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» 38 — julho 2012 P ara ter sucesso na implantação de um programa de controle de mastite, uma das primeiras etapas é a avaliação da situa- ção atual do rebanho quanto a ocorrência de mastite clínica e subclínica. Estas infor- mações são necessárias para avaliar a gra- vidade da doença no rebanho e estimar os prejuízos causados. A segunda etapa, a de planejamento, envolve a identificação das causas, definição de metas a serem atingi- das, assim como os planos de ação e pro- tocolos operacionais (manejo de ordenha, secagem, tratamentos). Finalmente, a etapa Conhecendo as causas A identificação do agente causador da mastite é uma informação fundamental para as recomendações de tratamento e/ou descarte e, principalmente, para a adoção e monitoramento de medidas de controle, tanto em nível de rebanhos quanto em relação a medidas específicas para uma determinada vaca. tanto em nível de rebanhos quanto em re- lação a medidas específicas para uma de- terminada vaca. A cultura do leite deve ser realizada em laboratório especializado, utili- zando metodologia reconhecida internacio- nalmente, para que os resultados possam ser comparados e interpretados. Da mes- ma forma, deve-se ter especial atenção aos procedimentos de coleta das amostras, os quais devem ser realizados de modo a evitar a contaminação e garantir a confiabilidade dos resultados. A mastite é uma inflamação da glândula de implantação das medidas de controle re- quer o treinamento das pessoas envolvidas e o monitoramento dos índices de mastite para avaliar se as medidas de controle estão sendo adequadamente implantadas. Em relação a identificação das causas, a cul- tura microbiológica do leite é considerada o método padrão para diagnóstico de mas- tite. A identificação do agente causador da mastite é uma informação fundamental para as recomendações de tratamento e/ou descarte e, principalmente, para a adoção e monitoramento de medidas de controle, MASTITE BOVINA QUALIDADE DO LEITE

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Para ter sucesso na implantação de um programa de controle de mastite, uma

das primeiras etapas é a avaliação da situa-ção atual do rebanho quanto a ocorrência de mastite clínica e subclínica. Estas infor-mações são necessárias para avaliar a gra-vidade da doença no rebanho e estimar os prejuízos causados. A segunda etapa, a de planejamento, envolve a identificação das causas, definição de metas a serem atingi-das, assim como os planos de ação e pro-tocolos operacionais (manejo de ordenha, secagem, tratamentos). Finalmente, a etapa

Conhecendo as causasA identificação do agente causador da mastite é uma informação fundamental para as

recomendações de tratamento e/ou descarte e, principalmente, para a adoção e monitoramento de medidas de controle, tanto em nível de rebanhos quanto em relação a medidas específicas

para uma determinada vaca.

tanto em nível de rebanhos quanto em re-lação a medidas específicas para uma de-terminada vaca. A cultura do leite deve ser realizada em laboratório especializado, utili-zando metodologia reconhecida internacio-nalmente, para que os resultados possam ser comparados e interpretados. Da mes-ma forma, deve-se ter especial atenção aos procedimentos de coleta das amostras, os quais devem ser realizados de modo a evitar a contaminação e garantir a confiabilidade dos resultados. A mastite é uma inflamação da glândula

de implantação das medidas de controle re-quer o treinamento das pessoas envolvidas e o monitoramento dos índices de mastite para avaliar se as medidas de controle estão sendo adequadamente implantadas.Em relação a identificação das causas, a cul-tura microbiológica do leite é considerada o método padrão para diagnóstico de mas-tite. A identificação do agente causador da mastite é uma informação fundamental para as recomendações de tratamento e/ou descarte e, principalmente, para a adoção e monitoramento de medidas de controle,

MASTITE BOVINA

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mamária que se inicia quanto um mi-crorganismo consegue ultrapassar a barreira do canal do teto e invadir a glândula mamária. Após a invasão, as células de defesa do sistema imune iniciam uma resposta na tentativa de eliminar o patógeno invasor. Estas cé-lulas aumentam rapidamente de con-centração dentro de poucas horas após o início da infecção, em resposta a pre-sença do microrganismo. Atualmente, o limite de contagem de células somá-ticas (CCS) indicativo de ocorrência de mastite em amostras compostas de leite é de >200.000 células/ml. Desta forma, o uso da CCS como diagnóstico indireto da mastite subclínica é fácil e rápido, mas não permite obter informa-ções sobre as causas da mastite.

Os causadoresConsiderando a origem e as formas de transmissão, os microrganismos causa-dores da mastite podem ser agrupados em agentes ambientais ou contagiosos. De maneira geral, a fonte principal dos agentes contagiosos é a glândula ma-mária de uma vaca infectada, enquanto que os agentes ambientais encontram--se principalmente no ambiente que a vaca vive. Os patógenos causadores de mastite contagiosa podem ainda ser divididos em dois grandes gru-pos: principais e secundários. Dentre os patógenos contagiosos principais destacam-se Staphylococcus aureus, Streptococcus agalactiae e Mycoplas-ma bovis, e dentre os secundários, Corynebacterium bovis. Por outro lado, existem três grupos principais de bacté-rias causadoras de mastite ambiental: coliformes (Escherichia coli, Klebsiella spp., Enterobacter aerogenes), estrep-tococos ambientais (S. uberis, S. bovis, S. dysgalactiae), e enterococos (Entero-coccus faecium, E. faecalis).

