Psicologia Judiciária - Ponto 4

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    Psicologia - Ponto 4: O processo psicológico e a obtenção da verdade judicial.O comportamento de partes e testemunhas.

    Fonte: Artigo “O processo psicológico e a obtenção da verdade judicial de partes etestemunhas”de Lauro Ericsen!assos L"curgo# $ispon%vel em:

    http:&&'''#u(rnet#br&)tl&tl*publications&aa*+,--*processo*psicologico*obtencao*ver dade*judicial#pd( 

    1. Introdução

    .ara a obtenção do /ue costumeiramente se denominou de “verdade judicial”0 necess1rio /ue alguns processos psicológicos sejam analisados de (ormacautelosa# Apenas as normas positivadas nos códigos jur%dicos não são su(icientespara abarcar todas as nuances dos testemunhos (ornecidos pelos agentesprocessuais# 2 necess1rio /ue o magistrado e demais au3iliares estejamsu(icientemente inteirados desses processos de ordem psicológica para /ue

    possam compreender e melhor se portar diante de situaç4es /ue e3ijam a pr1tica denarrativas e de e3posição de testemunhos#

    . !atores "onstitutivos do #estemunho

    O testemunho de algu0m deve ser entendido como uma narrativa da/uilo /ueo indiv%duo conseguiu perceber do /ue estava a se passar e transcorrer diante de si#Essa narrativa não pode ser tida como algo /ue se coloca como (undamentalmenteescorada em uma conclusão mental do indiv%duo /ue recorra a elementose3tr%nsecos desvinculados com a sua “realidade”# .ode5se asseverar /ue e3istemalguns (atores6 de nature7as diversas6 /ue in(luenciam a percepção do indiv%duo no/ue tange 8 retenção dos (atos /ue ele próprio (oi capa7 de presenciar#

    9ira " Lópe7 coloca /ue e3istem cinco (atores determinantes no testemunhode /ual/uer pessoa acerca de um acontecimento /ual/uer#

    O primeiro deles 0 o modo como essa pessoa percebeu esse acontecimento#Esse (ator depende6 por sua ve76 de condiç4es ou elementos; e3ternas e internas#dosinconscientes”# A conservação e o reconhecimento consciente de in(ormaç4es namemória atrav0s de um relato 0 algo puramente neuro(isiológico6 o /ue não signi(ica/ue a a/uisição dessa in(ormação dentro do aglomerado inconsciente seja algomeramente biológico# ?evolve5se elementos diversos do (uncionamento bio(%sico doindiv%duo6 relacionando5se6 portanto6 com elementos emocionais e psicológicos#

    Essas >ltimas observaç4es condu7em ao terceiro (ator6 /ue se relaciona coma capacidade do indiv%duo de evocar o (ato observado# 2 usual /ue6 na tentativa de

    evocar os (atos /ue devem ser narrados no testemunho6 haja a atuação demecanismos psicológicos de repressão e censura do próprio agente5narrador#

    http://www.ufrnet.br/~tl/tl_publications/aa_2011_processo_psicologico_obtencao_verdade_judicial.pdfhttp://www.ufrnet.br/~tl/tl_publications/aa_2011_processo_psicologico_obtencao_verdade_judicial.pdfhttp://www.ufrnet.br/~tl/tl_publications/aa_2011_processo_psicologico_obtencao_verdade_judicial.pdfhttp://www.ufrnet.br/~tl/tl_publications/aa_2011_processo_psicologico_obtencao_verdade_judicial.pdf

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    O /uarto (ator constitutivo do testemunho 0 o grau de sinceridade nasassertivas da testemunha#

    O /uinto e >ltimo (ator di7 respeito ao modo como se pode e3pressar o (atoobservado# Entra em pauta a/ui o “grau de precisão e3pressiva” da sua narrativa6 a(idelidade e clare7a com /ue o sujeito 0 capa7 de descrever suas impress4es6

