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Revelando a História do São João e Região Nossa Cidade, Nossos Bairros!

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QUAL O LUGAR DOS NOSSOS LUGARES NA HISTÓRIA?E QUAIS OS NOSSOS OLHARES PARA ESSES OLHARES?

Os locais onde habita e estuda a maior parte do povo brasileiro são retratados pelos moder-nos meios de comunicação social como inseguros e feios. As imagens tidas como belas mostram o círculo de convivência dos chamados incluídos no alto mercado de consumo.

Nos grandes centros urbanos, as notícias sobre os bairros periféricos dão maior ênfase ao lado negativo do dia a dia das pessoas: mortes, enchentes, escorregamentos, assaltos, brigas, etc, e muito raramente são abordados aspectos de relevância histórico-ambiental.

Ressaltamos que são informações que contribuem para a construção da baixa estima dos moradores e ao mesmo tempo funciona como uma contra propaganda à política de resgate e pre-servação do patrimônio natural e social dos locais de moradia da maioria da população.

A cidade de Guarulhos, “naturalmente”, está inserida nesse contexto. O problema se agrava na medida em que o sistema educacional não cria mecanismos que permitam o desenvolvimento do conhecimento histórico, geográfico, geológico, biológico, cultural e religioso, por exemplo, de cada localidade.

Encontramos na história tradicional um exemplo nada recomendável. De modo geral, a lógi-ca do ensino de história é a de estudar os grandes fatos dos países, dos continentes e do mundo, desvinculados da história das localidades. A geografia e a história dos lugares onde as pessoas habitam – municípios, vilas, bairros, povoados, ruas, fazendas, serras, bacias hidrográficas etc. – não fazem parte do ensino escolar. É como se a maioria dos lugares onde moramos não tivesse sido palco de acontecimentos históricos. Isso não é uma brutal contradição do sistema de ensino atualmente?... Por que isso acontece?

PROJETO SABERES LOCAISAo longo do ano de 2009, educadores da Rede Municipal de Ensino de Guarulhos elaboraram

a Proposta Curricular Quadro de Saberes Necessários (QSN), destinada a orientar as suas ativida-des em sala de aula, destacando o eixo Natureza e Sociedade.

Para dar resposta prática ao QSN e preocupada com a importância do registro histórico dos bairros de Guarulhos, sem perder de vista o contexto regional, nacional e mesmo internacional, a Secretaria de Educação de Guarulhos, em parceria com as Diretorias Norte e Sul de Ensino, com pessoas, grupos e organizações da sociedade civil decidiram trazer para si a responsabilidade de publicar oito livros sobre as localidades habitadas pelos guarulhenses.

O Projeto Saberes Locais surgiu numa discussão, realizada em 2009, no Colégio Particular Paulo Freire, localizado na Cidade Seródio, encampado pela Secretaria Municipal de Educação de Guarulhos. O Projeto Saberes Locais foi inaugurado com a publicação do livro: Revelando a história do Bonsucesso e Região, lançado no dia 21 de agosto de 2010.

O Projeto Saberes Locais tem continuidade com o Revelando a História do São João e Região, procurando contemplar, sob forma de livro, material de consulta para as futuras gerações, a memó-ria, a vivência e as expectativas de milhares de moradores, protagonistas da história de Guarulhos.

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Nossa Cidade, Nossos Bairros!

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NOSSA CIDADE, NOSSOS BAIRROS! - REVELANDO A HISTÓRIA DO SÃO JOÃO E REGIÃO

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Revelando a História doSão João e Região

Nossa Cidade, Nossos Bairros!

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REVELANDO A HISTÓRIA DO SÃO JOÃO E REGIÃO - NOSSA CIDADE, NOSSOS BAIRROS!

Editor ResponsávelNelson de Aquino Azevedo

Projeto Gráfico, Capa e DiagramaçãoBraz Cardoso Junior

AutoresDaniel Carlos de CamposElton Soares de OliveiraJosé Abílio Ferreira

RevisãoSirlene Barbosa

MapasDaniel Carlos de Campos

FotosAgradecimentos especiais à cessão de uso de imagens à família Zancanaro, Rubens de Almeida Barbosa, Ilário Guardão, Maurício Burim, João Rinali, à família de Sylvio Rinaldi Barbosa e a todas as pessoas e entidades que colaboraram com textos, depoimentos e fotos para que essa publicação fosse concluída.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

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Campos, Daniel Carlos de Revelando a história do São João e região : nossa cidade, nossos bairros! / Daniel Carlos de Campos, Elton Soares de Oliveira, José Abílio Ferreira [fotos Stefani Martini]. -- São Paulo : Noovha América, 2011. -- (Série saberes locais)

Bibliografia ISBN 978-85-7673-263-1

1. Bairros - Guarulhos (SP) - Descrição 2. Bairros - Guarulhos (SP) - História 3. Guarulhos (SP) - História I. Oliveira, Elton Soares de. II. Ferreira, José Abílio. III. Título. IV. Série.

11-07554 CDD-981.612_________________________________________________________

Índices para catálogo sistemático:

1. Bairros : Guarulhos : São Paulo : Estado : História 981.612

1a edição2011

(DeacordocomaNovaOrtografiadaLínguaPortuguesa)

Todos os direitos desta edição reservados à

Noovha América Editora Distribuidora de Livros Ltda.

Rua Lincoln Albuquerque, 319 - Perdizes

São Paulo/SP - CEP 05004-010

Telefax: (0xx11) 3675-5488

Canais para mineração de ouro, feito por escravos nas proximidades da Senzala da Tapera Velha – Serra do Itaberaba (2010).

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REVELANDO A HISTÓRIA DO SÃO JOÃO E REGIÃO

Com 1.221.979 habitantes, Guarulhos completou 450 anos de fundação no dia 8 de dezembro de 2010. Em comum com algumas importantes cidades brasi-leiras, Guarulhos tem algo de muito particular. Os nomes dos bairros Bonsucesso, São João, Taboão e Lavras, por exemplo, encontram-se entre os mais antigos do território paulista e nacional.

Quando nos perguntamos por onde deveríamos começar o Projeto Saberes Locais, levamos em consideração exatamente a história e a tradição do bairro Bon-sucesso, com seu comportamento empresarial e festas culturais e religiosas que envolvem todo seu povo, além de boa parte da cidade.

Nossa cidade possui 47 bairros e mais de 500 loteamentos, cada um com as suas particularidades. A Vila Galvão é diferente do Cabuçu, do Jardim Presidente Dutra, que é diferente do Inocoop, do Cecap e do Centro, que por sua vez difere do São João.

Foi pensando nisso que surgiu o Projeto Saberes Locais, que de Bonsucesso e do São João já caminha para o Pimentas. Enquanto trabalhamos no Projeto, em muitosmomentostemosasensaçãodeestarrevelandopontosnegativosquefica-ram perdidos durante muitos anos.

Nosso objetivo com este trabalho é organizar o maior volume possível de informações sobre as regiões, não apenas para documentar, mas também para for-necer subsídios à própria comunidade a partir dos ensinamentos proporcionados às nossas crianças.

A Rede Municipal de Educação têm 138 escolas, cinco Centros de Educação Unificados(CEU),116milalunosecercadecincomileducadores.Até2012serãoconstruídas mais 40 novas escolas, entre elas dez CEUs, o que aumentará, substan-cialmente, o número de alunos e professores.

O volume de informações que circula diariamente numa rede com as propor-ções da nossa é quase imensurável, porém estamos convencidos de que as escolas da Prefeitura precisam se apropriar do conhecimento da comunidade instalada no seu entorno, até porque a unidade escolar é parte da comunidade local.

A linha do Projeto Saberes Locais tem interface com o Quadro de Saberes Necessários (QSN), a nova proposta curricular da rede municipal que, entre muitas outras abordagens, preocupa-se com o que os alunos da rede municipal, da Creche ao Ensino Fundamental, devem aprender.

O grupo de trabalho responsável pelo levantamento de dados do Projeto Sa-beres Locais é formado por professores das redes municipal, estadual e particular, moradores e lideranças locais, ou seja, gente que conhece a fundo a história do bairro em que moram. Para reunir as informações, diversas reuniões e seminários foram realizados com todos os atores envolvidos no processo.

Com os dados, a Secretaria de Educação irá elaborar, além dos livros, tam-bém vídeos. Esse material será disponibilizado para as escolas da Prefeitura, para as escolas estaduais e particulares e bibliotecas públicas da cidade.

Com o Projeto Saberes Locais, oferecemos mais uma contribuição para a melhoria da qualidade social da educação em nosso município, a partir da formação de alunos críticos, cidadãos autônomos que representam a possibilidade real de dias melhores num futuro próximo.

Prof.a Neide Marcondes GarciaSecretária de Educação.

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Imagem acima – Granja Aliança, de propriedade de Marcial Lourenço Seródio, implantada em 1930. Foto de 3/12/1949.Imagem abaixo – Administração Regional São João, situado nas antigas instalações da Granja Aliança.

AgradecimentosNão conseguiríamos o resultado em nossa pesquisa sobre a região do São João se não

tivesse existido a participação de todos citados a seguir, a quem agradecemos: à diretora do Departamento de Orientações Educacionais e Pedagógicas, Sandra Soria e equipe; em espe-cial aos senhores Maria Aparecida Contin, Nery Nice Osmondes Travassos; diretor do Depar-tamento de Manutenção de Próprios da Educação, Luiz Fernando Sapun e equipe; arquiteta Adriana Fuga; Moisés, fotógrafo; Antônio Bertozi; Donizete Bertozi; Valadar Dehein; Alemão do Arueira; dona Umbelina; Paulo Carvalho; Cido Cruz; Celso Luiz Pinho; Carlinhos; Arlete; Márcia; Luiz Roberto Mesquita; Assis de Almeida (in memorian); Carlinhos Zancanaro; Dr. Alaor; dentre outros.

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ColaboradoresElio de Assis, da Diretoria Estadual de Ensino Norte; Edith Alves de Souza e Guilherme

Gonçalves, diretores do Centro de Convivência Educacional do Colégio Paulo Freire; Sandra Lúcia dos Santos Abreu; historiador Benedito Prezia; padre Renato Bernardes Duarte; biólogo David de Almeida Braga; geólogos Edson José de Barros e Annabel Pérez-Aguilar; Cristina Ma-ria dos Santos, Maria Zélia de Brito Souza e Sandra Maria de Oliveira Pimenta, do Arquivo His-tórico Municipal; historiadora Maria Cláudia Vieira Fernandes; e a Gláucia Garcia de Carvalho.

Diretores de escolas da Rede Municipal de Ensino: Paulo de Tarso Andrade Almada, Roberto de Castro Pereira, Rosa Maria Mendroni, Viviane Cristina Dos Santos, Luiz Fernando Nogueira, Gina Vigano, Maria Aparecida Cândida Gonçalves, José Aparecido da Silva, Elenice Satoko Sato Miyazaki, Maria de Deus Estevinho Lopes Giannattasio, Maria de Fátima Xime-nes, Adilson Pinto Pacheco, José Aécio Oliveira Silva, Mirian Pires Jacintho, Bernadete Pereira de Santana, Marlene Batagin e Rita de Cássia Cardoso.

Diretores de escolas da Rede Estadual de Ensino: Marisa Caires Pena Pessoa, Rosemeire D. Zancanaro Passos, Quitéria Gomes Maciel Souto, Adauto Terakado, Maria Gertrude de Oli-veira, Ivonete Rosa Sampaio de Araújo, Silvana Silva e Silva, Maria Ednalva Carvalho Souza Maringoli, Regina Ferreira Alvarenga e Silva, Nilma Maria Figueiredo Gaspar, Roseane Mar-tins Malafatti, Juvercina Carvalho Pereira Laranjeiro, Giseli de Jesus Carneiro, Carlos Alberto de Souza, Luciana Marta Rodrigues Ramos Ferreira, Ângela Maria Ferraz Gonçalves Maleca, Maria Angélica Zuccoloto e Antonio Alberto de Azevedo.

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sUMÁRIO

1 - Nossa Cidade, Nossos Bairros 9

2 - A Igreja Católica nas Origens de Guarulhos 15

3 - Origens do São João e Região 25

4 - Localização Geográfica, Bairros e Loteamentos da Região 31

5 - Paisagens e Recursos Naturais 39

6 - Formação Socioeconômica 53

7 - Diversidade Étnica, Cultural, Religiosa, Resistências e Lutas do Povo 73

8 - Breve Histórico da Educação. Bairros, Loteamentos e suas Escolas 79

9 - Circuitos Turísticos 111

10 - Símbolos Oficiais 117

Referências Bibliográficas 128

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1Nossa Cidade,

Nossos Bairros

Para a realização do Projeto Saberes Lo-cais, elencamos seis aspectos que consideramos relevantes na história de Guarulhos: a constituição geológica, os primeiros habitantes, a chegada dos colonizadores portugueses, a escravização de po-vos indígenas e africanos, a presença dos imigran-tes (estrangeiros e nacionais) e o processo de ex-pansão urbana e de desenvolvimento econômico.

Neste capítulo, mostraremos os momentos iniciais da colonização portuguesa no território guarulhense, processo ocorrido, oficialmente, apartir do aldeamento jesuítico em 8 de dezembro de 1560, dia de Nossa Senhora da Conceição, 60 anos após o desembarque da frota de Pedro Álva-res Cabral em Porto Seguro, na Bahia. Procurare-mos reconstituir a participação da Igreja Católica no povoamento de Guarulhos, a importância da mineração de ouro para a implantação das primei-ras estruturas urbanas locais, a abertura dos cami-nhos, o surgimento das primeiras fazendas e dos primeiros bairros. É nesse cenário que encontrare-mos as referências mais antigas sobre o território da região São João.

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Aldeamento missionário jesuítico, a partir de ilustração do holandês Zacarias Wagner, comitiva deMaurício de Nassau (c. 1630).

OS PRIMEIROS HABITANTES, OS BANDEIRANTES E OS JESUÍTASA primeira atividade econômica na cidade

foi a mineração de ouro, iniciada há 414 anos, com a descoberta, em 1597, das antigas lavras de Nossa Senhora da Conceição, atribuída ao ban-deirante paulista Afonso Sardinha, o velho, e a seufilhoAfonsoSardinha,omoço.Talatividadeéprecursoradaexpansãourbanaqueseverificaatualmente no município.

Em 1598, d. Francisco de Souza, então go-vernador-geral do Brasil, mandou trazer do Espí-rito Santo 200 índios para as minas de ouro de São Paulo. Entre essas minas constava um garimpo de ouro na Serra do Jaguamimbaba, em Guarulhos. A mineração de ouro em nossa cidade, portanto, antecede em 100 anos a de Minas Gerais.

Os paleoíndios Maromomi, primeiros a “habitar” Guarulhos, sendo coletores, não se de-dicavam à construção de estruturas, exceto tri-lhas para a locomoção em busca de frutos, raízes, mel, caça e pesca. Assim, as primeiras estruturas urbanas do município (estradas, moradias e agri-culturadesubsistência)vieramporinfluênciadamineração de ouro.

Memorialistas guarulhenses como João Ra-nali, Adolfo de Vasconcelos Noronha e Gaspari-no José Romão levantam a possibilidade de que Guarulhos tenha sido fundada na segunda metade

Acima, antiga garagem de ônibus, espaço apontado como sendo a localização da fundação de Guarulhos, em 1560.

Abaixo, dança Puri, povo aparentando os Maromomi.

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Para refletir!Qual a origem da região São João?Qual a relação entre os aspectos naturais e o povoamento?Quais os principais acontecimentos históricos da região?

do século XVI, mais precisamente em 8 de de-zembro de 1560, com o nome de Aldeia de Nossa Senhora da Conceição dos Guarulhos. Além da aldeia, uma capela e um cemitério indígena esta-riam situados nas proximidades do atual Centro Expandido (Vila Moreira), numa quadra locali-zada entre as ruas Silvestre Vasconcelos Calmon, José Esperança da Conceição e Barão de Mauá e a Avenida Guarulhos (foto na página anterior).

A aldeia teria permanecido no referido local por certo período, sendo depois transferida para a colina do centro, onde se encontra atualmente a Igreja Matriz, na Praça Tereza Cristina. Com base nas conclusões desses memorialistas – embora não haja documentação histórica que comprove tais conclusões –, a Câmara de Vereadores votou, em 1983, a Lei no 2.789, que reconhece o nome do padre Manuel de Paiva como fundador da al-deia, substituindo o nome do padre João Álvares, mencionado no Hino a Guarulhos (1960), tido até então como possível fundador da cidade.

Noronha (1960), discutindo o início da mineração de ouro, traz a seguinte constatação do historiador Aureliano Leite: “aos 1560, Brás Cubas descobre ouro na sua vasta sesmaria, que chega quase à margem esquerda do Rio Anhembi [Tietê], comunicando isso ao rei, aos 25 de abril de 1562”. E acrescenta: “Ainda em 1560, uma nação silvícola inicia a povoação de Guarulhos”.

Para o pesquisador de história indígena, Benedito Prezia, baseado na documentação jesu-ítica (LEITE, 1937, p. 503-504) e nas Atas da Câmara de São Paulo (ACSP, 1915, V), Guaru-lhos foi fundada em 1608, com o nome de Nos-sa Senhora da Conceição dos Maromomi, sendo que o nome foi mudado para Nossa Senhora da Conceição dos Guarulhos, em 1630. Após a ex-pulsão dos jesuítas da cidade de São Paulo, em 1640, esses indígenas abandonaram em massa amissão,indoparaaregiãodeAtibaia,ficandoapenas alguns poucos morando em volta da Ca-pela da Conceição [atual Igreja Matiz], que era um local de romaria.

Pelo visto, a polêmica acerca do local e da data de fundação da cidade merece mais estudos.

No que diz respeito à constatação de Benedito Prezia, uma das hipóteses que deve ser levada em consideração é a possibilidade de que a aldeia tenhasidoedificadainicialmentenaVilaMoreira(1560) e em princípios do século XVII tenha sido transferida para as imediações da Igreja Matriz, na Praça Tereza Cristina.

Torre da Igreja Matriz, nas margens da Estrada Geral.

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Estradas Guarulhos-Nazaré, Lavras e Saboó: Caminhos das lavras de ouro.

Com a abertura do Caminho Novo por Magé e Petrópolis, na Capitania do Rio de Ja-neiro, a ligação entre Guaratinguetá e o Cami-nho Velho para Minas Gerais ficou obsoleta. Entretanto, em Santa Anna e em Conceição (Guarulhos) ainda era praticado um caminho por São Pedro, Sapucaí e a Serra de Mogi--Açu, percurso mais curto para os paulistas atingirem as Minas Gerais e as trilhas para Goiás e Mato Grosso.

O Caminho de São Paulo foi objeto de muitos relatos, entre eles o Itinerário de Glim-mer e o Roteiro do Padre Faria, que o deno-mina como Estrada Real do Sertão. Originado numa antiga trilha indígena, percorrida pelos índios Guaianases, era primitivamente conhe-cida como Trilha dos Guaianases.

O trajeto iniciava-se na altura da atual Jundiaí, passava por São Paulo de Piratininga e alcança-va as margens do Rio Paraíba do Sul, onde, em função do garimpo, se constituíram diversos arraiais – Mogi das Cruzes (que posteriormente declinaria em favor de Guarulhos, gerando uma variante do percurso), Jacareí, Taubaté, Pindamonhangaba e Guaratinguetá, que até o século XVIII se constituiu no maior entroncamento viário da região Centro-Sul da Colônia. (Fonte: Wikipédia)

“Partindo da cidade de São Paulo, na Capitania de São Vicente, Chegamos, pri-meiro à povoação de São Miguel [Paulista] (distante de São Paulo cinco ou seis léguas para a Nascente), à margem do Rio Anhembi [Tietê atual], e nesse lugar achamos prepara-das as provisões que os selvagens tinham de carregar nos ombros. Atravessamos, depois, aquelle rio e, com uma marcha de quatro ou cinco dias a pé, através de densas mattas, seguimos rumo de Norte, até um riacho que nasce nos montes Guarimumis, ou Marumimi-nis, onde há minas de ouro. Aqui, apparel-hadas algumas canoas de casca de árvores, continuamos rio abaixo...”. Roteiro de Wilhelm Glymmer de 1601. Na Capitania de São Vi-cente, Washington Luiz, pág. 291.

EVOLUÇÃO POLÍTICO-ADMINISTRATIVA

Dos 451 anos de fundação de Guarulhos, 320 anos (1560 a 1880) correspondem ao período em que a vida política e administrativa da cidade esteve subordinada a São Paulo – primeiro como aldeia (1560) e distrito (1675), depois como fre-guesia (1685 a 23 de março de 1880). A eman-cipação de Guarulhos como vila independente

Conceição (hoje Guarulhos), em mapa do arquivo do Estado de 1766.

Capela de São Miguel Arcanjo, em São Miguel Paulista, 1921.

de São Paulo dos Campos de Piratininga acon-teceu no dia 24 de março de 1880, por meio da Lei Provincial no 34, acontecimento que marca a criação dos Três Poderes (Legislativo, Executi-vo e Judiciário). Guarulhos, então, passou a ser chamado de Vila de Nossa Senhora da Conceição dos Guarulhos ou, simplesmente, Conceição dos

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Guarulhos, ou ainda Conceição, em referência a sua santa padroeira.

No dia 6 de novembro de 1906, por meio da Lei no 1.021, passou a denominar-se apenas Gua-rulhos. Logo a seguir, em 19 de dezembro do mes-mo ano, mediante a Lei no 1.038, a Vila de Gua-rulhos foi elevada à categoria de cidade, que então possuía 5 mil habitantes. A instalação da Comarca – primeira vara do Poder Judiciário – aconteceu no dia 18 de fevereiro de 1956, com o cumprimento da Lei no 2.456, de 30 de dezembro de 1953.

O território de Guarulhos sofreu diminui-ção em duas ocasiões. A primeira foi em 1886, quando a Freguesia da Penha, pertencente a Gua-rulhos durante certo período, voltou a integrar São Paulo. A segunda foi em 1889, quando a Freguesia de Juquery (atual cidade de Mairiporã) emancipou-se de Guarulhos e tornou-se vila.

De uma aldeia de indígenas coletores à uma cidade que ocupa a 9a posição na economia nacio-nal. Ao longo desse processo, a mudança principal ocorreu no modo de organização social, que pas-sou de uma sociedade nômade para um estilo de vida de hábitos sedentários. Como coletores que viviam da pesca, da caça e da coleta de frutos, os primeiros habitantes da região de Guarulhos – os Maromomi – costumavam permanecer nos espa-ços tempo suficiente para saciar a fome, ou en-quanto o seu alimento predileto não se esgotava. Já uma cidade industrial caracteriza-se por um tipo deorganização social cujas atividades sãofixas,

Esquina das ruas D. Pedro II e Felício Marcondes, onde foi implantada a primeira sede da Câmara Municipal (1881).

Paço Municipal no bairro Bom Clima, em 1976.

Para saber mais!1. Notícias das Minas de São Paulo e dos Sertões da

Mesma Capitania. Pedro Taques de Almeida Paes Leme. 2. IV Centenário Guarulhos. 1560-1960. Adolfo de

Vasconcelos Noronha. PMG, 1960.3. Conversão dos Cativos. Benedito Prezia. Nhan-

duti, 2009.4. Brasil: uma história. Eduardo Bueno. Ática, 2003.

com largo avanço do desenvolvimento das forças produtivas e com extensa área urbana.

O modelo de atividade econômica na cida-de, corresponde a chegada de diferentes povos: o período coletor dos Maromomi, o ciclo do ouro dos primeiros colonizadores portugueses e dos negros trazidos do Continente Africano, a fase do tijolo cozido, a presença dos imigrantes es-trangeiros (italianos, alemães, espanhóis, libane-ses e japoneses), o desenvolvimento industrial e a chegada dos imigrantes nacionais (nordestinos, mineiros, paranaenses, gaúchos, paulistas do in-terior, entre outros). Não existe estatística, mas certamente em Guarulhos habitam mais de uma centena de etnias de todos os continentes, retrato de uma cidade de grande diversidade étnica, cul-turalereligiosa,commuitosdesafiospelafrente.

A implantação do novo modelo de atividades econômica e social corresponde à diferentes for-mas de administração do aparelho do Estado, quase sempre voltadas para os interesses dos mais ricos. Atualmente, os poucos avanços democráticos, no aparelhodoEstadoqueseverificamsãorepresen-tados pelas conquistas das lutas dos trabalhadores rurais e urbanos.

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2a igreja CatóliCa

Nas origeNs de guarulhos

Os primeiros jesuítas a desembarcarem no Brasil, entre eles o padre Manoel da Nóbrega, vieram na esquadra do primeiro governador-geral, Tomé de Souza, que chegava ao País com a missão de consolidar o projeto português de colonização das terras recém-descobertas, que até então (1549) não havia passado da faixa litorânea de algumas capitanias do Nordeste e na de São Vicente.

Naquele momento era preciso centralizar o poder, proteger o território, tanto das investidas estrangeiras, quanto dos ataques dos indígenas re-beldes, redistribuir terras e incentivar as incursões para o interior do País. Nesse sentido, a Igreja Ca-tólica, representada pela ação catequizadora dos jesuítas, foi fundamental, sendo responsável pela fundação não só de Guarulhos, como de todas as demais povoações do período.

Nas próximas páginas, três textos de autoria de Benedito Prezia nos ajudam a entender melhor como ocorreu esse processo.

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REVELANDO A HISTÓRIA DO SÃO JOÃO E REGIÃO - NOSSA CIDADE, NOSSOS BAIRROS!

DEVOÇÕES À VIRGEM DA CONCEIÇÃO, AO BOM JESUS, À NOSSA SENHORA DO BONSUCESSO, AO ROSÁRIO E O CULTO À SÃO BENEDITO

Por Benedito Prezia1

Muito se tem escrito sobre o catolicismo po-pular colonial no Brasil e especialmente em São Paulo, embora algumas questões ainda estejam por responder, como a grande expansão que teve o grande culto de Nossa Senhora da Conceição.

Na Capitania de São Paulo havia muitas vi-las e igrejas dedicadas à Maria, sob essa invocação, como a Capela da Missão de Pinheiros, a Capela da Conceição dos Maromomi ou Guarulhos, na região de Piratininga, a Vila de Conceição de Itanhaém, no litoral, Nossa Senhora da Conceição da Parahy-ba (atual Jacareí) e Cunha, no Vale do Paraíba. No interior, aparecem igrejas a ela dedicadas, como em Campinas, Araçariguama e Capão Bonito.

O padre Antônio Vieira, num belo sermão proferido na Festa da Natividade de Maria, ex-plicava porque as pessoas invocavam com vários nomes a mãe do Senhor:

Perguntai aos enfermos para que nasce esta celestial Menina, dir-vos-ão que nasce para Senho-ra da Saúde; perguntai aos pobres, dirão que nasce para Senhora dos Remédios; perguntai aos desam-

parados, dirão que nasce para Senhora do Ampa-ro; perguntai aos desconsolados, dirão que nasce para Senhora da Consolação; perguntai aos tristes, dirão que nasce para Senhora dos Prazeres; per-guntai aos desesperados, dirão que nasce para Se-nhora da Esperança. Os cegos dirão que nasce para Senhora da Luz; os discordes, para Senhora da Paz; os desencaminhados, para Senhora da Guia; os ca-tivos, para Senhora do Livramento; os cercados, para Senhora da Vitória. Dirão os pleiteantes que nasce para Senhora do Bom Despacho; os nave-gantes, para Senhora da Boa Viagem; os temerosos da sua fortuna, para Senhora do Bonsucesso; os desconfiados da vida, para Senhora da Boa Morte; os pecadores todos, para Senhora da Graça; e todos os seus devotos, para Senhora da Glória. E se todas estas vozes se unirem em uma só voz, dirão que nas-ceu para ser Maria e Mãe de Jesus2.

A devoção de Nossa Senhora do Bonsu-cesso surge num contexto de exploração mineral. Convém lembrar que o início da ocupação da re-gião do Bonsucesso está ligado à descoberta de ouro no Ribeirão Maquirobu ou Maquirivu, atual Rio Baquirivu Guaçu, feita por Geraldo Correia Sardinha, em 1612. Se a Senhora do Bonsucesso é invocada para pedir “aumento de fortuna”, por que seria invocada a Senhora da Conceição?

Esse título recorda que a Virgem Maria, mãe do Filho de Deus, é concebida sem pecado

1. Antropólogo e pesquisador da história indígena.2. Sermão do Nascimento da Mãe de Deus. In: Sermões, 1908, v. 9, p. 249.

Igreja de Nossa Senhora da Conceição. Reforma de 1967, substituição das paredes de taipa por tijolos cozidos.

Acervo de Rubens de Almeida Barbosa.

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original. Essa doutrina, um tanto polêmica preci-sou ser declarada como dogma de fé cristã pelo papa Pio IX, em 1854.

Aiconografiacatólicadaépocabuscoure-presentá-la a partir de uma descrição da Virgem, feita pelo livro do Apocalipse, na Bíblia. De ma-neira simbólica, o apóstolo João descreve uma Virgemqueacabavadedaràluzumfilho,estando“vestida de sol, tendo a lua sob os pés e sobre a cabeça uma coroa de doze estrelas”, e esmagando a cabeça de um dragão cor-de-fogo (Ap 12-1-4).

Numa região como o Brasil seiscentista, onde as práticas tradicionais indígenas iam na contramão das leis cristãs, como a poligamia, os rituais antropofágicos e certa libertinagem sexu-al, nada melhor do que invocar a Virgem sem pe-cado, pisando a cabeça do dragão ou da serpente, para se ter sucesso contra o mal.

Não se pode esquecer que as festas religiosas no Brasil tinham um caráter alegre e profano, her-dado do indígena, para quem a celebração supunha festa, dança e comida. Esse fato incomodou alguns setores da Igreja mais exigentes, como o primeiro bispo da Bahia, d. Pero Fernandes Sardinha, que não aceitava os cantos tupis nas missões jesuíticas.

É também interessante analisar a literatu-ra catequética da primeira fase colonial, como as poesias sacras e o teatro religioso do padre José de Anchieta. O jesuíta dedicou a Nossa Senhora da Conceição pelo menos dois poemas em Tupi: Ave Maria Poranga e Eva, jandé sy ypy.

No primeiro aparece de forma bem explí-cita essa luta do bem contra o mal, em que o re-cém-convertido buscava superar seu passado de impureza e pecado:

Guarda-me, não me deixes cair [no pecado].Afasta os hábitos antigos,não viva brigando,obedeça à palavra de Deus (v. 16-20).O diabo te teme,Apavorando-se de ti.Faze-me forte,Que eu me erga contra o mal,para sempre destruído (v. 51-55)3.

Com essa devoção, ao mostrar a suprema-cia da Senhora, o cristão pedia-lhe forças para não retornar aos antigos costumes.

Penso que esta pode ser uma das chaves de leitura para se entender a expansão do culto ma-riano da Conceição.

QuantoaGuarulhos,especificamente,con-vém observar que a Igreja da Missão, em 1623, já era tida como local de peregrinação, como se lê nas Atas da Câmara de São Paulo4. Em 1628, um morador pedia a seu testamenteiro que fosse cumprir “uma romaria à Senhora da Conceição dos Maromemis [Maromomis]”, para pagar cer-tamente alguma promessa5.

Com a expulsão dos jesuítas e com a fuga em massa dos indígenas, que abandonaram a mis-são, vários colonos passaram a construir residên-cias em torno da capela, dando origem à Vila da Conceição dos Guarulhos,quefinalmentepassoua se chamar Guarulhos.

Na metade do século XVII, a devoção à Virgem Imaculada Conceição teve outro incre-mento, quando em 1646 o rei d. João IV dedicou--lhe todas as colônias de ultramar, como forma de agradecer o fato de Portugal ter se tornado inde-pendente da Espanha.

3. Estes poemas, numa edição bilíngue, encontram-se em ANCHIETA, J. Poesias. Itatiaia/Edusp, 1989, v. 16-20, p. 607. Ver também o outro poema na p. 663-666.

4. Atas da Câmara de São Paulo, 1915, v. 2, p. 230.5. In: ROMÃO E NORONHA, 1980, p. 37, ap. OMAR, E. Guarulhos tem história, 2008, p. 69.

Igreja de Nossa Senhora do Bonsucesso, em 1960.

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O SENHOR BOM JESUS

A devoção do Senhor Bom Jesus foi herda-da da tradição medieval portuguesa, e encontrou no Brasil um terreno igualmente acolhedor.

O Bom Jesus relembra o Senhor das Dores, cujos sofrimentos se manifestaram na sua conde-nação e morte na cruz.

No Brasil, esse culto aparecerá sob vários no-mes, que lembram os diversos momentos da paixão:

* Senhor do Horto é Jesus no Jardim das Oli-veiras;

* Bom Jesus da Cana-verdeéJesusdaflagela-ção e coroação de espinhos. A cana é a vara que os soldados colocaram em suas mãos durante o escárnio sofrido no palácio de Pilatos;

* Senhor dos Passos é Jesus caminhando com a cruz em direção ao Calvário;

* Senhor do Bonfim ou do Bom Fim é Jesus agonizando na cruz.

Se a cruz de Cristo, devido às guerras reli-giosas contra os árabes e outros povos não cris-tãos, tornou-se estandarte militar de conquista, o

Bom Jesus tornou-se símbolo da humilhação e do sofrimento do ser humano.

A difusão desse culto foi bastante grande na São Paulo colonial.

Santuários importantes surgiram em várias regiões, como em Iguape, Pirapora do Bom Jesus e Bom Jesus dos Perdões. Em muitas vilas havia igrejas que lhe foram dedicadas, como a do Se-nhor do Horto e a do Senhor Bom Jesus, em Itu.

Não se pode esquecer que os maiores san-tuários do Nordeste são dedicados ao Bom Jesus, como em Lapa e Monte Santo, no interior baiano, eaIgrejadoBonfim,emSalvador.

