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Trabalho de Conclusão de Curso PÓS-GRADUAÇÃO EM INFLUÊNCIA DIGITAL: CONTEÚDO E ESTRATÉGIA ALUNO: Felipe Michelon Padilha ORIENTADOR: Marcelo Crispim da Fontoura

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Trabalho de Conclusão de Curso

PÓS-GRADUAÇÃO EM INFLUÊNCIA DIGITAL: CONTEÚDO E ESTRATÉGIA

ALUNO: Felipe Michelon Padilha

ORIENTADOR: Marcelo Crispim da Fontoura

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SUMÁRIO

1. Título 02

2. Resumo 03

3. Palavras-chave 04

4. Corpo do trabalho 05

4.1 Introdução 05

4.2 Desenvolvimento 07

4.2.1 A comunicação da Igreja a Partir dos Papas 07

4.2.2 A Comunicação na Igreja do Brasil 09

4.3 142ª Festa de Santo Antônio de Bento Gonçalves 12

4.4 Procedimentos metodológicos 13

4.5 Comunicação católica e pandemia: 142ª Festa Santo Antônio 14

4.6 Considerações Finais 18

5. Referências 21

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1. TÍTULO DO ARTIGO

Evangelizar na pandemia: a importância das redes sociais para a Igreja

Católica em tempos de Covid-19

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2. RESUMO

Comunicar é, verdadeiramente, a essência da Igreja Católica. Jesus Cristo

mandou que seus discípulos pregassem e que suas palavras servissem para a

conversão. Em 1963, durante o Concílio Vaticano II, foi publicado o

documento divisor de águas, que reconheceu a importância da comunicação

no âmbito eclesial. No Brasil, em 2014, a Conferência Nacional dos Bispos do

Brasil (CNBB) editou o Diretório de Comunicação da Igreja no Brasil, com

linhas gerais para a atuação das dioceses, paróquias e comunidades e em

2018, foi lançado o Guia de Implantação da Pastoral da Comunicação. No

entanto, tudo isso gerou a resistência de parte do clero, sobretudo os que

nunca elencaram a Pastoral da Comunicação como prioritária. Em tempos de

pandemia, como a do Covid-19, as redes sociais se tornaram uma ferramenta

eficaz de manter o vínculo com o povo.

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3. PALAVRAS-CHAVE

Igreja Católica, Comunicação, Redes Sociais, Pastoral da Comunicação,

Covid-19

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4. CORPO DO TRABALHO

4.1 Introdução

A Igreja Católica Apostólica Romana nasce da essência de comunicar

a fé na pessoa de Jesus Cristo. De acordo com a Bíblia, no evengelho

segundo Marcos, após sua morte e ressurreição, Jesus disse aos discípulos:

“Ide pelo mundo e anunciem a Boa Notícia para toda a humanidade” (Mc

16,15).

Nesse sentido, ao se perpetuar pelos séculos a instituição foi, até a

Reforma Protestante, a única resposável por comunicar a Tradição1, bem

como os dogmas tidos como “Verdades de Fé”. Atualmente, de acordo com o

Anuário Pontifício 20202, os católicos batizados somam 1.329 bilhões, pouco

menos de 18% da população mundial, até o ano de 2018.

Apesar de ter a comunicação em sua essência, a Igreja Católica

passou a debater e deliberar sobre a temática com maior profundidade a partir

do Concílio Ecumênico Vaticano II, realizado em Roma, entre os anos de

1962 e 1965, com o decreto Inter Mirifica. Antes disso, em 1487, o Papa

Inocêncio VIII publica o decreto Inter Multiplices, no advento dos veículos

impressos, no qual define o posicionamento da Igreja que estava preocupada

com a possibilidade de perder o controle eclesiástico da produção cultural3. Já

em 1930, Pio XI divulga a encíclica Vigilanti Cura, sobre o cinema e Pio XII,

em 1957, tornava pública a encíclica Miranda Prorsus, na qual versa sobre a

importância do cinema, do rádio e da televisão para a evangelização.

Assim, o decreto Inter Mirifica, lançado em 1963, de acordo com

Fogolari e Borges (2016 p. 73-74), é considerado um divisor de águas na

constelação dos documentos da Igreja sobre comunicação, pois os bispos

1 A Sagrada Tradição guarda o depósito da fé, que conserva o que Jesus ensinou. Foi utilizada por muito tempo como a única regra de fé, pois seu nascimento se deu com a pregação dos apóstolos no mesmo ano da morte de Cristo, datado com ano 33 da era cristã. 2 Dados do Escritório Central de Estatísticas da Igreja para a elaboração do Anuário Pontifício 2020 e do Annuarium Statisticum Ecleasiae 2018. 3 CORAZZA, Helena; PUNTEL, Joana. Os Papas da Comunicação: Estudo sobre as mensagens do Dia Mundial das Comunicações. São Paulo: Paulinas, 2019.

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conciliares reconheceram e confirmaram que os meios de comunicação são

meio de apostolado e devem estar a serviço da ação evangelizadora. Devem

compreender não só a estrutura eclesial, mas as pessoas e a sociedade em

que a Igreja está inserida. Neste documento, também ficou estabelecida a

realização anual do Dia Mundial das Comunicações Sociais, a ser celebrado

na Solenidade da Ascensão de Jesus.

