Programa Homospiritualis: arte e imaginário na educação para a paz

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO - UFMA V seminário Arte e Imaginário na Educação 6 a 8 de agosto/2014 oficina Programa Homospiritualis: arte e imaginário na educação para a paz Adilson Marques - Doutor em Educação/USP Resumo Esta oficina vai apresentar o t rabalho realizado pelo Programa Homospiritualis, criado em setembro de 2000, para atuar com Cultura de Paz no município de São Carlos. A partir de 2003, o Programa passou a ser conduzido pela ONG Círculo de São Francisco    Instituto de Animagogia. A oficina será oferecida em dois encontros de duas horas, com a seguinte estrutura: apresentação do Programa Homospiritualis e da ONG Círculo de São Francisco, no  primeiro encontro, e uma reflexão sob re a Animagogia e s eu mito diretor, Orfeu, encerrando com uma vivência de Terapia Vibracional Integrativa (TVI), no segundo. Palavras-chaves:  Programa Homospiritualis, Animagogia, Terapia Vibracional Integrativa (TVI), Imaginário, Cultura de Paz Introdução O Programa Homospiritualis foi criado em setembro do ano 2000, na cidade de São Carlos, para valorizar a Cultura de Paz, dentro da perspectiva sugerida pela UNESCO no documento Manifesto 2000. O Programa foi organizado a partir de 3 eixos temáticos: Cultura de Paz e Diversidade Religiosa; Cultura de Paz e Saúde Integral; e Cultura de Paz e (Re)envolvimento Humano.

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO - UFMA

V seminário Arte e Imaginário na Educação

6 a 8 de agosto/2014

oficina

Programa Homospiritualis: arte e imaginário na educação para a paz

Adilson Marques - Doutor em Educação/USP

Resumo

Esta oficina vai apresentar o trabalho realizado pelo Programa Homospiritualis, criadoem setembro de 2000, para atuar com Cultura de Paz no município de São Carlos. A partir de2003, o Programa passou a ser conduzido pela ONG Círculo de São Francisco – Instituto de

Animagogia. A oficina será oferecida em dois encontros de duas horas, com a seguinteestrutura: apresentação do Programa Homospiritualis e da ONG Círculo de São Francisco, no primeiro encontro, e uma reflexão sobre a Animagogia e seu mito diretor, Orfeu, encerrandocom uma vivência de Terapia Vibracional Integrativa (TVI), no segundo.

Palavras-chaves: Programa Homospiritualis, Animagogia, Terapia Vibracional Integrativa(TVI), Imaginário, Cultura de Paz

Introdução

O Programa Homospiritualis foi criado em setembro do ano 2000, na cidade de SãoCarlos, para valorizar a Cultura de Paz, dentro da perspectiva sugerida pela UNESCO nodocumento Manifesto 2000. O Programa foi organizado a partir de 3 eixos temáticos: Culturade Paz e Diversidade Religiosa; Cultura de Paz e Saúde Integral; e Cultura de Paz e

(Re)envolvimento Humano.

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Para que o mesmo pudesse se estruturar e se expandir, em março de 2003 foi criada aONG Círculo de São Francisco – Instituto de Animagogia para coordenar o ProgramaHomospiritualis. Entre os anos de 2001 e 2014, alguns eventos foram organizados:

- 13 edições doEncontro Homospiritualis de Educação e Cultura para a Paz ;

- 5 edições doFórum Permanente de Educação, Cultura de Paz e Tolerância

Religiosa;

- 4 edições daJornada de Saúde e Espiritualidade e

- 3 edições daJornada de Educação e Espiritualidade .

Estes eventos reuniram representantes de diferentes doutrinas religiosas, pesquisadoresnão-cartesianos, atuantes nas mais diferentes áreas de pesquisa, terapeutas holísticos enaturalistas, artistas etc. E, entre os anos de 2005 e 2006, contou, inclusive, com a participação de supostos espíritos que, através de médiuns, fizeram palestras públicas sobrevariados temas, por exemplo, sobre a Umbanda e o Evangelho de Tomé.