Convém notar, também, que Nossa Senho-ra das Dores foi muito cultuada, sendo padroei-ra de Brotas. Em Cabreúva, no interior paulista, nessa devoção, Maria recebeu o nome de Nossa Senhora da Piedade, quearepresentacomofilhomorto nos braços.

Em Guarulhos também há a Igreja do Bom Jesus do Pirapora, localizada ao lado do Centro Municipal de Educação Adamastor, a Igreja do Bom Jesus da Capelinha, na Estrada Guarulhos-

Capelinha do Bom Jesus do Pirapora, no bairro Macedo. Atual Avenida Monteiro Lobato, antiga Estrada Geral

ou Estrada Velha de Nazaré.

Da esquerda para direita: oratório de bolso dos bandei-rantes; Bom Jesus esculpido em madeira; Bom Jesus, na infância, esculpido em argila; Bom Jesus, esculpido em

argila. Acervo: museu particular de Ilário Guardão(bairro Jardim Paraventi, iniciado em 1950).

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-Nazaré Paulista, e a Igreja do Bom Jesus da Ca-beça, no bairro Cabuçu.

As imagens com cores carregadas do Cristo sofredor encontraram eco tanto nos sentimentos re-ligiosos indígenas, como na alma do povo negro.

Os indígenasficavammuito tocadoscomarepresentação das dores e sofrimento daquele ho-mem santo, enviado por Deus, e que se parecia com alguns Karaíbas que foram rejeitados pelos seus an-tepassados, como narram alguns mitos Tupis.

Além do mais, para o indígena, o sofrimen-to é uma exigência para se conseguir um bem maior, como mostram muitos rituais de iniciação para a vida adulta.

Por isso os rituais de penitência tiveram grande aceitação entre eles, como se lê nas car-tas dos jesuítas. Uma delas, escrita por Anchieta, descreve as cerimônias da Semana Santa em São Paulo de Piratininga:

Nas festas principais, sobretudo quando celebra o nascimento e Paixão do Senhor, con-correm a Piratininga de todos os lugares vizi-nhos, quase todos [indígenas], muitos dias antes. Estão presentes aos divinos ofícios e procissões, disciplinando-se6 até derramar sangue, para o que muito antes aparelham disciplinas com mui-ta diligência. O mesmo fazem noutros tempos, quando por alguma necessidade se fazem pro-cissões. O ofício das trevas fazemo-lo na Igreja,

sem canto, que concluímos tomando uma disci-plina com três Miserere (Misericórdia). Também lhe pregamos a Paixão em sua língua, não sem grande devoção e muitas lágrimas dos ouvintes, que também derramam em abundância nas con-fissões e comunhões7.

Com a introdução dos escravos africanos, que eram tratados com muito rigor na sociedade brasileira,areligiãocatólicaapresentavaafigu-ra de Jesus sofredor, exemplo e refúgio para o cristão, que vive “num vale de lágrimas”. E para aqueles que aceitassem com paciência as agruras desta terra, prometia-se o céu.

6. Disciplinar é flagelar-se com disciplina, que é uma espécie de chicote feito com várias tiras de couro, contendo pontas de ferro nas extremidades.7. Id., Carta ao padre Diego Laynes. 1.06.1560 (CAP, p. 159-160).

Capela do Bom Jesus da Cabeça, no bairro do Cabuçu, construída pelo escravo Raimundo Fortes, em 1850.

Azulejo da Paróquia do Bom Jesus do Cabuçu.

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Ainda hoje, Pirapora do Bom Jesus é um importante local de romaria, acolhendo pessoas de várias classes sociais, que ali chegam de carro, de ônibus, a pé ou a cavalo, forma tradicional de transporte na época colonial.

Tempos atrás, esse santuário era muito popular e frequentado por negros, recentemente saídos da escravidão. Foi o que registrou o antro-pólogo francês Claude Lévi-Strauss, em agosto de 1937, com fotos muito interessantes, onde se veem grupos de negros dançando, batucando e até “em transe”, como anotou esse pesquisador8. Uma antiga tradição une esse santuário à Igreja do Bom Jesus da Cabeça, de Guarulhos.

Segundo reza a lenda, quando a imagem do Bom Jesus foi encontrada em Pirapora, boiando no Rio Tietê, sua forma tosca não agradou os mora-dores. Com o tempo, a cabeça, que parecia muito rústica, foi substituída por outra, mais artística. A peçaoriginalficouguardadanasacristia,atéqueum dia ela teria sido levada para o oratório de uma fazenda no Cabuçu, de propriedade de d. Joaquina Rendon de Toledo, que era irmã do tenente-coro-nel José Arouche de Toledo Rendon, dono de uma grande plantação de chá, no local onde hoje é a

Vila Buarque, na região central da cidade de São Paulo, razão pela qual o viaduto ali construído na década de 1880 tem o nome de Viaduto do Chá. Após a morte de d. Joaquina, como o culto da Cabeça do Bom Jesus já havia se espalhado, a mesma peça teria sido levada para uma capela em Guarulhos9. Segun-do a pesquisadora Da-niele Coutinho, a cabeça tosca encontra-se atual-mente na Cúria Diocese de Mogi das Cruzes.

Podemos terminar essas reflexões, trans-crevendo a oração ao Bom Jesus de Pirapora: “Contemplando o mistério de dor, lembrando na vossa imagem, renovamos a nossa fé. Na luta de cada dia, no sofrimento, em todas as dificulda-des, ficai sempre conosco e mostrai que sois um Bom Jesus”.

8. Saudades do Brasil, Plon, 1994, p. 38 e 39.9. CHANTRAIN, Côn. Godofredo, História do Santuário de Pirapora do Bom Jesus, 2007, p. 5.

Capelinha do Bom Jesus, às margens da Estrada Velha Guarulhos-Nazaré, acesso às lavras de ouro, Minas Gerais, Mato Grosso e Goiás.

Imagem de Nossa Senhora de Sant’Ana, do século XVII, encontrada em Guarulhos. Estilo de escultura sacra de época, esculpida em madei-ra. Acervo: museu particu-lar de Ilário Guardão (bairro Jardim Paraventi, iniciado

em 1950).

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A CAPELA E O CEMITÉRIO DE NOSSA SENHORA DO ROSÁRIO, MÃE DOS HOMENS PRETOS

Guarulhos, como outras vilas paulistas, a partir da metade do século XVIII passou a ter africanos escravizados, que traziam uma cultura diferenciada. Embora tivessem religiões tradi-cionais, uma vez chegados ao Brasil eram todos batizados, sendo obrigados a adotar a religião de seus senhores. Muitos rituais católicos tiveram dificuldadedese imporaosnegros,masoutros

foram bem acolhidos e praticados, como foi o do rosário.

A recitação do rosário ou sua recitação abreviada, que é o terço (uma terça da parte do rosário, com 50 Ave-Marias, intercaladas por cin-co Pais-Nossos), foi amplamente aceita pelos ne-gros, não necessitando leitura, podendo ser feita por rezadores tradicionais. Costumavam rezar to-das as noites na capela da vila ou da fazenda e nas festas o rosário era cantado. A reza do terço ou do rosário foi difundida na Europa por São Domin-gos de Gusmão, fundador dos padres dominica-

Antiga Rua Direita, atual Rua Dom Pedro II (Calçadão – Praça Conselheiro Crispiniano), ao fundo, a antiga Igreja e Cemité-rio da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário – Mãe dos Homens Pretos. Segundo José Ésio Rinaldi (Poli), a foto é datada de 1908. Antes da demolição ocorrida em 1933, a igreja foi incendiada (causa desconhecida). A nova igreja foi construída na esquina das ruas 7 de Setembro e João Gonçalves, em terreno doado pelo sr. Túlio Brancaleone e construída pelo sr.

Juvenal Ramos Barbosa, que era coletor estadual de Guarulhos e residia em frente à igreja, na Rua Direita

A área escura do piso indica a localização provável do edifício da Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, demolida no final da década de 1920. De acordo com a a planta do loteamento da antiga Praça Estrela, a Igreja do Ro-sário fica situada exatamente a 250 metros da Igreja Matriz e possuia 6 metros de largura por 25 metros de extensão.

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Igreja de Nossa Senhora do Bonsucesso, às margens da Estrada Geral, parada de tropeiros. Ao fundo,a Capela de São Benedito, onde também encontra-se a imagem de Santa Ifigênia.

nos, e irradiada no Brasil pelos padres jesuítas, que a introduziram nos aldeamentos indígenas e depois nas fazendas e senzalas.

Por isso, o culto à Senhora do Rosário tor-nou-se muito querido nas comunidades negras, sobretudo as que eram organizadas por meio das confrarias. A confraria era uma associação reli-giosa que reunia pessoas que desejavam seguir o culto de um determinado santo, realizando práti-cas específicas, como reuniões, novenas, festase enterro cristão, sendo este último, muito im-portante para um grupo social excluído, que nem sequer podia ter uma morte digna, pois naquela época os enterros eram caros e nem sempre os senhores se preocupavam com o destino finaldos escravos, que eram muitas vezes enterra-dos em valas comuns. Entretanto, um membro da confraria poderia ter um enterro condigno, com os “irmãos” acompanhantes, cantos e velas,

recebendo uma sepultura cristã no cemitério da igreja de sua confraria.

Assim, surgiram as confrarias de Nossa Se-nhora do Rosário dos Homens Pretos, que acolhiam somente escravos e passaram a ter sua igreja própria e cemitério. A capela e o cemitério de Nossa Senho-ra do Rosário, benta em 1750, na atual Rua Dom Pedro II, ex-Rua Direita, a 250 metros da Matriz, se mantinha numa época em que a Vila resumia--se àquela colina. Com o crescimento da cidade, a capela passou a representar um empecilho para a urbanização do centro. Foi, portanto, demolida no finaldadécadade1920e reconstruídadois anosdepois, em 1930, próximo à Rua Sete de Setembro.

Assim como em Guarulhos, a Igreja do Rosário dos Pretos, no bairro da Penha, locali-zada na margem da Estrada Velha de São Paulo, caminho que em Guarulhos recebeu o nome de Estrada Geral, no início do século XVII.

Mapa do centro de Guarulhos de 1919. Igreja Nossa Senhora do Rosário do Homens Pretos à 250 metros da Igreja Matriz na rua d. Pedro II.

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O CULTO A SÃO BENEDITOAlém da Senhora do Rosário, alguns santos

negros,comoSãoBeneditoeSantaIfigênia,tive-ram seu culto muito difundido no Brasil colonial, com confrarias e igrejas próprias. São Benedito, filhodeescravosafricanos,nasceunaSicíliaem1524, numa época em que essa ilha fazia parte do reino espanhol. Devido à boa conduta dos pais, o senhorconcedeuquetodososseusfilhossetor-nassem livres ao nascer.

Já adulto, Benedito escolheu a vida de ere-mita, vivendo como monge solitário nas monta-nhas da Sicília. Por ordem da Igreja, teve de en-trar para um convento, escolhendo o dos frades capuchinhos, onde trabalhou como cozinheiro por vários anos. Sua humildade e piedade, entre-tanto,fizeramcomquefosseescolhidoparaserformador dos noviços, isto é, dos jovens que in-gressavam no convento. Morreu em 1589, aos 63 anos de idade, tendo realizado muitos milagres, tanto em vida, como depois de sua morte.

No início do século XVIII, os franciscanos portugueses trouxeram seu culto ao Brasil, difun-dido-o entre a população pobre e, sobretudo, en-tre os negros escravizados. Com a descoberta do ouro em Minas Gerais, houve uma grande con-centração de negros nessa região, surgindo ali, então, muitas igrejas e capelas a ele dedicadas.

Em Guarulhos, a Capela de São Benedi-to encontra-se na região do então Bonsucesso, próximo às lavras, onde deveria haver muitas fa-mílias negras. Possivelmente, foi construída no finaldoséculoXVIII,devendoterabrigadotam-

bém uma confraria. Cabe destacar a existência da Capela de Fazenda de São Benedito no bairro da Tapera Grande, localidade de divisa das antigas lavras de ouro de Guarulhos, situada à direita da Estrada Guarulhos Nazaré Paulista, velho cami-nho para Minas Gerais, Mato Grosso e Goiás.

Com a abolição da escravatura, em 13 de maio de 1888, em muitos locais, sua festa passou a ser celebrada nesse mesmo dia. Atualmente, em Guarulhos é celebrada no dia 5 de outubro.

Para saber mais!1. Caminhos e Fronteiras. Sergio Buarque de Holanda.

Companhia das Letras, 2001.2. A Igreja e a Festa de Nossa Senhora do Bonsuces-

so. Washington Ribeiro de Macedo. Faculdades de Gua-rulhos, 2005.

3. Capítulos de História Colonial. Capistrano de Abreu. Itatiaia/Publifolha, 2000.

Festa de São Benedito, na Vila do Bonsucesso Velho.

Capela de São Benedito, em Bonsucesso (2011).

Capela de Fazenda de São Benedito, bairro Tapera Gran-de, divisa com a região das lavras de ouro em Guarulhos.

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3origeNs do são joão e região

A história é depositária de exemplos de rupturas e permanências. Por mais profundas que sejam as mudanças ocorridas, partes do passado sempre se mantém vivas.

Para compreender a origem da região São João, recorremos ao que permanece das atividades daépocadamineraçãodeouro,iniciadanofimdoséculo XVI.

A paisagem hoje urbanizada é um grande re-trato da história humana materializada em casas, ruas, praças, escolas, estradas, fábricas, etc.

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OS NOMES MAIS ANTIGOSAs placas de ruas, bem como os nomes das

localidades, dos córregos e ribeirões, revelam a relação entre a toponímia e a formação his-tórica da região São João. Para a nossa análise, relacionamos os nomes mais antigos, como La-vras, Jaguamimbaba, Estrada das Lavras, Tanque Grande, Saboó, Catas Velhas, Capelinha, Estrada Guarulhos-Nazaré, Ribeirão dos Pilões, Lavras Velhas do Geraldo, Ouro Fino, Fortaleza, Casarão do bairro das Lavras, Tapera Grande, Ribeirão das Lavras, Vila Rica, Lagoas do Geraldo, Fazenda Bananal, Três Pilões, Estrada Velha do Itaberaba e Casa da Candinha, Campo dos Ouros, por exem-plo. E perguntamos: o que esses nomes podem re-velar sobre o passado da região São João?

Emprestamos do pesquisador Pedro Taques as primeiras impressões sobre a origem do espa-ço que viria a ser a região São João.

“Foi assim, continuando Afonso Sardinha, até que tendo conquistado as nações mais bárbaras

OS PRIMEIROS GARIMPOS DE OUROO lado paulista da Serra da Mantiqueira, par-

te conhecida atualmente por Serra da Cantareira, na época da colonização era chamada de Jaguamim-baba. Partindo do Centro Comercial do Jardim São João, seguindo pela atual Estrada Guarulhos-Na-zaré (antiga Estrada das Catas Velhas) e Estrada do Saboó, chega-se aos garimpos de ouro descobertos em1597porAfonsoSardinha(ovelho)eseufilho,Afonso Sardinha (o moço), garimpos conhecidos nos dias de hoje como Lavras Velhas do Geraldo e Lavras do Ribeirão Tanque Grande.

Commingtonita, encontrada na Serra do Itaberaba.Rocha típica de locais de mineralização de ouro.

que dominavam o sertão na circunferência das ser-ras mais vizinhas ao sítio e povoação de São Paulo, aplicou seu talento e forças aos exames e desco-brimentos de minerais [...] Com elas conseguiu o descobrimento das minas de ouro de lavagem na Serra de Jaguamimbaba [Guarulhos], de Jaraguá [São Paulo], de Vuturuna [Santana de Parnaíba] e de Hibiracoiaba [Sorocaba], na qual se descobriu também prata e ferro, de sorte que no ano de mil quinhentos e noventa e sete estavam estas minas já descobertas”. (Taques, 1980, p. 94-95).

Rocha de quartzo, com filitos de ouro, encontrada em 2011, na Serra do Itaberaba, em Guarulhos.

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O INÍCIO DA URBANIZAÇÃONo regimento das minas de ouro do Brasil

de 1603, percebe-se novas pistas sobre as obras dos garimpos que resultaram na formação das primeiras estruturas para exploração econômica da região São João.

“Cada pessoa no repartimento da sua mina, fará caminho em todas as betas [‘veio ou filão,emgeraldeorigemhidrotérmica’–retira-do do Dicionário Aurélio], que neles se acharem para que se possa ver e andar de uma mina à outra, e para que esta obra se faça como convém o provedor com um oficial mineiro prático e en-tendido...”. (Trecho do artigo 28º).

Como visto, ao descobrir uma mina de ouro, o minerador tinha a obrigação de abrir caminhos que, sabemos, serviam de ligação não só entre as betas, mas também como vias de acesso ao local da mineração. Estando os dois primeiros garimpos descobertos por Afonso Sardinha, nas margens de dois córregos guarulhenses – o Ribeirão das La-vras e o Tanque Grande –, certamente foram uti-lizados os próprios ribeirões como caminhos para extração do ouro de lavagem e para se chegar à rochamãeondeficaoouro(QuartzoAurífero).

A primeira via de ligação, chamada de Es-trada Geral, entre a Vila de São Paulo e as lavras

da Aldeia da Conceição (antigo nome de Gua-rulhos), foi aberta pelos portugueses em 1600. A Estrada Geral, na região São João (ex-Estrada das Catas Velhas), corresponde às atuais estradas Guarulhos-Nazaré e do Saboó. Por alguns sécu-los foi a única estrada para as Minas Gerais, Mato Grosso e Goiás. Nesse mesmo sentido, vejamos o que diz outro artigo do regimento das minas:

“E para que as minas possam ser melhor be-neficiadas, aproveitadas e se fazerem engenhos e casas, assentos e as mais coisas necessárias, os se-nhores delas poderão aproveitar de todas as madei-ras, campos e rocios, de que logram então os mora-dores da Vila, ou lugar...” (Trecho do artigo 50o).

De acordo com esse artigo, ficavamos se-nhores dos garimpos autorizados a usar as terras do entorno damina para edificarem casas, assentos,engenhos, utilização da madeira e dos campos para a agricultura e, certamente, para a criação de ani-mais. Podemos concluir, portanto, que em volta das Catas Velhas – os atuais bairros da Capelinha, Mor-ro Grande, Fortaleza, Tanque Grande e Bananal – estabeleceram-se os primeiros núcleos de povoa-mento de caráter colonial, composto pelos senhores das lavras, indígenas escravizados, inicialmente, e alguns poucos mineradores assalariados.

Vestígios da Casa de Pedra da época da mineração de ouro.

De acordo com Noronha, “Junto à Estrada do Bananal [atual Saboó] caminho para Juquiri, atual Mairiporã, Atibaia e Bragança), até princí-pios do século passado, pouco antes da cascata formada pelo córrego do Tanque Grande, havia uma casa de pedra, da qual há vestígios. Quanto à sua serventia, corriam muitas versões: que foi residência de antigo senhor daquelas terras, que era senzala; que servia de prisão aos escravos rebeldes, que era caixa-forte, que ali se realiza-vam casamentos de escravos (seria capela?). A verdade, possivelmente, jamais se saberá. Não há dúvidas, porém, que sua história andou ligada à mineração aurífera...” (Noronha, 1960, p.40).

Fragmentos do alicerce da Casa de Pedra,na atual Estrada do Saboó.

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Para saber mais!1. Candinha, a Senhora do Bananal. Celso Luiz Pinho.

Kaesse, 2010. 2. Identidade Urbana e Globalização. Carlos José Fer-

reira dos Santos. Annablume, 2006.3. Guarulhos, uma Metrópole. Expedito Leandro.

O BAIRRO DAS LAVRASNo contexto do território minerado, o bair-

ro das Lavras passou a integrar o cenário dos ga-rimpos da região, certamente no início do século XVII, época em que surge na his-tória do bairro o bandeirante paulista Geraldo Correia Sar-dinha. Este, por sua vez, re-cebeu uma carta de sesmaria em 1612, para minerar ouro nas duas margens do Ribeirão Maquirobu (atual Rio Baqui-rivu Guaçu). O nome “Lavras Velhas do Geraldo” provém desse bandeirante, que tam-bém extraiu ouro nos garim-pos descobertos por Afonso Sardinha, na região conhecida por Catas Velhas ou Lavras Velhas do Geraldo.

Ainda no período de extração de ouro, no contexto do Brasil colônia (1500-1822), per-cebe-se, por meio da leitura das cartas de ses-marias, que a região foi se configurando coma formação de três grandes fazendas: Bom Je-sus, Tapera Grande e Bananal. Pela sua posição

geográfica,aFazendadoBomJesuscorrespondeaobairrodaCapelinha,aTaperaGrandeficana

divisa entre Nazaré e o bairro Fortaleza. Já a Fazenda Bana-nal subdividiu-se em Tanque Grande, Casa da Candinha e em vários loteamentos da re-gião São João.

Os loteamentos da re-gião São João começaram a ser vendidos no início da dé-cada de 1950. O adensamento urbano dessa região ocorreu em função do desenvolvimen-to da indústria na cidade e da grande quantidade de imi-grantes estrangeiros e nacio-nais que ali se estabeleceram.

Livro de Sesmarias, volume II. Arquivo do Estado de São Paulo.

Transporte de diamantes, protegidas por militares, as caravanas percorriam as estradas das capitanias de São Paulo e Minas Gerais até o embarque nos portos, de onde pedras e metais preciosos eram levados para Portugal. Ilustração de

Johann Moritz Rugendas (1802-1858). Obs.: Antes da introdução dos animais no transporte de carga, eramutilizados escravos indígenas e negros africanos.

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Jaguamimbaba: O lado paulista da Serra da Mantiqueira era chamado pelos índios de Jagua-mimbaba, do Guarani jaguá (cachorro) e mimbá (animal domesticado). Já na língua Tupi, jaguapeba é cachorro pequeno e jaguará pode ser traduzido por onça ou cachorro, sendo que mimbaba equivale a animal doméstico ou de criação. Assim, a tradução mais próxima é cachorro domesticado ou de cria-ção, carecendo de estudos mais aprofundados a associação do termo a onça. O nome jaguamimbaba é citado em texto sobre a fundação de Guarulhos (1560)... Não sei precisar quando estes nomes se fundiram, ou melhor, quando toda a montanha passou a chamar-se Mantiqueira.

Certamente havia nessa região tanto os cachorros do mato como as onças. Uma pista da exis-tência desse segundo animal em Guarulhos é representada por dois nomes: Jaguary (rio à Nordeste de Guarulhos), traduzido como Rio das Onças, e hoje Morro do Lopo, do latim lúpus, que significa lobo, numa alusão provável à existência de lobos guarás.

Lopo é também o nome de um personagem (Lopo dos Santos Serra) que aparece na região em documentos de 1771. Entretanto, 170 anos antes já havia referência ao nome dessa localidade, já que em 1601 a expedição de Francisco de Souza passou pela região conhecida como Morro do Lopo.

Mantiqueira: Quanto a Mantiqueira, é uma palavra Tupi que significa “a água verte” ou goteja. Jaguamimbaba, Mantiqueira e Lopo, por Valter Cassalho, em http://www.comturatibaia.com.br.

Cantareira: Sobre esta toponímia, a Secretaria de Estado do Meio Ambiente esclarece: “O nome foi dado à serra pelos tropeiros que a atravessavam, pois aqui havia grande quantidade de nascentes e córregos. Na época, armazenava-se a água em cântaros, grandes jarros ou vasos que, por sua vez, eram guardados em prateleiras chamadas cantareiras.

Origens das palavras Jaguamimbaba, Mantiqueira e Cantareira

Capitania de São Vicente e adjacências, no século XVI (1553-1597), com a toponímia Jaguamimbaba e Guarús.

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4loCalização

geográfiCa, Bairros e loteameNtos

da região

A região São João está localizada nas porções central e norte do Município de Guaru-lhos, cidade inserida a nordeste da Região Metro-politana de São Paulo (RMSP), uma das maiores aglomerações humanas do mundo, constituída de 39 municípios.

Asprincipaisreferênciasgeográficasquees-tabelecem os limites da região São João são: ao sul, a Avenida Jamil João Zarif e o Aeroporto; à oeste, as regiões do Taboão e do Cabuçu; ao norte, as cidades de Mairiporã e Nazaré Paulista; a leste, a partir da Estrada Guarulhos-Nazaré, a região do Bonsucesso e adjacências.

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Divisão territorial de Guarulhos em regiões

Em 2008, a Secretaria de Desenvolvimento Urbano de Gua-rulhos (SDU), mediante o Decreto Municipal no 25.303, estabeleceu 11 Unidades de Planejamento Regional (UPR’s), com o objetivo de descentralizar a gestão muni-cipal. Os critérios adotados para estabelecer tal divisão foram fun-damentalmente a conformação do sistema viário, do relevo e do uso do solo. Ressalte-se que o Parque Estadual da Cantareira e o Aeroporto não são conside-rados UPR’s, uma vez que são geridos, respectivamente, pelo Governo Estadual e Federal.

A partir das UPR’s esta-belecidas pela SDU, a Comissão Saberes Locais, adotou um novo critério, que atende mais adequa-damente ao seu objetivo, que é o registro da história natural e social da cidade. Esse novo critério le-vou a dividir o território guarulhen-se em oito regiões (Bonsucesso,

São João, Pimentas, Cumbi-ca, Centro, Vila Galvão, Ca-buçu e Taboão). Assim foram anexados à região São João as UPR’s Tanque Grande e Capelinha. Foi também dividi-do o Jaguari em duas partes, ficando a porção oeste dentro da região São João e a por-ção leste no território do Bon-sucesso, região abordada no volume inaugural do Projeto Saberes Locais, lançado em agosto de 2010.

A partir da nova confi-guração, foi possível estabe-lecer uma relação sistêmica entre as atividades humanas e a área rural ainda encontrada na região, isto é, as relações da população rural e urbana com a rica biodiversidade da fauna e da flora locais.

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REGIÃO METROPOLITANA DE SÃO PAULO

GUARULHOS

ROSA DOS VENTOS

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BAIRRO SÃO JOÃOLoteamentos: Jardim São João, Cidade Se-

ródio, Jardim Jade, Jardim Cristina, Vila Giras-sol, Jardim Santa Terezinha, Jardim Aeródromo, Jardim Santo Expedito, Cidade Soberana, Jardim São Geraldo, Jardim Vida Nova, Jardim Lenize, Vila São Carlos, Jardim Bondança, Vila Rica, Conjunto Habitacional Haroldo Veloso, Jardim Novo Portugal e Jardim Regina.

BAIRRO DAS LAVRASLoteamentos: Vila GPM (iniciais de Gui-

lherme Pron de Moraes, responsável pela implan-tação do loteamento), Jardim das Andorinhas, Jardim IV Centenário, Jardim Maria Clara e Jar-dim Ramos.

BAIRRO BANANALLoteamentos: Jardim Bananal, Chácaras

Bananal, Jardim dos Eucaliptos, Jardim Monte Sião, Parque Santos Dumont, Jardim Adelina, Jardim Munira e Malvinas (irregular).

BAIRRO FORTALEZALoteamentos: Jardim Fortaleza Glebas I,

II e III.

BAIRRO TANQUE GRANDEÁrea ambientalmente protegida, não loteada.

BAIRRO CAPELINHALoteamentos: Chácaras Camillo, Chácaras

de Recreio Oásis e Chácara das Lavras.

BAIRRO MORRO GRANDEÁrea ambientalmente protegida, não loteada.

BAIRROS E LOTEAMENTOS DA REGIÃO SÃO JOÃOPor meio do Decreto Municipal nº 4.998

de1998,foioficializadaadivisãodacidadeembairros e loteamentos. O decreto estabeleceu 47 bairros, todos eles subdivididos em aproximada-mente 500 loteamentos. Os nomes dos loteamen-tos sempre são antecedidos das palavras jardim, parque, vila, cidade, chácara, conjunto etc.

Já o termo bairro é uma herança da coloni-zação portuguesa, sendo que os primeiros bairros de São Paulo e de Guarulhos são originários das antigas cartas de sesmaria. O bairro é uma sub-divisão da cidade, composta, a partir de critérios estabelecidos pelas administrações municipais, por um ou mais loteamentos, que juntos recebem, normalmente, o nome do aglomerado urbano mais antigo da região. A região São João, por exemplo, é composta por sete bairros e 37 loteamentos.

Jardim Fortaleza, década de 1980.

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ENTRE OS BAIRROS MAIS ANTIGOS DO BRASILAlguns dos bairros mais antigos do Brasil

estão na região estudada na presente publicação. Nos Arquivos Públicos do Estado de São Paulo e do Município de Guarulhos, encontramos nomes de localidades aqui existentes desde o período em que Guarulhos era Freguesia. Em 1776, constam: Lavras Velhas, Saboó, Capela de Nossa Senhora da Ajuda (atual Capelinha), bairro da Freguesia (centro de Guarulhos), São Miguel (antigo Uru-raí) e Nossa Senhora do Bonsucesso.

Esses são, portanto, os registros mais antigos sobre os bairros de Guarulhos (1776), que então tinha 1.170 habitantes e 156 propriedades. Nos anos subsequentes, encontramos os seguintes no-mes: Senhor do Bom Jesus (atual Capelinha), Ba-quiruvu (referência ao atual Rio Baquirivu Guaçu), Itaverava, Lavras, Sabão, bairro das Pedras, Tomé Gonçalves, Fortaleza, Tanque Grande, Morro Grande, Catas Velhas, Serra do Bananal e Veigas.

Bairro Capelinha. Família Zancanaro, proprietária da viní-cola Vinho Aprazível.

Para saber mais!1. Unidades de planejamento regional. PMG, 2008. 2. Espaço e Método. Milton Santos. Nobel, 1985.3. A História da Escravidão. Olivier Pétré-Grenouilleau.

Boitempo, 2009.4. Atlas Geoambiental da Região Cabuçu-Tanque Gran-

de. Antonio Manoel dos Santos Oliveira (Coordenador). Uni-versidade Guarulhos, 2008.

DADOS GERAIS DO MUNICÍPIO

Aniversário da cidade (fundação): 8 dedezembro.Distrito: criado em 1675.Freguesia: criada em 1685.Denominação da época: Nossa Senhora da Conceição dos Guarulhos.Vila: criada pela Lei de nº 34, de 24 de março de 1880.Denominação da época: Conceição de Guarulhos.Alteração do nome: a Lei no 1.021, de 6 de novembro de 1906, altera o nome para a deno-minação atual, Guarulhos.Santa Padroeira: Nossa Senhora da Conceição.Distrito Jardim Presidente Dutra: criado pela Lei no 3.198, de 23 de dezembro de 1981, com sede no bairro do mesmo nome, em território desmem-brado do distrito-sede do Município de Guarulhos.Prefeito atual: Sebastião Almeida (2009-2012).Área: 320,5 quilômetros quadrados (Fonte: Seade).População: 1.221.979 habitantes (Fonte: IBGE, 2010).Densidade demográfica: 3.812,727 habitan-tes por quilômetro quadrado.Latitude do distrito sede do Município: 23º16’23” e 23º30’33” sul.Longitude do distrito sede do Município: 46º20’06” e 46º34’39” oeste.Limites: ao norte com Mairiporã e Nazaré Paulista; nordeste com Santa Isabel; ao leste com Arujá; ao sudeste com Itaquaquecetuba; a sul, sudeste, oeste e noroeste com São Paulo.Altitudes: máxima – 1.438 metros, do Espigão da Serra do Itaberaba (Pico do Gil); média – 759 metros; mínima – 660 metros, localizada na foz do Ribeirão Jaguari e com o Rio Jaguari, nas divisas de Guarulhos, Santa Isabel e Arujá; sede – 773,14 metros.Marco zero: Praça Teresa Cristina.Distâncias: São Paulo – 17,7 quilômetros; Ati-baia – 67 quilômetros; São José dos Campos – 75 quilômetros; Rio de Janeiro – 411 quilôme-tros; Belo Horizonte – 570 quilômetros; Brasília – 1.050 quilômetros; Santos (Porto) – 90 quilôme-tros; São Sebastião (Porto) – 183 quilômetros.Rodovias: Presidente Dutra (BR-116); Fernão Dias (BR - 381); Ayrton Senna (SP-70); Hélio Smidt (SP-19/BR-610); Juvenal Ponciano de Camargo (SP-36).Adjetivo pátrio: guarulhense.DDD: 11.

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Sesmarias e posse de terras: política fundiária para assegurara colonização portuguesa no Brasil

Os registros de terras surgiram no Brasil logo após o estabelecimento das capitanias hereditá-rias, com as doações de sesmarias. Os documentos mais antigos das capitanias datam de 1534.

As sesmarias eram terrenos incultos e abandonados, entregues pela Monarquia portuguesa, desde o século XII, às pessoas que se comprometessem a colonizá-los dentro de um prazo previamen-te estabelecido.

Uma sesmaria media, aproximadamente, 6.500 metros quadrados. Esta medida vigorou em Por-tugal e foi transplantada para as terras portuguesas ultramar, chegando ao Brasil. Muitas dessas terras estavam sob a jurisdição eclesiástica da Ordem de Cristo e lhes eram tributárias, sujeitas ao pagamen-to do dízimo para a propagação da fé.

Em 1822, suspendeu-se a concessão de sesmarias, o que acabou por beneficiar os posseiros que cultivavam a terra. O fim das sesmarias consagrou a importância social dos posseiros. Embora terminada juridicamente a concessão, não se acabou com a figura do sesmeiro. Grande fazendeiro, ele não seria derrotado pela política do Império.

A Carta de 1824 garantiu o direito de propriedade, sem fazer alarde aos problemas herdados das sesmarias nem às terras devolutas. Revista eletrônica do arquivo do Estado, edição n. 2, jun. 2005.

Mapa criado por meio do Decreto Municipal no 4.998 de 1998.

