Quatro cientistas em Portugal recebem grande bolsa europeia · guesas também lideram dois dos 312...

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Quatro cientistas em Portugal recebem grande bolsa europeia Os projectos portugueses seleccionados, que somam um financiamento de quase sete milhões de euros, vão das neurociências a um estudo sobre género e direitos sexuais, passando pela genética e biologia celular No sentido dos ponteiros do relógio: o grupo de Lars Jansen; Sofia Aboim; Edgar Gomes; e Rui Costa Investigação AnaGerschenfeld

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Quatro cientistas em Portugalrecebem grande bolsa europeiaOs projectos portugueses seleccionados, que somam um financiamento de quase sete milhões de euros,vão das neurociências a um estudo sobre género e direitos sexuais, passando pela genética e biologia celular

No sentido dos ponteirosdo relógio: o grupo deLars Jansen; Sofia Aboim;Edgar Gomes; e Rui Costa

InvestigaçãoAnaGerschenfeld

O Conselho Europeu de Investiga-ção (ERC) anunciou ontem os no-mes dos 312 cientistas que irão re-ceber financiamento, ao longo dos

próximos cinco anos, no âmbito daschamadas Subvenções de Consolida-

ção (Consolidator Grants) que este

organismo, cuja missão é fomentara investigação de excelência na Eu-

ropa, atribui a investigadores em fasemédia de carreira.

Entre os seleccionados, quatrotrabalham em Portugal: Rui Costa,do Programa de Neurodências daFundação Champalimaud em Lis-boa; Edgar Gomes, do Instituto deMedicina Molecular (IMM) da Uni-versidade de Lisboa; Lars Jansen,do Instituto Gulbenkian de Ciências(IGC) de Oeiras; e Sofia Aboim, doInstituto de Ciências Sociais (ICS) daUniversidade de Lisboa.

Rui Costa irá receber dois mi-lhões de euros para estudar comoo cérebro consegue criar conceitose acções complexas a partir de pe-quenos "fragmentos" de ideias emovimentos - um processo desig-nado por chunking. "Sabe-se que oscircuitos neuronais dos gânglios dabase [grupo de estruturas cerebrais

implicadas na aprendizagem, nosmovimentos voluntários, na cogni-ção, etc] são importantes para este

processo, mas sabe-se muito poucosobre como é que os elementos in-dividuais destes circuitos neuronaisestão ligados entre si", explica RuiCosta em comunicado da FundaçãoChampalimaud. Com o financiamen-

to, a sua equipa vai agora "dissecar,com uma precisão espacial e tem-poral sem precedentes, o papel dossubcircuitos dos gânglios da base no

processo de chunking", acrescenta.Já o projecto de Edgar Gomes,

que também obteve dois milhões de

euros, centra-se no estudo dos me-canismos que controlam o posicio-

namento do núcleo nas células. Nascélulas que migram dentro do corpo,por exemplo, o núcleo (que contémo ADN) desloca-se para a parte detrás da célula. "As células do sistemaimunitário migram para combater as

bactérias e o posicionamento do seunúcleo é importante para consegui-rem passar", explicou ao PÚBLICO o

cientista, que foi um dos primeiros aestudar esta questão quando estavaa fazer o pós-doutoramento nos Es-

tados Unidos.

Edgar Gomes interessa-se também

pelo posicionamento do núcleo nascélulas musculares, que já demons-trou ser igualmente importante pa-ra a função muscular. A sua equipaquer agora saber por que é que esse

posicionamento é importante e des-

vendar como é controlado. O traba-lho, diz Edgar Gomes, poderá ter im-

plicações na terapêutica do cancro,ao permitir desenvolver formas de

bloquear a formação de metástases

bloqueando a deslocação do núcleodentro das células cancerosas quan-do elas estão prestes a migrar paraoutros tecidos do organismo.

Ciência em tempos difíceisA Lars Jansen, natural da Holanda,irão ser atribuídos 1,6 milhões deeuros para estudar os mecanismosnão genéticos que controlam a trans-missão fidedigna de informação deuma célula-mãe para as suas células-

filhas, explica por seu lado um comu-nicado do IGC. O trabalho procuraelucidar, em particular, o impactodestes mecanismos "epigenéticos"no desenvolvimento do cancro e nadiferenciação das células estaminais(as células capazes de dar origem a

todos os tecidos do organismo). "Es-te financiamento do ERC irá dar umenorme impulso à nossa investiga-ção", disse Larsen, citado no mes-mo documento, quando soube que

tinha obtido a bolsa. "Receber [ummontante] tão elevado é bastanteimportante, uma vez que o finan-ciamento da ciência é actualmentemuito reduzido, principalmente onacional", salientou. "Os fundos doERC vão permitir-nos manter umprograma de investigação forte emtempos difíceis para a ciência."

