PROPOSTAS PARA A REATIVAÇÃO DO TURISMO NA TRILHA DA NASCENTE, LAGOA MISTERIOSA/PASSO DO CURÊ –...

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PROPOSTAS PARA A REATIVAÇÃO DO TURISMO NA TRILHA DA NASCENTE, LAGOA MISTERIOSA/PASSO DO CURÊ – JARDIM, MS

Heros Augusto Santos Lobo*

Danielly Gomes Chaves**

Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul. Curso de turismo com ênfase em ambientes naturais. Laboratório de Planejamento e Organização do Turismo em

Ambientes Naturais – LabPOTAN. 0xx67 3411-9139/9140

Eixo temático: A Trilha Sub-eixo: Planejamento e Manejo

Resumo O presente trabalho resulta de uma pesquisa realizada a título de conclusão do curso de bacharelado em Turismo na Trilha da Nascente, localizada no atrativo Lagoa Misteriosa/Passo do Curê, em Jardim, MS. A base para a execução da pesquisa foi pautada na perspectiva de realização do turismo em áreas naturais com o mínimo de impactos possível, bem como na inclusão de pessoas portadoras de necessidades especiais, sobretudo cadeirantes. A partir disso, foi efetuado o cálculo preliminar da Capacidade de Carga da trilha, considerando como indicadores o período de chuvas, a erosão do solo e a distância entre grupos, tendo por base a metodologia de Cifuentes. As conclusões apontam para um total de 144 visitas diárias no atrativo, o que vai ao encontro da perspectiva de controle quantitativo do número de turistas, de forma a proporcionar um encontro mais direto com a natureza. Apontam também para a necessidade de se oferecer espaços adaptados às especificidades dos cadeirantes, de forma que estes também possam usufruir do turismo em áreas naturais. Palavras-chave: Capacidade de Carga; Manejo de Trilhas; Turismo Adaptado. 1 Introdução

O presente trabalho é fruto da adaptação do Trabalho de Conclusão do Curso

de Turismo com ênfase em ambientes naturais da Universidade Estadual de Mato

Grosso do Sul, campus Jardim, na linha Planejamento e Organização do Turismo em

Ambientes Naturais – POTAN.

A área da presente pesquisa está inserida no atrativo Lagoa Misteriosa/Passo

do Curê, município de Jardim, MS. O atrativo localiza-se na Rodovia MS 178, que liga * Bacharel em Turismo pela Universidade Anhembi Morumbi – UAM. Especialista em Gestão e Manejo Ambiental em Sistemas Florestais pela Universidade Federal de Lavras – UFLA. Mestrando em Geografia pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul – UFMS. Professor, pesquisador e atual coordenador do curso de Turismo com ênfase em ambientes naturais da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul – UEMS/Dourados, MS. Atual presidente do Conselho Deliberativo da Sociedade Brasileira de Espeleologia – SBE. Filiado à Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Turismo – ANPTUR. [email protected] ** Bacharel em Turismo pela Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul – Jardim, MS. Pós-graduanda em Planejamento e Gestão Ambiental pelo Centro Universitário UNAES. Professora do curso de Turismo com ênfase em ambientes naturais da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul – UEMS/Jardim, MS. [email protected]

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o município de Bonito à Rodovia BR 267. Sua principal atratividade é a Lagoa

Misteriosa, uma cavidade natural alagada que já foi prospectada até 220 metros de

profundidade, onde é possível praticar mergulho e flutuação (sonrkeling). O atrativo

iniciou os trabalhos ligados ao turismo em meados de 1996, passando por diversas

fazes quanto aos fluxos de visitação. Desde 2004, o atrativo encontra-se desativado,

face aos procedimentos ligados a espoliação da área, bem como pela falta de plano

de manejo e licenciamento ambiental. Outros roteiros complementam sua oferta

turística: visualização de queixadas, passeio de bote, carretilhas nos rios e a Trilha da

Nascente, objeto do presente estudo.

Considerado o contexto apresentado, o presente trabalho tem por objetivo

apresentar o planejamento de alguns procedimentos para otimizar o uso turístico da

Trilha da Nascente, considerando a possibilidade de visitação por Pessoas Portadoras

de Necessidades Especiais – PPNEs, bem como alguns apontamentos referentes ao

cálculo de sua Capacidade de Carga.