Mapa dos 47 bairros de Guarulhos

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5PaisageNs e

reCursos Naturais

Ao longo da história humana, o homem dre-nou pântanos, cortou árvores, desviou rios, construiu moradas, aldeias, vilarejos, bairros e cidades inteiras, modificandoprofundamenteapaisagem,damaneiraque julgou necessário para seu desenvolvimento. O relacionamento do homem com a natureza, conforme apontou Karl Marx, é uma relação fundamental, não porque ele se reconheça parte dela, mas ao contrá-rio, pois ele luta contra ela. É uma relação dialética. No decorrer dessa luta, o homem extrai da natureza aquilo de que necessita para manter sua própria vida e para superar uma vida simplesmente natural.

No presente trabalho chamaremos de paisa-gem natural aquela que começou a evoluir há bi-lhões de anos, muito, muito antes da chegada dos Maromomi, poleoíndios descendentes dos primei-ros habitantes do Continente Americano que migrou de outras regiões para o litoral do sudeste brasileiro e, posteriormente, para a região da atual Guarulhos.

As peculiaridades da paisagem natural de cada região – os eventos geológicos ocorridos há bilhões de anos, a formação do relevo e dos tipos de solos, a cobertura vegetal e os recursos hídri-cos – determinam a presença da fauna e a maneira como o homem promoveu a ocupação no terri-tório. É esta paisagem, portanto, que orientou as ações humanas em Guarulhos na região São João.C

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A REGIÃO SÃO JOÃO HÁ BILHÕES DE ANOS

Para entendermos a formação do relevo (ser-ras, montanhas, colinas e planícies) e a atual pai-sagem da região São João, além da ocorrência e extração de ouro e demais atividades econômicas e sociais, é necessário conhecermos os processos ge-ológicos relacionados à formação de nosso planeta.

Desde a formação da Terra, há cerca de 4,6 bilhões de anos, continentes inteiros surgiram e foram destruídos várias vezes. No início de sua formação, quando nem os continentes nem os oceanos existiam como hoje os conhecemos, a superfície da Terra era tão quente, devido às ati-vidades vulcânicas e aos impactos de meteoritos, que a água não podia se condensar na superfície para formar rios, lagos e oceanos.

Asrochasdo tipobasalto-anfibolito (veri-ficarnomapadapágina42),sãoevidênciasdasatividades vulcânicas e de um mar existente na região há bilhões de anos. Ao longo de milhares de anos a temperatura da Terra foi diminuindo, possibilitando a formação da crosta terrestre, que é dividida em diversas partes chamadas placas tectônicas. Seus limites são regiões de atividades vulcânicas e terremoto.

OCORRÊNCIA DE OUROA ocorrência de terremotos e a presença de

muitos vulcões são os eventos geológicos mais anti-gos de Guarulhos e da região São João. Desses even-tos resultaram, há pouco mais de 1,5 bilhão de anos, derrames de lavas (rocha derretida) que foram sendo depositadas no fundo de um oceano então existen-te na região. Nesse período, foi formada a Serra do Itaberaba no bairro Morro Grande. Esta região era chamada de Serra do Jaguamimbaba no início da co-lonização, devido a atividades de exploração de ouro.

Estes eventos geológicos na região São Joãopromoveramaascensãodefluxosdelavaspara a superfície. A lava, à medida que se eleva àsuperfícieatravésdefissurasnacrostaterrestre,tem a propriedade de atrair e agregar partículas de ouro.Aosesolidificaremnasuperfície,formamcristais de quartzo associados às pepitas de ouro.

Serra do Itaberaba, dobramento rochoso da época em que Guarulhos era coberto por um oceano e tinha mui-tos vulcões. Rocha típica de locais de minério de ouro.

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FORMAÇÃO DO RELEVO, DOS RIOS E DOS CÓRREGOS

Há cerca de 65 milhões de anos, devido à movimentação das placas tec-tônicas e a separação dos continentes Sul-Americano e africano, os terrenos se elevaram ao longo de uma extensa faixa entre os atuais Estados do Paraná, São Paulo e Rio de Janeiro. Em seguida, o topo dessa elevação sofreu um afun-damento de blocos de rochas, num pro-cesso chamado Rift Continental do Su-deste Brasileiro (RCSB), entre as serras do Mar, da Mantiqueira e da Cantareira.

Durante milhões de anos as chuvas e o vento foram desgastando as montanhas, carregando cascalhos, areia e outros ma-teriais, chamados de rochas sedimentares, e se depositaram nessa depressão situada entre as serras do Mar, da Mantiqueira e da Cantareira, local conhecido como Bacia Sedimentar de São Paulo, que inclui parte de Guarulhos e da região São João.

Porfim,noúltimomilhãodeano,na Bacia Sedimentar de São Paulo, formaram-se os rios Tietê, Baquirivu Guaçu, e os córregos Tanque Grande, Lavras, entre outros.

A partir disso, a ação da chuva e outros agentes fizeramcomqueestaspepitasseencaminhasseme se depositassem nos rios, formando o chamado ouro de aluvião. Esse período tem grande signi-ficadoparaaregiãoSãoJoão,especialmentenaTapera Grande, hoje os bairros de Morro Grande, Capelinha, Tanque Grande e Fortaleza, pois pro-porcionou a ocorrência de ouro e sua extração, no início da colonização portuguesa, sendo esta a primeira atividade econômica de Guarulhos.

Além do ouro, a formação geológica propi-cia outras atividades econômicas, como a extra-ção de areia, na Bacia Sedimentar, junto aos rios e as rochas graníticas, as quais são extraídas e ven-didas como brita para a construção civil. Ambos recursos minerais são extraídos entre os bairros Fortaleza e Capelinha.

Relevo dos continentes e do fundo oceânico. Entre os continentes Sul-Americano e Africano, no fundo do Oceano Atlântico, temos a

dorsal meso-oceânica, que é o limite das placas tectonicas sul-ame-ricana e africana.

Ouro em quartzo.

Ouro em aluvião.

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AS ROCHASO território da região São João é composto

por dois tipos de rochas: as rochas sedimenta-res, de idade entre 65 e 1,8 milhão de anos, e as cristalinas, mais antigas, de até 1,5 bilhão de anos. A porção sul do território, que abrange to-talmente o bairro das Lavras, e parcialmente os bairros São João e Bananal, é caracterizado pela presença de rochas sedimentares depositadas sobre as rochas cristalinas antigas. Na porção

norte da região, que inclui totalmente os bairros Morro Grande, Capelinha, Fortaleza e Tanque Grande, com exceção das porções ao longo dos córregos, e parcialmente os bairros do Bananal (Parque Santos Dumont) e São João (Vila Rica, Cidade Soberana, Jardim Bondança e Jardim Le-nize), predominam rochas mais duras e antigas, as rochas cristalinas.

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RELEVOOs eventos geológicos resultam na forma-

ção do relevo que, de um modo geral, é constituído por: serras, montanhas, morros, colinas e planícies.

A porção norte da região São João apresenta grandes altitudes e altas declividades, sendo com-posta por serras, morros altos e morros baixos. A porção sul é composta por relevos mais baixos e de pouca declividade conhecidos por morrotes, coli-nas e planícies, praticamente coincidentes com as

rochas sedimentares.Ao norte da região temos a serra do Itabe-

raba, são os terrenos de maiores declividades e altitudes da região São João, de Guarulhos e da Grande São Paulo, com 1422 metros de altitude. Já nas margens do Rio Baquirivu Guaçu, ao lon-go da Avenida Jamil João Zarif são os terrenos praticamente plano e com menos altitude da re-gião, com cerca de 750 metros de altitude.

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TIPOS DE SOLOSDe um modo geral, os solos de Guarulhos e

da região São João são predominantemente argi-losos,oqueinfluenciounaeconomiadomunicí-pio na produção de tijolos.

Emumacaracterizaçãomaisespecífica,ostrês tipos de solos presentes na região São João são: Latossolo vermelho-escuro (distrófico, ousolo pobre, de pouca fertilidade natural) e proe-minente textura argilosa, sendo encontrado em colinas, morrotes, morros baixos e altos e na ser-ra do Itaberaba; o Argissolo vermelho-amarelo (tambémdistrófico),apresentaargiladebaixaati-vidade, e é encontrado em morros altos restrito no bairro do Tanque Grande; Gleissolos que, no ge-ral,correspondeasoloorgânicosuperficialcom

textura argilosa, sendo encontrados nos fundos de valesenasvárzeas,aolongodoscursosd’água,sob condições de encharcamento, parcialmente nos bairros do Bananal, São João e Lavras.

O solo é, ao lado dos recursos hídricos, o elemento natural mais determinante da maneira como uma região é ocupada e transformada pelo homem.Éumrecursofinito,formadopeloseven-tos geológicos, que pode levar milhares de anos para tornar-se produtivo.

Os solos, são corpos dinâmicos naturais, cujas características decorrem das influênciascombinadas do clima e das atividades bióticas e físicas. Sua formação inicia-se com o intem-perismo que é o “apodrecimento” das rochas

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BACIAS HIDROGRÁFICAS ERECURSOS HÍDRICOS

A região São João possui uma rica rede de lagos, rios, córregos e ribeirões, associada a uma densa vegetação e a grande diversidade de animaisinseridanasbaciashidrográficasdoRioParaíba do Sul e do Rio Tietê.

BACIA HIDROGRÁFICA DO RIOPARAÍBA DO SUL

É a porção norte da região no bairro do Morro Grande, onde as águas de chuva escoam paraoRioJaguari.EsteéafluentedoParaíbadoSul, que segue para o Rio de Janeiro. Trata-se de uma área de mata densa, com uma grande quanti-dadedecursosd’água,comcaracterísticasruraise pouca ocupação urbana.

BACIA HIDROGRÁFICA DO ALTO TIETÊÉ a porção do território ao sul englobando

totalmente os bairros do Tanque Grande, Bana-nal, São João, Lavras, Fortaleza e Capelinha. As águas de chuva que caem neste local seguem em direção aos ribeirões das Lavras e Tanque Gran-deeaoCórregoÁguaSuja,afluentesdamargemdireita do Rio Baquirivu Guaçu que, por sua vez, segue para o Rio Tietê.

pela ação do clima que com o impacto direto da chuva e do vento, vai desgastando a rocha. Esse material pode permanecer no mesmo lugar (so-los residuais) ou ser transportado pela água ou pelovento,sofrendoinfluênciadaschuvasedemudanças de temperatura, recebendo materiais orgânicos, como vegetais e animais em decom-posição, tendo, enfim,modificadas as suas ca-racterísticas físicas e químicas, para, depois de um tempo relativamente longo, constituir-se, no verdadeiro solo.

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SUB-BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO BAQUIRIVU GUAÇU

InseridanaBaciaHidrográficadoAltoTie-tê, a sub-bacia do Rio Baquirivu Guaçu têm suas nascentes no Município de Arujá. Quando chega a Guarulhos atravessa, no sentido leste-oeste, uma ampla planície, seguindo paralelo à Avenida Jamil João Zarif até o bairro do Taboão, onde muda o seu curso para o sul, passando sob as rodovias Presiden-te Dutra e Ayrton Senna até chegar ao Rio Tietê.

Além das águas superficiais (lagos, rios,córregos e ribeirões), a região São João conta com a oferta de um manancial subterrâneo co-nhecido como Aquífero Cumbica, formado pelas

águas que se acumulam no subsolo. Os espaços vazios existentes entre as rochas, conhecidos como gráben, é resultado de movimentos geoló-gicos favorecidos pelo tipo de solo, que promove oacúmulodeáguadeótimaqualidade.Ainfil-tração no solo é favorecida também pela cober-tura vegetal que, por meio de suas raízes, abre caminho para a água alcançar o subsolo. Além disso, as folhagens da cobertura vegetal da região retardam a chegada da água ao solo, liberando--a lentamente e propiciando melhores condições paraainfiltração.Essareservadeáguaéutilizadapara o consumo da população e bastante utilizada nas atividades comerciais e industriais da região, por meio da perfuração de poços profundos.

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HISTÓRIA AMBIENTAL E DA BIODIVERSIDADEO tipo de vegetação da região São João é

deMataAtlântica,umaflorestatropicalúmidaedensa, exposta aos ventos que sopram do oceano, que se constitui num dos mais ricos ecossistemas domundo.Essafloresta,encontradaaonortedaregião, integra os últimos remanescentes da Re-serva da Biosfera do Cinturão Verde da Cidade de São Paulo (RBCV), outorgada em 1994 pela Unesco como Patrimônio Mundial da Humani-dade. Essa densa vegetação promove a ameniza-ção do clima, o controle da poluição atmosférica e possui uma marcante beleza natural, além de abrigar centenas de espécies animais e vegetais.

Historicamente, a região São João é onde se desenvolveram as principais atividades eco-nômicasverificadasemGuarulhos.Osdiferentesciclos de desenvolvimento (a mineração de ouro, a agricultura, a extração de areia e a produção de tijolos, a produção em pequenas chácaras e granjas, a extração de lenha, a implantação das primeiras indústrias e o processo de urbanização) trouxeram impactos ambientais para a região.

Exemplo disso é o desaparecimento das arau-cárias produtoras do pinhão, um dos itens de alimen-tação que atraíram os indígenas Maromomi para a regiãodeGuarulhos.Aexploraçãodosrecursosflo-restais de forma irracional pelo homem branco em seu processo “civilizatório” extinguiu não só as arau-cárias, mas quase todas as matas de Guarulhos.

Asparcelasdeflorestasquerestaramouasque foram se regenerando ao longo das décadas

continuam até hoje sob forte pressão de devasta-ção. Estabeleceu-se uma paisagem com um grande númerodefragmentosflorestaisdediferentesida-des, estágios de regeneração e tamanhos, além de vários padrões de distância entre eles. Partes desses fragmentos estão presentes ao norte do bairro do Bananal e de forma mais intensa no Tanque Gran-de, Capelinha e Morro Grande. Recobrem toda a Serra de Itaberaba, estendendo-se ainda para ou-tras regiões do município em direção ao Cabuçu.

Represa Tanque Grande, ao fundo reserva de Mata Atlântica.

Remanescente de Mata de Cerrado no Tanque Grande,em meio a Mata Atlântica.

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Na área urbana, por sua vez, na porção sul da região São João, há fragmentos menores de vegetação, mas de grande importância ambiental. As áreas verdes em sítio urbano, segundo o geó-grafo João Carlos Nucci e o agrônomo Felisberto Cavalheiro, exercem resumidamente três funções:

Função ecológica. Entre outras, a amenização do superaquecimento de áreas pavimentadas e con-cretadas (efeitos da “ilhas de calor”), proteção dos recursos hídricos, tanto qualitativos como quantitati-vos, incluindo as águas subterrâneas, diminuição da poeira, proteção do solo (evitando erosões e escorre-gamentos), atenuação do vento e suporte da fauna.

Função estética. Os benefícios relacionados aos sentimentos que as áreas verdes propiciam.

Função de lazer. Envolvem todo tipo de utilização relacionado ao descanso, passeio, en-tretenimento e recreação.

Entretanto, o Mapa de Cobertura Vegetal da região São João evidencia o chamado “efeito de borda”, que faz com que o perímetro da área desmatada, provocado pela expansão urbana, vá progressivamente tirando da vegetação ain-da existente a sua integridade. No entanto, há fragmentos remanescentes distribuídos em dife-rentes porções da área urbana na região, desta-cando a capoeira, que é o estágio inicial e inter-mediário da regeneração natural, e a vegetação de várzea, ainda presente nas planícies do Rio Baquirivu Guaçu.

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FAUNAPor David de Almeida Braga

Estudos da Secretaria de Meio Ambiente de Guarulhos, desenvolvidos dentro do programa Guarulhos tem Biodiversidade, revelam que a re-gião nordeste do município, onde se inclui a por-ção norte da região São João, está entre as áreas de maior prioridade municipal para a conserva-ção ambiental. Pesquisas de campo realizadas na Serrade Itaberaba já identificarammaisde559espécies de animais, entre aves, mamíferos, rép-teis, anfíbios e borboletas, número que cresce a cada ano, à medida que os estudos avançam.

FLORAPor David de Almeida Braga

A Secretaria de Meio Ambiente do Estado de São Paulo criou um Sistema de Áreas Protegidas do Contínuo da Cantareira, que abrange as serras de Itapetinga e Itaberaba. Por isso realizou estudos que identificaram entre as espécies arbóreasmaiscomuns e representativas presentes na Serra de Ita-beraba, ao norte da região São João, o capixingui, a canela-toiça, a capororoca, a maria-mole, a caxeta, a embaúba-vermelha, a aroeira-mansa, o jacarandá--bico-de-pato, a fruta-de-faraó, a carne-de-vaca, a peroba-vermelha, o tamanqueiro, o angico-rajado, o pau-de-gaiola, a canjarana, o pessegueiro-do-mato, o café-do-mato, o canassu, a guaçatonga, o guatambu--de-leite, a peloteira, a embaúba-branca e a copaíba.

Outras espécies arbóreas que podem ser fa-cilmente encontradas nos remanescentes flores-tais da região são o ingá-ferradura, o manacá-da--serra, o pau-jacaré, o guapuruvu, o tapiá, o jerivá e o açoita-cavalo, entre outras.

Algumas espécies, como o cedro-rosa e o jacarandá-paulista, estão ameaçados de extinção, jáqueasflorestasondesãoencontradasvêmso-frendo severa diminuição e perda de qualidade de habitat. Entre as espécies ameaçadas de extinção, há ainda a canela-cheirosa, a canela-burra e o pal-mito juçara, todas com histórico de exploração predatória intensiva.

Jaguatirica (Leopardus pardalis).

Relatos de moradores e trabalhadores do Jaguari e deToméGonçalves, confirmados empesquisas de campo, dão conta da existência de tamanduá-mirim e de cateto na região. O conhe-cimento popular sobre as espécies da fauna local oferece uma riqueza de detalhes que muitas vezes não é encontrada nos livros. Por exemplo, mora-dores mais antigos mencionam espécies como o macuco, que já não são mais vistas na região, ou espécies como a asa-branca, que só agora estão mais evidentes. Esses apontamentos podem ser um reflexo dasmudanças ambientais da regiãonas últimas décadas.

Na lista de espécies da fauna silvestre com ocorrência no Município de Guarulhos, publica-da em 2010, foram divulgados pela primeira vez os animais ameaçados de extinção, registrando mais de 50 espécies. Entre elas estão o sagui--da-serra-escuro – encontrado apenas numa pe-quena parte do Brasil, entre São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro, incluindo o Município de Guarulhos –, o sauá – primata não encontrado em nenhum outro ecossistema que não a Mata Atlântica, presente entre a Bahia e o Estado de São Paulo –, a jaguatirica – o maior dos peque-nos felídeos brasileiros –, e a suçuarana, o se-gundo maior felídeo das Américas, menor ape-nas que a onça-pintada, e predador de animais de médio porte, como veados e capivaras.

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A MEGAFAUNA E OS PRIMEIROS BRASILEIROS. HÁ PISTAS SOBRE O TEMA EM GUARULHOS?

O termo megafauna é usado para designar o conjunto dos grandes animais que conviveram comaespéciehumanaedesapareceramnofinalda última glaciação, que durou no continente sul--americano de 80 mil até 7 mil anos passados. Especula-se se esses animais teriam desaparecido por causa da mudança climática (fator climático), pela competição por alimentos com outros ani-mais e também com o ser humano.

O leitor pode estar se perguntando. Que re-lação pode ter o assunto megafauna com o tema dessapublicação?Podemosafirmarqueéapri-meira tentativa nos estudos históricos da cidade em estabelecer uma possível ligação entre a me-gafauna e a história de Guarulhos, trabalho nada fácil de ser feito, tendo em vista que temos ape-nas uma pista, e que se diga, muito frágil para a complexidade do tema em discussão.

Nos bairros Tanque Grande e Cabuçu exis-te um remanescente de mata de cerrado em meio

Ilustração exposta no Museu Arqueológico da região de Lagoa Santa (MG).

a Mata Atlântica. Ainda não se tem estudos con-clusivos para saber se os remanescentes de cerra-do na região são nativos ou não.

Em Lagoa Santa, região de vegetação de cerrado, es-tudos sobre a megafauna e o povoamento do território bra-sileiro demonstra que tem re-lações bastante significativas.Segundo pesquisadores da re-gião, um debate de um século emeio está chegando ao fim.“Depois de submeter ao exa-

me de Carbono 14, um fragmento de costela de preguiça – terrícola (Catonyx cuvieri), cujos os-sos pertencem ao Museu de História Natural da UFMG, concluíram que a espécie conviveu com humanos em Lagoa Santa. O teste comprovou que a preguiça-gigante circulava pelo interior de Minas Gerais há cerca de 9.990 anos. ‘Isso con-firmaassuspeitasdePeterLunddequeamega-fauna e os seres humanos foram contemporâneas em Lagoa Santa, esclarece o coordenador do pro-jeto, Profº Walter Neves, da USP. Segundo ele,

Paraphysornisbrasiliensis10.

10. Esqueleto gigantesco de ave fóssil. Ave com mais de 2 metros de altura, carnívora, que viveu no Vale do Rio Paraíba há cerca de 23 milhões de anos.Encontrada em Taubaté pelo médico e pesquisador Herculano Alvarenga, entre 1976 e 1978 e exposto no Museu de História Natural de Taubaté.

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essa é a primeira vez que se precisa uma datação absoluta para a megafauna local”.

Sobre a hipótese que tenha existido megafau-na em Guarulhos veja o que diz um biólogo pesqui-sador da megafauna e morador de Guarulhos.

“[...] Já lhe adianto que é totalmente possí-vel a existência de que a extinta fauna tenha anda-do por aqui [...] Há 10 mil anos, as matas úmidas (Mata Atlântica) eram bem menores, devido ao clima ser mais frio e seco, provavelmente a vege-tação de cerrado cobria muitas áreas, onde havia várzeas, provavelmente eram planícies de campos devido à falta de chuvas que diminuía o nível do RioTieteeafluentes,com[...]preguiças-gigantes,tigres dente de sabre caçando e outros. O proble-ma é que não possuímos fósseis desses animais por aqui. Pode-se citar o exemplo do mastodonte Stegomastodon, encontrado em Águas da Prata (alguns dentes), há 230 quilômetros da Capital. Restos de uma preguiça-gigante vieram de Capão

Para saber mais!1. Os primeiros brasileiros. Aquino e outros.2. Os Domínios de Natureza no Brasil. Aziz Ab-Saber.

Ateliê Editorial, 2003.3. Pré-História do Brasil. Pedro Paulo Funari e Fran-

cisco Silva Noelli. Contexto, 2005. Ilustração exposta no Museu Arqueológico da região de Lagoa Santa (MG).

Bonito (223 quilômetros da Capital). Esses fós-seis podem ser vistos no Museu Geológico Valde-mar Lefreve, no Parque da Água Branca, em São Paulo”. (Rogério C. de Souza, biólogo)

Para nós, a reflexão sobre esse assunto éapenas um começo. É sem duvida mais um dos temas para os quais devemos voltar nossos olha-res. Ter ou não ter a presença da megafauna na cidade, neste momento, talvez seja a questão me-nos importante. O fato mais relevante é a intro-dução do assunto em uma publicação destinada às escolas públicas do Município, um verdadei-rodesafiolançadoàsgeraçõesdopresenteedofuturo, que ao constatarem as lacunas da nossa rica história natural, poderão se sentir tentado a preenchê-las.

Vale dos dinossauros, em Sousa (PB). Pegadas de,no mínimo, 143 milhões de anos atrás.

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Cerâmica encontrada em Guarulhos, no sítio arqueológico do garimpo de ouro do Ribeirão das Lavras pela arqueóloga Lúcia Juliane, em 1983. Possui traços essencialmen-te em ‘x’ e em zigue-zague. O emprego de incisões em estilos geométricos, presentes com frequência em cerâmicos, estão relacionados à padrões usuais no oeste da África.

No Brasil, as decorações incisas foram associadas às populações da África ini-cialmente por Dias Júnior. André Luiz Jacobus, ao realizar pesquisas em um registro do século XVIII em Viamão (RS), identificou na literatura referente à arqueologia africana novas evidências, assinalando que na cerâmica da Idade do Ferro (período que corres-ponde aos últimos dois mil anos na África) associada aos falantes Bantu, verifica-se uma grande profusão de padrões decorativos incisos, bem como o uso frequente de artefatos dentados para produção dos sulcos presentes na cerâmica do oeste da África.

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6formação

soCioeCoNômiCa

O cenário onde se localiza a região São João é dos mais belos e ricos do ponto de vista am-biental e histórico. Vegetação de Mata Atlântica, inú-meras nascentes de água, serras, picos proeminentes, cachoeiras e grande quantidade de animais silvestres. Formação territorial das mais antigas, onde podem ser observadas as marcas de um oceano, de terremo-tos e de um vulcão no fundo do mar que recobria toda região. Grande extensão da região faz parte da Serra da Mantiqueira, território hoje chamado de Serra da Cantareira, ou Serra do Bananal.

Oshomenssedeslocamesefixamemfun-ção de suas necessidades primordiais. Comer, morar e vestir são os primeiros atos de todos os grupos humanos em busca de sua sobrevivência e reprodução da espécie.

A presença de seres humanos na América do Sul, especialmente, no território brasileiro pode chegar a 50 mil anos, segundo pesquisas do Museu do Homem Americano em São Raimundo Nonato, no Piauí. A data mais aceita pela comunidade cien-tíficaéde12milanos.

Estudos revelam que um crânio de 12 mil anos, encontrado em 1975, na região de Lagoa Santa, em Minas Gerais, pertenceu a uma mulher de características físicas africanas e não asiáticas.

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Variações estilísticas dos padrões decorativos das panelas, com traços semelhantes à cerâmica encontrada em Guarulhos.

Imagens geométricas retiradas da dissertação Ouro Fino – Arqueologia histórica de uma arraial de mineração do século XVIII em Goiás, autor Marcos André Torres de Souza, Universidade Federal de Goiás, 2000.

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ANO POPULAÇÃO11

164012 8001874 2.3791886 3.4661900 3.5551912 7.000

192013 5.9611933 12.0001940 13.4391950 35.5231960 101.2731970 235.8651980 532.7241990 787.8662000 1.071.2992010 1.221.979

11. Dados populacionais retirados dos livros dos autores: (Prezia, 2004, p. 41) e (Santos, 2006, p. 170).12. Dados referentes à população indígena.13. Levantamento feito pelo padre Celestino Gomes D’Oliveira.

Segundo o cientista Walter Neves, “Luzia (como foi chamada) não é somente a primeira brasileira: é também o ser humano mais antigo já encontrado no Continente Americano, com idade estimada entre 11 mil e 12 mil anos”, encontrada em Lagoa Santa, MG, em 1975. Os primeiros ha-bitantes de Guarulhos, que se tem registro, foram os paleoíndios Maromomi, que eram coletores: viviam da caça, da pesca e da coleta de frutos.

A grande mudança no uso dos recursos naturais da região São João aconteceu a partir da presença dos mineradores de ouro. Há de se ressaltar que a minera-ção foi uma síntese. Ela resume a disponibilidade da natureza e as necessidades econômicas, expressas na ação do império português na região. Para concretizar o desejo comercial, foi necessário o povoamento feito por brancos, senhores, a escravização dos indígenas e, posteriormente, dos negros capturados na África.

A história econômica e social mais recente aponta para aspectos facilmente visíveis, como a subdivisão do território em atividades de extração mineral industrializada, água, madeira, areia, pedra e argila; produção agrícola e atividades recreativas por meio de chácaras e sítios; habitações, escolas, etc.; serviços e comércios, aeroporto e um grande centro comercial na parte central da região São João.

A economia da região se articula com a da cidade de Guarulhos, que hoje oscila entre a 7a e a 9a posição no cenário nacional, sendo responsável por 1% do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil.

Reconstrução facial do crânio de Luzia. Museu Arqueológico de Lagoa Santa.

Mãe e filho numa aldeia de índios Guajajaras, descenden-te do tipo racial asiático. Foto Agência Brasil.

Aborígene australiano.*

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OS PRIMEIROS HABITANTES DE GUARULHOSO litoral brasileiro foi ocupado inicial-

mente por povos coletores, como os Maromomi que, por volta de 1400 da era cristã, foi expulso do litoral norte paulista pelos Tupi, originários do Paraguai. Esse fato alterou o quadro étnico e populacional não só do litoral, como também do Planalto Paulista, chegando ao território onde hoje é Guarulhos.

A documentação quinhentista, ao referir-se aele,usadiferentesgrafias.Assim, temos:Mo-romomis, Maramomis, Moromemim, Murumimi-nis. Na documentação do século XVII aparecem as variantes Guariminus, Guarumimim, Guru-mimins, Muruminis, Jeromomim, Garumimim e Guarulhos, entre outras. Neste nosso trabalho de registro da história guarulhense, decidimos acom-panhar a designação escolhida pelos jesuítas, que os chamavam Maromomi.

Alguns historiadores, como Capistrano de Abreu já no início do século passado, afirma-vam que “a imagem provável dos Guarulhos--Maramumis pré-cabralianos é de vasto grupo distribuído pelo litoral, por uma e outra aba da cordilheira marítima e da Mantiqueira, estenden-do-se para Norte até o Rio Jequitinhonha, talvez; as incursões de Tupinambás, Tupiniquins, Goita-cases e Aimorés produziram largos rombos sem destruir a trama. No baixo, como no Alto Paraíba, sua presença persistiu até que a mestiçagem, as epidemias e perseguições e caçadas os dissolves-sem” (Abreu, 1963, p. 247-248).

UM POVO COLETORParte do litoral norte paulista foi território Ma-

romomi, pois a orla de Caraguatatuba era conhecida como Enseada dos Maromomis, o que mostra a pre-sença desse povo, naquela região, por muito tempo.

Os Maromomi são da família Puri e perten-cem ao tronco linguístico Macro-Jê, grupo que

ocupava um vasto território entre a Serra do Mar, o Vale do Rio Paraíba do Sul e a Serra da Man-tiqueira. O nome Puri ou Pucki, como se autode-nominavam,parecesignificargente boa. Ocupa-ram extensa área do Sudeste, desde o Vale do Rio Paraíba, que corta os Estados de São Paulo, Rio de Janeiro e sudeste de Minas Gerais, até a região do Rio Pomba (Prezia, 2010, p. 17).

As fontes de alimento dos Maromomi eram a caça, o mel, os frutos da sapucaia e o pinhão da araucária, árvores típicas de Mata Atlântica; e no passado, abundantes na região dos bairros Tanque Grande, Fortaleza, Capelinha e Bananal. Atualmente são espécies raras, devido ao desma-tamento e a fatores climáticos.

Bairro Cocanha, em Caraguatuba (SP), chamada antiga Enseada dos Maromomi.

Povo Puri aparentando os Maromomi.

Fruto da sapucaia e pinhão da araucária.

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Sobre os primeiros habitantes da região leste doBrasil,BeneditoPreziaafirma:“(...)issomostraque os paleoíndios, como são chamados, deviam pertencer ao mesmo grupo do povo que teria vindo da África ou da Oceania há cerca de 50 mil anos, portanto, antes do estabelecimento do tipo racial asiático. Um homem com cabelos espetados, como os negros, desenhado há 10 mil anos, na caverna de Cerca Grande, em Lagoa Santa, reforça essa tese. Pelos vestígios encontrados, esses povoadores cons-truíam acampamentos provisórios, em regiões des-campadas, ou se escondiam em abrigos naturais e cavernas. Alimentavam-se de pequena caça, pesca, frutase raízes.Comofimdoperíodoglacial,porvolta de 10 mil anos atrás, o clima do continente mu-dou, tornando-se a região leste mais quente e chuvo-sa. Dessa forma, avançou a Mata Atlântica” (Prezia, 2004, p. 14) sobre o que antes era o Cerrado.

O fato de os Maromomi serem um povo co-letor e não dominar a técnica da cerâmica, leva-nos a crer que eles têm ligação com os paleoíndios (po-

pulações que viveram no período paleolítico, ou seja, na idade da pedra lascada), e que começaram a ocupar nossa região por volta de 8 mil anos atrás. O termo índio (usado para designar as etnias que che-garam ao território, hoje chamado Brasil, a partir de 8 mil anos atrás) foi atribuído pelos portugueses às populações do tipo racial asiático, por imaginarem ser o Continente Sul-Americano parte da Índia.

Osestudoshistoriográficosjáconstataramquehouvequatrofluxosmigratóriosemdireçãoao atual Continente Americano. “Os três últimos foram, todos eles, empreendidos por populações mongóis (cujo DNA é o mesmo das populações indígenasatuais).Anteriormenteaos trêsfluxosdos mongóis, no entanto, teria havido um ciclo migratório de povos não mongóis, cujos traços eram muito mais similares aos dos atuais afri-canos e aborígenes australianos. Esse grupo an-cestral – que também povoara a Ásia em tempos remotos – teria sido assimilado, ou substituído, pelas levas mongóis”. (Bueno, 2003, p. 15).

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FUNDAÇÃO DA ALDEIA DE NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO DOS MAROMOMI

Segundo o padre Anchieta, por volta de 1570, os Maromomi apareceram em Bertioga, mostrando-se bastante receptivos aos jesuítas, o que permitiu a sua catequização, por volta de 1572, pelo padre Manuel Viegas, que passara a conviver entre eles. (Textos históricos, [c.1596] 1989, p. 142). Segundo relato do mesmo padre Viegas, em 1585, os Maromomi já estavam bas-tante próximos de São Vicente, o que facilitou o trabalho missionário. Mas a falta de padres impe-diu a criação de uma missão (LEITE, 2004, T. 9, Apend. B, p. 542).

Em1604,osjesuítasfizeremnovopedidoaosuperior em Roma para a fundação de uma missão entre os Maromomi, que já se encontravam em Pi-ratininga (Arch. Rom. S. J., Congr. 51. In: LEITE, RIHGSP, 1937, v. 32, p. 253). Mesmo com essa autorização e com a orientação de que fosse cons-truída a missão “em lugar seguro, ao abrigo de ataques dos índios”, ela foi se concretizar somente alguns anos depois, entre 1607 e 1608, graças ao empenho, certamente, do padre Viegas, chamado na época de “Pai dos Maromomi”.

