PROJETO DE CRIAÇÃO DE UM SERVIÇO EDUCATIVO NOS …€¦ · Susana Medina do Museu da Faculdade...
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UNIVERSIDADE DE LISBOA
INSTITUTO DE EDUCAÇÃO
PROJETO DE CRIAÇÃO DE UM SERVIÇO
EDUCATIVO NOS MUSEUS DO INSTITUTO
SUPERIOR TÉCNICO
Natália de Jesus Sousa Rocha
MESTRADO EM EDUCAÇÃO E FORMAÇÃO
Área de especialidade em Desenvolvimento Social e Cultural
Trabalho de Projeto Orientado
pela Profª Doutora Ana Paula Caetano
2017
2
AGRADECIMENTOS
Exercendo funções como Técnica Superior na Direção Académica do Instituto
Superior Técnico (IST), da Universidade de Lisboa, propus ao Sr. Presidente, Professor
Doutor Arlindo Oliveira, desenvolver um projeto educativo em torno dos museus do
IST. Dirijo-lhe as minhas primeiras palavras de agradecimento pois desde o início
mostrou interesse e abertura para desenvolver este projeto no IST.
Em segundo lugar um agradecimento muito especial, pelo seu apoio, pela sua
dedicação e encorajamento, à minha orientadora Professora Doutora Ana Paula Caetano
por ter sido grande aliada na construção e realização deste projeto. O seu conhecimento,
orientações, disponibilidade e amizade foram constantes durante este percurso. Perante
a dimensão e a responsabilidade do projeto que tinha em mãos, as suas palavras de
incentivo foram importantíssimas na superação de determinados obstáculos e foram
fundamentais para organizar o trabalho e dar corpo às ideias que iam emergindo.
Um agradecimento muito profundo aos Diretores dos Museus do IST, à Diretora
do Museu de DECivil Professora Doutora Zita Sampaio e ao Diretor dos Museus de
Geociências Professor Doutor Manuel Francisco Pereira, cujos seus contributos foram
valiosos e proporcionaram os meios e condições necessários para a concretização do
projeto.
Agradeço à Doutora Marta Lourenço, Sub-Diretora do Museu Nacional de
História Natural e da Ciência (MUHNAC), pelo incentivo ao tomar conhecimento deste
projeto e o interesse demonstrado no decorrer de todo o processo.
À Dra. Susana Medina do Museu da Faculdade de Engenharia da Universidade
do Porto, à Dra. Raquel Barata, responsável pelo Serviço Educativo de Educação e
Animação Cultural do MUHNAC e ao Dr. José Cid Gomes do Museu da Ciência da
Universidade Coimbra, pela forma como me receberam e pelo contributo que as
informações e entrevistas concedidas tiveram para a realização deste trabalho.
Registo a minha gratidão para com as minhas professoras do Mestrado Carmen
Cavaco, Carolina Carvalho, Isabel Freire e Maria João Mogarro, todas conhecedoras e
especialistas nas suas áreas, pela partilha e desafios propostos nas aulas.
Um agradecimento a todas as pessoas do Instituto Superior Técnico que
apoiaram este projeto. Deixo um agradecimento especial à colega do Museu DECivil
3
Maria José Silva que sempre demonstrou a máxima disponibilidade, procurando auxiliar
nas necessidades que este projeto exigiu.
Agradeço ainda aos meus colegas de Mestrado pela partilha de conhecimento e
apoio durante este meu percurso académico.
À minha mãe que me apoiou com as suas palavras de amor, dando-me coragem.
A minha família e amigos merecem um agradecimento especial, não só pelo
tempo da minha atenção que este projeto lhes negou, mas também pela compreensão e
tolerância demonstrada ao longo desse processo. Foram um pilar muito importante nesta
fase, pelo apoio, carinho e força que me deram.
A Deus, por estar comigo, e ter-me dado sabedoria e força numa etapa marcante
da minha vida entre acontecimentos pessoais e profissionais.
A todos um muito OBRIGADA!
4
RESUMO
O presente trabalho pretende ser uma proposta para implementação do serviço
educativo nos Museus do IST. A pertinência de um serviço educativo nas instituições
museológicas é hoje em dia um facto incontestável.
Para construirmos o nosso projeto foi preciso fazer um enquadramento teórico
que nos permitiu chegar ao conhecimento de algumas teorias e práticas comuns sobre a
educação museal. Constatamos que no século XX os museus começaram a fazer parte
do elenco das instituições educadoras. O próprio conceito de museu mudou ao longo
dos anos, tendo sido introduzida a função de educação na definição da instituição. O
trabalho educativo dos museus tem sofrido mudanças ao longo dos tempos, adaptando-
se às transformações sociais, políticas, culturais e económicas das sociedades onde se
inserem. Esta evolução tem sido influenciada pelos progressos registados no domínio da
psicologia, educação, sociologia e museologia. A partir dessas diferentes perspetivas os
museus assimilam a educação e aplicam no seu trabalho educativo e no contacto diário
com os seus visitantes. Assim, essas instituições têm criado programas educacionais e
atividades que procuram melhorar a aprendizagem no espaço do museu. Tendo sempre
presente a preservação e divulgação do património cultural. Percebemos também que
apesar de atualmente se registar um interesse crescente nas funções educativas, os
museus são também lugares onde se produzem diferentes dinâmicas sociais que
contribuem para construir sociedades mais reflexivas e inclusivas.
A ligação entre museus e educação das ciências é extremamente benéfica para o
desenvolvimento de práticas educativas utilizadas pelos serviços educativos das
instituições. Os museus do IST são instituições ligadas à ciência e à cultura, podem por
isso ser aproveitados para a educação das ciências. Nesse sentido, apresentamos uma
proposta para um serviço educativo a funcionar nestes espaços. Este projeto realça ainda
a necessidade da preservação do património universitário e científico dos Museus do
IST.
Palavras-chave: Educação em Museus, Serviço Educativo, Público, Divulgação
Científica, Aprendizagens formais e não formais em ciências, Função Social.
5
ABSTRACT
The present project intends to be a proposal for the implementation of the
educational service in the IST Museums. The relevance of an educational service in
museological institutions is unquestionable at the present time.
In order to delineate the Project it was necessary to make a theoretics that
allowed us to get knowledge of some common theories and practices about museum
education. We find that in the twentieth century museums began to be part of
educational institutions. The concept of museum itself has changed over the years, and
the role of education has been introduced in the definition of the institution. The
educational work of museums keeps change over time, adapting to the social, political,
cultural and economic transformations of the societies in which they are inserted. This
evolution has been influenced by progress in psychology, education, sociology and
museology. From these different perspectives museums assimilate education and apply
in their educational work and daily contact with their visitors. These institutions have
created educational programs and activities that seek to improve learning in the museum
space, keeping in mind the preservation and dissemination of cultural heritage. We are
also awared that, although there is a growing interest in educational functions, museums
are also places where different social dynamics are produced that contribute to building
more reflective and inclusive societies.
The relation between museums and science education is extremely beneficial for
the development of educational practices used by the institutions educational services.
The IST museums are institutions linked to science and culture and can therefore be
used for the education of the sciences. In this sense, we present a proposal for an
educational service to function in these spaces. This Project also highlights the need to
preserve the university and scientific heritage of the IST Museums.
Key-words: Education in Museums, Educational Service, Public, Scientific
Divulgation, Formal and Non-formal Learning in Sciences, Social Function.
6
ÍNDICE
INTRODUÇÃO .......................................................................................................................... 14
CAPÍTULO I - ENQUADRAMENTO TEÓRICO ..................................................................... 17
1 Breve perspetiva histórica do conceito de museu ................................................................ 17
2 Evolução da “Nova Museologia” ......................................................................................... 20
3 Educação nos museus ........................................................................................................... 27
3.1 Conceito de Educação ................................................................................................... 27
3.2 Papel educativo dos museus .......................................................................................... 29
3.3 Relação Escola-Museu .................................................................................................. 33
4 Serviços Educativos em Portugal ......................................................................................... 36
4.1 O Educador e a Mediação nos Museus ......................................................................... 42
4.2 Museus e Público .......................................................................................................... 45
5 Museus das Universidades Portuguesas ............................................................................... 50
6 O papel dos museus e universidades na promoção e divulgação da cultura científica..... 54
6.1 Os museus de ciência como os espaços de educação não-formal ................................. 57
CAPÍTULO II – CONTEXTUALIZAÇÃO ............................................................................... 59
1 Caraterização do IST ............................................................................................................ 59
2 Museus do IST ..................................................................................................................... 62
2.1 Museu de Engenharia Civil (Museu DECivil) .............................................................. 63
2.2 Museus de Geociências ................................................................................................. 64
CAPÍTULO III - METODOLOGIA ........................................................................................... 68
1 Pesquisa bibliográfica .......................................................................................................... 68
2 Recolha de dados .................................................................................................................. 70
3 Tratamento de dados ............................................................................................................ 72
CAPÍTULO IV - CONCEÇÃO DO PROJETO .......................................................................... 73
1 Origem.................................................................................................................................. 73
2 Diagnóstico .......................................................................................................................... 74
3 Justificação do Projeto ......................................................................................................... 76
4 Projeto serviço educativo nos Museus do Instituto Superior Técnico ................................. 78
4.1 Objetivos do Projeto ...................................................................................................... 79
4.2 Estratégia Educativa do Projeto .................................................................................... 80
4.3 Enquadramento legal ..................................................................................................... 82
4.4 Recursos humanos ......................................................................................................... 83
4.5 Recursos Financeiros ..................................................................................................... 84
4.6 Ligação com a sociedade - Parcerias ................................................................................. 85
4.7 Património ..................................................................................................................... 86
7
4.8 Destinatários /Públicos-alvo .......................................................................................... 87
4.9 Comunicação e Divulgação ........................................................................................... 88
4.10 Atividades educativas, sociais e culturais ................................................................... 90
5 Tipologia de Programação do Projeto .................................................................................. 92
6 Avaliação .............................................................................................................................. 95
CAPÍTULO V – CONCLUSÃO E CONSIDERAÇÕES FINAIS.............................................. 98
1 Conclusão ............................................................................................................................. 98
2 Considerações finais ............................................................................................................. 99
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................................... 102
ANEXOS
Anexo 1 - MOOC en Educación y Museos
Anexo 2 - Guião de entrevista aos Diretores dos Museus do IST
Anexo 3 - Guião de entrevista aos serviços educativos museus universitários
Anexo 4 - Lista das reuniões, atividades e eventos
Anexo 5 - Transcrição da entrevista à Diretora Museu DECivil
Anexo 6 - Transcrição da entrevista ao Diretor Museu Geociências
Anexo 7 - Transcrição da entrevista Coordenadora SE do MNHNAC
Anexo 8 - Transcrição da entrevista à responsável do FEUP Museu
Anexo 9 - Análise de Conteúdo da Entrevista à Diretora do Museu DECivil
Anexo 10 - Análise de Conteúdo da Entrevista ao Diretor dos Museus de Geociências
Anexo 11 - Regulamento Interno do Museu de Engenharia Civil
Anexo 12 - Regulamento Interno dos Museus de Geociências
Anexo 13 - Folheto Peça do mês
Anexo 14 - Desdobrável Peça do mês
Anexo 15 A - Guião da atividade educativa Escolas (vigor)
Anexo 15 B - Guião da atividade educativa - Escolas
Anexo 15 C - Guião da atividade educativa Escolas (atividade)
Anexo 16 - Formulário on-line de inscrição de visita escolas
Anexo 17 - Cartaz da sessão do Grupo de Cantares Tradicionais do IST
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Anexo 18 - Inquérito Público
Anexo 19 - Grelha registo recolha dados inquérito
Anexo 20 - Grelha registo de recusas do inquérito
ÍNDICE DE TABELAS
Tabela 1 - Visitantes inseridos em grupos escolares (N.º) de museus por tipologia
Tabela 2 - Serviço educativo dos museus em 2014, por tipologia
Tabela 3 - Visitantes dos Museus, por tipologia
ÍNDICE DE FIGURAS
Figura 1 - Esquema dos diversos níveis de formalização ação educativa
Figura 2 - Modelos de relacionamento entre museus e educação
Figura 3 - Modelo Experiencial de Falk e Dierking
Figura 4 - Modelo “Experience Economy” de Pine e Gilmore
Figura 5 - Perspetiva histórica da criação do IST (1836 – 1936)
Figura 6 - Localização dos museus do IST dentro do campus Alameda
Figura 7 - Museus de Geociências e evolução das coleções
Figura 8 - Análise SWOT do contexto dos museus do IST
Figura 9 - Parcerias externas do serviço educativo dos museus do IST
Figura 10 - Segmentos de Público-alvo
Figura 11 - Página do serviço educativo na rede social Facebook
ÍNDICE DE GRÁFICOS
Gráfico 1 - Museus com Serviço educativo por ano (2000-2009)
Gráficos 2 e 3 - Dados do estudo Eurobarómetro sobre acesso à cultura e participação
cultural
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LISTA DE ACRÓNIMOS
APOM – Associação Portuguesa de Museologia
CCB – Centro Cultural de Belém
CE – Comissão Europeia
CPLP - Comunidade dos Países de Língua Portuguesa
CTN – Campus Tecnológico e Nuclear
DECivil – Departamento de Engenharia Civil Arquitetura e Georrecursos
DMC - Divisão de Museus e Credenciação
DMCC - Departamento de Museus, Conservação e Credenciação
EGEAC - Empresa de Gestão de Equipamentos e Animação Cultural de Lisboa
IAPMEI - Instituto de Apoio às Pequenas e Médias Empresas e à Inovação
IAVE – Instituto de Avaliação Educativa
IBRAM – Instituto Brasileiro de Museus
ICOM – International Council of Museums
ID & I – Investigação Desenvolvimento e Inovação
IICL - Instituto Industrial e Comercial de Lisboa
IIL - Instituto Industrial de Lisboa
ISEG – Instituto Superior Economia de Gestão
IST – Instituto Superior Técnico
MAB – Museu Alfredo Bensaúde
MDT – Museu Décio Thadeu
MINOM – Movimento Internacional para a Nova Museologia
MNAA – Museu Nacional de Arte Antiga
MUHNAC – Museu Nacional de História Natural e da Ciência
OCDE – Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico
ONU – Organização da Nações Unidas
PE – Plano Educativo
PISA – Programa Internacional de Avaliação de Estudantes
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RPM - Rede Portuguesa de Museus
UC – Universidade de Coimbra
UL – Universidade de Lisboa
UNESCO - United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization
UP – Universidade do Porto
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GLOSSÁRIO
Este Glossário tem como objetivo esclarecer os principais conceitos utilizados
no trabalho de projeto. Alguns deles estão presentes na legislação, regulamentação e em
documentos de políticas públicas. Outros foram de ideias retiradas de trabalhos
académicos e em publicações de profissionais do campo da educação museal.
Acervo – É o conteúdo de uma coleção privada ou pública, podendo ser de caráter
bibliográfico, artístico, fotográfico, científico, histórico, documental, é preservado e
guardado em museus.
Acessibilidade Universal – O acesso, a participação, o entendimento e o convívio entre
todas as pessoas nos domínios: físico, intelectual, cognitivo, atitudional e financeiro.
Ação Educativa – Processo e procedimentos que promovam a educação no museu
visando a ampliação dos conhecimentos e possibilidades de expressão dos indivíduos,
contribuindo para a integração entre museu e sociedade.
Coleção – Um conjunto de bens culturais e naturais, materiais e imateriais, passados e
presentes.
Coleção visitável – Considera-se coleção visitável o conjunto de bens culturais
conservados por uma pessoa singular ou coletiva, pública ou privada, exposto
publicamente em instalações especialmente afetas a esse fim, mas que não reúna os
meios que permitam o pleno desempenho das restantes funções museológicas que a lei
em vigor estabelece para o museu.
Comunidade – Pode ser entendida como uma unidade dinâmica, onde se destacam os
fatores de relacionamento, de delimitação geográfica e de função. As categorias de
relações na comunidade referem-se aos vínculos básicos que correspondem aos laços
mais resistentes na rede de relações, como a família, o trabalho e a vizinhança.
Educação Museal – Iniciativas de educação teoricamente referenciadas e
desenvolvidas no âmbito de processos museais.
Educação Patrimonial - Processo permanente e sistemático de trabalho educativo, que
tem como foco a valorização do património cultural com todas as suas manifestações.
Espólio – Espólio significa património, isto é, todos os bens, direitos e obrigações
deixadas por alguém.
Exposição – O termo “exposição” significa tanto o resultado da ação de expor, quanto o
conjunto daquilo que é exposto e o lugar onde se expõe. A exposição apresenta-se
atualmente como uma das principais funções do museu que, segundo a última definição
do ICOM, “adquire, conserva, estuda, expõe e transmite o património material e
imaterial da humanidade”.
Gestão museológica – A gestão museológica, ou administração de museus, é definida,
atualmente, como a ação de conduzir as tarefas administrativas do museu ou, de forma
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mais geral, o conjunto de atividades que não estão diretamente ligadas às
especificidades do museu (preservação, pesquisa e comunicação). Nesse sentido, a
gestão museológica compreende essencialmente as tarefas ligadas aos aspetos
financeiros (contabilidade, controlo de gestão, finanças) e jurídicos do museu, à
segurança e manutenção da instituição, à organização da equipa de profissionais do
museu, ao marketing e também aos processos estratégicos de planeamento gerais das
atividades do museu.
Mediação - A mediação designa a ação de reconciliar ou colocar em acordo, favorecer
a relação de duas ou várias partes através de intervenção, isto é, no quadro museológico,
entre o público do museu com as coleções exibidas. As expressões mediação cultural ou
mediação científica referem-se a um conjunto variado dispositivos e ações realizadas no
contexto museal com a intenção de construir relações entre o que tem sido exposto e os
significados que esses objetos e os lugares podem conter.
Missão educativa do museu – Para compreender a missão educativa do museu é
preciso antes identificar qual a missão do museu, já que as duas missões estão
intrinsecamente interligadas. A missão educativa deverá compreender que ação
educacional é importante para o cumprimento do papel do museu, bem como o
desenvolvimento do processo museológico, considerando o acervo institucional um
referencial importante para o desenvolvimento das ações educacionais.
Museal – Sendo considerada como adjetivo ou como substantivo, a palavra apresenta
duas aceções: (1) O adjetivo “museal” serve para qualificar tudo aquilo que é relativo ao
museu, fazendo a distinção com outros domínios (por exemplo: “o mundo museal” para
designar o mundo dos museus); (2) Como substantivo, “o museal” designa o campo de
referência no qual se desenvolvem não apenas a criação, a realização e o funcionamento
da instituição “museu”, mas também a reflexão sobre seus fundamentos e questões.
Museologia – Etimologicamente, a museologia é “o estudo do museu” e não a sua
prática – que remete à “museografia”.
Museu – O termo “museu” tanto pode designar a instituição quanto o estabelecimento,
ou o lugar geralmente concebido para realizar a organização, a seleção, o estudo e a
apresentação de testemunhos materiais e imateriais do Homem e do seu meio.
Parceria/Parceiros – Pessoas ou entidades com quem podemos trabalhar de modo a
melhorar a qualidade dos serviços prestados pelo museu (museus, instituições culturais,
educacionais, patrocinadores, grupos de interesse, voluntários, organizações artísticas,
órgãos de comunicação social, público visitante, etc.) para realizar ações de cooperação,
visando alcançar objetivos e metas comuns, trocando experiências e conhecimentos,
numa base comercial ou não comercial.
Património – O património é um bem público, que abrange as coleções de museus.
Entende-se por património cultural imaterial as práticas, representações, expressões,
conhecimentos e saber-fazer – assim como os instrumentos, objetos, artefactos e
espaços culturais que lhes são associados – que as comunidades, os grupos e, em alguns
casos, os indivíduos reconhecem como fazendo parte de seu património cultural.
13
Política Educativa – Nos últimos anos, vários museus delinearam políticas educativas.
Esta expressão sintetiza, não só, uma abordagem teórica às questões educativas nos
museus, bem como as práticas desenvolvidas em torno dessa função educativa, e ainda
o modo como esta se relaciona com as outras funções. Uma política educativa abrange
áreas como os utilizadores, pesquisa de mercado, necessidades educativas, tipos e
qualidade de planeamento, desenvolvimento das exposições, avaliação, marketing, a
gestão dos recursos, formação dos funcionários e voluntários, bem como trabalho em
parceiras.
Projeto Educativo – Ação ou conjunto de ações educativas com metodologia,
conteúdo, objetivos, justificação e duração definidos, realizados por serviços educativos
de museus ou de outras instituições museológicas.
Público de museus – Conjunto de segmentos socioculturais formados por visitantes
potenciais dos museus, frequentadores assíduos, além dos indivíduos que manifestam
interesse e curiosidade pelas instituições museais. Aqueles que usam os serviços
prestados pelo museu: crianças do ensino básico, estudantes do secundário,
universitários, investigadores, artistas, ou qualquer um que se desloque ao museu com o
objetivo de usufruir do que o museu tem para oferecer.
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No âmbito do Mestrado em Educação e Formação - área de Desenvolvimento Social
e Cultural, do Instituto de Educação da Universidade de Lisboa, o trabalho final
compreende a elaboração de uma dissertação de natureza científica, de um trabalho de
projeto ou a realização de um estágio de natureza profissional, para a obtenção do grau
de Mestre em Educação e Formação. A minha escolha incidiu no trabalho de projeto,
pois, a nível pessoal e profissional, considero que a modalidade de projeto é uma
oportunidade de consolidar e pôr em prática os conhecimentos obtidos no decorrer do
Mestrado.
Tendo como incentivo os trabalhos realizados no primeiro ano, na unidade curricular
Educação, Cultura e Serviços Educativos, a escolha do tema de projeto recaiu sobre as
temáticas da disciplina. Optei por escolher como instituição o Instituto Superior Técnico
tendo em conta a ligação profissional de 24 anos. Desenvolver um projeto útil para a
instituição onde trabalho faz-me sentir mais confortável e realizada.
O título do projeto é “Projeto de criação de um serviço educativo nos museus do
Instituto Superior Técnico”, cujo tema principal é a educação museal. O objetivo
principal deste estudo consiste em criar um serviço educativo museológico, no Instituto
Superior Técnico, que promova a divulgação científica, oferecendo programas de
caráter educativo, social e cultural, no âmbito da educação formal e não-formal, para os
mais variados públicos.
Embora nos últimos anos o Instituto Superior Técnico tivesse inovado a oferta
educativa não-formal no ensino das ciências (participação na escola de verão da UL,
laboratórios abertos, BEST Summer Course, Escola Ciência Viva, entre outros), esta
oferta poderá ser melhorada e ampliada, podendo os museus ser grandes
impulsionadores. Os museus universitários (como é o caso do museus do IST) têm sido
cada vez mais consagrados como espaços fundamentais para o desenvolvimento da
educação não-formal das ciências e de ampla divulgação científica e podem dar uma luz
INTRODUÇÃO "Which museums will survive in the 21st century? Museums with charm and museums with
chairs."
Kenneth Hudson, (cit. Vlachou, 2013 p. 14)
15
ao ensino de ciências nos vários níveis de ensino. No entanto, para que isso aconteça é
preciso que estes sejam dotados de atividades educativas de diferentes naturezas e
estratégias variadas de forma a gerara aprendizagem. Neste sentido, um dos objetivos
deste projeto é desenvolver uma estrutura educativa com um projeto pedagógico para os
museus do IST, para que os museus se convertam em espaços com utilização
continuada e sistemática de ensino-aprendizagem, através da educação não-formal.
Um outro desafio do projeto é incrementar e diversificar o público que visita os
museus. A oferta de programas, atividades, formações, seminários e workshops a nível
do ensino das ciências e tecnologia, atrás referida, no âmbito de uma educação não-
formal, é direcionada preferencialmente para jovens pré-universitários e/ou
universitários, porém, todos devem ter a possibilidade de realizar
atividades/experiências científicas. Essa oportunidade pode abrir portas e despertar
interesse quer nas crianças quer nos adultos para as quatro áreas de desenvolvimento no
IST: ciência, engenharia, arquitetura e tecnologia. Este projeto surgiu com a intenção de
proporcionar uma maior proximidade dos museus do IST com os vários tipos de
públicos. O serviço educativo é uma das melhores formas de trabalhar diretamente com
estes públicos. Segundo Honrado, “um dos instrumentos que permitiram essa relação
de mediação assente numa relação de grande cumplicidade com os públicos foi
indubitavelmente a criação do Serviço Educativo”. (Honrado, 2007, p.21).
O projeto tem o intuito de dinamizar a instituição e de criar condições, com vista a
dar um contributo para a estruturação e a criação de um futuro serviço educativo dos
museus do IST. De uma ótica profissional, espera-se que este projeto, e com o apoio da
instituição, conceda a possibilidade de fazer parte do mesmo, dando continuidade ao
trabalho desenvolvido. Numa perspectiva dinâmica, procurar-se-á a melhoria e o
aperfeiçoamento constante. De uma forma geral, o desenvolvimento deste trabalho de
investigação prende-se com o interesse pessoal em investir nesta área dos serviços
educativos dos museus e explorar quais os contributos do acervo e espólio científico do
IST para a literacia científica-tecnológica.
A estrutura deste trabalho está dividida em seis partes: Na presente introdução,
define-se o objeto de estudo e a estrutura. Para alcançar os objetivos propostos foi
fundamental proceder ao enquadramento teórico do projeto no contexto museológico,
educativo e universitário apresentado no capítulo I.
16
O capítulo II é dedicado à contextualização do IST. Dentro deste capítulo é também
apresentada a caraterização de cada um dos museus.
O terceiro capítulo é constituído pela apresentação da metodologia, onde
fundamentamos os métodos de recolha, análise e tratamento de dados que utilizamos
para a conceção do projeto.
Na quarta parte apresentamos os resultados do estudo, os trabalhos desenvolvidos
durante este percurso e que servem como fundamento à proposta de criação de um
serviço educativo, também aí apresentada.
Por último, na quinta parte, são apresentadas as conclusões e considerações finais
que incluem uma apreciação global de todo o trabalho desenvolvido, assim como os
desafios e diretrizes para o futuro que podem aflorar com a implementação do serviço
educativo.
