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UNIVERSIDADE DE LISBOA INSTITUTO DE EDUCAÇÃO PROJETO DE CRIAÇÃO DE UM SERVIÇO EDUCATIVO NOS MUSEUS DO INSTITUTO SUPERIOR TÉCNICO Natália de Jesus Sousa Rocha MESTRADO EM EDUCAÇÃO E FORMAÇÃO Área de especialidade em Desenvolvimento Social e Cultural Trabalho de Projeto Orientado pela Profª Doutora Ana Paula Caetano 2017

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UNIVERSIDADE DE LISBOA

INSTITUTO DE EDUCAÇÃO

PROJETO DE CRIAÇÃO DE UM SERVIÇO

EDUCATIVO NOS MUSEUS DO INSTITUTO

SUPERIOR TÉCNICO

Natália de Jesus Sousa Rocha

MESTRADO EM EDUCAÇÃO E FORMAÇÃO

Área de especialidade em Desenvolvimento Social e Cultural

Trabalho de Projeto Orientado

pela Profª Doutora Ana Paula Caetano

2017

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AGRADECIMENTOS

Exercendo funções como Técnica Superior na Direção Académica do Instituto

Superior Técnico (IST), da Universidade de Lisboa, propus ao Sr. Presidente, Professor

Doutor Arlindo Oliveira, desenvolver um projeto educativo em torno dos museus do

IST. Dirijo-lhe as minhas primeiras palavras de agradecimento pois desde o início

mostrou interesse e abertura para desenvolver este projeto no IST.

Em segundo lugar um agradecimento muito especial, pelo seu apoio, pela sua

dedicação e encorajamento, à minha orientadora Professora Doutora Ana Paula Caetano

por ter sido grande aliada na construção e realização deste projeto. O seu conhecimento,

orientações, disponibilidade e amizade foram constantes durante este percurso. Perante

a dimensão e a responsabilidade do projeto que tinha em mãos, as suas palavras de

incentivo foram importantíssimas na superação de determinados obstáculos e foram

fundamentais para organizar o trabalho e dar corpo às ideias que iam emergindo.

Um agradecimento muito profundo aos Diretores dos Museus do IST, à Diretora

do Museu de DECivil Professora Doutora Zita Sampaio e ao Diretor dos Museus de

Geociências Professor Doutor Manuel Francisco Pereira, cujos seus contributos foram

valiosos e proporcionaram os meios e condições necessários para a concretização do

projeto.

Agradeço à Doutora Marta Lourenço, Sub-Diretora do Museu Nacional de

História Natural e da Ciência (MUHNAC), pelo incentivo ao tomar conhecimento deste

projeto e o interesse demonstrado no decorrer de todo o processo.

À Dra. Susana Medina do Museu da Faculdade de Engenharia da Universidade

do Porto, à Dra. Raquel Barata, responsável pelo Serviço Educativo de Educação e

Animação Cultural do MUHNAC e ao Dr. José Cid Gomes do Museu da Ciência da

Universidade Coimbra, pela forma como me receberam e pelo contributo que as

informações e entrevistas concedidas tiveram para a realização deste trabalho.

Registo a minha gratidão para com as minhas professoras do Mestrado Carmen

Cavaco, Carolina Carvalho, Isabel Freire e Maria João Mogarro, todas conhecedoras e

especialistas nas suas áreas, pela partilha e desafios propostos nas aulas.

Um agradecimento a todas as pessoas do Instituto Superior Técnico que

apoiaram este projeto. Deixo um agradecimento especial à colega do Museu DECivil

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Maria José Silva que sempre demonstrou a máxima disponibilidade, procurando auxiliar

nas necessidades que este projeto exigiu.

Agradeço ainda aos meus colegas de Mestrado pela partilha de conhecimento e

apoio durante este meu percurso académico.

À minha mãe que me apoiou com as suas palavras de amor, dando-me coragem.

A minha família e amigos merecem um agradecimento especial, não só pelo

tempo da minha atenção que este projeto lhes negou, mas também pela compreensão e

tolerância demonstrada ao longo desse processo. Foram um pilar muito importante nesta

fase, pelo apoio, carinho e força que me deram.

A Deus, por estar comigo, e ter-me dado sabedoria e força numa etapa marcante

da minha vida entre acontecimentos pessoais e profissionais.

A todos um muito OBRIGADA!

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RESUMO

O presente trabalho pretende ser uma proposta para implementação do serviço

educativo nos Museus do IST. A pertinência de um serviço educativo nas instituições

museológicas é hoje em dia um facto incontestável.

Para construirmos o nosso projeto foi preciso fazer um enquadramento teórico

que nos permitiu chegar ao conhecimento de algumas teorias e práticas comuns sobre a

educação museal. Constatamos que no século XX os museus começaram a fazer parte

do elenco das instituições educadoras. O próprio conceito de museu mudou ao longo

dos anos, tendo sido introduzida a função de educação na definição da instituição. O

trabalho educativo dos museus tem sofrido mudanças ao longo dos tempos, adaptando-

se às transformações sociais, políticas, culturais e económicas das sociedades onde se

inserem. Esta evolução tem sido influenciada pelos progressos registados no domínio da

psicologia, educação, sociologia e museologia. A partir dessas diferentes perspetivas os

museus assimilam a educação e aplicam no seu trabalho educativo e no contacto diário

com os seus visitantes. Assim, essas instituições têm criado programas educacionais e

atividades que procuram melhorar a aprendizagem no espaço do museu. Tendo sempre

presente a preservação e divulgação do património cultural. Percebemos também que

apesar de atualmente se registar um interesse crescente nas funções educativas, os

museus são também lugares onde se produzem diferentes dinâmicas sociais que

contribuem para construir sociedades mais reflexivas e inclusivas.

A ligação entre museus e educação das ciências é extremamente benéfica para o

desenvolvimento de práticas educativas utilizadas pelos serviços educativos das

instituições. Os museus do IST são instituições ligadas à ciência e à cultura, podem por

isso ser aproveitados para a educação das ciências. Nesse sentido, apresentamos uma

proposta para um serviço educativo a funcionar nestes espaços. Este projeto realça ainda

a necessidade da preservação do património universitário e científico dos Museus do

IST.

Palavras-chave: Educação em Museus, Serviço Educativo, Público, Divulgação

Científica, Aprendizagens formais e não formais em ciências, Função Social.

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ABSTRACT

The present project intends to be a proposal for the implementation of the

educational service in the IST Museums. The relevance of an educational service in

museological institutions is unquestionable at the present time.

In order to delineate the Project it was necessary to make a theoretics that

allowed us to get knowledge of some common theories and practices about museum

education. We find that in the twentieth century museums began to be part of

educational institutions. The concept of museum itself has changed over the years, and

the role of education has been introduced in the definition of the institution. The

educational work of museums keeps change over time, adapting to the social, political,

cultural and economic transformations of the societies in which they are inserted. This

evolution has been influenced by progress in psychology, education, sociology and

museology. From these different perspectives museums assimilate education and apply

in their educational work and daily contact with their visitors. These institutions have

created educational programs and activities that seek to improve learning in the museum

space, keeping in mind the preservation and dissemination of cultural heritage. We are

also awared that, although there is a growing interest in educational functions, museums

are also places where different social dynamics are produced that contribute to building

more reflective and inclusive societies.

The relation between museums and science education is extremely beneficial for

the development of educational practices used by the institutions educational services.

The IST museums are institutions linked to science and culture and can therefore be

used for the education of the sciences. In this sense, we present a proposal for an

educational service to function in these spaces. This Project also highlights the need to

preserve the university and scientific heritage of the IST Museums.

Key-words: Education in Museums, Educational Service, Public, Scientific

Divulgation, Formal and Non-formal Learning in Sciences, Social Function.

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ÍNDICE

INTRODUÇÃO .......................................................................................................................... 14

CAPÍTULO I - ENQUADRAMENTO TEÓRICO ..................................................................... 17

1 Breve perspetiva histórica do conceito de museu ................................................................ 17

2 Evolução da “Nova Museologia” ......................................................................................... 20

3 Educação nos museus ........................................................................................................... 27

3.1 Conceito de Educação ................................................................................................... 27

3.2 Papel educativo dos museus .......................................................................................... 29

3.3 Relação Escola-Museu .................................................................................................. 33

4 Serviços Educativos em Portugal ......................................................................................... 36

4.1 O Educador e a Mediação nos Museus ......................................................................... 42

4.2 Museus e Público .......................................................................................................... 45

5 Museus das Universidades Portuguesas ............................................................................... 50

6 O papel dos museus e universidades na promoção e divulgação da cultura científica..... 54

6.1 Os museus de ciência como os espaços de educação não-formal ................................. 57

CAPÍTULO II – CONTEXTUALIZAÇÃO ............................................................................... 59

1 Caraterização do IST ............................................................................................................ 59

2 Museus do IST ..................................................................................................................... 62

2.1 Museu de Engenharia Civil (Museu DECivil) .............................................................. 63

2.2 Museus de Geociências ................................................................................................. 64

CAPÍTULO III - METODOLOGIA ........................................................................................... 68

1 Pesquisa bibliográfica .......................................................................................................... 68

2 Recolha de dados .................................................................................................................. 70

3 Tratamento de dados ............................................................................................................ 72

CAPÍTULO IV - CONCEÇÃO DO PROJETO .......................................................................... 73

1 Origem.................................................................................................................................. 73

2 Diagnóstico .......................................................................................................................... 74

3 Justificação do Projeto ......................................................................................................... 76

4 Projeto serviço educativo nos Museus do Instituto Superior Técnico ................................. 78

4.1 Objetivos do Projeto ...................................................................................................... 79

4.2 Estratégia Educativa do Projeto .................................................................................... 80

4.3 Enquadramento legal ..................................................................................................... 82

4.4 Recursos humanos ......................................................................................................... 83

4.5 Recursos Financeiros ..................................................................................................... 84

4.6 Ligação com a sociedade - Parcerias ................................................................................. 85

4.7 Património ..................................................................................................................... 86

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4.8 Destinatários /Públicos-alvo .......................................................................................... 87

4.9 Comunicação e Divulgação ........................................................................................... 88

4.10 Atividades educativas, sociais e culturais ................................................................... 90

5 Tipologia de Programação do Projeto .................................................................................. 92

6 Avaliação .............................................................................................................................. 95

CAPÍTULO V – CONCLUSÃO E CONSIDERAÇÕES FINAIS.............................................. 98

1 Conclusão ............................................................................................................................. 98

2 Considerações finais ............................................................................................................. 99

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................................... 102

ANEXOS

Anexo 1 - MOOC en Educación y Museos

Anexo 2 - Guião de entrevista aos Diretores dos Museus do IST

Anexo 3 - Guião de entrevista aos serviços educativos museus universitários

Anexo 4 - Lista das reuniões, atividades e eventos

Anexo 5 - Transcrição da entrevista à Diretora Museu DECivil

Anexo 6 - Transcrição da entrevista ao Diretor Museu Geociências

Anexo 7 - Transcrição da entrevista Coordenadora SE do MNHNAC

Anexo 8 - Transcrição da entrevista à responsável do FEUP Museu

Anexo 9 - Análise de Conteúdo da Entrevista à Diretora do Museu DECivil

Anexo 10 - Análise de Conteúdo da Entrevista ao Diretor dos Museus de Geociências

Anexo 11 - Regulamento Interno do Museu de Engenharia Civil

Anexo 12 - Regulamento Interno dos Museus de Geociências

Anexo 13 - Folheto Peça do mês

Anexo 14 - Desdobrável Peça do mês

Anexo 15 A - Guião da atividade educativa Escolas (vigor)

Anexo 15 B - Guião da atividade educativa - Escolas

Anexo 15 C - Guião da atividade educativa Escolas (atividade)

Anexo 16 - Formulário on-line de inscrição de visita escolas

Anexo 17 - Cartaz da sessão do Grupo de Cantares Tradicionais do IST

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Anexo 18 - Inquérito Público

Anexo 19 - Grelha registo recolha dados inquérito

Anexo 20 - Grelha registo de recusas do inquérito

ÍNDICE DE TABELAS

Tabela 1 - Visitantes inseridos em grupos escolares (N.º) de museus por tipologia

Tabela 2 - Serviço educativo dos museus em 2014, por tipologia

Tabela 3 - Visitantes dos Museus, por tipologia

ÍNDICE DE FIGURAS

Figura 1 - Esquema dos diversos níveis de formalização ação educativa

Figura 2 - Modelos de relacionamento entre museus e educação

Figura 3 - Modelo Experiencial de Falk e Dierking

Figura 4 - Modelo “Experience Economy” de Pine e Gilmore

Figura 5 - Perspetiva histórica da criação do IST (1836 – 1936)

Figura 6 - Localização dos museus do IST dentro do campus Alameda

Figura 7 - Museus de Geociências e evolução das coleções

Figura 8 - Análise SWOT do contexto dos museus do IST

Figura 9 - Parcerias externas do serviço educativo dos museus do IST

Figura 10 - Segmentos de Público-alvo

Figura 11 - Página do serviço educativo na rede social Facebook

ÍNDICE DE GRÁFICOS

Gráfico 1 - Museus com Serviço educativo por ano (2000-2009)

Gráficos 2 e 3 - Dados do estudo Eurobarómetro sobre acesso à cultura e participação

cultural

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LISTA DE ACRÓNIMOS

APOM – Associação Portuguesa de Museologia

CCB – Centro Cultural de Belém

CE – Comissão Europeia

CPLP - Comunidade dos Países de Língua Portuguesa

CTN – Campus Tecnológico e Nuclear

DECivil – Departamento de Engenharia Civil Arquitetura e Georrecursos

DMC - Divisão de Museus e Credenciação

DMCC - Departamento de Museus, Conservação e Credenciação

EGEAC - Empresa de Gestão de Equipamentos e Animação Cultural de Lisboa

IAPMEI - Instituto de Apoio às Pequenas e Médias Empresas e à Inovação

IAVE – Instituto de Avaliação Educativa

IBRAM – Instituto Brasileiro de Museus

ICOM – International Council of Museums

ID & I – Investigação Desenvolvimento e Inovação

IICL - Instituto Industrial e Comercial de Lisboa

IIL - Instituto Industrial de Lisboa

ISEG – Instituto Superior Economia de Gestão

IST – Instituto Superior Técnico

MAB – Museu Alfredo Bensaúde

MDT – Museu Décio Thadeu

MINOM – Movimento Internacional para a Nova Museologia

MNAA – Museu Nacional de Arte Antiga

MUHNAC – Museu Nacional de História Natural e da Ciência

OCDE – Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico

ONU – Organização da Nações Unidas

PE – Plano Educativo

PISA – Programa Internacional de Avaliação de Estudantes

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RPM - Rede Portuguesa de Museus

UC – Universidade de Coimbra

UL – Universidade de Lisboa

UNESCO - United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization

UP – Universidade do Porto

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GLOSSÁRIO

Este Glossário tem como objetivo esclarecer os principais conceitos utilizados

no trabalho de projeto. Alguns deles estão presentes na legislação, regulamentação e em

documentos de políticas públicas. Outros foram de ideias retiradas de trabalhos

académicos e em publicações de profissionais do campo da educação museal.

Acervo – É o conteúdo de uma coleção privada ou pública, podendo ser de caráter

bibliográfico, artístico, fotográfico, científico, histórico, documental, é preservado e

guardado em museus.

Acessibilidade Universal – O acesso, a participação, o entendimento e o convívio entre

todas as pessoas nos domínios: físico, intelectual, cognitivo, atitudional e financeiro.

Ação Educativa – Processo e procedimentos que promovam a educação no museu

visando a ampliação dos conhecimentos e possibilidades de expressão dos indivíduos,

contribuindo para a integração entre museu e sociedade.

Coleção – Um conjunto de bens culturais e naturais, materiais e imateriais, passados e

presentes.

Coleção visitável – Considera-se coleção visitável o conjunto de bens culturais

conservados por uma pessoa singular ou coletiva, pública ou privada, exposto

publicamente em instalações especialmente afetas a esse fim, mas que não reúna os

meios que permitam o pleno desempenho das restantes funções museológicas que a lei

em vigor estabelece para o museu.

Comunidade – Pode ser entendida como uma unidade dinâmica, onde se destacam os

fatores de relacionamento, de delimitação geográfica e de função. As categorias de

relações na comunidade referem-se aos vínculos básicos que correspondem aos laços

mais resistentes na rede de relações, como a família, o trabalho e a vizinhança.

Educação Museal – Iniciativas de educação teoricamente referenciadas e

desenvolvidas no âmbito de processos museais.

Educação Patrimonial - Processo permanente e sistemático de trabalho educativo, que

tem como foco a valorização do património cultural com todas as suas manifestações.

Espólio – Espólio significa património, isto é, todos os bens, direitos e obrigações

deixadas por alguém.

Exposição – O termo “exposição” significa tanto o resultado da ação de expor, quanto o

conjunto daquilo que é exposto e o lugar onde se expõe. A exposição apresenta-se

atualmente como uma das principais funções do museu que, segundo a última definição

do ICOM, “adquire, conserva, estuda, expõe e transmite o património material e

imaterial da humanidade”.

Gestão museológica – A gestão museológica, ou administração de museus, é definida,

atualmente, como a ação de conduzir as tarefas administrativas do museu ou, de forma

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mais geral, o conjunto de atividades que não estão diretamente ligadas às

especificidades do museu (preservação, pesquisa e comunicação). Nesse sentido, a

gestão museológica compreende essencialmente as tarefas ligadas aos aspetos

financeiros (contabilidade, controlo de gestão, finanças) e jurídicos do museu, à

segurança e manutenção da instituição, à organização da equipa de profissionais do

museu, ao marketing e também aos processos estratégicos de planeamento gerais das

atividades do museu.

Mediação - A mediação designa a ação de reconciliar ou colocar em acordo, favorecer

a relação de duas ou várias partes através de intervenção, isto é, no quadro museológico,

entre o público do museu com as coleções exibidas. As expressões mediação cultural ou

mediação científica referem-se a um conjunto variado dispositivos e ações realizadas no

contexto museal com a intenção de construir relações entre o que tem sido exposto e os

significados que esses objetos e os lugares podem conter.

Missão educativa do museu – Para compreender a missão educativa do museu é

preciso antes identificar qual a missão do museu, já que as duas missões estão

intrinsecamente interligadas. A missão educativa deverá compreender que ação

educacional é importante para o cumprimento do papel do museu, bem como o

desenvolvimento do processo museológico, considerando o acervo institucional um

referencial importante para o desenvolvimento das ações educacionais.

Museal – Sendo considerada como adjetivo ou como substantivo, a palavra apresenta

duas aceções: (1) O adjetivo “museal” serve para qualificar tudo aquilo que é relativo ao

museu, fazendo a distinção com outros domínios (por exemplo: “o mundo museal” para

designar o mundo dos museus); (2) Como substantivo, “o museal” designa o campo de

referência no qual se desenvolvem não apenas a criação, a realização e o funcionamento

da instituição “museu”, mas também a reflexão sobre seus fundamentos e questões.

Museologia – Etimologicamente, a museologia é “o estudo do museu” e não a sua

prática – que remete à “museografia”.

Museu – O termo “museu” tanto pode designar a instituição quanto o estabelecimento,

ou o lugar geralmente concebido para realizar a organização, a seleção, o estudo e a

apresentação de testemunhos materiais e imateriais do Homem e do seu meio.

Parceria/Parceiros – Pessoas ou entidades com quem podemos trabalhar de modo a

melhorar a qualidade dos serviços prestados pelo museu (museus, instituições culturais,

educacionais, patrocinadores, grupos de interesse, voluntários, organizações artísticas,

órgãos de comunicação social, público visitante, etc.) para realizar ações de cooperação,

visando alcançar objetivos e metas comuns, trocando experiências e conhecimentos,

numa base comercial ou não comercial.

Património – O património é um bem público, que abrange as coleções de museus.

Entende-se por património cultural imaterial as práticas, representações, expressões,

conhecimentos e saber-fazer – assim como os instrumentos, objetos, artefactos e

espaços culturais que lhes são associados – que as comunidades, os grupos e, em alguns

casos, os indivíduos reconhecem como fazendo parte de seu património cultural.

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Política Educativa – Nos últimos anos, vários museus delinearam políticas educativas.

Esta expressão sintetiza, não só, uma abordagem teórica às questões educativas nos

museus, bem como as práticas desenvolvidas em torno dessa função educativa, e ainda

o modo como esta se relaciona com as outras funções. Uma política educativa abrange

áreas como os utilizadores, pesquisa de mercado, necessidades educativas, tipos e

qualidade de planeamento, desenvolvimento das exposições, avaliação, marketing, a

gestão dos recursos, formação dos funcionários e voluntários, bem como trabalho em

parceiras.

Projeto Educativo – Ação ou conjunto de ações educativas com metodologia,

conteúdo, objetivos, justificação e duração definidos, realizados por serviços educativos

de museus ou de outras instituições museológicas.

Público de museus – Conjunto de segmentos socioculturais formados por visitantes

potenciais dos museus, frequentadores assíduos, além dos indivíduos que manifestam

interesse e curiosidade pelas instituições museais. Aqueles que usam os serviços

prestados pelo museu: crianças do ensino básico, estudantes do secundário,

universitários, investigadores, artistas, ou qualquer um que se desloque ao museu com o

objetivo de usufruir do que o museu tem para oferecer.

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No âmbito do Mestrado em Educação e Formação - área de Desenvolvimento Social

e Cultural, do Instituto de Educação da Universidade de Lisboa, o trabalho final

compreende a elaboração de uma dissertação de natureza científica, de um trabalho de

projeto ou a realização de um estágio de natureza profissional, para a obtenção do grau

de Mestre em Educação e Formação. A minha escolha incidiu no trabalho de projeto,

pois, a nível pessoal e profissional, considero que a modalidade de projeto é uma

oportunidade de consolidar e pôr em prática os conhecimentos obtidos no decorrer do

Mestrado.

Tendo como incentivo os trabalhos realizados no primeiro ano, na unidade curricular

Educação, Cultura e Serviços Educativos, a escolha do tema de projeto recaiu sobre as

temáticas da disciplina. Optei por escolher como instituição o Instituto Superior Técnico

tendo em conta a ligação profissional de 24 anos. Desenvolver um projeto útil para a

instituição onde trabalho faz-me sentir mais confortável e realizada.

O título do projeto é “Projeto de criação de um serviço educativo nos museus do

Instituto Superior Técnico”, cujo tema principal é a educação museal. O objetivo

principal deste estudo consiste em criar um serviço educativo museológico, no Instituto

Superior Técnico, que promova a divulgação científica, oferecendo programas de

caráter educativo, social e cultural, no âmbito da educação formal e não-formal, para os

mais variados públicos.

Embora nos últimos anos o Instituto Superior Técnico tivesse inovado a oferta

educativa não-formal no ensino das ciências (participação na escola de verão da UL,

laboratórios abertos, BEST Summer Course, Escola Ciência Viva, entre outros), esta

oferta poderá ser melhorada e ampliada, podendo os museus ser grandes

impulsionadores. Os museus universitários (como é o caso do museus do IST) têm sido

cada vez mais consagrados como espaços fundamentais para o desenvolvimento da

educação não-formal das ciências e de ampla divulgação científica e podem dar uma luz

INTRODUÇÃO "Which museums will survive in the 21st century? Museums with charm and museums with

chairs."

Kenneth Hudson, (cit. Vlachou, 2013 p. 14)

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ao ensino de ciências nos vários níveis de ensino. No entanto, para que isso aconteça é

preciso que estes sejam dotados de atividades educativas de diferentes naturezas e

estratégias variadas de forma a gerara aprendizagem. Neste sentido, um dos objetivos

deste projeto é desenvolver uma estrutura educativa com um projeto pedagógico para os

museus do IST, para que os museus se convertam em espaços com utilização

continuada e sistemática de ensino-aprendizagem, através da educação não-formal.

Um outro desafio do projeto é incrementar e diversificar o público que visita os

museus. A oferta de programas, atividades, formações, seminários e workshops a nível

do ensino das ciências e tecnologia, atrás referida, no âmbito de uma educação não-

formal, é direcionada preferencialmente para jovens pré-universitários e/ou

universitários, porém, todos devem ter a possibilidade de realizar

atividades/experiências científicas. Essa oportunidade pode abrir portas e despertar

interesse quer nas crianças quer nos adultos para as quatro áreas de desenvolvimento no

IST: ciência, engenharia, arquitetura e tecnologia. Este projeto surgiu com a intenção de

proporcionar uma maior proximidade dos museus do IST com os vários tipos de

públicos. O serviço educativo é uma das melhores formas de trabalhar diretamente com

estes públicos. Segundo Honrado, “um dos instrumentos que permitiram essa relação

de mediação assente numa relação de grande cumplicidade com os públicos foi

indubitavelmente a criação do Serviço Educativo”. (Honrado, 2007, p.21).

O projeto tem o intuito de dinamizar a instituição e de criar condições, com vista a

dar um contributo para a estruturação e a criação de um futuro serviço educativo dos

museus do IST. De uma ótica profissional, espera-se que este projeto, e com o apoio da

instituição, conceda a possibilidade de fazer parte do mesmo, dando continuidade ao

trabalho desenvolvido. Numa perspectiva dinâmica, procurar-se-á a melhoria e o

aperfeiçoamento constante. De uma forma geral, o desenvolvimento deste trabalho de

investigação prende-se com o interesse pessoal em investir nesta área dos serviços

educativos dos museus e explorar quais os contributos do acervo e espólio científico do

IST para a literacia científica-tecnológica.

A estrutura deste trabalho está dividida em seis partes: Na presente introdução,

define-se o objeto de estudo e a estrutura. Para alcançar os objetivos propostos foi

fundamental proceder ao enquadramento teórico do projeto no contexto museológico,

educativo e universitário apresentado no capítulo I.