Além destes eventos, o Programa Homospiritualis foi responsável pela edição e

publicação de 33 livros, destacando-se, na perspectiva da antropologia do imaginário, osseguintes:

- História Oral, Imaginário e Transcendentalismo: mitocrítica dos ensinamentos doespírito pai Joaquim de Aruada (estudo acadêmico); Rede da esperança (infanto-juvenil); eQuando grãos de areia se transformam em fios de ouro (mito-estória de vida).

O Programa Homospiritualis, de forma geral, pode ser classificado como uma proposta de inter(in)venção sociocultural e espiritualista pós-moderna, entendendo, com Jean-François Lyotard (1993), que a pós-modernidade caracteriza-se pela crise dos relatos, ou seja, pela transformação do pensamento humano em relação à existência de uma Verdade,caracterizada por um tipo específico de linguagem, a científica. Em seu famoso texto“O pósmoderno”, ele afirma que a Modernidade pode ser caracterizada pela pretensão de instituir oconhecimento científico como o único saber capaz de orientar o homem em todos os domíniosda vida social. Na ciênciaestariam contextualizados os metadiscursos de “pretensões

atemporais e universalizantes”.

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Do ponto de vista da Antropologia do Imaginário, podemos relacionar tal pretensão damodernidade às imagens que Gilbert Durand (1997) classificou de“diairéticas” e que sãotípicas das “estruturas heroicas do imaginário” . Estas seriam as responsáveis por estimularuma mentalidade e um comportamento egocêntrico, esquizomórfico e “monárquico” nos

especialistas, uma vez que estes são estimulados para apresentar uma postura diferente – esuperior – às pessoas que compreendem o mundo através de “pré -conceitos” teológicos ou do

senso comum. Através destas regras básicas, o conhecimento (ou o saber científico), ao serconstruído através de uma linguagem denotativa, deveria adquirir uma materialidade própria,enquanto o cientista passaria a ser “objetivado”, ou seja, tornar -se-ia anônimo para permitir ocompartilhamento do saber científico de forma separada e alienada de seu criador.

Para Lyotard (op. cit.), a Pós-Modernidade se caracteriza por aceitar a variedade de jogos de linguagens ou discursos, em substituição aos grandes relatos da Modernidade e suaobsessão pela medição e quantificação, assim como de seu modelo de racionalidade que visadominar o mundo e não contemplá-lo.

E Lyotard (op. cit.) aponta ainda que foi do próprio seio da Modernidade que surgiu oseu algoz: as descobertas no âmbito da Termodinâmica que trouxeram novas questões,

impossíveis de serem resolvidas sem abandonar a ideia motriz da modernidade, ou seja, adescrição objetiva da natureza, baseada na Física newtoniana. Com a segunda lei datermodinâmica (da dissipação da energia), o quadro determinístico (causa e efeito) da Físicanewtoniana passou a ser questionado e a solução para o problema só foi possível com osurgimento da chamada Teoria das Probabilidades e da Física Quântica.

Para demonstrar a importância da subjetividade e de outros elementos “não

científicos” e reintroduzir o paradoxo (ou seja, ooxímoron dos pré-socráticos), demonstrando

a relatividade de todo conhecimento científico, Heisenberg, físico teórico e prêmio Nobel em1932, elaborou na obra Princípios físicos da teoria dos quanta dois capítulos antagônicos. O primeiro criticando as noções físicas da teoria corpuscular à luz da teoria ondulatória e, osegundo, estabelecendo o procedimento contrário, ou seja, criticando as noções físicas dateoria ondulatória à luz da teoria corpuscular.

Para Lyotard (op. cit.)“o princípio da incerteza de Heisenberg” está nos fundamentosde uma ciência Pós-moderna e também em seus desdobramentos, seja na educação, na açãocultural etc., nas quais o pensamento “dilemático" ou “anfibólico”, ou seja, a ambigu idadeque compartilha com o seu oposto uma qualidade comum, esta sempre presente. Esta abertura

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para outras formas de saber (arte, filosofia, religião, senso comum...) e para outras linguagens,além da denotativa, é uma forma de relativizar o valor da ciência no mundo contemporâneo,algo presente na obra, por exemplo, do filósofo Paul Feyrabend, que no livro Contra o método

(1977) afirma que a educação deve ser independente da religião, mas também da ciência,abrindo-se para todas as formas de saber, inclusive as “ps eudo-ciências” , como é o caso daastrologia, que estudou no texto “o estranho caso da astrologia”.