Os procedimentos metodológicos adotados incluem: pesquisas bibliográficas;

visitas de campo utilizando os procedimentos descritos por Andrade (2003), em

conjunto com um GPS – Global Positioning System – para medição e análise da trilha;

e a metodologia de Capacidade de Carga de Cifuentes (ARIAS et al., 1999) para o

apontamento preliminar do limite quantitativo de visitas diárias no roteiro.

2 Turismo e suas interfaces com a natureza

Para obter uma definição mais precisa a respeito de turismo faz-se necessário,

principalmente, distinguirmos entre fazer turismo e explorar turismo, ou seja, o turismo

como modo de vida ou como meio de vida. “O Turismo é uma atividade econômica

pertencente ao setor terciário, que mais tem obtido índices de crescimento nas

economias industrializadas” (OMT, 2001, p. 4).

Para a compreensão da historia do turismo, é necessário diferenciar a viagem

turística de outros tipos de deslocamento, como aqueles relacionados com as

campanhas militares, as transumâncias e o nomadismo.

O turismo deve ser compreende as atividades realizadas pelas pessoas durante suas viagens e estadas em lugares diferentes do seu entorno habitual, por um período consecutivo inferior a um ano, por lazer, negócio ou outros (OMT, 2001, p. 3).

O relacionamento do Turismo com as áreas naturais tem se caracterizado por

alguns aspectos peculiares e deverão ser considerados nas ações e estratégias de

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planejamento da atividade. Para que o desenvolvimento do turismo ocorra, é

necessário estabelecer critérios para utilização dos espaços, de acordo com as suas

características, considerando-se, entre outros, a fragilidade dos ecossistemas naturais

e a originalidade cultural das populações receptoras.

O Turismo praticado em áreas naturais, precisa antes de tudo ser planejado,

pois a interferência da atividade pode alterar o ecossistema ali existente. O Turismo

deve ser pensado como uma atividade que possibilita o contato do turista como o meio

ambiente de forma a causar o mínimo impacto possível. Por isso, outras formas de

turismo estão sendo propostas, a fim de conter os impactos negativos da atividade e

recebem denominações como “brando e tranqüilo, alternativo, responsável, ecológico

e, mais recentemente turismo sustentável” (RUSCHMANN, 1997, p. 23).

3 Trilhas turísticas e a capacidade de carga

A maioria das trilhas que hoje são utilizadas no turismo em áreas naturais são

caminhos tradicionalmente utilizados por determinadas comunidades para se

locomoverem. Desde a época do Brasil colônia, os portugueses utilizavam os

caminhos abertos pelos indígenas para alcançarem o interior do país.

As trilhas são caminhos existentes ou estabelecidos, com diferentes formas,

comprimentos e larguras, que possuam o objetivo de aproximar o visitante ao

ambiente natural, ou conduzí-lo a um atrativo específico, possibilitando seu

entretenimento ou educação através de sinalizações ou de recursos interpretativos

(SALVATI, 2003).

Podem ser estabelecidos diversos tipos de trilhas, que podem ser classificadas

quanto à função (vigilância, recreativa, educativa, interpretativa e de travessia), quanto

à forma (circular, oito, linear e atalho), quanto ao grau de dificuldade (caminhada leve,

moderada e pesada) e quanto à declividade do relevo (ascendentes, descendentes ou

irregulares) (SALVATI, 2003).

As trilhas oferecem aos visitantes a possibilidade de desfrutar de uma área de

maneira tranqüila e alcançar maior familiaridade com o meio natural. Quando bem

construídas e devidamente mantidas, diminuem os impactos do turismo no ambiente,

e ainda asseguram ao visitante maior conforto, segurança e satisfação.

Alguns fatores devem ser considerados para assegurar a qualidade do turismo

em áreas naturais, como o fato de o aumento considerável de visitas, que podem levar

a riscos de sobrevivência ao próprio atrativo e à trilha, se sua capacidade de suporte

for ultrapassada. Para a manutenção da qualidade ambiental com um mínimo

aceitável de alterações, inúmeras variáveis devem ser monitoradas constantemente,

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uma vez que a ação dinâmica dos fatores exige uma constante observação, dado que

a sua interação é igualmente dinâmica e pouco previsível.

