Protocolo Endo
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PROTOCOLO PARA ATENDIMENTO ODONTOLÓGICO
PROTOCOLO DE ATENDIMENTOS NA ENDODONTIA
Introdução
A endodontia consiste na especialidade odontológica, reconhecida pelo CFO, que tem como
objetivo a preservação do dente por meio de prevenção, diagnóstico, prognóstico, tratamento e
controle das alterações da polpa e dos tecidos perirradiculares (Art. 55 da Consolidação das normas
para procedimentos nos Conselhos de Odontologia). Ela pode ser dividida em duas fases:
manutenção da polpa vital (tratamentos conservadores da polpa) e, quando a polpa já está
altamente comprometida, manutenção do elemento dentário (tratamentos radicais da polpa).
Os tratamentos conservadores da polpa têm como objetivo a manutenção do tecido pulpar,
total ou parcial, exercendo sua função normal. Consistem os tratamentos conservadores da polpa o
capeamento indireto, o capeamento direto, a curetagem pulpar, a pulpotomia e a pulpectomia
parcial.
O tratamento radical da polpa é realizado quando a polpa sofre alterações irreversíveis e não
pode ser mais ser mantida. Consiste na remoção desse tecido alterado e preenchimento do espaço
resultante dessa remoção com material específico para tal fim. As alterações irreversíveis da polpa
são as pulpites irreversíveis (agudas e crônicas) e a necrose pulpar.
Neste protocolo também está incluído o atendimento emergencial relacionado com a
especialidade.
Diagnóstico na Endodontia
O diagnóstico em endodontia consiste em se constatar se a polpa pode ser mantida, em sua
totalidade ou parcial (pulpites reversíveis), ou não (pulpites irreversíveis ou necrose pulpar).
Nas pulpites reversíveis, como o próprio nome sugere, a inflamação apresenta pouca
extensão e pode ser revertida, fazendo com que a polpa retorne ao seu estado normal e possa ser
mantida, total ou parcialmente. O sinal característico desse estado pulpar é a dor provocada, de
pequena intensidade, que desaparece rapidamente após a remoção do estímulo que a causou.
A principal característica de uma pulpite irreversível é a dor espontânea, intensa e
persistente. Nessas situações a polpa se encontra quase sempre totalmente envolvida, sendo
impossível a regressão do seu estado e, conseqüentemente a manutenção da mesma.
As pulpites crônicas são alterações pulpares irreversíveis, embora assintomáticas. São elas a
pulpite crônica ulcerada e a pulpite crônica hiperplásica. Essas pulpites são diagnosticadas pelos
seus aspectos clínicos. A primeira apresenta-se clinicamente como exposição extensa por cárie e a
segunda, aumento do tecido pulpar para fora da cavidade pulpar.
1
A necrose pulpar consiste na decomposição parcial ou total do tecido pulpar em decorrência
de uma inflamação prolongada. Clinicamente pode se apresentar assintomática ou com
sintomatologia intensa (quando associada a um abscesso periapical). O modo mais fácil de
diagnosticar esse estado é através de um teste de vitalidade (testes térmicos). A radiografia muitas
vezes pode indicar tal estado pulpar, pela presença de rarefações ósseas periapicais (não confundir
com estruturas anatômicas).
Nos casos de dores provocadas é sempre bom se pensar em tratamento conservador. Frente
a dores espontâneas e/ou intensas, devemos sempre partir para um tratamento radical. Em casos
intermediários devemos levar em conta o bom senso. Nas necroses pulpares o tratamento é radical.
A anamnese é fundamental para o estabelecimento do diagnóstico. Além da anamnese, o
exame radiográfico, os testes de vitalidade (testes térmicos e de cavidade) e o teste de percussão
vertical são grandes auxiliares para o diagnóstico do estado da polpa.
Na anamnese procuramos descobrir através de indagações, o tipo da dor sentida pelo
paciente (dor provocada, espontânea, intensa, moderada, leve, contínua, intermitente etc.).
