Quanto vale uma empresa Wolfgang Schoeps

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de uma performance operacional favorável, nosrelatórios anuais.

Na prática das operações de Bolsa, o pro-cesso de determinação do valor de uma empresaé apenas parcialmente ligado à sua lucratividade,pois, fatores de oferta e procura das ações, in-clusive de caráter especulativo, freqüentementemodificam totalmente o preço das ações que, doponto de vista econômico, deveria resultar deum processo de avaliação do valor atual do em-preendimento. A médio e longo prazo, porém, ospreços dessas ações deverão forçosamente ajus-tar-se ao valor efetivo do objeto do investimento,que é a empresa. As distorções, que por naturezasão efêmeras, tendem sempre para sua correção,pelo natural domínio da realidade econômica.

Para demonstrar a discrepância existente entreos diversos métodos de determinação do valor deuma empresa, convém analisar aqui, ainda quede modo sucinto, seus procedimentos e suas res-pectivas bases conceituais.

1. Métodos patrimoniais

Esses métodos tomam por base de valor da em-presa o respectivo valor de patrimônio líquido,constituído pelo capital mais as reservas. Comoa contrapartida do capital é representada por di-versas posições no ativo, especialmente o imobi-lizado e os estoques, é pela avaliação destes úl-timos que se chega, finalmente, à fixação do valordo patrimônio líquido para determinada empresa.Diferentes resultados poderão ser obtidos, pois osmétodos de avaliação do ativo imobilizado podemdivergir grandemente, inclusive em virtude de de-terminações legais, resultando em distorçõeS faceà realidade econômica.

Fundamentalmente, convém examinar, quantoa esse particular, cinco métodos patrimoniais:

1.1 VALOR HISTóRICO

O patrimônio líquido é determinado, neste caso,em função de valores do imobilizado.em baseshistóricas, isto é, valores registrados na data daaquisição dos bens, deduzindo-se a depreciaçãoefetuada anualmente. Face à inflação, esses va-lores estão desatualizados e não traduzem maisvalores reais, os quais deveriam ter nova expres-são monetária. Os exemplos mais conhecidos devalores históricos são os dos bens do Banco doBrasil e da Petrobrás, empresas para as quaisnão é permitida a reavaliação anual do ativo, anão ser por ato específico do Governo, e sempreem faixas muito aquém da taxa dê inflação.

1.2 VALOR REAVALIADONeste caso, o valor do ativo imobilizado, comconseqüente reflexo na estrutura de capital daempresa, está sujeito à correção monetária anual,de acordo com os índices publicados pelo Minis-tério do Planejamento. Observe-se que a correçãomonetária atinge também as depreciações efe-tuadas.

1.3 VALOR DE MERCADODetermina-se o valor de mercado dos bens daempresa, isto é, o possível preço a ser obtido navenda de seu imobilizado, como terrenos, edifica-ções, máquinas, equipamentos, e dos estoques demateriais e produtos acabados. O valor de mercadopode situar-se tanto acima como abaixo dos valo-res contabilizados, isto é, dos valores reavaliados,e reduzidos pela depreciação anual.

1. 4 VALOR DE REPOSIÇÃOO valor de reposição ou reprodução é representa-do pelo montante que seria hoje necessário parareproduzir todos os bens do ativo da empresa, taiscomo instalações e estoques. Esses valores diver-gem freqüentemente dos valores reavaliados, pois,os custos de reprodução podem ultrapassar demaneira considerável o montante obtido por cor-reção monetária. Note-se que esta última, por de-finição, está defasada sempre de um ano, signifi-cando redução a priori de 20% do valor atual.Ainda recentemente, o presidente de uma dasprincipais indústrias automobilísticas do país afir-mou que o valor de reposição de seu ativo fixo re-presenta o dobro do valor reavaliado e registradono balanço da empresa.

1.5 VALOR PATRIMONIAL ACRESCIDODO FUNDODE COWRCIO

O valor patrimonial líquido, obtido por um dosmétodos anteriores, pode ser acrescido de deter-minada quantia, correspondente a valores intan-gíveis, representados por direitos de concessão,patentes e marcas, ponto comercial, tradição eitens semelhantes, constituindo o "Fundo deComércio". lt a "mais-valia" decorrente da exis-tência do negóciocomogoing búsiness, isto é, comoempresa em pleno funcionamento e de posição fir-mada no mercado.