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O capítulo II é dedicado à contextualização do IST. Dentro deste capítulo é também

apresentada a caraterização de cada um dos museus.

O terceiro capítulo é constituído pela apresentação da metodologia, onde

fundamentamos os métodos de recolha, análise e tratamento de dados que utilizamos

para a conceção do projeto.

Na quarta parte apresentamos os resultados do estudo, os trabalhos desenvolvidos

durante este percurso e que servem como fundamento à proposta de criação de um

serviço educativo, também aí apresentada.

Por último, na quinta parte, são apresentadas as conclusões e considerações finais

que incluem uma apreciação global de todo o trabalho desenvolvido, assim como os

desafios e diretrizes para o futuro que podem aflorar com a implementação do serviço

educativo.

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Neste capítulo pretende-se clarificar conceitos, princípios, modelos, fundamentos e

apresentar trabalhos e estudos com base nos quais este trabalho de projeto foi realizado.

É importante realçar que a fundamentação teórica referente à construção deste projeto

não cessa neste capítulo, estando presente em todo o texto, com destaque para outras

conceções que serão abordadas no capítulo IV reservado ao projeto.

Para o desenvolvimento deste trabalho utilizamos bibliografia de alguns dos mais

importantes teóricos e especialistas no âmbito da museologia e educação museal,

provenientes de diferentes partes do mundo.

1 Breve perspetiva histórica do conceito de museu

“O museu é o lugar em que sensações, ideias e imagens de pronto irradiadas por objetos

e referenciais ali reunidos iluminam valores essenciais para o ser humano. Espaço

fascinante onde se descobre e se aprende, nele se amplia o conhecimento e se aprofunda

a consciência da identidade, da solidariedade e da partilha. Por meio dos museus, a vida

social recupera a dimensão humana que se esvai na pressa da hora. As cidades

encontram o espelho que lhes revele a face apagada no turbilhão do quotidiano. E cada

pessoa acolhida por um museu acaba por saber mais de si mesma.”

(IBRAM, 2016, site oficial)

CAPÍTULO I - ENQUADRAMENTO TEÓRICO

“Que olhem para os museus e para além dos museus”

(Santos, 2002, p. 192)

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“Como definir o museu? Pela abordagem conceptual, por meio da reflexão teórica e

prática, pelo seu funcionamento, pelos seus atores (profissionais, público), ou pelas

funções que decorrem de sua ação?” (Desvallées & Mairesse, 2013, p. 23).

Como podemos verificar através do questionamento destes autores, existem diversas

perspetivas possíveis de decomposição do conceito de museu. Vamos começar pela

génese. A origem etimológica da palavra “museu” é proveniente do termo latim

“museum”, que por sua vez deriva do grego mouseion, e que era o lugar das musas, as

nove filhas de Mnemosine e Zeus, divindades mitológicas inspiradoras da criação

artística ou científica (Antunes, 2015). Como refere Pérez (2009) “Este sentido

etimológico converte o museu num lugar de inspiração” (p. 183).

A partir de uma pesquisa sobre o conceito de museu, podemos notar que a definição

do ICOM/UNESCO é uma referência na comunidade internacional e que tem evoluído,

no sentido de uma maior precisão e abrangência. Segundo no site do ICOM, “A

definição de museu evoluiu, em consonância com a evolução da sociedade. Desde sua

criação em 1946, o ICOM atualiza essa definição de acordo com as realidades da

comunidade global de museus”.

Encontramos uma definição de 1956 do ICOM que nos define museu como:

Uma instituição de caráter permanente, administrado para interesse geral,

com a finalidade de recolher, conservar, pesquisar e valorizar de diversas

maneiras um conjunto de elementos de valor cultural e ambiental: coleções de

objetos artísticos, históricos, científicos e técnicos. Numa perspetiva alargada,

o conceito abrange ainda jardins botânicos e zoológicos e aquários.

Nos Estatutos do ICOM, adotados pela 16ª Assembleia Geral do ICOM (Haia, 1989)

e modificados pela 18ª Assembleia Geral do ICOM (Noruega, 1995) a definição de

museu passou a ser:

O museu é uma instituição permanente, sem finalidade lucrativa, ao serviço da

sociedade e do seu desenvolvimento, aberta ao público e que realiza

investigações que dizem respeito aos testemunhos materiais do homem e do

seu meio ambiente, adquire os mesmos, conserva-os, transmite-os e expõe-nos

especialmente com intenções de estudo, de educação e de deleite (ICOM,

2016, site oficial)

Na definição aprovada pela 20ª Assembleia Geral, Barcelona, Espanha, decorrida a 6

de julho de 2001 podemos ler:

O museu é uma instituição permanente, sem fins lucrativos, a serviço da

sociedade e do seu desenvolvimento, aberta ao público e que adquire,

conserva, investiga, difunde e expõe os testemunhos materiais do homem e do

seu entorno, para educação e deleite da sociedade (ICOM, 2016, site oficial).

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De acordo com os Estatutos do ICOM, adotados na 21ª Conferência Geral, que se

realizou entre os dias 19 e 24 de agosto de 2007 em Viena, Áustria, a definição do

conceito museu que se encontra atualmente em vigor é:

O museu é uma instituição permanente sem fins lucrativos, ao serviço da

sociedade e do seu desenvolvimento, aberta ao público, que adquire, conserva,

investiga, comunica e expõe o património material e imaterial da humanidade

e do seu meio envolvente com fins de educação, estudo e deleite (ICOM, 2016,

site oficial).

De acordo com a legislação portuguesa, a Lei-Quadro dos Museus Portugueses – Lei

n.º 47/2004, de 19 de agosto estabelece, no artigo 3º a seguinte definição de museu:

1 ― Museu é uma instituição de carácter permanente, com ou sem personalidade jurídica, sem

fins lucrativos, dotada de uma estrutura organizacional que lhe permite:

a) garantir um destino unitário a um conjunto de bens culturais e valorizá-los através

da investigação, incorporação, inventário, documentação, conservação, interpretação,

exposição e divulgação, com objetivos científicos, educativos e lúdicos;

b) facultar acesso regular ao público e fomentar a democratização da cultura, a

promoção da pessoa e o desenvolvimento da sociedade.

2 ― Consideram-se museus as instituições, com diferentes designações, que apresentem as

características e cumpram as funções museológicas previstas na presente lei para o museu,

ainda que o respetivo acervo integre espécies vivas, tanto botânicas como zoológicas,

testemunhos resultantes da materialização de ideias, representações de realidades existentes ou

virtuais, assim como bens de património cultural imóvel, ambiental e paisagístico.

Em análise, quer na evolução do conceito entre 1946 e 2007 do ICOM, quer na

legislação portuguesa criada em 2004, podemos notar em todas as definições a

abrangência do conceito de museu e alguns princípios que estão sempre presentes, tais

como: o museu tem de ser uma instituição organizada, que conserva objetos (de valor

histórico ou artístico), que não visa lucro e que tenha um caráter cultural e científico.

Também é visível a inclusão de termos que nos revelam as novas tendências e

preocupações museológicas ligadas ao público e à sociedade e com um caráter mais

lúdico, que nos remetem para o museu e a sua função social. No entanto, destaca-se a

introdução da função educativa como parte integrante da definição do termo.

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2 Evolução da “Nova Museologia”

Consta-se que nem sempre o termo “museu” foi aplicado em relação às coleções de

objetos de valor histórico e artístico. Na Grécia Antiga o museu era um templo das

musas, divindades que presidiam a poesia, a música, a oratória, a história, a tragédia, a

comédia, a dança e a astronomia. Durante a Idade Média já existia uma coleção de

objetos ativa, sendo vista como sinal de notoriedade, apesar de a noção de museu quase

ter desaparecido. A partir do Renascimento é que este termo passou a ser aplicado em

relação a coleções de objetos de valor histórico e artístico (Falcão, 2009). No entanto,

desde tempos remotos (pré-história) o homem tem o hábito de colecionar objetos e

reunir vários tipos de artefactos.

Entre os séculos XVI e XVII, com a expansão do conhecimento através da Era dos

Descobrimentos, formaram-se na Europa inúmeros gabinetes de curiosidades, que

tiveram um papel importante na evolução da história e da filosofia natural, com

coleções bastante heterogéneas de peças das mais variadas naturezas, tais como fósseis,

esqueletos, minerais, objetos exóticos de países longínquos, obras de arte, máquinas e

inventos e outras peças cultural ou cientificamente relevantes. Segundo Falcão (2009),

alguns dos museus mais importantes da atualidade, constituídos na Europa do século

XVIII surgiram dos acervos provenientes de coleções particulares ou reais a partir do

surgimento das grandes navegações.

Por esse motivo, os primeiros museus surgiram de coleções privadas, com um

acesso restrito e as coleções de ciência e de história natural estavam só ao alcance das

pessoas com interesses científicos, o que os tornava inacessíveis à população em geral.

O primeiro museu universitário surge na Inglaterra no século XVII, a partir da

doação da coleção de Elias Ashmole à Universidade de Oxford. Inaugurado em 6 de

junho de 1683, o Ashmolean Museum, é considerado o primeiro museu público do

mundo, ainda que fosse um local de pesquisa destinado prioritariamente aos alunos da

universidade.

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Outros importantes museus fundados no século XVIII foram o Museu Britânico1,

fundado em Londres em 1753 e o Museu do Louvre, em Paris, primeiro museu de arte

do mundo, em 1793, com as suas coleções acessíveis a todas as pessoas, com finalidade

cultural e lúdica e por iniciativa governamental. No século XIX o “museu” continuou

em transformação e começaram a surgir museus modernos ligados a vários temas e

áreas, expandindo os seus horizontes e abandonando progressivamente o simples

colecionismo para destacar a exibição e catalogação.

No decurso da sua história, as sociedades têm tido várias mudanças nas áreas

política, económica e sociocultural, desse modo os museus são obrigados a dar uma

resposta às novas estruturas, necessidades e sistemas de valores das novas sociedades.

(…) como instituição dedicada à memória e à celebração do passado, os

museus desempenham um papel fundamental na construção de ideologias e

identidades sociais (Falcão 2009, 12).

As práticas museológicas antigas, caraterizadas acima de tudo por uma atitude

passiva diante da sociedade, vigoraram até meados do século XX. É após a II Guerra

Mundial, em Paris no ano de 1946, que foi criado o primeiro organismo internacional,

sem fins lucrativos, que se dedica exclusivamente a elaborar políticas internacionais

para os museus – ICOM – Conselho Internacional dos Museus, dependente da

UNESCO.

Desde esta altura até ao início da década de 70 que se desenvolveu um

aprofundamento científico do termo ligado à interdisciplinaridade e atividade educativa

dos museus. Segundo Santos (2002) “os anos 60 foram marcados pelo movimento

artístico-cultural, que destaca o novo, com participação da juventude, na recusa aos

modelos estabelecidos e prepara o terreno lança as sementes”. Também Paiva e Primon

(2013) referem que nos anos 60 e 70 existiu um grande debate que contesta os conceitos

e os modelos museográficos até então vigentes.

Azevedo reforça a ideia desta época ser um marco histórico na museologia,

afirmando:

Assim, os anos 60 e 70 do século XX foram particularmente marcantes no

campo da museologia, pelo debate que se assistia nos países industrializados e

de cultura europeia ocidental e pelas novas aceções teóricas que colocavam

em causa a museologia tradicional, a favor de uma museologia voltada para a

comunidade e preocupada com o seu papel social. (Azevedo, 2010, p.42).

1 Foi mencionado pelo The art newspaper o segundo museu mais visitado do mundo em 2015 por ter recebido mais de 6,8 milhões de visitantes. Este museu é um marco em termos de estabelecimento do método museológico. Este foi também o primeiro grande

museu público gratuito do mundo.

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A autêntica revolução da conceção do museu público acontece entre as décadas

de 70 e 80, que veio dar um novo impulso ao meio museológico. Estas décadas foram

marcadas por trabalhos museológicos desenvolvidos em vários países, embora não

existisse um intercâmbio internacional entre os diversos projetos e o reconhecimento e o

apoio necessários (Santos, 2002).Não podemos deixar de invocar que os principais

promotores de muitas iniciativas museológicas inovadoras foram George Henri Rivière2

e Hugues de Varine3, os dois primeiros diretores franceses do ICOM, que estabeleciam

relações entre os responsáveis dos projetos, inclusive dos diferentes países.

Essa nova prática museal, mais virada para o público, tem um conjunto de

documentos fundadores, sendo o mais importante deles a Declaração de Santiago do

Chile (Moutinho, 2015), e declarado pelos próprios participantes do movimento como o

“referencial básico”. Consideramos como fundamentais quatro documentos, neste

processo de mudança e novos caminhos no percurso das instituições museais: as

conclusões do Seminário Regional da UNESCO sobre função educativa dos Museus

(Rio de Janeiro, 1958); a Declaração da Mesa-Redonda de Santiago do Chile de 1972,

que introduziu o conceito de museu integral, criando novas vertentes para as práticas

museais; a Declaração de Quebec de 1984, que compilou os princípios básicos da

“Nova Museologia” e a Declaração de Caracas de 1992, sinal da maturidade obtida em

três décadas de esforços na construção de um novo papel para os museus (Araújo &

Bruno, 1995).

No Seminário do Rio de Janeiro foram focadas questões desde a conservação,

manutenção e divulgação das coleções, até à reflexão sobre o conceito de museu e da

museologia como um campo disciplinar. Um dos temas mais importantes discutidos foi

o da exposição, através da qual o museu estabelece o seu vínculo com a sociedade,

sendo considerado um elemento dinâmico no seio da mesma. Este seminário “é parte de

um projeto que tinha como objetivo discutir, em várias regiões do mundo, a função que

os museus deveriam cumprir como meio educativo” (Santos, 2002, p. 99). É nesta

época, segundo a mesma autora, que começam a surgir algumas preocupações em

relação aos aspetos pedagógicos, como por exemplo, avaliar a qualidade dos serviços

oferecidos aos alunos e professores que visitavam os museus, e em transformar a visita

guiada num momento de aprendizagem, estimulando o aluno a comparar estilos e

2Georges Henri Rivière (1897-1985) primeiro diretor do ICOM, foi um dos mais importantes curadores de museus e um dos

geradores de uma das mais importantes correntes museológicas do século passado: a Nova Museologia, e do conceito de ecomuseu; 3Hugues de Varine (1935-) sucessor de Rivière como diretor do ICOM de 1965 até 1974, consultor internacional nas áreas

museológicas marcadas pela intervenção comunitária visando o desenvolvimento local. Viveu e trabalhou vários anos em Portugal à

frente do Instituto Franco Português.

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formas, a contextualizar e a realizar ligações entre arte e ciência. Ou seja, chamara

atenção para a necessidade de criação de exposições com base na interdisciplinaridade

(Santos, 2002)

A "Mesa-Redonda” que decorreu de 20 a 31 de maio de 1972 em Santiago do Chile

organizada pela UNESCO, é uma referência na museologia. O objetivo era pensar sobre

o desenvolvimento e o papel dos museus no mundo contemporâneo. Estiveram

envolvidos doze diretores de grandes museus nacionais da América Latina (Varine,

2013), que acharam que os museus devem desempenhar um papel na educação da

comunidade. Entre os postulados da declaração, estava a construção do conceito de

“Museu Integral4”, destinado a "situar o público dentro do seu mundo, para que tome

consciência da sua problemática como homem-indivíduo e homem-social", por outras

palavras, um museu como instrumento de desenvolvimento comunitário. Um novo

conceito de ação dos museus ficou então definido: museu integral destinado a

proporcionar à comunidade uma visão de conjunto do seu meio material e cultural

(ICOM, 1972, cit. Gabriele, 2014).

Ainda sobre esta ideia a museóloga Santos refere:

(…) a construção do conceito de museu integral foi um marco importante na

museologia, pois evidenciou a importância de direcionar o olhar para a

realidade social, bem como buscar a conscientização da cultura e da

identidade nos discursos da instituição museológica” (Santos, 1999, cit.

Gabriele, 2014, 44).

A Declaração de Santiago do Chile de 1972 é um marco histórico no conceito de

museu, onde o movimento de nova museologia tem a sua primeira expressão pública e

internacional. Como refere Antunes (2015) “No século XX, na museologia, há um antes

e um depois de Santiago do Chile de 1972”. O mesmo autor refere que foi um virar de

página no pensamento e prática da museologia, uma verdadeira rutura epistemológica. É

de salientara influência do pensamento de Paulo Freire para este movimento de

renovação da museologia, daí o convite de Hugues de Varine para este fazer parte da

presidência da “Mesa Redonda”. Apesar do pedido ter sido inviabilizado por razões

políticas da altura, o pensamento do educador brasileiro foi muito importante na

museologia (apesar de serem poucos os estudos que tratam a relação de Paulo Freire

com esta área de estudo), sobretudo no que se refere aos conceitos de “conscientização e

4 Museu Integral fundamenta-se não apenas na musealização de todo o conjunto patrimonial de um dado território (espaço

geográfico, clima, recursos naturais renováveis e não renováveis, formas passadas e atuais de ocupação humana, processos e

produtos culturais, advindos dessas formas de ocupação), ou na ênfase no trabalho comunitário, mas na capacidade intrínseca que possui qualquer museu (ou seja, qualquer representação do fenómeno museu) de estabelecer relações com o espaço, o tempo e a

memória – e de atuar diretamente junto a determinados grupos sociais (Scheiner 2012, p.19).

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a mudança”, da transformação do homem-objeto em homem-sujeito. (Alves e Reis,

2013).Na opinião das mesmas autoras “os princípios de base do museu integral proposto

na Mesa de Santiago, ressaltando o papel decisivo dos museus na educação da

comunidade, expressam bem a marca de Freire”(Alves & Reis, 2013, p.129).

O próprio documento refere que “este movimento afirma a função social do museu e

o carácter global das suas intervenções”, podemos reforçar esta ideia com Rivière que

refere:

Os museus devem, por isso, cumprir funções sociais, educativas e culturais

para uma comunidade e assumir esse compromisso porque têm um papel ativo

nas ações sociais, económicas e culturais por meio de ações educativas

(Riviére cit. por Carvalho, 2014, p. 53).

Podemos ainda acrescentar que o curador de museus Georges-Henri Rivière

define os museus como instituições que devem conservar, comunicar e expor o

património, com a finalidade de desenvolver a educação e cultura, e defende que os

grandes motores da mudança são os visitantes, como próprios atores das atividades

museológicas. Para Hughes de Varine nos textos de “Santiago” é sempre possível

reencontrar o seu sentido verdadeiro e inovador, senão revolucionário, e destaca duas

noções: aquela de museu integral que considerada os problemas da sociedade e aquela

do museu enquanto instrumento dinâmico de mudança social, referindo que:

Esquecia-se assim, aquilo que havia-se constituído, durante mais de dois

séculos, na mais clara vocação do museu: a missão da coleta e da

conservação. Chegou-se, em oposição, a um conceito de património global a

ser gerenciado no interesse do homem e de todos os homens. (Araújo & Bruno,

1995).

Conforme refere Baldroegas (2013), “esta nova corrente museológica defendia uma

maior abertura por parte das instituições, procurando uma relação de diálogo efetivo

com a comunidade, desenvolvendo ações dentro e fora do espaço museológico,

recusando assim o modelo tradicional de museu, defendendo uma mudança de

paradigma” (p.15). Na verdade a museologia atravessa nesta época uma fase em que há

uma rutura entre a museologia anterior e com a “Nova Museologia” (Carvalho, 2014),

transita-se de uma museologia de coleções, preocupada com as questões administrativas

e a preservação do objeto, para uma museologia com interesses de carácter social e

virada para as comunidades. Como refere Pérez (2009) “O museu passará a ser criado

com a comunidade, respondendo assim às suas necessidades e realizando um exercício

de cidadania” (p.181). Moutinho (1995) ainda acrescenta que o público nestes novos

museus passa a ter o lugar de colaborador, de utilizador ou de criador, mais do que

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observador. Como podemos verificar com o discurso do movimento da nova

museologia, os objetos perdem a condição de depositários de valores transcendentes e

independentes das classes, grupos e categorias sociais (Paiva, 2013), no entanto a nova

museologia propunha reflexão e intervenção.

Destaca a autora referida que:

Com esta nova abordagem o objeto passa a ser relacionado com o contexto

fazendo com que as ações desenvolvidas saíam do edifício e passem a ser

exercidas de forma participativa pela comunidade. Isso contribui para a

criação de novas tipologias de museus como a dos ecomuseus, museus abertos,

e outros. O acervo passa a ser utilizado como meio para uma leitura crítica do

processo histórico, fazendo do museu um espaço dinâmico que reflete o

quotidiano (Paiva & Primon, 2013. p. 7)

Este movimento surge na França, através de um grupo de museólogos insatisfeitos

com a forma como os museus desenvolviam o seu papel. Porém podemos assumir que

nasce oficialmente no I Atelier Internacional Ecomuseus/Nova Museologia, que

aconteceu no Canadá, na Declaração de Québec de 1984, onde estão mencionados os

princípios que devem orientar as ações para a “Nova Museologia” mais interdisciplinar

e social, face à museologia tradicional de coleções, onde se reconhece a ecomuseologia,

a museologia comunitária, e as outras museologias alternativas que surgiram em vários

países, como por exemplo Mali, República dos Camarões, Panamá, E.U.A., México,

Suécia e Reino Unido (Moutinho, 1995).

Segundo Santos (2002), os princípios básicos que orientam as ações da “Nova

Museologia”, podem resumir-se nos seguintes pontos:

reconhecimento das identidades e das culturas de todos os grupos

humanos;

utilização de memória coletiva como referencial básico para o

entendimento e a transformação da realidade;

incentivo à apropriação e reapropriação do património, para que a

identidade seja vivida, na pluralidade e na rutura;

desenvolvimento de ações museológicas, considerando como ponto de

partida a prática social e não as coleções;

socialização de função de preservação;

interpretação da relação entre o homem e o seu meio ambiente e da

influência da herança cultural e natural na identidade dos indivíduos e

dos grupos sociais;

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ação comunicativa dos técnicos e dos grupos comunitários, visando o

entendimento, a transformação e o desenvolvimento social.

Partindo destes princípios Santos (2002) entende o tema da “Nova Museologia ”do

seguinte modo:

Considero o Movimento da Nova Museologia um dos momentos mais

significativos da Museologia Contemporânea, pelo seu caráter contestador,

criativo, transformador, enfim, por ser um vetor no sentido de tornar possível

a execução de processos museais mais ajustados às necessidades dos

cidadãos, em diferentes contextos, por meio da participação, visando ao

desenvolvimento social (Santos, 2002, p. 94).

Em 1985 houve o II Encontro Internacional “Nova Museologia/Museus Locais”, em

Lisboa, onde se reconheceu oficialmente como organização o MINOM (Movimento

Internacional para a Nova Museologia), que mais tarde passou a ser reconhecido como

organização afiliada do ICOM. Somente 10 anos depois é constituída a MINOM em

Portugal que tem sido o principal difusor da nova museologia em Portugal, através da

organização de jornadas anuais por todo o país.

Segundo Moutinho: “o Atelier de 1984 e a criação do MINOM devem ser entendidos

como um todo coerente, que contribuiu desde então, para o reconhecimento no seio da

museologia, do direito à diferença” (Moutinho, 1995, p.29).

Fazendo um breve balanço da “Nova Museologia” em Portugal, Manuel Antunes

escreve:

Este movimento tem desempenhado fundamental, procurando fomentar a

reflexão sobre ideias e práticas museológicas, que coloquem os museus ao

serviço das comunidades em que se inserem e das suas perspetivas de

desenvolvimento. Com uma Museologia Social que encoraje a consciência

política, o exercício da cidadania, a participação comunitária e o espírito de

iniciativa, ao serviço da realização do ser cultural, enfim, do ser humano.

(Antunes, 2015, p.153).

O quatro documento - A Declaração de Caracas, na Venezuela, em 5 de fevereiro de

1992, fez uma atualização dos conceitos da Mesa Redonda, realizada 20 anos atrás, e

uma reflexão sobre a situação museológica da altura e das alterações desde 1972, que

revelam uma museologia dinâmica e integrante. Segundo Moutinho, esta mudança de

atitude foi referida por Hugues de Varine no relatório de síntese da Conferência Geral

do ICOM Canadá, 1992:

Das reuniões dos comitês internacionais tornou-se claro que existe uma forte

corrente voltada para a abertura e para a inovação (…) levando profissionais

dos museus a agir de forma não-tradicional e aceitarem ser influenciados por

conceitos multiculturais. A cooperação interdisciplinar que está emergindo no

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seio do ICOM, às pontes construídas entre várias disciplinas e projetos, e

grupos como o MINOM são indicações deste espírito de abertura” (Moutinho,

1995, p. 29).

3 Educação nos museus

“A Educação, qualquer que seja ela, é sempre uma teoria do conhecimento posta em

prática”.

Paulo Freire

3.1 Conceito de Educação

Durante muitos anos a Educação teve uma conceção muito restrita e quase sinónimo

de Escola. Esta ideia estava ligada ao conceito de que a infância e a adolescência seriam

os períodos ideais para adquirir conhecimento e competências e a idade adulta seria o

momento para aplicar esses conhecimentos e competências adquiridas na idade escolar.

Esta conceção de educação reporta para uma visão estática do conhecimento, já que se

considera que os conhecimentos adquiridos num determinado período da vida, são os

mesmos que necessitamos em etapas posteriores da nova vida.

Porém a aprendizagem não se limita a um determinado período da vida de uma

pessoa, a aprendizagem acontece durante todo o ciclo de vida da pessoa e tem lugar nos

vários contextos onde a pessoa se desenvolve, como na família, nas atividades de lazer,

no trabalho, etc. A importância da educação, entendida como um fator estratégico de

desenvolvimento e de “progresso”, constitui, hoje, uma ideia relativamente consensual

que não representa, contudo, uma novidade (Canário, 2000).