Em 1608, encontramos as primeiras alusões a uma documentação civil sobre os Maromomi, já localizados no planalto, feitas pela Câmara de São Paulo ao se referir à sua presença ao longo do Rio Tietê. Isso é uma prova de que apenas nessa épo-ca algumas famílias viviam acampadas à margem direita desse rio (ACSP, 5.10.1608, v. 2, p. 222).

A missão, que passou a se chamar Nossa Senhora da Conceição dos Maromomi, teve como primeiro superior o padre Sebastião Gomes (LEI-TE, id., 2004, T. 6, L. 4, c.1, p. 501). Certamente, o padre Viegas não teria condições, na ocasião, de assumir a obra, pois morreu em 1608. Com sua morte e com a perda de prestígio dos jesuítas no planalto, os indígenas da Missão começaram a ser requisitados para trabalhos em fazendas e em ou-tros serviços, como na forja de Diogo de Quadros, no Ibirapuera, atual Santo Amaro, conforme uma Ata da Câmara Municipal de São Paulo de 1609 (ACSP, 15.02.1609, v. 2, p. 234-235).

A partir de 1630, os paulistas passaram a chamá-los de Guarulhos, certamente por influ-ência dos moradores do Rio de Janeiro, onde um povo com língua semelhante tinha esse nome. As-sim, a aldeia passou também a se chamar Nossa Senhora da Conceição dos Guarulhos ou dos Go-arulho.OmesmoCapistranodeAbreujáafirmavaque “não há motivo para duvidar que os Guarulhos de Muriaé [RJ] sejam idênticos aos [Maromomi] que foram catequizados por Manoel Viegas e Ma-teus Nunes de Siqueira” (Abreu, 1963, p. 248).

EmGuarulhos,a intensificaçãodoprocessode escravização dos Moromomi se deu, principal-mente, com o advento da mineração de ouro. No atu-al bairro da Tapera Grande, antigo território guaru-lhense, os padres jesuítas se estabelecerem próximo dos garimpos de ouro com um grupo Maromomi, de onde foram expulsos em 1640. Em 1641, o reduto Maromomi da Tapera Grande passou a ser dirigido pelo capitão e vereador da Câmara de São Paulo, João Martins Herédia. (Noronha, 1960, p.15).

Igreja Matriz, na antiga Rua Direita (atual Rua Dom Pedro II), em data desconhecida.

Indígenas moradores de Guarulhos, organizados em torno da Associação Arte Nativa.

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PRESENÇA DE OUTRAS ETNIASINDÍGENAS

No contexto do tema em discussão, reti-ramos do livro do IV Centenário de Guarulhos uma informação que merece ser analisada. Se-gundo Noronha, nas margens do Rio Tietê foram encontrados sambaquis e urnas funerárias. Diz ele: “Desde muito cedo, tribos sem conta, foram trasladadas para o território dos Guarulhos. Uma das provas desse fato está no grande número de sambaquis já encontrados em vários pontos deste rincão, notadamente nas proximidades do Tietê. Ainda recentemente, junto a uma variante da Es-trada da Conceição, na divisa de Guarulhos com São Paulo, foram encontradas cinco urnas fune-rárias de barro, algumas com ossos humanos, e vasilhas de barro cozido. A seção de etnologia do

Museu Paulista concluiu haver existido ali uma aldeia de índios Guarani, num período variável de 200 e 400 anos”. (Noronha, 1960, p, 17)

Como os Maromomi não eram ceramistas, é possível que essas urnas tenham sido dos nu-merosos Tupi que ocuparam o planalto entre os séculos XV e XVII.

O processo de migração campo-cidade, de-rivado da industrialização do Brasil, e especial-mente de Guarulhos, trouxe, nas últimas décadas, mais de uma dezena de etnias indígenas para o nosso município, sobretudo originárias do Nor-deste, como os Pankararu, os Pankararé, os Xuku-ru, os Wassu-Cocal, além dos Tupi-Guarani, to-talizando cerca de 1.500 habitantes indígenas, al-guns deles organizados em torno da organização não governamental Arte Nativa, criada em 2006”. (Guarulhos Espaço de muitos povos, 2010, p. 45).

Os Guarulhos são do Rio de Janeiro

A respeito da polêmica sobre o nome do povo aldeado em Guarulhos, constatamos que esse povo é originário do litoral norte do Rio de Janeiro. Em visita ao Município de Campos dos Goitacazes, observamos que lá existiu o Distrito de Santo Antônio dos Guarulhos, criado pela decisão episcopal de 3 de janeiro de 1759. Em 1890, o Distrito foi elevado à condição de Freguesia, recebendo o nome de San-to Antônio dos Guarulhos. Em Campos dos Goitacazes existe atualmente o Distrito dos Guarus, como observa um pesquisador da história da cidade: A origem do nome Guarus advém dos índios Guarulhos, tribo que habitava a região desde o século XVII. A mudança de nome de Guarulhos para Guarus ocor-reu há alguns anos, por decisão dos poderes municipais, para poderem diferenciar da denominação da cidade de Guarulhos, no Estado de São Paulo. (Herbson Freitas, pesquisador da história de Campos).

Com o advento da colonização portuguesa no território e a disseminação da “língua geral paulista” (mistura das línguas Portuguesa, Tupi e Guarani), verifica-se também uma expansão da língua e cultura Tupi

em regiões do sertão (lo-calidades afastadas das vilas e do litoral), antes dominadas, predominan-temente, por povos de lín-gua do tronco Macro-Jê e Aruak. Como essa língua geral foi falada até o fi-nal do século XVIII pelos moradores de São Paulo de Piratininga, ainda hoje são encontrados muitos vocábulos Tupi-Guarani no território guarulhense, como Itaberaba, Cabuçu, Guaraçau, Capuava, Pi-rucaia, Baquirivu Guaçu, Tietê, Piratininga, Jure-ma, entre outros.

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AS LAVRAS DE OURO E O TRABALHO ESCRAVO NA REGIÃO SÃO JOÃOComo foi dito no capítulo de abertura desta

publicação, a mineração de ouro e o trabalho es-cravo estiveram na origem da formação da região São João. Estruturas remanescentes dos antigos garimpos de ouro existentes no local vêm atrain-do a atenção dos mais renomados pesquisadores, que buscam compreender as origens da mineração deouroemSãoPauloeaprovávelinfluênciaqueesta pode ter exercido sobre as descobertas em Minas Gerais, ocorridas apenas 100 anos depois. Nesse sentido, vale a pena conhecer os seguintes relatos, de três fontes diferentes, sobre o assunto:

UMA DAS PRIMEIRAS MINAS DE OURO DO BRASIL

“As regiões pioneiras na exploração do ouro na época da colônia no Brasil foram Gua-rulhos, Jaraguá, Santana de Parnaíba, Sorocaba e Paranaguá (esta última situada hoje no Esta-do do Paraná), localizadas na antiga Capitania de São Vicente. Essas mineralizações foram in-tensamente lavradas durante o período colonial, tendo sido preservados, na região de Guarulhos, valiosos registros da lavra de ouro em aluviões, coluviões, eluviões e saprólito, representando estruturas arqueológicas de grande valor histó-rico, numa área que hoje totaliza diversos quilô-metros quadrados. Também foram encontradas

VISITA DO GOVERNADOR-GERAL DO BRASIL

“Deu-se conta desses descobrimentos ao sr. d. Francisco de Souza [então, 1599, gover-nador-geral do Brasil] que para logo mandou da Bahia para administrador destas Minas, e capitão de São Paulo, Diogo Gonçalves Laço, com 100 mil-réis de ordenado por ano, e trouxe por seu al-feres a Jorge João, e por mineiro experimentado a Gaspar Gomes Mualha e Miguel Pinheiro Zura-ra, com 200 mil-réis de ordenado por ano a cada um deles” (Taques, 1980, p. 33). Obs.: Relatos dão conta de que d. Francisco também esteve nos garimpos de Guarulhos. “(...) Entusiasmado com as descobertas de Afonso Sardinha, d. Francisco, determinou ao capitão Diogo Arias, em dezem-bro de 1598, que conduzisse duzentos índios para São Paulo. Uma parte desse contingente veio para as minas auríferas guarulhenses”. (Noronha, 1960, p.17). De acordo com Taques, os indígenas foram capturados no Espírito Santo.

na região [bairro das Lavras] restos de um pilão de ferro usado para a moagem de quartzo de veio para a retirada de ouro e um cadinho utilizado na fundição deste metal”. (Annabel Pérez Aguilar, mestre e doutora em Geologia pela Universidade de São Paulo, USP).

Fragmentos de parede de adobe encontrados no Morro do Itaberaba. Segundo Antônio Bertozzi Neto (foto), que nas-ceu no local, antiga propriedade de seu avô Antônio Bertozzi, a parede pertencia a uma antiga senzala. Quanto aos

escravos, se lembra apenas de Beijo, nascido no sítio, e de seu filho Gino, hoje morador de Nazaré Paulista.

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AS SEIS LAVRAS DE OURO“Houve pelo menos seis lavras auríferas

em território guarulhense, que se localizavam em pontos diferentes de uma vasta área, compreen-dendo algumas dezenas de quilômetros quadra-dos, onde se acham os bairros das Lavras, Catas Velhas, Monjolo de Ferro (esta deve ter sido a chamada Lavras-Velhas-do-Geraldo), Campo dos Ouros, Bananal e Tanque Grande. Também não há dúvida que foram inúmeros os seus explo-radores”. (Noronha, 1960. p. 36).

“Aqui damos a palavra ao jornalista [Ma-noel Rodrigues Ferreira]: Pelas alturas de 1597, quando foram descobertas, nelas se lavrou ouro. Na altura de 1661, vamos en-contrar moradores de São Paulo extraindo ouro dela. A Serra de Jaguamimbaba passou, posteriormente, a ser chamada Mantiqueira. E a mina, localizada por Afonso Sardinha, passou, depois, a ser chamada La-vras Velhas do Geraldo, no distrito da Conceição dos Guarulhos. Em meados do século XVIII, vamos encontrar, novamente, os moradores de São Paulo, extraindo ouro da antiga mina de Jaguamimbaba, agora com o nome de La-vras Velhas do Geraldo”. (Noronha, 1960, p. 33-34).

Ocorrências minerais em Guaru-lhos. Destacado em verde, a área de abrangência das seis lavras de

ouro do município. Mapa modi-ficado do Instituto Geográfico e

Geológico de São Paulo. Secreta-ria da Agricultura, 1950.

Lavras de ouro do monjolo de ferro, exploração realizadano século XX.

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QUANTIDADE DE ESCRAVOSEm nossas pesquisas no Arquivo Público

doEstado,identificamosqueem1795,quasedoisséculos depois do início da atividade aurífera na região São João, havia no bairro do Senhor do Bom Jesus, 23 pessoas caracterizadas como es-cravos, e mais 86 no bairro da Capela, ambos hoje pertencentes ao bairro da Capelinha. No bairro das Lavras destacam-se duas propriedades: a de João Filipe Ap. Pinto, onde havia 75 escravos e a de Matheus da Silva Bueno, com 65 escravos.

De acordo com Caetano Juliani, geólogo da USP, o declínio da atividade mineira ocorreu no início do século XIX, como atestado pelos traba-lhos de Mawe (1812) e Eschwege (1833). O pri-meiro visitou as minas em atividade em 1808 (in-cluindo as da região de Guarulhos); e o segundo em 1818, já paralisadas, bem como Kidder (Egas, 1925), em 1839. Segundo Oliveira (1934-1935), o decréscimo da mineração em São Paulo foi em consequência da emigração dos bandeirantes pau-listas para os distritos mais ricos de Minas Gerais, Bahia, Goiás e Mato Grosso.

Em 1804, segundo informações obtidas no Arquivo Público do Estado, na então Freguesia de Nossa Senhora da Conceição dos Guarulhos, havia 3.435 habitantes, sendo 705 caracterizados como escravos (349 homens e 356 mulheres). Já no ano de 1822, ocorre a diminuição da população: 3.049 habitantes, dos quais 490 eram submetidos ao tra-balho escravo. O fato pode ser explicado pela dimi-nuição das atividades auríferas na região, ao mesmo tempoemqueseintensificouamigraçãoparaare-gião de mineração fora do território paulista.

Apesar das centenas de anos que separam a atualidade e as atividades auríferas, e o fato de a região ter sofrido intenso dinamismo no uso do solo,aindasãomuitosignificativasasmarcasdamineração de ouro na região São João. Além dis-so, é vasta a toponímia relacionada ao garimpo e aossítiosarqueológicosjáidentificadosporespe-cialistas, com contenções de barrancos formados por pedras e canais de drenagem construídos para a extração de ouro. Esses sítios estão entre os mais preservados e mais bem documentados do Brasil.

AS TÉCNICAS DE MINERAÇÃO DE OURO EM GUARULHOS ESTÃOENTRE AS MAIS ANTIGAS DO BRASIL

Por Edson José de Barros

A exploração de ouro em Guarulhos é reco-nhecida por diversos autores como das primeiras da Província de São Vicente, depois São Paulo de Piratininga. Além dos autores mencionados, abai-xo a opinião de outros renomados pesquisadores.

Em Calogeras (1904), também são reco-nhecidososSardinha(paiefilho)comoosdesco-bridores das minas de ouro em território paulista. Vejamos, “... Os dous paulistas seriam homens de 66 ou 67 annos e de 30 annos respectivamente; é pois,detodoacceitavelaaffirmaçãodePedroTa-ques attribuindo a ambos as descobertas do ouro e metaes no interior de São Paulo. As viagens de-vassando as minas estenderam-se talvez por prazo mais longo, de 1589 a 1597, e foram successiva-mente manifestados os corridos de Jaguamimba-ba (Mantiqueira), em Jaraguá, em Voturuna no termo da Villa de Parnahyba, nos Guarulhos, no sítio conhecido por Lagoas Velhas do Geraldo no fim do século XVIII, em Byraçoiaba, em SantaFé. Observa-se que em todas as lavras, bem o diz Frei Vicente, eram de ouro de lavage, mas achados uns pontos ricos, permitiam o enriquecimento rá-pido dos faiscadores.” Calogeras descreve que os antigos métodos de minerar, seriam: serviços dos veios, dos taboleiros, das grupiaras, dos vales nas

Livro de aforamento (1891-1920). Em destaque: Lavras do Bicame, Ribeirão das Lavras. Fonte: Arquivo Municipal.

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rochas auríferas, das encostas e subterrâneo, além da concentração das areias e apuração do ouro.

Entender as formas de mineração que per-mearam os territórios auríferos do Brasil e em es-pecial o de Guarulhos pode ser um caminho para se compreender as complexas formas de organi-

Canal talhado na rocha, na Cachoeira do RibeirãoTanque Grande.

Duto de 96 metros de extensão no Ribeirão Tomé Gonçalves. Água utilizada para extração de ouro.

zação dessa exploração, observa Silva Alexandre (2008), que a mineração ocorrida na colônia por-tuguesa tinha suas jazidas auríferas dividida em duas categorias principais: o ouro de veios e o ouro encontrado nos rios. Os métodos de explo-ração descritos pela autora, para Minas Gerais, mostram-se semelhantes aos de Guarulhos, veja-mos:“Faiscadoresgarimpavamoscursosd’água,usando bateias de metal ou de madeira, nas quais as partículas de ouro, devido maior densidade, se depositavam no fundo. A mesma técnica era apli-cada em operações mais elaboradas, chamadas tabuleiros ou era efetuadas nas margens dos rios e encostas, denominadas grupiaras. As aberturas feitas nas encostas recebiam o nome de catas. Quartzo e pedregulho eram escavados e levados para a fonte de água mais próxima para serem tra-balhados com as bateias, ou levava-se água até a cata fazendo com que as camadas de pedregu-lhos fossem trabalhadas por pressão hidráulica. A lama que restava passava depois por várias caixas de lavagem que prendiam partículas de ouro até um cocho, onde os escravos garimpavam os re-síduos, este procedimento se denominava lavras que pediam um alto investimento inicial”.

Henriques (2008) destaca em uma área de exploração de Minas, “a frequência e a variedade

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de canais e construções que possibilitavam e re-sultavam dos trabalhos de mineração. Entre eles destacam-se: canal escorado, canais cortados na rocha, canais de adução, canais de madeira ou bicames, aterro, barragens, catas, açudes, mun-déus, muros de arrimo e desvios. Discorrendo sobre a necessidade de implantação destes siste-mas hidráulicos e os elevados custos necessários, onde os muros de pedra também são elementos comumente encontrados nos sistemas hidráuli-cos ligados à mineração. Podiam ser de “junta seca”, ou seja, os blocos de pedra são empilhados sem adição de argamassa. Nos depósitos aluvio-nares e nas encostas das serras havia ocorrência de ouro, depositado em épocas remotas, até 100 palmos, cerca de 20 metros, nas encostas dos morros contando a partir dos talvegues dos vales. São chamadas de grupiaras; e os trabalhos nelas executados são chamados serviços de grupiaras oulavras.”,verificamosaquimaisumavez,queas formas remanescentes da mineração se asse-melham as feições observadas em Guarulhos.

A técnica que recebe a designação de Nova Espanha incorpora elementos que permitem uma maior produção de ouro, com melhor proteção da força de trabalho, essa técnica representada por complexo sistema de engenharia hidráulica e de muros de proteção, além de inovações na separação do ouro da rocha, foram rapidamente incorporadas nas áreas mineradas pelos ganhos

Contornos das divisões físicas e políticas da América do Sul. Em destaque (amarelo), Conceição (atual Guarulhos) e Mina de Velho (Minas de ouro). Autor: Aaron Arrowsmith, 1817. Fonte: David Rumsey Historical Map Collection.

Lago de Pedra – Fazenda da Moenda Velha.

proporcionados na exploração de ouro. As carac-terísticas da exploração colonial em Guarulhos indicam a técnica denominada de “Nova Espa-nha”. As estruturas de mineração de Guarulhos talvez seja o maior acervo preservado de São Paulo, com o uso da técnica Nova Espanha.

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FAZENDA BANANAL, CASA DA CANDINHA E O SÃO JOÃOBananal, Candinha e São João: três nomes,

três momentos da história guarulhense. As escritu-ras e contratos de compra e venda da maioria dos terrenos do São João e região informam que eles pertenciam à antiga Fazenda Bananal, cuja casa sede é hoje conhecida como Casa da Candinha. Quando foi formada a Fazenda Bananal? Como se deu o processo de divisão do grande latifúndio em sítios,chácarase,porfim,loteamentos?

A palavra Bananal é originária de banani, termo da língua geral ou Nheengatu, falada no período colonial.Bananal (banani) significa rio sinuoso. É um vocábulo muito presente em várias outras partes do território brasileiro. No Estado de São Paulo existe o Município de Bananal, locali-zado a 316 quilômetros da Capital, na divisa com o Estado do Rio de Janeiro, onde encontramos a cidade de Seropédica, originária de uma antiga fazenda chamada Bananal de Itaguaí. Na Bahia, Bananal é o nome de um povoado remanescente de um quilombo. E, no Araguaia, rio que faz a divisa natural entre os Estados de Mato Grosso, Goiás, Tocantins, Maranhão e Pará, Bananal é uma ilha indígena que compreende 29 aldeias.

É provável que o nome da Fazenda Bananal, em Guarulhos, tenha surgido em função do Rio BaquirivuGuaçu,cursod’águasinuosoedelon-ga extensão que corta as terras da antiga fazenda e que também foi recurso importante para a mi-neração de ouro. O nome Serra do Bananal, que compreendia a área da Fazenda, é também uma das variações da denominação Serra da Cantareira.

O SURGIMENTO DA FAZENDA BANANAL

Em Guarulhos, é muito conhecida e utili-zada a Estrada dos Veigas, caminho que come-ça entre os bairros do Cabuçu e do Taboão e dá acesso à Cidade de Mairiporã (antiga Juquery). Que relação pode ter a palavra Veigas com a pro-vável origem da Fazenda Bananal? Documentos históricos registram: em 1627, um dos membros da família de Amador Bueno da Veiga, recebeu, por meio da carta de sesmarias no 6 (Pinho, 2010, p. 74), terras localizadas em Mairiporã, ocupadas inicialmente por Antônio Bueno, tio de Amador Bueno da Veiga. Noventa anos depois, em 1717, Amador Bueno da Veiga recebeu de d. Pedro de Almeida uma carta de sesmaria, na verdade uma “doação” de terras contíguas às de sua família. Diz o documento:

“Amador Bueno da Veiga, morador na Ci-dade de São Paulo... [solicita] na paragem cha-mada Nossa Senhora da Conceição, está uma sorte de terras devolutas [desocupadas] e alaga-diças que vêm do rio chamado Anhemby (Tietê) até chegar aos valos do terreiro da sua casa e fa-zenda que naquela mesma paragem êle tem com criações de gado vacum e cavalgaduras, as quais terão de comprimento mil braças pouco mais ou menos, começando da barra do Ribeirão Maqui-roby (Rio Baquirivu Guaçu) correndo pelo dito Rio Anhemby abaixo, até na barra do ribeirão chamado Canhancoya (Cocaia), e de largo cento e cincoenta braças pouco mais ou pouco menos,

Atual Casa da Candinha, antiga casa-sede da Fazenda Bananal, construída provavelmente em 1825.

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começando o rumo do dito Rio Anhemby até en-testar nos valos e terreiros das casas e fazendas do dito Amador Bueno...”. (Carta de Sesmaria de 21 de setembro de 1717, citada por Noronha, 1960, p. 72).

Pela descrição da carta mencionada, essas terras localizam-se onde hoje é o Parque Cecap, nos limites dos bairros Taboão e Cocaia, seguin-do além do território guarulhenses (ao Norte) no Município de Mairiporã, certamente onde os des-cendentes de Antônio Bueno tinham terras.

Amador Bueno da Veiga era cabo de guerra, sertanista e caçador de indígenas. Na guerra vi-toriosa dos Emboabas, comandou os paulistas no combate contra baianos e minei-ros. Segundo consta, era profun-do conhecedor do território pau-lista e mineiro. Faleceu em 1719, no sertão do Rio Pardo, em bus-ca de ribeiros auríferos. Deixou trêsfilhose trêsfilhas,erades-cendente de Amador Bueno da Ribeira, o velho (aclamado pelos espanhóis como rei dos paulistas em 1641, título que recusou).

Em 1856, exatamente 139 anos após a concessão da carta de 1717, foi localizada a decla-ração que descreve os limites da Fazenda Bananal, feita por Bonifácio de Siqueira Bueno (descendente direto de Amador Bueno da Veiga, então proprie-tário da Fazenda Bananal), e re-digida pelo padre João Vicente Valadão, conforme exigência da Lei de Terras no 601, de 18 de setembro de 1850, regulamen-tada em 30 de janeiro de 1854 pelo Decreto Imperial no 1.318. Na declaração de terras de nú-mero 53, Bonifácio afirma que suas propriedades foram obtidas por heranças e compra.

CASA DA CANDINHA: GENEALOGIA DE SEUS PROPRIETÁRIOS

Bonifácio de Siqueira Bueno nasceu em 19 de julho de 1806, na atual Rua D. Pedro II, centro de Guarulhos. Além de fazendeiro, era professor de primeiras letras. Faleceu aos 74 anos, no dia 4 de fevereiro de 1880, estando sepultado na Igreja do Bonsucesso. Aos 24 anos de idade, Bonifácio se casou com Ana Maria de Castro, com quem teve trêsfilhos:AntônioAlvesdeSiqueiraRa-mos, João Álvares de Siqueira Bueno (deputado provincial por Guarulhos em duas legislaturas: 1880/1882 e 1884/1885) e Brígida Maria Bueno

Mapa de Guarulhos de 1938. Destacado em amarelo, as dimensões da Fazen-da Bananal.

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CASA DA CANDINHAO casarão de taipa de pilão, atualmente co-

nhecido como Casa da Candinha, provavelmente foi construído em 1825 pelo capitão Antônio Bueno da Silveira (pai de Bonifácio de Siqueira Bueno). É provável que na fazenda tenha existido, muito antes do século XIX, outro casarão um pouco menor, uti-lizado como instalação de apoio para a mineração de ouro. O fato é que o nome Casa da Candinha co-meçou a ser difundido após o casamento do viúvo Olegário com Candinha. “Foi desta forma que ela herdou uma área de aproximadamente 7.800.000 metros quadrados e que nunca, mesmo no tempo de Bonifácio de Siqueira Bueno, foram aproveitados em sua totalidade.” (Pinho, 2010, p. 173).

de Castro, a qual herda a Fazenda Bananal, e se casa com José Almeida Barboza. Brígida e José tiveramcincofilhos:Benedita,Olegário,Marco-lina, João Gonçalves e Maria Cândida.

Olegário de Almeida Barboza nasceu em 18 de março de 1878. Casou-se no dia 22 de setem-brode1908comEuláliaMunhoz,filhadeFelícioMarcondes Munhoz, falecida no dia 28 de março de 1918. Menos de seis meses depois da morte da esposa, Olegário casou-se (dia 21 de setembro) com Cândida Maria Rodrigues, a Candinha – ela, aos16 anos de idade, e ele, aos 40.

Na extremidade norte da Fazenda Bananal, escreve Celso Luiz Pinho sobre Cândida e seus pais: ... já nas divisas com terras que mais tarde seriam compradas por Maciel Lourenço Seródio..., havia uma modesta casa onde moravam Manoel Rodri-gues Brito, sua esposa Antônia Maria Oliveira e seus cinco filhos. Entre eles, havia uma jovem, de baixa estatura, algo robusta, tímida, acaipirada e de pele morena clara [...] Candinha, que em várias ocasiões chegou a prestar serviços no casarão, aju-dando Dona Eulália Munhoz nos afazeres da casa.

Se no primeiro casamento Olegário não tevefilhos,comCandinhateveoito:MarcolinadeOliveira Barboza (11/6/1919); Maria Cândida de Almeida Barboza, a Bia (9/10/1920); os gêmeos Otávio e Paulino Almeida Barboza (4/10/1923) e Braz e José Manoel (1927); Juvenal, o Lazinho (1925); e Paulo, em 1932.

Fundos da Casa da Fazenda Bananal, em 1915.

Dona Candinha: filhos e familiares.

Candinha na Cachoeira do Ribeirão Tanque Grande.

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SÃO JOÃO

Olegário de Almeida Barboza faleceu dia 11 de setembro de 1932. Após a viuvez, Candinha teve que assumir o sustento da família ao longo de38anos.Em1932,entreosoitofilhos,amaisvelha tinha apenas 13 anos de idade. A estratégia de sobrevivência da família esteve voltada para a prática da agricultura, da criação de gado e ven-da de madeira principalmente durante a Segunda Guerra Mundial, período em que a Serra da Can-tareira foi totalmente desmatada.

A partir de 1950, Candinha começou a ven-der glebas de terra da antiga Fazenda Bananal, descritas como sítios ou chácaras, registros que se encontram no 12o Cartório da Penha. No começo

de 1960, vários desses sítios e chácaras passaram a ser subdivididos em lotes urbanos, de onde se origi-naram muitos dos loteamentos da região São João.

No dia 26 de novembro de 1970, depois de sofrer um Acidente Vascular Cerebral (AVC), e após 12 dias de internação hospitalar, com cerca de 70 anos de idade, Candinha morreu, deixando seu nome gravado na história de Guarulhos, e en-volto por lendas e polêmicas relacionadas a um comportamento que, em muitos aspectos, destoa-va do padrão feminino da época.

Escravidão na Casa da Candinha?

Entre os pesquisadores, é consenso de que na Fazenda Bananal existiu escravidão, um dos principais atributos histórico-culturais que motivaram a criação, em 22 de dezembro de 2008, por meio da Lei no 6475 do Parque Natural Municipal da Cultura Negra - Sítio da Candinha, cuja importância está as-sociada também a aspectos ambientais. As opiniões se dividem apenas quanto à localização da senzala.

Entre os moradores, muitos, inclusive, afir-mam que Candinha era dona de escravos. Cabe lembrar que Candinha passou a morar na casa--sede da Fazenda apenas em 1918 (30 anos de-pois da abolição da escravatura, em 13 de maio de 1888), quando se casou com Olegário. Sabemos que até hoje, no Brasil, existem trabalhadores submetidos à prática do trabalho escravo, mesmo não sendo escravos. Por isso, não se pode descartar a hipótese de que tal fato ocorresse mesmo durante a Era Candinha, ainda que disfarçado sob a forma de trabalho como colonos.

No entanto, a criação do Parque Municipal da Cultura Negra representa um tributo não à escravi-dão, mas sim às mulheres e homens que ousaram resistir contra ela e que, por fim, derrotaram-na.

Para Pétré-Grenuilleau, 2008, p. 51, com base no artigo 44 do Código Negro afirma: “... O escravo também era considerado oficialmente um ‘ bem móvel’, isto é, uma coisa. Portanto, ele podia ser comprado, segurado e vendido de forma legal ou então transmitido por herança. Entrando como parte do capital da plantação, ele podia ser leiloado em caso de falência, do mesmo modo que o maquinário e as benfeitorias, mas não podia ser partilhado por vários senhores... O escravo não possuía patrimô-nio reconhecido: tudo que tinha pertencia ao seu ‘se-nhor’. E, como coisa não podia recorrer á justiça...”. Área de entrada da Casa da Candinha. Jovem negro,

colono da fazenda.

Ao fundo, paredes de taipa de pilão, apontadas como possível local da senzala.

Para refletir!

Quais as diferenças entre a situação dos escravos e dos colonos de fazendas?

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A PRESENÇA DOS IMIGRANTES NA REGIÃO SÃO JOÃOUsamos a palavra “imigração” para designar

os processos de deslocamentos de pessoas, princi-palmente atraídas por melhores condições de vida, que chegaram a Guarulhos e à região São João, vindas de países estrangeiros, de outros Estados do Brasil ou mesmo de cidades paulistas. Percebe-se por meio das estatísticas que os grandes saltos no contingente populacional de Guarulhos e da região São João são provenientes de processos migratórios, ocorridos em dois momentos: na segunda metade do século XIX e na década de 1940. De comum entre todos os que vieram para a cidade há, com certeza, a busca por trabalho e por acesso a serviços básicos como educação, saúde e lazer, entre outros.

Em termos de ocupação e uso dos espaços, como visto, as primeiras atividades econômicas na região São João ocorreram em maior volume na por-ção serrana. O novo momento da história econômica, social e cultural tem como cenário as proximidades da várzea do Rio Baquirivu Guaçu e a faixa inter-mediária entre o rio e a serra, áreas de maior concen-tração de moradias, comércios e serviços atualmente.

Alguns traços característicos da região são a grande concentração de habitações populares e o deslocamento a que são obrigados os moradores para chegarem aos seus postos de trabalho diariamente. Partesignificativadaspessoascomeçouachegara

partir da década de 1960, atraídas pelo pleno desen-volvimento do ciclo industrial e pela oferta de terre-nos relativamente baratos nos bairros da região.

Tecelagem Carbonel, situada ao lado da Estação Guarulhos.

Carta de chamada para a entrada de imigrantes no Brasil. Documento fornecido por Umbelina, imigrante portuguesa

e moradora da região São João.

Olaria. Segundo Noronha, em 1956 existiam 200 olarias em Guarulhos. Segundo o mapa de Guarulhos de 1971 – Levantamento Aerofotogramétrico VASP – Em Guarulhos

havia neste ano 118 olarias, sendo somente no bairrodas Lavras, 40 olarias e 19 portos de areia.

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NÚMEROS SOBRE A INDUSTRIALIZA-ÇÃO E IMIGRAÇÃO

De acordo com o IBGE, os dados popu-lacionais da cidade para 1970 eram de 235.836 moradores, com 57,5% de imigrantes nacionais. A população atual de Guarulhos é de 1.221.979 (IBGE, 2010).

Em 1912, antes da instalação das primei-ras indústrias, habitavam Guarulhos, de acordo comopadreCelestinoGomesD’Oliveira,7milpessoas (4.950 brasileiros e 2.050 estrangeiros: 1.800 italianos, 100 portugueses, 75 espanhóis, 50 árabes e 23 pessoas de outras nacionalidades). Entretanto, dados do IBGE de 1920 indicam uma população em Guarulhos de 1961. De qualquer maneira, ha consenso do grande número de imi-grantes na cidade nesse período.

A população trabalhava em algumas poucas fazendas, chácaras e olarias. A grande novidade do início do século XX foi a instalação das primeiras in-dústrias no município. Cerâmica Paulista, em 1911, no bairro de Vila Galvão; Tecelagem Carbonel, em 1917, ao lado da Estação Ferroviária Guarulhos; Fábrica de Polainas e Calçados, do italiano Josep Saraceni, em 1919, onde hoje é o estacionamento do Shopping Internacional; e a tecelagem Casimiras Adamastor, em 1926, em cujo prédio funciona hoje o Centro de Educação Municipal Adamastor.

FAZENDAS TRANSFORMADAS EM LOTEAMENTOS

Após a Segunda Guerra Mundial, com a in-tensificaçãodocrescimentoindustrial,oimportantepara as empresas era contar com uma força de traba-lho abundante e barata, objetivo alcançado no Brasil, pormeiodaaceleraçãodofluxomigratóriocampo--cidade. Nessa fase do capitalismo, os empresários deixaram de construir as vilas operárias e os trabalha-dores foram residir afastados dos seus locais de traba-lho, passando a arcar integralmente com a compra do terreno, a construção da casa e o pagamento de trans-porte. Com isso, os capitalistas ampliaram a possibi-lidade de lucro para além do chão das fábricas.

A formação da região São João foi possível graças ao estoque de terras rurais (sítios e chácaras) disponíveis, postas à venda para os imigrantes re-cém-chegados, de modo geral, empregados da cons-trução civil e das indústrias instaladas no município.

