreas mais importantes para a pecuária em Portugal inserem-

se em territórios de baixa densidade populacional como o Alentejo, Beira Interior e Trás-

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os-Montes sendo essenciais para a economias locais. A aplicação do conceito de gestão

adaptativa daria aos gestores de explorações extensivas mais ferramentas de forma a gerir

o território contribuindo para a manutenção do fluxo de serviços de ecossistema. A

exploração pecuária extensiva gerida de forma adaptativa poderia fornecer um serviço de

ecossistemas com imensas mais valias para o nosso país nomeadamente no controlo da

vegetação. Portugal estando localizado na região do mediterrâneo ocidental experiência

uma alternância elevada entre períodos ou anos chuvosos e com períodos ou anos de

seca. Este fato torna o nosso país vulnerável a incêndios rurais. A utilização de animais

no controlo da vegetação já se encontra documentada em países mediterrânicos com

experiências de sucesso representando um benefício duplo para a sociedade.

Quanto às explorações hipotéticas realizadas nesta dissertação ficou patente que as

emissões de gases com efeito de estufa com maior peso no setor pecuário, em especial

nos bovinos, é a fermentação entérica e o óxido nitroso ambos ligados aos processos

químicos ocorridos no sistema digestivo dos animais. Fica também expresso a

necessidade de adequar a raça dos animais ao ambiente de forma a ter níveis de produção

mesmo em períodos de stress ambiental.

Uma das limitações desta dissertação reporta-se à falta de bibliografia sobre a

problemática dos sistemas de pasto em território europeu. A maioria da bibliografia

disponível é confinada ao continente Norte Americano, com especial destaque para os

Estados Unidos, Canadá e México respectivamente. Existe ainda estudos realizados em

África embora em menor quantidade. Outra das limitações prende-se ao modelo

informático HOLOS que não consegue estimar o sequestro de carbono efetuado pelo

pasto sobrestimando assim as emissões.

Num cômputo geral este trabalho representa uma mais-valia para o conhecimento

científico porque introduz uma ideia relativamente recente na discussão da gestão dos

ecossistemas de pasto e na protecção dos seus serviços de ecossistema. Apesar do

modelo informático não capturar todas as variáveis em jogo na gestão de uma exploração

agrícola ou pecuária não invalida a sua utilidade constituindo uma ferramenta importante

para perceber em termos quantitativos quais os subsetores da atividade na exploração

que mais contribuem para a emissão de gases com efeito de estufa.

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ANEXOS

Experiências de Campo incluídas no trabalho de Briske et al. (2008) comparando o sistema de pasto rotacional e contínuo com o mesmo stock de animais

Autores Localização Anos de Estudo

Número de Cercas

Tamanho das cercas (experiências/explorações) %

Dias de Recuperação

Dias de Pasto

Gestão Adaptativa ou Fixa

McCollum et al., 1999 Oklahoma

5 8 10% 32 - 38 3 - 6 Fixa

Gillen et al., 1998 Oklahoma

5 8 10% 30 - 35 2 - 5 Fixa

Cassels et al., 1995 Oklahoma

5 8 10% 21 - 49 3 - 7 Fixa

Owensby et al., 1973 Kansas

17 26 10% 60 300 Fixa

Wood and Blackburn, 1984

5 4 100% 119 17 Fixa

Kothmann et al., 1971 Texas

8 4 100% 120 365 Fixa

Merrill, 1954 Texas 4 4 10% 120 365 Fixa

Fisher and Marion, 1951 Texas

8 5 2% 60 30 Fixa

McIlvain and Savage, 1951 Oklahoma

9 3 5% 60 30 Fixa

Derner and Hart, 2007a Wyoming

25 8 15% 16 - 49 2 - 7 Fixa

Manley et al., 1997 Wyoming

13 4 - 8 15% 21 - 49 3 - 7 Fixa

Biondini and Manske, 1996 N. Dakota

6 6 10% 45 15 - 30 Fixa

Hart et al., 1993a Wyoming

5 8 30% 21 - 49 3 - 7 Fixa

Hepworth et al., 1991 Wyoming

4 4 - 8 1% 21 - 49 3 - 7 Fixa

Hart et al., 1988 Wyoming

6 4 - 8 15% 21 - 49 3 - 7 Fixa

Rogler, 1951 N. Dakota 25 3 5% 120 365 Fixa

Derner and Hart, 2007b Colorado

9 7 Fixa

Smoliak, 1960 Alberta 9

2 20% não

disponível não

disponível Fixa

Hubbard, 1951 Alberta 6

3 10% não

disponível não

disponível Fixa

Laycock and Conrad, 1981 Utah

7 3 50% - 100% 365 45 Fixa

Hyder and Sawyer, 1951 Oregon

11 3 100%

não disponível

não disponível Fixa

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Holechek et al., 1987 Oregon

5 2 10%

não disponível 90 - 365 Fixa

Martin and Severson, 1988 Idaho

13 3 50% - 100% 120 - 365

não disponível Adaptativa

Martin and Ward, 1976 Arizona

7 24 1% 120 - 240

não disponível Fixa

Ratliff, 1986 California 8

3 25% não

disponível não

disponível Fixa

Heady, 1961 California 5

3 1% não

disponível não

disponível Fixa

Barnes and Denny, 1991 Zimbabwe

6 4 - 8 1% 30 10 Fixa

Fourie and Engels, 1986

África do Sul

4 6 20% 35 7 Fixa

Fourie and Engels, 1985

África do Sul

4 6 20% 35 7 Fixa

Kreuter et al., 1984

África do Sul

8 6 5% 35 7 Fixa

Médias 8,4 6,4 21% 93 129

Gráfico I – Experiências de Campo (Fonte: Elaboração baseada em Teague et al. 2013)