A globalização do pensamento e da ação educativa, historicamente marcados pela

emergência do conceito de educação permanente, conduz (entre outras dimensões) a

encarar o processo educativo como um continuum que integra e articula diversos níveis

de formalização da ação educativa:

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Figura 1 - Esquema dos diversos níveis de formalização ação educativa (Canário 2000)

Com efeito, estes três níveis de formalização, precisamente porque são um

continuum, não se apresentam como estanques e rigidamente delimitados, podendo e

devendo articular-se de modo fecundo, como podemos verificar pela seguinte descrição

de Chagas (1993):

A educação formal carateriza-se por ser altamente estruturada. Desenvolve-se

no seio de instituições próprias – escolas e universidades – onde o aluno deve

seguir um programa pré-determinado, semelhante ao dos outros alunos que

frequentam a mesma instituição. A educação não-formal processa-se fora da

esfera escolar e é veiculada pelos museus, meios de comunicação e outras

instituições que organizam eventos de diversa ordem, tais como cursos livres,

feiras e encontros, com o propósito de ensinar ciência a um público

heterogéneo. A aprendizagem não-formal desenvolve-se, assim, de acordo com

os desejos do indivíduo, num clima especialmente concebido para se tornar

agradável. Finalmente, a educação informal ocorre de forma espontânea na

vida do dia-a-dia através de conversas e vivências familiares, amigos, colegas

e interlocutores ocasionais (Chagas, 1993, p. 52).

Deste modo o termo aprendizagem ao longo da vida faz menção a toda a atividade

formativa que a pessoa realiza, a qualquer momento da sua vida, para adquirir

conhecimentos e competências e/ ou ampliar os que já possui. Este entendimento é uma

das grandes características das sociedades do século XXI. A 1 de janeiro de 2016 entrou

em vigor a resolução da Organização das Nações Unidas (ONU) intitulada

“Transformar o nosso mundo: Agenda 2030 de desenvolvimento sustentável”,

constituída por 17 objetivos, desdobrada em 160 metas. Relativamente à educação no

objetivo 4 ”Garantir educação inclusiva, de qualidade e equitativa e promover

oportunidades de aprendizagem ao longo da vida para todos” (ONU, 2016). Perante

Ação Educativa

Formal

Um nível de que o protótipo é o ensino dispensado pela

escola, com base na assimetria professor aluno, na

estruturação prévia de programação e horários, na

existência de processos avaliativos e de certificação.

Não Formal

Um nível caraterizado pela flexibilidade de horários,

programas e locais, baseado geralmente no voluntariado,

em que está presente a preocupação de construir situações educativas “à medida” de contextos e

públicos singulares

Informal

Um nível que corresponde a todas as situações de

aprendizagem espontânea potencialmente educativas,

mesmo que não conscientes, nem intencionais, por parte dos destinatários, correspondendo a

situações pouco ou nada estruturadas e organizadas.

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estes desafios que apelam a uma sociedade inclusiva, tendo presente a noção de

aprendizagem ao longo da vida, podemos afirmar que a educação não formal, como

uma dimensão para a educação para a cidadania.

Deste modo, na atualidade considera-se que a educação acontece em todas aquelas

atividades e práticas sociais que promovem o desenvolvimento pessoal e social das

pessoas.

A propósito desta ideia podemos ainda referir que:

“ considerar que esta variedade de iniciativas educativas reflete uma certa

tendência da sociedade atual em valorizar a designada “educação ao longo da

vida”, nomeadamente nos contextos de educação não formal, como são os

museus, e em dirigir as suas iniciativas para qualquer indivíduo

independentemente da sua faixa etária, situação económica e estatuto social

ou proveniência cultural”. (Azevedo, 2010, p. 5).

3.2 Papel educativo dos museus

Como já foi referido, a maioria dos museus oferece oportunidades de aprendizagem e

lazer, sendo a educação uma das funções centrais dos museus. Segundo Chagas (1993),

os museus têm um interesse crescente, não só por parte de instituições ligadas à

educação, quer governamentais quer privadas, como também por parte do público em

geral. À medida que o museu passou a estar menos voltado para si próprio e mais

voltado para o público, começou igualmente a dedicar-se mais atenção ao papel

educativo dos museus (Mendes, 2013, p. 39). O papel educativo dos museus tem

contribuído para o destaque que o museu tem tido cada vez mais, e que certamente

continuará a ter nas próximas décadas, devido ao novo contexto social e científico-

pedagógico.

A recomendação da UNESCO5 aponta, como funções fundamentais dos museus, a

preservação, investigação, comunicação e educação. Sobre a função educação, sugere o

seguinte:

A educação é outra função fundamental dos museus. Os museus atuam na

educação formal e informal e na aprendizagem ao longo da vida, através do

desenvolvimento e da transmissão do conhecimento, de programas educativos

e pedagógicos, em parceria com outras instituições, especialmente as escolas.

Os programas educativos nos museus contribuem fundamentalmente para

5 Recomendação relativa à proteção e promoção dos museus e das coleções, da sua diversidade e do seu papel na sociedade

(UNESCO, 2015)

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educar os diversos públicos acerca dos temas das suas coleções e sobre a

cidadania, bem como ajudam a consciencializar sobre a importância de se

preservar o património e impulsionam a criatividade. Os museus podem ainda

promover conhecimentos e experiências que contribuem para a compreensão

de temas sociais correlacionados. (ONU, Paris, 2015)

Segundo (Sagüés, 2011), “a educação formal, a educação não formal e educação

informal formam uma rede que permite que as pessoas aprendam ao longo da sua vida

através de vários meios, incluindo o museu” e nesse sentido apresenta três modelos de

relacionamento entre os museus e a educação:

Figura 2 - Modelos de relacionamento entre museus e educação (Sagüés, 2011)

Como já aqui foi enfatizado, cada vez mais os museus ocupam um lugar central na

sociedade e os seus espaços e funções educativas têm tido uma grande transformação

desde a sua criação até aos nossos dias. Existem várias perspetivas de abordagem sobre

este tema, mas sobre a educação nos museus Alves (2007) diz-nos:

A educação nos museus foi-se tornando um serviço essencial que as políticas

entendiam prestar-se a viabilizar os critérios sócio-culturais do museu, entre

outros, enquanto finalidades e através de meios a concretizar para o público.

Os museus e os serviços educativos que neles operam podem ser um contributo

fundamental para uma educação atual como expressão de uma sociedade

orientada por princípios capazes de contribuir para o desenvolvimento

alargado e integral das várias dimensões do ser humano em qualquer situação

e momento da sua vida. Eles começam a tornar-se um retrato das “novas

comunidades educativas emergentes”, que sem pretenderem substituir,

complementam e demarcam outros horizontes culturais para além da escola. A

MUSEU

E

EDUCAÇÃO

FORMAL

O museu como instrumento de ensino-aprendizagem do

currículo escolar. Tenta criar hábitos de consumo cultural entre o público escolar. Ex: visitas programadas pelos

professores

NÃO FORMAL

O museu é um instrumento de difusão de conhecimento

gerado por ele ou por investigadores, que

complementa a educação formal escolar. Ex:

palestras, cursos, ateliers,

INFORMAL

O museu propicia divulgação científica.

O visitante dispôe-se a ser um participante ativo, voluntário, que assume

uma educação não integrada nos currículos

escolares oficiais

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escola hoje tem-se tornado uma instituição educativa entre outras e o museu

consolida-se nesse quadro. (Alves, 2007, p. 3)

Conforme Teresa Eça (2010), “a interface entre o museu e o indivíduo pode gerar

processos de aprendizagens significativas”. A aprendizagem no museu é difícil de

mensurar e pode não manifestar-se de imediato. A aprendizagem no museu é uma

experiência subjetiva e individual. O público que frequenta o museu é heterogéneo e

responde a múltiplos padrões de comportamento que depende de variáveis diversas

como a frequência, os interesses, as suas expetativas ou o conhecimento prévio. Estas

aprendizagens, parte integrante da experiência global, serão, portanto, aquelas que

resultem da conjugação do património cultural, social e emocional que os indivíduos

trazem consigo (a sua biografia), com aquilo que a instituição visitada (com os seus

objetos, coleções, atividades, programas e serviços) é capaz de lhes proporcionar (Silva,

2006).

Portanto para que os museus sejam espaços abertos a todos os públicos e cenários de

encontro da comunidade e sua participação, as exposições e programas devem ser

desenhados para responder a todos os públicos. Neste sentido o modelo experiencial de

Falk e Dierking (1992) é relevante e constitui uma intenção de transformar os museus

em espaços plurais de aprendizagem, afirmando que numa visita ao museu participam

três contextos: o pessoal, o físico e o sociocultural, que se encontram em permanente

relação. A aprendizagem no museu é um processo de diálogo do visitante em seu redor

no seu tempo que vai trocando relações de interação entre os três contextos:

Figura 3 - Modelo Experiencial de Falk e Dierking, 1992

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Para Falk e Dierking (1992) é justamente neste espaço de interseção que se constrói e

define a experiência que perdurará na memória dos indivíduos, potenciando a

construção de aprendizagens duradouras, significativas e efetivas.

No contexto pessoal cada visitante entende os objetos e o seu mundo através da sua

interpretação pessoal, cada visitante do museu é único. É neste contexto que se incluem

as expetativas e respostas antecipadas à visita, o conhecimento prévio, os interesses, as

motivações e as preocupações dos visitantes. As pessoas vão aos museus com

expetativas que influenciam diretamente a aprendizagem.

Também os interesses e valores prévios de cada indivíduo determinam em que partes

dos conteúdos se vai centrar e o que para ele é mais atrativo. Finalmente a última

variável deste contexto pessoal é a motivação com que aprendemos e está relacionada

com as emoções que vão determinar a nossa atenção e a nossa memória.

A visita ocorre num contexto sociocultural e o visitante normalmente partilha as suas

experiências em grupo porque vai ao museu como uma atividade de caráter social, em

que as pessoas e os visitantes interagem uns com os outros para decifrar a informação,

reforçar crenças, dar sentido aquilo que vêm. As relações interpessoais que se

estabelecem durante a visita implicam que a experiência museológica seja diferente em

função da visita ao museu ser individualmente, em par, em família, em grupo, ou se

também a interação com os profissionais do museu, os guias, quem está na receção, é

diferente se é um museu com pouco público ou se é um museu com visitas guiadas.

Do contexto físico faz parte a qualidade dos serviços, para além do edifício ou do

objeto, outros aspetos podem influenciar a experiência museológica, como ter ou não

uma cafetaria, uma livraria, uma loja para comprar uma lembrança, uma sala onde

podem realizar-se atividades anteriores ou prévias à visita, um lugar de descanso para

apreciar e ver o que o museu nos oferece, se existe cor e som, luzes, sombras, música de

fundo ou como a exposição está desenhada.

A construção e o suporte à identidade pessoal é a principal motivação dos visitantes

do museu, que procuram experiências para a formação da sua identidade e que

constroem significados a partir da sua experiência no museu. Assim para finalizar

podemos dizer que a interação destes três contextos pode criar um quarto contexto: a

experiência museológica de aprendizagem, conforme está identificado no esquema do

Modelo Experiencial de Falk e Dierking. Portanto os museus são contextos da

aprendizagem, possibilitam ao público adquirir conhecimentos e competências, sendo a

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aprendizagem um processo de construção e reconstrução pessoal dos conhecimentos. Os

museus podem ser vistos como um lugar de aprendizagem, prazeroso e agradável, um

lugar de contemplação e de fruição do saber, um lugar de encontro com os sentimentos

mais profundos e necessários, para reconhecimento das nossas condições como

cidadãos de um universo cheio de contradições e oportunidades (Gabriele, 2014).

3.3 Relação Escola-Museu

As instituições culturais e as escolas podem cruzar-se, sem confundir a educação

cultural que existe nos dois lados (Eça, 2010). Nesse sentido, são centros de educação

que ligam a educação formal, não formal e informal, em que aprender combina com

entreter e desfrutar, onde o conhecimento e a cultura se ligam à sociedade. Maria Isabel

Martins (2003), nas suas provas de agregação em educação, defende que a articulação

do ensino formal com ambientes de educação não formal é de importância fundamental,

para acentuar, sobretudo nos mais jovens, que as aprendizagens são úteis e se aplicam

no dia-a-dia.

Os grupos escolares são os principais “clientes“ dos museus, com particular

incidência para o 1.º ao 3.º ciclo e secundário, com menos variedade no pré- escolar e

no ensino universitário. Silva (2006) afirma que o público escolar é dos mais

representados nas estatísticas dos visitantes de museus e aqueles que mobilizam a maior

parte dos recursos educativos destas instituições.

No ano de 2015, o número de crianças/jovens em idade escolar, desde a pré-escolar

até ao ensino secundário era cerca de 2 milhões6 e o número de visitantes escolares a

museus rondou o valor 1,7 milhões7. Através destes dados podemos ver a expressão que

têm as visitas das escolas aos museus.

De acordo com os dados do Instituto Nacional de Estatística8, em Portugal, entre

2012 e 2014, os museus de ciências e de técnica são os segundos mais visitados, a

seguir aos museus de arte, conforme podemos verificar na tabela seguinte:

6 Fontes/Entidades: DGEEC/MED - MCTES, PORDATA Última atualização 2016-11-30; 7 Fonte INE; 8 Fonte: INE, Inquérito aos museus, última atualização 07 de outubro de 2015.

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Tipologia de museus

2014 2013 2012

Nº (milhares) Nº (milhares) Nº (milhares)

Museus de arte 380851 379166 381613

Museus de arqueologia 60869 60461 72447

Museus de ciências naturais e de história natural 18907 23747 16817

Museus de ciências e de técnica 271548 349389 350665

Museus de etnografia e de antropologia 101999 87817 65374

Museus especializados 179606 193669 151590

Museus de história 266879 253017 289997

Museus mistos e pluridisciplinares 152026 174879 162674

Museus de território 71243 56795 47801

Outros museus 21295 22800 1988

Total 1525223 1601740 1540966

(Fonte: INE, 2015)

Tabela 1 - Visitantes inseridos em grupos escolares (N.º) de museus por Tipologia

Verificando-se então que os museus de ciência e de técnica são um dos destinos

preferenciais do público escolar, “é necessário analisar de que forma estas instituições

lhes transmitem conhecimento científico. Dois veículos principais são identificados: as

exposições e as restantes atividades promovidas pelos museus” (Delicado, 2013, p.47).

Os professores levam os seus alunos aos museus com o objetivo de ilustrar, no

terreno, os conteúdos curriculares das suas disciplinas, e de proporcionar atividades

pedagógico-lúdicas. A relação Escola/Museu continua a ser a combinação perfeita. A

escola tem duas vantagens: os conteúdos de aula tornam-se mais dinâmicos e o aluno

percebe diferentes formas de articulação entre os temas abordados (Marandino, 2001).

Hooper Greenhill, (cit. por Oliveira, 2013) menciona que os professores estão a

encontrar no museu uma valiosa fonte de aprendizagem e inspiração, não só para os

seus próprios alunos, mas também para si próprios. A propósito desta ideia Hooper

Greenhill também refere:

Os museus estão bem posicionados para apoiar o aumento da ênfase nas

políticas educacionais, para responder às necessidades individuais dos alunos

e desenvolver um currículo que motive e envolva os alunos, incentive a sua

curiosidade e o prazer em aprender e que os ajude a ter êxito. (citado por

Oliveira (2013, p. 12)

A análise dos relatórios do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes de

2015 (PISA) da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento

Económico) revela que os alunos portugueses nestes testes estão pela primeira vez

acima da média da OCDE, em 15 anos de participação. Os estudantes nacionais ficaram

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acima dos valores médios nos três domínios de avaliação: Leitura, Matemática e

Literacia Científica9 (IAVE, 2016). Sendo as políticas educativas introduzidas nestes

últimos anos, apontadas como as principais causas destes resultados, como o próprio

estudo indica existem outras correlações com os recursos dos departamentos de ciências

nas salas e as atividades extracurriculares. Assumimos, de acordo com os dados que

tínhamos referido anteriormente, que estas atividades devem ser em grande parte das

visitas dos grupos escolares aos museus, e que, em conjunto com o incremento dos

serviços educativos nos museus (que mais à frente iremos apresentar) tiveram alguma

influência nos dados do PISA 2015.

Convém analisar esta relação escola-museu de forma bilateral, uma vez que as

instituições culturais e museológicas que se interessam pela educação também procuram

na escola os referenciais para o desenvolvimento de suas atividades (Marandino, 2001).

No entanto, os museus devem também ter algum cuidado para não tornar as suas

atividades muito semelhantes às da escola. Como afirmam Van-Praet e Poucet (1992)

“Existe uma certa propensão deste fato nos serviços educativos dos museus a

reproduzir, erroneamente, a escola no museu (…) a solução é a busca de

complementariedade e de parceria” (cit. Marandino 2001, p.88). Podemos dizer que

essa complementariedade está relacionada com as vivências, experiências e

oportunidades de aprendizagem para os alunos, impossíveis de serem reproduzidas na

escola (Marandino, 2001). Esta autora acrescenta que:

Museus e escolas são espaços sociais que possuem histórias linguagens,

propostas educativas e pedagógicas próprias. Socialmente são espaços que se

interpenetram e se complementam mutuamente e ambos são imprescindíveis

para formação do cidadão cientificamente alfabetizado. (Marandino, 2001,

p.98).

Esta relação Escola-Museus é apresentada por Caetano (2016) através de duas

perspetivas: estética-poética que está relacionada com o museu como suplemento de

aula e o papel da escola é visto como uma preparação de sensibilidade para a cultura e

arte; e de uma perspetiva crítica onde o museu intervém no aluno na transformação

social. Estas duas perspetivas levam-nos a entender que os museus como espaços não

formais de educação podem ser bons aliados ao trabalho desenvolvido nas escolas

(Falcão, 2009).

9 No caso da literacia científica, o domínio que esteve em destaque no PISA 2015, estão em causa a explicação de fenómenos

cientificamente, conceber e utilizar o método científico para resolver um problema e interpretar dados e factos de forma científica.

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Nesta linha de raciocínio José Carlos Ribeiro10

(2016) na sua intervenção na

“Jornada de Reflexão sobre Desafios Contemporâneos da Educação Não formal nos

Museus”11

refere:

Nos museus podemos aprender valores humanos e questões de cidadania,

direitos humanos, educação não-formal essa que não passa na escola e o

museu pode colaborar em parceria com as escolas. Sendo os museus um

veículo primordial na transmissão de valores, na formação das pessoas e de

fazê-las pensar, trazem autonomia e faz com que tenham uma compreensão de

um todo (…). Trabalhar em conjunto escolas e museus podem criar

experiências de aprendizagem impulsionadas pela perspetiva dos estudantes

ajudando assim a criar um melhor futuro para a educação e cultura. (Ribeiro,

2016)

4 Serviços Educativos em Portugal

“Os dias em que a educação no museu era encarada como uma festa de crianças

arrastadas ao longo das vitrinas há muito que terminaram. «Educação no museu» é um

aspeto muito mais complexo do trabalho museológico e está rapidamente a tornar-se

também no mais necessário.

Eilean Hooper-Greenhill, 1994 (cit. Coutinho, 2006,

p.168)

Segundo Teresa Eça se encararmos as instituições e projetos culturais como

mecanismos sociais, espaços de criação e diálogo, as justificações e as finalidades serão

mais ambiciosas. A sociedade do conhecimento exige maiores responsabilidades aos

seus cidadãos, ao assumir que todos os indivíduos são agentes ativos da sua própria

construção de conhecimento. Os serviços educativos podem contribuir para a promoção

desta consciência enquanto espaços de negociação e discussão participada e, neste

sentido, permitem a expansão cultural nas suas múltiplas manifestações criativas,

colocando-se ao serviço de todos como instrumentos de reflexão, mudança e

intervenção (Eça, 2010, p. 277).

Um reflexo da abertura dos museus à sociedade é a presença do caráter educativo dos

museus (Figurelli, 2015). Para a realização deste trabalho foi feito um levantamento de

informações referentes funcionamento dos serviços educativos e toda a documentação

10 Diretor do Palácio da Ajuda e Presidente ICOM Portugal; 11 Jornada de Reflexão sobre Desafios Contemporâneos da Educação Não formal nos Museus, organizada pela Câmara Municipal

Vila franca de Xira, realizada no dia 2 de fevereiro de 2016, no Museu do Neo-Realismo.

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relativa à regulamentação do exercício da sua atividade, entre outras questões formais e

estruturais importantes para o planeamento e desenvolvimento de um projeto desta

natureza dentro da área de educação museal. Detalhes sobre este procedimento será

explicado no capítulo da metodologia. Para além das suas dinâmicas internas de

funcionamento, é relevante a compreensão da trajetória histórica dos serviços

educativos em museus portugueses.

Este resultado começou com ações educativas desenvolvidas pelos profissionais de

museus as quais aconteciam pontualmente, de forma espontânea e desassociadas das

caraterísticas que têm atualmente. O primeiro serviço educativo a ser criado num museu

português, há pouco mais de meio século, teve por detrás uma figura determinante na

evolução do panorama museológico do século XX, João Couto, que ficou “marcado” na

museologia portuguesa pela introdução da educação nos museus, conforme nos diz

Madalena Costa:

João Couto atribui desde cedo uma importância efetiva ao papel dos museus

na educação, considerando-o absolutamente necessário em Portugal para a

educação e elevação do país, sendo assim, preconizando-o desde logo para os

mais jovens no âmbito escolar. (Costa, 2012, p. 140)

Segundo a mesma autora, no contexto museológico nacional, o Museu Nacional de

Arte Antiga (MNAA), localizado em Lisboa, afigura-se como a “Casa-Mãe” da

formação do pessoal para a educação nos museus portugueses, com João Couto, que

assim o poderemos chamar de “Pai” dos serviços educativos em Portugal, por esta ideia

pioneira de atuação no museu que proporcionou o alargar de horizontes do sector

museológico.

Entre 1928 a 1930 foi criado no MNAA o “serviço de extensão escolar” tendo como

conservador adjunto do museu João Couto. Em 1953, já como diretor do museu cria o

“serviço infantil” também conhecido como “centro infantil” do museu, que com a

evolução tornou-se num serviço educativo (anos 60 a 80), que o museu designou como

Serviço de Educação, denominação até hoje utilizada:

O Serviço de Educação estabelece a relação entre o MNAA e os seus diversos

públicos através da realização de um programa de atividades centrado nas

coleções e nos conteúdos das exposições temporárias, procurando

corresponder aos interesses mais variados. O seu objetivo fundamental é,

através de uma atitude lúdica de descoberta, motivar a observação e a

reflexão, orientando e estimulando a participação individual. (MNAA, 2016,

site oficial)

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Segundo Graça Filipe (2011) “ao MNAA, sob a direção de João Couto, coube o

papel iniciador, em Portugal, a partir do início da década de 50 do século XX, da

prestação de serviços de carácter educativo dirigido aos seus públicos” (p. 1). Mais

tarde, Madalena Cabral também teve um papel determinante na centralidade que

progressivamente as atividades pedagógicas e formativas foram assumindo na

programação do MNAA. O “serviço infantil” e o posterior “serviço de educação” muito

focados sobretudo na relação museu-escola, sendo o modelo para os serviços educativos

criados entretanto na maior parte dos museus nacionais, locais, regionais e noutras

instituições culturais.

Acerca deste novo serviço no espaço museológico João Mendes (2009) refere:

É que, graças à destacada ação de João Couto (1892 -1968) – primeiro como

conservador e, posteriormente, como diretor do MNAA -, foi ali criado e

desenvolvido, a partir dos inícios dos anos 1930, o “Serviço de Extensão

Educativa”. Tratou-se de uma medida pioneira, em Portugal, que viria a ter

repercussões noutros museus do país, promovendo e incentivando a

colaboração destes com as escolas. Verifica-se, assim, que paralelamente à

relevância então dada à conservação e estudo das coleções, voltava a

equacionar-se o potencial educativo dos museus, embora de forma limitada.

Com efeito, mais do que a população, em geral, procurava atingir-se

preferencialmente, como público-alvo, o grupo escolar e, dentro destes, os

mais novos, crianças e adolescentes (Mendes, 2009, p. 676).

Ao longo das últimas décadas, tomando por referência a explosão museológica

verificada no nosso país a partir da década de 80 do século XX, a preocupação dos

museus relativamente a questões como a da cidadania ativa e inclusiva bem como da

educação para a cultura, tem favorecido o desenvolvimento dos serviços educativos. Os

profissionais dos museus portugueses têm dado relevância constante à função educativa

dos museus. Esta temática é das mais abordadas e divulgadas no meio da museologia

(Filipe, 2011), prova disso são as publicações, conferências, seminários e jornadas, que

se têm realizado nos últimos tempos sobre os serviços educativos. Também o

aparecimento de cursos de formação e especialização em museologia durante os anos 90

permitiu dar início a um processo de qualificação dos técnicos com reflexos expressivos

na área da educação (Gomes & Lourenço, 2009).

A política museológica também tem contribuído para a criação e expansão dos

serviços educativos, vejamos os princípios definidos pela Lei-Quadro dos Museus

Portugueses, nº 47/2004, de 19 de Agosto, a função de “educação” é definida como uma

função museológica essencial e no artigo 42.º estabelece-se a obrigatoriedade de o

museu desenvolver “de forma sistemática programas de mediação cultural e atividades

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educativas que contribuam para o acesso ao património cultural e às manifestações

culturais.” No ponto 2, do mesmo artigo menciona que “o museu promove a função

educativa no respeito pela diversidade cultural tendo em vista a educação permanente,

a participação da comunidade, o aumento e a diversificação dos públicos.” O ponto 3

ainda nos acrescenta “ os programas referidos no nº 1 do presente artigo são

articulados com as políticas públicas sectoriais respeitantes à família, juventude, apoio

às pessoas com deficiência, turismo e combate à exclusão social”.