Implantação do loteamento Cidade Seródio, iniciado em 1965, em local destinado à produção de milhopara o consumo das aves da antiga Granja Aliança.

Uma das características do desenvolvimen-to capitalista no Brasil, até a década de 1930, era a construção de vilas operárias contíguas aos lo-cais de trabalho, as famosas colônias dos operá-rios, cujas residências eram alugadas ou vendidas aos trabalhadores que ganhavam melhores salá-rios. Exemplos disso são as colônias operárias de Vila Galvão e as casas do entorno da Fábrica de Calçados e Polainas de Josep Saraceni.

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PORTUGUESES, ITALIANOS, ALEMÃES, JAPONESES E NORDESTINOS NAREGIÃO SÃO JOÃO

Por meio de entrevistas constatamos que os principais grupos que chegaram a partir da década de 1930 à região São João, vindos do estrangeiro na condição de imigrantes, foram os portugueses, os italianos, os alemães e os japoneses. Nos mar-cos da imigração nacional, em maior quantidade, os nordestinos em princípios da década de 1940.

Os estrangeiros, além da origem, tinham em comum o fato de habitar e trabalhar na várzea do Rio Baquirivu Guaçu, em sítios e chácaras. De modo geral, os imigrantes do Nordeste foram os que chegaram para construir suas moradias em pequenos lotes, trabalhando na construção civil e nas fábricas do entorno.

Os portugueses concentraram-se principal-mente no Jardim Novo Portugal. Quase todos se dedicavam ao plantio e comercialização de hor-taliças,frutaseflores.Italianosealemãesforampioneiros na arte da produção de tijolos e telhas.

Segundo mapeamento realizado pelaPrefeitura em 1971 só na várzea do Baquirivu chegaram a existir 40 olarias e 19 portos de extração de areia.

Para saber mais!1. Guarulhos Tem História. Vários autores. Ananda, 2008.2. Os Antonios. Levi Araujo. 3. Um Nordeste em São Paulo. Paulo Fontes. FGV Edi-

tora, 2008.4. Os Indígenas do Leste do Brasil. Benedito Prezia.

Paulinas, 2004.

Crescimento populacional - São João/TaboãoAno Taboão São João1980 24.960 18.0201991 44.136 39.4492000 66.037 64.734

Família alemã dona do depósito de material de construção Aroeira, no Jardim São João.

Quanto à migração nacional, na maioria nordestinos, o depoimento da moradora Sandra Lúcia Santos Abreu, baiana da cidade de Nossa Senhora do Livramento, é ilustrativo do processo: “Viemos para o São João em 1970, eu e meus pais, morando de aluguel. Em 1984, eu e meu marido compramos um terreno à prestação. Ele trabalha-va na Reago e aos poucos começamos a construir nossa casa. Enquanto isso, morávamos na casa dos meus pais. Havia poucas casas na região”.

A construção do Aeroporto contribuiu para aceleração do número de moradores. Veja dados populacionais dos dois bairros mais po-pulosos, situados nas proximidades do Aeropor-to de Cumbica, inaugurado em 1985. (Santos, 2006, p. 202).

Casa do Norte, no centro comercial do Jardim São João

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Vocação ecológica, histórica, cultural e religiosa

Por reunir características muito particulares, as regiões São João e Bonsucesso possuem gran-de potencial para implantação de um polo ecológico, histórico, cultural e religioso com atribuitos am-plamente reconhecidas pela comunidade acadêmica e pela população. A título de exemplos, as lavras de ouro estão entre as cinco mais antigas do Brasil. O Dia da Carpição e a Festa de Nossa Senhora do Bonsucesso são celebrados há 270 anos, além do enorme potencial para a prática dos rituais das religiões de matrizes africanas, a região possui potencial para se transformar em um grande polo de turismo nacional e internacional.

Além dos atributos mencionados, a proximidade com equipamentos que facilitam o acesso é mais um dos fatores a se considerar, tais como o Aeroporto Internacional de São Paulo/Guarulhos, as rodovias Presidente Dutra, Airton Senna, Fernão Dias e a Estrada Guarulhos-Nazaré. Há também a nova rodoviária instalada no Parque Cecap e o terminal de ônibus no São João.

De acordo com informações oficiais, está prevista também a implantação de três sistemas fer-roviários: o Expresso Aeroporto, o Trem de Guarulhos e o Trem de Alta Velocidade, além da cons-trução do trecho Guarulhos da Avenida Jacu-Pêssego e dos trechos leste e norte do Rodoanel Mário Covas. Caso a totalidade desses projetos se torne realidade, o polo São João/Bonsucesso terá as suas propriedades muito valorizadas. Reconhecer os múltiplos potenciais dessas regiões e garantir o uso sob a ótica de um polo eco-lógico, histórico e cultural, são pressupostos estratégicos para as gerações do presente e do futuro, tendo em vista que a não implantação de uma proposta nos moldes verdadeiramente sustentáveis poderá aprofundar rapidamente a degradação do patrimônio natural e social no perímetro mencionado.

Lago do Franco, Pico da Serra do Itaberaba (Área de soltura de animais, parceria entre a Secretaria do Meio Ambiente e a Fábrica Ambev).

Excursão realizada no Tanque Grande, em 1941, com membros do poder público municipal para

avaliar a disponibilidade de água para os bairros de Guarulhos.

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7diversidade ÉtNiCa, Cultural, religiosa,

resistêNCias elutas do Povo

O novo nunca é totalmente novo, é sem-pre uma mescla do atual e do antigo. O conceito expresso por meio das palavras “Diversidade étni-ca, cultural e religiosa” visa chamar a atenção para os diversos grupos multiculturais, em muitos casos formando diferentes segmentos, dentre os quais os paleoíndios e indígenas, africanos, homens e mu-lheres de pele branca. Não é por ser indígena, ne-gro ou branco que todos, na mesma descendência falam uma única língua, professam religião igual, curtem o mesmo som e se alimentam da mesma maneira em suas mesas.

A resistência das populações indígenas, ne-gras e dos operários brasileiros (imigrantes estran-geiros e nacionais) aconteceu, em diversos cená-rios: na preservação de suas culturas como fatores essenciais de suas identidades e contra o sistema, nas diferentes formas de opressão combatidas nas lutas no mundo do trabalho, nos locais de moradia e na preservação de usos e costumes.

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Samba-Enredo da Unidos do Jardim São João.

Ôô vai balançar, bate palma arquibancada,São João aqui chegou, pra levantar o seu astral,

contando a história desse bairro de valor,vai comunidade contar forte e com amor.

Viajando ao passado, onde tudo começou,japoneses e portugueses, a terra lavrou,

na Fazenda da Candinha, um grito forte ecoou,é liberdade, o negro então festejou.

Saudade da velha viola, das cantorias, a luz do luar,amanhecer com os pássaros a cantar,

o cheiro de flor exalava no ar, como é bom recordar.

O comércio cresceu, evoluiu, o transporte se modernizou,hoje canto com toda emoção, eu te amo Jardim São João.

Aeroporto trouxe o progresso pra região,dezesseis bairros ao seu redor,

gente de todo lugar, em comunhão nessa avenida,em amarelo, azul e branco, todos a festejar.

Autores: Negrão Poeta/ Zé Veloso/ Mara do São João.Guarulhos, carnaval de 2011.

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RELIGIÕES MONOTEÍSTAS E POLITEÍSTAS

Se no início da colonização, as manifesta-ções religiosas, do paleoíndio, indígena e africa-no, se resumiam ao politeísmo (adoração a vários deuses) como também ao monoteísmo (um deus único) europeu, modernamente, o Cristianismo passou a se expressar também por meio das igre-jas protestantes e pentecostais.

São tidas como protestantes as igrejas que se identificamcomosegmentoteológicodesenvolvi-do no século XVI, na Europa Ocidental, por Mar-tinho Lutero: presbiterianos, luteranos, metodistas, adventistas e batistas (inclusive àqueles cristãos que não pertencem à Igreja Anglicana, pois esta mesmanãoseautodefinecomocatólicaouprotes-tante). As igrejas pentecostais têm sua origem em 1901, em Los Angeles. Esse segmento é compos-to pelas: Assembleia de Deus, Igreja Evangélica Quadrangular no Brasil, Igreja Pentecostal Brasil para Cristo, Igreja Pentecostal Deus é Amor, Con-gregação Cristã, Igreja de Nova Vida e Igrejas Reunidas (Metodista Wesleyana, Batista Nacional, Presbiteriana Renovada do Brasil e as neopente-costais Universal do Reino de Deus, Internacional da Graça de Deus, Comunidade Saara Nossa Terra e Renascer em Cristo). Em 1913, foi implantada a primeira igreja evangélica em Guarulhos: trata-se da Igreja Batista Cristã, localizada inicialmente na Rua 9 de Julho, no centro da cidade e, atualmente, na Rua Sílvio Maia, no 108, bairro Picanço.

Além de segmentos religiosos de cunho cristão, o universo religioso se completa com a

existência de cultos de origem oriental como o Budismo e SEICHO-NO-IE e, também, de reli-giões de matriz africana, nas quais fazem parte a Umbanda e o Candomblé. No início do sécu-lo XX, o Espiritismo foi introduzido no Brasil, ganhando força e colocando o País em primeiro lugar em número de espíritas no mundo.

Acima, Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias (Mormons) na Cidade Seródio, inaugurada em 26 de março de 2011. Abaixo, primeira igreja evangélica construída em Guarulhos, na atual Rua Nove de Julho, em 1913 (Igreja

Batista).

Festa de São João Batista, na antiga Rua 12 no Jardim São João, em 1982.

Encontro de grupos de folia de reis no Jardim São João, 2008. Grupo Família de Jesus e Divina Luz.

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DE COMUM A RESISTÊNCIACONTRA A OPRESSÃO

Em nossa cidade, as duas formas iniciais de organizar a produção social da vida e de conceber e expressar a realidade entrou em contato e, de al-guma forma, permanecem vivas no dia a dia. Para além das lentes pretas e brancas, a realidade se mostra multicolorida, expressão do modo de vida coletor dos paleoíndios Maromomi, primeiros ha-bitantes do território, e o fazer sedentário iniciado pelos indígenas de língua Tupi-Guarani e dos por-tugueses colonizadores, permeado pela presença de povos africanos escravizados, bem como por trabalhadores oriundos dos processos de imigra-ção estrangeira e nacional, ocorridas a partir dos séculos XIX e XX, acrescentando com a sua pre-sença novos elementos à já variada gama de rit-mos, cheiros, cores e sabores da nossa cultura.

REBELIÕES CONTRA A ESCRAVIDÃOEm Guarulhos, o processo de resistência

iniciou-se com os primeiros habitantes que não aceitaram a escravização imposta pelos coloniza-dores portugueses. Diante da insistência em al-deá-los e escravizá-los, em 1640, os paleoíndios Maromomi reagiram de forma violenta, ateando fogo em duas fazendas e expulsando seus pro-prietários. A história registra que João Sutil de Oliveira teve sua propriedade incendiada pelos rebelados. (Prezia, 2004, p. 48)

Com o advento da escravidão da população negra, no início do século XVII, podemos cons-tatar a existência de topônimos indicativos des-sa resistência, como o Ribeirão dos Pinheiros ou dos Quilombos, na Serra do Itaberaba; e o Capão do Quilombo, entre os atuais bairros do Jardim São João, Jardim Novo Portugal e Cidade Seró-dio. A presença da Igreja da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário Mãe dos Homens Pretos e São Benedito, no Centro antigo de Guarulhos, da Igreja de São Benedito dos Homens Pretos, na Vila do Bonsucesso Velho, da Igreja do Bom Je-sus, no Cabuçu e na Capelinha, revelam também uma expressiva organização da população negra em Guarulhos.

Igreja Santo Alberto Magno.

Circo-escola na Cidade Seródio.

Terreiro de umbanda Aldeia da Fé - fundado por Tia Joana, em 1962, no Jardim São João. Tia Joana e sua

filha Arlete, 2011.

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A implantação da indústria na cidade deu origem à classe operária, resultando na expansão urbanaenaexplosãodemográfica.Contrariandoo mito de um operariado dócil, os trabalhadores brasileiros rapidamente amadureceram como classe e se organizaram em comissões de bairro, associações, partidos e sindicatos, entre outros mecanismos de luta. Por meio das organizações dos trabalhadores ocorreram novas formas de resistência nos bairros e nos locais de trabalho, objetivando melhorias como: escola, transporte, água, asfalto, coleta de esgoto, segurança, mora-dia, aumento de salário, melhores condições de trabalho etc.

PRIMEIRAS ORGANIZAÇÕESDE TRABALHADORES

Em 1917, os trabalhadores da Cerâmica Paulista, situada na Vila Galvão, juntaram-se aos da estrada de ferro (Trem da Cantareira) e funda-ram o clube e o grupo de teatro União dos Operá-rios de Vila Galvão. Em 23 de maio de 1936, foi eleita a primeira vereadora, Ernestina Del Buono Trama. Em 1948, é eleito o primeiro vereador operário e comunista, Alfredo Paiva. Em 1958, foi criado o sindicato dos Condutores de Veícu-los. Em 1960, os trabalhadores que construíam a unidadeGuarulhosdosLaboratóriosPfizer,cru-zaram os braços reivindicando melhores salários. Em 1963, muitos operários de várias categorias participaram da greve geral, movimento de âmbi-

FORMAÇÃO DA CLASSE OPERÁRIA

Em especial, nessa região, a luta por água, transporte, escolas e contra a implantação do Aeroporto (1979), o zoneamento aeroportuário (1989) e a terceira pista do Aeroporto (2001-2007), mobilizou grande número de moradores.

MOBILIZAÇÕES POPULARES QUE MARCARAM A MEMÓRIA DA

REGIÃO SÃO JOÃO

As memórias mais presentes entre os mora-dores sempre remetem às lutas por abastecimento de água nas residências, contra a construção do Aeroporto e do zoneamento aeroportuário. Entre 2001 e 2007, a resistência foi contra a constru-ção da terceira pista do Aeroporto, que removeria 5.330 famílias em nove loteamentos: Jardim Novo Portugal, Jardim Regina, Cidade Seródio, Haroldo Veloso, Malvinas, Jardim dos Eucaliptos, Jardim Santa Lídia, Jardim Marilena e Jardim Planalto. Alguns desses loteamentos seriam totalmente re-movidos, outros apenas em parte.

LUTAS POR ÁGUA E CONTRAO AEROPORTO

Documento do Arquivo Municipal que indica a existên-cia do Capão do Quilombo, situado no início das atuais

Estrada Guarulhos-Nazaré com a Avenida José Brumatti, ex-estradas do Itaberaba e das Lavras, respectivamente.

to nacional que pleiteava 100% de reajuste do sa-lário mínimo, entres outras reivindicações (episó-dio do assalto ao banco no Jardim Tranquilidade).

Em 1976, é fundado o Jornal “O Repórter de Guarulhos”, por Alípio Freire, Vicente Roig e Né-lio Roberto Gomes (falecido em 1989). De acor-do com os fundadores, Elói Pietá passou a fazer parte do jornal, em 1987. O jornal era mensal e, em 1976, foram duas edições, a de outubro e a de novembro. Em 1977, um grupo de operários e mi-litantes de esquerda, fundou o movimento “mam-bembe” de Cultura Paulo Pontes, já em 1978, em sede alugada na Vila Fátima, o movimento passou a se denominar Casa de Cultura Paulo Pontes.

A partir da década de 1980, aparecem novas estratégias de organização entre os trabalhadores. Movimentos de combate a carestia, por direitos como: creche, moradia, igualdade racial e de ge-neros, das crianças e dos adolescentes, dos idosos, do meio ambiente, da saúde, da educação, etc. To-dos com grande representatividade em Guarulhos.

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Para saber mais!1. Revirando a História de Guarulhos. Elói Pietá. Caja, 1992.2. Casa de Cultura Paulo Pontes. Maria Clau-dia Vieira Fernandes. Trabalho de Conclusão. PUC/SP, 2003.3. Educação: Um tesouro a descobrir. Jac-ques Dellors. UNESCO, 1996.4. Quadro de Saberes Necessários. PMG, 2009.

A luta do “cano d’água furado”

Na esquina da Avenida Florianópolis com a Rua das Gameleiras, no Jardim São João, houve no final dos anos 1970, um evento conhecido como “cano d’água furado”, marca ainda hoje a memória dos moradores mais antigos.

Nesse local despontava para a superfície do solo um dos respiros da adutora subterrânea que ligava a re-presa do Tanque Grande – inaugurada em 1958, na re-gião norte de Guarulhos – à Cidade Industrial Satélite de Cumbica, instalada no trecho sul.

Ocorre que, no espaço intermediário por onde passava a adutora (Estrada Guarulhos-Nazaré e atual Avenida Florianópolis), a população crescente que ia chegando à região sofria com a falta de água encanada, a exemplo das outras localidades guarulhenses ocupa-das rapidamente entre os anos 1960, 1970 e principal-mente, 1980.

Resultado: “estourado” o respiro na Rua Florianó-polis, por iniciativa de algum morador “anônimo”, a água jorrava em abundância, fazendo o alívio e a alegria das crianças, das donas de casa e da população em geral. Esse fato simboliza no século XX, o início do grande nú-mero de lutas sociais que aconteceram na região São João. Colaboração e foto: Moises (fotógrafo).

Confluência da Avenida Florianópolis com a Rua das Gamameleiras, local da adutora,

que era constantemente estourada.

Das três lutas relacionadas ao Ae-roporto, em duas prevaleceram os pro-jetos do Governo: a construção do Ae-roporto e o zoneamento aeroportuário. Já na questão da implantação da terceira pista, os moradores saíram vencedores. A população se mobilizou e provou tec-nicamente que a obra era inviável e cau-saria enorme impacto social e ambiental desnecessariamente.

Jornal O Reporter de Guarulhos, de novembro de 1979, destacando as lutas operárias

e contra o Aeroporto.

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8Breve históriCoda eduCação.

Bairros, loteameNtos e suas esColas

Ao completar 132 anos de emancipação, no dia 24 de março de 2012, Guarulhos contabilizou oficialmente138equipamentoseducacionaiscons-truídos pela Prefeitura, atendendo 116 mil alunos.

Do primeiro parque infantil da Prefeitura, implantado em 1958, ao CEU Parque São Miguel, inaugurado em 2012, qual a trajetória do ensino público em nossa cidade? Com a criação do mu-nicípio, ocorrida em 1880, Guarulhos foi elevada à condição de Vila (atual Município), ganhando o direito de constituir em seu território os poderes Legislativo, Executivo e Judiciário.

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O INÍCIO DA REDE PÚBLICA DE ENSINO EM GUARULHOS

Entre 1860 e 1880, antes da criação do Mu-nicípio, era mestre-escola em Guarulhos, com sa-lário pago pelo Governo do Estado, o Sr. Antônio José Marciano.

A escola funcionava em uma sala na casa do próprio professor, situada no antigo Largo do Rosário, atual Praça Conselheiro Crispiniano (ex-Pontão da Rua Dom Pedro II).

O Sr. Bonifacio de Siqueira Bueno (1806/ 1880), durante a juventude, também fora mestre--escola em Guarulhos. (Noronha, 1960, p. 82 e 94).

No período mencionado, precisamente em 1870, foi localizado no arquivo público do Esta-do de São Paulo, o único livro de matriculas lá existente, da então Escola da Freguesia de Nossa Senhora da Conceição dos Guarulhos. Possivel-mente, se trata do mais antigo documento da his-tória da educação de nossa cidade.

ELEIÇÃO DOS PRIMEIROS VEREADORES DE GUARULHOS

No dia 24 de janeiro de 1881, os primeiros vereadores eleitos, representantes do Poder Le-gislativo, e o intendente (Poder Executivo), to-maram posse. Somente a partir desse momento é que a municipalidade passou a ter responsabilida-de sobre a gestão do ensino, poder exercido por meio do Conselho Superior de Instrução Pública e do Conselho de Instrução do Município, porém, a primeira escola da prefeitura só foi implantada em 1958, portanto, 78 anos após a criação da Vila de Nossa Senhora da Conceição dos Guarulhos.

GOVERNADOR NOMEIA UMA PROFESSORA PARA BONSUCESSO

Em 1885, cinco anos depois da criação do mu-nicípio, o Governo Provincial nomeou uma profes-sora para lecionar na Capela do Bonsucesso. O docu-mento revela que o Governo selecionava, contratava, pagava os salários e implantava as salas de aula.

Competiaaosvereadoreseaointendentefis-calizar a rotina das escolas por meio dos Conselhos de Instrução Pública, implantados somente em 1887. Estes, por sua vez, mantinham o Secretário dos Ne-gócios do Interior e da Justiça informado sobre o dia a dia das escolas. Veja trechos da carta de nomea-ção da professora: “Faço saber... tendo de prover-se a cadeira de primeiras letras do sexo feminino da CapelladoBomSucesso(antigagrafia),municípioda Conceição dos Guarulhos... concorrendo taes cir-cunstancias na de Joana de Jesus Telles, que foi exa-minada e plenamente aprovada em exame perante o Governo, a nomeio... devendo apresentar esta à Câ-mara Municipal respectiva e à Inspetoria Geral da Instrução Pública...”. (Francisco Antônio de Souza Queirós Filho, presidente da Província de São Paulo [atual governador], 13 de agosto de 1885).

SALAS MASCULINAS E FEMININAS

Segundo Noronha, “(...) desde os primei-ros anosdevidamunicipal, existiramna ‘Vila’

Livro de matrícula da primeira escola estadual de Guarulhos, 1870.

Grupo Escolar Capistrano de Abreu construído em 1926 pelo Governo do Estado.

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Para saber mais!1. Formação Permanente de Professores. PMG, 2010.2. Repaginando a História de Guarulhos. João Ranali. SOGE (Sociedade Guarulhense de Educação). 2002.3. Primeiro Livro de Atas da Câmara Vereadores de Gua-rulhos. Câmara, 1880.4. Guarulhos Século XXI. Massami Kischi. PMG, 2007

Fraterno Auxílio Cristão, inaugurado em 1961.

Escola da Prefeitura de Guarulhos “Padre João Álvares”, 1958, prédio atual ao lado do Fraterno Auxílio Cristão (FAC).

Antiga Estação Guarulhos, adaptada para Escola daPrefeitura, implantada após 1965.

da Conceição [Centro de Guarulhos] uma classe masculina e uma feminina, bem como na Capela do Bom Sucesso, no Bairro de Itaverava [Itabe-raba], na Ponte Grande, e no Bairro do Lageado etc. No entanto, no relatório do inspetor do ensi-no local, apresentado á Câmara em 1889, consta apenas duas escolas [em funcionamento]: a esco-lamasculinada‘CapeladoBomSucesso’,com24 alunos, regida pelo Profº Estevam Dias Tava-res, que substituía a Profª Joana de Jesus Telles, falecida naquela época; e a escola masculina da “Vila”, com 27 alunos, regida pelo Profº Bernar-dino Athanasio Ourique de Carvalho. As demais estavam suspensas, por não terem o mínimo de 16 educandos, inclusive à escola feminina da ‘Vila’,queforaregidapelaProfªMariaJoaquinado Carmo”. (Noronha, 1960, p, 94).

A PRIMEIRA ESCOLA DA PREFEITURA DE GUARULHOS

Era uma sala de aula do Parque Infantil Pa-dre João Álvares, que só foi criada em 1958 (Lei nº 514/58). Como visto, antes desse ato todos os equipamentos públicos de ensino, da 1ª a 4ª série e do antigo Ginásio, era de exclusividade do Go-verno do Estado.

O Parque Infantil Padre João Álvares fun-cionou inicialmente no mesmo terreno do atual Lar Fraterno Auxilio Cristão (FAC), entidade semfinslucrativos,fundadaem1961elocaliza-da na Rua Francisco de Paula Santana, nº 3, na Vila das Palmeiras.

Em 1988, por ocasião da promulgação da Constituição Federal que obriga os municípios a aplicar na Educação pelo menos 25% da receita resultante de impostos, acelerou a ampliação da Rede Própria Municipal.

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RETROSPECTIVA: 141 ANOS DE ENSINO PÚBLICO EM GUARULHOS – 53 ANOS DA REDE DE ENSINO DA PREFEITURA

1870 – Data comprovada. Encontra-se no Arquivo Público do Estado de São Paulo, o mais antigo registro da história da educação da cidade. Trata-se do livro de matrículas da Esco-la da Freguesia de Nossa Senhora da Concei-ção dos Guarulhos.

1886 – Uma escola no Itaberaba. Dia 20 de março, o vereador Lúcio Francisco Pereira ao justificar uma propositura aos colegas de Câ-mara, afirma que existia no bairro de Santa Cruz de Ituverava (atual Itaberaba) uma escola públi-ca do sexo masculino.

1887 – Eleição dos Conselheiros de Instrução Pública de Guarulhos. Dia 18 de setembro foram eleitos quatro representantes do município para o Conselho Superior de Instrução Pública da Província de São Paulo, sendo: Dr. Antônio Carlos Ribeiro de Andrade Machado da Silva, Dr. Basílio Augusto Machado de Oliveira, Dr. Francisco de Paula Rebelo Silva (vereador intendente), Dr. Frederi-co José Cardoso de Araújo Abranches. Eleição do Conselho Municipal de Instrução Pública: Dr. João Álvares de Siqueira Bueno, ex-deputado provincial, e o vereador Lúcio Francisco Pereira.

1889 – Dados Escolares. Levantamento de 21 de janeiro apontava 76 alunos matriculados: 31 crianças na Escola da Vila (região central), 24 na Capela do Bonsucesso e 21 na Tapera Grande. Três professores titulares: Maria Joaquina do Carmo, Inácia Joaquina Homens e Estevam Dias Tavares.

1901 – Matrícula Obrigatória. Na sessão da Câmara do dia 15 de fevereiro, foi aprovada uma lei tornando obrigatória a matrícula de crianças a partir de sete anos, sob pena de multa para pais e tutores infratores.

Reunião dos alunos das Escolas Públicas Estaduais de Guarulhos, em 15 de abril de 1913 e também, os profes-sores Júlio Penna, Artur Marret e Brasilina Nogueira, que tem ao seu lado o fiscal de ensino Gabriel José

de Antônio. Foto: João Ranali, Repaginando a história, p. 120.

EEPGR Fazenda Itaberaba prédio atual. Foto de 2011.

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1917 – Ensino Obrigatório de 7 a 14 Anos. Dia 16 de abril, os vereadores votaram a Lei nº 19, que torna obrigatório o ensino das crianças de 7 a 14 anos.

1918 – Quantidade e Localização das Escolas. Oito escolas, sendo duas na região central, uma mista no Bonsucesso (meninos e meninas), uma mista na Ponte Grande, uma mista no Baquirivu Mirim, duas em Vila Galvão (uma mista e uma noturna) e uma mista na Vila Augusta.

1923 – Dados Escolares e Populacionais. Em 15 de novembro, conforme Ofício nº 95, o pre-feito informa às autoridades estaduais que Guarulhos possuía 21 escolas públicas, 4 particulares e 800 alunos matriculados. População do município: 6 mil habitantes.

1926 – Primeiro Grupo Escolar de Guarulhos. Implantado em 1° de julho, a atual Escola Estadual Capistrano de Abreu funcionou inicialmente na antiga Rua São Paulo, atual Rua Siqueira Campos. A função dos grupos escolares era reunir, em um só prédio, de quatro a dez escolas (salas), compreendidas num raio de dois quilômetros para meninos e de um quilômetro para meninas. As clas-ses eram separadas por sexo e pelo nível de aprendizagem; professores lecionavam para meninos e as professoras para as meninas.

1958 – Primeiro Parque Infantil da Prefeitura. Em 26 de abril foi criado o Parque Infantil Padre João Álvares, Lei nº 514/58.

1963 – Escolas Mistas da Prefeitura. Por meio da Lei nº 945, o prefeito Mário Antoneli tri-plicou a rede de ensino, criando sete novas escolas afastadas da região central, total de 11 escolas municipais. (Fontes: 1º Livro de Atas da Câmara de Vereadores; Cronologia Guarulhense – 1º volu-me, João Ranali).

1988 – A Constituição. O artigo 212 estabelece que é obrigatório à União aplicar, anualmente, nunca menos de 18% da receita resultante de impostos; e aos Estados, ao Distrito Federal e aos Muni-cípios, no mínimo 25%. Foi estabelecido o prazo de oito anos para a reorganização do sistema. Nesse momento, Guarulhos contava com 36 equipamentos municipais.

1993 – Secretaria da Educação. Foi criada a Secretaria de Educação da Prefeitura com cinco departamentos: Ensino Escolar (DEE), de Normas Técnicas e Orientações Educacionais (DNTOE), de Assistência ao Escolar (DAE), de Relações da Merenda Escolar (DRME) e do Conservatório Mu-sical (DCM). O primeiro órgão responsável pelo Ensino Infantil foi o Departamento de Educação e Cultura (DEC).

2011 – Ampliação da Rede Física. Em 2001, a Rede Municipal possuía 61 escolas e eram atendidas pouco mais de 21.000 crianças no Ensino Fundamental. Dez anos depois, a prefeitura tem 132 prédios próprios e 115 mil alunos matriculados na Rede Municipal.

As origens dos nomes das escolas da Prefeitura de Guarulhos

Em consonância com a temática desse capitulo é oportuno destacar que os nomes dos patronos e patronesses das Escolas da Prefeitura de Guarulhos foram escolhidos com base em critérios especí-ficos para cada momento histórico, obedecendo à seguinte ordenação.

As primeiras escolas inauguradas receberam nomes de fundadores da cidade. Num segundo momento, os patronos e patronesses eram sempre personagens do Sítio do Pica-Pau Amarelo, lu-gar imaginário criado pelo escritor Monteiro Lobato. A terceira fase caracterizou-se pela escolha de nomes ligados ao funcionalismo público guarulhense. A fase mais recente foi a das pessoas que se destacaram durante ou após a luta pela redemocratização do País e pelo ensino público e de quali-dade para todos.

Por fim, cabe dizer que todas as escolas do município, por meio do Decreto no 22.996 de 10 de novembro de 2010 passaram a denominar-se “Escola da Prefeitura de Guarulhos”, em substituição a antiga nomenclatura “Escola Municipal de Educação Infantil”.

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Os locais onde habita e estuda a maior par-te do povo brasileiro são retratados pelos meios de comunicação como inseguros e feios. As imagens tidas como belas mostram o círculo de convivência dos chamados incluídos no alto mercado de consu-mo. As mensagens sobre as periferias dão ênfase ao ladonegativo:crimes,catástrofeseconflitosdetodaordem. Raramente são abordados aspectos de rele-vância histórica, o que impede o desenvolvimento de uma política de resgate e preservação do patri-mônio cultural e ambiental dos locais de moradia da maioria dos trabalhadores. A cidade de Guarulhos, “naturalmente”, está inserida nesse contexto.

De modo geral, as narrativas sobre o nos-so município têm se limitado a retratar aquelas regiões próximas à zona oeste da vizinha cida-de de São Paulo, como a Vila Galvão e a região central, fazendo crer que os bairros mais periféri-cos, principalmente aqueles situados além do Rio Baquirivu Guaçu, não são territórios plenamente integrados à vida guarulhense.

Destaquemos, por outro lado, que as regiões de Cumbica – devido à presença do Aeroporto Inter-nacional e de um parque industrial – e de Bonsuces-

so – famosa pela sua festa religiosa anual – são ge-ralmente vistas como lugares isolados, sem relação intrínseca com a vida social e histórica guarulhense.

Nocasoespecíficodosbairrosedasesco-las da região São João, tema do presente capí-tulo, fontes documentais e relatos de moradores revelam que os bairros mais afastados da região central da cidade não só se integram, de forma di-nâmica, aos demais territórios de Guarulhos, mas interagem com a realidade global.

HISTÓRIA DOS BAIRROS, LOTEAMENTOS E ESCOLAS

Clube Vasconcelândia, na Serra do Itaberaba, no início de 1970.

Pedreira Pau-Pedra, bairro Capelinha.

Segundo relato do sr. Carlos de Barros Reis (Carlinhos), “inicialmente, a atual Pedreira Pau-Pedra pertenceu ao português Manoel Moreira, então chamada de Pedreira

Capelinha. Foi vendida para um certo sr. Paulo, que a deno-minou de Pau-Pedra, sendo ‘pau’ as três primeiras letras de seu nome, acrescentando ao final a palavra ‘pedra’. Paulo à vendeu para uma sra. chamada Neusa e esta, por volta de

1954, vendeu-a para os irmãos Fausto e Túlio Martello.

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Nossa pesquisa revelou que o bairro Ca-pelinha está inserido na mais antiga localidade (Serra do Jaguamimbaba) explorada pelos colo-nizadores portugueses a partir de 1597. É possí-vel que no auge da mineração, toda a região de garimpo fosse uma área única chamada Lavras. Depois de 1597, outras duas citações atestam a antiguidade desse bairro. Mais recentemente, vamos encontrar no local uma fazenda chama-da Caxambu, de propriedade do General Miguel Costa, um dos comandantes das forças paulistas durante a Revolução Constitucionalista de 1932.

Numa passagem sobre a expulsão dos pa-dres Jesuítas, ocorrida em 1640, Adolfo de Vas-concelos Noronha relata que eles viviam numa casa localizada na Tapera Grande, região na épo-ca pertencente ao território guarulhense, hoje di-vidida entre o bairro Capelinha e os municípios de Mairiporã e Nazaré Paulista. Escreve Noronha:

“[...] O certo é que, ao se retirarem, ali dei-xaram alguns de seus livros, bem como um ora-tório e uma excepcional preciosidade histórica: a imagem de Nossa Senhora da Conceição [...]. É certo, porém, que não se consagrou a denomina-ção Tapera Luís de Carvalho, mas sim a de Tapera

BAIRRO CAPELINHAGrande, exatamente o local que servia de berço a Cerqueira César. [...] Dissemos que é mais prová-vel o abandono da Tapera Grande, pelos jesuítas, ter ocorrido por ocasião da expulsão dos padres, no início do século XVII, porque, primeiramente, perdendo o controle dos Maramimins [...], gen-te rude e de língua estranha”. (Noronha, 1960, p. 15-16). Além disso, consta no Arquivo Público do Estado de São Paulo a existência, já em 1795, de um certo “bairro da Capela”, hoje bairro Cape-linha, que possui 3 loteamentos: Chácara Camilo, Recreio Oasis e Chácara das Lavras.