17
Neste capítulo pretende-se clarificar conceitos, princípios, modelos, fundamentos e
apresentar trabalhos e estudos com base nos quais este trabalho de projeto foi realizado.
É importante realçar que a fundamentação teórica referente à construção deste projeto
não cessa neste capítulo, estando presente em todo o texto, com destaque para outras
conceções que serão abordadas no capítulo IV reservado ao projeto.
Para o desenvolvimento deste trabalho utilizamos bibliografia de alguns dos mais
importantes teóricos e especialistas no âmbito da museologia e educação museal,
provenientes de diferentes partes do mundo.
1 Breve perspetiva histórica do conceito de museu
“O museu é o lugar em que sensações, ideias e imagens de pronto irradiadas por objetos
e referenciais ali reunidos iluminam valores essenciais para o ser humano. Espaço
fascinante onde se descobre e se aprende, nele se amplia o conhecimento e se aprofunda
a consciência da identidade, da solidariedade e da partilha. Por meio dos museus, a vida
social recupera a dimensão humana que se esvai na pressa da hora. As cidades
encontram o espelho que lhes revele a face apagada no turbilhão do quotidiano. E cada
pessoa acolhida por um museu acaba por saber mais de si mesma.”
(IBRAM, 2016, site oficial)
CAPÍTULO I - ENQUADRAMENTO TEÓRICO
“Que olhem para os museus e para além dos museus”
(Santos, 2002, p. 192)
18
“Como definir o museu? Pela abordagem conceptual, por meio da reflexão teórica e
prática, pelo seu funcionamento, pelos seus atores (profissionais, público), ou pelas
funções que decorrem de sua ação?” (Desvallées & Mairesse, 2013, p. 23).
Como podemos verificar através do questionamento destes autores, existem diversas
perspetivas possíveis de decomposição do conceito de museu. Vamos começar pela
génese. A origem etimológica da palavra “museu” é proveniente do termo latim
“museum”, que por sua vez deriva do grego mouseion, e que era o lugar das musas, as
nove filhas de Mnemosine e Zeus, divindades mitológicas inspiradoras da criação
artística ou científica (Antunes, 2015). Como refere Pérez (2009) “Este sentido
etimológico converte o museu num lugar de inspiração” (p. 183).
A partir de uma pesquisa sobre o conceito de museu, podemos notar que a definição
do ICOM/UNESCO é uma referência na comunidade internacional e que tem evoluído,
no sentido de uma maior precisão e abrangência. Segundo no site do ICOM, “A
definição de museu evoluiu, em consonância com a evolução da sociedade. Desde sua
criação em 1946, o ICOM atualiza essa definição de acordo com as realidades da
comunidade global de museus”.
Encontramos uma definição de 1956 do ICOM que nos define museu como:
Uma instituição de caráter permanente, administrado para interesse geral,
com a finalidade de recolher, conservar, pesquisar e valorizar de diversas
maneiras um conjunto de elementos de valor cultural e ambiental: coleções de
objetos artísticos, históricos, científicos e técnicos. Numa perspetiva alargada,
o conceito abrange ainda jardins botânicos e zoológicos e aquários.
Nos Estatutos do ICOM, adotados pela 16ª Assembleia Geral do ICOM (Haia, 1989)
e modificados pela 18ª Assembleia Geral do ICOM (Noruega, 1995) a definição de
museu passou a ser:
O museu é uma instituição permanente, sem finalidade lucrativa, ao serviço da
sociedade e do seu desenvolvimento, aberta ao público e que realiza
investigações que dizem respeito aos testemunhos materiais do homem e do
seu meio ambiente, adquire os mesmos, conserva-os, transmite-os e expõe-nos
especialmente com intenções de estudo, de educação e de deleite (ICOM,
2016, site oficial)
Na definição aprovada pela 20ª Assembleia Geral, Barcelona, Espanha, decorrida a 6
de julho de 2001 podemos ler:
O museu é uma instituição permanente, sem fins lucrativos, a serviço da
sociedade e do seu desenvolvimento, aberta ao público e que adquire,
conserva, investiga, difunde e expõe os testemunhos materiais do homem e do
seu entorno, para educação e deleite da sociedade (ICOM, 2016, site oficial).
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De acordo com os Estatutos do ICOM, adotados na 21ª Conferência Geral, que se
realizou entre os dias 19 e 24 de agosto de 2007 em Viena, Áustria, a definição do
conceito museu que se encontra atualmente em vigor é:
O museu é uma instituição permanente sem fins lucrativos, ao serviço da
sociedade e do seu desenvolvimento, aberta ao público, que adquire, conserva,
investiga, comunica e expõe o património material e imaterial da humanidade
e do seu meio envolvente com fins de educação, estudo e deleite (ICOM, 2016,
site oficial).
De acordo com a legislação portuguesa, a Lei-Quadro dos Museus Portugueses – Lei
n.º 47/2004, de 19 de agosto estabelece, no artigo 3º a seguinte definição de museu:
1 ― Museu é uma instituição de carácter permanente, com ou sem personalidade jurídica, sem
fins lucrativos, dotada de uma estrutura organizacional que lhe permite:
a) garantir um destino unitário a um conjunto de bens culturais e valorizá-los através
da investigação, incorporação, inventário, documentação, conservação, interpretação,
exposição e divulgação, com objetivos científicos, educativos e lúdicos;
b) facultar acesso regular ao público e fomentar a democratização da cultura, a
promoção da pessoa e o desenvolvimento da sociedade.
2 ― Consideram-se museus as instituições, com diferentes designações, que apresentem as
características e cumpram as funções museológicas previstas na presente lei para o museu,
ainda que o respetivo acervo integre espécies vivas, tanto botânicas como zoológicas,
testemunhos resultantes da materialização de ideias, representações de realidades existentes ou
virtuais, assim como bens de património cultural imóvel, ambiental e paisagístico.
Em análise, quer na evolução do conceito entre 1946 e 2007 do ICOM, quer na
legislação portuguesa criada em 2004, podemos notar em todas as definições a
abrangência do conceito de museu e alguns princípios que estão sempre presentes, tais
como: o museu tem de ser uma instituição organizada, que conserva objetos (de valor
histórico ou artístico), que não visa lucro e que tenha um caráter cultural e científico.
Também é visível a inclusão de termos que nos revelam as novas tendências e
preocupações museológicas ligadas ao público e à sociedade e com um caráter mais
lúdico, que nos remetem para o museu e a sua função social. No entanto, destaca-se a
introdução da função educativa como parte integrante da definição do termo.
20
2 Evolução da “Nova Museologia”
Consta-se que nem sempre o termo “museu” foi aplicado em relação às coleções de
objetos de valor histórico e artístico. Na Grécia Antiga o museu era um templo das
musas, divindades que presidiam a poesia, a música, a oratória, a história, a tragédia, a
comédia, a dança e a astronomia. Durante a Idade Média já existia uma coleção de
objetos ativa, sendo vista como sinal de notoriedade, apesar de a noção de museu quase
ter desaparecido. A partir do Renascimento é que este termo passou a ser aplicado em
relação a coleções de objetos de valor histórico e artístico (Falcão, 2009). No entanto,
desde tempos remotos (pré-história) o homem tem o hábito de colecionar objetos e
reunir vários tipos de artefactos.
Entre os séculos XVI e XVII, com a expansão do conhecimento através da Era dos
Descobrimentos, formaram-se na Europa inúmeros gabinetes de curiosidades, que
tiveram um papel importante na evolução da história e da filosofia natural, com
coleções bastante heterogéneas de peças das mais variadas naturezas, tais como fósseis,
esqueletos, minerais, objetos exóticos de países longínquos, obras de arte, máquinas e
inventos e outras peças cultural ou cientificamente relevantes. Segundo Falcão (2009),
alguns dos museus mais importantes da atualidade, constituídos na Europa do século
XVIII surgiram dos acervos provenientes de coleções particulares ou reais a partir do
surgimento das grandes navegações.
Por esse motivo, os primeiros museus surgiram de coleções privadas, com um
acesso restrito e as coleções de ciência e de história natural estavam só ao alcance das
pessoas com interesses científicos, o que os tornava inacessíveis à população em geral.
O primeiro museu universitário surge na Inglaterra no século XVII, a partir da
doação da coleção de Elias Ashmole à Universidade de Oxford. Inaugurado em 6 de
junho de 1683, o Ashmolean Museum, é considerado o primeiro museu público do
mundo, ainda que fosse um local de pesquisa destinado prioritariamente aos alunos da
universidade.
21
Outros importantes museus fundados no século XVIII foram o Museu Britânico1,
fundado em Londres em 1753 e o Museu do Louvre, em Paris, primeiro museu de arte
do mundo, em 1793, com as suas coleções acessíveis a todas as pessoas, com finalidade
cultural e lúdica e por iniciativa governamental. No século XIX o “museu” continuou
em transformação e começaram a surgir museus modernos ligados a vários temas e
áreas, expandindo os seus horizontes e abandonando progressivamente o simples
colecionismo para destacar a exibição e catalogação.
No decurso da sua história, as sociedades têm tido várias mudanças nas áreas
política, económica e sociocultural, desse modo os museus são obrigados a dar uma
resposta às novas estruturas, necessidades e sistemas de valores das novas sociedades.
(…) como instituição dedicada à memória e à celebração do passado, os
museus desempenham um papel fundamental na construção de ideologias e
identidades sociais (Falcão 2009, 12).
As práticas museológicas antigas, caraterizadas acima de tudo por uma atitude
passiva diante da sociedade, vigoraram até meados do século XX. É após a II Guerra
Mundial, em Paris no ano de 1946, que foi criado o primeiro organismo internacional,
sem fins lucrativos, que se dedica exclusivamente a elaborar políticas internacionais
para os museus – ICOM – Conselho Internacional dos Museus, dependente da
UNESCO.
Desde esta altura até ao início da década de 70 que se desenvolveu um
aprofundamento científico do termo ligado à interdisciplinaridade e atividade educativa
dos museus. Segundo Santos (2002) “os anos 60 foram marcados pelo movimento
artístico-cultural, que destaca o novo, com participação da juventude, na recusa aos
modelos estabelecidos e prepara o terreno lança as sementes”. Também Paiva e Primon
(2013) referem que nos anos 60 e 70 existiu um grande debate que contesta os conceitos
e os modelos museográficos até então vigentes.
Azevedo reforça a ideia desta época ser um marco histórico na museologia,
afirmando:
Assim, os anos 60 e 70 do século XX foram particularmente marcantes no
campo da museologia, pelo debate que se assistia nos países industrializados e
de cultura europeia ocidental e pelas novas aceções teóricas que colocavam
em causa a museologia tradicional, a favor de uma museologia voltada para a
comunidade e preocupada com o seu papel social. (Azevedo, 2010, p.42).
1 Foi mencionado pelo The art newspaper o segundo museu mais visitado do mundo em 2015 por ter recebido mais de 6,8 milhões de visitantes. Este museu é um marco em termos de estabelecimento do método museológico. Este foi também o primeiro grande
museu público gratuito do mundo.
22
A autêntica revolução da conceção do museu público acontece entre as décadas
de 70 e 80, que veio dar um novo impulso ao meio museológico. Estas décadas foram
marcadas por trabalhos museológicos desenvolvidos em vários países, embora não
existisse um intercâmbio internacional entre os diversos projetos e o reconhecimento e o
apoio necessários (Santos, 2002).Não podemos deixar de invocar que os principais
promotores de muitas iniciativas museológicas inovadoras foram George Henri Rivière2
e Hugues de Varine3, os dois primeiros diretores franceses do ICOM, que estabeleciam
relações entre os responsáveis dos projetos, inclusive dos diferentes países.
Essa nova prática museal, mais virada para o público, tem um conjunto de
documentos fundadores, sendo o mais importante deles a Declaração de Santiago do
Chile (Moutinho, 2015), e declarado pelos próprios participantes do movimento como o
“referencial básico”. Consideramos como fundamentais quatro documentos, neste
processo de mudança e novos caminhos no percurso das instituições museais: as
conclusões do Seminário Regional da UNESCO sobre função educativa dos Museus
(Rio de Janeiro, 1958); a Declaração da Mesa-Redonda de Santiago do Chile de 1972,
que introduziu o conceito de museu integral, criando novas vertentes para as práticas
museais; a Declaração de Quebec de 1984, que compilou os princípios básicos da
“Nova Museologia” e a Declaração de Caracas de 1992, sinal da maturidade obtida em
três décadas de esforços na construção de um novo papel para os museus (Araújo &
Bruno, 1995).
No Seminário do Rio de Janeiro foram focadas questões desde a conservação,
manutenção e divulgação das coleções, até à reflexão sobre o conceito de museu e da
museologia como um campo disciplinar. Um dos temas mais importantes discutidos foi
o da exposição, através da qual o museu estabelece o seu vínculo com a sociedade,
sendo considerado um elemento dinâmico no seio da mesma. Este seminário “é parte de
um projeto que tinha como objetivo discutir, em várias regiões do mundo, a função que
os museus deveriam cumprir como meio educativo” (Santos, 2002, p. 99). É nesta
época, segundo a mesma autora, que começam a surgir algumas preocupações em
relação aos aspetos pedagógicos, como por exemplo, avaliar a qualidade dos serviços
oferecidos aos alunos e professores que visitavam os museus, e em transformar a visita
guiada num momento de aprendizagem, estimulando o aluno a comparar estilos e
2Georges Henri Rivière (1897-1985) primeiro diretor do ICOM, foi um dos mais importantes curadores de museus e um dos
geradores de uma das mais importantes correntes museológicas do século passado: a Nova Museologia, e do conceito de ecomuseu; 3Hugues de Varine (1935-) sucessor de Rivière como diretor do ICOM de 1965 até 1974, consultor internacional nas áreas
museológicas marcadas pela intervenção comunitária visando o desenvolvimento local. Viveu e trabalhou vários anos em Portugal à
frente do Instituto Franco Português.
23
formas, a contextualizar e a realizar ligações entre arte e ciência. Ou seja, chamara
atenção para a necessidade de criação de exposições com base na interdisciplinaridade
(Santos, 2002)
A "Mesa-Redonda” que decorreu de 20 a 31 de maio de 1972 em Santiago do Chile
organizada pela UNESCO, é uma referência na museologia. O objetivo era pensar sobre
o desenvolvimento e o papel dos museus no mundo contemporâneo. Estiveram
envolvidos doze diretores de grandes museus nacionais da América Latina (Varine,
2013), que acharam que os museus devem desempenhar um papel na educação da
comunidade. Entre os postulados da declaração, estava a construção do conceito de
“Museu Integral4”, destinado a "situar o público dentro do seu mundo, para que tome
consciência da sua problemática como homem-indivíduo e homem-social", por outras
palavras, um museu como instrumento de desenvolvimento comunitário. Um novo
conceito de ação dos museus ficou então definido: museu integral destinado a
proporcionar à comunidade uma visão de conjunto do seu meio material e cultural
(ICOM, 1972, cit. Gabriele, 2014).
Ainda sobre esta ideia a museóloga Santos refere:
(…) a construção do conceito de museu integral foi um marco importante na
museologia, pois evidenciou a importância de direcionar o olhar para a
realidade social, bem como buscar a conscientização da cultura e da
identidade nos discursos da instituição museológica” (Santos, 1999, cit.
Gabriele, 2014, 44).
A Declaração de Santiago do Chile de 1972 é um marco histórico no conceito de
museu, onde o movimento de nova museologia tem a sua primeira expressão pública e
internacional. Como refere Antunes (2015) “No século XX, na museologia, há um antes
e um depois de Santiago do Chile de 1972”. O mesmo autor refere que foi um virar de
página no pensamento e prática da museologia, uma verdadeira rutura epistemológica. É
de salientara influência do pensamento de Paulo Freire para este movimento de
renovação da museologia, daí o convite de Hugues de Varine para este fazer parte da
presidência da “Mesa Redonda”. Apesar do pedido ter sido inviabilizado por razões
políticas da altura, o pensamento do educador brasileiro foi muito importante na
museologia (apesar de serem poucos os estudos que tratam a relação de Paulo Freire
com esta área de estudo), sobretudo no que se refere aos conceitos de “conscientização e
4 Museu Integral fundamenta-se não apenas na musealização de todo o conjunto patrimonial de um dado território (espaço
geográfico, clima, recursos naturais renováveis e não renováveis, formas passadas e atuais de ocupação humana, processos e
produtos culturais, advindos dessas formas de ocupação), ou na ênfase no trabalho comunitário, mas na capacidade intrínseca que possui qualquer museu (ou seja, qualquer representação do fenómeno museu) de estabelecer relações com o espaço, o tempo e a
memória – e de atuar diretamente junto a determinados grupos sociais (Scheiner 2012, p.19).
24
a mudança”, da transformação do homem-objeto em homem-sujeito. (Alves e Reis,
2013).Na opinião das mesmas autoras “os princípios de base do museu integral proposto
na Mesa de Santiago, ressaltando o papel decisivo dos museus na educação da
comunidade, expressam bem a marca de Freire”(Alves & Reis, 2013, p.129).
O próprio documento refere que “este movimento afirma a função social do museu e
o carácter global das suas intervenções”, podemos reforçar esta ideia com Rivière que
refere:
Os museus devem, por isso, cumprir funções sociais, educativas e culturais
para uma comunidade e assumir esse compromisso porque têm um papel ativo
nas ações sociais, económicas e culturais por meio de ações educativas
(Riviére cit. por Carvalho, 2014, p. 53).
Podemos ainda acrescentar que o curador de museus Georges-Henri Rivière
define os museus como instituições que devem conservar, comunicar e expor o
património, com a finalidade de desenvolver a educação e cultura, e defende que os
grandes motores da mudança são os visitantes, como próprios atores das atividades
museológicas. Para Hughes de Varine nos textos de “Santiago” é sempre possível
reencontrar o seu sentido verdadeiro e inovador, senão revolucionário, e destaca duas
noções: aquela de museu integral que considerada os problemas da sociedade e aquela
do museu enquanto instrumento dinâmico de mudança social, referindo que:
Esquecia-se assim, aquilo que havia-se constituído, durante mais de dois
séculos, na mais clara vocação do museu: a missão da coleta e da
conservação. Chegou-se, em oposição, a um conceito de património global a
ser gerenciado no interesse do homem e de todos os homens. (Araújo & Bruno,
1995).
Conforme refere Baldroegas (2013), “esta nova corrente museológica defendia uma
maior abertura por parte das instituições, procurando uma relação de diálogo efetivo
com a comunidade, desenvolvendo ações dentro e fora do espaço museológico,
recusando assim o modelo tradicional de museu, defendendo uma mudança de
paradigma” (p.15). Na verdade a museologia atravessa nesta época uma fase em que há
uma rutura entre a museologia anterior e com a “Nova Museologia” (Carvalho, 2014),
transita-se de uma museologia de coleções, preocupada com as questões administrativas
e a preservação do objeto, para uma museologia com interesses de carácter social e
virada para as comunidades. Como refere Pérez (2009) “O museu passará a ser criado
com a comunidade, respondendo assim às suas necessidades e realizando um exercício
de cidadania” (p.181). Moutinho (1995) ainda acrescenta que o público nestes novos
museus passa a ter o lugar de colaborador, de utilizador ou de criador, mais do que
25
observador. Como podemos verificar com o discurso do movimento da nova
museologia, os objetos perdem a condição de depositários de valores transcendentes e
independentes das classes, grupos e categorias sociais (Paiva, 2013), no entanto a nova
museologia propunha reflexão e intervenção.
Destaca a autora referida que:
Com esta nova abordagem o objeto passa a ser relacionado com o contexto
fazendo com que as ações desenvolvidas saíam do edifício e passem a ser
exercidas de forma participativa pela comunidade. Isso contribui para a
criação de novas tipologias de museus como a dos ecomuseus, museus abertos,
e outros. O acervo passa a ser utilizado como meio para uma leitura crítica do
processo histórico, fazendo do museu um espaço dinâmico que reflete o
quotidiano (Paiva & Primon, 2013. p. 7)
Este movimento surge na França, através de um grupo de museólogos insatisfeitos
com a forma como os museus desenvolviam o seu papel. Porém podemos assumir que
nasce oficialmente no I Atelier Internacional Ecomuseus/Nova Museologia, que
aconteceu no Canadá, na Declaração de Québec de 1984, onde estão mencionados os
princípios que devem orientar as ações para a “Nova Museologia” mais interdisciplinar
e social, face à museologia tradicional de coleções, onde se reconhece a ecomuseologia,
a museologia comunitária, e as outras museologias alternativas que surgiram em vários
países, como por exemplo Mali, República dos Camarões, Panamá, E.U.A., México,
Suécia e Reino Unido (Moutinho, 1995).
Segundo Santos (2002), os princípios básicos que orientam as ações da “Nova
Museologia”, podem resumir-se nos seguintes pontos:
reconhecimento das identidades e das culturas de todos os grupos
humanos;
utilização de memória coletiva como referencial básico para o
entendimento e a transformação da realidade;
incentivo à apropriação e reapropriação do património, para que a
identidade seja vivida, na pluralidade e na rutura;
desenvolvimento de ações museológicas, considerando como ponto de
partida a prática social e não as coleções;
socialização de função de preservação;
interpretação da relação entre o homem e o seu meio ambiente e da
influência da herança cultural e natural na identidade dos indivíduos e
dos grupos sociais;
26
ação comunicativa dos técnicos e dos grupos comunitários, visando o
entendimento, a transformação e o desenvolvimento social.
Partindo destes princípios Santos (2002) entende o tema da “Nova Museologia ”do
seguinte modo:
Considero o Movimento da Nova Museologia um dos momentos mais
significativos da Museologia Contemporânea, pelo seu caráter contestador,
criativo, transformador, enfim, por ser um vetor no sentido de tornar possível
a execução de processos museais mais ajustados às necessidades dos
cidadãos, em diferentes contextos, por meio da participação, visando ao
desenvolvimento social (Santos, 2002, p. 94).
Em 1985 houve o II Encontro Internacional “Nova Museologia/Museus Locais”, em
Lisboa, onde se reconheceu oficialmente como organização o MINOM (Movimento
Internacional para a Nova Museologia), que mais tarde passou a ser reconhecido como
organização afiliada do ICOM. Somente 10 anos depois é constituída a MINOM em
Portugal que tem sido o principal difusor da nova museologia em Portugal, através da
organização de jornadas anuais por todo o país.
Segundo Moutinho: “o Atelier de 1984 e a criação do MINOM devem ser entendidos
como um todo coerente, que contribuiu desde então, para o reconhecimento no seio da
museologia, do direito à diferença” (Moutinho, 1995, p.29).
Fazendo um breve balanço da “Nova Museologia” em Portugal, Manuel Antunes
escreve:
Este movimento tem desempenhado fundamental, procurando fomentar a
reflexão sobre ideias e práticas museológicas, que coloquem os museus ao
serviço das comunidades em que se inserem e das suas perspetivas de
desenvolvimento. Com uma Museologia Social que encoraje a consciência
política, o exercício da cidadania, a participação comunitária e o espírito de
iniciativa, ao serviço da realização do ser cultural, enfim, do ser humano.
(Antunes, 2015, p.153).
O quatro documento - A Declaração de Caracas, na Venezuela, em 5 de fevereiro de
1992, fez uma atualização dos conceitos da Mesa Redonda, realizada 20 anos atrás, e
uma reflexão sobre a situação museológica da altura e das alterações desde 1972, que
revelam uma museologia dinâmica e integrante. Segundo Moutinho, esta mudança de
atitude foi referida por Hugues de Varine no relatório de síntese da Conferência Geral
do ICOM Canadá, 1992:
Das reuniões dos comitês internacionais tornou-se claro que existe uma forte
corrente voltada para a abertura e para a inovação (…) levando profissionais
dos museus a agir de forma não-tradicional e aceitarem ser influenciados por
conceitos multiculturais. A cooperação interdisciplinar que está emergindo no
27
seio do ICOM, às pontes construídas entre várias disciplinas e projetos, e
grupos como o MINOM são indicações deste espírito de abertura” (Moutinho,
1995, p. 29).
3 Educação nos museus
“A Educação, qualquer que seja ela, é sempre uma teoria do conhecimento posta em
prática”.
Paulo Freire
3.1 Conceito de Educação
Durante muitos anos a Educação teve uma conceção muito restrita e quase sinónimo
de Escola. Esta ideia estava ligada ao conceito de que a infância e a adolescência seriam
os períodos ideais para adquirir conhecimento e competências e a idade adulta seria o
momento para aplicar esses conhecimentos e competências adquiridas na idade escolar.
Esta conceção de educação reporta para uma visão estática do conhecimento, já que se
considera que os conhecimentos adquiridos num determinado período da vida, são os
mesmos que necessitamos em etapas posteriores da nova vida.
Porém a aprendizagem não se limita a um determinado período da vida de uma
pessoa, a aprendizagem acontece durante todo o ciclo de vida da pessoa e tem lugar nos
vários contextos onde a pessoa se desenvolve, como na família, nas atividades de lazer,
no trabalho, etc. A importância da educação, entendida como um fator estratégico de
desenvolvimento e de “progresso”, constitui, hoje, uma ideia relativamente consensual
que não representa, contudo, uma novidade (Canário, 2000).
A globalização do pensamento e da ação educativa, historicamente marcados pela
emergência do conceito de educação permanente, conduz (entre outras dimensões) a
encarar o processo educativo como um continuum que integra e articula diversos níveis
de formalização da ação educativa:
28
Figura 1 - Esquema dos diversos níveis de formalização ação educativa (Canário 2000)
Com efeito, estes três níveis de formalização, precisamente porque são um
continuum, não se apresentam como estanques e rigidamente delimitados, podendo e
devendo articular-se de modo fecundo, como podemos verificar pela seguinte descrição
de Chagas (1993):
A educação formal carateriza-se por ser altamente estruturada. Desenvolve-se
no seio de instituições próprias – escolas e universidades – onde o aluno deve
seguir um programa pré-determinado, semelhante ao dos outros alunos que
frequentam a mesma instituição. A educação não-formal processa-se fora da
esfera escolar e é veiculada pelos museus, meios de comunicação e outras
instituições que organizam eventos de diversa ordem, tais como cursos livres,
feiras e encontros, com o propósito de ensinar ciência a um público
heterogéneo. A aprendizagem não-formal desenvolve-se, assim, de acordo com
os desejos do indivíduo, num clima especialmente concebido para se tornar
agradável. Finalmente, a educação informal ocorre de forma espontânea na
vida do dia-a-dia através de conversas e vivências familiares, amigos, colegas
e interlocutores ocasionais (Chagas, 1993, p. 52).