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2. Valor de Hquidação

Esse método preconiza a elaboração do chamado"balanço de liquidação", isto é, do balanço querepresentaria a situação resultante do eventualencerramento das atividades empresariais. Esta

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hipótese admite diversos pressupostos. A aliena-ção dos bens está evidentemente sujeita aos pre-ços de mercado, geralmente divergentes dos va-lores contábeis. Caso resulte da liquidação do ativoum valor em excesso, diz-se que existe um "ativooculto". É o caso típico da venda de terrenos,cujo valor de mercado ultrapassa o valor reava-liado. Outro exemplo pode ser representado pelavenda de ações, isto é, participações em outrasempresas, as quais constam do balanço por seuvalor de aquisição, mas cujo valor de mercadopoderá ser muito superior no momento da venda.Do lado do passivo, existem as exigibilidades que,por sua natureza, não constam do balanço. Re-presentam o "passivo oculto", e um exemplo típicoé o passivo trabalhista da empresa, isto é, o totaldas indenizações que a firma teria de pagar aosseus empregados, no caso do encerramento desuas atividades. Antes da instituição do Fundode Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), no fe-chamento da empresa, era freqüente a total absor-ção dos seus valores patrimoniais por essa respon-sabilidade trabalhista, o que tinha por conseqüên-cia o desestímulo aos investimentos industriais.Atualmente, essa responsabilidade tende a ficarcada vez mais reduzida, na medida em que osempregados optem pelo Fundo, havendo para aempresa apenas uma obrigação adicional de 10%,em relação às quantias depositadas na conta decada empregado.

8. Valor pela projeção de lucros passados

O valor da empresa, de acordo com este método,é determinado pela multiplicação do lucro anualpelo número de anos, ao fim dos quais, deseja-seo retorno total do investimento realizado. É umprocesso em boa parte empírico, mas bastante di-vulgado e utilizado, podendo ser representado pelaseguinte fórmula:

V=LXn70

onde V é o valor da empresa; L é o lucro líquidodo último ano ou o lucro médio anual de certonúmero de anos anteriores; n é o número de anosdurante os quais se deseja a amortização do in-vestimento, podendo variar, normalmente, entrecinco e 15, para inversões industriais.

O número de anos para o retorno do capitalempregado é conhecido tradicionalmente como operíodo de pay back, podendo ser representado pelaequação seguinte:

pay back = investimento/lucro anual

Revista de Admini8traçeJo de Empresas

O valor da empresa é representado aquí pelo In.vestimenta, dependendo, portanto, do lucro anuale do período durante o qual se deseja seu retorno.Esta metodologia introduz um conceito dos maisimportantes, isto é, que o valor da empresa é fun-ção exclusiva do seu lucro e não mais é determi-nada por seu valor patrimonial.

4. Valor das ações

Para uma sociedade anônima, cujas ações tenhamuma boa negociabilidade em Bolsa, é relativamen-te fácil calcular-se o valor total da empresa, mul-tiplicando o número total das ações que consti-tuem o seu capital realizado pelo preço da ação,baseado na cotação do dia. Esse produto entãoseria o valor de empresa no mercado acionário.Não se trata, obviamente, de seu valor real. Ascotações podem se encontrar em nível muito baixo,motivado por fatores conjunturais, por exemplo.De outro lado, não seria possível adquirir a em-presa pelo valor assim calculado, pois, à medidaque aumentasse a procura das ações, certamentesubiria também a sua cotação. Finalmente, parase obter o controle da empresa, é necessário ape-nas a aquisição de uma determinada porcentagemde seu capital social, dependendo da dístríbuíçãoexistente das ações da empresa. Entre nós, é ex-tremamente rara a obtenção do controle de umaempresa por compra aberta em Bolsa de Va-lores.

