Programa temporada Oi Fututo Flamengo

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Page 1: Programa temporada Oi Fututo Flamengo

Onze bailarinos realizam, desde agosto

de 2010, uma série de intervenções

coreográficas no Largo do Machado.

Estas intervenções são gravadas,

constituindo um imenso banco de imagens

do cotidiano do bairro. À esse inventário

somam-se, via streaming, imagens das

intervenções em tempo real. O material

é editado, sonorizado e projetado em

uma performance de “cinema ao vivo”.

O espectador pode assistir a esta

performance no 8º piso do Oi Futuro,

ou através de live streaming na internet –

ou ainda sair à procura das intervenções

ao vivo no Largo do Machado.

Paola Barreto A gente se encontrou no espetáculo “Pequeno Inventário de Lugares Comuns”, com o interesse comum de despertar o olhar para uma poética do cotidiano, de percepção das potências estéticas do dia-a-dia. Algumas propostas que experimentamos ali, deslocadas para o espaço público, dariam origem à “Coreografia pra prédios, pedestres e pombos”. Neste projeto observamos um espaço, mapeamos um lugar e produzimos uma intervenção. Com a estratégia do circuito de vídeo acessamos o Largo do Machado, estamos dentro do cotidiano da praça, enfim, as coisas parecem se encaixar.

Dani Lima Pra mim esse projeto vaga numa área ambígua de contaminação de territórios. Como passamos do gesto cotidiano à dança e vice versa? O que há, na sintaxe que identificamos em cada um desses contextos que, uma vez apropriado “indevidamente”, deslocado, pode deflagrar novas percepções? O diálogo com o cinema, com a produção de imagens do cotidiano, tem revelado novas ferramentas pra essa operação.

P.B. Tempo e movimento são elementos chave para o cinema e para a dança. É interessante quando experimentamos nestes campos, cada um com as ferramentas de que dispõe - na dança o corpo, no cinema a montagem - para produzir deslocamentos e revelações sobre o tempo e o movimento cotidianos. Além da beleza das formas como as diagonais, os duplicamentos, as varreduras, fico muito estimulada quando vejo estratégias de vídeo

como o slow, o scratching e o freeze se tornando movimentos coreográficos. Nestas operações especificamente, onde a dança lança mão de ferramentas comuns à linguagem do vídeo - de manipulação do tempo/movimento - para produzir imagens que deslocam/descolam os efeitos de real, nos encontramos de uma forma muito produtiva.

D.L. O diálogo com o cinema também aprofunda pra mim a questão da narrativa, faz pensar na dramaturgia que estamos construindo nesse encontro. Acho que o zoom se mostrou um recurso narrativo muito potente pra nós, faz um movimento macro/micro, todo/partes, unidade/diferença, universal/particular que pertence ao universo no qual mergulhamos quando escolhemos a perspectiva de cima das câmeras. Este olhar do alto e de longe é totalizador, ele percebe a unidade, a regra. E o que chama sua atenção é, de certa forma, a diferença que pode vir a perturbar esta unidade, o desviante ou o espetacular. Mas nosso zoom in foca sua atenção no gesto ordinário, não espetacular, que é ao mesmo tempo comum (= de todos, = ordinário) e absolutamente particular (= de cada um, = diferente). Começar nos fluxos de grupo e chegar aos diálogos gestuais faz na dramaturgia também esse movimento de zoom in. Percebo aí também uma trajetória que vai do bi para o tridimensional. O olhar de cima achata, gruda a figura no fundo, num mapa pictórico de linhas e pontos. A medida em que nos aproximamos a imagem descola do chão, ganha profundidade, volume. Me parece que a tensão entre essas duas perspectivas, que se expressa aqui nesse movimento de zoom in e zoom out, costura nossa dramaturgia.

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concepção e direção dani lima e paola barreto

aprEsEntaP.B. Sobre a narrativa, e pensando no cinema contemporâneo, tendo a acreditar na força das imagens pela sua pura presença, que dura, em um regime que podemos chamar de imagem-tempo, como sugeriu Deleuze. Na imagem-tempo o acontecimento é o próprio olhar, e as imagens se constituem como uma presentação, em lugar de uma re-presentação. Esta imagem, múltipla, se faz na justaposição de vetores e de interesses; vemos os corpos dos bailarinos se deslocando pela praça, mas vemos também, e sobretudo, a sua interação com os pedestres, os pombos e a memória do lugar. Entendo muito este trabalho como uma pedagogia do olhar, que propõe ao espectador um atividade e uma atenção particulares. Não há passividade possível diante das imagens; elas nos devolvem a pergunta pela narrativa. Aquela moça que corre, vai para onde? Aquele rapaz parado estaria esperando alguém? Neste sentido a idéia da “cultura janeleira”, como definida por João do Rio, tem muito a ver com a Coreografia.... Este prazer de observar, esta flânerie, presente nas atividades do documentarista, do voyeur, do detetive, ou do vigilante, é compartilhado com o espectador.