É importante salientar que a epistemologia proposta pelos pós-modernistas nãorepresenta uma condenação às teses da ciência moderna, mas a relativização das doutrinasabsolutas (metanarrativas), como são as de Marx, Freud e outras. Assim, a ciência pós-moderna assumiria um papel mais modesto e menos pretensioso, relativizando o sabercientífico e abrindo-se para outras formas de construção de conhecimento (arte, religião,senso comum etc).

Foi dentro desta perspectiva pós-moderna que foi criado o Programa Homospiritualis para se trabalhar com cultura de paz, valorizando a saúde integral, a diversidade religiosa eajudando a promover o (re)envolvimento humano.

O Programa Homospiritualis e seus três eixos de ação

Organizado a partir de três eixos temáticos e conduzido por voluntários, o ProgramaHomospiritualis procura ser um programa de ação cultural abrangente e capaz de valorizar o(re)envolvimento humano com a natureza, com a comunidade, com o corpo e com a alma.

Não há um eixo que possa ser considerado superior. Todos se integram e serelacionam de forma horizontal. A apresentação abaixo é meramente didática, semestabelecimento de uma ordem de valores.

Eixo 1 – Cultura de Paz e Diversidade Religiosa

Este eixo tem como plano de trabalho, até 2015, as seguintes atividades:

- organizar o Fórum Permanente de Educação, Cultura de Paz e Tolerância Religiosa,que acontece, desde 2010, entre os dias 21 e 30 de janeiro, respectivamente, o dia nacional de

combate à intolerância religiosa e o dia internacional da não-violência;

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- Difundir e tentar implementaras propostas aprovadas no “manifesto pela paz e pela

tolerância religiosa em São Carlos”;

- organizar eventos culturais e sociais que valorizem a diversidade religiosa,diminuindo o preconceito em relação às religiões afro-brasileiras, ao ateísmo e outras formasde religiosidade que são vítimas de preconceito ou intolerância, visando garantir plenamente aliberdade religiosa no município de São Carlos.

Eixo 2 – Cultura de Paz e Saúde Integral

Este eixo tem como plano de ação até 2015, a organização das seguintes atividades:

- as jornadas de saúde e espiritualidade (anos ímpares) e de educação e espiritualidade(anos pares) que acontecem, preferencialmente, no mês de março;

- cursos, oficinas e outros eventos que podem ser realizados tanto no Centro deReferência Comunitária em Tratamentos Naturais, Complementares e Integrativos da ONGCírculo de São Francisco, ou em outros locais da cidade, em parceria com outrasorganizações, empresas privadas ou com o poder público.

- cursos de difusão gratuita da Terapia Vibracional Integrativa (TVI), de preferênciaem ONGs, postos de saúde e locais onde a prática possa ser implementada para atendergratuitamente a comunidade local.

- estabelecer parcerias com outras forças políticas e sociais pela implementação nomunicípio de um centro municipal de tratamentos naturais, complementares e integrativos,atendendo pelo SUS.

Eixo 3 – Cultura de Paz e (Re)envolvimento Humano

Este eixo tem por meta, até 2015, atuar nas seguintes frentes:

- defesa dos direitos dos animais; estimulo a uma alimentação mais saudável e natural,valorização do parto humanizado etc.;

- organização do Encontro Homospiritualis de Educação e Cultura para a Paz,realizado, preferencialmente, no dia 04 de outubro, dia de São Francisco de Assis;

- valorização da economia solidária e criativa, além da agricultura familiar e orgânica.

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A ONG Círculo de São Francisco e seu papel no desabrochar do Homo spiritualis

A dificuldade em encontrar parceiros e locais para realizar o ProgramaHomospiritualis acabou sendo um estímulo para criar, em março de 2003, a ONG Círculo deSão Francisco. O nome foi sugerido em uma reunião mediúnica por um suposto espírito quese identificava como dr. Felipe e que dizia ser membro da equipe de Bezerra de Menezes,famoso ser incorpóreo no meio espiritista e umbandista.

