PROJETO PROVEDOR DE INFORMAÇÕES SOBRE O SETOR … · 4 Num contexto pós acidente de Fukushima,...
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PROJETO PROVEDOR DE INFORMAÇÕES SOBRE
O SETOR ELÉTRICO
RELATÓRIO MENSAL ACOMPANHAMENTO DE CONJUNTURA1:
INTERNACIONAL Maio de 2011
Nivalde J. de Castro
Rafael Cattan
1 Participaram da elaboração deste relatório como pesquisadores Roberto Brandão, Bruna de Souza Turques, Rafhael dos Santos Resende, Diogo Chauke de Souza Magalhães, Débora de Melo Cunha e Luciano Análio Ribeiro.
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ÍNDICE
1 - SUMÁRIO.....................................................................................................................................................................3
2 – INTEGRAÇÃO ENERGÉTICA.................................................................................................................................5
3.0 - Conjuntura energética na América Latina
3.1 – ARGENTINA..........................................................................................................................................................7
3.2 – BOLÍVIA .................................................................................................................................................................7
3.3 – CHILE.......................................................................................................................................................................10
3.4 – PERU........................................................................................................................................................................11
3.5 – VENEZUELA .......................................................................................................................................................13
4.0 – Energia no Mundo
4.1 – ALEMANHA..........................................................................................................................................................15
4.2- EUA................................................................. ...........................................................................................17
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Sumário
No cenário latino americano, chamou atenção a aprovação por parte da Comissão de Avaliação
Ambiental, da execução do megaprojeto hidroelétrico chileno conhecido por Hydroaysén.
Segundo estimativas, o valor do investimento seria de US$ 2,5 bilhões e injetaria até 2,75 Gw
no sistema. A decisão foi tomada sob protestos em diversas cidades do país onde mais de 100
manifestantes foram presos.
Além do governo chileno, quem também pretende investir em grandes projetos é a Bolívia.
Autoridades da estatal YPFB anunciaram que até 2015 cerca de US$ 300 milhões seriam
investidos no sistema de transmissão de gás natural a fim de duplicar a capacidade de
transporte do combustível. Somado a isso, a estatal encontrou 3 TCF em nova reserva de gás a
ser explorada a partir 2014.
Além da Bolívia, Argentina também descobriu um dos maiores campos de gás natural não
convencional do mundo, estimado em 774 BCF. Apesar disso, autoridades alertam para a
carência de investimentos no setor energético.
Este problema, aliás, é semelhante ao enfrentado pelo governo da Venezuela que está
implementando políticas de racionamento como resposta à má capacidade de fornecimento
elétrico no país. São inúmeros os casos de apagão espalhados por todo o território,
prorrogando uma crise que já perdura por mais de um ano.
No que pode ser uma solução para os problemas energéticos do continente, a integração
energética dá mais um passo importante. Em acordo bilateral entre os governos do Brasil e
Paraguai, Itaipu ganhará uma linha de transmissão para levar eletricidade até a capital do país
vizinho.
No cenário global, enquanto o debate político em torno da energia nuclear continua gerando
controvérsias, os investimentos em fontes renováveis mais seguras continuam dando sinais
positivos ao futuro energético mundial. Ao passo que alguns vêem a energia nuclear mais cara
e improvável no futuro, outros afirmam que ela será desenvolvida e se consolidará como fonte
base. Hoje ela representa não mais que 8% da matriz energética mundial.
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Num contexto pós acidente de Fukushima, enquanto em que alguns países revelam planos de
implantação de energia nuclear, a Alemanha decide acabar com a fonte radioativa. Num
comunicado feito no dia (30/05), o Ministro do Meio Ambiente Norbert Rottgen anunciou que
até 2022 todas as usinas nucleares do país serão fechadas, dando um sinal importante da
postura do governo com relação aos riscos envolvidos no tipo de geração.
Do outro lado do debate, um estudo da ONU revela que no cenário mais provável, 77% da
energia mundial será proveniente de fontes alternativas. Corroborando com esta análise, os
investimentos em fontes renováveis são recordes e em 2010 alcançaram a marca de US$ 240
bilhões.
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2 – Integração energética
Neste mês destacaram-se dois projetos importantes de integração energética envolvendo a
Bolívia. Segundo representantes da estatal boliviana YPFB, o país estaria interessado em
utilizar instalações de gás no peru para exportar ao mercado asiático. “Há um acordo
binacional firmado em outubro entre os presidentes Evo Morales e Alan Garcia que nos deu
uma zona portuária ampla que prevê a instalação de uma zona energética”, anunciaram
representantes da companhia estatal.