D.L. E com os bailarinos! A atividade de observar e de se auto-observar tem sido crucial nesse processo. Na tentativa de transitar entre diferentes regimes de visibilidade, entre o super visível e o totalmente desapercebido, os bailarinos buscam ocupar um lugar ambíguo, entre estar dentro e estar fora, ser pedestre

e ser performer. Pertencer ao Largo do Machado, dialogando com suas dinâmicas particulares e ao mesmo tempo criar pequenas provocações que borrem ou distorçam a lógica própria desse sistema.

P.B. A construção do espaço público é uma discussão fundamental. Um espaço que é ocupado pela lógica do comércio - outdoors, banners, vitrines - pela indústria da segurança - grades, câmeras de vigilância, alarmes - e onde as manifestações artísticas encontram cada vez mais restrições. Ocupar o Largo com o Coreografia... é uma forma de afirmar a rua como espaço de experimentação, valorizando a experiência cotidiana e a construção da comunidade. Criar uma rede de imagens e sons que possa ser acessada por todos através de uma plataforma na internet é um dos grandes desafios do projeto, colocando em discussão não apenas o uso do espaço público, fisicamente, mas também a ocupação do espaço informacional, com a criação de uma cartografia digital que se atualiza na rede.

Concepção e direção coreográfica: Dani Lima Concepção e direção de vídeo-instalação: Paola BarretoIntérpretes-criadores: Alice Ripoll | Ana Pi | Átila Calache | Eléonore Guisnet | Gimena de Mello | Ibon Salvador | Juliana Medella | Luar Maria | Luciana Chieregati | Thiago Gomes | Tony HewertonAssistente de coreografia: Laura SamyEdição e Assistência de vídeo: Alexandre AntunesAssistente de edição: Lucas CanavarroTrilha sonora e Desenho de som: David ColeCâmeras: Thiago Britto e Guilherme GuerreiroRede wi-fi: Felype Lopes BastosTécnico de Informática: Fabiano FreitasAssistente de transmissão: Rodrigo Mesquita da SilvaPesquisa e animação de rede: Poliana Paiva - Jurubeba produçõesAssessoria de figurino: André Masseno Programação visual: Carolina Vaz Assistente de programação visual: Juliana MontenegroAssessoria de imprensa: Daniella CavalcantiDireção de produção: Verônica PratesProdução executiva: Isa AvellarAssistente de produção: Camila CamusoEstagiários de produção: Tiago Amorim, Olga Bon, Rômulo Mariano, Alexandre GarciaApoio: Daniel Marques

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ind

icat

iva

patrocínio

realização

apoio

Participação do grupo convidado Brecha Coletivo:Aline Fanjú, Carol Albuquerque, Clara Maria, Claudia Mele, Cynthia Reis, Daniel Bouzas, Daniel Kallon, Diana Herzog, Eduardo Cravo, Isabel Villela, Jarbas Albuquerque, Juliana Helcer, Kamilla Dornela, Leandro Caris, Livia Paiva, Lisa Fávero, Monalisa Gomes, Nathalia Marçal, Patrick Sampaio, Raquel Alvarenga, Rodrigo Lopes, Sabrina Fortes, Viviana Rocha

Agradecimentos: Padre Nelson, Joseildo Vilar de Souza, Bino, Roberto Bastos, Darly Lopes, Nilza Barbosa, Ricardo Marques, Kedson Kede, Vanessa Xaves, Eduardo Souza Santos, Carlos Rangel, Ricardo Malheiros, Carlos Arão (Cia Movasse), Renato Cruz (Cia Híbrida), Andrea Capella, Valentina Homem, Beth Formaggini, Alita Sá Rego, Otávio Souza Dantas, Sara Uchoa, Fernando Salis; Participantes da oficina de Paola Barreto no Festival Brasileiro de Cinema Universitario: André Sicuru, Bernardo Segretto, Carlos Alberto Salim Leal, Cinthia Mendonça, Felippe Mussel, Larissa Berry, Lucas Bueno, Lucas Canavarro, Mariana Bernardes, Tiago Mendonça; Participantes da residência de Dani Lima : Alessandro Brandão, Bruno Wiliams, Carla Stank, Dyonne Boy, Fabiana De castro, Fabrício Belsoff, Flora Mariah, Francisco Thiago Cavalcanti, Juliana Meziat, Malcolm Mateus Freitas, Naiá Delion, Renato Cruz, Shirlene Paixão, Stela Guz, Tulio Rosa, Carolina Boa Nova.

http://coreogthere.blogspot.com/