5. Valor atual de lucros futuros

Determina-se, por esse método, o valor da empresaem um dado. momento, unicamente em função deseus lucros futuros. É o processo mais utilizadono campo da engenharia econômica e amplamenteempregado como a técnica mais recente para aná-lise de investimentos. Em comparação com o pro-cesso exposto no item 3, o lucro passado é des-considerado, levando-se em conta somente o po-tencial futuro de lucratividade da empresa. Essaconceituação é típica, ainda, da análise de enge-nharia econômica, pois, lucros passados não podemser considerados como parâmetro certo para ava-liar a rentabilidade futura, bastando, para confir-má-lo, que ocorram variações na condução dos ne-gócios da empresa, o que é corriqueiro em qualquertipo de economia. Em apoio, pode-se afirmar, queuma boa lucratividade passada ou atual, não impli-ca necessariamente sua continuidade futura, espe-cialmente se considerarmos a acelerada evoluçãotecnológica e conseqüente obsolescência a que estásujeito o setor industrial. São conhecidas as cir-cunstâncias em que determinados projetos índus-

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tríaís tornaram-se economicamente gravosos, du-rante o próprio prazo de sua implantação, face amudanças tecnológicas de processo e mutações do'próprio mercado consumidor. Portanto, é válidoe mesmo recomendável o método que consideraa projeção futura dos lucros futuros de empreen-dimento, durante a vida útil dos investimentosefetuados oua efetuar.

Adotando-se os preceitos da matemática finan-ceira, os lucros futuros, projetados, são desconta-dos para seu "valor presente" ou atual, compu-tando-se o custo de oportunidade do capital soba forma de uma taxa de juros de i% ao ano. Nocaso dos lucros anuais serem iguais, calcula-se ovalor atual do empreendimento pelo desconto darespectiva série anual uniforme de lucros, com au-xílio das conhecidas tabelas de juros compostos.

A título de exemplo, o quadro 1 fornece fatoresque, multiplicados pelo lucro anual, resultam novalor presente ou atual da empresa, computando-se o custo do dinheiro a diversas taxas de i%ao ano.

Quadro 1 - Fatores multiplicadores do lucro anualpara determinação do "valor atual" da empresa

Período deamortização ou i=8% a.a, i= 12% a.a. i=20% a.a.de retorno doinvestimento

5 anos 3,993 3,605 2,991

10 anos 6,710 5,650 4,192

Assim, se um empreendimento, cuja vida útilé de 10 anos, promete um lucro liquido anual deum milhão de cruzeiros durante esse mesmo pe-ríodo, e se 13.0 fim do 10Q ano o seu valor residualfor considerado igual a zero, isto é, sua amortiza-ção faz-se integralmente, durante os menciona-dos 10 anos, então o seu valor presente ou atualserá de Cr$ 6.710 milhões, considerando-se sempreuma remuneração do capital à taxa de 8% a.a.Atente-se ainda para o fato de que, sendo todoo investimento original recuperado em 10 anos, ocusto da depreciação já foi deduzido.

Para a situação brasileira, essa metodologiaé conveniente, pois permite o cálculo de valores, eda rentabilidade, em termos reais, isto é, em ter-

mos de moeda estável. Assim, não há necessidadede se computar, a título de previsão, a taxaanual de inflação. Isso explica-se facilmente, pois o"valor atual", por definição, é dado pelo valor damoeda no momento em que o investimento é rea-lizado. O lucro anual também é calculado em fun-ção do valor da moeda no instante de sua inversão.Se atualizarmos o lucro anual futuro com umataxa média de inflação projetada, teremos de di-vidir esse mesmo lucro anual por essa mesmataxa, para o cálculo de seu valor presente. Emoutras palavras, esse método permite ignorar ainflação, pois toda a análise é feita em moedaconstante. Não haveria mesmo qualquer modifi-cação dos resultados, caso inflacionássemos oslucros em primeiro lugar e depois os desinflacio-nássemos novamente.

Para se obter um lucro anual líquido de ummilhão de cruzeiros, como foi exemplificado, seráobviamente necessário que a empresa acompanhe,com seus preços, a conjuntura inflacionária. Nahipótese otimista de ser possível realizar futurasreduções de custo, em virtude de economias deescala na produção, o valor real desse lucro seriamantido, ainda que os preços não acompanhem

. futuramente a taxa de inflação. O cálculo desselucro líquido. pressupõe que o custo da manuten-ção do capital de giro próprio tenha sido deduzidoantes do resultado obtido.

5.1 RELAÇÃO VALOR/LUCRO

Existe uma relação valor da empresa/lucro(V/L)para os investimentos a longo prazo, aná-loga à relação preço/Iucro (P/L), bastante co-nhecida na análise do valor das ações negociadasem Bolsa. A circunstância que diferencia essasduas relações consiste em que a relação V/L pres-supõe, para o seu cálculo, a existência do custodo capital à taxa de i% a.a. A relação P/L paraações apenas significa que seu preço é de x vezeso lucro anual, sem considerar o custo do investi-mento em x anos, durante os quais a soma doslucros anuais pagaria o preço da ação, e isso evi-dentemente no caso do lucro do último ano repe-tir-se durante os x anos futuros, o que é mera su-posição.

