Profeta amós

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Transcript of Profeta amós

  • AMS Contexto histrico:

    O profeta Ams foi o primeiro dos grandes profetas clssicos, cujas palavras foram registradas em forma escrita. Ele provavelmente o maior dos chamados profetas menores. As suas palavras foram proclamadas durante o reinado de Jeroboo II, filho de Jeos, que reinou em Israel de 786 a 746 a.C.. Essa foi a poca em que o Reino do Norte (Israel) atingiu o seu ponto mais alto de prosperidade e paz. O pai de Jeroboo, Jeos foi um lder forte e vigoroso, e durante o seu reinado Israel tinha conseguido tirar vantagem das mudanas no equilbrio de foras em todo o Oriente Mdio. O espinho do norte, a Sria, havia sido efetivamente removido como resultado de derrotas anteriores diante da Assria, e, como resultado, tanto Israel quanto a Filistia, que tinham sido vassalos da Sria, puderam aproveitar a oportunidade de se revoltar contra o governo do rei da Sria. A Sria agora era tributria da Assria, mas a preocupao dos governantes assrios estava em outros lugares, e esse fato, junto com a incapacidade de seus governantes nesse perodo, impediu-os de consolidar os seus sucessos. O resultado foi que o rei Jos conseguiu firmar a sua prpria posio, reconquistando o territrio que anteriormente havia sido perdido para a Sria.

    Na poca em que Jeroboo II assumiu o trono de Israel, grande parte das terras anteriormente perdidas para a Sria tinha sido reconquistada. Alm disso, havia paz com Jud, depois de um longo perodo de conflitos e, embora em muitos aspectos Jud fosse subserviente a Israel, no obstante, havia agora um esprito de cooperao e empreendimentos conjuntos que resultou num forte intercmbio e comrcio entre os dois reinos. A ascenso de Jeroboo II ao trono de Israel prenunciou um tempo de prosperidade e esplendor que foi correspondido por um perodo equivalente de avanos econmicos em Jud sob o reinado do seu contemporneo rei Uzias.

    Os sucessos militares do seu pai continuaram sob o prprio Jeroboo II, que prosseguiu com a guerra contra a Sria, tirando vantagem da fraqueza interna do pas naquela poca e tambm do fato de que eles mesmos estavam preocupados com o conflito contnuo com o reino de Hamate. Portanto, Jeroboo II conseguiu estender as suas fronteiras quase at os limites do antigo reino do rei Davi, e tambm insistiu numa forte poltica de expansionismo na Transjordnia. Os sucessos militares de Jeroboo II foram acompanhados do desenvolvimento que deu economia do pas. A Fencia continuava sendo o poder comercial predominante no Oriente Mdio nessa poca, e Israel tinha extrado benefcios considerveis do seu relacionamento prximo com esse pas. Tributos eram cobrados de todas as caravanas que atravessavam Israel, e, agora que as principais rotas comerciais estavam efetivamente debaixo do seu controle, isso aumentou consideravelmente as

  • receitas do tesouro. Como consequncia disso, Samaria foi elevada de uma pequena capital de uma nao de segunda categoria a um centro comercial de importncia respeitvel na regio oriental do Mediterrneo.

    A expanso crescente e o comrcio em desenvolvimento trouxeram riquezas para o pas, mas, simultaneamente s riquezas crescentes houve um crescimento dos males sociais que haviam caracterizado a prosperidade do reinado do rei Salomo; os ricos ficaram muito ricos, e os pobres, ainda mais pobres. A antiga estrutura econmica homognea de Israel deu lugar s fortes distines das riquezas e dos privilgios. O aumento das riquezas levou a amplos projetos de construo, e as edificaes simples de tijolos de dias anteriores deram lugar a construes de pedra talhada e decoraes de marfim que havia tornado famoso o palcio do rei Acabe, um padro importado originariamente dos fencios e agora imitado com propriedade por Israel. As escavaes na cidade de Samaria e em outros lugares confirmam o esplendor desse perodo da histria de Israel, mas tambm destacam as discriminaes na sociedade da poca, pois, se durante o sculo X as casas parecem ter sido de tamanho uniforme, durante o sculo VIII havia uma rea de casas grandes e caras e outra de estruturas e moradias amontoadas e desordenadas.