    (a7endo5se compreender pelas pessoas#

     A .sicologia tem por obrigação estudar cada um desses (atores6 de (ormaisolada6 para6 posteriormente6 poder con(ront15los6 em (ace do testemunhopropriamente dito6 com a realidade e a verdade dos (atos testemunhados#

    E3istem dois m0todos de estudo# O primeiro desses m0todos 0 o /uantitativo#Ele procura6 essencialmente6 avaliar intensidade dos est%mulos so(ridos pelatestemunha para avaliar a compatibilidade da sua narrativa com o /uadro darealidade /ue para ela se apresentou# O segundo m0todo de estudo 0 baseado eman1lises de ordem /ualitativa# Ele procura avaliar a in(lu=ncia de percepç4esanteriores e coe3istentes 8s observaç4es atrav0s do contraste e da adaptação de

    /uadros testemunhais;#@o /ue di7 respeito 8s memórias6 em suas duas (ases6 a de conservação e a

    de evocação6 reali7aram5se estudos /uantitativos e /ualitativos# Os estudos denature7a /uantitativa tiveram por escopo estabelecer as “curvas do es/uecimento” eo “es/uecimento (orçado” /ue se observam nas lembranças emocionais# 1 osestudos /ualitativos6 por seu turno6 tenderam a estudar as de(ormaç4es dessasduas classes de lembrança6 algo denominado pelos estudiosos de“pseudomemória”#

    !atores de In$lu%ncia na Percepção de &contecimentos:

     A e3peri=ncia ps%/uica 0 algo comple3o na /ual não h1 uma simples misturaou justaposição de elementos real%sticos6 o /ue h16 na verdade6 0 uma (undição dev1rios elementos a(etivos6 emocionais e intelectuais6 /ue concorrem6 de maneiraaritmeticamente indissoci1vel para a (ormação de uma viv=ncia6 ou seja6 essa (usãoelementar (inda por constituir um ato ps%/uico6 dinBmico6 global6 e em suacompletude estrutural6 irredut%vel# $este modo6 ainda /ue seja poss%vel6 at0e3perimentalmente6 traçar um per(il b1sico e objetivo das reaç4es perceptivas acerta situação (1tica6 o desenrolar dessa percepção sempre variar1 em (unção dacompreensão eminentemente subjetiva envolvida nesse conte3to#

    Cm (ator /ue deve ser observado no estudo da in(lu=ncia perceptiva de

    acontecimentos di7 respeito o grau de (adiga ps%/uica em /ue se encontra oindiv%duo perceptor#Outro (ator /ue tamb0m deve ser levado em consideração di7 respeito 8

    /uestão do g=nero# Dsto 06 a generali7ação ou a especi(icidade de uma percepçãovaria em (unção do g=nero do indiv%duo /ue est1 a narrar tal situação perceptiva# Oshomens t=m mais capacidade do /ue as mulheres para a percepção geral de umasituação# As mulheres6 por0m6 percebem com mais e3atidão os detalhes#

    Outra constatação concreta acerca da an1lise das capacidades perceptivasdos indiv%duos em suas narrativas 0 a(eita 8 determinação /ue os momentos iniciaise (inais de um acontecimento tendem a ser percebidos com maior e3atidão do /ueos intermedi1rios#

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    9ais uma constatação concreta a ser elencada (a7 re(er=ncia ao (ato /ue emigualdade de condiç4es6 as impress4es visuais tendem a ser testemunhadas commais (acilidade do /ue as ac>sticas#

     Ainda6 os testemunhos re(erentes a dados /uantitativos geralmente são maisimprecisos /ue os /ualitativos# 2 comum /ue as /ualidades sejam mais presentes

    nas memórias dos indiv%duos /ue a marcação /uantitativa6 haja vista /ue oprocesso de arma7enamento num0rico6 06 em geral6 algo mais di(%cil /ue a simplesdescrição /ualitativa de um acontecimento aspecto da subjetividade na descriçãodo relato;#

