Psicologia Sociocultural - A Disciplina e Sua História Completo

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A história da psicologia cultural conforme a perspectiva de Markus e Kitayama. Capítulo I do Handbook of Cultural Psychology traduzido para o português

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Captulo 1

PSICOLOGIA SOCIOCULTURAL: A DISCIPLINA E SUA HISTRIAA dinmica da interdependncia entre sistemas do self [de ipseidade] e os sistemas sociais.

HAZEL ROSE MARKUSMARYAM G. HAMEDANI

Traduo: Cristopher Feliphe Ramos

A palavra cultural tem modificado a psicologia atravs de sua histria. Cole (1990) denomina de psicologia cultural uma disciplina "que j foi e ser uma futura disciplina", Shweder (1990, 2003) nota que o tempo da psicologia cultural chegou "novamente" e J. G. Miller (1999) argumenta que a psicologia " e sempre foi cultural". A despeito da importncia e dos debates acalorados sobre as diferenas entre as reas designadas pelos termos "psicologia cultural", "psicologia transcultural", "psicologia sociocultural", "antropologia psicolgica" e "cognio situada" (Atran, Medin & Ross, 2005; Berry, 2000; Keller et al., 2006; Keller & Greenfield, 2000; Kim & Berry, 1993; Markus & Kitayama, 1991; Matsumoto, 2001; Nisbett, 2003; Norenzayan & Heine, 2005; Shweder & Sullivan, 1990, 1993; Triandis, 1989; Veroff & Goldberger, 1995; Vygostky, 1978; Wertsch, 1991) a reemergncia conjunta destes termos e o interesse robusto que eles tm gerado so um marco significativo para o desenvolvimento do campo da psicologia. A teoria e a pesquisa produzida sob estas bandeiras revelam uma apreciao nova e madura para ideias antigas e poderosas. Expressas em uma ampla variedade de formas, o ncleo desta noo historicamente esquiva e empiricamente desafiadora que as pessoas e seus mundos sociais so inseparveis: eles requerem um ao outro.O psicolgico - tipicamente definido como padres de pensamento, sentimento e ao, s vezes tambm chamado de mente, psique, self [a ipseidade], agncia, mentalidades, jeitos de ser, ou modos de operao - esto ancorados no e tambm promovem o sociocultural. O sociocultural - ou padres no mundo social, por vezes tambm denominados de socialidade(s), contextos socioculturais, sistemas sociais, o meio-ambiente, a estrutura social, ou cultura - est fundamentado no e promovem o psicolgico. Por conseguinte, em um processo contnuo de mtua constituio, o psicolgico e o cultural "constituem-se um ao outro" (Shweder, 1990, p. 24), e so melhor produtivamente analisados e compreendidos em conjunto (Adams & Marcus, 2001; Kashima, 2000; Wertsch & Sammarco, 1985).A histria do que ns categorizamos aqui como "psicologia sociocultural" caracterizada tanto por uma persistente atrao ideia de que cultura e psique compem uma outra, quanto por uma igualmente forte resistncia ideia, estabelecida por meio da disseminao de representaes individualistas - particular e densamente distribudas nos contextos [socioculturais] Norte Americanos -, de que "o que est dentro" da pessoa e no o seu contexto, que realmente importa. A atual onda de interesse que rapidamente se expande entre os cientistas sociais sobre como o comportamento socialmente e culturalmente constitudo sugere [ns sugerimos] a confluncia de inmeros fatores: 1) Um conjunto robusto de descobertas empricas que desafiam muitas das teorias sob a rubrica da psicologia, e que no so, consequentemente, facilmente interpretadas pelos sistemas convencionais, ou dominantes; 2) a crescente percepo entre os psiclogos de que a capacidade para produzir cultura e partilhar cultura est no ncleo do que significa ser humano, e que esta capacidade uma clara vantagem evolucionria [evolutiva] da espcie humana (Bruner, 1990; Carrithers, 1992; Kashima, 2000; Mesquita, 2003; Schaller & Crandall, 2004; Tomascello, 1999); e 3) uma crescente sofisticao sobre como conceitualizar tanto o cultural quanto o psicolgico, tal que a natureza de sua influncia mtua e recproca possa ser examinada.Ns organizamos nossa reviso e integrao da perspectiva sociocultural na psicologia em torno de um conjunto de questes:

1. Constituio mtua - o que significa?2. Uma abordagem sociocultural - o que ?3. Uma abordagem sociocultural - de onde ela vem?4. O que uma abordagem sociocultural pode acrescentar psicologia?5. Qual definio de cultura adequada para a psicologia?6. Acessando a constituio mtua - quais so as abordagens contemporneas?7. Psicologia sociocultural - e o que vem depois?

CONSTITUIO MTUA - O QUE SIGNIFICA?

Psiclogos socioculturais iniciam sua teorizao com a pessoa e diversas observaes-chave. Pessoas existem [esto] em todos os lugares das redes sociais, em grupos, comunidades, e em relacionamentos. Elas so cronicamente sensveis e afinadas aos pensamentos, sentimentos, e aes dos outros. Suas aes [i.e., seu jeito de ser um agente no mundo, suas identidades, seus selves] requerem, refletem, promovem, e institucionalizam estas influncias e permissividades socioculturais. Deste modo, conforme as pessoas constroem ativamente seu mundo, elas so feitas de, ou "constitudas por", relaes com outras pessoas e pelas ideias, prticas, produtos e instituies que so prevalentes naqueles contextos sociais (i.e. meio-ambientes, campos, situaes, cenrios, mundos). As pessoas cujos pensamentos, sentimentos e aes esto inclusas neste circuito de constituio mtua incluem os contemporneos dos indivduos, o indivduo por ele/ela mesma [em si mesmo?!], e muitos outros que j partiram anteriormente e deixaram seus respectivos mundos repletos de representaes, produtos, e sistemas que refletem pensamentos, sentimentos e aes precedentes.O maior foco de pesquisa em psicologia sociocultural nas duas ltimas dcadas tem sido a descoberta de como a constituio mtua procede. O que significa para o crebro, a mente, e o comportamento dizer que eles so culturalmente, ou socioculturalmente constitudos? Para alguns pesquisadores tem sido objetivo demonstrar que as ideias, prticas e produtos no so separados [separveis] da "experincia", ou aplicados em seguida - aps o [after nature] do comportamento. O sociocultural no enfronhado [entranhado] em um conjunto de processos psicolgicos bsicos, ou fixos. Ao invs disso, as ideias, prticas e produtos so ativos e incorporados na prpria formao dos processos psicolgicos (e.g., Cole, 1996; Markus, Mullally, & Kitayama, 1997; J. G. Miller, 1994; Nisbett, 2003; Wertsch, 1991). O objetivo de outros pesquisadores tm sido demonstrar que o contexto no [est] separado [separvel] ou externo pessoa, mas , de fato, o psicolgico externalizado ou materializado (D'Andrade & Strauss, 1992; Kitayama, Markus, Matsumoto, & Norasakkunkit, 1997; Marcus, Uchida, Omoregie, Townsend & Kitayama, 2005; Shore, 1996). Nos termos de Shweder (1995), que desbravou o desenvolvimento terico da moderna psicologia cultural, o objetivo que se encontrem meios para falar sobre o psicolgico e o cultural de tal forma que nenhum " por natureza intrnseco, ou extrnseco ao outro" (p. 69).Ao propor o subttulo deste captulo nossa inteno foi sinalizar nosso foco em teorias e pesquisas concernentes a estrutura e a padronizao inerentes vrios mundos sociais, como esta padronizao continuamente molda o funcionamento psicolgico, e como as pessoas (selves e agentes) requerem e dependem desses padres conforme eles se tornam participantes significativos em seus respectivos mundos sociais. A padronizao dos mundos sociais inclui ideias e imagens, bem como o embodiment [a corporificao], animao, e realizao destas ideias e imagens nas prticas sociais, produtos materiais e instituies (aqui denominadas de "sistemas sociais").Ns empregamos a palavra sociocultural ao invs do termo cultural para enfatizar que uma anlise sociocultural inclui em seu escopo tanto o conceitual quanto o material. Assim, ela inclui tanto significados - ideias, imagens, representaes, atitudes, valores, prottipos e esteretipos - e o que frequentemente chamado de sociocultural - produtos culturais, interaes interpessoais, prticas institucionais e sistemas - e contingncias pessoa-situao, todas as quais corporificam, bem como tornam materiais e operveis, os padres normativos prevalentes em um dado contexto. Ns invocamos o termo interdependncia para exprimir o sentido de que as pessoas esto envolvidas nos processos de constituio mtua, no sendo apenas recipientes passivos da cultura. Ao invs disso, elas so agentes ativos, os quais so modeladores socioculturalmente moldados de si mesmos e de seus mundos. As setas causais entre a formao social e psicolgica so bidirecionais; a constituio mtua.Finalmente, ns empregamos o termo dinmico para sinalizar que os padres socioculturais de ideias, prticas e produtos no so fixos, mas so malhas abertas e complexas, ou distribuies de recursos mentais e materiais que so frequentemente, embora nem sempre, concatenados com categorias significativamente construdas, no sentido de serem psicologicamente significativos (socialmente, politicamente, historicamente), tais como etnicidade, raa, religio, gnero, ocupao, partido poltico, classe social, casta, seita, tribo, ou regio do pas, ou do mundo. Estas categorias so elementos do repertrio de recursos simblicos que as pessoas evocam, ou que so evocadas pelos outros, a fim de tornar o mundo social significativo. Tais conjuntos de ideias, prticas, produtos, e instituies esto constantemente em fluxo e submetidos transformaes conforme so empregados - apropriados, incorporados, contestados - por selves sendo e agindo no mundo. Outras formas de categorizao do contexto sociocultural que so menos bem-institudas em contextos existentes e que no mapeiam muito bem as categorias sociais existentes (e.g., naes com alto, ou baixo Produto Interno Bruto [PIB], America Republicana ou Democrtica [red, or blue America], habitats montanhosos, ou planos) tambm so importantes para a investigao.

UMA ABORDAGEM SOCIOCULTRAL - O QUE ?