    O profeta Ams ataca com frequncia essa diviso entre ricos e pobres e, em especial, o luxo dos ricos por um lado e a misria dos pobres por outro. Ams pinta um retrato real das circunstncias da poca. Destaca as belas construes de Samaria, mas tambm aponta para o fato de que os proprietrios dessas construes, os ricos mercadores e outros, eram homens que no se intimidavam com nada para aumentar os seus lucros. Eles odiavam qualquer dia em que no pudessem fazer negcios. Os ricos apreciavam a vida preguiosa e tolerante, impelidos pela voracidade e ganncia das suas mulheres que exigiam mais e mais luxos, e suas casas estavam repletas de tudo que pudesse significar uma vida opulenta e confortvel, enquanto, por outro lado, os pobres eram sujeitados a uma mpia explorao econmica. O negociante pequeno era forado a abandonar os negcios pelos grandes monoplios e no conseguia obter no tribunal reparao alguma pelas injustias sofridas, pois a corte estava nas mos dos ricos poderosos que formavam um cartel e, por consequncia, a justia pervertida, as testemunhas eram compradas e os juzes subornados. A justia oferecida era de fato um clice amargo, pois os processos legais haviam sido totalmente corrompidos e eram na verdade usados como ferramentas de opresso. Tinha se tornado em pouco mais do que um mercado em que o pobre era escravizado e em que o ltimo pedao de terra lhe era arrancado fora e os seus direitos violados impunemente.

    Lado a lado com a degradao da ordem social, estava a perverso da religio de Israel, uma questo tambm exposta com habilidade pelo profeta Ams. O estilo de adorao aos deuses da Cana fora transferido para Deus e tinham

  • prosseguido rapidamente a passos rpidos sob Roboo e Jeroboo I desde os dias do rei Salomo e do colapso do reino unido. Em Israel, tornou-se visvel que a adorao a Deus, mesmo mantendo a continuidade, estava associada com as prticas degradantes da adorao Canania, embora talvez seja adequado sinalizar que nunca chegou s profundezas da apostasia que atingiu em Jud sob o governo de Manasss. interessante perceber que a pesquisa arqueolgica na regio de Samaria, fornece um nmero de nomes compostos com Baal que equivalente a quase metade dos nomes compostos com Deus. Pode parecer que, fora essas vozes isoladas como as de Ams ou Oseias, at os profetas se degeneraram em oportunistas, cegados pela complacncia da nao. A religio certamente estava prosperando no pas, mas era uma religio completamente divorciada da realidade. Era em grande parte um ativismo e uma demonstrao exterior com as multides enchendo os santurios nos perodos das festas religiosas. As festas religiosas eram oportunidades frequentes para celebraes, refeies comunais e ajuntamentos sociais. O que fora institudo como um meio de louvar e honrar a Deus, porm, no estava lhe trazendo nenhum prazer.1 Os rituais eram bem elaborados, mas acompanhados de caractersticas como a prostituio cultual e orgias e bacanais que faziam parte dos cultos de fertilidade das naes volta de Israel. No havia evidncia da verdade e de que valores espirituais tivessem algum lugar. Deus foi prestigiado com uma presuno que beirava a arrogncia.

    Esse foi o contexto a que o profeta Ams se dirigiu com a palavra de Deus. Na superfcie, essa situao era radiante e parecia cheia de esperana para o futuro, mas o profeta Ams conseguia observar o que o povo de Israel no percebia, ou seja, que a abdicao propositada dos princpios divinos para a nao havia conduzido corroso gradativa de todo o fundamento da sociedade. O pas deveria ser comparado com um cesto de frutas de vero extremamente maduras, ou seja, passadas, que serviam somente para serem lanadas fora e destrudas.

    Identidade do profeta Ams:

    O profeta Ams conhecido somente no livro em que os seus orculos foram profetizados e preservados. Para os compiladores dos livros profticos, a coisa que importava era a mensagem, e no o homem que a transmitiu. No obstante, possvel observar um retrato do profeta com base nas escassas informaes que o livro apresenta. Na poca em que iniciou o seu ministrio proftico, Ams estava morando na regio do deserto no sul de Jud, uma regio conhecida como Tecoa, uma pequena cidade no alto de um monte, aproximadamente vinte quilmetros de Jerusalm e a dez quilmetros a 1 WALTON, J. H. Comentrio bblico Atos: Antigo Testamento. Belo Horizonte: Atos, 2003, p.795.