Quanto a Sofia Aboim, o seu pro-jecto, que será financiado em quase1,3 milhões de euros, intitula-se "Ci-dadania de género e direitos sexuais

na Europa: vidas transgénero numaperspectiva transnacional" e "pro-põe investigar as vidas das pessoastransgénero bem como o aparato ins-

titucional que as enquadra em cinco

países europeus: Portugal, França,Reino Unido, Holanda e Suécia", dizo ICS em comunicado.

O financiamento total agora dis-tribuído pela ERC a cientistas de33 nacionalidades, a trabalhar eminstituições de 21 países em toda a

Europa, é de cerca de 575 milhõesde euros, sendo a média das sub-

venções concedidas de 1,84 milhõese o montante máximo de 2,75 mi-lhões salienta ainda o comunicadoda ERC.

A selecção foi feita a partir demais 3600 candidaturas por 25 pai-néis constituídos por cientistas derenome de todo o mundo. A médiaetária dos investigadores seleccio-nados é de 39 anos. Cerca de 45%dos seleccionados são das áreas das

ciências físicas e engenharias, 37%das ciências da vida e perto de 19%das ciências sociais e humanidades.O Reino Unido (62 seleccionados),a Alemanha (43) e a França (42) são

os países à cabeça da lista. Em ter-mos de nacionalidade, os alemães(48 seleccionados) e os italianos (46)lideram, seguidos dos franceses (33),britânicos (31) e holandeses (27).

Cientistasportuguesesganham bolsasmilionárias

CONHECIMENTO São quatro projetos de investigação nacionais e vão receber seis milhões de euros do European Research Council. Rui Costa (na foto)prossegue o seu trabalho sobre o funcionamento do cérebro. Após uma primeira bolsa, em 2009, recebe agora dois milhões de euros. É um dos embriões do

futuro do conhecimento que se produz em Portugal. Há ainda quem se dedique aos genes e ao funcionamento celular. CIÊNCIA PAGS. 26 E 27

Projetos de investigação no Paísatraem 6,9 milhões em apoiosBolsas europeias. Como o cérebro comanda ações complexas a partir de sequências simples. Como a posição donúcleo de uma célula afeta o seu funcionamento. A busca de respostas para estas e outras questões é feita em PortugalPEDRO SOUSA TAVARES

Quatro projetos de investigação em Portugal- três liderados por investigadores nacionais- receberam bolsas até aos dois milhões deeuros do European Research Council (ERC),totalizando apoios a rondar os sete milhões.Em unidades de investigação de outros paí-ses europeus, outras investigadoras portu-guesas também lideram dois dos 312 proje-tos escolhidos entre 3600 propostas.

Rui Costa, da Fundação Champalimaud,é o primeiro português a repetir a distinçãopelo European Research Council. Já tinha re-cebido em 2009 uma startinggrante é-lheagora atribuída uma consolidator grant, dedois milhões de euros. "Esta bolsa dá-nos a li-berdade e uma certa segurança para sermoscriativos sem nos preocuparmos se temosfundo para amanhã fazer investigação", con-ta ao DN o cientista, que lidera uma equipaque tentar perceber como o cérebro "automa-tiza" pequenas ações que nos permitem de-

pois executar outras mais complexas, comotocar piano.

Edgar Gomes, diretor da Unidade de In-vestigação no Instituto de Medicina Molecu-lar da Universidade de Lisboa, estuda o fenó-meno que leva a que o núcleo de célulasmusculares se desloque do núcleo para a pe-riferia das mesmas, provocando doenças de-bilitantes. E como podemos atuar para inver-ter esse processo.

Lars Jansen, do Instituto Gulbenkian deCiência, estuda a transmissão não genéticade informação de células maternas para cé-lulas filhas. Sofia Aboim, do Instituto de Ciên-cias Sociais da Universidade de Lisboa, querestudar os direitos sexuais e de cidadania doscidadãos transgénero na Europa.

Nos últimos seis anos o ERC apoiou 35 bol-seiros portugueses. Em época de cortes, o Mi-nistério da Educação pede que mais tentema sua sorte, lembrando que começa em bre-ve "o maior, mas também o mais competiti-vo, programa de apoio à C&T da história daUnião Europeia, o Horizonte 2020".