As trilhas, como integrantes importantes da atividade turística devem ser,

então, planejadas sob medidas de conservação e manejo, dentro de limites aceitáveis

de mudanças que devem estar sendo constantemente observados, na tentativa de não

se ultrapassar as condições ecologicamente estabelecidas. Para tanto, existem

diversas metodologias que permitem a identificação da capacidade de suporte das

áreas naturais face ao uso pelo turismo. Nesse sentido, Odum (1983) explica que.

a medida que um ecossistema torna-se maior e mais complexo, aumenta a proporção da produção bruta que deve ser respirada pela comunidade para sustentá-la e diminui a proporção que pode ser dedicada ao crescimento. No momento do equilíbrio entre estas entradas e saídas, o tamanho não pode aumentar mais. A quantidade de biomassa que pode ser sustentada sob estas condições denomina-se Capacidade de suporte. As evidências indicam cada vez mais que a Capacidade ótima de suporte, sustentável durante muito tempo frente às incertezas ambientais, é mais baixa, talvez 50% mais baixa que a Capacidade teórica de suporte. (ODUM, 1983, p. 99-100).

O conceito da capacidade de suporte leva em conta os limites que um

determinado sítio pode suportar, levando-se em conta o tipo de uso proposto e seus

objetivos. Swarbrooke (2002) aponta a existência de diversas formas de cálculo da

capacidade de suporte turística de uma área: física, operacional, ecológica, social,

entre muitas outras.

A aplicação do conceito capacidade de suporte no turismo em áreas naturais

introduziu a noção de limites aceitáveis de uso, sendo este conceito definido como a

quantidade de utilização que pode ser mantida em locais específicos sem causar

degradação do recurso e prejuízo às experiências dos usuários. Toma por base

variáveis como a capacidade de manejo da instituição, tamanho da área de uso

público (como trilha), tempo necessário para a visita e fatores (físico, biológicos e

sociais) que interferem reduzindo esse limite. (ARIAS et al., 1999; GOMES, 2001).

Dos diversos métodos conhecidos que adotam a abordagem apresentada para

a identificação de limites – quantitativos ou qualitativos – para a visitação, destaca-se

a metodologia de Capacidade de Carga de Cifuentes. O método foi originalmente

desenvolvido para uso em áreas naturais protegidas na Costa Rica, tendo sido

adaptado dos conceitos de capacidade de carga da agricultura.

Conforme apontado em Arias et al. (1999), o método se divide em três fases.

Na primeira delas, a Capacidade de Carga Física – CCF – são estabelecidas relações

matemáticas entre o tamanho da trilha, o espaço ocupado pelos turistas e o tempo de

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visitação. Em seguida, na Capacidade de Carga Real – CCR – consideram-se os

aspectos limitantes ao uso turístico, de ordem biótica, abiótica e social. Por fim,

estabelece-se a Capacidade de Carga Efetiva – CCE – que leva em conta a

capacidade de gestão e manejo da organização responsável pela área sob análise.

4 Caracterização da área de estudo

A Trilha da Nascente está localizada no Atrativo Natural Lagoa

Misteriosa/Passo do Curê, situado na área rural do Município de Jardim/MS, um

importante pólo de Turismo em Ambientes Naturais. A trilha está inserida na mata

ciliar que pertence ao Rio da Prata, amparado pela Lei Estadual Nº 1.871, de 15 de

Julho de 1998, de acordo com o Artigo 1º, que cria a faixa de proteção especial de

trezentos metros de largura, com cento e cinqüenta metros para cada lado da margem

do Rio da Prata, Rio Formoso e seus afluentes. O Uso da Trilha da Nascente pode ser

viabilizado legalmente, pois de acordo com – Artigo 2º, Parágrafo 1º, as únicas

atividades que poderão ser desenvolvidas na Faixa de Proteção Especial são o

ecoturismo, a pecuária e a apicultura.

A Trilha estudada possui um percurso total de 980 metros. Seu substrato é

composto por serrapilheira, com algumas áreas recobertas por pedriscos. Também

existem, em alguns pontos, passarelas de madeiras e decks, sobretudo junto aos

corpos d’água. A estrutura serve tanto para evitar o desbarrancamento quanto para

facilitar o acesso dos turistas à água.