A emergente psicologia sociocultural reflete uma percepo mais recente e especfica dentro do campo da psicologia da teoria de que ser uma pessoa fundamentalmente uma transao social (Asch, 1952; Baldwin, 1911; Lewin, 1948; Mead, 1934; para uma reviso, ver Cross & Markus, 1999). Outrossim, um esforo para estender e elaborar empiricamente a perspectiva de que as formaes sociais e formaes psicolgicas so completamente interdependentes, tanto contemporaneamente e historicamente (Berger & Luckmann, 1966; Bourdieu, 1990; Moscovici, 1988; Shweder, 1990; Wundt, 1916).De uma perspectiva sociocultural, os indivduos so entidades biolgicas (bem como entidades genticas, neuronais, qumicas e hormonais), e todo comportamento tem uma fundao biolgica, bem como evolutiva [evolucionria]. Ainda assim, os indivduos so ininterruptamente um fenmeno social e cultural. A opo de ser asocial, ou acultural isto , de viver como um ser neutro que no est vinculado a prticas particulares e modos de comportamento socioculturalmente estruturados, no possvel. As pessoas comem, dormem, trabalham e se relacionam umas com as outras em formas culturalmente especficas - modos que so moldados por significados particulares e prticas de suas experincias vividas (para revises ver Cole, 1996; Fiske, Kitayama, Markus & Nisbett, 1998; Greenfield and Cocking, 1994; Heine, Lehman, Markus & Kitayama, 1999; J. G. Miller, 1997; Nisbett & Cohen, 1996; Shweder, 1990, 2003; Shweder & LeVine, 1984; Smith & Bond, 1993). Para que um adulto se torne maduro e competente necessrio que um indivduo se engaje sucedidamente nos sistemas de significados, praticas, e instituies que configuram os contextos de sua vida cotidiana particular (Bruner, 1990; Geertz, 1975; Markus et al., 1997; Shweder, 1982, 1990).O engajamento sociocultural, um processo essencial e constante da vida humana, um processo ativo que transforma o ser biolgico em um indivduo social - uma pessoa com self e um conjunto de identidades contextuais e contingenciais. No processo deste engajamento cultural, "outros" - sua linguagem, suas ideias do que bom, verdadeiro, e real; suas compreenses do por qu e como frequentar [participar], se engajar e operar dentro de vrios mundos - se tornam parte de um self dinmico que media e regula o comportamento. Os padres e processos dos contextos sociais individuais condicionam seu comportamento e do forma a sistemas interpretativos que organizam o sistema comportamental. Conforme as pessoas participam de seus respectivos contextos, cenrios e meio-ambientes, elas esto constantemente em processo de fabricao de sentido, refletindo estes significados em suas aes, consolidando produtos e prticas em seus mundos (Bruner, 1990; Hallowell, 1955; Makus & Kitayama, 1994; Shweder, 1990).Conforme postula Shweder (1990), a pessoa intencional, ou psique, interdependente com o mundo intencional, ou cultura. Mundos intencionais so mundos de significados artefatuais, povoados com produtos de nossa prpria criao [design, planejamento]. Um mundo intencional, conforme afirma Shweder, repleto com eventos, tais como "roubar" ou "tomar a primeira comunho"; processos tais como o "dano" ou o "pecado"; estaes [posies, etc.] tais como "afins", ou "exorcista"; prticas tais como o "noivado", ou o "divrcio"; entidades visveis tais como "ervas daninhas" ou entidades invisveis tais como os "direitos naturais" (p. 42). Estes produtos culturais no so apenas expresses, correlatos, ou resduo do comportamento. O comportamento humano pressuposto [i.e. tm como premissa] e organizado por estes significados e categorizaes presumidos na [pela, da] realidade social que so objetificados em objetos materiais e institucionalizados nas relaes sociais e sistemas sociais.Por exemplo, em contextos Norte Americanos, muitos adultos urbanizados [ou urbanos] e de classe-mdia revelam altos nveis de autoestima, autoeficcia, otimismo e motivao intrnseca; expressam um desejo pelo domnio, controle, e auto-expresso; e demonstram preferncias pela singularidade (Kim & Markus, 1999; Snibbe & Markus, 2005). Este robusto conjunto de tendncias psicolgicas no , entretanto, uma expresso da natureza humana universal. Os contextos de classe mdia na America do Norte esto repletos de escolhas; contendo requerimentos para a autoexpresso e bem estar sobre o self; e oportunidades para se focar no self , dominando, e controlando o seu meio-ambiente, e construindo o self como a fonte primria de ao.O que prontamente aparente a partir de uma abordagem comparativa que as tendncias psicolgicas Norte Americanas tm sido criadas de diversas maneiras significativas, sendo promovidas e mantidas por ideias amplamente distribudas - tais como a importncia da realizao individual - as quais tm sido reforadas e institudas por densas redes [malhas] de prticas cotidianas - tais como o elogio e o enaltecimento de uns aos outros pela performance individual por meio de uma frequente distribuio de recompensas e honras em salas de aula e locais de trabalho, e por meio de situaes tais como inscries/candidaturas a vagas de trabalho e entrevistas que requerem s pessoas que foquem em suas boas caractersticas e expliquem seus feitos [e resultados] nos termos de suas prprias aes e decises. Estas tendncias psicolgicas e as prticas cotidianas [a elas relacionadas] posteriormente estruturam mundos atravs de produtos intencionais tais como o caf, xcaras, adesivos de para-choques, carros, medicamentos, e comerciais de cigarro que declaram: "Voc o melhor", ou exortam as pessoas : "Serem uma estrela", "Estar no controle", "Nunca seguir", e "Resistir homogeneizao". Tais prticas e produtos promovem ambientes materiais e comportamentais nas quais as aes interesseiras [self serving, ou seja, que servem a si mesmo] so valorizadas e normativas. Desta maneira, estes recursos culturais condicionam modos caractersticos de ser e so eles prprios o resultado de respostas previamente condicionadas.Conforme ns analisamos os processos de transformao sociocultural, dois fatores se tornam aparentes: (1) Os indivduos no so destacveis [separveis] dos contextos sociais, e (2) os contextos sociais no existem independentemente das, ou fora das, pessoas. Ao invs disso, os contextos so produtos da atividade humana: Eles so repositrios de atividades psicolgicas prvias e eles permitem a atividade psicolgica. Como consequncia, os contextos sociais fazem mais do que a psicologia tipicamente rotulou como "influncia". Ao invs disso, eles "constituem", como em criar, fabricar, ou estabelecer, estas tendncias psicolgicas. Os processos mentais e as tendncias comportamentais que esto sujeitas ao estudo da psicologia, pois, no so separveis das ideias culturais e suas prticas, sendo fundamentalmente realizados atravs delas.Conforme pesquisadores e tericos se direcionam para uma abordagem sociocultural, eles tomam seriamente a alegao de Bruner (1990) de que "impossvel construir uma psicologia humana com base no indivduo tomado em si mesmo" (p. 12). O desenvolvimento de uma psicologia sociocultural requere que atravessemos as divises criadas pelos muitos binarismos fundacionais e familiares psicologia, isto , pessoa-situao, indivduo-ambiente, cultura e estrutura social, self e sociedade, que conceitualizam as pessoas como separadas [i.e. distintas, separveis] dos contextos "circundantes". Ademais, h a necessidade de se construir uma ponta entre barreiras disciplinares que separam a sociologia, a antropologia e a histria, da psicologia.Dada a interdependncia entre a mente e o contexto sociocultural, o pressuposto de uma psicologia sociocultural tal que a natureza dos seres humanos pode variar no tempo e no espao (Shweder, 2003). Deste modo, dois objetivos centrais da psicologia sociocultural consistem no exame da variao entre os modos de funcionamento psicolgico atravs de diferentes contextos socioculturais, e a especificao dos variados significados socioculturais e as prticas a estes vinculadas (Fiske et al., 1998; Graumann, 1986; Markus, Kitayama & Heiman, 1996; Moscovici, 1981; Shweder, 1990, 2003; Wundt, 1916). O campo, entretanto, geralmente identificado (e criticado por) a busca por diferenas em subjetividades, bem como com o que Shweder (1990) denomina de "rejeio da unidade psquica da humanidade". Em conjuno com este objetivo, entretanto, a psicologia sociocultural procura (1) descobrir princpios sistemticos subjacentes diversidade de socialidades e psiques culturalmente padronizadas, e (2) descrever os processos pelos quais os seres humanos so constitudos como fundamentalmente seres sociais.Notavelmente, o comportamento de todos os indivduos comprometidos em um contexto particular (e.g. classe mdia, Europeu-Americano/Americano-Europeu) no , de forma alguma, uniforme, ou idntico, revelando que os contextos socioculturais podem constituir, no sentido de dar forma, ou condicionar, as pessoas em uma variedade de formas conforme estas se ocupam diferentemente nos seus contextos. Os contextos no "determinam", no mesmo sentido de definitivamente estabelecer, ou fixar, os limites, ou formas do comportamento humano. As pessoas se comprometem com e respondem ideias e prticas de um dado contexto de formas razoavelmente variveis, apresentando intenes variadas e propsitos. Estas variedades de engajamento [comprometimento] dependem do conjunto de estruturas interpretativas orientadoras e mediadoras particulares s pessoas, as quais, elas prprias, so o resultado de outras diferenas individuais e situacionais, formatando tambm o modo de uma pessoa ser no mundo. Por sua vez, as pessoas nunca so monoculturais, por que elas esto sempre interagindo com [em] mltiplos contextos (e.g. queles delineados por gnero, etnicidade, status socioeconmico, regio, orientao sexual, ocupao). Os contextos culturais no so, desta maneira, monolticos: varias combinaes de ideias culturais e prticas interseccionam-se nos [dentro dos - withing] indivduos, de tal forma que os indivduos podem ter diferentes reaes ao mesmo contexto. Igualmente, conforme as tendncias psicolgicas so realizadas e expressas, elas no apenas promovem e reforam, mas tambm modificam, s vezes, os contextos nos quais esto fundamentados. As consequncias do engajamento [comprometimento] cultural no comportamento, embora sistemtica e previsvel em muitos aspectos, nunca so monolticas e invariveis.UMA ABORDAGEM SOCIOCULTURAL - DE ONDE ELA VEM?As principais ideias de uma perspectiva sociocultural, conforme delineamos aqui, tem muitas fontes sobrepostas atravs das cincias sociais e da filosofia. Elas podem ser traadas de Herder e Vico na filosofia (Shweder, 2003; Taylor, 1997; ver tambm Triandis, captulo 3, neste volume; Boas, Hallowell, Kroeber e Kluckhohn na antropologia (Ver LeVine, captulo 2, neste volume); sociologia (Berger & Luckmann, 1966; Bourdieu, 1991; Moscovici, 1991, 1998); e a uma variedade de tericos no campo da psicologia, tais como Wundt, Mead, Baldwin, Sullivan, G. Kelly, Asch, Lewin, and Bruner, todos os quais enfatizaram o significado e o papel das compreenses partilhadas intersubjetivamente na criao e manuteno da realidade. Em geral, psiclogos socioculturais podem ser identificados por sua apreciao pela interdependncia do indivduo com o social, o material, [mas o material no social? dvida do tradutor.] e o histrico, e de sua viso das pessoas como fabricantes ativos de significados e mundos.

PENSANDO PARA ALM DA PESSOA

Comum muitas abordagens classificadas como psicologia sociocultural est a crena de que as fontes da mente e do comportamento no podem todas estarem localizadas dentro do crebro, da cabea, ou do corpo. As origens da mente e do comportamento so distribudas, existindo tanto internamente na mente, como externamente no mundo. Este compromisso com as formas pelas quais os processos psicolgicos so compostos, ou fabricados pelos elementos sociais do contexto de algum revelada em algumas das primeiras teorizaes psicolgicas, embora o termo cultural no fosse explicitamente evocado. Wundt acreditava que nenhum pensamento, julgamento, ou avaliao poderia ser metodologicamente isolado de sua base sociocultural (Graumann, 1986). Mais explicitamente, Lewin (1948) escreveu:

A percepo do espao social e a investigao experimental e conceitual da dinmica e das leis que regem os processos no espao social so de fundamental importncia terico e prtica...O clima social no qual uma criana vive para a criana to importante quanto o ar que ela respira. O grupo ao qual a criana pertence o fundamento [o cho] sob o qual ela se sustenta [que a suporta]. (p. 82).