De acordo, com os pressupostos da lei referida, consideramos a definição de Clara

Camacho (2007) a que melhor define o conceito de “serviço educativo” em relação com

a função de “educação”:

(…) uma estrutura organizada, dotada de recursos mínimos, designadamente

pessoal, inscrita organicamente no museu em que se insere, mesmo que de

maneira informal, que desenvolve ações dirigidas ao público, com objetivos

educativos. Ao serviço educativo compete o cumprimento da função

museológica de educação, uma das indispensáveis funções inerentes ao

conceito de museu, que se articula com as restantes funções museológicas de

estudo e investigação, de incorporação, de inventário e de documentação, de

interpretação e de exposição. (Camacho, 2007, p.28).

Segundo o estudo coordenado por José Neves (2013) – O Panorama Museológico

em Portugal: os Museus e a Rede Portuguesa de Museus na primeira década do Século

XXI, o serviço educativo desempenha um papel cada vez mais relevante de mediação

entre as atividades do museu e os seus públicos e, de modo mais geral, entre a

instituição e a comunidade em que se insere. Dada a importância do serviço educativo

na estrutura orgânica dos serviços do museu, um dos requisitos à credenciação dos

museus pela Rede Portuguesa de Museus é a existência de um serviço educativo,

regulamentado pelo Despacho Normativo n.º 3/2006 publicado no DR I série-B, 25 de

Janeiro.

Podemos verificar através do gráfico 1 como tem sido a evolução da criação dos

serviços educativos durante um período de 10 anos.

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Gráfico 1: Museus com Serviço educativo por ano2000-2009 (Fonte: Neves, 2013)

As conclusões a que este estudo chegou foram que em 2009 são 62% os museus que

afirmam ter este serviço, o que representa, relativamente a 2000 (44%) um crescimento

de 18 pontos percentuais. Note‑se que, apesar da evolução positiva evidenciada, não

deixa de ser relevante o facto de em 2009 cerca de 40% dos museus ainda não ter este

serviço disponível. Com os dados do gráfico podemos certamente comprovar que a

criação e evolução dos serviços educativos portugueses se relacionam com o quadro

evolutivo dos próprios museus e na mudança de paradigma museológica dos últimos

anos (Camacho, 2007).

Na tabela seguinte podemos ver a distribuição do serviço educativo dos Museus, por

tipologia

Tipologia

Tem serviço educativo O serviço educativo está formalizado na lei

orgânica

Total Sim Não Total Sim Não

Total 392 297 95 297 142 155

Museus de Arte 84 65 19 65 35 30

Museus de Arqueologia 34 24 10 24 9 15

Museus de Ciências Naturais e de História

Natural 7 7 0 7 4 3

Museus de Ciências e de Técnica 29 23 6 23 13 10

Museus de Etnografia e de Antropologia 59 38 21 38 18 20

Museus Especializados 48 37 11 37 17 20

Museus de História 47 36 11 36 11 25

Museus Mistos e Pluridisciplinares 63 52 11 52 29 23

Museus de Território 14 11 3 11 5 6

Outros Museus 7 4 3 4 1 3

Fonte: INE - Inquérito aos Museus 2014

Tabela 2 - Serviço educativo dos museus em 2014, por tipologia

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Apesar de existir uma evolução na implementação dos serviços educativos nos

museus, e se compararmos com os dados do gráfico 1, pode-se dizer que houve um

aumento de 16 % num período de 4 anos, no entanto ainda 24% dos museus

considerados para este estudo, não têm um serviço educativo a funcionar.

Por outro lado, dos 76% que possuem o respetivo serviço, 52% não estão

formalizados na lei orgânica. A conclusão a que podemos chegar perante esta análise é

que ainda existe algum caminho a percorrer na implementação dos serviços educativos

nos museus.

Para isso é preciso tomar consciência, que o serviço educativo nos museus funciona

como um recurso, para melhorar o seu nível de comunicação na área da educação,

através da dinamização de atividades, oficinas, ateliers e criação de materiais

pedagógicos, mantendo também formas de colaboração e de articulação com o sistema

de ensino. Estes recursos pedagógicos proporcionam aos participantes das atividades

vivenciar um maior número de conhecimentos e de experiências como a imaginação, a

criatividade, construindo o seu conhecimento. Podemos assim dizer que os serviços

educativos dos museus podem ser considerados a ponte entre as instituições

museológicas e a sociedade, e para cumprir com este papel trabalham estratégias que

proporcionam e facilitam o intercâmbio de informação e conhecimento entre o museu e

os visitantes. Só desta maneira se pode construir um espaço de educação permanente e

simultaneamente com experiências sociais e culturais.

Como já foi referido anteriormente, os museus eram vistos como locais de

preservação do património cultural e de memória, com um público elitista. Os museus

deixaram de ser espaço destinado apenas aos eruditos, especialistas e investigadores e

começaram a ser frequentados por pessoas provenientes de diferentes grupos,

independente do seu grau de instrução ou idade (Figurelli, 2015). A mudança de

mentalidades no seio da sociedade, também se refletiu nas entidades museológicas,

criando outras vertentes como culturais, científicas, educativas e sociais. O que nos

permite afirmar que os museus abriram as suas portas para um público de massas. A

mesma autora ainda refere que há estudiosos do tema que acreditam que foi justamente

a criação de ações educativas que auxiliaram no processo de aproximação entre os

públicos e as coleções.

Assim sendo, uma nova competência é atribuída aos museus, planificar e organizar

as suas atividades, preparar e criar materiais didático/pedagógicos para utilizar nas

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visitas com os visitantes/públicos, não esquecendo os seus interesses e motivações, e

compete ainda ao serviço educativo desenvolver estratégias de mediação artística e

cultural, numa perspetiva de educação não-formal, onde os museus podem ser um

espaço de aprendizagem, de interpretação e de construção social e cultural, e onde todos

são construtores/geradores do conhecimento.

4.1 O Educador e a Mediação nos Museus

Os novos tipos de museus com tendências para dar respostas às mudanças sociais,

têm apostado no aumento da profissionalização e especialização da equipa de trabalho,

quer para criar exposições multifacetadas quer para exposições mais vanguardas com

abordagens tecnológicas. O resultado é que vemos neste novo conceito de museus, a

responsabilidade pelo planeamento e desenvolvimento das exposições ser compartilhada

entre vários profissionais, que através dos seus pareceres, tornam o processo inclusivo.

Para além do curador (fornece experiência académica com base no conhecimento da

coleção e define o conceito geral da exposição) e do designer (responsável pela

aparência visual e que garante que o material é exposto de uma forma atraente,

compreensível e divertida), o educador é um especialista que compreende as formas

pelas quais as pessoas aprendem, as necessidades educacionais, bem como a relação

entre o programa e as atividades de outras instituições de ensino, incluindo as escolas.

Além do consenso, como parte de um processo, a parte mais inovadora da abordagem

de equipa de exposições foi a inclusão e formalização do papel dos educadores de

museus.

Sobre o papel e a responsabilidade de um educador ou “especialista em educação de

museus”, como alguns autores denominam, a Museums & Galleries Comission, refere:

A responsabilidade pela criação, implementação e avaliação da política e do

plano de trabalho deverá ser atribuída a um profissional integrante da

instância diretiva do museu. Ele (a) deverá ocupar uma posição que inclua

responsabilidade pelo cumprimento dos objetivos primordiais do museu e,

idealmente, deverá ser um (a) especialista em educação em museus (Museums

& Galleries Commission, 2001)

Portanto, combinar os objetivos do museu, envolvendo toda a equipa na criação de

estratégias para o desenvolvimento do público, garantem assim que os museus

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continuem a adaptar-se a todos os diferentes grupos na comunidade. “A contribuição do

responsável pela área educativa é necessária em todas as atividades do museu”

(Museums & Galleries Comission, 2001). É na maioria dos casos a avaliação do plano

de atividades do educador que irá verificar o sucesso da exposição no cumprimento dos

seus objetivos em relação à comunicação com os visitantes.

Os museus são centros de conhecimento, e a sua missão é oferecer uma experiência

educacional, de acordo com os seus visitantes. Algumas pesquisas mostram que a

qualidade da coleção não é o principal fator de decisão de visitar um museu que possa

atrair potenciais visitantes. O que pesa mais nas decisões para fazer a visita tem mais a

ver com o “ambiente” do museu como um todo, e a interação que o museu pode

oferecer aos visitantes é um fator chave. Isto também significa que os museus são parte

de uma indústria de serviços de lazer, que procuram a satisfação do cliente, sendo mais

valorizados os serviços com as experiências de lazer que assegurem satisfação

instantânea, e no caso dos museus momentos agradáveis em uma ambiente educacional.

Atingir os sentimentos dos visitantes como forma de envolvê-los na exposição não é

apenas uma “manobra” museológica usada para atrair e emocionar os visitantes é

também uma caraterística de diferenciação de produtos e serviços fundamentada por um

conceito denominado “Economia da Experiência” desenvolvido pelos autores Pine e

Gilmore em 1999 (Silva e Santos, 2011). Este conceito foi concebido nos Estados

Unidos com a publicação da obra The Experience Economy, como podemos ver na

figura 4 revela que os componentes emocionais terão mais valor do que os racionais no

momento da decisão da escolha de um produto ou serviço. Na economia da experiência

um fornecedor de serviços deve incluir sensações memoráveis nas suas atividades.

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Figura 4 – Modelo “Experience Economy”, adaptado J. Pine and J. Gilmore, 1999

A combinação de diferentes dimensões experienciais delineadas pelos eixos

horizontais e verticais como mostra a figura, definem os quatro domínios das

experiências propostas por estes autores (Entretenimento, Estética, Escapismo e

Educação)

José Amado Mendes também indica causas para a regeneração educativa dos

museus. As causas de ordem científica, que se relacionam com o progresso da ciência,

psicologia, história e tecnologia, de ordem pedagógica, que se prendem com ideia de

educação permanente, de ordem didática, que se relacionam com a evolução dos

métodos educativos e, finalmente de ordem tecnológica e civilizacional, que se prendem

com as novas tecnologias e o seu papel transformador nos museus (Mendes, 2013, p.

37-38).

Teresa Eça (2010) refere o museu como espaço de diálogo, qualquer que seja o seu

acervo, o tipo de diálogo é que pode ser diferente de instituição para instituição.

Podemos ainda acrescentar que o “diálogo” entre o homem e objeto musealizado

depende da abordagem escolhida pelos profissionais do museu para intermediar a ação

(Gabriele, 2014).

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4.2 Museus e Público

Criar públicos que, mais que utilizadores, sejam participantes e “revisitantes”.

(Silva, 2006)

Os museus do Século XXI dão importância à comunicação com o seu público. Esta é

uma das tendências mais significativas nas últimas décadas na teoria e na prática

museológica, tem sido a orientação para os visitantes (Vlachou, 2013). Nos últimos 30

anos, o tema de maior interesse para os responsáveis dos museus tem sido o estudo de

públicos, têm-se realizado vários estudos quer pelos próprios museus, organizações

culturais ou entidades públicas12

que têm como finalidade conhecer o seu público para

melhorar serviços, exposições e programa de museus.

No entanto, o conceito que o público tem dos museus é diverso, para algumas

pessoas pode ser um visto como um lugar fechado, escuro e aborrecido, para outras o

museu pode ser cultura, conhecimento, um espaço para aprender e apreciar. Mesmo

assim porque alguns museus estão ”despovoados”? Porquê muitas pessoas não vão aos

museus?

Segundo um inquérito do Eurobarómetro da Comissão Europeia (2013) sobre acesso

à cultura e participação cultural, o primeiro nesta área desde 2007, de acordo com o

gráfico 2, os portugueses são os cidadãos da União Europeia com taxas mais baixas de

participação em atividades culturais. Conforme podemos verificar no gráfico 3, 51% da

população aponta a falta de interesse de visitar um museu ou galeria, como a principal

razão da baixa participação cultural. O segundo motivo com uma representação de 23%

dos portugueses dizem não ter ido aos museus e galerias por falta de tempo.

12 Em dezembro de 2014 foi lançado o 1º grande estudo nacional de públicos de museus realizado pela Direcção-Geral do Património Cultural (DGPC). Durante um ano, até Dezembro de 2015, 14 instituições da rede nacional de museus estiveram

envolvidas no levantamento de dados através de um questionário online que um em cada dez visitantes foi convidado a preencher.

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Gráfico 2

Gráfico 3

(Fonte: Jornal “Público”, 2013)

Gráficos 2 e 3 – Dados do estudo Eurobarómetro sobre acesso à cultura e participação cultural

Androulla Vassiliou13

comenta sobre este inquérito:

“A cultura é uma fonte de satisfação pessoal, criatividade e alegria. Preocupa-me o

facto de um número reduzido de cidadãos da UE estar em envolvidos em atividades

culturais, como artistas intérpretes ou executantes, produtores ou consumidores. Esta

pesquisa mostra que os governos precisam repensar como eles apoiam a cultura para

estimular a participação pública e o potencial da cultura como motor de emprego e

crescimento. Os setores culturais e criativos também precisam se adaptar para

alcançar novos públicos e explorar novos modelos de financiamento”. (Vassiliou,

2013)

Um dos principais objetivos dos museus atualmente é atrair este grande número de

público que não frequenta os museus. A conjuntura económica desfavorável nos últimos

anos atingiu também as instituições museológicas, forçando-os a reconsiderar uma

gestão, por vezes, muito influenciada pela tradição, que não estimulava a visita aos

museus. Daí a importância das pessoas, de todas as idades, que vão pela primeira vez

aos museus, participarem em atividades próprias para elas. Hoje mais do que nunca, os

museus abrem as suas portas, tentam sair para a rua e ir ao encontro das pessoas e

satisfazer as suas expetativas.

Dificilmente, e com grande esforço, a maioria dos museus mantem visitantes em três

sectores clássicos: grupos escolares, aposentados e turistas.

13 Comissária Europeia para a Educação, Cultura, Multilinguismo e Juventude em 2013.

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Tipologia Número de

museus

Visitantes, dos quais: Visitantes

Total

Inseridos em

grupos

escolares

Estrangeiros Com entrada

gratuita

Em exposições

temporárias

Total 392 11 749 732 1 525 223 4 289 128 4 628 748 6 053 137

Museus de Arte 84 3 223 282 380 851 1 236 444 1 727 866 2 029 598

Museus de Arqueologia 34 664 943 60 869 294 975 307 243 379 945

Museus de Ciências Naturais e de História Natural 7 88 095 18 907 22 216 42 152 45 647

Museus de Ciências e de Técnica 29 858 801 271 548 95 135 354 075 482 076

Museus de Etnografia e de Antropologia 59 476 503 101 999 80 805 251 307 269 768

Museus Especializados 48 1 900 336 179 606 533 335 711 260 1 351 138

Museus de História 47 2 929 596 266 879 1 725 560 573 426 780 611

Museus Mistos e Pluridisciplinares 63 802 057 152 026 155 661 428 363 508 088

Museus de Território 14 445 240 71 243 64 340 212 953 205 414

Outros Museus 7 360 879 21 295 80 657 20 103 852

Tabela 3 - Visitantes dos Museus, por tipologia (Fonte: INE- Inquérito aos Museus 2014)

Com base nos dados da mesma fonte, do total de visitantes, 36,5% eram estrangeiros

(4,3 milhões de pessoas) e 13% dos visitantes estavam inseridos em grupos escolares.

Mais de metade (51,5%) visitou as exposições temporárias dos museus e 39,4%

entraram gratuitamente.

Desta forma, as instituições museais devem considerar que o seu público visitante

pode ser constituído por uma infinidade de segmentos destacados pelos museum studies

como: famílias, estudantes e professores, profissionais, especialistas, turistas, grupos

organizados, nichos de público (aposentados, imigrantes, pessoas com necessidades

especiais ou mobilidade reduzida), dentre outros, os quais se apresentam definidos por

características específicas (Andrade, 2010).

A propósito desta ideia:

A noção de públicos culturais apresenta-se, assim, hoje talvez como nunca, no

entrecruzamento de diversas problemáticas de mudança e permanência das

sociedades contemporâneas em contexto de globalização (Santos, 2003 p.76).

Silva (2011) referia que a “Nova Museologia”, com o grande enfoque que deu ao

papel social dos museus e a esta necessidade de eles se voltarem para a sociedade que

representam passaram a dirigir-se para a relação com os públicos. Esta corrente

compromete-se com as questões sociais e concebe o museu como um lugar de encontro

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que apela à participação ativa cultural. Na nova museologia as instituições museais com

a aproximação à comunidade deixam de ser vistas como organizações imóveis, mas

como agente de intervenção social. O alargamento da missão educativa do museu

implicou também a ampliação e diversificação dos públicos-alvo aos quais dirigir os

seus serviços e programas (Silva, 2011).

É importante também analisar as orientações da Direção-Geral do Património

Cultural - através do Departamento de Museus, Conservação e Credenciação (DMCC) e

da Divisão de Museus e Credenciação (DMC) - referidas no formulário para

credenciação de museus publicadas no Despacho normativo nº 3/200614

. Como

podemos verificar este documento “exige o cumprimento de todas as funções

museológicas enunciadas na Lei-quadro”, defendendo de igual modo a democratização

da cultura e a função de educar com vista ainda ao “aumento e à diversificação dos

públicos”. O formulário de credenciação está dividido em itens, destacando-se aqui o

segundo que se intitula “Cumprimento das funções museológicas”. Nas instruções de

preenchimento é explicado ao museu candidato a informação que deve declarar. Sobre a

função “Educação”, estes são os aspetos considerados:

“16 – Educação:

16.1 – Colaboração com o ensino – indicar quais as formas regulares de colaboração

do museu com as escolas para efeitos da promoção de atividades educativas.

16.2 – Tipos de público – informar sobre os diferentes tipos de público nas atividades

educativas habitualmente realizadas pelo museu” (Despacho normativo n.º 3/2006).

A verificação da qualidade técnica do cumprimento da função “Educação” nos

museus valoriza a correlação com o público escolar. O segundo, e último ponto, –

“Tipos de público” – informar sobre os diferentes tipos de público nas atividades

educativas habitualmente realizadas pelo museu, estabelece uma ligação com os

diversos públicos e as atividades educativas realizadas. Estas indicações podem servir

para inspirar a organização dos serviços educativos e ajudar na elaboração do seu Plano

de Ação Educativa (PAE).

14

“De acordo com o artigo 110.º da Lei-quadro dos Museus Portugueses, a credenciação consiste na avaliação e no reconhecimento

oficial da qualidade técnica dos museus, tendo em vista a promoção do acesso à cultura e o enriquecimento do património cultural,

através da observância de padrões de rigor e de qualidade no exercício das funções museológicas. A qualidade nos museus constitui o objetivo axial da respetiva credenciação, aspeto com repercussão, seja na salvaguarda e valorização dos bens culturais neles

incorporados seja no aumento e na diversificação dos públicos”.

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Atualmente existe a preocupação de diversas instituições em oferecer serviços e

produtos acessíveis a todo o público. Como não poderia deixar de ser, os museus e

instituições culturais têm procurado investir na melhoria da acessibilidade. Os museus

precisam ser acessíveis, para atender às necessidades informacionais diversas do

público que as procura. Para um museu ser acessível, é necessário que acolha um maior

número de pessoas em atividades, que tenha instalações adequadas para atender cada

um, conforme as suas diferenças físicas, sensoriais, linguísticas; incluindo a isso a

acessibilidade digital e tecnológica de forma organizada. Os conceitos de acessibilidade

e design universal são apresentados com os apoios na construção de espaços inclusivos.

A acessibilidade no museu é fundamental para que todos os visitantes se sintam

incluídos na sociedade, devendo existir uma preocupação, por parte dos profissionais

dos serviços educativos, em adequar os seus espaços para acolher todas as diversidades

de visitantes.

À luz da “Nova Museologia”, o museu é um espaço que legitima, valoriza, conserva

e promove bens culturais, mas permite também educar, gerar modos de ver e de

vivenciar esse património – o museu afirma-se hoje como um espaço de cultura e como

agente educativo, cujas funções, a de comunicar e de educar, evidenciam uma crescente

preocupação social.

Segundo Vlachou (2011), no artigo publicado no seu blog “Mudanças: Estaremos

suficientemente atentos?”:

A existência de museus, galerias, salas de espetáculos, centros culturais não

faria sentido se não houvesse público. São lugares de encontro entre os

artistas e as pessoas. São espaços de estímulo, diálogo, confronto, emoções;

espaços de descoberta, aprendizagem, entretenimento. São também espaços

onde as pessoas entram de livre vontade e não por obrigação; e são também

livres de gostar de experiência ou não, de voltar ou não. A preocupação em

criar acesso a estas experiências para cada vez mais pessoas tem a ver com a

missão desses espaços, a sua razão de existir; mas é também uma necessidade

(Vlachou, 2011).

Assim, poderemos considerar que os elementos básicos da criação de público são as

ações que fazemos para envolver as pessoas, atender às suas necessidades e interesses, a

fim de criar uma experiência que faça sentido para todas elas.

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5 Museus das Universidades Portuguesas

“As universidades detêm uma larga tradição na constituição de museus e coleções”

(Marta Lourenço, 2005)

As universidades são grandes fontes de património de ciência e tecnologia. O

reconhecimento do valor patrimonial, histórico, científico, cultural e socioeconómico

das coleções universitárias deve-se à imensa diversidade das mesmas. (Felismino,

2014). Por sua vez, guardam uma larga tradição na constituição de museus e coleções,

destinadas inicialmente à produção e transmissão de conhecimento científico e

reconhecendo desde o final do século XVI à atualidade, características e tipologias

específicas que os distinguem dos restantes museus (Lourenço, 2005).

Apesar dos problemas associados com museus e coleções universitárias e património

universitário, terem sido identificados há bastante tempo, o surgimento de grupos

organizados e associações é um fenômeno recente. Nos últimos 16 anos assistimos à

criação de dois grupos internacionais dedicados à promoção e valorização dos museus e

coleções das universidades: a rede Europeia UNIVERSEUM15

, criado pela Declaração

de Halleem 2000, relacionada com o património universitário no seu conjunto apenas a

nível europeu e o Comité para Museus e Coleções Universitárias (UMAC16

), fundada

em 2001 pelo ICOM, com a especificidade coleções e museus universitários por todo o

mundo.

Segundo Felismino (2014) a valorização deste património não teria sido possível sem

a emergência e afirmação, da investigação académica sobre museus e coleções

universitárias, em particular no âmbito dos estudos de museologia, história de arte e

história da ciência. No que diz respeito aos acervos universitários de natureza científica,

é de realçar o trabalho de Fernando Bragança Gil17

. Atualmente podemos destacar os

15European Academic Heritage Network http://universeum.it/ acesso a 19 de dezembro de 2011; 16http://icom.museum/the-committees/international-committees/international-committee/international-committee-for-university-museums-and-collections/ acesso a 19 de dezembro de 2011.

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estudos de Marta C. Lourenço18

acerca do património da Universidade de Lisboa19

e, de

uma forma geral, sobre o património universitário português.

Atravessa-se, na atualidade e à escala global, um momento-chave na história das

coleções e museus das instituições de ensino superior que conhecem um crescente e

renovado interesse por parte do público, dos governos e da academia (Felismino, 2014).

As universidades de Lisboa, Porto e Coimbra possuem museus de ciência, que

têm realizado importantes tarefas na divulgação do conhecimento científico entre a

população (Granado e Malheiros, 2015).

A Universidade de Coimbra é detentora de um importante e único património

científico, que foi acumulando ao longo dos séculos (Mota, 2008). Assumindo

particular relevância mundial, as coleções de instrumentos científicos e objetos de

história natural da Universidade de Coimbra são as mais antigas e significativas em

Portugal tendo o seu núcleo forte tido origem na Reforma Pombalina da Universidade

ocorrida no último quartel do século XVIII, e que estabeleceu as bases para o ensino e

investigação científica moderna em Portugal. A intervenção do Marquês de Pombal

permitiu a criação de novas faculdades e a construção de equipamentos apropriados ao

ensino das ciências, utilizando os edifícios jesuítas que reconstruiu e recriou. Assim,

deu origem ao primeiro museu universitário português, o Gabinete de História Natural,

localizado no Colégio de Jesus, juntamente com o Gabinete de Física, o Teatro

Anatómico, o Dispensatório Farmacêutico e, noutros locais, o Laboratorio Chimico, o

Observatório Astronómico e o Jardim Botânico (Museu da Ciência da Universidade de

Coimbra, 2016).

Atualmente, o Museu de Ciência da Universidade de Coimbra inclui o famoso

Laboratorio Chimico, o Gabinete de Física Experimental, o Gabinete de História

Natural, além das coleções do Observatório Astronómico de Coimbra, das coleções de

mineralogia e geologia, de zoologia, de botânica, de antropologia, de farmácia e de

medicina.

O Museu da Ciência recebeu já várias distinções e prémios nacionais e

internacionais20

. Destacamos aqui alguns que consideramos ser relevantes: os atribuídos

18 Subdiretora dos Museus da Universidade de Lisboa. Responsável pelas Coleções Históricas. Coordenadora Nacional do PRISC

(Portuguese Research Infrastructure of Scientific Collections) é atualmente presidente da UMAC, membro fundador da

UNIVERSEUM; 19 Coordenadora do livro "Universidade de Lisboa: Museus, Coleções e Património", lançado em 13 de dezembro de 201; 20http://www.museudaciencia.org/index.php?module=content&option=museum&action=awards.