A ONG nasceu com a missão de estimular o voluntariado e ajudar na popularizaçãodas práticas terapêuticas naturais, complementares e integrativas. Atualmente funciona nocentro de São Carlos, na Rua nove de julho, 1380, em três salas comerciais: 15, 19 e 21.

Ela foi importante para a elaboração e difusão da Animagogia, uma proposta de

educação espiritualista de cunho universal e transreligioso e também da Terapia VibracionalIntegrativa (TVI), uma proposta terapêutica que une práticas de Chi Kung, de meditação etratamentos bioenergéticos através da imposição das mãos.

Até o ano de 2012, seu estatuto não autorizava a cobrança por cursos ou atendimentosterapêuticos e também não permitia o uso de recursos públicos em suas atividades. Com amudança realizada no estatuto, apenas os atendimentos não podem ser cobrados. Qualquercurso, desde que o dinheiro arrecadado seja utilizado na manutenção da ONG, pode ser

cobrado, assim como obter recursos públicos captados através de editais, prêmios, prestaçãode serviços etc.

Após a mudança no estatuto, realizada no final de 2012, a ONG vem se estruturando para integrar o Conselho Municipal de Saúde e estabelecer parcerias com o poder publicomunicipal. Além de manter o Programa Homospiritualis, a ONG é responsável pelofuncionamento do Centro Comunitário de Referência em Tratamentos Naturais,Complementares e Integrativos que oferece, gratuitamente, atendimentos de constelação

familiar, aulas de hatha-yoga, sessões de apometria etc.

Animagogia: uma educação espiritualista transreligiosa e universalistaApesar de recente, completando, em março de 2014, 11 anos de existência, já foi

possível organizar três encontros de Animagogia do Nordeste, dois na cidade de Natal/RN eum em Fortaleza/CE, e um encontro de Animagogia do Centro-Oeste, na Cidade de CampoGrande/MS, onde suas teses foram apresentadas e discutidas com diferentes grupos formados

por espiritualistas, religiosos e cientistas não-cartesianos.A Animagogia é um desdobramento datese de doutorado “nossas lembranças mais

pessoais podem vir morar aqui: sociagogia do (re)envolvimento e anima-ação cultural”,

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defendida em 2003, na Faculdade de Educação da USP. Na tese foi apresentada a noção de(re)envolvimento humano como uma antropolítica fundamental para o momento histórico noqual estamos inseridos, também chamado de “pós -moderno” .

Porém, o (re)envolvimento humano não pressupõe um retorno puro e simples ao passado, a um estilo de vida arcaico ou a um modo de ser, pensar e agir não-moderno. Aantropolítica por nós chamada de (re)envolvimento humano parte do pressuposto que omundo moderno se insurgiu, necessariamente, contra o “envolvimento” predom inante narelação sociedade/natureza, destruindo a religiosidade própria das sociedades primitivas,quebrando os vínculos e instituindo o que Eliade chamou de Homo profanus .

A antropolitica do (re)envolvimento humano é uma proposta que visa rever este

sistema desenvolvimentista, dentro de uma perspectiva pós-moderna, de forma que aja espaçotambém para um estilo de vida mais natural, capaz de respeitar os ciclos da natureza erevitalizar os laços comunitários, além de tratar o corpo com mais atenção e respeito, sejaatravés de alimentos saudáveis, de partos humanizados etc., e redescobrir, sem dogmatismoou fanatismo, nossa dimensão espiritual ou transcendental.

Nesta perspectiva, a antropolítica do (re)envolvimento humano foi pensada como ummovimento ecológico, sociocultural e espiritualista capaz de estimular uma diferente forma de

conviver com a natureza, com a comunidade, com o corpo físico e com a alma, rompendo,assim, com o estilo de vida sem envolvimento e mecanicista próprio da modernidade(MARQUES, 2003). E este (re)envolvimento traz ao cenário da vida humanizada o Homo

spiritualis , que não se confunde com o Homo religiosus de Eliade, como já salientamos emoutros artigos (MARQUES, 2004, 2008 e 2013).