Antes de seu fechamento, a trilha era utilizada sobretudo para o acesso à uma

das muitas nascentes intermediárias do Rio da Prata. Não existiam métodos claros

para a gestão de seu uso, nem tampouco um programa de manutenção. Apenas a

manutenção corretiva era feita, como a retirada de árvores tombadas e do excesso de

galhos que adentravam o limite da trilha. A prática das chamadas “cevas”, para atrair

animais para os turistas observarem, também era feita. As fotos 1 e 2 ilustram um

trecho da trilha e a nascente, respectivamente.

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A foto1 1 ilustra um trecho da Trilha da Nascente. No detalhe, porções de milho,

jogadas na trilha para atrair a fauna. Na foto2 2, turistas no deck observam a nascente, objetivo maior da visitação na trilha.

5 Propostas para a gestão da Trilha da Nascente A premissa maior que norteia as propostas de gestão apresentadas pauta-se

na possibilidade de suprir as necessidades recreativas dos visitantes, de maneira a

manter o ambiente estável e possibilitar a devida segurança e conforto.

Um ponto básico, que também é elementar para as propostas elaboradas,

aponta para a necessidade de implantar um processo de interpretação ambiental na

trilha, explorando as possibilidades de interação do turista com a flora e a fauna. Ao

longo do percurso da trilha, podem-se observar várias espécies de árvores endêmicas

da região, e relações entre Bacuris e figueiras. Também é possível observar aves e

mamíferos, como o Mutum-de-penacho (Crax fasciolata), a Seriema (Cariama

cristata), o Tucano-Açu (Ramphastos toco) e o Macaco Prego (Cebus apella

xanthosternos), entre muitos outros. Aliada a essa atividade, recomenda-se repensar e

modificar o comportamento em relação aos recursos naturais e seus componentes,

pois a interferência no meio ambiente altera todo o conjunto do comportamento dos

elementos ali existentes. Neste sentido, sugere-se que a prática de alimentar os

animais para que os turistas possam melhor observá-los, as populares “cevas”, deve

ser abandonada. O caminho é despertar no turista o interesse pelo ambiente em seu

estado natural, ao invés de artificializar cada vez mais o ambiente face aos anseios

humanos.

5.1 Adaptação da trilha para clientes diferenciados

1 Autor: Jorge Bastos 2 Autor: Ricardo M. Rodrigues – Rico.

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A primeira proposta para a Trilha da Nascente baseia-se numa perspectiva

inclusiva de turismo, visando atender também as Pessoas Portadoras de

Necessidades Especiais – PPNEs, sobretudo os cadeirantes.

As pessoas com necessidades especiais freqüentemente se deparam com

barreiras culturais, físicas ou sociais, que impedem sua participação na vida

econômica e nas opções de lazer, disponíveis para o resto da população, A sociedade

deveria elevar o nível de expectativa em relação às pessoas com deficiência,

oferecendo também oportunidades de formação, profissionalização, cultura e lazer, e

não apenas aposentadoria precoce e assistência pública, de acordo com o Decreto nº

10.015, de 3 de agosto de 2000.

As trilhas devem sutilmente encorajar o visitante a permanecer nelas, por

serem facilmente reconhecidas como caminho mais fácil, que evita obstáculos e

minimiza a energia dispensada. Para tanto, precisam manter uma regularidade e

continuidade de seu caminho, evitando mudanças bruscas de direção e sinalização.

Obstáculos como pedras, árvores caídas, e poças de lama devem ser evitados, pois

provocam a abertura de desvios.

Com a Reestruturação da trilha da nascente, através do estudo da capacidade

de carga, são estabelecidos critérios de uso dos recursos naturais ali existentes,

visando atender também aos cadeirantes – público este com poucas opções turísticas

dirigidas às suas necessidades na Serra da Bodoquena.

A topografia do solo permite as condições necessárias de uso para

cadeirantes, por meio de um sistema de trilhas guiadas. Além disso, a regularização

do piso, por meio da implantação de pedriscos, bem como a colocação de suportes de

acesso nos decks que facilitem a entrada e saída dos turistas da água, se farão

necessários para que o público em questão possa ser atendido.

5.2 Capacidade de Carga da Trilha da Nascente

Para a determinação da Capacidade de Carga da Trilha da Nascente, seguindo

os passos apresentados em Arias et al. (1999), alguns pressupostos foram adotados.