     Al0m disso6 o h1bito 0 o mais importante (ator capa7 de in(luenciar apercepção6 isso por/ue ele talve7 seja o mais comum a e3ercer in(lu=ncia sobre oselementos /ue constituem a apreensão perceptiva# .or mais /ue se /ueira6 não h1como se (urtar 8 e3peri=ncia de /ue os automatismos mentais são preponderantesna percepção da realidade# Em virtude do h1bito6 0 comum /ue os indiv%duos sejamlevados a completar de tal modo as percepç4es da realidade e3terior6 /ue basta /uese encontrem presentes alguns de seus elementos para /ue o seu ju%7o de

    realidade se d= por satis(eito e aceite a presença do todo#

    '. !atores "apa(es de )udar a *vocação de )emórias:

     At0 a/ui (oram abordados os principais (atores capa7es de in(luenciar apercepção de um acontecimento6 ou seja6 elementos /ue podem e3ercer in(lu=nciasobre a sua g=nese e estruturação# Agora deverão ser perscrutados os (atorescapa7es de modi(icar sua evocação6 isto 06 a/ueles (atores /ue podem in(luenciar no modo em /ue as memórias arma7enadas pelo sujeito podem ser resgatadas doinconsciente#

     A evocação 0 simplesmente a reprodução volunt1ria interna de um (ato#!anto /uanto podem in(luenciar na conservação dos acontecimentos

    presenciados6 os elementos a(etivos tamb0m são considerados um dosinstrumentos mais e(ica7es e tendentes a perturbar a marcha do processo evocador de memórias#

    Este mecanismo 0 usualmente denominado de “amn0sia emocional”6 a partir do /ual se observa6 por e3emplo6 haver uma conse/u=ncia de um brusco abalomoral no encadeamento de resgate de memórias do sujeito# @esse caso6 oes/uecimento de uma situação tem como (inalidade uma de(esa ps%/uica6 j1 /uepressup4e o es/uecimento de um sentimento doloroso vinculado a ela#

    Levando5se em consideração /ue todos os interrogatórios judiciais versam

    sobre situaç4es /ue envolvem il%citos das mais diversas nature7as desde os il%citoscivis6 menos graves6 at0 os mais horrendos delitos penais; ou por (atos /ue giramem torno de um n>cleo emocional intenso6 observa5se6 não só em seus autores6mas tamb0m nas testemunhas6 a (re/uente ocorr=ncia da “amn0sia emocional”

    eralmente os ju%7es6 erroneamente6 (orçam6 por meio de ameaças ousugest4es6 as respostas das testemunhas6 acreditando obter assim dadosaproveit1veis para o esclarecimento e desdobramento da mat0ria (1tica posta parasua an1lise# Ocorre /ue muitas ve7es6 por e(eito da repressão inibitória do seusistema de de(esa psicológico6 em algumas pessoas podem ocorrer es/uecimentostotalmente involunt1rios6 por/ue a (orça da repressão age de um modoabsolutamente inconsciente# @esses casos6 não 0 raro /ue /uanto mais se /ueira

    lembrar5se de algo6 mais distante (i/ue essa lembrança#

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    Outro ponto de atuação da repressão 0 /ue as memórias podem surgir de(ormadas e misturadas com (alsas lembranças# uando seu processo de(ormação se d1 dessa (orma desestruturada elas recebem6 então6 o nome de“pseudomemórias”# uando o indiv%duo se d1 conta da pobre7a de suas lembrançastrata logo de complet15las6 utili7ando5se de associaç4es /ue em sua mente se dão

    de (orma “logicamente” relacionadas com elas# Ou seja6 ele começa a “inventar”partes da estória narrada para /ue ela (aça algum sentido e não seja apenas umanarrativa cheia de lacunas# 9esmo com absoluta boa5(06 o resultado dessaevocação “completada” pelo próprio sujeito 0 algo totalmente desvinculado não sóda realidade6 como algo totalmente diverso da/uilo /ue porventura possa ter sidopor ele apreendido ou percebido#