  • sudeste da cidade de Belm. Ele parece ter nascido no Reino do Sul, ou seja, em Jud. Tecoa era o centro de uma regio de criao de ovelhas, e esse na verdade a profisso que o profeta Ams exercia. Ele afirma que, quando Deus o chamou a misso proftica, estava cuidando do gado. O prprio profeta usa duas expresses: cuido do gado e fao colheita de figos silvestres(sicmoro)2. Mas tambm ele se identifica como pastor, ou seja, criador de ovelhas, que era usado para descrever o criador de uma espcie especfica de ovelhas do deserto muito valorizadas em razo da excelente l que produziam. provvel que Ams seria proprietrio de ovelhas e tinha outros pastores sob suas ordens. Tambm pode ter sido um homem importante e respeitado na sua comunidade. No se pode pensar em Ams como um homem bruto e inculto. peculiarmente difcil estabelecer a sua posio social, mas um crtico to articulado da corrupo da sociedade urbana dificilmente poderia ter sido um simples matuto do campo. A declarao, eu no sou profeta, nem filho de profeta uma sinalizao de que ele no possua nenhuma experincia relacionada ao ofcio proftico, at o chamamento por parte de Deus que o retirou do trabalho com ovelhas e o designou para a misso proftica.3

    Ams emerge da coleo dos seus orculos como um homem com a profunda convico da mensagem que ele tinha de anunciar. possvel perceber em Ams um sucessor digno do profeta Elias, um homem determinado por seu zelo pelo avivamento da religio e da moralidade social, para quem as prticas cananeias revestidas da devoo a Deus eram quase to repugnantes quanto eram particularmente os rituais pagos. O chamado do profeta Ams o arrancou da sua vida normal e o colocou em outro pas levantando sua voz atravs do ai sua sociedade, religio e governo em nome de Deus. Ele se tornou exclusivamente o mensageiro cuja vida era o veculo da sua mensagem.

    Mensagem:

    O profeta Ams provavelmente conhecia muito bem o povo de Israel, pois deve ter visitado os seus mercados para vender seus produtos. As suas falas testemunham de um conhecimento profundo da situao. A caracterstica essencial da mensagem de Ams pode ser resumida na palavra justia, compreendida com o aquilo que Deus exige. Ele veio a uma nao em que os fracos, pobres, aflitos e inocentes estavam sofrendo diversas formas de injustia, sendo vendidos como escravos, e eram espoliados e explorados. A profecia de Ams uma acusao contra o Reino do Norte por ter permitido que a situao chegasse a esse ponto. Por possurem conhecimento de Deus,

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    O sicmoro no deve ser confundido com a nossa figueira. O sicmoro em Israel crescia

    principalmente nas plancies. Era usado como alimento, porm no era to apreciado quanto o figo

    comum, sendo, portanto, um alimento dos pobres. 3 DILLARD, R. B. Introduo ao Antigo Testamento. So Paulo: Vida Nova, 2006, p.360.

  • a justia, no sentido da conduta correta e da vida correta orientadas de acordo com a lei de Deus, devia ter caracterizado a nao. A profecia de Ams veio como resposta de Deus injustia e iniquidade. Os fracos e os pobres haviam clamado a Deus, e a resposta de Deus veio por meio da profecia de Ams. uma mensagem de condenao e escurido no abrandadas, que consiste totalmente em juzo sobre uma nao irreligiosa. As palavras de Ams foram direcionadas contra as trs reas da vida da nao: a administrao da justia nos tribunais, a afluncia e fartura dos abastados e o estado do culto nos santurios. Diante de Ams, o tribunal parecia representar a instituio central da vida da nao, pois era do tribunal que a justia deveria ser revelada e a equidade estabelecida. O tribunal deveria defender o fraco e o pobre, mas, na verdade, como Ams observou, a justia que era ministrada aos pobres era amarga como absinto. Os processos legais eram totalmente corrompidos e usados como ferramentas de opresso. Ams tambm dirigiu a sua ateno influncia das classes abastadas. importante observar que ele no direcionou a sua mensagem de juzo contra os ricos porque ele fosse asceta, mas, antes, a riqueza que ele denunciava era obtida atravs da opresso aos pobres por intermdio da injustia social, e isso, por sua vez, provinha da forma da religio da nao. Era uma religio vazia de contedo, embora repleta de rituais. Ams insistiu em que Deus no tinha tempo para uma religio ritualista sem vida. A verdadeira religio precisa ser demonstrada por meio de ao, atitude, e a ao que Deus exige equidade verdadeira. Essa equidade deve se mostrar na compaixo, misericrdia e justia social. Israel era uma nao privilegiada, mas o privilgio est relacionado responsabilidade, e Israel havia esquecido as obrigaes da responsabilidade que estava contida na adorao a Deus.