Alguns anos após o Concílio, em 1971, a Comissão Pontifícia dos

Meios de Comunicação Social publicou, com a aprovação do Papa Paulo VI, a

instrução pastoral Communio et Progressio, que inicia contrapondo a visão da

Igreja dos anos 1400. “Essa instrução é considerada a Magna Carta da

comunicação na Igreja. Ela se caracteriza por uma aproximação positiva entre

a comunicação, a Igreja e os profissionais da área” (FOGOLARI e BORGES,

2016, p.76).

Já em 1992, na comemoração das duas décadas da instrução

Communio et Progressio, novamente a Igreja publica um documento sobre a

comunicação: trata-se da instrução pastoral Aetatis Novae, que sugere a

criação da Pastoral da Comunicação nos regionais, dioceses e paróquias de

todo o mundo.

Neste caminhar da história e evolução do Magistério da Igreja,

iniciativas isoladas davam sequência ao propósito de evangelizar com o

anúncio da Boa Notícia. Aqui podemos citar dois exemplos: a Rádio

Vaticano4, criada pelo Papa Pio XI em 12 de fevereiro de 1931 e o jornal

Correio Riograndense5, publicado pela primeira vez em 13 de fevereiro de

1909 pelo padre Carmine Fasulo, em Caxias do Sul (RS), com o nome de La

Libertá, editado totalmente em língua italiana, para servir ao povo que

colonizou essa região a partir de 1885.

Veículos de comunicação de inspiração católica surgiram e foram

desaparecendo ao longo das décadas. Em 2020, podemos perceber a

ascensão do trabalho de propagação da fé Católica por meio de novas

4 Teve como primeiro nome Statio Radiophonica Vaticana, idealizada por Guglielmo Marconi. Depois de passar pelas inúmeras fases da Igreja Católica, no século XX e início do século XXI, tornou-se um centro de produção de conteúdo e, em 17 de dezembro de 2017, passou a chamar-se Vatican News. 5 Ainda em 1904, o frei Bruno de Gillonay, chefe da missão dos freis capuchinhos no Rio Grande do Sul, encaminhou carta à Província da Saboia na França, onde pedia aos confrades que auxiliassem na concretização de um jornal para ser a página do Evangelho em língua materna dos italianos. Em 1917, os freis capuchinhos assumem a direção do jornal que circulou na versão impressa até 08 de fevereiro de 2017.

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plataformas, que não o impresso, o rádio ou a televisão, ferramentas já

utilizadas e conhecidas, mas pelas redes sociais. A Igreja, no entanto, não

formalizou, no Magistério dos Papas por meio de Exortações Apostólicas ou

Encíclicas, esse advento das tecnologias de comunicação. A saber: em 2002

houve a publicação do documento intitulado “A Igreja e a Internet”, pelo

Pontifício Conselho e, em 2005, o Papa João Paulo II divulgou a carta

apostólica “O rápido desenvolvimento”, aos responsáveis pelas comunicações

sociais.

De acordo com Sbardelotto (2017), “a circulação do ‘católico’ em rede

teve um de seus grandes catalisadores com o ingresso do então Papa Bento

XVI na plataforma Twitter com uma conta pessoal”. As contas “@Pontifex”, em

nove línguas diferentes, foram criadas em dezembro de 2012 e hoje são

utilizadas pelo Papa Francisco.

O Pontífice eleito em 2013 para comandar a Igreja Católica é um forte

incentivador do uso das redes sociais e dos meios de comunicação social

para a evangelização. Francisco é o 266º sucessor de Pedro, apóstolo que

Jesus encarregou guiar os crentes da nova religião e protagonizou um

momento marcante para a humanidade que chora a morte de milhares de

pessoas pela pandemia do Covid-19, em 19 de março de 2020: sozinho na

Praça São Pedro, em Roma, foi acompanhado por milhões de pessoas em

todo o mundo, em oração pelo cessar do novo coronavírus. Todo esse

fenômeno de celebrar, abençoar e participar da vida eclesial pelos meios de

comunicação é o tema central desta breve presquisa.

4.2 Desenvolvimento

4.2.1 A comunicação da Igreja a partir dos Papas

Em 1975, o então Papa Paulo VI, publicou a Exortação Apostólica

Evangelii Nuntiandi, na qual discorre sobre o empenho da Igreja Católica em

anunciar o Evangelho aos homens daquele tempo. O documento é fruto do

Sínodo dos Bispos sobre a Evangelização. Ele dedica três parágrafos do texto

à utilização dos meios de comunicação social. “É servindo-se deles que ela

[Igreja] ‘proclama sobre os telhados’ a mensagem de que é depositária. Neles

encontra uma versão moderna e eficaz de púlpito. Graças a eles consegue

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falar às multidões.”6

A partir desta percepção de Paulo VI naquele contexto em que não

havia sequer perspectivas de uma comunicação em rede, por meio da

internet, é possível perceber o discurso da Igreja Católica que acena para a

necessdidade do investimento em segmentação de conteúdos. Algumas

linhas acima, ele pontua: “[...] o primeiro anúncio, a catequese ou o

aprofundamento ulterior da fé, não podem deixar de se servir destes meios,

conforme já tivemos ocasião de acentuar”.7

Com o passar do tempo, a Igreja Católica tem criado novos conteúdos,

com formatos diversos, que visam oferecer aos consumidores de seus

produtos midiáticos uma gama de temas que giram em torno da mensagem

de Jesus Cristo. Anualmente, desde 1967, os papas divulgam a Mensagem

para o Dia Mundial das Comunicações Sociais, nas quais explanam sobre

alguma temática. É possível perceber que os primeiros anos foram dedicados

a explicar sobre o que de fato é a comunicação social, seus meios, canais e o

comportamento do emissor e do receptor.