     Ainda /ue um indiv%duo seja capa7 de resistir de maneira pujante 8 in(lu=nciaperturbadora de todos os (atores mencionados at0 agora e possa reprodu7ir os(atos6 eventos e acontecimentos /ue presenciou com e3atidão6 atrav0s da suaevocação volunt1ria6 conscientemente dirigidaG um /uestionamento ainda perduraser1 /ue o ouvinte chegar1 a compreender essas situaç4es tais como o narrador as

    viuH@a seara da psicologia6 h1 uma /uestão (undamentalmente envolvida na

    e3pressão6 a /ual di7 respeito 8 aptidão do sujeito descrever bem os (atos por elepresenciadosG sem (alar6 e3empli(icativamente6 da possibilidade /ue um ouvinte temde poder dar outros sentidos ao /ue ouve do narrador e6 portanto6 podendo tamb0mdistorcer os (atos#

    9esmo assim6 0 importante a regra de dei3ar ao indiv%duo sua própriainiciativa de revelar os (atos e não de indu7i5lo sob o prete3to de ajud15lo# .ois6 seassim (or (eito6 não ser1 raro /ue o sujeito testemunhe6 cooperativamente6 de modoa se “encai3ar” ou se “en/uadrar” na/uilo /ue ele imagina ser o /ue o jui7 gostariade saber6 dei3ando de revelar os (atos e as situaç4es como ele realmente as viveu#

    @este ponto6 chega5se ao ponto mais interessante do problema do ato dee3pressão do testemunho: 0 poss%vel atingir um testemunho “puro” /ue não tenhasido in(luenciado pelo próprio /uestionadorH

    @ão se busca um rigor inalcanç1vel na e3pressão dos testemunhos6 /uandose (ala em testemunhos puros não se /uer di7er /ue eles possam repassar todo oconte3to real%stico tal como o indiv%duo o presenciou6 /uer5se apenas /ue o relatoseja (eito sem distorç4es do próprio agente encarregado de (a7er as perguntas#

    Embora seja e3ecr1vel /ue a testemunha de(orme seu relato por ela mesmaseja por /ual (inalidade /ue ela tenha;6 0 muito pior e mais grave /ue ela (aça issomotivada por perguntas sugestivas ou capciosas /ue lhe sejam dirigidas por um

    interrogador demasiadamente cioso de sua obrigação6 por0m pouco t0cnico#.artindo5se do pressuposto b1sico /ue o relato espontBneo seja algo (eito demodo “sincero” e “verdadeiro”6 0 evidente /ue ele se mostrar1 mais “vivo” e mais“puro” e6 portanto6 menos de(ormado do /ue a/uele obtido por meio deinterrogatório# O problema com essa (orma de testemunho seu maior de(eito; 0 ser dualmente incompleto e irregular# Ele 0 irregular por/ue sempre apresentain(ormaç4es desnecess1rias e não uni(ormes para /ue se elucide o caso ou evento/ue deva ser minimamente esclarecido# !amb0m 0 tido por incompleto por/uegeralmente apresenta uma mir%ade de in(ormaç4es /ue em nada se relacionam comos principais pontos do acontecimento a ser e3plorado6 apenas apresentandoelementos aleatórios e interpolados6 totalmente in>teis6 /ue não acrescentam

    nenhuma in(ormação pro(%cua ao desenrolar do processo#

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    1 o testemunho obtido por interrogatório representa o resultado do con(litoentre o indiv%duo /ue sabe6 por um lado6 e o /ue as perguntas dirigidas a eletendem a (a7=5lo saber# !oda resposta 06 com e(eito6 uma reação mista em /ueentram in(lu=ncias de ambas as partes6 tanto do interrogado /uanto do interrogador#2 bastante comum /ue essa mistura da viv=ncia do interrogado com o

    direcionamento in/uisitivo da/uele /ue pergunta pode gerar um /uadro detestemunho não totalmente condi7ente com a verdade dos (atos ocorridos# 9ase3istem tr=s motivos principais para /ue se origine uma resposta (alsa nesse tipo detestemunho#

    O primeiro desses motivos di7 respeito a uma ideia impl%cita na pergunta /ueevo/ue6 por associação6 outra ideia não vinculada 8 realidade a ser testemunhada#