Dados dos EUARecentemente, foi realizado um levan-tamento nos 17 principais estados pro-dutores de leite dos EUA sobre as prin-cipais causas de mastite contagiosa. Este estudo foi conduzido pelo Sistema de Monitoramento de Saúde Animal do USDA (United States Department of Agriculture). O estudo foi desenvolvi-do para ter representatividade de cerca de 80% das vacas em lactação e 79,5% dos rebanhos dos estados incluídos no estudo. Os rebanhos monitorados fo-ram divididos em duas regiões (Oeste

e Leste) e por tamanho, pequeno (até 100 vacas), médio (100-499 vacas) e grande (>500 vacas). O levantamen-to buscou informações sobre manejo e programas de saúde animal, entre as quais foi realizada a amostragem do tanque para cultura e isolamento dos patógenos contagiosos mais preva-lentes: Streptococcus agalactiae, Sta-phylococcus aureus e Mycoplasma.Os resultados apontaram que S. aureus foi isolado em 43% dos rebanhos ava-liados, sendo que esta prevalência foi a maior entre os três principais agentes contagiosos pesquisados. Destaca-se ainda que a prevalência deste agente foi similar entres os estados avaliados e em relação ao tamanho dos rebanhos, o que indica que a sua distribuição não é localizada e deve ser encarada como um problema nacional. A pro-babilidade de isolamento de S. aureus foi maior em rebanhos com histórico de ocorrência de casos clínicos sem resposta ao tratamento e vacas com alta CCS. Em relação ao S. agalactiae, o isolamento ocorreu em cerca de 3% dos rebanhos estudados, e da mesma forma que para S. aureus, não foi encon-trada diferença entre as regiões e entre o tamanho dos rebanhos. As análises dos questionários e dos resultados das culturas apontaram que rebanhos que utilizam pré-dipping apresentaram menor risco de isolamento de S. aga-lactiae, indicando que este agente é me-nos prevalente em rebanhos com uma boa rotina de ordenha. O isolamento de Mycoplasma ocorreu em 3,2% dos rebanhos, contudo o agente foi isolado em 14,4% dos rebanhos grandes, 4,2% nos médios e em 1,8% dos pequenos. Estes últimos resultados indicam que as medidas de manejo utilizadas nos grandes rebanhos americanos aumen-tam a probabilidade de disseminação

MeSMo conSiderAndo AS diferenÇAS de MAneJo entre rebAnHoS e entre regiÕeS leiteirAS,oS leVAntAMentoS Sobre A preVAlÊnciA de AgenteS cAuSAdoreS ApontAMpArA A grAnde iMportânciA do S. AureuS coMo Agente cAuSAdor de MAStite

Faça as contas e

comprove.

Trate as mastites com

Cobactan, e descarte

o prejuízo.

Na ponta do lápis, a melhor escolha para tratar a mastite.

Cobactan VL e Cobactan 2,5% para MASTITES

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de Mycoplasma, quando comparado com rebanhos pequenos e médios.

Mastite em rebanhos brasileirosLevantamentos de prevalência de patóge-nos causadores de mastite em rebanhos brasileiros são escassos e, quase sempre, são restritos a uma pequena população amostral. Recentemente, foram publica-dos resultados de um estudo que avaliou a cultura microbiológica em rebanhos da raça Gir, localizados nos Estados de São Paulo e Minas Gerais, durante dois anos. Foram coletadas amostras individuais de todas as vacas em lactação, durante 4 dife-rentes épocas de amostragem, totalizan-do 2.836 amostras. Deste total analisado, 50% dos quartos apresentaram resulta-dos positivos, indicando que em rebanhos Gir com ordenha manual ou mecânica a prevalência de mastite subclínica é alta e com predominância de agentes conta-giosos. Dentre as amostras com cultura positiva, S. aureus representou cerca de 31% do total de isolamentos, o que indi-ca que este é um dos principais agentes causadores de mastite, assim como em outros países, como EUA. Deve-se destacar que mesmo conside-rando as diferenças de manejo entre re-banhos e entre regiões leiteiras, os levan-tamentos sobre a prevalência de agentes causadores de mastite apontam para a

Marcos Veiga dos SantosProfessor Associado

Faculdade de Medicina Veterinária e

Zootecnia da USPwww.marcosveiga.net

grande importância do S. aureus como agente causador de mastite. Este é um dos agentes com maiores dificuldades de controle em razão de dificuldade de iden-tificar as vacas infectadas e das baixas ta-xas de cura dos tratamentos. Para sucesso no controle dos agentes contagiosos, é de fundamental importância a identificação das causas da mastite subclínica e dos ca-sos de mastite clínica. Resultados de outros levantamentos fei-tos em rebanhos especializados dos es-tados de São Paulo e Paraná indicam que quando medidas básicas de controle de mastite contagiosa, como o uso de pós--dipping, o tratamento de vaca seca e o descarte de vacas com mastite crônica são implantadas, ocorre tendência de redução da importância relativa dos patógenos contagiosos e aumento da ocorrência de mastite ambiental. Desta forma, é funda-mental que cada produtor realize men-salmente a avaliação da prevalência de mastite subclínica (por meio da contagem eletrônica de células somáticas ou pelo uso do CMT) e a cultura das vacas iden-tificadas com infecções intramamárias subclínica e clínica. Informações sobre os agentes causadores permitem a implan-tação de medidas específicas de controle quanto ao tratamento, o descarte, a segre-gação, uso de vacinação e necessidade de melhorias no manejo de ordenha.

FIGURA 1. PrevalênCia de Patógenos Causadores de mastite bovina em rebanhos leiteiros dos estados de são Paulo, minas gerais e Paraná (2009-2011).

A fonte principAl doS AgenteS contAgioSoS

é A glândulA MAMáriA de uMA VAcA infectAdA,

enquAnto que oS AgenteS AMbientAiS encontrAM-

Se principAlMente no AMbiente que A

VAcA ViVe.