Em primeiro momento, convencionou-se que cada turista ocupa um metro linear de

trilha durante a visitação. O horário de funcionamento da trilha será entre as oito da

manhã e quatro da tarde, totalizando oito horas por dia de uso. As visitas serão feitas

em grupos de oito pessoas, com um intervalo de duas horas entre grupos, dado que o

percurso de visitação inclui ida e volta pelo mesmo caminho.

A primeira fase do cálculo é a Capacidade de Carga Real. Nela são

considerados o trajeto percorrido (S), o número de vezes possíveis de se fazer o

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passeio em um dia, em função do tempo gasto (NV), e o espaço ocupado por cada

visitante (sp), obedecendo as relações apresentadas no quadro 1.

Quadro 01 – Cálculo da Capacidade de Carga Física (CCF)

Todavia, a CCF não apresenta a real situação de uso. Ela leva ao

entendimento de que haverá um turista a cada metro da trilha, o que é irreal. Além

disso, ela não considera os fatores bióticos e abióticos relacionados ao uso turístico.

Estas relações mais específicas são consideradas na segunda fase, a CCR.

Dos diversos fatores possíveis para se analisar nessa fase, considerando inclusive o

tempo exíguo para a realização da presente pesquisa e a falta de estudos anteriores

sobre a localidade em questão, os que foram levados em conta para o cálculo foram:

1. FC1 erodibilidade: Um trecho da trilha, de 50 metros, apresenta um processo

de erosão, escapando para o leito do Rio da Prata, com um desnível na lateral

da trilha maior que 45°. Considerando o tipo de substrato, que é pedregoso, a

declividade aceitável para esse tipo de solo é menor que 20º. Sendo assim o

percurso de 50m passa a ser um fator limitante;

2. FC2 chuva: Durante os meses de Dezembro, Janeiro e Fevereiro as chuvas são

mais intensas. Sendo assim, três meses, totalizando 90 dias, dos 365 dias

anuais; e

3. FC3 social – A distância entre os grupos é substancialmente importante para

um melhor aproveitamento da experiência de visitação. Para tanto, estipulou-se

que a distância mínima aceitável entre os grupos é de cem metros.

O quadro 2 apresenta os cálculos relacionados aos fatores mencionados,

obedecendo à fórmula geral da metodologia, que relaciona a magnitude total do

problema analisado com sua respectiva magnitude limitante.

NV = 8 NV = 5,33 1,5

CCF= S * NV CCF= 980 * 5,33 CCF=5226,667

sp 1

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Quadro 02 – Cálculo dos fatores de correção para a visitação turística

Para se obter a CCR, multiplica-se a CCF pelos fatores de correção, conforme

explicitado no quadro 3.

Quadro 03 – Cálculo da Capacidade de Carga Real

Por fim, a Capacidade de Carga Efetiva. Para se obter seu cálculo, leva-se em

conta a Capacidade de Manejo (CM) da organização gestora do atrativo, a qual se

obtém por meio de uma relação entre a Capacidade de Carga Instalada (CI) e a

Capacidade de Carga Adequada (CA). Para tanto, foram consideradas as variáveis

apresentadas no quadro 4.

FC 1 = 1 - trecho da trilha sujeito à erosão Metragem total da trilha

FC 1 = 1 - 50 FC 1 = 0,948 980

FC 2 = 1 – Dias do ano com chuva Total de dias no ano

FC 2 = 1 - 90 FC 2 = 0,753 365

NG = Metragem total da trilha NG = 980 NG = 9,074 Espaço ocupado por cada grupo 108

Pessoas simultaneamente na trilha = NG * n° de pessoas por grupo = 72,592

Magnitude limitante = espaço não ocupado por pessoas = S – n° Pes. = 907,407

FC 3 = 1 - Espaço não ocupado por pessoas Metragem total da trilha

FC 3 = 1 – 907,407 FC 3 = 0,074

980

CCR = CCF * (FC 1 [erodibilidade] * FC 2 [chuva] * FC 3 [social])

CCR = 5226,667 * (0,948 * 0,753 * 0,074) CCR = 276,095

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Quadro 4 – Capacidade adequada e instalada do atrativo

Pessoal CA CI Equipamentos CA CI Infraestrutura CA CI

Recursos

Humanos

5 1 Rádio de

comunicação

1 1 Banheiro

Masculino

2 2

Total 5 1 Walkie Talkie 5 5 Banheiro

Feminino

2 2

Kit de primeiros

socorros

3 1 Vestiário

Masculino

1 0

Total 9 7 Vestiário

Feminino

1 0

Rampas de

Acesso

3 0

Total 9 4

Somando-se todos os itens, tem-se que a CA para a Trilha da Nascente é igual

a 23, e sua CI, 12. A partir disso, torna-se possível estabelecer a CM para a trilha,

dividindo-se a CI pela CA, multiplicando o resultado por cem, como no quadro 5.