Já a partir de 1979, quando a Igreja era chefiada por João Paulo II, as

mensagens passaram a expressar temas de preocupação social, tais como o

desenvolvimento das crianças, a promoção da paz, e a comunicação

enquanto instrumento de fé e cultura. Nos anos de 1997 a 2003, o foco

passou a ser o cristianismo e a propagação da fé no Terceiro Milênio, já com

o advento da rede mundial de computadores. “Internet: um novo foro para a

proclamação do Evangelho”, foi a proposta de 2002.

Logo depois, no final do pontificado Petrino de João Paulo II, falecido

em 2005 e a eleição de Bento XVI, o cunho foi novamente social, agora com

as temáticas voltadas ao uso da internet. Mas foi a partir de 2010 que as

mensagens ganharam uma nova perspectiva: olhar para dentro da Igreja ao

passo que é proposto que os seus membros possam exercer uma melhor

comunicação interpessoal. Exemplo disso foram os anos de 2010 e 2011: “O

sacerdote e a pastoral no mundo digital: os novos media ao serviço da

Palavra” e “Verdade, anúncio e autenticidade de vida, na era digital”.

6 Citação encontrada no número 45 do documento do Magistério da Igreja, disponível em: < http://www.vatican.va/content/paul-vi/pt/apost_exhortations/documents/hf_p-vi_exh_19751208_evangelii-nuntiandi.html - acesso em 16.jun.2020>. 7 Idem.

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Com a eleição de Jorge Mario Bergoglio para o cargo máximo da Igreja

Católica, com o nome de Francisco, a mudança é perceptível e sutil ao

mesmo tempo: em 2014, o pedido era para construir uma comunicação a

serviço da cultura do encontro. No ano seguinte: a ideia era comunicar a

família como ambiente de encontro. No Ano Extraordinário da Misericórdia,

em 2016, a mensagem apontava: “Comunicação e misericórdia: um encontro

fecundo”. Desde que foi escolhido pelos cardeais, em 13 de março de 2013,

Francisco tem sinalizado a importância da cultura do encontro, ou seja, de que

a própria Igreja saia de suas estruturas e seja transmissora da mensagem de

paz a toda a humanidade.

Comunicar esperança e confiança, construir a comunicação para a paz

por meio da compreensão de que todos os seres vivos, sejam eles homens,

animais ou plantas, fazem parte de um ecossistema e vivem em rede, também

são temáticas abordadas pela Igreja, por meio do Papa Francisco.

Se uma comunidade eclesial coordena a sua atividade através da

rede, para depois celebrar juntos a Eucaristia, então é um recurso. Se

a rede é uma oportunidade para me aproximar de casos e

experiências de bondade ou de sofrimento distantes fisicamente de

mim, para rezar juntos e, juntos, buscar o bem na descoberta daquilo

que nos une, então é um recurso.8

4.2.2 A comunicação na Igreja do Brasil

No Brasil, a Igreja Católica tem se esforçado para ser presença junto

aos profissionais e veículos de imprensa e também para envolver a

comunicação em sua estrutura orgânica. Ao longo das décadas, impulsionada

pelos documentos do Magistério e também pelas deliberações das

conferências episcopais latino-americana e caribenha, promovidas pela

Conferência Episcopal Latino-americana (CELAM), a Conferência Nacional

dos Bispos do Brasil (CNBB) chama à reflexão sobre a ação evangelizadora

como prática de comunicação.

Em 1989, a Campanha da Fraternidade, promovida pela CNBB, trouxe

o tema “Comunicação para a Verdade e a Paz”. No ano de 1994, a entidade

8 Mensagem do Papa Francisco para o 53º Dia Mundial das Comunicações Sociais. Disponível em: < http://www.vatican.va/content/francesco/pt/messages/communications/documents/papa-francesco_20190124_messaggio-comunicazioni-sociali.html - acesso em 16.jun.2020>.

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publica o subsídio de estudo chamado: “Comunicação e Igreja no Brasil”,

complementado pelo material intitulado: “A Igreja e a comunicação rumo ao

novo milênio”. Esses dois estudos resultaram na elaboração do Documento 59

da Conferência: “Igreja e Comunicação rumo ao terceiro milênio: conclusões e

compromissos”, em 1997.

Uma das grandes urgências apontadas pelos bispos e também pelos

agentes da comunicação nas dioceses e os profissionais da imprensa era a

necessidade de um documento que se ajustasse às necessidades

comunicacionais desta era, sem esquecer dos valores da Igreja. Assim, em

2011, a CNBB emite o documento de estudo: “A comunicação na vida e

missão da Igreja no Brasil”, que recolheu contribuições de bispos, padres,

leigos e comunicadores de todo o país e serviu como base para a publicação

do Documento 99, em 2014: “Diretório de Comunicação da Igreja no Brasil”.

De acordo com Fogolari e Borges (2016 p. 85-86), a aprovação do

Diretório representa o amadurecimento de uma trajetória da Igreja sobre a

reflexão e a prática de comunicar, dentro e fora da Igreja, fazendo a conexão

entre o ambiente eclesial e o mundo digital.

Era preciso dar voz e visibilidade aos trabalhos de comunicação das

dioceses e paróquias do Brasil, bem como fortalecera integração entre os

comunicadores. Por isso, em 2008, a CNBB deu início aos Encontros

Nacionais da Pastoral da Comunicação, realizados a cada dois anos. A edição

de 2020 foi transferida para 2021, em virtude da pandemia. A partir desses

esforços também nasceu a organização oficial e clara da Pastoral da

Comunicação, a ser implementada nos regionais, dioceses e paróquias.