    O comportamento de Israel era tal que o juzo j estava porta. Como um leo para apanhar sua presa, assim Deus estava pronto para trazer juzo sobre o povo de Israel. Deus no iria poupar o povo, mas passaria no meio com juzo severo que os removeria da terra. O Deus que deu a Israel o seu passado no vai lhes dar futuro algum como vindicao da sua vontade contra a deles. Os orculos pronunciados por Ams no oferecem esperana de um futuro promissor, mas de julgamento para o Israel do rei Jeroboo. A mensagem do profeta Ams apresentada em estilo claro e com veemncia. Ele demonstra um domnio amplo de habilidades retricas, suas sentenas so bem elaboradas e, acima de tudo, possui uma habilidade extraordinria no uso de ilustraes. A maioria dela foi colecionada nas suas observaes e experincias da vida no espao rural. Ele usa a imagem do leo fugindo com a ovelha que apanhou no rebanho e as tentativas frustradas de resgate. Ele fala de ferramentas usadas na debulha e armadilhas para pssaros selvagens. Ele se refere s atividades de pescadores como tambm a coisas como pragas e ferrugem e outros momentos da vida conhecidos por aqueles que tambm

  • eram homens do mundo rural. Em todos esses quadros dos eventos naturais, mais especificamente daqueles de desastres e catstrofes, ele demonstra a observao cuidadosa do mundo sua volta. Uma parte dos orculos est em forma potica. perceptvel que o livro de Ams um dos textos dos mais bem preservados dos livros profticos. H poucos textos que apresenta dificuldades para a hermenutica.

    Estrutura:

    Os orculos contra as naes 1.3-2.16: Ams comea dirigindo acusaes profticas contra oito naes, para finalmente concentrar sua ateno nas denncias contra Israel. Essas acusaes enredam Israel num tipo de quiasma geogrfico, ou seja, situa-se no centro de um cruzamento de vrias naes. As naes gentias so acusadas principalmente por crimes de guerra. Cada um dos orculos individuais usa um esquema numrico(por trs transgresses e por quatro) comum na literatura de sabedoria. Percebe-se que os orculos de Ams contra as naes faltam os motivos mitolgicos que caracterizam as coletneas dos profetas encontradas em Isaas, Jeremias e Ezequiel. Ao contrrio dessas outras coletneas, os orculos em Ams so em grande parte um dispositivo retrico culminando na condenao de Israel. Seu pblico teria concordado prontamente com as denncias de atrocidades cometidas pelos estados vizinhos, apenas para ser surpreendido com a condenao por injustia social contra a casa em frente. Observa-se que nesses orculos um crescente senso de urgncia at chegar denncia contra Israel. Os arranjos dos orculos so inteligentes e subversivos: eles constroem um circulo de inimigos menosprezados, tornando-se uma armadilha para um Israel que de nada desconfia. Algumas indagaes podem ser discutidas a partir desses orculos: Seria um apelo a alguma lei internacional universalmente conhecida? Ou alguma forma de lei natural? Ams fundamentava a sua acusao em alguma aplicao especfica da prpria lei da aliana de Israel? O uso de dispositivos literrios caractersticos da literatura sapiencial sugere um recurso a preceitos universalmente reconhecidos e embutidos na esfera moral. A antiga literatura de tratados hititas possua prescries especficas com relao conduta na guerra e ao tratamento de prisioneiros, atestando a ampla aceitao das premissas morais que aparecem nos orculos do profeta Ams.