No âmbito das teorias antropológicas do imaginário, podemos inferir que associedades tradicionais ou não-modernas se identificavam, com mais frequência, com o

“imaginário místico” e as sociedades modernas, com sua visão economicista, mecanicista edesenvolvimentista, com o “imaginário heroico”. Por sua vez, a antropolítica do

(re)envolvimento humano, assim como a Animagogia e as atividades que compõem um programa de anima-ação cultural, busca valorizar as imagens noturnas do tipo “dramático”

(Durand, 1992), religando os dois polos arquetípicos anteriores.A Animagogia foi sendo amadurecida neste contexto, a partir, principalmente, das

reflexões realizadas no Encontro Homospiritualis de Educação e Cultura para a Paz, eventorealizado anualmente entre os anos de 2001 e 2013, na cidade de São Carlos/SP,consolidando-se por volta de 2005. Antes dessa data, porém, a expressão era utilizada paraidentificar o trabalho de educação com seres incorpóreos (espíritos) realizados na ONG por

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um grupo de médiuns, que se diferenciava do exorcismo e também da doutrinação kardecista.Somente em 2005 é que o termo passou a identificar uma proposta de educação espiritualtransreligiosa e universalista. E por não se constituir em uma doutrina religiosa, a Animagogia

possui pressupostos teóricos e suas teorias são revistas em eventos organizados para este fim.Para a Animagogia “somos espíritos eternos vivenciando uma experiência humana”,

como já salientava também Pierre Teilhard de Chardin, em seu famoso livro “O fenômeno

humano” (s/d), e que é um dogma comum a várias doutrinas religiosas. E o objetivo daexistência ou da humanização do espírito, segundo a Animagogia, é conseguir viver essaexperiência humana com habilidade espiritual.

Esse pressuposto básico nos leva a aceitar, como hipótese, que a consciência existe de

forma independente da matéria, como também defende os teóricos da PsicologiaTranspessoal, como Stanislav Grof (1987, 1989 e 1994). E esse pressuposto, que pode serchamada de “metafísico” ou não -científico, está em pé de igualdade com a visão dominanteno meio acadêmico que afirma ser a consciência fruto da vida orgânica que, por sua vez,surgiu da matéria (Monod, 1970). Afirmar que a consciência é um epifenômeno da matéria éapenas uma teoria, uma heurística, e não, necessariamente, uma verdade científica. Comoafirmou Carl Gustava Jung, livro Psicologia e religião oriental (s/d), as duas interpretações

são metafísicas.Compreendendo, portanto, que é preciso partir de um pressuposto, para a Animagogia

a consciência não é um produto das reações bioquímicas do cérebro, mas um atributo doespírito e, no contexto do (re)envolvimento humano, seu objetivo é ajudar a despertar osatributos do espírito, valorizando-os na vida cotidiana, processo que é realizado, sobretudo,silenciando o ego.

No momento, é importante salientar que o ego representa uma “consciência invertida”,

uma vez que desvaloriza os atributos do espírito que, segundo a Animagogia, são inerentes aoespírito e são os seguintes:1 – A consciência de ser um espírito passando por experiências humanizadas; 2 – A

vontade de se autorrealizar espiritualmente; 3 – O amor universal; 4 – A fé plena; 5 – Afelicidade incondicional; 6 – O agir de forma desinteressada; 7 – A humildade; 8 – A paciência; 9 – O agir de forma equânime (equanimidade); 10 – O livre-arbítrio; 11 - Acriatividade; 12 – A paz interior.

Estes atributos, durante a humanização do espírito, em tese, se encontramadormecidos. E será através de programas de anima-ação cultural, como é o caso do ProgramaHomospitualis de Cultura de Paz, que se busca colocar em prática a Animagogia e atingir seu

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objetivo: viver com habilidade espiritual a vida humanizada, ou seja, silenciando o ego paraque os atributos do espírito se manifestem plenamente. Pensando no âmbito arquetipológicoou mitocrítico, o mito diretor da Animagogia é Orfeu, que encantava animais ferozes e não

lutava, mas acompanhava os argonautas (heróis) em suas batalhas. E o final trágico de Orfeu ede sua amada Eurídice, mostra-nos os riscos das tentativas racionalizantes e as artimanhas doego para impedir que alcancemos nossos objetivos.

