Programa de Justiça Restaurativa Aplicado na Escola · •“redução da maioridade penal” ......
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Programa de Justiça Restaurativa Aplicado na Escola
Mayta Lobo dos Santos
Assessora Jurídica
Mestre em Psicologia Forense
Justiça Restaurativa
uma forma diferente de se pensar e fazer justiça
“Eu quero que a justiça seja feita” !
Qual lógica adotamos?
Discursos: • “violência escolar” • “guerra contra o crime” • “combate a criminosos” • “punições mais duras” • “alunos transgressores” • “redução da maioridade penal” • “afastamento para não contaminar os demais”
Solução
A resolução jurídica de um conflito é uma resposta jurídica ao próprio conflito, contudo, ela não resolve o conflito em si, não oferece, de fato, uma solução.” (Daniel Achutti)
A Justiça Restaurativa é uma nova forma de se fazer justiça, onde os envolvidos em conflitos destrutivos chegam de forma autônoma a acordos, reparando os danos que diferentes formas de violência causam a indivíduos e grupos, restaurando o tecido social esgarçado ou rompido pelas situações de desrespeito, prevenindo a violência pelo tratamento de suas causas, com atendimento aos direitos sociais até então negados e promovendo uma inserção comunitária mais justa, solidária e cidadã.
JUSTIÇA RESTAURATIVA Pelas suas características e resultados positivos, a adoção da
Justiça Restaurativa passou a ser recomendada pela ONU (Organização das Nações Unidas) aos Estados membros, por meio de resoluções desde 1999.
Histórico brasileiro: • Anos iniciais do Século XXI – Reforma do Judiciário: - debate sobre a função social do Judiciário - justiça mais participativa - amplo acesso ao direito - fortalecimento da dimensão de respeito aos direitos humanos e de
uma justiça garantidora de direitos sociais - democratização da sociedade - universalização dos direitos econômicos, sociais, culturais e
ambientais
JR no BRASIL
• 2005 – Projetos-piloto – implantados com financiamento pela Secretaria de Reforma do Judiciário e pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento – em: Brasília, Porto Alegre e São Caetano do Sul, com resultados animadores
Após o estudos realizados sobre o tema, verificou-se que o local mais indicado para iniciar um programa de Justiça Restaurativa é a escola. Uma vez que os conflitos ocorridos neste ambiente envolvem pessoas que detém uma relação social umas com as outras, facilitando assim a abordagem e sensibilização dos envolvidos. No entanto, é necessário o devido esclarecimento quanto aos conflitos objetos da Justiça Restaurativa, que não são situações de indisciplina (tais como gritar, gazear aula e discutir), pois estas devem ser dirimidas tão somente pela equipe educacional (professor, orientador pedagógico e diretor). A Justiça Restaurativa é método utilizado para resolução de atos equiparados a crimes ou contravenções penais – atos infracionais.
PASSOS DO PROGRAMA DE JR
• Escolha do local
• Indicações / indicativos
• Aceitação / autorização
• Apresentação / palestras
• Pré testes (IEP / EVE / Escala de generosidade)
(1.729 alunos → 1.125 testes)
• Análise livros atas (critérios)
PASSOS DO PROGRAMA DE JR
• Formação da Comissão
• Reuniões (organização / frequência)
• Análise de casos concretos
• Seleção dos casos (critérios)
• Escolhas das partes (primárias e secundárias)
• Pré-círculo
• Círculo (acordo → ações)
• Pós-círculo
Processo Restaurativo - Círculos Se concretiza através de um ou mais encontros,
quantos forem necessários, entre as partes e um facilitador, que irá preparar os indivíduos para que possam se reconhecer como semelhantes, se respeitarem e estarem receptivos a fala do outro.
A Justiça Restaurativa permite à vítima demonstrar ao infrator o seu real prejuízo e uma reparação eficaz do dano. Mas não permite a humilhação ou o julgamento do ofensor. O foco é a ação destrutiva.
A responsabilização do agressor é definida com a sua participação. Sendo consideradas a proporcionalidade, a capacidade do agente para cumprir, e a eficácia da punição que deve ser educativa e preventiva.
PASSOS DO PROGRAMA DE JR
• Pré-círculo: sessões individuais com as partes (primárias e secundárias), com intuito de escutá-las de maneira empática, para definir com elas o objeto a ser abordado no Círculo. Também neste momento há a apresentação das fases e o propósito do procedimento. Havendo a aceitação, é assinado o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
PASSOS DO PROGRAMA DE JR • Círculo: com a participação conjunta de todos os
envolvidos. Aqui haverá a oportunidade do diálogo e compreensão mútua, através da expressão de sentimentos, buscando o entendimento das necessidades atuais, as do tempo do fato cometido, e as que pretendem que sejam atendidas. Com o foco na auto-responsabilização, através da escuta empática. Tais resoluções são concretizadas através de um acordo celebrado entre os envolvidos. Este é redigido pelo coordenador e deve constar todas as ações que cada participante se comprometeu a realizar com a finalidade de se reparar o dano causado, assim como o local e a data do Pós-círculo.
PASSOS DO PROGRAMA DE JR
• Acordo:
- É no acordo que desemboca o processo do Círculo Restaurativo. No entanto, não pode ser forçado, e não é por ele que se mede o sucesso do círculo.
- É único e une as duas pessoas que antes estavam separadas pelo conflito.
- Consiste em uma AÇÃO, em algo que se vai FAZER para reequilibrar, restaurar, curar a relação desequilibrada, quebrada, ferida pelo conflito.
- É formalizado em um documento, assinado por todos.
PASSOS DO PROGRAMA DE JR • Ações propostas:
- Expressão de sentimentos e necessidades;
- Reconhecimento do erro;
- Pedido de desculpas;
- Compromisso de mudança;
- Programa de Comportamento Moral;
- Reforço Escolar;
- Palestras com exibição de vídeo, aos demais alunos;
- Auxílio e comparecimento na peça de teatro;
- Psicoterapia;
- Programa de Práticas Educativas Parentais.
PASSOS DO PROGRAMA DE JR
• Pós-círculo: ocorre para a verificação do cumprimento ou não de todas as ações acordadas. Caso o acordo tenha sido cumprido e satisfatório, ocorrerá por parte de cada participante e do coordenador uma avaliação de todo o procedimento e as mudanças eventualmente sofridas por cada um. Não havendo a satisfação do acordo, serão expostas as suas razões e se analisará a hipótese de novo pacto ou ajuste do anterior.
Conclusão
Os conflitos são inevitáveis e as formas e ferramentas para a solução são diversas. Entretanto, não são simples escolhas. Elas decorrem da personalidade, do histórico e contexto familiar e social. Cada qual tem seu repertório.
A transformação da violência à paz, depende da aprendizagem de valores, apoio, empatia e auto-responsabilização, fundada na liberdade, o que não afasta a autoridade.