Os testes de vitalidades mais empregados e que realmente dão respostas reais são o do
bastão de guta-percha aquecida e a do emprego de spray tipo “Endo Ice”. O teste de cavidade é o
teste definitivo é só deve ser empregado quando ficou alguma dúvida nos testes anteriores.
O teste da percussão vertical é importante para avaliar o estado do periodonto, se está
inflamado ou não. Quando o periodonto apresenta-se inflamada isso significa que a polpa está
completamente comprometida.
TRATAMENTOS CONSERVADORES
a) Capeamento pulpar indireto:
A polpa apresenta pulpite reversível e não existe exposição pulpar. O tratamento
consiste na remoção do agente agressor (agentes do meio bucal ou cárie) e proteção do
tecido dentinário remanescente
Técnica: Anestesia; remoção do agente agressor (cárie, dentina contaminada);
isolamento absoluto ou relativo; irrigação da cavidade com soro fisiológico ou água de cal;
secagem da cavidade com bolinhas de algodão estéreis; colocação de um curativo à base de
corticosteróide (Otosporin®, Maxitrol® etc.) em contato com a dentina por 5 minutos;
proteção da dentina exposta com um cimento à base de hidróxido de cálcio (Hidro C®,
Dycal® etc.) e restauração do elemento dentário.
2
b) Capeamento pulpar direto:
A polpa apresenta pulpite reversível e foi exposta durante o preparo da cavidade. A
polpa foi cortada pela broca e, como não está inflamada, protege-se a mesma com material
biocompatível e estimulador da formação de tecido duro.
Técnica: Anestesia; isolamento absoluto; lavagem da cavidade com soro fisiológico
ou água de cal; secagem da cavidade com bolinhas de algodão estéreis; curativo de
corticosteróide/antibiótico (Otosporin®, Maxitrol® etc.) por 5 minutos; colocação de
hidróxido de cálcio P.A. em contato com a porção da polpa exposta; remoção do excesso;
cobrir com um cimento à base de hidróxido de cálcio (Hydro C®, Dycal® ou similares);
colocação de um cimento para base de restauração (Fosfato de zinco, ionômero de vidro
etc); restauração definitiva do elemento dentário.
c) Curetagem pulpar:
A polpa apresenta pulpite reversível e a polpa exposta por cárie. A superfície da
polpa encontra-se contaminada. A porção contaminada deve ser removida e o
remanescente protegido por material biocompatível e estimulador da formação de tecido
duro.
Técnica: Anestesia; isolamento absoluto; remoção de todo o tecido cariado;
lavagem cavidade com soro fisiológico ou água de cal; curetagem da porção exposta da
polpa com cureta afiada (preferível) ou broca esférica diamantada; hemostasia com bolinhas
de algodão estéreis; curativo com corticosteróide/antibiótico (Otosponin ®, Maxitrol ®) por
cinco minutos; colocação de hidróxido de cálcio P.A. em contato com a porção da polpa
exposta; remoção do excesso; cobrir com um cimento à base de hidróxido de cálcio (Hydro
C®, Dycal ® ou similares); colocação de um cimento para base de restauração (Fosfato de
zinco, ionômero de vidro etc); restauração definitiva do elemento dentário.
d) Pulpotomia
A polpa apresenta pulpite reversível e a exposição pulpar é pequena, mas o aspecto
visual da polpa (ver em observação 1, abaixo) exposta é negativo ou a exposição
pulpar é extensa.
Técnica: Anestesia; isolamento absoluto; abertura coronária; remoção da polpa
coronária com brocas esféricas diamantadas; secagem com bolinhas de algodão
estéreis; regularização do tecido remanescente pulpar nas entradas dos canais com
cureta afiada; Irrigação com soro fisiológico ou água de cal; secagem com bolinhas 3
de algodão estéreis; curativo com corticosteróide/antibiótico (Otosponin®,
Maxitrol®) por 5 minutos; aplicação de hidróxido de cálcio P.A. sobre o
remanescente pulpar sob ligeira pressão formando uma camada espessa (poderá ser
substituída por uma camada de cimento à base de hidróxido de cálcio: Dycal®,
Hydro C® ou similar); remoção do excesso das paredes da câmara com colher de
dentina; colocação de uma base restauradora (fosfato de zinco ou ionômero de
vidro); restauração do elemento dentário, retirar o dente de oclusão.