Faz-se importante destacar que este âmbito da Igreja vem ganhando

ainda mais respaldo, tanto que em 2012, durante a 49ª Assembleia Geral dos

Bispos do Brasil, a comunicação deixou de ser um setor e ganhou o nome e

estrutura de Comissão Episcopal Pastoral para a Comunicação, tendo três

prelados eleitos para a direção destes trabalhos. O último e não menos

importante estudo que é realizado pelo grupo, desde 2018, versa sobre as

orientações pastorais para as mídias católicas, sendo elas as tradicionais,

bem como a internet e as redes sociais.

Aqui cito o documento da CNBB que dá sustentação prática a esta

breve pesquisa. O Guia de Implantação da Pastoral da Comunicação, lançado

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em 2018 pela Comissão Episcopal Pastoral para a Comunicação. Enquanto o

Diretório de Comunicação da Igreja no Brasil tem como objetivo motivar a

instituição a atualizar e aprofundar os conhecimentos e referências tanto de

seus pastores quanto de seus fiéis sobre a importância da comunicação para

a vida da comunidade eclesial9, o Guia é mais prático.

Este subsídio é fruto de uma experiência de implementação da

Pastoral da Comunicação (Pascom) na Arquidiocese de Diamantina, em

Minas Gerais, ao longo do ano de 2017. Ele é apresentado em quatro partes,

sendo a primeira dedicada à formação de lideranças da Igreja sobre este

projeto e a caminhada eclesial voltada à comunicação. O segundo aspecto

apresentado é para ajudar a articulação na implantação do projeto. A

produção e orientação técnica estão no terceiro passo e, por fim, a

espiritualidade do comunicador católico. Ao final, ainda há alguns

esclarecimentos sobre a transversalidade da Pascom, em sua atuação nos

ambientes internos da Igreja.

Nos documentos da Igreja e também no Guia, existe a compreensão

de que a implantação do trabalho de comunicação no âmbito eclesial é feito

de maneira processual. Diferentemente de qualquer organização privada,

onde são contratadas empresas especializadas em comunicação, marketing e

relações públicas, a Igreja prega a comunhão e a participação, em forma de

colegiado, para as decisões. Desta forma, muitas comunidades e paróquias

que não haviam despertado para a necessidade de pensar a comunicação

como novo meio de se aproximar dos fiéis, foram atropeladas pela pandemia

da Covid-19, o fechamento dos templos, o cancelamento de ações sociais e

de confraternização e, por consequência, a queda significativa de receitas

financeiras.

Desta forma, sucederam-se casos em que as páginas das paróquias

em redes sociais como o Facebook passaram a exibir celebrações diárias,

transmitidas com pouca ou nenhuma técnica de som ou imagem. Grande

parte das dioceses do Brasil, em seus decretos para o fechamento das

igrejas, somente descreveram que as missas deveriam ser privadas e, na

medida do possível, transmitidas pelos meios de comunicação disponíveis.

9 Na introdução, a Comissão Episcopal Pastoral para a Comunicação elenca os objetivos, a estruturação, os públicos-alvo e a comunicação enquanto pastoral orgânica na vida da Igreja Católica Apostólica Romana, no Brasil.

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Assim, as paróquias viram-se obrigadas a ocuparem as redes sociais, espaço

antes não utilizado ou mantido somente por informações locais.

Outras paróquias, no entanto, que já desenvolviam ações de

comunicação anteriores à pandemia puderam agir com mais naturalidade,

dada a importância do processo. E aqui cabem também reflexões sobre a

média de idade dos públicos que estão nas redes sociais da Igreja Católica

Apostólica Romana e também sobre o impacto que essa nova visão, de poder

rezar com acesso às imagens das celebrações de uma igreja que está a

poucos metros de casa, do próprio sofá, irá causar no jeito de viver a fé e de

realizar os ritos na liturgia da Igreja.

4.3 142ª Festa de Santo Antônio de Bento Gonçalves

A história da devoção do povo de Bento Gonçalves, cidade da Serra

Gaúcha, a Santo Antônio de Pádua remonta aos inícios da imigração italiana,

em 1875. De acordo com o site da Paróquia Santo Antônio de Bento

Gonçalves, a primeira festa em honra a este santo da Igreja aconteceu em

1878 e a tradição segue até os dias atuais.

No início dos festejos e, em 1884 quando foi criada a Paróquia, o

cuidado religioso dos fiéis era feito pela Arquidiocese de Porto Alegre. Em 08

de setembro de 1934, foi criada a Diocese de Caxias do Sul, da qual a cidade

de Bento Gonçalves passou a fazer parte. No mesmo ano, a igreja matriz

Santo Antônio foi elevada à categoria de Santuário Diocesano Santo Antônio

de Lisboa. Hoje, além do Santuário é realizado o atendimento a outras 26

comunidades e serviços que, juntos, somam 64 frentes de ação social,

religiosa e pastoral.

Ao longo de toda a história, 20 párocos, ou seja, padres que

coordenam os trabalhos e ações pastorais passaram pela Paróquia, bem

como mais de uma centena de sacerdotes auxiliares. Atualmente, a gestão é

feita pelo padre Ricardo Fontana, que assumiu a função em 2015.