Em PortugalAs 'memórias' dos genesque passam de pais para filhos

A sequenciação do genoma humano e dostrês mil milhões de pares bases do nossoADN foi apenas um passo - ainda que gigan-tesco - rumo ao conhecimento dos genes.Atualmente, cientistas de todo o mundoconcentram-se no estudo da epigénese: a

organização das funções dos diferentes ge-nes de um organismo e a forma como estes

se podem "ligar" ou "desligar" com determi-nadas consequências.

Em Portugal, uma equipa do Instituto Gul-benkian da Ciência, liderada pelo holandêsLars Jansen, quer explicar como - para alémdos próprios genes - estes mecanismos setransmitem dos progenitores para a descen-dência, das células-mãe para as células-fi-lhas. O estudo desta "memória celular", queem 2009 valeu ao investigador o Prémio

Crioestaminal, é agora valorizado pelo Euro-

pean Reserarch Council, que lhe atribui umadotação de 1, 6 milhões de euros.

Agora, tal como então, o objetivo é apro-fundar a compreensão ao nível moleculardos fatores hereditários não genéticos (ou"epigenéticos") , que estão na base de vários

processos biológicos. Processos que, em casode anomalia, podem desencadear doençascongénitas e somáticas, cancro incluído.

"Lars dedica-se ao estudo da memória ce-lular: de que forma é que, por exemplo, umacélula muscular se "lembra" do que é, ainda

que os seus genes sejam os mesmos que osde um neurónio", explicava a Gulbenkiannum comunicado recente. O DN contactoua equipa do investigador mas não foi possívelouvi-lo até ao fecho desta edição.

Como a deslocação do núcleoda célula afeta os músculosNuma célula muscular que está a funcionarbem os núcleos da mesma - entre 500 e mil- "estão todos posicionados na periferia dacélula, a tocar na parte de fora". Quando hádoenças, como atrofias musculares, estesnúcleos estão no centro da célula. Durantemuito tempo, os cientistas pensavam que a

doença era a causadora desta "migração"dos núcleos. Há cerca de dois anos, umaequipa do Instituto de Medicina Molecularda Universidade de Lisboa, liderada por Ed-

gar Gomes, descobriu que, afinal, o raciocí-nio estava a ser feito ao contrário.

A migração do núcleo "não é uma conse-

quência mas sim a causa da doença. E se

conseguirmos corrigir o posicionamento donúcleo, o músculo funciona melhor"; expli-ca Edgar Gomes, líder desta investigação dis-

tinguida com uma bolsa de dois milhões deeuros do European Research Council.

Consegui-lo poderá ser o início de "novas

terapias", nomeadamente para o combate aproblemas como a distrofia muscular. Masessa é uma meta que implica superar muitosdesafios, o primeiro dos quais "tentar desco-brir porque é que isto sucede, porque é quese dá esta deslocação".

A investigação concentra-se nas célulasmusculares, sendo que a maioria das outrascélulas são mononucleares. Mas os resulta-dos poderão inspirar outros investigadores:"O que se sabe é que o posicionamento donúcleo dentro das células, mesmo nas quesão mononucleares, é importante para o seufuncionamento. Quando há problemas, po-dem surgir doenças neuronais fatais."

Como viveme são tratadosos transgéneroAo contrário de outros projetos, desde de-zembro do ano passado que já se sabia quea investigação TRANSRIGHTS - Cidadaniade Género e Direitos Sexuais na Europa: Vi-das Transgénero numa Perspetiva Transna-cional era uma das investigações eleitas peloEuropean Research Council, com um bolsatotal de 1, 3 milhões de euros.

Sofia Aboim, do Instituto de Ciências Só-cias da Universidade de Lisboa, vai estudar as

vidas e a forma como as sociedades e as leis se

estão a adaptar aos cidadãos transgénero,onde se incluem não apenas os transexuaismas também os hermafroditas.

O projeto terá cinco anos de dura-ção e vai centrar-se em cinco países:Portugal, França, Holanda, Suécia eReino Unido. Surge numa altura emque, na Alemanha, já é possível regis-tar o bilhete de identidade de umacriança como tendo sexo indefinido.