e) Pulpectomia parcial
Esta técnica está indicada para dentes que sofreram exposição extensa e suas polpas
encontra-se com comprometimento extenso, contra-indicando a pulpotomia, e sua
raiz não se apresenta totalmente formada. O objetivo desse tratamento é manter
algum tecido apical vivo e viável para a continuação da formação da raiz. O
prognóstico desse tratamento é sombrio por ser impossível a visualização direta do
remanescente pulpar. Deve-se fazer uma boa ponderação antes do emprego dessa
técnica
Técnica: Faz-se a remoção parcial da polpa até o terço médio com limas H (a lima
não deve ser puxada, mas sim girada com o objetivo não dilacerar a polpa e sim
corta-la o mais regular possível) mantendo a polpa do terço apical. Depois se segue
toda a seqüência da pulpotomia.
Obs.: 1. Nos tratamentos conservadores com exposição direta da polpa é importantíssimo se levar
em consideração o aspecto visual da polpa. Para continuar o tratamento conservador é importante
que a mesma apresente-se macroscopicamente com as seguintes características: consistente,
resistente ao corte, coloração vermelho vivo e hemorragia suave e que cesse em pouco minutos.
2. Em todos os tratamentos conservadores devemos deixar o dente em infra-oclusão.
Examinar o dente, passado 30 a 45 dias, quanto a vitalidade. Em caso de dor espontânea antes
desse período, indicar o tratamento radical.
4
TRATAMENTOS RADICAIS
I - BIOPULPECTOMIA:
Na biopulpectomia a polpa encontra-se viva, inflamada e, ocasionalmente, parcialmente
contaminada, não infectada. O Tratamento poderá ser realizado em uma ou duas sessões,
dependendo do tempo de trabalho, da disponibilidade e comodidade do paciente.
Técnica
1 a Sessão :
01 - Anti-sepsia da cavidade oral (Anti-sépticos bucais como a Clorexidina a 0,12%)
02 - Anestesia
03 - Preparo do dente
3.1 - Remoção da dentina cariada
3.2 - Remoção de bordos cortantes
3.3 - Remoção de placas e cálculos
3.4 - Gengivectomia
3.5 - Restauração provisória
04 - Acesso da cavidade pulpar com brocas esféricas de tamanho compatível (nº. 2, 3, 5, e 6) e
acabamento com tronco cônica de ponta inativa diamantada nº. 3080 ou 4083 ou Endo Z)
05 - Isolamento Absoluto
06 - Anti-sepsia do campo operatório (álcool 70º ou solução de hipoclorito de sódio a 0,5% (Dakin)
ou a 1% (Milton))
07 - Remoção da polpa coronária com colher de dentina de colo longo
08 - Irrigação da câmara pulpar (solução de Milton ou Labarraque)
09 - Odontometria
10 - Pulpectomia (remoção da polpa radicular com extirpa-nervos ou limas H em canais amplos ou
durante a instrumentação com limas K, em canais estreitos)
11 - Instrumentação e Irrigação/aspiração (alternadas)
OBS.: Essa irrigação poderá ser feita com solução de Milton, Solução de Dakin, Solução de
Labarraque (hipoclorito de sódio a 2,5%), soro fisiológico etc.
12 - Secagem do canal com pontas de papel absorventes
Obs.: Quando houver tempo disponível pode-se obturar na mesma sessão seguindo-se desse
ponto a partir do item 7 da segunda sessão.
5
13 - Curativo de demora (Otosporin®, Maxitrol®, Hidróxido de cálcio etc.)
14 - Selamento provisório (cimentos pré-prontos (Cimpat®, Cavit®, Citodur® etc.) ou cimentos á
base de óxido de zinco/eugenol)
2 a Sessão:
Observar se o curativo está intacto, se não houve deslocamento ou saída do selamento. Nos casos
em que for constatada a contaminação da cavidade pulpar, faz-se instrumentação com um
instrumento além do realizado anteriormente e coloca-se novo curativo, marcando o paciente para
uma nova sessão.