Na história das 142 edições dos festejos, a programação passou por

diversas alterações e ganhou várias atividades de cunho religioso e social. Os

relatórios fotográficos aos quais o pesquisador teve acesso, mostram

procissões, bênçãos aos motociclistas, concurso literário, sorteio de rifa e a

realização de quermesses, com brincadeiras e jogos populares, além dos

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jantares e almoços, bem como missas em preparação ao dia festivo,

celebrado sempre no dia 13 de junho, feriado municipal. Santo Antônio é o

padroeiro de Bento Gonçalves.

Uma das inovações mais significativas da história dos festejos de

Santo Antônio, em Bento Gonçalves, foi a adoção anual de um lema para

guiar as reflexões daquela edição. De acordo com o site da Paróquia, em

1981, os padres e Irmãs Pastorinhas, juntamente com os festeiros, que são

casais organizadores das atividades, deram início à prática. “O mesmo torna-

se a ideia forte em torno da qual é desenvolvida a mensagem da Festa”10. A

primeira frase inspiradora foi: “Renovação – Com integração e fé” e em 2020,

a edição mais inovadora até então, trouxe o conceito missão: “Com Santo

Antônio: Ide e Anunciai”, do Evangelho segundo Marcos.

A 142ª Festa de Santo Antônio, realizada em 2020, caso de estudo

desta pesquisa, teve toda a sua programação religiosa atingida pela pandemia

do novo coronavírus (Covid-19). A situação obrigou a comissão organizadora,

composta por padres, religiosas, casais festeiros e festeiros jovens a alterar o

projeto inicial, que previa a realização de visitas com a imagem do santo a 35

igrejas e entidades assistenciais de Bento Gonçalves, bem como a promoção

de almoços e jantares de confraternização.

Com a programação religiosa restrita a celebrações sem a presença de

fiéis, as missas foram transmitidas ao vivo pelas redes sociais e ganharam

grande repercussão na imprensa regional e nacional pelo engajamento.

4.4 Processos Metodológicos

O presente Trabalho de Conclusão de Curso foi construído a partir do

acompanhamento feito pelo pesquisador durante a realização da 142ª Festa

de Santo Antônio, na cidade de Bento Gonçalves (RS), entre os dias 17 de

abril e 13 de junho de 2020. Os dados coletados junto às redes sociais da

Paróquia Santo Antônio foram analisados, com a finalidade de responder ao

título do trabalho: Evangelizar na pandemia: a importância das redes sociais

para a Igreja Católica em tempos de Covid-19.

Além disso, o estudo também dispôs de uma pesquisa bibliográfica

10 Site da Paróquia Santo Antônio, página o histórico da Paróquia e sobre as Festas de Santo Antônio. Disponível em: < https://www.paroquiasantoantoniobg.com.br/historico - acesso em 21.jun.2020>.

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junto às publicações que versam sobre a comunicação na Igreja Católica em

âmbito universal, continental, nacional e local, bem como notícias e demais

materiais informativos sobre a Festa de Santo Antônio de Bento Gonçalves.

Para Lakatos (2010, p.166), a finalidade da pesquisa bibliográfica é “colocar

o pesquisador em contato direto com tudo o que foi escrito, dito ou filmado

sobre determinado assunto”. A autora escreve ainda que esse procedimento

propicia o “exame de um tema sob novo enfoque ou abordagem, chegando a

conclusões inovadoras”.

Foi adotado o método dedutivo, por entender que existe a possibilidade

da construção de conclusões a partir do cruzamento de documentos, escritos

e pesquisa de campo. Moreira (2005, p.270) salienta que, apesar das fontes

mais comuns serem os acervos impressos, “também serve como expediente

a consulta a documentos oficiais, técnicos ou pessoais, realizada apenas

quando o acesso é permitido ao pesquisador”.11 No caso desta pesquisa, a

Paróquia Santo Antônio permitiu a consulta aos relatórios da página do

Facebook e dos patrocinadores, que revela o engajamento e a geração de

mídia gratuita para a Igreja, bem como a exposição da marca dos apoiadores

do evento.

Essa pesquisa visa oferecer subsídios que consolidaram a importância

das redes sociais no processo de evangelização realizado pela Igreja

Católica e a necessidade de conteúdo relevante nas diferentes plataformas.

4.5 Comunicação católica e pandemia: 142ª Festa de Santo Antônio

Ao retomar os dois últimos parágrafos do ponto 4.3 deste trabalho,

podemos dizer que o êxito da comunicação da 142ª Festa de Santo Antônio é

o desfecho de um processo comunicacional e pastoral. A soma do trabalho de

profissionais da comunicação católica, da assessoria de imprensa e do

marketing possibilitaram expressivos números de alcance, bem como de

impacto de mídia e exposição das marcas de empresas parceiras.

No entanto, o trabalho iniciou ainda em 2015, com a contratação de

uma jornalista para o gerenciamento do site e redes sociais da Paróquia

Santo Antônio, além de uma agência de marketing. Mais tarde, em 2019, teve

11 DUARTE, Jorge; BARROS, Antônio (Org). Métodos e técnicas de pesquisa em comunicação. São Paulo: Atlas, 2005.

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início a transmissão semanal de Missas, sempre aos domingos, às 18h, pelo

Facebook. No final de 2019, uma agência de comunicação católica passou a

coordenar, revitalizar e executar, em conjunto com o pároco e a responsável

paroquial, todo o serviço de criação, publicação e mensuração dos conteúdos.