Antiga Fazenda Tapera Grande, de onde originou-se o bairro da Tapera Grande. Foto de 1914. Fonte: Acervo

familiar (Sylvio Rinaldi Barbosa).

Casarão Tapera Grande, em 1940, de onde originou o nome do bairro Tapera Grande.

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O atual bairro Capelinha abriga três loteamen-tos. O mais antigo, regularizado em 1972, chama-se Chácaras Camilo, fundado por Camilo de Barros Reis, genro do imigrante italiano Carlos Zancana-roque,nofinaldosanos1920,implantounolocaluma vasta plantação de uvas (cerca de 37 mil pés), a partir das quais produzia o apreciado vinho Aprazí-vel, mais conhecido como vinho da Capelinha, com uma produção que chegava a 8 mil litros por ano. O segundo loteamento é o Chácaras de Recreio Oásis (1974). O terceiro é o Chácara das Lavras, onde está localizada a Escola Estadual Seraphina Renzi Mar-tello, a única unidade escolar do bairro.

O loteamento Chácara das Lavras foi apro-vado pela prefeitura de Guarulhos no Processo administrativo no 16.151/80, possui área total de 278.235,06 metros quadrados, sendo proprietário Jacob Bart. O nome chácara advém da subdivi-são das terras das antigas fazendas em glebas me-nores, normalmente, onde as famílias moram e utilizam parte do terreno para pequena produção agrícola. O loteamento situa-se na antiga Estra-da Guarulhos-Nazaré (SP36), no trecho de nome Rodovia Vereador Francisco de Almeida.

CHÁCARAS CAMILO, RECREIOOÁSIS E CHÁCARA DAS LAVRAS

ESCOLA ESTADUAL SERAPHINA RENZI MARTELLO

Estrada Guarulhos-Nazaré, 9.864, Chácara das Lavras. CEP: 07162-000. Tel.: (11) 2436-4469 / (11) 2436-4581. Decreto de Criação no 7.400/75, posteriormente alterado por outros decretos.

Seraphina Renzi Martello nasceu na Itália, em 1905, e morreu em Guarulhos (SP), em 1985. Migrou com a família primeiramente para o Uruguai. Depois, em 1908, veio para Guarulhos, junto com o marido Albino Martello, com quem se casou em 1921 e estabeleceu-se como comerciante de secos e molhados. Viúva depois de 17 anos de casamento, jácomsetefilhos,entrouparaoramodefabricaçãode tijolos e se tornou proprietária de várias olarias às margens do Rio Tietê. Dois de seus descendentes exerceram cargos no Poder Legislativo guarulhense: um neto, Fausto Miguel, foi presidente da Câmara Municipal, entre 1991 e 1992, reeleito para o biênio 1993/1994;umfilho,Fausto,tambémfoivereadore presidente da Câmara, na legislatura (1997-2000).

A escola da Capelinha, constituída de apenas uma sala de aula, foi construída por Camilo de Bar-ros Reis, na extinta Vila da Capelinha, onde hoje seencontraaPedreiraPaupedra.Aescolinhafica-va nos fundos da Capelinha do Bom Jesus. Com o alargamento da Via Guarulhos-Nazaré, a escola foi demolida e reconstruída onde hoje se encontra a Es-cola Estadual Seraphina Renzi Martello. A primeira escola da região (Escola Pública do sexo masculino do bairro de Santa Cruz de Ituverava, atual Itabera-ba) é citada em um relato feito, em 1886, pelo ve-reador Lúcio Francisco Pereira. (Primeiro livro de Atas da Câmara Municipal de Guarulhos).

Estrada Guarulhos-Nazaré, acesso às Chácaras Camilo, das Lavras e Recreio Oásis.

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O termo “lavra” designa, nesse caso, terre-no de mineração, lugar de onde se extrai ouro ou diamante. O nome desse bairro, portanto, remete à atividade de extração de ouro iniciada provavel-mente em 1612 no local, conforme carta de sesma-ria doada a Geraldo Correia Sardinha para minerar no Maquirobu, atual Rio Baquirivu Guaçu.

No Livro de Aforamentos de Propriedades existente no Arquivo Histórico Municipal, consta que Geraldo Correia Sardinha, conhecido como o descobridor de ouro nessa região, lavrou nas mar-gens direita e esquerda do Rio Baquirivu Guaçu. Sua sesmaria abrangia a área hoje ocupada pelos loteamentos Maria Clara e IV Centenário, no La-vras, e Jardim Hanna, no Bonsucesso. A minera-ção de ouro do século XVII, como se sabe, faz parte de um longo período em que a colonização das Américas era totalmente dependente da força de trabalho escrava. Assim, alguns achados ar-queológicos existentes na região são evidências históricas da relação entre o nome do bairro e a principal atividade econômica da época.

Um pedaço de parede de taipa de pilão de um antigo casarão (ou senzala) do bairro das Lavras, um pilão de triturar quartzo e um cadinho (espécie de vaso resistente ao fogo) de fundir ouro foram re-centemente encontrados no loteamento Maria Cla-ra que, em 1928, pertencia ao sr. Erwin Liztz, de origem alemã. Um segundo cadinho foi localizado no início deste ano, na mesma área. Tais elementos também evidenciam a origem do nome do bairro.

Documentos existentes no Arquivo Público do Estado de São Paulo revelam a existência, já em 1766, na então Freguesia de Nossa Senhora da Conceição dos Guarulhos, de um certo “bairro das Lavras Velhas”, possivelmente em referência às Lavras Velhas do Geraldo, de propriedade do ban-deirante paulista Geraldo Correia Sardinha. O ter-

BAIRRO DAS LAVRASritório é cortado pelo Ribeirão das Lavras e pela Estrada das Lavras, antiga Estrada de Itaberaba.

As escolas Marlene Aparecida de Carva-lhoMartins,ManoelBonfim e Ilia Zilda Inno-centiBlancoficamnos domínios do bairro dasLavras. Diferentemente da Escola Maria Appa-recidaRansaniMagalhães,queficanobairrodemesmo nome, dentro do loteamento Jardim IV Centenário. As três escolas do bairro das Lavras estão localizadas na atual Avenida José Brumat-ti, nome de um italiano dono de olaria. O nome antigo dessa via era Estrada Velha de Itaberaba, também chamada de Ituverava. Em 1989, duran-te a gestão do prefeito Paschoal Thomeu, recebeu a placa com o nome de Estrada das Lavras. O nome José Brumati é de 2010.

Remanescente da parede de taipa da senzala ou do casarão do bairro das Lavras, situada no loteamento Maria Clara.

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ESCOLA DA PREFEITURA DEGUARULHOS PROFa MARLENEAPARECIDA CARVALHO MARTINS

Rua Estrada do Itaberaba, 3620. CEP: 07160-170. Tel.: (11) 2466-0691. Decreto de Criação no 25.951, de 5 de dezembro de 2008. Data de inauguração: 27 de dezembro de 2008.

ESCOLA DA PREFEITURA DEGUARULHOS MANOEL BONFIM

Avenida José Brumatti, 3.160. CEP: 07160-170. Tel.: (11) 2087-4998. Decreto de Criação no 21.549, de 15 de março de 2002. Inauguração: 14 de março de 2008.

ESCOLA ESTADUAL PROFa ILIA ZILDA INNOCENTI BLANCO

Avenida José Brumatti, 2.865. CEP: 07160-550. Tel.: (11) 2467-0086 / (11) 2467-2725. De-creto de Criação e Instalação no XXX – Resolu-ção da Secretaria de Educação no 24/F, de 29 de janeiro de 1976. Obs.: o número do Decreto de Criação foi concebido em algarismos romanos.

Marlene Aparecida Carvalho Martins nas-ceu em Muzambinho (MG), em data desconhecida, e morreu em Guarulhos (SP), em 2007. Licenciada emPedagogiapelaFaculdadedeFilosofia,Ciênciase Letras Nove de Julho, em São Paulo (1989), Marle-ne havia iniciado no Magistério 12 anos antes como monitora do Movimento Brasileiro de Alfabetização de Adultos (Mobral), criado pelo Governo Militar em 1967. Ao longo de 30 anos de carreira, atuou como professora em diversas escolas municipais e também como assistente de direção em várias esco-las estaduais em Guarulhos. Interessada no estudo de línguas, especialmente a italiana, foi membro atuante da Associação Guarulhense de Cultura Italiana Anita Garibaldi, onde lecionou na condição de voluntária.

Os alunos do bairro das Lavras, antes de 1950, eram atendidos na escola mista do Bonsucesso e na do Baquirivu (Parque São Luiz). Em 1951, veio para o bairro das Lavras a Escola Mista da Fortaleza, ins-talada na Estrada de Itaberaba, no Jardim Ponte Alta II, fundos do Centro de Educação Paschoal Leme. Em 1963, foi inaugurado pelo prefeito Mário Anto-neli, o prédio da Escola Municipal Lavras II, subs-tituindo a escola da Fortaleza. Em 2007, a Escola Lavras II foi demolida e em seu lugar construída a

Marlene Aparecida. A Escola Mista da Fortaleza eraassimchamadaporqueficavanosdomíniosdaFazenda Fortaleza, dentro da pedreira da Camargo Correia, posteriormente Reago.

Manoel Bonfim nasceu em Aracaju (SE), em 1868, e morreu no Rio de Janeiro (RJ), em 1932. Formou-se pela Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro em 1890, mas dedicou a maior parte do seu tempo aos estudos de História do Brasil e da Amé-rica Latina, de Sociologia, Zoologia e Botânica. Escreveu diversos livros didáticos em parceria com Olavo Bilac, e também uma vasta obra individual sobre História, Psicologia e Educação, na qual se destacam Lições de pedagogia (1915), Noções de psicologia (1916), Pensar e dizer: estudo do símbo-lo no pensamento e na linguagem (1923) e O Brasil nação (1931), entre outros livros.

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Ilia Zilda Innocenti Blanco nasceu em São Manuel (SP), em 16 de julho de 1936. Oriunda de uma tradicional família de educadores – seu pai, Atílio Innocenti, é patrono de uma escola estadual em São Manuel –, licenciou-se em Pedagogia pelo Instituto de Ensino Superior Senador Flaquer, em Santo André (SP), e formou-se em Administração Escolar pela Faculdade de Filosofia, Ciências eLetras de Santo Amaro, na zona sul da cidade de São Paulo. Ilia Zilda foi aprovada em concurso público para o cargo de diretora de escola, assu-mindo, em fevereiro de 1979, a direção da Escola Estadual de Primeiro Grau Profº Ennio Chiesa, na região central de Guarulhos. Quando morreu, em 14 de abril de 1981, em São Paulo, ocupava o car-go de Diretora Regional Norte de São Paulo.

O loteamento Jardim IV Centenário recebeu aprovação da Prefeitura por meio do Processo nº 3.581/60, Alvará de 22 de dezembro de 1960. Foi implantado no espólio de Guilherme Rostin, con-tendo 719 lotes e uma área de 446.481 metros qua-drados. O nome do loteamento é uma alusão aos 400 anos de fundação de Guarulhos, comemorado dia 8 de dezembro de 1960. Vem desse fato histó-rico a origem do nome do Jardim IV Centenário.

JARDIM IV CENTENÁRIO

ESCOLA ESTADUAL PROFa MARIA APPARECIDA RANSANI MAGALHÃES

Rua Elizabete, 380. Jardim IV Centená-rio. CEP: 07161-100. Tel.: (11) 2467 0047 / (11) 2467-8782. Decreto de Criação nº 18.632, de 24 de fevereiro de 1982.

Maria Apparecida Ransani Magalhães nasceu em Guarulhos, em 2 de agosto de 1932, e morreu na mesma cidade, em 5 de outubro de 1986. Formou-se professora primária aos 22 anos de idade, em Botucatu, e em 1974 fez o curso de Adminis-traçãoEscolarnaFaculdadedeFilosofia,Ciênciase Letras de Guarulhos. Depois de lecionar em várias escolas do interior paulista, transferiu-se em 1976 para a Escola Estadual Profº Paulo Nogueira, loca-lizada na região central de Guarulhos, onde se apo-sentou em 1984, na função de Assistente de Direção. Um ano depois da sua morte, seu nome foi doado a essa escola, criada em março de 1982, como Escola Estadual de Primeiro Grau do bairro das Lavras.

De acordo com uma funcionária da Se-cretaria, essa foi a primeira escola do bairro das Lavras, da qual, posteriormente, originaram as escolas Profª Marlene Aparecida de Carvalho Martins e Ilia Zilda Innocenti Blanco. Campo do Guarani F.C. no Jardim IV Centenário.

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A palavra “fortaleza” remete às estruturas construídas no litoral pelos colonizadores europeus afimdeproteger-sedeinvasões.Coincidentementeou não, o bairro tem as características de uma forti-ficaçãoincrustadanaserra,emmeioàMataAtlânti-ca, com apenas uma rua para entrada e saída.

Tudo indica que o nome do bairro vem da épocadosgarimposdeouro.OFortalezaficaen-tre as lavras de ouro do Tanque Grande e as do bairro das Lavras. Alguns moradores afirmamque ali era uma fazenda chamada Fortaleza, que foi desmembrada da Fazenda Bananal. Segundo o geólogo da USP, Caetano Juliani, nas imediações do bairro existia o Garimpo da Fortaleza. O relato dos moradores parece ter fundamento, tendo em vista que, na margem esquerda do Ribeirão Tan-que Grande, ainda há residências pertencentes a herdeiros da antiga Fazenda Bananal.

Nos contratos de compra e venda dos terre-nos que deram origem às três Glebas (loteamen-tos Jardim Fortaleza I, II e III), consta o nome de Custódio Ribeiro Ferreira Leite Filho como o último proprietário da fazenda. No desmembra-mento de uma das glebas vêm os seguintes dize-res: “Uma área de terras, desmembrada de área maior, correspondente ao remanescente da Fa-zenda Fortaleza, Sítios das Lavras ou Lavrinhas, perímetro urbano deste distrito, município e co-marca de Guarulhos...” (Certidão do 2o Cartório de Registro de Imóveis de Guarulhos)

Os três loteamentos denominados “Jardim Fortaleza” glebas I, II e III receberam aprovação da Prefeitura por meio do Processo Administra-tivo nº 19.431/74, alvará expedido em 22 de de-zembro de 1975, com registro no 2o Cartório de Imóveis de Guarulhos (matrícula no 246, de 23 de março de 1976). Em 14 de fevereiro de 1978, ocorreu o desmembramento das três glebas. Área

BAIRRO FORTALEZAtotal 2.465.910,00 metros quadrados, com 4.910 lotes, sendo a Imobiliária Continental a responsá-vel pela implantação dos três loteamentos.

Segue o depoimento de um dos moradores maisantigosdaregião:“[...]Emmeioàflorestati-nha uma fazenda com o nome Bananal, se dividiu em outros sítios, lavras ou lavrinhas. Mas o princi-pal se chamava Fazenda Fortaleza, cujo território foi loteado pela Imobiliária Continental. Por meio da Rádio Capital, programa Eli Correia, a propa-ganda despertou o interesse do casal Maurita Bar-ros Delgado e José de Souza Carvalho. Em 1977 compraram um lote. Algum tempo depois vieram para o Fortaleza. Em 1980 o bairro já contava com cerca de 500 famílias, vivendo em condições pre-cárias. Como não havia escolas, as crianças estu-davam na Reago e na Capelinha.” (Histórico do bairro Jardim Fortaleza, pesquisa realizada em 2008, por professoras da Rede Municipal).

ESCOLA ESTADUAL JARDIMFORTALEZA II

Rua Roberto Magalhães, s/n – Jardim Forta-leza II. CEP: 07153-140. Tel.: (11) 2467-0777. De-creto de Criação no 54.145, de 18 de março de 2009.

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ESCOLA DA PREFEITURA DEGUARULHOS EUCLIDES DA CUNHA

Rua Luiz Caputo, s/n, Jardim Fortaleza I. CEP: 07154-040. Tel.: (11) 2467-4033. Decreto de Criação no 23.697, de 21 de março de 2006.

ESCOLA DA PREFEITURA DEGUARULHOS ÉRICO VERÍSSIMO

Rua Hélio de Souza, 1.500, Jardim Forta-leza II. CEP: 07153-640. Tel.: (11) 2471-6757. Decreto de Criação no 21.234 de 27 de abril de 2001. O Decreto no 23.697, de 21 de março de 2006, mudou o nome de Escola Municipal Jardim Fortaleza para Érico Veríssimo.

Érico Lopes Veríssimo foi um escritor gaúcho. Nasceu na cidade de Cruz Alta, em 1905, e morreu em Porto Alegre, em 1985. Seu primei-ro romance, Clarissa, foi lançado em 1933. Em seguida, Música ao longe foi agraciado com o Prêmio Machado de Assis; e Caminhos cruza-dos recebeu o Prêmio Fundação Graça Aranha. Em 1938, publicou um de seus maiores sucessos,

Euclides Rodrigues Pimenta da Cunha nasceu em Cantagalo (RJ), em 1866. Era militar, engenheiro civil e jornalista, tendo colaborado du-rante anos com o jornal A Província de São Pau-lo, rebatizado de O Estado de S. Paulo, depois da Proclamação da República, em 1889. Em 1897, Eu-clides da Cunha viajou para a Bahia para relatar a Guerra de Canudos como correspondente do jornal. Suas reportagens serviram-lhe de base para escrever, entre 1898 e 1901, Os sertões, livro que lhe rendeu a eleição para a Academia Brasileira de Letras e para o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. Emagosto de 1909, foi assassinado pelo militar Diler-mano de Assis, amante de sua esposa.

ESCOLA ESTADUAL PROFo JOSÉBENEDITO FERREIRA

Rua Kazuko Fuji Shimizu, s/no – Jardim For-taleza II. CEP: 07154-620. Tel.: (11) 2467-0128. De-creto de Criação nº 23.358, de 8 de abril de 1985.

Olhai os lírios do campo. Outro livro seu bastante conhecido é O tempo e o vento, que conta a his-tória da formação do Rio Grande do Sul. Iniciado em 1946, o texto deveria ter 800 páginas, mas aca-bou sendo publicado em três volumes, num total de 2.200 páginas, consumindo 15 anos de traba-lho. O tempo e o vento foi adaptado para a televi-são em 1967, estreando na Excelsior sob a direção de Dionísio Azevedo. Também foi transformado numa minissérie, exibida entre 22 de abril e 31 de maio de 1984, em 25 capítulos, pela Rede Globo.

José Benedito Ferreira, segundo o Histó-rico do bairro Jardim Fortaleza já citado, era ne-gro e usava com frequência um terno azul. Antes de ingressar no magistério, havia sido pedreiro. Começou sua formação escolar no Movimento de Alfabetização de Adultos (Mobral), chegando à faculdade, onde concluiu o curso de Estudos So-ciais, especializando-se na área educacional. Não se sabe ao certo o motivo da sua morte. Uns dizem que foi assassinado por causa de dívidas de jogo. Outrosafirmamquefoivítimadetuberculose.

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O nome São João não se sabe ao certo por quem foi dado. É provável que a imobiliária res-ponsável pela implantação do loteamento tenha aproveitado o nome da antiga Capela São João Batista,ondehaviatambémumcruzeiro,eficavasituada na Fazenda Bananal, na atual Estrada da Olaria. Os mais antigos contam que todo mês de junho era comemorado, com uma grande foguei-ra, o dia de São João Batista.

De acordo com d. Umbelina Maria Fernan-des da Silva, proprietária de uma área que já foi parte da Fazenda Bananal, havia em seu terreno uma capela consagrada a São João Batista, demo-lida em 1980, com o aval e a orientação do padre monsenhor Geraldo Penteado de Queirós, então pároco da Igreja de Nossa Senhora da Conceição (Matriz). O padre recomendou que nas proximi-dades da antiga capela fosse erguida outra, que d. Umbelina, imigrante portuguesa, consagrou a Nossa Senhora de Fátima.

O bairro São João é o maior desmembra-mento da Fazenda Bananal, com 19 loteamentos e 25 escolas públicas. No território do São João está o primeiro loteamento da região (o Cidade Soberana, criado em 1953) e um dos mais antigos conjuntos habitacionais da cidade de Guarulhos, o Haroldo Veloso, construído no início da década de 1970, dentro do território do loteamento Cida-de Seródio.

Antes da implantação dos loteamentos do bairro São João, sabe-se que os terrenos compra-dos pelos moradores pertenciam quase todos à Fazenda Bananal. A divisão entre o Jardim São João e o Cidade Seródio é a atual Avenida Mulun-gu, marco importante para a história local, já que representa também a linha que dividia as antigas fazendas Bananal e Cumbica. Era nessa mesma li-nha divisória, na esquina das avenidas Mulungu e

BAIRRO SÃO JOÃORiachuelo, que se localizava a capelinha dedicada à Santa Terezinha, demolida em 1990.

A partir do século XX, duas pessoas se tor-nariam fundamentais para a memória local: do lado da Fazenda Bananal, d. Cândida de Almeida Barbosa, conhecida como Candinha e, do lado da Fazenda Cumbica, o sr. Marcial Lourenço Seró-dio, fundador da Granja Aliança, em 1930, então a maior produtora de ovos da América Latina.

Inauguração da primeira linha de ônibus na regiãoSão João, em 1968.

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O loteamento Cidade Soberana foi aprovado pela Prefeitura por meio do Processo Administrati-vo no 1395 de 1953, com alvará de 13 de maio do mesmo ano. Foi implantado pela Companhia Sobe-rana de Capitalização (daí o nome do loteamento), em uma gleba de 1.709.800,003 metros quadrados, adquirida por compra do Banco F. Munhoz. Em uma certidão do 2o Cartório de Guarulhos, consta como antigo nome “Estância Meu Rincão”, situada na Estrada das Lavras, esquina entre as estradas do Itaverava (Itaberaba) e Guarulhos-Nazaré, no bairro das Lavras (Certidão do Segundo Cartório de Re-gistro de Imóveis de 27 de setembro de 2010).

CIDADE SOBERANA

ESCOLA ESTADUAL PROFa ANNA MARIA HOEPPNER GOMES

Rua Taubaté, 180, Cidade Soberana. CEP: 07161-180. Tel.: (11) 2467-0578/2467-9351. De-creto de Criação no 24.638, de 16 de janeiro de 1986.

Anna Maria Hoeppner Gomes nasceu em São Paulo (SP), em 1937. Iniciou sua carreira na área da educação guarulhense em 1966, quando passou a

ESCOLA ESTADUAL PROFa IDALINA LADEIRA FERREIRA

Rua Barra da Estiva, 182. CEP: 07161-520. Tel.: (11) 2466-2051/2466-2101. Decreto de Criação nº 46.573, de 1o de março de 2002.

Idalina Ladeira Ferreira nasceu em 17 de junho de 1917 e faleceu em 3 de janeiro de 1994. Idalina Ladeira Ferreira teve vasta formação aca-dêmica. Em 1935, diplomou-se pela Escola Nor-mal Santo André, em São José do Rio Preto.

Nos anos seguintes aprimorou seus conhe-cimentos em cursos de especialização para pro-fessores e de administração escolar. Em 1963, licenciou-se em Pedagogia pela Faculdade de Filosofia,CiênciaseLetrasdaOmec,emMogidas Cruzes. Em 1970, cursou especialização em Educação Pré-escolar, Sevres, na França.

A Profª Idalina lecionou entre os anos 1960 e 1970, em cursos promovidos pela Secretaria Estadu-al de Educação. Exerceu o cargo de professora nos municípios de Ribeirão Claro, São José do Rio Preto, Ibiúna, Piedade, Nova Granada e Vargem Grande, em São Paulo. Como escritora, publicou 15 livros didáticos, voltados para o ensino básico. Antes do nome da patronesse, ocorrido em 2008, a escola era chamada de Escola Estadual Cidade Soberana II.

lecionar no Instituto de Educação Conselheiro Cris-piniano. Formou-se em Português, Inglês e Latim pelaFaculdadedeFilosofia,LetraseCiênciasHuma-nas da Universidade de São Paulo (USP), em 1964. Anna faleceu em Guarulhos, no ano de 1985, antes de assumir o cargo de diretora, conquistado em con-curso público de 1982. Cinco anos depois (1987), seu nome foi aprovado como patronesse da então Escola Estadual de Primeiro Grau Cidade Soberana.

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ESCOLA DA PREFEITURA DEGUARULHOS PAULO FREIRE

Rua Taubaté, 500, Cidade Soberana. CEP: 07161-180. Tel.: (11) 2467-3603. Decreto de Criação no 19.895, de 15 de maio de 1997.

Joaquim Maria Machado de Assis nasceu no Rio de Janeiro, em 1839, e morreu na mesma cidade, em 1908. Era neto de escravos alforria-dos, tendo sido criado no Morro do Livramento, sem frequentar regularmente a escola. Apesar disso, acabou se tornando um dos maiores escri-tores brasileiros de todos os tempos. Sua maturi-dade artística ocorreu durante as últimas décadas do século XIX e início do XX, quando publicou os romances Memórias póstumas de Brás Cubas (1881), Quincas Borba (1891), Dom Casmurro (1899), Esaú e Jacó (1904) e Memorial de Aires (1908), além dos livros de contos Papéis avulsos (1882), Histórias sem data (1884), Várias his-tórias (1896) e Páginas recolhidas (1899). Em 1897 fundou a Academia Brasileira de Letras, da qual foi o primeiro presidente.

ESCOLA DA PREFEITURA DEGUARULHOS MACHADO DE ASSIS

Avenida das Margaridas, 50, Cidade Sobera-na. CEP: 07161-460. Tel.: (11) 2469-6728. Decreto de Criação no 22.282, de 19 de setembro de 2003.

Paulo Reglus Neves Freire nasceu em Re-cife (PE), em 1921. Entrou para a Universidade da sua cidade natal em 1943. Uma década e meia depois, com a tese Educação e atualidade brasi-leira – origem do seu primeiro livro, Educação como prática da liberdade (1967) –, Freire con-correuàcadeiradeHistóriaeFilosofiadaEdu-cação na mesma Universidade de Recife, na qual se tornou diretor do Departamento de Extensões Culturais, em 1961. No ano seguinte, conseguiu, junto com a sua equipe, que 300 cortadores de cana aprendessem a ler e a escrever em apenas 45 dias. Tal resultado levou o governo do presi-dente João Goulart a criar o Plano Nacional de Alfabetização, interrompido com o golpe militar de 1964, que provocou o exílio de Paulo Freire. De volta ao Brasil, ele ainda exerceria, com a re-democratização do País, o cargo de Secretário da Educação do Município de São Paulo, na gestão da prefeita Luiza Erundina (1990-1993). Freire morreu em 1997, mas o chamado Método Pau-lo Freire influenciaatéhojediversossetoresdaEducação brasileira.

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ESCOLA DA PREFEITURA DEGUARULHOS PASTOR PERÁCIO GRILLI

Avenida das Margaridas, s/n, Cidade Sobera-na. CEP: 07161-460. Tel.: (11) 2469-2669. Decreto de Criação no 22.377, de 14 de novembro de 2003.

ESCOLA DA PREFEITURA DE GUARU-LHOS PASTOR SEBASTIÃO LUIZ DA FONSECA

Avenida Monte Alegre, s/n, Cidade Sobera-na. CEP: 07162-450. Tel.: (11) 2469-4619. Decreto de Criação no 22.081, de 15 de abril de 2003. Decre-to de Alteração no 22.586, do nome Emei da Praça Estrela para o nome atual, de 20 de abril de 2004.

Perácio Grilli foi pastor da Igreja Evangéli-ca Assembleia de Deus e membro efetivo da Jun-ta Conciliadora do Estado de São Paulo. Nascido em Caconde (SP), em 1939, foi nomeado, aos 48 anos de idade, presidente do campo de Guarulhos pela Convenção Nacional de Pastores do Brasil (CNPB), passando a realizar obras assistenciais na cidade, como distribuição de alimentos e re-cuperação de viciados em drogas e de pessoas envolvidas com a prostituição e a criminalidade. Grilli também foi empresário – depois de exercer cargos de gerência e de diretoria, tornou-se sócio da N. G. Máquinas e Equipamentos de Escritório, em Guarulhos. Em 1994, transferiu-se para a As-sembleia de Deus de Osasco, onde morreu cinco anos depois.

Sebastião Luiz da Fonseca era popular-mente conhecido como pastor Fonseca. Nascido em Cambuquira (MG), em 12 de janeiro de 1912, transferiu-se para São Paulo no mês de abril de 1947, convertendo-se ao protestantismo nesse mesmo ano. Em 1951, veio morar em Guarulhos, entrou para a Assembleia de Deus, na escala de auxiliar, em 1954, e foi ordenado pastor 21 anos depois. Conheceu todas as pessoas envolvidas no movimento que culminou com a implantação e expansão daquela igreja na cidade, sendo um dos seus pioneiros. Foi casado com d. Maria Apare-cidadaFonseca,comquemteveoitofilhos,18netos e 15 bisnetos. Quando faleceu, em 16 de outubro de 2002, em Guarulhos, o pastor Fonse-ca congregava na Assembleia de Deus do Brás – Ministério Madureira. (Fonte: Boletim Informati-vo da Assembleia de Deus de Guarulhos, ano 1, no 1, abril 2002).

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O loteamento Jardim São João recebeu aprovação da Prefeitura em 23 de setembro de 1964, Processo Administrativo no 3.352/61, área total calculada em 501.676,00 metros, loteada por Raphael Parisi e outros. A área é assim descrita em trechos de um contrato de compra e venda, as-sinado em 30 de setembro de 1967. “[...] É parte da Fazenda Bananal [...] localizada na primeira porção da referida fazenda, [...] ou seja, a primei-ra área que encontra quem, vindo de Cumbica, vai para a mesma fazenda, sendo a dita área a mais próxima a Via Dutra, dividindo com Francisco dos Santos, Granja Aliança, A. M. de Oliveira e Fazenda Bananal, fazendo frente para a Via Mon-teiro Lobato e Estrada de Guarulhos e Saboó [...]”.

JARDIM SÃO JOÃO

ESCOLA ESTADUAL CAPITÃOAVIADOR SANDI MIYAKE

Avenida Juarez Távora, 47, Jardim São João. CEP: 07151-030. Tel.: (11) 2467-0054/ 2467- 3864. Decreto de Criação no 17.698, de 26 de novembro de 1969.

ESCOLA ESTADUAL PROFo

HERNANI FURINIAvenida Bom Jesus, 371, Jardim São João.

CEP: 07151-130. Tel.: (11) 2467-0357 / 2467- 2385. Decreto de Criação no 43.074, de 2 de julho de 1999.

Sandi Miyake nasceu em 1946, na cida-de de São Paulo (SP) e instalou-se com a famí-lia, constituída de comerciantes japoneses, em Guarulhos, onde, no Grupo Escolar Cerqueira Cesar, em Vila Galvão, iniciou os estudos. Em 1964, ingressou na Escola Preparatória de Ca-detes do Ar, sediada na cidade de Barbacena (MG).PromovidoaoficialdaForçaAéreaBra-sileira em 1967, transferiu-se para a Base Aé-rea de São Paulo (Guarulhos), onde fez estágio no 2º Batalhão de Reconhecimento de Ataque. Miyake tornou instrutor do Centro de Forma-ção de Pilotos Militares da Base Aérea de Natal (RN), em 1971. Morreu em 1973, durante um voo de instrução.

A Escola Estadual Aviador Sandy Miyake é uma importante referência para os moradores do Jardim São João. Quando da sua inauguração, em 1970, com o nome de Grupo Escolar do Jar-dim São João, a escola era um barracão que ser-via de sede do loteamento.

Hernani Furini nasceu na cidade de São Paulo, em 1923. Foi um dos raros casos de pa-trono ainda vivo de uma escola. Chegou a Gua-rulhos, aos cinco anos de idade, iniciando os seus estudos no Grupo Escolar Crispiniano de Abreu. Formou-se em Estudos Sociais pela antiga Facul-

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ESCOLA ESTADUAL PROFo

SALIME MUDEHRua Sagres, 136, Jardim São João. CEP:

07151-300. Tel.: (11) 2467-0116/2467-2921. De-creto de Criação nº 18.371, de 12 de janeiro de 1982.

ESCOLA DA PREFEITURA DEGUARULHOS DONA BENTA

Rua Taipu, 176, Jardim São João. CEP: 07151-480. Tel.: (11) 2466-5083. Decreto de Criação nº 7.998, de 16 de setembro de 1981.

Dona Benta Encerrabodes de Oliveira é uma personagem de 60 anos de idade criada pelo escritor Monteiro Lobato. Grande conhecedora

Salime Mudeh nasceu em Corumbá (MS), em 1947, e morreu na cidade de Guarulhos (SP), em 1981. Cursou Pedagogia na Faculdade de Fi-losofia,Ciências eLetras deGuarulhos,Admi-nistração Escolar na Faculdade Nove de Julho e Inglês no Fisk. Por meio da Lei no 3.486, de 3 de setembro de 1982, tornou-se patrono da Escola Estadual de Primeiro e Segundo Graus do Jardim São Geraldo, criada naquele mesmo ano.

deGeografia,elaéadonadoSítiodoPica-PauAmarelo, o lugar imaginário onde se desenrola a maior parte das aventuras da literatura infantil de Lobato. Com dona Benta moram vários outros personagens, entre eles a sua neta Lúcia, mais co-nhecida como Narizinho, e a Tia Nastácia, que cuida da cozinha e da limpeza da casa. Pedrinho, outro neto de dona Benta, gosta de passar suas férias no sítio, já que ali acontecem as coisas mais incríveis. Até petróleo já encontraram nas terras do sítio, onde se furou um poço com uma produ-ção de 500 barris por dia, o que fez de dona Benta uma senhora rica de uma hora para outra.

dade Farias Brito, hoje Universidade de Guaru-lhos (UNG). Em 1957, exerceu por 11 meses o cargo de vereador, como suplente de Adolfo Vas-concelos Noronha mas, em vez de dar continui-dade a uma carreira política, optou por lecionar, aposentando-se depois de 31 anos de atividade como educador. Recebeu da Câmara Municipal, em 1981, o título de Cidadão Guarulhense.