01 - Anti-sepsia da cavidade oral
02 - Isolamento absoluto
03 - Anti-sepsia do campo operatório
04 - Remoção e exame da cavidade pulpar (observar presença de exsudato, odor desagradável
etc.)*
05 - Irrigação com soro fisiológico
06 - Secagem do canal
07 - Seleção do cone principal (Conometria)
08 - Obturação do canal. Corte do material obturador em excesso e condensação vertical no nível
do colo anatômico do elemento dentário.
09 - Limpeza da câmara pulpar (Xilol, eucaliptol, álcool etc.)
10 - Restauração provisória (COZ ou similar)
* Observada a presença de algum aspecto anormal, procurar a causa e corrigi-la.
II - NECROPULPECTOMIA:
Nas necropulpectomias, parcial ou total, a polpa encontra-se parcial ou totalmente
decomposta. Normalmente a cavidade pulpar está contaminada daí a necessidade de maiores
cuidados quanto a instrumentação e a necessidade de curativo de demora por um período mínimo
de sete dias com o objetivo de combater os microrganismos nos locais onde a instrumentação e a
substância irrigadora não conseguiram alcançar.
1 a Sessão:
01 - Anti-sepsia da cavidade oral6
02 - Preparo do dente (ver seqüência anterior)
03 - Acesso à câmara pulpar (Brocas esféricas de tamanho compatível (2,3,4,5,6)e desgaste
compensatório com brocas tronco-cônicas de ponta inativa (diamantada nº 3080 ou 4083 ou Endo
Z)
04 - Isolamento absoluto
05 - Anti-sepsia do campo operatório [Álcool 70º, Dakin ou Milton]
06 - Remoção dos restos necróticos da câmara pulpar e terço cervical
07 - Irrigação/ Aspiração (Solução de Milton, Labarraque, Soda clorada (hipoclorito de sódio de 4
a 6%) etc.)
08 – Neutralização dos restos necróticos pela técnica mediata (Secagem do canal até o terço
cervical; curativo de demora de tricresol-formalina por 48/72 horas; selamento provisório de COZ
ou similar) ou imediata (neutralização por terços). Na neutralização imediata, continua-se nesta
sessão a partir do item 6 da segunda sessão.
2 a Sessão: (Quando se emprega a neutralização mediata)
01 - Anti-sepsia da cavidade oral
02 - Isolamento absoluto
03 - Anti-sepsia do campo operatório [Álcool 70º ou Hipoclorito de sódio a 0,5% (Dakin) ou a 1%
(Milton)]
04 - Remoção e exame do curativo
05 - Irrigação/ aspiração com Milton ou Labarraque
06 - Odontometria
07 - Instrumentação/Irrigação (alternada)
08 - Secagem do canal
09 - Curativo de demora (PMCC, Formocresol, Hidróxido de Cálcio com PMCC etc.)
10 - Selamento provisório (COZ ou similar)
3 a Sessão : (2ª Sessão nos casos da neutralização imediata)
01 - Anti-sepsia da cavidade oral
02 - Isolamento absoluto
03 - Anti-sepsia do campo operatório [Álcool 70º, Dakin ou Milton)]
04 - Remoção e exame do curativo
05 - Irrigação com soro fisiológico
06 - Secagem do canal
07 - Seleção do cone principal7
08 - Obturação do canal. Corte do excesso do material obturador e condensação vertical abaixo do
colo anatômico.
09 - Limpeza da câmara pulpar (Xilol, eucaliptol, álcool etc.)
10 - Restauração provisória (COZ ou similar)
III - NECROPULPECTOMIA
(Com sintomatologia aguda)
1 a Sessão : Drenagem intra ou extra canal
2 a Sessão: 1a Sessão da necro sem sintomatologia
3 a Sessão: 2a Sessão da necro sem sintomatologia
4 a Sessão: 3a Sessão da necro sem sintomatologia
DORES PÓS-INSTRUMENTAÇÃO ENDODÔNTICA (FLARE-UPS)
Muitas vezes após a instrumentação endodôntica, o paciente começa a apresentar
sensibilidade dolorosa, que muitas vezes aumenta a ponto de fazer o paciente procurar um
profissional para resolvê-la. Ao deixa de ser uma pericementite, que pode ter três causas:
traumática, química e bacteriana.