Todo esse caminho permitiu à Paróquia Santo Antônio, que abrange

mais de 30 mil famílias, trabalhar melhor a sua comunicação e suas

transmissões desde o início da pandemia da Covid-19 e o fechamento dos

estabelecimentos religiosos na região, ainda em março. Assim, desde o dia 17

de março de 2020, diariamente é veiculada a Missa, às 18h. Em quadros

comparativos, é possível perceber que, no mesmo horário, em data de 04 de

julho de 2020 a página da Paróquia no Facebook e a fan page da Diocese de

Caxias do Sul, com público superior a 1 milhão de habitantes, cujo número de

curtidas era parecido, 11.643 e 12.969, respectivamente, reuniam 189 e 50

internautas espectadores.

No Estado do Rio Grande do Sul, o governo criou o Programa de

Distanciamento Controlado12, com a finalidade de segmentar as regiões a

partir das cores de bandeiras para identificar o baixo, médio e alto risco de

contágio pela Covid-19. Seguindo essas recomendações e em comunhão com

o bispo da Diocese de Caxias do Sul, Dom José Gislon, a Paróquia Santo

Antônio e a comissão organizadora definiu por transformar em online toda a

programação de Missas em preparação e também do dia 13 de junho de

2020.

Celebrações que teriam a visita da imagem de Santo Antônio às igrejas

e entidades locais foram substituídas por transmissões, ao vivo, do Santuário

Santo Antônio, com a presença de número restrito de pessoas e as imagens

dos santos padroeiros das comunidades.

Tradicionalmente, as receitas financeiras são oriundas das promoções

sociais e das cotas de patrocinadores masters e seniors que, em 2020,

somaram 42 marcas de pessoas jurídicas da indústria, comércio e serviços da

cidade. Por meio dessas parcerias, foram realizadas diversas ações, como a

produção da identidade visual da Festa, a Palavra Antoniana, livreto oficial, 12 Programa de Distanciamento Controlado do Governo do Rio Grande do Sul, proposto pelo governador Eduardo Leite, para dimunuir a curva de contágio pelo novo coronavírus (Covid-19), no Estado. É demarcado por cores de bandeira: amarela, representa baixo risco de contágio; laranja, risco médio e vermelha, alto risco. Em caso de bandeira preta, é decretado o lockdown, de acordo com indicativos que possam levar o sistema público de saúde ao colapso.

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com orações dedicadas à prepração das homenagens ao Padroeiro, bem

como outdoors para a divulgação da programação e também a

disponibilização rifa, chamada “Ação entre Amigos”.

Durante todo o processo de construção das atividades e reformulação

da programação, além da equipe de padres, Irmãs Pastorinhas, casais

festeiros e festeiros jovens, três empresas de comunicação acompanharam e

orientaram os passos a serem dados, seja na assessoria de comunicação, no

trabalho de conteúdo visual e também nas redes sociais da Paróquia Santo

Antônio.

O histórico do processo de comunicação da Paróquia Santo Antônio

contribuiu para o bom êxito desta programação. A página no Facebook foi

criada em 17 de maio de 2012, além disso conta com canal no YouTube. Em

13 de fevereiro de 2020, foi criado o perfil no Instagram para a postagem de

fotos e conteúdos de fé. Já no dia 13 de março, em evento com a presença da

imprensa de Bento Gonçalves, aconteceu o lançamento do novo site da

Paróquia, com novo layout.

No período de 17 de abril a 13 de junho de 2020, foram realizadas 41

transmissões ao vivo pelas redes sociais, durante a programação de visitas

online do Padroeiro às comunidades, paróquias e entidade de Bento

Gonçalves, os treze dias de preparação, chamados de “Trezena” e o dia 13 de

junho, Dia Festivo da 142ª Festa de Santo Antônio. Todas as lives foram

veiculadas no Facebook e, ao longo do caminho, passaram a ser

reproduzidas pelo YouTube e Instagram da Paróquia, todos com o nome de

usuário “ParoquiaSantoAntonioBG”.

Nesta programação, foram consideradas as visualizações e a média do

alcance global em todas as redes. No período, foram 210,3 mil visualizações

totais, sendo 204,3 mil, no Facebook, com alcance total, foram atingidas

pouco menos de 569 mil perfis, sendo quase 148 mil no Dia Festivo. O menor

pico de aparelhos conectados ao mesmo tempo, nas transmissões, foi de 191

aparelhos em 24 de abril e o maior, no dia 13 de junho, às 18h, com 1,2 mil

equipamentos no Facebook da Paróquia. Considerando a média de 3,07

pessoas por núcleo familiar no Brasil, de acordo com o IBGE em 2019, a

celebração de encerramento teve pico de quase 3,7 mil fiéis na veiculação,

alem das reações, comentários, curtidas e compartilhamentos. O total de

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picos em todas as lives, foi de 18 mil aparelhos. Aplicando-se a mesma

média, obtem-se o total geral de 55 mil pessoas simultaneamente conectadas.

Outro dado importante é a entrada de receita por meio de coleta de

ofertas pela internet com a veiculação do QR-Code durante as Missas, no

período da liturgia compreendido pela oração das preces e apresentação dos

dons do pão e vinho no culto. Ao todo, foram mais de R$ 1 mil reais

arrecadados virtualmente.

O mote dos festejos de 2020 foi a celebração da devoção ao Padroeiro

de Bento Gonçalves nas casas, fortalecendo o que se chama de Igreja

doméstica.13 As famílias foram convidadas a prepararem pequenos espaços

de oração, com a imagem do santo e a Bíblia, que remete ao lema: Ide e

Anunciai. No dia 13 de junho, foram realizadas procissões motorizadas pelas

comunidades atendidas pela Paróquia Santo Antônio e as janelas e sacadas

das casas e apartamentos foram ornamentados, a partir de uma proposta

lançada pelas redes sociais.