Similarmente, Allport (1948) notou que:

O grupo ao qual o indivduo pertence o fundamento [a base] para suas percepes, seus sentimentos, e suas aes. A maior parte dos psiclogos est to preocupada com os aspectos salientes da vida mental individual que eles esto inclinados a esquecer que o fundamento [terreno, etc. - ground] do grupo social que fornece ao indivduo seu carter perceptvel [figured - apercebido, ou figurado]. Assim como a cabeceira de um rio formata a direo e o curso da gua, tambm o grupo determina a vida atual de um indivduo. A interdependncia do solo e seu fluxo perceptvel inescapvel, ntima, dinmica, mas tambm esquiva. (p. vii).

Ampliando estas ideias, Wertsch e Sammarco (1985) argumentam forosamente, tal como Bruner, que para explicar o indivduo necessrio que se v alm do indivduo, eles invocam as palavras de Luria (1981):

Como forma de explicar as formas altamente complexas da conscincia humana, devemos ir alm do organismo humano. Deve-se buscar as origens da atividade consciente e dos comportamentos "categricos" no nos recessos de um crebro humano, ou nas profundidades do esprito, mas nas condies externas da vida. Sobretudo, isto significa que deve-se procurar estas origens nos processos externos da vida social, nas formas sociais e transhistricas da existncia humana (p. 25).

A FABRICAO DE SENTIDO COMO PROCESSO BSICO

Outro elemento definidor da abordagem sociocultural a ideia de que ao passo que o mundo sugere a si mesmo, podendo atrair e aglutinar ateno, a pessoa no simplesmente um recipiente passivo do que o mundo social tem a oferecer, mas ao invs disso, um agente ativo e intencional. De uma perspectiva sociocultural e psicolgica, um elemento essencial do comportamento um engajamento, ou uma unio, um encontro, de uma pessoa produzindo sentido em um mundo repleto de significados, objetos e prticas (Asch, 1952; Bruner, 1990; Geertz, 1973).Mais recentemente, ao sumarizar muitas dcadas de pesquisa, Bruner (1990; ver tambm Markus, Kitayama & Heiman, 1996), invocou as alegaes, agora centenariamente antigas, sobre a natureza social e cultural da mente, e ento as ampliou. Ele especificou como os sistemas culturais do forma e direo s nossas vidas. a cultura, ele aponta, que:

molda a vida humana e sua mente, que d sentido ao situando seus estados intencionais subjacentes em um sistema interpretativo. Ela faz isso por meio da imposio de padres inerentes aos sistemas simblico-culturais - seus modos de linguagem e discurso, as formas de explicao lgica e narrativa, e os padres de uma vida comunal mutuamente dependente (p. 34).

O QUE A ABORDAGEM SOCIOCULTURAL PODE ACRESCENTAR PSICOLOGIA?

Em suma, os sistemas sociais aos quais os sistemas do self esto entrelaados derivam de atividades psicolgicas anteriores, e proveem os recursos os esquemas para a construo de sentido e a ao. O tema organizador de uma abordagem sociocultural, e deste captulo que as pessoas e seus mundos sociais so inseparveis: Eles fundamentalmente requerem um ao outro. Uma cincia sociopsicolgica compreensiva requere o mapeamento da extenso das formas pelas quais o mundo social pode ser tornado significativo, e a anlise dos processos pelos quais esta fabricao de sentidos e mundos ocorre (Bruner, 1990; Shweder, 1990, 2003). tal como os neurocientistas examinam [exploram e medem] o crebro, procurando produzir um mapeamento neural da mente, assim devem os psiclogos mapear o ambiente sociocultural a fim de gerar um mapeamento sociocultural da mente. Ao anexar uma lente de maior ngulo a atual cmera psicolgica de forma a abranger mais completamente o sociocultural (bem como o histrico) permitir pesquisadores identificar os contextos significativos que fundamentam e organizam as tendncias cognitivas, emocionais e comportamentais observadas nos estudos psicolgicos.A anlise de mundos intencionais simultaneamente tanto como produtos e moduladores da atividade psicolgica desafiador. Muitos aspectos do ambiente social - escolas, igrejas, teatros, casamento, bem como muitos outros objetos sociais, papis, praticas, e relaes geradas no processo de mtua constituio - so compreensveis apenas nos termos dos seus cenrios culturais e funes. Como Asch (1952) notou, "uma cadeira, uma nota de um dlar, um parente gracejante so coisas sociais; a anlise fsica, qumica e biolgica mais exaustiva falhar em revelar essa propriedade mais essencial (p. 178).SIGNIFICADOS

Uma categoria contextual que central a compreenso de como os aspectos socioculturais e psicolgicos compem um ao outro [fabricam-se mutuamente] o que Bruner (1990) e Shweder (1990) denominam "significados" [sentidos - meanings], ou o que Sperber (1985) e Moscovici (1981) chamam de "representaes". Significados, ou representaes, so unidades teis de constituio mtua, pois elas se referem a entidades construdas que no podem ser localizadas exclusivamente na cabea daquele que fabricou o sentido, ou unicamente nas prticas e produtos do mundo; eles esto sempre distribudos entre ambos. Uma vez que ideias e imagens, ou outros recursos simblicos so institudos nas aes e no mundo, eles se tornam simultaneamente formas de conhecimento social e prticas sociais (Moscovici, 1981). Por exemplo, os sentidos [significados] associados com fenmenos como a Pessoa, Self, grupo, famlia, sexo, casamento, amizade, inimizade, sociedade, mente, emoo, conscincia, tempo, o futuro, o passado, vida, sorte, morte, bem, mal e natureza humana proveem o substrato de imagens e pressupostos que so essenciais para compreender os contextos socioculturais. Alguns desses significados so criados [inventados], distribudos e institudos em resposta problemas crticos - talvez, universais - de etnicidade, maturidade, hierarquia, autonomia e moralidade. Outros se referem [falam sobre] a preocupaes particulares e so mais historicamente contingentes ou localmente selecionados e derivados.Um importante objetivo da psicologia sociocultural analisar o complexo de significaes que tm sido naturalizadas e assumidas e presumidas como impulsos [instintos, pulses], necessidades, ou processos psicolgicos, mas que podem ser absolutamente especficas ao contexto. At recentemente, a maioria dos psiclogos composta de Europeus e Norte-Americanos que tm analisado estudantes universitrios Europeus e Norte-Americanos de classe mdia. O conjunto denso e expressivo de representaes que so fundamentais[fundantes] para, e especficas este contexto (incluindo representaes de independncia, responsabilidade individual, autodeterminao, autoestima, controle, liberdade, igualdade, escolha, trabalho, habilidade, inteligncia, conquistas, poder e felicidade) as quais fornecem estrutura e coerncia ao comportamento, tm sido amplamente invisveis e tem passado desapercebidas (Jost & Major, 2001; Markus & Kitayama, 1994; Quinn & Crocker, 1999). Ao investigar o vasto sistema de significados que permite a agncia nos contextos Europeus e Norte-Americanos sublinham a possibilidade de diferenas marcantes na agncia em outros contextos.Diferenas substanciais nestes significados [sentidos] em termos de como eles so convencionalizados e publicamente expressos no ambiente (e.g. o que self, o que o grupo, o que emoo, o que so vida e morte), e como eles esto distribudos, prov maneiras teis para distino entre contextos culturais. Frequentemente estes significados [sentidos] esto vinculados a significaes de categorias socialmente relevantes [significativas], tais como etnicidade, regio do mundo, ou religio. Os psiclogos socioculturais tm comeado a extrair sistematicamente significados [sentidos] divergentes de vrios contextos (queles associados com a regio do pas, ou do mundo, religio, etnicidade, raa, gnero, categorias etrias, preferncia sexual, classe social, e ocupao). Eles identificaram mltiplos significados [sentidos] para conceitos que so matria-prima psicolgica - conceitos de self e identidade, cognio, emoo, motivao, moralidade, bem-estar, amizade, famlia e grupo. Eles identificaram que conceitos amplos, tais como independncia e interdependncia, evidentes de alguma forma em quase todo contexto, diferem na sua prevalncia, dominncia, ou em quo densamente eles so elaborados e distribudos em um determinado contexto. Eles tm identificado conceitos tais como felicidade, controle e escolha, os quais aparentam organizar as psiques e contextos da classe mdia Americana, mas que no so particularmente prevalentes ou salientes em outros contextos. Eles tambm tm distinguido muitos outros conceitos especficos, que podem ser compreendidos e identificados, mas no so enfatizados, ou colocados em primeiro plano na perspectiva da classe mdia Americana, a qual ainda prov aperceptivamente o sistema comum de referncia para a maior parte dos trabalhos em psicologia. Estes incluem conceitos tais como honra, vergonha, ajustamento, capacidade de enfrentamento, compaixo, serenidade, inimizade, hierarquia, respeito, deferncia, propriedade, modernizao, equilbrio, silncio, divindade, reteno, e relativismo, bem como um crescente conjunto de conceitos tais como amae, simpatia, que podem ser traduzidos, mas no possuem [simples] contrapartidas em Ingls. Muitos estudos socioculturais produzem descobertas que so surpreendentes e que apresentam questes para as compreenses comuns da classe mdia Norte Americana. Por exemplo, nos contextos japoneses, a felicidade inclui tristeza (Uchida, Norasakkunkit, & Kitayama, 2004); Nos contextos africanos ocidentais, inimigos so parte da vida cotidiana (Adams, 2005); Nos contextos da America Latina, o trabalho requere socializao (Sanches-Burks & Mor Barak, 2004), e nos contextos Taiwaneses, sentir-se bem est mais provavelmente identificado com o sentimento de calma e tranquilidade do que com o sensao de estar energizado, ou excitado (Tsai, Knutson & Fung, 2006). Estas ideias diferentes sobre o que normativo, ou de valor, implicam mundos e psiques organizadas de formas diferenciadas das Norte-Americanas.

PRTICAS

Os contextos culturais so identificados e mantidos no apenas por elementos subjetivos partilhados, mas tambm por modos particulares de ao e interao nos recorrentes episdios da vida cotidiana. No obstante, outra categoria do contexto sociocultural sujeita anlise a prtica e seu conjunto. Assim como com os significados [sentidos] o foco nas prticas um esforo para que possamos nos mover alm do indivduo considerado isoladamente (Cole, 1995; Kitayama et al. , 1997; P. J. Miller & Goodnow, 1995; Rogoff, 1991). A nfase nas prticas conecta o divisor de guas entre o pensamento e outras partes da atividade psicolgica tipicamente denominadas "fazer" e "ser/estar". A participao em atividades rotineiras, tais como conversar com um amigo, ir s compras, ir ao banco, frequentar uma reunio, cuidar das crianas, ou ensinar, expressam de uma forma concreta o que um dado contexto comunica sobre como ser uma pessoa normativamente apropriada, bem como quilo que considerado como "bom", "certo", ou "real". Portanto, as prticas no se constituem enquanto comportamento neutro, ao invs disso, so elas que refletem uma "ordem moral e social" (Miller & Goodnow, 1995, p.10). As prticas, ou o que Bruner (1990) denominou "atos", so comportamentos que refletem inteno, ou sentido [significado]. As prticas, desta forma, no so apenas comportamentos; Elas so atos significativos que coordenam as aes dos indivduos com quelas de outros, mantendo, por sua vez, o contexto social. Uma perspectiva sobre [da(s)] prticas(s) tem sido empregada para analisar, por exemplo, processos de manuteno da autoestima (Heine et al., 1999; Kitayama et al., 1997; P. J. Miller& Goodnow; 1995), as preparaes para o sono e comportamentos sonurnos (Shweder, Balle-Jensen & Goldstein, 1995), decises para contratao em situaes de trabalho (D. Cohen & Nisbett, 1997), a orao e a atividade religiosa (A. B. Cohen, Malka, Rozin & Cherfas, 2006; J. L. Tsai, Miao e Seppala, in press), a conversao (H. S. Kim, 2002) e a promoo da sade (Markus, Curhan & Ryff, 2006).

