PSICOPATOLOGIA

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Page 1: PSICOPATOLOGIA

PSICOPATOLOGIA – PRIMEIRO BIMESTRE

RESUMO DOS CAPÍTULOS 2, 3, 4 e 5.

Psicopatologia é o ramo da ciência que trata da natureza essencial da doença

mental – suas causas, suas mudanças estruturais e funcionais associadas a ela e

suas formas de manifestação. A psicopatologia tem boa parte de suas raízes na

tradição médica, mas também nutre-se de uma tradição humanística. Limites

existem para a psicopatologia, pois nunca se pode reduzir por completo o ser

humano a conceitos psicopatológicos, não se pode compreender ou explicar tudo o

que existe em um homem por meio de conceitos psicopatológicos. Sempre resta

algo que transcende à psicopatologia e mesmo à ciência, permanecendo no domínio

do mistério.

Quando se estudam os sintomas psicopatológicos, dois aspectos básicos

costumam ser enfocados: a forma dos sintomas e seu conteúdo. A forma dos

sintomas se refere a sua estrutura básica, relativamente semelhante nos diversos

pacientes (alucinação, delírio, idéia obsessiva, labilidade afetiva, etc.); o conteúdo,

àquilo que preenche a alteração estrutural (conteúdo de culpa, religioso, de

perseguição, etc.), sendo geralmente mais pessoal, dependendo da história de vida

do paciente, de seu universo cultural e da personalidade prévia ao adoecimento. Os

conteúdos dos sintomas estão relacionados, geralmente, aos temas centrais da

existência humana: sobrevivência e segurança, sexualidade, temores básicos

(morte, doença, miséria, etc.), religiosidade, entre outros.

O estudo da doença mental, como o de qualquer outro objeto, inicia pela

observação cuidadosa de suas manifestações. Distinguem-se três tipos de

fenômenos humanos para a psicopatologia:

- fenômenos semelhantes em todas as pessoas: como fome, sede, sono;

- fenômenos em parte semelhantes e em parte diferentes: o homem

comum experimenta, mas apenas em parte são semelhantes aos que o doente

mental vivencia. Ex.: tristeza, depressão.

- fenômenos qualitativamente novos, diferentes: praticamente próprios

apenas a certas doenças e estados mentais. Ex.: alucinações, delírios, turvações da

consciência, alteração da cognição nas demências, etc..

Page 2: PSICOPATOLOGIA

O conceito de normalidade em psicopatologia varia em detrimento das áreas

de saúde mental e também das opções filosóficas, ideológicas e pragmáticas do

profissional. Os principais critérios de normalidade utilizados em psicopatologia são:

a) Normalidade como ausência de doença : normal (ausência de sintomas, de

sinais ou de doenças) seria, do ponto de vista psicopatológico, aquele

indivíduo que simplesmente não é portador de um transtorno mental definido;

b) Normalidade ideal : estabelece-se arbitrariamente uma norma ideal, o que é

supostamente sadio, que é socialmente constituída e referendada. Baseiam-

se, por exemplo, na adaptação do indivíduo às normas morais e políticas de

determinada sociedade (como o macarthismo e o “diagnóstico” de dissidentes

políticos da URSS como doentes mentais).

c) Normalidade estatística : o normal passa a ser aquilo que se observa com

mais freqüência.

d) Normalidade como bem-estar : baseado no conceito de saúde da OMS. No

entanto, bem-estar é algo difícil de se definir objetivamente.

e) Normalidade funcional : baseia-se em aspectos funcionais; o fenômeno é

considerado patológico a partir do momento em que produz sofrimento para o

próprio indivíduo ou para o seu grupo social.

f) Normalidade como processo : consideram-se os aspectos dinâmicos do

desenvolvimento psicossocial, das desestruturações e das reestruturações ao

longo do tempo, de crises, de mudanças próprias a certos períodos etários.

g) Normalidade subjetiva : ênfase à percepção subjetiva do próprio indivíduo

em relação ao seu estado de saúde.

h) Normalidade como liberdade : a doença mental seria considerada como

perda da liberdade existencial; a saúde mental poderia ser vista como a

possibilidade de dispor de ‘senso de realidade, sendo de humor e de um

sentido poético perante a vida’, atributos estes que permitiriam ao indivíduo

‘relativizar1 os sofrimentos e as limitações inerentes á condição humana e,

assim, desfrutar do resquício de liberdade e prazer que a existência oferece.

i) Normalidade operacional : define-se, a priori, o que é normal e o que é

patológico e busca-se trabalhar operacionalmente com esses conceitos.

Page 3: PSICOPATOLOGIA

A boa prática em saúde mental implica a combinação hábil e equilibrada de

uma abordagem descritiva, diagnóstica e objetiva e uma abordagem dinâmica,

pessoal e subjetiva do doente e de sua doença.

Apesar de ser absolutamente imprescindível considerar os aspectos pessoais,

singulares de cada indivíduo, sem um diagnóstico psicopatológico aprofundado não

se pode nem compreender adequadamente o paciente e seu sofrimento, nem

escolher o tipo de estratégia terapêutica mais apropriado. O diagnóstico de um

transtorno psiquiátrico é quase sempre baseado preponderantemente nos dados

clínicos, mesmo tendo procedimentos e exames auxiliares (como testes

laboratoriais, exames de neuroimagem, etc.), pois o essencial de um diagnóstico

psicopatológico é uma história bem-colhida e um exame psíquico minucioso, ambos

interpretados com habilidade. Deve-se manter duas linhas paralelas de raciocínio

clínico: uma linha diagnóstica, baseada fundamentalmente na cuidadosa descrição

evolutiva e atual dos sintomas que de fato o paciente apresenta, e uma linha

etiológica, que busca, na totalidade de dados biológicos, psicológicos e sociais, uma

formulação hipotética plausível sobre os possíveis fatores etiológicos envolvidos no

caso. Não há sintomas patognomônicos em psiquiatria.

Assim, o diagnóstico psicopatológico repousa sobre a totalidade dos dados

clínicos, momentâneos (exame psíquico) e evolutivos (anamnese, história dos

sintomas e evolução do transtorno). É essa totalidade clínica que, detectada,

avaliada e interpretada com conhecimento (teórico e científico) e habilidade (clínica

e intuitiva), conduz ao diagnóstico psicopatológico.