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pela APOM - Associação Portuguesa de Museologia (em 2016 a menção honrosa para o

museu da ciência, em 2013 a menção honrosa ao serviço educativo do museu da ciência

e em 2010 acumulou dois prémios: o de melhor serviço de extensão cultural e melhor

aplicação e gestão de multimédia); Micheletti Award21

2008 que distingue (entre cerca

de 50 museus europeus) o melhor e mais inovador museu em ciência, técnica e indústria

atribuído pelo European Museum Forum22

.

Sobre este prémio, Paulo Gama Mota, na altura Diretor do Museu da Ciência da

Universidade de Coimbra, escreveu:

A atribuição do Micheletti Award foi motivo de grande satisfação pelo

reconhecimento de que um museu universitário no sul da Europa pode realizar

um trabalho qualificado, profissional, visualmente apelativo e

museologicamente eficaz e ver esse trabalho reconhecido por um dos mais

exigentes júris (Mota, 2008).

O autor ainda refere que os juízes felicitaram ainda o museu pelo vivo programa

educativo e pela sua preocupação em trabalhar com públicos com necessidades

especiais.

O Museu Nacional de História Natural e da Ciência é a designação pública da

unidade Museus da Universidade de Lisboa, criada em outubro de 2011, que funciona

na Rua da Escola Politécnica, em Lisboa. Integra as coleções dos seus museus

antecessores, os antigos edifícios da Escola Politécnica, o Jardim Botânico (no mesmo

local) e o Observatório de Lisboa (na Tapada da Ajuda, junto ao Instituto Superior de

Agronomia). Atualmente os Museus são uma unidade especializada da Universidade de

Lisboa, mas teve a sua origem no Real Museu de História Natural e Jardim Botânico,

criado na segunda metade do século XVIII, na Ajuda (Lisboa). Foi depois alojado, por

um curto espaço de tempo, na Real Academia das Ciências e finalmente transferido para

a Escola Politécnica (1858), tomando primeiro a designação de Museu Nacional de

Lisboa (1861). O Jardim Botânico de Lisboa foi inaugurado em 1878. Em 1911, com a

criação da Universidade de Lisboa, o Museu foi declarado estabelecimento anexo à

Faculdade de Ciências, tomando a denominação de Museu Nacional de História Natural

(1926). O Museu de Ciência da Universidade de Lisboa fundado em 1985, tendo sido só

reconhecido como instituição em 1990, foi a primeira instituição museológica criada em

Portugal com características dos centros de ciência, ou seja, que se procura em

21 Os prémios Micheletti foram criados em 1996, com o objetivo de reconhecer publicamente a excelência dos museus europeus

vocacionados para a ciência e a indústria, tendo surgido da cooperação estreita entre a European Museum Academy e a Fundação Luigi Micheletti, uma referência em termos de arqueologia industrial na Itália; 22 Atualmente é European Museum Academy – EMA.

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combinar o aspeto histórico das ciências exatas com a vertente participativa e interativa.

Passou a partilhar o espaço do Edifício da Politécnica com o Museu Nacional de

História Natural. Em 2003 passaram a ser tutelados diretamente pela Reitoria da

Universidade de Lisboa.

No Porto, podemos listar o Museu de História Natural e da Ciência da

Universidade do Porto (MHNC-UP), estabelecido formalmente no final de 2015, como

resultado da fusão do Museu de História Natural da Universidade do Porto e do Museu

da Ciência/Núcleo da Faculdade de Ciências da mesma universidade (ambos

originalmente a funcionar desde 1996) e o Museu da Faculdade de Engenharia do Porto

fundado em 2004.

O MHNC-UP encontra-se organizado segundo uma estrutura bipolar que integra um

polo central localizado nas instalações do Edifício Histórico da Reitoria da U. Porto, e

outro, que inclui a Galeria da Biodiversidade – Casa Andresen e o Jardim Botânico do

Porto. O Polo central do MHNC-UP alberga as coleções históricas de geologia,

paleontologia, zoologia, arqueologia e etnografia, botânica e ciência. Neste momento

está a decorrer um projeto de conceptualização e reestruturação do MHNC-UP,

desenvolvido em plena articulação coma Agência Ciência Viva. É o primeiro a nível

nacional que prevê e resulta do diálogo entre um Museu e um Centro Ciência Viva

(CCV). Este projeto permitirá a abertura ao público em pleno século XXI de um museu

universitário com décadas de história que renascerá como um híbrido entre um museu

moderno e um CCV com objetivos claros ao nível de três eixos fundamentais:

divulgação e educação, conservação e investigação (MHNC-UP, 2016).

Segundo um artigo publicado no Jornal “Público”23

No Museu de História Natural da Universidade do Porto, começará a ser

criado um novo espaço "de divulgação científica de referência internacional,

através do recurso a uma filosofia museográfica inovadora que prevê o

cruzamento entre a ciência e a arte como formas de apreensão da natureza e

da realidade (Público, 8 de setembro de 2016).

O financiamento deste projeto é de fundos comunitários que apostam na criação de

um novo museu de promoção da cultura científica e tecnológica da região norte, sendo

visto como um potencial para atrair 200 a 300 mil turistas por ano para a cidade e

região. Pretende-se assim assumir no futuro como “um museu de portas abertas à

comunidade a todos os níveis” (Jornal “Público”, 2016).

23https://www.publico.pt/2016/09/08/local/noticia/universidade-do-porto-recebe-19-milhoes-para-museu-de-historia-natural-e-da-

ciencia-1743515.

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6 O papel dos museus e universidades na promoção e divulgação da

cultura científica

No que respeita à promoção da cultura científica, através de museus e exposições, as

primeiras iniciativas provêm do meio universitário e de docentes empenhados nesta área

(Delicado, 2006). Podemos partir do exemplo de Fernando Bragança Gil, um pioneiro e

visionário nos assuntos que ligados ao museu de ciência, e como referem Eiró &

Lourenço (2010)24

“teve uma vida profundamente preenchida e totalmente dedicada à

cultura e à educação”, foi conhecido como professor, investigador, museólogo e

divulgador de ciência. Concebeu e promoveu a criação do Museu de Ciência da

Universidade de Lisboa, tendo sido integralmente responsável pelo programa científico,

pedagógico e museológico deste museu, bem como seu diretor entre 1985 e 2003.

Publicou vários trabalhos, cobrindo as áreas da física, física aplicada, ensino superior,

divulgação da ciência, história da ciência, museus e museologia (Eiró e Corte- Real,

2010).

O Professor F. Bragança Gil já mais abandonou a ideia de criar um museu de ciência

em Lisboa que “contribuísse para estimular a cultura científica da população, em

particular a curiosidade dos jovens, e apresentasse, de uma forma acessível, os

fundamentos da Ciência (Eiró e Corte- Real, 2010). Promover a divulgação científica

sempre o cativou, como podemos ler no texto de apresentação do Museu de Ciência da

Universidade de Lisboa, escrito pelo professor em 1997:

O Museu de Ciência da Universidade de Lisboa é, assim, uma instituição, com

o objetivo de promover a divulgação científica e sensibilização para a

importância da Ciência na sociedade atual, não apenas como base da

Tecnologia mas igualmente pelo seu valor como elemento essencial da cultura

contemporânea. Quer dizer, ele procura promover o aumento da literacia

científica, de essencial importância por razões de natureza intelectual, cultural

e, mesmo, económica e social” (Eiró e Corte- Real, 2010).

Por considerar que os museus de ciência tradicionais e os centros de ciência são

complementares, segundo os mesmos autores:

(…) foi dos primeiros autores da comunidade museológica internacional a

integrar e contextualizar os centros de ciência na história dos museus.

Chamava aos primeiros – os museus de tipo contemplativo, que apresentam

equipamento histórico-científico de forma mais tradicional – “museus de

ciência de primeira geração” e aos centros de ciência “museus de ciência de

segunda geração (Eiró e Corte- Real, 2010).

24 Nota de Abertura de Eiró, A.M., Corte-Real, L (orgs.) (2010). Fernando Bragança Gil e o Museu de Ciência da Universidade de

Lisboa, Museu de Ciência da Universidade de Lisboa.

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Segundo as mesmas autoras, para ele a solução estava em integrar estes dois tipos de

museus para se conseguir um museu que contribuísse para a cultura científica dos

cidadãos. Era o museu que desenvolveu teoricamente e tentou implementar no Museu

de Ciência da Universidade de Lisboa “museu de ciência de terceira geração”, que

incorporasse coleções de objetos que ilustrassem a evolução histórica da ciência e

tecnologia, a par de exposições de natureza interativa e participativa dirigidas para a

compreensão pública da ciência”(Bragança Gil, cit. por Delicado, 2006).

Um outro impulsor da divulgação científica em Portugal, que não poderia esquecer

de referir neste trabalho, é o Prof. José Mariano Gago. Licenciou-se em Engenharia

Eletrotécnica, em 1971 pelo Instituto Superior Técnico. Foi considerado um ativo

promotor da ciência, do conhecimento da história dos processos e métodos científicos,

da educação e da divulgação científicas em Portugal (Arquivo de Ciência e Tecnologia

da Fundação de Ciência e Tecnologia, 2015). Ainda nessa qualidade de impulsionador,

publicou diversos trabalhos resultado da sua participação por diversas iniciativas de

difusão da ciência portuguesa na Europa. Em 1990 publicou o livro Manifesto para a

Ciência em Portugal que propunha pistas de reflexão que a prática poderia e deveria

trilhar para ultrapassar a situação nessa altura existente face à ciência (Fiolhais, 2011, p.

30).

Desempenhou vários cargos entre os quais Professor Catedrático do Instituto

Superior Técnico, Ministro da Ciência e da Tecnologia, entre 1995 e 2002 e, entre 2005

e 2011, Ministro da Ciência Tecnologia e Ensino Superior do XVIIº Governo

Constitucional. Durante estas suas funções foram promovidas atividades e iniciativas

que são até hoje grandes marcos na história da promoção e divulgação científica, entre

as quais destacam-se: O «Programa Mobilizador da Ciência e da Tecnologia», visando a

inscrição da ciência portuguesa no contexto europeu e internacional bem como a

consolidação de uma cultura de informação e de trabalho em rede entre cientistas e

instituições de ciência; o «Programa Ciência» e outras iniciativas como a «Unidade de

Missão Informação e Conhecimento» para o desenvolvimento da Sociedade da

Informação em Portugal; O «Programa Ciência Viva», criado em 1996 para promoção

da cultura científica e tecnológica da população portuguesa. (Arquivo de Ciência e

Tecnologia da Fundação de Ciência e Tecnologia, 2015). Este programa foi criado

especialmente para a melhoria da educação científica nas escolas portuguesas

proporcionando aos alunos dos ensinos básico e secundário condições para uma

aprendizagem viva das ciências (Departamento do Ensino Secundário, 1998).

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O Professor Galopim de Carvalho é outro dos grandes nomes ligados à divulgação da

ciência em Portugal. Foi responsável pela promoção das Ciências da Terra, através de

uma ação incansável, ao longo de décadas, que passou pelas suas aulas, investigação na

Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, livros, palestras de divulgação por

todo o país e no mundo, o diligente trabalho como Diretor nos dois Museus que

antecederam ao atual MUHNAC – o Museu Mineralógico e Geológico (entre 1983 e

1992) e o Museu Nacional de História Natural (entre 1992 e 2003), e noutros locais

pelas suas sábias intervenções na imprensa escrita, na internet, na rádio e na televisão.

Ficou sobretudo famoso pela organização da exposição sobre dinossauros-robôs que,

em 1992, levou à Rua Politécnica mais de três centenas e meia de milhares visitantes e

pela sua defesa das pegadas dos dinossauros de Carenque25

, às portas de Lisboa.

Ganhou inúmeros prémios sendo um dos mais recentes, em 1 de julho de 2016, a

distinção com a medalha municipal de mérito científico da Câmara Municipal de

Lisboa.

Se por um lado a ciência tem vindo a ser encarada por como um fator de interesse

por muitos especialistas, por outro lado, observa-se um desinteresse por carreiras e

disciplinas de ciências entre os alunos.

Na lição síntese apresentada para as suas Provas de Agregação, Maria Isabel Martins

(2003) faz referência a vários estudos que comprovam o desinteresse dos jovens pela

aprendizagem das ciências e tecnologias, assim como estudos que comprovam o

desinteresse do público face à ciência mesmo em sociedades de elevado nível

económico e de escolarização. A mesma autora chama este fenómeno social de

“movimento anti - ciência que segundo ela tem merecido atenção de muitos cientistas

dando destaque a Dias de Deus26

. Neste quadro de inquietação é emergente fazer uma

articulação entre a ciência e a sociedade, ou seja, desenvolver a literacia científica que

permita a qualquer cidadão “conhecimento e compreensão de conceitos científicos bem

como de processos necessários para a tomada de decisões a nível pessoal, para a

participação em assuntos cívicos e culturais e ainda produtividade a nível económico”

(National Research Council, cit. Martins, 2003).

25

O Núcleo Monográfico da Necrópole de Carenque é um dos núcleos do Museu Municipal de Arqueologia e encontra-se aberto ao

público, de forma permanente, desde 1999, na freguesia da Falagueira, concelho da Amadora; 26 Jorge Dias de Deus é professor catedrático IST (aposentado). Já publicou diversos artigos a nível nacional e internacional e tem

sido um divulgador da ciência e das tecnologias no geral. Para além da sua atividade de investigação, preocupou-se sempre com o papel da ciência na sociedade. «Ciência, Curiosidade e Maldição», «Einstein...Albert Einstein. Homem, cidadão, cientista» e

«Viagens no Espaço-Tempo» foram alguns dos livros que já escreveu.

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Segundo Martins (2003) para despertar o gosto pelo “consumo” não formal da

ciência, o ensino formal deve dar a conhecer ambientes de aprendizagem não formal das

ciências: visitas a museus e centros de ciência, exposições, parques e Jardins temáticos,

participação em debates e conferências, visionamento de filmes e documentários sobre

ciência, leitura de livros e artigos de divulgação científica. Esta articulação do ensino

formal com ambientes de educação não formal é fundamental para acentuar, sobretudo

na população mais jovem, que as aprendizagens são úteis e se aplicam no dia-a-dia. A

mesma autora ainda nos diz que nesta perspetiva, é necessária esta articulação, de modo

a promoverem a criação de uma sociedade educativa, aquela onde existe uma circulação

livre de saberes e onde cada indivíduo desenvolve as suas competências de literacia.

6.1 Os museus de ciência como os espaços de educação não-formal

Inicialmente convêm aqui esclarecer que o termo de museu de ciência aqui utilizado

é referente aos museus de ciência que englobam dois tipos: museus de história natural e

museus de ciência e indústria (ou ciência e tecnologia). Os primeiros mais ligados aos

ramos da ciência de zoologia, botânica, geologia e antropologia, enquanto os museus de

ciência e tecnologia têm por objetivo ensinar princípios de física, química e matemática

e mostrar artefactos e instrumentos que são fruto do engenho humano (Chagas, 1993).

Conforme refere Jacobucci (2008), a diferença entre os centros de ciências e os museus

de ciência é nítida, uma vez que os museus de ciência necessariamente possuem

coleções de organismos ou minerais nos seus acervos e pessoal técnico direcionado à

pesquisa científica, sendo muitas vezes possível ao visitante observar os laboratórios e

vivenciar o dia-a-dia do cientista. Temos, por exemplo, o The Field Museum em

Chicago27

onde é possível usar a videoconferência numa sala de aula, interagir com um

membro da equipe Field Museum e ver ciência acontecer ao vivo, através da câmara.

Os museus de ciência são locais de educação não formal e de ampla divulgação

científica, e por isso têm sido cada vez consagrados como locais fundamentais para o

desenvolvimento não formal das ciências, sendo as atividades educativas desenvolvidas

nesse espaço de diferentes naturezas e estratégias variadas. Segundo Jacobucci (2008),

um museu de ciência precisa estruturar suas atividades de forma que o público possa

interessar-se pelos assuntos tratados logo na primeira visita. Esta autora ainda

acrescenta que os museus de ciência também são percebidos como locais de

entretenimento e de diversão familiar e até dá como exemplos museus que ficam abertos 27

Museu da cidade Illinois, localizado no Grant Park e às margens do Lago Michigan. O museu abriga mais de 20 milhões de

espécies em coleção https://www.fieldmuseum.org/educators/virtual-visits).

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para visita à noite, oferecem atividades de férias e chegam a realizar eventos de festas

académicas e festas de aniversário com temáticas científicas.

O objetivo é contribuir para o fortalecimento do saber científico, histórico e

universalmente acumulado, através do estímulo à curiosidade científica, da

popularização de informações significativas de ciência e tecnologia. A educação em

museus possui especificidades, as quais têm sido ressaltadas por diferentes autores

(Marandino, 2001) e elementos como espaço, tempo e objetos são considerados alguns

fatores que irão construir o diferencial da educação nesses espaços. As novas

metodologias utilizadas pelos museus são reflexos do esforço em assegurar a relação do

ser humano com o seu património natural e cultural e, no caso dos museus de ciência,

em fazer a divulgação científica (Galopim de Carvalho, 1993).

A visita aos museus de ciência poderá ser entendida enquanto figura de cidadania

cultural, onde se pratica e partilha, não só a sociabilidade no quadro da receção e

reformulação dos saberes científico-tecnológicos, mas igualmente a solidariedade,

relativamente à formação sustentada de novos segmentos de cidadãos culturais.”

(Andrade, 2010).

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Este capítulo irá de forma sintetizada apresentar o contexto da instituição, o Instituto

Superior Técnico da Universidade de Lisboa e os Museus do IST (Museu DECivil e

Museus de Geociências). A maioria da informação aqui exposta sobre o IST foi retirada

do site oficial da instituição na internet: https://tecnico.ulisboa.pt/.

Apresenta-se uma breve história da Instituição que acolheu este projeto. Como

iremos verificar, desde a sua fundação muita coisa mudou e essas mudanças fazem parte

por ser um estabelecimento de ensino sempre em atualização constante, indo de

encontro às necessidades da sociedade e por estar ligada à história do país, que de certa

forma justificam a pertinência deste trabalho.

1 Caraterização do IST

O IST foi fundado um ano após a implantação da República, em 23 de Maio de

1911, na Boavista ao Conde Barão em Lisboa. Surgiu pela necessidade da reforma do

ensino industrial e comercial em Portugal que desdobrou o IICL em duas novas escolas,

o IST e o Instituto Superior do Comércio, atual ISEG, herdando as instalações do

extinto “Instituto Industrial”.

O primeiro Diretor do IST (1911-1922) foi o Engenheiro Alfredo Bensaúde que

promoveu uma profunda renovação nos métodos de ensino da engenharia em Portugal.

A criação do IST correspondeu assim a um desejo de mudança visível no estatuto

inédito de autonomia que lhe foi concedido. Por parte de Alfredo Bensaúde houve uma

preocupação clara de inovar, de criar desde logo uma escola com elevados padrões de

excelência e exigência, desenvolvendo uma cultura muito própria, o “espírito de escola”

que figura abundantemente nos primeiros números da revista “Técnica” e que perdura

até hoje.

CAPÍTULO II – CONTEXTUALIZAÇÃO

"Os museus não valem como depósitos de cultura ou experiências acumuladas, mas

como instrumentos geradores de novas experiências".

Carlos Drummond de Andrade (cit. Fontes & Gama, p. 17)

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Mais tarde, com o Engenheiro Duarte Pacheco como Diretor do IST (1927- 1932),

dá-se início à construção do atual campus universitário da Alameda, em Lisboa.

Figura 5 – Perspetiva histórica da criação do IST 1836 – 1936 (Fonte: museus de geociências)

Em 1930 surge a “Universidade Técnica de Lisboa”, e o IST, é uma das quatro

Escolas que a integra. Entre 1952 e 1972 são criados em Portugal 12 centros de estudos,

três dos quais sediados no IST, abrangendo os domínios da Química, Geologia e

Mineralogia, e Eletrónica. Estes centros são responsáveis pela formação e qualificação

científica do corpo docente do IST, nomeadamente através do fomento e realização de

doutoramentos em universidades e centros de investigação no estrangeiro.

Em 23 de Maio de 2011 o “Instituto Superior Técnico” comemorou o seu centenário,

e no discurso da Cerimónia de Apresentação do Programa das Comemorações do

Centenário do IST Eduardo Marçal Grilo (2010) refere: “O Instituto Superior Técnico

veio a tornar-se numa das mais prestigiadas escolas universitárias portuguesas”. O IST,

fazendo parte hoje em dia da Universidade de Lisboa, é reconhecido nacional e

internacionalmente, como uma grande escola de engenharia, arquitetura, ciência e

tecnologia. Integra atualmente os mais prestigiados laboratórios e institutos de

Investigação, Desenvolvimento e Inovação (ID&I) e transferência de tecnologia

existentes em Portugal, cujo impacto internacional é bem patente em diversos domínios

da investigação científica. De acordo com os estatutos publicados em Diário da

República, 2.ª série — N.º185 — 25 de setembro de 2013, o Instituto Superior Técnico

(IST) é “uma pessoa coletiva de direito público, integrada na Universidade de Lisboa, e

dotada de autonomia estatutária, científica, cultural, pedagógica, administrativa,

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financeira e patrimonial, e como instituição que se quer prospetiva no ensino

universitário, assegurar a inovação constante e o progresso consistente da sociedade do

conhecimento, da cultura, da ciência e da tecnologia, num quadro de valores

humanistas”.

O IST tem como missão contribuir para o desenvolvimento da sociedade,

promovendo um ensino superior de qualidade nas vertentes de graduação, pós-

graduação e formação ao longo da vida, e desenvolvendo atividades ID&I, essenciais

para o progresso do conhecimento, e para ministrar um ensino ao nível dos mais

elevados padrões internacionais.

A sede do IST situa-se em Lisboa, no campus universitário da Alameda que foi

construído, conforme já referido, sob a direção do Engenheiro Duarte Pacheco tendo a

obra sido concluída em 1937 por Porfírio Pardal Monteiro, que concebe o primeiro

campus autónomo de todo o sistema universitário português. O campus situa-se numa

das zonas mais centrais de Lisboa, beneficiando da rede pública de transportes, o que

facilita a mobilidade para todas as zonas da cidade. Na sua proximidade, encontram-se

inúmeros espaços comerciais, de lazer, cultura, entretenimento e desporto.

O IST dispõe de mais dois polos, no campus do Taguspark e no campus tecnológico

e nuclear. Em 2001 é inaugurado o campus em Oeiras, localizado no parque de ciência e

tecnologia do Taguspark, complexo que concentra mais de 120 empresas de base

tecnológica, um dos mais importantes polos tecnológicos do país, sobretudo na área das

tecnologias de informação e comunicação. Este campus está ligado à Alameda através

de transporte próprio, com paragens em vários pontos da cidade de Lisboa. Neste

campus está também localizada a Residência de Estudantes Prof. Ramôa Ribeiro. O

Campus Tecnológico e Nuclear (CTN) situa-se no concelho de Loures e é um dos mais

importantes pólos tecnológicos do país. Encontra-se mais vocacionado para a promoção

e realização de atividades de investigação científica de desenvolvimento tecnológico, de

formação avançada, de especialização e aperfeiçoamento profissional, para além do

dever de apoiar científica e tecnicamente o governo nos domínios da segurança nuclear

e proteção radiológica, ou os que envolvam aplicações de radiações e radioisótopos.

De acordo com os Estatutos do IST, organiza-se em departamentos, que são unidades

de ensino e investigação correspondentes a grandes áreas do conhecimento conjugando

o ensino do 1.º, 2.º e 3.º ciclos, a especialização e a formação profissional com a

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investigação fundamental e aplicada, o desenvolvimento tecnológico, a prestação de

serviços científicos e técnicos à comunidade e a cooperação internacional.

2 Museus do IST

No universo dos treze museus e núcleos museológicos da Universidade de Lisboa,

neste momento estão identificados quatro polos museológicos dentro do campus

Alameda: o Museu DECivil, o Museu Alfredo Bensaúde e o Museu Décio Thadeu

(museus de geociências) e o recentemente inaugurado Museu Faraday28

.

Figura 6 – Localização dos Museus do IST dentro do campus Alameda

No entanto, dadas as limitações temporais deste trabalho académico e, tendo em

consideração que quando se iniciou este projeto o museu Faraday ainda estava em fase

de organização, decidimos centrar a nossa atenção nos Museus do DECivil. Por esse

motivo, quando neste trabalho nos referimos aos Museus do IST estamos a referir-nos

ao Museu de Engenharia Civil e aos Museus de Geociências.

28 Foi inaugurado 6 de fevereiro em 2017, localizado no Pavilhão de Eletricidade. O Museu Faraday reúne um espólio cobrem de

mais seiscentos instrumentos e equipamentos científicos históricos dos séculos XIX e XX http://museufaraday.tecnico.ulisboa.pt/

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De acordo com o nº 1 do Artigo 1º da Capítulo I do Regulamento do Departamento

de Engenharia Civil, Arquitetura e Georrecursos este departamento designado por

DECivil, é uma unidade de ensino e investigação do IST, nos termos do Artigo 18º dos

Estatutos do IST. O DECivil tem por objetivos a realização de atividades no âmbito da

Engenharia Civil, da Engenharia do Território, da Arquitetura, da Engenharia do

Ambiente, da Engenharia de Minas e Georrecursos. A organização interna do DECivil

assenta nas áreas científicas, secções, unidades de investigação e unidades de apoio.

Estas últimas contêm as unidades técnicas especializadas, nomeadamente a biblioteca

departamental, os laboratórios experimentais e oficinas, os laboratórios informáticos e

os museus.

No DECivil existem atualmente os seguintes museus:

- Museu de Engenharia Civil;

- Museus de Geociências:

- Museu Alfredo Bensaúde (Mineralogia e Petrologia);

- Museu Décio Thadeu (Geologia e Jazigos Minerais).