Além deste projeto, o governo boliviano negocia também acordos em território argentino. O
Gasoduto Noroeste Argentino (GNEA) irá transportar gás a partir da Bolívia em “princípios do
próximo ano” num investimento estimado em 6,1 bilhões de dólares, segundo informações do
interventor da Enargas, Luis Pronsato. O duto vai beneficiar cerca 3,4 milhões de habitantes de
165 cidades das províncias argentinas de Salta, Formosa, Chaco, norte de Santa Fe, Corrientes
e Missiones.
É importante lembrar que Bolívia e Argentina ratificaram, neste mês, a consolidação da
integração energética com o Gasoduto de Integração Juana Azurduy (GIJA). O projeto, similar
ao gasoduto Bolívia-Brasil, está praticamente pronto para ser habilitado nos primeiros dias de
junho e desta forma beneficiar diversas províncias do país vizinho. Com uma extensão de 48
km o projeto levará gás boliviano de Campo Grande até Madrejones ainda em território
boliviano e, no lado argentino, até Campo Duran. Os volumes de transporte do gasoduto
ascendem a 7,7 milhões de metros cúbicos por dia (MMCd), cifra que aumentará gradualmente
até o próximo ano.
Enquanto isso, o acordo bilateral de Itaipu está prestes a dar mais um passo importante em
sua estratégia de integração elétrica. Segundo representantes do governo brasileiro, foi
firmado uma acordo para a construção de uma linha de transmissão que levará energia
elétrica até a capital Assunção. O acordo ocorre num momento em que o crescimento recorde
do Paraguai, acima de 14% no ano passado, começa a atrair empresas privadas com interesse
em investir no país, sobretudo pelo baixo custo da energia, atraindo setores ligados à indústria
extrativa e agropecuária.
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O Paraguai estaria, ainda, interessado em ampliar seus projetos de integração para o ano de
2015. Segundo delegados do país, haveria possibilidade de prover energia elétrica ao mercado
chileno que necessitaria importar eletricidade justamente no momento em que o Paraguai
estaria apto a fornecer a energia. Segundo Mercedes Canese, vice ministra de Minas e energia
“quando terminarmos nossa linha de 500 kV em 2012, será exatamente momento em que sua
necessidade (do Chile) vai aumentar”
A questão que se coloca, todavia, é a necessidade de autorização por parte da Argentina para
transportar a energia do Paraguai até o Chile e o Uruguai. Segundo o governo paraguaio o país
é muito importante em setores estratégicos como comércio e na agilização de acordos que
garantam a livre circulação de pessoas e bens. Já está prevista uma reunião no grupo de
trabalho da energia do MERCOSUL pra o mês de junho.
O Peru, por outro lado, não se prendeu ao contexto regional e planeja intensificar suas
relações com a Coréia do Sul. Integrado em diversos projetos de energia e recursos minerais, o
vice-ministro peruano de Minas, Fernando Gala, afirmou no marco da Quinta Reunião do
Comitê Conjunto Peru-Coréia para a Cooperação de Energia e Recursos Minerais, que “Esta
reunião serviu para fortalecer as relações entre ambos os países em setores estratégicos. Para
nós a Coréia serve de exemplo por ser uma das principais economias do mundo, como
mostram os principais indicadores macroeconômicos”. Segundo o documento do encontro,
ambos os países se comprometem a estimular os projetos de hidrocarbonetos e gás que as
empresas coreanas de exploração e produção, como a Korean National Oil Corporation e a SK
Innovation desenvolvem no Peru.
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3.0 – Conjuntura energética na América Latina
3.1 - ARGENTINA
Um informe do departamento de energia dos EUA anunciou um mega campo de gás natural
não convencional no distrito de Neuquén, na Patagônia. A reserva é estimada em 774 BFC
(bilhões de pés cúbicos) e já é vítima de disputas de empresas interessadas nas licitações para
extração. A Argentina, no entanto, apresenta um cenário energético contraditório. No
momento em que é anunciada a descoberta dessa imensa reserva de gás natural, o setor vem
recebendo cada vez menos investimentos, ao passo que o consumo de combustíveis fósseis
apresentou forte estagnação nos últimos anos. A extração de petróleo, por exemplo, foi
reduzida em aproximadamente 5,5% entre 2005 e 2008. Ex Secretários do Ministério de
Energia do país afirmaram, pois, que o problema em questão é a ingerência política na esfera
econômica, além do baixo investimento público no setor.