    O segundo motivo /ue pode condu7ir a respostas (alsas se re(ere aosurgimento de uma lacuna na memória do in/uirido6 resultante da pergunta (eita6v1cuo esse /ue ele procura preencher de (orma aleatória ou ao acaso6 de modoe/uivocado e ine3ato# .ercebe5se a (orte in(lu=ncia do elemento emocional e a(etivona evocação de memórias# .ode ser /ue essa lacuna seja apenas o mecanismo de

    de(esa do indiv%duo tentando preveni5lo de uma lembrança dolorosa ou estressante#$este modo6 apenas para se ver livre da pergunta /ue lhe (oi (eita6 0 comum /ue elemesmo “invente” alguma situação /ue complemente o /uadro mais amplo do evento/ue ele conseguiu se lembrar#

    O >ltimo motivo 0 a(eito 8 relação social assim0trica e3istente entre jui7 etestemunha6 colocando5a em condição de in(erioridade ou temor6 algo /ue condu7 auma sugestão direta /ue a impeça de dar a resposta devida# Essa colocação dein(erioridade da testemunha em (ace do jui7 (a7 com /ue ela se acanhe e tenda aresponder do modo como seria “teoricamente mais ade/uado”6 ou seja6 o modocomo o magistrado gostaria de escutar a narração de um determinado (ato ouevento#

    4. & metodologia da busca da verdade judicial: os elementos $undamentaisinseridos no conte+to do procedimento dos Interrogatórios.

    &s "lasses de Perguntas )ais Importantes ,os Interrogatórios udiciais.

    $o ponto de vista psicológico e gramatical6 podem ser distintas setedi(erentes classes de perguntas# Essas perguntas (ormam a estrutura interrogativa/ue pode ser aplicada aos testemunhos judiciais# Ainda assim6 deve5se salientar /ue nem todas elas são recomendadas para tal uso6 haja vista /ue algumas delas

    apresentam um (orte componente de sugestão6 algo /ue pode indu7ir a emissão derespostas não verdadeiras por parte dos agentes interrogados# A primeira das classes a ser analisada 0 a das a(irmativas por presunção6

    tamb0m chamadas de perguntas comple3as6 (eita atrav0s de dois conjuntos dehipóteses# @o primeiro deles6 h1 a declaração %nsita ao /uestionamento# @o outroconjunto6 o interrogador se vale dos mecanismos /uestionadores para conjugar adeclaração contida no outro conjunto e assim con(igurar a sua indagação#Cme3emplo pr1tico dessa classe de /uestionamento consiste em perguntar de /ue cor era a gravata de um assassino6 sem antes mesmo de se saber se o in/uirido tinhaconhecimento de /ue o indiciado estava com gravata no momento do ocorrido#

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    erro6 tais perguntas não devem ser (eitas para /ue não se tenha apenas umtestemunho “viciado” 8s pressuposiç4es do in/uiridor6 algo /ue d1 total descr0dito aesse procedimento#

     A segunda classe de perguntas a ser analisada 0 a das perguntas disjuntivasparciais# Esse tipo de indagação se vale de uma dicotomi7ação das respostas

    poss%veis para e3cluir ou ao menos redu7ir; o universo lógico de possibilidades deresposta do interrogado# .artindo do mesmo e3emplo da gravata6 o in/uiridor pergunta6 por e3emplo6 se a gravata do acusado era amarela ou negra# Embora6 nalembrança do in/uirido ela se parecesse mais com a7ul6 ele responde6 por pro3imidade das cores6 /ue ela era negra# O problema 0 /ue essa classe deperguntas redu7 o universo de respostas e limita de sobremaneira a descrição(actual#

    E3iste mais uma classe de perguntas /ue se divide em dois tipos# !rata5se docondicionamento interrogativo6 e os seus dois tipos são as perguntas condicionaisnegativas e a(irmativas# Cm bom e3emplo das /uest4es negativas condicionais 0 aseguinte interrogação: “o acusado usou um pedaço de madeira para atingir a v%tima6

    nãoH”# As /uest4es a(irmativas condicionais operam de modo bastante semelhante 8

    classe de pergunta anteriormente analisada# $este modo6 um e3emplo desse tipode interrogação 0: “o acusado usou um pedaço de metal para atingir a v%tima6 simH”#