O DN tentou, sem sucesso, falar com a

investigadora Sofia Aboim. Em dezembro,em declarações ao jornal Público, esta defi-niu o desafio que se colocou como umaquestão à qual a sociedade como um todoterá de responder mais cedo ou mais tarde:"A sociedade vai ter de repensar-se a si pró-pria", disse àquele jornal, acrescentando es-

perar que a investigação que está agora a co-

meçar influencie as necessárias mudançaslegais em vários países

Os módulos em que o cérebrodivide as ações complexasPor que motivo é mais fácil memorizar umnúmero de telefone espaçado, como "212-- 212-212", do que agregado, como"212212212"? Pelo mesmo motivo que co-

meçamos por escrever num computadortecla a tecla antes de passarmos a combi-nar rapidamente sequências de caracteresou aprendemos a reconhecer determina-do acorde numa composição para o pianosem precisarmos de o voltar a aprender.

O nosso cérebro "cria módulos ou parce-las", explica Rui Costa, da Fundação Cham-palimaud. E é este processo, denomina-do de chunking, que nos permite- ou an-tes: permite a quem o aprendeu - tocar o

Concerto parapianon.°3de Rachmaninov."O que pode parecer muito complexo,pode ser dividido em pequenos módulos,os chunks. Mas para fazermos os módulosdessas ações precisamos de uma parte docérebro, que são os gânglios da base."

É em torno destes gânglios dabase que se

centra a investigação liderada por Rui Cos-

ta, distinguida pelo European ResearchCouncil com uma bolsa de dois mi-lhões de euros. O desafio é imenso

até poque não existe

uma fórmula que sintetize os "atalhos" cria-dos pelo cérebro para chegar a estas açõescomplexas: "Cada um tem a sua forma in-dividualizada e isso é que é interessante",diz. Temos de estudar cada indivíduo. Por

exemplo, "eu escrevo a palavra 'cidade' pri-meiro com o 'd' e depois o 'dade' mas cada

pessoa o faz da sua forma específica".Saber como funcio-

nam estes meca-nismos per-

mite aplicaros conheci-mentos aáreas comoa educaçãoou ao com-bate a doen-

ças comoParkinson.

No estrangeiro

Portuguesestambém ganhambolsas fora do País

Ana Teixeira, professora assistente e inves-

tigadora do Departamento Celular e de

Biologia Molecular do Instituto Karolinska,em Estocolmo, recebeu uma bolsa do

European Research Institute pelo projetoMechanotransduction in Cell-to-cellCommunication. Paula Mendes, professo-ra do Departamento de Engenharia Quí-mica da Universidade de Birmingham,teve o mesmo reconhecimento com o pro-jeto: Surface-Based Molecular Imprintingfor Glycoprotein Recognition.

O trabalho da primeira incide sobre osmecanismos - "mecanotransdução" - atra-vés dos quais as células convertem estímu-los mecânicos em sinais químicos, presen-tes num conjunto de sentidos e processos fi-

siológicos do corpo, do sentido do toque ao

equilíbrio. Mais concretamente na formacomo esta "mecanotransdução" se desenro-la ao nível da comunicação intercelular.

A segunda estuda o processo através do

qual pequenas "cadeias" de açúcar são adi-cionadas a resíduos de proteínas específi-cas, resultando em alterações que estãoassociadas a doenças que vão do cancroàs doenças cardiovasculares.

Contabilizando estas duas "emigrantes",Portugal é o único país com mais mulheres(3) do que homens (2) a conquistarem bol-sas avançadas do European Research Insti-tute este ano.

Investigaçãoestagnoueestá em riscode declíneo

•Quatro cientistas que trabalham em Portugalganham prémio europeu no valor de dois milhõesde euros cada •Apostas deste ano são cruciais paradefinir futuro da ciência em instituições nacionais

Diná [email protected]

A investigação em Portu-gal está numa fase decisi-

va, dizem os cientistas pre-miados pelo Conselho Eu-

ropeu de Investigação. Os

próximos meses ditarão o

que ficará à tona e o que sedeixará ir ao fundo.

EdgarGomes, Rui

Costa, Sofia Aboime Lars Jansen parti-lham a opinião so-

bre o estado da investigação,no dia em que se tornou pú-blico o financiamento dedois milhões de euros paracada um, atribuído pelo Eu-

ropean Research Council."Estamos estagnados em

termos de investigação",afirma Edgar Gomes, empe-nhado na descoberta de

como o posicionamento do

núcleo da célula condicionaa migração, responsável pe-las metástases nos casos de

cancro. "Os próximos seis

meses, um ano, são cruciais,

para que nos aguentemos oucomecemos a fase descen-dente". A mão de obra e as

infraestruturas existempara fazer ciência de alto ní-vel, defende, falta investi-mento.