Se isso significa uma notícia negativa em termos estritamente econômicos, o país merece
elogios na questão ambiental. Foi o que mais desenvolveu fontes alternativas nos últimos anos
e planeja continuar essa trajetória positiva. No dia (20/05) foi anunciado o maior parque
eólico da Argentina, através de um investimento estimado em US$ 96milhões. Localizado em
La Rioja, o parque conta com 12 moinhos de vento e capacidade instalada de 25,2 MW. O
governo, que detém a maior parte do projeto, anunciou ainda que pretende duplicá-lo até
2012 com a inclusão de mais 12 turbinas.
3.2 - BOLÍVIA
Chamou a atenção na Bolívia o anúncio de um mega projeto de expansão da capacidade de
transmissão do país. Orçado em US$ 287 milhões, que serão investidos até 2015, a estatal
YPFB estima duplicar a capacidade de transporte de gás e ainda atrair capitais para a mudança
na matriz energética além de abastecer regiões em todo território nacional. Dos projetos mais
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importantes já anunciados, o presidente de YPFB transportes mencionou o Gasoducto de
Integración Juana Azurduy (GIJA) cujo investimento inicial seria de US$ 27,5 milhões e ainda, a
ampliação do Gasoducto Al Altiplano (GAA) que demandará US$ 50 milhões, também em sua
primeira fase.
Além dos investimentos em transmissão o país demonstra-se alerta para a provisão do gás
natural. Em consonância com isto, foi anunciada a descoberta de uma reserva com capacidade
estimada em 3 TCF num campo conhecido como Incahuasi . Estimado para ser explorado a
partir de 2014, ele terá seu terceiro poço perfurado ainda este ano, de acordo com o
presidente da YPFB, Carlos Villegas. Segundo ele, a partir deste ano, os investimentos vão
chegar a 800 milhões de dólares em todas as atividades e espera-se que em 2014 já se possa
contar com 6,5 milhões de metros cúbicos.
O desenvolvimento de todo o campo vai requerer mais de US$ 1, 050 bilhões de dólares em
sua primeira fase, que será concluída em 2015, quando os três poços já poderão produzir 6,5
milhões de metros cúbicos ao dia de gás. Na segunda fase, em 2017, passariam a ser
explorados outros três poços e na terceira fase, quando nove poços estariam em
funcionamento produzindo cerca 18 MMmcd, no ano de 2020.
A boa notícia para o país é que governo dá sinais de cumprir seu plano de investimentos orçado em
US$ 700 milhões destinados ao setor elétrico, conforme anunciou um boletim do banco central: “No
marco de sua política de transparência institucional e em cumprimento da décima oitava cláusula do
respectivo contrato BCB comunica que em 12 de maio, vai efetuar o quinto desembolso em favor da
YPFB em um total de Bs 68.320,260”
Carlos Villegas destacou que os investimentos em 2009 somaram 600 milhões de dólares e em
2010 chegaram ao patamar de 750 milhões. Para este ano se programa destinar à exploração e
ao desenvolvimento da produção o recorde de 1,814 bilhões de dólares. Desse montante, 67%
virão da YPFB e 37% das empresas privadas. O presidente da estatal ainda destacou que os
novos modelos de contrato estabelecem que as empresas privadas impulsionem
investimentos para a exploração, de modo que assim possam ampliar seus vínculos com a
estatal.
Outra notícia positiva foi a arrecadação recorde de royalties provenientes da extração de gás.
Entre os meses de janeiro e abril deste ano, a Bolívia recebeu US$ 572,4 milhões, superando
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em 47,4% o arrecadado no mesmo período em 2010, quando a YPFB depositou nas contas
fiscais US$ 388,1 milhões. Após o plano de nacionalização dos hidrocarbonetos inaugurado
por Evo Morales, estes recursos são transferidos para as contas do Tesouro Geral do Estado e
dos governos dos departamentos produtores de hidrocarbonetos.