Deste modo o termo aprendizagem ao longo da vida faz menção a toda a atividade
formativa que a pessoa realiza, a qualquer momento da sua vida, para adquirir
conhecimentos e competências e/ ou ampliar os que já possui. Este entendimento é uma
das grandes características das sociedades do século XXI. A 1 de janeiro de 2016 entrou
em vigor a resolução da Organização das Nações Unidas (ONU) intitulada
“Transformar o nosso mundo: Agenda 2030 de desenvolvimento sustentável”,
constituída por 17 objetivos, desdobrada em 160 metas. Relativamente à educação no
objetivo 4 ”Garantir educação inclusiva, de qualidade e equitativa e promover
oportunidades de aprendizagem ao longo da vida para todos” (ONU, 2016). Perante
Ação Educativa
Formal
Um nível de que o protótipo é o ensino dispensado pela
escola, com base na assimetria professor aluno, na
estruturação prévia de programação e horários, na
existência de processos avaliativos e de certificação.
Não Formal
Um nível caraterizado pela flexibilidade de horários,
programas e locais, baseado geralmente no voluntariado,
em que está presente a preocupação de construir situações educativas “à medida” de contextos e
públicos singulares
Informal
Um nível que corresponde a todas as situações de
aprendizagem espontânea potencialmente educativas,
mesmo que não conscientes, nem intencionais, por parte dos destinatários, correspondendo a
situações pouco ou nada estruturadas e organizadas.
29
estes desafios que apelam a uma sociedade inclusiva, tendo presente a noção de
aprendizagem ao longo da vida, podemos afirmar que a educação não formal, como
uma dimensão para a educação para a cidadania.
Deste modo, na atualidade considera-se que a educação acontece em todas aquelas
atividades e práticas sociais que promovem o desenvolvimento pessoal e social das
pessoas.
A propósito desta ideia podemos ainda referir que:
“ considerar que esta variedade de iniciativas educativas reflete uma certa
tendência da sociedade atual em valorizar a designada “educação ao longo da
vida”, nomeadamente nos contextos de educação não formal, como são os
museus, e em dirigir as suas iniciativas para qualquer indivíduo
independentemente da sua faixa etária, situação económica e estatuto social
ou proveniência cultural”. (Azevedo, 2010, p. 5).
3.2 Papel educativo dos museus
Como já foi referido, a maioria dos museus oferece oportunidades de aprendizagem e
lazer, sendo a educação uma das funções centrais dos museus. Segundo Chagas (1993),
os museus têm um interesse crescente, não só por parte de instituições ligadas à
educação, quer governamentais quer privadas, como também por parte do público em
geral. À medida que o museu passou a estar menos voltado para si próprio e mais
voltado para o público, começou igualmente a dedicar-se mais atenção ao papel
educativo dos museus (Mendes, 2013, p. 39). O papel educativo dos museus tem
contribuído para o destaque que o museu tem tido cada vez mais, e que certamente
continuará a ter nas próximas décadas, devido ao novo contexto social e científico-
pedagógico.
A recomendação da UNESCO5 aponta, como funções fundamentais dos museus, a
preservação, investigação, comunicação e educação. Sobre a função educação, sugere o
seguinte:
A educação é outra função fundamental dos museus. Os museus atuam na
educação formal e informal e na aprendizagem ao longo da vida, através do
desenvolvimento e da transmissão do conhecimento, de programas educativos
e pedagógicos, em parceria com outras instituições, especialmente as escolas.
Os programas educativos nos museus contribuem fundamentalmente para
5 Recomendação relativa à proteção e promoção dos museus e das coleções, da sua diversidade e do seu papel na sociedade
(UNESCO, 2015)
30
educar os diversos públicos acerca dos temas das suas coleções e sobre a
cidadania, bem como ajudam a consciencializar sobre a importância de se
preservar o património e impulsionam a criatividade. Os museus podem ainda
promover conhecimentos e experiências que contribuem para a compreensão
de temas sociais correlacionados. (ONU, Paris, 2015)
Segundo (Sagüés, 2011), “a educação formal, a educação não formal e educação
informal formam uma rede que permite que as pessoas aprendam ao longo da sua vida
através de vários meios, incluindo o museu” e nesse sentido apresenta três modelos de
relacionamento entre os museus e a educação:
Figura 2 - Modelos de relacionamento entre museus e educação (Sagüés, 2011)
Como já aqui foi enfatizado, cada vez mais os museus ocupam um lugar central na
sociedade e os seus espaços e funções educativas têm tido uma grande transformação
desde a sua criação até aos nossos dias. Existem várias perspetivas de abordagem sobre
este tema, mas sobre a educação nos museus Alves (2007) diz-nos:
A educação nos museus foi-se tornando um serviço essencial que as políticas
entendiam prestar-se a viabilizar os critérios sócio-culturais do museu, entre
outros, enquanto finalidades e através de meios a concretizar para o público.
Os museus e os serviços educativos que neles operam podem ser um contributo
fundamental para uma educação atual como expressão de uma sociedade
orientada por princípios capazes de contribuir para o desenvolvimento
alargado e integral das várias dimensões do ser humano em qualquer situação
e momento da sua vida. Eles começam a tornar-se um retrato das “novas
comunidades educativas emergentes”, que sem pretenderem substituir,
complementam e demarcam outros horizontes culturais para além da escola. A
MUSEU
E
EDUCAÇÃO
FORMAL
O museu como instrumento de ensino-aprendizagem do
currículo escolar. Tenta criar hábitos de consumo cultural entre o público escolar. Ex: visitas programadas pelos
professores
NÃO FORMAL
O museu é um instrumento de difusão de conhecimento
gerado por ele ou por investigadores, que
complementa a educação formal escolar. Ex:
palestras, cursos, ateliers,
INFORMAL
O museu propicia divulgação científica.
O visitante dispôe-se a ser um participante ativo, voluntário, que assume
uma educação não integrada nos currículos
escolares oficiais
31
escola hoje tem-se tornado uma instituição educativa entre outras e o museu
consolida-se nesse quadro. (Alves, 2007, p. 3)
Conforme Teresa Eça (2010), “a interface entre o museu e o indivíduo pode gerar
processos de aprendizagens significativas”. A aprendizagem no museu é difícil de
mensurar e pode não manifestar-se de imediato. A aprendizagem no museu é uma
experiência subjetiva e individual. O público que frequenta o museu é heterogéneo e
responde a múltiplos padrões de comportamento que depende de variáveis diversas
como a frequência, os interesses, as suas expetativas ou o conhecimento prévio. Estas
aprendizagens, parte integrante da experiência global, serão, portanto, aquelas que
resultem da conjugação do património cultural, social e emocional que os indivíduos
trazem consigo (a sua biografia), com aquilo que a instituição visitada (com os seus
objetos, coleções, atividades, programas e serviços) é capaz de lhes proporcionar (Silva,
2006).
Portanto para que os museus sejam espaços abertos a todos os públicos e cenários de
encontro da comunidade e sua participação, as exposições e programas devem ser
desenhados para responder a todos os públicos. Neste sentido o modelo experiencial de
Falk e Dierking (1992) é relevante e constitui uma intenção de transformar os museus
em espaços plurais de aprendizagem, afirmando que numa visita ao museu participam
três contextos: o pessoal, o físico e o sociocultural, que se encontram em permanente
relação. A aprendizagem no museu é um processo de diálogo do visitante em seu redor
no seu tempo que vai trocando relações de interação entre os três contextos:
Figura 3 - Modelo Experiencial de Falk e Dierking, 1992
32
Para Falk e Dierking (1992) é justamente neste espaço de interseção que se constrói e
define a experiência que perdurará na memória dos indivíduos, potenciando a
construção de aprendizagens duradouras, significativas e efetivas.
No contexto pessoal cada visitante entende os objetos e o seu mundo através da sua
interpretação pessoal, cada visitante do museu é único. É neste contexto que se incluem
as expetativas e respostas antecipadas à visita, o conhecimento prévio, os interesses, as
motivações e as preocupações dos visitantes. As pessoas vão aos museus com
expetativas que influenciam diretamente a aprendizagem.
Também os interesses e valores prévios de cada indivíduo determinam em que partes
dos conteúdos se vai centrar e o que para ele é mais atrativo. Finalmente a última
variável deste contexto pessoal é a motivação com que aprendemos e está relacionada
com as emoções que vão determinar a nossa atenção e a nossa memória.
A visita ocorre num contexto sociocultural e o visitante normalmente partilha as suas
experiências em grupo porque vai ao museu como uma atividade de caráter social, em
que as pessoas e os visitantes interagem uns com os outros para decifrar a informação,
reforçar crenças, dar sentido aquilo que vêm. As relações interpessoais que se
estabelecem durante a visita implicam que a experiência museológica seja diferente em
função da visita ao museu ser individualmente, em par, em família, em grupo, ou se
também a interação com os profissionais do museu, os guias, quem está na receção, é
diferente se é um museu com pouco público ou se é um museu com visitas guiadas.
Do contexto físico faz parte a qualidade dos serviços, para além do edifício ou do
objeto, outros aspetos podem influenciar a experiência museológica, como ter ou não
uma cafetaria, uma livraria, uma loja para comprar uma lembrança, uma sala onde
podem realizar-se atividades anteriores ou prévias à visita, um lugar de descanso para
apreciar e ver o que o museu nos oferece, se existe cor e som, luzes, sombras, música de
fundo ou como a exposição está desenhada.
A construção e o suporte à identidade pessoal é a principal motivação dos visitantes
do museu, que procuram experiências para a formação da sua identidade e que
constroem significados a partir da sua experiência no museu. Assim para finalizar
podemos dizer que a interação destes três contextos pode criar um quarto contexto: a
experiência museológica de aprendizagem, conforme está identificado no esquema do
Modelo Experiencial de Falk e Dierking. Portanto os museus são contextos da
aprendizagem, possibilitam ao público adquirir conhecimentos e competências, sendo a
33
aprendizagem um processo de construção e reconstrução pessoal dos conhecimentos. Os
museus podem ser vistos como um lugar de aprendizagem, prazeroso e agradável, um
lugar de contemplação e de fruição do saber, um lugar de encontro com os sentimentos
mais profundos e necessários, para reconhecimento das nossas condições como
cidadãos de um universo cheio de contradições e oportunidades (Gabriele, 2014).
3.3 Relação Escola-Museu
As instituições culturais e as escolas podem cruzar-se, sem confundir a educação
cultural que existe nos dois lados (Eça, 2010). Nesse sentido, são centros de educação
que ligam a educação formal, não formal e informal, em que aprender combina com
entreter e desfrutar, onde o conhecimento e a cultura se ligam à sociedade. Maria Isabel
Martins (2003), nas suas provas de agregação em educação, defende que a articulação
do ensino formal com ambientes de educação não formal é de importância fundamental,
para acentuar, sobretudo nos mais jovens, que as aprendizagens são úteis e se aplicam
no dia-a-dia.
Os grupos escolares são os principais “clientes“ dos museus, com particular
incidência para o 1.º ao 3.º ciclo e secundário, com menos variedade no pré- escolar e
no ensino universitário. Silva (2006) afirma que o público escolar é dos mais
representados nas estatísticas dos visitantes de museus e aqueles que mobilizam a maior
parte dos recursos educativos destas instituições.
No ano de 2015, o número de crianças/jovens em idade escolar, desde a pré-escolar
até ao ensino secundário era cerca de 2 milhões6 e o número de visitantes escolares a
museus rondou o valor 1,7 milhões7. Através destes dados podemos ver a expressão que
têm as visitas das escolas aos museus.
De acordo com os dados do Instituto Nacional de Estatística8, em Portugal, entre
2012 e 2014, os museus de ciências e de técnica são os segundos mais visitados, a
seguir aos museus de arte, conforme podemos verificar na tabela seguinte:
6 Fontes/Entidades: DGEEC/MED - MCTES, PORDATA Última atualização 2016-11-30; 7 Fonte INE; 8 Fonte: INE, Inquérito aos museus, última atualização 07 de outubro de 2015.
34
Tipologia de museus
2014 2013 2012
Nº (milhares) Nº (milhares) Nº (milhares)
Museus de arte 380851 379166 381613
Museus de arqueologia 60869 60461 72447
Museus de ciências naturais e de história natural 18907 23747 16817
Museus de ciências e de técnica 271548 349389 350665
Museus de etnografia e de antropologia 101999 87817 65374
Museus especializados 179606 193669 151590
Museus de história 266879 253017 289997
Museus mistos e pluridisciplinares 152026 174879 162674
Museus de território 71243 56795 47801
Outros museus 21295 22800 1988
Total 1525223 1601740 1540966
(Fonte: INE, 2015)
Tabela 1 - Visitantes inseridos em grupos escolares (N.º) de museus por Tipologia
Verificando-se então que os museus de ciência e de técnica são um dos destinos
preferenciais do público escolar, “é necessário analisar de que forma estas instituições
lhes transmitem conhecimento científico. Dois veículos principais são identificados: as
exposições e as restantes atividades promovidas pelos museus” (Delicado, 2013, p.47).
Os professores levam os seus alunos aos museus com o objetivo de ilustrar, no
terreno, os conteúdos curriculares das suas disciplinas, e de proporcionar atividades
pedagógico-lúdicas. A relação Escola/Museu continua a ser a combinação perfeita. A
escola tem duas vantagens: os conteúdos de aula tornam-se mais dinâmicos e o aluno
percebe diferentes formas de articulação entre os temas abordados (Marandino, 2001).
Hooper Greenhill, (cit. por Oliveira, 2013) menciona que os professores estão a
encontrar no museu uma valiosa fonte de aprendizagem e inspiração, não só para os
seus próprios alunos, mas também para si próprios. A propósito desta ideia Hooper
Greenhill também refere:
Os museus estão bem posicionados para apoiar o aumento da ênfase nas
políticas educacionais, para responder às necessidades individuais dos alunos
e desenvolver um currículo que motive e envolva os alunos, incentive a sua
curiosidade e o prazer em aprender e que os ajude a ter êxito. (citado por
Oliveira (2013, p. 12)
A análise dos relatórios do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes de
2015 (PISA) da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento
Económico) revela que os alunos portugueses nestes testes estão pela primeira vez
acima da média da OCDE, em 15 anos de participação. Os estudantes nacionais ficaram
35
acima dos valores médios nos três domínios de avaliação: Leitura, Matemática e
Literacia Científica9 (IAVE, 2016). Sendo as políticas educativas introduzidas nestes
últimos anos, apontadas como as principais causas destes resultados, como o próprio
estudo indica existem outras correlações com os recursos dos departamentos de ciências
nas salas e as atividades extracurriculares. Assumimos, de acordo com os dados que
tínhamos referido anteriormente, que estas atividades devem ser em grande parte das
visitas dos grupos escolares aos museus, e que, em conjunto com o incremento dos
serviços educativos nos museus (que mais à frente iremos apresentar) tiveram alguma
influência nos dados do PISA 2015.
Convém analisar esta relação escola-museu de forma bilateral, uma vez que as
instituições culturais e museológicas que se interessam pela educação também procuram
na escola os referenciais para o desenvolvimento de suas atividades (Marandino, 2001).
No entanto, os museus devem também ter algum cuidado para não tornar as suas
atividades muito semelhantes às da escola. Como afirmam Van-Praet e Poucet (1992)
“Existe uma certa propensão deste fato nos serviços educativos dos museus a
reproduzir, erroneamente, a escola no museu (…) a solução é a busca de
complementariedade e de parceria” (cit. Marandino 2001, p.88). Podemos dizer que
essa complementariedade está relacionada com as vivências, experiências e
oportunidades de aprendizagem para os alunos, impossíveis de serem reproduzidas na
escola (Marandino, 2001). Esta autora acrescenta que:
Museus e escolas são espaços sociais que possuem histórias linguagens,
propostas educativas e pedagógicas próprias. Socialmente são espaços que se
interpenetram e se complementam mutuamente e ambos são imprescindíveis
para formação do cidadão cientificamente alfabetizado. (Marandino, 2001,
p.98).
Esta relação Escola-Museus é apresentada por Caetano (2016) através de duas
perspetivas: estética-poética que está relacionada com o museu como suplemento de
aula e o papel da escola é visto como uma preparação de sensibilidade para a cultura e
arte; e de uma perspetiva crítica onde o museu intervém no aluno na transformação
social. Estas duas perspetivas levam-nos a entender que os museus como espaços não
formais de educação podem ser bons aliados ao trabalho desenvolvido nas escolas
(Falcão, 2009).
9 No caso da literacia científica, o domínio que esteve em destaque no PISA 2015, estão em causa a explicação de fenómenos
cientificamente, conceber e utilizar o método científico para resolver um problema e interpretar dados e factos de forma científica.
36
Nesta linha de raciocínio José Carlos Ribeiro10
(2016) na sua intervenção na
“Jornada de Reflexão sobre Desafios Contemporâneos da Educação Não formal nos
Museus”11
refere:
Nos museus podemos aprender valores humanos e questões de cidadania,
direitos humanos, educação não-formal essa que não passa na escola e o
museu pode colaborar em parceria com as escolas. Sendo os museus um
veículo primordial na transmissão de valores, na formação das pessoas e de
fazê-las pensar, trazem autonomia e faz com que tenham uma compreensão de
um todo (…). Trabalhar em conjunto escolas e museus podem criar
experiências de aprendizagem impulsionadas pela perspetiva dos estudantes
ajudando assim a criar um melhor futuro para a educação e cultura. (Ribeiro,
2016)
4 Serviços Educativos em Portugal
“Os dias em que a educação no museu era encarada como uma festa de crianças
arrastadas ao longo das vitrinas há muito que terminaram. «Educação no museu» é um
aspeto muito mais complexo do trabalho museológico e está rapidamente a tornar-se
também no mais necessário.
Eilean Hooper-Greenhill, 1994 (cit. Coutinho, 2006,
p.168)
Segundo Teresa Eça se encararmos as instituições e projetos culturais como
mecanismos sociais, espaços de criação e diálogo, as justificações e as finalidades serão
mais ambiciosas. A sociedade do conhecimento exige maiores responsabilidades aos
seus cidadãos, ao assumir que todos os indivíduos são agentes ativos da sua própria
construção de conhecimento. Os serviços educativos podem contribuir para a promoção
desta consciência enquanto espaços de negociação e discussão participada e, neste
sentido, permitem a expansão cultural nas suas múltiplas manifestações criativas,
colocando-se ao serviço de todos como instrumentos de reflexão, mudança e
intervenção (Eça, 2010, p. 277).
Um reflexo da abertura dos museus à sociedade é a presença do caráter educativo dos
museus (Figurelli, 2015). Para a realização deste trabalho foi feito um levantamento de
informações referentes funcionamento dos serviços educativos e toda a documentação
10 Diretor do Palácio da Ajuda e Presidente ICOM Portugal; 11 Jornada de Reflexão sobre Desafios Contemporâneos da Educação Não formal nos Museus, organizada pela Câmara Municipal
Vila franca de Xira, realizada no dia 2 de fevereiro de 2016, no Museu do Neo-Realismo.
37
relativa à regulamentação do exercício da sua atividade, entre outras questões formais e
estruturais importantes para o planeamento e desenvolvimento de um projeto desta
natureza dentro da área de educação museal. Detalhes sobre este procedimento será
explicado no capítulo da metodologia. Para além das suas dinâmicas internas de
funcionamento, é relevante a compreensão da trajetória histórica dos serviços
educativos em museus portugueses.
Este resultado começou com ações educativas desenvolvidas pelos profissionais de
museus as quais aconteciam pontualmente, de forma espontânea e desassociadas das
caraterísticas que têm atualmente. O primeiro serviço educativo a ser criado num museu
português, há pouco mais de meio século, teve por detrás uma figura determinante na
evolução do panorama museológico do século XX, João Couto, que ficou “marcado” na
museologia portuguesa pela introdução da educação nos museus, conforme nos diz
Madalena Costa:
João Couto atribui desde cedo uma importância efetiva ao papel dos museus
na educação, considerando-o absolutamente necessário em Portugal para a
educação e elevação do país, sendo assim, preconizando-o desde logo para os
mais jovens no âmbito escolar. (Costa, 2012, p. 140)
Segundo a mesma autora, no contexto museológico nacional, o Museu Nacional de
Arte Antiga (MNAA), localizado em Lisboa, afigura-se como a “Casa-Mãe” da
formação do pessoal para a educação nos museus portugueses, com João Couto, que
assim o poderemos chamar de “Pai” dos serviços educativos em Portugal, por esta ideia
pioneira de atuação no museu que proporcionou o alargar de horizontes do sector
museológico.
Entre 1928 a 1930 foi criado no MNAA o “serviço de extensão escolar” tendo como
conservador adjunto do museu João Couto. Em 1953, já como diretor do museu cria o
“serviço infantil” também conhecido como “centro infantil” do museu, que com a
evolução tornou-se num serviço educativo (anos 60 a 80), que o museu designou como
Serviço de Educação, denominação até hoje utilizada:
O Serviço de Educação estabelece a relação entre o MNAA e os seus diversos
públicos através da realização de um programa de atividades centrado nas
coleções e nos conteúdos das exposições temporárias, procurando
corresponder aos interesses mais variados. O seu objetivo fundamental é,
através de uma atitude lúdica de descoberta, motivar a observação e a
reflexão, orientando e estimulando a participação individual. (MNAA, 2016,
site oficial)
38
Segundo Graça Filipe (2011) “ao MNAA, sob a direção de João Couto, coube o
papel iniciador, em Portugal, a partir do início da década de 50 do século XX, da
prestação de serviços de carácter educativo dirigido aos seus públicos” (p. 1). Mais
tarde, Madalena Cabral também teve um papel determinante na centralidade que
progressivamente as atividades pedagógicas e formativas foram assumindo na
programação do MNAA. O “serviço infantil” e o posterior “serviço de educação” muito
focados sobretudo na relação museu-escola, sendo o modelo para os serviços educativos
criados entretanto na maior parte dos museus nacionais, locais, regionais e noutras
instituições culturais.
Acerca deste novo serviço no espaço museológico João Mendes (2009) refere:
É que, graças à destacada ação de João Couto (1892 -1968) – primeiro como
conservador e, posteriormente, como diretor do MNAA -, foi ali criado e
desenvolvido, a partir dos inícios dos anos 1930, o “Serviço de Extensão
Educativa”. Tratou-se de uma medida pioneira, em Portugal, que viria a ter
repercussões noutros museus do país, promovendo e incentivando a
colaboração destes com as escolas. Verifica-se, assim, que paralelamente à
relevância então dada à conservação e estudo das coleções, voltava a
equacionar-se o potencial educativo dos museus, embora de forma limitada.
Com efeito, mais do que a população, em geral, procurava atingir-se
preferencialmente, como público-alvo, o grupo escolar e, dentro destes, os
mais novos, crianças e adolescentes (Mendes, 2009, p. 676).
Ao longo das últimas décadas, tomando por referência a explosão museológica
verificada no nosso país a partir da década de 80 do século XX, a preocupação dos
museus relativamente a questões como a da cidadania ativa e inclusiva bem como da
educação para a cultura, tem favorecido o desenvolvimento dos serviços educativos. Os
profissionais dos museus portugueses têm dado relevância constante à função educativa
dos museus. Esta temática é das mais abordadas e divulgadas no meio da museologia
(Filipe, 2011), prova disso são as publicações, conferências, seminários e jornadas, que
se têm realizado nos últimos tempos sobre os serviços educativos. Também o
aparecimento de cursos de formação e especialização em museologia durante os anos 90
permitiu dar início a um processo de qualificação dos técnicos com reflexos expressivos
na área da educação (Gomes & Lourenço, 2009).
A política museológica também tem contribuído para a criação e expansão dos
serviços educativos, vejamos os princípios definidos pela Lei-Quadro dos Museus
Portugueses, nº 47/2004, de 19 de Agosto, a função de “educação” é definida como uma
função museológica essencial e no artigo 42.º estabelece-se a obrigatoriedade de o
museu desenvolver “de forma sistemática programas de mediação cultural e atividades
39
educativas que contribuam para o acesso ao património cultural e às manifestações
culturais.” No ponto 2, do mesmo artigo menciona que “o museu promove a função
educativa no respeito pela diversidade cultural tendo em vista a educação permanente,
a participação da comunidade, o aumento e a diversificação dos públicos.” O ponto 3
ainda nos acrescenta “ os programas referidos no nº 1 do presente artigo são
articulados com as políticas públicas sectoriais respeitantes à família, juventude, apoio
às pessoas com deficiência, turismo e combate à exclusão social”.
De acordo, com os pressupostos da lei referida, consideramos a definição de Clara
Camacho (2007) a que melhor define o conceito de “serviço educativo” em relação com
a função de “educação”:
(…) uma estrutura organizada, dotada de recursos mínimos, designadamente
pessoal, inscrita organicamente no museu em que se insere, mesmo que de
maneira informal, que desenvolve ações dirigidas ao público, com objetivos
educativos. Ao serviço educativo compete o cumprimento da função
museológica de educação, uma das indispensáveis funções inerentes ao
conceito de museu, que se articula com as restantes funções museológicas de
estudo e investigação, de incorporação, de inventário e de documentação, de
interpretação e de exposição. (Camacho, 2007, p.28).
Segundo o estudo coordenado por José Neves (2013) – O Panorama Museológico
em Portugal: os Museus e a Rede Portuguesa de Museus na primeira década do Século
XXI, o serviço educativo desempenha um papel cada vez mais relevante de mediação
entre as atividades do museu e os seus públicos e, de modo mais geral, entre a
instituição e a comunidade em que se insere. Dada a importância do serviço educativo
na estrutura orgânica dos serviços do museu, um dos requisitos à credenciação dos
museus pela Rede Portuguesa de Museus é a existência de um serviço educativo,
regulamentado pelo Despacho Normativo n.º 3/2006 publicado no DR I série-B, 25 de
Janeiro.