Pericementite traumática
A pericementite traumática geralmente é produzida por sobre-instrumentação ou sub-
instrumentação (erro na odontometria).
Tratamento:
1. Sub-instrumentação –
Anestesia,: isolamento absoluto; correção da odontometria; reinstrumentação para a
remoção do remanescente pulpar; curativo intra-canal com antibiótico/corticosteróide (Otosporin®
ou Maxitrol®); selamento provisório (COZ ou similar). Antiinflamatório se necessário (Protocolo
de Farmacologia).
2. Sobre-instrumentação -
a) Dor de pequena intensidade: Retirada do dente de oclusão e prescrição com antiinflamatório
(Protocolo de Farmacologia).
b) Dor intensa: Anestesia; isolamento absoluto; remoção do curativo; irrigação com soro
fisiológico; colocação de curativo intracanal de corticosteróide/antibiótico (Otospotin ou 8
maxitrol) além do forame; retirada do dente de oclusão e prescrição de antiinflamatório
(Protocolo de Farmacologia).
Pericementite química
A pericementite química é produzida por colocação excessiva de medicamentos intracanais
anti-sépticos tipo tricresol-formalina, paramonoclorofenol ou formocresol. Ao ser colocado em
excesso o mesmo escorre para a região apical produzindo uma pericementite intensa.
Tratamento:
Anestesia; isolamento absoluto; irrigação intensa com soro fisiológico; reposição correta do
curativo; selamento provisório (COZ ou similar). Retirar o dente de oclusão e prescrever
antiinflamatório (Protocolo de Farmacologia).
Pericementite bacteriana
A pericementite bacteriana é produzida quando se instrumenta um canal com polpa
necrosada e/ou contaminada sem o cuidado de evitar o extravasamento desse material para a região
apical. O resultado é o início da formação de um abscesso.
Tratamento:
Nestes casos o tratamento é idêntico ao do abscesso em fase inicial (ver na página 11).
EMERGÊNCIA ENDODÕNTICAS
Em endodontia duas situações levam o paciente a sentirem dores intensas e a procurar um
profissional nas horas mais estranhas possíveis, são elas as pulpites agudas e os abscessos agudos.
Quase todas essas situações são resolvidas com intervenção clínica, com mostraremos a seguir.
È importante lembrar que, para que se possa fazer um tratamento emergencial eficiente, é
necessário que o profissional conheça bem a anatomia interna dos elementos dentários e saiba
realizar um bom acesso endodôntico. O diagnóstico cínico da causa da dor e, em muitos casos, a
identificação do elemento dentário causador também é um fator de fundamental importância.
Tratamento emergencial das pulpites agudas
A pulpite aguda é caracterizada, clinicamente, pela dor espontânea intensa relatada pelo
paciente. Essa dor é produzida, pelos tecidos pulpares que se encontram parcial ou totalmente 9
inflamados. Para o atendimento emergencial eficiente é de fundamental importância essa
diferenciação: Pulpite aguda simples e pulpite aguda com comprometimento apical. Na pulpite
aguda simples a polpa está parcialmente inflamada e na pulpite aguda com comprometimento
apical a polpa encontra-se totalmente inflamada, ou seja, a inflamação já atingiu os tecidos
periodontais apicais. A diferenciação dessas duas situações é feita através do teste de percussão
apical. Na primeira situação a resposta ao teste de percussão vertical é negativa, enquanto que na
outra situação a resposta é positiva. Temos, nesta situação, saber distinguir de um abscesso apical
em fase inicial. Para fazer a distinção das três entidades devemos realizar três testes
complementares, conforme o quadro a seguir.