A Empresa Rural de Eletrificação boliviana (Emprelbaz), diante da disponibilidade de
recursos, anunciou um projeto de eletrificação em 132 comunidades de seis províncias,
através de um investimento de 3,5 milhões de dólares. . “O projeto, que contempla outras
propostas de investimento, não somente garante que as 132 comunidades obtenham energia
elétrica, mas que também melhorem suas condições de vida em outras áreas como saúde,
educação e áreas produtivas, nas quais posteriormente a empresa vai destinar outros
investimentos com a finalidade de permitir democratizar os serviços básicos”
E essas notícias vêm em bom momento, à medida que o Sistema Interconectado Nacional (SIN)
boliviano registrou várias falhas no mês em decorrência de problemas em três geradoras que
comprometeram cinco regiões no país. O que preocupa os especialistas, no entanto, é a
estreita margem entre oferta e demanda elétrica que há no país. Segundo informações da
CNDC, a geração de eletricidade na Bolívia é de aproximadente 1.044 MW enquanto a
demanda alcança 1.029 MW. Os problemas de disponibilidade de potência, portanto, afetam os
consumidores do SIN de maneira proporcional à sua demanda. A notícia levou, inclusive, ao
pronunciamento do presidente da YPFB, Carlos Villegas, que declarou que a produção local de
GLP vai cobrir a demanda, de modo que a população pode ficar “tranquila”. “O que a população
mais demanda é gás liquefeito, petróleo, diesel e gasolina, cujo abastecimento estará
garantido. Não vamos ter problemas de nenhuma natureza durante a temporada de inverno”,
assegurou Villegas.
Se no cenário doméstico há preocupação com o fornecimento do combustível, no comércio
exterior o cenário é positivo. No primeiro trimestre deste ano, as exportações de gás natural
ao Brasil e à Argentina geraram uma receita de US$ 776,4 milhões, um aumento de 33,9% em
relação ao mesmo período do ano passado. De acordo com um informe do Instituto Nacional
de Estatística (INE), as vendas de gás natural ao Brasil de janeiro a março deste ano somaram
US$ 597, 59 milhões, enquanto o montante destinado à Argentina foi de US$ 178,85 milhões.
“Após a manutenção programada nas usinas de processamento de gás nos megacampos San
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Alberto e Sábalo, a partir de 1 de fevereiro, se incrementou a capacidade do processo em
ambas as usinas permitindo a entrada da produção do campo Itaú, de modo que se
exportaram maiores volumes do energético aos países vizinhos”, indica informe da YPFB
Corporación.
As projeções futuras no mercado externo são ainda mais positivas. Em anúncio foi feito pelo
presidente executivo da YPFB Transporte S.A, Christian Inchauste, a YPFB Transportes S.A
projeta uma forte alta da demanda dos estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, aonde o
gás boliviano chega a um preço menor do que o gás brasileiro extraído do atlântico ou mesmo
de outros países. O estudo apresentado pela empresa destaca que o Brasil terá que elevar sua
demanda de gás boliviano em virtude do crescimento econômico esperado. Ainda segundo a
avaliação da empresa, o Brasil poderia requerer a capacidade máxima do contrato: 31 milhões
de metros cúbicos. Segundo Inchauste, o Brasil consome atualmente 52,9 MMmcd e poderá
ascender a 200 MMmcd no final da década.
3.3 CHILE
A Endesa conseguiu a autorização da Comissão de Avaliação Ambiental (CEA) do Chile para a
construção do mega-projeto hidroelétrico de HidroAysén. Localizado na Patagônia e orçado
em US$ 2,5 bilhões de dólares, o projeto consiste na construção de cinco represas nos rios
Baker e Pascua para adicionar 2,75 GW. A construção, no qual Endesa tem participação de
51% e Colbun 49%, conta também com apoio do governo chileno. As cinco hidrelétricas terão
uma potência estimada em 35% do atual consumo elétrico do país e para sua instalação será
necessário alagar uma área de 5.700 hectares na região de Aysén.
Após a aprovação do projeto, houve uma série de protestos em várias cidades do país, que
resultaram em choques com a polícia e na prisão de mais de 120 manifestantes. Além disso,
Deputados do bloco Concertación anunciaram ontem que vão tentar criar uma comissão de
investigação para apurar supostas irregularidades na aprovação do projeto da HidroAysén.
Vale ressaltar, ainda, que uma pesquisa feita pelo instituto Ipsos apontou que 61% da
população chilena rejeita o projeto.