    Essas classes de perguntas devem ser proscritas em um interrogatórioimparcial6 pois obrigam o in/uirido a decidir5se entre um sim e um não6condicionando previamente sua resposta# 2 comum se observar /ue o interrogadomenos seguro de si e de suas a(irmaç4es sempre optar1 por responder de acordocom o /ue o interrogador o sugerir a partir das perguntas e(etuadas# Ou seja6 emambos os casos6 tanto nas condicionais negativas /uanto nas condicionaisa(irmativas6 o interrogado assentir1 com as assertivas (eitas por /uem o indagar6a(inal6 este ser1 o caminho mais simples para satis(a7=5lo#

     A /uinta classe de perguntas mais usuais em interrogatórios judiciais 0 a dasperguntas di(erenciais# Esse tipo de pergunta tamb0m 0 trivialmente conhecidocomo perguntas de sim ou não# Ainda /ue possua um car1ter menos parcial /ue asoutras classes abordadas at0 agora haja vista /ue a probabilidade de se obter umaresposta positiva ou negativa parece ser6 aparentemente6 e/uitativa;6 a resposta aesse tipo de pergunta tende a ser implicitamente ou a(irmativa ou negativa6pre(erindo o interrogado responder de acordo com a/uilo /ue o interrogador parecer esperar dele#

    Outra classe de perguntas a ser tra7ida a baila na presente an1lise (a7

    re(er=ncia 8s perguntas disjuntivas completas# Elas são6 na verdade6 ocomplemento evolutivo da classe anterior das perguntas disjuntivas parciais#$estarte6 o in/uiridor não restringe o universo amostral do /ue pode ser perguntadoa apenas duas hipóteses /ue ele acha /ue sejam convenientes para a elucidaçãodos acontecimentos# @o caso das perguntas disjuntivas completas ele deve partir dealgum (ato previamente a(irmado pelo interrogado6 ou ao menos entre um nãoesclarecimento ou não5congru=ncia; entre dois (atos distintos sempre tendo comopressuposto /ue o próprio interrogado os tenha a(irmado; para perguntar se “eraassim ou não era assimH”#

     A >ltima classe 0 a/uela /ue possui um maior car1ter de indicação objetivano discurso interrogativo# Ela 0 denominada de classe de perguntas determinantes#

     A sua caracter%stica mais marcante mant0m5se adstrita ao (ato de ela se valer6precipuamente6 de perguntas com pronomes interrogativos para promover a

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    interpelação dos sujeitos5alvo do procedimento em comento# As perguntasdeterminantes são a/uele tipo de pergunta /ue realmente podem ser tidas echamadas de imparciais pelos operadores jur%dicos6 ou seja6 são a/uelas /uerealmente atendem ao comando constitucional da imparcialidade estatu%do no“caput” do artigo IJ da blica de -K# Essas perguntas se

    valem6 basicamente6 dos pronomes “como”6 “/uando”6 “onde” e por /u=” parae(etuar a sua inserção interrogativa no universo de possibilidades de resposta dointerrogado#

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    identi(ica com o desejo ego%sta de não se comprometer com os (atos e permanecer deles a(astados#

    E3istem duas poss%veis sa%das para esse impasse6 uma eminentementeteórica e a outra com (undamentos mais pragm1ticos#

     A primeira se baseia em destituir de todo car1ter determinista a o(icialidade

    dos testemunhos obtidos pelos meios judiciais# Ou seja6 essa sa%da parte dopressuposto /ue todas as a(irmaç4es (eitas em ju%7o são6 em algum grau ou dealgum modo6 (adadas a serem sempre parciais#

     Assim sendo6 não h1 como tentar simplesmente con(erir uma maior credibilidade ou a(erir um maior grau de sinceridade 8s respostas dadas nosinterrogatórios judiciais# $eve5se6 apenas6 admitir /ue tais in/uiriç4es são in>teis econseguir outro meio de conseguir as in(ormaç4es sobre os (atos e osacontecimentos concernentes aos processos judiciais#