A comunicação pelas redes sociais também ganhou um belo destaque

com a realização da ação de distribuição dos tradicionais pãezinhos de Santo

Antônio nas padarias da cidade. Historicamente, estabelecimentos doavam

mais de 80 mil pãezinhos, que eram partilhados com as mais de 20 mil

pessoas que participavam das atividades do 13 de junho.

Na edição de 2020, com a pandemia, 17 padarias e confeitarias

distribuíram gratuitamente os pãezinhos, e disponibilizaram os materiais

impressos da Festa para que seus clientes pudessem levar para casa.

Diariamente, de 06 a 13 de junho, os padres abençoaram os pãezinhos que

eram partilhados nas padarias, nas Missas transmitidas pelas redes sociais.

Ao final, mais de 27 mil unidades foram consumidas pela comunidade.

A equipe de comunicação da Paróquia Santo Antônio preparou uma

série de vídeos com depoimentos e testemunhos de pessoas da comunidade

de Bento Gonçalves, devotos do santo e que estavam ligadas à história dos

festejos. Esses conteúdos foram veiculados diariamente nas 13 celebrações

da Trezena. Aos 82 anos, quando perguntada sobre o novo formato de 13 O conceito de Igreja doméstica remonta ao início do cristianismo. Logo após a ascensão de Jesus, os seus discípulos formam pequenas comunidades e grupos que se reuniam para partilhar os ensinamentos cristãos e o pão nas casas das famílias. Assim, o Concílio Vaticano II retomou o termo, que está sendo bastante empregado durante a pandemia, quando os fiéis acompanham as celebrações pelos veículos de comunicação ou pelas redes sociais, na presença do seu núcleo familiar e não no templo.

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oração, agora pela internet, a senhora Sely Canossa Rossetti, que atuou por

muitos anos como voluntária nas pastorais da Paróquia, assim respondeu:

“Desde que começou a Missa pela internet, eu não perco uma noite e isso me

ajudou a ser mais religiosa ainda. Eu faço a minha hora de meditação, leio o

Salmo e o Evangelho antes da Missa, depois assisto”.

O pároco da Paróquia Santo Antônio, padre Ricardo Fontana,

considera as redes sociais como um areópago deste século. De acordo com

ele, a Igreja precisa cada vez mais comunicar a pessoa de Jesus Cristo pelas

diversas plataformas, com linguagem própria e local. “Um público variado de

idades acaba interagindo com a vida da Paróquia e acaba por nos conhecer

mais de perto; criamos vínculos mais próximos”. Ao ser perguntado sobre o

que ainda faz falta nos conteúdos da Igreja Católica na internet, é categórico:

“Mais Palavra [de Deus] e menos palavras!”. Além disso, na avaliação do

pároco, o uso das redes sociais pela Igreja em tempo de pandemia é

essencial: “Uma das únicas vias possíveis de comunicar e anunciar a

Palavra.”

Já o coordenador da equipe de comunicação e marketing da Festa, o

festeiro Andrey Arcari, explica que a festa de 2020 foi muito diferente do que

fora planejado inicialmente, com a ideia de ampliar a presença da Igreja no

meio digital e aproximar os jovens. Com a pandemia, essa foi a única

alternativa para festejar. “Tivemos um grande engajamento dos fiéis que

compreenderam o momento e nos acompanharam diariamente.

Testemunhamos uma grande aproximação da comunidade com Santo

Antônio, que foi percebida através da audiência online e das procissões”.

Outro ponto analisado durante as transmissões das atividades da 142ª

Festa de Santo Antônio foi a participação de pessoas de várias partes do

mundo. Os comentários mostravam devotos nos quatro cantos do Brasil e em

diversos países da América Latina, do Norte e Europa. Festejos que reuniam

20 mil pessoas, ajudaram mais de 200 mil a rezar em tempo de pandemia.

4.6 Considerações finais

Esse fenômeno das lives de missas e outros ritos litúrgicos da Igreja

Católica gera um profundo debate sobre a validade sacramental, isto é, a

possibilidade de participar da atividade, mesmo que virtual, como se estivesse

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no culto comunitário, ou somente catequético, para a formação cristã dos fiéis,

baseado na constituição pastoral Sacrossantum Concilium, também nascida

no Vaticano II. Em artigo publicado no portal Dom Total, o teólogo Felipe

Magalhães Francisco diz que neste contexto de excessão, pela pandemia, a

Igreja Católica abre precedentes para que seja cada vez mais forte a

virtualização da fé. “O Covid-19, agora, dá uma chacoalhada forte na teologia

litúrgica que, colocada à prova, precisará refletir de modo atualizado e criativo

o que significa, nesses nossos tempos de revoluções tecnológicas, o

significado de sacramentalidade.”14

A Igreja, no entanto, precisa superar pequenas barreiras para poder

vislumbrar o univero da evangelização no qual está inserida. E isso será

possível somente com criatividade e leveza, além de transparência e clareza

na gestão de crises, como muito bem apontaram as disciplinas deste curso. E

aqui faz-se importante mencionar a necessidade de abandonar os “ou” e

adotar os “e” no caminho da evangelização. Em artigo publicado pelo Instituto

Humanitas da Unisinos, Sbardelotto retoma, inclusive, a cultura do encontro,

tão citada pelo Papa Francisco, cujo tema abordamos ao falar sobre os

documentos da Igreja na área da comunicação. “O digital não é um problema.