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O governo, por sua vez, anunciou a formação da Comissão de Assessoria para
Desenvolvimento Elétrico. “O Presidente Piñera nos solicitou o estabelecimento de uma
comissão de trabalho com um caráter transversal e representativo, composto por especialistas
em matéria energética, em meio ambiente e regulação, que terá a missão de abrir o debate
sobre o sistema elétrico nacional, baseada nos recursos disponíveis no Chile”, declarou o
ministro de minas e energia Laurence Golbourne. Segundo este, a instituição pretende
desenvolver políticas energéticas de estado a fim de beneficiar todas as etapas do sistema
elétrico, da geração à comercialização.
O ministro destacou ainda que o custo de energia é um dos imperativos para se poder ser mais
competitivo, ter mais desenvolvimento e maiores possibilidades de emprego. “É necessário
buscar mecanismos para aumentar a competição para permitir que distintos geradores de
energias renováveis não convencionais possam se conectar facilmente à rede, podendo chegar
facilmente a distintos clientes e no futuro permitir que as pessoas possam escolher que tipo de
energia consumir”.
Exemplo do alto custo de investimentos em energias renováveis não convencionais foi um
estudo que revelou a proporção dos custos de geração no país. Segundo fontes do mercado, a
economia de US$ 129 milhões provenientes da implantação de 28 unidades de energia não
convencional são equivalentes a apenas uma unidade hidrelétrica em termos de custos. O
problema destacado, no entanto, é o grande impacto ambiental decorrente dos reservatórios
hídricos que envolvem grandes áreas. As 28 unidades em operação hoje são responsáveis por
3% da produção total de eletricidade no país.
3.4 – PERU
País que merece destaque por seu ritmo de crescimento no cenário latino americano, o Peru
dá sinais de mudança em sua matriz energética ao passo que a geração hidrelétrica está sendo
suplantada pela exploração de gás natural.
A título de ilustração dessa mudança de cenário, a consultoria Maximize anunciou que enquanto a
geração hidrelétrica cresceria 5,2% as Termos teriam avanço de 11,8% No primeiro bimestre de
2011 a geração de eletricidade total foi 5.758, 4 Gwh,, configurando um aumento de 8,2% em
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relação ao ano anterior. As centrais hidráulicas geraram apenas 19.561,3 Gwh deste total, ou
0,7% a mais com relação ao ano anterior, enquanto a geração de usinas térmicas foi de
13.496,1 Gwh, determinando um crescimento de 21,3%.
Em conformidade com a mudança em questão, a Cálida Gas Natural de Lima e a Callao,
concessionária do sistema de distribuição de gás, vão investir um bilhão de dólares nos
próximos 12 anos na execução do Plano de Massificação de Gás Natural, estimou hoje o
gerente geral da empresa, Mario Trujillo.
Outra empresa que já anunciou planos de investimentos na fonte foi a Gás Comprimido do
Peru (Gascop). Calculado em USS$ 3 milhões, o plano prevê a construção de uma estação na
província de Chiclayo, em Lambayeque com a finalidade de abastecer os veículos de serviços
públicos. Edgar Sánchez, gerente geral da companhia, informou que a construção ficará em
uma zona estratégica, na qual futuramente vai funcionar um importante terminal de
transporte “A mega-estação será construída em uma área de 4.000 metros quadrados, sendo
formada por 8 jatos e 3 compressores de alta velocidade para atender a demanda do mercado
de veículos, incluindo o transporte público, de modo que se estimule a conversão ao gás
natural”, destacou.
Também em consonância com este cenário, o Consórcio Camisea anunciou que os royalties
pagos ao Estado peruano pela atividade de gás no respectivo período alcançaram US$ 115,4
milhões. Metade destes recursos são distribuídos de acordo com a Ley de Canon ao governo
regional de Cusco e aos governos municipais locais. O governo regional de Cusco, por exemplo,
recebe mais de três milhões de novos soles diários por conta dos royalties. Desde o início do
projeto no ano de 2004, o consórcio de Camisea entregou ao Estado 2,869 bilhões de dólares
em royalties.
Na contramão da tendência de gasificação, o presidente do Peru, Alan Garcia, anunciou o
desenvolvimento de 20 centrais hidroelétricas no rio Marañon, localizado na província de
Lauricocha, que, em conjunto, alcançam um potencial energético de cerca de 12.400 Mw. As
centrais que contam com maior potencia são Manseriche (4.500 Mw), Escuprebraga (1.800
Mw) e Rentema (1.500 Mw). A iniciativa marca uma nova etapa de desenvolvimento
energético do Peru. Neste sentido, Garcia já publicou um decreto supremo do Ministério de
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Energia e Mineração que qualifica este projeto como de interesse nacional e social para o
longo prazo no país.