O que diferencia a Animagogia de outras propostas culturais é a intenção. Muitasvezes, as atividades podem ser as mesmas. Por exemplo, uma aula de hatha-yoga ou umasessão de reiki podem ajudar a viver o cotidiano com mais habilidade espiritual ou fortalecero ego, aumentando a vaidade, o orgulho etc. No primeiro caso, há uma intenção animagógica;

no segundo, não. Assim, as mesmas atividades podem fazer parte de um programaanimagógico ou não, dependendo sempre da intenção.

Nesta perspectiva, o importante para que um trabalho educativo possa ser chamado deAnimagogia é verificar se a intenção é estimular e valorizar os atributos do espírito.

Segundo a Animagogia, o ego (vida intelectual/razão), que só é possível com amanifestação da vida orgânica, nos afasta das energias primordiais ou divinas. Mas este processo tem uma finalidade providencial: ajudar o espírito a adquirir experiência e sabedoria

(não confundir com conhecimento). Assim, o espírito precisa desse contato com o mundomaterial, que deriva do sistema quântico (que, por sua vez, deriva do espiritual). A matériainorgânica (os minerais, por exemplo) traz em seu interior (no núcleo de seus átomos)energias derivadas do chamado “vazio quântico”, mas este ainda não seria a realidade última.

O “vazio quântico”, que autores como Fritjof Capra identificam com o TAO ou comBrahman, deriva do plano espiritual ou psíquico, na perspectiva adotada pela Animagogia.

A vida material, porém, não seria um reflexo das nossas mentes, como afirma o

misticismo quântico, mas uma realidade relativa importante para que o espírito possaexperimentar um mundo de sensações, de emoções e mental (ego) para que possa, através daintuição ou do despertar dos atributos do espírito, reconectar-se ao plano espiritual, a suaessência eterna.

Para a Animagogia a energia espiritual ou psíquica não é quântica. O dinamismoquântico no interior de um átomo não afeta a vida espiritual. Em sua proposta educativa,existe uma sequência natural e ascensional (matéria - energia - espírito - Deus) e osfenômenos energéticos só podem percorrer um caminho, do maior para o menor. Não hácomo o menor afetar o maior. Assim, qualquer tratamento terapêutico que utilize a força daconsciência e do sentimento amoroso é pensado como um tratamento espiritual na

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Animagogia e não como tratamento quântico. Este último termo é adequado para se explicar ofuncionamento do átomo e até mesmo para se construir bomba atômica, mas nunca paraexplicar práticas espirituais.

E como já salientamos, a Animagogia possui uma dimensão arquetípica e simbólicaque remete a questão envolvimento/(des)envolvimento humano ao mito de Orfeu. Essarelação se torna mais evidente quando observamos que o seu campo de atuação está inseridono processo de (re)envolvimento humano, que compreende uma forma diferente de vivenciara natureza, a comunidade, o corpo e, sobretudo, a alma.

Nas narrativas míticas, Orfeu costumava ser apresentado como filho de Calíope, umadas nove musas, com Apolo (em algumas seria filho do rei Eagro). Com sua sensibilidade

artística fazia com que os animais ferozes o seguissem, as copas das árvores se inclinassem para ouvi-lo e os homens mais coléricos sentiam-se penetrados de ternura e bondade(BRANDÃO, 1989).

Como Orfeu, é através de atividades culturais que a Animagogia procura sensibilizar edespertar os atributos do espírito, sobretudo, através de programas de anima-ação cultural.

E como o orfismo, que sofre influências dionisíacas, apolíneas e outras, mas que, aomesmo tempo, mantém uma posição de distanciamento em relação às doutrinas que o

influencia, a Animagogia também é um movimento complexo, que mantém uma relação oracomplementar e ora antagônica com as psicosofias que originam as diferentes religiões.