Pelo contrário, é um sintoma de problemáticas bem mais profundas que não

são meramente de ordem tecnológica, mas, sim, teológica, eclesiológica,

pastoral, catequética e litúrgica. Essas questões demandam ousadia e

criatividade”15.

Diante disso, podemos concluir que a comunicação é fundamental para

evangelização e as redes sociais abarcaram a todos, tanto os que já

realizavam projetos de comunicação nas paróquias e dioceses, quanto os que

iniciaram sem qualquer planejamento. Esse fenômeno comunicacional precisa

ser aprimorado, profissionalizado, para que outras pessoas possam ser

impactadas pelo conteúdo, produzido com qualidade. Além disso, a Igreja não

pode ser furtar ao debate das políticas públicas que permitam a todos os

brasileiros o acesso à internet, que é um direito humano e social básico hoje.

Aqui também merece destaque a importância do planejamento 14 Artigo do site Dom Total. Disponível em: < https://domtotal.com/noticia/1430964/2020/03/covid-19-e-a-chacoalhada-na-teologia-liturgica/ - acesso em 21.jul.2020>. 15 Artigo de Moises Sbardelotto no site do Instituto Humanitas da Unisinos (IHU). Disponível em: < http://www.ihu.unisinos.br/78-noticias/601104-virtualizacao-da-fe-reflexoes-sobre-a-experiencia-religiosa-em-tempos-de-pandemia - acesso em 21.jul.2020>.

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financeiro para a execução do projeto de comunicação, bem como para a

sustentabilidade financeira da instituição, sobretudo no tempo em que os fiéis

ficam privados das celebrações e a entrada de receitas com ofertas e dízimo

descresce. O que se percebe é que a implantação de equipamentos para

oferecer melhor qualidade de transmissão e também a contratação de

profissionais de comunicação voltados à Igreja onera as finanças. É preciso

implementar, de acordo com o Guia de Implamtação da Pastoral da

Comunicação, estruturar os passos e metas para que os projetos sejam

executados a curto, médio e longo prazo. Assim, a comunicação deixará de

ser gasto, mas dê retorno monetário e pastoral à paróquia ou à diocese, como

é o caso da Paróquia Santo Antônio.

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5. REFERÊNCIAS ASSOCIAÇÃO DOS FILHOS DO PAI ETERNO. Igreja doméstica: o princípio da fé cristã, 2020. Disponível em: https://www.paieterno.com.br/2020/04/23/igreja-domestica-o-principio-da-fe-crista/ - acesso em 21.jul.2020. BÍBLIA SAGRADA EDIÇÃO PASTORAL. Paulus. Disponível em: <http://www.paulus.com.br/biblia-pastoral/_PXD.HTM/&gt;. Acesso em: 21 de abr. 2020. COMISSÃO EPISCOPAL PASTORAL PARA A COMUNICAÇÃO. Guia de Implantação da Pastoral da Comunicação. Brasília: Edições CNBB, 2018. CONFERÊNCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL. Diretório de Comunicação da Igreja no Brasil. Brasília: Edições CNBB, 2014. CORAZZA, Helena; PUNTEL, Joana. Os Papas da Comunicação: Estudo sobre as mensagens do Dia Mundial das Comunicações. São Paulo: Paulinas, 2019. DUARTE, Jorge; BARROS, Antonio (Org.). Métodos e técnicas de pesquisa em comunicação. São Paulo: Atlas, 2005. FOGOLARI, Élide Maria; BORGES, Rosana da Silva. Pascom – A ação evangelizadora na Igreja à luz do Diretório de Comunicação. São Paulo: Paulinas, 2016. FRANCISCO, Felipe Magalhães. Covid-19 e a chacoalhada na teologia litúrgica, 2020. Disponível em: https://domtotal.com/noticia/1430964/2020/03/covid-19-e-a-chacoalhada-na-teologia-liturgica/ - acesso em 21.jul.2020. LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Marina de Andrade. Metodologia do trabalho científico: procedimentos básicos, pesquisa bibliográfica, projeto e relatório, publicações e trabalhos científicos. São Paulo: Atlas, 1983. LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Marina de Andrade. Fundamentos de metodologia científica. 7.ed. São Paulo: Atlas, 2010. PARÓQUIA SANTO ANTÔNIO. Relatório de redes sociais da 142ª Festa de Santo Antônio, 2020. Disponível em: https://drive.google.com/file/d/1925O4S_jz7DnqckCLeUQ5zmaWvWGfWX6/view?usp=sharing - acesso em 12.jul.2020. SBARDELOTTO, Moisés. E o Verbo se fez rede: religiosidades em construção no ambiente digital. São Paulo: Paulinas, 2017. SBARDELOTTO, Moisés. Virtualização da fé? Reflexões sobre a experiência religiosa em tempos de pandemia, 2020. Disponível em: http://www.ihu.unisinos.br/78-noticias/601104-virtualizacao-da-fe-reflexoes-sobre-a-experiencia-religiosa-em-tempos-de-pandemia - acesso em 21.jul.2020. VATICAN NEWS. Aumentam os católicos no mundo: são 1 bilhão e 300 milhões, 2020. Disponível em: https://www.vaticannews.va/pt/vaticano/news/2020-03/aumentam-os-catolicos-no-mundo-bilhao-300-milhoes.html - acesso em 15.jun.2020.