2.1 Museu de Engenharia Civil (Museu DECivil)

O Museu DECivil foi inaugurado a 20 de Dezembro de 1993, situa-se no piso 0 do

Pavilhão de Engenharia Civil, e teve como primeiro diretor o Prof. Artur Mendes

Magalhães.

O acervo do museu é composto pelas peças recolhidas e mantidas no Departamento,

património didático que, até à formação do Museu, se encontrava nos gabinetes,

laboratórios e salas de aula, e por peças, de interesse museológico, que têm vindo a ser

doadas, relacionadas com as áreas de conhecimento desenvolvidas no DECivil. O

acervo é composto, essencialmente, por peças nas áreas da Engenharia Civil como

Urbanismo, Transportes, Estruturas, Construção, Geotecnia29

e Arquitetura que inclui o

Ateliê do Prof. Álvaro Machado30

, para além de livros, quadros, fotografias, estampas e

29Coleção de Transportes; Coleção sobre Estruturas; Coleção de Pontes; Coleção de Cartografia; Coleção sobre Materiais; Coleção

de Desenhos; Coleção sobre Hidráulica e Recursos Hídricos e Coleção de Instrumentos de Cálculo e Medida; 30Um espaço que reproduz fielmente onde trabalhou Álvaro Machado (1874-1944). Foi o 1º Professor de Arquitetura do IST que em 1911, aquando da criação do IST, é um dos sete professores do IICL convidados por Alfredo Bensaúde. O riquíssimo espólio foi

oferecido pela família em junho de 2000 ao IST.

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mapas. O património, exibido na sala de exposições do museu, tem um carácter

pedagógico e é regularmente alterado de forma a permitir a divulgação de todo o seu

espólio.

No espaço de exibição são ainda efetuadas, com a eventual participação de entidades

exteriores, exposições temporárias, o lançamento de livros, a atribuição de prémios, a

realização de palestras e de outros eventos, sob temas afins às áreas da Engenharia

Civil, Arquitetura e Georrecursos com caráter científico, educativo, cultural e de lazer,

contribuindo para a ligação do IST à sociedade. A sala de exposição do Museu é de

entrada livre, no horário das 13h30 às 17h00, de segunda a sexta-feira. Existe ainda um

website do museu (http://museudec.tecnico.ulisboa.pt/).

2.2 Museus de Geociências

O antigo Departamento de Minas e Georrecursos do IST possuía três núcleos

museológicos, sendo dois deles o Museu de Mineralogia e Petrologia Alfredo Bensaúde

e o Museu de Geologia e Jazigos Minerais Décio Thadeu. Situam-se nos pisos 2 e 3 do

Pavilhão de Minas do campus Alameda e são tutelados pela área científica das

geociências. Um terceiro núcleo é composto por uma coleção de modelos de exploração

de minas, que se encontra atualmente em exposição no Museu Mineiro do Lousal31

(Pereira, 2010). O mesmo autor e atual diretor dos respetivos museus afirma que,

“existem ainda instrumentos e equipamentos diversos nos laboratórios e oficinas do

Departamento que possuem elevado interesse museológico e que urge catalogar para

poderem ser disponibilizados e investigadores, ou utilizados em exposições de carácter

didático”.

A história dos museus de geociências do IST remonta ao IIL, criado em 1852 por

Fontes Pereira de Melo e que a partir de 1869 passou a designar-se IICL. Funcionaram

no edifício do Paço da Madeira, localizado na Rua da Boavista ao Conde Barão, tendo o

mesmo edifício alojado o IST no seu período inicial de existência. Estas instituições de

ensino, percursoras do atual IST correspondem à constituição dos primeiros acervos e

espaço museológicos. O projeto de arquitetura das instalações dos museus é da

31Esta coleção já se encontra catalogada no Livro ”Modelos de Minas do séc. XIX – Engenhos de exploração mineira”, composta por 49 modelos e segundo os autores do catálogo, a coleção foi adquirida pelo Prof. Alfredo Bensaúde, no período de fundação do

IST.

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responsabilidade de Pardal Monteiro, tendo estas sido inauguradas em 1936 e, segundo

Pereira (2010), foram construídas e dimensionadas para acomodar os atuais museus.

O espaço e os equipamentos expostos ainda preservam a sua conceção original,

construindo por isso uma referência arquitetónica para o período em causa,

evidenciando o grande valor da coleção, uma referência arquitetónica da fase inicial do

Estado Novo, marcada por uma forte componente funcionalista. Conforme podemos

verificar e de acordo com Pereira (2010) dado que alguns dos materiais que constituem

o acervo dos museus têm uma origem anterior à instituição em que se inserem, optou

por dividir a existência temporal dos diversos espaços museológicos e dos acervos em

dois grandes períodos: um período inicial, que decorreu entre 1852 e 1911, e que

corresponde ao aparecimento dos primeiros materiais e dos primeiros museus, e um

segundo período, de 1911 até á atualidade, iniciado com a fundação do IST. Neste

segundo período é distinguido por duas fases: fase 1 (1911 – 1936/37); fase 2 (1936/37

até a atualidade) (Pereira, 2010).

A partir do momento em que terá transitado para o IST como “Coleção Bensaúde” e

com o Prof. Alfredo Bensaúde como Diretor do IST, a coleção registou um

desenvolvimento significativo subdividindo-se em dois núcleos, Museus Alfredo

Bensaúde (Piso 3 do Pavilhão de Minas) e Décio Thadeu (Piso 2 do Pavilhão de Minas)

(Pereira, Tomás, Carvalho, Craveiro, & Jacomini, 2010).

Figura 7 – Museus de Geociências e evolução das coleções (Fonte: museus de geociências)

O MAB é dedicado essencialmente à mineralogia, cristalografia e petrologia. Inclui

no seu acervo vasto material geológico, na sua maioria de proveniência nacional e da

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CPLP e algum relativo a ocorrências mineiras históricas não está acessível atualmente.

A coleção mais antiga de mineralogia e petrologia do MAB abrange a maior parte do

acervo do “Gabinete de Minerologia” e da “Chimica” proveniente do IIL e IICL32

(Pereira et al, 2010). Os autores ainda referem que a coleção de mineralogia contém

cerca de 5000 exemplares nacionais e estrangeiros e a coleção de petrologia cerca de

1200 exemplares, sendo a grande maioria de rochas magmáticas de coleções

estrangeiras. O património museológico ainda é composto por instrumentos e materiais

didáticos, livros, mapas e fotografias de relevância histórica e pelo espólio científico e

pessoal de professores, com destaque para Alfredo Bensaúde (1856-1941), Amílcar

Mário de Jesus (1895-1960) e Luís Aires-Barros (1932).

O MDT contém o espólio científico de Décio Thadeu (1919-1995), professor de

geologia e paleontologia do IST e importante estudioso dos jazigos minerais em

Portugal, nomeadamente de estanho, volfrâmio e tungsténio que lhe trouxe

reconhecimento internacional. Contem ainda o espólio de Ernest Fleury (1878-1958), de

origem suíça, professor e investigador responsável pelo laboratório de geologia e pela

organização das coleções de geologia e paleontologia utilizadas no ensino. Os espólios

pessoais foram oferecidos pelas suas famílias, que perfazem alguns milhares de itens

(Pereira, 2010). O espaço museológico apresenta ainda uma importante coleção de

estratigrafia e paleontologia, uma significativa amostragem das principais minas

históricas portuguesas e equipamento datado de finais do século XIX e início do século

XX.

Para além de um repositório de espólio insubstituível do país, incluindo as suas

particularidades arquitetónicas, e de um lugar de cultura, estes museus têm um enorme

potencial em termos de temas de investigação científica. Sobre a importância e

utilização de estruturas de suporte pedagógico-científicas, no processo de ensino-

aprendizagem do ensino superior atualmente vigente no Processo de Bolonha, Pereira

(2010) diz:

“Consideramos, por isso, que espaços museológicos de contexto universitário,

tais como o Museu Bensaúde e o Museu Décio Thadeu, constituem uma mais-

valia para a prossecução dos princípios e objetivos subjacentes ao referido

tratado, uma mais-valia reforçada pelo fato de os referidos espaços

museológicos se encontrarem associados a laboratórios de investigação. O

acervo, reunido ao longo de várias décadas, constitui um auxiliar precioso

para a aprendizagem científica, pelo seu conteúdo e pela sua fácil

32 Outra parte da coleção de mineralogia, petrologia e paleontologia, encontra-se no Museu de Mineralogia do atual Instituto

Superior de Engenharia de Lisboa.

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acessibilidade em que se inclui a possibilidade de contato direto com muitos

dos materiais expostos.” (Pereira, 2010, p. 85)

Para além do usufruto interno dos alunos e professores do IST, os museus organizam

regularmente atividades de divulgação técnica e científica no âmbito da engenharia

geológica e de minas e de outras áreas científicas e culturais principalmente dirigidas ao

público escolar33

. Na vertente de divulgação digital os museus estão incluídos no portal

do Roteiro das Minas e Pontos de Interesse Mineiro Geológico em Portugal34

, bem

como em grupos na rede social Facebook. Atualmente, os grupos são dedicados aos

“Museus de Geociências do IST”, aos Professores “Alfredo Bensaúde”, “Décio

Sequeira Santos Thadeu”, “Ernest Fleury” e “Amilcar Mário de Jesus”. O grupo “Mil e

uma Águas - One Thousand and One Waters” dedica-se ao tema das barragens e

captações de água em Portugal e nos países da CPLP. É possível visitar os museus

mediante marcação prévia, via e-mail ou telefone.

33 “Encontros de Geologia no IST”, “Geopaper”, “Geokids”, “Laboratórios Abertos”, Projeto www.e-escola.pt, entre outras; 34

Disponível a publicação "Serviços Educativos e Visitas Escolares 2016-2017". O roteiro através das diferentes plataformas em

que está presente, promove a oferta dos diferentes locais associados, onde os serviços educativos e as atividades dirigidas às escolas

assumem especial relevância. Um dos locais são os Museus de Geociências http://www.roteirodeminas.pt/.

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Esta parte é dedicada à apresentação da metodologia utilizada no trabalho. No âmbito

dos objetivos deste projeto, optou-se por uma pesquisa bibliográfica especializada sobre

a temática museal. Os recursos bibliográficos utilizados para a estrutura do

enquadramento teórico foram livros, teses e dissertações, revistas científicas, boletins

informativos, informação de organizações/instituições nacionais e internacionais. O

acesso a estes recursos foi realizado em duas modalidades: manual e eletronicamente.

1 Pesquisa bibliográfica

Podemos constatar pelas datas das referências bibliográficas e pelos recentes

dados estatísticos apresentados, que a pesquisa bibliográfica foi um processo continuum

durante todo o trabalho. Para além das temáticas abordadas no enquadramento teórico,

foram feitas pesquisas sobre legislação, normas, regulamentos, com interesse para o

trabalho que podem ser consultadas nas referências bibliográficas. Tornaram-se também

uma fonte de recolha de informação fundamental, o visionamento de filmes,

documentários (na rede social Youtube), a consulta de informação sobre museus e

serviços educativos nacionais e estrangeiros, assim como visitas em algumas

instituições ligadas à museologia e educação.

Um meio valioso para recolha de informação, foi a minha participação em

algumas atividades ligadas á educação museal, tais como: o curso sobre educação e

museus, a minha participação como voluntária no “Festival Aproxima-te” e na “Acesso

Cultura”.

- Curso MOOC “Educación y Museos” (2.ª edición)

O curso foi ministrado pela Universidade de Murcia, em Espanha, na

modalidade de ensino à distância. Esta formação foi relevante no que diz respeito ao

conhecimento de autores citados na bibliografia do curso e referenciais teóricos

presentes nas temáticas do programa (Anexo 1), que propunha como objetivos:

“apresentar os conceitos que definem o museu como um contexto educacional e

interdisciplinar. Um lugar para discussão de uma perspetiva social e de

CAPÍTULO III - METODOLOGIA “ O que conta não é o que um museu tem, mas o que pode fazer com aquilo que tem”

George Brown Good, 1888

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desenvolvimento. Um museu para todos com tendências atuais de um museu

participativo onde as pessoas aprendem de maneira diferente. Lugar de conhecimento,

lazer e cultura que combina os interesses de muitas minorias diferentes”.

- Festival APROXIMA-TE

O APROXIMA-TE, é um festival pioneiro que agregou, em 4 dias, a oferta existente

no campo da educação patrimonial e artística, com ações dirigidas às famílias, escolas e

profissionais do sector. O espaço onde decorreu o festival foi o MUHNAC que se

encheu com os serviços educativos de instituições públicas e privadas, departamentos

de educação e cultura de municípios, empresas e associações prestadoras de atividades

extra e de enriquecimento curricular. Paralelamente, também existia uma programação

cultural com foco na educação patrimonial. A programação recorreu a vários meios

expressivos para transmitir conteúdos patrimoniais ao público infantil e juvenil: dança,

poesia, narração oral, literatura histórica, música, performances/teatro, visitas

interpretadas e uma variedade de ateliers em contínuo. Estive presente 3 dias do festival

como voluntária, onde prestei várias tarefas de apoio à equipa da organização. No

entanto, a mais relevante foi no último dia do evento, ter ficado a prestar informações

aos visitantes sobre os monumentos e museus da Direção-Geral do Património Cultural

(DGPC). A DGPC tem a seu cargo a gestão direta de 23 monumentos e museus, onde se

incluem 5 monumentos inscritos na lista do património mundial da UNESCO e 15

museus nacionais35

. A possibilidade de estar neste stand foi muito enriquecedora em

termos de conhecimento quer a nível de contato com o público interessado nestas

ofertas educativas, quer pelo acesso direto às dinâmicas dos serviços educativos dos

museus. A participação neste festival simplificou a recolha de informação sobre

serviços educativos e alguns materiais pedagógicos (alguns até disponíveis para oferta

aos visitantes). Proporcionou a comunicação com os colaboradores/responsáveis de

serviços educativos de diversas instituições, tais como: Cinemateca, Museu da Água,

museus da gestão da EGEAC, Jardim Zoológico, Museu Marítimo de Ílhavo, Fundação

de Aljubarrota, Parques de Sintra, Arquivo Municipal de Lisboa, Museu de Lisboa. Foi

uma experiência positiva que recomendo a quem estiver interessado em desenvolver

esta temática.

35DGPC http://www.patrimoniocultural.pt/pt/museus-e-monumentos/dgpc/

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- Acesso Cultura

A Acesso Cultura36

é uma associação que promove a melhoria das condições de

acesso – nomeadamente físico, social e intelectual – aos espaços culturais e à oferta

cultural, em Portugal e no estrangeiro. A participação como voluntária nesta associação

iniciou em 2015 e desde então vou colaborando com tarefas possíveis de realizar à

distância. Até ao momento prestei o meu contributo em algumas solicitações que

ajudam a Acesso Cultura a cumprir com a sua missão e objetivos. Esta associação

organiza formações nas áreas ligadas à acessibilidade; realiza auditorias e consultorias

técnicas em espaços culturais (em construção ou existentes), no sentido da promoção e

aplicação dos princípios de acessibilidade e apoio na implementação das consequentes

recomendações; organiza seminários, conferências e workshops, com o objetivo de criar

um fórum de debate e de promoção de boas práticas; participa em projetos que

procurem promover a reflexão e as boas práticas relativas à acessibilidade e divulga

notícias e estudos relativos à acessibilidade. Esta colaboração foi muito gratificante

neste projeto, pois acabou por ser uma forma de estar atenta às boas práticas

desenvolvidas nos espaços museológicos no que diz respeito à acessibilidade. A nível

pessoal também foi um prazer enorme dar o meu contributo para a criação de uma

sociedade mais inclusiva.

2 Recolha de dados

Foram realizadas um total de 4 entrevistas, duas aos diretores dos museus do IST, e

duas aos responsáveis dos serviços educativos dos museus da Universidade de Lisboa e

Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto. Estava prevista uma terceira

entrevista ao responsável do serviço educativo do Museu de Ciência da Universidade de

Coimbra, mas por motivos alheios à nossa vontade, não foi possível realizar. No

entanto, também foi possível a recolha de informação sobre o espaço museológico e

suas atividades educativas, através de uma conversa durante uma visita guiada ao

respetivo museu.

O método utilizado para as entrevistas, foi o da entrevista semiestruturada, com

questões abertas e fechadas, baseadas em dois guiões distintos:

a) Destinado aos diretores dos museus. Este foi constituído por 8 partes (Anexo 2),

que visou recolher informação sobre:

36https://acessocultura.org/

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- Apresentação do diretor do museu;

- Funcionamento e Orgânica do museu;

- Público-alvo e programação;

- Divulgação e imagem;

- Financiamento/receita

- Serviço educativo

b) Destinado aos Coordenadores responsáveis dos serviços educativos dos museus

da Universidade de Lisboa e Porto. Neste caso o guião da entrevista foi

constituído por 4 partes (Anexo 3), que visou recolher informação sobre a

estrutura geral do serviço, a metodologia de trabalho e a relação com o público:

- Funcionamento do serviço educativo

- Atividades/Público

- Relação entre o serviço educativo e as escolas

- Acessibilidade

Para além das entrevistas, as conversas informais com os responsáveis e

colaboradores dos museus foram fontes de informação indispensáveis e muito

importantes para a construção do projeto. Gostaria igualmente de salientar algumas

reuniões e a participação em várias atividades e eventos, que estão elencadas no Anexo

4. As reuniões com membros ligados aos museus com cargos de direção, foram sem

dúvida momentos de aprendizagem e crescimento na área da museologia e outras áreas

afins ligadas às instituições museológicas. Estes encontros provocaram uma tomada de

consciência do papel dos serviços educativos dentro de um museu e como se

posicionam face aos outros serviços existentes num museu. A participação nas

atividades e eventos realizados nos museus no IST permitiu recolher dados para o

diagnóstico e posterior análise e reflexão sobre a qual se orientou a conceção do projeto.

A presença nestas atividades permitiu de igual modo um contato e um envolvimento

mais direto com os museus do IST, como com as pessoas que a eles estão ligados direta

ou indiretamente. De certa forma acabou por também “divulgar” este projeto e perceber

qual a recetividade e sensibilidade por parte da comunidade académica, sobre a criação

do serviço educativo para os museus do IST.

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3 Tratamento de dados

Depois das entrevistas realizadas foi necessário transcrevê-las (Anexos 5, 6,7 e 8)

para posteriormente fazer a análise de conteúdo. Decidiu-se que só as entrevistas dos

Diretores dos Museus do IST seriam tratadas através da análise de conteúdo, uma vez

que só usaríamos estas entrevistas para o diagnóstico. As informações recolhidas com as

duas entrevistas e o registo da conversa aos responsáveis dos serviços educativos dos

museus Lisboa, Porto e Coimbra, serviram para ajudar a construir a parte prática do

projeto.

Foi criada uma grelha estabelecendo uma ligação com o guião inicialmente

elaborado para que fossem utilizados os mesmos termos e organização. Tendo por base

este método, foi bastante mais fácil elaborar a própria grelha, inserindo os indicadores e

as unidades de registo da entrevista em cada bloco de categorias e respetivas sub-

categorias. Esta grelha é importante porque permitiu fazer uma leitura mais sistemática

e objetiva de todas as entrevistas, onde estão expressas todas as ideias e opiniões dos

entrevistados, sem ser necessário ler a transcrição da entrevista (Anexos 9 e 10).

Na próxima parte, dedicada à apresentação de um projeto para o serviço educativo

dos museus do IST, tentaremos desenvolver uma triangulação entre as três fontes de

informação ao longo do estudo: o aprofundamento teórico em torno da educação em

museal; a análise que nos permitiu caraterizar os museus e as dinâmicas desenvolvidas,

principalmente educativas, e os dados recolhidos através das entrevistas.

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1 Origem

Foram colocadas algumas questões de partida para este projeto:

- Uma das funções museológicas dos museus é a função educativa. Até que ponto os

museus do IST cumprem essa função?

- Qual o papel dos museus na comunidade onde se insere?

- Como se caraterizam os utilizadores dos museus?

- Que impacto têm as exposições sobre os visitantes na divulgação da cultura científica?

- Existe algum programa educativo nos museus, sendo este um complemento essencial

para a educação nas escolas?

Ao procurar encontrar as respostas entendemos que a criação de um serviço

educativo, com um Plano Educativo/Programação Cultural, constitui a chave para o

funcionamento de qualquer museu. Apuramos que nestes museus têm sido realizadas

não de forma contínua e sistemática, algumas atividades educativas, palestras,

lançamentos de livros, exposições temporárias e outros. Assumimos desta forma que os

Museus do IST têm uma ação educativa pontual (Camacho, 2007).

A fim de apresentar uma proposta exequível, foi necessário observar, analisar e

perceber o funcionamento dos museus do IST. Dessa forma desde setembro de 2015,

temos vindo a acompanhar a atividade destes museus, com o objetivo de elaborar uma

proposta para a melhoria do seu funcionamento e que contribuísse para estes

desempenharem as suas funções museológicas. Como base teórica para a elaboração do

estudo seguimos as linhas orientadoras da Sara Barriga37

para a estruturação e gestão de

um programa coerente que responda aos desafios quotidianos do serviço educativo

(Barriga e Silva, 2007).

37 Barriga, S. (2007) Plano de ação educativa: alguns contributos para a sua elaboração, Serviços Educativos na Cultura, Setepés

CAPÍTULO IV - CONCEÇÃO DO PROJETO

“Construir-se um projeto é já procurar fazê-lo acontecer”

Barbier,1993

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2 Diagnóstico

Recorremos à análise SWOT38

porque permite identificar fatores internos -

Strenghts (Pontos Fortes), Weaknesses (Pontos Fracos) e fatores externos -

Opportunities (Oportunidades), Threats (Ameaças) –– da instituição/projeto. Esta

ferramenta é um sistema simples para posicionar ou verificar a posição estratégica da

organização no ambiente em questão, permite assim fazer uma análise do contexto. Para

esta análise foram considerados os museus e a instituição, uma vez que estes funcionam

sob sua dependência. Com base nos dados recolhidos, principalmente das análises de

entrevistas aos diretores dos museus do IST, criamos um conjunto de domínios que

identificamos como os mais relevantes, tais como: recursos humanos e financeiros,

ligação com a sociedade, património científico, atividades educativas, público-alvo,

enquadramento legal e divulgação, o que permitiu identificarem:

Figura 8 - Análise SWOT do contexto dos museus do IST

38 A Análise SWOT é uma ferramenta de gestão muito utilizada pelas empresas para o diagnóstico estratégico. Fonte: IAPMEI

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Este diagnóstico possibilitou identificar como aspetos positivos a forte identidade

histórico-cultural do acervo dos museus e imagem conhecida do IST a nível nacional e

internacional; existência de atividades relevantes no ensino das ciências; concentração

de recursos humanos relevantes com características multiculturais devido à presença de

diversificada “população” estrangeira e que participam em políticas atuais de educação

nas modalidades de educação, formação e voluntariado; concentração de laboratórios e

de centros de investigação; oferta de eventos culturais, alguns com dimensão

internacional e existência de espaços emblemáticos na zona periférica do campus

Alameda.

Também foram identificadas algumas fraquezas que podem ser ultrapassadas

através da implementação deste projeto, tais como: falhas aos níveis da informação e

comunicação dos objetos com o público e da divulgação dos espaços museológicos;

fraca dinâmica associativa e articulação entre instituições públicas e privadas;

desfasamento entre a oferta e a divulgação das atividades dos museus, o que leva a

falhas de equidade no acesso e participação da comunidade, em particular do IST;

elevada dependência dos apoios do IST, fraca sustentabilidade própria dos museus e

falta de cultura de mecenato e de patrocínios, inexistência de uma estratégia orientadora

comum para as iniciativas de cada museu que promova o efeito de escala.

No entanto, a identificação de oportunidades estratégicas começam pela existência

de elementos e condições de base para fazer crescer e desenvolver o serviço educativo,

orientado também para a função social; possibilidade de desenvolver um PE de

excelência através do potencial existente para o desenvolvimento de atividades

educativas quer para o público interno quer para o externo; a existência de um ambiente

cosmopolita com capacidade de atração de atividades que associem a valorização de

património, divulgação científica, criação cultural, lazer e turismo; posicionamento

“geoestratégico” privilegiado enquanto ligação/intermediação entre a UL e a cidade de

Lisboa; a viabilidade de captação de atividades e serviços com ambientes universitários,

culturais e com “mão-de-obra qualificada” e desenvolvimento de projetos estruturantes

ou inovadores com impacto na sociedade; aproveitamento de elementos históricos e

educacionais para promover a marcar Técnico não esquecendo que é uma escola

empenhada na captação de novos alunos, esta seria uma viabilidade de divulgação da

sua oferta formativa junto do público-escolar.

Identificamos alguns constrangimentos derivados dos aspetos menos positivos como

o horário reduzido de funcionamento, em particular os museus de geociências que só

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podem ser visitados mediante marcação prévia, o que pode ser também um dos fatores

que leva à falta de conhecimento da existência dos museus. A inexistência de uma

equipa qualificada nas áreas de museologia como a conservação, inventariação e

curadoria de exposições. A falta de divulgação dos museus, que leva a um

desconhecimento da sua existência junto da sociedade.