Podemos verificar através do gráfico 1 como tem sido a evolução da criação dos
serviços educativos durante um período de 10 anos.
40
Gráfico 1: Museus com Serviço educativo por ano2000-2009 (Fonte: Neves, 2013)
As conclusões a que este estudo chegou foram que em 2009 são 62% os museus que
afirmam ter este serviço, o que representa, relativamente a 2000 (44%) um crescimento
de 18 pontos percentuais. Note‑se que, apesar da evolução positiva evidenciada, não
deixa de ser relevante o facto de em 2009 cerca de 40% dos museus ainda não ter este
serviço disponível. Com os dados do gráfico podemos certamente comprovar que a
criação e evolução dos serviços educativos portugueses se relacionam com o quadro
evolutivo dos próprios museus e na mudança de paradigma museológica dos últimos
anos (Camacho, 2007).
Na tabela seguinte podemos ver a distribuição do serviço educativo dos Museus, por
tipologia
Tipologia
Tem serviço educativo O serviço educativo está formalizado na lei
orgânica
Total Sim Não Total Sim Não
Total 392 297 95 297 142 155
Museus de Arte 84 65 19 65 35 30
Museus de Arqueologia 34 24 10 24 9 15
Museus de Ciências Naturais e de História
Natural 7 7 0 7 4 3
Museus de Ciências e de Técnica 29 23 6 23 13 10
Museus de Etnografia e de Antropologia 59 38 21 38 18 20
Museus Especializados 48 37 11 37 17 20
Museus de História 47 36 11 36 11 25
Museus Mistos e Pluridisciplinares 63 52 11 52 29 23
Museus de Território 14 11 3 11 5 6
Outros Museus 7 4 3 4 1 3
Fonte: INE - Inquérito aos Museus 2014
Tabela 2 - Serviço educativo dos museus em 2014, por tipologia
41
Apesar de existir uma evolução na implementação dos serviços educativos nos
museus, e se compararmos com os dados do gráfico 1, pode-se dizer que houve um
aumento de 16 % num período de 4 anos, no entanto ainda 24% dos museus
considerados para este estudo, não têm um serviço educativo a funcionar.
Por outro lado, dos 76% que possuem o respetivo serviço, 52% não estão
formalizados na lei orgânica. A conclusão a que podemos chegar perante esta análise é
que ainda existe algum caminho a percorrer na implementação dos serviços educativos
nos museus.
Para isso é preciso tomar consciência, que o serviço educativo nos museus funciona
como um recurso, para melhorar o seu nível de comunicação na área da educação,
através da dinamização de atividades, oficinas, ateliers e criação de materiais
pedagógicos, mantendo também formas de colaboração e de articulação com o sistema
de ensino. Estes recursos pedagógicos proporcionam aos participantes das atividades
vivenciar um maior número de conhecimentos e de experiências como a imaginação, a
criatividade, construindo o seu conhecimento. Podemos assim dizer que os serviços
educativos dos museus podem ser considerados a ponte entre as instituições
museológicas e a sociedade, e para cumprir com este papel trabalham estratégias que
proporcionam e facilitam o intercâmbio de informação e conhecimento entre o museu e
os visitantes. Só desta maneira se pode construir um espaço de educação permanente e
simultaneamente com experiências sociais e culturais.
Como já foi referido anteriormente, os museus eram vistos como locais de
preservação do património cultural e de memória, com um público elitista. Os museus
deixaram de ser espaço destinado apenas aos eruditos, especialistas e investigadores e
começaram a ser frequentados por pessoas provenientes de diferentes grupos,
independente do seu grau de instrução ou idade (Figurelli, 2015). A mudança de
mentalidades no seio da sociedade, também se refletiu nas entidades museológicas,
criando outras vertentes como culturais, científicas, educativas e sociais. O que nos
permite afirmar que os museus abriram as suas portas para um público de massas. A
mesma autora ainda refere que há estudiosos do tema que acreditam que foi justamente
a criação de ações educativas que auxiliaram no processo de aproximação entre os
públicos e as coleções.
Assim sendo, uma nova competência é atribuída aos museus, planificar e organizar
as suas atividades, preparar e criar materiais didático/pedagógicos para utilizar nas
42
visitas com os visitantes/públicos, não esquecendo os seus interesses e motivações, e
compete ainda ao serviço educativo desenvolver estratégias de mediação artística e
cultural, numa perspetiva de educação não-formal, onde os museus podem ser um
espaço de aprendizagem, de interpretação e de construção social e cultural, e onde todos
são construtores/geradores do conhecimento.
4.1 O Educador e a Mediação nos Museus
Os novos tipos de museus com tendências para dar respostas às mudanças sociais,
têm apostado no aumento da profissionalização e especialização da equipa de trabalho,
quer para criar exposições multifacetadas quer para exposições mais vanguardas com
abordagens tecnológicas. O resultado é que vemos neste novo conceito de museus, a
responsabilidade pelo planeamento e desenvolvimento das exposições ser compartilhada
entre vários profissionais, que através dos seus pareceres, tornam o processo inclusivo.
Para além do curador (fornece experiência académica com base no conhecimento da
coleção e define o conceito geral da exposição) e do designer (responsável pela
aparência visual e que garante que o material é exposto de uma forma atraente,
compreensível e divertida), o educador é um especialista que compreende as formas
pelas quais as pessoas aprendem, as necessidades educacionais, bem como a relação
entre o programa e as atividades de outras instituições de ensino, incluindo as escolas.
Além do consenso, como parte de um processo, a parte mais inovadora da abordagem
de equipa de exposições foi a inclusão e formalização do papel dos educadores de
museus.
Sobre o papel e a responsabilidade de um educador ou “especialista em educação de
museus”, como alguns autores denominam, a Museums & Galleries Comission, refere:
A responsabilidade pela criação, implementação e avaliação da política e do
plano de trabalho deverá ser atribuída a um profissional integrante da
instância diretiva do museu. Ele (a) deverá ocupar uma posição que inclua
responsabilidade pelo cumprimento dos objetivos primordiais do museu e,
idealmente, deverá ser um (a) especialista em educação em museus (Museums
& Galleries Commission, 2001)
Portanto, combinar os objetivos do museu, envolvendo toda a equipa na criação de
estratégias para o desenvolvimento do público, garantem assim que os museus
43
continuem a adaptar-se a todos os diferentes grupos na comunidade. “A contribuição do
responsável pela área educativa é necessária em todas as atividades do museu”
(Museums & Galleries Comission, 2001). É na maioria dos casos a avaliação do plano
de atividades do educador que irá verificar o sucesso da exposição no cumprimento dos
seus objetivos em relação à comunicação com os visitantes.
Os museus são centros de conhecimento, e a sua missão é oferecer uma experiência
educacional, de acordo com os seus visitantes. Algumas pesquisas mostram que a
qualidade da coleção não é o principal fator de decisão de visitar um museu que possa
atrair potenciais visitantes. O que pesa mais nas decisões para fazer a visita tem mais a
ver com o “ambiente” do museu como um todo, e a interação que o museu pode
oferecer aos visitantes é um fator chave. Isto também significa que os museus são parte
de uma indústria de serviços de lazer, que procuram a satisfação do cliente, sendo mais
valorizados os serviços com as experiências de lazer que assegurem satisfação
instantânea, e no caso dos museus momentos agradáveis em uma ambiente educacional.
Atingir os sentimentos dos visitantes como forma de envolvê-los na exposição não é
apenas uma “manobra” museológica usada para atrair e emocionar os visitantes é
também uma caraterística de diferenciação de produtos e serviços fundamentada por um
conceito denominado “Economia da Experiência” desenvolvido pelos autores Pine e
Gilmore em 1999 (Silva e Santos, 2011). Este conceito foi concebido nos Estados
Unidos com a publicação da obra The Experience Economy, como podemos ver na
figura 4 revela que os componentes emocionais terão mais valor do que os racionais no
momento da decisão da escolha de um produto ou serviço. Na economia da experiência
um fornecedor de serviços deve incluir sensações memoráveis nas suas atividades.
44
Figura 4 – Modelo “Experience Economy”, adaptado J. Pine and J. Gilmore, 1999
A combinação de diferentes dimensões experienciais delineadas pelos eixos
horizontais e verticais como mostra a figura, definem os quatro domínios das
experiências propostas por estes autores (Entretenimento, Estética, Escapismo e
Educação)
José Amado Mendes também indica causas para a regeneração educativa dos
museus. As causas de ordem científica, que se relacionam com o progresso da ciência,
psicologia, história e tecnologia, de ordem pedagógica, que se prendem com ideia de
educação permanente, de ordem didática, que se relacionam com a evolução dos
métodos educativos e, finalmente de ordem tecnológica e civilizacional, que se prendem
com as novas tecnologias e o seu papel transformador nos museus (Mendes, 2013, p.
37-38).
Teresa Eça (2010) refere o museu como espaço de diálogo, qualquer que seja o seu
acervo, o tipo de diálogo é que pode ser diferente de instituição para instituição.
Podemos ainda acrescentar que o “diálogo” entre o homem e objeto musealizado
depende da abordagem escolhida pelos profissionais do museu para intermediar a ação
(Gabriele, 2014).
45
4.2 Museus e Público
Criar públicos que, mais que utilizadores, sejam participantes e “revisitantes”.
(Silva, 2006)
Os museus do Século XXI dão importância à comunicação com o seu público. Esta é
uma das tendências mais significativas nas últimas décadas na teoria e na prática
museológica, tem sido a orientação para os visitantes (Vlachou, 2013). Nos últimos 30
anos, o tema de maior interesse para os responsáveis dos museus tem sido o estudo de
públicos, têm-se realizado vários estudos quer pelos próprios museus, organizações
culturais ou entidades públicas12
que têm como finalidade conhecer o seu público para
melhorar serviços, exposições e programa de museus.
No entanto, o conceito que o público tem dos museus é diverso, para algumas
pessoas pode ser um visto como um lugar fechado, escuro e aborrecido, para outras o
museu pode ser cultura, conhecimento, um espaço para aprender e apreciar. Mesmo
assim porque alguns museus estão ”despovoados”? Porquê muitas pessoas não vão aos
museus?
Segundo um inquérito do Eurobarómetro da Comissão Europeia (2013) sobre acesso
à cultura e participação cultural, o primeiro nesta área desde 2007, de acordo com o
gráfico 2, os portugueses são os cidadãos da União Europeia com taxas mais baixas de
participação em atividades culturais. Conforme podemos verificar no gráfico 3, 51% da
população aponta a falta de interesse de visitar um museu ou galeria, como a principal
razão da baixa participação cultural. O segundo motivo com uma representação de 23%
dos portugueses dizem não ter ido aos museus e galerias por falta de tempo.
12 Em dezembro de 2014 foi lançado o 1º grande estudo nacional de públicos de museus realizado pela Direcção-Geral do Património Cultural (DGPC). Durante um ano, até Dezembro de 2015, 14 instituições da rede nacional de museus estiveram
envolvidas no levantamento de dados através de um questionário online que um em cada dez visitantes foi convidado a preencher.
46
Gráfico 2
Gráfico 3
(Fonte: Jornal “Público”, 2013)
Gráficos 2 e 3 – Dados do estudo Eurobarómetro sobre acesso à cultura e participação cultural
Androulla Vassiliou13
comenta sobre este inquérito:
“A cultura é uma fonte de satisfação pessoal, criatividade e alegria. Preocupa-me o
facto de um número reduzido de cidadãos da UE estar em envolvidos em atividades
culturais, como artistas intérpretes ou executantes, produtores ou consumidores. Esta
pesquisa mostra que os governos precisam repensar como eles apoiam a cultura para
estimular a participação pública e o potencial da cultura como motor de emprego e
crescimento. Os setores culturais e criativos também precisam se adaptar para
alcançar novos públicos e explorar novos modelos de financiamento”. (Vassiliou,
2013)
Um dos principais objetivos dos museus atualmente é atrair este grande número de
público que não frequenta os museus. A conjuntura económica desfavorável nos últimos
anos atingiu também as instituições museológicas, forçando-os a reconsiderar uma
gestão, por vezes, muito influenciada pela tradição, que não estimulava a visita aos
museus. Daí a importância das pessoas, de todas as idades, que vão pela primeira vez
aos museus, participarem em atividades próprias para elas. Hoje mais do que nunca, os
museus abrem as suas portas, tentam sair para a rua e ir ao encontro das pessoas e
satisfazer as suas expetativas.
Dificilmente, e com grande esforço, a maioria dos museus mantem visitantes em três
sectores clássicos: grupos escolares, aposentados e turistas.
13 Comissária Europeia para a Educação, Cultura, Multilinguismo e Juventude em 2013.
47
Tipologia Número de
museus
Visitantes, dos quais: Visitantes
Total
Inseridos em
grupos
escolares
Estrangeiros Com entrada
gratuita
Em exposições
temporárias
Total 392 11 749 732 1 525 223 4 289 128 4 628 748 6 053 137
Museus de Arte 84 3 223 282 380 851 1 236 444 1 727 866 2 029 598
Museus de Arqueologia 34 664 943 60 869 294 975 307 243 379 945
Museus de Ciências Naturais e de História Natural 7 88 095 18 907 22 216 42 152 45 647
Museus de Ciências e de Técnica 29 858 801 271 548 95 135 354 075 482 076
Museus de Etnografia e de Antropologia 59 476 503 101 999 80 805 251 307 269 768
Museus Especializados 48 1 900 336 179 606 533 335 711 260 1 351 138
Museus de História 47 2 929 596 266 879 1 725 560 573 426 780 611
Museus Mistos e Pluridisciplinares 63 802 057 152 026 155 661 428 363 508 088
Museus de Território 14 445 240 71 243 64 340 212 953 205 414
Outros Museus 7 360 879 21 295 80 657 20 103 852
Tabela 3 - Visitantes dos Museus, por tipologia (Fonte: INE- Inquérito aos Museus 2014)
Com base nos dados da mesma fonte, do total de visitantes, 36,5% eram estrangeiros
(4,3 milhões de pessoas) e 13% dos visitantes estavam inseridos em grupos escolares.
Mais de metade (51,5%) visitou as exposições temporárias dos museus e 39,4%
entraram gratuitamente.
Desta forma, as instituições museais devem considerar que o seu público visitante
pode ser constituído por uma infinidade de segmentos destacados pelos museum studies
como: famílias, estudantes e professores, profissionais, especialistas, turistas, grupos
organizados, nichos de público (aposentados, imigrantes, pessoas com necessidades
especiais ou mobilidade reduzida), dentre outros, os quais se apresentam definidos por
características específicas (Andrade, 2010).
A propósito desta ideia:
A noção de públicos culturais apresenta-se, assim, hoje talvez como nunca, no
entrecruzamento de diversas problemáticas de mudança e permanência das
sociedades contemporâneas em contexto de globalização (Santos, 2003 p.76).
Silva (2011) referia que a “Nova Museologia”, com o grande enfoque que deu ao
papel social dos museus e a esta necessidade de eles se voltarem para a sociedade que
representam passaram a dirigir-se para a relação com os públicos. Esta corrente
compromete-se com as questões sociais e concebe o museu como um lugar de encontro
48
que apela à participação ativa cultural. Na nova museologia as instituições museais com
a aproximação à comunidade deixam de ser vistas como organizações imóveis, mas
como agente de intervenção social. O alargamento da missão educativa do museu
implicou também a ampliação e diversificação dos públicos-alvo aos quais dirigir os
seus serviços e programas (Silva, 2011).
É importante também analisar as orientações da Direção-Geral do Património
Cultural - através do Departamento de Museus, Conservação e Credenciação (DMCC) e
da Divisão de Museus e Credenciação (DMC) - referidas no formulário para
credenciação de museus publicadas no Despacho normativo nº 3/200614
. Como
podemos verificar este documento “exige o cumprimento de todas as funções
museológicas enunciadas na Lei-quadro”, defendendo de igual modo a democratização
da cultura e a função de educar com vista ainda ao “aumento e à diversificação dos
públicos”. O formulário de credenciação está dividido em itens, destacando-se aqui o
segundo que se intitula “Cumprimento das funções museológicas”. Nas instruções de
preenchimento é explicado ao museu candidato a informação que deve declarar. Sobre a
função “Educação”, estes são os aspetos considerados:
“16 – Educação:
16.1 – Colaboração com o ensino – indicar quais as formas regulares de colaboração
do museu com as escolas para efeitos da promoção de atividades educativas.
16.2 – Tipos de público – informar sobre os diferentes tipos de público nas atividades
educativas habitualmente realizadas pelo museu” (Despacho normativo n.º 3/2006).
A verificação da qualidade técnica do cumprimento da função “Educação” nos
museus valoriza a correlação com o público escolar. O segundo, e último ponto, –
“Tipos de público” – informar sobre os diferentes tipos de público nas atividades
educativas habitualmente realizadas pelo museu, estabelece uma ligação com os
diversos públicos e as atividades educativas realizadas. Estas indicações podem servir
para inspirar a organização dos serviços educativos e ajudar na elaboração do seu Plano
de Ação Educativa (PAE).
14
“De acordo com o artigo 110.º da Lei-quadro dos Museus Portugueses, a credenciação consiste na avaliação e no reconhecimento
oficial da qualidade técnica dos museus, tendo em vista a promoção do acesso à cultura e o enriquecimento do património cultural,
através da observância de padrões de rigor e de qualidade no exercício das funções museológicas. A qualidade nos museus constitui o objetivo axial da respetiva credenciação, aspeto com repercussão, seja na salvaguarda e valorização dos bens culturais neles
incorporados seja no aumento e na diversificação dos públicos”.
49
Atualmente existe a preocupação de diversas instituições em oferecer serviços e
produtos acessíveis a todo o público. Como não poderia deixar de ser, os museus e
instituições culturais têm procurado investir na melhoria da acessibilidade. Os museus
precisam ser acessíveis, para atender às necessidades informacionais diversas do
público que as procura. Para um museu ser acessível, é necessário que acolha um maior
número de pessoas em atividades, que tenha instalações adequadas para atender cada
um, conforme as suas diferenças físicas, sensoriais, linguísticas; incluindo a isso a
acessibilidade digital e tecnológica de forma organizada. Os conceitos de acessibilidade
e design universal são apresentados com os apoios na construção de espaços inclusivos.
A acessibilidade no museu é fundamental para que todos os visitantes se sintam
incluídos na sociedade, devendo existir uma preocupação, por parte dos profissionais
dos serviços educativos, em adequar os seus espaços para acolher todas as diversidades
de visitantes.
À luz da “Nova Museologia”, o museu é um espaço que legitima, valoriza, conserva
e promove bens culturais, mas permite também educar, gerar modos de ver e de
vivenciar esse património – o museu afirma-se hoje como um espaço de cultura e como
agente educativo, cujas funções, a de comunicar e de educar, evidenciam uma crescente
preocupação social.
Segundo Vlachou (2011), no artigo publicado no seu blog “Mudanças: Estaremos
suficientemente atentos?”:
A existência de museus, galerias, salas de espetáculos, centros culturais não
faria sentido se não houvesse público. São lugares de encontro entre os
artistas e as pessoas. São espaços de estímulo, diálogo, confronto, emoções;
espaços de descoberta, aprendizagem, entretenimento. São também espaços
onde as pessoas entram de livre vontade e não por obrigação; e são também
livres de gostar de experiência ou não, de voltar ou não. A preocupação em
criar acesso a estas experiências para cada vez mais pessoas tem a ver com a
missão desses espaços, a sua razão de existir; mas é também uma necessidade
(Vlachou, 2011).
Assim, poderemos considerar que os elementos básicos da criação de público são as
ações que fazemos para envolver as pessoas, atender às suas necessidades e interesses, a
fim de criar uma experiência que faça sentido para todas elas.
50
5 Museus das Universidades Portuguesas
“As universidades detêm uma larga tradição na constituição de museus e coleções”
(Marta Lourenço, 2005)
As universidades são grandes fontes de património de ciência e tecnologia. O
reconhecimento do valor patrimonial, histórico, científico, cultural e socioeconómico
das coleções universitárias deve-se à imensa diversidade das mesmas. (Felismino,
2014). Por sua vez, guardam uma larga tradição na constituição de museus e coleções,
destinadas inicialmente à produção e transmissão de conhecimento científico e
reconhecendo desde o final do século XVI à atualidade, características e tipologias
específicas que os distinguem dos restantes museus (Lourenço, 2005).
Apesar dos problemas associados com museus e coleções universitárias e património
universitário, terem sido identificados há bastante tempo, o surgimento de grupos
organizados e associações é um fenômeno recente. Nos últimos 16 anos assistimos à
criação de dois grupos internacionais dedicados à promoção e valorização dos museus e
coleções das universidades: a rede Europeia UNIVERSEUM15
, criado pela Declaração
de Halleem 2000, relacionada com o património universitário no seu conjunto apenas a
nível europeu e o Comité para Museus e Coleções Universitárias (UMAC16
), fundada
em 2001 pelo ICOM, com a especificidade coleções e museus universitários por todo o
mundo.
Segundo Felismino (2014) a valorização deste património não teria sido possível sem
a emergência e afirmação, da investigação académica sobre museus e coleções
universitárias, em particular no âmbito dos estudos de museologia, história de arte e
história da ciência. No que diz respeito aos acervos universitários de natureza científica,
é de realçar o trabalho de Fernando Bragança Gil17
. Atualmente podemos destacar os
15European Academic Heritage Network http://universeum.it/ acesso a 19 de dezembro de 2011; 16http://icom.museum/the-committees/international-committees/international-committee/international-committee-for-university-museums-and-collections/ acesso a 19 de dezembro de 2011.
51
estudos de Marta C. Lourenço18
acerca do património da Universidade de Lisboa19
e, de
uma forma geral, sobre o património universitário português.
Atravessa-se, na atualidade e à escala global, um momento-chave na história das
coleções e museus das instituições de ensino superior que conhecem um crescente e
renovado interesse por parte do público, dos governos e da academia (Felismino, 2014).
As universidades de Lisboa, Porto e Coimbra possuem museus de ciência, que
têm realizado importantes tarefas na divulgação do conhecimento científico entre a
população (Granado e Malheiros, 2015).
A Universidade de Coimbra é detentora de um importante e único património
científico, que foi acumulando ao longo dos séculos (Mota, 2008). Assumindo
particular relevância mundial, as coleções de instrumentos científicos e objetos de
história natural da Universidade de Coimbra são as mais antigas e significativas em
Portugal tendo o seu núcleo forte tido origem na Reforma Pombalina da Universidade
ocorrida no último quartel do século XVIII, e que estabeleceu as bases para o ensino e
investigação científica moderna em Portugal. A intervenção do Marquês de Pombal
permitiu a criação de novas faculdades e a construção de equipamentos apropriados ao
ensino das ciências, utilizando os edifícios jesuítas que reconstruiu e recriou. Assim,
deu origem ao primeiro museu universitário português, o Gabinete de História Natural,
localizado no Colégio de Jesus, juntamente com o Gabinete de Física, o Teatro
Anatómico, o Dispensatório Farmacêutico e, noutros locais, o Laboratorio Chimico, o
Observatório Astronómico e o Jardim Botânico (Museu da Ciência da Universidade de
Coimbra, 2016).
Atualmente, o Museu de Ciência da Universidade de Coimbra inclui o famoso
Laboratorio Chimico, o Gabinete de Física Experimental, o Gabinete de História
Natural, além das coleções do Observatório Astronómico de Coimbra, das coleções de
mineralogia e geologia, de zoologia, de botânica, de antropologia, de farmácia e de
medicina.
O Museu da Ciência recebeu já várias distinções e prémios nacionais e
internacionais20
. Destacamos aqui alguns que consideramos ser relevantes: os atribuídos
18 Subdiretora dos Museus da Universidade de Lisboa. Responsável pelas Coleções Históricas. Coordenadora Nacional do PRISC
(Portuguese Research Infrastructure of Scientific Collections) é atualmente presidente da UMAC, membro fundador da
UNIVERSEUM; 19 Coordenadora do livro "Universidade de Lisboa: Museus, Coleções e Património", lançado em 13 de dezembro de 201; 20http://www.museudaciencia.org/index.php?module=content&option=museum&action=awards.
52
pela APOM - Associação Portuguesa de Museologia (em 2016 a menção honrosa para o
museu da ciência, em 2013 a menção honrosa ao serviço educativo do museu da ciência
e em 2010 acumulou dois prémios: o de melhor serviço de extensão cultural e melhor
aplicação e gestão de multimédia); Micheletti Award21
2008 que distingue (entre cerca
de 50 museus europeus) o melhor e mais inovador museu em ciência, técnica e indústria
atribuído pelo European Museum Forum22
.
Sobre este prémio, Paulo Gama Mota, na altura Diretor do Museu da Ciência da
Universidade de Coimbra, escreveu:
A atribuição do Micheletti Award foi motivo de grande satisfação pelo
reconhecimento de que um museu universitário no sul da Europa pode realizar
um trabalho qualificado, profissional, visualmente apelativo e
museologicamente eficaz e ver esse trabalho reconhecido por um dos mais
exigentes júris (Mota, 2008).
O autor ainda refere que os juízes felicitaram ainda o museu pelo vivo programa
educativo e pela sua preocupação em trabalhar com públicos com necessidades
especiais.