PRODUTOS

No mbito da psicologia, Cole (1990) tem procurado salientar os contextos culturais como definidos por um fluxo contnuo de atividades construdas. Ele descreve o fluxo material da cultura e ressalta que os seres humanos entram em um mundo que transformado pelos "artefatos acumulados das geraes anteriores". Desta feira, cultura a histria no presente. Cole, que retraa seu pensamento aos escritos de Vigotsky, Luria e Leontiev, argumenta que a principal funo do artefato cultural integrar as pessoas no mundo e umas s outras. Produtos culturais podem ser conceitualizados como o psicolgico externalizado, ou como a ordem social objetificada. Como notou Asch (1952) tais produtos produzem efeitos poderosos na ao. Por exemplo, produtos tais como um baco, uma propaganda de revista, um livro infantil, uma msica, o IPod no qual tal msica tocada, e talvez mais obviamente, a Internet, so simultaneamente conceituais e materiais. Eles carregam consigo interaes passadas, e elas mediam o presente. Estes produtos refletem as ideias, imagens, entendimentos e valores de contextos particulares e, no obstante, so uma boa fonte destes significados [sentidos]. Simultaneamente, conforme as pessoas se envolvem [engajam, comprometem] com estes produtos, elas re-presentificam e institucionalizam estas ideias e valores. Nos ltimos anos, um crescente nmero de psiclogos tm analisado os produtos culturais, incluindo letras de msica, comerciais de televiso, cobertura jornalstica televisiva, livros de histrias infantis para crianas, propagandas na internet, anncios de classificados, classificados pessoais, manchetes de artigos de jornal, fotografias, declaraes sobre as misses de escolas e universidade e sites de redes sociais (Aaker & Williams, 1998; H. kim & Markus, 1999; Plaut & Markus, 2005; Rothbaum, Weisz, & Snyder, 1982; Snibbe & Markus, 2005; J. Tsai, Knutson & Fung, 2006).O objetivo da analise sociocultural analisar melhor quilo que denominamos de "situao", ou "ambiente", a fim de expandir a compreenso psicolgica do papel do indivduo na manuteno de situaes que os influenciam. Uma abordagem sociocultural acrescenta psicologia um foco no contedo e funo dos significados [sentidos], prticas e produtos. Tal nfase bem sucedida bem sucedida em analisar mais acuradamente a situao, provendo uma perspectiva mais ampla e simultaneamente mais aprofundada.

QUAL DEFINIO DE CULTURA ADEQUADA PARA A PSICOLOGIA?

A maior parte das pesquisas que estamos categorizando sob a rubrica da psicologia sociocultural, tem se concentrado no "psicolgico", deixando de lado a padronizao, ou distribuio, ou coerncia do sociocultural, na maior parte no especificado,e os processos e trabalhos de mtua constituio no elaborados. Por exemplo, as primeiras investigaes psicolgico-culturais de J. G. Miller (1984) Triandis (1989), e Markus & Kitayama (1991) revelaram representaes detalhadas e prticas normativas associadas diferenas nas tendncias psicolgicas. A maior parte das referncias subsequentes a estes estudos, entretanto, reportam as diferenas culturais observadas como quelas entre tipos de pessoas - "individualistas" e "coletivistas", ou "independentes" e "interdependentes", ou "Ocidentais" e "Orientais". Este tipo de descrio localiza as fontes das diferenas comportamentais em alguns atributos internos, ou traos individuais, ao invs dos aspectos dos contextos culturais, ou na transio entre o indivduo e o contexto.

A PSICOLOGIA CULTURAL COMO FORMA DE ESTERIOTIPAO (STEREOTYPING 101)

Embora parea mais fcil dizer "Asiticos Orientais", ou "interdependentes" do que dizer "pessoas participando nas ideias e prticas disseminadas nos contextos culturais do Oriente Asitico", as rotulaes, mesmo que sejam apenas formas estenogrficas, repetidamente reforam a sensao de que as tendncias psicolgicas observadas (e.g., Uma tendncia prevalente em estar cnscio das preferncias e expectativas de outros prximos e de corretamente antecipar estas preferncias) derivam de algumas propriedades, ou traos, de interdependncia e coletivismo, ao invs de demonstrarem o engajamento persistente em um mundo que estruturado de formas especficas, e que requere e promove um tipo particular de ateno aos outros.Um dos mais formidveis impedimentos e tropeos ao longo da via para a consolidao de uma psicologia sociocultural sistemtica tem sido a falha em articular a definio de "cultura", ou de "sociocultural", que melhor se encaixa ideia de que o psicolgico e o sociocultural so dinamicamente constitutivos um do outro. Sem apresentar definies especficas, a maior parte dos observadores, leigos e cientistas sociais tm gravitado igualmente em torno de uma ideia simples e amplamente distribuda de cultura como uma coleo de traos que definem grupos particulares, ou conjuntos de pessoas. A ideia comum [de senso-comum] refletida aqui, que um grupo como uma grande pessoa, e que a cultura a "personalidade" ou "carter" do grupo.No discurso cotidiano, as pessoas fazem afirmaes tais quais: "Ele visitou 34 culturas", sugerindo que culturas so especificadas por fronteiras geogrficas. Outras afirmaes aparentemente pertencentes ao senso comum: "membros da cultura chinesa so familiarmente orientados", ou "membros da cultura mexicana so hierrquicos". Tais afirmaes podem simplesmente implicar que as culturas so monolticas, e que podem ser compreendidas como grupos discretos e categricos que so "internamente homogneos e objetos externamente distintivos" (Hermans & Kempen, 1998, p. 1113). Como notado por Adams e Markus (2004) tais afirmaes tambm sugerem que cultura uma entidade, ou um tipo de essencial culturalmente definidora do que os grupos "tm", sendo menos frequentemente empregada para tornar significativo o comportamento "intragrupal".

CULTURA COMO PADRES

As definies cientificas mais recentes de cultura a conceitualizam de forma bastante distinta, distanciando-se marcadamente da ideia de cultura como um "pacote" de traos, ou como um conjunto estvel de crenas e normas, sendo pouco provvel que as atuais formulaes permaneam vulnerveis s acusaes de rotulao. Ao invs disso, a cultura definida como padres de representaes, aes e artefatos que so distribudos, ou difundidos por meio da interao social. Sob esta definio, a conceitualizao local da cultura desloca-se do interior de uma pessoa para os padres frequentemente implcitos que existem simultaneamente nas pessoas e no mundo com as quais elas necessariamente se vinculam [engajam] atravs do curso de quaisquer comportamentos. Por exemplo, Atran et al. (2005) em uma recente descrio da mente cultural, define cultura como "padres causalmente distribudos de representaes mentais, sua expresso pblica, e os comportamentos delas resultantes em dados contextos ecolgicos (p. 751).Entre as centenas de definies de cultura (Kroeber & Kluckhohn, 1952), muitos tericos (Adams & Markus, 2004; Shweder, 2003) desenvolvedores da teoria sociocultural tm retomado [retornado ao] os Kroeber e Kluckhohn (1952):

Cultura consiste em padres implcitos e explcitos de ideias historicamente derivadas e selecionadas e sua corporificao [embodiment] nas instituies, prticas e artefatos; Padres culturais podem, por um lado, ser considerados produtos da ao, e por outro lado, como elementos condicionantes de aes posteriores. (Tal como resumido por Adams & Markus, 2004, p. 341; nfase no original).

Ao empregarmos este tipo de definio, nosso foco no reside no estudo da cultura como uma coleo de pessoas, mas, ao invs, em como os processos psicolgicos poder ser implicitamente e explicitamente moldados pelos mundos, contextos, ou sistemas culturais que as pessoas habitam [ou que as habitam]. Cultura, neste sentido, no trata sobre grupos de pessoas - os japoneses, os americanos, os brancos, os latinos - portanto, no so os grupos por si prprios que devem ser estudados. Ao invs disso, nosso foco deve estar centrado nos padres implcitos e explcitos de significados, praticas e artefatos, distribudos atravs de contextos nos quais as pessoas participam, ou em como elas esto engajadas [vinculadas] e so invocadas, incorporadas, contestadas e modificadas por agentes completarem-se a si mesmas e a guiarem seu comportamento. Estas ideias, prticas e artefatos, embora no constituam um conjunto fixo e coerente e no sejam igualmente partilhadas por todos em um dado contexto, criam e mantm o nvel social de realidade que fornece coerncia ao comportamento e tornam aes significativas dentro de um determinado contexto cultural.Um programa recente de pesquisa em dissonncia cognitiva nos contextos euro-americano e asitico oriental (Kitayama, Snibbe, Markus & Suzuki, 2004) um exemplo da abordagem da "cultura enquanto padres". Estes estudos, em conjunto com estudos anteriormente elaborados por Heine e Lehman (1997), demonstram que as pessoas nos contextos leste asitico no demonstravam dissonncia quando testadas [investigadas] em condies padres de dissonncia. Nestes estudos, os participantes classificaram ordenadamente um conjunto de discos compactos (CDs) de acordo com suas prprias preferncias. Posteriormente, lhes foi oferecida a escolha entre o quinto e o sexto CDs classificados na ordem de preferncia. Quando instados novamente a fornecer uma segunda classificao hierrquica dos dez CDs, os norte americanos, diferentemente dos asiticos orientais, demonstraram um forte efeito justificativo; isto , eles avaliaram o CD que eles escolheram de forma mais elevada [mais positivamente, como sendo melhor que] do que queles no selecionados. Esta pesquisa no buscava demonstrar as diferenas entre pessoas participantes de dois contextos culturais diferentes, tratando-se, sobretudo, apenas de seu incio. Seu objetivo era explicar a diferena observvel nos termos dos diferentes padres de ideias e prticas relevantes para a escolha, e, alm disso, compreender quais significados e funes a escolha desempenha em dois contextos culturais distintos. Em uma srie de estudos posteriores, a situao de pesquisa foi manipulada, tal que tanto norte americanos como asiticos orientais fizessem uma escolha ora "pblica", ora "privada". Na condio de "publicidade" solicitou-se aos replicantes que considerassem as preferncias dos outros participantes, ou ento expuseram-se-lhes as expresses [faciais] esquemticas dos outros mediante suas opes. Nestas condies os asiticos orientais, ao invs dos norte-americanos, revelaram maior tendncia em justificar suas escolhas.Uma analise cuidadosa dos padres de significao e prticas relevantes s escolhas nos contextos asitico oriental e norte americanos explicam estas ntidas diferenas comportamentais. Para os norte americanos, os modelos prevalentes da agncia sugerem que as escolhas devem expressar diferenas individuais, permanecendo livres da influncia de outros. Ao contrrio, em contextos culturais asiticos orientais, a escolha - como muitas outras aes - um fenmeno interpessoal, uma expresso do posicionamento pblico de algum, estando sujeito a avaliao social e critica. Como consequncia deste modelo de agncia cultural muito diferenciado e praticado, a realizao de uma escolha em pblico torna as pessoas vulnerveis perda da reputao, honra e credibilidade.Juntos, estes estudos que examinam as variaes na ateno ao self e ao outro em dois contextos particulares demonstram que por serem escolhas pblicas, nas quais o escrutnio dos outros possvel - diferentemente do ocorrido em contextos privados/particulares -, as pessoas do leste asitico tendem justificar mais enfaticamente suas aes. Outros estudos, que apresentavam uma variao na natureza do outro invocado durante a situao de escolha - um outro prezado versus desprezado - revelaram que os participantes dos contextos orientais asiticos eram particularmente sensveis a natureza interpessoal da situao, quando comparados aos participantes desta mesma pesquisa nos contextos euro-americanos. Uma analise deste tipo ilumina diferenas contextuais nos padres normativos de como deve ser uma pessoa, e de quando e como se deve fazer referncia aos outros. Alm disso, outros estudos foram realizados por pesquisadores que enfocaram na escolha como ato agenciador prototpico (Iyengar & DeVoe, 2003; Savani, Markus & Snibbe, 2006; Stephens, Markus & Townsend, 2006) e demonstram que, porque a escolha nos contextos norte americanos uma marca da agncia autentica e funo de um poderoso esquema ordenador do comportamento, as pessoas organizam seu prprio comportamento e o de outrem nos termos das escolhas que realizam, fazendo inferncias sobre seu comportamento com base naquelas. Ao focalizar os padres de comportamento que dispem as escolhas e ao analisar como a escolha compreendida e efetivada nos dois contextos, estes estudos sublinham que as diferenas no comportamento entre japoneses e norte-americanos no so nem o resultado de algo que eles "tem", tampouco um problema de traos divergentes e atributos. Ao invs disso, estas diferenas so funo do que eles fazem, de diferenas em suas aes que resultam da participao e engajamento em fontes simblicas e sistemas sociais diferenciados.