3 Justificação do Projeto

Desde a mesa redonda de Santiago de Chile de 1972 que o compromisso da

museologia social tem vindo a ter cada vez mais relevância nos museus. Neste espírito,

entende-se os museus como instituições dinâmicas, vivas e promotores de encontros

interculturais, como espaços que trabalham com a educação no seu sentido mais amplo,

e na valorização da função social dos museus, no reconhecimento de que os museus

estão a serviço da sociedade e seu papel importante no processo de democratização e de

desenvolvimento social. Um dos avanços mais importantes dos últimos anos em museus

tem sido a incorporação de programas educacionais, isto quando falamos de inovação

associada aos museus. E são estas ações que realmente aproximam o público dos

museus, para que os visitantes se deleitam enquanto participam e assimilam

conhecimentos, ou seja, se os museus não oferecem atividades atraentes para as pessoas,

as pessoas não visitam o museu. Entendemos que essa é a verdadeira função do museu:

a aprendizagem de forma descontraída. Hoje em dia é notória que há uma necessidade

urgente de trazer cultura à sociedade (conforme já referimos aqui através dos dados

apresentados pelo Eurobarómetro), e os museus podem expressar-se sobre este aspeto.

Segundo Santos (2011), a integração e a comunicação são elementos fulcrais e devem

constar das agendas e programação dos museus deste século, dada a ligação à sociedade

diversificada e heterogénea e consumidora cultural. No nosso entender, a solução está

numa programação educativa e social adequada para proporcionar experiências

envolventes e atrativas, que em simultâneo favoreçam a continuação e aprofundamento

de conhecimentos e competências para um melhor entendimento do planeta, e que

desafiem as comunidades que servem e ao mesmo tempo enriqueçam a vida das pessoas

através do seu envolvimento.

Os museus do IST são um lugar público e um recurso educativo que estabelecem um

diálogo entre ciência, tecnologia, arquitetura. Podem oferecer um projeto de educação

não-formal e de divulgação da ciência em parceria com estabelecimentos de ensino

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(básico, secundário e superior) e com outras instituições culturais e museológicas ou

não, com temas focados nas várias áreas mencionadas. Consideramos que este projeto

poderá: colocar as necessidades da sociedade no centro de reflexão de pesquisadores,

cientistas, professores e estudantes, ou de pessoas que se sintam envolvidas pelas

questões levantadas e possam contribuir para ampliar ou complementar o diálogo;

fortalecer os laços entre investigadores estrangeiros e nacionais e a comunidade discente

do IST; sensibilizar as gerações mais jovens para as profissões ligadas à investigação e à

ciência em geral; divulgar os caminhos que estes trabalhos têm tomando no meio

académico para promover o debate, a reflexão e a participação dos jovens nas

discussões relativas à ciência e tecnologia em nossa sociedade; favorecer a apropriação

dos museus, enquanto espaço de descobertas, discussão, pesquisa e informação para o

público. Pretendemos, assim utilizar o património cultural como suporte fundamental

para o desenvolvimento social e para o exercício da cidadania, (Santos, 2002), através

da criação de novos museus e de reformulação dos existentes

A maioria do património dos Museus do IST permanece desconhecida ao público.

Como foi já referido, atualmente os museus do IST têm ação educativa pontual, o que

não abrange as singularidades que esse património apresenta para a sociedade, desta

forma não cumpre os critérios dos artigos 42º e 43º da “Lei-Quadro dos Museus

Portugueses” nº 47/2004, de 19 de Agosto

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Este projeto surgiu com a intenção de proporcionar uma maior proximidade com os

públicos e também para melhorar a sua valorização, preservação, manutenção e gestão

do património científico e cultural patente nos museus do IST. Compete a todos que

diretamente ou indiretamente estejam a contribuir para a valorização, salvaguarda e

divulgação do património e para a educação da sociedade criar para o desenvolvimento

destes espaços museológicos. A criação de um serviço educativo é uma forma de

comunicar e tornar os museus mais abertos ao público, especialmente ao público mais

jovem que frequenta as infraestruturas do IST. Os museus do IST, devido ao seu acervo

e grande coleção, constituem um grande recurso a explorar, pela sua importância para a

comunidade local e para a história do país. O serviço educativo é um recurso que pode

ser utilizado numa perspetiva de aprendizagem ao longo da vida, que pode

complementar as atividades organizadas pela escola e reforçar a ligação entre as

instituições educacionais e empresas, através da organização de eventos que envolvam

parceiros estratégicos.

Quando entrevistados, sobre a ideia da criação de um Serviço Educativo, algumas

das expressões utilizadas pelos diretores dos museus do IST foram: “Eu acho que era

mais do que desejável a criação de um serviço educativo…”; “Isso é ótimo”; “…os

contributos do serviço educativo são imensos…”; “…penso que o serviço educativo é

uma aposta importante …”.

4 Projeto serviço educativo nos Museus do Instituto Superior Técnico

Este projeto apresenta-se mais sobre a forma de estudo para a criação de um serviço

educativo, através da apresentação de objetivos e de estratégias de uma tipologia de

programação de atividades dos recursos humanos e financeiros e a avaliação. Propõe-se

uma programação organizada, regular e sistemática (com base nas atividades já

existentes ou que já foram desenvolvidas nos museus do IST e com base num contexto

educativo, social e cultural). As propostas estão em consonância com teorias e conceitos

apresentados no enquadramento teórico fazendo a ponte com os domínios que serviram

como base para o diagnóstico. Para desenvolvimento deste estudo, tivemos também em

conta que os Museus do IST nunca tiveram nenhum serviço educativo a funcionar, o

que significa que este projeto de mestrado será de grande utilidade num futuro próximo,

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caso o IST pretenda implementar um serviço educativo e seguir estas linhas de

orientação.

4.1 Objetivos do Projeto

Objetivo geral:

- Criar um serviço educativo museológico, no Instituto Superior Técnico, que

promova a divulgação científica, oferecendo programas de caráter educativo, social e

cultural, no âmbito da educação formal e não-formal, para os mais variados públicos.

Objetivos específicos:

- Desenvolver um projeto pedagógico para os museus do IST;

- Promover a educação não formal nos museus universitários, como espaços de ensino-

aprendizagem;

- Promover a cultura científica nos espaços museológicos, em particular para as crianças

e jovens;

- Facilitar a ocupação dos museus, enquanto espaço de descobertas, discussão, pesquisa,

informação para o público em geral.

Objetivos operativos

- Definir a política educativa dos museus do IST;

- Elaborar documentos para o funcionamento do serviço educativo;

- Criar meios de divulgação do serviço educativo;

- Produzir materiais pedagógicos de apoio às atividades;

- Desenvolver materiais educativos com base no acervo – património científico.

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4.2 Estratégia Educativa do Projeto

A estratégia educativa do museu define quais as metas que o museu pretende

atingir e os objetivos de curto prazo que tem de alcançar para cumprir essas metas.

Santos (2009) apresenta no seu artigo duas estratégias museais, mas aquela com a

qual nos identificamos mais e nos pareceu mais adequada para este contexto foi a de

uma museologia com ênfase na relação homem-património global, que apresenta 23

estratégias. No entanto, como algumas estão mais relacionadas com a gestão dos

museus, só vamos aqui referir aquelas em que consideramos pertinentes para a criação

do serviço educativo:

- Promover a participação dos cidadãos-beneficiários, realizando reuniões para

definição da missão e dos objetivos a serem alcançadas;

- Constituir grupos de trabalho, buscando a definição de temas e de problemas e das

estratégias a serem utilizadas, a partir da reflexão sobre o património cultural local,

de acordo com o interesse e a iniciativa do grupo;

- Promover uma constante ação de comunicação entre os técnicos e os cidadãos-

beneficiário;

- Buscar parcerias para apoio científico e financeiro;

- Promover a apropriação e a reapropriação do património cultural, por meio das

ações museológicas de pesquisa, preservação e comunicação, tornando possível ao

cidadão, desde a sua formação, considerá-lo como um referencial para o exercício

da cidadania;

- Formar o professor para o planeamento e a execução de projetos, tendo como

referencial o património cultural;

- Aplicar as ações museológicas de pesquisa, preservação e comunicação, com a

participação dos cidadãos-beneficiários, socializando-as, partindo da

heterogeneidade, o domínio do conhecimento sistematizado, para a

homogeneidade, ou seja, o domínio desse mesmo conhecimento pelos grupos com

os quais estamos atuando, buscando a troca e o enriquecimento;

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- Utilizar o património cultural como referencial para a realização de atividade

pedagógicas, buscando a melhoria da qualidade do ensino;

- Potencializar os recursos educativos da comunidade, realizando o intercâmbio

necessário entre o ensino formal e o não-formal, um alimentando o outro;

- Aplicar as ações museológicas, considerando como ponto de partida a prática

social e não somente as coleções;

- Promover a participação dos moradores locais nas atividades a serem

desenvolvidas, contribuindo para a construção do conhecimento, a partir das suas

histórias de vida, qualificando-as como parte do património cultural;

- Elaborar os instrumentos a serem utilizados na ação documental, de acordo com

as características do acervo a ser musealizado, envolvendo os participantes na

confeção e na aplicação da ação documental;

- Planear e executar exposições, musealizando o conhecimento produzido em

interação com os cidadãos-beneficiários;

- Promover o intercâmbio com outros museus e processos museais em andamento,

nos âmbitos local, nacional e internacional;

- Sistematizar os dados coletados, a partir das ações desenvolvidas nos diversos

projetos, realizando um trabalho contínuo de ação reflexão.

Os museus devem estar permanentemente a recriar-se, a criar programas de

interesse para o visitante, como novos programas – visitas guiadas, eventos, workshops

– que espelhem os museus como locais dinâmicos e interativos. Devem ser um espaço

de convívio que se frequente com os amigos, para uma visita ou para frequentar um

evento. Também pode-se criar uma ligação próxima ao turismo, que ajude a criar

sinergias e a aumentar o número de visitantes dos museus.

Os museus devem esforçar-se por se aproximar da comunidade, através de eventos

dirigidos a públicos específicos e da promoção de atividades profissionais relacionadas

com a comunidade em que os museus se inserem – para isso é indispensável o acesso

antecipado e personalizado aos programas que os museus oferecem, conforme já foi

referido.

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As visitas guiadas são uma forma de possibilitar a aprendizagem, sendo também

um fator importante para aumentar a frequência de visitas aos museus.

No que respeita à requalificação dos espaços há necessidade dos museus serem

espaços amplos, arejados, bem iluminados e de atribuírem uma maior relevância aos

serviços disponibilizados, visto que são fatores importantes para a (re) visita de um

museu.

Entende-se também, ser importante para os museus aderirem às novas tecnologias.

Com base nos domínios do diagnóstico e da análise e sistematização de dados e

tendo em conta o referencial teórico acima referido, consideramos que os elementos

estratégicos podem ser:

4.3 Enquadramento legal

É extremamente importante a existência de um regulamento que estabeleça as

normas gerais das atividades para que o serviço educativo prestado seja mais

qualificado e simplificado em termos de apoio logístico.

Com a elaboração deste projeto, um dos objetivos foi definir a política educativa dos

museus, assim como a criação de um regulamento para cada um dos mesmos, para que

se afirmem como instituições museológicas reconhecidas, e possam no futuro serem

certificadas pelas entidades reguladoras de credenciação. A Lei-Quadro dos Museus

Portugueses é um instrumento fundamental para a organização e valorização dos

museus, mesmo estando sob a tutela de uma universidade, os museus do IST devem

seguir esta legislação. De acordo com os artigos nº 52 e nº 53 da lei atrás referida, para

os Museus do IST ainda não está definida uma Estrutura Orgânica, com o respetivo

regulamento. Nesse sentido elaborámos uma proposta de regulamento que

posteriormente foi trabalhada com os Diretores dos museus. Esta proposta do

regulamento contempla os seguintes capítulos: disposição gerais; estrutura orgânica dos

serviços do museu; gestão do acervo; acessibilidade do museu; instrumentos de

divulgação e informação e disposições finais. Elaborámos um regulamento quer para o

Museu DECivil (Anexo 11), quer para os Museus de Geociências (Anexo 12). Nestes

regulamentos contemplamos a existência de um serviço educativo na estrutura orgânica

dos serviços dos museus.

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4.4 Recursos humanos

Para implementação das medidas a que nos propomos neste projeto é necessário

possuirmos recursos humanos. O museu tem o importante dever de desenvolver o seu

papel educativo e de chamar a si um público cada vez mais numeroso, de todos os

sectores da comunidade, localidade ou grupo em que está inserido. Deve facultar ao

público oportunidades para se envolver e apoiar os seus objetivos e atividades. A

interação com a comunidade que compõe o seu público é parte integrante da missão

educativa do museu, no entanto tornar-se necessário para este efeito o recrutamento de

pessoal especializado.

A nível dos recursos humanos para o serviço educativo é, em primeiro lugar,

imprescindível que exista um especialista educador – responsável em exclusivo por

estas funções. Prevê-se um progressivo aumento das atividades pelo que acreditamos

ser necessário aumentar o número de colaboradores afetos ao serviço educativo. No que

diz respeito a outras necessidades de logística, deverá recorrer-se preferencialmente aos

diversos Núcleos e Gabinetes do IST, como por exemplo Gabinete de Comunicação e

Relações Públicas, o Núcleo de Arquivo, Editora IST Press, Núcleo de Apoio ao

Estudante, Biblioteca e Núcleo de Multimédia e E-Learning. A colaboração interna com

a UL através do MNHNAC, também será de extrema importância para efetivar a criação

deste serviço.

As atividades educativas podem ser desenvolvidas por várias pessoas, algumas das

quais que podem ser afetas ao serviço educativo e outras podem ser colaboradores

externos, como artistas, professores aposentados39

, alumni, cientistas, especialistas, etc.,

tendo em consideração que diferentes atividades exigem diferentes níveis e tipos de

especialização. Formar alguns monitores para apoio às atividades (como já acontece em

alguns serviços do IST e é também pratica comum noutros museus), também deve ser

um processo a considerar para apoio às atividades.

O voluntariado é um recurso humano que normalmente é benéfico tanto para o

museu como para os próprios voluntários. Por exemplo, os voluntários em museus

geralmente fazem parte de uma associação "amigos do museu". As associações de

amigos são explicitamente referidas na Lei-Quadro dos Museus Portugueses (Artigo

47º, nº 1), que defende o estímulo à sua constituição. De uma maneira geral estas

39 Por exemplo, a Professora Clementina Teixeira, Aposentada do Departamento de Química do IST, colabora com alguma

regularidade nas atividades educativas nos Museus de Geociências.

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entidades têm entre os seus principais objetivos colaborar e apoiar o museu através da

promoção e dinamização das atividades destes, bem como proporcionar o

enriquecimento das coleções. O recurso de voluntários é também uma maneira dos

museus poderem alcançar novos públicos.

Uma outra forma de angariar recursos humanos é no âmbito dos estágios

curriculares, através da celebração de protocolos de colaboração com estabelecimentos

de ensino superior. Esta variante permite uma colaboração vantajosa para todos os

intervenientes. Sendo também uma prática muito comum no contexto museológico.

4.5 Recursos Financeiros

Tendo em conta que os museus do IST têm acesso livre, não estando por isso sujeito

à aquisição de qualquer bilhete de ingresso com um valor associado, coloca-se logo de

parte, como fonte de financiamento, as receitas de bilheteira dos visitantes.

No entanto, sugerimos algumas práticas existentes e de uso recorrente por parte de

outros museus, quer nacionais ou internacionais, como forma de conseguir verbas na

viabilização de um programa de reabilitação de uma sala ou do espaço museológico, no

apoio à programação e exposições dos museus, para intervenções de conservação e

restauro de peças das coleções, ou no apoio a projetos educativo se eventos culturais,

entre muitos outros. Pensamos que fará sentido para a implementação deste projeto

recorrer a diversas estratégias de financiamento, pois verifica-se que através do

mecenato institucional, de patrocínios, de doações, da colaboração institucional ou

particular é possível abrir uma porta para o estabelecimento de parcerias com a

sociedade civil e o tecido empresarial40

.

As mais comuns são o contributo através mecenato e/ou patrocínio, estes dois

processos estão interligados com as políticas culturais, associadas a uma conjunto de

princípios, operações, práticas e procedimentos de gestão e administração de recursos e

orçamentos, que servem como base à ação cultural. O mecenato cultural em Portugal é

enquadrado pelo estatuto dos benefícios fiscais, aprovado pelo Decreto-Lei nº 215/89 de

1 de Julho. Conforme já foi referido o recurso ao mecenato e ao patrocínio poderão

auxiliar a diminuição dos valores relacionados com o melhoramento dos serviços,

instalações dos museus e apoio ao projeto educativo.

40 A Fundação EDP é um dos exemplos de mecenas que apoia a cultura http://www.fundacaoedp.pt/cultura/mecenato-e-parcerias/iniciativas-de-excelencia/12, assim como a Fundação Banco Santander tem apoiado a cultura e dada a sua estreita ligação

às universidades, muitos projetos desenvolvidos no seio académico.

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A disposição do material de merchandising do IST para venda dentro dos museus,

pode servir como uma significativa fonte adicional de receitas, sendo também uma boa

forma de divulgação da instituição e dos seus produtos41

, assim o visitante terá a

oportunidade de adquirir de imediato um “souvenir”.

Uma outra prática recente de alternativa e estratégia de financiamento utilizada pelos

museus42

é crowdfunding (financiamento colaborativo). A ainda fraca tradição de

crowdfunding em Portugal pode ser um obstáculo, no entanto na área da museologia

esta prática está ligada ao conceito de “Museu Participativo43

”.

4.6 Ligação com a sociedade - Parcerias

Numa primeira fase será proveitoso estabelecer articulações com outras instituições

para desenvolver e oferecer, em parceria, projetos educativos. – Parcerias educativas por

meio do intercâmbio com outros museus e instituições culturais, por exemplo os

Museus Universitários no âmbito local, nacional e internacional, principalmente o

MUHNAC, Pavilhão do Conhecimento44

, Museu Rafael Bordalo Pinheiro45

, e pela sua

relativa proximidade com o IST, o Museu Anastácio Gonçalves, Culturgest e Fundação

Calouste Gulbenkian. Também será de apostar e/ou reforçar nas parcerias estratégicas

com a Câmara Municipal de Lisboa, juntas de freguesia, estabelecimentos de ensino,

instituições culturais, ordem dos engenheiros e arquitetos, associações46

empresas.

41 O IST oferece uma vasta gama de produtos de merchandising Técnico, que podem ser adquiridos na sua Loja (no átrio da entrada principal do Pavilhão Central – campus Alameda). Na Loja disponibilizam-se também alguns produtos da U Lisboa e das Tunas do

IST; 42Exemplos: O Museu Palazzo Madama, na Itália usou para comprar e manter uma coleção de entidade de porcelana; em Portugal, o Museu Nacional de Arte Antiga (MNAA) lançou o crowdfunding com o objetivo de adquirir a obra “A Adoração dos Magos” e o

Museu do Caramulo, em Portugal lança campanha para restaurar o automóvel “Messi”; 43Conceito de museu participativo envolve diretamente a comunidade na construção dos conteúdos museológicos; 44Escola Ciência Viva foi no dia 15 de abril de 2016 ao IST visitar e participar em atividades no Museu de Geociências; 45 Encontra-se instalado na Moradia do Campo Grande, um projeto da autoria do arquiteto Álvaro Machado e que recebeu a menção

honrosa do Prémio Valmor em 1914; 46 Associação Portuguesa de Geólogos, Associação Professores de História, Clube Português de Mineralogia já têm feito

atividades/visitas aos museus de geociências.

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Figura 9 – Parcerias externas do serviço educativo dos museus do IST

4.7 Património

Para a execução deste projeto também foi necessário conhecer o acervo e o espólio,

para melhor entender o que poderíamos utilizar como referencial para a realização de

atividades pedagógicas. Os objetos expostos nos museus podem ser utilizados, também,

como referencial para compreensão do presente. Nesse sentido, podem ser planeadas

atividades, a partir dos temas das coleções, nas quais o público é convidado a participar,

realizando atividades práticas, contextualizando e construindo a relação passado-

presente. A participação da comunidade académica nas atividades contribui para a

construção do conhecimento, a partir das suas histórias de vida, fazendo dos museus

meios facilitadores de desenvolvimento e transformação social. Toma para si esta tarefa,

com base nas ciências, procurando fomentar por meio de atividades pedagógicas e

educacionais, práticas reflexivas sobre o património cultural (Gabriele 2014).

Um dos aspetos apontados como negativos é a reduzida informação documental

sobre as peças em exposição, o que pode prejudicar a organização das atividades. Neste

percurso criamos uma iniciativa da “Peça do mês” onde a intenção é destacar todos os

meses uma peça/objeto/coleção através da criação de materiais informativos (folheto,

desdobrável e no site). Os conteúdos são referentes à identificação, descrição,

origem/historial, autoria, produção, informação técnica, dimensões, incorporação,

Serviço Educativo

Museus do IST

Instituições Públicas e Privadas

Ordem dos Engenheiros e

Arquitetos

Associações Profissionais

Organizações Culturais e Artísticas

Munícipio

Freguesias Locais

Estabelecimentos de Ensino

Redes Muséológicas

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exposições e documentação associada47

. A peça escolhida para o mês de setembro de

2016 do Museu de DECivil foi o “Modelo de locomotiva MBV 1”, por ser umas das

emblemáticas do museu (Anexos 13, 14). Esta iniciativa foi aplicada pela Diretora do

museu nos meses de outubro, novembro e dezembro, que só elaborou o folheto das

peças. Pretende-se alargar esta prática aos outros museus. Com esta iniciativa pode-se

criar materiais de registo do património existente, assim como recursos pedagógicos

para as atividades.

4.8 Destinatários /Públicos-alvo

Os museus do IST, para além de uma componente ligada à investigação, possuem

também uma forte componente pedagógica, que pode e deve ser explorada por aqueles

que frequentam a instituição enquanto professores e alunos, mas também por alunos e

professores de outros graus de ensino, assim como pelo público em geral que se

interessa pelos seus temas específicos. Os museus do IST têm potencial para oferecer

oportunidades educacionais para pessoas de todas as habilitações académicas,

capacidades, competências, classes sociais e etnias. No entanto, será necessário decidir

quais os públicos-alvo que se deseja atingir a curto prazo. Segundo Barriga (2007),

reconhecer quem são os públicos-alvo é um dos exercícios-chave para a elaboração do

plano de ação educativa e para assegurar a qualidade da oferta, recomendando a seleção

de públicos e a programação de fases sequenciais.

Os públicos a conquistar são de dois segmentos: público interno e público externo.

Do público interno fazem parte os docentes e alunos, que podem utilizar os museus num

âmbito mais pedagógico, de apoio às aulas, e os funcionários não docentes e

colaboradores, que podem usufruir dos espaços num contexto mais de lazer. No entanto

pensamos que em ambos os casos apreciam o seu desenvolvimento pessoal, o alargar de

horizontes, a vivência de uma experiência “nova” e “desafiante”, estar com os amigos e

frequentar atividades culturais.

O segundo segmento, conforme já referimos, diz respeito ao público externo, onde

identificamos um grupo escolar composto por professores e alunos desde o ensino

básico ao ensino superior e um público geral.

47 Com base nas “Normas de inventário Ciência e Técnica ‑ Normas Gerais”, 2010 do Instituto dos Museus e da Conservação.

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Figura 10 - Segmentos de Público-alvo

4.9 Comunicação e Divulgação

Seria de extrema importância melhorar a comunicação e a acessibilidade dos museus,

antes de colocar este projeto em prática. Para isso sugerimos a solicitação de uma

auditoria ou consultoria técnica feita por especialistas na área que possam dar o seu

parecer e apoio na implementação das consequentes recomendações. Pensamos que essa

consultoria poderia ser feita pela Acesso Cultura48

.

Conforme já foi referido, pretende-se consolidar o contato com o público escolar a

nível da zona geográfica do IST (campus Alameda) e das instituições escolares que nos

costumam visitar, sem esquecer os outros segmentos de público-alvo mais alargado que

se pretende conquistar para os museus. Pretende-se nesta fase inicial manter e

aprofundar o contacto com instituições e associações que já frequentam os museus, mas

que é sempre necessário continuar a manter fidelizadas. Para que isso aconteça é preciso

criar mecanismos de comunicação e decidir como informar os públicos sobre as

atividades oferecidas. Para que qualquer tipo de serviço tenha impacto junto do público

é essencial que se faça uma boa divulgação, de forma a dar a conhecer as iniciativas que

se desenvolvem nos espaços museológicos atrás de uma mensagem atrativa. A

estratégia mais visível é uma forma de “publicidade e marketing” pensada com um fim

educativo.

Os museus, como já foi referido, têm atualmente outras responsabilidades sociais,

nomeadamente o de tornarem-se um meio de comunicação entre os vários públicos, 48 O valor aproximado de uma consultoria/auditoria a um museu é de 1500 euros.

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através da utilização de novas ferramentas comunicacionais e novos instrumentos

tecnológicos e informáticos. No século XXI, o uso das novas tecnologias é um recurso

essencial para a visibilidade do serviço educativo e dos respetivos museus e para a

dinamização destes espaços. Existem diversos suportes e canais digitais que permitem

aos museus colocarem em prática estas vertentes comunicacionais. As mais utilizadas

são o e-mail, página web, app. e redes sociais (Facebook, Instagram, Youtube, Twitter,

LinkedIn). A presença digital nos museus faz parte da participação ativa, através do

desenvolvimento de ferramentas e aplicações para dispositivos móveis, captação de

recursos em formato eletrónico e muito mais. Como um bom exemplo temos a Parques

de Sintra, que recebeu uma menção honrosa no “Prémio Acesso Cultura 2016” com o

projeto da aplicação mobile “Talking Heritage – Sintra 3.049

.

É através destes meios de comunicação que se consegue uma maior divulgação tanto

do espaço físico e do seu acervo, como das atividades culturais e educativas e de todas

as dinâmicas existentes e informações de interesse dos museus, contribuindo assim para

uma maior afluência de público.