O Museu Nacional de História Natural e da Ciência é a designação pública da
unidade Museus da Universidade de Lisboa, criada em outubro de 2011, que funciona
na Rua da Escola Politécnica, em Lisboa. Integra as coleções dos seus museus
antecessores, os antigos edifícios da Escola Politécnica, o Jardim Botânico (no mesmo
local) e o Observatório de Lisboa (na Tapada da Ajuda, junto ao Instituto Superior de
Agronomia). Atualmente os Museus são uma unidade especializada da Universidade de
Lisboa, mas teve a sua origem no Real Museu de História Natural e Jardim Botânico,
criado na segunda metade do século XVIII, na Ajuda (Lisboa). Foi depois alojado, por
um curto espaço de tempo, na Real Academia das Ciências e finalmente transferido para
a Escola Politécnica (1858), tomando primeiro a designação de Museu Nacional de
Lisboa (1861). O Jardim Botânico de Lisboa foi inaugurado em 1878. Em 1911, com a
criação da Universidade de Lisboa, o Museu foi declarado estabelecimento anexo à
Faculdade de Ciências, tomando a denominação de Museu Nacional de História Natural
(1926). O Museu de Ciência da Universidade de Lisboa fundado em 1985, tendo sido só
reconhecido como instituição em 1990, foi a primeira instituição museológica criada em
Portugal com características dos centros de ciência, ou seja, que se procura em
21 Os prémios Micheletti foram criados em 1996, com o objetivo de reconhecer publicamente a excelência dos museus europeus
vocacionados para a ciência e a indústria, tendo surgido da cooperação estreita entre a European Museum Academy e a Fundação Luigi Micheletti, uma referência em termos de arqueologia industrial na Itália; 22 Atualmente é European Museum Academy – EMA.
53
combinar o aspeto histórico das ciências exatas com a vertente participativa e interativa.
Passou a partilhar o espaço do Edifício da Politécnica com o Museu Nacional de
História Natural. Em 2003 passaram a ser tutelados diretamente pela Reitoria da
Universidade de Lisboa.
No Porto, podemos listar o Museu de História Natural e da Ciência da
Universidade do Porto (MHNC-UP), estabelecido formalmente no final de 2015, como
resultado da fusão do Museu de História Natural da Universidade do Porto e do Museu
da Ciência/Núcleo da Faculdade de Ciências da mesma universidade (ambos
originalmente a funcionar desde 1996) e o Museu da Faculdade de Engenharia do Porto
fundado em 2004.
O MHNC-UP encontra-se organizado segundo uma estrutura bipolar que integra um
polo central localizado nas instalações do Edifício Histórico da Reitoria da U. Porto, e
outro, que inclui a Galeria da Biodiversidade – Casa Andresen e o Jardim Botânico do
Porto. O Polo central do MHNC-UP alberga as coleções históricas de geologia,
paleontologia, zoologia, arqueologia e etnografia, botânica e ciência. Neste momento
está a decorrer um projeto de conceptualização e reestruturação do MHNC-UP,
desenvolvido em plena articulação coma Agência Ciência Viva. É o primeiro a nível
nacional que prevê e resulta do diálogo entre um Museu e um Centro Ciência Viva
(CCV). Este projeto permitirá a abertura ao público em pleno século XXI de um museu
universitário com décadas de história que renascerá como um híbrido entre um museu
moderno e um CCV com objetivos claros ao nível de três eixos fundamentais:
divulgação e educação, conservação e investigação (MHNC-UP, 2016).
Segundo um artigo publicado no Jornal “Público”23
No Museu de História Natural da Universidade do Porto, começará a ser
criado um novo espaço "de divulgação científica de referência internacional,
através do recurso a uma filosofia museográfica inovadora que prevê o
cruzamento entre a ciência e a arte como formas de apreensão da natureza e
da realidade (Público, 8 de setembro de 2016).
O financiamento deste projeto é de fundos comunitários que apostam na criação de
um novo museu de promoção da cultura científica e tecnológica da região norte, sendo
visto como um potencial para atrair 200 a 300 mil turistas por ano para a cidade e
região. Pretende-se assim assumir no futuro como “um museu de portas abertas à
comunidade a todos os níveis” (Jornal “Público”, 2016).
23https://www.publico.pt/2016/09/08/local/noticia/universidade-do-porto-recebe-19-milhoes-para-museu-de-historia-natural-e-da-
ciencia-1743515.
54
6 O papel dos museus e universidades na promoção e divulgação da
cultura científica
No que respeita à promoção da cultura científica, através de museus e exposições, as
primeiras iniciativas provêm do meio universitário e de docentes empenhados nesta área
(Delicado, 2006). Podemos partir do exemplo de Fernando Bragança Gil, um pioneiro e
visionário nos assuntos que ligados ao museu de ciência, e como referem Eiró &
Lourenço (2010)24
“teve uma vida profundamente preenchida e totalmente dedicada à
cultura e à educação”, foi conhecido como professor, investigador, museólogo e
divulgador de ciência. Concebeu e promoveu a criação do Museu de Ciência da
Universidade de Lisboa, tendo sido integralmente responsável pelo programa científico,
pedagógico e museológico deste museu, bem como seu diretor entre 1985 e 2003.
Publicou vários trabalhos, cobrindo as áreas da física, física aplicada, ensino superior,
divulgação da ciência, história da ciência, museus e museologia (Eiró e Corte- Real,
2010).
O Professor F. Bragança Gil já mais abandonou a ideia de criar um museu de ciência
em Lisboa que “contribuísse para estimular a cultura científica da população, em
particular a curiosidade dos jovens, e apresentasse, de uma forma acessível, os
fundamentos da Ciência (Eiró e Corte- Real, 2010). Promover a divulgação científica
sempre o cativou, como podemos ler no texto de apresentação do Museu de Ciência da
Universidade de Lisboa, escrito pelo professor em 1997:
O Museu de Ciência da Universidade de Lisboa é, assim, uma instituição, com
o objetivo de promover a divulgação científica e sensibilização para a
importância da Ciência na sociedade atual, não apenas como base da
Tecnologia mas igualmente pelo seu valor como elemento essencial da cultura
contemporânea. Quer dizer, ele procura promover o aumento da literacia
científica, de essencial importância por razões de natureza intelectual, cultural
e, mesmo, económica e social” (Eiró e Corte- Real, 2010).
Por considerar que os museus de ciência tradicionais e os centros de ciência são
complementares, segundo os mesmos autores:
(…) foi dos primeiros autores da comunidade museológica internacional a
integrar e contextualizar os centros de ciência na história dos museus.
Chamava aos primeiros – os museus de tipo contemplativo, que apresentam
equipamento histórico-científico de forma mais tradicional – “museus de
ciência de primeira geração” e aos centros de ciência “museus de ciência de
segunda geração (Eiró e Corte- Real, 2010).
24 Nota de Abertura de Eiró, A.M., Corte-Real, L (orgs.) (2010). Fernando Bragança Gil e o Museu de Ciência da Universidade de
Lisboa, Museu de Ciência da Universidade de Lisboa.
55
Segundo as mesmas autoras, para ele a solução estava em integrar estes dois tipos de
museus para se conseguir um museu que contribuísse para a cultura científica dos
cidadãos. Era o museu que desenvolveu teoricamente e tentou implementar no Museu
de Ciência da Universidade de Lisboa “museu de ciência de terceira geração”, que
incorporasse coleções de objetos que ilustrassem a evolução histórica da ciência e
tecnologia, a par de exposições de natureza interativa e participativa dirigidas para a
compreensão pública da ciência”(Bragança Gil, cit. por Delicado, 2006).
Um outro impulsor da divulgação científica em Portugal, que não poderia esquecer
de referir neste trabalho, é o Prof. José Mariano Gago. Licenciou-se em Engenharia
Eletrotécnica, em 1971 pelo Instituto Superior Técnico. Foi considerado um ativo
promotor da ciência, do conhecimento da história dos processos e métodos científicos,
da educação e da divulgação científicas em Portugal (Arquivo de Ciência e Tecnologia
da Fundação de Ciência e Tecnologia, 2015). Ainda nessa qualidade de impulsionador,
publicou diversos trabalhos resultado da sua participação por diversas iniciativas de
difusão da ciência portuguesa na Europa. Em 1990 publicou o livro Manifesto para a
Ciência em Portugal que propunha pistas de reflexão que a prática poderia e deveria
trilhar para ultrapassar a situação nessa altura existente face à ciência (Fiolhais, 2011, p.
30).
Desempenhou vários cargos entre os quais Professor Catedrático do Instituto
Superior Técnico, Ministro da Ciência e da Tecnologia, entre 1995 e 2002 e, entre 2005
e 2011, Ministro da Ciência Tecnologia e Ensino Superior do XVIIº Governo
Constitucional. Durante estas suas funções foram promovidas atividades e iniciativas
que são até hoje grandes marcos na história da promoção e divulgação científica, entre
as quais destacam-se: O «Programa Mobilizador da Ciência e da Tecnologia», visando a
inscrição da ciência portuguesa no contexto europeu e internacional bem como a
consolidação de uma cultura de informação e de trabalho em rede entre cientistas e
instituições de ciência; o «Programa Ciência» e outras iniciativas como a «Unidade de
Missão Informação e Conhecimento» para o desenvolvimento da Sociedade da
Informação em Portugal; O «Programa Ciência Viva», criado em 1996 para promoção
da cultura científica e tecnológica da população portuguesa. (Arquivo de Ciência e
Tecnologia da Fundação de Ciência e Tecnologia, 2015). Este programa foi criado
especialmente para a melhoria da educação científica nas escolas portuguesas
proporcionando aos alunos dos ensinos básico e secundário condições para uma
aprendizagem viva das ciências (Departamento do Ensino Secundário, 1998).
56
O Professor Galopim de Carvalho é outro dos grandes nomes ligados à divulgação da
ciência em Portugal. Foi responsável pela promoção das Ciências da Terra, através de
uma ação incansável, ao longo de décadas, que passou pelas suas aulas, investigação na
Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, livros, palestras de divulgação por
todo o país e no mundo, o diligente trabalho como Diretor nos dois Museus que
antecederam ao atual MUHNAC – o Museu Mineralógico e Geológico (entre 1983 e
1992) e o Museu Nacional de História Natural (entre 1992 e 2003), e noutros locais
pelas suas sábias intervenções na imprensa escrita, na internet, na rádio e na televisão.
Ficou sobretudo famoso pela organização da exposição sobre dinossauros-robôs que,
em 1992, levou à Rua Politécnica mais de três centenas e meia de milhares visitantes e
pela sua defesa das pegadas dos dinossauros de Carenque25
, às portas de Lisboa.
Ganhou inúmeros prémios sendo um dos mais recentes, em 1 de julho de 2016, a
distinção com a medalha municipal de mérito científico da Câmara Municipal de
Lisboa.
Se por um lado a ciência tem vindo a ser encarada por como um fator de interesse
por muitos especialistas, por outro lado, observa-se um desinteresse por carreiras e
disciplinas de ciências entre os alunos.
Na lição síntese apresentada para as suas Provas de Agregação, Maria Isabel Martins
(2003) faz referência a vários estudos que comprovam o desinteresse dos jovens pela
aprendizagem das ciências e tecnologias, assim como estudos que comprovam o
desinteresse do público face à ciência mesmo em sociedades de elevado nível
económico e de escolarização. A mesma autora chama este fenómeno social de
“movimento anti - ciência que segundo ela tem merecido atenção de muitos cientistas
dando destaque a Dias de Deus26
. Neste quadro de inquietação é emergente fazer uma
articulação entre a ciência e a sociedade, ou seja, desenvolver a literacia científica que
permita a qualquer cidadão “conhecimento e compreensão de conceitos científicos bem
como de processos necessários para a tomada de decisões a nível pessoal, para a
participação em assuntos cívicos e culturais e ainda produtividade a nível económico”
(National Research Council, cit. Martins, 2003).
25
O Núcleo Monográfico da Necrópole de Carenque é um dos núcleos do Museu Municipal de Arqueologia e encontra-se aberto ao
público, de forma permanente, desde 1999, na freguesia da Falagueira, concelho da Amadora; 26 Jorge Dias de Deus é professor catedrático IST (aposentado). Já publicou diversos artigos a nível nacional e internacional e tem
sido um divulgador da ciência e das tecnologias no geral. Para além da sua atividade de investigação, preocupou-se sempre com o papel da ciência na sociedade. «Ciência, Curiosidade e Maldição», «Einstein...Albert Einstein. Homem, cidadão, cientista» e
«Viagens no Espaço-Tempo» foram alguns dos livros que já escreveu.
57
Segundo Martins (2003) para despertar o gosto pelo “consumo” não formal da
ciência, o ensino formal deve dar a conhecer ambientes de aprendizagem não formal das
ciências: visitas a museus e centros de ciência, exposições, parques e Jardins temáticos,
participação em debates e conferências, visionamento de filmes e documentários sobre
ciência, leitura de livros e artigos de divulgação científica. Esta articulação do ensino
formal com ambientes de educação não formal é fundamental para acentuar, sobretudo
na população mais jovem, que as aprendizagens são úteis e se aplicam no dia-a-dia. A
mesma autora ainda nos diz que nesta perspetiva, é necessária esta articulação, de modo
a promoverem a criação de uma sociedade educativa, aquela onde existe uma circulação
livre de saberes e onde cada indivíduo desenvolve as suas competências de literacia.
6.1 Os museus de ciência como os espaços de educação não-formal
Inicialmente convêm aqui esclarecer que o termo de museu de ciência aqui utilizado
é referente aos museus de ciência que englobam dois tipos: museus de história natural e
museus de ciência e indústria (ou ciência e tecnologia). Os primeiros mais ligados aos
ramos da ciência de zoologia, botânica, geologia e antropologia, enquanto os museus de
ciência e tecnologia têm por objetivo ensinar princípios de física, química e matemática
e mostrar artefactos e instrumentos que são fruto do engenho humano (Chagas, 1993).
Conforme refere Jacobucci (2008), a diferença entre os centros de ciências e os museus
de ciência é nítida, uma vez que os museus de ciência necessariamente possuem
coleções de organismos ou minerais nos seus acervos e pessoal técnico direcionado à
pesquisa científica, sendo muitas vezes possível ao visitante observar os laboratórios e
vivenciar o dia-a-dia do cientista. Temos, por exemplo, o The Field Museum em
Chicago27
onde é possível usar a videoconferência numa sala de aula, interagir com um
membro da equipe Field Museum e ver ciência acontecer ao vivo, através da câmara.
Os museus de ciência são locais de educação não formal e de ampla divulgação
científica, e por isso têm sido cada vez consagrados como locais fundamentais para o
desenvolvimento não formal das ciências, sendo as atividades educativas desenvolvidas
nesse espaço de diferentes naturezas e estratégias variadas. Segundo Jacobucci (2008),
um museu de ciência precisa estruturar suas atividades de forma que o público possa
interessar-se pelos assuntos tratados logo na primeira visita. Esta autora ainda
acrescenta que os museus de ciência também são percebidos como locais de
entretenimento e de diversão familiar e até dá como exemplos museus que ficam abertos 27
Museu da cidade Illinois, localizado no Grant Park e às margens do Lago Michigan. O museu abriga mais de 20 milhões de
espécies em coleção https://www.fieldmuseum.org/educators/virtual-visits).
58
para visita à noite, oferecem atividades de férias e chegam a realizar eventos de festas
académicas e festas de aniversário com temáticas científicas.
O objetivo é contribuir para o fortalecimento do saber científico, histórico e
universalmente acumulado, através do estímulo à curiosidade científica, da
popularização de informações significativas de ciência e tecnologia. A educação em
museus possui especificidades, as quais têm sido ressaltadas por diferentes autores
(Marandino, 2001) e elementos como espaço, tempo e objetos são considerados alguns
fatores que irão construir o diferencial da educação nesses espaços. As novas
metodologias utilizadas pelos museus são reflexos do esforço em assegurar a relação do
ser humano com o seu património natural e cultural e, no caso dos museus de ciência,
em fazer a divulgação científica (Galopim de Carvalho, 1993).
A visita aos museus de ciência poderá ser entendida enquanto figura de cidadania
cultural, onde se pratica e partilha, não só a sociabilidade no quadro da receção e
reformulação dos saberes científico-tecnológicos, mas igualmente a solidariedade,
relativamente à formação sustentada de novos segmentos de cidadãos culturais.”
(Andrade, 2010).
59
Este capítulo irá de forma sintetizada apresentar o contexto da instituição, o Instituto
Superior Técnico da Universidade de Lisboa e os Museus do IST (Museu DECivil e
Museus de Geociências). A maioria da informação aqui exposta sobre o IST foi retirada
do site oficial da instituição na internet: https://tecnico.ulisboa.pt/.
Apresenta-se uma breve história da Instituição que acolheu este projeto. Como
iremos verificar, desde a sua fundação muita coisa mudou e essas mudanças fazem parte
por ser um estabelecimento de ensino sempre em atualização constante, indo de
encontro às necessidades da sociedade e por estar ligada à história do país, que de certa
forma justificam a pertinência deste trabalho.
1 Caraterização do IST
O IST foi fundado um ano após a implantação da República, em 23 de Maio de
1911, na Boavista ao Conde Barão em Lisboa. Surgiu pela necessidade da reforma do
ensino industrial e comercial em Portugal que desdobrou o IICL em duas novas escolas,
o IST e o Instituto Superior do Comércio, atual ISEG, herdando as instalações do
extinto “Instituto Industrial”.
O primeiro Diretor do IST (1911-1922) foi o Engenheiro Alfredo Bensaúde que
promoveu uma profunda renovação nos métodos de ensino da engenharia em Portugal.
A criação do IST correspondeu assim a um desejo de mudança visível no estatuto
inédito de autonomia que lhe foi concedido. Por parte de Alfredo Bensaúde houve uma
preocupação clara de inovar, de criar desde logo uma escola com elevados padrões de
excelência e exigência, desenvolvendo uma cultura muito própria, o “espírito de escola”
que figura abundantemente nos primeiros números da revista “Técnica” e que perdura
até hoje.
CAPÍTULO II – CONTEXTUALIZAÇÃO
"Os museus não valem como depósitos de cultura ou experiências acumuladas, mas
como instrumentos geradores de novas experiências".
Carlos Drummond de Andrade (cit. Fontes & Gama, p. 17)
60
Mais tarde, com o Engenheiro Duarte Pacheco como Diretor do IST (1927- 1932),
dá-se início à construção do atual campus universitário da Alameda, em Lisboa.
Figura 5 – Perspetiva histórica da criação do IST 1836 – 1936 (Fonte: museus de geociências)
Em 1930 surge a “Universidade Técnica de Lisboa”, e o IST, é uma das quatro
Escolas que a integra. Entre 1952 e 1972 são criados em Portugal 12 centros de estudos,
três dos quais sediados no IST, abrangendo os domínios da Química, Geologia e
Mineralogia, e Eletrónica. Estes centros são responsáveis pela formação e qualificação
científica do corpo docente do IST, nomeadamente através do fomento e realização de
doutoramentos em universidades e centros de investigação no estrangeiro.
Em 23 de Maio de 2011 o “Instituto Superior Técnico” comemorou o seu centenário,
e no discurso da Cerimónia de Apresentação do Programa das Comemorações do
Centenário do IST Eduardo Marçal Grilo (2010) refere: “O Instituto Superior Técnico
veio a tornar-se numa das mais prestigiadas escolas universitárias portuguesas”. O IST,
fazendo parte hoje em dia da Universidade de Lisboa, é reconhecido nacional e
internacionalmente, como uma grande escola de engenharia, arquitetura, ciência e
tecnologia. Integra atualmente os mais prestigiados laboratórios e institutos de
Investigação, Desenvolvimento e Inovação (ID&I) e transferência de tecnologia
existentes em Portugal, cujo impacto internacional é bem patente em diversos domínios
da investigação científica. De acordo com os estatutos publicados em Diário da
República, 2.ª série — N.º185 — 25 de setembro de 2013, o Instituto Superior Técnico
(IST) é “uma pessoa coletiva de direito público, integrada na Universidade de Lisboa, e
dotada de autonomia estatutária, científica, cultural, pedagógica, administrativa,
61
financeira e patrimonial, e como instituição que se quer prospetiva no ensino
universitário, assegurar a inovação constante e o progresso consistente da sociedade do
conhecimento, da cultura, da ciência e da tecnologia, num quadro de valores
humanistas”.
O IST tem como missão contribuir para o desenvolvimento da sociedade,
promovendo um ensino superior de qualidade nas vertentes de graduação, pós-
graduação e formação ao longo da vida, e desenvolvendo atividades ID&I, essenciais
para o progresso do conhecimento, e para ministrar um ensino ao nível dos mais
elevados padrões internacionais.
A sede do IST situa-se em Lisboa, no campus universitário da Alameda que foi
construído, conforme já referido, sob a direção do Engenheiro Duarte Pacheco tendo a
obra sido concluída em 1937 por Porfírio Pardal Monteiro, que concebe o primeiro
campus autónomo de todo o sistema universitário português. O campus situa-se numa
das zonas mais centrais de Lisboa, beneficiando da rede pública de transportes, o que
facilita a mobilidade para todas as zonas da cidade. Na sua proximidade, encontram-se
inúmeros espaços comerciais, de lazer, cultura, entretenimento e desporto.
O IST dispõe de mais dois polos, no campus do Taguspark e no campus tecnológico
e nuclear. Em 2001 é inaugurado o campus em Oeiras, localizado no parque de ciência e
tecnologia do Taguspark, complexo que concentra mais de 120 empresas de base
tecnológica, um dos mais importantes polos tecnológicos do país, sobretudo na área das
tecnologias de informação e comunicação. Este campus está ligado à Alameda através
de transporte próprio, com paragens em vários pontos da cidade de Lisboa. Neste
campus está também localizada a Residência de Estudantes Prof. Ramôa Ribeiro. O
Campus Tecnológico e Nuclear (CTN) situa-se no concelho de Loures e é um dos mais
importantes pólos tecnológicos do país. Encontra-se mais vocacionado para a promoção
e realização de atividades de investigação científica de desenvolvimento tecnológico, de
formação avançada, de especialização e aperfeiçoamento profissional, para além do
dever de apoiar científica e tecnicamente o governo nos domínios da segurança nuclear
e proteção radiológica, ou os que envolvam aplicações de radiações e radioisótopos.
De acordo com os Estatutos do IST, organiza-se em departamentos, que são unidades
de ensino e investigação correspondentes a grandes áreas do conhecimento conjugando
o ensino do 1.º, 2.º e 3.º ciclos, a especialização e a formação profissional com a
62
investigação fundamental e aplicada, o desenvolvimento tecnológico, a prestação de
serviços científicos e técnicos à comunidade e a cooperação internacional.
2 Museus do IST
No universo dos treze museus e núcleos museológicos da Universidade de Lisboa,
neste momento estão identificados quatro polos museológicos dentro do campus
Alameda: o Museu DECivil, o Museu Alfredo Bensaúde e o Museu Décio Thadeu
(museus de geociências) e o recentemente inaugurado Museu Faraday28
.
Figura 6 – Localização dos Museus do IST dentro do campus Alameda
No entanto, dadas as limitações temporais deste trabalho académico e, tendo em
consideração que quando se iniciou este projeto o museu Faraday ainda estava em fase
de organização, decidimos centrar a nossa atenção nos Museus do DECivil. Por esse
motivo, quando neste trabalho nos referimos aos Museus do IST estamos a referir-nos
ao Museu de Engenharia Civil e aos Museus de Geociências.
28 Foi inaugurado 6 de fevereiro em 2017, localizado no Pavilhão de Eletricidade. O Museu Faraday reúne um espólio cobrem de
mais seiscentos instrumentos e equipamentos científicos históricos dos séculos XIX e XX http://museufaraday.tecnico.ulisboa.pt/
63
De acordo com o nº 1 do Artigo 1º da Capítulo I do Regulamento do Departamento
de Engenharia Civil, Arquitetura e Georrecursos este departamento designado por
DECivil, é uma unidade de ensino e investigação do IST, nos termos do Artigo 18º dos
Estatutos do IST. O DECivil tem por objetivos a realização de atividades no âmbito da
Engenharia Civil, da Engenharia do Território, da Arquitetura, da Engenharia do
Ambiente, da Engenharia de Minas e Georrecursos. A organização interna do DECivil
assenta nas áreas científicas, secções, unidades de investigação e unidades de apoio.
Estas últimas contêm as unidades técnicas especializadas, nomeadamente a biblioteca
departamental, os laboratórios experimentais e oficinas, os laboratórios informáticos e
os museus.
No DECivil existem atualmente os seguintes museus:
- Museu de Engenharia Civil;
- Museus de Geociências:
- Museu Alfredo Bensaúde (Mineralogia e Petrologia);
- Museu Décio Thadeu (Geologia e Jazigos Minerais).
2.1 Museu de Engenharia Civil (Museu DECivil)
O Museu DECivil foi inaugurado a 20 de Dezembro de 1993, situa-se no piso 0 do
Pavilhão de Engenharia Civil, e teve como primeiro diretor o Prof. Artur Mendes
Magalhães.
O acervo do museu é composto pelas peças recolhidas e mantidas no Departamento,
património didático que, até à formação do Museu, se encontrava nos gabinetes,
laboratórios e salas de aula, e por peças, de interesse museológico, que têm vindo a ser
doadas, relacionadas com as áreas de conhecimento desenvolvidas no DECivil. O
acervo é composto, essencialmente, por peças nas áreas da Engenharia Civil como
Urbanismo, Transportes, Estruturas, Construção, Geotecnia29
e Arquitetura que inclui o
Ateliê do Prof. Álvaro Machado30
, para além de livros, quadros, fotografias, estampas e
29Coleção de Transportes; Coleção sobre Estruturas; Coleção de Pontes; Coleção de Cartografia; Coleção sobre Materiais; Coleção
de Desenhos; Coleção sobre Hidráulica e Recursos Hídricos e Coleção de Instrumentos de Cálculo e Medida; 30Um espaço que reproduz fielmente onde trabalhou Álvaro Machado (1874-1944). Foi o 1º Professor de Arquitetura do IST que em 1911, aquando da criação do IST, é um dos sete professores do IICL convidados por Alfredo Bensaúde. O riquíssimo espólio foi
oferecido pela família em junho de 2000 ao IST.
64
mapas. O património, exibido na sala de exposições do museu, tem um carácter
pedagógico e é regularmente alterado de forma a permitir a divulgação de todo o seu
espólio.
No espaço de exibição são ainda efetuadas, com a eventual participação de entidades
exteriores, exposições temporárias, o lançamento de livros, a atribuição de prémios, a
realização de palestras e de outros eventos, sob temas afins às áreas da Engenharia
Civil, Arquitetura e Georrecursos com caráter científico, educativo, cultural e de lazer,
contribuindo para a ligação do IST à sociedade. A sala de exposição do Museu é de
entrada livre, no horário das 13h30 às 17h00, de segunda a sexta-feira. Existe ainda um
website do museu (http://museudec.tecnico.ulisboa.pt/).