ACESSANDO A CONSTITUIO MTUA - QUAIS SO AS ABORDAGENS CONTEMPORNEAS?

Como os psiclogos esto examinando empiricamente a interdependncia dinmica entre contexto sociocultural e mente? Uma importante questo a se considerar como os pesquisadores conceitualizam os sistemas psicolgicos [psquicos] com os quais os sistemas socioculturais esto interagindo. Psiclogos tm tipicamente esculpido o espao psicolgico na cognio, emoo e motivao, tendo sido o sistema cognitivo aquele que tem mais sido elaborado em dcadas recentes. (Wierzbicka, 1994). Assume-se que estes sistemas psicolgicos tm funcionado similarmente atravs de todos os povos, mas o banco de dados das pesquisas psicolgicas tem sido baseado "quase completamente em descobertas de amostras de menos de 10% 15% das populaes em toda a face da terra" (Rozin, 2001, p. 13), tais como America do Norte, Europa Ocidental e outras regies do mundo anglfono (ver tambm Gergen & Davis, 1985; Sears, 1986). A confiana em tal amostragem limitada da populao humana pode ter levado os psiclogos a conceptualizar o sistema psquico de forma mais congruente com sua amostra e com contextos culturais mais familiares eles.Psiclogos estudando a interdependncia dinmica entre mente e cultura tm confrontado as seguintes questes em suas abordagens de pesquisa:

1) O que conta como psicolgico?2) O que conta como sociocultural?3) Qual a natureza da relao mutuamente constitutiva que interconectam um ao outro?

Se, ou no, o sistema psicolgico [psquico] funciona similarmente atravs da humanidade tem sido uma questo central para os psiclogos que assumem uma abordagem sociocultural. Alguns argumentariam que o sistema psquico universal, que composto das mesmas partes bsicas e de uma mesma [ou nica] forma fundamental - em termos de cognio, emoo, e motivao -atravs de todos os contextos socioculturais. Outros questionam por que o sistema psquico foi moldado desta forma particular, e se, ou no, ele deveria ser conceitualizado da mesma maneira atravs de diferentes - e todos - os mundos sociais dos quais as pessoas participam.Wierzbicka (1994), por exemplo, nota que tpicas categorias emocionais utilizadas na maior parte das pesquisas psicolgicas podem "constituir artefatos culturais da cultura Anglo americana refletidas nas, e continuamente reforadas pela lngua inglesa" (p. 135). Rozin (2001), por exemplo, identifica a alimentao, a religio, o ritual, o lazer, os esportes, a msica, o drama, o dinheiro, e o trabalho como domnios principais da vida social humana, argumentando, portanto, que "no h dvida de que a alimentao, o trabalho e o lazer so as trs atividades que mais consomem tempo durante o estado de viglia dos seres humanos, sendo todos eles profundamente sociais" (p. 13). Ele questiona o por qu os psiclogos no tm organizado seus estudos psicolgicos com estes, ou outros, elementos particulares.Ao realizar o levantamento dos trabalhos empricos contemporneos no campo da psicologia sociocultural, cinco abordagens principais emergem da literatura, oferecendo perspectivas sobre como possvel capturar a dinmica de interdependncia entre o psicolgico e o sociocultural. Estas cinco abordagens so esboadas primeiramente nesta seo. Elas no so mutuamente exclusivas, embora os pesquisadores que as utilizam frequentemente tentam conceitualizar e investigar empiricamente o estudo psicolgico desta constituio de maneiras diferenciadas. O que varia entre eles como eles conceitualizam teoricamente e investigam empiricamente o psicolgico, o sociocultural, e a relao constitutiva entre ambos. Para cada abordagem, esta reviso procura focar em contribuies prvias, ou prototpicas, ao invs de enfatizar outras contribuies prospectivas.Atravs da descrio das cinco abordagens, alguns dos mecanismos e processos mediativos que configuram a relao entre o cultural e o psicolgico so discutidas. Finalmente, ao final deste captulo, uma importante distino emergente nos contextos de pesquisa psicolgico-cultural so sublinhados: conceitualizando cultura como constituindo um processo versus um mtodo de influncia social.Figura 1.1. resume e organiza as perspectivas articuladas pelas cinco abordagens. A esquemtica associada a cada abordagem representa graficamente como cada abordagem conceitualiza o vnculo entre o psicolgico e o sociocultural. Cada esquemtica contm um P, o qual representa as vrias estruturas e processos do sistema psicolgico [psquico] , e um SC, que representam elementos dos vrios contextos socioculturais nos quais os sistemas psquicos esto intricados. O tamanho de P relativo ao de SC, varia para indicar a nfase relativa colocada no psicolgico, ou o scio cultural no trabalho terico e emprico de cada abordagem. Em cada esquema, as flechas representam como se consideram as interaes entre o psicolgico e o sociocultural, e ns refletimos este aspecto por meio da variao diretiva das setas, e se elas permanecem consistentes - contnuas - ou traadas - pontilhadas. Uma seta contnua indica que a relao est bem especificada, enquanto uma seta pontilhada indica que a relao bem menos especificada no mbito do trabalho emprico e terico de cada abordagem. Trs dos esquemas incluem termos adicionais (dimenso, ecologia e situao), pois se tratam de conceitos focais explicitamente teorizados em cada uma destas perspectivas.

AbordagemObjetivo EmpricoMecanismo de constituioExemplo

Dimensional

SCDimenso 1 Dimenso 2 PDimenso n

Especificar as dimenses da cultura que explicam as diferenas em atitudes, crenas, valores e comportamentos.Vises de mundo, crenas, valores, atitudes traduzem o sociocultural no psicolgico.Dimenso relacional Vertical - Horizontal.

Modular

SC P

Especifica modelos que organizam os vnculos entre o sociocultural e os sistemas do self.Tendncias psicolgicas, significados, praticas e produtos refletem, promovem e sustm um ao outro.Modelos de agncia influentes - ou de ajustamento.

Conjunto de Ferramentas Cognitivas

SC P

Especificam como os significados culturais e prticas podem influenciar tendncias cognitivas bsicas.A ateno e a percepo guiadas por instrumentos cognitivos, ou conjuntos de instrumentos interpretativos.Cognio Holistico-Analtica.

Eco cultural

Ecologia SC P

Especifica como fatores ecolgicos e sociopolticos influenciam a adaptao psicolgica um contexto.Adaptao cultural e transmisso moldam o desenvolvimento e demonstrao - exposio - de caractersticas humanas bsicas.Variaes em competncia cognitiva.

Dinmico-Construtivista

Situao

SC PEspecifica os fatores situacionais e condies fronteirias que governam a influncia cultural.Estruturas de conhecimento particular/Teorias implcitas so ativadas por deixas situacionais em uma dada situao.Modulao bicultural alternada (quadro de comutao?)

Figura 1.1. Abordagens contemporneas na psicologia para o estudo da interdependncia dinmica entre o cultural e o psicolgico. SC indica o sistema sociocultural, e P indica o sistema psicolgico.