Meios de Comunicação e Divulgação que devem ser utilizados:

- Meios de comunicação internos do IST (e-mail, newsletter semanal, página

web, página institucional da rede social Facebook);

- Divulgação através de e-mail com base numa mailing list das instituições de

ensino e grupos com contato estabelecido;

- Folheto (serviço educativo e museus);

- Páginas próprias do serviço educativo e museus na rede social Facebook;

- Página na internet do serviço educativo e museus;

Durante a realização do projeto foi criada uma página do serviço educativo na rede

social Facebook, com o nome “Serviço Educativo Museus do Técnico”, mas que não

está publicada. Durante estes meses todas as atividades e informações relacionadas com

os museus, referente ao serviço educativo, têm sido publicadas, o que foi uma forma

também de ter um registo documental em formato virtual/digital.

49A App “TalkingHeritage – Sintra” é uma aplicação interativa que oferece uma experiência única nas visitas ao património natural

e edificado sob gestão da empresa Parques de Sintra. No início de junho, foi lançada a versão 3.0, que dispõe de um conjunto de novas funcionalidades de apoio à inclusão tais como língua gestual, vocalização de conteúdos, controlo de ações por movimento e

localização por GPS.

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Figura 11 – Página do serviço educativo na rede social Facebook

A inclusão do nome dos museus em itinerários culturais/turísticos locais ou nacionais

(roteiros de instituições, agendas culturais, imprensa, etc., em suporte papel ou

eletrónico) é importante. Os Museus de Geociências aparecem no “Roteiro das Minas e

Pontos de Interesse Mineiro e geológico de Portugal. O turismo é, atualmente, um dos

principais setores da economia portuguesa, principalmente da cidade de Lisboa, e a

integração de um espaço histórico universitário nos circuitos turísticos e culturais da

cidade pode levar os polos museológicos de divulgação científica a tornarem-se uma

referência internacional.

4.10 Atividades educativas, sociais e culturais

O plano será realizar várias atividades com práticas recreativas, pedagógicas e de

caráter científico, as quais podem ser aplicadas para contexto escolar (com crianças do

ensino pré-escolar até ao ensino superior, envolvendo e capacitando os respetivos

professores e educadores) como em outros segmentos de público. As atividades

educativas são um meio bastante eficaz de divulgação da ciência e de aumentar o

interesse dos visitantes, visto que a ciência não necessita de experiências caras ou

complexas para ser feita, podendo também ser feita com objetos e materiais do

quotidiano. Este tipo de atividades podem dar uso à plataforma “e-escola” um portal de

ciências básicas e de ciências da engenharia do Instituto Superior Técnico (IST) com

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conteúdos científicos, interativos e credíveis, nas áreas de Biologia, Física, Matemática,

Química e Ciências da Engenharia.

Observámos algumas atividades educativas que são desenvolvidas nos museus de

Geociências, de caráter pontual, que nos serviu de apoio para a estruturação da tipologia

de programação que pode ser oferecida ao público. No entanto, é necessário um

enquadramento curricular das atividades dirigidas ao público escolar, para se fazer a

divulgação juntos das escolas que pretendemos captar, assim como materiais de apoio

às atividades, como por exemplo os guiões que achamos que poderiam ser melhorados,

apresentando uma nova proposta (Anexos 15-A, B e C). Com esta nova estrutura

pensamos que será mais fácil colocar em prática e dinamizar as atividades.

É importante facilitar a marcação de uma visita aos museus, no que diz respeito aos

grupos escolares, uma vez que esta envolve uma logística diferente das outras

atividades, e é preciso ser adequada ao nível de ensino e idade dos estudantes. Criou-se

para isso, a possibilidade de fazer a marcação utilizando os meios informáticos,

disponibilizando um formulário próprio on-line, para contactar o serviço educativo

(Anexo 16). Este será uma forma de um primeiro contato do estabelecimento de ensino

com o serviço educativo, no qual já estão identificadas as principais características do

grupo escolar, bem como quais os seus interesses pelas áreas temáticas dos museus.

Com base nestas informações, o serviço educativo realizará um posterior contato para

recolher mais informações ou, caso não seja necessário, para confirmar a visita.

Sendo escassa a oferta de atividades educativas nas áreas das ciências, nos museus de

ciência e técnica50

para o ensino pré-escolar, pretende-se criar um projeto-piloto com o

infantário da APIST (localizado no campus da Alameda)51

e que pode ser algo inovador

no âmbito da divulgação científica. No final do ano letivo o serviço educativo

organizará uma exposição temporária, com alguns dos trabalhos desenvolvidos nessa

proposta, dando-lhe visibilidade e abrindo a possibilidade de vir a estabelecer parcerias

com outras entidades.

O museu é uma instituição que pode ser (re) utilizada como espaço de regeneração

cultural e patrimonial de grupos minoritários, o que contribui para o desenvolvimento

sociocultural. Este tipo de infraestruturas culturais pode servir para preservar a

identidade local, recuperar património cultural e animar culturalmente uma comunidade.

50Informação com base no folheto da oferta educativa 2015-2016 do MUHNAC; 51O Infantário localiza-se no Jardim Sul, e funciona das 8:00 às 19:00 de Segunda a Sexta-Feira, encontrando-se distribuído por dois

edifícios: creche e jardim-de-infância da Associação do Pessoal do Instituto Superior Técnico.

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Foi o que conseguimos com a organização da “sessão aberta a novos elementos, grupo

de cantares tradicionais do IST” no museu Alfredo Bensaúde (Anexo 17), onde

convidámos a comunidade do IST a assistir a um ensaio do grupo. O museu serviu para

um espaço de encontro de diversão, onde funcionários não docentes e docentes,

investigadores e alunos, assistiram a um momento cultural e também tiveram a

oportunidade de conhecer pela primeira vez o museu. Por conversas informais das 11

pessoas que estiveram como espetadores na 1ª sessão das 13h só 4 delas já tinham

entrado no museu, os restantes tinha sido a primeira vez. A utilização dos espaços

museológicos com estas iniciativas permitem redimensionar a abordagem aos temas das

ciências não se focando nas engenharias, ciências exatas e tecnologias, mas também

abrindo à interpretação (visão, compreensão) global do homem no sentido

antropológico, ou seja, abrangendo o homem e a humanidade em todas as suas

dimensões.

5 Tipologia de Programação do Projeto

“It is not the objects but the activities of a museum that will decide the museum’s

future”

Hans Belting, The Discursive Museum

A tipologia de programação que vamos apresentar pode eventualmente servir para a

construção do Plano de Ação Educativa do serviço educativo, pois é uma ferramenta

que serve de rosto ao serviço educativo. Trata-se de um documento que configura a

planificação da ação e identifica as competências do serviço educativo de uma

instituição cultural, num período determinado (Barriga, 2007).

Desde 2012 que a estratégia de Marca do IST52

“centrou-se no reforço e

consolidação da sua posição proeminente no mercado interno e externo através da

implementação de uma imagem forte e inovadora através da afirmação da identidade

Técnico53

”.

52 Regras de utilização do Logótipo do Técnico Lisboa https://tecnico.ulisboa.pt/files/2015/07/Kit-Normas-IST.pdf; 53

Na conferência “As marcas da Marca na Economia Portuguesa”, um evento organizado pela Centromarca, o Prof. Arlindo

Oliveira, Presidente do Técnico, referiu o facto de o Técnico ser “a marca mais forte do Ensino Superior em Portugal”.

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Como a marca é um sinal que identifica e distingue produtos e/ou serviços, pensamos

que seria uma ótima ideia identificar a nossa tipologia de atividades com a marca

“Técnico”.

O “4” está relacionado com as quatro áreas de desenvolvimento do Técnico: ciência,

engenharia, arquitetura e tecnologia. Teremos assim três grandes áreas: o Técnico 4

Schools; o Técnico 4 Kids e o Técnico 4 All.

TÉCNICO 4 SCHOOLS

Pretende-se que seja um projeto educativo que visa estabelecer uma relação entre a

comunidade escolar e os Museus do IST. O critério será encontrar um elo de ligação

onde os museus podem atuar através do seu espólio e os temas-chave dos programas e

metas curriculares de todos os níveis de ensino e criar uma programação com atividades

educacionais não formais dirigidas a grupos escolares. Uma vez traçada a programação,

estas atividades serão divulgadas, inicialmente, entre os estabelecimentos de ensino

públicos e privados envolventes ao IST54

, e posteriormente divulgada a outras escolas.

O programa tem a sua atuação voltada para a melhoria do ensino de ciências nos

ensinos básico e secundário. A sua conceção prevê trabalhar o conhecimento da ciência

através dos princípios básicos da metodologia científica. Tem como objetivo propor e

desenvolver pequenos projetos de pesquisa dentro da escola/museu, utilizando alguns

dos procedimentos do método científico como: observação, levantamento e teste de

hipóteses, realização de experiências, obtenção e análise de dados e outros – A partir

das peças e coleções dos museus.

Espera-se que as propostas de atividades apresentadas surjam da colaboração com os

respetivos estabelecimentos de ensino. Para isso convém dinamizar atividades

específicas para professores, como por exemplo um workshop para dar a conhecer as

atividades do serviço educativo para professores e educadores e visitas guiadas para dar

a conhecer os museus. Esses encontros também podem acontecer em cada abertura de

exposição com o objetivo de preparar as visitas dos alunos.

54 Agrupamento de escolas D. Filipa de Lencastre, Agrupamento de escolas das Olaias, Agrupamento de escolas Luís de Camões; Agrupamento de escolas Rainha D. Leonor, Escola Profissional de Artes, Tecnologias e Desporto (EPAD), Colégio Sagrado

Coração de Maria, Colégio O Pelicano, Colégio do Largo e Jardim de Infância da APIST.

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TÉCNICO 4 KIDS

- Pretende-se que as oficinas Técnico 4 Kids promovam a aproximação da engenharia,

arquitetura, ciência e tecnologia às crianças e aos jovens, dos 4 aos 15 anos de idade,

onde haja reflexão e debate sobre as mesmas, em paralelo com propostas que

materializam ideias suscitadas. Pretende-se sensibilizar as gerações mais jovens para as

profissões ligadas à investigação e à ciência em geral, divulgar os sentidos que estes

trabalhos vêm tomando no meio acadêmico para promover o debate, a reflexão e a

participação dos jovens nas discussões relativas à ciência e tecnologia na nossa

sociedade. As oficinas Técnico 4 Kids para grupos escolares seriam durante os dias

úteis, proporcionando às escolas um espaço de formação essencialmente prático,

estimulando a reflexão crítica e a criatividade dos alunos, professores e educadores.

- Nas interrupções letivas do Natal, Páscoa e Verão serão programadas atividades de

caráter lúdico-pedagógicas dirigidas às crianças entre os 5 e os 12 anos, o que poderia

ser uma resposta social às necessidades dos funcionários docentes, não docentes e

investigadores que não têm onde deixar as suas crianças durante estas épocas do ano.

TÉCNICO 4 ALL

- Atividades nas áreas de ciência, engenharia, arquitetura e tecnologia visando despertar

o espírito científico. Pretende-se procurar desmistificar a visão de ciência como algo

complicado e distante, nela criando conteúdos científicos em ligação com o quotidiano

das pessoas, em experiências sensoriais que promovam a reflexão crítica e o seu

posicionamento em relação a temas centrais do seu quotidiano.“Popularizar” a ciência e

estimular o público de todas as camadas sociais é uma forma de difundir a ciência e de

promover a inclusão social.

- Oportunidades para que os públicos não atuem como meros espetadores mas que

participem de forma interativa e proativa na construção de novos sentidos e significados

da ciência e usando a arte. A arte, a ciência e a cultura são instrumentos que o homem

desenvolveu para interpretar e expressar o mundo que o rodeia, ou seja, oferecem

recursos variados que ajudam a perceber o mundo. Ao mesmo tempo, a arte amplia o

público que normalmente não tinha acesso às informações científicas. Possui o dom de

tocar, desde as crianças até aos idosos. Enquanto a arte for considerada lazer, a

facilidade em aprender com ela será sempre maior. Embora pareça recente, a divulgação

científica pela arte remonta ao Renascimento (ex: Leonardo da Vinci é considerado por

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vários o maior génio da história, devido a sua multiplicidade de talentos para ciências e

artes, sua engenhosidade e criatividade, além de suas obras polémicas), nos séculos XV

e XVI.

- Aderir às comemorações de efemérides e dias comemorativos é uma forma de atribuir

dinamismo às iniciativas do museu e cativar visitantes (Dia Internacional dos Museus,

Dia dos Monumentos e Sítios, a Noite Europeia dos Museus, Jornadas Europeias do

Património, Dia Internacional dos Museus e Centros de Ciência, Dia Mundial da

Ciência, Dia do Técnico e outros).

6 Avaliação

As metodologias adotadas serão: uma avaliação formativa, com um carácter mais

descritivo, qualitativo, visando a adoção de medidas de ajustamento ou correção de

estratégias (tendo em conta que envolve dois museus) e outra sumativa, a realizar no

final de um ano de implementação do serviço educativo. Esta avaliação sumativa

integrará os dados recolhidos na avaliação formativa e faz a ponte entre o caminho

delineado e o caminho percorrido.

Serão utilizados diversos instrumentos de recolha de dados. A avaliação do

processo deverá ser realizada através de um relatório descritivo realizado pelos técnicos

que irão trabalhar no serviço educativo sobre as atividades realizadas, tendo em conta a

categoria e número de participantes envolvidos, o tipo de proposta didática e os seus

objetivos. A importância de refletir sobre a prática educativa numa perspetiva de

melhoramento, envolve necessariamente a sistematização dos dados recolhidos, a partir

dos vários instrumentos de avaliação que serão utilizados nas diversas atividades, de

forma a realizar um trabalho contínuo de ação-reflexão. Por isso propomos que a

elaboração dos instrumentos de avaliação tenha presente uma ferramenta de análise

denominada por “indicadores de alfabetização científica” (AC), desenvolvida por Tania

Cerati (2014) na sua tese de doutoramento. Esses indicadores podem ser desenvolvidos

nesta caso para ser aplicados à avaliação das atividades, são eles:

1. Indicador Científico: deve expressar a questão da natureza da ciência,

fornecendo suporte para que o visitante construa seu conhecimento sobre assuntos

científicos expostos.

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2. Indicador Institucional: este indicador expressa informações sobre a

instituição científica, em qual esfera de poder está inserida, as atividades científicas que

desenvolve e sua função social, cultural e histórica.

3. Indicador Interface Social: está presente quando propicia a compreensão

da aplicação do conhecimento científico em situações quotidianas, bem como as

consequências que esse conhecimento pode desencadear para a atual e as futuras

gerações.

4. Indicador Estético-Afetivo: é identificado quando estão presentes aspetos

que despertam um conjunto de emoções, sensações, observações e sentimentos refletem

no público.

A autora entende que a ferramenta proposta, ao expressar seus indicadores e

atributos, irá favorecer a compreensão das inter-relações ciência e sociedade, a

compreensão da função social dos museus, o processo e os produtos do trabalho do

cientista e o entendimento de conceitos básicos da ciência, contribuindo, assim, para a

cultura científica das pessoas, fator essencial para o processo de Alfabetização

Científica.

A aplicação de um inquérito anónimo para todos os que participarem nas atividades

e/ou visitarem o espaço, também é um instrumento de avaliação pertinente para a

constante melhoria do projeto. Foi construída uma proposta de questionário escrito, que

pode ser preenchido pelo visitante dos três museus (Anexo 18). Foi tomado como base o

inquérito da OIM55

– Sistema de coleta de dados de público de museus. O questionário

foi construído em língua portuguesa, mas deveria ser criado um em língua inglesa,

tendo em conta a comunidade académica internacional que frequenta o IST e a pensar

no potencial público turista. O tempo estimado para o seu preenchimento não ultrapassa

os 10 minutos. Quanto ao conteúdo, este é composto por um conjunto de 20 perguntas,

6 das quais relativas à caraterização do visitante e 2 destinadas a comentários e

sugestões. Seguindo as recomendações da OIM também foi criada uma grelha de registo

da recolha dos dados (Anexo 19) e outra grelha com a finalidade de registar de recusas

de preenchimentos dos inquéritos (Anexo 20). Todos os documentos serão necessários

para o cruzamento de dados no momento de avaliação e para fins estatísticos.

55Observatório Ibero-Americano de Museus http://www.ibermuseus.org/instit/observatorio-ibero-americano-de-museus/

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Poderão igualmente ser concebidos outros instrumentos de avaliação caso seja

necessário, tais como, entrevistas, focus group, a criação de um livro de visitas para dar

aos visitantes a oportunidade de comentar o que quiser sobre a sua visita aos museus ou

participação nas atividades.

Também se poderão vir a fazer estudos de impacto, com metodologias qualitativas,

que seguem os participantes noutros contextos, nomeadamente nos contextos escolares.

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1 Conclusão

O que será o serviço educativo dos Museus do IST?

Depois de todo o percurso realizado para a elaboração deste projeto a resposta poderá

ser: “Pretende ser um mediador entre o público tanto leigo como especializado, do

universo da engenharia, arquitetura, ciência e tecnologia, através de um conjunto de

atividades educativas, culturais e sociais para todos os públicos”.

Os Museus do Técnico são lugares de aprendizagem a serem ativados. Com a

realização deste estudo pode-se concluir que a criação de um serviço educativo para os

museus do IST é uma mais-valia, pois é possível levar público aos espaços

museológicos pouco visitados, realizar atividades, criar materiais pedagógicos, espaço

para eventos. Em suma, os museus podem assim cumprir as suas funções educativas e

sociais. A partir deste projeto os museus podem passar a ser um novo espaço de ensino-

aprendizagem dentro da Escola. A tipologia de programação proposta com base no

potencial das coleções os museus do IST, pretende conseguir uma mudança social e

educacional apresentando a ciência, engenharia, arquitetura e tecnologia de uma forma

atraente a todos os públicos.

As estratégias utilizadas foram definidas a partir de diferentes contextos e das

observações, leituras, entrevistas e conquistas conseguidas. Não podem e não devem ser

consideradas como uma fórmula. Com toda a certeza, ao colocar em prática este projeto,

deveremos utilizar as referidas estratégias como referencial para a reflexão-ação.

Reconhecemos que há diferentes formas de um serviço educativo funcionar, assim

como há diferentes formas de organizar e gerir museus, mas a partir da nossa conceção

de museologia, e com os recursos reais e potenciais, foi possível planificar/construir

este projeto. A missão e os objetivos definidos, bem como as estratégias utilizadas na

elaboração deste projeto, não estão terminadas, e podem ser enriquecidas e refletidas

com a participação dos envolvidos na implementação do serviço educativo.

CAPÍTULO V – CONCLUSÃO E CONSIDERAÇÕES

FINAIS

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Conforme foi proposto na avaliação deste projeto ao fim de um ano em

funcionamento existirá uma avaliação final da primeira fase de arranque. Nessa altura

com os instrumentos de avaliação que foram aplicados, será avaliado o impacto nos

visitantes, a qualidade do serviço prestado e a satisfação dos intervenientes seja a nível

dos utilizadores seja ao nível dos colaboradores. Esta avaliação servirá para melhorar a

imagem dos museus e do serviço educativo, assim como, na perspetiva de aumentar a

oferta de atividades para alargar o público, poderá potenciar a parceria com instituições

públicas e privadas, desenvolver projetos que se inserem no âmbito dos objetivos e

temáticas do IST.

Os contatos que foram realizados com outras instituições e entidades para a

elaboração deste trabalho foram sempre tão recetivos que mostram que vale a pena

apostar na promoção e valorização dos museus do IST, pois o interesse da comunidade

nesta área tem vindo a ser crescente.

2 Considerações finais

Neste processo sempre esteve evidenciado o interesse, emoção e sonho de promover

os Museus do Técnico junto da comunidade académica, por acreditar na dimensão

educativa do museu, bem como na sua função social. Ao iniciar o Mestrado de

Educação e Formação, no Instituto da Educação da Universidade de Lisboa, possuía

uma formação base em Ciências de Educação e Educação Social, e uma experiência

profissional e pessoal na participação em projetos culturais que me proporcionaram os

suportes necessários no sentido de indicar os caminhos que devia percorrer para

desenvolver este projeto. Ainda, como funcionária não docente do Técnico, a minha

inquietação era trazer público aos museus do Técnico. Questionava: “Porque museus tão

ricos, recheados de um acervo e espólio únicos, não são utilizados/visitados por parte do

público?” A primeira solução para mim, talvez pela minha formação, estava na relação

museu-escola. Posteriormente quando frequentei a unidade curricular Educação,

Cultura e Serviços Educativos, no 2º semestre do 1º ano curricular do Mestrado, onde

nasceu a ideia deste projeto, compreendi que os museus poderiam ter uma vertente

cultural, social e educativa em simultâneo.

Como já foi dito deste o início o presente projeto apresenta-se como um estudo para

a criação de um serviço educativo orientado para os museus do IST (DECivil e

Geociências). Tendo refletido sobre os elementos mais importantes para a conceção de

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um serviço educativo, no contexto da educação museológica, a investigação pode ser

considerada como um documento técnico de consulta para profissionais dos serviços

educativos dos museus e educadores em geral. Este estudo apresenta-se como um

contributo para a conceção de serviços educativos orientados a pensar na requalificação

de espaços museológicos pouco visitados e aproveitando a riqueza do património para a

construção de experiências lúdicas e educativas, tendo em conta a satisfação do público.

Todo o percurso desenvolvido para a elaboração deste projeto de mestrado, leva a uma

profunda reflexão sobre que impacto terá um serviço educativo dentro da comunidade

académica, neste caso do IST. Com este trabalho foi possível conhecer mais sobre a

educação museal através das leituras para o enquadramento teórico, quais as

oportunidades e dificuldades e que métodos e estratégias são utilizados para colocar

estes serviços a funcionar. A elaboração deste projeto permitiu desenvolver capacidades

na área de especialização de desenvolvimento social e cultural através do envolvimento

em toda a dinâmica de elaboração de um projeto educativo museal com este cariz.

A componente prática deste trabalho focou-se na criação de um serviço para os

museus do IST. Embora ainda seja necessário realizar alguma requalificação dos

espaços a nível da conservação, catalogação, restauração e inventariação, pensamos que

com as dinâmicas que já acontecem nos museus e os documentos e instrumentos de

trabalho produzidos e elaborados, será possível dar início a implementação deste serviço

educativo de forma embrionária. Penso que neste momento não deve existir uma

preocupação com a quantidade das ações que possam a vir ser realizadas, deve existir

sim uma grande preocupação com a qualidade, conforme o IST já habituou o público.

Apesar das dificuldades inerentes à implementação de um projeto desta natureza,

nomeadamente no contexto universitário, podem ser criadas as condições necessárias

com o aproveitamento das sinergias internas dos vários serviços da instituição.

Este trabalho académico acabou por servir para sensibilizar todos os órgãos com

força de gestão e decisão quanto ao valor e à importância deste património científico e

cultural patente nos museus do IST que, no seu conjunto faz parte da história da ciência

em Portugal. A Escola deverá procurar estar atualizada no que diz respeito aos

princípios da “Nova Museologia”, na intenção de chegar mais perto da comunidade em

que os museus estão inseridos, alterando a imagem do museu “templo” em museu

“fórum” que hoje em dia carateriza os museus modernos (Cameron, 1971, cit. Primo,

2014, p. 5).

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Por último, gostávamos de expressar o desejo de que os esforços e as atividades

desenvolvidas neste projeto, sejam o princípio de um projeto museal IST

multidisciplinar, incluindo as restantes áreas e funções como a catalogação,

inventariação, conservação e restauração e que também integre o museu do IST que não

foi abordado neste estudo. Consideramos que o projeto educativo está direcionado no

rumo certo e surgiu na altura certa, tendo em conta a conjuntura de outros projetos que o

IST tem em fase de lançamento. Estamos a referir-nos ao Técnico Learning Center56

e

ao Técnico Garden Center57

. Podemos ser ambiciosos e considerar este como o

primeiro passo para a criação de um serviço educativo para todos os espaços de

educação não-formal do IST.

Todo o trabalho desenvolvido foi gratificante, visto para além da experiência ganha

com a sua realização, também foi gratificante conhecer e trabalhar com as pessoas que

nele, direta ou indiretamente, estiveram envolvidas neste estudo.

56 Reconversão da Gare do Arco do Cego com o objetivo de implementar um Centro de Ensino/Aprendizagem Multifuncional, para

estudantes universitários e público diversificado; 57Transformação da Quinta dos Remédios, num Parque de Ciência e Tecnologia, irá contribuir para a promoção da divulgação

científica, bem como de atividades de âmbito social, cultural, desportiva e ambiental.

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deste Código);

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Assembleia Geral do ICOM, reunida em Buenos Aires (Argentina), a 4 de

Novembro de 1986. Foi revisto pela 20ª Assembleia Geral reunida em Barcelona

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(República da Coreia), a 8 de Outubro de 2004.

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(Regulamento do Departamento de Engenharia Civil, Arquitectura e

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(Estatutos do Instituto Superior Técnico);

- Despacho Normativo nº 3/ 2006, de 25 de Janeiro

(Formulário de candidatura à credenciação de museus);

- Estatutos da comissão nacional portuguesa do ICOM

(Concretizam as disposições dos estatutos do ICOM, em vigor desde 5 de

dezembro de 2016);

- Lei n.º 47/2004 de 19 de Agosto

(Aprova a Lei Quadro dos Museus Portugueses);

- Lei n.º 107/2001 de 8 de Setembro

(Estabelece as bases da política e do regime de proteção e valorização do

património cultural);

(Regulamento do Departamento de Engenharia Civil, Arquitetura e

Georrecursos)

- Lei nº49-2005, 30 de Agosto

(Lei de Bases do Sistema Educativo Português).

- Normas gerais de inventário Ciência e Técnica

(normas como inventariar peças museológicas e instrumentos científicos na área

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