O loteamento recebeu aprovação da Pre-feitura de Guarulhos por meio do Processo Ad-ministrativo no 6.926, no ano de 1965. No dia 9 de janeiro de 1976, a pedido de Carmina Mendes Seródio, recebeu nova aprovação da Prefeitura, com área total de 1.173.783 metros quadrados (2.519 lotes). As terras, que pertenciam à Fazen-

CIDADE SERÓDIO

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ESCOLA ESTADUAL CIDADESERÓDIO

Avenida Coqueiral, 100, Cidade Seródio. CEP: 07150-000. Tel.: (11) 2467-1922 / 2467- 3855. Decreto de Criação no 40.286/95.

O nome dessa escola, assim como o do lo-teamento, homenageia ao sr. Marcial Louren-ço Seródio, descendente de família portuguesa, que chegou aGuarulhos nofinal da década de1920, cerca de 40 anos antes de fundar a Granja Aliança. Segundo relatos, a granja chegou a ser a maior da América Latina, até princípios da dé-cada de 1960, quando, sob a gerência de Osiris

ESCOLA ESTADUAL CARMINAMENDES SERÓDIO

Avenida Abílio Mendes de Oliveira, 23, Cida-de Seródio. CEP: 07150-230. Tel.: (11) 2467-2000. Decreto de Criação no 43.074, de 7 de maio de 1998.

Celínio de Carvalho, empresário do ramo imobi-liário em Campinas, teve início a implantação do loteamento Cidade Seródio. Os amigos de Mar-cial contam que ele era muito alegre, gostava de cavalgar, e constantemente convidava os colegas para ir à sua casa tomar o caldo verde preparado por d. Carmina, como convém à tradição portu-guesa. Marcial Lourenço faleceu no dia 15 de julho de 1967.

Carmina Mendes Seródio nasceu em 24 de fevereiro de 1920 e faleceu em 3 de agosto de 1995. Foi esposa de Marcial Lourenço Seródio. A aproximação entre os dois começou por oca-siãodainternaçãodeMarcialemfinsdadécada

da Cumbica, foram compradas em 1920 do sr. Benedito Bueno, morador do bairro de Ermelino Matarazzo, na zona leste da cidade de São Paulo.

O sobrenome “Bueno”, quando nos referi-mos ao sr. Benedito, pode ser um indicativo de que ele poderia ter sido um dos herdeiros do gran-de latifúndio da Fazenda Bananal, sesmaria con-cedida, em 1717, a Amador Bueno da Veiga. Ter-ras antes utilizadas para a produção de milho, que servia de ração para as aves poedeiras da Granja Aliança,cujaadministraçãoficavanolocalhojeconhecido por “Galinheiro”. O diretor técnico da Granja chamava-se Harold Seródio Bueno.

De acordo com Noronha, um dos pontos fortes da economia guarulhense, em 1950, era a avicultura. Na cidade existiam cerca de 200 gran-jas do tipo comercial. Diz ele: “Em 1950, regis-traram-se 141.919 cabeças. Em 1957, contavam--se 420.000 galinhas poedeiras, 188.000 frangos e galinhas de corte, bem como, uma produção anual de meio milhão de pintos, num valor apro-ximado de 320 milhões de cruzeiros, segundo os valores da época”. (Noronha, 1960, p. 101)

Nesse contexto, Marcial Lourenço Seródio doou um terreno para a construção de uma igreja católica. Em 1987, d. Carmina Mendes Seródio e o padre Manoel José Megia, responsável pelas celebrações na época, sugeriram à comunidade o nome de Santo Alberto Magno como padroeiro da igreja. Foi uma maneira de também homena-gear o sr. Alberto, pai de Marcial Lourenço.

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ESCOLA DA PREFEITURA DEGUARULHOS CÂNDIDO PORTINARI

Rua Bayeux, 66, Cidade Seródio. CEP: 07151-410. Tel.: (11) 2469-6596. Decreto de Criação nº 22.444, de 9 de janeiro de 2004.

Cândido Portinari foi artista plástico. Nasceu na cidade de Brodowski (SP), em 1903. Suas obras, de temática social e histórica, tiveram reconhecimento internacional. Seus quadros mais famosos são os da série Retirantes (1944). Mas, o artista também foi mundialmente conhecido por produzir enormes murais, como os painéis do Monumento Rodoviário (1936), localizado na Rodovia Presidente Dutra, e os painéis Guer-ra e Paz (1956), medindo 140 metros quadrados cadaum,queficaramporalgumtempoexpostosno hall de entrada do edifício sede da ONU (Or-ganização das Nações Unidas), em Nova York. Portinari teve intensa militância política, tendo sido candidato a deputado em 1945 e, dois anos depois, a senador, sempre pelo Partido Comunis-

ta Brasileiro (PCB). Morreu em 1962, intoxica-do pelas tintas que usava, quando preparava uma grande exposição a convite da Prefeitura da cida-de italiana de Milão.

ESCOLA DA PREFEITURA DEGUARULHOS CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE

Avenida Marcial Lourenço, 469, Cidade Se-ródio. CEP: 07151-370. Tel.: (11) 2469-2342. De-creto de Criação no 22.445, de 8 de janeiro de 2004. Inauguração ocorrida em 18 de março de 2005.

Carlos Drummond de Andrade foi um jornalista e escritor conhecido especialmente pela sua produção poética. Nascido na cidade mineira de Itabira, em 1902, escreveu quase 40 livros, pu-blicados de 1930 até o ano de sua morte, em 1987, quando organizou seu último trabalho. Além de ter atuado como redator e cronista nos principais jornais mineiros e cariocas, Drummond também exerceu o cargo de chefe de gabinete do Minis-tro da Educação Gustavo Capanema, no Rio de Janeiro, entre 1934 e 1945. Em seu último ano de vida, foi homenageado pela Escola de Samba Mangueira, que foi campeã do carnaval carioca daquele ano com o samba-enredo “No reino das palavras – Carlos Drummond de Andrade”.

de 1950, no Hospital Beneficência Portuguesa,em São Paulo, onde Carmina trabalhava como atendente. Quando do retorno do já idoso Marcial para a casa sede da Granja Aliança, Carmina veio morar na casa para cuidar da saúde dele. Não tar-doumuitoesecasaram.Ocasalnãotevefilhos,sendo Carmina a única herdeira do patrimônio do marido. A Escola Estadual de Primeiro e Se-gundo Graus Cidade Seródio II, criada em 1998, recebeu o nome de Carmina Mendes Seródio por meio da Lei nº 10.302, de 29 de abril de 1999.

ESCOLA DA PREFEITURA DEGUARULHOS TOM JOBIM

Avenida Coqueiral, 100, Cidade Seródio. CEP: 07150-070. Tel.: (11) 2466-5076. Decreto de Criação no 22.662, de 8 de junho de 2004.

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CENTRO SOCIAL DA PARÓQUIA SANTO ALBERTO MAGNO

Avenida Coqueiral, 321/356, Cidade Seró-dio. CEP: 07150-000. Tel.: (11) 2467-0101. Fun-dação: 14 de janeiro de 1990.

CENTRO DE CONVIVÊNCIAEDUCACIONAL PAULO FREIRE

Rua Igrejinha, 151, Cidade Seródio. CEP: 07151-350. Tel.: (11) 2467-1022. Autorização de funcionamentopublicadanoDiárioOficialdoEs-tado de São Paulo, de 26 de fevereiro de 1997.

O Centro de Convivência Educacional Pau-lo Freire, instituição particular dedicada à Educa-ção Infantil e aos ensinos Fundamental I e II, é a realização de um antigo sonho de sua fundadora e mantenedora, a Profª aposentada Edith Alves de Souza, que em 1983, ano em que iniciou o Cur-so de Alfabetização de Adultos da Igreja Santo Alberto, já desenvolvia atividades pedagógicas na região do São João. Ao criar a Escola Infantil da Edith, em 1985, a ex-aluna do educador Paulo Freireinstalou-sedefinitivamentenoloteamentoCidade Seródio. Há quatro anos, Edith implantou no seu colégio a disciplina História de Guaru-lhos. No início de 2009, participou da criação do Projeto Saberes Locais, que resultou na publica-ção, até o momento, do livro Revelando a história do Bonsucesso e Região, além deste Revelando a história do São João e Região.

Antônio Carlos Brasileiro Jobim nasceu em 1927, no Rio de Janeiro. Foi compositor, tendo estreado no mundo musical como autor das melo-dias da peça “Orfeu da Conceição”, escrita por Vi-nícius de Morais (1956). Já reconhecido como um dos maiores compositores brasileiros, Jobim rece-beu a Palma de Ouro, em Cannes, e o Oscar, pela trilha sonoradofilme“OrfeuNegro” (1959),dodiretor francês Albert Camus, inspirado em “Orfeu da Conceição”. Uma de suas músicas mais famo-sas, entretanto, é “Garota de Ipanema”, composta em parceria com Vinícius de Morais, em 1963. Du-rante o Free Jazz Festival de São Paulo (1993), foi homenageado por músicos como Herbie Hancock e Ron Carter. Tom Jobim fez seu último show em Jerusalém, em 1994, morrendo neste mesmo ano, em consequência de uma parada respiratória.

Santo Alberto nasceu na Suábia, região da atual Alemanha, em 1206, e morreu em 1280, na cidade de Colônia, no mesmo país. Era chamado de “Magno” porque seu pensamento científico,filosóficoeteológicotevegranderepercussãonacultura ocidental latina do início do século XIII.

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A implantação do Conjunto Habitacional Haroldo Veloso foi aprovada pela Prefeitura de São Paulo em 1970. Contendo 470 casas térreas, construídas em um terreno de 91.267 metros qua-drados, doado por Marcial Lourenço Seródio e sua esposa Carmina Mendes Seródio em 1966. Financiado com dinheiro público, é um dos con-juntos habitacionais mais antigos de Guarulhos, sendo implantado pela Companhia Metropolitana de Habitação de São Paulo – Cohab.

Chama a atenção uma curiosidade sobre o conjunto – antes da inauguração, contam os mais antigos que ocorreu uma chuva com vento mui-to forte, que destelhou todas as casas. As famílias foram morar no conjunto “Montepio”, do bairro Jaçanã, em São Paulo. Em 1972, retornaram to-dos para o Veloso, já que os telhados haviam sido refeitos, seguindo o estilo da cobertura da Granja Aliança, mais resistente contra tempestades. Des-de a sua inauguração, o conjunto teve água enca-nada, retirada de poço artesiano (Aquífero Cumbi-ca), além de uma estação de tratamento de esgoto.

CONJUNTO HABITACIONALHAROLDO VELOSO

ESCOLA ESTADUAL BRIGADEIRO HAROLDO VELOSO

Rua Ester, 200, Cidade Seródio. CEP: 07155-060. Tel.: (11) 2467-0877 / 2467-1740. Criação: Resolução Secretaria de Educação no 24, de 28 de janeiro de 1976.

Haroldo Coimbra Veloso nasceu em 1920. Foi um major-aviador que integrou o movimento militar contrário à posse de Juscelino Kubitschek e João Goulart, eleitos, respectivamente, presiden-te e vice-presidente da República em outubro de 1955. No ano seguinte, Veloso liderou a Revolta de Jacareacanga – lugarejo do Município de Itai-tuba (PA), a 300 quilômetros de Manaus –, que visava destituir Kubitschek e Goulart, recém---empossados. Devido a sua participação no movi-mento, Veloso foi preso, respondendo a inquérito policial-militar. Após o Golpe de 1964, que deu inícioàDitaduraMilitar,Velosofiliou-seàAlian-ça Renovadora Nacional (Arena), de orientação governista, sendo eleito deputado federal pelo Pará dois anos depois. Morreu em 1969.Reportagem sobre o Conjunto Habitacional Haroldo

Veloso, década de 1970.

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O loteamento Jardim Lenize consta como regularizado pela prefeitura de Guarulhos, me-diante o Processo nº 1.035/65, de 18 de janeiro de 1993. Pelo que se vê, é provável que a venda dos lotes tenha começado em 1965 e a regulari-zação ocorreu em 1993. Foi implantado em uma área com 541.180 metros quadrados, loteado por Américo Chemin, Leo Mazzei, Humberto Pela e outros, e comercializado pela Imobiliária Prelú-dio. A gleba originária do loteamento era parte da Fazenda Bananal. O nome “Lenize” foi dado emhomenagemaumafilhadeAméricoChemin.

JARDIM LENIZE

ESCOLA DA PREFEITURA DEGUARULHOS PAULO AUTRAN

Avenida Sítio Novo, 55, Jardim Lenize. CEP: 07151-680. Tel.: (11) 2469-3214. Decreto de Criação nº 21.212, de 30 de março de 2001.

ESCOLA ESTADUAL PROFo CYRO BARREIROS

Avenida Aracati, 4, Jardim Lenize. CEP: 07151-600. Tel.: (11) 2467-0254 / 2467-1512. De-creto de Criação no 9491, de 11 de fevereiro de 1977.

Cyro Barreiros nasceu em 1926, na cidade de Sarutaiá (SP). Concluiu a então Escola Nor-mal aos 22 anos de idade, no Instituto de Educa-ção Coronel Nhonhô Braga, localizado em Pira-ju, município vizinho a sua cidade natal, no qual foi diretor e um dos fundadores da Faculdade de FilosofiaeLetras.Colaboroutambémcomains-talação da Faculdade de Ciências Biológicas de Araras (SP). Quando morreu, em 1982, exercia o cargo de diretor geral do Conselho Estadual de Educação de São Paulo.

Paulo Paquet Autran foi ator de teatro, ci-nema e televisão. Nasceu no Rio de Janeiro (RJ), em1922e,porinfluênciadopaiqueeradelegadode polícia, formou-se pela Faculdade de Direito do Largo São Francisco, em São Paulo, em 1945. Desapontadocomaprofissãodeadvogado,parti-cipou de algumas peças teatrais amadoras, sendo convidadoaestrearprofissionalmentecomapeçaUm Deus dormiu lá em casa, uma montagem do Teatro Brasileiro de Comédia (TBC). Foi o seu primeiro êxito comercial, após o qual resolveu se dedicar exclusivamente à carreira artística, com prioridade para o teatro, sua grande paixão. Au-tran morreu na capital paulista, em 2007.

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O loteamento Jardim Bondança foi regula-rizado pela Prefeitura por meio do Processo Ad-ministrativo nº 11.846/80, alvará de 29 de maio de 1984. São 251 lotes distribuídos numa área de 143.160 metros quadrados. Gleba que pertencia aos irmãos Francisco Bondança Filho, Giovani Angelini e Antônio Bondança. De acordo com re-lato familiar, o nome do loteamento foi dado por Giovani Angelini, em homenagem a sua esposa Rachela Bondança. Ambos eram descendentes de imigrantes italianos, originários da mesma re-gião. Acrescentam os familiares: “o loteamento era uma antiga gleba que por meio século serviu para produção de tijolos”. Segundo depoimento de moradores do Jardim Lenise, também existiu no local um porto de extração de areia.

JARDIM BONDANÇA

ESCOLA DA PREFEITURA DEGUARULHOS GIOVANI ANGELINI

Avenida Ivan Edmundo Scarameli, 301, Jardim Bondança. CEP: 07162-540. Tel.: (11) 2469-4740. Decreto de Criação nº 19.669, de 22 de novembro de 1996. Em 7 de maio de 1998, por meio do Decreto no 20.242, de 10 de abril de 1998, a escola passou a denominar-se Giovani Angelini.

Giovani Angelini nasceu na capital paulista em 1912. Trabalhou no bairro de Cangaíba como minerador na extração de calcário e como pro-dutor de tijolos em olarias na Várzea do Palácio, onde conheceu sua esposa Rachela Bondança. Por vários anos, os dois trabalharam na fabricação de

tijolos cozidos e em 1941 mudaram-se para Gua-rulhos, instalando-se na Vila Augusta. Giovani transferiu sua indústria oleira para o bairro Bana-nal, onde funcionou por 50 anos. Devido à idade avançada, transformou o terreno das olarias no loteamento Jardim Bondança. Giovani e Rache-lativeramdoisfilhos:IvonedeAlmeida,casadacom Francisco Assis de Almeida, e Iuceu Angeli-ni, casado com Enedina Angelini.

Loteamento aprovado pela Prefeitura por meio do Processo Administrativo nº 3.325/73, com alvará expedido em 21 de dezembro de 1988. O Jardim Santa Terezinha tem uma área lo-teada de 163.225 metros quadrados, em terras an-tes pertencentes a Luiz C. Neto e outros. O nome do loteamento é referente à Santa Terezinha do Menino Jesus, nascida em Aliçon, na França, no ano de 1873. Santa Terezinha entrou com 15 anos de idade no Mosteiro das Carmelitas, com autori-zação do papa. Morreu em 1897.

JARDIM SANTA TEREZINHA

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ESCOLA DA PREFEITURA DEGUARULHOS PROFo PEDROGERALDO BARBOSA

Rua Carnaubais, 300, Jardim Santa Terezi-nha. CEP: 07160-640. Tel.: (11) 2467-4989. Decre-to de Criação no 21.490, de 4 de janeiro de 2002.

Pedro Geraldo Barbosa nasceu no dia 16 de novembro de 1943 e morreu em março de 1998. Foi operário metalúrgico que aos 43 anos de ida-

ESCOLA ESTADUAL DEPUTADO JOSÉ STOROPOLI

Rua Carnaubais, 493, Jardim Santa Tere-zinha. CEP: 07160-550. Tel.: (11) 2467-0522 / 2467-0776. Decreto de Criação no 28.170, de 21 de janeiro de 1988.

Não consta como regularizado pela Prefei-tura de Guarulhos. Constatamos que existem três plantas na Secretaria de Desenvolvimento Urba-no (SDU) de Guarulhos em nome dos loteadores Walter Guimarães, Walter Loschiavo, Bechara Beyruti e Nuno Lemos, e outra planta parcial em nome de Maria Lenart. Com o nome de Jardim Novo Portugal – Gleba B, existe uma terceira planta em nome de Manoel Alves Ribeiro.

O nome Jardim Novo Portugal tem sua origem na concentração de famílias portuguesas que inicialmente arrendaram chácaras no antigo bairro do Jardim Maringá. É provável que tam-

JARDIM NOVO PORTUGAL

José Storopoli, natural do bairro paulista-no de Vila Maria, foi professor no Ensino Funda-mental. Foi vereador em São Paulo pelo MDB, entre os anos de 1973 e 1977, e deputado estadual de 1979 a 1982. Em 1954, fundou, com sua espo-sa, tambémprofessora,aEscoladeDatilografiaAnchieta, no mesmo bairro de Vila Maria. Em 1956, fundou a Escola Anglo Latino de cursos profissionalizantes(administração,contabilidadee datilografa). Depois de criar o Colégio Nove de Julho – nome inspirado na “Revolução” Consti-tucionalista de 1932 –, fundou, em 1972, a Fa-culdade de Filosofa, Ciências e Letras Nove de Julho, que em 1997 tornou-se o Centro Universi-tário Nove de Julho (Uninove).

de tornou-se professor da rede pública estadual e municipal de Guarulhos. Formado em Letras pela antiga Faculdade Farias Brito, atual Universidade Guarulhos, lecionou língua portuguesa na Escola Estadual Padre Bruno Rico, no Jardim Presidente Dutra, tendo exercido, também, o cargo de diretor da Escola da Prefeitura de Guarulhos Wilson Pe-reira da Silva, no Jardim Maria Dirce, entre outras. Pedro Geraldo Barbosa foi morador da Rua Antô-nio Alves dos Santos – antiga Rua 12, no 30, no Jardim Jade, no bairro São João. Seu nome foi in-dicado para patrono dessa escola pela Associação dos Diretores de Escola Municipal de Guarulhos. Segundo o Profo Adão Rodrigues dos Santos, pre-sidente da referida associação, “trata-se de pessoa extremamente sensível, que sofria muito ao consta-tar as desigualdades sociais do País.” Seu corpo en-contra-se sepultado no Cemitério do Bonsucesso.

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ESCOLA ESTADUAL PASTOR EVEREADOR ANTÔNIO GROTKOWSKY

Rua Belém, 259, Jardim Novo Portugal. CEP: 07160-550. Tel.: (11) 2467-0620 / 2467-8100. Decreto de Criação nº 9.491, de 11 de feve-reiro de 1977. A Lei nº 4.886, de 5 de dezembro de 1985, deu o nome de Antônio Grotkowsky à Es-cola Estadual de Primeiro Grau Jardim Portugal.

Antônio Grotkowsky foi pastor da Igreja Evangélica Assembleia de Deus, tendo cursado faculdade de Teologia. Como suplente de verea-dor na legislatura de 1969 a 1972 da Câmara Mu-nicipal de Guarulhos, assumiu os cargos de secre-tário da Casa e vice-presidente das comissões de Higiene e Saúde Pública e de Educação e Cultura. Nascido na cidade de Ibituva (PR), em 1923, che-

bém fosse chamado de Jardim Portugal, tendo em vista que a atual escola do bairro, Antônio Gro-tkowsky, era chamada, antes de 1982, de Jardim Portugal. O Maringá foi todo desapropriado em 1979 por ocasião da construção do Aeroporto. Muitas famílias desse loteamento vieram para o Novo Portugal. Além das famílias portuguesas, muitos japoneses também tinham suas chácaras no Maringá. Um dos primeiros japoneses a se es-tabelecer ali foi o sr. Paulo Yamada, por volta de 1939. O nome do loteamento está ligado ao fato de o seu fundador, Ênio Pipino, ter fundado algu-mas cidades também no Estado do Paraná, entre elas a cidade de Maringá.

gou aos 40 anos de idade a Guarulhos, onde se tornou o primeiro pastor local da Assembleia de Deus, e onde morreu em 1972. Antônio Grotko-wsky também foi o fundador da Casa da Criança Lírio dos Vales (1965), entre outras iniciativas.

O bairro Morro Grande, além da região ora estudada, abrange também o norte do Bonsuces-so, até a divisa de Guarulhos com os municípios de Nazaré Paulista e Santa Isabel.

É o maior bairro de Guarulhos, mas o menos habitado. Isso porque em sua porção leste incide uma restrição legal à ocupação urbana. Trata-se de uma Área de Proteção Ambiental Federal da Bacia do Rio Paraíba do Sul e, sobreposta a esta, a Área de Proteção e Recuperação de Mananciais (APRM), criada em 1975 pelo Governo Estadual. É uma região de grande beleza natural e também importante do ponto de vista ambiental, com rica diversidade de espécies vegetais e animais.

Seu nome advém das características de seu relevo, com morros, montanhas e serras, como o Morro Nhanguaçu, também conhecido como “morrão”, e a Serra do Itaberaba, ou do Gil, sendo este o ponto mais alto de Guarulhos e da região metropolitana de São Paulo, com 1.422 metros de altitude, de acordo com a Emplasa.

BAIRRO MORRO GRANDE

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Muitos pensam que o nome Bananal foi dado porque no local existia uma grande plan-tação de bananeiras. Nada disso. O nome desse bairro é originário da palavra “banani”, termo da língua geral, falada no período colonial, que sig-nifica“riosinuoso”,comocitadonapágina64.

É provável que o nome da Fazenda Bana-nal (atual Casa da Candinha), loteada a partir dos anos 1960, para formar boa parte dos bairros da região, tenha surgido em função do Rio Ba-quirivuGuaçu,cursod’águasinuosoedelongaextensão que corta as terras da antiga fazenda e que também foi recurso importante para a mine-ração de ouro.

BAIRRO BANANAL

O loteamento não recebeu aprovação da Prefeitura, mas encontra-se, desde 27 de janei-ro de 1961, devidamente inscrito, sob o no 29, junto ao 1o Cartório de Registro de Imóveis de Guarulhos. Os 1.444 lotes ocupam uma área de 794.444,50 metros quadrados. Os moradores os

SANTOS DUMONT

ESCOLA ESTADUAL PARQUESANTOS DUMONT

Rua Olho D’água dos Borges, s/n, Par-que Santos Dumont. CEP: 07152-160. Tel.: (11) 2466-6633 / 2466-7001. Decreto de Criação nº 4.6573, de 1o de março de 2002.

compraram dos loteadores Sherlock Nogueira, Sociedade Nacional de Melhoramentos Imobiliá-rios Ltda., Ariovaldo de Almeida, Natale José de Alice e Waldemar Amaral de Almeida.

Alberto Santos Dumont nasceu em julho de 1873, no Sítio Cabangu, no local que viria a ser o Município de Palmira (hoje rebatizado com o seu nome), então um distrito da cidade de Bar-bacena (MG). Fascinado por máquinas, ainda na adolescência passou a se interessar por Mecâni-ca, Física, Química e Eletricidade. Aos 18 anos, emancipado, foi para a França completar os es-tudos e perseguir o seu sonho de voar. Em 12 de novembro de 1906, na quarta tentativa, conseguiu realizar um voo de 220 metros, com a sua famo-sa aeronave 14 Bis. Desde a eclosão da Primeira Guerra Mundial (1914-1918), vinha sofrendo de depressão por ver a sua invenção ser usada para

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ESCOLA ESTADUAL PROFo

MAURÍCIO NAZARRua João Dias, s/n, Parque Santos Dumont.

CEP: 07152-230. Tel.: (11) 2467-0696 / 2467-3826. Decreto de Criação nº 8.371, de 13 de ja-neiro de 1982.

ESCOLA DA PREFEITURA DEGUARULHOS DARCY RIBEIRO

Rua São Fernando, s/n, Parque Santos Du-mont. CEP: 07152-060. Tel.: (11) 2469-4498. De-creto de Criação nº 21.551, de 15 de março de 2002.

Darcy Ribeiro foi antropólogo, escritor e político. Nascido em Montes Claros (MG), em

Mauricio Nazar exerceu o magistério por mais de três décadas. Químico industrial, forma-do em 1944 pelo antigo Instituto Mackenzie, na cidade de São Paulo, Nazar exerceu diversas fun-ções naquela instituição, e também ocupou os car-gosdeOficialdeGabinetedaSecretariadaSaúdedo Estado de São Paulo (1958-1962) e de Diretor da Merenda Escolar do Ministério da Educação e Cultura – MEC, entre 1962 e 1965. Participou, ainda, sempre em São Paulo, de atividades liga-das ao planejamento e montagem de laboratórios em inúmeros estabelecimentos escolares.

1922. Notabilizou-se principalmente por seu trabalho nas áreas de educação, sociologia e an-tropologia, tendo sido, ao lado do amigo Anísio Teixeira, um dos responsáveis pela criação da Universidade de Brasília, da qual foi o primei-ro reitor. Publicou vários livros, alguns deles so-bre os povos indígenas. Darcy Ribeiro também foi ministro-chefe da Casa Civil do presidente João Goulart, vice-governador do Rio de Janei-ro (1983-1987) e senador pelo Rio de Janeiro, de 1991 até a sua morte, ocorrida em 1997. Poucos anos antes de falecer, publicou O povo brasileiro, obra que o coloca na seleta relação dos grandes intérpretes do Brasil.

O loteamento Jardim Munira foi implanta-do e recebeu aprovação da Prefeitura por meio do Processo Administrativo nº 21.494/97, alvará de 28 de abril de 1980. Possui área total de 93.440 metros quadrados e 186 lotes. Loteamento de res-

JARDIM MUNIRA

finsmilitares.Oadventoda“Revolução”Cons-titucionalista (julho a outubro de 1932) agravou o seu estado de saúde. Já morando na cidade do Guarujá (SP), faleceu no mesmo ano de 1932, aos 59 anos de idade, sem deixar descendentes.

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ESCOLA DA PREFEITURA DEGUARULHOS VER. GILMAR LOPES

Rua Dias Gomes, 268, Jardim Munira. CEP: 07152-700. Tel.: (11) 2466-5909. Decreto de Criação no 21.124, de 12 de dezembro de 2000.

ESCOLA DA PREFEITURA DEGUARULHOS ÁLVARO MESQUITA

Rua Guimarães Rosa, 124, Jardim Munira. CEP: 07152-740. Tel.: (11) 2469-0066. Decreto de Criação no 28.015, de 27 de agosto de 2010.

ponsabilidade da MAD Empreendimentos Imobi-liários S/C Ltda. e Soemi – Sociedade de Empre-endimentos Imobiliários Ltda. Segundo o relato de Sebastião Gonçalves da Silva, um dos primeiros compradores de terreno do loteamento, o dono do empreendimentotinhadoisfilhoshomens.Noanoem que estava implantando o loteamento, nasceu--lheumafilha,aquemfoidadoonomeMunira,bem como ao loteamento.

Gilmar Lopes foi vereador de Guarulhos pelo Partido do Movimento Democrático Bra-sileiro (PMDB), eleito pelo voto popular em 1982, sendo reeleito duas vezes consecutivas. Advogado, iniciou sua militância política em 1969, como integrante do Movimento Estudan-til. Um dos responsáveis pela criação do Fundo de Assistência à Cultura, do Arquivo Histórico do Município e do Festival Amador da Canção de Guarulhos, foi também Secretário Municipal de Educação e Cultura na cidade por um ano e meio, durante o seu segundo mandato como ve-reador. Morreu em junho de 1994, aos 38 anos de idade, 15 dias depois de ter lançado sua can-didatura para deputado estadual pelo Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB).

Álvaro Mesquita nasceu em 1921, na ci-dade de Piratininga (SP). Aos 18 anos de idade mudou-se de Duartina para Guarulhos, tendo em vista que seu avô, Martins Júnior, havia comprado uma fazenda, à qual deu o nome de Bela Vista. O pai, Otávio Braga de Mesquita, veio administrar a fazenda, trazendo com ele sua esposa e todos osfilhos:CarlosMesquita(Carlito),ÁlvaroMes-quita, Clóvis Mesquita, Mylton Mesquita, Élio de Castro Mesquita e Paulo Braga de Mesquita. Em Guarulhos, Álvaro Mesquita casou-se em 31 de dezembro de 1949 com Maria Lygia Brancaleoni Mesquita,filhadeVascoElydioEgydioBranca-leoni e Maria Zélia Santoni Brancaleoni. Lygia eraprofessora,ÁlvaroeLygiativeramtrêsfilhos:Eliana, Álvaro Júnior e Luis Roberto Mesquita. Álvaro dedicou 70 anos de sua vida ao comércio de Guarulhos. Seu último empreendimento co-mercial foi a Casa Caça e Pesca de Guarulhos, que depois passou a se chamar Comercial Mes-quita, loja que encerrou suas atividades em maio de 2010, após o falecimento do fundador, ocorri-do em 25 de abril de 2009.

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Não há ocupação urbana no Tanque Grande. E é importante que seja assim, pois o bairro apre-sentasignificativavegetaçãoque,alémdepropor-cionar uma belíssima paisagem, garante a qualida-de da água do reservatório homônimo, que fornece água aos bairros Fortaleza, Bananal, Lavras e São João. Relatos de moradores dão conta, inclusive, de que o primitivo nome do local era Tancão.

Há indícios de que a água dessa região era utilizada na mineração de ouro, não só no entor-no do reservatório, como também onde hoje é o loteamento Maria Clara, no bairro das Lavras, conduzida por um aqueduto de cerca de 14 qui-lômetros de extensão, construído terreno abaixo, conforme a declividade e os obstáculos do relevo. (Noronha, 1960, p. 39)

Em 1948, a família Guinle, responsável pela implantação do loteamento Cidade Industrial Sa-télite de Cumbica, dá início, em terras da Fazenda Bananal (parte do Sítio Tanque Grande), adquiri-das de d. Candinha, no ano anterior, às obras de

BAIRRO TANQUE GRANDEconstrução da Represa Tanque Grande. De acor-do com o Serviço Autônomo de Água e Esgoto (Saae) de Guarulhos, a Prefeitura e o Governo do Estado inauguraram a Represa Tanque Grande, em 1958. Inicialmente, a barragem fornecia água para a Cidade Industrial Satélite de Cumbica, me-diante uma adutora de ferro fundido que passava pela Avenida Florianópolis, no Jardim São João, e por um pequeno trecho da Estrada Guarulhos--Nazaré. O trecho do Jardim São João originou a “lutadocanod’águafurado”(vercapítuloResis-tência, Lutas Populares e Sindicais).

Para saber mais!1. Da Totalidade aos Lugares. Milton Santos. Universidade de São Paulo, 2005.2 . História dos bairros de São Paulo de A a Z. Antonio Ponciano. 3. Revelando a História do Bonsucesso e Região. Vários Autores. Noovha America, 2010.4. Cantareira. O Caminho da Metropolização. Jovino Can-dido da Silva. Enfoque Marketing, 1999.

Tanque Grande em 1945. Área desmatada no início de 1940 por ocasião da Segunda Guerra Mundial.

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9CirCuitos turístiCos: PatrimôNio Naturais

e soCiais

Apresentar um circuito turístico não é a mesma coisa que falar de roteiro turístico. É mais que isso. É algo referenciado na cultura, na histó-ria natural e social.

Jamais poderíamos contar a história da mi-neração na região São João se em sua formação geológica não houvesse ouro. A história da região poderia ser muito diferente se em seu território não existisse a Serra do Itaberaba e o Rio Baquirivu Guaçu, por exemplo.