Percussão vertical Teste de vitalidade Radiografia
Pulpite aguda simples Negativo Positivo Normal
Pulpite aguda com comprometimento
apical
Positivo Positivo Normal ou
ligeiro
aumento
Abscesso apical Positivo Negativo Aumento do
espaço ou
rarefação
óssea
Seqüência do tratamento da pulpite aguda simples
Como em toda pulpite a polpa encontra-se viva, iniciamos com a anestesia do elemento
dentário; acesso aos sistemas de canais radiculares; isolamento absoluto; remoção da polpa
coronária com curetas pulpares; irrigação com soro fisiológico ou Dakin; estancamento do
sangramento; colocação do curativo de demora*; Selamento com cimento provisório. Orientar para
que o paciente procure um profissional para a conclusão do tratamento ou marcar o paciente para o
início de uma biopulpectomia.
Observações: Quando se fala em tratamento emergencial, devemos levar em consideração o tempo
para o atendimento. Nesses casos, se o profissional tem disponibilidade de tempo, a odontometria e
pulpectomia total deverão ser realizadas, inclusive, e se possível, a obturação do mesmo.
10
Seqüência do tratamento da pulpite aguda com comprometimento apical.
Como nesta situação a polpa encontra-se totalmente inflamada a remoção apenas da polpa
coronária poderá fazer com que a dor persista, ocasionada pelo resto pulpar não removido.
Seqüência: anestesia do elemento dentário; abertura coronária; remoção da maior porção da polpa
(nos molares, remoção da maior porção da polpa do canal mais volumoso); Irrigação com soro
fisiológico; enxugamento do canal; colocação de um curativo de demora; selamento com cimento
provisório.
Se o profissional encontra-se em local de atendimento com aparelho de raios X, deve-se
fazer a odontometria e a pulpectomia total. Se o local de atendimento não é aparelhado com raios
X, essa medida deverá ser realizada baseada no tamanho médio do dente, diminuído de 2 a 3 mm
como medida de segurança e remove-se a polpa até este comprimento.
Nestas situações, mesmo com a disponibilidade de tempo, o dente não dever ser obturado na
mesma sessão, por causa da pericementite. Coloca-se um curativo de demora* e aguarda-se o
desaparecimento da sintomatologia.
*O curativo de demora poderá ser: Corticosteróide/antibiótico (Otosporin®, Maxitrol®) ou
formocresol. O corticosteróide/antibiótico, nas duas situações, deverá estar em contato com o
tecido pulpar remanescente. O formocresol poderá ficar á distância.
Tratamento emergencial dos abscessos agudos
O abscesso apical agudo, para fins de tratamento emergencial, é classificado em três fases:
Abscesso em fase inicial, abscesso em evolução e abscesso evoluído. Essa distinção é fundamental
para o tratamento emergencial, que difere para cada fase.
O abscesso periapical pode ser confundido com o abscesso periodontal e para o seu correto
diagnóstico alguns exames complementares são necessários, conforme quadro abaixo:
Teste de vitalidade Percussão positiva Sondagem periodontal
Abscesso periapical Negativo Vertical Negativa
Abscesso periodontal Positivo Horizontal Positiva
Tratamento do abscesso periapical agudo em fase inicial
11
Nesta fase o paciente apresenta dor intensa espontânea localizada. O dente apresenta sua
mobilidade aumentada e ligeira extrusão, grande sensibilidade ao toque. Região apical no fundo de
saco apresenta-se avermelhada e sensível à palpação.
Técnica
Abertura coronária*; drenagem do exsudato, se presente; isolamento absoluto; irrigação da
cavidade com soro fisiológico até que a drenagem cesse; neutralização com hipoclorito de sódio;
Curativo de demora (tricresol-formalina ou formocresol); selamento com cimento provisório;
retirar o dente de oclusão. Medicação sistêmica: se não houver drenagem espontânea ou se o
paciente apresentar sinais de bacteremia, antibiótico e analgésico/antiinflamatório.