    Discursos de julgamento contra Israel 3.1-6.14: Ams usa uma ampla variedade de formas literrias. O discurso processual proftico proeminente. Nessa fala o profeta serve como o mensageiro enviado para apresentar o processo de Deus contra Israel. Nas demandas dos livros profticos da Bblia, como em suas contrapartes extrabblicas, o senhor numa relao de pacto

  • envia um mensageiro para lembrar o vassalo ou protegido desobediente de suas obrigaes de acordo com os termos de seu pacto e do fracasso na manuteno de tais termos. O quadro extremamente judicial: apresenta-se o juiz demandante; as relaes passadas das partes contratantes, em especial os fatos recentes da desobedincia por parte do vassalo so revisadas; as testemunhas so convocadas; as acusaes so pronunciadas; o interrogatrio retrico algo comum; oferece-se o arrependimento mediante a possibilidade da reparao do pacto e especifica-se a ameaadora punio. No captulo trs de Ams comum esses elementos num aspecto judicial. So apresentados o demandante e o acusado, uma breve narrativa da relao passada e a ruptura na relao so pronunciadas; o interrogatrio caracterizado pelo uso de perguntas retricas, e a condio de mensageiro do profeta demandado confirmada. As testemunhas so convocadas dentre os povos vizinhos para ouvir o julgamento anunciado. Alm dos elementos do processo proftico, tambm aparecem discursos de julgamento e orculos de lamento. As profecias de Ams suscitaram oposio da instituio do norte e da populao em geral e seus ouvintes se recusaram a reconhecer a sua autoridade proftica. Por essa razo o profeta aps os seus orculos, foi deportado, terminando, assim, efetivamente a sua carreira como profeta da periferia. possvel ter ento funcionado como profeta central em Jud.4

    Os relatos das vises 7.1-9.15: O profeta apresenta uma narrativa das vises que recebeu. As quatro primeiras se assemelham, porm se distinguem da quinta. Nas quatro primeiras, Deus mostrou objetos ou eventos ao profeta, e existe um dilogo entre os dois. Na ltima viso, o objeto visto o prprio Senhor e no h dilogo entre Deus e o profeta; nenhuma ao particular presenciada, e o profeta permanece como um ouvinte silencioso do pronunciamento divino. As primeiras quatro vises esto ainda claramente relacionadas entre si e forma uma estrutura prpria como conjunto. As duas vises iniciais retratam eventos e as duas seguintes, os objetos. Nas duas primeiras, o profeta intercede junto a Deus e suplica, com sucesso, para que ele impea o desastre; nas duas ltimas, os acontecimentos inesperados no podem ser evitados. As duas primeiras manifestaes representavam as maiores ameaas a uma sociedade rural e no precisava de muita explicao, mas as outras duas exigia certa elaborao. O prumo representa os padres de Deus, a sua lei, seus princpios, seu pacto. Era a medida da retido em contraste com a desobedincia de Israel. Uma cidade com os muros fora do prumo no continuar em p. Na ltima viso, o cesto de frutos, o profeta se entrega a um jogo de palavras semelhante s vises do profeta Jeremias. O fruto de vero invocava uma mensagem sobre o fim de Israel, a nao ficou madura para o julgamento. Os dois grupos de vises emparelhados podem 4 WILSON, R. R. Profecia e sociedade no antigo Israel. So Paulo: Paulus, 2006, p.315.

  • refletir diferentes momentos temporais no tempo proftico de Ams. Na sua primeira fala (primeira e segunda vises), ainda se podia evitar o julgamento. A seguinte, quando a sua mensagem havia sido rejeitada evidencia o inevitvel julgamento. O livro termina com uma mudana inesperada para um orculo de salvao. Uma vez arruinada a nao fora de prumo, ela ser reconstruda. O povo degenerado desfrutar uma vez mais a restaurao numa terra frutfera. Israel se tornar o den restabelecido. A fartura agrcola um tema comum nos espaos profticos para descrever as bnos do futuro na perspectiva messinica. Embora alguns pesquisadores tenham associado esse orculo a um escriba posterior, percebe-se que o profeta oferece esperana da reconstruo de um novo reino na perspectiva monrquica nica, envolvendo o Reino do Norte(Israel) e o Reino do Sul(Jud), reunidos sob o trono davdico. Ams faz uso de uma ampla gama de dispositivos literrios ao apresentar os orculos: metforas, smile, eptetos, provrbios, narrativas curtas, sarcasmo, vituperao direta, viso, insulto, dilogo, ironia, stira e pardia. A recorrente imagem dos espaos rurais pode refletir a histria de vida do profeta como pastor e trabalhador com sicmoros. O profeta parece ter apreciado a repetio metdica e o uso de perguntas retricas, alm de frases repetidas. Ele usa com frequncia as citaes sumrias, um dispositivo pelo qual ele registra as palavras de seus oponentes. Tambm usa trocadilhos e s vezes chama a ateno dos seus ouvintes com apelos repetidamente veementes.