2.2 Museus de Geociências
O antigo Departamento de Minas e Georrecursos do IST possuía três núcleos
museológicos, sendo dois deles o Museu de Mineralogia e Petrologia Alfredo Bensaúde
e o Museu de Geologia e Jazigos Minerais Décio Thadeu. Situam-se nos pisos 2 e 3 do
Pavilhão de Minas do campus Alameda e são tutelados pela área científica das
geociências. Um terceiro núcleo é composto por uma coleção de modelos de exploração
de minas, que se encontra atualmente em exposição no Museu Mineiro do Lousal31
(Pereira, 2010). O mesmo autor e atual diretor dos respetivos museus afirma que,
“existem ainda instrumentos e equipamentos diversos nos laboratórios e oficinas do
Departamento que possuem elevado interesse museológico e que urge catalogar para
poderem ser disponibilizados e investigadores, ou utilizados em exposições de carácter
didático”.
A história dos museus de geociências do IST remonta ao IIL, criado em 1852 por
Fontes Pereira de Melo e que a partir de 1869 passou a designar-se IICL. Funcionaram
no edifício do Paço da Madeira, localizado na Rua da Boavista ao Conde Barão, tendo o
mesmo edifício alojado o IST no seu período inicial de existência. Estas instituições de
ensino, percursoras do atual IST correspondem à constituição dos primeiros acervos e
espaço museológicos. O projeto de arquitetura das instalações dos museus é da
31Esta coleção já se encontra catalogada no Livro ”Modelos de Minas do séc. XIX – Engenhos de exploração mineira”, composta por 49 modelos e segundo os autores do catálogo, a coleção foi adquirida pelo Prof. Alfredo Bensaúde, no período de fundação do
IST.
65
responsabilidade de Pardal Monteiro, tendo estas sido inauguradas em 1936 e, segundo
Pereira (2010), foram construídas e dimensionadas para acomodar os atuais museus.
O espaço e os equipamentos expostos ainda preservam a sua conceção original,
construindo por isso uma referência arquitetónica para o período em causa,
evidenciando o grande valor da coleção, uma referência arquitetónica da fase inicial do
Estado Novo, marcada por uma forte componente funcionalista. Conforme podemos
verificar e de acordo com Pereira (2010) dado que alguns dos materiais que constituem
o acervo dos museus têm uma origem anterior à instituição em que se inserem, optou
por dividir a existência temporal dos diversos espaços museológicos e dos acervos em
dois grandes períodos: um período inicial, que decorreu entre 1852 e 1911, e que
corresponde ao aparecimento dos primeiros materiais e dos primeiros museus, e um
segundo período, de 1911 até á atualidade, iniciado com a fundação do IST. Neste
segundo período é distinguido por duas fases: fase 1 (1911 – 1936/37); fase 2 (1936/37
até a atualidade) (Pereira, 2010).
A partir do momento em que terá transitado para o IST como “Coleção Bensaúde” e
com o Prof. Alfredo Bensaúde como Diretor do IST, a coleção registou um
desenvolvimento significativo subdividindo-se em dois núcleos, Museus Alfredo
Bensaúde (Piso 3 do Pavilhão de Minas) e Décio Thadeu (Piso 2 do Pavilhão de Minas)
(Pereira, Tomás, Carvalho, Craveiro, & Jacomini, 2010).
Figura 7 – Museus de Geociências e evolução das coleções (Fonte: museus de geociências)
O MAB é dedicado essencialmente à mineralogia, cristalografia e petrologia. Inclui
no seu acervo vasto material geológico, na sua maioria de proveniência nacional e da
66
CPLP e algum relativo a ocorrências mineiras históricas não está acessível atualmente.
A coleção mais antiga de mineralogia e petrologia do MAB abrange a maior parte do
acervo do “Gabinete de Minerologia” e da “Chimica” proveniente do IIL e IICL32
(Pereira et al, 2010). Os autores ainda referem que a coleção de mineralogia contém
cerca de 5000 exemplares nacionais e estrangeiros e a coleção de petrologia cerca de
1200 exemplares, sendo a grande maioria de rochas magmáticas de coleções
estrangeiras. O património museológico ainda é composto por instrumentos e materiais
didáticos, livros, mapas e fotografias de relevância histórica e pelo espólio científico e
pessoal de professores, com destaque para Alfredo Bensaúde (1856-1941), Amílcar
Mário de Jesus (1895-1960) e Luís Aires-Barros (1932).
O MDT contém o espólio científico de Décio Thadeu (1919-1995), professor de
geologia e paleontologia do IST e importante estudioso dos jazigos minerais em
Portugal, nomeadamente de estanho, volfrâmio e tungsténio que lhe trouxe
reconhecimento internacional. Contem ainda o espólio de Ernest Fleury (1878-1958), de
origem suíça, professor e investigador responsável pelo laboratório de geologia e pela
organização das coleções de geologia e paleontologia utilizadas no ensino. Os espólios
pessoais foram oferecidos pelas suas famílias, que perfazem alguns milhares de itens
(Pereira, 2010). O espaço museológico apresenta ainda uma importante coleção de
estratigrafia e paleontologia, uma significativa amostragem das principais minas
históricas portuguesas e equipamento datado de finais do século XIX e início do século
XX.
Para além de um repositório de espólio insubstituível do país, incluindo as suas
particularidades arquitetónicas, e de um lugar de cultura, estes museus têm um enorme
potencial em termos de temas de investigação científica. Sobre a importância e
utilização de estruturas de suporte pedagógico-científicas, no processo de ensino-
aprendizagem do ensino superior atualmente vigente no Processo de Bolonha, Pereira
(2010) diz:
“Consideramos, por isso, que espaços museológicos de contexto universitário,
tais como o Museu Bensaúde e o Museu Décio Thadeu, constituem uma mais-
valia para a prossecução dos princípios e objetivos subjacentes ao referido
tratado, uma mais-valia reforçada pelo fato de os referidos espaços
museológicos se encontrarem associados a laboratórios de investigação. O
acervo, reunido ao longo de várias décadas, constitui um auxiliar precioso
para a aprendizagem científica, pelo seu conteúdo e pela sua fácil
32 Outra parte da coleção de mineralogia, petrologia e paleontologia, encontra-se no Museu de Mineralogia do atual Instituto
Superior de Engenharia de Lisboa.
67
acessibilidade em que se inclui a possibilidade de contato direto com muitos
dos materiais expostos.” (Pereira, 2010, p. 85)
Para além do usufruto interno dos alunos e professores do IST, os museus organizam
regularmente atividades de divulgação técnica e científica no âmbito da engenharia
geológica e de minas e de outras áreas científicas e culturais principalmente dirigidas ao
público escolar33
. Na vertente de divulgação digital os museus estão incluídos no portal
do Roteiro das Minas e Pontos de Interesse Mineiro Geológico em Portugal34
, bem
como em grupos na rede social Facebook. Atualmente, os grupos são dedicados aos
“Museus de Geociências do IST”, aos Professores “Alfredo Bensaúde”, “Décio
Sequeira Santos Thadeu”, “Ernest Fleury” e “Amilcar Mário de Jesus”. O grupo “Mil e
uma Águas - One Thousand and One Waters” dedica-se ao tema das barragens e
captações de água em Portugal e nos países da CPLP. É possível visitar os museus
mediante marcação prévia, via e-mail ou telefone.
33 “Encontros de Geologia no IST”, “Geopaper”, “Geokids”, “Laboratórios Abertos”, Projeto www.e-escola.pt, entre outras; 34
Disponível a publicação "Serviços Educativos e Visitas Escolares 2016-2017". O roteiro através das diferentes plataformas em
que está presente, promove a oferta dos diferentes locais associados, onde os serviços educativos e as atividades dirigidas às escolas
assumem especial relevância. Um dos locais são os Museus de Geociências http://www.roteirodeminas.pt/.
68
Esta parte é dedicada à apresentação da metodologia utilizada no trabalho. No âmbito
dos objetivos deste projeto, optou-se por uma pesquisa bibliográfica especializada sobre
a temática museal. Os recursos bibliográficos utilizados para a estrutura do
enquadramento teórico foram livros, teses e dissertações, revistas científicas, boletins
informativos, informação de organizações/instituições nacionais e internacionais. O
acesso a estes recursos foi realizado em duas modalidades: manual e eletronicamente.
1 Pesquisa bibliográfica
Podemos constatar pelas datas das referências bibliográficas e pelos recentes
dados estatísticos apresentados, que a pesquisa bibliográfica foi um processo continuum
durante todo o trabalho. Para além das temáticas abordadas no enquadramento teórico,
foram feitas pesquisas sobre legislação, normas, regulamentos, com interesse para o
trabalho que podem ser consultadas nas referências bibliográficas. Tornaram-se também
uma fonte de recolha de informação fundamental, o visionamento de filmes,
documentários (na rede social Youtube), a consulta de informação sobre museus e
serviços educativos nacionais e estrangeiros, assim como visitas em algumas
instituições ligadas à museologia e educação.
Um meio valioso para recolha de informação, foi a minha participação em
algumas atividades ligadas á educação museal, tais como: o curso sobre educação e
museus, a minha participação como voluntária no “Festival Aproxima-te” e na “Acesso
Cultura”.
- Curso MOOC “Educación y Museos” (2.ª edición)
O curso foi ministrado pela Universidade de Murcia, em Espanha, na
modalidade de ensino à distância. Esta formação foi relevante no que diz respeito ao
conhecimento de autores citados na bibliografia do curso e referenciais teóricos
presentes nas temáticas do programa (Anexo 1), que propunha como objetivos:
“apresentar os conceitos que definem o museu como um contexto educacional e
interdisciplinar. Um lugar para discussão de uma perspetiva social e de
CAPÍTULO III - METODOLOGIA “ O que conta não é o que um museu tem, mas o que pode fazer com aquilo que tem”
George Brown Good, 1888
69
desenvolvimento. Um museu para todos com tendências atuais de um museu
participativo onde as pessoas aprendem de maneira diferente. Lugar de conhecimento,
lazer e cultura que combina os interesses de muitas minorias diferentes”.
- Festival APROXIMA-TE
O APROXIMA-TE, é um festival pioneiro que agregou, em 4 dias, a oferta existente
no campo da educação patrimonial e artística, com ações dirigidas às famílias, escolas e
profissionais do sector. O espaço onde decorreu o festival foi o MUHNAC que se
encheu com os serviços educativos de instituições públicas e privadas, departamentos
de educação e cultura de municípios, empresas e associações prestadoras de atividades
extra e de enriquecimento curricular. Paralelamente, também existia uma programação
cultural com foco na educação patrimonial. A programação recorreu a vários meios
expressivos para transmitir conteúdos patrimoniais ao público infantil e juvenil: dança,
poesia, narração oral, literatura histórica, música, performances/teatro, visitas
interpretadas e uma variedade de ateliers em contínuo. Estive presente 3 dias do festival
como voluntária, onde prestei várias tarefas de apoio à equipa da organização. No
entanto, a mais relevante foi no último dia do evento, ter ficado a prestar informações
aos visitantes sobre os monumentos e museus da Direção-Geral do Património Cultural
(DGPC). A DGPC tem a seu cargo a gestão direta de 23 monumentos e museus, onde se
incluem 5 monumentos inscritos na lista do património mundial da UNESCO e 15
museus nacionais35
. A possibilidade de estar neste stand foi muito enriquecedora em
termos de conhecimento quer a nível de contato com o público interessado nestas
ofertas educativas, quer pelo acesso direto às dinâmicas dos serviços educativos dos
museus. A participação neste festival simplificou a recolha de informação sobre
serviços educativos e alguns materiais pedagógicos (alguns até disponíveis para oferta
aos visitantes). Proporcionou a comunicação com os colaboradores/responsáveis de
serviços educativos de diversas instituições, tais como: Cinemateca, Museu da Água,
museus da gestão da EGEAC, Jardim Zoológico, Museu Marítimo de Ílhavo, Fundação
de Aljubarrota, Parques de Sintra, Arquivo Municipal de Lisboa, Museu de Lisboa. Foi
uma experiência positiva que recomendo a quem estiver interessado em desenvolver
esta temática.
35DGPC http://www.patrimoniocultural.pt/pt/museus-e-monumentos/dgpc/
70
- Acesso Cultura
A Acesso Cultura36
é uma associação que promove a melhoria das condições de
acesso – nomeadamente físico, social e intelectual – aos espaços culturais e à oferta
cultural, em Portugal e no estrangeiro. A participação como voluntária nesta associação
iniciou em 2015 e desde então vou colaborando com tarefas possíveis de realizar à
distância. Até ao momento prestei o meu contributo em algumas solicitações que
ajudam a Acesso Cultura a cumprir com a sua missão e objetivos. Esta associação
organiza formações nas áreas ligadas à acessibilidade; realiza auditorias e consultorias
técnicas em espaços culturais (em construção ou existentes), no sentido da promoção e
aplicação dos princípios de acessibilidade e apoio na implementação das consequentes
recomendações; organiza seminários, conferências e workshops, com o objetivo de criar
um fórum de debate e de promoção de boas práticas; participa em projetos que
procurem promover a reflexão e as boas práticas relativas à acessibilidade e divulga
notícias e estudos relativos à acessibilidade. Esta colaboração foi muito gratificante
neste projeto, pois acabou por ser uma forma de estar atenta às boas práticas
desenvolvidas nos espaços museológicos no que diz respeito à acessibilidade. A nível
pessoal também foi um prazer enorme dar o meu contributo para a criação de uma
sociedade mais inclusiva.
2 Recolha de dados
Foram realizadas um total de 4 entrevistas, duas aos diretores dos museus do IST, e
duas aos responsáveis dos serviços educativos dos museus da Universidade de Lisboa e
Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto. Estava prevista uma terceira
entrevista ao responsável do serviço educativo do Museu de Ciência da Universidade de
Coimbra, mas por motivos alheios à nossa vontade, não foi possível realizar. No
entanto, também foi possível a recolha de informação sobre o espaço museológico e
suas atividades educativas, através de uma conversa durante uma visita guiada ao
respetivo museu.
O método utilizado para as entrevistas, foi o da entrevista semiestruturada, com
questões abertas e fechadas, baseadas em dois guiões distintos:
a) Destinado aos diretores dos museus. Este foi constituído por 8 partes (Anexo 2),
que visou recolher informação sobre:
36https://acessocultura.org/
71
- Apresentação do diretor do museu;
- Funcionamento e Orgânica do museu;
- Público-alvo e programação;
- Divulgação e imagem;
- Financiamento/receita
- Serviço educativo
b) Destinado aos Coordenadores responsáveis dos serviços educativos dos museus
da Universidade de Lisboa e Porto. Neste caso o guião da entrevista foi
constituído por 4 partes (Anexo 3), que visou recolher informação sobre a
estrutura geral do serviço, a metodologia de trabalho e a relação com o público:
- Funcionamento do serviço educativo
- Atividades/Público
- Relação entre o serviço educativo e as escolas
- Acessibilidade
Para além das entrevistas, as conversas informais com os responsáveis e
colaboradores dos museus foram fontes de informação indispensáveis e muito
importantes para a construção do projeto. Gostaria igualmente de salientar algumas
reuniões e a participação em várias atividades e eventos, que estão elencadas no Anexo
4. As reuniões com membros ligados aos museus com cargos de direção, foram sem
dúvida momentos de aprendizagem e crescimento na área da museologia e outras áreas
afins ligadas às instituições museológicas. Estes encontros provocaram uma tomada de
consciência do papel dos serviços educativos dentro de um museu e como se
posicionam face aos outros serviços existentes num museu. A participação nas
atividades e eventos realizados nos museus no IST permitiu recolher dados para o
diagnóstico e posterior análise e reflexão sobre a qual se orientou a conceção do projeto.
A presença nestas atividades permitiu de igual modo um contato e um envolvimento
mais direto com os museus do IST, como com as pessoas que a eles estão ligados direta
ou indiretamente. De certa forma acabou por também “divulgar” este projeto e perceber
qual a recetividade e sensibilidade por parte da comunidade académica, sobre a criação
do serviço educativo para os museus do IST.
72
3 Tratamento de dados
Depois das entrevistas realizadas foi necessário transcrevê-las (Anexos 5, 6,7 e 8)
para posteriormente fazer a análise de conteúdo. Decidiu-se que só as entrevistas dos
Diretores dos Museus do IST seriam tratadas através da análise de conteúdo, uma vez
que só usaríamos estas entrevistas para o diagnóstico. As informações recolhidas com as
duas entrevistas e o registo da conversa aos responsáveis dos serviços educativos dos
museus Lisboa, Porto e Coimbra, serviram para ajudar a construir a parte prática do
projeto.
Foi criada uma grelha estabelecendo uma ligação com o guião inicialmente
elaborado para que fossem utilizados os mesmos termos e organização. Tendo por base
este método, foi bastante mais fácil elaborar a própria grelha, inserindo os indicadores e
as unidades de registo da entrevista em cada bloco de categorias e respetivas sub-
categorias. Esta grelha é importante porque permitiu fazer uma leitura mais sistemática
e objetiva de todas as entrevistas, onde estão expressas todas as ideias e opiniões dos
entrevistados, sem ser necessário ler a transcrição da entrevista (Anexos 9 e 10).
Na próxima parte, dedicada à apresentação de um projeto para o serviço educativo
dos museus do IST, tentaremos desenvolver uma triangulação entre as três fontes de
informação ao longo do estudo: o aprofundamento teórico em torno da educação em
museal; a análise que nos permitiu caraterizar os museus e as dinâmicas desenvolvidas,
principalmente educativas, e os dados recolhidos através das entrevistas.
73
1 Origem
Foram colocadas algumas questões de partida para este projeto:
- Uma das funções museológicas dos museus é a função educativa. Até que ponto os
museus do IST cumprem essa função?
- Qual o papel dos museus na comunidade onde se insere?
- Como se caraterizam os utilizadores dos museus?
- Que impacto têm as exposições sobre os visitantes na divulgação da cultura científica?
- Existe algum programa educativo nos museus, sendo este um complemento essencial
para a educação nas escolas?
Ao procurar encontrar as respostas entendemos que a criação de um serviço
educativo, com um Plano Educativo/Programação Cultural, constitui a chave para o
funcionamento de qualquer museu. Apuramos que nestes museus têm sido realizadas
não de forma contínua e sistemática, algumas atividades educativas, palestras,
lançamentos de livros, exposições temporárias e outros. Assumimos desta forma que os
Museus do IST têm uma ação educativa pontual (Camacho, 2007).
A fim de apresentar uma proposta exequível, foi necessário observar, analisar e
perceber o funcionamento dos museus do IST. Dessa forma desde setembro de 2015,
temos vindo a acompanhar a atividade destes museus, com o objetivo de elaborar uma
proposta para a melhoria do seu funcionamento e que contribuísse para estes
desempenharem as suas funções museológicas. Como base teórica para a elaboração do
estudo seguimos as linhas orientadoras da Sara Barriga37
para a estruturação e gestão de
um programa coerente que responda aos desafios quotidianos do serviço educativo
(Barriga e Silva, 2007).
37 Barriga, S. (2007) Plano de ação educativa: alguns contributos para a sua elaboração, Serviços Educativos na Cultura, Setepés
CAPÍTULO IV - CONCEÇÃO DO PROJETO
“Construir-se um projeto é já procurar fazê-lo acontecer”
Barbier,1993
74
2 Diagnóstico
Recorremos à análise SWOT38
porque permite identificar fatores internos -
Strenghts (Pontos Fortes), Weaknesses (Pontos Fracos) e fatores externos -
Opportunities (Oportunidades), Threats (Ameaças) –– da instituição/projeto. Esta
ferramenta é um sistema simples para posicionar ou verificar a posição estratégica da
organização no ambiente em questão, permite assim fazer uma análise do contexto. Para
esta análise foram considerados os museus e a instituição, uma vez que estes funcionam
sob sua dependência. Com base nos dados recolhidos, principalmente das análises de
entrevistas aos diretores dos museus do IST, criamos um conjunto de domínios que
identificamos como os mais relevantes, tais como: recursos humanos e financeiros,
ligação com a sociedade, património científico, atividades educativas, público-alvo,
enquadramento legal e divulgação, o que permitiu identificarem:
Figura 8 - Análise SWOT do contexto dos museus do IST
38 A Análise SWOT é uma ferramenta de gestão muito utilizada pelas empresas para o diagnóstico estratégico. Fonte: IAPMEI
75
Este diagnóstico possibilitou identificar como aspetos positivos a forte identidade
histórico-cultural do acervo dos museus e imagem conhecida do IST a nível nacional e
internacional; existência de atividades relevantes no ensino das ciências; concentração
de recursos humanos relevantes com características multiculturais devido à presença de
diversificada “população” estrangeira e que participam em políticas atuais de educação
nas modalidades de educação, formação e voluntariado; concentração de laboratórios e
de centros de investigação; oferta de eventos culturais, alguns com dimensão
internacional e existência de espaços emblemáticos na zona periférica do campus
Alameda.
Também foram identificadas algumas fraquezas que podem ser ultrapassadas
através da implementação deste projeto, tais como: falhas aos níveis da informação e
comunicação dos objetos com o público e da divulgação dos espaços museológicos;
fraca dinâmica associativa e articulação entre instituições públicas e privadas;
desfasamento entre a oferta e a divulgação das atividades dos museus, o que leva a
falhas de equidade no acesso e participação da comunidade, em particular do IST;
elevada dependência dos apoios do IST, fraca sustentabilidade própria dos museus e
falta de cultura de mecenato e de patrocínios, inexistência de uma estratégia orientadora
comum para as iniciativas de cada museu que promova o efeito de escala.
No entanto, a identificação de oportunidades estratégicas começam pela existência
de elementos e condições de base para fazer crescer e desenvolver o serviço educativo,
orientado também para a função social; possibilidade de desenvolver um PE de
excelência através do potencial existente para o desenvolvimento de atividades
educativas quer para o público interno quer para o externo; a existência de um ambiente
cosmopolita com capacidade de atração de atividades que associem a valorização de
património, divulgação científica, criação cultural, lazer e turismo; posicionamento
“geoestratégico” privilegiado enquanto ligação/intermediação entre a UL e a cidade de
Lisboa; a viabilidade de captação de atividades e serviços com ambientes universitários,
culturais e com “mão-de-obra qualificada” e desenvolvimento de projetos estruturantes
ou inovadores com impacto na sociedade; aproveitamento de elementos históricos e
educacionais para promover a marcar Técnico não esquecendo que é uma escola
empenhada na captação de novos alunos, esta seria uma viabilidade de divulgação da
sua oferta formativa junto do público-escolar.
Identificamos alguns constrangimentos derivados dos aspetos menos positivos como
o horário reduzido de funcionamento, em particular os museus de geociências que só
76
podem ser visitados mediante marcação prévia, o que pode ser também um dos fatores
que leva à falta de conhecimento da existência dos museus. A inexistência de uma
equipa qualificada nas áreas de museologia como a conservação, inventariação e
curadoria de exposições. A falta de divulgação dos museus, que leva a um
desconhecimento da sua existência junto da sociedade.
3 Justificação do Projeto
Desde a mesa redonda de Santiago de Chile de 1972 que o compromisso da
museologia social tem vindo a ter cada vez mais relevância nos museus. Neste espírito,
entende-se os museus como instituições dinâmicas, vivas e promotores de encontros
interculturais, como espaços que trabalham com a educação no seu sentido mais amplo,
e na valorização da função social dos museus, no reconhecimento de que os museus
estão a serviço da sociedade e seu papel importante no processo de democratização e de
desenvolvimento social. Um dos avanços mais importantes dos últimos anos em museus
tem sido a incorporação de programas educacionais, isto quando falamos de inovação
associada aos museus. E são estas ações que realmente aproximam o público dos
museus, para que os visitantes se deleitam enquanto participam e assimilam
conhecimentos, ou seja, se os museus não oferecem atividades atraentes para as pessoas,
as pessoas não visitam o museu. Entendemos que essa é a verdadeira função do museu:
a aprendizagem de forma descontraída. Hoje em dia é notória que há uma necessidade
urgente de trazer cultura à sociedade (conforme já referimos aqui através dos dados
apresentados pelo Eurobarómetro), e os museus podem expressar-se sobre este aspeto.
Segundo Santos (2011), a integração e a comunicação são elementos fulcrais e devem
constar das agendas e programação dos museus deste século, dada a ligação à sociedade
diversificada e heterogénea e consumidora cultural. No nosso entender, a solução está
numa programação educativa e social adequada para proporcionar experiências
envolventes e atrativas, que em simultâneo favoreçam a continuação e aprofundamento
de conhecimentos e competências para um melhor entendimento do planeta, e que
desafiem as comunidades que servem e ao mesmo tempo enriqueçam a vida das pessoas
através do seu envolvimento.
Os museus do IST são um lugar público e um recurso educativo que estabelecem um
diálogo entre ciência, tecnologia, arquitetura. Podem oferecer um projeto de educação
não-formal e de divulgação da ciência em parceria com estabelecimentos de ensino
77
(básico, secundário e superior) e com outras instituições culturais e museológicas ou
não, com temas focados nas várias áreas mencionadas. Consideramos que este projeto
poderá: colocar as necessidades da sociedade no centro de reflexão de pesquisadores,
cientistas, professores e estudantes, ou de pessoas que se sintam envolvidas pelas
questões levantadas e possam contribuir para ampliar ou complementar o diálogo;
fortalecer os laços entre investigadores estrangeiros e nacionais e a comunidade discente
do IST; sensibilizar as gerações mais jovens para as profissões ligadas à investigação e à
ciência em geral; divulgar os caminhos que estes trabalhos têm tomando no meio
académico para promover o debate, a reflexão e a participação dos jovens nas
discussões relativas à ciência e tecnologia em nossa sociedade; favorecer a apropriação
dos museus, enquanto espaço de descobertas, discussão, pesquisa e informação para o
público. Pretendemos, assim utilizar o património cultural como suporte fundamental
para o desenvolvimento social e para o exercício da cidadania, (Santos, 2002), através
da criação de novos museus e de reformulação dos existentes
A maioria do património dos Museus do IST permanece desconhecida ao público.