3.5 – VENEZUELA
Em virtude da crise do setor elétrico no país, o governo agora se volta para políticas de
incentivos ao racionamento energético. Neste sentido, o Ministro da Energia Elétrica, Ali
Rodriguez Araque, afirmou que uma das medidas estudadas seria diminuir a tarifa paga por
todas as pessoas que consumam menos de 500 kW ao mês, além de incrementar a tarifa de
quem ultrapassar este patamar de consumo. Outra medida que será ratificada será a
substituição por lâmpadas mais econômicas. “É importante continuar adotando esta medida,
dado que no ano passado conseguimos economizar 1.000 mW de energia elétrica em todo
território nacional”, destacou o ministro.
A Corporação Elétrica Nacional (Corpoelec), por exemplo, decidiu adotar um plano de
racionamento de energia em grande parte do país, como conseqüência da falha na região
Centro ocidental, informou o coordenador do Centro Nacional de Despacho do Ministério de
Energia Elétrica, Igor Gavidia. “Fomos levados a implementar o racionamento tendo em vista
que desde o início da noite havia pouca geração de energia termoelétrica”, afirmou.
E não é só a companhia que sofre com os apagões cada vez mais constantes. Além do estado de
Zulia, os habitantes de San Mateo, contabilizaram 24 horas sem energia elétrica, dadas as
interrupções constantes do serviço no decorrer do mês. “Não temos luz há dois dias”,
comentou Ronal Gutiérrez, habitante do centro de San Mateo. Um total de 26 conselhos de
comunidades do município Sucre e parte de Bolívar se declararam em estado de emergência
pela falta de serviço e protestaram pela paralisação da subestação KCT Cumaná Segunda.
Segundo José Villamizar, secretário do Sindicato dos Trabalhadores de Construção, esta
subestação está em período final de estabelecimento, faltando apenas construir alguns
transformadores de 230 Kv. “A maior parte da energia vem de Guri onde ainda persistem
debilidades na geração termoelétrica, na transmissão e na distribuição, o que compromete a
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estabilidade do sistema elétrico”, disse Igor Gavidia, diretor do Centro Nacional de Despacho,
que atribuiu as falhas e o racionamento à falta de uso racional e eficiente da energia.
O engenheiro José Manuel Aller, da Universidade Simon Bolívar, afirmou que os planos de gás
para reduzir o uso de combustíveis líquidos em usinas térmicas apresentam falhas
relacionadas à falta de regras para os investidores, que impedem o desenvolvimento do setor.
A autoridade citou também o caso de Guri, no qual, segundo ele, houve um aumento da
dependência desse sistema que é incapaz de atingir todo país, devido a “atrasos dos
investimentos que se anunciaram em transmissão”. No mesmo sentido Diego González, ex
gerente da Pdvsa Gás, destaca que “o déficit de gás natural continua em aumento porque não
há o desenvolvimento de projetos de produção de gás que diminuam a dependência do
petróleo”. Segundo este especialista, o déficit gira em torno de 2,5 milhões de pés cúbicos.
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4.0 – Energia no Mundo
No debate ocorrido neste mês podemos concluir que, quanto ao futuro da energia nuclear no
mundo só se pode constatar um fato: sua incerteza. No rastro do anúncio do governo Alemão
que decretou o fim da geração nuclear, países mostram posturas distintas quanto ao
problema.
Em um estudo, a AIEA indicou que 25 países pretendem dar início à geração nuclear até 2030.
Além de países europeus como Polônia, Itália e Turquia, Cazaquistão, Bangladesh, e Indonésia
também encabeçam o grupo. Na América latina o Chile anunciou o início de operações até
2024.
A opinião de especialistas, no entanto, diverge quanto à evolução da energia radioativa. Ernest
Moniz especialista no tema, professor do MIT e ex-secretário-adjunto de energia do governo
Clinton, afirmou que as estratégias pós Fukushima irão variar de país para país. Apesar disso,
a tendência é que a energia se tornará mais cara e, assim, menos competitiva no cenário
energético. "Ninguém mais aceitará a construção de novos reatores com as mesmas regras de
segurança usadas até agora", afirmou O físico nuclear José Goldemberg, em acordo com a idéia
de Moniz. De acordo com o especialista americano, a principal questão ainda não foi
solucionada: o lixo nuclear.