E é importante esclarecer o porquê de chamar, por exemplo, os ensinamentos de LaoTsé, Krishna, Buda, Jesus etc. de psicosofia e não de religião, filosofia ou de psicologia, comofazem vários autores. Em primeiro lugar porque estes ensinamentos espirituais não sãoteóricos, mas são praticados tanto pelo que ensina como pelos discípulos. Assim, ao contrárioda filosofia ou da psicologia que são apenas ramos do saber, entendemos com o neologismo

psicosofia um ensinamento que tem valor por meio de sua realização. Esse fato também nosaproxima, do ponto de vista mitocrítico, de Orfeu, um “educador da humanidade”, segundo

Brandão (1989), que ensinava e vivenciava os mistérios órficos com seus discípulos.Em segundo lugar, a psicosofia não se confunde com a religião, que tem um corpo

doutrinário e um sistema de ritos estabelecidos e nem com a religiosidade, um comportamentocondicionado socialmente e realizado em horas pré-determinadas, sem que haja,necessariamente, qualquer transformação interior. Com exceções, podemos dizer que areligiosidade é muito mais uma atividade social e não um trabalho metanoico detransformação espiritual ou interior.

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Assim, a Animagogia, como uma proposta de educação espiritual, fundamenta-se nas psicosofias budistas, cristãs, hinduístas etc., mas não na religião, na filosofia ou na psicologiaque podem ser extraídas desses ensinamentos espiritualistas. Ao definir o campo de ação da

Animagogia, procuramos enfatizar que ela não visa alimentar a curiosidade ou outroselementos do ego, mas foi elaborada para alcançar um objetivo espiritual específico: silenciaro ego para o despertar dos atributos do espírito.

A Terapia Vibracional Integrativa (TVI) e a saúde integral

Através de reuniões mediúnicas, ocorridas entre os anos de 2001 e 2005, foi

sistematizada a TVI. São 12 técnicas que visam ajudar a trazer harmonia física, mental,emocional e espiritual para o praticante. A TVI é uma forma de reiki sem símbolos e semmistificações, utilizando o poder mental, a vontade (poder volitivo) e o sentimento amoroso para se alcançar um reequilíbrio bioenergético. Seu fundamento é psicossomático, ou seja,compreende as enfermidades como oriundas de pensamentos negativos e emoçõesdescontroladas.

A TVI compreende também que algumas enfermidades físicas ou mentais estão

relacionadas a carmas de vidas passadas. Neste caso, elas são chamadas de estigmas cármicose sua cura é muito mais difícil, mas sempre algum sintoma é sempre atenuado com a práticada TVI.

Durante a realização das práticas, sejam as meditativas, as de trocas energéticas (ChiKung) ou os tratamentos com a imposição das mãos, o amparo espiritual é sempre realçado. Na TVI se compreende que há consciências incorpóreas auxiliando durante os atendimentos,o que torna necessário o respeito e o acolhimento delas através da oração e da devoção.

Entre os anos de 2003 e 2014, aproximadamente 3 mil pessoas foram capacitadas parautilizar as técnicas da TVI. Os cursos ministrados pela ONG Círculo de São Francisco sãosempre gratuitos. Para se ministrar um curso fora de São Carlos, apenas as despesas deviagem, alimentação e hospedagem devem ser cobertas pelos interessados.

Um curso de capacitação dura em média 18 horas e é dividido em básico 1 e 2,intermediário 1 e 2, e avançado.

Referência bibliográficaBACHELARD, Gaston.O novo espírito científico. São Paulo: Nova cultural, 1988 (os pensadores).

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BRANDÃO, Junito de Souza.Mitologia Grega (volume II). Petrópolis: Vozes, 1989.

CAPRA, Fritjof.O tao da física. São Paulo: Cultrix, 1993.

CHARDIN, Pierre Teilhard de.O Fenômeno Humano. São Paulo: Editora Cultrix, s/d.

DURAND, Gilbert.As estruturas antropológicas do imaginário. São Paulo: MartinsFontes, 1992.

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8/14/2019 Programa Homospiritualis: arte e imaginário na educação para a paz

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