Como foi já referido, atualmente os museus do IST têm ação educativa pontual, o que
não abrange as singularidades que esse património apresenta para a sociedade, desta
forma não cumpre os critérios dos artigos 42º e 43º da “Lei-Quadro dos Museus
Portugueses” nº 47/2004, de 19 de Agosto
78
Este projeto surgiu com a intenção de proporcionar uma maior proximidade com os
públicos e também para melhorar a sua valorização, preservação, manutenção e gestão
do património científico e cultural patente nos museus do IST. Compete a todos que
diretamente ou indiretamente estejam a contribuir para a valorização, salvaguarda e
divulgação do património e para a educação da sociedade criar para o desenvolvimento
destes espaços museológicos. A criação de um serviço educativo é uma forma de
comunicar e tornar os museus mais abertos ao público, especialmente ao público mais
jovem que frequenta as infraestruturas do IST. Os museus do IST, devido ao seu acervo
e grande coleção, constituem um grande recurso a explorar, pela sua importância para a
comunidade local e para a história do país. O serviço educativo é um recurso que pode
ser utilizado numa perspetiva de aprendizagem ao longo da vida, que pode
complementar as atividades organizadas pela escola e reforçar a ligação entre as
instituições educacionais e empresas, através da organização de eventos que envolvam
parceiros estratégicos.
Quando entrevistados, sobre a ideia da criação de um Serviço Educativo, algumas
das expressões utilizadas pelos diretores dos museus do IST foram: “Eu acho que era
mais do que desejável a criação de um serviço educativo…”; “Isso é ótimo”; “…os
contributos do serviço educativo são imensos…”; “…penso que o serviço educativo é
uma aposta importante …”.
4 Projeto serviço educativo nos Museus do Instituto Superior Técnico
Este projeto apresenta-se mais sobre a forma de estudo para a criação de um serviço
educativo, através da apresentação de objetivos e de estratégias de uma tipologia de
programação de atividades dos recursos humanos e financeiros e a avaliação. Propõe-se
uma programação organizada, regular e sistemática (com base nas atividades já
existentes ou que já foram desenvolvidas nos museus do IST e com base num contexto
educativo, social e cultural). As propostas estão em consonância com teorias e conceitos
apresentados no enquadramento teórico fazendo a ponte com os domínios que serviram
como base para o diagnóstico. Para desenvolvimento deste estudo, tivemos também em
conta que os Museus do IST nunca tiveram nenhum serviço educativo a funcionar, o
que significa que este projeto de mestrado será de grande utilidade num futuro próximo,
79
caso o IST pretenda implementar um serviço educativo e seguir estas linhas de
orientação.
4.1 Objetivos do Projeto
Objetivo geral:
- Criar um serviço educativo museológico, no Instituto Superior Técnico, que
promova a divulgação científica, oferecendo programas de caráter educativo, social e
cultural, no âmbito da educação formal e não-formal, para os mais variados públicos.
Objetivos específicos:
- Desenvolver um projeto pedagógico para os museus do IST;
- Promover a educação não formal nos museus universitários, como espaços de ensino-
aprendizagem;
- Promover a cultura científica nos espaços museológicos, em particular para as crianças
e jovens;
- Facilitar a ocupação dos museus, enquanto espaço de descobertas, discussão, pesquisa,
informação para o público em geral.
Objetivos operativos
- Definir a política educativa dos museus do IST;
- Elaborar documentos para o funcionamento do serviço educativo;
- Criar meios de divulgação do serviço educativo;
- Produzir materiais pedagógicos de apoio às atividades;
- Desenvolver materiais educativos com base no acervo – património científico.
80
4.2 Estratégia Educativa do Projeto
A estratégia educativa do museu define quais as metas que o museu pretende
atingir e os objetivos de curto prazo que tem de alcançar para cumprir essas metas.
Santos (2009) apresenta no seu artigo duas estratégias museais, mas aquela com a
qual nos identificamos mais e nos pareceu mais adequada para este contexto foi a de
uma museologia com ênfase na relação homem-património global, que apresenta 23
estratégias. No entanto, como algumas estão mais relacionadas com a gestão dos
museus, só vamos aqui referir aquelas em que consideramos pertinentes para a criação
do serviço educativo:
- Promover a participação dos cidadãos-beneficiários, realizando reuniões para
definição da missão e dos objetivos a serem alcançadas;
- Constituir grupos de trabalho, buscando a definição de temas e de problemas e das
estratégias a serem utilizadas, a partir da reflexão sobre o património cultural local,
de acordo com o interesse e a iniciativa do grupo;
- Promover uma constante ação de comunicação entre os técnicos e os cidadãos-
beneficiário;
- Buscar parcerias para apoio científico e financeiro;
- Promover a apropriação e a reapropriação do património cultural, por meio das
ações museológicas de pesquisa, preservação e comunicação, tornando possível ao
cidadão, desde a sua formação, considerá-lo como um referencial para o exercício
da cidadania;
- Formar o professor para o planeamento e a execução de projetos, tendo como
referencial o património cultural;
- Aplicar as ações museológicas de pesquisa, preservação e comunicação, com a
participação dos cidadãos-beneficiários, socializando-as, partindo da
heterogeneidade, o domínio do conhecimento sistematizado, para a
homogeneidade, ou seja, o domínio desse mesmo conhecimento pelos grupos com
os quais estamos atuando, buscando a troca e o enriquecimento;
81
- Utilizar o património cultural como referencial para a realização de atividade
pedagógicas, buscando a melhoria da qualidade do ensino;
- Potencializar os recursos educativos da comunidade, realizando o intercâmbio
necessário entre o ensino formal e o não-formal, um alimentando o outro;
- Aplicar as ações museológicas, considerando como ponto de partida a prática
social e não somente as coleções;
- Promover a participação dos moradores locais nas atividades a serem
desenvolvidas, contribuindo para a construção do conhecimento, a partir das suas
histórias de vida, qualificando-as como parte do património cultural;
- Elaborar os instrumentos a serem utilizados na ação documental, de acordo com
as características do acervo a ser musealizado, envolvendo os participantes na
confeção e na aplicação da ação documental;
- Planear e executar exposições, musealizando o conhecimento produzido em
interação com os cidadãos-beneficiários;
- Promover o intercâmbio com outros museus e processos museais em andamento,
nos âmbitos local, nacional e internacional;
- Sistematizar os dados coletados, a partir das ações desenvolvidas nos diversos
projetos, realizando um trabalho contínuo de ação reflexão.
Os museus devem estar permanentemente a recriar-se, a criar programas de
interesse para o visitante, como novos programas – visitas guiadas, eventos, workshops
– que espelhem os museus como locais dinâmicos e interativos. Devem ser um espaço
de convívio que se frequente com os amigos, para uma visita ou para frequentar um
evento. Também pode-se criar uma ligação próxima ao turismo, que ajude a criar
sinergias e a aumentar o número de visitantes dos museus.
Os museus devem esforçar-se por se aproximar da comunidade, através de eventos
dirigidos a públicos específicos e da promoção de atividades profissionais relacionadas
com a comunidade em que os museus se inserem – para isso é indispensável o acesso
antecipado e personalizado aos programas que os museus oferecem, conforme já foi
referido.
82
As visitas guiadas são uma forma de possibilitar a aprendizagem, sendo também
um fator importante para aumentar a frequência de visitas aos museus.
No que respeita à requalificação dos espaços há necessidade dos museus serem
espaços amplos, arejados, bem iluminados e de atribuírem uma maior relevância aos
serviços disponibilizados, visto que são fatores importantes para a (re) visita de um
museu.
Entende-se também, ser importante para os museus aderirem às novas tecnologias.
Com base nos domínios do diagnóstico e da análise e sistematização de dados e
tendo em conta o referencial teórico acima referido, consideramos que os elementos
estratégicos podem ser:
4.3 Enquadramento legal
É extremamente importante a existência de um regulamento que estabeleça as
normas gerais das atividades para que o serviço educativo prestado seja mais
qualificado e simplificado em termos de apoio logístico.
Com a elaboração deste projeto, um dos objetivos foi definir a política educativa dos
museus, assim como a criação de um regulamento para cada um dos mesmos, para que
se afirmem como instituições museológicas reconhecidas, e possam no futuro serem
certificadas pelas entidades reguladoras de credenciação. A Lei-Quadro dos Museus
Portugueses é um instrumento fundamental para a organização e valorização dos
museus, mesmo estando sob a tutela de uma universidade, os museus do IST devem
seguir esta legislação. De acordo com os artigos nº 52 e nº 53 da lei atrás referida, para
os Museus do IST ainda não está definida uma Estrutura Orgânica, com o respetivo
regulamento. Nesse sentido elaborámos uma proposta de regulamento que
posteriormente foi trabalhada com os Diretores dos museus. Esta proposta do
regulamento contempla os seguintes capítulos: disposição gerais; estrutura orgânica dos
serviços do museu; gestão do acervo; acessibilidade do museu; instrumentos de
divulgação e informação e disposições finais. Elaborámos um regulamento quer para o
Museu DECivil (Anexo 11), quer para os Museus de Geociências (Anexo 12). Nestes
regulamentos contemplamos a existência de um serviço educativo na estrutura orgânica
dos serviços dos museus.
83
4.4 Recursos humanos
Para implementação das medidas a que nos propomos neste projeto é necessário
possuirmos recursos humanos. O museu tem o importante dever de desenvolver o seu
papel educativo e de chamar a si um público cada vez mais numeroso, de todos os
sectores da comunidade, localidade ou grupo em que está inserido. Deve facultar ao
público oportunidades para se envolver e apoiar os seus objetivos e atividades. A
interação com a comunidade que compõe o seu público é parte integrante da missão
educativa do museu, no entanto tornar-se necessário para este efeito o recrutamento de
pessoal especializado.
A nível dos recursos humanos para o serviço educativo é, em primeiro lugar,
imprescindível que exista um especialista educador – responsável em exclusivo por
estas funções. Prevê-se um progressivo aumento das atividades pelo que acreditamos
ser necessário aumentar o número de colaboradores afetos ao serviço educativo. No que
diz respeito a outras necessidades de logística, deverá recorrer-se preferencialmente aos
diversos Núcleos e Gabinetes do IST, como por exemplo Gabinete de Comunicação e
Relações Públicas, o Núcleo de Arquivo, Editora IST Press, Núcleo de Apoio ao
Estudante, Biblioteca e Núcleo de Multimédia e E-Learning. A colaboração interna com
a UL através do MNHNAC, também será de extrema importância para efetivar a criação
deste serviço.
As atividades educativas podem ser desenvolvidas por várias pessoas, algumas das
quais que podem ser afetas ao serviço educativo e outras podem ser colaboradores
externos, como artistas, professores aposentados39
, alumni, cientistas, especialistas, etc.,
tendo em consideração que diferentes atividades exigem diferentes níveis e tipos de
especialização. Formar alguns monitores para apoio às atividades (como já acontece em
alguns serviços do IST e é também pratica comum noutros museus), também deve ser
um processo a considerar para apoio às atividades.
O voluntariado é um recurso humano que normalmente é benéfico tanto para o
museu como para os próprios voluntários. Por exemplo, os voluntários em museus
geralmente fazem parte de uma associação "amigos do museu". As associações de
amigos são explicitamente referidas na Lei-Quadro dos Museus Portugueses (Artigo
47º, nº 1), que defende o estímulo à sua constituição. De uma maneira geral estas
39 Por exemplo, a Professora Clementina Teixeira, Aposentada do Departamento de Química do IST, colabora com alguma
regularidade nas atividades educativas nos Museus de Geociências.
84
entidades têm entre os seus principais objetivos colaborar e apoiar o museu através da
promoção e dinamização das atividades destes, bem como proporcionar o
enriquecimento das coleções. O recurso de voluntários é também uma maneira dos
museus poderem alcançar novos públicos.
Uma outra forma de angariar recursos humanos é no âmbito dos estágios
curriculares, através da celebração de protocolos de colaboração com estabelecimentos
de ensino superior. Esta variante permite uma colaboração vantajosa para todos os
intervenientes. Sendo também uma prática muito comum no contexto museológico.
4.5 Recursos Financeiros
Tendo em conta que os museus do IST têm acesso livre, não estando por isso sujeito
à aquisição de qualquer bilhete de ingresso com um valor associado, coloca-se logo de
parte, como fonte de financiamento, as receitas de bilheteira dos visitantes.
No entanto, sugerimos algumas práticas existentes e de uso recorrente por parte de
outros museus, quer nacionais ou internacionais, como forma de conseguir verbas na
viabilização de um programa de reabilitação de uma sala ou do espaço museológico, no
apoio à programação e exposições dos museus, para intervenções de conservação e
restauro de peças das coleções, ou no apoio a projetos educativo se eventos culturais,
entre muitos outros. Pensamos que fará sentido para a implementação deste projeto
recorrer a diversas estratégias de financiamento, pois verifica-se que através do
mecenato institucional, de patrocínios, de doações, da colaboração institucional ou
particular é possível abrir uma porta para o estabelecimento de parcerias com a
sociedade civil e o tecido empresarial40
.
As mais comuns são o contributo através mecenato e/ou patrocínio, estes dois
processos estão interligados com as políticas culturais, associadas a uma conjunto de
princípios, operações, práticas e procedimentos de gestão e administração de recursos e
orçamentos, que servem como base à ação cultural. O mecenato cultural em Portugal é
enquadrado pelo estatuto dos benefícios fiscais, aprovado pelo Decreto-Lei nº 215/89 de
1 de Julho. Conforme já foi referido o recurso ao mecenato e ao patrocínio poderão
auxiliar a diminuição dos valores relacionados com o melhoramento dos serviços,
instalações dos museus e apoio ao projeto educativo.
40 A Fundação EDP é um dos exemplos de mecenas que apoia a cultura http://www.fundacaoedp.pt/cultura/mecenato-e-parcerias/iniciativas-de-excelencia/12, assim como a Fundação Banco Santander tem apoiado a cultura e dada a sua estreita ligação
às universidades, muitos projetos desenvolvidos no seio académico.
85
A disposição do material de merchandising do IST para venda dentro dos museus,
pode servir como uma significativa fonte adicional de receitas, sendo também uma boa
forma de divulgação da instituição e dos seus produtos41
, assim o visitante terá a
oportunidade de adquirir de imediato um “souvenir”.
Uma outra prática recente de alternativa e estratégia de financiamento utilizada pelos
museus42
é crowdfunding (financiamento colaborativo). A ainda fraca tradição de
crowdfunding em Portugal pode ser um obstáculo, no entanto na área da museologia
esta prática está ligada ao conceito de “Museu Participativo43
”.
4.6 Ligação com a sociedade - Parcerias
Numa primeira fase será proveitoso estabelecer articulações com outras instituições
para desenvolver e oferecer, em parceria, projetos educativos. – Parcerias educativas por
meio do intercâmbio com outros museus e instituições culturais, por exemplo os
Museus Universitários no âmbito local, nacional e internacional, principalmente o
MUHNAC, Pavilhão do Conhecimento44
, Museu Rafael Bordalo Pinheiro45
, e pela sua
relativa proximidade com o IST, o Museu Anastácio Gonçalves, Culturgest e Fundação
Calouste Gulbenkian. Também será de apostar e/ou reforçar nas parcerias estratégicas
com a Câmara Municipal de Lisboa, juntas de freguesia, estabelecimentos de ensino,
instituições culturais, ordem dos engenheiros e arquitetos, associações46
empresas.
41 O IST oferece uma vasta gama de produtos de merchandising Técnico, que podem ser adquiridos na sua Loja (no átrio da entrada principal do Pavilhão Central – campus Alameda). Na Loja disponibilizam-se também alguns produtos da U Lisboa e das Tunas do
IST; 42Exemplos: O Museu Palazzo Madama, na Itália usou para comprar e manter uma coleção de entidade de porcelana; em Portugal, o Museu Nacional de Arte Antiga (MNAA) lançou o crowdfunding com o objetivo de adquirir a obra “A Adoração dos Magos” e o
Museu do Caramulo, em Portugal lança campanha para restaurar o automóvel “Messi”; 43Conceito de museu participativo envolve diretamente a comunidade na construção dos conteúdos museológicos; 44Escola Ciência Viva foi no dia 15 de abril de 2016 ao IST visitar e participar em atividades no Museu de Geociências; 45 Encontra-se instalado na Moradia do Campo Grande, um projeto da autoria do arquiteto Álvaro Machado e que recebeu a menção
honrosa do Prémio Valmor em 1914; 46 Associação Portuguesa de Geólogos, Associação Professores de História, Clube Português de Mineralogia já têm feito
atividades/visitas aos museus de geociências.
86
Figura 9 – Parcerias externas do serviço educativo dos museus do IST
4.7 Património
Para a execução deste projeto também foi necessário conhecer o acervo e o espólio,
para melhor entender o que poderíamos utilizar como referencial para a realização de
atividades pedagógicas. Os objetos expostos nos museus podem ser utilizados, também,
como referencial para compreensão do presente. Nesse sentido, podem ser planeadas
atividades, a partir dos temas das coleções, nas quais o público é convidado a participar,
realizando atividades práticas, contextualizando e construindo a relação passado-
presente. A participação da comunidade académica nas atividades contribui para a
construção do conhecimento, a partir das suas histórias de vida, fazendo dos museus
meios facilitadores de desenvolvimento e transformação social. Toma para si esta tarefa,
com base nas ciências, procurando fomentar por meio de atividades pedagógicas e
educacionais, práticas reflexivas sobre o património cultural (Gabriele 2014).
Um dos aspetos apontados como negativos é a reduzida informação documental
sobre as peças em exposição, o que pode prejudicar a organização das atividades. Neste
percurso criamos uma iniciativa da “Peça do mês” onde a intenção é destacar todos os
meses uma peça/objeto/coleção através da criação de materiais informativos (folheto,
desdobrável e no site). Os conteúdos são referentes à identificação, descrição,
origem/historial, autoria, produção, informação técnica, dimensões, incorporação,
Serviço Educativo
Museus do IST
Instituições Públicas e Privadas
Ordem dos Engenheiros e
Arquitetos
Associações Profissionais
Organizações Culturais e Artísticas
Munícipio
Freguesias Locais
Estabelecimentos de Ensino
Redes Muséológicas
87
exposições e documentação associada47
. A peça escolhida para o mês de setembro de
2016 do Museu de DECivil foi o “Modelo de locomotiva MBV 1”, por ser umas das
emblemáticas do museu (Anexos 13, 14). Esta iniciativa foi aplicada pela Diretora do
museu nos meses de outubro, novembro e dezembro, que só elaborou o folheto das
peças. Pretende-se alargar esta prática aos outros museus. Com esta iniciativa pode-se
criar materiais de registo do património existente, assim como recursos pedagógicos
para as atividades.
4.8 Destinatários /Públicos-alvo
Os museus do IST, para além de uma componente ligada à investigação, possuem
também uma forte componente pedagógica, que pode e deve ser explorada por aqueles
que frequentam a instituição enquanto professores e alunos, mas também por alunos e
professores de outros graus de ensino, assim como pelo público em geral que se
interessa pelos seus temas específicos. Os museus do IST têm potencial para oferecer
oportunidades educacionais para pessoas de todas as habilitações académicas,
capacidades, competências, classes sociais e etnias. No entanto, será necessário decidir
quais os públicos-alvo que se deseja atingir a curto prazo. Segundo Barriga (2007),
reconhecer quem são os públicos-alvo é um dos exercícios-chave para a elaboração do
plano de ação educativa e para assegurar a qualidade da oferta, recomendando a seleção
de públicos e a programação de fases sequenciais.
Os públicos a conquistar são de dois segmentos: público interno e público externo.
Do público interno fazem parte os docentes e alunos, que podem utilizar os museus num
âmbito mais pedagógico, de apoio às aulas, e os funcionários não docentes e
colaboradores, que podem usufruir dos espaços num contexto mais de lazer. No entanto
pensamos que em ambos os casos apreciam o seu desenvolvimento pessoal, o alargar de
horizontes, a vivência de uma experiência “nova” e “desafiante”, estar com os amigos e
frequentar atividades culturais.
O segundo segmento, conforme já referimos, diz respeito ao público externo, onde
identificamos um grupo escolar composto por professores e alunos desde o ensino
básico ao ensino superior e um público geral.
47 Com base nas “Normas de inventário Ciência e Técnica ‑ Normas Gerais”, 2010 do Instituto dos Museus e da Conservação.
88
Figura 10 - Segmentos de Público-alvo
4.9 Comunicação e Divulgação
Seria de extrema importância melhorar a comunicação e a acessibilidade dos museus,
antes de colocar este projeto em prática. Para isso sugerimos a solicitação de uma
auditoria ou consultoria técnica feita por especialistas na área que possam dar o seu
parecer e apoio na implementação das consequentes recomendações. Pensamos que essa
consultoria poderia ser feita pela Acesso Cultura48
.
Conforme já foi referido, pretende-se consolidar o contato com o público escolar a
nível da zona geográfica do IST (campus Alameda) e das instituições escolares que nos
costumam visitar, sem esquecer os outros segmentos de público-alvo mais alargado que
se pretende conquistar para os museus. Pretende-se nesta fase inicial manter e
aprofundar o contacto com instituições e associações que já frequentam os museus, mas
que é sempre necessário continuar a manter fidelizadas. Para que isso aconteça é preciso
criar mecanismos de comunicação e decidir como informar os públicos sobre as
atividades oferecidas. Para que qualquer tipo de serviço tenha impacto junto do público
é essencial que se faça uma boa divulgação, de forma a dar a conhecer as iniciativas que
se desenvolvem nos espaços museológicos atrás de uma mensagem atrativa. A
estratégia mais visível é uma forma de “publicidade e marketing” pensada com um fim
educativo.
Os museus, como já foi referido, têm atualmente outras responsabilidades sociais,
nomeadamente o de tornarem-se um meio de comunicação entre os vários públicos, 48 O valor aproximado de uma consultoria/auditoria a um museu é de 1500 euros.
89
através da utilização de novas ferramentas comunicacionais e novos instrumentos
tecnológicos e informáticos. No século XXI, o uso das novas tecnologias é um recurso
essencial para a visibilidade do serviço educativo e dos respetivos museus e para a
dinamização destes espaços. Existem diversos suportes e canais digitais que permitem
aos museus colocarem em prática estas vertentes comunicacionais. As mais utilizadas
são o e-mail, página web, app. e redes sociais (Facebook, Instagram, Youtube, Twitter,
LinkedIn). A presença digital nos museus faz parte da participação ativa, através do
desenvolvimento de ferramentas e aplicações para dispositivos móveis, captação de
recursos em formato eletrónico e muito mais. Como um bom exemplo temos a Parques
de Sintra, que recebeu uma menção honrosa no “Prémio Acesso Cultura 2016” com o
projeto da aplicação mobile “Talking Heritage – Sintra 3.049
.
É através destes meios de comunicação que se consegue uma maior divulgação tanto
do espaço físico e do seu acervo, como das atividades culturais e educativas e de todas
as dinâmicas existentes e informações de interesse dos museus, contribuindo assim para
uma maior afluência de público.
Meios de Comunicação e Divulgação que devem ser utilizados:
- Meios de comunicação internos do IST (e-mail, newsletter semanal, página
web, página institucional da rede social Facebook);
- Divulgação através de e-mail com base numa mailing list das instituições de
ensino e grupos com contato estabelecido;
- Folheto (serviço educativo e museus);
- Páginas próprias do serviço educativo e museus na rede social Facebook;
- Página na internet do serviço educativo e museus;
Durante a realização do projeto foi criada uma página do serviço educativo na rede
social Facebook, com o nome “Serviço Educativo Museus do Técnico”, mas que não
está publicada. Durante estes meses todas as atividades e informações relacionadas com
os museus, referente ao serviço educativo, têm sido publicadas, o que foi uma forma
também de ter um registo documental em formato virtual/digital.
49A App “TalkingHeritage – Sintra” é uma aplicação interativa que oferece uma experiência única nas visitas ao património natural
e edificado sob gestão da empresa Parques de Sintra. No início de junho, foi lançada a versão 3.0, que dispõe de um conjunto de novas funcionalidades de apoio à inclusão tais como língua gestual, vocalização de conteúdos, controlo de ações por movimento e
localização por GPS.
90
Figura 11 – Página do serviço educativo na rede social Facebook
A inclusão do nome dos museus em itinerários culturais/turísticos locais ou nacionais
(roteiros de instituições, agendas culturais, imprensa, etc., em suporte papel ou
eletrónico) é importante. Os Museus de Geociências aparecem no “Roteiro das Minas e
Pontos de Interesse Mineiro e geológico de Portugal. O turismo é, atualmente, um dos
principais setores da economia portuguesa, principalmente da cidade de Lisboa, e a
integração de um espaço histórico universitário nos circuitos turísticos e culturais da
cidade pode levar os polos museológicos de divulgação científica a tornarem-se uma
referência internacional.
4.10 Atividades educativas, sociais e culturais
O plano será realizar várias atividades com práticas recreativas, pedagógicas e de
caráter científico, as quais podem ser aplicadas para contexto escolar (com crianças do
ensino pré-escolar até ao ensino superior, envolvendo e capacitando os respetivos
professores e educadores) como em outros segmentos de público. As atividades
educativas são um meio bastante eficaz de divulgação da ciência e de aumentar o
interesse dos visitantes, visto que a ciência não necessita de experiências caras ou
complexas para ser feita, podendo também ser feita com objetos e materiais do
quotidiano. Este tipo de atividades podem dar uso à plataforma “e-escola” um portal de
ciências básicas e de ciências da engenharia do Instituto Superior Técnico (IST) com
91
conteúdos científicos, interativos e credíveis, nas áreas de Biologia, Física, Matemática,
Química e Ciências da Engenharia.