AS CINCO ABORDAGENS PRINCIPAIS

A abordagem dimensional: Um foco na quantificao das diferenas

Inmeros pesquisadores transculturais (e.g. Hofstede, 1980, 1990; Leung, 1987; Schwartz, 1990; Triandis, 1989, 1990, 1995) explicam as origens da variao psicolgico-cultural atravs da identificao de certas dimenses chaves atravs das quais os contextos culturais podem diferir. Eles argumentam que, para a cultura operar como uma varivel explicativa til, ela deve ser conceitualizada como uma estrutura complexa e multidimensional que pode ser avaliada em conjunto com um grupo particular de dimenses. As diferenas culturais devem refletir orientaes valorativas, crenas e vises de mundo bsicas, subjacentes e prevalentes em um determinado contexto; Entretanto estas diferenas podem ser melhor e mais parcimoniosamente capituradas pela identificao e descrio de culturas de acordo como elas se encaixam em uma srie de dimenses correlatas. A distribuio dos padres de comportamento, normas, atitudes e variveis de personalidade pertencentes a cada contexto podem ser mensuradas e comparadas (Triandis, 1989). Triandis (1996) denomina esta srie de dimenses de sndromes culturais, as quais so "as dimenses de variao cultural que podem ser empregadas como parmetros para as teorias psicolgicas" (p. 407), sendo compostas de atitudes, crenas, normas, papis, definies do Self [ipseidade], e valores partilhados por membros em um dado contexto cultural e que podem ser organizadas em torno de uma srie de temas centrais. O efeito do sociocultural no psicolgico , consequentemente, tomado como "definido" por onde uma combinao especifica de pessoas participantes naquela cultura, em mdia, "pontuam" ao longo de uma srie de dimenses, criando, desta maneira, uma padronizao particular, ou perfil cultural (i.e. sndrome). Por conseguinte, a abordagem dimensional tenta capturar as formas pelas quais o sociocultural pode constituir o psicolgico atravs da organizao de recursos potenciais da diferena ao longo de uma srie de dimenses.Alguns exemplos destas dimenses so a distncia do poder [ou potncia-distncia], a evitao da incerteza, masculinidade - feminilidade, e individualismo - coletivismo (Hofstede, 1980); rigidez, complexidade, ativo-passivo, honra, coletivismo-individualismo e relaes verticais-horizontais (Triandis, 1989, 1990, 1995, 1996); e maestria, hierarquia, conservadorismo, autonomia afetiva, autoridade intelectual, comprometimento igualitrio e harmonia (Schwartz, 1990). Um exemplo de como estas dimenses funcionam que embora ambos os contextos alemo e sueco sejam individualistas, (ou contextos que privilegiam uma noo de pessoa como independente, autnoma, e pessoalmente motivada), o contexto sueco horizontalmente individualista, enfatizando relaes sociais igualitrias, enquanto que o contexto alemo considerado verticalmente individualista, enfatizando a concepo hierrquica entre pessoas e grupos (Triandis, 1995). Consequentemente, os contextos sueco e alemo e sua correspondente constituio psicolgica, podem ser mais acuradamente caracterizados pelo emprego de ambas as dimenses, fazendo com que os efeitos culturais psicolgicos possam ser mais precisamente compreendidos.Por esta razo, nesta abordagem a dimenso cultural a porta de acesso para a apreenso de como o sociocultural e o psicolgico interagem. A abordagem dimensional coloca nfase na tentativa de prover uma estrutura parcimoniosamente organizadora, atravs da qual um amplo conjunto de elementos culturais e seus efeitos no psicolgico podem ser mensurados e comparados; Portanto, eles podem ser compreendidos como dimenses de constituio. Estas dimenses de constituio podem ser, desta maneira, sistematicamente organizadas em torno de uma gama de efeitos. Ademais, esta abordagem cria uma mtrica comum atravs da qual diferentes influencias contextuais sob o psicolgico podem ser comparadas ao longo de um conjunto discreto de elementos.Entretanto, a abordagem dimensional coloca pouca nfase no processo pelo qual o sociocultural e o psicolgico mutuamente constituem um ao outro. Esta abordagem foca nos efeitos ordenadores do sociocultural sob o psicolgico, mas ainda assim tem pouco a dizer sobre como esta relao funciona. Em sua maior parte esta abordagem no tem focado em como os valores e atitudes psicolgicas poderiam ser traduzidos em instituies sociais, convenes e tendncias psicolgicas habituais. Por esta razo, a esquemtica para esta abordagem (Figura 1.1) destaca que a perspectiva dimensional foca na quantificao das formas pelas quais SC pode interagir com o P, sem examinar os processos constituintes por eles mesmos. No obstante, SC est conectado P apenas atravs de dimenses particulares, e SC e P no so tratados - abordados - com a mesma nfase [da mesma forma]. Deste modo, a abordagem dimensional oferece um mtodo para a conceituao do que pode ser considerada uma "metaconstituio", ou um mtodo empregado para organizar os efeitos da constituio mtua sem focar nos processos constitutivos em si mesmos. Ademais, esta abordagem ainda no realizou a tentativa de enderear a natureza dinmica e transformadora da cultura e sua interdependncia com o psicolgico, podendo aparentar perceber esta relao como preferencialmente esttica.

A ABORDAGEM DOS MODELOS SOCIOCULTURAIS: UM FOCO NA INTERAO ENTRE O SISTEMA DO SELF E O SISTEMA SOCIOCULTURAL

Modelos socioculturais podem ser definidos como ideias culturalmente selecionadas e derivadas (tanto explicita, quanto implicitamente) e prticas, (tanto informais, quanto formais) sobre o que o real, verdadeiro, belo, bom e correto - e o que no - que so corporificados [embodied] representados, ou institudos em um dado contexto (Markus & Kitayama, 2004; Shweder, 2003). Portanto, os modelos socioculturais do forma e direo experincia individual, a exemplo da percepo, cognio, emoo, motivao e ao. Por exemplo, modelos de agncia providenciam parmetros implcitos de "como ser", refletindo tanto compreenses descritivas e normativas de como e por que as pessoas agem (Kitayama & Ushida, 2005; Markus et al., 2005). Os modelos socioculturais so dinmicos, no sentido de que eles tanto contribuem para a mtua constituio da mente e da cultura, e permanecem mutveis com o passar do tempo (Fiske et al., 1998). O conceito de modelos socioculturais deriva da antropologia cultural e cognitiva (D'Andrade, 1990; Fiske et al., 1998; Hollland & Quinn, 1987; Shore, 1996; Shweder, 1990; Shweder et al., 1998; Strauss, 1992).Os significados [sentidos] partilhados so centrais para sua existncia, no sentido de que um modelo sociocultural pode ser descrito como um esquema cognitivo intersubjetivo (D'Andrade, 1990). Esquemas culturais, alm disso, "so modelos pressupostos e presumidos sobre o mundo, sendo amplamente partilhados (embora no ponto de exclurem outros modelos alternativos) pelos membros de uma sociedade, desempenhando um papel enorme em sua compreenso do mundo e seu comportamento nele" (Holland & Quinn, 1987, p. 4). Modelos socioculturais so frequentemente imperceptveis s mentes que deles participam, pois eles so representados em um nvel privativo, interno, mental e funcionam por meio da garantia de um esquema para como beber, sentir e agir - como ser [dever ser] - no mundo.Particularmente importante abordagem dos modelos socioculturais, que os modelos no existem apenas nas mentes das pessoas que participam de um contexto particular, mas tambm estruturam os mundos nos quais as pessoas vivem. A cultura compreendida como pblica e existe antes que os indivduos nela participem (J. G. Miller, 1999). Shore (1996) enfatiza o ponto de que os modelos culturais existem no apenas como "construtos cognitivos situados 'na mente' dos membros de uma comunidade" (p. 44), mas tambm por que os artefatos pblicos e instituies "no mundo" (ver Berger & Luckmann, 1966). Logo, os modelos culturais so tambm representados no nvel pblico, externo, social e material. No obstante, esta abordagem foca em como a cultura no apenas interage com o psicolgico por meio das "cabeas" das pessoas partcipes em um contexto social particular, mas tambm por meio dos mundos materiais que as pessoas habitam.A existncia dos modelos culturais dinmica e mutuamente constituda pela pessoa e o ambiente, contingente ao e negociada atravs de "trocas sociais infindveis" (Shore, 1996). A teoria das representaes sociais (Moscovici, 1981), derivada da sociologia e da psicologia social, uma outra articulao de uma abordagem dos modelos socioculturais, enfatizando que os sistemas de valores, ideais, prticas e produtos servem como dispositivos orientadores que permitem s pessoas navegar sucedidamente atravs de seus mundos sociais. Por conseguinte, as representaes sociais permitem que a comunicao efetiva tenha seu lugar entre membros existentes num mesmo contexto atravs de sua participao em um conjunto de significados [sentidos] partilhados (Moscovici, 1981).A abordagem dos modelos socioculturais tem sido utilizada para examinar fenmenos tais como os sistemas do self (Heine et al., 1999; Markus & Kitayama, 1991; Markus et al., 1997), agncia (Kitayama & Uchida, 2005; Markus & Kitayama, 2004; Markus et al., 2005; Snibbe & Markus, 2005), modos de ser (Kitayama, Duffy, & Uchida, captulo 6, neste volume) emoo (Mesquita, 2003; J. L. Tsai, Chentsova-Dutton, Freire-Bebeau, & Przymus, 2002), motivao (H. Kim & Markus, 1999), desenvolvimento social e cognitivo (Cole, 1985, 1992; Cole, Gay, Glick & Sharp, 1971; Greenfield & Childs, 1977a, 1977b; Maynard & Greenfield, 2003; Moiser & Rogoff, 2003; Rogoff, 1991, 1995; Wertsch, 1991), moralidade (J.D. Miller, Bersoff, & Harwood, 1990; Shweder, Much, Mahapatra, & Park, 1997), alimentao e hbitos alimentares (Rozin, 1996) relaes intergrupais (Plaut & Markus, 2005), educao (Fryberg & Markus, 2006; Li, 2003) trabalho tnico (Sanchez-Burks, 2002), honra (D. Cohen, Nisbett, Bowdle & Schwartz, 1996; Nisbett & Cohen, 1996), hierarquia (A. Y. Tsai & Markus, 2006) relacionamentos (Adams, 2005; Fiske, 1991, 1992), e bem-estar (Markus, Curhan & Ryff, 2006; Plaut, Markus & Lachman, 2002).Por exemplo, pessoas que participam dos contextos sociais das classes trabalhadoras (WK) so mais suscetveis de habitarem mundos sociais e materiais que permitem menos recursos, menos oportunidades de controle e escolha, e mais interdependncia com a famlia e os parentes, do que as pessoas que integram os contextos sociais da classe-mdia (MD) (Markus et al., 2005; Snibbe & Markus, 2005). Como consequncia, as pessoas distribudas nos contextos das WK so menos perturbadas quando os outros usurpam sua habilidade de realizar uma escolha, do que aquelas situadas em contextos da MD, por que a realizao de escolhas, a autoexpresso, e o controle sobre contingencias que elas permitem, no estruturam o que significa ter um self bom e normativamente apropriado nas WK (Snibbe & Markus, 2005). Alm disso, as ideias da WK sobre a forma correta de estar no mundo proporcionam maiores chances de promover um modelo de bem estar focado em relaes com outros prximos (predominantemente famlia e parentes) e seu ajustamento s obrigaes do que um modelo de bem estar focado no desenvolvimento e expresso de si - o modelo mais prevalente nos contextos da MD (Markus et al., 2005). Mais importante ainda, estas diferenas no so apenas refletidas nos processos psicolgicos daqueles participantes dos contextos de MD e WK, mas tambm so identificveis em produtos culturais cotidianos - incluindo, por exemplo, letras de msicas populares e propagandas de revista - que contribuem para a estruturao dos mundos da WK e MD, repletos com diferentes significaes, prticas e estruturas que comunicam como se deve ser e quais tipos de self e vida so normais, valorizados e bons.Modelos socioculturais organizam a interao entre elementos mais discretos dos sistemas socioculturais e psicolgicos identificados no modelo de mtua constituio da cultura e da psique (ver Fiske et al., 1998) descritos previamente. Por esta razo, a esquemtica que reflete esta abordagem contm uma seta larga, bidirecional, ligando P e SC (Figura 1.1.). Atravs da bidirecionalidade desta ampla seta, ns representamos uma ateno terica e emprica ao processo de mtua constituio em si mesmo pelos pesquisadores que se utilizam desta abordagem. O centro da seta composto de inmeras linhas, cuja inteno representar a variedade de formas nas quais diferentes nveis dos sistemas socioculturais (i.e. ideias disseminadas e as instituies, produtos, e prticas cotidianas que refletem e promovem estas ideias) e o sistema psicolgico [psquico] sustentam e retroalimentam um ao outro. Considerando-se as tentativas das abordagens dos modelos culturais em delinear o processo de mtua constituio por meio da organizao de como os padres culturais tanto existem, como necessariamente dependem de como eles so manifestados e tornados reais tanto "na cabea" e "no mundo", esta abordagem foca nos processos de constituio em si mesmos. Adicionalmente, a relativa nfase colocada no SC e P nesta abordagem comparvel.Assim como a abordagem do conjunto de ferramentas que ns discutiremos em seguida, a perspectiva dos modelos contradiz a distino contedo-processo, no sentido de que a cultura no adentra ao psicolgico por meio da influncia que exerce sobre o sistema psicolgico bsico, mas ao invs disso, est profundamente envolvido na constituio do psicolgico em si mesmo. O que universal, a partir desta perspectiva, que os seres humanos so fundamentalmente seres sociais cujos processos psicolgicos so interdependentes com e dependentes dos mundos sociais nos quais eles se engajam. A abordagem dos modelos, entretanto, precisa urgentemente especificar mais claramente os mecanismos pelos quais a mltipla constituio do cultural e do psicolgico ocorre, as quais os pesquisadores tm amplamente endereado, at o momento, apenas de forma muito abrangente. Ela tambm precisa especificar empiricamente como os sistemas culturais e psicolgicos existem em interao dinmica um com o outro. Embora esta abordagem enfatize esse ponto teoricamente, ela deveria enderear ainda mais empiricamente como as pessoas partcipes destes contextos tambm formam o cultural, bem como, como estes sistemas constitutivos se modificam atravs dos tempos. Alm disso, a abordagem dos modelos necessita delinear mais claramente e testar empiricamente a relao entre produtos materiais que estruturam os contextos socioculturais e as mentes que deles participam.A ABORDAGEM DO CONJUNTO DE FERRAMENTAS: UM FOCO NA CULTURA E NA COGNIO