Do outro lado da moeda, segundo um estudo da ONU, até 77% da energia elétrica consumida
no mundo poderá vir de fontes renováveis até 2050. O número poderá ser considerado um
grande avanço ante a participação de só 13% dessas fontes em 2008, de acordo com um
relatório divulgado nesta segunda-feira, pela ONU. O estudo fez uma avaliação de quatro
possíveis cenários para as próximas quatro décadas, levando em conta o crescimento da
população, o consumo de energia per capita e a eficiência da produção, o consumo de energia e
custo-benefício das fontes renováveis. No cenário considerado mais otimista pelo IPCC, 77%
de energia seriam provenientes de fontes renováveis, enquanto no pior cenário esse índice
ficaria em 15%.
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Em consonância com o estudo, outras pesquisas apontam que nos EUA e na Europa essas
fontes já consistem na maior parte da nova capacidade instalada por ano. Estudo do
Developing Renewable Energy Capacity, do Fórum Econômico Mundial, revelou, no entanto,
que a questão vai muito além da disponibilidade financeira e engloba a institucionalidade
política. Marcos regulatórios mais flexíveis e sistemas de transmissão capazes de atender às
fontes renováveis são exemplos dessa mudança de enfoque que visa o desenvolvimento das
mesmas.
4.1 – Alemanha
O governo da Alemanha anunciou através do ministro do Meio Ambiente acordo para o
fechamento de todas as usinas nucleares do país até 2022. A chanceler Angela Merkel criou
uma comissão de ética para analisar a energia nuclear após o desastre ocorrido na usina
japonesa de Fukushima. Rottgen afirmou que os sete reatores mais antigos do país, que já
estavam parados por uma moratória determinada pelo governo, além da Usina Nuclear
Kruemmel, não serão reativados. Mais seis reatores devem ser desligados até 2021, e os três
mais novos devem ser desativados em 2022. “É definitivo. O fim das últimas três usinas
nucleares será em 2022. Não haverá cláusula para revisão”, afirmou o ministro.
Se a fonte nuclear não faz mais parte do programa energético alemão, as fontes renováveis se
demonstram fundamentais. A primeira usina offshore comercial do país entrou em operação
neste mês, disposta de 21 turbinas na costa alemã, no Mar Báltico. O novo parque de energia
eólica marítima terá capacidade de produção de 48,3 megawatts. Outras 80 turbinas ainda
estão previstas para serem adicionadas até 2013.
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4. 2 – EUA
O primeiro projeto de sequestro de carbono em grande escala na América do Norte, nas
margens do rio Ohio em New Haven, vai completar sua missão em breve, com volume
inesperado de boas notícias. Em um tipo de rocha, o dióxido de carbono parece escorrer pelos
pequenos espaços abertos com maior facilidade do que projetado, o que significa que o
trabalho poderá ser mais fácil do que se pensava. O seqüestro de carbono vem ganhando
destaque na agente sustentável dos países e já configura como uma das principais soluções
adotadas em matéria de redução de gás carbônico na atmosfera.
Encorpando o plano de limpeza da matriz energética, fazendas de painéis solares aquáticos
despertaram o interesse de agências de água municipais, agricultores e mineradoras, atraídos.
Embora ainda seja um mercado nicho, podem ganhar tamanho considerável no futuro. Na
Califórnia já são mais de 1000 unidades de painéis solares aquáticos em unidades agrícolas.
Em virtude do crescimento recente e das perspectivas futuras também positivas, a América
latina se tornou a menina dos olhos dos investimentos internacionais, diretos ou indiretos,
alavancando receitas de empresas estrangeiras do setor elétrico instaladas no continente.
Segundo a AES Corp, os bons resultados na América Latina, em decorrência de preços e
volumes maiores de energia, contrabalancearam a queda de preços na Europa e menor
demanda na Ásia. Na América Latina, a área de geração faturou US$ 1, 131 bilhão nos três
primeiros meses do ano, contra US$ 983 milhões em 2010.
Outro exemplo evidente foram os números apresentados pela GE na região. A receita cresceu
30% no primeiro trimestre deste ano na comparação com igual período do ano passado.
Segundo representantes da empresa, os desafios de infraestrutura na região são uma
"oportunidade maravilhosa" para a GE, à medida que a companhia procura focar-se mais em
projetos industriais.