Observámos algumas atividades educativas que são desenvolvidas nos museus de
Geociências, de caráter pontual, que nos serviu de apoio para a estruturação da tipologia
de programação que pode ser oferecida ao público. No entanto, é necessário um
enquadramento curricular das atividades dirigidas ao público escolar, para se fazer a
divulgação juntos das escolas que pretendemos captar, assim como materiais de apoio
às atividades, como por exemplo os guiões que achamos que poderiam ser melhorados,
apresentando uma nova proposta (Anexos 15-A, B e C). Com esta nova estrutura
pensamos que será mais fácil colocar em prática e dinamizar as atividades.
É importante facilitar a marcação de uma visita aos museus, no que diz respeito aos
grupos escolares, uma vez que esta envolve uma logística diferente das outras
atividades, e é preciso ser adequada ao nível de ensino e idade dos estudantes. Criou-se
para isso, a possibilidade de fazer a marcação utilizando os meios informáticos,
disponibilizando um formulário próprio on-line, para contactar o serviço educativo
(Anexo 16). Este será uma forma de um primeiro contato do estabelecimento de ensino
com o serviço educativo, no qual já estão identificadas as principais características do
grupo escolar, bem como quais os seus interesses pelas áreas temáticas dos museus.
Com base nestas informações, o serviço educativo realizará um posterior contato para
recolher mais informações ou, caso não seja necessário, para confirmar a visita.
Sendo escassa a oferta de atividades educativas nas áreas das ciências, nos museus de
ciência e técnica50
para o ensino pré-escolar, pretende-se criar um projeto-piloto com o
infantário da APIST (localizado no campus da Alameda)51
e que pode ser algo inovador
no âmbito da divulgação científica. No final do ano letivo o serviço educativo
organizará uma exposição temporária, com alguns dos trabalhos desenvolvidos nessa
proposta, dando-lhe visibilidade e abrindo a possibilidade de vir a estabelecer parcerias
com outras entidades.
O museu é uma instituição que pode ser (re) utilizada como espaço de regeneração
cultural e patrimonial de grupos minoritários, o que contribui para o desenvolvimento
sociocultural. Este tipo de infraestruturas culturais pode servir para preservar a
identidade local, recuperar património cultural e animar culturalmente uma comunidade.
50Informação com base no folheto da oferta educativa 2015-2016 do MUHNAC; 51O Infantário localiza-se no Jardim Sul, e funciona das 8:00 às 19:00 de Segunda a Sexta-Feira, encontrando-se distribuído por dois
edifícios: creche e jardim-de-infância da Associação do Pessoal do Instituto Superior Técnico.
92
Foi o que conseguimos com a organização da “sessão aberta a novos elementos, grupo
de cantares tradicionais do IST” no museu Alfredo Bensaúde (Anexo 17), onde
convidámos a comunidade do IST a assistir a um ensaio do grupo. O museu serviu para
um espaço de encontro de diversão, onde funcionários não docentes e docentes,
investigadores e alunos, assistiram a um momento cultural e também tiveram a
oportunidade de conhecer pela primeira vez o museu. Por conversas informais das 11
pessoas que estiveram como espetadores na 1ª sessão das 13h só 4 delas já tinham
entrado no museu, os restantes tinha sido a primeira vez. A utilização dos espaços
museológicos com estas iniciativas permitem redimensionar a abordagem aos temas das
ciências não se focando nas engenharias, ciências exatas e tecnologias, mas também
abrindo à interpretação (visão, compreensão) global do homem no sentido
antropológico, ou seja, abrangendo o homem e a humanidade em todas as suas
dimensões.
5 Tipologia de Programação do Projeto
“It is not the objects but the activities of a museum that will decide the museum’s
future”
Hans Belting, The Discursive Museum
A tipologia de programação que vamos apresentar pode eventualmente servir para a
construção do Plano de Ação Educativa do serviço educativo, pois é uma ferramenta
que serve de rosto ao serviço educativo. Trata-se de um documento que configura a
planificação da ação e identifica as competências do serviço educativo de uma
instituição cultural, num período determinado (Barriga, 2007).
Desde 2012 que a estratégia de Marca do IST52
“centrou-se no reforço e
consolidação da sua posição proeminente no mercado interno e externo através da
implementação de uma imagem forte e inovadora através da afirmação da identidade
Técnico53
”.
52 Regras de utilização do Logótipo do Técnico Lisboa https://tecnico.ulisboa.pt/files/2015/07/Kit-Normas-IST.pdf; 53
Na conferência “As marcas da Marca na Economia Portuguesa”, um evento organizado pela Centromarca, o Prof. Arlindo
Oliveira, Presidente do Técnico, referiu o facto de o Técnico ser “a marca mais forte do Ensino Superior em Portugal”.
93
Como a marca é um sinal que identifica e distingue produtos e/ou serviços, pensamos
que seria uma ótima ideia identificar a nossa tipologia de atividades com a marca
“Técnico”.
O “4” está relacionado com as quatro áreas de desenvolvimento do Técnico: ciência,
engenharia, arquitetura e tecnologia. Teremos assim três grandes áreas: o Técnico 4
Schools; o Técnico 4 Kids e o Técnico 4 All.
TÉCNICO 4 SCHOOLS
Pretende-se que seja um projeto educativo que visa estabelecer uma relação entre a
comunidade escolar e os Museus do IST. O critério será encontrar um elo de ligação
onde os museus podem atuar através do seu espólio e os temas-chave dos programas e
metas curriculares de todos os níveis de ensino e criar uma programação com atividades
educacionais não formais dirigidas a grupos escolares. Uma vez traçada a programação,
estas atividades serão divulgadas, inicialmente, entre os estabelecimentos de ensino
públicos e privados envolventes ao IST54
, e posteriormente divulgada a outras escolas.
O programa tem a sua atuação voltada para a melhoria do ensino de ciências nos
ensinos básico e secundário. A sua conceção prevê trabalhar o conhecimento da ciência
através dos princípios básicos da metodologia científica. Tem como objetivo propor e
desenvolver pequenos projetos de pesquisa dentro da escola/museu, utilizando alguns
dos procedimentos do método científico como: observação, levantamento e teste de
hipóteses, realização de experiências, obtenção e análise de dados e outros – A partir
das peças e coleções dos museus.
Espera-se que as propostas de atividades apresentadas surjam da colaboração com os
respetivos estabelecimentos de ensino. Para isso convém dinamizar atividades
específicas para professores, como por exemplo um workshop para dar a conhecer as
atividades do serviço educativo para professores e educadores e visitas guiadas para dar
a conhecer os museus. Esses encontros também podem acontecer em cada abertura de
exposição com o objetivo de preparar as visitas dos alunos.
54 Agrupamento de escolas D. Filipa de Lencastre, Agrupamento de escolas das Olaias, Agrupamento de escolas Luís de Camões; Agrupamento de escolas Rainha D. Leonor, Escola Profissional de Artes, Tecnologias e Desporto (EPAD), Colégio Sagrado
Coração de Maria, Colégio O Pelicano, Colégio do Largo e Jardim de Infância da APIST.
94
TÉCNICO 4 KIDS
- Pretende-se que as oficinas Técnico 4 Kids promovam a aproximação da engenharia,
arquitetura, ciência e tecnologia às crianças e aos jovens, dos 4 aos 15 anos de idade,
onde haja reflexão e debate sobre as mesmas, em paralelo com propostas que
materializam ideias suscitadas. Pretende-se sensibilizar as gerações mais jovens para as
profissões ligadas à investigação e à ciência em geral, divulgar os sentidos que estes
trabalhos vêm tomando no meio acadêmico para promover o debate, a reflexão e a
participação dos jovens nas discussões relativas à ciência e tecnologia na nossa
sociedade. As oficinas Técnico 4 Kids para grupos escolares seriam durante os dias
úteis, proporcionando às escolas um espaço de formação essencialmente prático,
estimulando a reflexão crítica e a criatividade dos alunos, professores e educadores.
- Nas interrupções letivas do Natal, Páscoa e Verão serão programadas atividades de
caráter lúdico-pedagógicas dirigidas às crianças entre os 5 e os 12 anos, o que poderia
ser uma resposta social às necessidades dos funcionários docentes, não docentes e
investigadores que não têm onde deixar as suas crianças durante estas épocas do ano.
TÉCNICO 4 ALL
- Atividades nas áreas de ciência, engenharia, arquitetura e tecnologia visando despertar
o espírito científico. Pretende-se procurar desmistificar a visão de ciência como algo
complicado e distante, nela criando conteúdos científicos em ligação com o quotidiano
das pessoas, em experiências sensoriais que promovam a reflexão crítica e o seu
posicionamento em relação a temas centrais do seu quotidiano.“Popularizar” a ciência e
estimular o público de todas as camadas sociais é uma forma de difundir a ciência e de
promover a inclusão social.
- Oportunidades para que os públicos não atuem como meros espetadores mas que
participem de forma interativa e proativa na construção de novos sentidos e significados
da ciência e usando a arte. A arte, a ciência e a cultura são instrumentos que o homem
desenvolveu para interpretar e expressar o mundo que o rodeia, ou seja, oferecem
recursos variados que ajudam a perceber o mundo. Ao mesmo tempo, a arte amplia o
público que normalmente não tinha acesso às informações científicas. Possui o dom de
tocar, desde as crianças até aos idosos. Enquanto a arte for considerada lazer, a
facilidade em aprender com ela será sempre maior. Embora pareça recente, a divulgação
científica pela arte remonta ao Renascimento (ex: Leonardo da Vinci é considerado por
95
vários o maior génio da história, devido a sua multiplicidade de talentos para ciências e
artes, sua engenhosidade e criatividade, além de suas obras polémicas), nos séculos XV
e XVI.
- Aderir às comemorações de efemérides e dias comemorativos é uma forma de atribuir
dinamismo às iniciativas do museu e cativar visitantes (Dia Internacional dos Museus,
Dia dos Monumentos e Sítios, a Noite Europeia dos Museus, Jornadas Europeias do
Património, Dia Internacional dos Museus e Centros de Ciência, Dia Mundial da
Ciência, Dia do Técnico e outros).
6 Avaliação
As metodologias adotadas serão: uma avaliação formativa, com um carácter mais
descritivo, qualitativo, visando a adoção de medidas de ajustamento ou correção de
estratégias (tendo em conta que envolve dois museus) e outra sumativa, a realizar no
final de um ano de implementação do serviço educativo. Esta avaliação sumativa
integrará os dados recolhidos na avaliação formativa e faz a ponte entre o caminho
delineado e o caminho percorrido.
Serão utilizados diversos instrumentos de recolha de dados. A avaliação do
processo deverá ser realizada através de um relatório descritivo realizado pelos técnicos
que irão trabalhar no serviço educativo sobre as atividades realizadas, tendo em conta a
categoria e número de participantes envolvidos, o tipo de proposta didática e os seus
objetivos. A importância de refletir sobre a prática educativa numa perspetiva de
melhoramento, envolve necessariamente a sistematização dos dados recolhidos, a partir
dos vários instrumentos de avaliação que serão utilizados nas diversas atividades, de
forma a realizar um trabalho contínuo de ação-reflexão. Por isso propomos que a
elaboração dos instrumentos de avaliação tenha presente uma ferramenta de análise
denominada por “indicadores de alfabetização científica” (AC), desenvolvida por Tania
Cerati (2014) na sua tese de doutoramento. Esses indicadores podem ser desenvolvidos
nesta caso para ser aplicados à avaliação das atividades, são eles:
1. Indicador Científico: deve expressar a questão da natureza da ciência,
fornecendo suporte para que o visitante construa seu conhecimento sobre assuntos
científicos expostos.
96
2. Indicador Institucional: este indicador expressa informações sobre a
instituição científica, em qual esfera de poder está inserida, as atividades científicas que
desenvolve e sua função social, cultural e histórica.
3. Indicador Interface Social: está presente quando propicia a compreensão
da aplicação do conhecimento científico em situações quotidianas, bem como as
consequências que esse conhecimento pode desencadear para a atual e as futuras
gerações.
4. Indicador Estético-Afetivo: é identificado quando estão presentes aspetos
que despertam um conjunto de emoções, sensações, observações e sentimentos refletem
no público.
A autora entende que a ferramenta proposta, ao expressar seus indicadores e
atributos, irá favorecer a compreensão das inter-relações ciência e sociedade, a
compreensão da função social dos museus, o processo e os produtos do trabalho do
cientista e o entendimento de conceitos básicos da ciência, contribuindo, assim, para a
cultura científica das pessoas, fator essencial para o processo de Alfabetização
Científica.
A aplicação de um inquérito anónimo para todos os que participarem nas atividades
e/ou visitarem o espaço, também é um instrumento de avaliação pertinente para a
constante melhoria do projeto. Foi construída uma proposta de questionário escrito, que
pode ser preenchido pelo visitante dos três museus (Anexo 18). Foi tomado como base o
inquérito da OIM55
– Sistema de coleta de dados de público de museus. O questionário
foi construído em língua portuguesa, mas deveria ser criado um em língua inglesa,
tendo em conta a comunidade académica internacional que frequenta o IST e a pensar
no potencial público turista. O tempo estimado para o seu preenchimento não ultrapassa
os 10 minutos. Quanto ao conteúdo, este é composto por um conjunto de 20 perguntas,
6 das quais relativas à caraterização do visitante e 2 destinadas a comentários e
sugestões. Seguindo as recomendações da OIM também foi criada uma grelha de registo
da recolha dos dados (Anexo 19) e outra grelha com a finalidade de registar de recusas
de preenchimentos dos inquéritos (Anexo 20). Todos os documentos serão necessários
para o cruzamento de dados no momento de avaliação e para fins estatísticos.
55Observatório Ibero-Americano de Museus http://www.ibermuseus.org/instit/observatorio-ibero-americano-de-museus/
97
Poderão igualmente ser concebidos outros instrumentos de avaliação caso seja
necessário, tais como, entrevistas, focus group, a criação de um livro de visitas para dar
aos visitantes a oportunidade de comentar o que quiser sobre a sua visita aos museus ou
participação nas atividades.
Também se poderão vir a fazer estudos de impacto, com metodologias qualitativas,
que seguem os participantes noutros contextos, nomeadamente nos contextos escolares.
98
1 Conclusão
O que será o serviço educativo dos Museus do IST?
Depois de todo o percurso realizado para a elaboração deste projeto a resposta poderá
ser: “Pretende ser um mediador entre o público tanto leigo como especializado, do
universo da engenharia, arquitetura, ciência e tecnologia, através de um conjunto de
atividades educativas, culturais e sociais para todos os públicos”.
Os Museus do Técnico são lugares de aprendizagem a serem ativados. Com a
realização deste estudo pode-se concluir que a criação de um serviço educativo para os
museus do IST é uma mais-valia, pois é possível levar público aos espaços
museológicos pouco visitados, realizar atividades, criar materiais pedagógicos, espaço
para eventos. Em suma, os museus podem assim cumprir as suas funções educativas e
sociais. A partir deste projeto os museus podem passar a ser um novo espaço de ensino-
aprendizagem dentro da Escola. A tipologia de programação proposta com base no
potencial das coleções os museus do IST, pretende conseguir uma mudança social e
educacional apresentando a ciência, engenharia, arquitetura e tecnologia de uma forma
atraente a todos os públicos.
As estratégias utilizadas foram definidas a partir de diferentes contextos e das
observações, leituras, entrevistas e conquistas conseguidas. Não podem e não devem ser
consideradas como uma fórmula. Com toda a certeza, ao colocar em prática este projeto,
deveremos utilizar as referidas estratégias como referencial para a reflexão-ação.
Reconhecemos que há diferentes formas de um serviço educativo funcionar, assim
como há diferentes formas de organizar e gerir museus, mas a partir da nossa conceção
de museologia, e com os recursos reais e potenciais, foi possível planificar/construir
este projeto. A missão e os objetivos definidos, bem como as estratégias utilizadas na
elaboração deste projeto, não estão terminadas, e podem ser enriquecidas e refletidas
com a participação dos envolvidos na implementação do serviço educativo.
CAPÍTULO V – CONCLUSÃO E CONSIDERAÇÕES
FINAIS
99
Conforme foi proposto na avaliação deste projeto ao fim de um ano em
funcionamento existirá uma avaliação final da primeira fase de arranque. Nessa altura
com os instrumentos de avaliação que foram aplicados, será avaliado o impacto nos
visitantes, a qualidade do serviço prestado e a satisfação dos intervenientes seja a nível
dos utilizadores seja ao nível dos colaboradores. Esta avaliação servirá para melhorar a
imagem dos museus e do serviço educativo, assim como, na perspetiva de aumentar a
oferta de atividades para alargar o público, poderá potenciar a parceria com instituições
públicas e privadas, desenvolver projetos que se inserem no âmbito dos objetivos e
temáticas do IST.
Os contatos que foram realizados com outras instituições e entidades para a
elaboração deste trabalho foram sempre tão recetivos que mostram que vale a pena
apostar na promoção e valorização dos museus do IST, pois o interesse da comunidade
nesta área tem vindo a ser crescente.
2 Considerações finais
Neste processo sempre esteve evidenciado o interesse, emoção e sonho de promover
os Museus do Técnico junto da comunidade académica, por acreditar na dimensão
educativa do museu, bem como na sua função social. Ao iniciar o Mestrado de
Educação e Formação, no Instituto da Educação da Universidade de Lisboa, possuía
uma formação base em Ciências de Educação e Educação Social, e uma experiência
profissional e pessoal na participação em projetos culturais que me proporcionaram os
suportes necessários no sentido de indicar os caminhos que devia percorrer para
desenvolver este projeto. Ainda, como funcionária não docente do Técnico, a minha
inquietação era trazer público aos museus do Técnico. Questionava: “Porque museus tão
ricos, recheados de um acervo e espólio únicos, não são utilizados/visitados por parte do
público?” A primeira solução para mim, talvez pela minha formação, estava na relação
museu-escola. Posteriormente quando frequentei a unidade curricular Educação,
Cultura e Serviços Educativos, no 2º semestre do 1º ano curricular do Mestrado, onde
nasceu a ideia deste projeto, compreendi que os museus poderiam ter uma vertente
cultural, social e educativa em simultâneo.
Como já foi dito deste o início o presente projeto apresenta-se como um estudo para
a criação de um serviço educativo orientado para os museus do IST (DECivil e
Geociências). Tendo refletido sobre os elementos mais importantes para a conceção de
100
um serviço educativo, no contexto da educação museológica, a investigação pode ser
considerada como um documento técnico de consulta para profissionais dos serviços
educativos dos museus e educadores em geral. Este estudo apresenta-se como um
contributo para a conceção de serviços educativos orientados a pensar na requalificação
de espaços museológicos pouco visitados e aproveitando a riqueza do património para a
construção de experiências lúdicas e educativas, tendo em conta a satisfação do público.
Todo o percurso desenvolvido para a elaboração deste projeto de mestrado, leva a uma
profunda reflexão sobre que impacto terá um serviço educativo dentro da comunidade
académica, neste caso do IST. Com este trabalho foi possível conhecer mais sobre a
educação museal através das leituras para o enquadramento teórico, quais as
oportunidades e dificuldades e que métodos e estratégias são utilizados para colocar
estes serviços a funcionar. A elaboração deste projeto permitiu desenvolver capacidades
na área de especialização de desenvolvimento social e cultural através do envolvimento
em toda a dinâmica de elaboração de um projeto educativo museal com este cariz.
A componente prática deste trabalho focou-se na criação de um serviço para os
museus do IST. Embora ainda seja necessário realizar alguma requalificação dos
espaços a nível da conservação, catalogação, restauração e inventariação, pensamos que
com as dinâmicas que já acontecem nos museus e os documentos e instrumentos de
trabalho produzidos e elaborados, será possível dar início a implementação deste serviço
educativo de forma embrionária. Penso que neste momento não deve existir uma
preocupação com a quantidade das ações que possam a vir ser realizadas, deve existir
sim uma grande preocupação com a qualidade, conforme o IST já habituou o público.
Apesar das dificuldades inerentes à implementação de um projeto desta natureza,
nomeadamente no contexto universitário, podem ser criadas as condições necessárias
com o aproveitamento das sinergias internas dos vários serviços da instituição.
Este trabalho académico acabou por servir para sensibilizar todos os órgãos com
força de gestão e decisão quanto ao valor e à importância deste património científico e
cultural patente nos museus do IST que, no seu conjunto faz parte da história da ciência
em Portugal. A Escola deverá procurar estar atualizada no que diz respeito aos
princípios da “Nova Museologia”, na intenção de chegar mais perto da comunidade em
que os museus estão inseridos, alterando a imagem do museu “templo” em museu
“fórum” que hoje em dia carateriza os museus modernos (Cameron, 1971, cit. Primo,
2014, p. 5).
101
Por último, gostávamos de expressar o desejo de que os esforços e as atividades
desenvolvidas neste projeto, sejam o princípio de um projeto museal IST
multidisciplinar, incluindo as restantes áreas e funções como a catalogação,
inventariação, conservação e restauração e que também integre o museu do IST que não
foi abordado neste estudo. Consideramos que o projeto educativo está direcionado no
rumo certo e surgiu na altura certa, tendo em conta a conjuntura de outros projetos que o
IST tem em fase de lançamento. Estamos a referir-nos ao Técnico Learning Center56
e
ao Técnico Garden Center57
. Podemos ser ambiciosos e considerar este como o
primeiro passo para a criação de um serviço educativo para todos os espaços de
educação não-formal do IST.
Todo o trabalho desenvolvido foi gratificante, visto para além da experiência ganha
com a sua realização, também foi gratificante conhecer e trabalhar com as pessoas que
nele, direta ou indiretamente, estiveram envolvidas neste estudo.
56 Reconversão da Gare do Arco do Cego com o objetivo de implementar um Centro de Ensino/Aprendizagem Multifuncional, para
estudantes universitários e público diversificado; 57Transformação da Quinta dos Remédios, num Parque de Ciência e Tecnologia, irá contribuir para a promoção da divulgação
científica, bem como de atividades de âmbito social, cultural, desportiva e ambiental.
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Legislação, Códigos, Normas e Regulamentos
- Código deontológico do ICOM para museus
(Estabelece normas mínimas para a prática profissional e atuação dos museus e
seu pessoal. Ao aderir à organização, os membros do ICOM adotam as provisões
deste Código);
O Código Deontológico do ICOM foi adotado por unanimidade pela 15ª
Assembleia Geral do ICOM, reunida em Buenos Aires (Argentina), a 4 de
Novembro de 1986. Foi revisto pela 20ª Assembleia Geral reunida em Barcelona
(Espanha), a 6 de Julho de 2001, e pela 21ª Assembleia Geral de Seoul
(República da Coreia), a 8 de Outubro de 2004.
- Decreto-Lei nº 215/89 de 1 de Julho
(Aprova o Estatuto dos Benefícios Fiscais)
- Despacho n.º 1681/2011
(Regulamento do Departamento de Engenharia Civil, Arquitectura e
Georrecursos);
107
- Despacho n.º 12255/2013
(Estatutos do Instituto Superior Técnico);
- Despacho Normativo nº 3/ 2006, de 25 de Janeiro
(Formulário de candidatura à credenciação de museus);
- Estatutos da comissão nacional portuguesa do ICOM
(Concretizam as disposições dos estatutos do ICOM, em vigor desde 5 de
dezembro de 2016);
- Lei n.º 47/2004 de 19 de Agosto
(Aprova a Lei Quadro dos Museus Portugueses);
- Lei n.º 107/2001 de 8 de Setembro
(Estabelece as bases da política e do regime de proteção e valorização do
património cultural);
(Regulamento do Departamento de Engenharia Civil, Arquitetura e
Georrecursos)
- Lei nº49-2005, 30 de Agosto
(Lei de Bases do Sistema Educativo Português).
- Normas gerais de inventário Ciência e Técnica
(normas como inventariar peças museológicas e instrumentos científicos na área
da ciência e técnica)
- Recomendação da UNESCO 2015
(Recomendação relativa à proteção e promoção dos museus e das coleções, da
sua diversidade e do seu papel na sociedade, aprovada em 17 de novembro de
2015 pela Conferência Geral da UNESCO em sua 38ª sessão).
108
Webgrafia
- Arquivo de Ciência e Tecnologia da Fundação Ciência e Tecnologia (2015)
http://act.fct.pt/
- Direção Geral do Património Cultural http://www.patrimoniocultural.pt/pt/
- E- escola Instituto Superior Técnico http://e-escola.tecnico.ulisboa.pt/
- European Commission - Education & culture
http://ec.europa.eu/dgs/education_culture/index_en.htm
- IAPMEI https://www.iapmei.pt/
- Ibermuseus http://www.ibermuseus.org/pt/
- ICOM – Internacional Council of Museums http://icom.museum/
- ICOM – Internacional Council of Museums (Portugal) http://icom-portugal.org/
- INE https://www.ine.pt
- Instituto de Avaliação Educativa http://iave.pt/
- Instituto Superior Técnico https://tecnico.ulisboa.pt/
- Jornal “Público” http://www.publico.pt/multimedia/infografia/a-participacao-cultural-
em-portugal-106
- Jornal “Público” https://www.publico.pt/2016/09/08/local/noticia/universidade-do-
porto-recebe-19-milhoes-para-museu-de-historia-natural-e-da-ciencia-1743515
- Museu da Ciência da Universidade de Coimbra http://www.museudaciencia.org/
- Museu DECivil http://museudec.tecnico.ulisboa.pt/
- Museu do Instituto Superior de Engenharia do Porto https://www2.isep.ipp.pt/museu/
- Museu Faraday http://museufaraday.tecnico.ulisboa.pt/
- Museu Nacional de Arte Antiga http://www.museudearteantiga.pt/
- Museu Nacional de História Natural e da Ciência http://www.museus.ulisboa.pt/
- Musing on culture http://musingonculture-pt.blogspot.pt/
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- ONU http://www.un.org/
- PORDATA http://www.pordata.pt/
- Portal do instituto brasileiro de museus http://www.museus.gov.br/
- Roteiro das Minas e Pontos de Interesse Mineiro e Geológico de Portugal
http://www.roteirodeminas.pt/
- Técnico Learning Center http://learningcenter.tecnico.ulisboa.pt/
- The Art Newspaper http://theartnewspaper.com/
- The Field Museum https://www.fieldmuseum.org/
- UNESCO http://www.unesco.org
- Universeum http://universeum.it/