Para Rui Costa, atravessa-mos uma fase de "risco"."Até agora, tem-se consegui-

do não afogar a ciência, mashá um mínimo que tem de

ser mantido para que as coi-

sas funcionem". Os próxi-mos anos são determinantes,defende o coordenador do es-

tudo sobre módulos organi-zadores de parcelas de me-mória, agrupamentos de nú-

meros, entre outros. Aconse-lha os cientistas a irem alémda dependência do Estado:"Tem de se apostar noutrosinvestidores".

A socióloga Sofia Aboim re-vela mais pessimismo. "A in-

vestigação não está numa si-

tuação favorável, falta finan-ciamento, assistimos àpreca-

nzação dos vínculos laborais.Ou seja, temos questões sé-

rias de sustentabilidade".Portanto, "ou há de factouma revisão das políticaspara as ciências ou vamos re-cuar décadas". Há uma gera-ção, a mais qualificada de

sempre, declara, cujos recur-sos poderão ser desperdiça-dos, se não lhe for dada con-dições de trabalho .

Lars Jansen lembra que, em2008, quando chegou a Por-

tugal, apostava-se na pesqui-sa, "sentia que fazia parte da

revolução da ciência portu-guesa. Hoje, estamos em ris-co de perder tudo".

O Ministério da Educaçãofelicitou os cientistas e apro-veitou para deixar o recado:

apesar do elevado númerode investigadores, Portugalestá abaixo do potencial decandidaturas a nível euro-peu. Foram distinguidos 312cientistas. •

BOLSAS A PORTUGUESES DESDE 2007• B 0 European Research Council atribuiu, desde 2007, 35

y^ r^^ bolsas a investigadores que trabalham em Portugal, emBI ¦ diferentes modalidades. Rui Costa éo primeiro a rece-J ber duas bolsas. A primeira foi como "Starting Grant".

EDGAR COMES

39 ANOS, NATURAL DA MAIA

INSTITUTO DE MEDICINA MOLECULAR, LISBOA

ANÁLISE DO PROCESSODE MIGRAÇÃO DA CÉLULA

Edgar Gomes procura descobrir como o po-sicionamento do núcleo da célula influen-cia a sua migração. Uma pesquisa que par-te da ideia de que o núcleo é variável:pode estar à direita ou a esquerda da célu-la. Conhecendo o funcionamento, poder-se-á, entre outros, criar medicamentos parainibir a sua deslocação, evitando metásta-ses. Este é o seu regresso a Portugal, após11 anos no estrangeiro.

RUI COSTA

41 ANOS, NATURAL DA GUARDA

FUNDAÇÃO CHAMPALIMAUD

ORGANIZAÇÃO DA MEMÓRIAQUE FACILITA EFICIÊNCIA

O que está por trás da memória facilitadade grupos de números (933 999 666) ou

de parcelas de melodias? O cérebro orga-niza a informação por módulos e aindaestá por perceber como funcionam os pro-cessos complexos de forma eficiente. Rui

Costa analisa essas sequências, que podemvir a originar erros ocorridos quando se

sofre de parkinson, por exemplo. Douto-

rou-se nos EUA, voltou em 2009.

SOFIA ABOIM41 ANOS, NATURAL DE MOÇAMBIQUE

INSTITUTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS, LISBOA

JURISDIÇÃO DIFERENTEPARA OS TRANSEXUAISA socióloga Sofia Amorim propôs-se in-

vestigar a questão da cidadania e direitosassociados a comportamentos sexuais, no-meadamente o tratamento dado ao

transgénero e transexual em vários paísesda Europa: Reino Unido, França, Holanda eSuécia. Inclui-se no trabalho, além do con-texto social, a evolução política e jurídica.O estudo é interdisciplinar, envolve váriasáreas.

LARSJANSEN

40 ANOS, HOLANDÊS

INSTITUTO CULBENKIAN DE CIÊNCIA

MECANISMOS QUE PODEMESTAR NA BASE DO CANCRO

A equipa chefiada por Lars Jansen avalia o

o papel dos nucleossomas, complexos de

DNA enrolados em proteínas (histonas) queestão na cromatina. Alterações das histonas

podem desligar ou ligar genes. Em curso, a

análise das modificações para perceber se

podem ser herdadas, se interferem na cria-

ção de células cancerígenas. Tenciona-setambém saber como funcionam no desen-volvimento do corpo normal.