    Essa outra possibilidade de conseguir tais in(ormaç4es e3iste no modeloamericano6 o /ual criou a (igura dos “trabalhadores sociais” social workers;# Essestrabalhadores (a7em o serviço e3terno de coletar6 reunir e catalogar in(ormaç4es

    sobre eventos e acontecimentos /ue importam para os processos judiciais em cursoa aplicabilidade desse mecanismo no atual modelo judici1rio brasileiro 0 bastantediscut%vel# Cm dos grandes entraves para sua aplicação seria a necessidade decon(erir a esses trabalhadores a mesma (0 de o(%cio atualmente concedida para ostabeliães e os o(iciais de justiça# Outro grande problema /ue a adoção dessesistema poderia acarretar di7 respeito 8 possibilidade de se desprestigiar osprinc%pios da celeridade e da ra7o1vel duração do processo#

     A outra solução /ue se apresenta possui um vi0s pr1tico muito mais aguçado#Ela se baseia na aplicação de conceitos e conhecimentos da psicologia individual aoproblema particular de cada declarante# Assim6 sua reali7ação e3ige a aplicação deuma t0cnica especial criada para cada situação peculiar# @esse hori7onte6 nashipóteses em /ue se suspeita de parcialidade para (ins altru%stas6 conv0m (a7er chegar ao esp%rito da testemunha a convicção de /ue uma atuação parcial poder1ser des(avor1vel ao acusado# 2 (1cil (a7=5lo notar isso na medida em /ue duas oumais declaraç4es di(erentes possam (a7er o jui7 optar por não dar cr0dito anenhuma delas#

    "ausas )ais "omuns da Ine+atidão do #estemunho:

    Em primeiro lugar6 o hábito in(luencia diretamente na percepção do indiv%duoacerca da sua realidade#

    Em segundo lugar6 a sugestão inserida nos /uestionamentos dosinterrogatórios judiciais# Esse automatismo de vi0s determinista gerado pelapresença de indicaç4es diretivas de resposta (inda por condicionar as respostas dosin/uiridos para algum conte3to almejado pelo próprio magistrado in/uiridor#

     A terceira causa a ser apontada como respons1vel pela ine3atidão dostestemunhos obtidos em ju%7o di7 respeito 8 confusão no tempo6 instituto tamb0musualmente denominado de transposição cronológica# Essa causa est1 associada 8crença /ue o indiv%duo possui /ue se sucederam (atos /ue6 na verdade6 ocorreramem momento temporal pret0rito ao por ele imaginado e vice5versa; da situação aser por ele testemunhada#

    O /uarto motivo ou causa; de ine3atidão de depoimentos e de testemunhas

    (ornecidos em interrogatórios judiciais 0 a tendência afetiva /ue6 (atalmente6engendra5se no indiv%duo diante de /ual/uer situação (1tica /ue o (aça sentir 

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    simpatia ou antipatia6 não apenas com relação 8s pessoas envolvidas no caso6 maspara tudo /ue e3iste6 como6 por e3emplo6 outras situaç4es ou6 at0 mesmo6 locaisem /ue os acontecimentos ocorrem# Apenas teoricamente6 se pode (alar emvivências neutras#

    In$lu%ncia do #ipo de Personalidade na "lasse do #estemunho:

    .ode5se perceber a enorme in(lu=ncia /ue o tipo de personalidade e3ercer1na moralidade e na lisura de um testemunho /ual/uer#

    2 correto a(irmar /ue o grau de e3troversão da personalidade do indiv%duo 0algo /ue contribui de maneira signi(icativa para a (acilidade de obtenção dotestemunho#

    $e outra banda6 os indiv%duos com caracter%sticas de personalidade maisintrovertida costumam (alar pouco6 algo /ue condu7 8 emissão de respostas maisescassas em termos de conte>do; e at0 mesmo mais subjetivas#