Tratamento do abscesso periapical agudo em evolução
Os sinais clínicos dessa fase consistem na dor aguda intensa localizada. Essa é a fase de
maior intensidade de dor do processo. O dente apresenta grande mobilidade dentária, grande
extrusão e intensa sensibilidade ao toque. Externamente observa-se aumento de volume (edema),
que à palpação apresenta consistência dura.
Técnica
Abertura coronária*; isolamento relativo; drenagem do exsudato existente, se presente e
espontânea (se não ocorrer a drenagem espontânea, alargar o forame com uma lima n o 20 ou 25);
irrigar a cavidade com soro fisiológico até total drenagem; quando não se consegue a drenagem
total, deixar o dente aberto por, no máximo 48 horas, recomendando o paciente a fazer fisioterapia
com água morna e sal de cozinha, de 2/2 horas intercalada com compressas frias de 2/2 horas e
colocar uma bolinha de algodão na abertura durante as refeições para evitam a penetração de
alimentos e conseqüente obstrução da abertura; dois dias após (no máximo) isolamento absoluto;
irrigação e neutralização do conteúdo do canal; enxugar o canal com cones de papel absorvente;
colocar um curativo de demora (tricresol-formalina ou formocresol); selar com um cimento
provisório (Cavit®, Cimpat® ou similar ou qualquer cimento à base de OZE).
Se a drenagem do exsudato parar, neutralizar o conteúdo do canal com hipoclorito de sódio
e leve instrumentação e preenchimento do canal com hidróxido de cálcio. Neste caso é necessário o
monitoramento do paciente sobre a possibilidade do retorno do processo.
Nessa fase, mesmo com todas as medidas acima tomadas, às vezes não corre qualquer
drenagem. Isso ocorre quando a coleção purulenta já está a caminho de se exteriorizar e a coleção
purulenta encontra-se localizada no interior do tecido ósseo. Duas medidas podem ser tomadas: 12
1.Indicação de um potente analgésico (Voltaren® injetável) até que o processo atinja a fase
evoluída (no máximo 24 horas), o que pode ser apressado pela fisioterapia (bochechos com água
morna e sal de cozinha ou qualquer colutório); 2. Fistulização cirúrgica (ver protocolo cirúrgico).
Medicação sistêmica nessa fase, além do analgésico como citado anteriormente, o
antibiótico só deverá ser indicado quando o paciente apresente algum sinal de bacteremia ou em
pacientes que apresente a defesa orgânica deficiente..
Tratamento do abscesso periapical agudo evoluído
Na fase evoluída o paciente apresenta um grande inchaço e a face totalmente deformada. O
paciente geralmente relata que anteriormente o dente doeu muito, mas que no momento já cessou.
O edema, à palpação apresenta-se mole e flutuante. No fundo de saco é observada uma coleção
purulenta flutuante e, muitas vezes a presença de uma parúlide.
Técnica
Abertura coronária; isolamento absoluto, se possível; Irrigação da câmara pulpar com
solução de hipoclorito de sódio (soda clorada, preferentemente); enxugamento da câmara com
bolinha de algodão; curativo de demora (tricresol-formalina); Selamento provisório (cimento
temporário). Indicar a fisioterapia para que a drenagem ocorra mais rápida. Nessa fase não é
necessária qualquer medicação sistêmica. Para apressar a drenagem, no lugar da fisioterapia, pode-
se fazer a drenagem cirúrgica(ver protocolo sobre cirurgia).
Observações:
1. Não é necessária a anestesia para o tratamento de abscesso agudo.
2. Nessa fase não devemos nos preocupar com a forma do acesso, mas sim apenas em expor a
cavidade pulpar (trepanação). Como o dente apresenta grande sensibilidade ao toque para a
trepanação do canal devemos segurar a coroa do elemento dentário com os dedos polegar e
indicador para evitar o movimento do mesmo. A broca deve ser nova e não deve ser forçada
e seu movimento deve ser de varredura e lento, até que atinja a câmara pulpar.
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
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Paulo: Santos, 1994.
COHEN, S., BURNS, R.C. Caminhos da polpa. 7.ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2000.
13
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conselhos de Odontologia. Resolução CFO-63/2005, atualizado em 30.06.2005.
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14