Cultura tambm pode ser pensada como um instrumento interpretativo, ou conjunto de instrumentos interpretativos, que guiam as formas pelas quais os indivduos percebem e constroem o significado no mundo. A abordagem da "cultura enquanto instrumento" se constri com base nos primeiros trabalhos de Sapir (1956) e Whorf (1956), o conjunto de instrumentos de uma dada cultura, explica Bruner (1990), "pode ser descrita como um conjunto de aparelhos protticos pelos quais os seres humanos podem exceder, ou ainda, redefinir os"limites naturais" do funcionamento humano" (p. 21). A cultura pode ser melhor conceitualizada como uma ferramenta cognitiva de trs formas primrias (Nisbett, Peng, Choi & Norenzayan, 2001). A primeira que mesmo se todos os contextos culturais:

Possussem essencialmente os mesmos processos cognitivos bsicos como suas ferramentas, as ferramentas de escolha para um mesmo problema podem ser habitualmente muito diferentes. As pessoas podem diferir marcadamente em suas crenas sobre se um problema consiste em requerer o uso de uma chave de parafuso, ou o alicate, em sua habilidade para usar os dois tipos de instrumentos, e na localizao de instrumentos particulares no topo, ou no fundo do kit de instrumentos. Alm disso, os membros de diferentes culturas podem no ver a mesma situao de estmulo "numa necessidade de reparos" (Nisbett et al., 2001, p. 306).

O segundo que "as culturas podem construir instrumentos cognitivos compostos por meio do kit de instrumentos universal bsico, performatizando, desta forma, atos elaborados de engenharia cognitiva" (p. 306). Nisbett e colegas (2001) oferecem a caracterizao da cultura de Dennet (1995) como um "guindaste criador de guindaste [? Crane making Crane], citando a transformao de antigas ideias chinesas sobre ying e yang em conceitos dialticos mais complexos sobre a mudana, moderao, relativismo, e a necessidade de mltiplos pontos de vista.Uma terceira perspectiva que Nisbett e seus colegas (2001) promovem, uma perspectiva da "cognio situada" do conjunto de ferramentas culturais, citando a afirmao de Resnick (1994) de que os "instrumentos do pensamento...corporificam [embody] a histria intelectual de uma cultura" e que estes instrumentos de pensamento "possuem teorias construdas neles, e os usurios aceitam estas teorias - embora desconhecidamente [sem saberem] quando eles empregam estes instrumentos (pp. 476 - 477, tal como cito em Nisbett et al., 2001). Por exemplo, as pessoas que participam em contextos Ocidentais, propem Nisbett e seus colegas, tm sido cronicamente expostas a uma histria intelectual, de crenas, e teorias sobre como o mundo estruturado para enfatizar a discrio e atributos dos objetos, o desenvolvimento de sistemas de categorizao baseados em regras, agencia individual, liberdade pessoal, controle, causalidade, e abstrao. Alternativamente, pessoas inseridas nos contextos asiticos orientais tm sido cronicamente expostas a uma histria intelectual, crenas, e teorias sobre como o mundo estruturado que enfatizam a continuidade dos objetos e das relaes, bem como identificam uma conexo sistmica, agncia coletiva, obrigao social, harmonia, intuio, e empirismo prtico. Por conseguinte, uma consequncia da contnua influncia desta variao contextual tal que os asiticos orientais tendem a adotar um estilo cognitivo mais holstico, o qual direciona a ateno no sentido da continuidade, do contexto, e um foco nas similaridades e relacionamentos, enquanto que os Ocidentais tendem a adotar um estilo cognitivo mais analtico, o qual direciona a ateno no sentido da discrio, dos objetos focais, e um foco nas categorias e regras.Em um exemplo intrigantemente particular da constituio mtua dos padres culturais e das tendncias perceptivas, Miyamoto, Nisbett & Masuda (2006) demonstraram que as cenas pblicas - na rua - japonesas so mais ambguas e contm mais elementos do que as Americanas. A implicao que os ambientes fsicos japoneses podem, deste modo, encorajar um processamento mais holstico do que os cenrios americanos. Um estudo que explora esta ideia descobriu que quando expostos [preferencialmente] com as cenas japonesas em oposio s americanas, tanto americanos quanto japoneses prestaram maior ateno a informaes contextuais.A abordagem do kit de ferramentas tambm tem sido aplicada estudos de predies sobre mudanas (Ji, Nisbett & Su, 2001), sensibilidade contextual (Masuda & Nisbett, 2001), raciocnios acerca de contradies (Choi & Nisbett, 2000; Peng & Nisbett, 1999), preferncias pelo raciocnio formal versus intuitivo (Norenzayan, Smith, Kim, & Nisbett, 2002), e julgamentos de relevncia causal (Choi, Dalal, Kim-Prieto, & Park, 2003). O trabalho recente de Medin, Atran e seus colegas (Atran et al., 2005; Medin & Atran, 2004) , com sua nfase no papel dos processos cognitivos inferenciais e do desenvolvimento no preparo das pessoas para sua participao na vida cultural, tambm se ajusta cultura como uma abordagem do kit instrumental.A abordagem do kit de ferramentas [instrumental], a qual no est completamente separada da abordagem dos modelos socioculturais, foca primariamente em como a cultura - amplamente construda - molda os sistemas cognitivos e perceptuais. O mecanismo de constituio nesta abordagem como a cultura funciona enquanto uma ferramenta interpretativa, ou um conjunto de ferramentas interpretativas que guiam a ateno e a percepo (Figura 1.1). Esta abordagem desafia a noo de que processos perceptivos e outros processo cognitivos so uniformemente parte da "mente humana elementar" atravs da demonstrao de que a cultura pode guiar tais processos bsicos, tornando a distino contedo-processo extremamente problemtica. No obstante, a cultura no funciona como um entranhamento em processos cognitivos bsicos; ao invs disso, envolvida de baixo para cima e pode moldar significativamente os processos psicolgicos mais fundamentais.Embora oferecendo uma perspectiva sobre a constituio cultural de processos cognitivos bsicos, a abordagem do kit [da caixa] de ferramentas no focaliza na especificao de como amplos padres socio-histricos, que os pesquisadores identificam a fim de explicar as diferenas observadas, se tornam correntes ou so continuamente e dinamicamente manifestados nas instituies, prticas, produtos, e experincias cotidianas das pessoas que participam dos presentes contextos. Embora os pesquisadores que utilizam esta abordagem certamente procuram atentar para a caracterizao dos contextos, por meio da identificao, prevalente, de amplos padres socio-histricos, eles frequentemente movem diretamente constatao de efeitos psicolgicos muito especficos.Por conseguinte, esta perspectiva tm sido criticadas por uma falta de ateno aos processos constitutivos em si mesmos, os quais poderiam nos levar a uma interpretao desta pesquisa como essencializadora de diferenas, embora esta no seja a inteno. por estas razes que o esquema representativo desta abordagem (Ver figura 1.1) no integra [abrange] uma seta ampla e multinivelada entre SC e P. A seta de SC P est em negrito, pois este aspecto da constituio foi destacado, muito mais do que as formas pelas quais o psicolgico constitui o cultural (representada pela seta pontilhada) embora esta direo da constituio tenha sido o alvo de alguma teorizao.A abordagem da caixa de ferramentas primariamente foca na investigao de como a cultura pode interagir com o sistema cognitivo, ao invs de tambm analisar os sistemas afetivo, motivacional e comportamental, privilegiando, desta forma, a noo de que o sociocultural interage com o psicolgico por meio do sistema cognitivo. No esquema que reflete esta abordagem, no obstante, o P representando o psicolgico amplo - maior, mais largo - em relao ao SC. Isto indica que a abordagem da caixa de ferramentas aparenta localizar a cultura mais "dentro da cabea" da pessoa, ao invs de estar engajada em uma interao constante e dinmica com os contextos sociais presentes, mundos materiais, e os sistemas psicolgicos.