O quadro 2 a seguir fornece o número de anosque são necessários para amortizar um investi-mento, com a remuneração do capital empregadovariando entre 3 e 8% a.a., para relações V/Ligual a 5, 10 e 15, isto é, valores da empresa iguaisa 5, 10 e 15 vezes o seu respectivo lucro anual pre-visto (série anual uniforme de lucro).

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Quadro 2 - Número de anos necessários paraamortizar um investimento com a taxa dejuros de i % a.a., para diversas relações V/L.

I V/L = 5 V/L = 10 V/L = 15!L

3% a.a. 5,5 anos 12 anos 20 anos4% a.a. 5,8 13 245% a.a, 6 14,5 298% a.a. 6,6 21 (I)

Assim, por exemplo, desejando-se um retornode 8% a.a. serão necessários 21 anos para amor-tizar totalmente o investimento, ou seja, o valorde uma empresa que tenha custado 10 vezes oseu lucro anual futuro. Investimentos sujeitos aobsolescência rápida apresentam um V/L maisreduzido, exigindo elevados lucros anuais em re-lação ao investimento, a fim de justificar sua via-bilidade econômica.

6. Oonclusio

A rápida evolução conjuntural, quer do ponto devista mercadológico, quer em virtude das constan-tes transformações da tecnologia empregada naprodução, exige um estudo diferente do tradicio-nal, constituindo nova problemática da determi-nação do valor de uma empresa. Os métodos pa-trimoniais são úteis como referência inicial e paraa fixação de eventuais valores residuais. Evidente-mente continuam sendo de grande relevância paraa apresentação de garantias reais, junto às ins-tituições de crédito. Já, na conceituação atualizadado administrador de empresas, o valor da empresaé unicamente função de seu potencial futuro delucros. Em decorrência desse conceito, a empresa,sem adequadas perspectivas de rentabilidade, temseu valor grandemente depreciado. Por outro lado,as empresas, cujo potencial de lucro tende a seconcretizar num futuro previsível, têm seu valoraumentado, superando amplamente suas avaliaçõespatrimoniais. A determinação do valor da em-presa transformou-se, assim, em um processo di-nâmico, sob a responsabilidade e o controle deseus administradores. 1.\'\'1

A DISTRIBUIÇÃO DA RENDA NO BRASIL - DUAS CORREÇÕESRodolfo HoffmannJoão Carlos Duarte

Assinalamos, aqui, dois erros de nosso artigo publicado por essa revista no voI. 12, n9 2, de junhode 1972.

li>. Ao fazermos a lista das limitações a que estão sujeitos os índices de concentração da renda em1960mencionamos, no item e), p. 52, o 139 salário. Uma vez que o 139 salário foi estabelecido depois de1960, ele afeta as comparações entre os índices de 1960 e 1970, mas não afeta, evidentemente, a vali-dade dos índices calculados para 1960.

2Q, Nos cálculos que levaram aos resultados apresentados no Quadro 3 (p.53) as pessoas inativas sem

rendimento foram, incorretamente, consideradas nos totais referentes ao setor urbano e à economiacomo um todo. Considerando-se apenas as pessoas que recebem renda e as pessoas ativas sem rendi-mento, os resultados são:

Quadro 3 (corrigido). Pessoas ativas com renda nula como fração (S) da soma do número de pessoasque recebem renda com o número de pessoas ativas com renda nula, e valor da expressão

72 S + T (1 - S), para o Brasil, por regiões e setores, em 1960.

RegiãoBRASIL

Nordeste Leste Sul

S 0,144 0;182 0,125 0,135S + T (1 - S) 0,457 0,635 0,485 0,352

S 0,261 0,254 0,242 0,288S + T (1 - S) 0,484 0,492 0,484 0,441

S 0,014 0,028 0,009 0,013S + T (1 - S) 0,332 0,605 0,367 0,239

Setor

Total

Primário

Urbano

Note-se, entretanto, que essa correção não altera nenhuma das conclusões obtidas a partir destequadro.

Revista de Admit&i8trCl(l4o de EmpreaaB