Portugal járecebeu 54milhões embolsas deorganismoeuropeu

ERC financia quatroportugueses e cientistaholandês no país

As quatro bolsas anunciadas ontem

pelo Conselho Europeu de Inves-

tigação (ERC) para cientistas a

exercer em Portugal elevam para54 milhões o financiamento atri-buído a cientistas radicados no

país desde a criação do organis-mo em 2007. Rui Costa, da Fun-

dação Champalimaud, é o primei-ro investigador em Portugal a ter

duas bolsas do ERC depois ter sido

premiado em 2009. 0 neurocien-

tista terá 2 milhões de euros paraestudar nos próximos cinco anos- a duração de todos os financia-

mentos - um mecanismo no cére-

bro que organiza a informaçãoem sequências e facilita proces-samento e memória.

Por ordem de montante, numa

edição em que o ERC deu 312 bol-

sas a cientistas europeus numamédia de 1,8 milhões cada, segue-

se Edgar Gomes, do Instituto de

Medicina Molecular de Lisboa,

que receberá 1,98 milhões paraestudar elementos da biologia das

células que poderão ser impor-tantes para tratar doenças do foro

muscular ou cancro. Lars Jan-

sen, cientista holandês desde 2008no Instituto Gulbenkian de Ciên-

cia, terá 1,6 milhões para o estu-

do da transmissão da informa-

ção na divisão celular, relevanteno estudo do cancro e na diferen-

ciação das células estaminais queoriginam os diferentes tecidos no

organismo. Fora das ciências da

vida, por regra a mais financia-

da, Sofia Aboim, do Instituto de

Ciências Sociais, ganhou uma bol-

sa de 1,2 milhões que será usada

num projecto sobre género e direi-

tos sexuais na Europa, focado nas

pessoas transgénero.Desde 2007, o ERC atribuiu cer-

ca de 30 milhões de euros em bol-

sas a portugueses em instituiçõesno estrangeiro. Neste concurso,a única portuguesa contempla-da lá fora foi Isabel Teixeira, quetrabalha no Instituto Karolisnka,Estocolmo, onde em 2011 parti-cipou no primeiro transplante de

uma traqueia artificial. Aí. FR.

Dois milhões

para cadainvestigador¦ Quatro investigadores quetrabalham em Portugal estãoentre os 312 distinguidos coma Bolsa Consolidator Grants,do Conselho Europeu de Ino -vação (ERC). As bolsas ron-dam dois milhões cada e vãodistinguir Rui Costa (Funda-ção Champalimaud), EdgarGomes (Instituto de Medici-na Molecular U. Lisboa), LarsJansen (Instituto Gulbenkiande Ciência) e Sofia Aboim(Instituto de Ciências SociaisU. Lisboa). Entre 2007 e 2013foram atribuídas 35 bolsas doERC a investigadores quetrabalham em Portugal. ¦

ATUALIDADE* •04

Quatro bolsasdistingueminvestigaçãofeita no País

Valor médio das bolsas atribuídas pelo Conselho Europeu de Inovação ronda os 1,8 milhões de euros

Investigaçãolusa premiada

PATRÍCIA SUSANO FERREIRA

[email protected]

Ministério apela a umamaior participação doscientistas portuguesesna candidatura abolsas internacionais.• Quatro investigadores que tra-

balham em Portugal receberama Bolsa 'Consolidator Grants' doConselho Europeu de Inovação, numtotal de 312 projetos distinguidos.

Entre os vencedores deste apoio, queronda 1,8 milhões de euros cada, es-

tão quatro investigadores que traba-lham em Portugal: Rui Costa, da Fun-dação Champalimaud; Edgar Gomes,do Instituto de Medicina Molecularda Faculdade de Medicina de Lisboa;Lars Jansen, do Instituto Gulbenkian;e Sofia Aboim, do Instituto de Ciên-cias Sociais de Lisboa.Incentivo às candidaturasO estudo do mecanismo do cérebro

que organiza as memórias, do cien-tista Rui Costa, e a investigação dos

mecanismos que controlam a trans-missão fidedigna de informação não

genética da célula-mãe para as célu-

las-filhas, de Lars Jansen, são dois dos

Conselho Europeude Inovação atribuiueste ano um total de312 bolsas no valor de575 milhões de euros

projetos distinguidos. No entanto, oministro da Educação gostaria de vermais investigadores a serem premia-dos, até porque Portugal se destaca

por ter muitos investigadores em ter-mos percentuais. Contudo, poucosconcorrem a estes galardões. Recor-de-se que nos últimos seis anos ape-nas foram atribuídas 35 bolsas a in-vestigadores que trabalham no País.