A ABORDAGEM ECOCULTURAL: UM FOCO NAS ADAPTAES AOS CONTEXTOS ECOLGICOS E SOCIOPOLTICOS

Outra abordagem relacionada a perspectiva modular, embora de alguma maneira diferente em seu escopo, nfase, mtodos empricos, a abordagem ecocultural. Proponentes da abordagem ecocultural, primariamente desenvolvida por Berry (1976, 1979, 2000) e outras perspectivas ecolgicas relacionadas no campo da cultura (e.g., Bronfenbrenner, 1979; Withing & Withing, 1975), procuram compreender como processos psicolgicos e culturais interagem atravs do exame de como dois aspectos particulares do contexto cultural - fatores ecolgicos e sociopolticos - e um conjunto de variveis que conectam estes fatores aos processos psicolgicos - adaptao cultural e biolgica no nvel populacional, bem como diversos processos de transmisso no nvel individual (e.g., enculturao, socializao, aculturao) - afetam o funcionamento psicolgico e a variao comportamental. O sistema ecocultural procura explicar - d conta da - a diversidade cultural e psicolgica entre os seres humanos como adaptaes - tanto coletivas quanto individuais - contextos particulares (Berry, Poortinga, Segall & Dasen, 2002; Georgas, van der Vijver & Berry, 2004). Outrossim, ambientes ecolgicos e sociopolticos so empregados como variveis especificas e independentes de contexto, que so utilizadas para capturar processos contnuos e interativos atravs dos quais as variveis socioculturais interagem com uma variedade de variveis psicolgicas (Berry, 2004). A abordagem ecocultural baseada tanto no pressuposto da universalidade de processos psicolgicos bsicos partilhados por todos os seres humanos, e una pressuposio adaptativa de que as variaes culturais emergem de adaptaes requerimentos objetivos do habitat fsico e social, os quais permitem o efetivo funcionamento em ambientes particulares (Berry, 2000). Uma ateno particular tem sido prestada transmisso e aos processos do desenvolvimento que ligam os fatores ecolgicos e sociopolticos ao funcionamento psiquico individual (Berry, 2004; Berry et al., 2002).A abordagem ecocultural tem sido utilizada para estudar tpicos tais como as variaes no desenvolvimento das competncias cognitivas e adaptativas (Berry, 1976, 2004; Berry, et al., 1986), competncia cultural (Lonner & Hayes, 2004), orientao espacial (Dasen & Wassmann, 1998; Mishra, Dasen, Niraula, 2003) aculturao (Berry, 2003), relaes entre os indicadores ecosociais e variveis psicolgicas (Georgas et al., 2004), e processos cognitivos (e.g. Berry, Irvine & Hunt, 1988). Um exemplo desta abordagem o estudo de como a ecologia e a linguagem afetam a performance em tarefas cognitivo-espaciais (Mishra et al., 2003). Variaes nos sistemas de orientao espacial, e a linguagem que corresponde a tais variaes, so adaptativas as condies ecolgicas que emergem em contextos particulares (Mishra et al., 2003). Por conseguinte, o estilo de orientao espacial predominante utilizado em uma vila em uma regio plana prxima a Varanasi, na ndia, onde as direes [pontos] cardeais so empregados; e na cidade de Varanasi - na ndia - onde uma variedade de referncias espaciais so empregadas em resposta a um ambiente mais complexo, afetam diferencialmente a performance das tarefas cognitivas espaciais. Alm disso, a emergncia destas tendncias pode ser traada em termos do desenvolvimento, conforme as crianas aprendem progressivamente o sistema normativo adulto.Diversos programas de pesquisa que so melhor classificados como exemplos da abordagem dos modelos culturais, por sua ateno aos significados tais como refletidos nas normas culturais e tendncias psicolgicas, poderiam tambm ser inclusas como exemplos da abordagem ecocultural. Estes programas incluem os trabalhos de Cohen, Nisbett e seus colegas (D Cohen & Nisbett, 1994; Nisbett & Cohen, 1996; Vandello & Cohen, 1999) em uma cultura da honra sul americana e o trabalho de Kitayama, Ishiii, e Imada (2006) sobre os padres voluntrios de assentamento no Japo e nos Estados Unidos. Um foco nas formas pelas quais os padres comportamentais emergem enquanto adaptaes tanto ao ambiente fsico e social uma caracterstica explicita destes programas de pesquisa.A abordagem ecocultural objetiva vincular aspectos contextuais especficos (fatores ecolgicos e sociopolticos) processos psicolgicos atravs de processos particulares de transmisso. Embora a abordagem dos modelos culturais tambm enfatize este foco, os pesquisadores que utilizam a abordagem ecocultural tm se esforado em concentrar-se nos efeitos delineadores de aspectos particulares do contexto nos sistemas psquicos. Alm do mais, a ateno que prestada aos processos de transmisso cultural - igualmente enfatizados na teoria dos modelos culturais, mas necessitando significativamente de maior considerao e clarificao nesta abordagem - colocada em primeiro plano. A abordagem ecocultural, entretanto, pressupe "caractersticas humanas bsicas comuns todos os membros da espcie humana (i.e., constituindo um conjunto de dados psicolgicos), presume tambm que a cultura influencia a demonstrao [exibio] e o desenvolvimento deles (i.e., a cultura desempenha diferentes variaes nesses temas subjacentes)" (Berry, 2004, p. pp. 6 - 7). Processos psicolgicos universalmente comuns e subjacentes so, deste modo, entendidos como um conjunto de dados psicolgicos, pois a expressiva variao conduz a algumas das diferenas no funcionamento psicolgico, dependendo da influncia ambiental (Berry, 2000). Outrossim, cultura permitido que constitua algo do sistema psquico, embora ela no percorra "todo o caminho".Embora criticados anteriormente por se tratarem de deterministas ecolgicos que concebem a cultura de forma amplamente esttica, os tericos da perspectiva ecocultural atualmente conceituam as pessoas como agentes que ativamente interagem com e modificam seus ambientes dinmicos, tanto como funes ecolgico-adaptativas quanto um processo interativo e continuo (Berry, 2004). Proponentes da abordagem ecocultural tambm utilizam a noo de variveis contextuais (e.g. fatores sociopolticos e ecolgicos) como uma forma de conceituar cultura enquanto uma varivel independente. Problemas na conceituao da cultura enquanto uma varivel independente tem sido arguidas extensamente em outros trabalhos (Fiske et al., 1998; Shweder, 1990), e embora seu objetivo procure especificar a importncia de como aspectos particulares de um contexto podem interagir com o psquico, a ideia de cultura como um sistema complexo, mutuamente reforador e multicomponencial no deve ser perdida. No esquema desta abordagem (Figura 1.1), a ecologia destacada como moldando a forma atravs da qual P e SC constituem um ao outro. A seta representando como P constitui SC traada, pois este aspecto da perspectiva ecocultural ainda no foi enfatizada tanto na teoria como na pesquisa. P tambm, de alguma forma, maior do que SC, pois a teorizao ecocultural tem colocado maior nfase relativa na conceituao de P.

A ABORDAGEM DINMICO-CONSTRUTIVISTA: UM FOCO NA INFLUNCIA SITUACIONAL DA CULTURA

Pesquisadores que adotam uma abordagem dinmica construtivista objetivam enfatizar que a cultura reside na mente, na forma de uma rede de relaes [malha de relaes - network] de estruturas de conhecimento, construtos mentais, e representaes que so amplamente partilhadas em um dado contexto, e que estes construtos internalizados no guiam continuamente nossos processamento de informao, mas apenas o fazem quando ativados (Hong, Benet-Martinez, Chiu & Morris, 2003; Hong & Chiu, 2001, Hong, Morris, Chiu & Benet-Martinez, 2000). Por conseguinte, a cultura afeta a cognio quando, em situaes sociais particulares, as teorias implcitas relevantes, ou pressupostos partilhados esto disponveis, acessveis, salientes e aplicveis situao (Hong et al., 2003; Hong & Chiu, 2001; Hong et al., 2000). Hong e Chiu (2001) propem que as influencias culturais sob a cognio so "mediadas por princpios bsicos de cognio social" e ativadas em domnios especficos atravs de situaes particulares; Deste modo, eles "procuram identificar quando diferenas cognitivo-culturais bem documentadas viriam a tona, desapareceriam, ou mesmo o reverso (p. 183). Participantes engajados em contextos asiticos orientais, por exemplo, no diferiram dos participantes engajados [comprometidos] em contextos Americanos em sua propenso para comprometer-se em uma tarefa de tomada de deciso, ao menos que fossem solicitados para que provessem razes para a tomada de suas decises (Briley, Morris & Simonson, 2000). No obstante, diferenas culturais na escolha comportamental apresentaram resultados apenas quando os participantes foram requisitados para que provessem uma explicao para suas decises, por que "as razes para as escolhas dependem das normas culturais, bem como quilo que aceitvel e persuasivo" (Briley et al., 2000, p. 161).Ao expandir a ideia da caixa de ferramentas, descrita previamente, pesquisadores adotando uma abordagem de dinmica construcionista enfatizam que a aplicabilidade das ferramentas interpretativas contextualmente baseadas depende de uma combinao de fatores e condies fronteirias [ou limitantes/limitadas/restritas]. A aplicao de um "instrumento cognitivo culturalmente partilhado" pode ser mais suscetvel quando uma pessoa est com uma sobrecarga cognitiva, ou quando decises rpidas so requisitadas, por exemplo, pois uma reao espontnea, ao invs de uma considerao deliberativa, mais provvel de emergir naqueles tipos de situaes (Hong & Chiu, 2001). Quando expostos a tais condies, "os indivduos atentos tendem a sacar teorias culturais bem aprendidas, amplamente partilhadas e altamente acessveis" uma vez que estes mesmos indivduos possuiro "menos recursos cognitivos e uma alta/forte necessidade de encerramento" (Hong & Chiu, 2001, p. 189). Inmeros estudos apoiam a ideia de que a ocupao cognitiva e a necessidade de respostas espontneas aumentam o potencial para observar diferenas culturais (Chiu, Morris, Hong & Menon, 2000; Knowles, Morris, Chiu & Hong, 2001; Zrate, Uleman & Voils, 2001).Nesta abordagem, o sociocultural interage com o psquico quando uma estrutura de conhecimento particular, dentre uma rede avulsa de estruturas de conhecimento, ativada de acordo com os fundamentos dos princpios da cognio social bsica (Ver Figura 1.1). Ademais, a dinmica construtivista prov uma contribuio precisa e mecnica das influncias culturais, com uma nfase particular na variao devido aos fatores situacionais e condies "limtrofes" [ou limitadoras] dos efeitos culturais. Portanto, P neste esquema relativamente largo [amplo] em relao SC, por causa da centralidade da teoria da cognio social bsica nesta perspectiva. A situao tambm destacada pois o situacional deve primeiramente ativar o SC, tal como apresentado pela seta vertical que aponta para a flecha horizontal que interliga SC e P. A situao influenciar P, ento, apenas quando as condies situacionais se encontram "prontas" [no ponto - ripe]. As outra quatro abordagens consideram as questes de dinamismo situacional bastante infrequentemente, e de forma a apresentarmos uma compreenso mais completa de como o cultural e o psicolgico interagem, importante compreender sua influncia no psiquismo. O foco desta abordagem, entretanto, est na influncia cultural, mais do que no processo de mtua constituio, pois seu objetivo especificar as condies sob as quais o cultural influencia o psicolgico, ao invs de focar nos processos pelos quais o cultural e o psquico compem um ao outro.No obstante, esta abordagem objetiva promover a noo de que "tais efeitos dramticos podem envolver processos comparveis", no sentido de que "enquanto os aspectos concretos do processo diferem qualitativamente, aspectos mais abstratos do processo operam de forma similar [anloga] atravs de diferentes culturas (Chiu et al., 2000, p. 257). Ademais, Chiu e seus colegas propem que as variaes culturais contrastantes e os processos universais so menos produtivos do que a modulao dinmica da interao entre cultura e mente. Ainda assim, com que tipo de "mente" a "cultura" est interagindo? Embora os componentes da abordagem da caixa de ferramentas e dos modelos culturais, as quais focam primariamente nos processos constituintes (embora de diferentes maneiras), no so, de forma alguma, "meramente relativistas", pois ambos efetivamente argumentam pela noo de que os sistemas psquicos, em nveis bastante bsicos, so modulados pelo sociocultural. Alternativamente, os proponentes da perspectiva dinmico-construtivista aparentam propor que existe um sistema psquico bsico presente, com o qual a cultura s vezes interage. Esta uma outra razo do por qu o P est relativamente ampliado no esquema do modelo dinmico-construtivista. Igualmente, ao conceituar a cultura especialmente