A construção de circuitos turísticos exige o diálogo entre diferentes áreas do conhecimento para explicar os tipos de patrimônios materiais e imateriais existentes em cada localidade. A reali-dade é muito mais complexa para ser compreen-dida, apenas, a partir da história social. Atenden-do a um dos objetivos do Geoparque Ciclo Ouro Guarulhos, São Paulo, (em fase de implantação no município) de promover a integração cultural, his-tórica e ambiental regional, incluímos alguns atra-tivos de cidades próximas a Guarulhos.

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Em muitas regiões do Brasil a palavra sa-boó é usada para designar terreno escorregadio, ou tipo de solo liso e com poucos nutrientes, que normalmente é coberto por mata rala. Na região São João temos a Estrada do Saboó que começa no Jardim São João, passa por Mairiporã e termi-na na Estrada Guarulhos-Nazaré.

Entre a Estrada do Saboó e a Guarulhos--Nazaré, existe um trecho chamado, atualmen-te, de Rua Juarez Távora. A Saboó era também chamada de Estrada do Bananal ou Caminho do Juqueri (atual Mairiporã). Em 2007, a histórica estrada passou a se chamar Martin Luther King.

As águas do Ribeirão Tanque Grande e do Rio Baquirivu Guaçu, foram muito utilizadas nas lavras de ouro no período colonial, e hoje possui um reservatório, operado pelo Saae, que fornece água para dezenas de loteamentos na re-gião São João.

CIRCUITO 1: ESTRADA DO SABOÓE O RIBEIRÃO TANQUE GRANDE

PRAÇA OROBÓ

Orobó é uma palavra indígena que nomeia uma fruta de grande porte, muito utilizada em certos rituais do Candomblé. Também é o nome de um município pernambucano localizado a 112 quilômetros da Capital Recife. Existe, ainda, no interior do Estado da Bahia, a Serra Orobó, palco de lutas, no século XVIII, entre bandeirantes à procura de ouro e indígenas.

CASA DA CANDINHA

Construída por volta de 1825, em taipa de pilão, era sede da Fazenda Bananal. Atualmente é considerada a casa mais antiga de Guarulhos. Está localizada no lado esquerdo da Estrada do Saboó, no sentido Guarulhos-Nazaré Paulista. O imóvel foi desapropriado e está sendo restaurado (foto) pela Prefeitura de Guarulhos para a implantação do Parque Natural Municipal da Cultura Negra Sítio da Candinha, que deverá abrigar o Centro de Preservação da Memória e Cultura Negra.

REPRESA, CACHOEIRA E LAVRAS DE OURO DO TANQUE GRANDE

Cenário dos mais belos da cidade de Gua-rulhos, possui atributos naturais como cursos d’água,flora, fauna eminerais, alémde atribu-tos históricos, como antigas lavras de ouro, pare-dões de pedra seca, para proteção dos canais de lavagem de cascalho, túnel e canal de condução de água para a mineração de ouro, com 14 quilô-metros de extensão, situado nas proximidades da sede do Casarão do bairro das Lavras.

O primeiro local de Guarulhos a receber o nome Orobó é uma praça localizada no centro do Jardim Presidente Dutra, na região Bonsucesso, assimnomeadapara identificarumespaçomul-ticultural acessível a todas as pessoas, sem dis-tinção. No início da Estrada do Saboó, no Jardim São João, há uma praça de esportes que também recebeu esse nome (Orobó), certamente para lhe dar a mesma identidade, o mesmo conceito.

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CACHOEIRA DA MAIONGA

Espaço muito utilizado para práticas reli-giosas de matriz Africana. Os adeptos do Can-domblé preferem o termo “Maiomba” (palavra deorigemafricanaBantaquesignificabanho)emvez de “macumba” (termo pejorativo). O local utilizado para as práticas religiosas era uma an-tiga cava de exploração de ouro, onde é possível observar, a olho nu, as alterações provocadas por essa atividade no leito do ribeirão e nas rochas quecircundamaqueda-d’água.Éumaáreapú-blica desapropriada pela Prefeitura de Guarulhos.

A Estrada Guarulhos-Nazaré é um ramal da Estrada Geral. Começava após a Base Aérea de Cumbica, no sentido centro-bairro, entrava à esquerda, atravessava a várzea do Rio Baquiri-vu Guaçu e alcançava o atual Jardim São João. Quando do início da construção do Aeroporto, em 1979, deixaram de existir esse trecho da estra-da e o loteamento Jardim Maringá. Entre 1741 e 1748, além do nome Estrada de Nazaré, surgiu o topônimo “Caminho das Lavras Velhas”, ou “das Catas Velhas”. Seguindo a Estrada Guarulhos--Nazaré, chega-se aos mais antigos garimpos de ouro da São Paulo colonial, às cidades de Santa Isabel, Arujá e Nazaré Paulista, bem como aos estados de Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso, onde, 100 anos depois da mineração em território guarulhense, iniciou-se o mais divulgado ciclo de mineração da história do Brasil.

CIRCUITO 2: ESTRADAGUARULHOS-NAZARÉ

CAPELINHA DO BOM JESUS

É uma capela particular cuja devoção ao Bom Jesus fazia parte de uma das festas católi-casmaisanimadasdaregião.Nofinaldadécadade 1960, a Festa do Bom Jesus era abrilhantada pela centenária Banda Lira de Guarulhos. Missa, leilão e a presença de muitas famílias do centro de Guarulhos e dos proprietários rurais que cultu-avam o Bom Jesus.

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SERRA DO ITABERABA

Itaberaba,noTupi-Guarani,significapedraque brilha. Entre os atributos de maior importância ambiental e histórica da Serra, é possível observar o Pico do Itaberaba, com os seus 1.422 metros de altitude, sendo o mais alto da Região Metro-politana de São Paulo. Muitas nascentes de água, vegetação de Mata Atlântica, o Lago do Franco e inúmeras espécies animais, inclusive estruturas dos antigos garimpos de ouro, também são encon-trados no local. Seguindo uma das nascentes do Itaberaba, alcançamos o Rio Paraíba do Sul.

CEMITÉRIO DO CAMPO DOS OUROS

A demanda para implantação de um cemi-tério na antiga região dos garimpos de ouro retro-cede a segunda metade do século XX. Em 1957, metade da população do Itaberaba morreu de tifo, sendo sepultada no Cemitério do Campo dos Ou-ros. É provável que o cemitério já existisse antes da epidemia. Segundo relato de um morador, o cemitério do Campo dos Ouros foi destruído na década de 1970 para fornecer terra para grandes obras em Guarulhos.

GARIMPO DO OURO DO RIBEIRÃO DAS LAVRAS

Das seis lavras de ouro de Guarulhos, três encontram-se entre o Jardim Fortaleza e o Pico do Itaberaba (Catas Velhas, Monjolo de Ferro e Campo dos Ouros).Vale a pena conhecer as es-truturas do antigo garimpo de ouro do Ribeirão das Lavras. Área de 600 mil metros quadrados, desapropriada pela prefeitura e com pedido de tombamento no Condephaat. Foto: Grupo esco-teiro “Nilton Braga” em visita ao garimpo do Ri-beirão das Lavras.

Foto tirada de cima do Pico do Itaberaba a 1.422 metros de altitude, o ponto mais alto da Grande São Paulo.

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Antigamente era comum a atividade econô-mica principal condicionar os nomes das vias de acesso e dos lugares. Para a mesma estrada, en-contramos dois nomes que são anteriores ao anti-go caminho que levava aos garimpos de ouro, si-tuados nas proximidades do Rio Baquirivu Guaçu: Estrada Velha do Bonsucesso e Estrada de Itabera-ba (também chamado de Ituverava). Em 2010, um trecho da antiga Estrada das Lavras teve o nome modificadoparaAvenidaJoséBrumati.Nazonanorte de São Paulo existe o bairro Itaberaba, bem como a avenida de mesmo nome. É possível que se trate do trecho de uma antiga estrada que ligava São Paulo à Serra do Itaberaba, em Guarulhos.

CIRCUITO 3: ESTRADA DAS LAVRAS E O RIO BAQUIRIVU GUAÇU

BAIRRO DAS LAVRAS

No mapa do Instituto Geológico do Brasil na página 60 é possível visualizar a extensão das jazidas de ouro que começa no bairro da Capeli-nha e chega ao bairro das Lavras. No seminário dos padres, no remanescente de mata do loteamen-to Maria Clara e no Jardim Hanna é possível ob-servar os antigos locais da atividade mineradora.

OLARIAS E PORTOS DE AREIAA construção com tijolos cozidos, em subs-

tituição à taipa de pilão, fez surgirem muitas ola-rias e portos de areia na várzea do Rio Baquirivu Guaçu. O trabalho nas olarias era feito por nú-cleos familiares e por trabalhadores diaristas con-tratados pelo dono da olaria. Um dos traços mar-cantes das olarias era a quantidade de imigrantes italianos e alemães à frente da atividade oleira.

CHÁCARAS DE HORTAS E FLORES

Seguindo a Estrada das Lavras, percebe-se pequenaagriculturadehortaseplantiodeflores.É uma atividade econômica antiga que permane-ce graças à qualidade do solo da várzea do Rio Baquirivu Guaçu. Além de cultivarem a terra, os agricultores moram nas pequenas chácaras.

AEROPORTO INTERNACIONALConstruído ao lado da Base Aérea de São

Paulo, em Cumbica, foi inaugurado em 1985 e ocupa uma área de 14 quilômetros quadrados. O aeroporto recebe passageiros dos cinco continen-tes. De acordo com a Infraero, circulam diaria-mente pelo equipamento cerca de 100 mil pesso-as, seja para embarcar e desembarcar, seja para atividade de lazer, de compras ou mesmo para usar os serviços disponíveis 24 horas.

Para saber mais!1. Diagnostico sobre o turismo em Guarulhos. PMG,2. Zoneamento Ecológico Econômico. Secretaria de Estado do Meio Ambiente, 2005.3. Estradas Reais. Márcio Santos. Estrada Real, 2001.4. Destino Guarulhos... A História do Trem da Cantareira. Silvio Ribeiro. GERMAPE, 2006.

Pilão de triturar quartzo e fragmentos de cadinho de fun-dição de ouro encontrados no loteamento Maria Clara e

no leito do Rio Baquirivu Guaçu, respectivamente.

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10símBolos ofiCiais

Todos os entes da República Federativa doBrasiltêmosseusrespectivossímbolosoficiais:a Bandeira, o Brasão de Armas e o Hino no caso dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, e também o Selo Nacional, no caso da União. O Selo Nacional reproduz a esfera existente no cen-tro da Bandeira do Brasil e é de uso obrigatório em qualqueratodogovernoeemdiplomasecertifica-dos escolares.

Já o Brasão de Armas da União deve estar presente em todos os edifícios sede dos três po-deres (Executivo, Legislativo e Judiciário), bem como nos quartéis militares e policiais de todo o País. Os papéis oficiais federais também devemser timbrados com o Brasão de Armas Nacional.

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OS SÍMBOLOS DE GUARULHOSO Brasão de Armas foi o primeiro símbolo

oficialinstituídonoMunicípio,em1932.ABan-deiraeoHinoforamoficializados39anosdepois(1971), embora o Hino a Guarulhos tenha surgi-do em 1960, por meio de um concurso realizado como parte das comemorações do IV Centenário de fundação da cidade.

No dia 1o de fevereiro de 1932, pouco mais de cinco meses antes da “Revolução” Constitu-cionalista, foi instituído o Ato no 87, pelo prefeito nomeado pela Ditadura Vargas, o major reforma-do da Polícia Militar Ariovaldo Panadés (abril de 1931-agosto de 1932), o Brasão de Armas, primeiro dostrêssímbolosoficiaisdoMunicípio.Elaboradopelo engenheiro Affonso Taunay, o Brasão se tor-naria de uso obrigatório, a partir de setembro, em todas as repartições e impressos da municipalidade.

PRIMEIRO BRASÃOSegundo a descrição

oficial do primeiro brasão,acima do escudo português está a coroa privativa das

municipalidades. A lua crescente representa Nossa Senhora da Conceição e a cruz simboliza a presença da instituição católica no Município. As três cabeças homenageiam os indígenas, os bandeirantes e os colonizadores portugueses e as aves ao lado do escudo são anhumas, que outrora emprestaram seu nome ao Rio Tietê (Anhembi, palavra de origem indígena que significa “dasAnhumas”). Abaixo do escudo, feixes de cana--de-açúcar e ramos de trigo fazem referência às duas mais antigas culturas agrícolas brasileiras. Na fita, a frase latina vere pavlislarvm sangvis mevs (meu sangue é verdadeiramente paulista).

SEGUNDO BRASÃONo dia 7 de dezembro de 1971, a Câmara

Municipal decretou e o interventor federal nome-ado pelo Regime Militar (junho de 1970-janeiro de 1973), Jean Pierre Herman de Morais Barros,

TERCEIRO BRASÃO

No início dos anos 1990, o prefeito eleito Pas-choal Thomeu (1989-1992) nomeou uma comissão quefeznovasmodificaçõesnoBrasão.Essatercei-ra versão foi aprovada pela Câmara Municipal por meio da Lei no 3.761, de 24 de abril de 1991.

promulgou a Lei no 1.679. Essa lei regulamentou o Ato no 87 – que instituíra o Brasão guarulhen-se em 1932 –, instituiu a Bandeira Municipal e oficializou o Hino a Guarulhos, escolhido porconcurso durante as comemorações do IV Cen-tenário da cidade em 1960. Com a promulgação da referida lei, foi criada uma segunda versão do Brasão: a representação bandeirante foi suprimi-daeasfigurasindígenasficarammuitodiferentesdos indígenas brasileiros.

BRASÃO ATUALNo dia 25 de março de 2008, a Lei muni-

cipal no 6.357 instituiu a quarta e, até agora, últi-ma versão do Brasão de Armas guarulhense. Ao

VERSÕES DO BRASÃO DE ARMAS GUARULHENSE

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BANDEIRA

Instituída pela Lei no 1.679, de 7 de dezem-bro de 1971, e calcada no trabalho do heraldista Arcinoé Antônio Peixoto Faria, a Bandeira Mu-nicipal simboliza o espírito cristão de Guarulhos (esquartejamento em cruz), a administração mu-nicipal (Brasão) e a sede do governo (losango). As faixas determinam o Poder Municipal a expan-dir-se por todos os quadrantes do território, e os quartéis representam as suas propriedades rurais.

O azul simboliza a justiça, a nobreza e a per-severança. O selo, a lealdade, a recreação e a for-mosura. O branco representa paz, trabalho, ami-zade, prosperidade e pureza. O amor, a dedicação, a audácia, o desprendimento, o valor, a intrepidez, a coragem e a valentia são simbolizados pelo ver-melho (Fonte: www.guarulhos.gov.sp.br).

inserirumafigurafemininaeoutradeumnegronumdossímbolosoficiaisdoMunicípio,oPoderPúblico da cidade reconheceu a contribuição das mulheres e dos povos africanos e seus descen-dentes para a formação da cidade.

A letra do Hino a Guarulhos foi escrita pela Profª Nicolina Bispo, com música de Vicen-te Aricó Júnior e orquestração de Wenceslau Na-sari Campos. O Hino foi lançado em 1960, mas sófoiinstituídocomosímbolooficialdoMunicí-pio em 1971.

HINO A GUARULHOS

Sob o céu desta pátria querida mais cem anos de luta e labor

cingem hoje o teu nome guarulhos, que se ergueu por seu próprio valor.

Chaminés, como lanças erguidas, nos apontam o caminho a seguir

trabalhando, vencendo empecilhos, desfraldando o pendão do porvir.

Tuas praças são livros abertos, onde lemos futuro e glória.

crispiniano e bueno fulguram como vultos eternos na história.

Que teu nome em mais um centenário e na língua tupi proclamado,

seja um hino de paz, de esperança, por teu povo feliz entoado.

Pequenina nasceste, joão álvares, jesuíta, benzeu-te com fé

tu és hoje cidade progresso, uma terra que vence de pé.

Eia, pois, guarulhenses, avante, com bravura na luta febril,

por são paulo e por tudo o que é nosso, e, acima de tudo o brasil!

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Tanque Grande. A região é caracteriza-da pela existência do manancial do Rio Tanque Grande, simbolizando a conservação do patrimô-nio ambiental e o abastecimento de água.

Centro. IdentificadapelaIgrejaNossaSenho-ra da Conceição, pelo Centro de Educação Adamas-tor e pelo Viaduto Cidade de Guarulhos, a bandeira representa a religiosidade, a cultura e o progresso.

Bonsucesso. O Santuário de Nossa Senhora de Bonsucesso é a principal marca dessa região, pela sua tradição histórica, cultural e religiosa.

São João. Os traços que identificamessaUPR são a Estrada Guarulhos-Nazaré, o Conjun-to Haroldo Veloso e as montanhas, remetem à tradição regional e à preservação arquitetônica.

Capelinha. A bateia, associada à minera-ção de ouro e a Capela Nossa Senhora de Bom Jesus representam a tradição histórica, a religio-sidade e o patrimônio ambiental.

Cada vila, bairro e região de Guarulhos guarda suas características culturais, sociais, po-líticas, ambientais e econômicas diferenciadas.

O Centro é diferente do Pimentas, que é di-ferente do Cabuçu, que é diferente de Cumbica e, assim, sucessivamente.

Na busca e afirmação da identidade decada região de Guarulhos, no dia 11 de agosto de 2008, o Decreto Municipal no 25.694 instituiu asbandeirasqueidentificamcadaumadasUni-dades de Planejamento Regional de Guarulhos. Todas elas são apresentadas a seguir:

BANDEIRAS DAS REGIÕESADMINISTRATIVAS DE GUARULHOS

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Vila Galvão. Por meio da primeira estação ferroviária (Praça Santos Dumont) e do Lago dos Patos, essa bandeira representa o progresso e o lazer.

Taboão. A Praça 8 de Dezembro, as mon-tanhas da Serra da Cantareira ao Fundo, as cons-truções, as taboas e o Aeroporto Internacional representam a tradição e o progresso da região.

Cumbica. O layout da bandeira mostra que essaregiãotambéméidentificadapeloPoloIn-dustrial e pelo transporte aéreo.

Pimentas. A bandeira ressalta a presença dos serviços públicos, a educação, a cultura e o progresso, com a existência, nesta UPR, do Hos-pital Municipal Pimentas-Bonsucesso, da Uni-fesp e do Teatro Adamastor Pimentas

Cabuçu. A araucária, espécie nativa dessa unidade, e a represa do Cabuçu representam, res-pectivamente, o patrimônio ambiental e o abaste-cimento de água.

Jaguari. A suçuarana (espécie de onça) e as montanhas são exemplares do patrimônio am-biental(faunaeflora)dessaregião.

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REVELANDO A HISTÓRIA DO SÃO JOÃO E REGIÃO - NOSSA CIDADE, NOSSOS BAIRROS!GALERIA DE PREFEITOS INDICADOS E ELEITOS POR VOTO DIRETO

Capitão GabrielJosé Antônio1908 a 1915

Felício Antônio Alves1915 a 1916

Zeferino Pires de Freitas

1917 a 1919

José Maurício de Oliveira Sobrinho

1919 a 19301940 a 1945

João Eduardoda Silva

1930

Delezino de Almeida Franco

1930 a 1931

Dr. Alberto Cardoso de Melo

1931

Major AriovaldoPanadés

1931 a 1933

Dr. Alfredo Ferreira Paulino Filho

1932

Carlos Panadés1933

Guilhermino Rodrigues de Lima

1933 a 1938

Gentil Bicudo1936, 1938 e 1945

José Saraceni1936

Major José Moreira Matos

1938 a 1940

Dr. Heitor Maurício de Oliveira1945 a 1947

Vasco Elídio Egidio Brancaleoni

1945

Dulce InsueloMacedo

1947

João MendonçaFalcão1947

Dr. Olivier Ramos Nogueira

1947 a 1948

Fioravante Iervolino1948 a 19521957 a 1961

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Antônio Prátici1952 a 1953

Rinaldo Poli1953 a 1957

Dr. Mário Antonelli1961 a 1966

Francisco Antunes Filho1962

Waldomiro Pompêo1966 a 19701973 a 1977

Alfredo Antônio Nader1970

Jean Pierre Hermann de Morais Barros

1970 a 1973

Prof. Néfi Tales1977 a 19821997 a 1998

Dr. Rafael Rodrigues Filho

1982 a 1983

Dr. Oswaldo de Carlos

1983 a 1988

Paschoal Thomeu1988 a 1992

Vicentino Papotto1993 a 1996

Jovino Cândidoda Silva

1998 a 2000

Elói Pietá2001 a 20042005 a 2008

Sebastião Almeida2009 a 2012

Obs.: Não constam nesta galeria as fotos do intendentes (cargo correspondente ao de prefeito) – Capitão Joaquim Francisco de Paula Rebello; Antônio José Siqueira Bueno; Junta de Intendentes (Vicente Ferreira de Siqueira Bueno, Felício Marcondes Munhoz, Antônio Dias Tavares e Luiz Dini); Jesuíno José de Souza; Lúcio Francisco Pereira Paiva; Lúcio Francis-co Pereira; João Francisco da Silva Portilho; Dr. Leonardo Valardi; Capitão João Teófilo de Assis Ferreira. Fonte: Noronha, 1960, p. 65, 66 e 67.

Ata de instalação da Vila de Nossa Senhora da Conceição dos Guarulhos (Município):

“Aos vinte e quatro dias do mês de janeiro de 1881, nesta Vila de Nossa Senhora da Conceição dos Guarulhos, co-marca da imperial cidade de São Paulo, na casa destinada para sessões da Câmara Municipal da mesma, ao meio-dia, comparecerão os Srs. Presidente e Vereadores da Câmara Municipal da Capital, D. João Mendes de Almeida Junior, Américo Brasiliense, Almada Melho, Antônio Francisco Aguiar Castro, Augusto de Souza Queiróz, TTE Cel. Antônio José Fernandes Braga, para a instalação da Câmara Municipal da Vila de Nossa Senhora da Conceição dos Guarulhos, e dar juramento e posse aos vereadores eleitos (...)”

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Durante o período anterior à emancipação de Guarulhos (24 de março de 1880), seus cida-dãos exerciam os direitos políticos junto à Câmara de Vereadores da Vila de São Paulo de Piratininga. E quem tinha acesso a tais direitos eram somente os chamados “homens bons da terra” – pessoas do sexo masculino, de pele branca, proprietárias de terras e de escravos, católicas e detentoras de altopoderfinanceiro.Índios,mulheres,escravose menores de 25 anos não tinham acesso a esses direitos.Aseguir,apresentamosumbreveperfilde alguns “homens bons da terra” guarulhense.

A IMPORTÂNCIA DE GUARULHOS NO CENÁRIO POLÍTICO PAULISTAE OS “HOMENS BONS DA TERRA”

JOÃO CRISPINIANO SOARES(1809-1876)

Nascido em Guarulhos, era fi-lho bastardo do major José Soares de Camargo e de d. Ignez Joaquina de Oliveira. Foi eleito vereador e presidente da Câ-mara de São Paulo em 1845, acumu-lando a função de inspetor interino

da Fazenda. Foi também conselheiro do Império e por diversas vezes assumiu o cargo de governa-dor interino de várias províncias paulistas.

Trata-se do único caso de um guarulhense vereador de São Paulo, antes da emancipação da Freguesia de Nossa Senhora da Conceição dos Guarulhos, que até então não havia sido elevada à condição de Vila.

Após a emancipação, serão os equivalen-tes aos “homens bons” que continuarão a exer-cerinfluêncianavidapolíticadeGuarulhosedeSão Paulo.

O poderio econômico dos escravocratas, donos das fazendas Bananal e Tapera Grande, era reconhecido no cenário político paulista. Dois grandes fazendeiros da região São João se destacaram nesse contexto: José Alves de Cer-queira Cesar, do Partido Republicano Paulista (PRP); e João Álvares de Siqueira Bueno, do Partido Liberal (PL).

UM GOVERNADOR E UM DEPUTADO DA REGIÃO SÃO JOÃO NO

SÉCULO XIX

João Crispiniano (homenageado em São Paulo com nome de rua

no centro histórico).

Faculdade de Direito – Largo São Francisco, 1870.

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JOSÉ ALVES DE CERQUEIRA CESAR (1835-1911)

Foi o segundo guarulhense a ocu-par o cargo de gover-nador de São Paulo (o primeiro foi João Crispiniano Soares). Nascido na Fazen-da Tapera Grande, Cerqueira Cesar era filhodeBentoAlvesde Siqueira Bueno e de d. Maria Cândida Sagalerne Cerquei-ra Leme. Formou-se

advogado na Faculdade do Largo São Francisco, iniciando sua carreira política em 1876 (quatro anos antes, portanto, da emancipação guarulhen-se), ao filiar-se ao PRP. Em 1890, foi indicadovice-presidente do Governo do Estado, na chapa em que Américo Brasiliense de Almeida Mello foi inscrito e eleito presidente do Estado de São Paulo (atual cargo de governador). Depois de conturbada situação política, Américo Brasiliense acabou por renunciar ao cargo, assumindo em seu lugar, no dia 15 de dezembro de 1891, José Alves de Cerqueira César, que por sua vez transmitiu o cargo, em 28 de agosto de 1892, ao sucessor Ber-nardino de Campos.

JOÃO ÁLVARES DE SIQUEIRA BUENO (1834-1912)

Filiado ao Partido Libe-ral, foi deputado estadual em duas legislaturas (1880-1881 e 1884-1885).ErafilhodeBoni-fácio de Siqueira Bueno e de d. Ana Maria de Castro, pro-prietários da Fazenda Bananal, de quem herdou, em 1879, a Fazenda Cumbica. Posterior-mente, adquiriu e anexou áre-as de nome Taperas do Campo Largo, Terras de Maria Joa-quina e outras compradas da Fazenda Nacional. (Noronha, 1960, p. 78, 81).

Cerqueira César (homenagea-do em São Paulo com o nome do bairro onde está situada a

Av. Paulista).

João Álvares de Siqueira Bueno.

Casa (já demolida) onde nasceu João Alves de Cerqueira César, no atual bairro da Tapera Grande. Foto de 1914.

Fonte: Acervo familiar (Sylvio Rinaldi Barbosa).

Rodovia Juvenal Ponciano de Camargo (SP-036), no bairro da Tapera Grande.

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DESAFIOSOs principais desafios da região São João

são relativos à preservação ambiental e do patrimô-nio cultural e arqueológico, ameaçada pela expan-são urbana; o controle das enchentes do Rio Ba-quirivu Guaçu, especialmente no Haroldo Veloso e Malvinas e os impactos do Rodoanel, proposta de rodovia que atravessará toda a região São João. Além disso, muitas pessoas manifestam preocupa-ção, especialmente, com a atividade das pedreiras, dos portos de extração de areia e pesqueiros.

MEIO AMBIENTE E PATRIMÔ-

NIO ARQUEOLÓGICO: Um dos grandes desafios da região São João é a preser-vação de seu patrimônio natural. Para tanto, é necessário, além de assegurar que essas áreas se mantenham legal-mente protegidas, que haja também um disciplinamento do uso e ocupação do solo, de modo que as áreas urbanas não avancem nas matas existentes na região, bem como sobre o patrimônio arqueológi-co composto por estruturas de garimpos de ouro que finalizou por volta de 1830. No entanto, a expansão urbana é um fenômeno que se impõe em escala mu-nicipal e metropolitana, cujo controle de-manda a organização da sociedade para além dos limites da região São João. As principais iniciativas para a preservação ambiental e arqueológica da região é a implantação da Área de Preservação Am-biental – APA Cabuçu – Tanque Grande e o Geoparque Ciclo de Ouro Guarulhos.

Urbanização x Preservação Ambiental.

Pedreira Pau-Pedra.

Porto de extração de areia Capelinha.

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GEOPARQUE CICLO DO OURO GUARULHOS, SÃO PAULO: Criado por meio do decreto mu-nicipal 28300/2010, apoiado por segmentos da sociedade civil organizada, bem como instituições de pesquisa e ensino, públicas e particulares. O Geoparque visa implantar mecanismos que possam, além de preservar a região, incentivar sua visitação e possibilitar a geração de renda para as comunidades locais. Um dos grandes desafios, é o reconhecimento pela Unesco, dos atributos naturais, culturais e históricos, como patrimônio da humanidade. Para sua implantação e este reconhecimento, foi criado um grupo de trabalho, mediante a portaria no 1143, de 13 de maio de 2011.

ÁREA DE PROTEÇÃO AMBIENTAL – APA CABUÇU – TANQUE GRANDE: A criação da APA garante a manutenção dos serviços ambientais da biosfera, mantendo a integridade da biodiversidade local, preservando os mananciais, cursos e corpos d’água, o patrimônio histórico e cultural, assim como a paisagem formada por morros e montanhas.

ENCHENTES: Inundações ou enchentes são fenômenos naturais de extravasamento das águas de um curso d’água para as áreas marginais quando de chuvas intensas. Esse fenômeno passou a ser um problema na medida que os espaços naturais das águas, várzeas, são ocupadas com estruturas urbanas, como moradias, indústrias, sistema viários, etc.

Para amenizar o impacto das enchentes sobre a população, a Prefeitura de Guarulhos elaborou seu Plano Diretor de Drenagem, cujas principais medidas são preventivas – para impedir o agrava-mento das inundações existentes e de recuperação ambiental dos rios e córregos de nossa cidade. No entanto, estas medidas previstas no plano só serão possível com a participação dos cidadãos da região São João e de Guarulhos como um todo e altos investimentos financeiros.

RODOANEL E OS IMPACTOS DO TRECHO NORTE SOBRE A REGIÃO SÃO JOÃO: Dos quatro trechos do Rodoanel Mário Covas (Leste, Oeste, Norte e Sul), técnicos renomados avaliam que o trecho Norte, avaliado em seis bilhões de reais, que corta toda a região São João é o mais impactante. Cerca de seis mil pessoas serão desabrigadas, mais de 100 mil árvores serão cortadas, dezenas de nascentes de água desaparecerão. Ao longo do traçado encontra-se 10 espécies de animais em extinção e 78 ameaça-das. O modelo corte-aterro da obra, com certeza agravará o impacto ambiental. A população organizada pelo comitê contra o traçado do Rodoanel luta para que o rodoanel seja construído por túnel e viaduto.

Diante dos impactos previstos, no meio ambiente e na vida da população, dia 19 de fevereiro de 2011, mais de 1.500 pessoas, durante audiência pública realizada pela DERSA, disseram não ao traçado do Rodoanel e exigiram uma linha do metrô ligando Guarulhos a São Paulo.

Moradores dos bairros Haroldo Veloso e Cidade Seródio reunidos pelo comitê contra o traçado do Rodoanel,em 14 de junho de 2011.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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QUAL O LUGAR DOS NOSSOS LUGARES NA HISTÓRIA?E QUAIS OS NOSSOS OLHARES PARA ESSES OLHARES?

Os locais onde habita e estuda a maior parte do povo brasileiro são retratados pelos moder-nos meios de comunicação social como inseguros e feios. As imagens tidas como belas mostram o círculo de convivência dos chamados incluídos no alto mercado de consumo.

Nos grandes centros urbanos, as notícias sobre os bairros periféricos dão maior ênfase ao lado negativo do dia a dia das pessoas: mortes, enchentes, escorregamentos, assaltos, brigas, etc, e muito raramente são abordados aspectos de relevância histórico-ambiental.

Ressaltamos que são informações que contribuem para a construção da baixa estima dos moradores e ao mesmo tempo funciona como uma contra propaganda à política de resgate e pre-servação do patrimônio natural e social dos locais de moradia da maioria da população.

A cidade de Guarulhos, “naturalmente”, está inserida nesse contexto. O problema se agrava na medida em que o sistema educacional não cria mecanismos que permitam o desenvolvimento do conhecimento histórico, geográfico, geológico, biológico, cultural e religioso, por exemplo, de cada localidade.

Encontramos na história tradicional um exemplo nada recomendável. De modo geral, a lógi-ca do ensino de história é a de estudar os grandes fatos dos países, dos continentes e do mundo, desvinculados da história das localidades. A geografia e a história dos lugares onde as pessoas habitam – municípios, vilas, bairros, povoados, ruas, fazendas, serras, bacias hidrográficas etc. – não fazem parte do ensino escolar. É como se a maioria dos lugares onde moramos não tivesse sido palco de acontecimentos históricos. Isso não é uma brutal contradição do sistema de ensino atualmente?... Por que isso acontece?

PROJETO SABERES LOCAISAo longo do ano de 2009, educadores da Rede Municipal de Ensino de Guarulhos elaboraram

a Proposta Curricular Quadro de Saberes Necessários (QSN), destinada a orientar as suas ativida-des em sala de aula, destacando o eixo Natureza e Sociedade.

Para dar resposta prática ao QSN e preocupada com a importância do registro histórico dos bairros de Guarulhos, sem perder de vista o contexto regional, nacional e mesmo internacional, a Secretaria de Educação de Guarulhos, em parceria com as Diretorias Norte e Sul de Ensino, com pessoas, grupos e organizações da sociedade civil decidiram trazer para si a responsabilidade de publicar oito livros sobre as localidades habitadas pelos guarulhenses.

O Projeto Saberes Locais surgiu numa discussão, realizada em 2009, no Colégio Particular Paulo Freire, localizado na Cidade Seródio, encampado pela Secretaria Municipal de Educação de Guarulhos. O Projeto Saberes Locais foi inaugurado com a publicação do livro: Revelando a história do Bonsucesso e Região, lançado no dia 21 de agosto de 2010.

O Projeto Saberes Locais tem continuidade com o Revelando a História do São João e Região, procurando contemplar, sob forma de livro, material de consulta para as futuras gerações, a memó-ria, a vivência e as expectativas de milhares de moradores, protagonistas da história de Guarulhos.

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Revelando a Históriado São João e Região

Nossa Cidade, Nossos Bairros!