Quadro 5 – Capacidade de Manejo do atrativo

Por fim, submete-se a CCR à CM, de forma a obter a Capacidade de Carga

Efetiva da Trilha da Nascente, o que se observa no quadro 6.

Quadro 6 – Capacidade de Carga Efetiva

Conclui-se então que a capacidade atual de atendimento da Trilha da

Nascente, considerando as variáveis identificadas, é de 144 visitas diárias. Sabendo-

se que cada grupo se compõe de até oito pessoas, aponta-se para um total de 18

grupos por dia. Isso resulta numa média de intervalo de 26 minutos entre os grupos –

suficiente para diminuir os encontros na trilha.

6 Considerações finais

CM = Capacidade de Carga Instalada (CI) X 100 CM = 12 x 100 = 52,17% Capacidade de Carga Adequada (CA) 23

CCE = CCR x CM CCE = 276,095 * 52,17% CCE = 144,038

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O meio natural é um elemento essencial para a atividade turística. Sem este

atrativo, o desenvolvimento da mesma torna-se inviável, visto que os visitantes

buscam ambientes conservados para seus momentos de lazer. Portanto, a sua

manutenção “sadia” é fundamental para que a atividade seja eficaz e duradoura.

Para que estas áreas de visitação permaneçam conservadas são necessárias

medidas decisórias, e preventivas a favor da proteção ambiental, uma vez que os

ecossistemas naturais são frágeis às intervenções humanas, e ações intensivas

podem alterá-lo de forma irreversível, sendo necessários estudos que busquem

minimizar ao máximo a degradação ambiental das áreas receptoras.

O estabelecimento de limites quantitativos para o uso turístico dos recursos

naturais, ao que se percebe, não elimina todos os impactos negativos conseqüentes

da atividade. No entanto, oferece um direcionamento no sentido de fornecer uma

perspectiva de uso que seja menos predatória. Além disso, o número controlado de

visitantes permite uma maior interação entre o ser humano e a natureza.

Por fim, proporcionar estruturas de acessos para pessoas portadoras de

necessidades diferenciadas de locomoção amplia a perspectiva posta, tanto de

interação com a natureza, quanto de inclusão de um grupo de pessoas que, a maioria

das vezes, é sistematicamente esquecida somente por possuir características

diferentes dos demais. O turismo, sobretudo o praticado em áreas naturais, que está

ligado a idéia de qualidade de vida e renovação pessoal, deve ser acessível a todos as

pessoas, independente de qualquer uma de suas condições de vida.

Referências Bibliográficas

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______. Decreto nº 10.015, de 3 de Agosto de 2000. Dispõe sobre a Política Estadual para a Promoção e Integração Social da Pessoa Portadora de Deficiência, consolida as normas de proteção, e dá outras providências. Disponível em <http://www.nppd.ms.gov.br/legislacao.asp?lei_id=5>. Acesso em 19 set. 2006. ODUM, Eugene.P. Ecologia. Rio de Janeiro.Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1983. ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DO TURISMO. Introdução ao Turismo. São Paulo: Roca, 2001. RUSCHMANN, Dóris V.M. Turismo e Planejamento Sustentável: a proteção do meio ambiente. Campinas: Papirus, 1997. SWARBROOKE, John. Turismo sustentável: conceitos e impacto ambiental. 3.ed. Tradução Esther Eva Horovitz. São Paulo: Aleph, 2002. GOMES, Edmur Lavezo. Capacidade de carga (suporte) ecoturística de quatro trilhas do Parque Estadual Matas do Segredo (Campo Grande-MS) e análise da aplicabilidade do método de CIFUENTES. Campo Grande: UFMS, 2001. Dissertação (Mestrado em Ecologia e Conservação), Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, 2003. SALVATI, Sérgio Salazar. Trilhas: Conceitos, técnicas de implantação e impactos. s.l: s.ed. 2003. Disponível em <http://ecosfera.sites.uol.com.br/trilhas.htm>. Acesso em. 24/09/2006.